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INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM
Niterói, 2020.
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM
Niterói, 2020.
THAÍS LEAL RODRIGUES
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Edila Vianna da Silva (orientadora) – UFF
____________________________________________________________
Prof. Dr. Ricardo Stavola Cavaliere – UFF
____________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Sílvia Rodrigues Vieira – UFRJ
___________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Mônica Maria do Rio Nobre – UFRJ
____________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Luiz Wiedemer – UERJ
_____________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Rigoni Costa – UNIRIO (suplente)
______________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Nilza Barrozo Dias – UFF (suplente)
AGRADECIMENTOS
A minha mãezinha, pelo exemplo de amor, fé e garra; a minha irmã amada, por sempre me
alentar e ser a minha dose de força diária; a minha sobrinha Poliana, por alegrar, adoçar e
colorir minha vida. Vocês são minha razão de viver!
À professora Edila Vianna da Silva, pela confiança, competência e compreensão com que me
atendeu; enfim, pela brilhante orientação, mas, sobretudo, pelo exemplo de profissional, de
amiga, de ser humano. A ela, meus mais sinceros e eternos sentimentos de gratidão, respeito,
admiração e amizade.
À amiga Idrissa, pelo incentivo e solicitude, pela ajuda com documentos, sugestões e
indicações; pelas longas conversas pessoal ou virtualmente; e, principalmente, pela amizade
verdadeira e apoio incondicional, por estar presente nos bons e maus momentos.
Aos professores Mônica do Rio Nobre e Ricardo Cavaliere, que tanto me ajudaram com suas
valorosas contribuições na Qualificação.
A minhas amigas Cristiane, Mônica e Shirley e minhas primas Gabriela e Janaína, por me
apoiarem, nos momentos de fraqueza. Especialmente a esta última, por me auxiliar no que diz
respeito a normas técnicas.
Muito obrigada!
“Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.”
(Oswald de Andrade)
(Manuel Bandeira)
LISTA DE QUADROS
Tabela 1: Distribuição dos dados com formas verbais simples, da pesquisa de Vieira (2002),
no corpus escrito do PB ......................................................................................................... 52
Tabela 2: Distribuição dos dados com locuções verbais, da pesquisa de Vieira (2002), no
corpus escrito do PB .............................................................................................................. 53
Tabela 3: Posição pronominal com verbos simples por gênero textual................................. 73
Tabela 4: Posição pronominal com verbos simples por categoria pronominal ..................... 77
Tabela 5: Posição pronominal com formas verbais simples por forma pronominal ............. 78
Tabela 6: Posição pronominal com formas verbais simples por tempo ou forma verbal ...... 80
Tabela 7: Posição pronominal com formas verbais simples por contexto morfossintático ... 83
Tabela 8: Uso da próclise segundo a variável contexto morfossintático ............................... 90
Tabela 9: Próclise segundo a variável gênero textual ........................................................... 92
Tabela 10: Próclise segundo a variável forma pronominal ................................................... 92
Tabela 11: Próclise segundo a variável categoria pronominal .............................................. 94
Tabela 12: Posição pronominal com locuções verbais por gênero textual ............................ 95
Tabela 13: Posição pronominal com locuções verbais por categoria pronominal ................ 97
Tabela 14: Posição pronominal com locuções verbais por forma pronominal ..................... 99
Tabela 15: Posição pronominal com locuções verbais por tempo/forma verbal do V1 ....... 102
Tabela 16: Posição pronominal com locuções verbais por forma do V2 ............................. 103
Tabela 17: Posição pronominal com locuções verbais por contexto morfossintático .......... 105
Tabela 18: Presença de preposição entre os verbos da locução ............................................ 107
Tabela 19: Próclise ao principal segundo a variável gênero textual ..................................... 109
Tabela 20: Próclise ao principal segundo a variável categoria pronominal ......................... 109
LISTA DE FIGURAS
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 15
1 Definição da pesquisa .......................................................................................................... 18
1.1 Objetivos ......................................................................................................................... 18
1.2 Problema e hipótese ........................................................................................................ 19
2 Fundamentação teórica ....................................................................................................... 21
2.1 A Sociolinguística lavobiana .......................................................................................... 21
2.2 Norma padrão e norma culta ........................................................................................... 24
2.3 Língua falada e língua escrita ......................................................................................... 28
2.4 Gêneros textuais .............................................................................................................. 31
3 Revisão bibliográfica ........................................................................................................... 36
3.1 A posição do clítico segundo gramáticas do português .................................................. 37
3.2 Locuções verbais ............................................................................................................. 46
3.3 Pesquisas sobre a posição do clítico em português ......................................................... 51
4 Metodologia .......................................................................................................................... 57
4.1 O corpus .......................................................................................................................... 58
4.2 Procedimentos de análise de dados ................................................................................. 64
5 Análise do corpus ................................................................................................................. 73
5.1 Formas verbais simples ................................................................................................... 74
5.1.1 Análise inicial ........................................................................................................... 74
5.1.2 Ponderação estatística .............................................................................................. 89
5.2 Locuções verbais ............................................................................................................. 95
5.2.1 Análise inicial ........................................................................................................... 96
5.2.2 Ponderação estatística ............................................................................................ 109
6 Considerações finais .......................................................................................................... 111
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 118
Anexo...................................................................................................................................... 124
15
INTRODUÇÃO
1 Definição da pesquisa
1.1 Objetivos
2 Fundamentação teórica
Com relação aos pressupostos teóricos, esta pesquisa se fundamenta na
Sociolinguística Variacionista, corrente linguística que teve início nos Estados Unidos,
na década de 1960. Os principais conceitos dessa teoria encontram-se descritos na seção
2.1. Faz-se necessário ainda elucidar a definição de alguns termos adotados nesta
pesquisa. Este capítulo, portanto, dedica-se também a fixar nossas concepções de língua
falada e língua escrita – suas diferenças e características; de gêneros textuais; de norma
padrão e norma culta, e de locuções verbais.
valor referencial, ou com o mesmo valor de verdade.” (COELHO, 2010, p. 23). Essas
formas que concorrem na variação são denominadas variantes. Dizemos que há
variação estável quando não se verifica predominância de uma variante sobre a(s)
outra(s) e, assim, a variação tende a se manter ainda por tempo. Por outro lado, é
possível afirmar que há uma mudança em curso, quando uma das variantes prevalece
categoricamente sobre a(s) outra(s), de modo que esta(s) tenderia(m) a cair em desuso,
configurando uma tendência à resolução do processo de variação.
Portanto, para Labov, a heterogeneidade não é aleatória e não significa ausência
de regras. Pelo contrário, a variação é sempre governada por um conjunto de regras e o
papel do cientista da língua é desvendar tais mecanismos. Toda língua possui regras
categóricas – como a posição do artigo com relação ao substantivo, sempre anterior, em
português (exemplo: o menino) – e regras variáveis, como a alternância entre tu e você,
como tratamento de segunda pessoa do discurso ou o preenchimento do objeto direto
que possui quatro variantes para a terceira pessoa: categoria vazia, objeto direto
anafórico, pronome ele ou clítico acusativo. Ambos os fenômenos referem-se ao
português do Brasil. Enfim, de acordo com esse modelo teórico-metodológico, um
fenômeno em variação jamais pode ser considerado irrelevante. Toda língua é
constituída de diferentes e legítimas formas de uso e todas estas têm a complexidade
necessária para cumprir suas funções. Portanto, o que muitos consideram “erro”, para o
sociolinguista é uma variante, isto é, uma possibilidade na língua em questão. As
variantes que materializam o fato variável são chamadas de variáveis dependentes. A
variação no uso das diversas formas linguísticas é condicionada por um conjunto de
fatores denominado variável independente. Tais fatores podem ser de ordem linguística
ou extralinguística. Exemplo do primeiro tipo de condicionamento é a pronúncia surda
ou sonora da consoante [s], a depender do contexto fonológico em que ocorre, isto é, se
antecede uma consoante surda, sua pronúncia também será surda; se, ao contrário,
precede uma consoante sonora, sua pronúncia será sonora, como em: raspa (surda) e
rasga (sonora). Por outro lado, os fatores extralinguísticos são, por exemplo, origem
geográfica; status socioeconômico; grau de escolarização; idade; sexo; profissão.
Labov (2008, p. 193) propõe uma estratégia para o estudo empírico das
mudanças linguísticas baseada em três problemas: a transição, o encaixamento e a
avaliação. O primeiro consiste em “encontrar o caminho pelo qual um estágio de uma
mudança linguística evolui a partir de um estágio anterior” (LAVOB, 2008, p. 193),
tendo em vista que as formas linguísticas não são imediatamente substituídas por novas,
23
1
Bortoni-Ricardo (2005, p. 92) se vale do conceito de rurbano “para definir populações rurais com
razoável integração com a cultura urbana e populações urbanas com razoável preservação de seus
antecedentes rurais”.
2
Para maior esclarecimento acerca da análise de redes sociais, consultar Bortoni-Ricardo (2005).
25
A pertinente observação de Neves evidencia que fala e escrita não podem ser
entendidas como pares antagônicos, em que a língua falada corresponde ao não padrão e
a língua escrita ao padrão, já que, na verdade, há textos orais em norma canônica e há
textos escritos em norma não canônica. Callou (2018, p.20) tece o seguinte comentário
acerca da tradicional dicotomia:
29
E essa multiplicidade diz respeito também à oposição fala e escrita, com suas
especificidades, semelhanças e diferenças. Hoje em dia, a posição que
prevalece é a de que representam códigos distintos, uma vez que, na fala,
lidamos com instabilidade, naturalidade, rapidez de produção, riqueza de
prosódia e, na escrita, com a sistematicidade e o permanente.
...a língua escrita ainda não recebeu esse ‘olhar’ que enxerga as suas
diferenças de uso; ou seja, ainda parece subsistir a impressão de uma língua
escrita uniformemente, totalmente estável, sem variações. Tal impressão é
naturalmente reforçada pelo viés da ortografia oficial, um padrão rígido e
inalterável, com mudanças pouco significativas em intervalos muito longos
de tempo. A visão de uma escrita uniforme repercute no trabalho da escola,
que, assim, privilegia o ensino de esquemas rígidos, em cujas formas todos os
textos têm de se encaixar.
Fica claro que não se pode caracterizar a língua falada estritamente como
informal e a língua escrita como formal, visão de língua que por muitos anos
influenciou o ensino. Como afirma Neves (2017, p. 94): “É importante no ensino que se
vejam mais as similaridades entre as modalidades do que as diferenças, e é preciso,
especialmente, rever o tratamento feito exclusivamente em termos de pares opositivos”.
30
As diferenças no uso de cada uma das modalidades da língua derivam das situações em
que os enunciadores se inserem, ou seja, o contexto de produção textual é responsável
pelos diferentes graus de planejabilidade do discurso, o que determinará as escolhas que
caracterizarão o texto. Cada pessoa produz o texto de acordo com seleções
condicionadas por fatores extralinguísticos relacionados às exigências da interação,
conforme comenta Antunes (2008, p. 208):
De acordo com Marcuschi (2002, p. 19), os gêneros textuais são entidades sócio-
discursivas, o que torna inegável sua característica variável ou, nas palavras do linguista
(2002, p. 19), “maleável, dinâmica e plástica”. Outro aspecto importante relacionado
aos gêneros textuais e mencionado por Marcuschi (2002, p. 19) é o fato de serem
fenômenos históricos e, portanto, efêmeros. Os gêneros surgem e desaparecem
conforme as necessidades de comunicação e as atividades da cultura na qual são
utilizados. Consequentemente, relacionam-se também aos eventos tecnológicos, como a
32
Como afirmado, não é difícil constatar que nos últimos dois séculos foram as
novas tecnologias, em especial as ligadas à área da comunicação, que
propiciaram o surgimento de novos gêneros textuais. Por certo, não são
propriamente as tecnologias per se que originam os gêneros e sim a
intensidade dos usos dessas tecnologias e suas interferências nas atividades
comunicativas diárias. Assim, os grandes suportes tecnológicos da
comunicação tais como o rádio, a televisão, o jornal, a revista, a internet, por
terem uma presença marcante e grande centralidade nas atividades
comunicativas da realidade social que ajudam a criar, vão por sua vez
propiciando e abrigando gêneros novos bastante característicos.
No entanto, os gêneros que surgem não são realmente inovadores, já que o que
ocorre na verdade é a assimilação de um gênero por outro, ou seja, o surgimento de um
novo gênero a partir da reformulação de outro, como é o caso do e-mail que guarda
similaridades com a carta. Bakhtin (1997) chamou esse fato de transmutação dos
gêneros.
De acordo com a exposição feita na Introdução desta tese, os gêneros dos textos
aqui analisados são: crônica jornalística, reportagem de revista de informação, artigo
acadêmico e edital de abertura de concurso público. Descrevemos cada um a seguir.
A crônica (do grego khroniká, relativo ao tempo) é um gênero narrativo, que
conta fatos históricos ou atuais. Geralmente, são publicadas em jornais e revistas, mas
também são encontradas no formato de livros e coletâneas. Destinam-se à leitura diária
ou semanal e tratam de acontecimentos cotidianos. A notícia distingue-se da crônica, já
que a primeira busca relatar os fatos de maneira objetiva e exata, ao passo que a
segunda os analisa, imprimindo-lhes subjetividade e revelando a impressão pessoal do
cronista com respeito ao acontecimento observado. O tema pode constituir-se de
notícias muito comentadas até uma situação simples e corriqueira do mundo
contemporâneo, geralmente da vida urbana, eventos narrados de modo a revelar uma
perspectiva peculiar do ocorrido, com o uso de uma linguagem trabalhada. Por esses
motivos, costuma-se afirmar que a crônica é um gênero que mistura jornalismo e
literatura. As personagens da crônica não se apresentam por meio de uma descrição
33
psicológica profunda, mas por uma caracterização genérica; tampouco costumam ser
nomeadas.
