Você está na página 1de 156

INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E


TECNOLÓGICA (PROFEPT)
MESTRADO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

ANA CAROLINA BEZERRA DE MELO COSTA

RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: UMA PROPOSTA PARA EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Vitória
2021
ANA CAROLINA BEZERRA DE MELO COSTA

RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM


PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Educação Profissional e
Tecnológica, ofertado pelo campus Vitória do
Instituto Federal do Espírito Santo, como parte dos
requisitos para a obtenção do título de Mestra em
Educação Profissional e Tecnológica.

Orientador: Prof. Dr. Rony Cláudio de Oliveira


Freitas

Vitória
2021
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

C837r Costa, Ana Carolina Bezerra de Melo.


Recursos educacionais abertos : uma proposta de abordagem para
educação profissional e tecnológica / Ana Carolina Bezerra de Melo
Costa. – 2021.
156 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Rony Cláudio de Oliveira Freitas.

Dissertação (mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo,


Programa de Pós-graduação em Educação Profissional e Tecnológica,
Vitória, 2021.

1. Ensino profissional. 2. Ensino profissional – História e crítca. 3.


Educação para o trabalho – Estudo e ensino. 4. Educação aberta –
Estudo e ensino. 5. Educação não formal. 6. Professores – Formação. I.
Freitas, Rony Cláudio de Oliveira. II. Instituto Federal do Espírito Santo.
III. Título.
CDD 22 – 374.013
ANA CAROLINA BEZERRA DE MELO COSTA

RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: UMA PROPOSTA DE


ABORDAGEM PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação


em Educação Profissional e Tecnológica, ofertado pelo
Instituto Federal do Espírito Santo, como requisito parcial
para obtenção do título de Mestra em Educação Profissional
e Tecnológica.

Aprovado em 23 de fevereiro de 2021.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. Rony Cláudio de Oliveira Freitas


Instituto Federal do Espírito Santo
Orientador
(Telepresença: Portaria Nº 205 de 19/03/2020 - Campus Vitória)

Prof. Dr. José Augusto Ferreira da Silva


Instituto Federal Fluminense
Membro Interno
(Telepresença: Portaria Nº 205 de 19/03/2020 - Campus Vitória)

Profa. Dra. Aline Freitas da Silva


Instituto Federal do Espírito Santo (membro externo)
ANA CAROLINA BEZERRA DE MELO COSTA

COSTA, Ana Carolina Bezerra de Melo, FREITAS, Rony Cláudio de Oliveira.


Recursos Educacionais Abertos: Uma Abordagem para Educação Profissional
e Tecnológica. Vitória: Ifes, 2021. 56 p.

Produto Educacional apresentado ao Mestrado Profissional


em Educação Profissional e Tecnológica, vinculado ao
Programa de
Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica do
Instituto Federal do Espírito Santo, como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em Educação Profissional
e Tecnológica.

Aprovado em 23 de fevereiro de 2021.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. José Augusto Ferreira da Silva


Instituto Federal Fluminense
Membro Interno
(Telepresença: Portaria Nº 205 de 19/03/2020 - Campus Vitória)

Profa. Dra. Aline Freitas da Silva


Instituto Federal do Espírito Santo
Membro Externo
(Telepresença: Portaria Nº 205 de 19/03/2020 - Campus Vitória)
A meus filhos, Marisol e Valentim, que me inspiram a
viver.
A meu esposo, Marlon, parceiro dessa jornada que é a
vida.
A meus pais, Selma e João, por serem minha base e
porto seguro.
Ao Ministério da Educação, pela oportunidade de servir
ao público por meio da educação.
AGRADECIMENTOS

A todos os meus colegas da turma especial do mestrado do Ministério da Educação


pela parceria, pelo aprendizado e por todos os momentos inesquecíveis
compartilhados.

Ao Prof. Dr. Rony Cláudio de Oliveira Freitas, por orientar com firmeza, respeito e
apoio o meu caminho para realizar esta pesquisa e elaborar o produto educacional.

A todos os professores da turma especial do MEC, que tornaram o mestrado ainda


mais especial por serem exemplo de excelência e dedicação à Educação
Profissional e Tecnológica.

A Jussara Cardoso Silva, por ter sido fundamental para a realização da conquista de
todos nós.

A Elma Pereira da Silva e Gerson Cabral de Oliveira, porque aceitaram participar


desse desafio junto comigo. Conseguimos!

A todos que compartilham e promovem a proposta de Recursos Educacionais


Abertos. Somos todos parte de uma rede colaborativa, em prol da educação de
qualidade.
O conhecimento é um bem público e deve ser
compartilhado, utilizado e reutilizado.

(SMITH; CASSERLY, 20062007, p. 259)


RESUMO

A presente pesquisa aborda Recursos Educacionais Abertos – REA para a


Educação Profissional e Tecnológica-EPT. Considerando-se o pressuposto que os
REA podem ser uma alternativa que considera as especificidades da EPT, a
pesquisa teve como objetivo geral analisar a viabilidade de um Guia de REA para
EPT, identificando potencialidades e desafios dessa relação. Buscou-se também: I-
Encontrar relações entre as bases históricas e conceituais da EPT e dos REA; II-
Identificar e analisar as características dos recursos educacionais no contexto da
EPT; III – Perceber e analisar a temática de recursos educacionais no contexto das
políticas públicas; IV- Identificar elementos que justifiquem o uso de REA como
alternativa para a EPT; e IV- Propor orientações para o uso de REA para a EPT, por
meio de um guia didático. Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, de
caráter exploratório e explicativo. A elaboração do produto educacional foi,
metodologicamente, inspirada nas etapas (conceitual, pedagógica e comunicacional)
propostas pelo pesquisador argentino Gabriel Kaplún para produtos educacionais e
a abordagem dos conteúdos (Conceituais, Procedimentais e Atitudinais) teve como
referência Antoni Zabala. A produção dos dados ocorreu por meio de questionário
respondido por profissionais da educação. A pesquisa realizada valida os REA como
estratégia para a EPT de qualidade, mas também demonstrou que a proposta
enfrenta alguns desafios, como a escassez e o fortalecimento de ações voltadas
para a disseminação e a consolidação do uso de REA para a EPT. A EPT demanda
ações que orientem e promovam o uso de REA para EPT, considerando suas bases
conceituais e históricas. O produto educacional resultante da pesquisa,
“RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: UMA ABORDAGEM PARA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA”, é um Guia de REA para EPT, inspirado em
outros REA e em guias de bolso. Destaca-se que o produto educacional é um REA e
pode ser compartilhado por outros(as) educadores(as) e pesquisadores(as).

Palavras-chave: Recursos Educacionais Abertos. Educação Profissional e


Tecnológica; Guia Didático;
ABSTRACT

The present work demonstrates the research and the educational product referring to
a proposal to approach Open Educational Resources - OER for Professional and
Technological Education-PTE. Considering that OER can be an alternative the
specificities of PTE. The objective of this research was to analyze the feasibility of an
Guide for OER, from the examination of the articulation of the OER proposal for PTE.
Also sought: I- To find relationships between the historical and conceptual bases of
PET and OER, showing their compatibility; II- Identify and analyze the characteristics
of educational resources in the context of PTE; III - Understand and analyze the
theme of educational resources in the context of public policies; IV- Identify elements
that justify the use of OER as an alternative to PTE; V- Propose guidelines for the
use of OER for EPT, through a didactic guide. For the development of the research,
we opted for the qualitative methodology, for favoring the multifaceted analysis of
PTE and OER. Exploratory and explanatory, the research was developed through
theoretical, conceptual and documentary study procedures. The elaboration of the
educational product was methodologically inspired by the stages (conceptual,
pedagogical and communicational), proposed by Kaplún (2002, 2003), for
educational products. The content approach(Conceptual, Procedural and Attitudinal
contentes) was based on the proposal by Antoni Zabala (1998). The research carried
out validates the OER strategy for quality EPT, but also demonstrated that the OER
proposal for EPT faces some challenges. PTE demands actions that considering its
conceptual and historical bases. The research results in the presentation of the
educational product, “RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: UMA ABORDAGEM
PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA”, a OER Guide for PTE.
Inspired by other OER and pocket guide models, the material was structured around
questions, making it easier for interested parties to locate content more objectively. It
is noteworthy that the educational product is an OER and can be shared by other
educators and researchers.

Keywords: Open Educational Resources. Professional and Technological Education;


Didactic Guide.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

COGEAM - Coordenação-Geral de Materiais Didáticos


CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CST - Cursos Superiores de Tecnologia
EA - Educação Aberta
EPT - Educação Profissional e Tecnológica
FIC - Cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional
IFES - Instituto Federal do Espírito Santo
MEC - Ministério da Educação
ProfEPT - Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica
Pronatec - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
REA - Recursos Educacionais Abertos
SEB - Secretaria de Educação Básica
SETEC - Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
CAPÍTULO 1 – EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA E RECURSOS
EDUCACIONAIS ....................................................................................................... 19
1.1 Educação Profissional e Tecnológica – EPT ....................................................... 19
1.2 Recursos educacionais no contexto da EPT ....................................................... 22
1.3 Contexto de Políticas públicas para EPT e recursos educacionais ..................... 28
CAPÍTULO 2 – RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS - REA ............................. 35
2.1 - Educação aberta, Recursos Educacionais Abertos, e Práticas Educacionais
Abertas ...................................................................................................................... 35
2.2 Licenças Abertas para REA................................................................................. 40
2.3 Diferenças de recursos educacionais abertos e recursos educacionais gratuitos
.................................................................................................................................. 44
2.4 Repositório de REA ............................................................................................. 45
CAPÍTULO 3 - RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS PARA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: POR QUÊ? ..................................................... 54
3.1 Como os REA podem contribuir para a qualidade da EPT? ................................ 55
3.2 Desafios e Potencialidades dos REA para EPT .................................................. 61
CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS ........................................... 62
4.1- Desenvolvimento da pesquisa ........................................................................... 62
4.2- Referências para elaboração do Produto Educacional ...................................... 63
4.3 – Avaliação do Produto Educacional ................................................................... 65
CAPITÚLO 5 - ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS ALCANÇADOS: .............. 68
5.1 - Perfil e Diagnóstico inicial dos participantes: .................................................... 68
5.2- Avaliação do Produto Educacional e Contribuição dos participantes: ................ 70
5.3- Relação entre a Pesquisa e a elaboração e a avaliação do produto educacional
.................................................................................................................................. 71
PRODUTO EDUCACIONAL ...................................................................................... 76
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 78
APÊNDICE A – PRODUTO EDUCACIONAL ............................................................ 89
APÊNDICE B – CONVITE, FORMULÁRIO DE ADESÃO E FORMULÁRIO DE
AVALIAÇÃO ............................................................................................................ 141
14

INTRODUÇÃO

Como Analista Técnica de Políticas Sociais (ATPS) do Ministério da Educação


(MEC), atuei, de 2013 a 2017, na Diretoria de Políticas e Regulação da Educação
Profissional e Tecnológica (DPR) 1 da Secretaria de Educação Profissional e
Tecnológica (SETEC) e, de outubro de 2017 a fevereiro de 2021, atuei na
Coordenação Geral de Avaliação do Material Didático (COGEAM), da Secretaria da
Educação Básica (SEB).

A experiência na SETEC me fez conhecer e reconhecer a importância da articulação


da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) com a Educação Básica como
política pública de educação brasileira. Na COGEAM, percebi o papel dos recursos e
materiais didáticos, em seus diferentes suportes e formatos, como mecanismos de
implementação de políticas educacionais na sala de aula.

Diante dessas duas experiências profissionais e da oportunidade de cursar o


Mestrado Profissional do Programa de Pós-graduação em Educação Profissional e
Tecnológica (ProfEPT), na Turma Especial do MEC vinculada ao Instituto Federal do
Espírito Santo (IFES), interessei-me pela temática de recursos e materiais didáticos
para a EPT, especialmente, os Recursos Educacionais Abertos (REA).

Ao me dedicar a esta dissertação e à elaboração do produto educacional busquei,


portanto, ampliar os conhecimentos e estabelecer pontes para contribuir com a
disseminação do uso de REA para a EPT.

A Educação Profissional e Tecnológica, no Brasil, é parte da educação nacional e


abrange diferentes tipos de cursos. As principais ofertas da EPT são: os Cursos de
formação inicial e continuada ou qualificação profissional (FIC), os Cursos técnicos
de nível médio, os Cursos Superiores de Tecnologia (CST) e os cursos de pós-
graduação.

1Anteriormente, era chamada de Diretoria de Políticas para a Educação Profissional e Tecnológica-


DPE.
15

A EPT de nível médio, os cursos técnicos, está presente em dois momentos da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (BRASIL, 1996). No Capítulo II, da
Educação Básica, como uma modalidade, e no Capítulo III, da Educação
Profissional e Tecnológica, como um tipo de curso.

Os cursos técnicos podem ser ofertados nas formas articulada com a educação
básica ou na forma subsequente. A forma subsequente é para a quem já tenha
concluído o ensino médio. A forma articulada pode ser desenvolvida por cursos
técnicos integrados ou concomitantes ao ensino médio.

É oportuno esclarecer que nesta dissertação, ao se tratar do tema EPT, leva-se em


consideração, principalmente - mas não exclusivamente -, as bases conceituais
relacionadas à educação profissional técnica integrada ao ensino médio. Essa
abordagem se justifica pela importância dos cursos técnicos como integrantes tanto
da EPT como da educação básica, conforme dispõe a LDB, e pelas bibliografias,
documentos e bases conceituais utilizadas.

Ressalta-se que, apesar dessa referência nos cursos técnicos, optamos por manter
a temática da EPT de forma ampla, no título e na abordagem, por considerar que as
análises e conclusões desta pesquisa e o produto educacional resultante não são
exclusivos para os cursos técnicos e podem ser considerados para os demais tipos
de curso da EPT.

Quanto aos Recursos Educacionais Abertos, trata-se de um movimento


relativamente novo, com maior impulso a partir de meados da década de 2000. As
pesquisas e produções sobre o tema são igualmente recentes, e voltadas
principalmente para o uso de REA na educação básica e superior.

No Brasil, a disseminação da proposta de REA para a educação básica ou para o


ensino superior contam com publicações, portais, produções, organizações e até
políticas públicas voltadas à utilização, produção e compartilhamento deles.

No entanto, ainda são poucas e desarticuladas as iniciativas de divulgação de REA


para EPT. A relevância social deste estudo e seu produto educacional, portanto, está
16

em contribuir para a disseminação dos REA entre os profissionais da EPT,


considerando as caraterísticas e especificidades da EPT.

A partir da hipótese que os REA para a EPT podem ser uma estratégia de recursos
educacionais de qualidade, as questões investigativas desta pesquisa são as
seguintes: I -Por que REA para EPT? e II- Como os REA podem contribuir para a
qualidade da EPT?

Considerando-se o pressuposto que os REA podem ser uma alternativa diante da


escassez de políticas públicas de distribuição de materiais didáticos que considerem
as especificidades da EPT, o objetivo geral desta pesquisa foi analisar a viabilidade
de um Guia de REA para EPT, a partir da análise da articulação da proposta de REA
para a EPT, identificando as potencialidades e desafios dessa relação.

Os objetivos específicos da pesquisa são: I- Encontrar relações entre as bases


históricas e conceituais da EPT e dos REA, evidenciando suas compatibilidades; II-
Identificar e analisar as características dos recursos educacionais no contexto da
EPT; III – Perceber e analisar a temática de recursos educacionais no contexto das
políticas públicas; IV- Identificar elementos que justifiquem o uso de REA como
alternativa para a EPT; e V- Propor orientações para o uso de REA para a EPT, por
meio de um guia didático.

Visando alcançar os objetivos mencionados, a pesquisa foi estruturada em sete


capítulos, que englobam as informações a seguir apresentadas.

No primeiro capítulo, inicialmente, são apresentadas e discutidas as bases os


conceituais e históricos da EPT, a partir de autores e pesquisadores que são
referências no tema, e documentos normativos. Em seguida, aprofundamos o tema
Recursos educacionais, com vistas a identificar suas características no contexto da
EPT. Depois, analisamos o cenário das políticas públicas educacionais voltadas
para materiais didáticos e para a EPT, buscando estabelecer relações e identificar a
viabilidade dos recursos educacionais abertos como estratégia para a EPT.
17

O segundo capítulo aborda a temática Recursos Educacionais Abertos.


Primeiramente, apresentamos uma breve contextualização conceitual e histórica,
destacando a relação do tema com os tópicos educação aberta e práticas
educacionais abertas. Em seguida, analisamos a importância do licenciamento
aberto para a definição do recurso educacional como aberto, e, depois, o papel dos
repositórios como instrumentos para a disseminação e produção de novos REA.

No terceiro capítulo, analisamos e discutimos a proposta de articulação de REA para


a EPT. A partir das perguntas “Por que REA para EPT?” e “Como os REA podem
contribuir para a qualidade da EPT?”, justificamos a proposta de articulação,
destacando as potencialidades e os desafios identificadas nessa relação. A análise
resulta na proposição de sete atributos de qualidade dos REA para EPT.

O quarto capítulo é dedicado à apresentação da metodologia e os procedimentos


realizados para desenvolvimento da pesquisa e elaboração do produto educacional.
Para o desenvolvimento da pesquisa, optamos pela metodologia qualitativa, por
favorecer a análise multifacetada da educação profissional e tecnológica e dos
recursos educacionais abertos. De caráter exploratório e explicativo, a pesquisa foi
desenvolvida por meio de procedimentos de estudos teóricos, conceituais e
documentais.

