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2016
A Dissertação de Mestrado intitulada “A Revolta de Jeú e a Estela de Dã: Um Estudo Em 2
Reis 10,28-36”, elaborada por Bruno Cavalcante de Souza foi apresentada e aprovada em 21
de Março de 2016, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. José Ademar Kaefer
(Titular/UMESP), Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira (Titular/UMESP) e Prof. Dr. José
Adriano Filho (Titular/FUV).
__________________________________________
Prof. Dr. José Ademar Kaefer
Orientador e Presidente da Banca Examinadora
_______________________________________
Prof. Dr. Helmut Renders
Coordenador do Programa de Pós-Graduação
Aos meus amados pais, Jane e Aparecido, que me mostraram o valor da honestidade,
e da vida simples, me despertando sempre para o valor dos estudos, mesmo sem poderem ter
tido o privilégio de estudar. Ao meu irmão Jonathan, eterno sonhador e parceiro para a vida
toda. Obrigado por seu amor e sua amizade.
Ao meu orientador Prof. Dr. José Ademar Kaefer. Obrigado pela confiança, atenção,
amizade, carinho e compreensão que creditou ao receber e orientar um simples rapaz de
“rancheria”. Seu amor pela bíblia e pela seriedade na pesquisa me emocionaram! Guardá-lo-ei
sempre em meu coração.
Gratidão aos tios: Carlos, Patrícia, Gilbas e Elaine, por me receberem de uma forma
tão fidalga durante os longos períodos de viagens! Aos primos e primas, um “big” beijo, pela
amizade e companheirismo. Ao professor e amigo Everson Spolaor que me mostrou o
“caminho das pedras”: Quantas conversas e quantas lágrimas! Deus seja contigo meu amigo!
A amiga Kellen Araújo, pelo incentivo. Sua perseverança me abriu as portas para um
novo mundo. Ao amigo Silas Klein pelo prazer da companhia em tantas caronas que me deu:
Sucesso sempre parceiro! A irmã Jony Cerqueira Leite, você me abriu as portas e me fez
enxergar que o sonho era possível, Obrigado!
Aos meus amados avós maternos Ezequiel e Nilza (Obrigado pelo Presente), e
paternos Roque e Eva (ambos In Memoriam). Aos meus tios maternos e paternos, vocês
sempre estão em minhas orações.
Ao meu amigo Telmo Teixeira Lima, por sua paciência e, pelo fato de ter acreditado
em mim. Obrigado! As “ovelhinhas” da TTL Controladoria; Elisandra, Melissa e Marcela.
Enfim, agradeço a todos aqueles que me apoiaram tornando este um sonho possível.
O espaço é sempre limitado para tantos agradecimentos! Por isso de uma forma muito
amorosa, de maneira tal que as palavras jamais poderão traduzir, o meu muito obrigado!
“Nem foi Tempo Perdido. Somos Tão Jovens...”.
RESUMO
A pesquisa tem por objetivo trabalhar o evento da Revolta de Jeú, em conjunto com a Estela
de Dã, tendo como ponto de partida para tal, a exegese da perícope de 2 Reis 10-28,36. A
história Deuteronomista apresenta o ato da Revolta de Jeú como sendo um feito
demasiadamente importante, na restauração do culto a Javé em Israel, a partir de um contexto
onde o culto a outras divindades, em Israel Norte, estava em pleno curso. No entanto, a partir
da análise conjunta da Estela de Dã, que tem como provável autor o rei Hazael de Damasco,
somos desafiados a ler esta história pelas entrelinhas não contempladas pelo texto, que
apontam para uma participação ativa de Hazael, nos desfechos referentes a Revolta de Jeú,
como sendo o responsável direto que proporcionou a subida de Jeú ao trono em Israel,
clarificando desta forma este importante período na história Bíblica. Para tal análise,
observar-se-á três distintos tópicos, ligados diretamente ao tema proposto: (1) A Revolta de
Jeú e a Redação Deuteronomista, a partir do estudo exegético da perícope de 2 Reis 10,28-36,
onde estão descritas informações pontuais sobre período em que Jeú reinou em Israel; (2) Jeú
e a Estela de Dã, a partir da apresentação e análise do conteúdo da Estela de Dã, tratando
diretamente dos desdobramentos da guerra em Ramote de Gileade, de onde se dá o ponto de
partida à Revolta de Jeú; e por fim (3) O Império da Síria, onde a partir da continuidade da
análise do conteúdo da Estela de Dã, demonstraremos a significância deste reino, além de
apontamentos diretamente ligados ao reinado de Hazael, personagem mui relevante no evento
da Revolta de Jeú.
ABSTRACT
The research aims to work the event of Jehu's revolt, together with the stele of Dan, taking as
a starting point for such exegesis of the perícope of 2 Kings 10 to 28.36. The story
Deuteronomist presents the act of Jehu's revolt as an important achievement too, the cult of
the restoration to the Lord in Israel, from a context where the worship of other deities in Israel
North, was in full swing. However, from the joint analysis of the stele of Dan, whose probable
author King Hazael of Damascus, we are challenged to read this story between the lines not
covered by the text, pointing to an active participation of Hazael on outcomes related to revolt
of Jehu as being directly responsible that gave the rise of Jehu king in Israel, thus clarifying
this important period in the Biblical story. For this analysis, it will be observed three distinct
topics directly related to the proposed theme: (1) The Revolt of Jehu and the Deuteronomist
Writing, from the exegetical study of the perícope of 2 Kings 10.28 to 36, which are described
timely information about the period in which Jehu reigned in Israel; (2) Jehu and the Stele of
Dan, from the presentation and analysis of the contents of the stele of Dan, comes directly
from the war unfolding in Ramoth-Gilead, where takes place the starting point of the revolt of
Jehu; and finally (3) The Empire of Syria, where from the ongoing analysis of the contents of
the stele of Dan demonstrate the significance of this kingdom, and notes directly related to the
reign of Hazael very important character in the Revolt of Jehu event .
SUMÁRIO
Introdução 13
Considerações Finais 89
Referências Bibliográficas 93
13
Introdução
Esta dissertação tem por finalidade estudar o evento da Revolta de Jeú, descrita nos
capítulos 9 e 10 do segundo livro dos Reis, em uma análise conjunta com a Estela de Dã. De
maneira geral, os textos dos livros dos Reis sempre desempenharam um papel significativo,
em grande parte das propostas que apresentaram por objetivo a reconstrução da história de
Israel, principalmente em casos que tratem de eventos específicos.
Além disso, muitos livros que procuram trabalhar a história de Israel aparentam
argumentar sobre o tema, partindo unicamente de um relato básico acerca da narrativa bíblica,
sem adentrar a outros horizontes, muito significativos para a construção desta história.
(ROBCKER, 2012, p.2).
Ao chegar a Jezrael, Jeú acaba por exterminar os reis Jorão e Ocozias, iniciando em
seguida o seu derramamento de sangue contra a Dinastia Omrida, que se se estendeu,
conforme a redação deuteronomista, de uma forma muito rápida, chegando no mesmo dia a
Judá. Vale a pena destacar que, neste ínterim, Jeú também mata os profetas de Baal, em
Samaria. Resumidamente, esta é a forma pela qual a redação deuteronomista lê e interpretada
os textos que perfazem o evento da Revolta de Jeú, desencadeados por volta do século IX.
Sendo provavelmente erigida pelo rei Hazael, que a configurou em Dã, onde foi
encontrada durante as escavações nos anos de 1993 e 1994, a Estela nos aponta que a
ascensão de Jeú ao poder, antes de tudo, fora arquitetada pelo próprio rei de Damasco, que
tornou tanto a Israel, quanto a Judá, seus vassalos. Robcker (2012, p.03) nos diz que além da
inscrição da Estela de Dã fontes advindas do acadiano, destacando nesta ocasião as fontes de
Salmanassar III, apontam que a imagem bíblica sobre Jeú, pode não ser completamente
confiável.
Aqui se constrói o eixo pelo qual se baliza esta dissertação. Tendo a exegese como
metodologia para o estudo sobre a Revolta de Jeú, a partir da perícope de 2 Reis 10,28-36,
algumas perguntas centrais se elevam em consideração aos aspectos apresentados: Embora a
unidade macro que trata especificamente de Jeú, a saber, os capítulos 9 e 10 de 2 Reis,
abordem o seu reinado positivamente, o resumo de seus atos (10,28-36) aponta-lhe crítica.
Então, qual o saldo de seu reinado? Positivo ou Negativo?
Do ponto de vista religioso, com o assassinato dos profetas de Baal, podemos dizer
que o culto a Baal foi realmente extinto em Israel? Qual a relação que se dá entre Baal e
15
Javé? Qual o formato e que tipo de culto era aquele prestado ao bezerro de ouro, tão criticado
pelo autor da perícope de 2 Reis 10,28-36?
Continuando, se a Síria, com Hazael de Damasco, era tão forte ao ponto de subjugar
os reinos de Israel e Judá, tornando-os seus vassalos, e o texto bíblico em sua forma
sincrônica, sequer menciona esta possibilidade ao narrar o evento da Revolta de Jeú, quais
tipos de influência Israel Norte teria sofrido mediante tal situação de submissão? Qual o teor
histórico dos versos 32 e 33 da perícope, que trata da perda dos territórios de Israel na
Transjordânia? Qual a relação dos mesmos versos com a Estela de Dã?
Nossa hipótese inicial é a de que Hazael teria matado os reis de Israel e Judá e, que
consequentemente tenha sido responsável por estabelecer Jeú no poder. Uma segunda
hipótese diz que a Revolta de Jeú, não se trata de um ato revolucionário vindo de dentro.
Antes, trata-se de uma articulação político-militar, orquestrada por Damasco, que acabou por
dominar Israel, já fragilizado por uma política interna conduzida equivocadamente, pois como
já foi destacado, neste período o reino da Síria se expandiu muito, chegando inclusive a se
apoderar de territórios que pertenciam a Israel Norte. Uma terceira hipótese diz possivelmente
tenha sido Jeú aquele que introduziu o Javismo em Judá, de maneira que a história
deuteronomista parece fazer questão de apontar que não lhe era agradável aos olhos, ao
destruir o culto institucionalizado a Baal, que houvesse quaisquer resquícios de oposição a
Javé, em Israel, e em Judá, lugar para onde a Revolta se expande.
Jeú. Com esta análise, pontuaremos as observações que seu conteúdo traz sobre os fatos a
partir da ótica do reino da Síria, e de seu governante Hazael, provável autor da Estela, que é
uma personagem central nesta história. Além disto, consideraremos o papel de cada um dos
reis envolvidos na Revolta de Jeú, discorrendo cuidadosamente sobre o enquadramento de
cada um dentro do texto.
Por fim, dedicaremos o capítulo III a observar o reino da Síria. Neste capítulo, será
abordado um breve histórico acerca das origens dos Arameus, no entanto, dar-se-á ênfase a
pessoa de Hazael durante sua trajetória como rei, o que nos ajudará, sem sombra de dúvidas a
entender melhor o contexto por detrás dos desdobramentos em Ramote de Gileade, bem
como, sobre boa parte do histórico dos confrontos entre Israel e a Síria.