A reportagem é um gênero textual que informa sobre determinado fato, atual ou
antigo, de interesse do leitor a que se destina a revista. O gênero pode conter
depoimentos, opiniões, entrevistas e dados estatísticos, que corroboram os
acontecimentos. A reportagem não é uma simples narração de um evento, pois o
repórter apresenta também sua própria interpretação. A linguagem utilizada é impessoal
e objetiva, com a intercalação entre discursos direto e indireto, de modo a registrar os
diferentes pontos de vista dos sujeitos envolvidos nos fatos. Sua estrutura mais comum
é: a) título: anuncia o fato abordado; b) subtítulo: busca atrair o interesse para o assunto;
c) lead: apresenta o resumo da matéria, normalmente, no primeiro parágrafo da
reportagem; d) corpo: expõe o fato, em nível mais amplo. É comum também o uso de
fotos que complementam a matéria. Bahia (1990, p. 49-50) aponta algumas diferenças
entre a notícia e a reportagem, dentre as quais se destacam: a notícia expõe o fato no
mesmo dia em que ele ocorre ou no dia seguinte, a reportagem mostra como isso se deu;
a notícia não vai além da notificação, a reportagem extrapola a mera notificação e
apresenta o detalhamento, o questionamento de causa e efeito, a interpretação e o
impacto dos fatos.
O artigo científico é um gênero que serve para a divulgação dos resultados de
pesquisas científicas. Surgiu com a criação do primeiro periódico científico, na década
de 60. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é o órgão responsável por
elaborar as normas que regem esse tipo de publicação quanto à sua organização. Na
NBR 6022/2003, a associação conceitua esse gênero como “parte de uma publicação
com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e
resultados nas diversas áreas do conhecimento” (ABNT, 2003, p.2). Consequentemente,
o artigo científico serve como via de comunicação entre pesquisadores, profissionais,
professores e alunos de graduação e de pós-graduação. Dada a sua natureza, a
linguagem empregada no artigo científico é sempre formal, objetiva e clara, a fim de
que possa ser acessível a um amplo público.
O gênero edital é um documento muito utilizado por instituições públicas e
privadas do país, com o intuito de divulgar determinada notícia, fato ou ordenança, por
meio da imprensa ou sítios públicos, para conhecimento geral. Estruturalmente, o edital
é composto por muitos itens e subitens, que variam de acordo com o tipo e são “detalhes
necessários para uma possível resposta do interlocutor, ou seja, do interessado, pelo fato
34
3 Revisão bibliográfica
1ª pessoa singular me me me
2ª pessoa singular te te te
Deu-me a notícia.
Não me deu a notícia.
Dar-me-ás a notícia.
este critério não se devem iniciar nem períodos, nem orações com pronome átono.
Assim, os que adotam tal critério condenam o uso de pronome no início de oração
dentro do período. A terceira e última observação ressalta o uso comum do pronome em
início de período, em expressões populares cristalizadas. O exemplo dado é a frase
popular “Te esconjuro!”.
O segundo critério apontado é: “Não se pospõe, em geral, pronome átono a
verbo flexionado em oração subordinada: Confesso que tudo aquilo me pareceu
obscuro” (BECHARA, 2003, p. 588). A essa regra também é acrescentada uma
observação. Bechara (2003, p. 588) observa que é comum ocorrer a ênclise do pronome
átono: 1) na segunda oração subordinada, quando esta está coordenada à outra; 2)
quando na subordinada se intercalam palavras ou oração, exigindo uma pausa antes do
verbo.
Dando continuidade, Bechara (2003, p. 589) apresenta um terceiro critério: “Não
se pospõe pronome átono a verbo modificado diretamente por advérbio (...) ou
precedido de palavra de sentido negativo”. Em seguida, esclarece que, no caso de haver
uma pausa depois do advérbio, a posição do clítico é opcional. O quarto princípio
aplica-se à posição do clítico junto a verbos conjugados no futuro do presente ou do
pretérito, com os quais não se usa ênclise, segundo o gramático (BECHARA, 2003, p.
589), e as outras posições podem ocorrer quando as outras regras não são infringidas. O
último critério diz respeito a orações iniciadas por palavras interrogativas ou
exclamativas, casos em que se deve empregar a próclise.
Já com relação aos casos em que o pronome se relaciona a mais de um verbo,
isto é, a uma locução verbal, duas situações são levadas em conta: aquelas em que o
auxiliar se une a um infinitivo ou a um gerúndio e aquelas em que o auxiliar se une a
particípio. No primeiro contexto, segundo Bechara (2003, p. 589 - 590), o pronome
átono pode aparecer, desde que não sejam refutados os princípios antes mencionados,
proclítico ou enclítico ao auxiliar ou enclítico ao principal. Os exemplos dados para
cada situação, respectivamente, são (BECHARA, 2003, p. 590):
Eu estou falando-lhe.
Note-se que, nos casos em que o clítico se intercala aos verbos ou a eles se
pospõe, usa-se o hífen, nesses exemplos. No entanto, o gramático observa o uso
frequente entre os brasileiros, tanto na modalidade oral quanto na escrita, da próclise ao
verbo principal – sem hífen, na escrita – e esclarece que esse uso só é aceito pela
gramática clássica se o infinitivo estiver precedido de preposição, como no exemplo
dado: “Começou a lhe falar” (BECHARA, 2003, p. 590).
O segundo contexto considerado por Bechara (2003, p. 590), auxiliar seguido de
particípio, resume-se ao princípio de que “jamais se pospõe pronome átono a particípio”
(BECHARA, 2003, p. 590). Portanto, o clítico pode encontrar-se antes ou depois do
auxiliar. Nesse último caso, prescreve-se, na gramática em questão, o uso do hífen,
muito embora haja a seguinte nota: “Entre brasileiros também ocorre a próclise ao
particípio” (BECHARA, 2003, p. 590).
Bechara também expõe dois casos em que a posição do pronome é fixa: 1) com
gerúndio precedido da preposição em e 2) nas orações exclamativas ou optativas, com
sujeito anteposto a verbo no subjuntivo. Um célebre exemplo da primeira circunstância
é a expressão “em se plantando tudo dá”, que remete à Carta escrita por Pero Vaz de
Caminha ao rei Dom Manuel, na qual descreve suas impressões sobre o Brasil. Com
relação ao segundo caso, um dos exemplos dados por Bechara (2003, p. 591) é o
seguinte: “Bons ventos o levem!”.
Bechara (2003, p. 591) finaliza a seção com uma explicação sobre a colocação
dos pronomes átonos no Brasil. Vale a pena citar o comentário a seguir:
Linhas adiante, Bechara (2003, p. 591) afirma que, no Brasil, é possível começar
período com o clítico, na linguagem coloquial. Contudo, não fica claro o que ele
considera linguagem coloquial, pois não menciona fatores importantes para esta
definição, tais como: gênero textual, situação comunicativa, modalidade da língua etc. É
40
pronominal, em PB e PE, com ênfase no estudo diacrônico até a década de 90. Não há
uma descrição minuciosa do fenômeno no PB atual.
Azeredo (2010), em sua Gramática Houaiss, descreve as regras de colocação dos
pronomes oblíquos átonos, que, segundo ele, “está condicionada a fatores de três
ordens: sintática, prosódica e sociocomunicativa” (AZEREDO, 2010, p. 258). Tal
gramática, segundo se informa em sua Apresentação, tem como objeto de estudo a
variedade padrão do português brasileiro escrito em uso. O corpus analisado é formado
por obras literárias, técnicas, científicas, ensaísticas e jornalísticas, publicadas a partir
da segunda metade do século XIX.
Essa obra considera a variação no uso e posicionamento dos pronomes. O
gramático (AZEREDO, 2010, p. 259) comenta que há duas variáveis prosódicas do
fenômeno da sínclise pronominal: “o padrão que determina a distribuição dos acentos de
intensidade; e de que modo os vocábulos átonos se subordinam aos que contêm sílaba
tônica para a formação dos vocábulos fonológicos”.
Por outro lado, no que diz respeito aos fatores sociocomunicativos de
condicionamento da escolha da posição dos pronomes, Azeredo (2010, p. 259) afirma
que é necessário levar em consideração a variedade de língua empregada e a situação
discursiva. O gramático (2010, p. 259) comenta as diferenças entre as variedades culta e
popular e entre os registros formal e informal da língua, no que concerne a esse tema.
Salienta que os clíticos acusativos de terceira pessoa, foneticamente raros (tendo em
vista que se constituem de uma única vogal, ao passo que a maioria dos átonos tem a
estrutura CV), são adquiridos por ação da escola e só são usados em situações formais e
de discurso planejado.
Ainda com relação ao ponto de vista prosódico, Azeredo (2010, p. 259) afirma
que a próclise é a posição pronominal “mais favorecida pelo ritmo da frase no português
do Brasil”. Essa posição favorece o relevo fonético dos pronomes, tornando-os
semitônicos. É, pois, a posição natural, no PB, segundo o gramático (AZEREDO, 2010,
p. 259).
Não é outra a razão do conhecido hábito brasileiro de ‘começar frase com
pronome átono’, fato que em épocas não tão remotas causava horror aos
gramáticos mais puristas.
com a situação comunicativa, que “pode revelar alto grau de monitoramento (...),
quando não certo artificialismo do discurso” (AZEREDO, 2010, p. 260).
No que tange ao condicionamento sintático, Azeredo (2010, p. 260) aponta três
aspectos a considerar: se o pronome se relaciona a uma forma verbal simples ou a uma
locução verbal; se o pronome é complemento, parte integrante do verbo ou índice de
indeterminação; ou se há alguma particularidade que imponha a posição do pronome.
Levando em consideração os três fatores mencionados, registra as seguintes normas de
colocação do clítico:
1) Pronome atrelado à forma simples do verbo
a) A próclise é o uso padrão generalizado, inclusive na variedade culta, se o
pronome é antecedido imediatamente de advérbio ou pronomes de
significação negativa e de conectivo de subordinação (especialmente com
verbo no subjuntivo).
b) As variantes -lo, -la, -los, -las dos pronomes de terceira pessoa são sempre
enclíticas ao infinitivo e às formas terminadas em -s e -z.
c) As variantes -no, -no, -nos, -nas dos pronomes de terceira pessoa são sempre
enclíticas às formas terminadas em vogal ou ditongo nasal e são de uso
estritamente formal.
d) Com verbos no futuro do presente ou do pretérito e sujeito explícito, usa-se a
próclise.
e) A regra anterior possui variantes ultraformais, restritas à modalidade escrita,
a saber, o uso do pronome mesoclítico ao verbo.
gêneros textuais e a variação existente, tanto nos gêneros orais, quanto nos escritos
(MARCUSCHI, 2001), consegue dar conta desses questionamentos.
Cunha e Cintra (2001, p. 309) são ainda mais tradicionais ao afirmarem que a
posição “lógica, normal” do clítico é a ênclise. Por que lógica? E normal para quem?
Isso não é discutido. Portanto, mesmo que mais adiante reconheçam que há casos em
que, na língua culta, se evita tal uso, no PB, fica clara a visão implícita de que a
variedade tomada como padrão/modelo é a lusitana, uma vez que, como já comentamos,
a preferência pela ênclise no PE e pela próclise, no PB, tem explicações que se baseiam
nos padrões rítmicos, na prosódia de cada variedade. Falta, então, uma argumentação
mais rigorosa para essa afirmação. Destacamos o seguinte comentário sobre esse tema:
próclise ao verbo principal. Nos dois casos, comenta que são aspectos em que o PB se
diferencia do PE. Temos, pois, um ponto de vista descritivo bastante diferente.
A gramática Houaiss também visa à descrição do PB e toma como corpus textos
de diferentes gêneros. Azeredo (2010) parte de uma explicação prosódica para afirmar
que a próclise é a posição preferida no PB. Além disso, conclui que a ênclise é um traço
de formalismo. Trata-se, portanto, de uma perspectiva bem diferente das gramáticas
tradicionais, pois toma os usos brasileiros como ponto de partida. O gramático
(AZEREDO, 2010) considera também, além de fatores de ordem prosódica e sintática,
os de ordem sociocomunicativa. Como já comentamos, quando apresenta a norma
brasileira de posicionamento do clítico, leva em conta as diferenças entre variedades
culta e popular, registro formal e informal, modalidade escrita e falada, situação
comunicativa e grau de monitoramento: uma inovação.
3
Perini (2010, p. 135) define valência verbal como o conjunto delimitado de construções em que um
verbo pode ocorrer. Isso abrange os complementos compatíveis com cada verbo, sua forma sintática e
seus papéis temáticos.
47
conseguinte, o primeiro verbo não é um auxiliar e há, então, dois verbos e duas orações,
neste caso. Perini (2010, p. 238) inclui no grupo de locuções verbais os tempos
compostos (inclusive a forma ir + infinitivo, que ele denomina como futuro composto, e
também estar/andar/vir + gerúndio, que são chamados por ele de tempos progressivos).
Além de ter, ir, estar, andar e vir, antes mencionados, Perini (2010, p. 238) também
considera verbos auxiliares os modais, pois apresentam “comportamento sintático e
valencial análogo ao dos demais auxiliares”.
Quanto aos verbos modais, há aqueles que exprimem uma noção semântica e
aspectual de início, fim ou continuidade do evento. Estes se unem a um infinitivo por
meio de preposição, como: começar a, acabar de, terminar de, continuar a, parar de.
Nesta lista também se incluem os que se unem a um gerúndio, sem a necessidade de
uma preposição. Os exemplos dados por Perini (2010, p. 239) são os seguintes: 1)
“Continuou chovendo o dia todo”; e 2) “O rapaz acabou brigando com os colegas”.
Outros verbos citados pelo gramático como modais são dever, ter (que) e querer. O
primeiro, para Perini, só é modal quando significa “ser provável”. Quando tem sentido
de obrigação não é auxiliar, na opinião do gramático. O segundo é modal quando
expressa obrigação, dever ou necessidade, como em: 1) “Esse menino tem que estudar
mais”; e 2) “Tem que chover, senão vamos perder a safra”. O terceiro verbo é modal
quando é acompanhado do auxiliar estar, numa locução de três verbos: 1) “Está
querendo chover”.
