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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
E TECNOLÓGICA NO MARANHÃO
ASPECTOS DA HISTÓRIA EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO PÚBLICO
1ª Edição
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
E TECNOLÓGICA NO MARANHÃO
ASPECTOS DA HISTÓRIA EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO PÚBLICO
1ª Edição
São Luís - MA
2022
INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO
C837e
350 f.
ISBN 978-65-5815-045-9
8 PREFÁCIO
PREFÁCIO 9
Os dados de matrículas, desde a educação infantil até o ensino médio,
indicam o descumprimento das metas do PNE (2014-2024) e como se mantém o
déficit de atendimento à população escolarizável1.
Dados obtidos: FINEDUCA. Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação. Não e hora
de retroceder no FUNDEB. Nota Técnica de 20 de julho de 2020.
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Federal, dando ênfase ao papel da Educação Profissional e Tecnológica dos
Institutos Federais de Educação, mas, também problematizando a concepção de
Ensino Médio Integrado, “a partir das mudanças educacionais que estão em curso
desde a Reforma do Ensino Médio (Lei nº 13.415/2017), a Base Nacional Comum
Curricular – BNCC (Resolução CNE nº 04/2018), as Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Profissional e Tecnológica - DCNEPT
(Resolução CNE/CP Nº 1/2021)”. No artigo de José Costa e Marise Piedade são
analisados os avanços e retrocessos do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia em sua trajetória de uma década de funcionamento, demonstrando
um processo de consolidação de paradigmas institucionais absorvidos, a partir
das políticas do governo federal por meio de planos, programas e projetos que
tiveram sua implantação assegurada, principalmente, no Maranhão, com a
rápida expansão dos campi em 18 cidades até 2017. Também estão contidas as
informações sobre os demais Estados, permitindo compreender a diversidade
das experiências em diferentes regiões do país, no que se refere à educação
profissional na rede federal de educação.
Adotando uma vertente mais centrada na história e na memória do Instituto
Federal de Educação do Maranhão, a partir da celebração do seu centenário e da
instituição do Projeto
Memorial IFMA, Creudecy Costa da Silva e Terezinha de Jesus
Campos Lima recuperam dimensões do “saber-fazer acadêmico” para analisar
a importância do IFMA na história da educação maranhense, o que fortalece o
reconhecimento do trabalho de formação de jovens no passado e no presente,
contribuindo para a construção da memória da instituição articulada com a
comunidade, no que se refere à produção do conhecimento e dos vínculos afetivos
que se estabelecem, de forma criativa e crítica, como afirmam as autoras.
Ainda a partir da perspectiva de resgate da gênese e desenvolvimento
inicial de uma instituição de educação profissional, em âmbito estadual, Jhonatan
Almada dedica-se à história recente do Instituto Estadual de Educação, Ciência e
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em outros países, mas, em 2014, o PROMIL passa a integrar o PRONATEC. As
autoras explicitam a articulação internacional do programa.
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das contradições que se avolumam no atual modo de produção capitalista, que
requer ao mesmo tempo a qualificação e precarização dos trabalhadores, inclusive
dos próprios docentes, como ficam evidentes nos resultados da pesquisa aqui
relatada pelas autoras.
Esse fio que tece ao mesmo tempo uma rede de educação profissional, em
nível superior, para a qualificação de jovens no ensino médio e superior, envolve
os docentes num processo de adaptação aos impactos das mudanças históricas
na sua formação profissional, como bem demonstram Ana Paula Ribeiro de
Sousa, Leonardo José Pinho Coimbra e Samy Oliveira Silva em seu artigo.
A partir de uma análise histórico-crítica derivada do materialismo histórico-
dialético, os autores elaboram a historicidade da formação dos professores no
Brasil, enfatizando o modo como ela vai se modificando, ao longo do processo
de desenvolvimento do país, sob a lógica da concepção do Estado acerca da
educação pública, desde o período colonial. Realizando o percurso histórico,
desde os primórdios da formação de professores nos anos 1920, nos Cursos
Normais oferecidos de nível médio, e, posteriormente, nos cursos de formação
docente em nível superior, os autores vão se deter sobretudo, nas reformas dos
anos 1990 que atingem profundamente os cursos de formação de professores, em
todos os níveis. Por essa razão, afirmam os autores que:
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explicitados os objetivos do “novo” ensino médio, mais uma vez atrelados aos
interesses do mercado globalizado, portanto configurando a educação profissional
distanciada das concepções que foram disseminadas pelos educadores, durante os
debates do Capítulo da Educação da Constituição de 1988 e da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação.
Uma das concepções mais caras para os educadores que procuram resgatar
o rico debate dos anos 1980, é a concepção de Politecnia, completamente alijada
pelo Decreto nº. 2.208, de 1997, promulgado no governo de Fernando Henrique
Cardoso. No artigo de Lícia da Hora, estão confrontadas as concepções que
se originaram nos debates e elaborações do campo de educadores progressistas,
justamente, para definir princípios na Constituição de 1988 e na LDB, cuja
proposição inicial se fez em meados dos anos 1980, sendo aprovada somente
em 1996 e, também, distanciando-se dos fundamentos da perspectiva histórico-
crítica expressos em conceitos centrais, como politecnia, omnilateralidade e
escola unitária.
Lícia da Hora atualiza esse debate e os movimentos de resistência, em nível
nacional e local, em relação ao Decreto n.º 2.208/97, posteriormente sobre o Decreto
n.º 5.154, de 2004, promulgado no governo Lula e considerado pelos educadores
progressistas como uma mediação, uma travessia que poderia ensejar o resgate
da concepção mais avançada até então, ancorada na Pedagogia Socialista. Essa
travessia não se deu na direção almejada e os Institutos Federais acabaram, na sua
grande maioria reféns de uma proposta curricular que aprofundou as articulações
com o setor empresarial.
O cerne dessas disputas em nível nacional e, particularmente, no IFMA,
foi priorizado pela autora, para sustentar referências necessárias e urgentes de
serem retomadas, após a definição do “Novo” Ensino Médio, derivado da BNCC
e definido pela aprovação do Decreto n.º 5.154 no atual cenário de reformas e
os desafios aos educadores e trabalhadores da educação de modo geral diante da
Base Nacional Curricular (2017, 2018) e as Diretrizes Curriculares para Educação
Profissional (2021)”.
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Médio, diante da crítica situação dos jovens que encerrando o nível fundamental,
ficavam sem possibilidade de continuar a sua escolarização.
A implantação dos CEMPs, como relata a autora, foi antecedida por
uma pesquisa com a juventude da região da baixada e diante dos resultados
alcançados foram realizados seminários para debater com a juventude as
perspectivas dos cursos a serem priorizado em cada município. Além desse
período preparatório à implantação, foram realizados seminários de formação
dos professores para compreenderem a urgência de um ensino médio integrado
que permitisse aos jovens, ao mesmo tempo uma formação ampla e consistente
e a formação profissional. É a própria autora, Maria Regina Cabral, que afirma a
abrangência da concepção da matriz curricular, que seria construída por meio de
um trabalho coletivo dos professores, diretores das escolas, gestores municipais
e especialistas do Formação.
O Projeto Educativo do CEMP foi sendo construído de modo a contemplar
o desdobramento do próprio desenho curricular inovador, elaborado como
uma resposta aos anseios dos jovens em relação à educação e ao trabalho no
território, tal como apontavam os dados da pesquisa. Com a perspectiva de que
era necessário potencializar a educação dos jovens quando, afinal, depois de
um longo processo seletivo eles alcançam o nível do ensino médio foi adotado
um princípio teórico-metodológico que permitia expandir as possibilidades de
formação mais ampla e mais consistente da juventude, mediante a realização de
uma prática de trabalho pedagógico centrado no princípio da indissociabilidade
do ensino, da pesquisa e da extensão. Esse princípio, adotado para o nível do
ensino superior, foi antecipado para a organização do currículo e das situações
educativas de caráter teórico-prático desenvolvidas no cotidiano da escola, de
tal modo que os jovens pudessem se reconhecer como sujeitos de um processo
de formação, em que se relacionam consigo mesmo, com seus pares, com suas
famílias e com a sua cidade.
O relato da autora embora não possa abarcar a complexidade do processo
3 Educação profissional no Brasil do século XXI : políticas, críticas e perspectivas : vol. 1 / José
Deribaldo Gomes dos Santos, Domingos Leite Lima Filho, Henrique Tahan Novaes (organizadores). –
Marília: Oficina Universitária ; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2021.
PREFÁCIO 21
a educação em dois ramos (amplo e restrito), a solução que a
classe detentora dos meios de produção capitalistas encontra
para a problemática educativa e, necessariamente, outra: opera
uma dicotomia dentro de uma dualidade. Explicando melhor:
a burguesia decadente separa o que já é dual, ou seja, cria uma
dicotomia dentro de uma dualidade. Para usarmos os termos de
George Amaral (2020), a dicotomia e a expressão fenomênica
da dualidade estrutural na educação
No conjunto da presente coletânea, os artigos apresentados trazem um
amplo espectro de perspectivas, concepções, proposições o que indica a elevada
complexidade do debate sobre a educação profissional, atravessada pela história
de um país, em que se consolidou uma fratura estrutural originada da forma de
organização da sociedade de classes, tal como se configurou no Brasil, desde a
constituição da Primeira República.
Ultrapassar os limites dessa situação histórica se apresenta como uma
hipótese possível e um desafio concreto para todas as educadoras e todos os
educadores-militantes que se comprometeram, durante a sua prática de trabalho
pedagógico com o ideário da emancipação humana, portanto com a superação
dos limites da escola capitalista para promover o desenvolvimento omnilateral
das novas gerações, no sentido da construção de outra sociedade possível.
