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MACTE ANIMO!
O Ninho das Águias
MACTE ANIMO!
O Ninho das Águias
Edição
Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica
Editor
Maj Brig Ar R/1 José Roberto Scheer
Autora
2º Ten QOCon HIS Manuela Brêtas de Medina
Projeto Gráfico
Seção de Desenvolvimento Gráfico e Computacional
Capa
2S Tiago de Oliveira e Souza
Impressão
INGRAFOTO Produções Gráficas
2019
Apresentação
N
ascida em berço nobre, tendo como mãe a Escola de Aeronáutica, e como residência
o fértil solo de Pirassununga, a Academia da Força Aérea continua a contar a saga
iniciada em 1919, quando da criação da Escola de Aviação Militar, sua vovó, que lhe
deu as asas que necessitava para voar.
Pela sua arquitetura, imponência, infraestrutura e fundamental e imprescindível vocação, um
dia eu a chamei de “O Lugar dos Escolhidos”, sublime tal como um altar.
Mas, ela ficou conhecida como “O Ninho das Águias”, pois lá nascem os futuros dirigentes
da Instituição que perpetuarão a história dos guerreiros alados, cujas asas protegem o País.
Lar de centenas de pessoas, civis e militares, de todos os quadros e especialidades, no afã
de formarem Infantes, Intendentes e Aviadores, homens e mulheres que escolheram viver de
Força Aérea, abraçando um ideal, um sentimento de doação, o sacrifício e o amor ao País,
sorvendo os ensinamentos dos professores e instrutores e repercutindo cidadania.
Nesse lugar constatamos que “a esquadrilha é um punhado de amigos”, onde aprendemos,
com a saudade pela distância da família, com o rigor da rotina diária e com o sacrifício pela
superação dos desafios, que a alegria no regresso do voo solo ou o momento da entrega do
espadim, nos impele sempre “a vibrar, a vibrar de emoção”.
Tantos que por lá passaram, jovens meninas e meninos, que deixaram um pedacinho das
suas vidas fincados naquele espaço, sabem bem do seu valor, do que a Academia representa nas
suas trajetórias, por tudo que lhes foi transmitido e pela silenciosa força absorvida que paira
sobre aquela Escola, nas suas responsabilidades em transformar, a cada dia, todo esse universo
de conhecimentos na vontade de fazer voar a nossa Força Aérea cada vez mais alto.
Neste ano comemoramos o seu cinquentenário de realizações, de transformações, de uma
contínua e incessante inquietação e insatisfação em sempre achar que pode e deve fazer melhor...
em ser melhor.
É esta a personalidade da AFA: buscar aprimorar-se sempre, atualizar-se a cada momento, a
formar os melhores, a ser excelência, e o é.
A esse complexo organismo que ao mesmo tempo em que convive com a ciência e com
a prática, com o cognitivo e com o psicomotor, também faz da afetividade, da memória ao
seu glorioso passado e da certeza de que ali passaram e passarão os mais altos dirigentes da
nossa Instituição, dedicamos este trabalho, ao comemorarmos meio século de conquistas,
brindando juntos.
Que venham tantas e tantas outras comemorações, pois a chama NUNCA se apagará !
Durante muito tempo, a história militar ficou restrita aos quartéis, sendo esta produ-
zida pelos próprios militares. A desconfiança do meio acadêmico se devia à incompre-
ensão do mesmo em relação à visão pragmática da História. A partir da nova História
Cultural, a história militar deixou de ser secundária e passou a ser um objeto de estudo
dessa nova historiografia.
Ao compreender a historiografia como discurso do passado, entende-se a História
Oficial como uma forma de preservação da memória pública das Instituições Militares,
constituídas através da escrita da sua própria história. Ao se voltar para o estudo das
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distribuição de água de aproximadamente
15 km, com capacidade geral de 6.000 li-
tros de água por dia e com 41 km de siste-
ma de energia elétrica, com redes aéreas e
subterrâneas, além de uma rede viária de
50 km e uma rede telefônica com quase
23 km.