Perini aponta algumas diferenças entre os verbos auxiliares modais e os não
modais, dentre elas, o fato de um não modal acrescentar “ao verbo principal um
ingrediente semântico que não é previsível a partir de seu significado quando tomado
separadamente” (PERINI, 2010, p. 240); ao passo que um modal continua com seu
significado, mesmo quando é um auxiliar. Como exemplo, cita os verbos ir e andar, que
expressam movimento, porém, como auxiliares, perdem esse valor semântico. Por outro
lado, menciona o modal começar que continua dando ideia de início, inclusive como
auxiliar.
Por outro lado, Bechara (2003, p. 230) define locução verbal como “a
combinação das diversas formas de um verbo auxiliar com o infinitivo, gerúndio ou
particípio de outro verbo que se chama principal” e ressalta que às vezes o auxiliar
“empresta um matiz semântico ao verbo principal, dando origem aos chamados aspectos
dos verbos”. Comenta que entre o auxiliar e o verbo principal pode haver ou não uma
preposição e que, muitas vezes, tal preposição pode alternar, como ocorre com o
48
auxiliar começar a/de. O emprego (ou não) depende tão somente da arbitrariedade do
uso.
Em seguida, Bechara (2003, p. 230) descreve as aplicações dos verbos
auxiliares, em português, começando pelas ocorrências em tempos compostos. Aponta
os verbos ter, haver e ser, como auxiliares que se combinam com o particípio para
formarem tempos compostos, embora os dois últimos sejam menos comuns. Afirma,
ainda, que tais tempos denotam que a ação verbal está concluída. Sobre o verbo ser
esclarece que se associa, geralmente, a verbos de movimento, “em combinações que
lembram os depoentes latinos” (BECHARA, 2003, p. 231), como em: “Era chegada a
ocasião da fuga”.
Mais adiante, Bechara comenta a aplicação de auxiliares na formação da voz
passiva. São eles os verbos ser, estar e ficar, que se combinam a particípios. Depois, o
gramático lista os verbos auxiliares que se unem ao infinitivo ou ao gerúndio de um
verbo principal, exprimindo uma noção aspectual de: início da ação (começar a, pôr-se a
etc. + infinitivo); iminência da ação (estar por/para, pegar a/de etc. + infinitivo);
continuidade de ação (continuar + gerúndio/continuar a + infinitivo); desenvolvimento
gradual da ação/duração (estar + gerúndio/estar a + infinitivo; andar + gerúndio, vir +
gerúndio, ir + gerúndio); repetição de ação (tornar a, costumar + infinitivo); e término
de ação verbal (acabar de, cessar de, deixar de, parar de e vir de + infinitivo, etc.).
Observa o autor que vir de + infinitivo é construção em desuso.
Por último, Bechara (2003, p. 232) discorre sobre os auxiliares modais, que se
combinam com o infinitivo ou o gerúndio de um verbo principal, para determinar, como
a nomenclatura sugere, o modo como se realiza a ação verbal, de maneira que
exprimem, segundo o gramático, sentido de:
1) Necessidade, obrigação, dever: haver de, ter de, dever, precisar (de) +
infinitivo, com a observação de que, atualmente, usa-se também ter/haver
que.
2) Possibilidade ou capacidade: poder + infinitivo.
3) Vontade ou desejo: querer, desejar, odiar, abominar + infinitivo.
4) Tentativa ou esforço: buscar, pretender, tentar, ousar, atrever-se a +
infinitivo.
5) Consecução: conseguir, lograr, etc. + infinitivo.
6) Aparência, dúvida: parecer + infinitivo.
7) Movimento para realizar um intento futuro: ir + infinitivo.
49
Vieira (2002, p. 314), constata que há uma preferência, no PB, pela variante
“intra-complexo verbal” (assim como na modalidade oral). A linguista informa que essa
ordem pronominal é “registrada até em contextos com tradicionais operadores de
próclise ou após a forma do futuro do pretérito do indicativo” (VIEIRA, 2002, p. 314).
Essa última situação sugere, segundo a autora, que o pronome posto entre dois verbos
de uma locução se une ao verbo principal e não ao auxiliar, dada a inviabilidade de
ligação do clítico à direita de verbo no futuro e ressalta que a ausência de hífen,
constatada na maioria dos casos, confirma a hipótese. Vieira (2002, p. 314) ainda
comenta uma ocorrência com verbo ser, conjugado no presente, inserido entre os dois
verbos da locução (“Não pode é se repetir”), “antes do pronome, o que assegura que não
se trata, efetivamente, de pronome ligado ao primeiro verbo”. Por outro lado, constatou-
se, no que diz respeito ao tipo de clítico, preferência pela ênclise ao verbo principal com
os pronomes o, a(s).
Biazolli (2016) investiga o fenômeno da posição dos clíticos pronominais em
quatro gêneros textuais jornalísticos – entrevista na TV, noticiário de TV, carta do leitor
55
Nas cartas, Biazolli (2016) constatou que o tipo de clítico também é uma
variável que interfere de maneira relevante no posicionamento do clítico,
4
A autora considera proclisadores não tradicionais: “SNs sujeitos, SPreps, preposições/locuções
prepositivas, conjunções coordenativas e certos advérbios/locuções adverbiais (aqueles considerados não
canônicos ou terminados em –mente)” (BIAZOLLI, 2016, p. 89).
56
4 Metodologia
Este estudo fundamentou-se em um corpus formado por textos escritos dos
gêneros reportagem de revista, artigos acadêmicos (de pós-graduação de vários cursos e
áreas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro), editais de concursos e crônicas,
selecionados entre 2018 e 2019 e encontrados em suportes da internet e da imprensa
brasileira. Vale lembrar que todos os textos possuem publicação relativamente recente,
conforme se detalhou na descrição do corpus.
Quanto à análise dos dados, utilizamos as metodologias quantitativa e
qualitativa. A principal diferença existente entre as duas metodologias é o fato de a
quantitativa empregar métodos estatísticos, enquanto a qualitativa não o faz. Segundo
Bortoni-Ricardo (2008), a investigação construída sob a ótica quantitativa deriva do
positivismo, ao passo que a pesquisa constituída de acordo com o paradigma
qualitativo, provém do interpretativismo. Na metodologia quantitativa, as descobertas se
dão por meio da observação empírica e as regras são apreendidas pela observação das
regularidades (BORTONI-RICARDO, 2008, p. 14). Por sua vez, o paradigma
qualitativo “procura entender; interpretar fenômenos sociais inseridos em um contexto”
(BORTONI-RICARDO, 2008, p. 34).
Desse modo, podemos classificar nossa pesquisa como quantitativa, pois foi
realizado o tratamento estatístico dos dados, a partir da aferição de tendências apontadas
pelo programa computacional Goldvarb 2001; mas também qualitativa, já que
analisamos e interpretamos os resultados obtidos. Objetivamos, conforme sugerem
Vieira e Freire (2014, p. 100 - 101), “proceder a uma apuração quantitativa e qualitativa
detalhada do fenômeno por gênero textual, por contexto morfossintático e por tipo de
clítico”.
O Goldvarb 2001, ferramenta escolhida para análise dos dados, fornece
resultados numéricos com relação aos fatores selecionados como possíveis
influenciadores do fenômeno. Um desses números é o peso relativo, que aponta o efeito
de cada fator sobre o uso da variante investigada. Esse valor é mensurado entre 0 e 1,
de modo que 0 significa que a variante em questão não ocorre na presença do fator e 1
indica que ela sempre ocorre. Está relacionado ao nível geral de uso da variante, o input.
Segundo Scherre e Naro (2015, p. 165): “o input funciona como um ponto de referência
para o fenômeno variável, e o efeito de cada fator pode ser interpretado como uma
medida do desvio deste ponto de referência associado ao fator”.
58
4.1 O corpus
5
Informação retirada do site da revista Exame (18/12/2018), disponível em:
https://exame.abril.com.br/carreira/as-melhores-faculdades-e-universidades-do-brasil-segundo-o-mec-2/.
Acesso em: 20/02/2019.
60
1) De Fabrício Carpinejar:
6
Ver Anexo.
61
2) Mário Prata:
3) Martha Medeiros:
As crônicas aqui analisadas estão em seu livro Coisas da vida, lançado pela
L&PM, com edição em 2005, mas foram publicadas originalmente nos jornais Zero
Hora e O Globo, entre setembro de 2003 e setembro de 2005. Os títulos das crônicas
são os seguintes:
pela CAPES com Qualis A1, nas versões impressa e online, e indexada em SciELO,
Scopus, Thomson Reuters e outras bases regionais como Latindex e Redalyc.
Edital 2: Câmara Municipal de Goiânia - Edital n.º 01/2018 – Concurso Público para o
provimento do quadro permanente e a formação de Cadastro de Reserva.
1) Gênero textual
Crônica
Reportagem
Artigo
Edital
2) Categoria pronominal
Objeto direto
Objeto indireto
Pronome apassivador
Parte integrante do verbo ou pronome inerente
Índice de indeterminação do sujeito
Complemento nominal
Sujeito
3) Forma pronominal
Me
Te
Se
Lhe/lhes
O/a/lo/la (s)
Nos
66
4) Tempo/forma verbal
Presente
Pretérito
Futuro
Forma nominal
Imperativo
5) Contexto morfossintático
Início absoluto de período
Início de oração em período
Oração reduzida de infinitivo
Oração reduzida de gerúndio
Oração subordinada desenvolvida
Oração coordenada sindética aditiva, alternativa e adversativa
Início de item
Presença de palavra negativa
Presença de advérbio
Presença de pronome interrogativo ou indefinido
Gerúndio precedido de preposição em
Ausência de elemento condicionador de próclise (atrator).
padrão nos gêneros mais informais, tendo em vista os fatores explicitados na seção
anterior (caráter descontraído, presença de discurso direto, maior subjetividade, público
leitor etc).
Com relação ao segundo grupo de fatores, optamos por reunir, num mesmo
grupo, classificações relacionadas a funções sintáticas exercidas pelos clíticos e
designações morfológicas, tendo em vista a improdutividade da separação de tais
variáveis, considerando o número reduzido de certas categorias. O grupo Categoria
Pronominal ficou, então, formado pelos fatores:
Objeto direto: “...que a constituem secretamente,...” [Artigo 1]
Objeto indireto: “...que uma boa samaritana me fez...” [Crônica 10]
Pronome apassivador: “Recomenda-se avaliações em diferentes tempos...” [Artigo 4]
Parte integrante do verbo ou pronome inerente: “Me lembro quando era garoto...”
[Crônica 10]
Índice de indeterminação do sujeito: “...proibindo terminantemente que se escrevesse
no...” [Crônica 10]
Complemento nominal: “...que nos são sagrados...” [Crônica 23]
7
Quanto ao critério adotado para classificar a posição do pronome como próclise ao principal ou ênclise
ao auxiliar, ver capítulo 3 desta tese.
69
1) Gênero textual
Crônica
Reportagem
Artigo
Edital
2) Categoria pronominal
Objeto direto
Objeto indireto
Pronome apassivador
Parte integrante do verbo ou pronome inerente
Índice de indeterminação do sujeito
3) Forma pronominal
Me
Se
Lhe (s)
O/a/lo/la (s)
Nos
6) Contexto morfossintático
Início absoluto de período
70
A hipótese inicial que motivou a escolha da variável Gênero textual foi a de que
em gêneros mais informais a opção preferencial seria pela próclise ao verbo principal,
tendo em vista que essa é a tendência do PB apontada pelos gramáticos mencionados no
capítulo 3 desta tese (AZEREDO, 2010 e CASTILHO, 2010). Esperávamos também
que tal variante fosse bastante recorrente inclusive nos textos mais formais.
Com relação à variável Categoria pronominal, nossa hipótese se baseava nas
observações de Azeredo (2010). Por exemplo, diz o gramático que “se o pronome se,
quer na função indeterminadora do sujeito, quer no papel de pronome apassivador, vem
integrado numa sequência de verbo finito + forma verbal no infinitivo, gerúndio ou
particípio, é ao redor do verbo finito que o pronome se coloca preferencialmente, ora
proclítico ora enclítico” (AZEREDO, 2010, p. 263).
O terceiro grupo de fatores corresponde à forma do pronome que acompanha as
locuções verbais. Essa variável se faz importante na investigação da influência que a
substância fônica do pronome pode exercer no condicionamento da colocação
pronominal, especialmente no que diz respeito ao pronome acusativo de terceira pessoa,
que possui uma estrutura silábica fora do padrão, como já comentamos na seção 4.1.
Destacamos a hipótese de Vieira (2002) sobre o assunto:
Ressalte-se, apenas, que a sugestão de que a constituição silábica do clítico
de 3a pessoa (do tipo V), inviabilizaria determinadas posições se reveste de
fundamental importância no caso dos complexos verbais – em que a vogal do
pronome pode aglutinar-se a outros segmentos sonoros do complexo, como
por exemplo em <comecei a o observar>. (VIEIRA, 2002, p. 252).
71
Próclise ao principal: “...com os olhos dos lábios, não deixaremos de nos procurar...”
[Crônica 8]; “Os dois demoraram a se conhecer...” [Reportagem 1]
Ênclise ao principal: “...e que, no caso de vir a exercê-lo,...” [Edital 3]; “...sem saber
por que continuei a encará-lo.” [Crônica 17]
5 Análise do corpus
2% Próclise
31% Ênclise
67% Mesóclise
Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados
Artigo 81 60% 54 40% 0 0 135 (22%)
Crônica 158 89% 20 11% 0 0 178 (29%)
Edital 111 49% 101 45% 13 6% 225 (37%)
Reportagem 57 77% 17 23% 0 0 74 (12%)
Total 407 67% 192 31% 13 2% 612
75
mais usada nos textos escritos mais formais, conforme foi previsto em nossas hipóteses.
Os dados de próclise têm percentuais decrescentes, segundo o grau de formalidade:
crônica (89%), reportagem (77%), artigo (60%), e edital (49%). Por outro lado, a ênclise
apresenta resultados crescentes: crônica (11%), reportagem (23%), artigo (40%), e
edital (45%). Portanto, nos gêneros mais informais, crônica e reportagem, a próclise é
de uso predominante. Já nos gêneros mais formais, edital e artigo, a ênclise apresenta
uma porcentagem relevante. Desse modo, é possível propor um contínuo de
apresentação das ocorrências das variantes aqui analisadas, de acordo com o grau de
formalidade dos gêneros textuais, como mostra a Figura 1.
