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Psico-USF, v. 10, n. 1, p. 105-106, jan./jun.

2005 105

Aprendizagem: processos psicológicos e o contexto social na escola

Fabiano Koich Miguel*

Boruchovitch, E., & Bzuneck, J. A. (Orgs.). (2004). Aprendizagem: processos psicológicos e o contexto social
na escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 282 p.

Para que a escola possa cumprir seu papel de e afetivos, o que será útil não apenas na escola, mas
desenvolver ao máximo o aprendizado dos alunos, é também em seu desenvolvimento profissional. Utilizando
necessário conhecer como a aprendizagem se processa, como referência a teoria do processamento de informação,
ou seja, de que maneira o aluno aprende, e também as autoras demonstram que os desafios do jogo são
quais os fenômenos que o influenciam. O livro representativos das exigências da vida real, portanto, seu
organizado por Evelyn Boruchovitch e José Aloyseo uso tem fins de aprendizagem.
Bzuneck reúne nove artigos atuais e concernentes à O quarto capítulo, intitulado A importância da
Psicologia Educacional, que buscam lançar luz sobre compreensão de leitura para a aprendizagem de universitários, de
diferentes visões da área. Acácia Aparecida Angeli dos Santos e Katya Luciane de
No primeiro capítulo, chamado Aprendizagem Oliveira, apresenta a leitura como importante via de
por processamento da informação: uma visão construtivista, José comunicação entre sujeito e sociedade. Destacando a
Aloyseo Bzuneck expõe a ótica construtivista do modelo visão cognitivista no entendimento do processo de
de processamento de informação. A nova abordagem aprendizagem, as autoras revisam diversos estudos
concentra-se apenas no funcionamento cognitivo, expli- explicativos das habilidades mentais e sugerem o teste de
cando a atividade mental do aluno individualmente. O Cloze como instrumento de avaliação da compreensão de
autor descreve o fluxo da informação, explicando os leitura. Criticam, ainda, a reduzida habilidade de estudantes
papéis e limitações dos tipos de memória que selecionam universitários em compreender textos científicos e
a entrada de informação do ambiente, processam as desenvolver argumentos críticos, resultado da insatisfatória
informações, operam e codificam o novo conhecimento escolarização, destacando a responsabilidade das
associando-o a um já existente, para então armazená-lo universidades no processo de formação profissional.
de maneira organizada e poder recuperá-lo posteriormente. O quinto capítulo foi escrito por Sonia Regina
Esse esquema é usado para explicar a incapacidade de Loureiro e Paula Cristina Medeiros e se chama Crianças com
alguns alunos de focar a atenção, descrevendo estratégias dificuldades de aprendizagem: vulnerabilidade e proteção associadas
adequadas e inadequadas tanto de professores quanto de à auto-eficácia e ao suporte psicopedagógico. As autoras utilizam
alunos no processo de aprendizagem. a abordagem desenvolvimentista para conceituar situações
Evelyn Boruchovitch, no segundo capítulo, A de risco no contexto escolar e apresentar a dificuldade de
auto-regulação da aprendizagem e a escolarização inicial, revê o aprendizagem como fator de vulnerabilidade no desenvol-
conceito de auto-regulação em diversas abordagens vimento infantil. Destaca-se a autopercepção do aluno em
teóricas, inclusive do processamento de informação, para relação à sua auto-eficácia como determinante do rendi-
expor a importância da metacognição desde a infância e, mento acadêmico, apontando uma pesquisa cujo resultado
especialmente no ensino fundamental, para desenvolver incentiva o uso de programas de intervenção psicopeda-
estratégias de autocontrole. A autora cita pesquisas que gógica em crianças com baixo desempenho escolar.
demonstram que atrasos no desenvolvimento metacogni- No sexto capítulo, Necessidade de pertencer: um
tivo estão relacionados a baixo desempenho escolar, motivo humano fundamental, Sueli Edi Rufini Guimarães
sugerindo estratégias motivacionais que promovam o mostra a escola como um importante ambiente de inte-
desenvolvimento da auto-regulação, responsabilizando ração com outras pessoas, especialmente na adolescência,
o aluno pela sua aprendizagem. quando surgem mais dificuldades ligadas ao social, e
O terceiro capítulo, A aprendizagem por meio de apresenta elaborações teóricas sobre a necessidade hu-
jogos: uma abordagem cognitivista, escrito por Maria Aparecida mana de pertencer, levando em consideração a percepção
Mezzalira Gomes e Evely Boruchovitch, apresenta os da qualidade do vínculo com os outros. A autora apre-
benefícios de se utilizarem jogos com alunos, que podem senta pesquisas que demonstram a importância da figura
servir tanto para fins de diagnóstico e intervenção, quanto do professor, e também a relação entre o sentimento de
para auxiliar a criança a auto-avaliar seu desempenho e pertencer e melhor qualidade de vida, tanto escolar
desenvolver a auto-regulação de seus processos cognitivos quanto pessoal e social.
*Endereço para correspondência:
E-mail: fabianokm@yahoo.com
Psico-USF, v. 9, n. 2, p. 221-222, Jul./Dez. 2004
106 Fabiano Koich Miguel

