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2019v4n1p69
Abstract: This article shows how in recent history of Educational Psychology theorists
considered relationships between motivation and self-regulation. More specifically,
the aim was to review the literature about motivational constructs that antecede and
further self-regulated learning. Researchers have chosen three theoretical models.
First, studies results about the efficacy beliefs and their role for self-regulated learning
were presented and discussed. Second, Achievement Goals Theory inspired many
studies and mastery goal appeared as more often related to self-regulated learning.
Last, some studies on the light of Self-Determination Theory provided evidences that
motivational quality for self-regulation matters. Conclusions were drawn from those
studies, and educational suggestions for teachers at school were proposed.
Keywords: Self-regulated learning. Learning strategies. Motivation for self-regulation.
Motivational theories.
Resumen: El artigo tuvo como foco presentar las maneras por las cuales los teóricos en
la reciente historia de la Psicología Educacional consideraran las relaciones entre
motivación y aprendizaje autorregulada. Más específicamente, fue presentada la
literatura sobre constructos motivacionales que preceden y fomentan el aprendizaje
autorregulado. Los investigadores han escogido tres modelos teóricos. Primero, fueran
presentados y discutidos los resultados de investigaciones sobre las creencias de
autoeficacia y su relación con aprendizaje autorregulado. Segundo, la Teoría de Metas
de Realización inspiró muchos estudios y la meta de logro surgió más frecuentemente
como asociada con aprendizaje autorregulado. Finalmente, algunas investigaciones
con el enfoque de la Teoría de Autodeterminación proporcionaron evidencias sobre la
relevancia de la calidad de la motivación. De los estudios fueran extraídas
conclusiones, así como sugestiones para profesores en el contexto educacional.
Palabras clave: Autorregulación del aprendizaje. Estrategias de aprendizaje.
Motivación para autorregulación. Teorías motivacionales.
O presente texto
Bandura (1997) destacou ainda que a crença nas próprias capacidades para atingir
resultados desejados é poderoso fator de influência sobre a motivação para agir, para o
estabelecimento de metas, a aplicação de esforço e persistência diante de dificuldades
e fracassos. Em revisões da literatura estão bem documentados esses efeitos específicos
da autoeficácia (por ex., BANDURA, 1997; USHER; PAJARES, 2008).
Porém, para a mensuração desse constructo, Bandura (1997) enfatizou que ele
deve ser considerado sempre em relação a ações específicas, como resolver certo
problema, produzir determinado texto e assim por diante. Uma área específica bem
examinada em relação com autoeficácia é a autorregulação das aprendizagens (USHER;
PAJARES, 2008). Crenças pessoais na capacidade de autorregulação, autoeficácia para
aprendizagem autorregulada e autoeficácia autorreguladora são diferentes rótulos
utilizados pelos pesquisadores interessados em investigar o uso de estratégias de
autorregulação em situações de aprendizagem. Pintrich (2004) e Zimmerman (2013) são
teóricos que colocaram a autoeficácia como um dos fatores motivacionais críticos em
todas as fases de seus respectivos modelos de autorregulação da aprendizagem.
Empiricamente, a relevância da autoeficácia percebida para a autorregulação da
aprendizagem foi amplamente documentada na literatura, como se pode verificar nas
revisões empreendidas, por exemplo, por Caprara et al. (2008), por Usher e Pajares
(2008) e por Zimmerman (2000).
Como amostra ilustrativa da relação entre autoeficácia e uso de estratégias de
aprendizagem autorregulada, o estudo clássico de Zimmerman e Martinez-Pons (1990)
explorou a autoeficácia verbal e matemática de alunos do ensino fundamental. As tarefas
nas duas áreas sobre as quais foi avaliada a autoeficácia eram bem específicas. Aos
alunos foram apresentadas situações hipotéticas de aprendizagem e lhes era solicitado
que apontassem estratégias de autorregulação necessárias para os problemas
apresentados. Como resultado, tanto a autoeficácia verbal como a matemática
correlacionaram-se positivamente com estratégias como estabelecimento de metas e
planejamento, tomada de anotações, monitoramento e autoavaliação. Houve diferenças
entre alunos mais dotados e seus colegas, bem como em função da idade.
Entre as publicações mais recentes, pode citar-se o estudo de Lee, Lee e Bong
(2014) com alunos do ensino médio coreanos. Foram comparados os efeitos do interesse
comparação social (ser melhor que os outros) prediz uso de estratégias de profundidade
e bom desempenho. Essa relação não foi constatada quando a medida dessa meta
focalizava o desejo de aparecer como inteligente, pois, nesse caso, está relacionada com
menos interesse pelas aprendizagens em si e, portanto, com despreocupação pelas
estratégias.
Valle et al. (2009) identificaram quatro grupos distintos de estudantes
secundaristas mexicanos, em termos de orientação a metas. Com a abordagem centrada
na pessoa (para esse conceito, ver, por ex., VANSTEENKISTE; MOURATIDIS 2016), todos
os alunos foram reunidos em quatro grupos em função da combinação de metas diversas
a que se orientavam. Na sequência, os autores examinaram como alunos de cada grupo
relataram uso de estratégias cognitivas e de autorregulação, que apareceu
significativamente mais presente no grupo de alta motivação generalizada (isto é, com
mescla de motivos) e no grupo de orientação à meta domínio.