100%
90%
80%
70%
60%
Próclise
50%
Ênclise
40%
Mesóclise
30%
20%
10%
0%
Crônica Reportagem Artigo Edital
Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados
OD 171 74% 59 26% 0 0 230 (38%)
OI 40 91% 4 9% 0 0 44 (7%)
APASS. 20 26% 44 58% 12 16% 76 (12%)
PIV 156 69% 69 31% 1 0,4% 226 (37%)
INDET. 16 50% 16 50% 0 0 32 (5%)
CN 3 100% 0 0 0 0 3 (0,5%)
SUJ. 1 100% 0 0 0 0 1 (0,2%)
Total 407 67% 192 31% 13 2% 612
são sagrados” (crônica 23). Por último, há um caso de clítico na função de sujeito de
oração reduzida de gerúndio: “é ela ao me perceber partindo" (crônica 8).
Comentaremos mais a fundo esse grupo de fatores no item 5.1.2. Por ora, vejamos os
dados anteriores representados em um gráfico.
120%
100%
80%
Próclise
60%
Ênclise
40% Mesóclise
20%
0%
OD OI APAS. PIV INDET. CN SUJ.
Tabela 5: Posição pronominal com formas verbais simples por forma pronominal
Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados
me 52 95% 3 6% 0 0 55 (9%)
te 4 100% 0 0 0 0 4 (0,7%)
se 278 62% 156 35% 13 3% 447
(73%)
lhe(s) 10 83% 2 17% 0 0 12 (2%)
o, a, lo, la (s) 31 50% 31 50% 0 0 62 (10%)
nos 32 97% 0 0 0 0 32 (5%)
Total 407 67% 192 31% 13 2% 612
80
Pode-se perceber que há uma ocorrência muito maior de pronome se, 446
ocorrências, a grande maioria proclítico ao verbo (62%). Temos a teoria de que o uso
desse pronome é mais expressivo, porque é mais impessoal e pode ser empregado com
vários valores (índice de indeterminação do sujeito, apassivador e reflexivo). Vale
ressaltar que todas as ocorrências de mesóclise registradas são com o pronome se.
A tabela revela ainda que a próclise predomina com todos os tipos de pronomes,
exceto os clíticos acusativos de terceira pessoa (o e flexões), que apresentam a mesma
quantidade de dados para próclise e ênclise. O uso do pronome de segunda pessoa te
registrou somente quatro ocorrências em próclise e se restringe ao gênero crônica. Vale
salientar que há inclusive um dado de próclise em início absoluto de período (Exemplo
14). O caráter descontraído desse gênero justifica a predominância da variante mais
corrente até mesmo no contexto mencionado. Os dados são os seguintes:
Exemplo 14: “Te deixam na cama.” [Crônica 10]
Exemplo 15: “E eu que te considerava um profissional…” [Crônica 13]
Exemplo 16: “... na sua cara, te dedando,...” [Crônica 13]
Exemplo 17: “...te culpando.” [Crônica 13]
com os propósitos e características dos gêneros edital e artigo científico aqui estudados 9.
O gráfico a seguir ilustra tal fato.
0%
Presente
23% 45% Pretérito
14% Futuro
18%
Forma nominal
Imperativo
Tabela 6: Posição pronominal com formas verbais simples por tempo ou forma verbal
Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados
Presente 222 81% 51 19% 0 0 273 (45%)
Pretérito 88 80% 22 20% 0 0 110 (18%)
Futuro 45 53% 27 32% 13 15% 85 (14%)
Forma 51 36% 91 64% 0 0 142 (23%)
nominal
Imperativo 1 50% 1 50% 0 0 2 (0,3%)
Total 407 67% 192 31% 13 2% 612
9
Veja-se item 2.4 desta tese.
82
Tabela 7: Posição pronominal com formas verbais simples por contexto morfossintático
Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados
Or. Subord. 179 98% 4 2% 0 0 183
desenvolvida (30%)
Início de 8 21% 23 61% 7 18% 38 (6%)
período
Início de oração 12 24% 36 72% 2 4% 50 (8%)
Palavra 62 100% 0 0 0 0 62 (10%)
negativa
Advérbio 11 100% 0 0 0 0 11
(1,8%)
Or. reduzida de 28 42% 39 58% 0 0 67 (11%)
infinitivo
Or. reduzida de 9 17% 45 83% 0 0 54 (9%)
gerúndio
Pron. indef. ou 5 100% 0 0 0 0 5 (0,8%)
interrogativo
Or. Coord. 15 75% 4 20% 1 5% 20 (3%)
sindética
Início de item 3 11% 24 89% 0 0 27 (4%)
Gerúndio 1 100% 0 0 0 0 1 (0,2%)
precedido de
“em”
Ausência de 74 79% 17 18% 3 3% 94 (15%)
atrator
Total 407 67% 192 31% 13 2% 612
Exemplo 38: “Talvez esteja aí uma das questões que a impedem de estar mais bem
estruturada.” [Reportagem 1]
Exemplo 39: “...o Instituto AOCP não se responsabiliza por...” [Edital 5]
Exemplo 40: “Depois se amansa e vira...” [Crônica 8]
Exemplo 41: “Houve quem se emocionasse.” [Reportagem 1]
Exemplo 42: “quem me cuidará quando...” [Crônica 25]
A ênclise, por sua vez, prevalece nos contextos de início de período (61%) ou de
oração (72%) e de orações reduzidas (infinitivo 58%, gerúndio 83%). No gênero edital,
também encontramos um uso frequente de ênclise em contextos que denominamos de
início de item (89%). Como foi explicado, trata-se de orações subordinadas
desenvolvidas coordenadas entre si, em que os verbos se encontram conjugados no
86
120%
100%
80%
60%
Próclise
40% Ênclise
Mesóclise
20%
0%
Palavra negativa
Início de período
0% 1% Início de oração
4%
9% 15% 2% Oração sub. Desenvolvida
3%
18% Advérbio
Pronome Indefinido ou
interrogativo
44% Ausência de elemento atrator
1%
Oração coord. sind.
3%
Oração reduzida
Início de item
Exemplo 52: “Calculando-se a média, temos entre todos os pacientes, temos um escore
de 56,5...” (Artigo 2)
Exemplo 53: “...prevalência estimada no Brasil de 3,3%, tornando-se um problema
cada vez maior no País...” (Artigo 2)
As ocorrências de ênclise, em contextos em que o verbo na voz ativa segue um
sujeito explícito (9%), como no exemplo a seguir, é previsto pela gramática tradicional,
como vimos no capítulo 3, já que não há nenhum elemento proclisador.
Início de período
Início de oração
2% Oração reduzida de infinitivo
2%
9% 12% Oração reduzida de Gerúndio
13% 19% Início de item
Oração coord. sind.
23%
20% Or. Sub. Desenvolvida
Ausência de atrator
Assim, pode-se concluir, resumidamente, que, a partir dos dados aqui analisados,
constatou-se forte preferência pela variante proclítica ao verbo, em todos os gêneros
textuais escritos estudados. Em gêneros com grau de formalidade menor, constataram-
89
se, inclusive, casos de próclise em início de período, contrariando a célebre regra “não
se inicia período com pronome átono”, tão preoconizada nas escolas e cursos
preparatórios e enfatizada em manuais de ensino de LP e em gramáticas tradicionais,
como demonstramos na seção 3.1. Obviamente, deve-se ressaltar que já se observa um
avanço na descrição do fenômeno linguístico da clitização pronominal, considerando
que a maioria das gramáticas já reconhece usos tipicamente brasileiros. Porém, tais usos
são descritos em seção à parte, como característicos da fala informal e não
recomendáveis do ponto de vista da norma padrão. Além disso, como já comentamos, a
ênclise ainda é apontada, nas GTs, como a posição lógica e recomendável, na ausência
dos chamados “atratores”, pressuposto que também não se confirmou nesta pesquisa.
Observamos o uso frequente de próclise em contextos em que tais elementos não
apareciam, como depois de sujeito explícito e depois de conjunções coordenativas
adversativas e aditivas, as quais não são tradicionalmente consideradas proclisadores.
Claro, está, portanto, que essas regras não se aplicam à língua escrita de maneira geral e
que a norma culta escrita brasileira acolhe usos diferentes dos prescritos na GT.
Feitas essas considerações, passamos à descrição da segunda etapa da análise de
dados, na qual obtivemos os percentuais relativos, ou seja, uma medida da influência de
cada fator sobre cada variante do fenômeno estudado, por meio ainda do instrumental
quantitativo Goldvarb 2001.
proclisadores, na norma escrita culta do português brasileiro, no que diz respeito aos
gêneros aqui abordados.
São desfavorecedoras da próclise as circunstâncias seguintes: início de período
ou oração, orações reduzidas, ausência de elemento atrator (casos de sujeito seguido de
verbo, sem conectivo anterior) e início de item (orações subordinadas coordenadas entre
si, distribuídas em tópicos). Esta última situação motivaria, em tese, a próclise, já que
constituem contextos de orações subordinadas, mas, conforme prevíamos, condiciona a
variante pós-verbal, como uma forma de impedir que o leitor pense que se iniciou
período com pronome átono, uso condenado pela gramática normativa. Por esse motivo,
essas orações foram analisadas como um fator à parte, separadamente das demais
orações subordinadas.
Levando em consideração o contexto morfossintático das orações, observa-se,
então, um comportamento linguístico singular do escritor culto brasileiro. A próclise é
evidentemente a variante preferida, inclusive em contextos em que não há operadores de
próclise tradicionais. Classes de palavras que não são comumente apontadas como
proclisadores pareceram exercer também esse papel, como certas conjunções
coordenativas. Além disso, registramos o uso dessa variante até mesmo em contexto
inicial de oração/período, embora de maneira pouco expressiva. Ainda é importante
frisar, apesar de o peso relativo ser inferior a 0.50, o significativo percentual de próclise
em contextos de sujeito seguido de verbo na voz ativa, sem presença prévia de
elementos atratores (81%) tradicionais ou conjunções coordenadas, mesmo porque o PR
0.41 não é tão baixo. A ênclise, por sua vez, mais frequente nos gêneros formais, é
utilizada de maneira acorde com o padrão estabelecido, segundo o contexto em que
ocorrem. Porém, há um contexto particular do gênero edital, em que a GT prevê a
próclise, e os resultados desta pesquisa mostraram que favorece a ênclise. Trata-se do
fator denominado Início de item, em que ocorre, de maneira generalizada, a ênclise,
apesar de possuir conjunções subordinativas, que teoricamente ocasionariam a próclise.
93
Fica evidente a partir da análise dos dados anteriores que os clíticos acusativos
de terceira pessoa desfavorecem o uso da próclise (0.09), assim como o pronome
lhe/lhes (0.15). Registramos a seguir as ocorrências deste último pronome.
Exemplo 54: “...aquele que lhes fornecia...” [Artigo 1]
Exemplo 55: “... televisão, ninguém lhe pergunta o...” [Crônica 14]
Exemplo 56: “há um apenas que lhe dará segurança.” [Crônica 5]
Exemplo 57: “...observadas as normas que lhes regem.” [Edital 1]
Exemplo 58: “evento que lhe disser respeito...” [Edital 3]
Exemplo 59: “evento que lhes disser respeito...” [Edital 4]
Exemplo 60: “evento que lhes disser respeito...” [Edital 5]
Exemplo 61: “...faz quando lhe perguntam algo que julga...” [Reportagem 1]
Exemplo 62: “...os círculos que lhes são mais próximos...” [Reportagem 4]
Exemplo 63: “... para propiciar-lhe a...” [Artigo 1]
Exemplo 64: “...responsabilidade e fazer-lhes pequenos reparos.” [Edital 5]
Exemplo 65: “...capaz de lhe conferir uma...” [Artigo 1]
Como vemos, quase todas as ocorrências proclíticas da forma lhe (exceto uma)
seguem um elemento condicionador de próclise, sobretudo pronome relativo. Portanto,
fica claro que, neste caso, não é a forma pronominal que influi na posição do clítico e
sim a presença prévia de elemento atrator. Os dois dados de pronome lhe enclítico são
precedidos de infinitivo, que como comentamos anteriormente parece favorecer a
variante pós-verbal.
Em contrapartida, as formas me e se atuam a favor da variante pré-verbal (0.86 e
0.54, respectivamente). Como já comentamos no item anterior, parece-nos que o
condicionamento da próclise pelo pronome me está vinculado ao grau de formalidade
dos textos, já que essa forma só é usada no gênero mais informal, a crônica. Esse
gênero, como observamos nos comentários acerca da primeira variável, propicia o uso
da próclise, de forma expressiva.
95
A projeção feita pelo programa confirma nossa hipótese inicial de que o uso do
pronome se como índice de indeterminação do sujeito e apassivador favoreceria a
variante pós-verbal. Como é possível observar, esses pronomes apresentam baixo peso
relativo e, portanto, desfavorecem a próclise. Já o PR dos pronomes inerentes (parte
integrante do verbo) se mostrou mediano, sutilmente abaixo de 0.50. Já os pronomes
que exercem função de objeto direto e objeto indireto favorecem a variante pré-verbal,
com peso relativo 0.62 e 0.83, respectivamente.
10
PR = peso relativo
96
16%
43% Próclise ao auxiliar
Próclise ao principal
39%
Ênclise ao auxiliar
Ênclise ao principal
2%
Tabela 12: Posição pronominal com locuções verbais por gênero textual
Nº de % Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados dados
Artigo 4 27% 6 40% 3 20% 2 13% 15
(12%)
Crônica 2 6% 26 81% 0 0 4 13% 32
(25%)
Edital 14 21% 5 7% 0 0 49 72% 68
(52%)
Reportagem 1 7% 13 87% 0 0 1 7% 15
(12%)
Total 21 16% 50 39% 3 2% 56 43% 130
97
Claro que, neste caso, outros fatores contribuem para o uso da variante, como o
fato de o verbo predicador estar no infinitivo e de o clítico ser do tipo acusativo de
terceira pessoa, além do verbo auxiliar estar no futuro, estrutura que dificilmente se
construiria de outra forma. Na verdade, temos uma atuação conjunta de fatores, que
ficará mais clara, no decorrer da análise.