A elaboração do produto educacional foi metodologicamente inspirada nos


procedimentos e as etapas (conceitual, pedagógica e comunicacional) propostos por
Kaplún (2002, 2003) para o planejamento e a elaboração de produtos educacionais.
A abordagem dos conteúdos teve como referência a proposta de Antoni Zabala
(1998), considerando conteúdos Conceituais, Procedimentais e Atitudinais.

No quinto capítulo foram analisados os dados de resposta a questionários de


participantes da pesquisa, profissionais da educação, que avaliaram uma versão
inicial do produto educacional. Primeiramente os dados foram utilizados para
identificar o perfil dos participantes e fazer um diagnóstico de conhecimento em
relação aos principais temas abordados no produto educacional. Posteriormente, os
dados de avaliação do produto confirmam que os objetivos foram alcançados, bem
como que a abordagem dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais
18

estavam adequados. A avaliação dos participantes também contribuiu para a versão


final do produto educacional.

O sexto capítulo é dedicado à apresentação do produto educacional “RECURSOS


EDUCACIONAIS ABERTOS: UMA ABORDAGEM PARA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA”, um Guia de REA para EPT, de caráter didático.
Inspirado em outras iniciativas de disseminação dos REA e nos modelos guias de
bolso, o Guia de REA para a EPT foi estruturado em perguntas, facilitando que os
interessados localizem os conteúdos de forma mais objetiva. Destaca-se que o
produto educacional é um REA e pode ser encontrado, utilizado, recriado e
compartilhado por outros(as) educadores(as) e pesquisadores(as).

As considerações finais são apresentadas no sétimo capítulo, retomando a proposta


do produto educacional, apresentando uma síntese da pesquisa e apresentando
considerações complementares.
19

CAPÍTULO 1 – EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA E RECURSOS


EDUCACIONAIS

1.1 Educação Profissional e Tecnológica – EPT

Pela perspectiva legal e formal, especialmente conforme a Lei de diretrizes e Bases


da Educação-LDB2, a Educação Profissional e Tecnológica-EPT, no Brasil, é parte
da educação nacional e abrange diferentes tipos de cursos: formação inicial e
continuada ou qualificação profissional (FIC), técnica de nível médio (cursos
técnicos), e tecnológica de graduação e pós-graduação (BRASIL, 1996).

Especialmente em relação aos cursos técnicos, a LDB dispõe que este tipo de curso
de EPT é também integrante da educação básica, como uma modalidade do Ensino
Médio. A Educação Profissional Técnica de Nível Médio está presente na LDB em
dois momentos: No Capítulo II, da Educação Básica, como uma modalidade, e no
Capítulo III, da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), como um tipo de curso.

Os cursos técnicos podem ser ofertados nas formas articulada com a educação
básica ou na forma subsequente. A forma subsequente é para a quem já tenha
concluído o ensino médio e a articulada pode ser desenvolvida integrada ou
concomitante ao ensino médio (BRASIL,1996).

Pela perspectiva histórica, a relação entre educação básica e educação profissional


é marcada pela dualidade (DANTE, 2007), que separa a formação para o trabalho
intelectual e a formação para o trabalho manual, refletindo a dualidade social que
destina, historicamente, aos menos favorecidos o trabalho manual e às elites o
trabalho intelectual (RAMOS, s.d.).

A dupla dimensão dos cursos técnicos na LDB, como educação básica e educação
profissional, foi a forma encontrada para acomodar os interesses em disputa dos
setores progressistas e conservadores (FRIGOTTO, CIAVATTA e RAMOS, 2005),
acomodando os diferentes interesses na legislação e evidenciando a dualidade que
tem marcado a relação educação e trabalho no Brasil.

2 Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996


20

Recentemente, por meio da Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que alterou a


LDB, foi promovida uma reforma na oferta do ensino médio. As alterações da
reforma do ensino médio não modificaram a seção que trata Educação Profissional
Técnica de Nível Médio, no Capítulo II, e nem na parte que trata da Educação
Profissional e Tecnológica, no Capítulo III.

Numa visão geral, a reforma do ensino médio teve como principais alterações:

a) a composição do currículo pela Base Nacional Curricular Comum (BNCC) e por


itinerários formativos;

b) a alteração na carga horária de 2400 horas para 3.000 horas totais (sendo 1.800
horas para o cumprimento da BNCC e 1.200 horas para os itinerários formativos);

c) a organização dos itinerários formativos em 5 arranjos diferentes,


compreendendo as quatro áreas do conhecimento da BNCC e o da formação
técnica e profissional:
i. linguagens e suas tecnologias;
ii. matemática e suas tecnologias;
iii. ciências da natureza e suas tecnologias;
iv. ciências humanas e sociais aplicadas;
v. formação técnica e profissional.

Apesar de não alterar os dispositivos da LDB diretamente relacionados à EPT, a


reforma do ensino médio impactou a oferta da EPT, ao prever um quinto itinerário
formativo, de formação técnica e profissional. A repercussão da reforma do ensino
médio ampliou a discussão e ressaltou a necessidade de atualização das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio,
vigentes desde 2012:
As mudanças trazidas pela Lei nº 13.415/2017, por meio do art. 36, ao
flexibilizarem a organização curricular do ensino médio “por itinerários
formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes
arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a
possibilidade dos sistemas de ensino”, inclusive por meio de um itinerário
dedicado à “Formação Técnica e Profissional”, exigem que as atuais
21

Diretrizes Curriculares da Educação Profissional Técnica de Nível Médio se


alinhem às demandas dos setores produtivos e que sejam capazes de
responder adequadamente aos atuais desafios apresentados às instituições
e sistemas de ensino do país...(BRASIL, 2020, p.1).

Para Moura e Lima Filho (2017) a reforma do ensino médio “agrava a fragmentação,
a hierarquização social e a qualidade do ensino médio. A “nova” organização
proposta é velha na política educacional brasileira e reforça a dualidade educacional
e social que caracteriza historicamente o País” (MOURA e LIMA FILHO, 2017,
p.109).

A superação da dualidade educacional passa pela compreensão da relação de


identidade entre trabalho e educação, entendendo o trabalho como princípio
educativo. Nesta perspectiva ontológica, o trabalho é o agir do ser humano sobre a
natureza, transformando-a em razão de suas necessidades. Para sobreviver o ser
humano precisa trabalhar. É preciso tornar-se humano, aprendendo a produzir sua
própria existência (SAVIANI, 2007).

A concepção de união entre trabalho e educação, inicialmente chamada de


Educação Politécnica, passou a ser reconhecida pela expressão Educação
Tecnológica (SAVIANI, 2007). Nesta concepção, a Tecnologia é compreendida
como a apropriação da ciência com fins produtivos e a Educação tem como
objetivos a formação integral e emancipatória dos indivíduos para o mundo do
trabalho (na perspectiva ontológica e não laboral).

A EPT não visa proporcionar apenas uma formação profissionalizante (RAMOS, s.d),
mas sim uma formação integral e integrada, que não separa a formação geral e
profissional, nos diversos processos educativos, sejam eles cursos FIC, cursos
técnicos ou cursos tecnológicos de graduação ou pós-graduação (CIAVATTA, 2005),
ou o itinerário formativo de formação técnica e profissional.

A nova redação da LDB promovida pela reforma da oferta do ensino médio, por meio
da Lei nº 13.415/2017, apresenta a possibilidade de itinerário formativo integrado à
BNCC:
22

§ 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto itinerário


formativo integrado, que se traduz na composição de componentes
curriculares da Base Nacional Comum Curricular - BNCC e dos itinerários
formativos, considerando os incisos I a V do caput. (BRASIL,1996)

Portanto, ainda que historicamente a relação entre a educação básica e a educação


profissional seja marcada pela dualidade educacional e social, como apontada por
Moura e Lima Filho (2017) e outros autores, a busca pela integração não deve
sucumbir diante das dificuldades. Ao contrário, pode valer-se das ambiguidades dos
instrumentos legais e políticas educacionais a seu favor, para desenvolver, no
âmbito dos sistemas de ensino e das salas de aula, a EPT integrada.

A implementação da EPT integral e integrada importa na transformação dos


processos de ensino-aprendizagem, na reelaboração reflexiva dos currículos,
relacionando e unindo os conhecimentos e os conteúdos gerais e específicos, e na
articulação entre a teoria e a prática (CIAVATTA, 2005).

Esta transformação dos processos de ensino e de aprendizagem na EPT requer a


elaboração e utilização de recursos educacionais coerentes com suas bases
conceituais, características e especificidades.

1.2 Recursos educacionais no contexto da EPT

Recurso educacional é o termo escolhido neste trabalho para abordar, de forma


ampliada, o que tradicionalmente tem sido chamado de material didático nas
legislações e bibliografias sobre educação ou educação profissional. Inclui-se neste
termo, para este trabalho, produto educacional, recurso didático, objeto educacional,
recurso tecnológico, dentre outros.

Recursos educacionais, de forma ampla, representam, portanto, os instrumentos


facilitadores da construção do conhecimento, que medeiam a relação pedagógica
entre os sujeitos envolvidos no processo educacional (BRASIL, 2012). Podem ser
compostos por diversos tipos de materiais de apoio à prática educativa e suportes,
podendo ser impressos, audiovisuais e digitais, incluindo ambientes virtuais de
aprendizagem.
23

Especificamente em relação aos cursos técnicos, além da LDB, uma das principais
referências para a sua oferta é a Resolução CNE/CEB nº6, de 20 de setembro de
2012, que Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional
Técnica de Nível Médio. Esta resolução orienta a oferta de cursos de Educação
Profissional Técnica de Nível Médio, considerando os seguintes aspectos: objeto e
finalidades; princípios norteadores; formas de oferta; organização curricular; duração
dos cursos; avaliação e aproveitamento; certificação; avaliação e formação docente.

Apesar da importância desse documento e dos aspectos nele abordados, não há


orientações específicas para a produção, utilização ou disponibilização de materiais
didáticos ou recursos educacionais para EPT. O documento não cita
especificamente os materiais e recursos didáticos como um dos elementos mínimos
de um plano de curso técnico:
Art. 20 Os planos de curso, coerentes com os respectivos projetos político
pedagógicos, são submetidos à aprovação dos órgãos competentes dos
correspondentes Sistemas de Ensino, contendo obrigatoriamente, no
mínimo:
I - identificação do curso;
II - justificativa e objetivos;
III - requisitos e formas de acesso;
IV - perfil profissional de conclusão;
V - organização curricular;
VI - critérios de aproveitamento de conhecimentos e experiências anteriores;
VII - critérios e procedimentos de avaliação;
VIII - biblioteca, instalações e equipamentos;
IX - perfil do pessoal docente e técnico;
X - certificados e diplomas a serem emitidos. (BRASIL, 2012, p.6)

A ausência dos materiais ou recursos didáticos na importante resolução aparenta,


neste ponto, uma incoerência ou uma negligência em relação ao disposto no
Parecer CNE/CEB Nº 11/2012, que subsidia as diretrizes para os cursos técnicos.
Este parecer esclarece que o planejamento dos cursos técnicos deve considerar as
condições para a garantia da oferta, dentre as quais os recursos institucionais –
prédio, instalações, equipamentos e recursos didáticos e tecnológicos (BRASIL,
2012, p.53).
24

No âmbito dos recursos institucionais, destaca-se a seguinte indicação do parecer,


que deve servir como orientação para a produção, utilização e disponibilização de
recursos didáticos para a EPT:

Utilizar ferramentas e tecnologias educacionais inovadoras, atualizadas,


alinhadas com o mundo do trabalho e de forma contextualizada ao longo do
processo educacional, visando ao aprimoramento dos processos de ensino
e aprendizagem. (BRASIL, 2012, p.53)

Ao tratar da organização dos cursos técnicos a distância, com mediação tecnológica,


o parecer novamente relaciona o material didático como fator relevante para a
qualidade deste tipo de curso:

O material didático constitui-se no instrumento facilitador da construção do


conhecimento e mediador da interlocução entre os sujeitos do processo
educacional. Pode ser composto de material impresso, audiovisual, além
daqueles desenvolvidos para ambientes virtuais de ensino e aprendizagem
web. Devido a sua importância no processo de mediação, sua avaliação
deve ser rigorosa. Em sua elaboração deve-se explorar a convergência e a
integração entre os conteúdos, tendo como base a perspectiva de
construção do conhecimento e o favorecimento da interação entre sujeitos
envolvidos com o processo educativo.

Em qualquer mídia, o material didático para Educação a Distância deve ter


características que favoreçam o processo de mediação pedagógica de
forma autodirigida pelo estudante, privilegiando, por exemplo, textos
dialógicos, parágrafos relativamente curtos, conexões com diferentes meios
didáticos para aprofundamento do assunto (hiperlinks), questões ou
exercícios de aprendizagem para auto-avaliação constante, apoio de
ilustrações, animações e jogos didáticos, além de uma identidade visual que
favoreça e motive a aprendizagem. A interatividade é uma característica
essencial, pois o estudante procurará construir sua aprendizagem em uma
relação autônoma. (BRASIL, 2012, p.54)

Portanto, conforme Parecer CNE/CEB Nº 11/2012, a qualidade dos recursos


educacionais para a EPT está relacionada à integração entre os conteúdos, à
construção do conhecimento e à possibilidade de interação entre os sujeitos
envolvidos nos processos de ensino e de aprendizagem.

Ainda que, no parecer, o papel do material didático para a EPT seja enfatizado
quando da oferta de cursos técnicos a distância, as orientações apresentadas
podem e devem ser consideradas como referências para o material didático para a
25

EPT, de forma geral.

Em maio de 2020, o Conselho Pleno (CP) do Conselho Nacional de Educação (CNE)


aprovou o Parecer CNE/CP Nº 7/2020 3 , que atualiza as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio. A proposta de novo
documento também não relaciona, em seu artigo 24, os recursos didáticos como um
dos elementos mínimos de um plano de curso técnico, mas, alinhado com o
proposto nesta pesquisa, avança ao destacar o papel dos recursos educacionais
abertos na mediação de processos de ensino e de aprendizagem centrados no
estudante:
Art. 8º São critérios para o planejamento e a organização de cursos de
Educação Profissional e Tecnológica:
...
V - Incentivo ao uso de recursos tecnológicos e recursos educacionais
digitais abertos no planejamento dos cursos como mediação do processo de
ensino e de aprendizagem centrados no estudante; (BRASIL, 2020, p.24).

Além dos documentos citados, para se entender a importância dos recursos


educacionais para a EPT, destacam-se as considerações de Freitas e Jordane
(2009) sobre material didático para o Programa de Integração da Educação
Profissional Técnica de Nível Médio ao Ensino Médio na modalidade de Educação
de Jovens e Adultos - Proeja.

Freitas e Jordane (2009), relatam em seu artigo que, diante do desafio de


implementação do Proeja, surgiu a necessidade de se pensar em um material
didático que pudesse dar conta de novas demandas (FREITAS E JORDANE, 2009).
Diante do desafio, a estratégia escolhida foi a construção colaborativa de livros
didáticos de matemática. Ao apresentarem o processo de criação colaborativa do
material, os autores evidenciaram os seguintes pontos que basearam a criação do
recurso educacional, apresentados de forma sintética na Quadro 1, a seguir:

Quadro 1: Pontos de bases para o livro didático do Proeja, segundo Freitas e


Jordane (2009)
Pontos de base do livro Considerações de Freitas e Jordane
didático do Proeja (2009)

3 O Parecer CNE/CP Nº 7/2020 aguarda homologação do Ministro da Educação.


26

1) Relação entre educação É necessário estabelecer a relação entre


profissional, ensino médio e educação profissional, ensino médio e EJA
EJA Afinal, não existe formação geral
desarticulada de uma formação profissional
e vice-versa.
2) Relação com espaços de O reconhecimento dos espaços de
produção de saberes na produção de saberes na sociedade é
sociedade relevante quando tratamos da educação de
adultos, partindo-se do pressuposto que
esse aluno tem uma vida social e sabe
reconhecer os diversos espaços aos quais
está inserido.
3) Biografias e trajetória de vida Biografias e trajetórias de vida do
estudante levam a um saber produzido que
deve ser reconhecido.
4) Saberes em diferentes espaços Há a necessidade de existirem espaços
sociais que possibilitem que o aluno compreenda e
se compreenda no mundo não como um
sujeito a ser formado para o mercado de
trabalho, mas, sobretudo, como um sujeito
que leva em conta os mais diversos
saberes produzidos em diferentes espaços
sociais.
5) Uso da tecnologia É importante que os estudantes estejam
abertos a inovações e, portanto, precisam
ser apresentados às possibilidades que
podem se abrir com a utilização de
recursos tecnológicos. Há necessidade da
ruptura paradigmática dos modelos de
ensino médio bastante centrados nos
conteúdos específicos e nas disciplinas,
assim aponta-se para a necessidade de
articulação com outras áreas do
conhecimento e também para a formação
profissional.
6) Interdisciplinaridade, Há necessidade da ruptura paradigmática
contextualização e integração dos modelos de ensino médio bastante
curricular centrados nos conteúdos específicos e nas
disciplinas, assim aponta-se para a
necessidade de articulação com outras
áreas do conhecimento e também para a
formação profissional.
7) Seleção e abordagem dos O material deve, portanto, propiciar ao
conteúdos professor condições para uma escolha de
conteúdos de forma que possam ao
mesmo tempo ser trabalhados
individualmente e articulados entre os
demais conteúdos selecionados.
8) Autonomia nas ações Quando falamos de alunos jovens e
adultos estamos falando de sujeitos que já
têm certa
autonomia na maioria de suas ações.
Assim é importante a valorização dessa
autonomia também quando falamos da sua
27

aprendizagem.

