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AGRONÔMICAS
No 152 DEZEMBRO/2015
Desenvolver e promover informações científicas sobre
MiSSÃo o manejo responsável dos nutrientes das plantas para o
ISSN 2311-5904
benefício da família humana
1. INTRODUÇÃO
D
e acordo com a legislação brasileira, o enxofre (S) é
classificado como macronutriente secundário, junta-
mente com o cálcio (Ca) e o magnésio (Mg), sendo
expresso na forma de S elementar ou de SO3. Para transformar S em
SO3 deve-se multiplicá-lo por 2,5, ou seja, 1 S equivale a 2,5 SO3.
O S é denominado macronutriente secundário não por ser
menos importante do que os macronutrientes primários (N, P2O5 e
K2O), mas sim por estar contido em fórmulas de baixa concentra-
ção, como nos fertilizantes nitrogenados (sulfato de amônio, 24%
S) e fosfatados (superfosfato simples, 12% S). Entretanto, com o
aumento da utilização de fórmulas mais concentradas em nitrogê-
nio (N) (ureia e nitrato de amônio) e em P2O5 (superfosfato triplo,
MAP e DAP), o S passou a ser fator limitante da produtividade e
qualidade das culturas de interesse econômico.
Figura 1. Interações de nitrogênio e enxofre em plantas de arroz. SAM =
2. ENXOFRE NA PLANTA sulfato de amônio; UR = ureia.
Fonte: Lefroy et al. (1992).
O S desempenha funções essenciais no desenvolvimento
e na qualidade das plantas, desde a participação na formação de
aminoácidos e proteínas até controle hormonal, fotossíntese e
mecanismos de defesa da planta contra patógenos. 2.1.1. Formação de proteínas de qualidade
As proteínas são formadas por 20 aminoácidos, sendo que,
2.1. Metabolismo do nitrogênio evidentemente, todos apresentam N em sua composição. Já o S
O S e o N “andam juntos” no metabolismo das plantas participa da composição de quatro aminoácidos: cistina, metionina,
(Figura 1) por meio de duas rotas principais: a) formação de proteí- cisteína e taurina. Esta interação tem duas implicações fisiológicas:
nas de qualidade e b) fixação biológica do N2 do ar e incorporação (1) a relação N/S para a maior parte das plantas varia de 10/1 a 15/1
do N mineral em aminoácidos. e está associada ao crescimento e à produção, e (2) na ausência
Abreviações: Ca = cálcio; CS2 = bissulfeto de alila; DAP = fosfato diamônio; K2SO4 = sulfato de potássio; Mg = magnésio; N = nitrogênio; MAP = fosfato
monoamônio; P = fósforo; S = enxofre; SAM = sulfato de amônio; TSP = superfosfato triplo; UR = ureia.
1
Professor Titular Sênior, Departamento de Ciência do Solo, ESALQ, Piracicaba, SP; e-mail: gcvitti@usp.br
2
Professor Doutor, Departamento de Ciência do Solo, ESALQ, Piracicaba, SP; e-mail: rotto@usp.br
3
Acadêmica de Engenharia Agronômica, Membro do GAPE, Departamento de Ciência do Solo, ESALQ, Piracicaba, SP; e-mail: savieto.julia@gmail.com
Editor
Aildson Pereira Duarte; Claudinei Kappes .............................................15
Valter Casarin
Divulgando a Pesquisa ...........................................................................19
Editores Assistentes
Luís Ignácio Prochnow, Eros Francisco, Silvia Regina Stipp IPNI em Destaque ..................................................................................20
PROGRAMA BRASIL
Diretor
Luís Ignácio Prochnow
Diretores Adjuntos
Valter Casarin, Eros Francisco
Publicações
Silvia Regina Stipp
Analista de Sistemas e Coordenador Administrativo
Evandro Luis Lavorenti
Assistente Administrativa
Elisangela Toledo Lavorenti
Secretária
Kelly Furlan
ASSINATuRAS
Assinaturas gratuitas são concedidas mediante aprovação prévia
da diretoria. O cadastramento pode ser realizado no site do IPNI:
http://brasil.ipni.net
Mudanças de endereço podem ser solicitadas por email para: Dr. Luís Ignácio Prochnow (ao centro), Dr. Aildson Pereira Duarte (à esquerda)
kfurlan@ipni.net ou etoledo@ipni.net e Dr. Claudinei Kappes (à direita) durante visita a uma propriedade produtora
de milho nos Estados Unidos.