17
CAPÍTULO I
ֲאשֶׁר ַהזָּהָב ֶעגְלֵי י ֵהוּא מֵאַח ֲֵריהֶם ֹלא־סָר ֶאת־יִשׂ ְָר ֵאל
o qual o ouro bezerros de depois Iehu não desviou Israel
de de eles
ַלעֲשׂוֹת ֲָאשֶׁר־ ֱהטִיב ֹת יַעַן אֶל־י ֵהוּא י ְהוָה וַיּ ֹאמֶר30
para executar o qual fizeste por causa para Iehu YHWH e disse
Bem de
ְתוֹרת־י ְהוָה
ַ בּ ָל ֶלכֶת שׁמַר
ָ ֹלא ְוי ֵהוּא31
em lei de YHWH para andar vigiou não E Iehu
ֲאשֶׁר י ָָר ְבעָם ְבּכָל־ ְלבָבוֹ ֹלא סָר ֵמעַל חַטּ ֹאות ֱאֹלהֵי־יִשׂ ְָר ֵאל
o qual Jeroboão pecados de se não em todo Deus de Israel
de sobre desviou seu coração
ַויַּכֵּם ְבּיִשׂ ְָר ֵאל י ְהוָה ְל ַקצּוֹת ֵהחֵל ַבּיּ ָ ִמים ָההֵם32
e golpeou em Israel para YHWH iniciou os estes Em os
a eles cortar os dias
limites
ְו ַה ָבּשָׁן
e o Basã
ְבוּרתוֹ
ָ ְוכָל־גּ ָעשָׂה ְוכָל־ ֲאשֶׁר י ֵהוּא דִּ ב ְֵרי ְוי ֶתֶ ר34
e toda sua força fez e tudo o Iehu de E resto de
que discursos
atos de
יִשׂ ְָר ֵאל ְל ַמ ְלכֵי ַהיּ ָ ִמים דִּ ב ְֵרי עַל־ ֵספֶר כְּתוּבִים הֲלוֹא־הֵם
Israel? para os dias discursos sobre escritos acaso
reis de atos de livro de não eles
ֶעשׂ ְִרים עַל־יִשׂ ְָר ֵאל י ֵהוּא ָמלְַך ֲאשֶׁר ְו ַהיּ ָ ִמים36
vinte sobre Israel Iehu reinou que E os dias que
בְּשֹׁמְרוֹן פ שׁנָה
ָ שׁמֹנֶה־
ְ וּ
em Samaria E oito anos
20
1
שׁמד- Verbo Hifil Imp. 3° Pessoa Masc. Singular.
2
שׁמד- Verbo Hifil Perf. 3° Pessoa Masc. Singular.
3
סור- Verbo Qal Perf. 3° Pessoa Masc. Singular.
4
אמר- Verbo Qal Imp. 3° Pessoa Masc. Singular.
5
טוב- Verbo Hifil Perf. 2° Pessoa Masc. Singular.
6
עשׂה- Verbo Qal Infin. Construto.
7
עשׂה- Verbo Qal Perf. 2° Pessoa Masc. Singular.
8
ישׁב- Verbo Qal Imp. 3° Pessoa Masc. Plural.
9
שׁמר- Verbo Qal Perf. 3° Pessoa Masc. Singular.
10
הלך- Verbo Qal Infin. Construto.
11
סור- Verbo Qal Perf. 3° Pessoa Masc. Singular.
12
חטא- Verbo Hifil Perf. 3° Pessoa Masc. Singular.
13
חלל- Verbo Hifil Perf. 3° Pessoa Masc. Singular.
14
קצה- Verbo Piel Infin. Construto.
15
נכה- Verbo Hifil Imp. 3° Pessoa Masc. Singular.
16
עשׂה- Verbo Qal Perf. 3° Pessoa Masc. Singular.
17
שׁכב- Verbo Qal Imp. 3° Pessoa Masc. Singular.
21
36 – E os dias que reinou20 Iehu sobre Israel vinte e oito anos em Samaria;
18
קבר- Verbo Qal Imp. 3° Pessoa Masc. Plural.
19
מלך- Verbo Qal Imp. 3° Pessoa Masc. Singular.
20
מלך- Verbo Qal Perf. 3° Pessoa Masc. Singular.
21
Versão da Bíblia Hebraica traduzida em etapas para o Grego Koiné, entre o século III e o século I a.C., em
Alexandria.
22
Versão da Bíblia traduzida para o latim, entre o final do século IV e o início do século V d.C., por São
Jerônimo, a pedido do Bispo Dâmaso I.
23
Coletânea de textos traduzidos para o latim, antes da Vulgata.
24
Versão padrão da Bíblia no idioma Siríaco.
25
Nome que se dá a Torá usada pelos Judeus Samaritanos.
26
Nome atribuído às traduções das frases e comentários aramaicos da Bíblia hebraica, escritos e compilados da
época do segundo templo, até o inicio da Idade Média.
27
Coletânea de textos e fragmentos de texto encontrados nas cavernas de Qumran, no Mar Morto, entre fim da
década de 1940 e durante a década de 1950.
22
com o Códice Vêneto (Sec. VIII/IX) minúsculo, acrescentam ( בֵּיתcasa) ao vocábulo ( ַה ַבּעַלa
baal), conforme a Recensão de Luciano de Antioquia. ” O verso ficaria a partir da variante:
“E destruiu Iehu a casa de Baal de Israel”;
Verso 29: o termo construto ( ֶעגְלֵיbezerros de), bem como ( בְּדָ ןem Dan), traz que [a-
a
add?]: “Os editores da Bíblia Hebraica Stuttgartensia consideram o verso 29 como uma
adição típica da redação Deuteronomista”. O propósito aqui é tecer uma crítica a Jeú por ter
seguido as mesmas práticas pecaminosas de Jeroboão28 (ROBCKER, 2012, p.33-50).
O termo ( בֵּיתbeith) anota, [mlt Mss Seb Vrs tyBB.]: “Muitos M.H.M. (de 21 a 60 de
B. Kennicott, G.B de Rossi e de C.D. Ginsburg - e de 16 a 60 em B. Kennicott, G.B de Rossi
e C.D. Ginsburg em 1 e 2 Samuel) e na situação textual sevirin29, em todas as versões, traz a
preposição ( ְבּEm)”.
Ficaria então: “Somente os pecados de Jeroboão, filho de Nebat, o qual fez pecar
Israel não desviou Iehu depois de eles Bezerros de Ouro o qual em Beith-el e o qual em
Dan.”;
Verso 30: O termo ( כְּכ ֹלConforme todo), traz a explicativa: [Ms Seb lkB., ÖN min
(ãç) kai panta]: “(M.H.M.) nas edições de B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg, na
situação textual sevirin, vem com o termo atrelado à preposição ( ְבּEm)”.
O verso seria: “E disse YHWH para Iehu: Por causa de o qual fez bem para executar
o direito em meus olhos, em todo o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab, filho
de quartos se assentarão para ti sobre o trono de Israel;”.
O Códice Basiliano-vaticano, junto com o Códice Vêneto (Sec. VIII/IX) minúsculo
das versões Peshita e Vulgata trazem a expressão kai panta (e todo)”. Que seria: “E disse
YHWH para Iehu: Por causa de o qual fez bem para executar o direito em meus olhos, e todo
o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab, filho de quartos se assentarão para ti
sobre o trono de Israel;”;
Verso 31: O termo ( ֵמעַלDe Sobre), explica-se [pc Ms Or å lKOm]i : “Poucos M.H.M.
(de 3 a 10 nos M.H.M. citados por B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg - e de 3 a 6
nos M.H.M. de B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg em 1 e 2 Samuel) dos Massoretas
Orientais e o Targum trazem a expressão lKOmi (De todo). ”
28
Cf.Comentário Exegético, p.19.
29
Particípio passado masculino plural da raiz verbal rbs (aram, sbr. Supor, sugerir, ser de opinião de, cogitar),
na construção piel (Cf. Francisco, 2008, p.247)
23
O verso ficaria “E Iehu não vigiou para andarem lei de YHWH Deus de Israel, em
todo seu coração não se desviou de todo, pecados de Jeroboão, o qual fez pecar Israel”;
Verso 33: O termo ( ְוה ָֻראו ֵבנִיe o Rubenita), traz a nota [sic L, mlt Mss Edd War-]: “O
Códice L, muitos M.H.M. e edições impressas da Bíblia Hebraica, cf. Êxodo 33,10, substitui
o Kibbuts ( U), pelo shureq (W).
O termo ( נַחַלa torrente/rio), traz [2 Mss ÖãAåMss + tpF]: “Dois M.H.M. por B.
Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg da Septuaginta, do Códice Ambrosiano (Sex
VI/VII) e dos Manuscritos do Targum - acrescentam ao vocábulo a palavra tpF (aprisco).
A versão seria: “Desde o Jordão, de lugar de nascer o sol toda a terra de o Gileade,
o Gadita, e o Rubenita, e o Manassita, desde Aroer, o qual sobre a torrente (rio), o aprisco,
Arnon, e o Gileade, e o Basã”;
Verso 34: O termo ( ְוכָלe todo), explica [pc Mss åMsç bgW]: “Poucos M.H.M. (de 3 a
10 nos M.H.M. por B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg - e de 3 a 6 nos M.H.M. em
B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg em 1 e 2 Samuel), nos M.H.M. de B. Kennicott,
G.B de Rossi e C.D. Ginsburg do Targum e da Vulgata, trazem a expressão bgW (e feito de).
Ficaria: “E feito de discursos (atos) de Iehu e tudo o que fez e toda sua força, acaso
não eles escritos sobre livro de discursos (atos) de os dias para reis de Israel?”.
Como resultado da análise do aparato crítico, aponta-se que 2 Reis 10, 28-36 - não é
uma perícope que apresenta profundas mudanças em seu histórico de variantes. Com isso
mantém-se a tradução do texto conforme a bíblia hebraica nos apresenta em sua forma final,
não adotando nenhuma das variações apresentadas.
1.3. Delimitação
fato - a fim de identificar o texto em exame como uma unidade perfeitamente localizada e
delimitada; no capítulo 9,1 a 9,14 - temos descrito o episódio onde Jeú é ungido como rei por
um dos “filhos dos profetas”, enviado por Eliseu, à Ramote de Gileade, sendo inclusive
aclamado pelos seus comandados.
Em seguida, a partir de 9,15 até 9,37 a narrativa apresenta o início de um genocídio,
começando pela realeza. Em 9,24 - Jeú mata Jorão de Israel - em 9,27 Ocozias de Judá - e por
fim - em 9,33 - Jezabel - ao lançá-la da janela de onde estava.
O capítulo 10 prossegue na temática da Revolta de Jeú. Após o general ter eliminado
Jorão, Ocozias e Jezabel, ele haveria de eliminar os setenta filhos de Acab, conforme nos diz
o verso 1 do capítulo 10; além de assassinar brutalmente os profetas de Baal, conforme os
versos 25-27 do mesmo capítulo.
O verso 28, onde tem início o estudo analisado, apresenta uma ruptura clara em
relação à narrativa anterior, embora a temática ainda continue a mesma. Se no início do
capítulo 10 temos o relato do assassinato dos filhos de Acab e dos profetas da Baal, que vai
até o verso 27 - a perícope que se inicia no verso 28 - seguindo até o verso 36 é
desproporcionalmente breve, em relação à primeira, e aparece como um conjunto de
documentos de arquivo e reelaboração teológica do redator deuteronomista (CROCETTI,
1994, p.149), que tem por objetivo retratar o balanço do reinado de Jeú.
A seguir, no capítulo 11 a partir do versículo 1, temos exposta uma nova ruptura em
relação ao estudo em questão - onde se marca o início de outra unidade - com novos
personagens, porém bem próximas em temática e enredo. A cena de ação se desloca de Israel,
no norte; para Judá - no sul - a partir da narrativa que aponta uma sucessão de eventos, não
menos violentos, que culminam na substituição de Atalia por um descendente legítimo de
Davi - Joás - no trono de Judá.
A ruptura é acentuada pelo fato do capítulo 11 de 2 Reis ser a primeira instância em
que o editor de Reis incorporou uma narrativa que deriva de fontes judaicas. Assim, mesmo
que a cadeia de acontecimentos em Jerusalém teve seu início no assassinato de Ocozias (9,27-
28), o narrador de 2 Reis 11 concentra-se exclusivamente sobre o papel central desempenhado
pelo sacerdote Joiada na restauração da monarquia davidita e da renovação da aliança entre
YHWH e as pessoas.
Assim sendo, torna-se evidente o fato de que os capítulos 9 e 10 de 2 Reis, já não
compõem as histórias pertencentes ao bloco do ciclo dos profetas Elias (1 Reis 17,1 – 2 Reis
1,18) e Eliseu (2 Reis 2,1 – 8,29) - mas antes estão voltados exclusivamente a Revolta de Jeú,
25
sendo assim a passagem presente no capítulo 10,28-36, um relato único, com um objetivo
específico, perfeitamente localizada como uma unidade bem delimitada.
Do ponto de vista da estrutura, em uma visão geral, o livro Reis como um todo é uma
composição complexa que emprega um método sincrônico de narração, não muito diferente
dos modelos mais antigos da Mesopotâmia, que coordenam as histórias da Assíria e da
Babilônia (COGAN, TADMOR, 1988, p.119).