Registraram-se também, nos editais analisados, 14 casos de próclise ao auxiliar
(21%), 5 de próclise ao principal (7%) e nenhuma ênclise ao auxiliar. Em todos os
demais gêneros, prevalece a variante pré-verbo temático.
No gênero artigo, encontramos 4 exemplos de próclise ao auxiliar (27%), 6 de
próclise ao verbo principal (40%), 3 ocorrências de ênclise ao auxiliar (20%) e 2 de
ênclise ao principal (13%). Note-se que as três primeiras posições se distribuem de
maneira bem equilibrada nesse gênero. Este é o único gênero em que aparece a ênclise
ao auxiliar. Todos os casos são com o pronome se e modal poder, construção
formulaica e típica da escrita. Seguem exemplos.
Exemplo 67: “Assim, pode-se dizer...” [Art1]
Exemplo 68: “...dados, pode-se concluir que...” [Art2]
Exemplo 69: “Na primeira exposição, pode-se observar que...” [Art4]
Gráfico 10: Posição do pronome com locuções verbais por gênero textual
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00% Próclise ao auxiliar
20,00%
10,00%
0,00%
Crônica Reportagem Artigo Edital
Tabela 13: Posição pronominal com locuções verbais por categoria pronominal
Nº de % Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados dados
OD 2 3% 25 39% 0 0 38 59% 65
(50%)
OI 12 67% 4 22% 0 0 2 11% 18
(14%)
APASS. 1 33% 0 0 0 0 2 67% 3 (2%)
PIV 0 0 21 60% 0 0 14 40% 35
(27%)
INDET. 6 67% 0 0 3 33% 0 0 9 (7%)
Total 21 16% 50 39% 3 2% 56 43% 130
11
Legenda da Tabela 7: OD = objeto direto; OI = objeto indireto; APASS. = pronome apassivador; PIV=
parte integrante do verbo; INDET. = índice de indeterminação do sujeito; CN = complemento nominal.
99
No que tange aos clíticos apassivadores, que também estão inclusos nesse
critério de Azeredo (2010, p. 263), muitas ocorrências corroboram a hipótese, como a
do exemplo que segue:
Exemplo 71: “...onde se procura ampliar a compreensão...” [Artigo 3]
Tabela 14: Posição pronominal com locuções verbais por forma pronominal
Nº de % Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados dados
me 0 0 12 100% 0 0 0 0 12
(9%)
se 7 10% 30 42% 3 4% 32 44% 72
(55%)
lhe (s) 12 100% 0 0 0 0 0 0 12
(9%)
o/a/lo/la (s) 2 8% 0 0 0 0 24 92% 26
(20%)
nos 0 0 8 100% 0 0 0 0 8
(6%)
Gráfico 11: Posição do pronome com locuções verbais por forma pronominal
120%
100%
80%
0%
de próclise ao principal. Por questões fonológicas, esse tipo de clítico não é produtivo
entre os verbos.
A forma me somente apareceu na posição proclítica ao verbo principal. Com a
forma nos, também tivemos a ocorrência categórica dessa variante que é a preferida no
PB, segundo o gramático Ataliba de Castilho (2010, p. 484), conforme já comentamos
no capítulo 3. O mesmo aponta a pesquisa de Vieira (2002), tanto para a língua falada
quanto para gêneros escritos, com relação ao PB. Levando em consideração o fato de
essas formas só terem aparecido nos gêneros mais informais, é possível vislumbrar uma
explicação para o fenômeno. Parece que o uso categórico das formas de primeira pessoa
na posição anteposta à forma nominal está relacionado mais ao grau de formalidade do
texto que à estrutura fonética dos pronomes.
Outro pronome que apresentou uso categórico foi a forma lhe, cuja totalidade de
ocorrências se deu em próclise ao auxiliar, contrariando nossa hipótese inicial de que
essa forma teria comportamento semelhante ao da forma me, por apresentarem a mesma
estrutura fonética: consoante + vogal. Vejamos os contextos em que ocorrem:
Exemplo 76: “...das prerrogativas que lhe são facultadas...” [Edital 1]
Exemplo 77: “...em que lhe sejam assegurados o contraditório...” [Edital 1]
Exemplo 78: “...em que lhe sejam assegurados...” [Edital 1]
Exemplo 79: “...atribuições que lhe são conferidas...” [Edital 2]
Exemplo 80: “...para que lhe seja providenciado...” [Edital 3]
Exemplo 81: “...para que lhe seja providenciado...” [Edital 3]
Exemplo 82: “após procedimento administrativo em que lhe sejam assegurados...”
[Edital 4]
Exemplo 83: “...em que lhe sejam assegurados...” [Edital 4]
Exemplo 84: “...procedimento administrativo em que lhe sejam assegurados...”
[Edital 4]
Exemplo 85: “...prerrogativas que lhes são facultadas no...” [Edital 5]
Exemplo 86: “ ..., recusar a vaga que lhe for disponibilizada...” [Edital 5]
Exemplo 87: “...em que lhe sejam assegurados o contraditório...” [Edital 5]
formal dos analisados. Além disso, é relevante o fato de todas as estruturas serem de
voz passiva analítica (verbo SER + particípio). Não podemos também desconsiderar as
repetições regulares das estruturas, o que é comum nesse gênero textual.
Já no que diz respeito ao pronome se, verificamos poucas ocorrências da
variante pré-locucional (10%). Os dados de ênclise ao verbo auxiliar também foram
escassos (4%). Ressalte-se que essa variante só se realizou com a forma pronominal se,
no papel de indeterminador do sujeito, como comentamos anteriormente. A maioria dos
dados desse pronome se apresentou equilibradamente nas posições adjacentes ao verbo
temático: 44% à sua direita e 42% à sua esquerda.
Nº de % Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados dados
Presente 17 29% 28 48% 3 5% 10 17% 58
(45%)
Pretérito 2 13% 12 75% 0 0 2 13% 16
(13%)
Futuro 2 4% 6 12% 0 0 42 84% 50
(39%)
Forma 0 0 4 67% 0 0 2 33% 6
nominal (5%)
Como já afirmamos, essa variável foi considerada sob a hipótese de que o único
tempo verbal que implicaria um comportamento diferenciado dos pronomes seria o
futuro (do presente e do pretérito do Indicativo), no sentido de impedir a variante pós-
V2, o que se concretiza parcialmente. De fato, não houve ocorrência de tal posição com
verbos no futuro, mas também não a registramos com outros tempos. O único tempo
verbal que registrou casos dessa última posição foi o presente e apenas três dados. A
maioria dos pronomes atrelados a locuções verbais com verbo principal no presente
ocorreu em próclise ao principal (48%), 28 casos; 17 casos em próclise ao auxiliar
(29%); 10 em ênclise ao principal (17%) e 3 em ênclise ao auxiliar (5%).
104
Nº de % Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados dados
Infinitivo 7 7% 33 34% 3 3% 55 56% 98
(76%)
Particípio 13 65% 6 30% 0 0 1 5% 20
(15%)
Gerúndio 1 8% 11 92% 0 0 0 0 12
(9%)
Total 21 16% 50 39% 3 2% 56 43% 130
15%
9%
Infinitivo
Gerúndio
76%
Particípio
12
Ver página 41 desta tese.
106
Tabela 17: Posição pronominal com locuções verbais por contexto morfossintático
Nº de % Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados dados
Or. Subord. 17 49% 9 26% 0 0 9 26% 35
desenvolvida (27%)
Início de 0 0 7 100% 0 0 0 0 7 (5%)
período
Início de 0 0 4 27% 3 20% 8 53% 15
oração (12%)
Palavra 1 8% 5 42% 0 0 6 50% 12
negativa (9%)
Advérbio 2 14% 6 43% 0 0 6 43% 14
(11%)
Or. reduzida 0 0 2 67% 0 0 1 33% 3 (2%)
de infinitivo
Or. reduzida 0 0 1 50% 0 0 1 50% 2
de gerúndio (1,5%)
Gráfico 13: Posição pronominal com locuções verbais por contexto morfossintático
120%
100%
80%
60%
Próclise ao auxiliar
Nº de % Nº de % Nº de % Nº de %
dados dados dados dados
Presença 1 3% 14 45% 0 0 16 52% 31
(24%)
Ausência 20 20% 36 36% 3 3% 40 40% 99
(76%)
Total 21 16% 50 39% 3 2% 56 43% 130
Perini (2001, p. 232) de que “o clítico antes do Aux teria aceitabilidade mais ou menos
reduzida”. Já nos dados sem preposição, encontramos considerável número de
ocorrências dessa posição (20%).
A tabela também revela que a presença ou ausência de elemento entre os verbos
da locução não altera o equilíbrio relativo de dados de próclise e ênclise ao principal.
Vemos que essas posições predominam no corpus e seus usos se equiparam, em termos
de porcentagem, independentemente da intervenção de elemento entre os verbos.
Registraram-se 45% de próclise ao principal e 52% de ênclise ao principal, com
preposição. Já sem preposição, foram 36% de próclise ao principal e 40% de ênclise ao
principal, números bem próximos.
6 Considerações finais
Esta tese tem como tema a colocação pronominal no português escrito brasileiro
e, como objeto de estudo, textos de quatro gêneros de diferentes graus de formalidade:
crônica jornalística, reportagem de revista, artigo acadêmico e edital de concurso
público. Nossa hipótese inicial era a de que encontraríamos relevante variação na
colocação pronominal nos gêneros estudados, de modo que os mais formais
apresentariam maior conformação com a norma padrão e os mais informais tenderiam a
uma aproximação com a modalidade falada. Nossa hipótese se confirmou.
Pudemos constatar que no gênero mais formal, edital de abertura de concurso – e
com estruturas indeterminadoras – sobrevive a mesóclise. A ênclise apresentou dados
que superam os de próclise nesse gênero. Por outro lado, o gênero mais informal, a
crônica jornalística, favoreceu fortemente a ocorrência da variante proclítica (PR 0.82),
em detrimento da enclítica.
Nas reportagens de revista e nos artigos acadêmicos o peso relativo da variante
pré-verbal é mediano, tendo em vista que apresentam ocorrências equilibradas de
próclise e ênclise. Assim, pudemos traçar um contínuo do uso das posições pronominais
com formas verbais simples em função do grau de formalidade dos gêneros, que vai do
menos ao mais formal. Entendemos que perseguir o propósito de contribuir com a
sistematização do comportamento das variedades em função dos continua de oralidade-
letramento, monitoração estilística e urbanização seja “essencial para que o profissional
de ensino possa avaliar a extensão da variabilidade interna à norma culta e, assim,
consequentemente, repensar suas práticas de orientação normativa” (VIEIRA e LIMA,
2019, p. 10). Esperamos, então, que esta pesquisa possa colaborar com essa importante
frente de trabalho que, segundo as autoras, ainda está por ser feita.
Nos casos de clítico acompanhado de locução verbal, foi possível confirmar
nossa hipótese de que, em gêneros mais informais, a preferência seria pela próclise ao
verbo principal, tendência já apontada nas gramáticas do PB (por exemplo, AZEREDO,
2010 e CASTILHO, 2010). Nos gêneros crônica e reportagem, o percentual geral de
ocorrência dessa posição foi de 81% e 87%, respectivamente, com peso relativo de 0.91
e 0.95, na mesma ordem. Nos artigos, essa também foi a posição preferida, porém, com
percentual total menor, de 40%. Mesmo assim, mostrou-se favorecedora da variante,
com peso relativo de 0.83. Apenas no gênero edital, a próclise ao principal não
112
prevaleceu, sendo mais usada a ênclise ao verbo principal, com 72% de dados. É,
portanto, o único gênero desfavorecedor da variante mais corrente no PB, com peso
relativo de 0.08.
As variantes proclíticas e enclíticas ao verbo auxiliar apresentaram poucos
dados, sobretudo a segunda, da qual encontramos apenas 3 ocorrências, todas no gênero
artigo acadêmico e restritas a estruturas com a forma pronominal se e modal poder,
corroborando os resultados de Vieira (2002):
Fica confirmado, também para o “corpus” escrito do PB, que a variante
supostamente enclítica a V1, prescrita pela gramática tradicional, ocorre em
contextos muito particulares, como o de início de oração e, ao que parece,
restrita à estrutura do tipo verbo <poder + se>, na qual não se costuma
omitir, inclusive, o hífen, que sinaliza essa ligação. (VIEIRA, 2002, p. 315)
indireto e os que são parte integrante do verbo a favorecem, com 0.62 e 0.78 de peso
relativo, respectivamente.
De maneira genérica, esta pesquisa ratificou que a próclise a verbos simples é a
posição preferida no PB, mesmo em gêneros escritos. Por outro lado, mais
especificamente, a análise das variáveis mostrou que são aspectos relevantes no
emprego da ênclise: o grau elevado de formalidade do texto, o contexto inicial de
oração/período e o tipo de clítico, sendo o pronome se indeterminador ou apassivador e
o clítico acusativo de terceira pessoa condicionadores da variante pós-verbal.
Nos casos de locução verbal, houve uso equilibrado das variantes proclítica e
enclítica ao verbo principal. Em termos de tendências gerais, é preciso destacar que a
variante inovadora do PB, a próclise ao V2, é expressiva na escrita culta e a segunda
variante está condicionada ao clítico acusativo de terceira pessoa e aos gêneros mais
formais. Quanto às demais posições, é importante mencionar que não se observa
efetivamente efeito proclisador, com locuções verbais (nem a norma-padrão é tão
explícita nesse caso). Quando acontece próclise ao primeiro verbo, trata-se da estrutura
de indeterminação e/ou voz passiva; quando acontece ênclise ao primeiro verbo, há uma
estrutura cristalizada – pode-se/deve-se + infinitivo. Na análise de pesos relativos,
destacaram-se como significativas as variáveis Forma pronominal e Gênero textual.