A adubação sulfatada pode ser realizada utilizando-se tanto Vitti et al. (2008) estudaram a aplicação de sulfato de amô-
fontes tradicionais de S, comumente empregadas na agricultura há nio, superfosfato simples e sulfato de potássio e magnésio, na dose
décadas, como fontes mais modernas, principalmente as obtidas a de 20 kg ha-1 S, na cultura da soja cultivada em solo de cerrado, no
partir do S elementar. município de Conceição das Alagoas, MG e observaram que as três
fontes utilizadas foram eficientes em suprir S para a cultura (Figura 7).
4.1. Fertilizantes tradicionais
Broch (sd) verificou que o uso de gesso agrícola como fonte
As fontes tradicionais para o fornecimento de S às culturas de enxofre na cultura de trigo refletiu em efeito positivo no cultivo
estão apresentadas na Tabela 12. posterior de soja (Figura 8).
Arilsulfatase Rodanase
Vegetação (µg p-nitrofenol g-1 (nmoles de SCN- g-1
solo seco h-1) solo seco h-1)
Floresta isolada 22,93 b1 679,89 b
Floresta integrada 37,02 a 1.682,98 a
Milho 0,15 d 270,27 c
Eucalipto 15,74 c 154,24 c
Pastagem 13,83 c 1.747,07 a
CV (%) 15,09 10,89
1
Em cada coluna, médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si
em 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
Fonte: Pinto e Nahas (2002).
Figura 11. Relação entre taxa de oxidação do S elementar e temperatura.
Fonte: Adaptada de Janzen e Bettany (1987).
Tabela 15. Oxidação autotrófica e heterotrófica em diferentes tipos de
vegetação.
Porém, o efeito positivo depende mais do teor de matéria orgânica
Oxidação Oxidação do que da textura, o que pode ser atribuído ao seu uso como fonte
Bactéria total
Vegetação autotrófica S0 heterotrófica de energia para a população de microrganismos.
(x 108)
(x 10 )
5
S2O32- (x 105) • Valores de pH. Em solos tropicais, a taxa de oxidação do
Floresta isolada 5,6 b 32,3 ab 12,8 b S elementar aumenta à medida que aumenta o pH do solo, con-
Floresta integrada 28,7 ab 57,5 ab 68,8 a forme mostra a Figura 12 (HOROWITZ, 2003). Nos solos ácidos,
Milho 194,9 ab 5,6 b 13,4 b a velocidade de oxidação é maior nos solos com pH próximo a 6,0,
comparada aos menores valores de pH. A Tabela 16 mostra a faixa
Eucalipto 19,2 ab 59,9 a 13,8 b
adequada de pH para a oxidação do S elementar pelos microrga-
Pastagem 77,5 ab 88,9 a 13,2 b nismos. A Tabela 17 apresenta a oxidação diária de S realizada por
CV (%) 6,41 5,9 5,1 microrganismos heterotróficos.
1
Em cada coluna, as médias seguidas pela mesma letra não diferem em • Presença de outros nutrientes. A oxidação do S tende a ser
5% de probabilidade pelo teste de Tukey. mais rápida em solos mais férteis, devido à maior manutenção da
Fonte: Pinto e Nahas (2002). população microbiana.
Especificação
Nutriente Garantia mínima Forma Origem
granulométrica
Enxofre 95% S Determinado como Pó Extração de depósitos naturais de enxofre ou da rocha pirita,
enxofre total subproduto de gás natural, gás de refinaria e fundição do
carvão. Podem ser obtidos também do sulfato de cálcio ou
da anidrita.
Figura 16. Fontes e doses de S-elementar aplicados em solos de textura arenosa, intermediária e argilosa.
Fonte: Damato et al. (2008).
4. CONCLUSÃO 5. REFERÊNCIAS
A deficiência de S em diversas culturas agrícolas no Brasil BOSWELL, C. C. Dryland lucerne responses to elemental sulphur
é uma realidade atualmente. A deficiência nas lavouras, além de of diferente particle sizes applied at diferente rates and frequencies
afetar negativamente a produtividade, diminui a qualidade do in North Otago, New Zealand. New Zealand Journal of Agricul-
produto colhido. tural Research, Wellington, v. 40, p. 283-295, 1997.