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estão em curso desde a Reforma do Ensino Médio (Lei nº 13.415/2017), a Base
Nacional Comum Curricular – BNCC (Resolução CNE nº 04/2018), as Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Profissional e Tecnológica -
DCNEPT (Resolução CNE/CP Nº 1/2021). Os IFs seguirão essas mudanças? O
que essas mudanças representam para a EPTN no contexto dos IFs? O objetivo
do texto não é discutir os documentos supracitados, mas apresentar uma reflexão
que sinalize para a incompatibilidade dos mesmos com a proposta de educação
profissional dos IFs, especialmente quando observamos historicamente o percurso
da educação profissional em nosso país.
2. Institucionalidade em mutação
6 Ressalte-se que o texto da lei fala em “mundo do trabalho”, mais amplo e socialmente
aberto; e não “mercado de trabalho”, mais restrito e direcionado ao setor produtivo.
4. Considerações finais
1. Introdução
2. Metodologia
consenso foi a nova condição jurídica e de gestão das Escolas Agrotécnicas, então
Autarquias Federais, que, a partir da integração com Escolas Técnicas ou Centros
Federais de Educação Tecnológica, perderiam a condição de autônomas para se
integrarem a um novo projeto institucional, sendo transformadas em campus, o
que soava como um rebaixamento na visão gerencial.
Em dois Estados, Rio de Janeiro e Minas Gerais, os debates e discussões
com envolvimento de alunos, professores e outras representações vinculadas à
educação, decidiram não aderir à proposta do MEC, permanecendo no modelo
CEFET, possivelmente apostando em aguardar o passo da história que lhes
elevaria à condição de Universidade Tecnológica. O Maranhão, Bahia e os
demais CEFETs, inclusive Escolas Técnicas, Agrotécnicas e Escolas Técnicas
vinculadas às Universidades Federais aprovaram a proposta do MEC e passaram
a estudar a melhor conexão integrativa com seus pares.
Circunstâncias e características históricas, culturais e sociais de
determinados Estados e regiões, arranjos produtivos diferenciados e definidos
pelo predomínio de Comércio, Indústria, Agricultura, por exemplo, suscitaram
a criação de dois ou mais institutos por Estado. Em Goiás, que antes da reforma
contava com três Centros Federais de Educação Tecnológica e uma EAF, a
organização dos institutos nesse Estado, com profundas diferenças em seus
arranjos produtivos e culturais, mostrou a necessidade de constituição de dois
Institutos Federais: o Instituto Federal Goiano, mediante a integração entre as
antigas autarquias federais instaladas no interior do Estado, CEFET Rio Verde,
CEFET Urutaí e a Escola Agrotécnica Federal de Ceres, as quais tinham projetos
politico-pedagógicos centrados no ensino Agrícola e, o Instituto Federal de Goiás,
de concepção voltada para a vida urbana, constituído mediante a transformação
do Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás.
Casos inusitados vão acontecer nos Estados do Rio de Janeiro e Minas
Gerais, em que foram respeitadas as decisões da comunidade para manterem suas
instituiçõesno modelo CEFET. O Estado do Rio que antes da reforma contava
INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO: transformações e avanços, da gênese aos
10 anos de uma nova institucionalidade 47
com três Centros Federais de Educação Tecnológica: o Celso Suckow da Fonseca
(CEFET-RJ), o CEFET Química de Nilópolis e o CEFET Campos da cidade de
Campos dos Goytacazes, pela vontade da comunidade, garantiu a continuação
do CEFET-RJ, que não sofreu alterações e foi mantido na Rede Federal, porém,
criou dois Institutos Federais: o Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ),
mediante transformação do Centro Federal de Educação Tecnológica de Química
de Nilópolis (CEFET Química) e o Instituto Federal Fluminense (IFF), com a
transformação do CEFET Campus.
Antes da reforma e organização da Rede Federal de Educação Profissional,
Científica e Tecnológica, o Estado de Minas Gerais já contava com uma apreciável
representação entre as instituições do ensino profissionalizante, sendo cinco
Centros Federais de Educação Tecnológica e sete Escolas Agrotécnicas Federais.
Com o plano de reorganização da Rede Federal, o CEFET- MG, também por
opção da sua comunidade, permanece na Rede Federal como Centro Federal de
Educação Tecnológica e criam-se 5 (cinco) Institutos Federais, conforme Art. 5º
da Lei n.º 11.892/08:
Além dos exemplos citados, apenas Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul
e Santa Catarina, pelas suas características e circunstâncias históricas, políticas,
culturais e sociais receberam mais de um Instituto Federal, elevando para 35,
os Institutos Federais que constituem a Rede Federal de Educação Profissional,
Científica e Tecnológica.
Nessa fase, são dez campi em funcionamento, dos quais, sete pertenciam
ao CEFET- MA, então denominados Unidade de Ensino Descentralizada (Uned),
e três escolas Agrotécnicas: uma EAF no município de Codó, uma EAF na capital
São Luís e uma EAF no município de São Raimundo das Mangabeiras. Esta
última, constando como campus em implantação.
Não cabe analisar estas metas nos limites deste artigo, contudo, será
feita uma reflexão sobre três aspectos destacados pela gestão: (i) avanços e
transformações ocorridas a partir da organização da rede IFMA e suas ações;
(ii) a proximidade entre metas pretendidas e alcançadas sobre a qual identifica a
eficácia da política de gestão adotada e a (iii) economicidade ou gestão de custos,
com base na qual, se busca produzir mais com menos recursos.
Ressalta-se que, embora os indicadores se mostrem eficientes como
instrumentos de análise na perspectiva institucional, ao favorecer a apreensão
do contexto educacional em que cada campus do IFMA desenvolve seu trabalho,
tais indicadores, por si só, não são capazes de apreender a complexa realidade do
ensino, pesquisa e extensão. Os mesmos são pautados mais pelo ajuste da gestão
entre o investimento financeiro e o quantitativo de ingressantes e concluintes
nos cursos oferecidos na instituição, e menos pelo aspecto pedagógico, pelo
princípio formativo que está em Marx, na omnilateralidade. Como lembra Sousa
Jr. (2009, n.p). As referências da educação em Marx são assentadas na ruptura
com o homem unilateral da sociedade capitalista:
Ano 2009
Campus
Inscrições Vagas Ofertadas Índice Percentual
sociais voltados às regiões do país que mais precisam” (BRASIL, 2008, p.5).
De acordo com o Quadro 3, esses campi localizam-se em 23 das 32 Regiões de
Planejamento instituídas pelo Governo Estado (MARANHÃO, 2007, p.1).
ALUNO 8.092 10.933 16.655 24.179 33.067 29.398 31.099 36.703 31.960 34.197
PROF. 632 642 973,5 1.135,5 1.240,5 1.091,5 1.171,5 1.409,5 1.737 1.796
MÉDIA 12,8 17,4 17,12 21,29 26,66 27,03 26,54 26,04 18,39 19,04
CUSTO 12.267 11.965 10.048 8.177 7.377 9.659 11.200 11.711 15.735 16.201
5. Considerações finais
ANTICO, Cláudia & De, Paulo & JANNUZZI, Paulo. (2019). Indicadores e
a Gestão de Políticas Públicas. Disponível em: www.researchgate.net/profile/
Paulo_Jannuzzi. Acesso em: 25 abr. 2019.
1. Introdução
9 Mestra em Ciências Sociais pela (UFMA). Líder do Grupo de Pesquisa História, Cultura e
Patrimônio (GPHCP/IFMA). Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Maranhão (IFMA).
10 Doutora em Educação e Mestra em Gerontologia (Unicamp). Professora do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA). Líder do Grupo de Pesquisa Velhice, Cultura
e Sociedade (GEVCS/IFMA). Membro do Grupo de Pesquisa História, Cultura e Patrimônio (GPHCP –
Linha Patrimônio, Memória e Envelhecimento). Membro da Rede de Pesquisadores de Turismo, Patrimônio
e Políticas Públicas da Pan-Amazônia (TPP PAN-AMAZÔNIA) (UFPA).
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uma coleção de fotografias, além do lançamento de um selo comemorativo11. Em
anos posteriores a Galeria foi fechada, cedendo espaço para outras demandas do
CCH e, somente em 2014 essas fotografias, emolduradas em telas de vidro e
bronze, foram expostas no Saguão Principal do Campus, reforçando a ideia de
preservação da memória Institucional.
Em 2015, o mesmo grupo de servidores elaborou um projeto que foi
submetido ao Edital n° 26/2015 – ADOC da Fundação de Amparo à Pesquisa
e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA12)
intitulado Centro de Preservação da Memória do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Maranhão – MEMORIAL/IFMA, cujo recurso
financeiro foi de fundamental importância para a realização das ações previstas
nele e denominadas de Fase I. Na ocasião, foram realizadas um conjunto de
ações voltadas para o mapeamento, catalogação, higienização e divulgação das
coleções que formam o acervo do Memorial, a saber: Museológico - composto
por peças de mobília, louças, objetos religiosos, troféus, medalhas, selos e itens
históricos ligados à identidade institucional; Documental - documentos oficiais
ligados à instituição; Fotográfico - coleção de fotografias diversas (atos, desfiles,
rotina escolar, eventos educativos, culturais etc.; e, Audiovisuais - filmes,
documentários, gravações, registros de exposições e ações da escola.
Pela diversidade das coleções, o acervo em questão é fonte privilegiada
para o conhecimento da história da Educação Profissional no Estado. Embora este
seja um meio de conhecimento sobre períodos anteriores da história do Instituto
Federal do Maranhão, é necessário atentar que tais objetos, hoje museológicos,
faziam parte do cotidiano do espaço escolar, portanto, carregados de valores e
ideologias da sociedade de então, como alerta Sanfelice (2007):
13 Esse termo está sendo usado no sentido atribuído por Pierre Nora em sua obra “Entre Memória e
História: a problemática dos lugares”.
14 Bens públicos são todos aqueles que, de qualquer natureza e a qualquer título, pertencem às
pessoas jurídicas de direito público, sejam elas federativas, como a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, sejam da Administração descentralizada, como as autarquias, nestas incluindo-se as fundações
de direito público e as associações públicas.