9) Valorização da cultura e da O material deve contemplar uma variedade


história de culturas que possa valorizar a trajetória
de vida da mais variada diversidade
cultural dos alunos.
Fonte: Adaptado de FREITAS e JORDANE( 2009)

Silva e Santos (2010), a partir da visão de que os materiais didáticos não são
desconectados das concepções pedagógicas adotadas pela escola e pelos
educadores, ao abordarem o tema de produção de materiais didáticos para a EPT,
identificaram o desafio de relacionar os recursos educacionais às bases conceituais
da EPT:
Todas as mudanças ocorridas na educação profissional e na educação
básica nos últimos anos, resultado de grandes embates políticos e
pedagógicos, devolveram a esperança a todos aqueles que há várias
décadas vêm lutando por uma educação profissional politécnica, integrada,
pública, gratuita, de qualidade e voltada ao aprendizado significativo e à
emancipação dos diferentes sujeitos envolvidos nos processos educativos.
Por outro lado, estas mesmas mudanças ampliaram os desafios dos
educadores brasileiros e das escolas que ofertam educação profissional.
Dentre os maiores desafios estão a oferta de Educação Integrada para
públicos diferenciados, inclusive jovens e adultos. (SILVA et SANTOS, 2010,
p.4)

Considerando dos desafios impostos pela EPT, os autores defendem, como


estratégia para a promoção da interdisciplinaridade e da integração, propostas pela
EPT, a elaboração e a utilização de materiais concretos, definidos por eles como um
objeto ou um conjunto de objetos que podem ser visualizados e manipulados pelos
educandos.
É interessante notar que a produção de materiais concretos é uma maneira
de mobilizar educandos e educadores para o desenvolvimento da pesquisa,
do raciocínio lógico-matemático, histórico-espacial, da leitura e da escrita,
bem como é uma possibilidade concreta de aproximar professores da
formação geral e professores da formação técnica. (SILVA et SANTOS,
2010, p.4)

Diante da contextualização dos recursos educacionais na EPT apresentada, conclui-


28

se que, a efetivação da EPT de qualidade - que realmente oportunize a formação


integral, integrada e emancipatória - demanda recursos educacionais apropriados,
que promovam a implementação das suas bases conceituais na prática do processo
de ensino-aprendizagem, contribuindo para a formação de cidadão autônomos em
face do mundo do trabalho e que não apenas favoreçam o desenvolvimento de
competências e habilidades para um determinado exercício profissional.

1.3 Contexto de Políticas públicas para EPT e recursos educacionais

Compreendida a importância dos recursos educacionais como mecanismos para a


implementação de uma EPT que oportunize a formação integral, integrada e
emancipatória, é oportuno perceber o cenário das políticas públicas educacionais
voltadas para materiais didáticos e para a EPT, no período de 2013 a 2019,
buscando estabelecer relações e identificar a viabilidade dos recursos educacionais
abertos como estratégia para a EPT.

As políticas públicas de educação - aqui compreendidas como o Estado implantando


um projeto de governo, por meio de programas ou de ações voltadas para setores
específicos da sociedade, conforme defendida por Höfling (2001) - demonstram a
importância dos materiais e recursos didáticos adequados como mecanismos de
efetivação de políticas educacionais na sala de aula.

Inspirada na abordagem da policy cycle approach ou “abordagem do ciclo de


políticas” para a análise de políticas educacionais formulada pelo sociólogo inglês
Stephen Ball e por colaboradores, conforme apresentada por Mainardes (2006), a
análise das políticas e programas aqui apresentados aborda principalmente o
contexto de influência- “onde normalmente as políticas públicas são iniciadas e os
discursos políticos são construídos” (MAINARDES, 2006, p. 51)- e o contexto da
produção de texto – representação da política por meio de textos legais oficiais e
textos políticos (MAINARDE, 2006).

Assim, as considerações aqui apresentadas se baseiam, principalmente, em estudos


bibliográficos e documentais. Não alcançam, portanto, o contexto da prática – “onde
a política produz efeitos e consequências que podem representar mudanças e
29

transformações significativas na política original” (MAINARDES, 2006, p. 53) - que


poderia apresentar novas informações sobre as políticas e programas abordados.

1.3.1 Programa Nacional do Livro e do Material Didático - PNLD

Em relação às políticas públicas para recursos educacionais, a Lei de Diretrizes e


Base da Educação Nacional – LDB (BRASIL, 1996) estabelece, como um dos meios
para a efetivação da educação escolar pública, a garantia de programas
suplementares de material didático-escolar para atendimento dos estudantes de
todas as etapas da educação básica.

No âmbito desta obrigação, o MEC desenvolve, em parceria como Fundo Nacional


de Desenvolvimento da Educação – FNDE, o Programa Nacional do Livro e do
Material Didático-PNLD (recentemente reinstituído pelo Decreto nº 9.099, de 18 de
julho de 2017) com o objetivo de avaliar e distribuir obras didáticas, pedagógicas,
literárias e outros materiais de apoio à prática educativa, de forma sistemática,
regular e gratuita, às escolas das redes públicas federal, estaduais, municipais e
distrital de educação básica (BRASIL, 2017).4

O PNLD é executado por meios de editais de avaliação e disponibilização de


materiais destinados, prioritariamente, à educação infantil, ao ensino fundamental e
ao ensino médio. O PNLD, inclusive, tem a obrigação de seguir o disposto na Base
Nacional Curricular Comum - BNCC, recentemente instituída pela Resolução
CNE/CEB nº 2, de 22 de dezembro de 2017:

Art. 20. O PNLD – Programa Nacional do Livro Didático deve atender o


instituído pela BNCC, respeitando a diversidade de currículos, construídos
pelas diversas instituições ou redes de ensino, sem uniformidade de
concepções pedagógicas. (BRASIL, 2017, p.11)

A BNCC pode ser considerada a política pública para a educação básica de maior
relevância atualmente e, também, a que, por isso, gera grandes discussões e

4 Para a educação infantil o atendimento do PNLD inclui as instituições comunitárias,


confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o Poder Público.(BRASIL, 2017)
30

debates. As discussões sobre a BNCC não são foco deste trabalho, mas é relevante
destacar o papel do PNLD, ou seja, dos recursos educacionais, como mecanismo
fundamental de implementação, nas salas de aula, de políticas pensadas no âmbito
governamental.

O PNLD é um programa voltado prioritariamente para a educação básica, mas o


decreto também prevê a possibilidade de atendimento a outras etapas e
modalidades. Para a EPT, no entanto, não há, no momento, edições recentes do
PNLD destinadas à educação profissional, considerando suas especificidades.

O mais recente edital do programa, voltado para o ensino médio, o Edital PNLD
2021 - para aquisição de obras didáticas, literárias e de recursos digitais destinados
aos estudantes, professores e gestores das escolas do ensino médio da educação
básica pública, das redes federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal - é o
primeiro após a reforma do ensino médio promovida pela Lei nº 13.415, de 16 de
fevereiro de 2017, que alterou a LDB. Para atender à nova organização do ensino
médio e à BNCC, o Edital PNLD 2021 apresenta a possibilidade de cinco objetos
(tipos de materiais didáticos) (BRASIL, 2019).

Nenhum dos objetos do Edital PNLD 2021 está relacionado especificamente à


educação profissional e tecnológica (BRASIL, 2019). No entanto, há a indicação de
possibilidade de outro específico de materiais ou recursos didáticos para os
itinerários formativos, dentre os quais o quinto, da formação técnica e profissional:

Isto posto, é importante ressaltar que os cinco objetos deste edital tratam
somente da Formação Geral (BNCC) e que os materiais didáticos para os
Itinerários Formativos serão objeto de edital posterior. (BRASIL, 2019, p.49)

Um edital específico para itinerários formativos do ensino médio poderá se


apresentar como uma oportunidade de, no âmbito do PNLD, avaliação e distribuição
de recursos educacionais de qualidade para a EPT, ao contemplar o itinerário da
formação técnica e profissional.
31

Na ocasião, será relevante estabelecer critérios que orientem a produção e


avaliação de recursos educacionais para a EPT que contribuam para a formação de
cidadão autônomos em face do mundo do trabalho e não apenas favoreçam o
desenvolvimento de competências e habilidades para um determinado exercício
profissional, de preferência dentro de uma perspectiva de formação integral e
integrada.

1.3.2 Plano Nacional de Educação- PNE

A análise do cenário de políticas que abordam o tema do material didático inclui


também o Plano Nacional de Educação- PNE, para os anos de 2014 a 2024
(BRASIL, 2014). O PNE estabelece vinte metas e suas respectivas estratégias para
a educação nacional. Dentre as vinte metas, oito delas (3, 4, 5, 6, 7, 10, 16 e 20)
apresentam de forma explícita a produção ou a disponibilização de material didático
dentre as suas estratégias de cumprimento, algumas delas, inclusive induzem a
produção de REA. Destaca-se, ainda, que entre as que explicitam o material didático
como relevante para o seu alcance, apenas a 10 pode ser relacionada à EPT.

No PNE, a educação profissional é tema de duas das suas 20 metas (10 e 11). A
Meta 10 propõe a oferta de, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas
da educação de jovens e adultos -EJA integrada à EPT. Para esta meta é previsto o
fomento da produção de materiais didáticos como parte de suas estratégias. A Meta
11, a mais específica para a EPT e que visa triplicar as matrículas da educação
profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos
50% (cinquenta por cento) da expansão no segmento público, não prevê dentre suas
estratégias a produção ou a disponibilização de materiais didáticos.

1.3.3 Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec tem


como finalidade ampliar a oferta de EPT e se caracteriza por ser um programa
guarda-chuva que abarca cinco iniciativas: A principal é a Bolsa Formação, que
oferta vagas em cursos de EPT, e as outras quatro já existiam antes da instituição
do programa e foram por ele incorporadas e ajustadas: Programa Brasil
32

Profissionalizado; Rede e-Tec Brasil; Plano de Expansão da Rede Federal de


Educação Profissional, Científica e Tecnológica; e Acordo de Gratuidade com os
Serviços Nacionais de Aprendizagem.

Dentre os objetivos do Pronatec, além da ampliação da oferta e do acesso a vagas


de curso da EPT, está o de estimular a difusão de recursos pedagógicos para apoiar
a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica (BRASIL, 2011). Dentre as
cinco iniciativas do programa, a Rede e-Tec Brasil é a que mais tem contribuído para
este objetivo, ao estimular a produção e o compartilhamento de recursos didáticos
para os cursos de EPT ofertados na modalidade a distância, custeados pelo
Pronatec.

A análise das políticas públicas para recursos e materiais didáticos e para a EPT
demonstram a importância das duas temáticas. No entanto, ao se analisar
comparativamente a evolução do orçamento destinado ao PNLD – o mais importante
programa de materiais didáticos - e ao Pronatec - principal ação da EPT - percebe-
se maior consolidação e estabilidade do PNLD em relação ao Pronatec, como
demonstrado a seguir (GRÁFICO 1):
33

GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DOS ORÇAMENTOS DO PNLD E DO PRONATEC -


2014 A 2019

EvoluçãodosorçamentosdoPNLDedoPronatec…
Série1 Série2
2-
milhõ
Em
R$

es

FONTE: Elaboração da autora com base nas informações do Portal da Transparência


(http://www.portaltransparencia.gov.br/), acessado em 02/11/2018 e no **Projeto de Lei Orçamentária
para 2019, disponível no Portal da Câmera dos Deputados (http://www2.camara.leg.br/orcamento-da-
uniao/leis-orcamentarias/loa), acessado em 02/11/2018.

Até 2019, o Pronatec era, desde a sua criação em 2011, a principal política pública
voltada para a EPT. Em 2020, a legislação do programa permanece vigente, mas as
ações voltadas para a EPT do MEC passaram a compor o programa “Novos
Caminhos”, conforme informações disponíveis no portal do MEC,
http://portal.mec.gov.br/novoscaminhos. Para esta pesquisa, foram analisados os
dados apenas do Pronatec, devido ao escopo temporal e a disponibilidade de
informações.

A análise do contexto das políticas públicas para a educação demonstra que,


quando se trata de ações voltadas para a produção, avaliação e disponibilização de
materiais e recursos didáticos, há uma ênfase para o atendimento da Educação
Básica, de forma geral, inclusive com ações consolidadas e com orçamentos
estáveis e investimentos volumosos.
34

As políticas para a expansão e para o desenvolvimento da EPT, apesar da redução


orçamentária, também demonstram a sua relevância e importância como política
pública contínua.
35

CAPÍTULO 2 – RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS - REA

Recursos educacionais, de forma ampla, são instrumentos facilitadores da


construção do conhecimento, que medeiam a relação pedagógica entre os sujeitos
envolvidos no processo educacional (BRASIL, 2012). Podem ser compostos por
diversos tipos de materiais de apoio à prática educativa e suportes, podendo ser
impressos, audiovisuais e digitais, incluindo ambientes virtuais de aprendizagem.

Para tratar do tema Recursos Educacionais Abertos, é preciso apresentar uma breve
contextualização conceitual e histórica, destacando a relação do tema com os
tópicos educação aberta, práticas educacionais abertas.

Neste capítulo apresentamos também a importância da Licença Aberta para os REA


e o papel dos Repositórios, plataformas públicas, para a disseminação de REA.

2.1 - Educação aberta, Recursos Educacionais Abertos, e Práticas Educacionais


Abertas

Com o objetivo de esclarecer conceitos e contextos relacionados aos recursos


educacionais abertos, Santos (2012) apresenta um histórico da educação aberta e
analisa os principais termos relacionados ao tema. Destacam-se, para este trabalho,
os termos: educação aberta, recursos educacionais abertos, e práticas educacionais
abertas.

Segundo Santos (2012), não há uma definição única para o termo educação aberta
no âmbito acadêmico, mas pode-se relacionar suas definições e aplicações a
diversas práticas, com enfoques específicos, conforme o contexto.

A utilização do termo educação aberta tem sido feita há décadas, mas é na década
de 1970 que o tema se expande. Observa-se que o histórico apresentado por
Santos (2012) para este tema é relacionado ao ensino e à aprendizagem de
crianças e à educação superior, não oferecendo informações pertinentes à
educação profissional e tecnológica, especificamente.
36

Para a educação básica, portanto, a ideia de educação aberta está vinculada a


diversas novas práticas de ensino e de aprendizagem, e para o ensino superior, é
relacionada, principalmente, ao surgimento da proposta de universidades abertas.

No contexto da educação básica, nas décadas de 1970 e 1980, a educação aberta


apresenta uma pluralidade de propostas para orientar as práticas dos professores
em busca de permitir o desenvolvimento de diversas formas de pensar dos
estudantes sobre determinado assunto (SANTOS, 2012).

Nesse contexto, as principais características da educação aberta na educação


básica são avaliação diagnóstica; aprendizagem centrada no estudante;
acompanhamento individualizado da aprendizagem, e a proposta de diversidade de
materiais educacionais (SANTOS, 2012).

Em relação à educação superior, Santos (2012) evidencia a proposta de


universidades abertas e apresenta como suas principais características do tema, a
flexibilidade na admissão dos estudantes, o acesso sem custos a cursos, a
expansão da oferta por meio da educação a distância, e a necessidade de criação
de materiais específicos para estes cursos.

Como exemplo nacional deste modelo, a Universidade Aberta do Brasil, criada em


2005, permite a oferta e o acesso de seus cursos em regiões distantes dos grandes
centros (Santos, 2012), inclusive com a participação das instituições da Rede
Federal de Educação Profissional e Tecnológica - RFEPT.

Por fim, Santos (2012) entende que a “terminologia em educação aberta é bastante
abrangente. Justamente por ser um conjunto de práticas, a educação aberta pode
apresentar componentes de várias vertentes educacionais, interligadas pelo seu
arcabouço teórico” (SANTOS, 2012, p.79).

Para Santos (2012), contemporaneamente, há uma associação entre os termos


educação aberta e recursos educacionais abertos de forma genérica, sem
diferenciações. Esta seria uma “generalização extremamente simplista” (SANTOS,
37

2012, p.83), pois a educação aberta não é necessariamente vinculada ao uso deste
tipo de recurso:
O importante, porém, é compreendermos que o termo educação aberta é
utilizado em contextos variados, que envolvem uma série de práticas, sendo
algumas mais tradicionais e outras mais recentes; e que não é exclusivo à
utilização de recursos educacionais abertos. Ao contrário. A utilização de
recursos educacionais abertos é mais uma maneira de se fazer educação
aberta. (SANTOS, 2012, p.71).

Para Santos (2012), os recursos educacionais abertos, portanto fazem parte da


educação aberta e podem ser considerados como um de seus componentes,
estratégias ou práticas, “dentro de uma perspectiva de compartilhamento de
conteúdo digital com licença de uso aberta” (SANTOS, 2012, p.83). Para essa
pesquisadora, o que distingue os recursos educacionais abertos dos demais é o uso
de licença aberta5, permitindo o compartilhamento de materiais sem a preocupação
em infringir direitos autorais.

No histórico da educação aberta, outro conceito apresentado por Santos (2012), e


destacado neste trabalho, é o de Práticas Educacionais Abertas - PEA. Esta
terminologia é relacionada à institucionalização e à governança que promovem a
utilização de recursos educacionais abertos.