Wiseman também traz uma divisão tripartite, no entanto um pouco mais simplória:
Resumo dos feitos de Jeú (V.28-33); Demais Acontecimentos (V.34); e Um Pequeno
26
Histórico da Duração do Reinado (V.35-36), que segundo o referido autor, não era algo
comum de se fazer em relatos desta natureza, a não ser que se a intenção do autor fosse
ressaltar o início de uma grande dinastia - que no caso de Jeú - se entendeu entre os anos de
841 a 752 a.C..
Após observar estas propostas, parece bem mais adequado o modelo trazido por O.
Long. Dadas as informações, apresenta-se a seguinte estrutura:
De forma geral, uma relevante observação se faz necessária: Dentro do relato acerca
do reinado de Ocozias, se inseriu a narrativa profética da Revolta de Jeú. Tendo sido levado
em conta os pontos de contato e conteúdo literário desta narrativa entre as frases, e as notícias
do golpe contra Ocozias. Um compositor provavelmente fundiu as duas unidades literárias,
ele terminou a notícia e distribuiu suas partes pelos lugares mais apropriados na história: antes
do início da mesma em (8,28a) incluindo referências à proclamação de Jeú e a tomada de
poder, e (9,14a) com referência ao ataque contra Ocozias.
27
Barrera (1984, p.188) ainda aponta que tal carência no processo redacional, só é
compensada com a adesão do trecho que vai de 10,28-36 - assim como ocorre nos casos das
narrativas sobre Davi e Salomão (1 Reis 2,11; 11,42) - ressaltando que parte da formula
inicial sobre o comportamento moral e religioso de Jeú, está armazenada em 10,29-31. O fato
é seguido pelo relato dos versos 32 e 33, que enquadram historicamente esse reinado,
terminando com a fórmula conclusiva que vai dos versos 34 a 36.
שׂ ָראֵ ֽל׃
ְ ִ שׁמֵ ֥ד י ֵה֛ וּא ֶאת־ה ַ ַ֖בּעַל ִמיּ
ְ ַ ַויּ
31 – E Iehu não vigiou para andar em lei de Javé, Deus de Israel, em todo seu coração, não
se desviou de sobre pecados de Jeroboão, o qual fez pecar Israel;
שׂ ָר ֵ ֖אל
ְ ִ וֹרת־י ְהוָ ֥ה אֱֹלהֵ ֽי־י
ַ ֽשׁמַ ֛ר לָלֶ ֛כֶת בְּת
ָ ְוי ֵ֗הוּא ֹל֥ א
ְבּכָל־ ְלב ָ֑בוֹ ֹל֣ א ָ֗סר ֵמ ַעל֙ ח ַ֣טּ ֹאות ָי ָֽר ְב ָ֔עם ֲא ֶ ֥שׁר ֶהח ִ ֱ֖טיא ֶאת־יִשׂ ְָראֵ ֽל׃
30
Estrutura sintática em que dois segmentos de frase têm duas ou três das suas palavras repetidas em ordem
inversa e de tal modo que a final do primeiro segmento é a inicial do segundo.
28
29 – Somente os Pecados de Jeroboão, filho de Nebat, o qual fez pecar Israel, não desviou
Iehu de depois de eles bezerros de o ouro, o qual Beith-el e o qual em Dã;
ַ֠רק ֲח ָט ֵ֞אי י ָָרב ָ ְ֤עם בֶּן־נְבָט֙ ֲא ֶ ֣שׁר ֶהח ִ ֱ֣טיא ֶאת־יִשׂ ְָר ֵ֔אל
ֽית־אל ַו ֲא ֶ ֥שׁר בּ ְָדֽן׃ ס
ֵ֖ ֵיהם ֶעגְ ֵל ֙י ַהזּ ָ ָ֔הב ֲא ֶ ֥שׁר בּ
֑ ֶ ֹלֽא־סָ ֥ר י ֵ֖הוּא מֵאַ ֽח ֲֵר
30 – E disse Javé para Iehu: Por causa de o qual fez o bem para executar o direito em meus
olhos conforme todo o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab filho de quartos,
se assentarão para ti, sobre o trono de Israel;
שׁ ֙ר
ָ ָ שׁר־ ֱהטִיב ֹ ָ֙֙ת ַלע ֲ֤שׂוֹת ַהיּ
ֶ וַיֹּ֙א ֶמר י ְה ָ֜וה אֶל־י ֵ֗הוּא ַי֤עַן ֲא
ְ֖בּעֵי ַ֔ני כְּכֹל֙ ֲא ֶ ֣שׁר ִבּ ְל ָב ִ֔בי ע ִ ָ֖שׂיתָ ל ֵ ְ֣בית אַח ָ ְ֑אב בּ ֵ ְ֣ני ְר ִב ִ֔עים יֵשְׁב֥ וּ לְָך
שׂ ָראֵ ֽל׃
ְ ִ עַל־כּ ִֵסּ֥א י
Dando prosseguimento a análise do texto, os versos 32-33, mencionam o rei Hazael
de Damasco, e a ameaça que o reino da Síria representou a Israel, durante o reinado de Jeú.
Desde o capítulo 8, versículos 7 a 15, a figura do governante Sírio paira na memória do leitor
de introspecção de Eliseu, de acordo com 2 Reis 8,11-12.
Esse ponto do texto demonstra sua coesão, pelo fato de que é bem possível perceber,
pela menção ao nome de Hazael - e que ele é uma figura que se move perifericamente à
margem do reinado de Jeú (2 Reis 8,28; 9,15) - personagem central da narrativa, confrontando
agora o leitor de forma direta com o relato da vitória militar sobre o Norte, e posteriormente
sobre o Sul (LONG, 1991, p.144).
Os versos de 34 a 36 são aqueles que encerram o breve relato sobre o reinado de Jeú.
Favorecendo a uma melhor compreensão, pode-se apontar o 34-35 como sendo fechamento
do currículo do reinado iniciado pelo sumário (V.28); e o 36 - como o fechamento definitivo
dos relatos sobre este reino - apontando perfeita sincronia na tarefa à qual realizam, conforme
demonstrado abaixo:
ְבוּר ֑תוֹ
ָ ְויֶ֙תֶ ר דִּ ב ֵ ְ֥רי י ֵה֛ וּא ְוכָל־ ֲא ֶ ֥שׁר ע ָ ָ֖שׂה ְוכָל־גּ
שׂ ָראֵ ֽל׃
ְ ִ ֽוֹא־הם כְּתוּ ִ֗בים עַל־סֵ ֛ פֶר דִּ ב ֵ ְ֥רי ַהיּ ִ ָ֖מים ְל ַמלְכֵ ֥י י
֣ ֵ ֲהל
35 – E deitou-se Iehu com seus pais enterraram a ele em Samaria, e reinou Jeoacaz seu filho
em lugar dele;
ַויּ ִשׁ ְַכּ֤ב י ֵהוּא֙ עִם־ ֲאב ֹ ָ֔תיו ַויּ ִ ְקבּ ְ֥רוּ א ֹ֖תוֹ בְּשׁ ֹ ְמ ֑רוֹן ַויִּמְֹל֛ ְך
ְהוֹאָח֥ז בְּנ֖ וֹ תַּ ח ְָתּֽיו׃
ָ י
36 – E os dias que reinou Iehu sobre Israel vinte e oito anos em Samaria; (Fim)
שׂ ִ ֥רים
ְ שׁ֙ר מ ַָלְ֤ך י ֵהוּא֙ עַל־יִשׂ ְָר ֵ֔אל ֶע
ֶ ְו ַהיּ ָ ִ֗מים ֲא
שׁמ ֹנֶ ֽה־שׁ ָָנ֖ה בְּשׁ ֹ ְמ ֽרוֹן׃ פ
ְ וּ
Favoráveis à tarefa de coesão; são os diferentes campos semânticos que se formam
no decorrer da perícope, que contribuem também à tarefa de identificação das camadas
redacionais do texto. O nome “Jeú” ( ֙)י ֵהוּא, que é o principal personagem da história, percorre
boa parte da extensão dos versículos, ocorrendo 7 vezes.
Dados os fatos, podemos apontar que a descrição de 2 Reis 10,28-36 - pela gama
significativa de evidências apresentadas - constitui-se em uma narrativa coesa e bem
construída.
Os livros de 1 e 2 Reis, são uma das principais fontes de todo o estudo acerca da
história de Israel, que abarca o período compreendido entre os séculos X e IX a.C. Trata-se de
uma obra que parece apresentar em seus relatos, uma valorização que compreende um pouco
mais o lado político de toda a história, onde quase nada é relatado sobre os problemas
econômicos e sociais que se erguem em seu decorrer (BUIS, 1997, p.07).
Partindo destas informações, pode-se apontar também, que boa parte dele dedica-se a
explicar a interferência de Javé na história dos homens, evidenciando assim um pouco desta
perspectiva religiosa da obra, a qual foi mencionada acima.
2. Uma segunda análise é a parataxe, que consiste na colocação paralela de pequenas unidades
textuais para a construção de unidades maiores. Não há subordinação, e nem clímax. A
história se encerra quando aparece o último elemento, sem a necessidade de um sumário, ou
conclusão - e para isso - se utilizam diferentes ferramentas: conjunções, frases conectivas e
adverbiais, repetições, etc. Por Exemplo: “E aconteceu que...” 1 Reis 11,15; “Depois destas
coisas...” 1 Reis 17,17 e 21,1 - dentre outras;
3. Uma terceira observação é a analogia, por exemplo: entre Jeroboão e Basa - Elias e Eliseu -
Salomão e Joás - Jeroboão e Manasses - Jeroboão e Jeú; e outros;
Não apenas sobre o estudo, mas em se tratando dos livros dos Reis, de maneira geral,
as teorias que abordam o trabalho de escrita e compilação da obra, são sobremodo extensas.
Existe um grande problema de aceitação entre o que pode ser pós-exilico, ou algo
fruto de uma editoração. O caso é que a maioria dos comentários que são somados ao padrão
histórico, traz em seu bojo o ponto de vista de diferentes editores. Algumas observações são
necessárias à tarefa de datação e autoria do texto.
Em primeiro lugar: o fato de que parece haver um único autor responsável pela tarefa
de seleção das fontes históricas presentes no texto, que permitiram que ele levasse adiante sua
interpretação dos eventos (WISEMAN, 2008, p.49). Casualmente, este mesmo autor parece
intercalar seus próprios comentários (Cf. 2 Reis 17,1-23), porém trata suas fontes de maneira
reverente ressaltando sua credibilidade de uma forma clara e objetiva.
A tradição judaica, durante um tempo, atribuiu a autoria dos livros a Jeremias pelo
fato da proximidade que o livro tem com o do referido profeta - tendo basicamente o mesmo
final - bem como o do profeta Isaías, tanto na teologia, na linguagem e no propósito. É
possível que por sua presença no seio da corte - além do círculo dos escribas em Jerusalém -
que Jeremias tenha tido acesso aos primeiros arquivos do estado de ambos os reinos hebreus
que antecederam a queda da cidade em 586/587 a.C. (WISEMAN, 2008, p.50).
32
A sugestão é que a história tenha sido concluída por volta de 580 a.C. a partir de
registros existentes, seja por Jeremias ou por alguém próximo a ele - quem residia com
Gedalias em Mispa - antes dele e seu grupo retirarem-se para o Egito (NOTH, 1968, p.415).
A obra completa, compõe uma narrativa que segue desde Deuteronômio a 2 Reis, o
que automaticamente colocaria Reis como parte dos profetas anteriores, na Bíblia hebraica
(Josué-Reis).
Esta inclusão traria o entendimento de que a nação inteira era o povo da aliança, que
fora separado por Deus - e que nesse ínterim - a monarquia foi o viés político pela qual se
daria o ajuntamento desse povo novamente, mesmo que a nação fosse julgada e grandemente
influenciada pelos seus vizinhos politeístas, voltando inclusive às práticas Cananeias.
Acerca do peso de Deuteronômio sobre Reis, algo importante deve ser ressaltado.
Existem aqueles que pensam que o livro de Deuteronômio foi encontrado por Josias,
no ano de 622 a.C. na época da reforma que este realizou no templo. Assim sendo, a
conclusão à qual se chega, é que a obra se tratava de algo terminado pouco antes deste
período, e que sua influência em relação aos livros de Reis, date do início do século seguinte.
Contudo, não se tem certeza de que o “Livro da Lei” - do qual 2 Reis 22,3 nos fala -
seja o livro de Deuteronômio em sua forma final, mesmo que contivesse provisões que
motivaram a reforma de Josias.