15 Ver trabalho como o de Zuleide Simas da Silveira, O Centro de Memória do CEFET/Rio de
Janeiro: fotografia e formação profissional.
16 A noção de memória utilizada neste trabalho está apoiada nas considerações de Maurice
Halbwachs que acredita na existência dos seguintes tipos de memória: coletiva, individual e histórica. A
primeira está relacionada a uma história vivida, na qual o passado permanece vivo na consciência de um
grupo social. Esta noção é contraposta à histórica que seria uma forma de conhecimento do passado exterior
ao domínio do vivido. Ver HALBWACHS, 2004, p. 57-94.
17 Os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social
que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas,
musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais
coletivas). A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio
cultural ao reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e imaterial.
Nesses termos, o IFMA que aflora das lembranças dos indivíduos (ex-
alunos, servidores aposentados e sociedade em geral) ao terem contato com as
coleções/acervos que se encontram sob os cuidados do Memorial IFMA, não
é mais o mesmo que marcou seus cotidianos no passado (ETFMA, CEFET),
mas a reconstrução delas com dados emprestados do presente. Assim, por
meio da memória é possível construir/reconstruir narrativas que contemplem
existencialmente”; já Norbert Elias diz que “[...] o tempo não se deixa ver, tocar,
ouvir, saborear, nem respirar como um odor” (ELIAS, 1998, p. 7). Entretanto, os
dois autores concordam que apesar de aparentemente abstrato, o tempo é uma
vivência concreta e se apresenta como categoria central da dinâmica da história.
Daí ser fundamental para o entendimento de estudos como este que se propõem a
analisar e reconstruir uma trajetória que aos poucos vem se esvaindo no tempo. A
esse respeito esclarece Cardoso:
19 O termo está sendo utilizado da forma pensada por Pierre Nora (1993), ou seja, como lugares
materiais onde a memória social se ancora e pode ser apreendida pelos sentidos.
Neste ponto de vista, é possível dizer que lugares de memória são o espaço
de presenciar o momento histórico de cada período vivenciado pelo Instituto
Federal do Maranhão na fronteira entre o que ele foi nessas diversas etapas e o
que ele é na atualidade. Isto faz crer que a ausência de uma política institucional
de preservação da memória, contribuiu ainda mais para o esfacelamento dessa
memória já fragilizada pelo tempo.
A busca da identidade dessa instituição escolar é um compromisso do projeto
que busca, através de suas diversas ações envolvendo comunidade interna e externa,
fortalecer a imagem institucional que se encontra fragmentada. Defende-se que tal
fragmentação é também fruto do processo de ampliação da Rede Federal que criou
o Plano de Expansão da Educação Profissional, implantando escolas federais
profissionalizantes em Estados ainda desprovidos delas. Iniciado no ano de 200620
– visando alavancar o desenvolvimento de regiões geograficamente delimitadas
do interior do país por meio do incremento dos processos de escolarização e de
profissionalização de suas populações – o Plano de Expansão fez com que o
IFMA, até então constituído por 521 campi, passasse a ter 29 campi no Estado.
Educação Tecnológica, abrindo caminho para que as Escolas Agrotécnicas Federais também reivindicassem
sua integração ao sistema, o que efetivamente só ocorreu em 1999.
22 Heber Macambira Pinto foi técnico administrativo do IFMA, ingressou em 1968, na época Escola
Técnica Federal do Maranhão e faleceu em 2012. Ao iniciar a carreira na instituição começou registrando
atividades tidas como cotidianas do fazer escolar e com o passar do tempo tornou-se uma espécie de
“fotógrafo oficial”.
ampliar o olhar para esta memória que se apresenta como um forte componente
estratégico institucional na construção do pertencimento.
Outro projeto aqui destacado é o ACERVO E MEMÓRIA:
ESTUDO E PROPOSIÇÃO DE DIRETRIZES PARA PRESERVAÇÃO
DA COLEÇÃO DE LOUÇAS DO INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO MARANHÃO, pesquisa
de iniciação científica, cujo projeto foi elaborado e submetido ao Edital
do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)23
, justificando a importância de se estudar a Coleção de Louças pertencente ao
acervo museológico do IFMA para subsidiar futuras ações de ensino, pesquisa e
extensão.
O levantamento e o estudo do acervo museológico constituem uma
das etapas mais importantes para qualquer instituição que se preocupa com a
preservação de seu patrimônio, pois é a partir disto que se conhece de forma mais
específica cada objeto formador das diversas coleções. Nessa etapa, uma gama de
informações é levantada, tanto da situação atual, como daquelas referentes a usos
anteriores, formando uma espécie de dossiê sobre cada peça.
Formada por 231 (duzentas e trinta e uma) peças dentre açucareiros,
leiteiras, jarras e pratos com a logomarca da instituição das épocas de Escola
Técnica Federal do Maranhão e Centro Federal de Educação Tecnológica do
Maranhão (CEFET-MA) (Figura 2), buscou-se com a pesquisa investigar a
constituição material, usos e significados da coleção, compondo um banco de
dados sobre o acervo, além de apresentar diretrizes para a preservação da coleção.
Tais informações são de extrema relevância para o Memorial, uma vez que
auxiliarão tanto na prevenção de futuros danos aos objetos, como para agregar
mais informações nas exposições que chegarão aos visitantes. Assim, cada peça
passou, inicialmente, por uma observação direta na tentativa de compreender
Nessa etapa, foi identificado no verso das peças informações sobre marca
e fabricante. As peças foram organizadas de acordo com a marca temporal de
cada uma, ou seja, no momento em que foram usadas especificamente em cada
momento da Instituição. Assim, as louças, especificamente as que não estavam em
exposição, mas sim guardadas, foram agrupadas por estampas e identificações que
remeteram a um período da Instituição.
25 O acervo recebeu este nome em homenagem ao Sr. Heber Macambira Pinto, técnico administrativo
que ingressou na Instituição em 1968, na época Escola Técnica Federal do Maranhão. Descrito por colegas
de trabalho como sujeito calmo, perfeccionista e de acentuada paciência, tinha como hobby a fotografia.
Ao iniciar na instituição começou registrando atividades tidas como cotidianas do fazer escolar; contudo,
com o passar do tempo foi se tornando uma espécie de “fotógrafo oficial” à medida que passou a registrar/
eternizar com suas lentes eventos oficiais e não oficiais. Falecido em 2012, já aposentado, deixou um legado
“imensurável” para o enriquecimento de pesquisas da História e da memória da Educação Profissional do
Maranhão.
26 O Centro de Referência Azulejar de São Luís - CRA foi criado pela Lei nº LEI Nº 4735 DE 28 DE
DEZEMBRO DE 2006. Em 2014 o CRA passou a ser administrado pelo o IFMA através de um termo de
cessão e passou a abrigar parte do Campus São Luís Centro Histórico, incluindo o Memorial IFMA.
Figura 5: Visão de parte do acervo fotográfico sendo tratado e catalogado no prédio CRA (2018)
Fonte: Acervo Memorial IFMA, 2019.
29 A curadoria da exposição foi realizada pelos servidores do IFMA - CCH Diego Jorge Lobato
Ferreira e Andrea Luisa Frazão Silva.
30 Em Mal de Arquivo: uma impressão freudiana (2001), obra publicada em francês em 1995,
Derrida irá explorar não apenas o duplo sentido de arkhé como origem e como comando ou poder, mas
relacionar a noção de arquivo com a memória pessoal e histórica a partir da consideração da obra de Freud
e de um episódio da vida do pai da psicanálise lembrado pelo historiador israelense, radicado nos Estados
Unidos, Yosef Hayim Yerushalmi. Para tanto, Derrida irá evidenciar os deslocamentos que ele observa no
texto freudiano Moisés e o Monoteísmo, Freud’s Moses, Judaism Terminable and Interminable (Moisés de
Freud: Judaísmo terminável e interminável) (SOLIS, 2014. p. 375).
4. Considerações finais
para 29 campi.
Os fragmentos dessa memória, coleções de louças, documentos oficiais,
fotografias, relatos orais, dentre outros, é o material que dispomos para a
reconstrução aproximada da memória do Instituto em momentos específicos de
sua trajetória ao longo do século XX e sobre sua identidade coletiva. Embora
saibamos que esses objetos, hoje, museificados e os relatos orais coletados de
servidores aposentados não dão conta de abarcar a complexidade da história,
abrindo espaço para as memórias silenciadas no sentido atribuído por Michael
Pollak. Nesse sentido, não há uma identidade, mas tantas identidades quantas
forem as memórias individuais ou coletivas preservadas pelos indivíduos ou
pelos grupos sociais.
Mediante essa forma de pensar, o acervo descrito tem funcionado como
uma espécie de fio condutor utilizado nas diversas ações educativas elaboradas
e executadas pelo projeto Memorial IFMA desde sua criação em 2015. Essas
produções expressam um pouco da riqueza do acervo e sua relevância para a
história da instituição e da educação profissional do Maranhão. Ao mesmo tempo,
é fundamental destacar a necessidade de ampliação dos estudos e pesquisas no
âmbito de tal escopo em distintas frentes, dada a diversidade de objetos que
podem ser constituídos e investigados.
CHAGAS, Mário Souza. Os museus são bons para pensar, sentir e agir; In:
Revista Musas-Brasileira de Museus e Museologia, nº 3. 2007. Rio de Janeiro:
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- Departamento de Museus
e Centros Culturais.
Jhonatan Almada
1. Introdução
97
à realidade contemporânea. Este capítulo está organizado em três partes, na
primeira refletimos sobre a educação integral, na segunda tratamos das lições
derivadas da experiência do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia
do Maranhão e por fim, pontuamos questões para o futuro dessa instituição.
2. Educação integral
Anísio Teixeira aos 46 anos criou a Escola Parque como uma das mais
importantes experiências de turno integral da história da educação, tal projeto
mereceu reconhecimento internacional e projetou este intelectual como um
dos melhores quadros de sua geração. Os Governos seguintes tentaram matar o
projeto, mas ele sobrevive e devido a sua relevância, o Ano Letivo da Bahia ainda
é aberto no auditório do Centro.