Conforme apresentado por Santos (2012), o projeto The Open Educational Quality
Initiative (OPAL)6 apresenta a seguinte definição de PEA:
[...] práticas educacionais abertas correspondem ao uso de recursos
educacionais abertos de forma a aumentar a qualidade da experiência
educacional. Enquanto REA foca em conteúdos e recursos, PEA representa
a prática na qual um método educacional é empregado para criar um
ambiente educacional no qual REA são utilizados ou criados como recursos
de aprendizagem. (OPAL, 2010, apud SANTOS, 2012, p.86)

O estudo de Santos (2012), ainda que considere os REA como parte da EA, permite
perceber que, tanto para a educação básica quanto para o ensino superior, a

6 Traduzido por Santos (2012) como Iniciativa de Qualidade em Educação aberta


38

necessidade de produção de materiais didáticos capazes de atender a diversidade e


as especificidades de diferentes contextos.

O histórico, conceitos e contextos dos Recursos Educacionais abertos também são


abordados por Tel Amiel, pesquisador e propagador de grande relevância para a
temática do REA. A partir do enfoque da educação aberta como alternativa para
implementação do direito de uma educação de qualidade, Amiel (2012) apresenta
como definição para Educação Aberta:
Fomentar (ou ter a disposição) por meio de práticas, recursos e ambientes
abertos, variadas configurações de ensino e aprendizagem, mesmo quando
essas aparentam redundância, reconhecendo a pluralidade de contextos e
as possibilidades educacionais para o aprendizado ao longo da vida.
(AMIEL, 2012, p. 19)

Para Amiel (2012), a educação aberta é um movimento que, diante dos obstáculos
para a garantia do direito de uma educação de qualidade, visa alternativas
sustentáveis para a efetivação desse direito. A educação aberta, portanto, favorece
a configuração de processos de ensino e aprendizagem que atendam demandas
complexas de conhecimento e que se adéquem à real diversidade de alunos e
professores, em diferentes contextos (AMIEL, 2012).

A partir desta perspectiva da educação aberta, Amiel (2012) não focaliza a


diferenciação de termos e conceitos e enfatiza a importância dos recursos
educacionais abertos, considerando-os como fundamentais para a promoção de
configurações de ensino-aprendizagem mais flexíveis:
O acesso aos recursos educacionais é essencial para o desenvolvimento de
configurações mais flexíveis de ensino e aprendizado. Recursos
educacionais abertos não fazem somente parte dessa expansão, mas são
verdadeiramente propulsores de novas configurações de ensino e
aprendizagem. (AMIEL, 2012, p. 24)

Especificamente sobre o uso do termo “recursos educacionais abertos- REA” (open


educational resources - OER), pode-se dizer que está associado a um evento
promovido pela UNESCO, em 2002 (AMIEL, GONSALES, & SEBRIAM, 2018), numa
época em que, por meio da internet, já havia uma grande disponibilidade de
39

materiais educacionais gratuitos, porém dispersos, (SMITH; CASSERLY, 2006). A


disseminação do uso da internet incentivou a propagação e o compartilhamento de
materiais educacionais digitais (GONSALES, SEBRIAM, & MARKUN, 2018).

Atualmente o conceito mais comum e disseminado de REA é o apresentado pela


UNESCO na Declaração REA de Paris, em 2012:
materiais de ensino, aprendizado e pesquisa em qualquer suporte ou mídia,
que estão sob domínio público, ou que estão licenciados de maneira aberta,
permitindo que sejam utilizados ou adaptados por terceiros. O uso de
formatos técnicos abertos facilita o acesso e o reuso potencial dos recursos
publicados digitalmente. Recursos Educacionais Abertos podem incluir
cursos completos, partes de cursos, módulos, livros didáticos, artigos de
pesquisa, vídeos, testes, software e qualquer outra ferramenta, material ou
técnica que possa apoiar o acesso ao conhecimento. (UNESCO, 2012, p.1).

Em relação ao Brasil, nas últimas década, percebe-se o crescimento do acesso à


educação escolar e ao ensino superior. Mas, além do acesso, é preciso garantir o
direito a uma educação de qualidade. Dentre os aspectos relacionados à qualidade
da educação, destacam-se a formação adequada de professores e a utilização de
materiais didáticos apropriados.

Conforme Amiel (2012, p. 24), a educação básica e o ensino superior, no Brasil,


estão baseados principalmente em recursos didáticos impressos como livros,
apostilas, artigos e revistas. Especificamente para a educação básica, há ainda a
grande dependência dos livros didáticos distribuídos pelo poder público, que
demanda altos custos, a exemplo do PNLD, abordado anteriormente.

Neste contexto os REA são apresentados como alternativa sustentável para a


efetivação de uma educação básica de qualidade, principalmente, mas também para
o ensino superior. Os REA “têm potencial para aumentar o acesso a uma educação
inclusiva, equitativa e de qualidade” (GONSALES, SEBRIAM, & MARKUN, 2017, p.
34).
A ideia principal dos REA e que qualquer recurso de aprendizagem que
uma pessoa publique possa ser utilizado e recombinado por outras pessoas,
de modos diferentes, como forma de ampliar o conhecimento. (GONSALES,
SEBRIAM, & MARKUN, 2017, p. 35).
40

Diante destas considerações, este trabalho se desenvolve a partir da compressão


que os recursos educacionais abertos são os principais impulsionadores, e não
apenas componentes ou ferramentas, do movimento da educação aberta como
alternativa para implementação de uma educação de qualidade, inclusiva e
equitativa.

É a partir da iniciativa do uso de recursos educacionais abertos, baseados em


práticas colaborativa de criação e compartilhamento, que se possibilita e se promove
a institucionalização de práticas abertas de educação, em diferentes ambientes e
contextos educacionais.

2.2 Licenças Abertas para REA

Os REA são baseados no princípio de que o conhecimento é um bem público que


deve ser compartilhado, utilizado e reutilizado (SMITH; CASSERLY, 2006). Para que
um recurso educacional possa ser considerado aberto, é necessário que ele seja
licenciado de forma aberta.

O licenciamento é tão importante para a definição do recurso educacional como


aberto que Santos (2012) considera que esta seja a principal característica do REA,
diferenciando os dos demais materiais educacionais. Para Amiel (2018), o uso de
licenças abertas é essencial para qualificar um recurso como aberto.

Portanto, é a licença aberta de um recurso educacional que permite o


compartilhamento, a utilização e reutilização do conhecimento entre autores,
usuários, professores, estudantes, e demais interessados, de forma ampla e sem o
receio de se desrespeitar os direitos autorais (SANTOS, 2012).

As licenças abertas surgiram num contexto em que a prática de compartilhamento


de materiais em rede era extremamente comum, demandando uma nova forma de
gestão de direitos autorais. O licenciamento aberto é um modelo que não
impossibilita que os autores sejam remunerados pelas suas produções, mas
também permite que o conhecimento produzido seja utilizado e recombinado por
41

outras pessoas (GONSALES, SEBRIAM, & MARKUN, 2017).

Sobre o tema licenciamento do REA, é preciso compreender que nem todo recurso
gratuito é necessariamente aberto. Inclusive, um recurso aberto pode ser
comercializado. “Um equívoco comum e pressupor que se o conteúdo e
disponibilizado gratuitamente na internet, pode ser considerado conteúdo aberto ou
um Recurso Educacional Aberto” (GONSALES, SEBRIAM, & MARKUN, 2017, p. 35).

Na rede de internet há diversas páginas e sites que disponibilizam recursos de forma


gratuita, mas que possuem licenças comerciais com preservação de direitos autorais
e que apresentam condições de uso, reuso e compartilhamento restritas. Por isso, a
identificação do tipo de licença é tão importante para os REA.
Quando um usuário acessa um recurso gratuito, ele somente poderá utilizar
aquele conteúdo na exata forma em que estiver disponível — ou seja, ler tal
conteúdo na tela de seu computador ou dispositivo móvel. Nenhum outro
direito de uso e recombinação e dado ao usuário de um conteúdo que seja
apenas gratuito. E necessário pedir autorização para qualquer tipo de reuso,
como por exemplo, inseri-lo em um plano de aula, distribui-lo a um grupo de
estudantes ou recombina-lo em outros materiais didáticos. (GONSALES,
SEBRIAM, & MARKUN, 2017, p. 35).

Atualmente há diversas formas de identificar a licença aberta de um determinado


material, mas a Creative Commos-CC tem se apresentado como uma alternativa de
simples compreensão, fácil utilização, e uso mais comum entre os autores, em
especial os da área de educação (SEBRIAM; MARKUN; GONSALES, 2017).

Para licenciar um material em CC, é necessário, apenas, que o autor acesse o site
www.creativecommons.org.br e escolha o tipo de licença a partir de respostas a
algumas perguntas. Trata-se de uma mudança do modelo “todos os direitos
reservados” para o modelo “alguns direitos reservados” (SEBRIAM; MARKUN;
GONSALES, 2017, p.57).

No CC, de acordo com as respostas relacionadas a intenção do autor sobre o uso


do seu material, é possível licenciar um recurso educacional de forma aberta em
seis tipos de licenças, que representam a intenção dos autores em relação ao
compartilhamento e uso do material elaborado. A seguir, apresenta-se um quadro
com as perguntas, respostas e os seis tipos de licenças abertas que podem ajudar
42

na escolha do tipo de licenciamento aberto de um recurso educacional:


43

Quadro 2: Tipos de Licenças Creative Commons

Pergunta Resposta Símbolo Sigla Descrição


Permitir que adaptações do Permite que outros distribuam, remixem, adaptem e criem a partir do seu
seu trabalho sejam Sim trabalho, mesmo para fins comerciais, desde que o devido crédito pela
1 compartilhadas? CC BY criação original seja atribuído. É a
Permitir usos comerciais do licença mais flexível de todas, recomendada para maximizar a
Sim
seu trabalho? disseminação e uso dos materiais licenciados.
Permitir que adaptações do Permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho,
Sim, desde que os outros
seu trabalho sejam mesmo para fins comerciais, desde que o devido crédito seja atribuído e
compartilhem igual
2 compartilhadas? BY SA que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Todos os trabalhos
Permitir usos comerciais do derivados terão a mesma licença, e poderão ter uso comercial.
Sim
seu trabalho?
Permitir que adaptações do Permite a redistribuição, comercial e não comercial, desde
seu trabalho sejam Não que o trabalho seja distribuído inalterado e no seu todo, com
3 compartilhadas? BY ND crédito atribuído.
Permitir usos comerciais do
Sim
seu trabalho?
Permitir que adaptações do Permite remix, adaptação e recombinação para fins não comerciais e,
seu trabalho sejam Sim embora os novos trabalhos tenham de atribuir o devido crédito e não
4 compartilhadas? BY NC possam ser usados para fins comerciais, não é preciso licenciar trabalhos
Permitir usos comerciais do derivados sob os mesmos termos.
Não
seu trabalho?
Permitir que adaptações do Permite remix, adaptação e recombinação para fins não comerciais,
Sim, desde que os outros
seu trabalho sejam desde que atribuam o devido crédito e que licenciem as novas criações
compartilhem igual
5 compartilhadas? BY NC SA sob termos idênticos.
Permitir usos comerciais do
Não
seu trabalho?
Permitir que adaptações do Esta é a mais restritiva, só permitindo retenção e distribuição desde que
seu trabalho sejam Não se atribua o crédito, não permite alteração de nenhuma forma ou uso
6 compartilhadas? BY NC ND comercial.
Permitir usos comerciais do
Não
seu trabalho?

FONTE: Elaboração da autora com base nas informações do site Creative Commons BR (https://br.creativecommons.org/ ), acessado em 05/02/2020 e no
livro Como implementar uma política de Educação Aberta e Recursos Educacionais Aberto (REA): guia prático para gestores (SEBRIAM; MARKUN;
GONSALES, 2017, p.59)
44

2.3 Diferenças de recursos educacionais abertos e recursos educacionais gratuitos

Recursos educacionais, de forma ampla, são instrumentos facilitadores da


construção do conhecimento, que mediam a relação pedagógica entre os sujeitos
envolvidos no processo educacional (BRASIL, 2012). Podem ser compostos por
diversos tipos de materiais de apoio à prática educativa e suportes, podendo ser
impressos, audiovisuais e digitais, incluindo ambientes virtuais de aprendizagem.

Os REA são, primeiramente, recursos educacionais. Para a criação de REA, assim


como qualquer recurso educacional, não há receitas prontas. Apresentam-se a
seguir as definições do Ministério da Educação apresentadas na Portaria MEC nº
451, de 16 de maio de 2018, que define critérios e procedimentos para a produção,
recepção, avaliação e distribuição de recursos educacionais abertos ou gratuitos
voltados para a educação básica em programas e plataformas oficiais do Ministério
da Educação:

I - recurso educacional: recurso digital ou não digital, que pode ser utilizado e
reutilizado ou referenciado durante um processo de suporte tecnológico ao ensino e
aprendizagem;

II – recursos educacionais digitais: os materiais de ensino, aprendizagem,


investigação, gestão pedagógica ou escolar em suporte digital, inclusive e-books,
apostilas, guias, aplicativos, softwares, plataformas, jogos eletrônicos e conteúdos
digitais;

III - recursos educacionais abertos: aqueles que se situem no domínio público ou


tenham sido registrados sob licença aberta que permita acesso, uso, adaptação e
distribuição gratuitos por terceiros. Sempre que tecnicamente viável, os recursos
educacionais abertos deverão ser desenvolvidos e disponibilizados em formatos
baseados em padrões abertos;

IV - recursos educacionais gratuitos: aqueles que, não obstante disponibilizados nas


modalidades fechadas de propriedade intelectual, permitam acesso sem restrições
técnicas e sem custos, por tempo ilimitado.
45

Na rede de internet há diversas páginas e sites que disponibilizam recursos e


ferramentas de forma gratuita, mas que possuem licenças comerciais com
preservação de direitos autorais e que apresentam condições de uso, reuso e
compartilhamento restritas.

Como ressaltado por Gonsales, Sebriam & Markun (2017), os REA, com a utilização
de licenciamento abertos, têm um grande potencial de estimular e valorizar a autoria
de estudantes e professores. A prática de compartilhar materiais é antiga no
contexto educacional e, com a internet, foi ainda mais difundida. Mas, a autoria dos
materiais compartilhados, muitas vezes, é ignorada ou desconsiderada. A
incorporação da prática do licenciamento aberto de seus recursos educacionais,
além de atualizar e disseminar o hábito do compartilhamento, valoriza os
professores como cocriadores de conhecimento.

2.4 Repositório de REA

Os Repositórios, plataformas públicas para oferta de REA, são importantes


instrumentos para a disseminação e produção de novos REA. Para um recurso ser
aberto, é preciso que, além do seu licenciamento, ele possa ser compartilhado,
encontrado e recombinado, gerando novos recursos abertos.

As plataformas públicas, portanto, além de disponibilizar de maneira organizada e


indexar recursos permitindo que sejam mais facilmente encontrados, também
potencializam o alcance dos REA ao se tornarem focos de disseminação e recriação
de REA.

O OER Handbook for educators - Guia de Bolso de REA para educadores, em livre
tradução - (https://wikieducator.org/OER_Handbook) apresenta uma proposta de
Ciclo de Vida dos REA: Encontrar, Criar, Adaptar, Usar, Compartilhar. A proposta
adaptada no Caderno REA é reproduzida a seguir:
• Encontrar: o primeiro passo é procurar recursos capazes de atender
adequadamente a sua necessidade. Você pode utilizar ferramentas de busca
46

na Internet ou ainda recorrer ao seu próprio material, como por exemplo:


anotações de aula do ano anterior, projetos e atividades antigas etc.

• Criar: nessa etapa, você pode tanto criar seu recurso “do zero”, como pode
combinar os recursos que você encontrou para montar um novo recurso.

• Adaptar: ao compor novos recursos, quase sempre será necessário fazer


algumas adaptações no material que você encontrou para que ele se adeque
ao seu contexto. Esse processo pode incluir correções, melhoramentos,
contextualização e algumas vezes pode ser necessário refazer
completamente o material.

• Usar: finalmente você pode usar os REA na sala de aula, na Internet, em


reuniões pedagógicas etc.

• Compartilhar: uma vez finalizado os REA, você pode disponibilizá-lo à


comunidade, de dentro e de fora da escola, que poderá reusá-lo e assim
recomeçar o ciclo de vida novamente.

Considerando as etapas iniciais e finais do Ciclo de Vida dos REA - encontrar e


compartilhar, respectivamente - os Repositórios, plataformas públicas para oferta de
REA, são importantes instrumentos para a disseminação e produção de novos REA.
Para um recurso ser aberto, é preciso que além do seu licenciamento, ele possa ser
compartilhado, encontrado e recombinado, gerando novos recursos abertos.
47

Figura 1: Repositórios e o Ciclo de Vida dos REA

Fonte: Elaborado pela autora a partir das informações do Caderno REA. Disponível em:
<https://educacaoaberta.org/cadernorea/>. Acesso em: 1 nov. 2020.

As plataformas públicas de REA permitem o desenvolvimento dos 5 “R”, Reusar,


Revisar, Recombinar, Redistribuir e Reter, dos REA, como defendido por Gonsales,
Sebriam, & Markun (2017), a partir do material sistematizado por David Wiley, No
contexto dos REA, David Wiley é pesquisador e ativista de grande relevância, pois
introduziu o conceito de conteúdo aberto análogo ao conceito de Código Aberto
(BUTCHER, 2011). O pesquisador mantém um Blog sobre o tema
http://opencontent.org/ .