33
Archer (2012, p.357) diz que a composição de Reis deve ser datada depois da queda
de Jerusalém, provavelmente após a época do exílio. No entanto, ele relata que é possível que
apenas o capítulo final de 2 Reis 25, pertença diretamente, à época do exílio.
Archer ainda nos diz que o fato de não haver a mínima alusão ao próprio Jeremias,
nos capítulos que tratam sobre Josias seria outro indício. Tendo sido Jeremias o último grande
profeta de Judá, possuindo uma importância singular na história deste reino, não haveria outra
razão para a omissão de uma referência ao ministério do profeta, a não ser o fato de que ele -
possivelmente - seja o autor do livro.
O verso 28 demonstra que era dada importância para a história dos reis em seus
feitos, destacando fatos e registros históricos sobre os respectivos reinados, que seriam
compostos. Destaque aqui, em se tratando desse estudo, para a expressão שׁמֵד י ֵהוּא
ְ ַ ַויּ
“אֶת־ ַה ַבּעַל ִמיִּשׂ ְָראֵלE destruiu a Iehu a Baal de Israel”, demonstrando esta questão.
31
Disponível em: http://www.come-and-hear.com/bababathra/bababathra_15.html. Acesso em 17/02/2016
34
Interessante, ainda neste versículo 28, a luz da indicação da crítica textual (cf. item
3); seria de pensar na questão de “Baal de Israel”, como sendo entendido pelo acréscimo da
terminação ( בֵּיתbeith) a expressão ( ַה ַבּעַל מיִּשׂ ְָראֵלhabaal), que a colocaria como “Casa de
Baal de Israel” mostrando o que de fato Jeú destruiu - que foi o culto institucionalizado a Baal
- com a derrubada do templo e o assassinato dos profetas.
Antes de qualquer coisa, destruir a Baal era importante, pelo fato do baalismo ser a
representação de um sistema tributário explorador de uma forte ingerência estrangeira,
seguida de uma invasão cultural e de uma estratificação social característica das cidades-
estado, onde os deuses legitimavam a estrutura hierárquica, representada pelo rei e as elites
(PIXLEY, 1987, p.146-148).
Pode-se caminhar na seguinte direção; não foi o ódio a Baal que provocou a
destruição do seu templo e o assassinato de seus profetas durante a Revolta de Jeú, antes, tal
feito se deu pelo fato de que o templo de Baal em Samaria era enquanto incrustação
estrangeira - posto avançado da Fenícia - em Israel (ASTOUR, 1959, p. 37).
Robker relata que o testemunho contido no verso 28, presumidamente fora alterado
pelo relato da destruição de Israel, contido em 2 Reis 17 - especialmente no versículo 16 deste
capítulo - onde tem-se um ato claro de adoração a Baal por parte da nação. Ressalta ainda, que
não é pelo fato de Israel ter sido destruída, no capítulo 17, que Baal tenha sido destruído
(ROBKER, 2012, p.33). Provavelmente é por essa razão, que alguns manuscritos, tanto
do hebraico - quanto do grego - trabalham o texto a partir do princípio que, Jeú só destruiu o
templo de Baal em Samaria sem inteiramente remover o culto a Baal do contexto popular.
35
ַרק ֲח ָטאֵי י ָָר ְבעָם בֶּן־נְבָט ֲאשֶׁר ֶה ֱחטִיא אֶת־יִשׂ ְָראֵל ֹלא־סָר י ֵהוּא מֵאַח ֲֵריהֶם ֶעגְלֵי ַהזָּהָב ֲאשֶׁר29
בֵּית־אֵל ַו ֲאשֶׁר בְּדָ ן ס
29– Somente os pecados de Jeroboão filho de Nebat, o qual fez pecar Israel não desviou Iehu
depois de eles bezerros de o ouro o qual Beith-el e o qual em Dã;
ו◌ַ יּ ֹאמֶר י ְהוָה אֶל־י ֵהוּא יַעַן ֲאשֶׁר־ ֱהטִיב ֹתָ ַלעֲשׂוֹת ַהיָּשָׁר ְבּעֵינַי כְּכ ֹל ֲאשֶׁר ִבּ ְל ָבבִי ָעשִׂיתָ ְלבֵית אַחְאָב30
ְבּנֵי ְר ִבעִים יֵשְׁבוּ לְָך עַל־ ִכּסֵּא יִשׂ ְָראֵל
30 – E disse YHWH para Iehu: Por causa de o qual fez bem para executar o direito em meus
olhos, conforme todo o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab, filho de quartos
se assentarão para ti sobre o trono de Israel;
ְתוֹרת־י ְהוָה אֱֹלהֵי־יִשׂ ְָראֵל ְבּכָל־ ְלבָבוֹ ֹלא סָר ֵמעַל חַטּ ֹאות י ָָר ְבעָם ֲאשֶׁר
ַ שׁמַר ָל ֶלכֶת בָּ ְוי ֵהוּא ֹלא31
ֶה ֱחטִיא אֶת־יִשׂ ְָראֵל
31 – E Iehu não vigiou para andar em lei de YHWH Deus de Israel, em todo seu coração não
se desviou de sobre pecados de Jeroboão, o qual fez pecar Israel;
com 2 Reis 13,3-5 - embora a grande responsável pela libertação de Israel do domínio arameu
tenha sido a Assíria (KAEFER, 2015 p.84).
Joás (798-782 a.C.) deu continuidade à dinastia de Jeú. Fernandes (1998, p.71) nos
diz que, em termos políticos e econômicos o reinado de Joás constitui uma antecipação
daquilo que ele chama de “glória jeroboânica”, haja vista ter sido Joás sucedido por Jeroboão
II. Também neste período, de acordo com 2 Reis 13,20 - morre o profeta Eliseu.
Jeroboão II (793-753 a.C.) teve o reinado mais longo da história de Israel, de acordo
com 2 Reis 14,25-38. Durante o seu reinado Israel retoma as fronteiras do tempo de Omri e
Acab (2 Reis 14,25), além do fato de que cidades como Betsaida, Hazor e até mesmo Dã -
passam a ser administradas por Israel norte - que retomou o caminho do desenvolvimento
(KAEFER, 2015, p.84).
Por fim, o último rei da dinastia de Jeú foi Zacarias (753 a.C.). Este teve um curto
período de reinado, apenas seis meses, sendo posteriormente assassinado por Salum, de
acordo com o relato de 2 Reis 15,8-12 - fato este que pôs um fim abrupto a esse governo.
Os estudiosos, no entanto, preocupados com a reconstrução de uma história de
redação - naturalmente - encontram razões para detectar os vestígios de vários editores dentro
desta unidade. Por exemplo, Gray (1970, p.562) coloca ao menos dois redatores, um para os
versos 28 e 29 e outro para 30 a 32 pelo contraponto das opiniões que hora convergem em
elogiar o reinado de Jeú, e hora divergem sobre este mesmo assunto.
Wurthwein (1977, p.343) atribui aos versos 28 a 31 a uma redação mais tardia - à
deuteronomista - que envolve uma série de glosas secundárias; posições estas encontradas
também em Dietrich (1972, p.34) e em Barré (1988, p.22-23) que entendem o V.29 como
estando sozinho, sendo uma expansão em uma composição do redator.
Outra possibilidade que merece destaque é o fato de que os versos 29-31 podem ser
pós-exílicos. Isto se dá pelo fato da existência de algumas peculiaridades no escopo do texto.
A expressão “pecado” ( ) ֲח ָטאֵיaparece duas vezes, além do fato de haver uma menção clara a
32
Forma de religião onde se cultua uma única divindade, considerada suprema, mas sem negar a existência de
outros deuses.
38
ַבּיָּמִים ָההֵם ֵהחֵל י ְהוָה ְלקַצּוֹת ְבּיִשׂ ְָראֵל ַויַּכֵּם ֲחזָאֵל ְבּכָל־גְּבוּל יִשׂ ְָראֵל32
32 – Em os dias, os estes, iniciou YHWH para cortar os limites em Israel e golpeou a eles
Hazael em todo território de Israel;
אַרנ ֹן
ְ שּׁמֶשׁ אֵת כָּל־א ֶֶרץ ַה ִגּ ְלעָד ַהגָּדִ י ְוה ָֻראו ֵבנִי ְו ַה ְמנַשִּׁי ֵמעֲרֹעֵר ֲאשֶׁר עַל־נַחַל
ֶ מִן־ ַהיּ ְַרדֵּ ן ִמז ְַרח ַה33
ְו ַה ִגּ ְלעָד ְו ַה ָבּשָׁן
33 – Desde o Jordão, de lugar de nascer o sol toda a terra de o Gileade, o Gadita, e o
Rubenita, e o Manassita, desde Aroer, o qual sobre a torrente (rio) Arnon, e o Gileade, e o
Basã;
33
Oasis localizado em torno do rio Barada, onde Damasco foi fundada.
39
que tinham sido agregados a Israel durante o reinado de Acab (KAEFER, 2012, p.41). A
Estela de Dã34 aborda esse tema, levando ao entendimento através de seu conteúdo, que
Hazael, além de recuperar as terras, se encarregou de eliminar todos os reis que formaram a
coalizão anti-damasco.
A referência territorial conquistada por Hazael, presente no texto, faz alusão aos
territórios da região montanhosa da Transjordânia, que estavam arrolados a Israel, mas que
pertenciam, anteriormente, em sua maioria a Damasco. As linhas 3 e 4 da Estela de Dã, que
será trabalhada nos capítulos a seguir, retratam que durante um determinado período, Israel
dominou Damasco.
A planície fica ao norte do Arnon, sendo palco da batalha entre Israel e Moabe. O
Basã é a parte que fica ao norte do Yamurk e, por fim, Gileade é a seção claramente israelita
da Transjordânia abrangendo as regiões do mar morto e do mar da Galiléia; de acordo com as
informações de Genesis 37,25 - Josué 22,9 - 2 Samuel 2,9 - Ezequiel 47,18 e Amós 1,3 -
dentre outros textos bíblicos.
A região de Basã se destaca pelo seu alto índice de fertilidade, em relação as demais
localidades. Especialmente para as atividades voltadas à pecuária (Amós 4,1) e para à
edificação de cidades (1 Reis 4,13). Gileade detinha a maior concentração da população
israelita na Transjordânia, abrigando inclusive alguns reis em tempos de crise política. Trata-
se também de uma região altamente fértil.35
34
Cf. Capítulo II
35
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/judaica/ejud_0002_0007_0_07310.html. Acesso em 15/02/2016.
40
35 – E deitou-se Iehu e enterraram a ele com seus pais em Samaria, e reinou Jeoacaz, seu
filho, em lugar dele;
Os livros das crônicas dos reis de Israel e Judá - ou simplesmente o livro dos Anais
reais de Israel e Judá - mencionados na maioria dos relatos sobre os Reis, inclusive aqui, são
41
De todos os reis de Israel, apenas Jorão e Oseias não são mencionados nos registros
reais. Dos reis de Judá, o mesmo se aplica a Atalia, Jeoacaz, Joaquim e Zedequias. É incerto
se esses livros foram registros reais próprios ou anais editados com base nos registros. É
possível, tendo em conta as referências negativas a certos reis: Zinri (1 Reis 16), Selum (2
Reis 15) e Manassés (2 Reis 21) que os registros foram editados (COGAN, 2000, p.89-91).
Somado a este fato, o autor dos registros dos reis de Judá, ao sul, dificilmente
poderia ter acesso a todos os fatos reais do reino do norte. O conteúdo destes livros parece
idêntico ao dos anais assírios; provavelmente os fatos narrados nos livros dos Reis têm por
base este material. O livro das Crônicas menciona o livro dos reis de Israel e de Judá (1
Crônicas 9,1 - 2 Crônicas 16,11 - 20,34 e 27,7), onde o cronista parece estar se referindo as
mesmas obras, mas provavelmente não as têm à sua disposição (MONTGOMERY, 1951,
p.38).
Pode-se também considerar nessa abordagem, onde é citado o trecho ְוי ֶתֶ ר דִּ ב ְֵרי י ֵהוּא
“ ְוכָל־ ֲאשֶׁרE resto de, de discursos (Atos) de Iehu e tudo o que fez” o episódio da submissão
de Jeú a Salmanassar III em 841 a.C., retratado no obelisco negro. Esse foi descoberto por
Henry Layard, no ano de 1846, em Calesh - Iraque, que retrata a figura de Jeú prostrado
diante do rei Assírio e emissários Israelitas com tributos atrás dele.