Darcy Ribeiro aos 61 anos, inspirado no projeto de Anísio, criou os Centros
Integrados de Educação Pública (CIEPs). Investimento sério e projeto ousado
que levantou fortíssima oposição, sempre se naturalizou educação pobre para os
pobres. Se você deseja transformar a vida dos excluídos lhes dê a educação mais
avançada existente, assim pensava Anísio e Darcy, no que estou de pleno acordo.
Os CIEPs não tiveram o mesmo destino da Escola Parque, os governos
seguintes ao de Brizola alegaram os altos custos como o centro do argumento
para sua gradual desativação. Darcy em sua entrevista ao Programa Roda Viva
da TV Cultura e no livro “Educação como prioridade” questionava: “fazer
economia com crianças?” e “Um dos grandes fracassos do Brasil, como povo e
como civilização, tem sido nossa incapacidade de criarmos uma escola pública
honesta e eficiente”.
As ideias demoram muito a serem aceitas no Brasil, mas há essa retórica
econômica e fiscal contra os excluídos, o que nos impede de romper esse círculo
de desigualdade, pobreza e violência.
Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro foram combatidos por suas ideias,
desrespeitados enquanto profissionais e ignorados na tomada de decisões, os
projetos que criaram foram interrompidos, boicotados ou desvirtuados. A história
às vezes nos consola. Aqueles que os combateram receberam o esquecimento
como prêmio.
Essas ideias não morreram, os Centros de Atenção Integral à Criança e ao
Adolescente-CAICs, o Ensino Médio Inovador, o Programa de Escolas de Tempo
O custo anual por aluno na escola de ensino médio urbana de tempo integral
de nossa hipótese é de R$ 6.974,92, enquanto o valor estipulado pelo FUNDEB,
em 2018, era de R$ 3.921,67. O FUNDEB pagava menos do que seria necessário
para garantir o básico, a questão da qualidade do ensino, na qual intervêm fatores
intra e extraescolares, fica comprometida.
Fica claro que os investimentos nos termos atuais são inferiores aos das
escolas dos países da OCDE e das escolas particulares de classe média.
Portanto, é mito afirmar que se gasta muito na educação básica brasileira,
pois não se gasta suficiente em relação aos países mais avançados e nem frente
às necessidades ainda existentes de infraestrutura, equipamentos e manutenção.
Por outro lado, mais grave ainda, se gasta mal aquilo que temos, basta checar
os relatórios das fiscalizações que a Controladoria-Geral da União-CGU faz em
relação aos recursos do Fundeb e programas federais.
O estudo “Excelência com equidade no ensino médio: a dificuldade das
redes de ensino para dar um suporte efetivo às escolas”, produzido pelo IEDE,
Fundação Lemann, Instituto Unibanco e Itaú BBA, reforça os argumentos em
prol da educação integral (FARIA, 2019).
O estudo analisou 5.042 escolas para identificar as que contribuíam com o
efetivo aprendizado dos estudantes no ensino médio. Para tanto, adotou os seguintes
critérios para selecionar as escolas: a) nível socioeconômico baixo, conforme
classificação do Inep; b) proficiência de 275 em português e 300 em matemática; c)
taxa de aprovação de 95%; d) estar igual ou acima da média nacional do Enem nas
provas objetivas, redação e nas quatro áreas do conhecimento.
O resultado é impactante: de 5.042 escolas analisadas, somente 100,
ou seja, 2% preencheram tais critérios. O fato é que a maioria das escolas não
garante o aprendizado básico para os estudantes que mais precisam, portanto,
não fornecem as ferramentas fundamentais para que eles possam desmontar a
máquina da desigualdade.
É o achado que nos interessa para este debate: o estudo destaca que 82%
da Fundação Cesgranrio. Segundo dados do CPS, 80% dos seus estudantes são
oriundos de escolas públicas, 90% possuem renda familiar de até 5 salários-
mínimos e 32% autodeclarados afrodescendentes (LAGANÁ, 2019).
O PISA-S foi aplicado em quatro escolas (3 na capital e 1 no interior),
todas com média superior a 570 pontos no ENEM. Os resultados dessas escolas
em leitura, matemática e ciências ficaram acima da média brasileira, sendo que na
leitura ficou à frente de países como Finlândia, Canadá e Japão. Dados similares
foram observados em relação à Rede Federal como citei anteriormente.
Os estudantes que participaram do PISA-S em sua maioria são do ensino
médio integrado à educação profissional, o qual representa 80% das matrículas
do Centro Paula Souza. O que mais uma vez corrobora a relevância do tempo
integral para ampliar as possibilidades de aprendizado dos estudantes.
Apesar de todas essas evidências concretas ainda existem os que não
acreditam na potência da educação integral combinada com a educação
profissional, chegando mesmo a apontá-lo como um falso consenso brasileiro.
Como podem concluir, não é falso, mas fundado em décadas de experiências e
pesquisas. E como está a educação integral hoje?
Como vocês podem constatar a educação integral é um tema que há décadas
ronda as políticas públicas no Brasil, experiências de redes estaduais e municipais
foram se espraiando ao longo do tempo, ora expandidas, ora descontinuadas. A
conjuntura de deterioração das finanças públicas afeta a educação integral.
O Anuário da Educação Básica Brasileira traz evidências de que a
conjuntura atual está afetando a expansão da educação integral, o percentual
de matrículas retrocedeu na educação infantil e no ensino fundamental, com
tendência de crescimento no ensino médio (DA EDUCAÇÃO BÁSICA, 2020).
Os dados das escolas de educação integral implantadas apontam que 90%
delas não possuem laboratório de ciências e 59% não possuem laboratórios de
informática, 63% não possuem quadra de esportes.
Isso indica que o modelo de precariedade do tempo parcial se mudou para
Eis aqui uma segunda lição derivada da experiência. Não basta ter bom
vento, fundamental saber para onde ir. As escolas precisam ter seu projeto, aquilo
que dá sentido existencial e de missão ao trabalho pedagógico desenvolvido
ali. O modelo institucional que construímos cumpre esse papel e alinha toda a
comunidade escolar na busca pelo nosso sonho e propósito.
O modelo pedagógico significa formação acadêmica de excelência,
formação para a vida, formação de competências para o século XXI e formação
para o mundo do trabalho, assegurando ao jovem seu projeto de vida como
centralidade. São princípios desse modelo:
3. Considerações finais
REFERÊNCIAS
LAGANÁ, Laura. Centro Paula Souza – PISA nas Escolas no Brasil 2017. In:
CONFERÊNCIA INTERNACIONAL LANÇAMENTO PISA PARA ESCOLAS
NO BRASIL, 2019, Rio de Janeiro. Conferência Internacional, Rio de Janeiro,
Fundação Cesgranrio, 2019. Disponível em http://pisaforschools.cesgranrio.org.
br/#trabalhos. Acesso em: 21 jul. 2021.
1. Introdução
2. Procedimentos metodológicos
3. Resultados e discussão
O que determinou de fato a escolha das cidades Polo da Rede e-Tec Brasil
IFMA, no convênio firmado entre a reitoria do IFMA e o governo do Estado do
Maranhão, porém, foi a contrapartida que o Estado deveria disponibilizar. Esta
incluiria salas de aula adequadas, laboratórios de informática com acesso à internet
e compatíveis com o número de alunos, além, obviamente, de abastecimento de
água e eletricidade.
Para viabilizar o fornecimento dessa contrapartida, o Estado lançou mão
das estruturas pré-existentes – as Unidades Regionais de Educação (URE). Essas
com Ensino Superior completo. Quando agregado o Ensino Médio completo com
o Superior incompleto e o Superior completo, tem-se 77,89% dos egressos com
o Ensino Médio completo. Juntando-se o Ensino Superior incompleto (8,65%)
com o completo (9,62%) o percentual vai para 18,27%.
Esses dados revelam que a questão essencial não é só a formação, mas
a existência, no mercado de trabalho, de oportunidades, as quais ainda são
extremamente escassas e cada vez mais seletivas. Frente a esse quadro, os
alunos buscam por uma especialização, movidos pelo senso de oportunidade e
pela ideologização de que a capacitação permanente lhes possibilitará atingir
o status de empregabilidade33 e figurar como desejáveis ante o mercado de
trabalho, ou ainda tornarem-se micro e pequenos empreendedores nesse
mercado seletivo e competitivo.
Os dados revelam que o perfil dos egressos é constituído por homens
e mulheres, com uma variação de 13,46% para mais, de homens em relação
a mulheres. A faixa etária predominante se situa entre 20 e 49 anos. A etnia
autodeclarada parda / mulata com 58,65%, prepondera sobre as demais. E apenas
22,12% têm escolaridade em nível de Ensino Fundamental completo, ou seja,
este público representou a demanda do PROEJA. Por outro lado, 77,88% tinham
o ensino médio completo, destes 8,65% de nível superior incompleto e 9,62% de
ensino superior completo.
Questão 8: Idade
20 a 29 anos 24,04%
30 a 39 anos 45,19%
40 a 49 anos 20,19%
50 a 59 anos 8,65%
Acima de 60 1,92%
Total Geral 100,00%
Questão 9: Etnia
Branca 21,15%
Indígena 0,96%
Negra 19,23%
Parda/Mulata 58,65%
Total Geral 100,00%
Questão 10: Situação de escolaridade antes de iniciar o curso
Ensino fundamental 22,12%
Ensino médio completo 59,62%
Ensino superior incompleto 8,65%
Ensino superior completo 9,62%
Total Geral 100,00%
Total
Total
Questão 16: Houve alteração na sua situação de ocupação/trabalho, depois que você
concluiu o curso
Continuou sem trabalho, ocupação remunerada ou não remunerada 14,42%
Conseguiu o atual emprego 26,92%
Passou a ser empregado com carteira assinada 5,77%
Conseguiu montar negócio próprio/tornou-se autônomo 2,88%
Tornou-se empregador 0,96%
Começou a participar de empreendimentos cooperativados 3,85%
Passou a participar de empreendimentos solidários 2,88%
Melhorou cargo/função 7,69%
Melhorou salário/renda 4,81%
Ficou mais qualificado para o trabalho 21,15%
Obteve mais informações sobre o mercado de trabalho 6,73%
Outros 1,92%
Total Geral 100,00%
Questão 18: Você observou alguma preferência do seu empregador quanto a formação na
modalidade educação a distância ou presencial
Não 76,92%
Sim 23,08%
Total Geral 100,00%
expectativas foram atendidas, mesmo com uma leve diferença para mais ou para
menos quando comparado por itens. Essa realidade é melhor entendida quando
os dados a ela referentes são cruzados com os da questão 12 da Tabela 2.