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A
térmico (elevadas temperaturas).
competitividade da agricultura brasileira no cenário
mundial depende, principalmente, da produtividade Na região sudoeste do estado de São Paulo, em baixa alti-
e da lucratividade das culturas em relação aos prin- tude, as temperaturas mínimas e máximas diárias atingem picos de
cipais produtores mundiais. Embora a participação efetiva do Brasil 20 °C a 30 °C, respectivamente, nos meses de novembro a março
no mercado internacional de milho seja recente – as exportações (Figura 1A). No norte do Mato Grosso, a temperatura máxima é elevada
anuais atingiram pelo menos 20 milhões de toneladas a partir de o ano inteiro, especialmente nos meses de agosto e setembro, com
2012 –, o país poderá se consolidar como importante fornecedor valores superiores a 35 °C (Figura 1B). Nas duas regiões, as tempera-
mundial deste cereal. Neste artigo, são abordados os principais turas mínimas são mais amenas nos meses de maio, junho e julho, mas
fatores limitantes para a cultura de milho e a evolução dos siste- cerca de 5 °C mais baixas em São Paulo, comparado ao Mato Grosso.
mas de cultivo, os quais têm possibilitado aumentos crescentes de A série histórica do Instituto Agronômico (IAC), Campinas,
produtividade e assegurado renda aos agricultores. SP, indica que o valor das maiores médias diárias de luz solar é
de aproximadamente 7,5 horas por dia, em abril, julho e agosto,
O BRASIL NO CENÁRIO MUNDIAL enquanto o das menores médias é de 6,0 horas por dia, em dezem-
bro e janeiro (Figura 2). A menor insolação direta ocorre no verão
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, devido à elevada nebulosidade e a duração dos dias mais longos
sendo suplantado apenas pelos Estados Unidos (EUA) e pela do ano ser de apenas 13,4 horas. Ao contrário, na região do Corn
China, que produzem 350 e 220 milhões de toneladas de grãos, Belt americano, a média diária de insolação é superior a 8 horas nos
respectivamente. O país diferencia-se por produzir duas safras ao meses de maio a agosto, atingindo 10 horas no mês de julho, quando
ano sem o uso de irrigação, com produção total na última safra ocorre a duração máxima do dia, de aproximadamente 15 horas. As
(2014/15) de 85 milhões de toneladas, sendo a segunda safra chuvas, por sua vez, são concentradas no período de verão no Mato
(54,7 milhões de toneladas) superior à primeira (30,7 milhões de Grosso, onde o inverno é seco, e melhor distribuídas ao longo do ano
toneladas), como ocorre desde 2012, quando a segunda safra se tornou no sudoeste de São Paulo, região de transição climática para inverno
a mais expressiva. A área total de milho na safra 2014/15 atingiu
úmido, típico do sul do país.
15,8 milhões de hectares, sendo 6,2 e 9,6 milhões na primeira e
na segunda safra, respectivamente (CONAB, 2015). No entanto, EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE CULTIVO E
a produtividade média nacional ainda é próxima de 5 t ha-1, muito INCREMENTO DE PRODUTIVIDADE
inferior à de 10 t ha-1 obtida nos EUA. Ao selecionar regiões pro-
dutoras específicas, verifica-se que a produtividade triplicou nos O advento e a tecnificação do milho safrinha foram responsá-
últimos 30 anos, atingindo valores iguais ou superiores a 7,0 t ha-1 e veis pela grande transformação da cultura de milho no Brasil. Houve
5,0 t ha-1 na primeira e na segunda safra, respectivamente. Ressalte-se mudança espacial, com o avanço da cultura para o Centro-Oeste e
que esses valores não refletem o excelente nível tecnológico alcançado recentemente para os chapadões do Maranhão, Piauí e Tocantins, com
por parte dos produtores, os quais têm obtido produtividades acima perda de área em regiões tradicionais de cultivo de milho, especial-
de 12 t ha-1 e 8 t ha-1 na primeira e na segunda safra, respectivamente, mente em regiões de baixa altitude (Paraná e São Paulo), e temporal,
pois as médias são atingidas em ambientes muito diversos e em com a maior parte da área de milho verão sendo substituída pela de
diferentes épocas de semeadura e sistemas de cultivo. soja, passando a ser cultivado preferencialmente na segunda safra
em sucessão a esta leguminosa. Esse sistema teve grande aceitação a
partir da consolidação do plantio direto (Figura 3), por proporcionar
FATORES CLIMÁTICOS LIMITANTES À CULTURA
redução do tempo entre a colheita da soja e a semeadura do milho.