A expressão “ ְוכָל־ ֲאשֶׁרE tudo o que Fez”, está geralmente ligada a períodos de
guerra (Cf. 1 Reis 10,6). Alguns sustentam que Jeú tenha reconquistado Moabe, integrando-a
ao território de Israel (WISEMAN, 2008, p.202).
Jeú foi o grande responsável pela eliminação da Dinastia Omrida que reinou em
Israel durante 42 anos (884-842 a.C). Sua dinastia chegaria até a quarta geração, no ano de
753 a.C., nos dias de Zacarias, filho de Jeroboão II. Possui grande importância para a redação
42
36 – E os dias que reinou Iehu sobre Israel vinte e oito anos em Samaria;
Além dessas observações, através das análises realizadas, foi possível constatar que
os relatos de perda de território a que se referem os versos 32 e 33, se tratam de uma situação
histórica real, inclusive retratada pela Estela de Dã.
43
Dadas as informações de data e autoria, é possível que o livro tenha sido escrito por
volta do século VI. Embora carente de elementos de maior precisão, se tem como um autor
em potencial, o profeta Jeremias, conforme destacamos no corpo da exegese.
CAPÍTULO II
JEÚ E A ESTELA DE DÃ
Quando se olha para um texto bíblico pela primeira vez, geralmente em uma
comunidade religiosa, quase nunca se presta atenção que por detrás de todo discurso
hermenêutico empregado nas solenidades litúrgicas, há toda uma história que se
constrói a partir disso, tanto de fatos históricos concretos, quanto da defesa de
interesses, por parte daqueles que a escreveram.
Finkelstein (2003, p.16) diz que o conhecimento produzido pela mesma é tão
formidável, que é quase enciclopédico. Este cabedal de descobertas aponta informações
sobre as condições materiais, as línguas, as sociedades e o desenvolvimento histórico
dos séculos durante os quais as tradições do antigo Israel se solidificaram, transpondo
cerca de seiscentos anos, período esse compreendido entre os anos de 1000 a 400 a.C..
46
Desde o século XIX, quando a exploração moderna das terras da Bíblia teve
início, uma série de descobertas espetaculares e décadas de constante escavação e
interpretação arqueológica sugeriram que muitos dos relatos bíblicos eram
fundamentalmente confiáveis em relação aos principais contornos da história do antigo
Israel.
Thompson (2007, p.21), diz que a arqueologia na pesquisa bíblica possui toda a
fascinação da ciência - e busca desvendar a história das eras passadas escavando seus
remanescentes materiais. Além disso, ela acrescenta o interesse de que, mediante o seu
estudo, se possa obter melhor esclarecimento sobre os fatos que compõem o relato
bíblico.
Yadin, (1968, p.9-23) afirma que a tribo de Dã, originou-se como um dos
povos do mar, que permaneceram em seus navios no início do Cântico de Débora, como
36
http://www.netours.com/content/view/98/36/1/3/; Acesso em 07/09/2015.
48
relato de Juízes 5. Essa hipótese é considerada pelo fato de não haver antes disso,
nenhuma menção no texto bíblico a qualquer terra em Israel que levasse o nome da
tribo.
37
Nome dado aos assim chamados “lugares altos”, dados comumente pelas bíblias, onde os judeus
cultuavam as divindades. Vide tópico “Escavações em Tel Dã”.
383
https://teldan.wordpress.com/discoveries/. Acesso em 15/09/2015
49
39
https://teldan.wordpress.com/discoveries/. Acesso em 15/09/2015.
50
As pessoas se encontravam ali para discutir sobre a vida (Salmo 63,13) - o rei
realizava audiências - os profetas denunciavam as injúrias e injustiças dirigidas aos
pobres; além dos julgamentos iníquos dos juízes, segundo Amós 5,10-12,15 - Zacarias
8,16-17 e Jó 5,4 (KAEFER, 2012 p.36).
Bamah de Tell Dã com três matsebooth405. Foto by Ferrell Jenkins. Imagem Obtida em:
https://ferrelljenkins.wordpress.com/2010/03/page/2/ (Acesso em 27/12/2015).
40
Representação de Divindades.
52
preservado, além de ser o mais antigo desse estilo, sendo um trabalho de engenharia que
até então se acreditava ser de origem bem tardia. Abaixo uma imagem descritiva do
artefato.
Como precursor dos trabalhos arqueológicos em Tell Dã, Biran dividiu o lugar
em sete áreas principais muito bem localizadas. As áreas 1, 2 e 3, na entrada do sítio,
parte sul, abrigam o conjunto de portões, entre eles os do século IX e VIII, que são os
que sobressaem à entrada do local. Somado a estes, tem-se: o pátio interno e externo; o
altar; o pavimento e a muralha.
Vale ressaltar que a área 5, devida a sua importância foi dividida em outras
quatro subáreas: 1) Norte, que se localiza a bamah; 2) Central, local do altar que fica
num piso abaixo da bamah; 3) Oeste, onde se encontram as salas, formando uma longa
estrutura retangular paralela ao complexo e 4) Sul, da qual se tinha uma prensa de azeite
de oliva.
No local onde se escavou o grande altar, foi encavado outro altar menor - mas
também de quatro chifres - de formato inteiriço. É o maior encontrado nesse formato.
Atrás do grande altar - ao sul - havia uma escadaria que conduzia até o alto, e outra que
levava a bamah.
esse fim. Debaixo do altar foi achada a cabeça de um cetro de bronze e prata, de
formato similar ao altar de quatro chifres.
2.5 A Estela de Dã
2. [.........] meu pai foi [contra ele quando] ele lutou em [....]
3. E meu pai deitou-se (morreu), e foi para seus [pais]. E O rei de I[s-]
4. rael entrou previamente na terra de meu pai. [E] Hadad me constituiu rei
5. E Hadad foi à minha frente [e] eu parti de [os] sete[.....]
6. do meu reino, e eu matei [sete]nta rei[s], que usavam milha[res de caros]
7. ros e milhares de cavaleiros (ou cavalos). [Eu matei Jeo]rão filho de [Acabe]
8. Rei de Israel, e eu matei [Acaz]ías, filhos de [Jeorão re]i
9. Da Casa de Davi. E eu tornei [suas vilas em ruínas e tornei]
10. sua terra em [desolação........................]
11. outro ...[.........................................................................e Jeú gover]
12. nou sobre Is[rael......................................................................e eu pus cerco]
13. sobre[............................................................]
Umas das descobertas que mais chamou à atenção na Estela de Dã, foi a
expressão localizada na linha 9 do extrato, “byt dwd”, que foi traduzida como “Casa de
Davi”. Essa menção seria um importante indício que atestaria a existência de Davi, fato
este muito questionado pelos historiadores pela ausência de registros comprobatórios de
fontes extra bíblicas.
41
http://www.biblearchaeology.org/post/2011/05/04/The-Tel-Dan-Stela-and-the-Kings-of-Aram-and-
Israel.aspx. Acesso em 09/09/2015;
42
Tradução realizada a partir do texto em inglês: “The Tel Dan Inscription: A New Fragment”. Israel
Exploration Journal. 1995, vol. 45, N°1. p.1-18
57
A Estela de Messa trás um caso parecido. Ela tem uma referência à palavra
“dwd”, caso este onde é bem mais provável que a expressão signifique “amado”, por
fazer referência direta à Javé, como divindade de Israel, que teve seu altar arrastado
perante a divindade Quemosh. Já na Estela de Dã, provavelmente a menção se refira de
fato a Casa de Davi, como sendo uma dinastia conhecida no reino da Síria e, por
conseguinte, detentora de certa importância a ponto de ser mencionada.
Não se tem muita certeza da origem tribal de Omri. Tendo em conta que seu
nome soa estrangeiro (BORN, 1987, p.85), alguns autores se perguntam se não se
tratava de um mercenário ou um soldado profissional que se tornou chefe do exército
(GOTTWALD, 1988, p.241).
A Estela de Dã, dentre outros fatos, remonta o histórico dos conflitos entre
Israel e Damasco no período do reinado de Hazael. O rei arameu viria a dominar Israel
na segunda metade do século IX, e a Estela de Dã nos leva de volta àqueles dias.
Ocozias em Ramot de Galaad, no evento conhecido como a “Revolta de Jeú”, por volta
do ano 841 a.C. (2 Reis 8,28-29).
Por conta dos espaços presentes entre as linhas da Estela, pode-se atribuir uma
série de interpretações, e nesta oportunidade considerar-se-á o histórico de cinco dos
seis reis, que segundo entende-se - se encontram associados à Estela - e seu conteúdo:
Acabe; Ocozias: Jorão; Ben-Haddad II; Jorão e Jeú.
Jorão reinou durante doze anos em Israel (2 Reis 31), sendo o quarto monarca
da Casa de Omri. A dinastia Omrida governou durante quase meio século, durante os
quais defenderam Israel contra vizinhos agressivos - expandindo as relações
diplomáticas e comerciais - construindo novas cidades - e desenvolvendo a economia -
através de uma aliança com os Fenícios (BERLYN, 2007.p.211).
Ao ser morto por Jeú, o corpo de Jorão foi jogado no campo de Nabot. Aos
olhos do redator deuteronomista, este episódio serviu para que se cumprisse a profecia
anunciada após o assassinado de Nabot por Jezabel (2 Reis 8,20-22).
Ocozias era o filho mais novo de Jorão, rei de Judá, - e neto de Josafá (2 Reis
8,16-29). Exerceu um período de reinado muito breve, durando cerca de um ano
aproximadamente (843-842 a.C.). Pouco depois de sua ascensão, tomou parte na batalha
de Ramot de Galaad - contra Hazael de Damasco - auxiliando Jorão, de quem era fiel
vassalo.
Sua ligação com a corte em Israel se dava também através de sua mãe Atalia,
que era filha de Jezabel e Acabe (2 Reis 8,26-27).
Jorão, tendo sido ferido em batalha, voltou a Jezreel para se recuperar. Ocozias
também deixou o campo de batalha, em Gileade, e depois de uma visita a Jerusalém,
veio a Jezreel para uma conferência com Jorão.
Enquanto isso, o golpe militar sob o comando de Jeú tinha começado. Jorão foi
surpreendido por ele e morto. Ocozias fugiu pelo caminho da "casa do jardim." Ele foi
ultrapassado por soldados de Jeú - e ferido dentro de seu carro, mas ainda assim,
61
conseguiu escapar para o sul, e morreu ao chegar a Megido. Seu corpo foi levado para
Jerusalém e sepultado junto de seus pais (2 Reis 9,28).
Este fato também nos mostra que no século IX, a dinastia Davídica era
conhecida entre os grandes impérios da época. No entanto - na Estela de Dã - ela é
citada em segundo plano, após a menção a Casa de Omri, fato este que mostra que a
Dinastia Omrida era mais importante e respeitada do que a de Davi, em Judá.
2 Reis 9, 1-10 diz que Eliseu envia um dos “Filhos dos Profetas”, para os
quartéis generais do exército israelita em Ramote de Gileade, com a estrita finalidade de
ungir Jeú como rei. Ele se aproveita do fato de que Jorão estava ausente, pois havia
voltado para Jezrael para tratar de seus ferimentos.
Após o episódio de sua unção como rei, Jeú de imediato sobe em seu carro
juntamente com os seus comandados - que conscientes do que ele estava por fazer - lhe
demonstraram fidelidade, e a toda velocidade parte em direção a Jezrael ao encontro do
rei Jorão e de seu parente Ocozias. Ao chegarem lá, Jorão é notificado da presença de
uma tropa, por sua sentinela.
62
43
Porém, vale a pena ressaltar que este não foi o fim do culto a outras divindades, pois o culto ao bezerro
de ouro teria continuado tanto em Betel, quanto em Samaria, conforme 2 Reis 10,29
63
7. ros e milhares de cavaleiros (ou cavalos). [Eu matei Jeo]rão filho de [Acabe]
8. Rei de Israel, e eu matei [Acaz]ías, filhos de [Jeorão re]i
9. Da Casa de Davi. E eu tornei [suas vilas em ruínas e tornei]
10. sua terra em [desolação........................]