Somente os casos de próclise e ênclise a V2 foram analisados, nessa rodada. O gênero
crônica é altamente condicionador da primeira variante, enquanto o edital propiciou o
uso da segunda. Quanto à forma pronominal, todos os dados do pronome de primeira
pessoa singular e plural, usados em gêneros mais informais, posicionaram-se antes do
verbo principal. Em contrapartida, os clíticos acusativos de terceira pessoa, foram
usados majoritariamente em ênclise ao principal (92%) e os dativos, absolutamente em
próclise ao auxiliar.
Finalmente, enfatizamos nosso desejo de que, além de descrever um fato
linguístico e suas variantes, esta pesquisa possa contribuir para a prática pedagógica, no
que tange ao tema da colocação pronominal, uma vez que o ensino da posição dos
pronomes, em PB, tem se mostrado um tema um tanto controverso, em virtude das
divergentes abordagens do assunto. Acreditamos que seja importante ensinar as regras
da norma padrão, relacionando-as sempre ao gênero textual, orientando o discente sobre
a possibilidade de variação na opção pela posição dos pronomes adequada ao gênero. É
inquestionável que a reflexão sobre a prática do professor não é possível sem o
conhecimento detalhado do fenômeno da sínclise pronominal (VIEIRA, 2018, p.121). É
115
o “não” atrai o pronome? O que significa isso? Ou seja, trata-se de uma pedagogia
mecânica, que não vê o discente como ser pensante e que nada tem a ver com a proposta
dos PCN de conduzir os estudantes à reflexão sobre sua própria língua.
É do senso comum que a escola é lugar de letramento, que é missão da escola
ensinar a escrever, já que os alunos já sabem falar. Contudo, o ensino da disciplina
Redação urge mudar. É necessário que se deixe de enxergar a produção textual como
uma técnica ou um método infalível, que conduz a um bom resultado em provas e
vestibulares. Escrever é muito mais que isso. A dissertação de concursos não é o único
gênero textual que tem de ser aprendido. Esse método leva ao pensamento de que todos
os gêneros têm de ser escritos da mesma forma, o que não é verdade. A variação deve
ser contemplada no ensino de língua materna e de produção textual. É preciso mudar de
foco e deixar de centrar o ensino na norma padrão da língua, como afirma Antunes
(2009, p. 214): “É necessário que o foco do ensino de LM deixe de ser a ‘correção’
gramatical, a ‘higiene ortográfica das palavras’.” Não é que tais questões não devam ser
abordadas nas aulas, mas sim que a gramática ensinada tem de ser a gramática de cada
gênero específico, ou seja, uma gramática variável, “uma gramática mais próxima das
operações que as pessoas realizam quando usam a língua em situações concretas de
comunicação” (ANTUNES, 2009, p. 214). Isso torna o aprendizado mais prazeroso,
natural, descomplicado e alcançável, pois o conteúdo seria mais compreensível e
acessível.
O primeiro aspecto a ser mudado, no ensino de língua materna, é o conceito que
se tem da própria língua. Muitos alunos e até mesmo professores afirmam que o
brasileiro não sabe falar português. Ora, que língua falamos então? Como nos
entendemos? Confundem-se, portanto, os conceitos de língua e de variedade padrão.
Sobre isso afirma Neves (2017, p. 48): “... na própria visão do povo, que, como
percebemos claramente nos dias de hoje, fala como pode, mas considera e aceita que
não fala como deve, quando não tem o padrão autorizado”. Essa ideia representa uma
visão limitada. O conceito de língua precisa ser ampliado. É necessário que se entenda
que todas as línguas apresentam variação e se distribuem em contínuos. Portanto, é
natural que o falante adquira primeiro a variedade vernacular, a partir de contextos
informais. O papel da escola não é condenar e eliminar a variedade do aluno e sim levá-
lo, gradativamente, ao conhecimento e domínio de variedades mais formais, orais e
escritas, fazendo-o percorrer o contínuo linguístico e entender a necessidade de
adequação sociocultural do uso da língua.
117
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola,
2009.
AZEREDEO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 3. ed. São
Paulo, Publifolha, 2010.
BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica: as técnicas do jornalismo. 4. ed. São Paulo:
Ática, 1990. v. 2.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. de: Maria Emsantina Galvão G.
Pereira. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2002.
HANKS, William F. Língua como prática social: das relações entre língua, cultura e
sociedade a partir de Bourdieu e Bakhtin. Trad. Anna Cristina Bentes et al. São Paulo:
Cortez, 2008.
MOLLICA, Maria Cecilia. Relevância das variáveis não linguísticas. In: MOLLICA,
Maria Cecilia; BRAGA, Maria Luiza (orgs.). Introdução à sociolinguística: o
tratamento da variação. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2015. p. 27-31.
NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola? Norma e uso na
Língua Portuguesa. São Paulo: Contexto, 2017.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. 2. ed. São Paulo:
Unesp, 2011.
PINTO, Edith Pimentel. A língua escrita no Brasil. São Paulo: Ática, 1986.
ROCHA LIMA, C. H. da. Gramática normativa da língua portuguesa. 37. ed. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1999.
VIEIRA, Maria de Fátima. A ordem dos clíticos pronominais nas variedades europeia,
brasileira e são-tomense: uma análise sociolinguística do Português no início do século
XXI. 2016. Tese (Doutorado em Letras Vernáculas) – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.
Referências do corpus:
I) Reportagem:
PEREIRA, Cilene. Até onde vai o choque cultural. Revista Isto é, São Paulo, nº 2558,
03/01/2019. Disponível em: https://istoe.com.br/ate-onde-vai-o-choque-cultural/.
Acesso em: 04 jan. 2019.
122
PORTINARI, Natália. A crônica dos últimos dias do Ministério do Trabalho, criado por
Vargas há 88 anos e extinto por Bolsonaro. Revista Época [on-line], 06/01/2019.
Disponível em: https://epoca.globo.com/a-cronica-dos-ultimos-dias-do-ministerio-do-
trabalho-criado-por-vargas-ha-88-anos-extinto-por-bolsonaro-23349294. Acesso em: 08
jan. 2019.
PRADO, Antônio Carlos. Os riscos da mitificação. Revista Isto é, São Paulo, nº 2558,
03/01/2019. Disponível em: https://istoe.com.br/os-riscos-da-mitificacao/. Acesso em:
04 jan. 2019.
RIBEIRO, Aline. Marina Silva, a candidata invisível: os desafios de uma campanha sem
dinheiro, sem tempo de TV e sem alianças. Revista Época [on-line], Rio de Janeiro,
03/08/2018. Disponível em: https://epoca.globo.com/marina-silva-candidata-invisivel-
os-desafios-de-uma-campanha-sem-dinheiro-sem-tempo-de-tv-sem-aliancas-22942713.
Acesso em: 17 ago. 2018.
VAIANO, Bruno. Sonda chinesa faz o primeiro pouso no lado “escuro” da Lua. Revista
Superinteressante [on-line], São Paulo, 03/01/2019. Disponível em:
https://super.abril.com.br/ciencia/sonda-chinesa-faz-o-primeiro-pouso-no-lado-escuro-
da-lua/. Acesso em: 04 jan. 2019.
II) Artigo
III) Edital
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Federal Fluminense. Edital n.º 235/2017.
Disponível em: https://concursos.iff.edu.br/. Acesso em: 01 fev. 2018.
123
IV) Crônica
Anexo
Exemplos dos textos que constituem o corpus
Gênero crônica
A bola era cara antes dos anos 80. Não se reproduzia em série como hoje, não
havia oferta do produto por diferentes marcas, não se adquiria a bola oficial da Copa, da
Libertadores, do Campeonato Brasileiro e do Gaúcho, não podia ser encontrada em
125
E nem se lembra no dia seguinte. Acorda tentando reconstituir a noite para saber em que
gole ficou a viatura.
BP que se preza jamais fala no ouvido da gente e muito menos coloca a mão no
ombro da pessoa a quem se dirige. Já o BA é especialista em ouvidos, ombros e – mais
tarde – colos. Também costuma conversar segurando na sua mão, seja homem ou
mulher.
Quando um deles vem chegando com aquele olhar de bebum, basta olhar nos
sapatos. O do BP está limpo. Do BA está – inclusive – desamarrado.
No tempo em que eu bebia – e me considerava profissionalíssimo – um
conhecido escritor e BP foi até a minha casa. Servi um uísque para nós dois e ele
perguntou:
– Quantas garrafas você tem em casa?
Diante de tal pergunta imaginei que ele fosse mamar (BP odeia essa expressão) mais
que uma.
– Mas essa está cheia!..
– Você é amador! – e deu uma golada e uma gargalhada. – Amador! E eu que te
considerava um profissional…
Fiquei indignadamente sóbrio:
– Como amador??? Como???
– Meu querido, um profissional do álcool não tem apenas uma garrafa em casa.
– Bem, eu tenho mais uma guardada.
– Oito, meu filho, oito!!! Um bom bebedor tem que ter no mínimo oito garrafas em
casa. E da mesma marca.
– Mas eu não bebo nem uma por dia…
Ele, se servindo de mais uma dose:
– Pois é aí que mora o perigo, a culpa! Veja essa garrafa. Você fica bebendo e vendo ela
se esvaziar rapidamente. De manhã ela estava cheia, de tarde já pela metade. De noite
vazia. Ou seja, você fica bebendo e vendo o quanto você bebeu! Dá culpa, você se sente
um alcoólatra. Se fosse um profissional, teria uma aqui na mesinha, outra ao lado do
computador, outra no criado-mudo, na cozinha, na sala de jantar, uma perto da
biblioteca e até uma no quarto das crianças. Não é a garrafa que deve circular pela casa.
E sim o copo. E você. Assim, meu querido amador, você não sente a garrafa se
esvaziando em algumas horas, na sua cara, te dedando, te culpando. Cada uma que você
pega estará sempre quase cheia. E não dá culpa. Pensando bem, você nem percebe que
está de pilequinho. Me serve outra. Olha aí, já bebemos metade. Assim não é possível!
Faça-me o favor!
Publicada em: Revista VogueRG, 07/05/2002.
Lúcidos, nós?? Certo está o Celso: não há a mínima chance. Podemos, quando
muito, disfarçar, tentar, arriscar uma lucidez rapidinha para ajudar um filho a decidir um
caminho, ou para escolher o nosso, mas com que garantias? Somos todos franco-
atiradores diante dos medos, dos riscos, dos erros.
Acordo de manhã desejando fazer a mala, colocá-la no meu carro e pegar uma
estrada que me leve para longe de mim, mas ao meio-dia estou sentadinha na sala de
jantar comendo arroz, feijão, bife e batatas fritas com um sorriso no rosto e
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cronometrando as horas para não me atrasar para a mamografia: uma mulher lúcida,
extremamente.
Tem noites em que o sono não vem, me reviro na cama deixando que me
invadam os piores prognósticos: não sobreviverei ao dia de amanhã, não terei como
pagar as contas, quem me cuidará quando eu for velha, o que faço com aquela camiseta
tenebrosa que comprei, não posso esquecer de telefonar, de dizer, de avisar, e o escuro
do quarto pesa sobre minha insensatez, até que o dia amanheça e me traga de volta a
lucidez.
Quando alguém diz que você é muito lúcido, seu ego fica massageado, não fica?
Lucidez, num mundo insano como este, é ouro em pó. Outro dia me disseram que eu era
muito lúcida e foi como se tivessem dito que eu era uma jóia rara. Enfiei o elogio no
bolso e voltei pra casa me sentindo a tal. Depois do jantar, abri um livro de poemas do
meu amigo Celso Gutfreind, que além de poeta é psiquiatra, mas não atentei para o
perigo da combinação. No meio da leitura, encontrei lá um verso que dizia: "Nada neste
mundo é mais falso do que um lúcido". Meu castelo de cartas ruiu.
Enquanto trabalho com ar de moça séria e ajuizada, minha cabeça parece uma
metralhadora giratória, os pensamentos sendo disparados a esmo: digo ou não digo; fico
ou não fico; tento ou não tento - quem de mim é a sã e quem é a louca, por que ontem
eu não estava a fim e hoje estou tão apaixonada, como estarei raciocinando daqui a duas
horas, em linha reta ou por vias tortas? Alguém bate na porta interrompendo meus
devaneios, é o zelador entregando a correspondência, eu agradeço e sorrio, gentil,
demonstrando minha perfeita sanidade.
Que controle tenho eu sobre o que ainda não me aconteceu? E sobre o já acontecido,
que segurança posso ter de que minha memória seja justa, de que minhas lembranças
não tenham sido corrompidas? Quero e não quero a mesma coisa tantas vezes ao dia,
alterno o sim e o não intimamente, tenho dúvidas impublicáveis, e ainda assim me visto
com sobriedade, respondo meus e-mails e não cometo infrações de trânsito, sou
confiável, sou uma doida.
E essa constatação da demência que os dias nos impingem não seria lucidez das mais
requintadas? É de pirar.
Gênero reportagem
cansada. Sem dinheiro, acorda às 4 horas da manhã para pegar o voo mais barato do dia
e dorme de favor na casa de apoiadores quando viaja para compromissos.
Em sua fala, Marina enfatizou que esta será a mais difícil de suas três disputas
pela Presidência da República. “Em 2010, pelo menos eu tinha um minuto e 20
segundos (de tempo de TV). Em 2014, dois minutos e 20 segundos. Agora vamos ter
oito segundos. Oito segundinhos. Não dá nem para dizer ‘bom dia’ direito”, afirmou à
plateia. Depois de listar os reveses, ela incorporou o otimismo e desafiou os presentes a
dar início a uma transformação da política: “Será a luta do tostão contra o milhão. De
Davi contra Golias. Mas a gente só precisa de uma pedrinha certeira no dia 7 de
outubro. A pedrinha é o voto consciente de cada um de vocês”, disse, com dedo em riste
e tom mais exaltado que o de costume. Houve quem se emocionasse.