O clima tropical e subtropical geralmente não favorece a A área da segunda safra poderá aumentar ainda mais, por exemplo,
expressão máxima do potencial genético da cultura de milho em no estado do Mato Grosso, onde apenas 3,4 milhões de hectares,
decorrência, principalmente, das elevadas temperaturas noturnas e dos 8,9 milhões de hectares, foram cultivados com milho em sua
poucas horas de insolação direta. Além disso, ocorrem veranicos, sucessão, ou seja, 37% da área de soja (CONAB, 2015).
1
Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador Científico, Instituto Agronômico, Campinas, SP; e-mail: aildson@apta.sp.gov.br
2
Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador, Fundação MT, Rondonópolis, MT; e-mail: claudineikappes@fundacaomt.com.br
Figura 6. Ilustração hipotética do deslocamento da época de semeadura da soja e do milho safrinha no Mato Grosso.
Fonte: Adaptada de Kappes (2013).
Renan Costa Beber Vieira1, Sandra Mara Vieira Fontoura2, Cimélio Bayer3, Renato Paulo de Moraes2, Eduardo Carniel4.
Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 39, n. 3, p. 794-808, 2015.
O
Estado do Paraná não dispõe de um sistema de as curvas de resposta à adubação de P, seguindo a filosofia de
recomendação de adubação para rotação de cultu- suficiência (adubação de cultura). Nas classes de disponibili-
ras em plantio direto (PD). Em razão disso, utiliza dade Alta e Muito Alta, as doses foram estimadas com base na
indicações geradas para culturas individuais há mais de 30 anos e exportação pelos grãos (Tabela 1).
em preparo convencional. Este estudo teve como objetivo conso-
Conclusões:
lidar a calibração de P e avaliar a resposta das culturas à adubação
fosfatada, visando à proposição de um sistema de indicações téc- • Os teores críticos de fósforo em solos sob plantio direto
nicas para a adubação fosfatada das culturas de soja, milho, trigo e são maiores para os cereais de inverno do que para as culturas de
cevada cultivadas em sistema de rotação em Latossolos com longo soja e milho, bem como na camada diagnóstica de 0-10 cm em
histórico de PD (> 30 anos) na região centro-sul do Paraná, que se relação à camada de 0-20 cm.
caracteriza por possuir alto potencial produtivo. • As doses de fósforo indicadas para soja, milho, trigo e
Três experimentos de calibração foram conduzidos de cevada em solos sob plantio direto na região centro-sul do Paraná
2008 a 2013 e consistiram na criação de níveis de P pela apli- são superiores às atuais indicações de adubação para as culturas
cação de doses a lanço de até 640 kg ha-1 de P2O5. Quarenta e individuais desse Estado, o que se justifica, ao menos em parte,
quatro experimentos de resposta a P foram conduzidos entre as pelas altas produtividades e pela alta capacidade de retenção de
safras de 2011 a 2012/13, tendo como foco avaliar a resposta das fósforo dos Latossolos da região.
culturas a P em solos com distinta disponibilidade do nutriente. • Os resultados sugerem que as doses estabelecidas para
Os rendimentos relativos [RR = (rendimento sem P/rendimento as culturas elevem o teor de fósforo no solo ao teor crítico após
máximo) × 100] das culturas e os teores de P no solo (Mehlich-1) um ciclo da rotação de culturas (três anos), embora seja adotada
foram relacionados, obtendo-se os teores críticos e as classes a filosofia de suficiência/adubação de cultura para a indicação de
de disponibilidade de P no solo. Para a estimativa das doses doses de adubação fosfatada em solos abaixo do teor crítico de
nas classes de disponibilidade Baixa e Média, foram utilizadas fósforo.
Tabela 1. Doses médias de P2O5 indicadas para soja, milho, trigo e cevada em sistema plantio direto, em diferentes classes de disponibilidade de P, para
os Latossolos da região centro-sul do Paraná.
Classe de
P Soja Milho Trigo Cevada
disponibilidade
(mg dm-3) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -(kg ha-1) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Baixa1 <4 2003 170 140 165
Média1 4-8 90 155 90 100
Alta2 8 - 16 65 (R + 20%) 130 (R + 20%) 45 (R + 20%) 50 (R + 20%)
Muito alta2 > 16 55 (R) 115 (R) 35 (R) 40 (R)
1
Doses de P2O5 para rendimento de máxima eficiência econômica.