Com adolescentes portugueses, Paulino, Sá e Silva (2015) encontraram correlação
positiva elevada entre os escores em autorregulação da motivação e a meta de
aprendizagem (outro nome para a meta domínio). Em outras palavras, a orientação à
meta de aprendizagem (domínio) apareceu altamente associada com os motivos que
levam os alunos a regularem a sua motivação, que foi o principal foco do estudo. Em
contrapartida, surgiu correlação moderada entre autorregulação da motivação e meta de
resultado-aproximação (meta performance-aproximação). Porém, foi mais alta que neste
último caso a correlação com os escores na meta resultado-evitamento, um dado que foi
explicado pelas autoras como possivelmente vinculado à diminuição da motivação dos
estudantes no decorrer dos anos escolares e à diminuição do uso de estratégias de
aprendizagem pelos adolescentes, problemas inerentes ao desenvolvimento que
necessitam de mais investigações.
Ao pesquisarem uma grande amostra de estudantes peruanos do ensino médio,
Matos, Vansteenkiste e Mouratidis (2017) identificaram apenas discreta evidência sobre
a relação entre as metas domínio e performance-aproximação combinadas e uso de
estratégias e desempenho em matemática. Por outro lado, a orientação exclusiva à meta
domínio revelou-se fortemente relacionada com uso de estratégias e desempenho.
Com a mesma abordagem centrada na pessoa adotada por Valle et al. (2009),
Linnenbrink-Garcia et al. (2018), num estudo com universitários e em relação a
disciplinas de ciências, identificaram quatro perfis motivacionais não apenas em função
da meta de realização como também dos constructos expectativa e valor, buscando
associação com uso de estratégias, entre outros efeitos. Os níveis mais altos de
engajamento em estratégias foram encontrados nos perfis caracterizados por mais altos
níveis de orientação à meta domínio, de competência percebida e de valorização da
tarefa. Os autores argumentaram pela necessidade de se adotar mais de uma perspectiva
teórica na formação dos perfis formados em função da combinação de constructos
motivacionais.
No Brasil, Nascimento et al. [2018] investigou também em alunos universitários a
autorregulação pelo uso de estratégias cognitivas, metacognitivas e de gerenciamento
do tempo, para o cumprimento da tarefa específica de produção de um texto. Além de
avaliar essas estratégias, a autora também levantou na amostra a orientação à meta
domínio-aproximação e, adicionalmente, seguindo sugestão de Urdan (1997), a
orientação a metas extrínsecas, como obter boa nota ou ser reconhecido.
Metodologicamente, foi adotada no estudo a abordagem centrada na pessoa, com a qual
se identificaram perfis distintos de alunos quanto ao uso de estratégias autorreguladas
de forma combinada. Um grupo era formado por alunos altamente regulados, outro
grupo era de baixa regulação e outros dois, de nível intermediário. Não houve diferença
significativa entre os escores nas metas extrínsecas reveladas pelos quatro grupos.
Porém, os escores na meta domínio, que é a mais adaptadora, foram significativamente
mais elevados no grupo de alta regulação, em comparação com os demais. Em conclusão,
a autora destacou as vantagens de se avaliar a aprendizagem autorregulada em relação
a uma tarefa específica, a formação de perfis de autorregulação que combinam graus
diversos de uso de estratégias e, por fim, discutiu o resultado de que melhor qualidade
motivacional foi encontrada em alunos altamente regulados.
Pela Teoria da Autodeterminação, desenvolvida por Deci e Ryan (1985) Ryan e Deci
(2017), a motivação é um conceito multidimensional, que varia em termos de qualidade
e, mais especificamente, em termos de autodeterminação. Seus autores propuseram que
as pessoas podem apresentar um dos tipos motivacionais, que se estendem num
continuum de autorregulação motivacional, ou seja, que variam na medida em que os
indivíduos livremente se envolvem numa atividade. Assim, afora o estado possível de
desmotivação, configura-se a motivação controlada e, também, a motivação autônoma,
que é de melhor qualidade. A primeira forma engloba a motivação extrínseca por pura
regulação externa (como para obter boas notas) e a introjetada (motivação, por exemplo,
para ser reconhecido), enquanto que a autônoma abarca a motivação intrínseca e a
motivação extrínseca por regulação identificada, em que a aprendizagem é vista como
pessoalmente importante. Outros aspectos centrais da teoria, bem como os efeitos
diferenciados de cada modalidade expressa no continuum, acham-se expostos numa
grande quantidade de publicações (por exemplo, GUAY et al., 2010; RYAN; DECI, 2017;
VANSTEENKISTE et al., 2009).
Além disso, os alunos variam não apenas quando se consideram os escores em cada
modalidade qualitativa da motivação, segundo o continuum da autorregulação, como
variam em função das combinações possíveis, o que tem sido explorado em estudos com
metodologia centrada na pessoa (VANSTEENKISTE; MOURATIDIS, 2016). Vansteenkiste
et al. (2009), com essa metodologia, identificaram quatro perfis de alunos: os com alta
motivação autônoma e baixa controlada, os com baixa motivação autônoma e alta
controlada; baixos níveis em ambos os tipos; e altos níveis em ambos os tipos. A
descoberta mais saliente do estudo foi que os alunos do primeiro grupo, caracterizados
como de boa motivação, revelaram, quando comparados aos demais, uma adoção mais
acentuada de estratégias como elaboração, pensamento crítico e gerenciamento do
tempo e, por fim, apresentaram os melhores resultados de aprendizagem. Os autores
apontaram, como conclusão, como a qualidade motivacional faz diferença para o
processamento cognitivo e uso de estratégias de autorregulação.
Considerações finais
Referências
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