Você está na página 1de 32

Ficha técnica

Publicação da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 - Organismo da Conferência


Nacional dos Bispos do Brasil, em parceria com o Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3” Universidade Federal da Bahia (UFBA)


Rua Emília Couto, 270 B - Brotas Reitor: João Carlos Salles Pires da Silva
CEP: 40.285-030 - Salvador/BA Vice-Reitor: Paulo César Miguez de Oliveira
Telefone: (71) 3357-1667
caritasne3@caritas.org.br Instituto de Humanidades Artes e Ciências
www.ne3.caritas.org.br Professor Milton Santos (IHAC)
Diretor: Luis Augusto Vasconcelos
Coordenação Colegiada: Vice-Diretor: Milton Júlio de Carvalho
Catia Maria Moreira Cardoso
José Jardel do Nascimento Rua Barão de Jeremoabo, s/n, PAF-V, Ondina
Alan Alves Lustosa – CEP 40170-115. Salvador/BA
Conselho Consultivo:
Cleusa Alves da Silva, Jorge Gonçalves
de Oliveira, Raimundo de Jesus Santos,
Sebastiana Tiburcio dos Santos de Souza,
Davi Cravo Teles dos Santos e
Robério Virgens Aires Textos:
Bispo referencial: Bianca Rückert
Dom Valdemir Ferreira dos Santos Marta Campos
Thaís Eduarda de Jesus Ferreira dos Santos
Zoraia Nunes da Gama Santos

Organização:
Alan Alves Lustosa
Bianca Rückert
Josilene Nascimento Passos

Colaboração:
Cátia Maria Moreira Cardoso
Flávia Palha
Maria Beatriz Barreto do Carmo

Revisão:
Pablo Marcio Abranches

Ilustrações e Diagramação:
Bruno Marcello

Apoiadores e instituições parceiras:


Cáritas Alemã, Miserior, KNH, Kinder,
Pró-Reitoria de Extensão da UFBA

Dezembro de 2021
Sumário

Apresentação

Cuidados com as plantas medicinais

Escalda-pés

Cuidando das dores do corpo

Saúde íntima feminina


APRESENTAÇÃO
Saberes populares e tradicionais, saberes sagrados, saberes an-
cestrais, saberes que evocam resistência, força e ânimo para as
jornadas de milhares de mulheres atendidas pelas ações e proje-
tos da Cáritas Brasileira Nordeste 3. Temos atuado junto às comu-
nidades tradicionais quilombolas, de fundo de pasto, povos indí-
genas, ribeirinhos, comunidades de assentamento e comunidades
urbanas, principalmente as periféricas. Entendemos que é nossa
missão promover o bem viver a partir dos princípios de equidade
de gênero, fortalecimento da economia popular solidária, combate
ao racismo, à intolerância religiosa, apoio aos diversos movimen-
tos populares e a toda e qualquer manifestação em apoio à vida
e à justiça.

Esta publicação, que nasce da parceria da Cáritas Brasileira Re-


gional Nordeste 3 com o Instituto de Humanidades, Artes e Ciên-
cias Professor Milton Santos (IHAC) da Universidade Federal da
Bahia (UFBA), como resultado do projeto de extensão “Saberes
Populares e Tradicionais de Cura e Cuidado”, teve como objetivo
fortalecer vínculos, socializar e dar visibilidade aos conhecimen-
tos de mulheres de comunidades negras, rurais e tradicionais na
Bahia e em Sergipe. Objetivos que, com grande satisfação, afir-
mamos terem sido atingidos mesmo em meio a uma pandemia e
à impossibilidade de encontros físicos para a partilha de saberes
e afetos. As oficinas do projeto foram realizadas no modo virtual
e em plataforma de videoconferência, e contaram com a partici-
pação de cerca de 30 mulheres em cada encontro. “Saúde íntima
feminina”, “Cuidando das dores do corpo” e “Cuidando da men-
te e da espiritualidade” foram os três temas geradores escolhi-
dos pelas mulheres e vivenciados a partir de uma diversidade de
dinâmicas, a exemplo da dança popular, visualizações guiadas e
rodas de trocas de conhecimentos, contando também com a par-
ticipação de convidadas externas às comunidades. A diversidade
de saberes e práticas presentes nos encontros revelam a multipli-
cidade de olhares para a saúde, a doença e o cuidado, apontando
a necessidade de promover o diálogo entre os saberes populares
e o conhecimento produzido na universidade.