Carolina Lisboa e Sílvia Helena Koller, no sétimo Rufini Guimarães expõem diversas situações no ambiente
capítulo, Interações na escola e processos de aprendizagem: fatores escolar, em que a competição é estimulada pelos professores
de risco e proteção, retratam a escola não apenas como um ao comparar o desempenho de alunos, ainda que a intenção
ambiente de aquisição de conhecimentos, mas também de tenha sido benéfica. Os autores citam pesquisas que
desenvolvimento social para os jovens. Criticando a maior estudam os efeitos desse contexto na autopercepção das
ênfase da Psicologia Educacional nos aspectos cognitivos habilidades, na auto-estima e na motivação dos alunos,
dos alunos, as autoras utilizam a Teoria dos Sistemas Eco- e também nas estratégias que eles usam para lidar com
lógicos para também entender a qualidade das interações isso. Revendo abordagens teóricas que explicam esse
com professores e pares, que podem gerar fatores de fenômeno, sugerem-se alguns procedimentos mais
proteção ou situações de risco, como a vitimização. eficazes para ser usados por professores.
Em Interação social, cooperação e aprendizagem, oitavo Os capítulos que compõem essa obra tomam o
capítulo, Fermino Sisto, numa abordagem piagetiana que cuidado de explicar detalhadamente os conceitos de que
considera a interação social fundamental para a apren- fazem uso, revendo o arcabouço teórico da Psicologia
dizagem, conceitua dois tipos de conflito: cognitivo e Educacional e citando pesquisas pertinentes, recentes e
sociocognitivo. Para ambos, o autor apresenta a definição nacionais. Além de apontar a adequação ou inadequação
dos construtos e suas influências nas situações de apren- de estratégias de aprendizagem, tanto de professores quan-
dizagem, assim como suas limitações, comentando os resul- to de alunos, os autores sugerem novos procedimentos,
tados das pesquisas desenvolvidas no Brasil, questionando, sejam de intervenção, sejam de prevenção, que podem
inclusive, a metodologia de algumas delas, e expondo ser adotados pela instituição educacional. Por isso, essa
algumas questões pertinentes que permanecem em aberto. obra é recomendada aos profissionais envolvidos com o
No nono e último capítulo, Aprendizagem escolar contexto escolar, sejam eles professores, educadores,
e contextos competitivos, José Aloyseo Bzuneck e Sueli Edi psicopedagogos ou psicólogos.

Sobre o autor:

Fabiano Koich Miguel é psicólogo, especialista em Psicologia do Trânsito e mestrando em Psicologia pela
Universidade São Francisco.

Psico-USF, v. 10, n. 1, p. 105-106, jan./jun. 2005

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