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decisão oficializada com a publicação do
Decreto-Lei no 4.968, de 18 de novembro
de 1942, pelo qual:
Art 1o Fica estabelecido para local da
nova sede da Escola de Aeronáutica a ser
construída oportunamente, a área situada
a Leste de Pirassununga, Estado de São
Paulo, limitada ao Norte pelo Ribeiro
da Barra; ao Sul pela água do Potreiro; a
Campo dos Afonsos (Fonte: Acervo do MUSAL) Oeste pela linha que liga as nascentes do
Ribeiro da Barra ao da água do Potreiro;
Em 1942, o Ministro da Aeronáutica e a Leste pelo rio Mogi-Guaçú; tudo de
Salgado Filho, por intermédio do Aviso conformidade com a planta arquivada no
no 16, de 23 de janeiro de 1942, designou Ministério da Aeronáutica.
uma Comissão de Oficiais Aviadores para
definir o novo local da EAer. A sua proximidade com a então Ca-
pital Federal, o Rio de Janeiro, logo ad-
Para esse estudo, o território brasileiro jacente aos recursos tecnológicos, aliada
foi divido em seis, levando-se em conside- a condição meteorológica e a topografia
ração a proximidade territorial e a dispo- local com grandes extensões de terra e
nibilidade de recursos. Por esses critérios com poucos acidentes geográficos, foram
estabelecidos, a Amazônia e o norte do decisivos para a sua escolha.
Estado de Mato Grosso foram excluídos.
Após a decisão sobre o novo local, a
Após um minucioso mapeamento do Diretoria de Obras da Aeronáutica foi de-
país, avaliando as vantagens e desvanta- signada para fazer um estudo preliminar,
gens de cada lugar, levaram-se em con- a fim de averiguar as reais condições dos
sideração os aspectos de ordem técnica, terrenos escolhidos para a construção da
(meteorologia, altitude, topografia e di- nova Escola.
mensões da área utilizável); de ordem
técnica-econômica (vias de comunicação Para tanto, seriam necessários estudos
e proximidade de grandes cidades); de or- topográficos para a construção das novas
dem econômica (preço de custo e adapta- instalações, bem como saber a real capa-
ção do local); e de ordem sanitária (clima cidade hidrográfica do rio Mogi-Guaçu
e saneamento). para o fornecimento de água para a Esco-
la, estudos meteorológicos para a prática
Depois de uma minuciosa análise do das manobras aéreas e o estudo sobre o
território nacional, o estudo chegou à fornecimento de energia elétrica para o
conclusão que o melhor local para a insta- funcionamento da obra e posteriormente
lação da nova Escola de Aeronáutica se- da própria EAer.
ria a cidade de Pirassununga, sendo essa
1 Programa de ajuda de cooperação econômica e militar para os países aliados dos Estados Unidos durante a
Segunda Guerra Mundial.
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Com o envolvimento do país com a obras estavam “a mil” naquele início de
guerra, aos poucos, foi sendo adiada a 1944. Toda semana, um bimotor Bee-
ideia de se construir uma nova Escola de chcraft desembarcava em Pirassununga,
Aeronáutica. com mão de obra especializada e equipa-
Apesar de todas as dificuldades que o mento para a construção da nova EAer.
local oferecia, a demanda da guerra au- A firma de engenharia Fegado, Souza
mentou consideravelmente as atividades e Cia era a responsável pelo emprego dos
nos Afonsos e, com ela, foi reforçada a trabalhadores nas obras. O grandioso
ideia inicial de se transferir a formação de projeto contava com o orçamento de 50
pilotos para outro Estado. milhões de cruzeiros2, dos quais 19 mi-
Após o fim do conflito mundial, o Mi- lhões3 seriam inicialmente empregados
nistro Salgado Filho, por intermédio de na construção de seis hangares de con-
entrevistas e declarações, retoma as dis- creto, no prazo de 365 dias. O projeto
cussões sobre a necessidade de mudança era baseado nas obras de um arquiteto
da EAer para Pirassununga. norte-americano responsável pela cons-
trução de várias bases aéreas nos Estados
No entanto, nada saiu do papel. Bus- Unidos.
cando acelerar o processo, em 8 de mar-
ço de 1944, o Interventor de São Paulo, Apesar de as obras estarem acontecen-
Fernando Costa, publicou o Decreto no do em Pirassununga, naquele mesmo ano
13.882, declarando de utilidade pública de 1944, no Campo dos Afonsos, as obras
áreas de três mil hectares a serem desa- de ampliação e melhorias continuavam a
propriadas pela Fazenda do Estado. Ape- pleno vapor, chegando a quadruplicar a
sar de ter âmbito apenas estadual, o de- capacidade do alojamento dos cadetes.
creto seria mais um degrau em prol dessa As melhorias iniciadas como esforço
transferência. de guerra continuaram ao longo dos anos
A iniciativa do Interventor gerou fru- 1940, com a construção de novos hanga-
tos, pois imediatamente após a publicação res, refeitórios, além da ampliação da pis-
do decreto, sob a supervisão da Diretoria ta de voo, sendo aumentada para 1.800
de Obras da Aeronáutica e do engenhei- metros com pavimentação de concreto e
ro Benjamin Fraenkel, foram iniciadas o aplainamento de dois pequenos morros
as obras no Campo de Pirassununga. As para melhorar a circulação das aeronaves.