Nós da rede Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 e do IHAC/


UFBA, após vivenciarmos essa caminhada junto às mulheres par-
ticipantes do curso, disponibilizamos o fruto deste rico trabalho de
parceria. Viva os saberes populares e tradicionais! Viva a todas as
mulheres participantes destes encontros memoráveis!
“As ervas medicinais,
elas são antigas,
quem descobriu que
os chás serve para
isso e aquilo, quem
descobriu? Nossos
ancestrais!”
Claudeane Bispo
Quilombo Brejões dos Negros
Propriá/SE

A importância dos saberes tradicionais é justamente a gente val-


orizar e continuar conviver com a nossa cultura, a nossa reali-
dade. Nas oficinas a gente viu sobre a importância das argilas, dos
chás, das ervas medicinais, a gente devemos agradecer por essa
riqueza que é a natureza que Deus nosso criador nos propôs, nos
entregou. As ervas medicinais, elas são antigas, quem descobriu
que os chás serve para isso e aquilo, quem descobriu? Nossos
ancestrais! Nossos irmãos, os nossos antepassados.
E para mim é de suma importância que isso não morra porque a
gente, eu costumo falar assim para as minhas filhas ‘quando a
gente pisa uma erva medicinal a gente tá tirando a chance de al-
guém ser curado’. Quando a gente cuida de uma erva, porque ela
pode ser a cura de uma pessoa, e passo para elas também que
não podemos separar a medicina acadêmica da medicina cultur-
al, a medicina do saber popular, porque elas têm que andar juntas.

Eu digo assim… A troca, o repasse não pode morrer, e o interesse


de aprender também não! Porque eu sou mãe, se eu repasso pras
minhas filhas que a Erva Cidreira faz bem pra dor de barriga, pra
cólica, dor de estômago, elas não vão aprender, não vão querer
saber. Agora se só minhas filhas ver eu cultivando no quintal as
minhas ervas “Ai mamãe estou com dor de barriga!” Vamos lá col-
her, vamos lá nós duas pegar as folhinhas necessárias, fazer o chá
juntas e dizer esse chá serve para dor de barriga... Aí quando ela
tiver numa situação que alguém esteja assim, ou ela mesmo, ela
vai fazer o cházinho dela, aí cada vez que ela faz esse chá junto
comigo, então a troca de saber pra mim é você se reencontrar com
a sua ancestralidade; Você vai estar se conhecendo e depois com
o seu ancestral, entendeu? Eu sou católica, pratico o catolicismo
mas eu não deixo de acreditar que onde eu vivo, viveu alguém que
deixou toda essa herança que hoje eu estou usufruindo.
CUIDADOS
COM PLANTAS
MEDICINAIS
CUIDADOS COM PLANTAS MEDICINAIS
Bianca Rückert

Apresentamos abaixo alguns cuidados para o uso de remédios à base de plantas


medicinais:

Ao iniciar um tratamento à base de plantas medicinais, é importante se certificar


da planta a ser usada, pois uma planta pode ter diversos nomes, assim como difer-
entes plantas podem ser conhecidas por um mesmo nome.
Saber qual parte da planta deve ser usada (flores, folhas, caules, frutos ou raízes).

Lavar bem a parte da planta a ser usada, em água limpa e corrente. Não se deve
utilizar plantas mofadas, velhas, danificadas, com manchas, com furos, com bichos
ou que estejam próximas a fossas, lixos, esgotos, locais tratados com agrotóxicos ou
beira de estrada, pois podem fazer mal à saúde.

Recomenda-se colher as plantas em horários que o sol estiver menos forte: no in-
ício da manhã (após a evaporação completa do orvalho da noite) ou no final da tarde.

Colher a casca e a entrecasca antes da planta estar florida ou na fase adulta; as


flores no início da floração após a abertura das flores; os frutos e sementes quando
estiverem maduros; as raízes quando a planta estiver adulta e pela manhã, e os
talos e as folhas antes do florescimento. As ferramentas de colheita devem ser lim-
pas antes e após cada corte para evitar contaminações.

As plantas devem ser secas à sombra, em lugar ventilado, protegido de insetos e


poeira. Depois de secas, podem ser guardadas em frascos limpos, secos e com tam-
pa, preferencialmente, vidro escuro. Identificar a embalagem com o nome da planta,
parte colhida e data da coleta. Não é recomendado guardar a planta seca por muito
tempo, pois com o tempo elas perdem as substâncias medicinais.