A campanha presidencial deste ano realmente se anuncia a mais difícil da
carreira política de Marina Silva, de 60 anos. Além da escassez de dinheiro e de tempo
na propaganda pelo rádio e pela TV, ela tem um partido para chamar de seu, mas
pequeno e sem uma rede de lideranças capaz de mobilizar eleitores em seu favor. Com
essas condições, e numa disputa pulverizada entre mais candidatos, Marina precisará
superar, acima de tudo, seu modo muito particular, um tanto invisível e quase inócuo de
fazer política. Suas andanças recentes atrás de votos têm sido quase imperceptíveis. Seja
por confusão da equipe de comunicação, seja por suas próprias idiossincrasias, a
performance da candidata pouco alcança o público. Enquanto Jair Bolsonaro, do PSL,
seu concorrente mais bem posicionado nas pesquisas eleitorais, lota aeroportos e arrasta
multidões em eventos populares, Marina se restringe a lançamentos de pré-candidatos
desconhecidos da Rede Sustentabilidade — o partido criado por ela — e palestras para
plateias reduzidas. Para driblar a falta de tempo de TV, há duas semanas começou a
fazer, nas redes sociais, uma espécie de “horário pessoal gratuito” ao vivo.
Se na campanha de 2014 Marina viajava de jatinho alugado pelo PSB e
carregava pelo menos três profissionais da comunicação em cada agenda, nesta anda
mais solitária. Ela foi de avião de carreira a Contagem para o lançamento da candidatura
ao Senado do missionário evangélico e ex-jogador de basquete Kaka Menezes. Estava
acompanhada de apenas dois correligionários da Rede e de uma assessora política. “Por
enquanto, o partido não tem verba sua assessoria de imprensa. Na manhã do evento,
Marina havia passado — ela própria — num sacolão para comprar as frutas que comeria
ao longo do dia. Deu entrevista para uma rádio, visitou uma escola, um asilo e um
centro de reabilitação de viciados e posou para foto ao lado de pré-candidatos mineiros
da Rede. Nenhuma das visitas às instituições estava na agenda divulgada para a
imprensa. Não foram, portanto, noticiadas. Em cima da hora, uma entrevista coletiva foi
antecipada da noite para a tarde — e só os veículos de comunicação locais foram
avisados.
Pouco antes do início do evento, um organizador se desesperou ao saber que, por
restrições médicas, a presidenciável não bebe em copo de plástico. “Meu Deus do céu!
Pega o meu carro, vai na minha casa, faz o que precisar para achar um copo de vidro!”,
ordenou a uma colega. A novidade não havia sido notada nas campanhas anteriores.
Marina chegou com atraso de uma hora e 20 minutos ao ginásio de esportes com
paredes verde-limão e 325 cadeiras de plástico espalhadas. O clima era de
confraternização. Ela fez selfies com potenciais eleitores, distribuiu apertos de mão.
Acompanhou com palmas ritmadas um jingle feito para ela — “Seja bem-vinda,
Marina, o Brasil precisa de gente que quer lutar. Seja bem-vinda, Marina, mulher que
ensina, é fiel e que sabe amar”.
No palco, ela dividiu a atenção da plateia com o pré-candidato da Rede ao
governo de Minas Gerais, João Batista dos Mares Guia, irmão de Walfrido dos Mares
129
Guia, ex-ministro de Lula —, além de Kaka Menezes, a estrela da noite. As falas dos
políticos foram precedidas por depoimentos de ex-viciados que deixaram as drogas
depois de frequentar uma instituição de reabilitação do ex-jogador. Em determinada
altura, a campanha ganhou ares de culto. Um músico dedilhava baixinho um violão
enquanto o ex-jogador discursava, ora suave, ora exaltado, com pausas típicas de
pastores em pregações. Menezes citou versículos da Bíblia — “Bem-aventurados os
pobres de espírito, pois é deles o reino dos céus” — e mencionou Jesus. Marina também
inaugurou sua fala agradecendo a Deus, como faz sempre. Foi aplaudida três vezes em
meia hora de oratória.
A candidata da Rede chega a sua terceira disputa presidencial com a mesma
cabeça das duas primeiras, avessa a uma campanha mais profissional. Sua agenda
prioriza compromissos que não atraem multidões, mas que falam com o eleitor
individualmente, olho no olho. “A construção da agenda da Marina é um problema
crônico: tem efeito político reduzido, atende a interesses paroquiais e só fala para
convertidos”, afirmou um ex-integrante de sua campanha. “Ela acredita demais em seu
carisma. Acha que sua história de superação, por si só, é capaz de criar uma identidade
com o eleitor.”
ÉPOCA comparou a agenda pública dos três candidatos mais bem colocados nas
pesquisas. De abril a junho, Marina teve 43 eventos em nove estados, além de uma
palestra na Inglaterra. No mesmo período, o pré-candidato Ciro Gomes (PDT-CE)
computou 63 — ou 46% a mais — compromissos em 11 estados e três países —
Estados Unidos, Argentina e Suécia. A assessoria de imprensa do deputado Jair
Bolsonaro não divulga sua agenda, por afirmar que “o pré-candidato não está em pré-
campanha”. Em suas redes sociais, entretanto, é possível contabilizar viagens a 11
estados.
Para compreender a lógica política de Marina, é preciso revisitar suas origens.
Ela despertou para a militância e para os movimentos sociais no final dos anos 1970. Ao
lado do ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988, Marina deu início a um
processo para fortalecer politicamente os camponeses da região de Xapuri, no Acre, em
meio ao avanço de desmatadores e latifundiários que derrubavam a Floresta Amazônica
para dar espaço à criação de gado. Esse jeito “marinês” de fazer política — olho no olho
com pequenos grupos — é chamado por estudiosos de grassroots, ou raiz de grama, que
não sai do chão. “Ela e seu entorno preferem falar com um grupelho de estudantes da
Universidade de Brasília a se preparar para aparecer no Jornal coisas, mas não para
ganhar uma campanha presidencial num país continental.”
Enquanto o Fundo Eleitoral da Rede Sustentabilidade tem míseros R$ 10,7
milhões para subsidiar candidatos à Presidência, à Câmara dos Deputados e ao Senado,
a maioria dos partidos concorrentes conta com somas bem maiores. O MDB do ex-
ministro da Fazenda Henrique Meirelles encabeça a lista dos endinheirados, com R$
234,3 milhões. O PSDB de Geraldo Alckmin vem na sequência, com R$ 185,8 milhões.
As legendas de Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL) terão R$ 61,1 milhões e R$
9,2 milhões, respectivamente. Como Marina, todos terão de dividir esses recursos com
outros candidatos. Ela contará em sua campanha com metade do fundo da sigla, R$ 5
milhões, bem menos do que os R$ 44 milhões gastos em 2014, quando concorreu pelo
PSB. Define sua campanha como “franciscana”. Em meados de julho, Marina lançou
uma vaquinha na internet. A meta era conseguir R$ 100 mil para a realização de eventos
em cinco capitais — objetivo alcançado em cinco dias. A segunda é alcançar R$ 200
mil, que serão usados para combater o que chama de “mentiras, acusações levianas e
notícias falsas” de adversários.
130
filiados a partidos como PSDB, PPS e Novo. O grupo apoia o manifesto por um “polo
democrático e reformista”, assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao
final do evento, um constrangimento: no palco, o coordenador da Roda no Rio pediu
licença para beijar o rosto de Marina e declarou que a apoiará.
Nacionalmente, porém, o movimento ainda não se decidiu. “Em 2010, Marina
era uma candidata de nicho. Agora, sem abrir mão de seus valores, ampliou o discurso e
está mais assertiva”, disse Tibério Canuto, coordenador nacional da Roda. “Mas ela
precisa se abrir para alianças. Dizer que vai governar com os melhores não é suficiente.”
Segundo um interlocutor frequente da ex-senadora, a aposta de Marina é que,
confirmada a inelegibilidade do ex-presidente Lula, ela herde boa parte dos votos antes
destinados ao líder petista. O eleitor saberá reconhecer, Marina acredita, a semelhança
de suas histórias de vida. De olho nesses votos, evita fazer críticas diretas ao ex-
presidente. De acordo com pesquisa do instituto Datafolha realizada em junho, a
candidata da Rede alcança 15 pontos percentuais em um cenário sem Lula, 4 pontos
atrás de Jair Bolsonaro (PSL), mas derrotaria o capitão reformado em um segundo
turno.
Para manter a boa posição até 7 de outubro, espera aproveitar sua exposição na
TV. Apesar do reduzido tempo na propaganda eleitoral, sabe que terá a chance de
conquistar o eleitor em telejornais e programas de TV. No Jornal Nacional, da Rede
Globo, contará com um minuto e dez segundos por dia a partir de 20 de agosto —
tempo que a emissora dará a todos os candidatos que tiverem mais de 6% nas pesquisas
Datafolha/Ibope feitas na semana anterior ao início da cobertura.
Apesar da resistência de Marina em relação a coligações com grandes partidos,
os líderes estaduais da Rede manifestam uma visão mais pragmática, o que pode
beneficiá-la eleitoralmente. No Rio Grande do Sul, o partido apoia Eduardo Leite,
candidato do PSDB ao governo estadual. No Amapá, a Rede fechou aliança com Davi
Alcolumbre, candidato do DEM ao Palácio do Setentrião, sede do Executivo — o
senador Randolfe Rodrigues será candidato ao Senado pela coligação.
Além da campanha amadora, Marina terá de superar outro infortúnio: convencer
o eleitor de que não é, como a julgam seus ex-aliados, uma metamorfose política. Ela se
elegeu vereadora, deputada estadual e senadora pelo PT, com projetos para dar mais
recursos para estados com Unidades de Conservação e terras indígenas. Foi ministra do
Meio Ambiente do governo Lula, quando ganhou fama de intransigente. Sua gestão foi
dura na concessão de licenças ambientais, o que gerou acusações de travar obras, e bem-
sucedida na criação de mecanismos que resultaram na redução do desmatamento da
Amazônia. Deixou o governo por divergências, rompeu com o PT e se filiou ao Partido
Verde (PV). Candidata à Presidência em 2010, conseguiu inesperados 19,6 milhões de
votos — 17,6% do total. Seu maior ativo, naquele tempo, era apresentar um discurso
que escapava da polarização entre petistas e tucanos. Apareceu como uma alternativa
ecossocialista e ganhou seguidores ávidos por uma renovação na política.
Marina estava bem acompanhada quando estreou na corrida presidencial, em
2010. Seu vice, o empresário Guilherme Leal, fundador e um dos donos da fabricante de
cosméticos Natura, era uma figura benquista pelo mercado e ainda trazia na conta uma
fortuna pessoal de US$ 2,1 bilhões — chegara à lista de bilionários da revista americana
Forbes quatro anos antes, como a 562ª pessoa mais rica do mundo. Além de maior
financiador da campanha — doou R$ 2,275 milhões do próprio bolso —, Leal era uma
peça-chave para quebrar a resistência a Marina no meio empresarial, que a via como
“verde” demais. Os dois demoraram a se conhecer, mas não a encontrar afinidades.
A parceria, no entanto, durou poucos meses. Depois da derrota, Leal se desfiliou
do PV e desistiu da política tradicional. Em sua despedida da curtíssima carreira
132
partidária, declarou que pretendia “ajudar a construir uma política renovada, apoiando o
desenvolvimento de novas lideranças nos bastidores, não mais na linha de frente”. Um
participante da campanha disse que foi um fator pessoal que provocou a desistência. A
mulher de Leal, Samira Farah, não só nunca apoiou sua candidatura, como exigiu seu
afastamento. Ao evento do PV de lançamento da chapa Marina-Leal, Farah não
compareceu. Ao final da campanha, ela passou um tempo nos Estados Unidos, e a
relação dos dois estremeceu. Por fim, Leal escolheu o relacionamento. Em 2015, depois
de 20 anos juntos, os dois oficializaram a união num casamento tão discreto quanto o
casal, na mansão da família, no Jardim Europa, em São Paulo. Procurado, Leal preferiu
não comentar suas decisões.
Marina está mais solitária nesta campanha do que nas anteriores, quando contou
com o apoio do empresário Guilherme Leal (acima, de óculos) e de Maria Alice
Setubal, que não querem mais saber de política. Sua última derrota foi a desfiliação do
deputado federal Alessandro Molon (dir.), que trocou a Rede pelo PSB.
Fora do PV e sem o apoiador de prestígio, Marina foi incapaz de viabilizar seu
próprio partido a tempo de concorrer na eleição de 2014 e teve de lidar com mais
dissidências. Na noite de 3 de outubro de 2013, logo após a derrota sofrida no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), quando a tentativa de registrar sua Rede Sustentabilidade
fracassou, ela se viu diante do dilema de desistir da candidatura ou se lançar por um dos
pequenos partidos que a tinham cortejado. Numa reunião que atravessou a madrugada,
ouviu mais do que falou. A grande maioria dos presentes era contra a candidatura por
outra legenda. No último momento, surpreendeu e anunciou o desejo de propor uma
aliança a Eduardo Campos, então governador de Pernambuco e candidato natural do
PSB à Presidência da República. “A gente ficou decepcionado, muitos deixaram a Rede.
Foi uma brigaiada, uma choradeira. A gente largou todo mundo e foi beber”, disse uma
das fundadoras da Rede, hoje fora da sigla. “Cadê aquela Marina do ‘não vamos ser
programáticos, vamos ser sonháticos’?”
Alçada de vice à candidata presidencial pelo PSB devido à morte de Eduardo
Campos em agosto de 2014, Marina entrou grande na campanha. Chegou a dividir a
liderança das pesquisas com Dilma Rousseff (PT) e, após os ataques violentos que
sofreu da campanha petista, investida comandada pelo marqueteiro João Santana,
terminou na terceira posição, com 20,6% dos votos. Foi quando surpreendeu
novamente. No segundo turno, a despeito da resistência de boa parte dos aliados,
declarou apoio ao tucano Aécio Neves.
Durante o primeiro ato público da nova aliança, Marina apareceu com a
cabeleira solta e um sorriso largo. “Foi muito simbólico ver Marina soltando os
cabelos”, afirmou a fundadora da Rede. “Durante a campanha, tínhamos cansado de
pedir à Marina para soltar os cabelos, para tirar o peso conservador da imagem. Nos
causou náuseas (vê-la assim ao lado de Aécio)”. Dos 12 membros da Executiva
Estadual da Rede, sobraram quatro. Os outros oito deixaram não só seus cargos, mas
também o partido.