A questão 21, da Tabela 3, revela que 37,26% dos egressos afirmaram que
suas expectativas foram atendidas, verificando-se uma diferença de 9,06% aquém
das expectativas iniciais. Essas respostas, agregadas às obtidas em outro quesito
por semelhança e sentido muito próximo (aprender uma ocupação – 13,60%;
especializar-se / atualizar-se em uma ocupação – 8,46%; obter certificado de um
curso técnico 6,62%; elevar a escolaridade ou obter um certificado de escolaridade
– 4,04%) compõem um percentual de 32,05%, quando cruzadas com as da questão
21, da Tabela 3, (34,21% desejam aprender uma profissão, especializar-se e/ou
atualizar-se, obter um certificado e elevar sua escolaridade, obtendo o respectivo
certificado). Assim, verifica-se uma superação das expectativas em 2,16%.
O total dos egressos entrevistados que foram explícitos ao dizer que
desejavam conseguir trabalho (7,35%), quando cruzado com o da questão 21 da
Tabela 3 (10,65% que conseguiram trabalho) apresentaram uma superação das
expectativas em 3,3%. As informações resultantes das respostas à questão 21
da Tabela 2 (melhorar suas condições pessoais no trabalho – 6,99%), ao serem
cruzadas com os dados dessa questão 21 da Tabela 3 – 12,55% – revelam uma
superação das expectativas em 5,56%.
4. Considerações finais
REFERÊNCIAS
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2008.
200p.
IANNI. Otávio. A sociedade global. 15. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2013.192 p.
MARX, K.; ENGELS, F. Obras escolhidas. Volume I. São Paulo: Editora Alfa-
Ômega, s/d. 381p.
1. Introdução
Desse modo, para Santos et al. (2014, p. 265), além do termo pobreza, a
gestão da assistência tem usado “o termo ‘vulnerabilidade social’ para assinalar
as múltiplas dimensões do fenômeno, assim como a possibilidade de mobilidade
social por meio da participação nesses programas e serviços”.
Os programas do governo passam a ser desenvolvidos para atender a lógica
de capacitação para o mercado de trabalho. De tal modo, o Programa Mulheres
Mil em análise, seguindo essa lógica, propõe acesso à educação profissional
consoante às ofertas de trabalho de cada local, elevação da escolaridade e inserção
de mulheres das Regiões Norte e Nordeste do Brasil no mercado de trabalho.
A qualificação das mulheres para o desenvolvimento, nos documentos dos
37 Instituído por meio da Portaria nº 1.015, de 21 de julho de 2011, por meio da Secretaria
de Educação Profissional e Tecnológica (Setec/MEC).
38 As características dos cursos FIC são, sobretudo, a baixa carga horária, sendo a maioria
de 160 horas.
com a visão de que a mulher pode trabalhar sem precisar sair de casa. Trabalhos
realizados no espaço doméstico para comercializar fora de casa são considerados
uma colaboração na produção, um complemento, e não trabalhos em si, visto
que na sociedade capitalista contemporânea o trabalho doméstico, por não gerar
lucro, não é valorizado.
Essas políticas com perspectiva “Mulheres em Desenvolvimento” (MD)
se baseiam nas teorias da modernização, procurando meios para incorporar as
mulheres no desenvolvimento econômico. Assim, a maioria dos cursos ofertados
mostram a noção de empreendedorismo presente no programa, que possui a
proposta de geração de trabalho e renda, conforme pode-se observar em um dos
seus objetivos: “capacitar as educandas para a compreensão e o exercício da
economia solidária, do empreendedorismo, do cooperativismo e do associativismo
como oportunidades de geração de renda e de melhor desempenho no mundo
produtivo” (BRASIL, 2014, p. 26).
Contudo, esse cenário revela a dificuldade de uma mulher empreender,
uma vez que a mulher empreendedora tem que se dividir entre seu negócio e
as tarefas domésticas, fazendo com que o seu trabalho seja desenvolvido nas
dependências da casa, reforçando, portanto, a dupla e tripla jornada de afazeres.
Dessa forma, questiona-se como integrar a perspectiva de gênero em
uma política pública visando reduzir as desigualdades entre os sexos, quando se
reforça estereótipo de gênero? Mesmo quando o trabalho feminino é realizado
fora do espaço doméstico, a mulher não deixou de ter uma dupla-jornada. Para
Federici (2019), arrumar um segundo emprego nunca nos libertou do primeiro.
O programa propõe trabalhar a perspectiva da autonomia da mulher
e das mudanças nas relações familiares. Apesar disso, esses tipos de ações
implementadas tendem a não propiciar o redimensionamento da questão de
gênero, tanto nas atividades empreendedoras, bem como nos espaços sociais
e familiares, que reforçam papeis e funções sociais construídos culturalmente
como se fossem naturais.
5. Considerações finais
REFERÊNCIAS
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação
e Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, 1995, p. 71-99.
1. Introdução
169
modalidade EJA. Por consequência, os docentes do IFMA atuam no Programa,
mas não são professores do PROEJA. Além do mais a formação inicial não os
preparou para atuarem nessa modalidade. Dessa forma, chegaríamos ao nosso
principal objetivo que foi conhecer as práticas docentes no PROEJA no IFMA
Campus São Luís-Monte Castelo e de como fizeram para superar os desafios para
atuarem no Programa, visto ser uma inovação na Educação Profissional (EP).
Trabalhamos com a hipótese de que, para desenvolver suas práticas
no PROEJA, os docentes do IFMA servem-se de saberes que não foram
necessariamente adquiridos no IFMA, mas em outros contextos de aprendizagens.
Nesta produção, indicamos o percurso metodológico da pesquisa; em
seguida, tratamos da formação docente no IFMA para atuar no PROEJA
evidenciando uma formação específica para a EJA; depois destacamos algumas
dificuldades relatadas sobre a prática docente no Programa, como deficiência
de conhecimento dos educandos. Na seção seguinte, apresentarmos como os
docentes do Campus fizeram para resolver os desafios de formar os educandos
do Programa e, concluímos com as considerações finais. Assim, recorremos
aos fundamentos da história oral (THOMPSON, 1998), por meio de entrevista
temática que se estruturou em torno do tema da prática docente no PROEJA.
Dessa forma, selecionamos e construímos os instrumentos organizadores dessa
interpretação para compreender os relatos docentes, pois “[...] é impossível
compreender a natureza do saber dos professores sem colocá-lo em íntima
relação com o que os professores nos dizem” (TARDIF, 2012, p.15). E, assim,
igualmente por considerarmos ser uma oportunidade de conhecer como se deu a
prática docente no PROEJA.
Os docentes entrevistados, relatam como eles desenvolveram suas práticas
no Programa, eles reuniram formação docente, práticas e saberes, adotando
um modo próprio de fazer. Nesse aspecto, o conceito de memória foi revelador
para compreendermos que em contexto de experiências compartilhadas, como
é o Programa, o desenvolvimento das práticas docentes envolve o individual
2. O percursos da pesquisa
41 Pelo Decreto n.º 7.566 de 23 de setembro de 1909, assinado pelo então presidente Nilo
Peçanha - foram criadas as Escolas de Aprendizes artífices nas capitais dos estados. para
aprofundar a questão da educação profissional, ver Xavier (1992).
42 Modalidade, para o Conselheiro Jamil Cury, no Parecer CNE nº. 11/2000, implica
um modo próprio de fazer a educação, indicando que as características dos sujeitos jovens e
adultos, seus saberes e experiências do estar no mundo, são guias para a formulação de propostas
curriculares político- pedagógicas de atendimento (BRASIL, 2006, p. 6).
Pelo que dizem nos relatos, a maioria declara não possuir dificuldade para
formar no Programa. Em retrospecto, nem a formação inicial e nem a continuada,
como demonstrado nesta seção, não preparou os docentes entrevistados para
formar no PROEJA.
Legalmente, não existe obrigatoriedade para que o docente tenha a formação
específica para trabalhar no Programa. Entretanto, a instituição proponente pode
Acrescentou-nos que leva esses cadernos para casa, passa visto em tudo,
coloca seu carimbo e ainda registra uma frase de estímulo. Afirma ser um trabalho
que tem tido muito sucesso. Relatou que possui carimbo de professora com
registro do MEC e coloca nos cadernos, “pois desse jeito eles já sabem que eu
vi. [...] O autorretrato tem carimbo. O autorretrato é feito na 3ª pessoa, narrador
onisciente, é como tipo assim: eles apresentam a leitura preferida. Eu registro
muito bom!” (DOCENTE N° 2).
Assim, perguntamos: Como adquiriu essas experiências para atuar no
Programa? Logo nos foi relatado que na década de 1980, ainda cursando Letras,
teve sua primeira experiência com o trabalho de Jovens e Adultos:
A Docente n.º 2 informou que o atual IFMA foi seu primeiro emprego.
Destacou: “Minha mãe era costureira e meu pai, marceneiro, eles me ensinaram
a humanização, valorização do outro”. Sobre o Edurural, afirmou: “Levei mais
saber do Edurural para o PROEJA, foi a humanização mesmo, o ser ontológico
da pessoa, ver a necessidade daquele ser, é saber ser humilde mesmo”.