Embora de origem natural, toda planta medicinal pode apresentar algum risco para
a saúde, como intoxicações ou reações alérgicas. Por isso, é importante verificar a
forma de uso da planta (se uso interno, na forma de chá ou tintura; se uso externo,
na forma de banho ou pomada, por exemplo), a quantidade a ser utilizada e o tempo
de tratamento. Vale lembrar que algumas plantas são recomendadas apenas para
uso externo.

Evite misturar plantas sem a orientação de alguém que tenha bastante conheci-
mento das plantas. Caso faça uso de medicamento alopático, é recomendado que
converse com o profissional de saúde que te acompanha.

No preparo dos remédios à base de plantas, utilize vasilhas de esmalte, barro,


vidro, porcelana ou inox.

Caso sinta algum efeito indesejado, ou não alcance o resultado esperado com as
plantas medicinais, procure a unidade de saúde.
PREPARO DOS CHÁS

Os chás podem ser preparados de dois modos: infusão ou decocção.

A infusão é o chá das partes das plantas que são moles e ricas em óleos essenciais (que têm
cheiro), como flores, folhas e caules finos. Para o preparo da infusão, deve-se adicionar água
fervente sobre a parte selecionada da planta. Tampe, deixe em repouso por 5 a 15 minutos,
e coe.

A decocção (cozimento) é utilizada para partes duras das plantas (raízes, cascas). Para o
preparo da decocção, deve-se colocar a planta em água fria, levar ao fogo e ferver por 15
minutos (no caso de plantas com textura macia) ou por 15 a 30 minutos (no caso de plantas
com textura dura). Retire do fogo, tampe, deixe em repouso por 10 a 15 minutos e coe.

Os chás devem ser consumidos logo após o preparo.

TINTURA OU ALCOOLATURA

Alcoolatura é a extração dos princípios ativos da planta verde ou fresca. Já a tintura é a ex-
tração dos princípios ativos da planta seca.

Para preparação da alcoolatura ou da tintura, em um recipiente de vidro com planta, deve-


se adicionar a planta e cobri-la com álcool de cereais diluído, tampar e fazer agitação diária,
durante 8 a 15 dias. Após esse tempo (também chamado de maceração), coar e armazenar
o líquido em vidros escuros limpos e tampados, em local escuro, seco e ventilado.

Para a preparação de uma tintura usa-se a proporção de 20%, ou seja, para cada 20g de
planta adiciona-se 100mL de álcool de cereais. Para a alcoolatura (planta fresca) deve-se
usar o álcool a 80% (para produzir o álcool 80% misturam-se 830ml de álcool a 96% para 170
ml de água fervida). Já para a tintura (planta seca) deve-se usar o álcool a 70% (para produzir
o álcool 70% misturam-se 730ml de álcool a 96% para 270 ml de água fervida).

Para uso interno, as tinturas devem ser feitas em álcool cereais e podem ser utilizadas dis-
solvidas em água. Outra opção é o uso de vodca e nestes casos não será preciso diluição. As
gramaturas continuam as mesmas, ou seja, para 20g de planta seca usa-se 100 ml de vodca.
Para uso externo, as tinturas podem ser feitas em álcool comum.

OLEATO

É um extrato oleoso feito através da maceração de ervas secas em contato com óleo vegetal
(coco, oliva, canola, gergelim, girassol, licuri) por um período de 30 a 45 dias.

Para a preparação do oleato usa-se 50g de erva seca para 100ml de óleo vegetal. É impor-
tante que a erva esteja completamente coberta pelo óleo, para evitar que mofe. Durante o
período de 30 a 45 dias é importante agitar o conteúdo. Manter o pote em local seco, arejado
e escuro (Caso seja necessário, cubra o pote com um pano escuro).

Para coar o conteúdo usa-se pano voal ou filtro de café (papel). Coar o conteúdo em
recipiente esterilizado.
Para uma melhor conservação, usa-se 4 gotas de oleoresina de alecrim para cada 100ml
de oleato. Quando o óleo rançar (estragar) ficará com cheiro parecido com giz de cera. É
recomendável não usar mais o produto nesta condição.

XAROPE

É preparado a partir de água e açúcar, o que atribui um melhor sabor ao produto. Assim, é
recomendado principalmente para as crianças. Não é recomendado para pessoas com dia-
betes.

Utiliza-se 100 (g) de planta seca para 1 litro (L) de xarope. Coloque 850g de açúcar e 450mL
de água em uma panela esmaltada, de vidro ou de aço inox. Dissolva o açúcar, aquecer até
fervura e acrescentar as plantas picadas.