4 Para maiores informações consultar o opúsculo Brigadeiro-do-Ar: Nero Moura Patrono da Aviação de
Caça,de autoria do Cel Av Refm Manuel Cambeses Júnior, publicado pelo Instituto Histórico-Cultural da
Aeronáutica (INCAER).
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Ao longo do ano de 1957, foram feitas
todas as tratativas necessárias para o re-
torno das obras, uma vez que:
Diante das dificuldades que emer-
giam no espaço geográfico da instru-
ção aérea, em 5 de fevereiro de 1957,
pela Portaria no 75-GM2, foi criada
uma Comissão “para rever os progra-
mas de instrução da Escola de Aero-
náutica”. Considerando os assuntos
referentes à pretendida transferência
para Pirassununga, a Portaria especifi-
cava: “A Instrução de voo será minis-
trada em Pirassununga, ao passo que
a Instrução Fundamental, assim como
a Especializada e a Militar, continua-
(Fonte: Comissão de Cons- rão a ser ministradas no Campo dos
trução da Academia Afonsos”. A Comissão seria presidida
da Força Aérea- Acervo do pelo Diretor-Geral de Ensino e Com-
INCAER) posta por representantes do Estado-
Maior da Aeronáutica, da Escola de
Aeronáutica e do Centro Técnico de
Aeronáutica (CALAZA & LOPES
FILHO, 2018).
12 MACTE ANIMO!
Instituto de Educação de Pirassununga
(Fonte: Blog Memória de Pirassununga)
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T-6 Texan (Fonte: site Poder Aéreo)
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Lêonidas Brom Herndl, em 1964 esco-
lheu o nome de constelações para batizar
as classes. Para ele, “(...) os cadetes eram
pequenas estrelas, que ansiavam voar para
mais longe e dominar aquele espaço ain-
da pouco desbravado” (CALAZA & LO-
PES FILHO, 2018).
A 1a Classe foi batizada de Antares, es-
trela de primeira grandeza e a maior da
Constelação de Escorpião; a 2a Classe T-21 Fokker (Fonte: Portal da FAB)
de Castor, uma das duas mais brilhantes
estrelas da Constelação de Gêmeos; a 3a Para organizar a instrução aérea no
Classe de Sirius, estrela de primeira gran- céu de Pirassununga, o Major Leônidas
deza e a maior da Constelação de Cão também separou estes cadetes em quatro
Maior; e a 4a Classe de Vega, estrela de classes e cada uma com o nome de uma
primeira grandeza e a maior da Constela- constelação: Aquila, Orion, Leo e Cen-
ção de Lira. tauro.
Mesmo com as instalações precárias, a Essa formação originou o 2o Esquadrão
primeira instrução de voo em Pirassunun- de Instrução Aérea (o atual 2º EIA).
ga ocorreu no dia 16 de março de 1964.
Com a aeronave T-6 de matrícula 1566, o Essa formação da instrução aérea faz
voo histórico ocorreu sob a instrução do parte da estrutura da Academia até os
1o Tenente João Jorge Bertholdo Glaser, dias de hoje.
tendo como aluno o Cadete Renato de
Souza Monte Razo. O ESTÁGIO DE VOO POR INS-
Essas quatro classes nomeadas por TRUMENTO (VI)
constelações acima citadas deram ori- Para finalizar a instrução do Estágio
gem ao 1o Esquadrão de Instrução Aérea Avançado, os cadetes precisavam passar
(1oEIA). pela fase de navegação e do voo de for-
Em 1967, ocorreria uma alteração na matura.
instrução aérea com os cadetes do 3º ano No entanto, vários cadetes não tinham
(que ingressaram na EAer em 1965), ten- iniciado o Estágio de Voo por Instrumen-
do estes se apresentado em Pirassunun- tos (VI), a última etapa do curso.
ga em julho daquele ano, para iniciarem
Essa fase era essencial para o futuro
o Estágio Primário na aeronave T-21
piloto ser capaz de voar sob condições
Fokker.