2
R: valor de reposição por tonelada de grão produzido da cultura: 10, 10, 14 e 8 kg de P2O5 por tonelada de grãos produzidos de trigo, cevada, soja e
milho, respectivamente; na classe Alta foi acrescido 20 % para suprir possíveis perdas.
3
Indicações de doses com base nas expectativas de rendimento de 4.000, 14.000, 3.500 e 4.000 kg ha-1 de soja, milho, trigo e cevada, respectivamente.
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Solos, Programa de Pós-graduação em Ciência do Solo, Porto Alegre, RS.
2
Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, Guarapuava, PR.
3
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Solos, Porto Alegre, RS.
4
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Curso de Agronomia, Porto Alegre, RS.
ipni no EnConTro DA MoSAiC ConECTA SÉriE WEBinAr Do ipni DESTACA A ACiDEZ Do SoLo
No período de 23 a 25 de Setembro, durante o Mosaic Dr. Luis Prochnow, Diretor do IPNI Brasil, foi o palestrante do
Conecta para Consultores, a equipe da Mosaic reuniu líderes mais recente webinar realizado pelo IPNI aberto ao público. Dr. Pro-
da agricultura nacional e os principais consultores do setor para chnow apresentou a palestra Avaliação e Manejo da Acidez do Solo. A
discutir as perspectivas do agronegócio brasileiro e o cenário apresentação resumiu os principais tópicos de uma publicação recente
macroeconômico agrícola. Durante a reunião, Dr. Valter Casa- do IPNI sob o mesmo título (Soil Acidity Evaluation and Management).
rin, Diretor Adjunto do IPNI, e Dr. Aildson Duarte, pesquisador Durante o webinar, Dr. Prochnow discutiu temas que englobaram desde
do IAC, foram responsáveis pelas atividades educativas com os princípios da acidez do solo até uso correto de calcário. Ele ilustrou sua
consultores. O debate em grupo versou sobre o tema Desafios no apresentação mostrando as respostas positivas das culturas à aplicação
Uso de Enxofre na Agricultura Brasileira. O objetivo da atividade de calcário em muitas partes do mundo. “Sem dúvida, a acidez do solo
foi envolver líderes do setor agrícola na adoção de boas práticas é um dos principais fatores limitantes ao aumento da produtividade
de manejo em relação à nutrição de plantas e fertilidade do solo, das culturas em muitos solos e deve ser gerida de forma a promover
com ênfase no uso de enxofre. “Este evento foi uma grande opor- maior produção e lucro aos agricultores”, disse Dr. Prochnow.
tunidade para avaliar o manejo do enxofre em diferentes regiões O webinar pode ser visto no website do IPNI ou no YouTube:
do Brasil”, comentou Dr. Casarin. http://brasil.ipni.net/article/BRS-3372
Dr. Valter Casarin, professores Manoel e Ricardo e alunos após a ipni no 5o CongrESSo BrASiLEiro DE FErTiLiZAnTES
palestra em Guadalupe, PI. O 5º Congresso Brasileiro de Fertilizantes ocorreu em São
Paulo, SP, no dia 25 de agosto. O tema deste ano foi Solos e Fertili-
zantes: Pilares da Segurança Alimentar Global, o qual foi sugerido
BoAS prÁTiCAS DE MAnEJo DE FErTiLiZAnTES pelo Dr. Luis Prochnow, Diretor do IPNI Programa Brasil. Dr. Paul
EM pASTAgEnS Fixen, Vice-Presidente Sênior e Diretor de Pesquisa do IPNI, foi o
O IPNI Brasil coordenou um painel sobre Boas Práticas palestrante de destaque. O encontro anual ocorre todo mês de agosto
para Uso Eficiente de Fertilizantes (BPUFs) em Pastagens no 3o e é uma oportunidade importante para fortalecer a rede de indústrias
Encontro de Adubação de Pastagens, organizado pela Scot Con- de fertilizantes no Brasil.
sultoria e Tec Fertil, ocorrido em Ribeirão Preto, SP, em 29 de
setembro. Cerca de 500 pessoas participaram do painel, no qual
foram discutidos três temas importantes relacionados à adubação
de pastagens em sistemas de produção pecuária: (i) Adubação
nitrogenada em pastagem, apresentado por Dr. Eros Francisco
(IPNI) e Dr. Heitor Cantarella (IAC); (ii) Adubação fosfatada em
pastagem, apresentado por Dr. Gelci Lupatini (Unesp/Dracena)
e Dr. Eros Francisco (IPNI) e (iii) Otimização da aplicação de
fertilizantes em pastagens, apresentado por Dr. Pedro Henrique
Cerqueira Luz (FZEA/USP). Após as apresentações, seguiu-se
um debate entre participantes e palestrantes.