11. outro ...[.........................................................................e Jeú gover]
12. nou sobre Is[rael......................................................................e eu pus cerco]
13. sobre[............................................................]
O fato de Hazael ter relatado a autoria dos assassinatos dos reis de Israel e
Judá, torna a ascensão de Jeú ao poder muito mais uma obra de estratégia política, e que
tornou Israel seu vassalo, do que simplesmente uma revolta que tinha por
representatividade uma abordagem popular, mesmo que houvesse certa conveniência a
este pleito.
Joás - que pagou para recuperar a cidade real - tomou todos os objetos sagrados
dedicados por seus antecessores: Josafá; Jorão e Ocozias, além daqueles que ele mesmo
havia consagrado para saldar o débito com Hazael.
Nas inscrições de Salmanassar III, a partir do 18° ano, Hazael já figura como
principal adversário dos assírios - herdando o papel já exercido por seu pai Haddad do
ano 6° ao ano 11° - sendo até mesmo capazes de resistir a repetidas campanhas. Ainda
seu filho Ben-Haddad III comandará a coalizão que assediou Hadrak na Síria
setentrional.
Sem dúvida, Damasco foi uma potência hegemônica de grande parte da Síria-
Palestina e que Israel, bem como Judá, teve de se restringir a uma posição de vassalo
que o texto bíblico minimiza e atribui, aliás, a punição divina.
Em primeiro lugar, destaca-se que apesar de tudo o que ele fez - o perfil das
coisas não sofreu muita ou quase nenhuma mudança (2 Reis 10,28-29).
44
Sitio Arqueológico no norte da Síria em Aleppo, cerca de 30 quilômetros a leste do Rio Eufrates.
65
O fato é que a descoberta da Estela de Dã faz olhar para o texto bíblico com
lentes que outrora pareciam distantes. A vitória do rei Hazael, sobre os reinos de Israel
e Judá, não fora um fato isolado apenas de consequências locais.
Essas novas diretrizes são sobremodo importantes para que se possam traçar os
rumos que a história tomou em um período pouco conhecido do relato bíblico - os
séculos IX e X - o esforço da arqueologia nessa tarefa, tem tornado cada vez mais
precisas estas informações, e de fato tem descoberto que o reino de Damasco possuía
grande força durante o reinado de Hazael (845-800 a.C.), e que em muito pode justificar
sua intervenção sobre os reinos de Judá e Israel, o que acabou por torná-los seus
vassalos (KAEFER, 2013, p.44).
história, que vem à tona com a finalidade de complementar o sentido que o texto
sagrado tem.
Não se trata de suplementação do texto, mas muito mais uma perspectiva onde
tudo parece convergir para o propósito primeiro de Javé, mesmo que para isso sejam
adotados caminhos e posturas que parecem não ser lógicos, a não ser pela investigação
minuciosa e pelo debruçar nos caminhos da compreensão.
parece ter se tratado de um golpe militar - que tinha como força maior, o rei Hazael de
Damasco. Hazael parece ser também o autor do conteúdo da Estela de Dã.
68
CAPÍTULO III
O IMPÉRIO DA SÍRIA
Visto ampliar a visão sobre esse importante reino na história bíblica, e deveras
crucial no evento o qual essa dissertação se propõe a analisar, nesse capítulo se atentará sobre
o reino da Síria - com ênfase especial aos reinados de Hazael e Ben-Haddad - em uma análise
conjunta com a Estela de Dã, que trata sobre o assunto.
É durante o reinado de Adadezer46, rei da cidade de Soba, que era uma das pequenas
cidades estado de Aram no século XI a.C. (THOMPSON, 2007, p.110), que os arameus
aparecem pela primeira vez na história bíblica como um reino consolidado.
69
Dentre os arameus orientais, tem-se como um dos mais notáveis - Abraão - que surge
da cidade de Ur dos Caldeus50, que mesmo sendo uma cidade de origem suméria, tinha as
portas abertas para os caldeus/arameus (MERRIL, 2007, p.12).
A linhagem de Abraão51 mostra que os caldeus eram semitas, assim como todos os
arameus523. Sua migração juntamente com a família para Padã-Aram, terra dos arameus
ocidentais, coincide com o a invasão e domínio gutiano (2180-2070 a.C.) na Baixa
Mesopotâmia (HARRISON, 2010, p.52).
Os relatos sobre a origem dos patriarcas, em sua maioria, conduzem o leitor para
uma concepção de que os mesmos sempre são classificados - em sua ascendência - como
arameus. Mesmo que tenham habitado por longos períodos em cidades que permitiriam a eles
serem identificados a partir das mesmas, tais como Canaã, Padã-Aram e até mesmo Ur
(ALBRIGHT, 1941, p.181).
Na bíblia temos alguns exemplos: Jacó - neto de Abraão - foi reconhecido como
sendo um arameu, que desceu ao Egito, vindo a ser uma grande nação53.4Mesmo tendo
passado boa parte de sua vida em Canaã, além do fato de ter ido para Padã-Aram ao fugir de
Esaú e ter se hospedando na casa de Labão - seu tio - vindo a se casar posteriormente com Lia
46
Cf. 1 Crônicas 18,3-8
47
Cf. 1 Samuel 8,1-18
48
Arameus Ocidentais
49
Arameus Orientais
50
Cf. Gênesis 11,27-31
51
Cf. Gênesis 11,10-24
52
Cf. Gênesis 10,21-22
53
Cf. Deuteronômio 26,5
70
e Raquel54; também temos o exemplo de Isaque que se casou com Rebeca - filha do arameu
Betuel55 - que era filho de Naor56, irmão de Abraão.
Desse modo, se pode concluir que Aram se relaciona intrinsecamente com Israel na
construção de sua história e na formação de seu povo, ou seja, segundo esses textos bíblicos,
as origens de Israel, seus patriarcas e suas matriarcas, estão em Aram, sendo por sua vez
arameia.
Hadade-Rimom era o principal deus do panteão arameu. Era o deus do trovão, vento
e chuva - sempre acompanhando por sua consorte Astarte. Seus adoradores acreditavam que
quando ele morria, as plantas secavam e por isso deveriam chorar a sua morte (KASCHEL,
ZIMMER, 2005, p.57), segundo Zacarias 12,11.
Ele também aparece no panteão semita oriental no período babilônico antigo, estando
entre os deuses acadianos sob o nome Adad (GREENFIELD, 2001, p.284).
O crescimento do poder sírio foi estimulado pelas hostilidades que havia entre Judá e
Israel e pela perturbação que caracterizava a própria dinastia israelita. Quando Jeroboão I
morreu por volta de 910/909 a.C., seu filho Nadabe o sucedeu por dois anos, mas foi
assassinado por Baasa de Issacar na cidade filistéia de Gibetom.
54
Cf. Gênesis 28,5 e 31,20-24
55
Cf. Gênesis 25,20
56
Cf. Gênesis 22,20-23
57
Estela erigida por Zakkir, rei de Hamat, em gratidão ao deus Baal Shamin por livrá-lo da coalizão
possivelmente liderada por Ben-Hadad III, filho de Hazael.
71
Isso ocorreu por volta do terceiro ano do reinado de Asa - rei de Judá - que se tornou
monarca após a morte de Abias, o sucessor de Roboão.
Ben-Haddad respondeu a este pedido enviando Baasa de volta à sua capital, Tirza -
enquanto Asa marchou para Ramá e a demoliu. Ele resgatou o material das ruínas de Ramá e
com ele construiu duas outras fortalezas em Judá, ato este que rendeu a Ben-Haddad
benefícios políticos.
Sua intervenção fez com que ele ganhasse o controle das prósperas rotas de
caravanas para os portos fenícios, permitindo com que viesse a aumentar a sua riqueza e
fizesse próspera a sua principal cidade – Damasco - assim como fez Salomão em Judá. Sobre
as rotas comerciais - os livros de Reis e Crônicas - trazem narrativas de guerras ocorridas nos
territórios de Ramote de Gileade e na região de Basã, entre os arameus e os israelitas - tanto
de Israel - quanto de Judá.
A região era cortada pelo chamado “Caminho do deserto de Edom”597, que ligava o
Egito à Mesopotâmia, passando por: Cades-Barnéia, ao sul de Canaã; continuava a leste por
Edom e subia a Transjordânia; atravessando os territórios de Amom; Moabe; Gileade;
Damasco e por fim à Mesopotâmia (ANDREW, WALTON, 2007, p.47).
O auge do poderio arameu se deu por volta dos anos 950 - 800 a.C. com a retomada
das regiões ao sul do Eufrates, o que coincidiu com o declínio da dominação israelita - da
dinastia Omrida - como relata (2 Reis 10,32-33) e as Estelas de Dã e Mesha. Damasco vem a
se tornar centro do estado arameu - já com Hazael - além de se tornar uma potência do oeste,
liderando os povos da região e coligações militares contra a Assíria - e também Israel - no
tempo dos Omridas (ANDREW, WALTON, 2007, p.172).
O fim da hegemonia dos sírios acontece por volta de 732 a.C., com a invasão dos
Assírios - promovida por Tiglate-Pileser III - quando este recebeu ouro e prata da parte de
58
Cf. 1 Reis 15,17
59
Cf. 2 Reis 3,8
72
Acaz, rei de Judá - para que fosse liberto da ameaça de Resim de Damasco e Peca de Israel60.
Tiglate-Pileser matou Rezim, dez anos depois Salmaneser III, destruiu Samaria61.
3.1.1 Damasco
Damasco está situada sob a encosta leste da cordilheira Antilíbano62, nos confins da
estepe Síria. Ergue-se no canal principal do Rio Barada, na borda noroeste do oásis de Gutah,
sendo cercada por uma vasta área de pastagens (PITTARD, 1987, p.7-10). Também foi
chamada de “Sa-emari-su” pelos assírios, que significa "terra do burro" (HONIGMANN,
1983, p.104).
A imagem abaixo apresenta uma noção das condições geográficas, nas quais se
localiza a cidade de Damasco, bem como, uma ideia da extensão do território pertencente à
Síria:
___________________________
60
Cf. 2 Reis 16,5-9
61
Cf. 2 Reis 18,9-10
62
Cordilheira a leste do Líbano, paralela ao monte Líbano, passando pela Síria e Israel.
73
Essa denominação pode facilmente ser explicada pelo fato de que o oásis de
Damasco foi ponto de convergência das caravanas de burros - advindas das várias rotas de
comércio - antes da domesticação do dromedário. Isso também pode ser atestado
anteriormente em textos neoassírios, que usam frases como "hurasu sa abni-su" "Recife de
Ouro" e "hurasu sa ma i-su" “Lugar de Ouro". Porém, nenhum texto neoassírio publicado
menciona Damasco ou o seu oásis (LIPINSKI, 2001,37).
O nome da cidade aparece assim, pela primeira vez como "t-m-q-s" na lista
geográfica do tempo de Tutmés III638(AHARONI, 1967, p.147). As fontes escritas a partir da
idade do bronze tardio e da idade do ferro I, não transmitiram nenhuma informação sobre
Damasco (WILL, 1944, p.1-44).
Assim, nada se sabe sobre as origens da presença arameia que possam retomar o
período anterior ao século XI a.C., já (I Reis 11,23-25) é uma das únicas informações
explícitas sobre os eventos que levaram à criação do estado de Aram-Damasco (LIPINSKI,
2000, p.348). Damasco foi um poderoso reino ao longo dos séculos IX e VIII a.C. durante os
reinados de Hezion, Tabremon - seu filho - e seguido por Rezim.
63
Sexto Faraó da Dinastia Egípcia do Império Novo
74
Com a morte de Ben-Haddad II - Hazael - que foi quem o matou (2 Reis 8,15),
assumiu o trono de Damasco em 843 a.C.. Jorão, o rei de Judá (841 a.C.) e Ocozias, seu filho
- neto de Acaz - rei de Israel (852-841 a.C.), travaram uma guerra contra Hazael em Ramote
de Gileade. Ele fora ferido (2 Reis 8,28-29) e juntamente com seu filho, retornam à Jezrael
para tratar dos ferimentos, onde ambos acabam sendo mortos por Jeú (2 Reis 9,14-29).