20 MACTE ANIMO!
Os T-37 foram empregados na Ins- curriculares a fim de acelerar ao máximo
trução Avançada a partir do dia 09 de a formação dos futuros oficiais aviadores,
setembro de 1968, sendo utilizados até o de forma que houvesse um aumento sig-
final de 1979, quando foi iniciada a sua nificativo de pilotos formados.
desativação.
Em 1970, houve uma grande modifi-
No entanto, não foi apenas o currículo cação na formação dos oficiais aviadores,
que sofreu modificações, o nome da Es- com a criação do Centro de Formação de
cola também foi alterado. A partir do dia Pilotos Militares (CFPM), localizado em
10 de julho de 1969, a Escola de Aero- Parnamirim/RN.
náutica passa a se denominar Academia
A criação do CFPM significou, na prá-
da Força Aérea (AFA).
tica, o aumento de um ano na formação,
O Destacamento Precursor da Escola pois, após a conclusão do curso na Escola
de Aeronáutica (DEPAER) passa a se Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR),
chamar Destacamento Precursor da o aluno era matriculado diretamente em
Academia da Força Aérea Brasileira Parnamirim, onde cursava por um ano
(DEPAFA), e a Comissão de Estudos e como aluno, e, em seguida, ingressava na
Construção da Escola de Aeronáutica AFA como cadete, onde cumpria mais
(CECEAer) é substituída pela Comissão três anos até ser declarado Aspirante.
de Estudos e Construção da Academia da
Os candidatos civis que não haviam
Força Aérea (CECAFA).
cursado EPCAR, ingressavam, median-
Essas mudanças, na prática, não cau- te concurso público, diretamente no
saram nenhum impacto significativo, ape- CFPM.
nas formalidades burocráticas, uma vez
Naquele Centro, nos anos de 1970, 71
que as funções administrativas continua-
e 72, os alunos voaram as aeronaves T-23
ram as mesmas.
Uirapuru e T-37C Tweety Bird; e no ano
Outro fator importante para esse pro- de 1973, T-23 e T-25 Universal.
cesso de modificação estava diretamente
ligado ao planejamento do Ministério da
Aeronáutica de aumentar, em um perí-
odo de dez anos, o efetivo de oficiais
aviadores.
A alteração no curso de formação
dos oficiais aviadores de três para qua-
tro anos objetivava uma instrução mais
operacional.
Apesar do aumento do período de T-23 Uirapuru (Fonte: https://www.imgrumweb.
instrução, ocorreram diversas mudanças com/hashtag/turma73)
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T-27 Tucano (Fonte : Site de fotos da FAB)
6 É importante destacar que no final dos anos 1970, a EOEIG havia mudado a sua denominação para Escola
de Oficiais Especialistas da Aeronáutica (EOEAR) nomenclatura que permaneceu até a sua desativação
O Ninho das Àguias 23
1a Turma de Infantaria da AFA (Fonte: Acervo Pessoal
Cel Inf R/1 Hermes de Souza Passos)
que deixa de ter a sua atividade fim vol- intendente que solou pela primeira vez
tada exclusivamente para a área de segu- uma aeronave na Academia já no ano
rança interna da Força Aérea Brasileira, de 1996. Esse fato inédito aconteceu no
para ser incorporada à defesa estratégica Clube de Voo a Vela, quando a Cadete
do país. Sheyla pilotou um planador. Essa ousadia
abriu uma porta para que no século XXI
A MULHER NA AFA fosse permitida a entrada de mulheres no
Curso de Formação de Oficiais Aviadores
Outra grande mudança na Academia (CFOAv), mais especificamente no ano
da Força Aérea ocorreu em meados dos de 2003.
anos 1990 quando as mulheres passaram
a ser aceitas no Curso de Formação de Como na Academia já havia mulheres
Oficiais Intendentes (CFOInt). Apesar no Corpo de Cadetes desde o final dos
de o Corpo Feminino ter sido criado nos anos 1990, a recepção à futuras aviadoras
anos 1980, a formação de oficiais não es- foi extremamente amistosa.
tava diretamente ligada à AFA. É importante destacar que pelo alto ní-
vel de desempenho exigido na AFA e em
Em 1995, o concurso para o ingresso
especial no CFOAv, a taxa de reprovação
na AFA ofertou 40 vagas mistas para o
na instrução de voo , e, consequentemen-
CFOInt, das quais 17 foram preenchidas
te o desligamento de cadetes ocorre sem
por mulheres.
nenhuma distinção entre homens e mu-
Apesar de não fazer parte da instrução lheres, considerando-se apenas o desem-
dos futuros intendentes, foi uma cadete penho do cadete em si.