Já o Docente n.º 3, explicando-nos sobre sua prática no ensino de
Matemática para o PROEJA, disse o seguinte: “Já aqui, nós é que temos de
De modo geral, esses relatos têm relação com a defesa de Tardif (2013),
quando afirma que os saberes docentes são advindos das experiências vivenciadas
pelo professor ao longo de sua vida e não apenas aquela que ele adquire na
formação acadêmica, para a finalidade específica de atuar na profissão. Os saberes
dos professores são adquiridos socialmente por diferentes fontes de aquisição e,
dessa forma, estas são plurais e não podem ser separadas da prática docente.
Pelo relato, o Docente n.º 1 considerou que sua prática no Programa lembra
sua vida escolar quando foi aluno da Escola Técnica Federal de São Luís, há mais
de 30 anos, quando ainda cursava o antigo Segundo Grau. Lembra-se do seu
ingresso no Pró- Técnico, curso que frequentou na antiga Escola.
Tentando compreender como essas experiências ajudaram em sua atuação
no PROEJA, o que o fez pensar que essas experiências o ajudaram a trabalhar no
PROEJA, explica:
6. Considerações finais
algo que também os favoreceu para atuar no PROEJA. Entretanto, mesmo ciente
de que a experiência é importante para o desenvolvimento do trabalho docente,
não podemos reduzir o saber ensinar principalmente à prática docente, visto que
a maneira de ensinar é uma representação do tempo no contexto em que a prática
se desenvolve.
Como mencionamos, uma das funções da memória é selecionar experiências
vividas ou compartilhadas; essas que nos chegam pelo relato de outrem, que de
alguma forma foram significativas para, em alguma situação, nos reportarmos a
elas, por sua importância.
Após conhecermos relatos dos docentes sobre suas práticas no PROEJA-
IFMA Campus São Luís - Monte Castelo, há contradição entre essas narrativas,
em relação ao discurso oficial, centrado na legislação do Programa. Afinal, o
docente, mesmo não tendo a formação específica, está preparado para formar no
PROEJA. Isso se confirma exatamente porque, pelo que define a Lei n.º 9.394/96,
ter a licenciatura – a formação inicial – prepara o docente para atuar na Educação
Básica, na qual está a oferta do Programa. Mesmo tratando-se de uma inovação
na Educação Profissional.
Nos relatos sobre as práticas no PROEJA, as lembranças sobre a atuação
docente no Campus, os docentes indicam que a formação para o Programa
foi desenvolvida em diferentes contextos, como por exemplo na família, em
experiências com educandos jovens e adultos, nas experiências profissionais nas
empresas. Essas constatações aqui narradas pelos seis docentes que participaram
desta pesquisa confirmam nossa hipótese de que para resolver os desafios de
formar no PROEJA-IFMA, no espaço específico da sala de aula, os docentes
servem-se de saberes não necessariamente associados a políticas de formação
docente institucionais do IFMA.
Reconhecemos, pelos relatores, vários esforços dos docentes
entrevistados para ensinar os educandos no Programa. Mesmo assim, como
defendemos ao longo desta tese, compreendermos que esses esforços poderiam
REFERÊNCIAS
XAVIER, Maria Luísa Silva Prado. Poder político educação da elite. São Paulo:
Cortez,1992.
1. Introdução
197
Em meados do século XX, o paradigma neoliberal, caracterizado por
um conjunto de ideias político-econômicas capitalistas, se hegemoniza,
favorecendo mudanças em escala mundial nos campos político, econômico,
social, intelectual e cultural. Como afirma Costa (2002, p. 43), o neoliberalismo
constitui a maior estratégia já arquitetada pelo capitalismo mundial para perpetuar
sua hegemonia, cada vez mais livre de qualquer restrição, “impulsionando o
crescimento do capital transnacional de grandes conglomerados, viabilizando a
globalização da economia”.
Em suas múltiplas denominações – capitalismo financeiro, capital fictício,
neoliberalismo48 – este se constitui uma doutrina e um receituário pragmático de
política econômica que se caracteriza por ser “mais estreito, pois se restringe ao
aspecto econômico da vida humana em sociedade; menos ‘iluminista’, porque
depende mais de crença do que de razão [...] e pautado por um capitalismo duro
e livre de regras” (PAULANI, 2008, p. 67). Além disso, esta política, orquestrada
pelos executivos dos governos, dos bancos multilaterais e de empresas privadas
torna-se uma política que afeta sobremaneira os países de capitalismo dependente.
De acordo com Fiori49 (1995, p. 234), na América Latina, em contraposição
ao regime de acumulação e intervenção estatal, o paradigma neoliberal é definido
como “um plano único de ajustamento das economias periféricas, chancelado
pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Internacional para
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).
Segundo Costa (2016, p. 40), no setor educacional, “as reformas do ensino
foram adotadas no país inicialmente no Ensino Fundamental e se estenderam
para toda Educação Básica e Educação Superior”. Afirma-se que um dos marcos
legais para estas reformas foi a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da
48 David Harvey (2011a, 2011b, 2012, 2013); István Mészaros (2006a); François Chesnais
(1996, 1998, 2002, 2005).
49 Fiori (1995) analisa esta questão no texto “Da dependência ao social-liberalismo: a
bússola de Fernando Henrique Cardoso”, em que afirma que, nos países da América Latina, este
paradigma esteve pautado no Consenso de Washington.
Educação Nacional (LDBEN), a Lei n.º 9.394/96 (BRASIL, 1996a), na qual são
definidas concepções e organização do ensino voltados para adequar o sistema
educacional às transformações e demandas do capital financeiro.
No que concerne especificamente às mudanças no âmbito da Educação
Profissional e Tecnológica (EPT), de acordo com a LDBEN, esta modalidade
de ensino é concebida como “integrada às diferentes formas de educação, ao
trabalho, à ciência e à tecnologia” com o propósito de conduzir a vida produtiva.
Em se tratando exclusivamente a rede federal de EPT, historicamente as
instituições que a compõem tiveram várias denominações – Escola de Artífices,
Escola Industrial, Escola Técnica, Centro Federal de Educação e Tecnologia
(CEFET) e/ou Escola Agrotécnica Federais (EAF) – e tendo o mesmo propósito
de ofertar educação técnica para a classe trabalhadora do país (COSTA, 2016).
Em 2008, no governo Lula, através da Lei n.º 11.892/2008 (BRASIL, 2008a),
cria uma nova Rede Federal de Educação Profissional, Ciência e Tecnologia
(RFEPCT), composta pelas antigas instituições da rede, ou seja, o governo aglutina
os CEFETs, as Unidades Descentralizadas (UNEDs), as Escolas Agrotécnicas
Federais (EAFs) e as Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades, criando
uma grande rede, em sua maioria, denominada Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia (IFETs)50.
Em termos de expansão, a EPT no Brasil apresentou crescimento desde
2003, mas é, a partir do ano de 2008, com a lei supramencionada, que o governo
inicia o processo de expansão da rede federal, com o firme propósito de transformar
estas instituições em modelos para a qualificação e requalificação do trabalhador
brasileiro (COSTA, 2016).
Deste modo, o governo federal, no período de 2003 a 2013, expandiu
Fonte: IFMA/PROPLAD (2010, 2011, 2012, 2013, 2014). Nota: Tabela elaborada pela
pesquisadora.
específicos para suas disciplinas, gabinetes individuais e/ou coletivos (dos campi
estudados somente o campus S. L- Monte Castelo, em cinco departamentos, os
professores contam com Gabinetes coletivos que comportam cerca de dois a
três professores por espaço), espaços para atendimento individual de alunos
para orientação de monografia ou de pesquisa, salas de estudos, dentre outros.
O problema de infraestrutura se constitui, portanto, uma forma de precarização
do trabalho docente.
No que diz respeito as atividades de ensino, pesquisa e extensão, durante
o processo de entrevistas com os docentes, da coleta de informações no campo
empírico e da análise documental, procurou-se analisar as informações a fim de
perceber se, efetivamente, a mudança para IFET representou ou não mudanças
significativas no trabalho dos professores, na sua carreira, no trabalho com
pesquisa e extensão, enfim, buscaram-se indícios que apontassem um processo
de intensificação do trabalho.
Para estudar estas questões, definimos como critérios de análise da
intensificação: relação entre as matrículas e quantitativo de docentes; carga
horária por docente; funções desenvolvidas individualmente pelo docente de
acordo com sua carreira; o perfil dos professores ingressantes na instituição e
a clientela/alunos com faixas etárias, interesses diferenciados convivendo em
um mesmo ambiente e, às vezes, na mesma sala de aula; e, principalmente, a
diversidade curricular da instituição (COSTA, 2016).
No que se refere à relação entre as matrículas e quantitativo de docentes
nos campi analisados, observa-se que, em 2013, os campi estudados totalizavam
8.091 alunos matriculados, sendo que, destas matrículas, 77,49% eram na
Educação Profissional/Nível Técnico e 22,51% na Educação Superior. Do total
das matrículas, 58,25%% se davam em cursos regulares e 41,75% em programas
como PRONATEC, PROEJA, Programa de Apoio à Formação Superior em
Licenciatura em Educação do Campo (PROCAMPO), PARFOR etc.
Em 2013, as matrículas oscilaram nos três campi, sendo que, no ano de
Consideraçoes finais
229
a “teoria do professor reflexivo”, a “pedagogia dos projetos” e a “pedagogia das
competências”. Portanto, o objetivo do presente artigo é analisar esse percurso
histórico da formação de professores no Brasil, tomando como base a constituição
da identidade da formação profissional docente e seus dilemas a partir do seu
processo formativo. O método de análise utilizado foi o materialismo histórico-
dialético e os procedimentos de pesquisa foram revisão de literatura e análise
documental.
Palavras-chave: Formação de professores. Diretrizes curriculares.
