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Concurso Avec
Concurso Avec
***
Cassius chegou por último, como sempre, na reunião do conselho do forte. A tensão
quase se materializou quando ele fechou a porta. Havia outras três pessoas ali. Lisandra,
líder das sacerdotisas de Taos, batendo uma caneta na mesa. À sua esquerda estava
Érico, líder dos templários de Arkas, um homem careca, pele clara, barba loira,
sobrancelhas sempre franzidas, brincos de ouro em formato de Sol sempre reluzentes. À
sua direita, Talita, líder dos mundanos, alta, gorda, forte, pele escura queimada do campo
e calejada da luta.
— Atrasado. — Talita disse. — Vocês magos não tem mesmo nenhum critério pra
escolher seus líderes.
— Boa tarde pra você também, Talita. Pelo seu bom humor a noite deve ter sido
intensa. — Cassius respondeu, sentando de frente com Lisandra.
— Cala a boca.
— Vamos ao que interessa — a sacerdotisa disse. — Cadê a merda dos templários,
Érico?
— Prezada Lisandra, vamos manter a calma. — Ele falou, cruzando os dedos sobre
a mesa. — Eles estarão aqui em tempo. Há uma questão de última importância que
nossos soldados estão atendendo. Você verá, antes do sol nascer, o aeronavio pousará
no pátio.
— De qualquer forma — Cassius interrompeu —, não precisamos de templários. Os
primordiais irão usar a mesma estratégia de sempre. Vai ser até bom, talvez o conselho
decida que os Arkanistas são inúteis e aumentem o salário dos Defensores.
— Não é hora pra piadas! — Lisandra disse. — Tem meia centena de primordiais se
acumulando do lado de lá do Etanhará. Se houver algum imprevisto, vocês magos vão
estar seguros voando em seu aeronavio, são as tropas de chão que vão se arriscar. —
Talita concordou veementemente.
— Tá bom, Lis, eu luto no chão contigo. — A sacerdotisa apenas bufou ao ouvir isso.
— Não alteremos nossos ânimos — Érico disse. — É apenas uma invasão de rotina.
Pela manhã os templários estarão aqui, e seguiremos a mesma tática de sempre, não há
porquê nos preocupar.
— E se não estiverem? — Lisandra perguntou. Todos deram de ombros. Ela
balançou a cabeça, furiosa e se retirou da sala.
Mais tarde, Cassius bateu à porta do quarto de Lisandra, de banho tomado e com
uma garrafa de pinga com melado embaixo do braço. Ela entreabriu-a e disse:
— Não Cassius, hoje não. — fechando a porta em seguida.
***
Treze magos subiram à bordo do aeronavio. O décimo quarto juntou-se às tropas de
chão. Ele carregava um machado de lâmina dupla e vestia um peitoral de couro
encantado.
— Ei, Lis, estou às suas ordens hoje. — Ele disse, aproximando-se da comandante.
Lisandra usava uma cota de malha e carregava uma lança metálica, o caule de uma rosa
subia pelo cabo até a ponta, pintada como um botão afiado. Cassius sussurrou, ao passar
do seu lado — inclusive à noite, depois que isso acabar.
— Tome sua posição junto às balistas. Hoje você não vai ter a moleza de sobrevoar
o campo de batalha.
— Hah! Você não tem a menor ideia do que significa paralisar uma centena de
primordiais. Essa história de líder é um saco, eu tô é com saudades de brandir meu
machado, feito o brutamontes que eu sou. — Como o maninho dizia. — Cadê o Érico?
— Fugiu. — a sacerdotisa respondeu, amarga. — Com a desculpa de descobrir o
que aconteceu com o aeronavio dos templários. Isso não tá cheirando bem, Cassius.
— Relaxa — ele disse, fez menção de tocar o ombro de Lisandra, mas desviou a
mão, fingindo se alongar.
O aeronavio levantou voo. Parecia-se com um navio marítimo, mas a parte inferior
do casco era reta, com oito patas aparadoras de aterrissagem. Não içavam a vela para
voos curtos de baixa altitude. Os portões do forte se abriram e a infantaria aguardou até
as criaturas chegarem ao alcance das balistas.
Os primordiais da destruição tinham troncos humanos colados em corpos de lagarto,
com seis patas compridas e fortes, arrastando uma cauda pesada atrás de si, cobertos de
escamas vermelhas. Deviam ter uns dois metros de altura e três de comprimento, quatro,
com a cauda. Carregavam picaretas enquanto marchavam em direção ao forte. São
maiores do que eu lembrava. Heh, isso vai ser divertido.