24 MACTE ANIMO!
Outra menção que diz respeito ao pio-
neirismo da mulher na AFA, refere-se à
Maj Int Fabiana Magalhães dos Santos,
sendo a primeira mulher a comandar um
esquadrão do Corpo de Cadetes, tendo
assumido essa função em 2018, à frente
do 1º Esquadrão - Turma Mihos.
A ESTRUTURA ATUAL
A Academia da Força Aérea foi plane-
jada para ter a estrutura de uma cidade e
após toda a saga para a sua mudança do
Rio de Janeiro para Pirassununga, a AFA
Banho de batismo de uma cadete no chegou ao século XXI comportando pos-
CFOAv - Cadete Fernanda Görtz to dos correios, padaria, posto de gasoli-
(Fonte: Acervo da Academia da
Força Aérea)
na, barbearia e agências bancárias, dentre
outros, sem contar as salas de aulas e o
refeitório.
Biblioteca AFA (Fonte: Acervo da Academia
da Força Aérea) Possui ainda biblioteca, auditório
com capacidade para 1.266 pessoas, 3
prédios de alojamento com 2 andares
em cada, totalizando 207 quartos que
atualmente abrigam 762 cadetes.
26 MACTE ANIMO!
Bolachas das Esquadrilhas do 1o EIA
28 MACTE ANIMO!
Ao GLOG compete tratar dos assun- E, à frente da Organização, cabe ao
tos relativos às atividades de suprimento Comandante da AFA dirigir, coordenar e
e manutenção das aeronaves de instrução controlar as atividades atribuídas à Orga-
e orgânicas da AFA, cuidar das ações co- nização, bem como aprovar no seu nível
tidianas referentes ao planejamento e ins- de competência os planos e os programas
petoria da área de material aeronáutico, relativos ao ensino e às demais atividades
além de prover os meios aéreos indispen- a serem desenvolvidas na AFA.
sáveis à execução da instrução de voo e
É toda essa estrutura administrativa
da atividade aérea da organização.
que proporciona ao cadete uma rotina di-
Ao Corpo de Cadetes da Aeronáutica ária extremamente organizada. Também é
compete coordenar as atividades admi- importante destacar que os cadetes infan-
nistrativas e de apoio aos Esquadrões do tes e intendentes, bem como os aviadores
CCAer, tratar de assuntos relativos à for- que cursam séries que não têm instrução
mação moral, cívica e social dos cadetes, aérea, têm uma mesma rotina e os cadetes
além de executar a instrução referente ao aviadores que estão em instrução de voo
campo militar. outra, justamente por conta desta última.
O ESD-YS é responsável pelo pla- Para os cadetes que não tomam parte
nejamento, coordenação e execução das da instrução aérea, o alvorecer ocorre às
ações defensivas, ofensivas, especiais e de 5h50min, com café da manhã às 6h30min.
proteção, a fim de garantir a segurança O início das aulas se dá às 7h, a parada di-
da Guarnição de Aeronáutica de Pirassu- ária às 11h30min e, ao meio dia, os cade-
nunga.
30 MACTE ANIMO!
demia compatível aos das escolas civis, e do comando de tropas e equipes anti-
naquilo que fosse pertinente, para que o incêndio, além das operações terrestres.
cadete que viesse a ser desligado do cur-
so, pudesse ter uma chance concreta de DISCIPLINAS DO CAMPO MILI-
dar continuidade à sua formação supe- TAR
rior, reduzindo, assim, os problemas de
reconhecimento dos antigos currículos Visando desenvolver nos cadetes da
pelas universidades. FAB habilidades do campo militar, exis-
tem, previstos no currículo, dois exercí-
O Curso de Formação de Oficiais cios denominados Atividades de Campa-
Aviadores (CFOAv) é responsável pela nha (1 e 2), a Instrução de Salto de Emer-
formação dos futuros aviadores da Força gência e as Instruções de Sobrevivência
Aérea Brasileira, os quais deverão estar no Mar e na Selva, planejados e coorde-
preparados para o emprego da aeronave nados pela Seção de Instrução Militar do
em operações de combate, bem como Corpo de Cadetes da Aeronáutica.