1. Introdução
54 Esse conceito sugere que, apesar de não ser possível homogeneizar países e regiões, por
conta de sua posição distinta no bojo da divisão internacional do trabalho e das dinâmicas internas
específicas, há lineamentos originários das agências multilaterais, articulados aos interesses dos
países capitalistas hegemônicos em torno de uma agenda comum de reformas educacionais. Dentre
esses lineamentos, podemos citar: financiamento, avaliação, gestão, controle, descentralização e
responsabilização.
55 A exemplo do Decreto 2.306/1997, que reformula o sistema federal de ensino e,
posteriormente, o Decreto 3.860/2001, que regulamenta a atuação das IES privadas com fins
lucrativos e institui diferentes modelos de organização institucional (faculdades, centros
universitários e universidades), rompendo com o padrão universitário de educação superior,
pautado na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Ela (a prática) terá que ser uma atividade tão flexível quanto
outros pontos de apoio do processo formativo, a fim de dar
conta dos múltiplos modos de ser da atividade acadêmica
científica. Assim, ela deve ser planejada quando da elaboração
do projeto pedagógico e seu acontecer deve se dar desde o
início da duração do processo formativo e se estender ao longo
de todo o seu processo (PARECER CNE/CP Nº. 28/2001, p. 7).
61 O período de 2003 a 2015 foi um momento profícuo no avanço dos debates e das
políticas no âmbito da educação de cunho mais progressista e de caráter democrático. Podemos
citar a realização das Conferências Nacionais de Educação (CONAES) para discussão do novo
Plano Nacional de Educação, com participação ampla da sociedade, a criação do Fórum Nacional
de Educação (FNE), além da elaboração de uma farta legislação de amparo ao direito à educação.
Para maiores detalhes sobre este período, ver Dourado (2013).
62 Sobre o processo de elaboração da Resolução, ver Dourado (2015).
63 De acordo com Dourado (2013), a concepção de base comum nacional é distinta de base
curricular nacional, pois se apoia no estabelecimento de diretrizes comuns, mas que comportam
uma diversificação e autonomia das instituições formadoras. “Ou seja, trata-se do estabelecimento
de diretrizes nacionais para a formação de professores que garantam unidade na diversidade, o que
não se coaduna com a padronização ou rigidez curricular” (DOURADO, 2013, p. 377). Assim,
a Resolução n. 2/2015 propõe a organização do currículo dos cursos de formação de professores
em três núcleos de estudos, a saber: núcleo de formação geral, núcleo de aprofundamento e
diversificação de estudos e núcleo de estudos integradores (art. 12).
64 A resolução define a formação inicial dos profissionais do magistério em cursos de
primeira licenciatura, com carga horária mínima de 3.200 horas, cursos de segunda licenciatura,
com carga horária entre 800 e 1.200 horas e formação pedagógica para graduados não licenciados,
com carga horária de 1000 a 1400 horas.
do currículo, uma vez que as referidas competências, que serão avaliadas nos
exames nacionais de avaliação da qualidade do ensino, também serão alinhados
à BNCC. De acordo com Albino e Silva (2019) o comum na BNCC é o todo
objetivado e descrito em ações, conteúdos, habilidades e competências, deixando
“evidente a compreensão de manual detalhado em torno das competências e
habilidades, subposicionando o professor a um executor de tarefas pedagógicas”.
(IDEM, p. 143).
Diante da necessidade de alinhar a formação de professores a nova BNCC68,
foram elaboradas novas diretrizes curriculares para a formação de professores,
assentadas nos mesmos princípios que orientam a BNCC. Em 2019, foi aprovada
a Resolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019, que define as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação
Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores
da Educação Básica (BNC-Formação)69.
70 Mesmo mediante intensa mobilização dos setores e entidades ligados a educação pela manutenção
da Resolução nº 02/2015 e contrária a aprovação do Parecer que fundamentou a Resolução no. 02/2019.
Ver FREITAS (2019) CNE ignora entidades da área e aprova Parecer e Resolução sobre BNC da Formação
(atualizado) | FORMAÇÃO DE PROFESSORES – BLOG DA HELENA (formacaoprofessor.com).
entre outras propostas, inclui a criação de uma Universidade Federal Digital e sinaliza com uma
expansão exponencial de vagas do ensino superior, tendo em vista o cumprimento da meta 12 de
Plano Nacional de Educação, com o intento de criar 1 milhão e meio de vagas nas universidades
públicas por meio da Ead.
74 PORTARIA MEC Nº 412, DE 17 DE JUNHO DE 2021. Institui o Programa Institucional
de Fomento e Indução da Inovação da Formação Inicial Continuada de Professores e Diretores
Escolares.
REFERÊNCIAS
ALBINO, Ângela Cristina Alves; SILVA, Andrea Pereira da. BNCC e BNC da
formação de professores: repensando a formação por competências. Revista
Retratos da Escola, Brasília, v. 13, n. 25, p. 137-153, jan./mai. 2019. Disponível
em: http://www.esforce.org.br/. Acesso em jun. de 2021.
SHIROMA, Eneida Oto et al. A tragédia docente e suas faces. IN KENJI, Alan;
EVANGELISTA, Olinda (orgs.). Formação de professores no Brasil: leituras a
contrapelo. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2017.
1. Introdução
Indicadores Temas
76 O termo contrarreforma assenta na perspectiva que não aceita a concepção de reforma aos
processos regressivos. E, ainda ao fato de que o ensino médio vinha desde 2002 sendo objeto de uma
reforma que, mesmo com limites, contrapunha-se aos programas e legislações aprovados pelo governo de
Fernando Henrique Cardoso no final dos anos 90 do século passado.
Portanto, convém ressaltar que que os jovens das classes média e alta já cumprem
essa jornada, pois a maioria das escolas privadas já oferta mais de 7 horas diárias
de atividades escolares, além de outras atividades complementares, tais como:
língua estrangeira, esportes, reforços escolares, simulados preparatórios etc. Este
aspecto nos leva a corroborar a assertiva de Sanchis (1997), quando ele afirma
que toda vez que escasseiam as oportunidades de emprego, o sistema educativo
procura formas de prolongar a permanência dos jovens na escola, a fim de conter
a demanda por empregos.
Em Mészáros (2002), também encontramos elementos para compreendermos
essa proposição enunciada na lei em análise, pois ele destaca que a retórica oficial
sobre a centralidade da educação, apresentada como antídoto ao problema do
crescimento do desemprego, não co
ndiz com a realidade, ou melhor, corresponde à inserção dos jovens no
mundo do trabalho precário ou à condição de força de trabalho supérflua.
A esse respeito, destacamos que não somos contrários à ampliação da
jornada escolar para os jovens, o que ponderamos é a defesa posta pelo Movimento
Nacional pelo Ensino Médio que, considera o respeito ao direito de acesso à
educação básica para mais dois milhões de jovens de 15 a 17 anos que estudam e
trabalham ou só trabalham. Desse modo, essa proposição poderá limitar o acesso
de mais jovens à conclusão da educação básica. E, ainda, segundo Frigotto et. al.
(2005), reforçar a dualidade estrutural e cultural da nossa sociedade presente no
Ensino médio na histórica separação entre a formação propedêutica, concebida
como estudos científicos que permite a continuidade dos estudos em nível superior
e, a formação profissional – estudos para o desenvolvimento de atividades
produtivas – e, pela diferenciação educação geral para as elites e preparação para
o trabalho para os pobres
Em relação ao currículo a Lei n.º 13.415/2017 prevê no artigo 3º que a
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida do seguinte
o
art. 35-A:
4. Considerações finais
de acordo com a escolha do aluno, ou com o quê o sistema irar oferecer? Quais
são os itinerários que as redes públicas estaduais irão ofertar? Como as escolas
das zonas rurais irão oferecer esses itinerários? Os adolescentes e jovens das
classes populares serão direcionados para quais itinerários? As escolas privadas
irão seguir as determinações previstas Lei?
Esses questionamentos nos levam a concluir que: Propor os itinerários
formativos, em especial, o da formação profissional significa a tentativa de manter
a dualidade estrutural que marca o ensino médio brasileiro. Desse modo, a atual
contrarreforma do ensino médio, não representa o novo, pois implementação
dessa proposta irá aprofundar a divisão entre os alunos que cursarão o ensino
médio propedêutico e aqueles que terão como destino os cursos técnicos de baixa
qualidade, ou que “optarão” por itinerários formativos impostos pelo sistema ou
escolas. Portanto, a Lei nº. 13.415/2017 revigora outras leis que já reformaram o
ensino médio no Brasil na tentativa de decretar a profissionalização com caráter
de terminalidade para os jovens das classes menos favorecidas.
79 Mestre em educação pela UFF. Doutoranda em Educação Escolar pela UNESP Araraquara.
Professora do Instituto Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Maranhão.
1. Introdução
No que se refere ao recuo histórico que esse Decreto nº. 2.208 representou,
podemos situá-lo junto à Reforma de Capanema de 1942, que no seu conjunto
85 A Professora Célia Otranto realizou várias produções sobre o tema da criação e expansão
dos Institutos Federais.
pelo Decreto nº. 2.208/97. Entre avanços e muitos recuos e a persistência pela
garantia de direitos em um país clivado por desigualdades estruturais, é possível
entender por que o decreto aprovado no governo Lula, e que revogou o decreto
anterior, foi tão celebrado como uma travessia. No entanto, é necessário explorar
rapidamente as contradições, rupturas e continuidades do que se chamou, à
época de sua aprovação, de “Novo” decreto. Muitos estudos já foram realizados
sobre ele, e nossa intenção é apenas lembrar aos esquecidos e aos reformadores,
que assimilam de forma acrítica as políticas dentro das escolas e dos Institutos
Federais, o que eles persistem em esquecer: os recuos e contradições das políticas
educacionais e seus impactos na formação dos adolescentes, jovens e adultos,
pois, qualquer prática comprometida com a qualidade para a formação humana
não pode prescindir da crítica aos limites impostos pelas políticas.