2.4.1 Repositórios de REA no Brasil

Considerando o evento promovido pela UNESCO, em 2002, como marco inicial, o


conhecimento da temática REA no Brasil tem crescido nos últimos anos, a partir,
principalmente, de um movimento de ativismo que reúne pesquisadores, professores,
48

gestores públicos e membros da sociedade civil na disseminação do REA (AMIEL,


GONSALES, & SEBRIAM, 2018).

Ainda que relativamente recente, o movimento de disseminação dos REA tem


contribuído para fomentar novas práticas educacionais e novos modelos para a
aquisição de material educacional, inclusive pelo poder público (AMIEL, GONSALES
& SEBRIAM, 2018).

Os pesquisadores e ativistas Amiel, Gonsales & Sebriam (2018), ao analisarem o


recente histórico dos REA no Brasil, apresentam as principais ações, no âmbito
público e privado, que têm contribuído com a disseminação de REA no país.

Dentre as ações apresentadas, destacam-se, para este estudo, algumas políticas


públicas de promoção de REA para a educação superior e educação básica, que
resultaram no desenvolvimento de Plataformas Públicas de REA no Brasil.

Em relação ao ensino superior, uma ação pública importante para a valorização e


disseminação dos REA é a Resolução CNE/CES nº 01/2016, que em seu art 2º, §4º,
dispõe:
As instituições de educação superior, bem como os órgãos e as entidades
da Administração Pública direta e indireta, que financiem ou fomentem a
educação superior a distância, devem assegurar a criação, a
disponibilização, o uso e a gestão de tecnologias e recursos educacionais
abertos, por meio de licenças livres, que facilitem o uso, a revisão, a
tradução, a adaptação, a recombinação, a distribuição e o compartilhamento
gratuito pelo cidadão, resguardados os direitos autorais pertinentes.
(BRASIL, 2016)

Em consonância com a Resolução CNE/CES nº 01/2016 a Portaria CAPES nº 183,


de 21/10/2016 estabelece que o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) adote
o licenciamento aberto em todos os recursos didáticos elaborados para seus
estudantes (BRASIL, 2016).

Neste contexto, foi desenvolvido um portal educacional online, o eduCAPES


(https://educapes.capes.gov.br/), um repositório que abarca REA para uso de alunos
49

e professores da educação básica, superior e pós graduação que busquem


aprimorar seus conhecimentos.

Figura 2: Portal eduCAPES

Fonte: https://educapes.capes.gov.br/, acessado em 01/03/2020

Em relação à educação básica, a Portaria MEC nº 451, de 16 de maio de 2018,


destaca-se como uma importante ação ministerial de incentivo à produção e
disseminação de REA. Esta portaria define critérios e procedimentos para a
produção, recepção, avaliação e distribuição de recursos educacionais abertos ou
gratuitos voltados para a educação básica em programas e plataformas oficiais do
MEC (BRASIL, 2018).

A Portaria MEC nº 451/2018 é também um importante documento normativo e


orientador, pois apresenta definições de recursos educacionais, recursos
educacionais digitais, e apresenta a diferenças entre recursos educacionais abertos
e gratuitos.

O documento dispõe ainda que os recursos educacionais adquiridos ou produzidos


com fundos públicos deverão ser sempre abertos, representando importante
incentivo para a produção de REA para a educação básica. Neste âmbito, edições
recentes do PNLD (2019 e 2020), avaliam e disponibilizam alguns materiais com
licenciamento aberto, em Creative Commons Atribuição Não-Comercial.

Outra ação ministerial de incentivo e disseminação de REA para a educação básica,


50

foi o desenvolvimento da Plataforma MEC de Recursos Educacionais Digitais – MEC


RED (https://plataformaintegrada.mec.gov.br/home).

A proposta da plataforma MEC RED é disponibilização de recursos educacionais a


partir de um processo de avaliação e curadorias ou automatizada, quando o recurso
for encaminhado por usuário da Plataforma que esteja cadastrado como professor
no Censo Escolar realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Figura 3: Plataforma Integrada MEC RED

Fonte: https://plataformaintegrada.mec.gov.br/ , acessado em 01/03/2020

Conforme Gonsales, Sebriam, & Markun (2018), as instituições de ensino superior,


pioneiramente, a partir de 2012, desenvolveram ações de disseminação de REA.
Dentre as ações desenvolvidas, destacam-se os Repositórios Institucionais Digitais
de compartilhamento e construção coletiva e colaborativa de conhecimento.
Paralelamente aos poderes legislativos e executivo, algumas universidades
públicas se apoderaram da filosofia de abertura dos REA e, nos últimos
cinco anos (2012 a 2017), iniciativas vem fortalecendo um ecossistema que
privilegia a construção coletiva e colaborativa do conhecimento ao criar
suas próprias normativas e regras institucionais para uso, criação e
distribuição de Recursos Educacionais Abertos. (GONSALES, SEBRIAM &
MARKUN, 2018, p.44)

No histórico apresentado por Amiel, Gonsales & Sebriam (2018) não é elencada
nenhuma ação pública ou privada de desenvolvimento de plataforma pública de REA
para a EPT. No entanto, pode-se incluir neste histórico a Rede e-TEC - uma das
51

iniciativas do Pronatec- como uma ação pública que resultou no desenvolvimento de


uma plataforma pública de disseminação e, portanto, de promoção de REA na EPT.

A Rede e-TEC Brasil é uma ação governamental instituída pelo Decreto nº 7.589, de
26 de outubro de 2011, – em substituição ao Sistema Escola Técnica Aberta do
Brasil (e-Tec Brasil) - e que foi incorporada como uma iniciativa do Pronatec. Esta
ação tem como objetivo desenvolver a educação profissional e tecnológica na
modalidade de educação a distância, por meio da oferta de cursos gratuitos
(BRASIL, 2011).

Uma das formas de atuação da Rede e-Tec é a promoção de projetos produção de


materiais pedagógicos e educacionais para docentes e estudantes da EPT a
distância (BRASIL, 2011). O estímulo à produção de materiais para a Rede e-TEC
teve com um dos efeitos a necessidade de se “pensar uma forma de compartilhar e
facilitar a recuperação de todos esses materiais educacionais entre as instituições
participantes e a comunidade acadêmica” (COMARELLA, et al., 2018, p. 87).

Neste âmbito, para assegurar a socialização e o compartilhamento do uso dos


materiais, a SETEC promoveu o desenvolvimento do ProEdu (http://proedu.rnp.br/),
uma plataforma digital, que, conforme descrição em sua página virtual, tem como
objetivo a disseminação dos materiais didáticos elaborados e validados para os
cursos de formação profissional de nível técnico.

Figura 4: Plataforma PROEDU

Fonte: http://proedu.rnp.br/, acessado em 01/03/2020


52

A pesquisa realizada permitiu perceber o papel relevante que repositórios têm para a
implementação e disseminação de REA, mas também para evidenciar que esse
ponto representa um dos desafios de como os REA podem contribuir para qualidade
da EPT.

As plataformas Portal eduCAPES, MEC RED e PROEDU podem ser analisadas


comparativamente, considerando os seguintes quesitos: quantidade de recursos
educacionais disponíveis, facilidade para encontrar recursos educacionais, facilidade
para compartilhar recursos educacionais.

Analisando as diferenças entre as plataformas conforme quesitos apresentados, as


plataformas de REA para a educação básica e para a educação superior parecem
estar consolidadas como repositórios de referência para REA. O PROEDU, no
entanto, ainda que de grande relevância para o histórico dos REA para a EPT,
precisa ser aprimorado:
53

Quadro 3: Comparação entre repositórios de REA no Brasil7

Plataforma Quantidade de Facilidade para encontrar Facilidade para compartilhar


recursos recursos educacionais recursos educacionais
educacionais
disponíveis

Portal Não informado Fácil. Os recursos podem ser Média. Há uma área no portal
eduCAPES encontrados a partir de uma para cadastro e submissão de
ferramenta de busca por materiais, mas exige do
palavras, ou pelo tipo de interessado vínculo com
mídia: imagem, vídeos, universidades do programa UAB
animação, jogo, livro e ou demais instituições de ensino.
outros.
MEC RED 321.332 Muito fácil. Além de uma Fácil. Há uma área no portal para
ferramenta de busca por cadastro e submissão de
palavras, ou pelo tipo de materiais, exige que o professor
mídia, como o eduCAPES, a esteja cadastrado no Censo
MEC RED tem imagens Escolar realizado pelo INEP.
convidativas para encontrar
recursos educacionais a
partir da necessidade do
usuário, além de permitir
comentários e classificação
pelos usuários.
ProEdu 1.325 Fácil. Os recursos podem ser Difícil. Não disponibiliza
encontrados a partir de uma informações no portal para
ferramenta de busca por cadastro e submissão de
palavras, ou pelo tipo de materiais. Apena apresenta
mídia. Também permite a informações de contato.
classificação e ordenação do
resultado da busca.
Fonte: Elaboração da autora.

7 Plataformas acessada em 12 de outubro de 2020. Quesitos elencados pela autora como potencial
usuária das plataformas.
54

CAPÍTULO 3 - RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS PARA EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: POR QUÊ?

Em um contexto de crescimento de acesso sem garantia de qualidade, os REA,


como visto anteriormente, são apresentados como alternativa sustentável para a
efetivação de uma educação de qualidade, tanto para educação básica, como para a
superior.

Em relação à EPT, percebe-se, também, o crescimento do acesso sem a


correspondente garantia de qualidade. A dificuldade de efetivação da qualidade é
reforçada pela escassez de materiais didáticos distribuídos pelo poder público que
sejam específicos para a EPT, considerando suas características próprias.

A transformação dos processos de ensino e de aprendizagem na EPT requer a


elaboração e utilização de recursos educacionais coerentes com suas bases
conceituais, características e especificidades.

Pelas características e especificidades apresentadas nessa pesquisa, a efetivação


da EPT de qualidade - que realmente oportunize a formação integral, integrada e
emancipatória - demanda recursos educacionais apropriados, que promovam a
implementação das suas bases conceituais na prática dos processos de ensino e de
aprendizagem, contribuindo para a formação de cidadãos autônomos em face do
mundo do trabalho e que não apenas favoreçam o desenvolvimento de
competências e habilidades para um determinado exercício profissional.

Diante deste cenário, também para a EPT, os REA, devido aos baixos custos de
elaboração, podem contribuir para a uma disponibilidade de recursos educacionais
de qualidade para a EPT, pois não dependem de compras governamentais.

Os trabalhos de Freitas e Jordane (2009) e de Silva e Santos (2010), apesar de não


identificarem os recursos produzidos como aberto, demonstram a importância da
elaboração coletiva e colaborativa de recursos educacionais para a EPT – livro
didático e material concreto, respectivamente - como alternativa para garantir uma
oferta de EPT de qualidade, assim como é a concepção dos REA.
55

A proposta dos REA é, portanto, compatível com as bases conceituais, as


características e as especificidades da EPT. A inclusão do “Aberto”, aos Recursos
Educacionais da EPT, justifica-se por poder agregar a esses recursos a
institucionalização de práticas colaborativas de criação e compartilhamento e a
valorização da autoria de estudantes e professores da EPT, evidenciando-os como
co-criadores de conhecimento.

3.1 Como os REA podem contribuir para a qualidade da EPT?

Assim, com princípios e práticas compatíveis com a concepção de Educação


Tecnológica, que tem o trabalho como princípio educativo, os REA podem contribuir
para a qualidade da EPT.

Os REA, baseados em práticas colaborativa de criação e compartilhamento, também


podem contribuir para a articulação entre teoria e prática, a integração curricular e
para a formação integral e emancipatória dos indivíduos, bases da EPT.

A proposta dos REA, portanto está em consonância com a da educação politécnica


e com o trabalho como princípio educativo, conforme apresentada por Ramos(s.d.):
Uma educação dessa natureza precisa ser politécnica; isto é, uma
educação que, ao propiciar aos sujeitos o acesso aos conhecimentos e à
cultura construídos pela humanidade, propicie a realização de escolhas e a
construção de caminhos para a produção da vida. Esse caminho é o
trabalho. (RAMOS, s.d, p. 2-3)

A partir do entendimento que a EPT de qualidade tem o trabalho como princípio


educativo (SAVIANI, 2007), promovendo a superação da dicotomia trabalho
manual/trabalho intelectual e incorporando a dimensão intelectual ao trabalho
produtivo (CIAVATTA, 2005), os recursos educacionais para EPT devem ser
coerentes com a relação de identidade entre educação e trabalho, favorecendo a
superação da dualidade social.

Pretto (2012) indica que as propostas de ensino e de aprendizagem dos REA tem
como base a apropriação dos conhecimentos historicamente construídos para
56

recriação colaborativa por parte dos estudantes e professores:


Nesse contexto, os materiais produzidos historicamente passam a fazer
parte de todo o sistema educacional, em todos os níveis ... Assim, todos os
produtos científicos e culturais disponíveis na humanidade passam a ser
didáticos no momento em que professores qualificados os utilizem nos
processos formativos. (Pretto, 2012, p. 97-98)

A proposta dos REA está em consonância com o trabalho como princípio educativo
da EPT, pois também propõem um processo ensino-aprendizagem com base na
apropriação dos conhecimentos historicamente construídos para recriação
colaborativa por parte dos estudantes e professores (SANTANA; ROSSINI; PRETTO,
2012).

Os recursos educacionais para a EPT devem considerar a diversidade de contextos


educacionais (FREITAS; JORDANE, 2009) e buscar reconhecer a necessidade de
se articular os projetos de educação profissional a diferentes estratégias de
escolarização (ARAÚJO; RODRIGUES, 2010), especialmente quando na
modalidade Educação para Jovens e Adultos-EJA. Assim, os recursos educacionais
para a EPT devem partir do pressuposto que os indivíduos estão inseridos em
diversos espaços de produção de conhecimento, não apenas a escola.

A adaptabilidade às diversas realidades e contextos está na base da proposta dos


REA, contribuindo, assim, para a inclusão social, a equidade entre os gêneros, bem
como para o ensino voltado para pessoas com necessidades específicas (UNESCO,
2012):
Recomenda aos Estados, na medida das suas capacidades e sob a sua
autoridade:

a) O reforço da sensibilização e da utilização dos REA.

A promoção da utilização dos REA com vista a ampliar o acesso à instrução


em todos os níveis, tanto à educação formal como não-formal, numa
perspectiva de aprendizagem ao longo da vida, contribuindo, assim, para a
inclusão social, a equidade entre os géneros, bem como para o ensino com
necessidades específicas. O aumento da qualidade e da eficiência dos
resultados do ensino e do aprendizado, através de uso mais amplo dos REA.
(UNESCO, 2012, p. 1)

A produção de conhecimento, em espaços formais e não-formais, e não apenas a


57

reprodução - também é um dos fundamentos dos REA, “assim, professores


fortalecidos enaltecem a produção de diferenças dentro da escola, transformando-a,
essencialmente, em um espaço de criação e não de mera reprodução do
conhecimento estabelecido” (Pretto, 2012, p. 97-98).

A EPT, que abrange desde cursos de qualificação profissional à pós-graduação,


deve considerar os conhecimentos produzidos pelos dos indivíduos em suas
trajetórias de vida e promover a capacidade continuar aprendendo ao de ao longo da
vida de forma autônoma (MOURA, 2007). Assim, os recursos educacionais para a
EPT devem levar em conta as trajetórias de vida dos estudantes e contribuir para a
reflexão sobre si mesmos e sobre o conhecimento produzido.
[...] é necessário conceber essas ofertas a partir da unidade
ensino/pesquisa, a qual colabora para edificar a autonomia dos indivíduos,
isto é, o desenvolvimento, entre outros aspectos, das capacidades de ao
longo da vida aprender, interpretar, analisar, criticar, refletir, buscar
soluções e propor alternativas, potencializadas pela investigação e pela
responsabilidade social assumida. (MOURA, 2007, p.23)

Os REA têm como perspectiva a aprendizagem ao longo da vida (UNESCO, 2012),


ou seja, as trajetórias dos indivíduos devem ser consideradas, assim como para EPT.
Ao propor a utilização e a recombinação de materiais produzidos, os REA também
promovem, a partir de uma necessária reflexão, a ampliação do conhecimento:
Queremos uma escola, cujos muros possam ser assaltados pela
diversidade de olhares e de percepções que permitam, de forma quem sabe
até contraditória, pensar na ausência do muro e da escola. Queremos
pensar grande, pensar na possibilidade de um mundo que produza
conhecimento de forma intensa, rico pelo próprio ato de produzir,
estabelecendo um efetivo e rico diálogo entre o conhecimento produzido
historicamente pela humanidade e o conhecimento emanado de cada
cidadão na sua relação com o outro e com o próprio conhecimento.
(SANTANA; ROSSINI; PRETTO, 2012).

Para a EPT, a educação não deve servir para um projeto de reprodução da


sociedade e suas desigualdades, mas sim a formação de sujeitos autônomos face
ao mundo do trabalho e visa uma formação integral e integrada, que não separa a
formação geral e profissional (RAMOS, s.d).
Problematizar fenômenos – fatos e situações significativas e relevantes para
compreendermos o mundo em que vivemos, bem como processos
tecnológicos da área profissional para o qual se pretende formar –, como
objetos de conhecimento, buscando compreendê-los em múltiplas
58

perspectivas: tecnológica, econômica, histórica, ambiental, social, cultura,


etc. (RAMOS 2005, p. 122-123)

Recursos educacionais para a EPT, por tanto, devem considerar que a EPT não
forma os indivíduos apenas para exercício profissional, mas contribui para a
formação de sujeitos autônomos e integrais.