para as funções de comando inerentes à
carreira militar. O objetivo central dessas instruções
é preparar o futuro oficial da FAB para
As principais disciplinas para os futu- o desempenho de suas atividades profis-
ros aviadores são as voltadas para o pre- sionais em situação de estresse físico e
paro do voo, como as de instrução aérea. mental, além de capacitá-lo a abandonar
Até 2018, os cadetes realizavam a ins- uma aeronave em voo com a utilização de
trução aérea no 2o ano do Curso, e, a par- paraquedas semiautomático, e a empregar
tir de 2019, a Instrução Aérea Primária as técnicas de sobrevivência na selva e no
passou a ser realizada no 1o ano, manten- mar sob condições especiais de dificulda-
do a Instrução Avançada para os cadetes de e tensão.
do 4º ano. É através dessas instruções que os ca-
O Curso de Formação de Oficiais In- detes adquirem habilidades para enfren-
tendentes (CFOInt) forma os oficiais que tar o estresse psicológico, o desgaste físi-
serão responsáveis pelos setores adminis- co e as adversidades inerentes ao ofício e
trativo-operacionais da FAB nas diversas assim se tornarem verdadeiros militares,
organizações do Comando da Aeronáuti- comprometidos com a sua missão.
ca. As principais disciplinas são as volta-
das para a administração e logística. Atividades de Campanha (1 e 2)
O Curso de Formação de Oficiais de Atividade de Campanha 1
Infantaria (CFOInf) forma os oficiais que
responderão pela segurança e defesa das Nesta Atividade busca-se preparar o
unidades da FAB, devendo ter o total do- futuro oficial da FAB para a atividade in-
mínio dos métodos voltados para o em- dividual de combate, através de instruções
prego da defesa antiaérea, do armamento de aprestamento individual, progressão
32 MACTE ANIMO!
Exercício de Sobrevivência no Mar (Fonte: Acervo Pessoal
do Cel Inf R/1 Hermes de Souza Passos)
34 MACTE ANIMO!
A partir de 1971, a instrução fisioló- Intendência da Aeronáutica, e os Infantes
gica passou a ser ministrada em Pirassu- com bacharelado em Ciências Militares
nunga. Contudo, nos anos 1980, foi cria- com habilitação em Infantaria de Aero-
do no Campo dos Afonsos o Centro de náutica.
Instrução Especializada da Aeronáutica
Todos os Aspirantes, sem distinção de
(CIEAR) e o treinamento voltou para o
Quadro, são também bacharéis em Ad-
Rio de Janeiro.
ministração, com habilitação em Admi-
Atualmente, a instrução é ministrada nistração Pública.
no Instituto de Medicina Aeroespacial
Para que a formação dos futuros ofi-
(IMAE) sendo denominada de Estágio
ciais da Força Aérea Brasileira, a Acade-
de Adaptação Fisiológica (EAF). Além da
mia conta que um grupo de instrutores/
câmera hipobárica, da torre de ejeção e da
professores extremamente qualificado.
Cadeira de Barany, que simula a vertigem
Hoje, o Corpo Docente é composto por
rotatória, o estágio conta com a sala de
61 militares e 54 civis. A equipe militar
visão noturna. Essa instrução objetiva es-
tem 19 professores pós-graduados, 21
tudar e preparar o corpo humano para as
mestres e 21 doutores; e a equipe de ins-
adversidades que podem ocorrer durante
trutores civis com 03 professores pós-
um voo, tais como a ejeção do avião, a
graduados, 06 mestres e 45 doutores, to-
despressurização da cabine, dentre ou-
talizando 115 instrutores.
tras.
Atualmente, foram incorporadas às para esse fim, a formação militar vai além
modalidades já existentes a esgrima, o de aulas práticas e teóricas.
judô, o pentatlo militar, o tiro, o triatlo, o Dentro da Academia são ensinados va-
karatê, o tênis e a orientação - que consis- lores morais e culturais que contribuem
te em uma disputa individual ou em du- para a formação da Identidade Militar, e é
pla, contra o relógio, em que o atleta deve através dos ritos e tradições que se inter-
demonstrar ter conhecimento de leitura naliza em cada cadete o espírito militar.
de mapas e adaptação a terrenos desco-
nhecidos, bem como a escolha correta do Por ser um lugar de sociabilidade, é na
itinerário. Ela visa preparar o militar para AFA que esses valores são semeados, cul-
situações de sobrevivência na selva e/ou tivados, nutridos e consolidados. Em ou-
território inóspito. tras palavras, são nas escolas de formação
de oficiais e de graduados que as identida-
Justamente por promover um congra- des coletivas e individuais da caserna são
çamento entre os cadetes das três forças constituídas e sedimentadas.