Ao analisar o novo Decreto nº. 5.154 de 2004, Kuenzer (2006) indagou sobre
sua intencionalidade, uma vez que revogou formalmente o Decreto n.º 2.208/97,
mas, na prática, recriou os cursos médios integrados que já estavam previstos no
parágrafo 2º do artigo 36 da Lei n.º 9.394/96, e incorporou todas as modalidades
de educação profissional por ele propostas, como a concomitante e a subsequente,
sem contudo limitar ou superar o balcão de negócios aberto pelo decreto anterior.
Em vez disso, manteve sua concepção e ampliou as possibilidades das parcerias
público-privadas por meio de inúmeros programas de qualificação profissional
que foram ampliados. Por fim, o que a autora conclui é que o “novo” decreto foi
uma “acomodação conservadora” para atender interesses da iniciativa privada.
Apesar de Kuenzer (2006) considerar que há diferenças que precisam
ser destacadas entre as políticas de educação profissional dos governos FHC e
Lula, sublinha o fato de que as diferenças não estão no plano da concepção das
relações entre Estado e Sociedade Civil, pois em ambas experiências é notório o
impulsionamento dado às parcerias entre o público e o privado. Assim, podemos
destacar a intensificação dessas parcerias relativas à educação profissional pública
88 A este respeito consultar o artigo de Dante Henrique Moura, Domingos Leite Lima
Filho e Mônica Ribeiro Silva (2015).
90 Informações sobre esses documentos e a posição política do CONIF podem ser encontradas
oficialmente no site: http://portal.conif.org.br/images/Diretrizes_EMI_-_Reditec2018.pdf
91 Para relato das datas das atividades da Pró-Reitoria de Ensino do IFMA referente à
organização das matrizes curriculares e ao currículo integrado, tomamos como referência o
documento denominado Um Breve Histórico do Trabalho desenvolvido pelos GTs de
Currículo, do ano de 2019. Esse documento fundamentou a fala da Pró-Reitora de Ensino no
ano de 2019, nos momentos de formação nos Campi quando tiveram início os trabalhos de
reformulação dos projetos dos cursos nos Campi Monte Castelo, Centro Histórico e Maracanã,
todos situados na cidade de São Luís. No ano de 2019 eu participei destas atividades, inserida no
GT Currículo Central.
92 Fonte: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/brasil/2016/09/reforma-deve-
tambem-mudar- vestibulares.html. Acesso 13 de novembro de 2016.
93 O MDB aglutina toda a base do antigo partido PMDB, a mudança de sigla significou
estratégia de recomposição de forças na disputa do jogo político.
Integrado com base nos autores citados anteriormente não é um debate apenas
sobre a escola, é um debate sobre a escola na sociedade capitalista e a travessia
para a sua superação.
É necessário não perder de vista o horizonte que fundamenta a educação
integral com tradição na educação soviética. Excluir a origem do debate que
estabelece os fundamentos teóricos e filosóficos para a proposta de Ensino Médio
Integrado é torná-lo de caráter instrumental, portanto, limitado a concepções
pedagógicas do regime rígido e do regime de acumulação95, como denomina
Kuenzer (1998), pois, para esta autora, as demais pedagogias são por ela
denominadas de variações destas citadas. Outra expressão que também possibilita
um entendimento sobre concepções pedagógicas que limitam suas análises ao
currículo, ao cotidiano, às práticas pedagógicas, às metodologias, às tecnologias
e situam a função social da escola na conciliação entre racionalidade pedagógica
e racionalidade econômica, sem explicitar de forma objetiva suas concepções de
mundo e de homem, é a Pedagogia do Aprender a Aprender, assim denominada
por Duarte (2002).
O trabalho da PROEN prossegue no segundo semestre de 2018 no II
Seminário Nacional de Ensino Médio Integrado. Nesse evento são aprovadas
as Diretrizes Indutoras para o Ensino Integrado, que foram referendadas pelo
CONIF como referência à elaboração das Diretrizes Curriculares dos Institutos.
Este documento passou a nortear o GT Currículo do IFMA no ano de 2019.
Nesse mesmo ano, compus a equipe que assessorou pedagogicamente os
5. Considerações finais
transformação que, como soe acontecer, somente nos é dado depois que o futuro/
presente se realiza. Mas isso não pode nos imobilizar” (CIAVATTA, 2014, p.
189). Estamos diante de um duplo desafio para organizar as lutas e os processos
de resistência envolvendo trabalhadores da educação.
O primeiro é compreender o conjunto das reformas para educação na
sua totalidade, no qual a BNCC é apenas uma etapa. A atual versão da BNCC
apresenta um conteúdo pautado numa racionalidade técnica e instrumental de
educação que atende a demanda de setores produtivos empresariais que há algum
tempo vêm realizando esforços para gerir e controlar os recursos educacionais, a
organização pedagógica, a produção de materiais didáticos e a formação docente
no âmbito da educação pública. O conjunto da reforma da educação pública
abrange: Reforma do Ensino Médio, BNCC, Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio, Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação Inicial de
Professores para Educação Básica, a 4ª versão do Catálogo do Ensino Técnico e as
Diretrizes para Educação Profissional e Tecnológica.
O segundo desafio é compreender o projeto do Ensino Médio Integrado
e encará-lo como cerne de uma disputa social pela manutenção e melhoria do
trabalho que os Institutos Federais vêm realizando como possibilidade, ainda que
com limites, de construção de uma escola pública socialmente referenciada para
os filhos da classe trabalhadora e também para os/as trabalhadores/as, uma vez
que o Ensino Médio Integrado contempla a educação de jovens e adultos e faz
com que as escolas técnicas federais recuperem sua origem histórica junto às
classes menos favorecidas, ressignificando o compromisso e o papel pedagógico
dessas escolas junto a esses segmentos.
Neste momento lutamos contra o obscurantismo beligerante, como
denomina Duarte at ali (2020), assim como contra o anticientificismo, sendo
assim, não há outro caminho, senão resistir ao conjunto das reformas no que for
possível, a partir de nossas possibilidades, de nossa realidade, defendendo nesse
momento a especificidade do papel da Escola e da produção do conhecimento que
construímos nesse espaço, em defesa das condições para a emancipação humana.
DISPUTAS EM TORNO DO CONCEITO DE ENSINO MÉDIO INTEGRADO
NO INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO: uma breve leitura histórica dos 315
embates políticos
REFERÊNCIAS
ROSAR, Maria de Fatima Felix, HORA, Lícia Cristina Araújo. Sujeitos Políticos
Coletivos. 1ª ed. São Paulo, Outras Expressões, 2017.
SAVIANI, Dermeval. O choque teórico da politecnia. Trabalho, Educação e
Saúde. v. 1, n. 1, p. 131-152, 2003.
Regina Cabral
96
1. Introdução
97 ONG (também conhecida como Instituto Formação) que concebeu e implementou, em parceria
com Prefeituras da Baixada Maranhense, o projeto educativo do CEMP.
98 Articulação de secretários e ex-secretários de educação da Baixada Maranhense.
O desafio então lançado pelo Prefeito de São Bento foi aceito e, desde
aquele momento, ainda em 2003, foi sendo construído simultaneamente um
prédio e um projeto educativo para o primeiro CEMP.
De acordo com o Instituto Formação, o maior desafio não foi o de
estruturar um desenho inovador para o CEMP, na Baixada Maranhense, mas todo
o currículo, as ementas de cada nova disciplina proposta na grade e a organização
de material didático para referências e aprofundamentos. Tudo isso ocorrendo de
forma simultânea ao processo de formação de professores, e ao mesmo tempo
em que necessitavam: compreender o novo projeto de ensino médio integrado
à educação profissional e ao desenvolvimento territorial; entender a disciplina
proposta e acessar material para a própria formação e trabalho em sala de aula.
Toda essa simultaneidade na ação formativa visava garantir o êxito do Projeto
Educativo do CEMP, que foi gradativamente sendo concebido e implantado
como uma unidade de produção e socialização de conhecimento específico para
o desenvolvimento territorial,
99 Embora se considere o segmento de pais dos alunos da escola, como sendo fundamental na
construção do projeto educativo, que abrange da família à escola, no primeiro ano da experiência, 2004, a
sua participação foi mais efetiva, embora ainda muito tímida, nos seminários temáticos. No ano de 2005, as
famílias foram incluídas em programações realizadas de forma mais direcionada aos pais.
100 O desenho curricular do Centro de Ensino Médio e Profissional da cidade de São Bento está anexado
a esse projeto, como apêndice. Do mesmo modo, a metodologia de construção do Projeto Educativo foi
anexada, de modo a permitir uma análise mais detalhada dessa concepção, que se adotou e cuja experiência
de implementação tem indicado que este pode ser um caminho muito rico de elaboração coletiva de uma
nova escola de ensino médio, para as regiões mais desfavorecidas.
Desde o início, o CEMP foi concebido não apenas como mais uma escola,
mas como um local de trabalho voltado para o desenvolvimento dessa região.
Segundo Bianka Pereira, Secretária de Educação do município de Palmeirândia,
Após essa primeira parte mais histórica, irei me deter mais detalhadamente
no projeto em si, ou seja, o que o compõe e o diferencia de outros projetos de
ensino médio integrado com a educação profissional.
4. Considerações finais
REFERÊNCIAS
CABRAL, Maria Regina Martins; ROSAR, Maria de Fatima Felix. Educação para
o Desenvolvimento do Território dos Campos e Lagos Maranhenses - Experiência
dos Centros de Ensino Médio e Educação Profissionalizante. Revista Pedagogia
Cotidiano Ressignificado, no. 3 v.1, p.119 - 146, 2008.
CABRAL, Maria Regina Martins; ROSAR, Maria de Fatima Felix (org.). Ensino
Médio e Educação Profissional no Maranhão. Editora Central dos Livros, São
Luís, 2004.
CABRAL, Maria Regina Martins; ROSAR, Maria de Fatima Felix (org.). Projeto
Jovem Cidadão. Editora Central dos Livros, São Luís, 2005.