Conforme Pretto (2012), proposta dos REA, igualmente, busca promover a


autonomia dos indivíduos, professores e estudantes, e superar a ideia de uma
educação que apenas reproduz o conhecimento:
Desta forma, trazemos para o debate a proposta de superação da ideia de
uma educação associada à produção em série, com cada um
representando um específico papel, numa lógica de gestão que
essencialmente retira dos mestres a autonomia... Assim, além de atores
participantes do sistema educacional, os professores (e seus alunos,
obviamente) passam a ser a(u)tores dos processos e, dessa forma, passam
a promover enfaticamente a criação. (Pretto, 2012, p. 97)

Diante do histórico da dualidade educacional, a integração da formação profissional


e da educação básica é um grande desafio (MOURA, 2007). A EPT deve explorar a
convergência e a integração entre os conteúdos, tendo como base a perspectiva de
construção do conhecimento e o favorecimento da interação entre sujeitos
envolvidos com o processo educativo. (BRASIL, 2012).

Os recursos educacionais para EPT devem, portanto, promover a articulação entre


as diversas áreas de conhecimento, contribuindo para a interdisciplinaridade e a
integração, o que demanda o trabalho coletivo tanto para o conteúdo quanto para a
metodologia.
A integração, no primeiro sentido, possibilita formação omnilateral dos
sujeitos, pois implica a integração das dimensões fundamentais da vida que
estruturam a prática social. Essas dimensões são o trabalho, a ciência e a
cultura (RAMOS, s.d, p. 5)

A integração dos conteúdos e a perspectiva de formação integral dos indivíduos


representam desafios permanentes para a EPT. Os REA - baseados na flexibilidade,
59

atualização, adaptação e na colaboração – “são verdadeiros propulsores de novas


configurações de ensino e aprendizagem” (AMIEL, 2012, p.24).

As características intrínsecas dos REA podem contribuir para a demanda da EPT


por recursos educacionais que considerem a “convergência e a integração entre os
conteúdos, tendo como base a perspectiva de construção do conhecimento e o
favorecimento da interação entre sujeitos envolvidos com o processo educativo”
(BRASIL, 2012, p.54).

A EPT, demanda constante alinhamento com a dinâmica das inovações e as


tecnologias, em constante mudanças. Assim, é importante o uso tecnologias
educacionais inovadoras, atualizadas, alinhadas com o mundo do trabalho e de
forma contextualizada (BRASIL, 2012). Logo, os recursos educacionais para a EPT
devem estimular a inovação e contribuir com a utilização de diversos tipos de
tecnologias.
Utilizar ferramentas e tecnologias educacionais inovadoras, atualizadas,
alinhadas com o mundo do trabalho e de forma contextualizada ao longo do
processo educacional, visando ao aprimoramento dos processos de ensino
e aprendizagem. (BRASIL, 2012, p.53)

A proposta dos REA também defende a facilitação de ambientes propícios ao uso de


tecnologias e inovação (UNESCO, 2012). Por se basearem em constantes
adaptações, por meio de recombinações e recriações, os REA se adequam à
demanda constante por inovação, atualização e contextualização, intrínseca à EPT,
diante do mundo do trabalho em constante mudança.
Recomenda aos Estados, na medida das suas capacidades e sob a sua
autoridade:

...

b. A facilitação dos ambientes propícios ao uso das Tecnologias da


Informação e da Comunicação (TIC). (UNESCO, 2012, p. 1)

A EPT deve incentivar o uso de REA (BRASIL, 2020). A incorporação e a


institucionalização, na EPT, de REA, baseados em práticas colaborativas de criação
e compartilhamento, pode impulsionar a implementação da EPT de qualidade -
60

integrada e integradora, inclusiva e equitativa. Além disso, os REA, por meio do


licenciamento aberto e das práticas de compartilhamento, valorizam a autoria de
estudantes e professores da EPT, tornando-os cocriadores de conhecimento.

Por todas as potencialidades demonstradas, os recursos educacionais da EPT


devem ser abertos, permitindo que possa ser elaborado, utilizado, recombinado e
compartilhado por outras pessoas, de modos diferentes, como forma de ampliar o
conhecimento, conforme proposto no Parecer CNE/CP Nº 7/2020:
Art. 8º São critérios para o planejamento e a organização de cursos de
Educação Profissional e Tecnológica:
...

V - Incentivo ao uso de recursos tecnológicos e recursos educacionais


digitais abertos no planejamento dos cursos como mediação do processo de
ensino e de aprendizagem centrados no estudante; (BRASIL, 2020, p.24).

A partir dos referenciais conceituais e históricos da EPT e considerando as


características dos recursos educacionais de qualidade para EPT, este trabalho
apresenta a seguir a compilação dos principais atributos que devem ser
considerados nos Recursos Educacionais Abertos para a Educação Profissional e
Tecnológica:

I. ser coerente com a relação de identidade entre educação e trabalho,


favorecendo a superação da dualidade social;

II. partir do pressuposto que os indivíduos estão inseridos em diversos espaços


de produção de conhecimento, não apenas a escola;

III. levar em conta as trajetórias de vida dos estudantes e contribuir para a


reflexão sobre si mesmos e sobre o conhecimento produzido;

IV. considerar que o a EPT não forma os indivíduos apenas para o mercado de
trabalho, mas contribui para a formação de sujeitos autônomos e integrais;
61

V. promover a articulação entre as diversas áreas de conhecimento, contribuindo


para a interdisciplinaridade e a integração, o que demanda o trabalho coletivo
tanto para o conteúdo quanto para a metodologia;

VI. estimular a inovação e contribuir com a utilização de diversos tipos de


tecnologias; e

VII. ser aberto, permitindo que possa ser elaborado, utilizado, recombinado e
compartilhado por outras pessoas, de modos diferentes, como forma de
ampliar o conhecimento.

3.2 Desafios e Potencialidades dos REA para EPT

A análise dos referenciais conceituais e históricos da EPT e dos REA demonstraram


que articulação entre os REA e a EPT é permeada de potencialidades e desafios.

Dentre as potencialidades, destacam-se que os REA, baseados em práticas


colaborativas de criação e compartilhamento, permitem a convergência de
conteúdos e áreas do conhecimento, possibilitam a articulação entre teoria e prática
e promovem a autonomia dos indivíduos tornando-os cocriadores do conhecimento.
Os REA, portanto, são potenciais propulsores da implementação de uma EPT que
oportunize a formação integral, integrada e emancipatória.

Dentre os desafios, destacam-se que, a escassez e o fortalecimento de ações


voltadas para a disseminação e a consolidação do uso de REA para a EPT.
Comparativamente com as ações voltadas para a educação básica e ensino superior,
abrangentes e consolidadas, a EPT demanda ações que orientem e promovam o
uso de REA para EPT, considerando suas bases conceituais e históricas.
62

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

4.1- Desenvolvimento da pesquisa

A partir da hipótese que os REA para a EPT podem ser uma estratégia de recursos
educacionais de qualidade, com base nos respectivos referenciais conceituais e
históricos, a pesquisa buscou identificar as potencialidades e desafios da articulação
entre REA e EPT, por meio das seguintes perguntas: Por que REA para EPT? Como
os REA podem contribuir para a qualidade da EPT?

A realização dessa pesquisa baseou-se em uma abordagem metodológica


qualitativa. Conforme Zanette (2017), o uso do método qualitativo gerou diversas
contribuições para as pesquisas em educação. Conforme Gatti e André (2011),
dentre as contribuições da pesquisa qualitativa para a educação está o
entendimento que compreender e interpretar grande parte das questões e
problemas da área de Educação, é preciso recorrer a enfoques
multi/inter/transdiciplinares e a tratamentos multidimensionais. Assim, optamos pela
metodologia qualitativa, por favorecer a análise multifacetada da educação
profissional e tecnologia e dos recursos educacionais abertos.

A pesquisa também é caracterizada como exploratória e explicativa. Exploratória,


pois buscou-se aprofundar os temas pesquisados, com o objetivo proporcionar maior
familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito (GIL, 2002).
Explicativa, ao buscar conectar e evidenciar as potencialidades do uso de REA para
EPT.

Quanto aos procedimentos, foram utilizados, principalmente, estudos de textos


referenciais conceituais e documentos (normativos, legislações, sites de internet),
que tratam das bases conceituais e históricas da EPT e do REA, de políticas
públicas e ações governamentais de REA e de EPT.

A pesquisa também é aplicada, pois resultou na elaboração de um produto


educacional, o guia didático introdutório “RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS:
UMA ABORDAGEM PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA”.
63

4.2- Referências para elaboração do Produto Educacional

Com o intuito de elaborar o produto educacional o guia didático introdutório


“RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: UMA ABORDAGEM PARA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA”, como fontes documentais, além de normativos
e legislações, foram considerados e analisados portais e sites sobre REA
desenvolvidos com o intuito de disseminar a proposta de REA e orientar o público
para sua utilização.

Dentre os portais com proposta de serem Guias de REA analisados, os mais


relevantes para o desenvolvimento da pesquisa e que serviram de base para a
elaboração do produto educacional resultante foram os seguintes:

a) Portal Caderno REA (http://educacaoaberta.org/cadernorea/)

Como apresentado na página inicial do portal, o Caderno REA foi elaborado para
disseminar e orientar o uso de REA com foco nos professores da educação básica,
mas que pode ser utilizado pelo público em geral.

A primeira versão do portal foi elaborada pelo Núcleo e Informática Aplicada à


Educação (NIED), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pelo grupo de
trabalho Educação Aberta, coordenador pelo pesquisador Tel Amiel. Por ser um
Recurso Educacional Aberto, as demais versões do Caderno REA foram feitas,
colaborativamente por muitas pessoas, ao longo do tempo, e a partir do remix de
outros REA.

b) Guia REA (http://guiarea.fiocruz.br/)

O Guia de Recursos Educacionais Abertos da Fiocruz, conforme apresentado na sua


sessão introdutória, é resultado do trabalho da rede do Campus Virtual de Saúde
Pública da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que inclui várias
instituições. O Guia REA foi elaborado coma pretensão de facilitar a compreensão
64

dos conceitos de REA e apresentar princípios e requisitos para construção dos


recursos.

As sessões dos portais de REA serviram de inspiração e base para a elaboração do


produto educacional. Como exemplo de um recurso educacional aberto, assim como
os dois portais apresentados, o produto educacional é o resultado da pesquisa
desenvolvida e da recombinação desses portais e outros recursos com licenças
abertas.

Quadro 4: Índices dos Portais de REA


(1) Índice do Portal Caderno REA (2) Índice do Portal Guia REA

Fonte: Elaboração da autora. Portais acessados em 18/10/2020.


65

c) Guia Como Implementar uma Política de Educação Aberta – e de Recursos


Educacionais Abertos (REA) (https://guiaea.educadigital.org.br/o-guia/)

Além dos portais apresentados, na categoria Guias de REA analisados na pesquisa


está o livro, em formato impresso e digital, Como Implementar uma Política de
Educação Aberta – e de Recursos Educacionais Abertos (REA). A publicação é um
dos resultados da do projeto Iniciativa Educação Aberta (IEA) (https://aberta.org.br/),
realizada em parceria entre o Instituto Educadigital e a Cátedra UNESCO de
Educação Aberta do NIED/UNICAMP. O material teve grande relevância para a
pesquisa por ser organizado como um guia para propiciar melhor entendimento do
assunto e apoiar a implementação de medidas concretas e, por ser um exemplo de
Guia de REA disponibilizado em formato e-book.

4.3 – Avaliação do Produto Educacional

Pretendíamos, no início da pesquisa, a realização de oficina pedagógica, por


considerar que esta prática metodológica permite apreender o conhecimento a partir
do conjunto de acontecimentos vivenciais no dia-a-dia, onde a relação teoria- prática
constitui o fundamento do processo pedagógico (FIGUEIREDO, 2006).

A Oficina, como propõe Ander-Egg (1991), é uma metodologia participativa, que cria
condições de desenvolver a criatividade e a construção coletiva do conhecimento
em busca de uma transformação pedagógica significativa.

Ander-Egg (1991) esclarece que o termo Oficina (Taller) indica um local em que se
trabalha, se elabora e se transforma algo para ser utilizado. Estes sentidos podem
ser aplicados à educação da mesma forma, pois é uma forma de ensinar e aprender
por meio da realização de algo conjuntamente:
Taller es una palabra que sirve para indicar um lugar donde se trabaja, se
elabora y se tranforma algo para ser utilizado. Aplicado a la pedagogia, el
alcance es el mismo: se trata de una forma de enseñar y, sobre todo de
aprender, mediante la realizacioón de algo, que se lleva a cabo
conjuntamente. (ANDER-EGG,1991, p.10)8

8Oficina é uma palavra que serve para indicar um lugar onde se trabalha, se elabora e se transforma
algo para ser utilizado. Aplicado à pedagogia, o alcance é o mesmo: trata-se de uma forma de ensinar
e, sobretudo de aprender, mesiante a realização de algo, que se leva ao cabo conjuntamente
66

No entanto, devido às limitações impostas pelo contexto mundial de emergência


pública causada pela pandemia de COVID-19, não foi possível a realização da
Oficina. Alternativamente, optamos por elaborar e disponibilizar uma versão inicial do
produto educacional a profissionais da educação.

Sua elaboração foi orientada pela abordagem de conteúdos proposta por Antoni
Zabala (1998): Conceituais, relacionados à interpretação, compreensão ou
exposição de um fenômeno ou situação aos conteúdos; Procedimentais,
relacionados a regras, técnicas, métodos, destrezas ou habilidades, estratégias,
procedimento; e Atitudinais, relacionados a normas, valores e atitudes. Assim, na
estruturação do material foi considerado o seguinte:

Quadro 5: Discriminação dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais


para o Produto Educacional
Conteúdos Conceituais
O que são os REA;
Recursos educacionais para EPT;
Potencialidades da articulação entre REA e EPT;
Licença aberta
Diferenciação entre recursos abertos de recursos gratuitos;
Conteúdos Procedimentais
Como escolher o tipo de licença do seu REA;
Como encontrar e Compartilhar REA na internet;
Conteúdos Atitudinais
Interesse por REA para EPT; e
Compartilhamento da proposta de REA na EPT.
Fonte: elaborado pela pesquisadora

A elaboração do produto educacional foi metodologicamente inspirada nos


procedimentos e as etapas (conceitual, pedagógica e comunicacional) propostos por
Kaplún (2002, 2003) para o planejamento e a elaboração de produtos educacionais.

(ANDER-EGG,1991,p.10, tradução nossa)


67

A etapa conceitual correspondeu à pesquisa realizada a partir de estudos teóricos e


documentais sobre as bases conceituais, históricas e legais da EPT e do REA no
Brasil. A partir dessa contextualização, foi aprofundada a discussão sobre o papel
dos recursos educacionais na EPT e a proposição dos REA como estratégia de
elaboração e utilização de recursos convergentes com a proposta de formação
integral, integradora e autônoma da EPT.

A etapa pedagógica correspondeu à elaboração de proposta de diálogo com


educadores. Por meio da disponibilização de uma versão inicial do Guia e de
questionários de pesquisa a profissionais da educação, buscou-se a validação e o
aprimoramento do produto educacional.

A etapa comunicacional da pesquisa correspondeu à definição do meio mais


adequado para a materialização e apresentação do guia, estabelecendo o suporte e
o formato em que o guia será viabilizado aos educadores da EPT, de forma que
possa ser encontrado, utilizado, adaptado e compartilhado por outros pesquisadores
e professores. Nesse sentido, optamos pela elaboração do Guia em formato de e-
book, pela facilidade de elaboração, compartilhamento e possibilidade de
recombinação pelos usuários.

Visando fazer as discussões mencionadas, esse guia didático de REA para a EPT,
inspirado nos modelos guias de bolso, foi estruturado em perguntas, facilitando que
os interessados localizem as informações de forma mais objetiva.
68

CAPITÚLO 5 - ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS ALCANÇADOS:

A disponibilização da versão inicial produto educacional ocorreu por meio do envio


de um convite à pesquisa, com orientações quanto aos procedimentos a serem
seguidos pelos participantes, acompanhado de dois formulários, por meio da
ferramenta de formulários online9.

1) Formulário de Adesão: Trata-se de um formulário prévio, que deveria ser


respondido antes da leitura do produto educacional, com o objetivo do
conhecimento dos participantes da pesquisa sobre os temas abordados no
produto educacional.

2) Formulário de Avaliação: Trata-se de um formulário posterior, que deveria ser


respondido após a leitura do produto educacional, com o objetivo de avaliar a
versão inicial do produto educacional e contribuir para o seu aprimoramento.

O grupo de participantes da pesquisa foi formado por 10 profissionais da educação


que, ao serem apresentados virtualmente à proposta, solicitaram a participação na
pesquisa.

5.1 - Perfil e Diagnóstico inicial dos participantes:

As perguntas elaboradas no Formulário de Adesão buscaram identificar o perfil dos


participantes em relação a sua formação acadêmica, experiência docente e tempo
de atuação na área da educação.