que ela resistiu o tempo e é promovida
até hoje, evidenciando a importância das Para o sociólogo Claude Dubar, a iden-
tradições. tidade é fruto da socialização. Ao se ana-
lisar a vida dos cadetes, ao ingressarem
na EPCAR ou diretamente na AFA, eles
RITOS E TRADIÇÕES
saem do seio familiar para iniciar uma car-
A Academia da Força Aérea tem como reira e uma nova vida. Ao fazerem isso, os
missão formar as lideranças da FAB e, valores e a própria visão de mundo deles
O Ninho das Àguias 37
passam a ser moldados a partir da ótica Outro aspecto importante para a cons-
militar, e esses valores são edificados em trução da Identidade Militar são as ceri-
cima de dois pilares: a disciplina e a hie- mônias que marcam os ritos de passagem
rarquia. dos cadetes. Alguns dos ritos mais impor-
E esses dois pilares são erguidos sobre tantes são a entrega do Espadim e da Es-
um dos principais valores do militarismo: pada, como será demonstrado a seguir.
a honra. A honra constitui uma série de
princípios éticos, cívicos e morais que Entrega de Espadins
norteiam a conduta social. No militaris- A Cerimônia de Entrega de Espadins
mo, ela é evidenciada em valores como ocorre todo ano na Academia da Força
companheirismo, espírito de corpo, pa- Aérea, preferencialmente no dia 10 de ju-
triotismo e lealdade. lho, data em que é comemorada a criação
Estes princípios de conduta são mate- da Escola de Aviação Militar (EAvM),
rializados no Ninho das Águias através do precursora da Escola de Aeronáutica
Lema “Macte animo! Generose Puer, sic (EAer) que antecedeu a Academia.
itur ad Astra.”7 e do Código de Honra. A referida cerimônia é carregada de
“CORAGEM, LEALDADE, HONRA, simbolismo, pois representa o compro-
DEVER e PÁTRIA” metimento dos cadetes com os valores
que regem a vida militar. Ao receberem ais da Força Aérea Brasileira, sendo de-
o Espadim, os cadetes prestam um ju- volvido em apenas dois casos: primeiro
ramento de compromisso bradando as quando há desligamento antes do final do
seguintes palavras: “Recebo o Espadim curso; o segundo e principal motivo da
de Cadete da Aeronáutica como símbo- devolução é quando o cadete conclui o
lo de coragem, lealdade, honra, dever e curso de formação de oficiais.
pátria”.
O Espadim é a materialização do com- Cerimônia da Entrega de Espadas
prometimento dos cadetes com os ide- A Cerimônia da Entrega de Espadas
tem como significado celebrar a finaliza-
ção de um ciclo na vida do cadete, que sai
da condição de aluno de escola de forma-
ção e inicia a carreira como oficial.
A Espada representa o estado militar,
o poderio, e, ao mesmo tempo em que ela
pune, mantém a paz e a justiça. Em algu-
mas mitologias ela é associada ao fogo,
cortando a escuridão da ignorância. Ela
Entrega do Espadim (Fonte: arquivo pessoal Maj também representa o símbolo do guer-
Brig Ar R/1 José Roberto Scheer) reiro.
O Ninho das Àguias 39
Nas Forças Armadas ela era muito Grito de Guerra
utilizada pela Infantaria e pela Cavalaria.
O Grito de Guerra é uma prática social
Apesar do advento da arma de fogo, ela
que demonstra coesão e força militar. Ele
ainda pode ser empregada em algumas
é uma “forma de expressão” que repre-
ações militares, mas atualmente ela é mais
senta os valores e os sentidos da caserna e
utilizada nas cerimônias militares.
que, ao ser passado de geração para gera-
Assim como o Espadim, esse rito de ção, reafirma os sentimentos de coletivi-
passagem permeia todas as forças arma- dade e organização, os quais contribuem
das brasileiras, por perpetuar o compro- para a motivação e a harmonia das práti-
misso do militar com valores e deveres a cas castrenses.
serem honrados e defendidos. Por isso, a
O Grito de Guerra foi criado a fim de
Cerimônia de Entrega de Espadas tam-
proporcionar um sentimento de identida-
bém está no rol dos bens culturais imate-
de de grupo. Ele é entoado nas formatu-
riais da FAB.
ras, nos cursos de formação e em qual-
Entre as tradições que fortalecem a quer ocasião em que o clima de vibração
identidade das turmas estão os nomes de seja exaltado a fim de congregar o espírito
turma e o grito de guerra. de corpo da tropa e evidenciar a coesão e
o sentimento de dever cumprido. O Grito
Os Nomes das Turmas de Guerra enaltece o espírito de corpo da
tropa, através dele o espírito de união e
A palavra turma se origina do latim força é ressaltado.