“O IPNI Brasil elaborou um sólido plano estratégico para
desenvolver três ações importantes no âmbito da nutrição de plan-
tas, dentre as quais a de desenvolver e implementar atividades
relacionadas ao manejo 4C em pastagens, as quais, atualmente, são
manejadas com baixo uso de nutrientes. Estamos muito felizes por
estabelecer essa parceria com a Scot Consultoria e a Tec-Fertil, que
nos possibilitaram promover esse painel e interagir diretamente Dr. Paul Fixen durante o debate no Congresso Brasileiro de Fertili-
com os pecuaristas. A produção pecuária é um forte segmento da zantes 2015.
O livro Matemática e Cálculos para Agrônomos e Cientistas do Solo tem o objetivo de servir de literatura básica para aqueles
que necessitam de auxílio no entendimento e resolução de problemas envolvendo as diferentes atividades relacionadas à Agronomia,
como, por exemplo, emprego correto de unidades de medida; cálculos envolvendo fertilizantes; remoção de nutrientes do solo; aplica-
ção de defensivos agrícolas; taxas de semeadura e população de plantas; armazenamento de forragem e grãos; correção da acidez,
sodicidade e salinidade do solo; estimativa de custo de produção, entre outras.
Com o progresso gradativo do conhecimento sobre aspectos relacionados à Agronomia, o livro procura propiciar condições
para que estudantes e profissionais do setor agronômico possam adquirir ou aprimorar seus conhecimentos.
Uma importante característica desta obra é apresentar, em cada capítulo, vários exercícios envolvendo situações reais e que
ajudam o leitor na solução dos problemas apresentados.
O livro tem 241 páginas (21,5 x 28,0 cm). A encadernação é em espiral.
Preço: R$ 120,00
Pedidos pelo site do IPNI: https://www.ipni.net/ppiweb/BRAZIL.NSF/IPNIBrasilPublications
VOCAÇÃO NACIONAL
Luís Ignácio Prochnow
É
impressionante como mentes aparentemente brilhan- café, figure como mero fornecedor de matéria prima, e que outros
tes às vezes não percebem o que parece tão evidente. países, agregando valor ao produto, lucrem na sua comercialização
Mediante resultados obtidos, os economistas elogiam em nível mundial.
o setor primário brasileiro, porém, quando têm poder real de deci- Infelizmente, o setor encontra-se bastante desvinculado da
são, pouco pensam ou agem em prol de maior incentivo à atividade sua natural missão no que se diz respeito à eficiência ao longo de
agrícola. Anos atrás, após assistir a uma brilhante apresentação toda a cadeia produtiva. O setor é punjante e prospera porque é forte
sobre economia, disse ao palestrante que ele ajudaria o país se, e resiliente, porém, muito mais seria possível se as ações estivessem
convicto, levasse adiante a mensagem de que a vocação do Brasil em consonância com a vocação nacional do país.
está no campo. Ele pareceu ouvir, mas com certeza se perdeu em Confio que o futuro reserva poder àqueles que lutam e
outras hipóteses. Afinal, parecem ser mais elegantes as constatações transformam o campo. Que 2016 possa ser o início de um novo
numéricas ou puramente econômicas do que simplesmente entender tempo, no qual o país se valorize e se organize mais intensamente,
intuitivamente o que parece óbvio. cumprindo sua real missão. Apesar de todos os problemas, existe
Podemos e devemos nos envolver com muitas atividades. esperança e, com certeza, a solução virá da intensificação daquilo
Criar tecnologia em todas as áreas se faz fundamental. Porém, a que o país faz de melhor, ou seja, produzir e fornecer alimentos,
chance de sucesso do país será maior se a cadeia agrícola se estru- fibras e energia renovável de origem agropecuária.
turar ao máximo e se especializar na produção, tranformação e Com os meus mais sinceros votos de um feliz 2016 a todos
comercialização dos produtos que vem do campo. É inadmissível, os que direta ou indiretamente trabalham em setores relacionados
por exemplo, que o Brasil, sendo um país com vocação para produzir à cadeia produtiva mais importante do país!
VALTER CASARIN - Diretor Adjunto, Engo Agro, Engo Florestal, Doutor em Ciência do Solo
E-mail: vcasarin@ipni.net website: http://brasil.ipni.net