A Estela de Dã reconta esse episódio. Seu texto está creditando a Hazael essa vitória
sobre "o rei de Israel" e "o rei da casa de Davi" - isso é - Judá (LIPINSKI, 2000, p.378), no
evento conhecido como “A Revolta de Jeú”. Tempos mais tarde, Hazael empreenderia uma
batalha contra Salmanassar III, rei da Assíria, sendo forçado a retirar-se do norte de Israel
(YAMADA, 2000, p.192).
Ben-Haddad III governou Damasco após a morte de seu pai, Hazael. Ele cedeu
território para Jeoás (798-782 / 781 a.C.) de Israel, de acordo com 2 Reis 13,25. Além disso,
teve Zakkir de Hamat e Luash como inimigos, e fora atacado pelo rei assírio Adad-Nirari III
(810-783 a.C.), a quem prestou homenagem.
Nos dias do profeta Isaías, o rei Rezim da Síria em Damasco e o rei Peca, filho de
Remalias de Israel (740 - 731 a.C.) tentaram coagir o rei Acaz de Judá (732 - 715 a.C.) em
uma aliança antiassíria (2 Reis 16,5). Mesmo tentando substituí-lo com o seu fantoche Ben
Tabeal (Isaías 7,6) - Tiglate-Pileser III da Assíria (744-727 a.C.) termina por derrotar
Damasco em suas campanhas de 733 e 732 a.C., dividindo o reino em um número de
províncias assírias (LUND, 2005, p.45-46).
Do ponto de vista bíblico, se tem pelo menos três relatos de batalhas entre Israel e
Damasco. Nos dias de Acabe (1 Reis 20 e 22:1-38) em Samaria - Afeca, perto do Mar da
Galiléia e em Ramote de Gileade (2 Reis 9).
75
Finkelstein (2007, p.272-273) e Amihai Mazar (2014, p.50) apontam também o fato
de que seja Hazael, quem provavelmente tenha destruído Tell Rehov649 durante a guerra contra
Israel, descrita na Estela de Dã.
A opressão dos arameus está diretamente descrita em diferentes textos que tratam
sobre reinados de Jeú e seu filho Jeoacaz (2 Reis 10,32-33 - 13:3-7 e 22), no entanto, a
importância desse período na história de Israel também é marcada pelo interesse profético,
tanto antes quanto depois do reinado de Jeú. Os acontecimentos que envolvem sua ascensão e,
a opressão de Hazael são postos em movimento no mesmo dia até o sul da terra de Israel
(BOLEN, 2013, p.13).
Em resposta, Javé ordenou a Elias que voltasse e ungisse Hazael como rei da Síria -
Jeú como rei de Israel - e Eliseu como o seu sucessor, com a seguinte explicação: "Aquele que
escapar da espada de Hazael, Jeú matará. E aquele que escapar da espada de Jeú, Eliseu
matará. E eu vou preservar em Israel sete mil pessoas vivas, isto é, todos os joelhos que não se
dobraram a Baal e toda boca que não o beijou" (1 Reis 19,17-18).
Essa passagem tem sido criticada do ponto de vista de ser uma fonte historicamente
confiável, vindo até mesmo a ser considerada por alguns como sendo um “ex vaticinium
eventu” (lat. Profecia feita depois do fato ocorrido) com o objetivo de associar esses
indivíduos à autoridade profética de Elias (HASEGAWA, 2012, p.198). Além disso, é
evidente que o redator deuteronomista parece apoiar a ação de Jeú, apresentando-a como
sendo do próprio Javé.
Apesar das instruções, Elias não foi quem ungiu Hazael e Jeú - e também não há
registro de que Eliseu - que cumpriu a comissão dada a seu antecessor, tenha matado alguém.
Assim, a priori, a redação deuteronomista considera esse registro sendo autêntico da intenção
de Javé para punir Israel por sua contínua adoração a Baal.
64
Sítio arqueológico localizado a cerca de 6 km a oeste do rio Jordão, a 3 km a leste do monte Gilboa e a 5 km
ao sul de Beth Shean. Foi encontrada neste local, em um dos extratos arqueológicos, uma menção a Nimshi, o
avô de Jeú.
76
Especificamente, Javé diz que Hazael vai matar a muitos - que Jeú vai matar aqueles
que escaparem à espada de Hazael - e que Eliseu matará os que escaparem à espada de Jeú.
Nos registros que se seguem desses reinados essa sequência de eventos não é relatada, no
entanto, os relatos sobre a “Revolta de Jeú” parecem ser uma indicação clara de que o seu
reinado, pelo menos em seu início, foi muito violento.
Talvez as palavras de Javé dirigidas a Elias, não representem uma sequência histórica
específica de relatos dos fatos - no entanto - a ordenação dos indivíduos implica que Hazael,
seria o maior precursor de uma sucessão de acontecimentos que evidenciariam um período de
opressão do reino da Síria sobre a nação de Israel (PROVAN, 1995, p.216).
O que não está claro a partir do texto bíblico, porém, é que se Jeú e Hazael foram
aliados neste esforço. A teoria de que Jeú era simplesmente um agente de Hazael, em seu
levante contra a casa de Acabe em Israel, tem sido defendida desde a descoberta da Estela de
Dã.
William Schniedewind (1996, p.76) foi um dos primeiros a sugerir que a diferença
entre o conteúdo da Estela de Dã e de 2 Reis 9 poderia ser resolvida se Jeú tivesse assassinado
os reis em nome dos arameus. Este fato seria o motivo pelo qual Hazael toma crédito pela
vitória em Ramote de Gileade, mas o redator deuteronomista atribui a mesma a Jeú.
Schniedewind (1996, p.84) para apoiar suas conclusões, diz que o texto de 1 Reis 19
desenvolve um importante papel na reconstrução das histórias em torno da Revolta de Jeú, por
se tratar de um texto fragmentado em sua construção, e não servir aos interesses do
deuteronomista em apontar os motivos do levante de Jeú como sendo unicamente de viés
religioso.
Esse argumento ganha força, pois, a arqueologia mostra que a época de maior
investida de Damasco, contra o reino do norte - foi levado a cabo por Hazael - sendo esse
período mencionado em vários textos bíblicos (1 Reis 19,17 - 2 Reis 8,12 - 10,32-33 - 13,3 e
22 - Amós 1,3), bem como na Estela de Dã (NA’AMAN, 1997, p.122-128; LIPINSKI, 2000,
p.377-383).
Escavações no Tell-es-Safi6611, onde ficava localizada a cidade de Gate, revelou que ela
atingiu o seu apogeu no século IX a.C., quando foi provavelmente o maior e mais dominante
centro urbano no sul de Israel, sendo completamente destruída no final Ferro II A, para nunca
mais recuperar sua prosperidade passada (UZIEL, MAEIR, 2005, p.50-75).
Até o presente momento, desde o início desse capítulo, a pretensão foi de apresentar
de maneira objetiva, um prospecto do que foi o reino da Síria e, como a força e a história dele
se entrelaçam com a da nação de Israel.
65
Designação normalmente aplicada à região no centro-sul de Israel de 10-15 km de baixas colinas entre
o Monte Hebrom central e as planícies litorâneas da Filístia dentro da área da Judéia, em uma altitude de 120-
450 metros acima do nível do mar. A área é fértil e um clima Mediterrâneo temperado prevalece na região.
66
Aldeia palestina situada a 35 quilômetros, a noroeste de Hebrom.
78
Para tal, se traz novamente para o texto, o conteúdo da Estela de Dã6712 que já foi
apresentada no capítulo anterior:
2. [.........] meu pai foi [contra ele quando] ele lutou em [....]
3. E meu pai deitou-se (morreu), e foi para seus [pais]. E O rei de I[s-]
4. rael entrou previamente na terra de meu pai. [E] Hadad me constituiu rei
5. E Hadad foi à minha frente [e] eu parti de [os] sete[.....]
6. do meu reino, e eu matei [sete]nta rei[s], que usavam milha[res de caros]
7. ros e milhares de cavaleiros (ou cavalos). [Eu matei Jeo]rão filho de [Acabe]
8. Rei de Israel, e eu matei [Acaz]ías, filhos de [Jeorão re]i
9. Da Casa de Davi. E eu tornei [suas vilas em ruínas e tornei]
10. sua terra em [desolação........................]
11. outro ...[.........................................................................e Jeú gover]
12. nou sobre Is[rael......................................................................e eu pus cerco]
13. sobre[............................................................]
Nos anos seguintes, desde a publicação completa dos fragmentos da Estela de Dã, os
estudos advindos têm aparentado lidar, na maioria dos casos, com o significado do ponto de
vista linguístico e histórico da inscrição (BIRAN, NAVEH, 1993, p.81-93).
Dois aspectos da Estela de Dã que não foram totalmente investigados, no entanto, são
a análise literária da inscrição e seu significado para o estudo histórico do Estado Sírio
durante a idade do Ferro II, reconstruindo parte da história política que influenciou a produção
da inscrição (DEMSKY, 1995, p.30-32).
67
Tradução realizada a partir do texto em inglês: “The Tell Dan Inscription: A New Fragment”. Israel
Exploration Journal. 1995, vol. 45, N°1. p.1-18
79
Esse estudo literário oferece duas configurações possíveis, proporcionando uma data
mais definitiva para a inscrição: no início do reinado do requerente ou no momento da
nomeação de seu sucessor. Dadas às circunstâncias, é possível que a Estela de Dã seja datada
por volta do século VIII a.C. (TADMOR, p.37-38).
Na linha 03 tem-se: “E meu pai deitou-se (morreu), e foi para seus [pais]” - é
possivelmente o trecho que releva o motivo de maior incompreensão nessa inscrição
(HALPERN, 1994, p.30-32). Usualmente essa frase, conhecida a partir da Bíblia hebraica,
especialmente nos livros de 1 e 2 Reis, é uma expressão significando: sucessão legítima.
O fato de que um rei deposto nunca "iria para seus pais", essa expressão significava
integridade dinástica. A importância política dessa frase, também pode ser vista nas tradições
bíblicas que cercam a casa real de Judá. Prova disso é que o termo "se deitou com seus pais" é
duas vezes aplicado a Davi em um discurso direto; pela primeira vez no Oráculo Dinástico de
2 Samuel 7,12 - pelo profeta Natan e - em seguida, na sucessão narrativa em 1 Reis 1,21 por
80
Bate-Seba. Ambos são textos importantes que lidam com as pretensões dinásticas da Casa de
Davi.
É possível que o pai de Hazael tenha sido um importante líder de uma tribo arameia
durante o tempo de Hadadezer (SCHNIEDEWIND, 2001, p.90-91). E mesmo sem um
conhecimento mais profundo de suas origens, é claro que ele escolheu, como ferramenta de
legitimidade do seu poder - a terminologia de sucessão dinástica.
Suriano (2007, p.163) nos diz que na literatura semita, o verbo hmlk, referindo-se ao
autor que foi constituído rei na linha 4 da Estela de Dã, pode se referir também a usurpadores
ou situações de sucessão difícil. No entanto, frases como “do meu reino, e eu matei [sete]nta
rei[s], que usavam milha[res de carros]” - linha 6 - demonstrações de violência, eram
comuns na literatura em matéria de sucessão e de estabelecimento do poder.
Essas informações nos dão a ideia de como era de natureza complexa e dinâmica as
relações presentes na sociedade arameia durante o período de Ferro II.
A Estela de Zakir, também contém alguns paralelos interessantes com o uso dessa
forma verbal (NAVEH, 2002, p.240). Zakir, que foi "feito rei" por Baal-Shameyn, foi
possivelmente um usurpador - já que não há menção a sua genealogia - além do fato dele não
aparecer relacionado ao seu antecessor no trono de Hamat, o rei Luwian Uratamis, filho de
Irhilinas (MILLARD, 1990, p.50-52). A segunda ocorrência do verbo hmlk na Estela de Zakir
está dentro de uma referência direta a um oráculo de Baal-Shameyn (LEMAIRE, 2001, p.95).
A linha 6 da Estela de Dã possui uma frase que, uma vez reconstruída, chegou ao
seguinte resultado: "E eu matei setenta reis". A base da leitura é uma observação parcial feita
sobre o Fragmento A e um ayin parcial sobre o Fragmento B1 (PUECH, 1994, p.224-225).