Dentre os que aderiram, em relação à titulação máxima da formação acadêmica,


observamos uma variedade de formação: 3 doutores, nas áreas das Ciências da
Computação, da Educação, ou da História; 3 mestres em Educação Profissional e
Tecnológica; 3 especialistas em educação e 1 que apenas declarou possuir pós-
graduação.

9 O convite e os formulários da pesquisa estão disponíveis no Apêndice 2.


69

Em relação à experiência como professor, apenas 3 respondentes declararam não


ter experiência ou formação docente. Grande parte, portanto, tem experiência ou
formação como docentes da educação básica, EPT, ou Educação de Jovens e
Adultos.

Em relação ao tempo de atuação como profissionais da educação, os participantes


apresentaram-se bastante experientes, 90% possuem mais de 5 anos de
experiência e 50% mais de 15 anos atuando como profissional da educação.

Com os dados apresentados, consideramos que, devido a formação acadêmica,


experiência docente e tempo de atuação na área da educação, os participantes da
pesquisa têm relevante potencial para analisar e contribuir com o produto
educacional.

As perguntas elaboradas no Formulário de Adesão buscaram também realizar um


diagnóstico prévio à leitura do produto educacional quanto ao nível de conhecimento
dos principais temas e conceitos abordados no produto educacional.

Em relação ao nível de conhecimento sobre tema Educação Profissional e


Tecnológica, todos participantes revelaram conhecimento moderado ou profundo no
tema. Mas, em relação ao nível de conhecimento sobre tema Recursos
Educacionais Abertos, 9 dos 10 participantes revelaram pouco ou conhecimento
moderado e apenas 1 afirmou ter profundo conhecimento.

Em relação ao nível de conhecimento sobre tema Licença Aberta, 7 dos 10


participantes revelaram nenhum ou pouco conhecimento sobre o tema.

Em relação ao nível de experiência com o uso de Recursos Educacionais Abertos,


metade dos participantes declararam já ter usado REA, e apenas dois deles
declararam já ter criado ou compartilhado REA.

Com os dados apresentados sobre o conhecimento dos temas EPT, REA, e Licença
aberta e sobre a experiência com REA, constata-se que forma um grupo com alto
nível de conhecimento de temas da EPT e pouco conhecimento sobre REA. Assim,
70

consideramos que os profissionais da educação consultados têm relevante potencial


para contribuir com a análise do produto educacional, em relação à articulação
proposta entre REA e EPT.

A configuração do grupo, portanto, considerando a formação acadêmica, experiência


em educação, conhecimento de EPT e REA, demonstrou-se oportuna para a análise
do produto educacional que pretende, por meio de um guia didático introdutório,
apresentar uma abordagem de REA para a EPT.

5.2- Avaliação do Produto Educacional e Contribuição dos participantes:

As perguntas elaboradas no Formulário de Avaliação buscaram revelar a análise do


produto educacional pelos participantes em relação à abordagem dos conteúdos,
objetivos alcançados e aprendizagem dos conteúdos conceituais, procedimentais e
atitudinais. Adicionalmente, o formulário buscou oportunizar a contribuição dos
participantes para a melhoria do produto educacional, de forma colaborativa, como
defende a proposta dos REA.

Em relação ao objetivo geral do produto educacional de disseminar a proposta de


REA para a EPT, todos os participantes declararam que foi alcançado em grande
medida ou completamente.

Em relação à contribuição do produto educacional ao conhecimento sobre os


principais conteúdos conceituais e procedimentais do produto educacional, os
participantes revelaram que o material contribuiu ou contribuiu muito para seu
conhecimento sobre: Características dos Recursos Educacionais para EPT;
Recursos Educacionais Aberto; Diferença entre recursos abertos e gratuito; Escolher
uma licença aberta de recursos educacional; Criar um REA para EPT; e Encontrar e
compartilhar um REA para EPT

Em relação à contribuição do produto educacional ao conhecimento sobre os


principais conteúdos atitudinais do produto educacional, todos os participantes
concordaram completamente com a proposta defendida no produto educacional de
que os REA podes contribuir para a qualidade da EPT e maior parte dos
71

participantes revelou que o material contribuiu completamente para aumentar o seu


interesse por REA para a EPT.

Em relação aos comentários adicionais dos participantes ao produto educacional,


todos contribuíram com a melhoria do produto educacional, destacando o
atingimento dos objetivos propostos.
A proposta está muito boa naquilo que apresenta
conceitualmente. Possui começo, - apresenta REA, meio –
articulação conceitual, e fim – possibilitando ao leitor do Guia
sua autonomia na busca. E, ainda apresenta o glossário.
(Participante da pesquisa)
Belíssimo trabalho que contempla uma visão ampla desde à
orientação para habilitar o produto em relação à tipo de licença
para o produto, bem como a indicação das diversas
plataformas onde ele pode ser disponibilizado para a pesquisa
e utilização na EPT. (Participante da pesquisa)

Os participantes também contribuíram e se tornaram colaboradores ao sugerirem


incluir aspectos relacionados à acessibilidade, à educação de jovens e adultos e à
apresentação de mais exemplos de REA. Aspectos que foram considerados.

Avaliação dos participantes da pesquisa demonstrou que o produto educacional


alcança o objetivo proposto de disseminar e ao mesmo tempo contribui para
aprendizagem dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais em uma
linguagem e abordagem adequada.

As sugestões dos participantes demonstraram que o tema Recursos Educacionais


para a EPT pode ser abordado e analisado de diferentes prismas e que nenhuma
das abordagens é completa. Por ser um REA, o produto educacional poderá ser
compartilhado e recombinado por outros autores e pesquisadores que, a partir deste
material inicial, podem aprofundar e aprimorar os temas abordados, bem como,
abranger outros aspectos não contemplados nesta primeira versão.

5.3- Relação entre a Pesquisa e a elaboração e a avaliação do produto educacional


72

A partir dos referenciais conceituais e históricos da EPT e considerando as


características dos recursos educacionais de qualidade para EPT, o produto
educacional propõe sete atributos de qualidade dos REA para EPT, que articulam as
bases conceituais das duas temáticas.

Os dados das respostas do formulário de avaliação demonstraram que os


participantes compreenderam e validaram a articulação proposta das bases
conceituais entre REA e EPT e os atributos para os recursos educacionais para a
EPT.

Quadro 6: Validação de atributos dos REA para EPT


Atributo Base Conceitual EPT Participantes que
validaram
I. ser coerente Trabalho Como Princípio Quase todos (apenas 1 não
com a relação de Educativo validou a relação.
identidade entre educação
e trabalho, favorecendo a
superação da dualidade
social;
II. partir do Diversidade de Contextos Todos
pressuposto que os Educacionais
indivíduos estão inseridos
em diversos espaços de
produção de conhecimento,
não apenas a escola;
III. levar em Aprendizagem ao Longo Todos
conta as trajetórias de vida Da Vida
dos estudantes e contribuir
para a reflexão sobre si
mesmos e sobre o
conhecimento produzido;
IV. considerar Formação Integral Quase todos (apena 2 não
que o a EPT não forma os validaram a relação.
indivíduos apenas para o
73

mercado de trabalho, mas


contribui para a formação
de sujeitos autônomos e
integrais;
V. estimular a Inovação e Tecnologias Quase todos (apena 1não
inovação e contribuir com a validou a relação.
utilização de diversos tipos
de tecnologias;
VI. promover a Formação Integrada Quase todos (apena 2 não
articulação entre as validaram a relação.
diversas áreas de
conhecimento, contribuindo
para a interdisciplinaridade
e a integração, o que
demanda o trabalho
coletivo tanto para o
conteúdo quanto para a
metodologia; e
VII. ser aberto, Recursos Educacional Quase todos (apena 1não
permitindo que possa ser Aberto validou a relação.
elaborado, utilizado,
recombinado e
compartilhado por outras
pessoas, de modos
diferentes, como forma de
ampliar o conhecimento.
Fonte: elaborado pela pesquisadora

As respostas dos participantes confirmam que, com princípios e práticas compatíveis


com a concepção de Educação Tecnológica, que tem o trabalho como princípio
educativo, (SAVIANI, 2007), promovendo a superação da dicotomia trabalho
manual/trabalho intelectual e incorporando a dimensão intelectual ao trabalho
produtivo (CIAVATTA, 2005). Assim, valida-se o atributo que os recursos
educacionais para EPT devem ser coerentes com a relação de identidade entre
educação e trabalho, favorecendo a superação da dualidade social.
74

As respostas dos participantes também validam que os recursos educacionais para


a EPT devem partir do pressuposto que os indivíduos estão inseridos em diversos
espaços de produção de conhecimento, não apenas a escola. Assim, os recursos
educacionais para a EPT devem considerar a diversidade de contextos educacionais
(FREITAS; JORDANE, 2009) e buscar reconhecer a necessidade de se articular os
projetos de educação profissional a diferentes estratégias de escolarização
(ARAÚJO; RODRIGUES, 2010), especialmente quando na modalidade Educação
para Jovens e Adultos-EJA.

Os participantes confirmaram o entendimento que a EPT deve considerar os


conhecimentos produzidos pelos dos indivíduos em suas trajetórias de vida e
promover a capacidade continuar aprendendo ao de ao longo da vida de forma
autônoma (MOURA, 2007). Dessa forma foi também validado o atributo dos recursos
educacionais para a EPT devem levar em conta as trajetórias de vida dos
estudantes e contribuir para a reflexão sobre si mesmos e sobre o conhecimento
produzido.

Os resultados do questionário dos participantes também validaram os atributos


relacionados à formação integral e integrada. Apesar de não responderem de forma
unânime, percebe-se que um dos respondentes trocou a relação entre os atributos e
conceitos, por serem muito próximos. Para a EPT, a educação deve servir para
formação de sujeitos autônomos face ao mundo do trabalho e visa uma formação
integral e integrada, que não separa a formação geral e profissional (RAMOS, s.d).
Assim, consideramos que foram validados que os recursos educacionais para EPT
devem, promover a articulação entre as diversas áreas de conhecimento,
contribuindo para a interdisciplinaridade e a integração, bem como considerar que a
EPT não forma os indivíduos apenas para exercício profissional, mas contribui para
a formação de sujeitos autônomos e integrais.

As respostas de 2 participantes também apresentam o entendimento próximo entre


o uso tecnologias educacionais inovadoras, atualizadas, alinhadas com o mundo do
trabalho e de forma contextualizada (BRASIL, 2012) e o do incentivo do uso de REA
(BRASIL, 2020). Assim consideramos validados os atributos que propõem que os
75

recursos educacionais para a EPT devem estimular a inovação e contribuir com a


utilização de diversos tipos de tecnologias, bem como ser abertos, permitindo que
possa ser elaborado, utilizado, recombinado e compartilhado por outras pessoas, de
modos diferentes, como forma de ampliar o conhecimento.
76

PRODUTO EDUCACIONAL

O produto educacional desta pesquisa, “RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS:


UMA ABORDAGEM PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA”, é um
guia didático de REA para EPT, elaborado e disponibilizado com base nos princípios,
conceitos e métodos do REA, que poderá ser utilizado, adaptado e compartilhado
por outros pesquisadores e professores.

Conforme documento Área de Ensino 2013, produzido pela Diretoria de Avaliação


da Capes, a categoria deste produto é, inicialmente, a de “Material Textual”.

O produto educacional tem o objetivo de disseminar a proposta de Recursos


Educacionais Abertos para a Educação Profissional e Tecnológica. Trata-se de um
guia introdutório, que apresenta aos educadores da EPT as potencialidade e
desafios dessa articulação. Para os educadores em geral - especialmente que
atuam com a divulgação dos REA - o guia também pode servir como uma iniciação à
uma temática da EPT e à necessária reflexão sobre considerar suas especificidades
para a elaboração materiais didáticos.

A transformação dos processos de ensino e de aprendizagem na EPT requer a


elaboração e utilização de recursos educacionais coerentes com suas bases
conceituais, características e especificidades.

Pelas características e especificidades apresentadas, a efetivação da EPT de


qualidade - que realmente oportunize a formação integral, integrada e emancipatória
- demanda recursos educacionais apropriados, que promovam a implementação das
suas bases conceituais na prática do processo de ensino-aprendizagem,
contribuindo para a formação de cidadão autônomos em face do mundo do trabalho
e que não apenas favoreçam o desenvolvimento de competências e habilidades
para um determinado exercício profissional.

Assim, com princípios e práticas compatíveis com a concepção de Educação


Tecnológica, que tem o trabalho como princípio educativo, os REA podem contribuir
para a qualidade da EPT.
77

Os REA, baseados em práticas colaborativa de criação e compartilhamento, também


podem contribuir para a articulação entre teoria e prática, a integração curricular e
para a formação integral e emancipatória dos indivíduos, bases da EPT.

Nesse contexto, a proposta do produto educacional se justifica por ofertar aos


profissionais da educação um guia introdutório que aborda a articulação dos REA
com a EPT, disseminando a proposta do REA e contribuindo para a qualidade da
EPT.

O guia didático de REA para EPT foi elaborado a partir da pesquisa realizada e
baseado na proposta dos REA. Inspirado em outras iniciativas de disseminação dos
REA, o guia utilizou a recombinação de outros materiais e poderá ser encontrado,
utilizado, recriado e compartilhado por futuros pesquisadores ou educadores.

A versão final do produto educacional “RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS:


UMA ABORDAGEM PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA” estará
disponível no Repositório institucional do IFES https://repositorio.ifes.edu.br/.
78

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada - a partir das análises das bases conceituais e históricas, das
políticas públicas e ações governamentais, dos normativos e legislações e dos
portais pesquisados - resultou no estabelecimento de relações entre REA e EPT,
evidenciando as potencialidades e desafios dessa relação.

A partir da hipótese que os REA para a EPT podem ser uma estratégia de recursos
educacionais de qualidade, com base nos respectivos referenciais conceituais e
históricos, essa pesquisa apresentou a viabilidade dessa articulação e apresentou o
produto educacional “RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: UMA ABORDAGEM
PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA”, um guia didático de REA
para a EPT, para contribuir com a disseminação da proposta dos REA para a EPT.

Para a elaboração do produto educacional, a pesquisa encontrou relações entre as


bases históricas e conceituais da EPT e dos REA, evidenciando suas
compatibilidades; identificou e analisou as características dos recursos educacionais
no contexto da EPT; Evidenciou e analisou a temática de recursos educacionais no
contexto das políticas públicas; Identificou elementos que justifiquem o uso de REA
como alternativa para a EPT; e Propôs orientações para o uso de REA para a EPT,
por meio de um guia didático.

A pesquisa, primeiramente, se dedicou a apresentar e discutir as bases os


conceituais e históricos da EPT, a partir de autores e pesquisadores referências no
tema e documentos normativos. Em seguida, aprofundou-se o tema Recursos
educacionais, com vistas a identificar suas características no contexto da EPT.

Diante da contextualização dos recursos educacionais na EPT apresentada, tornou-


se evidente que a efetivação da EPT de qualidade - que realmente oportunize a
formação integral, integrada e emancipatória - demanda recursos educacionais
apropriados, que promovam a implementação das suas bases conceituais na prática
dos processos de ensino e de aprendizagem, contribuindo para a formação de
cidadão autônomos em face do mundo do trabalho e que não apenas favoreçam o
79

desenvolvimento de competências e habilidades para um determinado exercício


profissional.

Diante desse contexto, a temática Recursos Educacionais Abertos foi apresentada a


partir de uma breve contextualização conceitual e histórica e analisou-se a
relevância do licenciamento aberto e dos repositórios como instrumentos para a
disseminação e produção de novos REA.

Estabelecidas as bases conceituais e históricas da EPT e dos REA, a pesquisa se


dedicou a analisar e discutir a proposta de articulação de REA para a EPT. A partir
das perguntas “Por que REA para EPT?” e “Como os REA podem contribuir para a
qualidade da EPT?”, justificou-se a proposta de articulação, destacando as
potencialidades e os desafios identificadas nessa relação.

A partir dos referenciais conceituais e históricos da EPT e considerando as


características dos recursos educacionais de qualidade para EPT, a análise resultou
na proposição de sete atributos de qualidade dos REA para EPT, reproduzidos a
seguir:

I. ser coerente com a relação de identidade entre educação e trabalho,


favorecendo a superação da dualidade social;

II. partir do pressuposto que os indivíduos estão inseridos em diversos espaços


de produção de conhecimento, não apenas a escola;

III. levar em conta as trajetórias de vida dos estudantes e contribuir para a


reflexão sobre si mesmos e sobre o conhecimento produzido;

IV. considerar que o a EPT não forma os indivíduos apenas para o mercado de
trabalho, mas contribui para a formação de sujeitos autônomos e integrais;

V. promover a articulação entre as diversas áreas de conhecimento, contribuindo


para a interdisciplinaridade e a integração, o que demanda o trabalho coletivo
tanto para o conteúdo quanto para a metodologia;
80

VI. estimular a inovação e contribuir com a utilização de diversos tipos de


tecnologias; e

VII. ser aberto, permitindo que possa ser elaborado, utilizado, recombinado e
compartilhado por outras pessoas, de modos diferentes, como forma de
ampliar o conhecimento.

Para contribuir com a elaboração do produto educacional, contou-se com a


participação de profissionais da educação voluntários que responderam formulários
de adesão e avaliação e analisaram uma versão inicial do produto.

Os dados da pesquisa realizada com os participantes que avaliaram o produto


permitiram que, primeiramente, identifica-se o perfil dos participantes e fizesse um
diagnóstico de conhecimento em relação aos principais temas abordados no produto
educacional. Posteriormente, os dados de avaliação confirmaram que os objetivos
do produto foram alcançados, bem como a abordagem dos conteúdos conceituais,
procedimentais e atitudinais estavam adequados. A avaliação dos participantes
também contribuiu para a versão final do produto educacional.

