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Um Grito na Encruzilhada.

Ensaio introdutório à Quimbanda


Por, Bruno Gerfilli.

Este ensaio visa esclarecer alguns pontos referentes à Quimbanda praticada no


Brasil de forma clara e objetiva, sem fazer nenhum tipo de referencia a qualquer
templo ou organização, sendo apenas a visão do autor, tomando como base sua
vivencia dentro do culto.

Há cerca de 20 anos atrás, quando se falava de Quimbanda dentro dos círculos


iniciáticos no Brasil, muitas pessoas recriminavam tais praticas, como algo
pejorativo, ou qualquer outra coisa sem nenhum tipo de argumento sólido, e
experiência no assunto. Porem, mesmo que ainda esteja começando a ganhar
espaço dentro da educação espiritual de grande parte dos adeptos de outras
doutrinas, a Quimbanda, vem tomando uma proporção favorável nos últimos anos.
Com a visível propagação midiática em diversos meios, e a imersão de inúmeros
templos de Quimbanda, muitas pessoas se voltaram para esta prática, como mais
um recurso de luta e aprendizado espiritual, e obviamente, mais um modo para se
ganhar dinheiro. Mas afinal, de onde surgiu esta explosão de seguidores da
Quimbanda? Onde se esconderam, e como suportaram este período de trevas
durante todo esse tempo? Pois bem. Não temos com mensurar a quantidade de
templos e adeptos existentes se tratando do Brasil, pois grande parte, não dá as
caras na internet, mas esse é um assunto para outro momento. O que se sabe é que
existe um grupo numeroso de pessoas, entre adeptos e simpatizantes do assunto,
independente da linhagem e culto.
É extremamente notável que grande parte das pessoas, a primeira vista sentem
uma afinidade pelo culto, por carregar uma “fama” de que seus praticantes são a
própria encarnação do maioral na terra, e não é bem assim. Como este ensaio não
visa ser um tratado, mas apenas uma introdução ao culto de Quimbanda, não
vamos nos estender sobre a sua origem e fundamentos práticos tão a fundo, dando
apenas diretrizes aos leigos e interessados, para que continuem seus estudos, e
terem condições de buscar fontes sérias e comprometidas dentro da Quimbanda.

Há grosso modo, podemos definir que a Quimbanda é um culto genuíno do


Brasil, sendo uma mistura entre os cultos indígenas locais, as diversas vertentes
espirituais de matriz africana, trazida pelos negros e as tradições europeias. A
partir desta miscigenação cultural, obtivemos a Quimbanda como resultado final,
dentre outros cultos que também são praticados até os dias de hoje.

A palavra Quimbanda, de modo geral pode ser usada para denominar todo
àquele que manipula as energias naturais a seu favor, tal como um curandeiro,
pajé, feiticeiro ou como queira chamar. Dentro desse sistema, dispomos ao nosso
auxilio espiritual os Exus & Pombo-Giras, espíritos ancestrais de pessoas já
desencarnadas ou não, que guiam o ser em seu caminho espiritual dentro do culto.
Por mais que diversos autores do passado, insistiram em classificar e
determinar uma hierarquia para com os Exus e Pombo-giras, o que é mais sensato
a se ter em mente diante um trabalho com esse tipo de energia, é como manipulá-
las ao nosso favor. Temos uma infinidade de Exus e Pombo-giras dentro do culto de
Quimbanda, onde cada qual atua dentro do seu campo de força como as
encruzilhadas, porteiras, matas, cemitérios, estradas etc. as manifestações dos
espíritos ancestrais, podem ser dadas de diversas maneiras, levando em
consideração o tipo de trabalho a ser realizado, sendo que uma das manifestações
mais conhecidas é a incorporação, onde o espírito possui o corpo do individuo por
um período de tempo. Em contra partida, muitas pessoas podem estar cometendo
um erro absurdo em pensar que o espírito ancestral só “trabalha” desta maneira,
muito pelo contrário.