Smith (1997, p.83) mostra a simbologia do número “setenta” ao tratar sobre o ciclo
ugarítico de Baal, onde ele “convida seus irmãos... os setenta filhos de Athirat [e El] à
dedicação de seu palácio”. Já Suriano (2007, p.168) na Estela de Dã, diz que os "[sete]nta
rei[s], que usavam milha[res de caros]; ros e milhares de cavaleiros (ou cavalos)”, não eram
82
membros da casa real (filhos ou irmãos), mas em vez disso, reis anônimos (mlkn), chefes das
tribos dos arameus.
Kaefer (2012, p.40) entende que a expressão tenha por objetivo, representar a
totalidade dos reis - tal como aparece em Juízes 9,2b e em 2 Reis 10,1-11 - neste caso, sendo
uma referência a todos os reis que formaram a coalizão anti-Damasco.
Além disso, todos os exemplos citados por Biran e Naveh (1995, p.16) parecem
envolver uma sucessão de golpes políticos, seguido pelo assassinato direto de setenta pessoas:
Abimelek matou os filhos de Gideão - setenta - (Juízes 9,5); Jeú matou os setenta filhos de
Acabe (2 Reis 10,6-7; cf. v. 1) e o usurpador sem nome de Sam’al, do ciclo ugarítico de Baal
assassinou Bir-Sar e seus setenta irmãos.
A realidade de que o reino da Síria tenha existido, juntamente com grupos tribais
menores - conforme se apontou ao olhar a Estela de Dã - pode estar por trás da curiosa
tradição bíblica que alcança os trinta e dois reis que acompanham Ben-Haddad, rei da Síria -
em Damasco - em sua invasão de Israel, conforme 1 Reis 20 (KOTTSIEPER, 1998, p.488).
A reorganização narrada no versículo acima pode ter sido uma reestruturação militar
e não uma política global de reforma (PITTARD, 1987, p.154). É importante, no entanto, ter
em mente que um aspecto fundamental da vida tribal entre os pecuaristas é o "potencial
militar” (ROWTON, 1973, p.251). Parece que a reforma política referida foi projetada
unicamente para consolidar o controle de Damasco.
por Salmaneser III, mais notavelmente no obelisco negro) fortaleciam ainda mais os estados,
que por sua vez, pressionavam os mais fracos em vassalagem.
Lipinski (2000, p.498-500) ao tratar sobre o termo mlk utilizado na construção dos
argumentos descritos acima - a luz da Estela de Dã - quando se refere aos lideres dos grupos
tribais menores em Damasco, diz haver um amplo campo semântico, por detrás dessa palavra.
Além disso, algumas referências assírias para incursões dos arameus, entre os séculos
XII e VIII, testemunham a presença de grupos tribais, onde cada um era liderado por um
chefe (BRINKMAN, 1968, p.273-275).
68
Inscrição localizada em uma estátua neoassíria de Adad-it'i/Hadad-yith', no final de 1970, escrita em aramaico
e acadiano, sendo a mais antiga inscrição aramaica de que se tem notícia.
69
Estela erigida por Ben-Hadad, filho de Tab-Rimom, rei da Síria em honra ao deus Melqart.
70
Tratado realizado entre os reis de Arpad, no noroeste da Síria.
84
Akkermans (2003, p.366-368) narra que nesse período na Síria - durante a Idade do
Ferro - os grupos tribais de base pastoril e urbana, certamente entraram em conflito entre si,
dado a natureza complexa da sua sociedade.
Embora o termo "pastores" esteja sendo utilizado nessa ocasião, verifica-se que os
povos "nômades" do antigo Oriente são mais bem entendidos como entidades étnicas que
também poderiam incluir elementos sedentários em diferentes graus (SCHWARTZ, 1989,
p.281-285).
Quem quer que os sírios tenham sido, as observações apontadas, convidam a focá-los
como entidades dinâmicas constituídas tanto de componentes urbanos, quanto pastoris, ao
invés de um grupo equilibrado em um estágio específico do desenvolvimento ao longo de
uma trajetória.
Assim, enquanto os sírios são designados como um grupo nômade desde o século
XII a.C. nos registros de Tiglate-Pileser I, eles continuam a aparecer como tais em incursões
relatadas dentro do Império Assírio durante o século VIII (CAVIGNEAUX, 1990, p.343-
344). No entanto, a partir do século X, é que os estudiosos têm notado indícios que apontam à
ascensão do Estado Sírio, a saber, a partir da aparição de inscrições reais em aramaico antigo,
como a própria Estela de Dã (AKKERMANS, 2001, p.219-221).
Estudos recentes têm mostrado que suas campanhas eram muito mais extensas do
que se pensava anteriormente, envolvendo não só a Palestina, no sul (MAEIR, 2004, p.319-
334), mas também norte da Síria, durante o final do século IX correspondente ao declínio
temporário no poder da Assíria (BRON, 1989, p.484).
As inscrições reais dos assírios que registram a campanha de Salmaneser III (841
a.C.) em Damasco, no entanto, dizem que Hazael foi derrotado e forçado a fugir do Monte
Hermon para Damasco, onde ele foi cercado pelos assírios (YAMADA, 2000, p.188-191).
Dentro do corpo das inscrições reais semitas do Noroeste, existem duas grandes
categorias: dedicatória e memorial (MILLER, 1974, p.9-18). A Estela de Dã é uma inscrição
que reflete um memorial (SCHNIEDEWIND, 1996, p.85-86), pois fez uso de vários motivos
literários apologéticos.
86
Como Tadmor (1983, p.37) mostrou em seu estudo sobre os pedidos de desculpas
reais assírios, muitas vezes elas servem como componentes de obras literárias maiores,
elogiando os reis. A Estela de Dã, como se pode ver, possui muitos motivos apologéticos no
bojo de sua inscrição, no entanto, duas características essenciais não devem ficar de fora de
uma análise completa do estrato: a referência desfavorável a um antecessor e reivindicações a
proezas militares.
Por fim, pode-se entender que a Estela de Dã, é um importante documento no que diz
respeito à história de Damasco, principalmente ao reinado de Hazael. Trata-se de um novo
prisma, pelo qual se pode enxergar as entrelinhas do processo histórico, elucidando
importantes fatos que ampliam o seu significado.
A Revolta de Jeú - como um dos principais eventos desencadeados dessa época - por
volta dos séculos IX e VIII a.C., como nos mostra a Estela de Dã, leva a marca indelével da
influência damascena - que haveria de se impor como força dominante - imprimindo assim
sua marca na história.
Além disso, o emergente poder dos assírios no oriente serviu como outro ponto de
contrabalanceio na Síria, nos dias de Acabe, rei de Israel.
Durante os anos em que o cerco de Assurnasipal exerceu forte pressão sobre a Síria,
no norte - Ben-Haddad e Acabe guerreavam com frequência entre si - até que Acabe com o
87
tempo obteve equilíbrio do poder. Entretanto, por volta de 853 a.C., eles acabaram por unir
suas forças na famosa batalha de Carcar contra a Assíria, no norte de Hamate.
A história da Síria como reino estabelecido não chegou ao fim com Hazael. Ben-
Haddad III, seu filho - não conseguiu manter o reino estabelecido por seu pai. Adad-Nirari III,
rei da Assíria nessa época subjugou a Damasco - fazendo da Síria - um de seus vassalos.
Somado a isso, Haddad III ainda teve de enfrentar fortes pressões internas advindas
de estados sírios do norte, o que colaborou muito para que Damasco ficasse em situação de
extrema fraqueza. Nesse intervalo, Joás de Israel pôde reconquistar grande parte dos
territórios tomados por Hazael.
Nos dias de Jeroboão II - a Síria chegou a ficar sem sua capital - Damasco e a
entrada de Hamate, oportunidade essa onde foi restaurada a fronteira norte estabelecida por
Davi e Salomão (2 Samuel 8,5-11).
O reino da Síria ainda teve sua última chance para se recompor em toda a sua força e
imponência. Com a morte de Jeroboão II, por volta de 753 a.C.. Rezim, o último dos reis
arameus em Damasco reconquistou a independência da Síria.
88
No entanto, Tiglate-Pileser III que ascendeu ao trono da Assíria, por volta de 745
a.C. através de invasão, tornou tanto a Síria quanto Israel em seus vassalos. Em resposta os
reis de Israel e da Síria ainda tentaram um último suspiro formando uma coalizão antiassíria
que contou com Edom e Filístia.
Acaz, rei de Judá, no entanto enviou tributo a Tiglate-Pileser III afirmando sua
lealdade. A coalizão foi um fracasso, tanto que por volta de 732 a.C., Tiglate-Pileser III já
havia reconquistado Damasco.
Com a morte de Rezim e a queda de Damasco, o reino da Síria chegou ao fim, para
nunca mais se reerguer novamente.
89
Considerações Finais
Nossas hipóteses eram três e consideravam o fato de que Hazael teria matado os reis
de Israel e Judá e, que consequentemente tenha sido responsável por estabelecer Jeú no poder,
além da possibilidade de que a Revolta de Jeú, não se tratou de um ato revolucionário vindo
de dentro, mas sim de uma articulação político-militar, orquestrada por Damasco. E por fim, a
ideia de que muito provavelmente tenha sido Jeú aquele que introduziu o Javismo em Judá.
Também constatamos que há uma redação de teor histórico no relado sobre o reinado
de Jeú, que faz menção a tomada da região da Transjordânia por parte de Hazael, rei de
Damasco.
Tais fatos nos fizeram entender que a função da narrativa sobre Jeú, do ponto de
vista da redação deuteronomista é muito importante, pelo fato de ser ele, o disseminador do
Javismo, que chegaria até Judá, por onde a sua Revolta se expandiu. Também pudemos
entender que o fato de Hazael ser um elemento presente na redação do reinado de Jeú, mostra
que sua influência neste período foi notável e, que a Estela de Dã, trabalhada em nosso
segundo capítulo, se aproxima desta história ao expor um conteúdo que remonta a este
contexto, revelando algo cuja à redação bíblica parece não interessar, uma vez que o seu
interesse aparente seja apenas observar os desdobramentos históricos do ponto de vista
religioso.
Apontamos que o Tell Dã era uma importante localidade, no que diz respeito a
questão comercial, pelo fato de estar estabelecida por entre a estrada denominada “Caminho
do Mar”, ou conforme nos apresenta a Vulgata, “via maris”. Além deste fato, juntamente com
Betel, Dã era uma das fronteiras em Israel Norte, que também era conhecida pela questão
religiosa, devido ao fato de abrigar um dos bezerros de ouro edificados por Jeroboão I.
Com isso, aprendemos que à medida que a história vai sendo narrada, mais vai
ficando claro que antes de qualquer coisa a Revolta de Jeú foi produto de um golpe militar,
orquestrado nada mais nada menos, do que por Hazael que estava em guerra contra Israel e
Judá, entre os séculos XIX e VIII. O rei de Damasco assume a responsabilidade pelo fato das
91
mortes dos reis Jorão e Ocozias, além de confirmar que Jeú fora colocado no trono mediante a
sua intervenção direta.
A pesquisa nos apresentou que o histórico de batalhas entre a Síria e Israel é extenso,
tendo vários reis, tais como: Asa, Baasa, Ben-Haddad, Acab, dentre outros, como personagens
desta longa trajetória de batalhas. Hazael é mais um deles. Como um usurpador, ele ascende
ao trono da Síria após assassinar Ben-Haddad, vindo a ser um dos reis mais poderosos deste
império, que sempre teve de uma forma muito evidente, a sombra da Assíria, como uma
constante ameaça.
Com isso, chegamos à conclusão de que o século XIX foi muito importante para o
desenvolvimento de Damasco, sobre o comando de Hazael. As políticas expansionistas de
Hazael foram muito intensas, sendo até mesmo testemunhadas em diferentes tipos de
92
Por fim, destacamos que ainda há muito em que se avançar nesta pesquisa. O reino
de Israel Norte cada vez mais tem se mostrado um reino de proporções notáveis, munido de
uma história e de uma tradição própria, que durante muito tempo, passaram despercebidos aos
olhos das pesquisas. A presente pesquisa procurou adentrar a este universo e contribuir com a
rica história deste reino, através da releitura de um de seus eventos mais significativos, a
Revolta de Jeú. A partir destas considerações, convidamos outros pesquisadores a nos
acompanharem nesta tarefa deveras estimulante. Dito isto, declaramos nossa intenção de
prosseguir na pesquisa para a compreensão das diferentes tradições do norte, em conjunto
com a arqueologia, ampliando assim as perspectivas sobre este reino.
93
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