Em um contexto de crescimento de acesso sem garantia de qualidade, os REA se


apresentam como uma alternativa sustentável para a efetivação de uma educação
de qualidade, sem depender de compras governamentais.

Os trabalhos de Freitas e Jordane (2009) e de Silva e Santos (2010), analisados na


pesquisa, demonstraram a importância da elaboração coletiva e colaborativa de
recursos educacionais para a EPT – livro didático e material concreto,
respectivamente - como alternativa para garantir uma oferta de EPT de qualidade,
assim como é a concepção dos REA.

Pelas características e especificidades apresentadas, a efetivação da EPT de


qualidade - que realmente oportunize a formação integral, integrada e emancipatória
- demanda recursos educacionais apropriados, que promovam a implementação das
suas bases conceituais na prática do processo de ensino-aprendizagem,
81

contribuindo para a formação de cidadão autônomos em face do mundo do trabalho


e que não apenas favoreçam o desenvolvimento de competências e habilidades
para um determinado exercício profissional.

Com princípios e práticas compatíveis com a EPT, os REA, baseados em práticas


colaborativa de criação e compartilhamento, podem contribuir para a articulação
entre teoria e prática, a integração curricular e para a formação integral e
emancipatória dos indivíduos, bases da EPT.

A pesquisa realizada também demonstrou que a proposta de REA para a EPT


também enfrenta alguns desafios. Dentre os eles, destacam-se que, a escassez e o
fortalecimento de ações voltadas para a disseminação e a consolidação do uso de
REA para a EPT. Comparativamente com as ações voltadas para a educação básica
e ensino superior, abrangentes e consolidadas, a EPT demanda ações que orientem
e promovam o uso de REA para EPT, considerando suas bases conceituais e
históricas.

Percorrido o percurso teórico e metodológico da pesquisa, foi produzida a versão


final do produto educacional “RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: UMA
ABORDAGEM PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA”, um guia de
REA para EPT, de caráter didático.

Inspirado em outras iniciativas de disseminação dos REA e nos modelos guias de


bolso, o Guia de REA para a EPT foi estruturado em perguntas, facilitando que os
interessados localizem os conteúdos de forma mais objetiva. Destaca-se que o
produto educacional é um REA e pode ser encontrado, utilizado, recriado e
compartilhado por outros(as) educadores(as) e pesquisadores(as).

Considerando o Ciclo de Vida dos REA: Encontrar, Criar, Adaptar, Usar,


Compartilhar, a elaboração do Guia apresentou desafios adicionais à proposta de
REA para a EPT.

Diante da importância dos repositórios para a implementação e disseminação de


REA, o mais relevante é a necessidade consolidação de um Repositório de REA
82

para a EPT, que efetivamente se torne referência para educadores encontrarem e


compartilharem REA para EPT.

Ainda que demande por melhorias para a sua consolidação, o ProEdu


(http://proedu.rnp.br/) é o repositório mais indicado para encontrar REA, pois neste
repositório estão disponíveis boa parte dos REA produzidos no âmbito da Rede e-
TEc, ou seja, REA elaborados especificamente para a EPT. Ainda que se apresente
como Repositório, o ProEdu apresenta poucos exemplos de REA, quando
comparado a outros da Educação Básica do Ensino Superior.

Ao elaborar o Guia, identificou-se que criação e adaptação de REA digitais, em geral


e para EPT, enfrentam a dificuldade de utilização de ferramentas de produção. Na
rede de internet há diversas páginas e sites que disponibilizam recursos e
ferramentas de forma gratuita, mas que possuem licenças comerciais com
preservação de direitos autorais e que apresentam condições de uso, reuso e
compartilhamento restritas.

Os participantes se tornaram colaboradores da elaboração da versão final do


produto educacional e sugeriram incluir aspectos relacionados à acessibilidade, à
educação de jovens e adultos e à apresentação de mais exemplos de REA. Estes
aspectos que foram considerados na versão final, ainda que não tenham sido
aprofundados, por não serem o objeto principal da pesquisa.

As sugestões dos participantes demonstraram que o tema Recursos Educacionais


para a EPT pode ser abordado e analisado de diferentes prismas e que nenhuma
das abordagens é completa.

Por ser um REA, o produto educacional resultante da pesquisa poderá ser


compartilhado e recombinado por outros autores e pesquisadores que, a partir deste
material inicial, podem aprofundar e aprimorar os temas abordados, bem como,
abranger outros aspectos não contemplados nesta primeira versão.
83

Assim, até a ausência ou a abordagem limitada de alguns aspectos confirma a


viabilidade da proposta dos REA para EPT, pois está intrínseco aos REA o contínuo
aprimoramento, adaptação e transformação em prol da qualidade da educação.

Adicionalmente, o guia didático “RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS: UMA


ABORDAGEM PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA” poderá ser
utilizado em diversas ações de disseminação da proposta de REA para EPT, como
oficina didáticas ou cursos de formação de profissionais da educação.
84

REFERÊNCIAS

AMIEL, Tel. Educação aberta: configurando ambientes, práticas e recursos


educacionais.In: SANTANA, Bianca.; ROSSINI, Carolina.; PRETTO, Nelson de Luca.
(Org.).Recursos Educacionais Abertos, práticas colaborativas e políticas públicas.1ª. ed.
Salvador:Edufba. São Paulo: Casa da Cultura Digital, 2012.

AMIEL, T.; GONSALES, P.; SEBRIAM, D. Recursos educacionais abertos no Brasil: 10


anos de ativismo. Em Rede, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 246-258, 2018. Disponível em:
https://www.aunirede.org.br/revista/index.php/emrede/article/ viewFile/346/326 Acesso em:
20 dez. 2019.

AMIEL, T., OREY, M., & WEST, R. Recursos Educacionais Abertos (REA): modelos para
localização e adaptação. ETD - Educação Temática Digital, 2012, 112-125.
https://doi.org/10.20396/etd.v12i0.1206

ARAÚJO, R. M. L.; RODRIGUES, D. S. Referências sobre práticas formativas em


Educação Profissional: o velho travestido de novo ante o efetivamente novo. Boletim
Técnico do Senac, Rio de Janeiro, v.36, n.2, maio/ago. 2010. Disponível em:
http://www.bts.senac.br/index.php/bts/article/view/218.

BRASIL. Decreto N° 5154 de 23 de julho de 2004. Regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts.


39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases
da Educação Nacional. 2004

BRASIL. Decreto nº 9.099, de 18 de julho de 2017, institui o Programa Nacional do Livro e


do Material Didático. 2017

BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, Aprova o Plano Nacional de Educação -


PNE e dá outras providências. 2014

BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, Altera as Leis n º 9.394, de 20 de


dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e outras.
2017

BRASIL. Lei nº 12.513 de 26 de outubro de 2011. Institui o Programa Nacional de Acesso


ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec); altera as Leis no 7.998, de 11 de janeiro de 1990,
que regula o Programa do Seguro-Desemprego, o Abono Salarial e institui o Fundo de
Amparo ao Trabalhador (FAT), no 8.212, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre a
organização da Seguridade Social e institui Plano de Custeio, no 10.260, de 12 de julho de
2001, que dispõe sobre o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, e no
11.129, de 30 de junho de 2005, que institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens
(ProJovem). 2011
85

BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação


(LDB). 1996

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer nº 11 de


09 de maio de 2012. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional
Técnica de Nível Médio. Brasília, 2012.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº 06


de 20 de setembro de 2012. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Profissional Técnica de Nível Médio. Brasília, 2012.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Conselho Pleno. Resolução nº 2, de 22 de


dezembro de 2017. Institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular, a
ser respeitada obrigatoriamente ao longo das etapas e respectivas modalidades no âmbito
da Educação Básica. Brasília, 2012.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº 1,


de 11 de março de 2016. Estabelece Diretrizes e Normas Nacionais para a Oferta de
Programas e Cursos de Educação Superior na Modalidade a Distância. Brasília, 2016.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Conselho Pleno. Parecer nº 7 de 19 de maio de


2020. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional e Tecnológica, a partir
da Lei nº 11.741/2008, que deu nova redação à Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB). Brasília, 2020.

BRASIL. Portaria nº 183, de 21 de outubro de 2016. Regulamenta as diretrizes para


concessão e pagamento de bolsas aos participantes da preparação e execução dos cursos
e programas de formação superior, inicial e continuada no âmbito do Sistema Universida de
Aberta do Brasil (UAB), Ministério da Educação, 2016.

BRASIL. Portaria nº 451, de 16 de maio de 2018. Define critérios e procedimentos para a


produção, recepção, avaliação e distribuição de recursos educacionais abertos ou gratuitos
voltados para a educação básica em programas e plataformas oficiais do Ministério da
Educação. Ministério da Educação, 2018.

BRASIL. Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras


didáticas, literárias e recursos digitais para o Programa Nacional do Livro e do
Material Didático - PNLD 2021. Ministério da Educação, 2019. Disponível em
https://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-do-livro/consultas/editais-
programas-livro/item/13106-edital-pnld-2021

BUTCHER, N. A Basic Guide to Open Educational Resources. British Columbia/Paris:


COL.UNESCO, 2015. Disponível em
http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/resources/publications-and-
86

communication-materials/publications/full-list/a-basic-guide-to-open-educational-resources-
oer

CHALLINOR, J.; MARÍN, V. I.; TUR, G. The development of the reflective practitioner
through digital storytelling. [s.l.], 2017.

CIAVATTA, M. A formação integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e


de identidade. Trabalho Necessário, v.3, n.3, 2005. Disponível em:
http://www.uff.br/trabalhonecessario/images/TN_03/TN3_CIAVATTA.pdf.

COMARELLA, R. L. et al. Metadados para o Repositório da Rede E-Tec Brasil. Em Rede.


Porto Alegre, v. 5, n. 1, 2018.

COSTA, Ludmila Bolina. Recursos educacionais abertos para o Ensino de Astronomia.


Universidade de São Paulo, USP, 2015. 185p. Dissertação de Mestrado.

EDUCAÇÃO ABERTA. Recursos Educacionais Abertos (REA): Um caderno para


professores. Campinas, 2013. Disponível em: http://educacaoaberta.org/cadernorea

FIGUEIREDO, M. A. C. et al. . Metodologia de oficina pedagógica: uma experiência de


extensão com crianças e adolescentes. Revista Eletrônica Extensão Cidadã, João
Pessoa, v. 2, p.1-2, 2006. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/
extensaocidada/article/view/1349/1022 . Acesso em 23 mar. 2016.

FREIRE, G. G.; GUERRINI, D.; DUTRA, A. O Mestrado Profissional em Ensino e os


Produtos Educacionais: A Pesquisa na Formação Docente. Porto das Letras, [s.l.], v. 2,
no 1, p. 100–114, 2016.

FREITAS, Rony. JORDANE, Alex. Material Didático de Matemática para o Proeja: Uma
Construção Colaborativa. [s.l.], p. 23, 2009. Disponível em
<http://forumeja.org.br/files/Material%20proeja.pdf >

FRIGOTTO, Gaudêncio. CIAVATTA, Maria. RAMOS, Marise. A Política De Educação


Profissional No Governo Lula: Um Percurso Histórico Controvertido. 2005. Disponível em
< http://www.scielo.br/pdf/es/v26n92/v26n92a17>

GATTI, B. A.; ANDRÉ, M. A relevância dos métodos de pesquisa qualitativa em


educação no Brasil. In: WELLER, W.; PFAFF, N. (Orgs.). Metodologias da pesquisa
qualitativa em Educação: teoria e prática. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
87

GIMENES, I. M. S.; BARROCA, L.; BARBOSA, E. F. The Future of Human Resources


Qualifications in Software Engineering - Meeting Demands from Industry and
Benefiting from Educational and Technological Advances. In: 2012 26th Brazilian
Symposium on Software Engineering. Natal, Brazil: IEEE, 2012. Disponível em:
<http://ieeexplore.ieee.org/document/6337871/>. Acesso em: 06/dez./18. ISBN: 978-0-7695-
4868-5, DOI: 10.1109/SBES.2012.19.

HEREDIA, Jimena de Mello. Recursos educacionais abertos: mapeamento da


comunicação científica. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da
informação, Florianópolis, v. 20, n. 43, ago. 2015. ISSN 1518-2924. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/40066/29849

HOFLING, ELOISA DE MATTOS. Estado e políticas (públicas) sociais. Cad.


CEDES, Campinas , v. 21, n. 55, p. 30-41, Nov. 2001 . Disponível em
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32622001000300003.

KAPLÚN, Gabriel. Material Educativo e Experiência de Aprendizado. Comunicação &


Educação, São Paulo, 2003

KAPLÚN, Gabriel. Contenidos, itinerarios y juegos tres ejes para el análisis y la construcción
de mensajes educativos. Revista virtual Nodos Nº3 (www.revistanodos.com.ar).s/d.

MAINARDES, JEFFERSON. Abordagem do Ciclo de Políticas: Uma Contribuição para a


Análise de Políticas Educacionais. Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 94, p. 47-69, jan./abr.
2006. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>

MANZINI, E.J. Entrevista semi-estruturada: análise de objetivos e de roteiros. In:


SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE PESQUISA E ESTUDOS QUALITATIVOS, 2, 2004,
Bauru. A pesquisa qualitativa em debate. Anais... Bauru: USC, 2004. CD-ROOM. ISBN:85-
98623-01-6. 10p.

MOURA, Dante Henrique; LIMA FILHO, Domingos Leite. A reforma do ensino médio:
Regressão de direitos sociais. Retratos da Escola, v. 11, n. 20, p. 109-129, 2017.
MOURA, Dante Henrique. Educação básica e educação profissional e tecnológica:
dualidade histórica e perspectiva de integração. Holos, Natal, v.2, p.1-27, 2007.
Disponível em:http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/viewFile/11/110.

PUJOL, P. A. Recursos e Atividades do Moodle em Dispositivos Móveis para


Educação Aberta. UFSM. 2017, p. 82.

RAMOS, M. N. Concepção do Ensino médio integrado. s/d. Disponível em:


http://www.iiep.org.br/curriculo_integrado.pdf.

SANTANA, Bianca; ROSSINI, Carolina; PRETTO, Nelson. (Organizadores). Recursos


Educacionais Abertos: práticas colaborativas políticas públicas – 1. ed., 1 imp. –
Salvador: Edufba; São Paulo: Casa da Cultura Digital. 2012. 246 p. ISBN 978-85-232-0959
88

SANTOS, Andreia Inamorato dos. Recursos educacionais abertos no Brasil: o estado da


arte, desafios e perspectivas para o desenvolvimento e inovação. CETIC, São Paulo,
2013. 88p.

SANTOS, Andreia Inamorato dos. Educação Aberta: histórico, práticas e o contexto dos
recursos educacionais abertos. In: SANTANA, B.; Rossini, C; Pretto, N.L. (Org.) Recursos
Educacionais Abertos: práticas colaborativas e políticas públicas. São Paulo e Salvador:
Casa da Cultura Digital e EDUFBA, 2012. Disponível em: <
http://www.aberta.org.br/livrorea/livro/home.html>. Acesso em: 18 nov. 2019.

SAVIANI, D. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista


Brasileira de Educação, Campinas, v.12, n.32, p. 52-180, jan./abr. 2007. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v12n34/a12v1234.pdf.

SEBRIAM, DÉBORA; MARKUN, PEDRO; GONSALES, PRISCILA. Como implementar


uma política de Educação Aberta e Recursos Educacionais Aberto (REA). Cereja
Editora, São Paul. 2017 Disponível em: https://guiaea.educadigital.org.br/o-guia/>. Acesso
em: 05 fev. 2020.

SILVA, A. L. e SANTOS, T. G. Produção de Materiais Didáticos para a Educação


Profissional e Tecnológica. 2010. Disponível em:
http://www.chapeco.ifsc.edu.br/~adriano.silva/0902101.pdf

SMITH, M. S.; CASSERLY, C. M. The Promise of Open Educational Resources. Change:


The Magazine of Higher Learning, [s.l.], v. 38, no 5, p. 8–17, 2006. ISSN: 0009-1383, 1939-
9146, DOI: 10.3200/CHNG.38.5.8-17.

TOWEY, D.; NG, R.; WANG, T. Open Educational Resources (OERs) and Technology
Enhanced Learning (TEL) in Vocational and Professional Education and Training
(VPET). [s.l.]: [s.n.], 2016. 284 p. DOI: 10.1109/TALE.2016.7851808.

UNESCO. Declaração REA de Paris. 2012. Disponível em:


http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CI/CI/pdf/Events/Portuguese_Paris_
OER_Declaration.pdf

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

ZANETTE, Marcos S. Pesquisa qualitativa no contexto da Educação no Brasil. Educar


em Revista, Curitiba, Brasil, n. 65, p. 149-166, jul./set. 2017
89

APÊNDICE A – PRODUTO EDUCACIONAL


90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
100
101
102
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
113
114
115
116
117
118
119
120
121
122
123
124
125
126
127
128
129
130
131
132
133
134
135
136
137
138
139
140
141

APÊNDICE B – CONVITE, FORMULÁRIO DE ADESÃO E FORMULÁRIO DE


AVALIAÇÃO
142
143
144
145
146
147
148
149
150
151
152
153
154
155
156

Você também pode gostar