(enxame e no plural turmae) e foi utiliza-
da para se referir a uma unidade militar da Pela sua importância nas atividades
Cavalaria do Exército da Roma Antiga. A diárias da caserna, motivando a tropa e
palavra foi expandindo o seu significado exaltando os deveres cumpridos, ele é um
e atualmente se refere a um grupo de pes- importante bem imaterial da Força Aérea
soas. Brasileira, sobretudo por ser um elemen-
to agregador do grupo e consolidador da
A escolha do nome da turma está re- identidade militar.
lacionada à construção da identidade
de um grupo de alunos. É através desse
Banho de Batismo
nome que a turma será reconhecida e
lembrada. Se o nome de turma e o grito de guerra
marcam a identidade da turma como um
É importante destacar que na Acade-
todo, existe uma tradição que é específi-
mia da Força Aérea os nomes de turmas
ca para um grupo de cadetes: o banho de
ficam gravados nas placas alusivas às tur-
batismo.
mas, afixadas nas hastes dos Parabolóides
no Corpo de Cadetes.
40 MACTE ANIMO!
Parabolóides da AFA
(Fonte: Acervo da Academia da
Força Aérea)
FAYS (Fonte: Blog Oficial da FAB) Vila de Oficiais (Fonte: Blog Oficial da FAB)
O DTCEA-YS é um destacamento do
CINDACTA I responsável pelo radar do
controle aéreo, pelo sistema de meteo-
rologia e de comunicações aeronáuticas,
além de auxiliar a navegação aérea de Pi-
rassununga.
44 MACTE ANIMO!
Com a desativação do Esquadrão Coringa, a Força Aérea Brasileira ficou sem uma
unidade de demonstração até os anos 1980, quando o Comandante da AFA resolveu
reativar a antiga Esquadrilha da Fumaça. Reunindo alguns instrutores que voavam o
T-25, no dia 10 de julho de 1980, a recém-inaugurada Esquadrilha Cometa Branco
tomava os céus da Academia da Força Aérea.
Incorporando os procedimentos de segurança e a doutrina da antiga Esquadrilha
da Fumaça, era criado no dia 21 de outubro de 1982 o Esquadrão de Demonstração
Aérea (EDA).
Em 8 de dezembro de
1983, os T-25 foram subs-
tituídos pelos T-27 Tuca-
no, aeronave utilizada até
março de 2013, quando,
a partir de então, foram
substituídos pelos atuais
A-29 Super Tucano. A sua
sede ainda permanece no
campus da Academia da
Esquadrão Coringa, com aeronaves T-37C Tweety
Bird (Acervo Cel Av R1 / Marco Aurélio de Mattos)
Força Aérea, onde diaria-
mente treinam suas ma-
nobras.
48 MACTE ANIMO!
Canção da Academia da Força Aérea
(Bandeirantes do Ar)
Letra e Música: Cadete-do-Ar Luiz Felipe de Magalhães
I
A esquadrilha é um punhado de amigos.
A vibrar, a vibrar de emoção!
Não tememos da luta os perigos,
Nem dos céus a infinita amplidão!
Sobre mares, planícies, sobre montes,
Viveremos por sempre a voar.
Bandeirantes de novos horizontes
Para a bandeira da Pátria elevar.
Bandeirantes de novos horizontes
Para a suprema conquista do Ar!
ESTRIBILHO
ESTRIBILHO
O Ninho das Àguias 49
Bibliografia
−Academia da Força Aérea – AFA. Histórico dos códigos utilizados na instrução aérea
e da “Bolacha” do Instrutor de Voo. s.n.t.;
− MEDINA, João Ignacio de. Disciplina, Amor e Coragem: é o lema do nosso sucesso!
Rio de Janeiro: Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, 2016;
50 MACTE ANIMO!
Sites
− Blog Oficial da Força Aérea Brasileira: http://forcaereablog.aer.mil.br. Último acesso
em 14.05.2019;
Fontes
− Cadastros Históricos da Academia da Força Aérea (AFA). Acervo INCAER;