Falando sobre os trabalhos realizados sob a influência dos Exus e Pombo-giras,


se tem uma infinidade de praticas que se realizadas com sabedoria, o sucesso é
significativo para qualquer fim. Dentre os símbolos de poder utilizados dentro do
culto da Quimbanda, cada espirito ancestral possui um em particular conforme a
sua própria característica, popularmente chamado de ponto riscado. Se tratando de
ser uma energia ancestral e aborígene, o temperamento dessas entidades tendem
literalmente a ser extremamente primitivos, mas isso não quer dizer que sejam
sem doutrina. Um dos principais veículos materiais de emanação dos ancestrais são
os assentamentos. Ícones consagrados à determinada energia (Exu e Pombo Gira)
que se pretende cultuar. O sangue, dentre outros elementos utilizados em
momentos pertinentes, é de essencial para fortalecer o elo entre o operador e os
espíritos, cada qual com suas particularidades e fundamentos que cada Sacerdote,
ou adepto é obrigado a ter condições de manipular. Se tratando de Quimbanda, o
sacerdote, ou iniciante no culto precisa entender que esta tradição, não é como as
outras ordens iniciáticas, principalmente as europeias, onde se encontra um passo-
a-passo em livros, e a partir disso, se tem condições de ser praticada, conforme as
limitações de cada um. É necessário, e muito importante para que o adepto atinja
uma maturidade espiritual, encontrar um templo ou um sacerdote sério, que lhe dê
auxilio e suporte no inicio de sua jornada.
Isso não tira o mérito de quem queira fazer suas praticas independentes de
templo ou qualquer organização de Quimbanda, porém, dificilmente vá atingir os
mesmos resultados práticos de um adepto que tenha sido preparado por um
Sacerdote experiente. Lembrando que cada um é livre para buscar tudo aquilo que
quiser da maneira que melhor atender as suas expectativas pessoais. Hoje temos
alguns poucos materiais de qualidade se tratando de Quimbanda, dentro e fora do
Brasil, desde o leigo ao adepto com mais experiência. Claro que com a disseminação
informativa que temos na internet, mesmo para quem não tem tanta vivência
dentro da Quimbanda, à distinção dos trabalhos sérios e dos descartáveis é
extremamente visível, e podemos filtrar algumas informações para obter um
aprendizado básico do que seja o culto. Apenas para o conhecimento geral, vamos
apresentar agora um exemplo de pontos cantados de chama dos Exus e Pombo-
Giras que podem ser utilizados para diversos fins dentro da Quimbanda.

Exu: Pombo Gira:

Tá chegando meia-noite, Singangê, Cangaiô,


Tá chegando à madrugada (bis) Cangarolequê Pombo Girê
Salve o povo da Quimbanda, Singangê, Cangaiô,
Sem Exu não se faz nada. (bis) Cangarolequê Pombo Girá.
... Pombo Girá aê, Pombo Girá aê
Olha cavuca murundun, Pombo Girá de amucanguê
Que murundun é fundo. Pombo Girá aê.
Eu vou buscar esse Diabo ...
Lá no fim do mundo. E no romper da meia-noite
... Pombo-Girê kakarukáia,
É a hora do Satan, Pombo-Girê kakarukáia!
Ê boa noite Exu Ô sisa sisa sisarukaia,
É a hora do Satan, Sisa sisa sisarukaia,
Ê boa noite Exu Sisewagangê,ô sisewagangê!
... Biolê,biolê biolátáia,
Rá rá rá ê me valei Sete Diabo! Kimbin de kuákuákô,
Rá rá rá ê me valei Sete Diabo! Kimbin de kuákuákô!
Ô me valei Sete Diabo! ...
Esse Exu é um Diabo! Lugar distante, numa rua tão deserta,
... tinha um cemitério antigo e uma
Deu Meia-Noite, Aê Meia-Noite! catatumba aberta.
Deu Meia-Noite, Aê Meia-Noite! Dentro da cova, tinha pano de caixão.
Meia-Noite o galo canta, Tinha osso de difunto cravejado o coração.
Todas as almas se levantam. Raspa de vela, sete novelos de linha,
... Tinha cadeado velho, tinha sangue de
Ê Satanás abre as portas do Inferno e galinha.
manda a força pra nós Satanás! (bis) Dentro da cova, tinha um vulto ajoelhado,
... Era Maria Padilha trabalhando pro
Lá vem o barco remondo Diabo!
Contra a maré! Ê vem serrar madeira,
O remador do barco Ê vem serrar madeira,
Era o mestre Lúcifer! Ê vem serrar madeira, Maria Padilha!
Ê vem serrar madeira!

A todos aqueles que buscam informações pertinentes à Quimbanda, seus


templos e sistemas, nada melhor do que pedir auxilio de seus próprios
ancestrais, os Exus e Pombo-Giras! Esta é a melhor opção inicial para quem
visa um contato mais profundo dentro do Culto da Quimbanda.

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