A maior perda depois da ressaca de 2014 foi a amiga e confidente Maria Alice
Setubal, a Neca, socióloga e uma das acionistas do Banco Itaú. Ponte de Marina com
financiadores na última campanha, Setubal disse que manterá uma “postura apartidária”
neste ano e que as duas continuam amigas. Interlocutores de Setubal atribuem sua saída
às críticas internas que sofreu ao longo do massacre do PT na campanha. Ela se
envolveu naquele período em dois episódios críticos. Numa entrevista à Folha de
S.Paulo, afirmou que Marina reafirmaria os compromissos feitos anteriormente por
Eduardo Campos a respeito de conceder autonomia, por lei, ao Banco Central. Nem
Campos nem Marina haviam ainda se posicionado sobre o assunto após o anúncio da
133
Resumo
A partir de meados da década de 1970, o poeta Paulo Leminski escreve alguns ensaios
manifestando sua preocupação com o problema do esgotamento dos “recursos naturais”,
a iminente catástrofe ambiental, a possível hecatombe nuclear, e com a consequente
crise dos modos de vida dominantes no mundo moderno-ocidental. Leminski se dedica,
sobretudo, a investigar o modo como a literatura participa desse momento histórico de
escassez. Buscando pensar o lugar da arte nessa crise, ele recorre a uma série de
personagens conceituais e históricos que, sob o signo da ascese, se contrapõem à cultura
da afluência, ao ativismo e à teleologia progressista, que caracterizam a sociedade
brasileira da década de 1970, e seu correlato artístico: as literaturas engajadas, tanto nas
suas versões experimentais como nas ideológicas. Esse artigo busca pensar que tipo de
experiência do tempo está em jogo nessa ascese poética leminskiana.
Ascese e escassez
Em 1977, Paulo Leminski publica no caderno Anexo13, suplemento cultural do
jornal Diário do Paraná, um ensaio chamado “Ascese e escassez” (LEMINSKI, 1977a:
5), que faz parte do imenso repertório de escritos que o poeta publicou em periódicos 14,
parcialmente reeditados nas coletâneas Ensaios e anseios crípticos (vol. 1 e 2). No
texto, Leminski se questiona, na esteira dos desdobramentos do relatório do Clube de
Roma15 e da intensa mobilização ecológica que a ele se seguiu, a respeito das exigências
que o “esgotamento dos recursos naturais” e a catástrofe ambiental em curso fazem aos
modernos. Pergunta-se, por exemplo, sobre quem mais sofreria com a escassez e quem
estaria mais preparado para a situação histórica em que a palavra “economia” deixaria
de significar “gestão eficaz dos recursos” para adquirir o status de “poupança” urgente
daquilo que havia restado dos elementos fundamentais à manutenção da vida humana
(LEMINSKI, 1977a: 5).
A finitude dos “recursos naturais”, de acordo com Leminski, colocaria um limite
à teleologia progressista da modernidade, bem como aos modos de existência que
corresponderiam a ela. A realização da utopia desenvolvimentista, segundo a qual, no
futuro todos os seres humanos poderiam desfrutar dos benefícios do desenvolvimento e
do progresso, estaria comprometida:
13
Trata-se de um suplemento criado por iniciativa do poeta e jornalista Reynaldo Jardim e no qual Paulo
Leminski era editor de texto e responsável, em grande medida, pela proposta editorial.
14
Além do Diário do Paraná, publicou também diversos ensaios e poemas na Folha de São Paulo e no
Correio de Notícias, além de jornais alternativos como Pólo Cultural e Raposa.
15
3 Documento composto por cientistas, industriais e políticos, destinado a apontar os efeitos
devastadores da ação do ser humano sobre o meio ambiente global, propondo limites para o crescimento
econômico.
136
Essa utopia progressista teria algumas de suas imagens mais bem acabadas no
cinema hollywoodiano da época, nos filmes em que figuravam famílias estruturadas,
com seus jardins bem plantados, farto entretenimento, em um cotidiano tranquilo, só
eventualmente interrompido por problemas vindos de “fora”. Para Leminski, essa
teleologia jamais se completaria, já que a racionalidade progressista esgotaria a
“natureza” e suas “matérias-primas” bem antes disso. Por isso, na visão leminskiana é
preciso aprender a viver com menos:
Ascese é o nome que Leminski, inspirado pelos monges cristãos (mas também
pelos pensadores cínicos da antiguidade, hippies, xamãs, poetas de haikai, etc.), dá à
nova condição a que todos estariam submetidos em um horizonte que se aproxima cada
vez mais rapidamente. Para encará-lo, segundo ele, seria preciso inventar novas formas
de viver, muito mais próximas da poesia do que da prosa: trabalhar a si mesmo para que
se aprenda a viver com menos coisas, menos espaço, menos títulos, menos crescimento,
tal como o “hippie de estrada” (LEMINSKI, 1977a: 5), ou ainda como a poesia ou o
haikai, que exigem um intenso trabalho sobre suas formas para que funcionem dentro de
uma métrica, de uma medida, de um modo de dizer. Seria fundamental, portanto, de
acordo com o poeta, privilegiar a intensidade, a multiplicação das formas (de dizer e de
viver), produzir a partir do mínimo, do “lixo”. O que o poeta afirma, portanto, é algo
análogo ao que diz Günther Anders quando reivindica a necessidade de ultrapassar a
capacidade atual de imaginação do ser humano, para então imaginar a possibilidade de
inexistência do “contexto” mesmo no qual se fala, diante de sua iminente destruição
(ANDERS, 2013: 5) e, a partir disso, formular novas formas de existência.
Literatura e escassez
Apesar de seus inúmeros ensaios sobre a situação político-ecológica do mundo
contemporâneo, é no campo das discussões literárias que Leminski mais investe na
crítica do ativismo, questionando sua dimensão poética. Tal crítica se constitui como
um afastamento dos modos de orientação temporal teleológicos que pautam grande
parte do pensamento literário de seu momento histórico. Segundo o poeta curitibano, a
literatura/poesia de seu tempo vive uma situação de esgotamento, em que já não haveria
mais tempo para “gestos inaugurais” (LEMINSKI, 1993, p. 44), como teriam sido
aqueles da poesia concreta, da Antropofagia, da Tropicália, nem para posturas
emancipacionistas, como aquela da literatura social, que pretendia fazer da escrita uma
forma de provocar transformações na sociedade. Nesses tempos em que não haveria
mais tempo, “as certezas se evaporam” (LEMINSKI, 1993: 44):
Aí está uma bela questão. A mais bela de todas para os que vivem do verbo. Quem
escreve, vive hoje um ofício sem definições. A literatura, mãe de todas as técnicas de
escrever, morreu: foi atropelada por um trocadilho. A divisão da literatura em gêneros
(poesia/prosa) está agora com seus limites borrados: já não se sabe, na prática do texto
novo, o que é prosa, o que é poesia. Parece que a extensão de um texto define seu
caráter de “prosa” e a brevidade seu caráter de “poesia”. Mas não há mais certeza
(LEMINSKI, 1975).
considerações históricas e críticas sejam feitas. Leminski, que no começo dos anos 1960
havia aderido ao concretismo, vai aos poucos, a partir de sua experiência com os
tropicalistas e com todo um conjunto de artistas que repensaram o significado de fazer
arte no Brasil, questionando o pensamento concreto, especialmente o seu caráter
prometeico e racionalista. No final dos anos 1970, quando escreve “Ascese e escassez”,
já acredita experimentar o “depois do concretismo”, ainda que permaneçam, no seu
discurso, alguns traços do ativismo que criticava nos concretos, como a afirmação da
necessidade de “superar” certos modos de fazer poesia ou a significativa imagem da
“central elétrica” (usada para descrever um modelo de produção artística inspirado em
Maiakovski). Ao se referir à sua geração, Leminski afirma que ela havia priorizado o
humor em detrimento do épico, e deixado de se preocupar com “planos-projetos-
manifestos-plataforma [...] excludentes” (LEMINSKI, 1978b, s/p). Talvez tenha sido
este um dos motivos pelos quais tenha publicado, em conjunto com Régis Bonvicino e
Antônio Risério, o Plano Pirata, uma paródia do Plano Piloto da Poesia Concreta, no
qual buscava, ainda que em tom de brincadeira, “afirmar os caminhos próprios”
(LEMINSKI, 1977b, p. 3) de sua geração, tomando assim um distanciamento crítico em
relação aos concretos.
Em carta a Régis Bonvicino, escrita em julho de 1977, Leminski dá uma pista de
como entender seu desejo de fazer algo que estaria “depois do concretismo”. Ali, o
poeta afirma ser preciso “meter paixão em nossas constelações”, ainda que “sem abdicar
dos rigores da linguagem” (LEMINSKI, 1993, p. 37). Se os rigores vanguardistas dos
concretos teriam permitido a Leminski e à sua geração escapar às tentações autoritárias
da “poesia de comunicação”, eles funcionariam agora como lei, conjunto de limites que
bloqueariam a multiplicidade dos possíveis. Em 1984, em uma visita a Brasília, tomada
pelos poetas concretos como modelo de experimentação arquitetônica, Leminski
escreve um poema sobre a cidade, que explicita algo do modo como o poeta se relaciona
com seus “mestres”:
Em Brasília, admirei.
Não a niemeyer lei,
a vida das pessoas
penetrando nos esquemas
como a tinta sangue
no mata-borrão,
crescendo o vermelho gente
entre pedra e pedra,
pela terra a dentro.
Em Brasília admirei.
O pequeno restaurante clandestino,
criminoso por estar
fora da quadra permitida.
Sim, Brasília.
Admirei o tempo
que já cobre de anos
tuas impecáveis matemáticas.
Adeus, Cidade.
O erro, claro, não a lei.
Muito me admirastes,
muito te admirei (LEMINSKI, 2013: 192).
140
(...)
2 DA INSCRIÇÃO, DA ISENÇÃO DO PAGAMENTO E DA
HOMOLOGAÇÃO
2.1 Da inscrição
2.1.1 A inscrição no presente concurso implica automaticamente o pleno
conhecimento e a tácita aceitação das condições estabelecidas neste Edital e demais
instrumentos reguladores, dos quais o candidato ou seu procurador legal não poderão
alegar desconhecimento.
2.1.2 As inscrições serão realizadas durante o período que consta no Cronograma do
Concurso (Anexo I), exclusivamente pela rede mundial de computadores (internet), no
endereço eletrônico <www.cs.ufg.br>.
2.1.3 O candidato, antes de realizar a inscrição, deverá preencher o formulário de
cadastro de dados pessoais, disponível na página deste concurso.
2.1.3.1 O candidato já cadastrado na base de dados do Centro de Seleção deverá conferir
seus dados pessoais e, caso necessite recuperar sua senha pessoal, clicar no link –
“Esqueci a Senha”.
141
2.3.4 A relação preliminar das inscrições homologadas será divulgada na data prevista
no Cronograma do Concurso (Anexo I) por meio do número de inscrição, do nome do
candidato e pela opção de concorrência.
2.3.4.1 Caso a inscrição não seja homologada, o candidato deverá interpor recurso
conforme orientações disponíveis na página do concurso, no período estabelecido no
Cronograma do Concurso (Anexo I), sendo responsável por eventuais prejuízos de não
o fazer. Em caso de dúvidas, o candidato poderá entrar em contato com o Centro de
Seleção pelos telefones (62) 3209-6330 e 3209-6331 para instruções acerca do
procedimento para homologação da inscrição.
2.3.5 Todas as informações complementares estarão disponíveis na página do
concurso na internet.
11 DA CONVOCAÇÃO E NOMEAÇÃO
11.1 O candidato aprovado e classificado no certame será convocado para posse no
cargo por meio de Edital próprio, publicado, na íntegra, no Diário Oficial do Município
e por extrato em jornal de circulação local. Também será convocado por via postal
(Aviso de Recebimento – AR), no endereço informado no Formulário de Inscrição. A
convocação estará disponível, ainda, no endereço eletrônico
http://www.goiania.go.leg.br/.
11.2 O candidato deverá manter atualizado o endereço no seu cadastro no Centro de
Seleção da UFG, no endereço eletrônico <www.cs.ufg.br>, desde a inscrição até o
Resultado Final do concurso. A partir desse resultado, o Centro de Seleção repassará à
Comissão do Concurso os dados cadastrais do candidato que, se aprovado, deverá
manter seu endereço atualizado, durante todo prazo de validade do Concurso Público.
11.3 A Câmara Municipal não se responsabilizará por eventuais prejuízos aos
candidatos decorrentes de:
a) correspondência devolvida pela Empresa Brasileira de Correio e Telégrafos
(ECT);
b) correspondência recebida por terceiros;
c) endereço não atualizado.
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12 DA POSSE
12.1 O candidato tem o direito subjetivo à posse, devendo, para tanto, ser convocado,
obedecendo à rigorosa ordem classificatória, condicionada à observância das
disposições legais pertinentes e das vagas ofertadas.
(...)
13 DAS PENALIDADES
13.1 Será eliminado do concurso o candidato que:
a) chegar aos locais de realização das provas e da perícia médica após o horário
estabelecido;
b) faltar às provas, às convocações ou à perícia médica, caso convocado;
c) ausentar-se do recinto de qualquer prova ou atividade sem a devida permissão;
d) mantiver conduta incompatível com a condição de candidato ou ser descortês
com qualquer dos supervisores, coordenadores, aplicadores de provas, aplicadores de
reserva ou autoridades e pessoas incumbidas da realização do concurso;
e) sair da sala de aplicação de prova com quaisquer anotações antes do horário
permitido;
f) for surpreendido, durante a realização das provas, em comunicação (verbal,
escrita, eletrônica ou gestual) com outras pessoas, bem como estiver utilizando fontes de
consulta, tais como livros, calculadoras equipamentos de cálculo, anotações, impressos
ou ainda, usando óculos escuros ou quaisquer acessórios de chapelaria (chapéu, boné,
gorro etc.) ou outros materiais similares;
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