Cascas, sementes e raízes devem cozinhar em fogo baixo por 10 a 15 minutos; folhas tenras
e flores devem cozinhar em fogo baixo por 2 a 3 minutos. Tampe a panela e deixe em repouso
até que esfrie. Por fim, filtre e guarde em um frasco escuro. Sua validade é de 10 dias em
geladeira, mas pode-se utilizar cravo-da-Índia para aumentar a validade.

REFERÊNCIAS

ALKMIM, A. C. Plantas Medicinais e fitoterapia: do cultivo à utilização. Faculdade de Edu-


cação. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008.

CARDOSO, S. R. et al. Uso Correto de Plantas Medicinais. Rede Farmácia de Minas: Com-
ponente Verde. Belo Horizonte, 2013

ESPINDOLA, F. S. et al (org.). Saúde para todos: informações sobre o uso de plantas medic-
inais: conectando o saber popular ao saber científico. Uberlândia: Composer, 2013.

PROGRAMA FARMÁCIA DA TERRA - UFBA, NÚCLEO FITOBAHIA - SESAB. Cartilha para


Usuários do SUS: Plantas Medicinais, Fitoterápicos e Saúde.
“Os saberes
tradicionais são
muito impor-
tantes em nossa
vida. Além de
preservar as
nossas raízes,
preservamos
também a nossa
saúde.”
Iraci Maria da Silva
Quilombo Vereda do Cais
Caetité /BA

Os saberes tradicionais são muito importantes em nossa vida.


Além de preservar as nossas raízes, preservamos também a
nossa saúde. Ingerindo alimentos saudáveis sem agrotóxicos, da
mesma forma são as ervas que usamos para remédio, para curar
doenças e algumas enfermidades. São remédios que curam as
doenças e não tem nada químico. Benzedeiras, lambedouros são
costumes tradicionais, são saberes que em algumas regiões estão
em extinção. São raízes e saberes que precisam ser preservados,
saberes que têm poder de afastar ou curar algum tipo de mal-es-
tar. As ervas, as pomadas, os chás, os unguentos e outros que
no momento não foram lembrados, além do poder da cura, estão
preservando os costumes dos saberes tradicionais do nosso povo.
ESCALDA-PÉS
ESCALDA-PÉS
Thaís Eduarda de Jesus Ferreira dos Santos

“Nossos pés são a base de sustentação do nosso corpo e sofrem enorme desgaste ao longo
do dia, após horas de atividade sem descanso. O escalda-pés, é uma maneira simples e
eficaz de aliviar a tensão, relaxar a musculatura e diminuir a sensação de cansaço dos pés
e pernas. Esses efeitos estão relacionados, em grande parte, com a água e sua temperatura
- em torno dos 38°C para o escalda-pés - que possuem efeito curativo, revigorante e extrema-
mente relaxante. Além disso, segundo os chineses, nossos pés possuem cerca de 70 mil ter-
minações nervosas que estão associadas a diversos órgãos do corpo humano (reflexologia).
Sendo assim, a pressão e o aquecimento desses pontos refletem em um equilíbrio do corpo
todo.” (AFREEKANA, 2012). O uso de plantas medicinais é uma prática realizada desde os
primórdios, e que hoje vem sendo uma grande aliada para a medicina moderna.

Sabe quando sua mãe ou avó dizia: “Vamos aquecer os pés?”


“Nos rins, mora a nossa energia ancestral, essa que não se repõe, só se esvai. Preserva-
mos essa energia mantendo os pés sempre quentes, pois os meridianos dos rins (raízes)
começam nas solas dos pés, e o excesso de frio causa a deficiência dessa energia. O calor
nos pés proporciona vitalidade. Nossa extremidade inferior tende a ser mais fria, pois recebe
o “yin” da terra, enquanto nossa extremidade superior é mais quente por recebe “yang” do
céu/sol. O escalda-pés ajuda nessa subida de energia yin e descida de energia yang, fazen-
do um movimento fluido, o que quer dizer: saúde” (BARAKAT, 2020). Então, escute o que as
suas mais velhas falam. Aqueça os pés!

Modo de preparo:

1º Passo:
Coloque água para esquentar em
uma panela. Deixe que aqueça
entre 36ºC e 40ºC.

2º Passo:
Ao chegar na temperatura ideal, despe-
je toda água em uma bacia. Caso fique
muito quente para você colocar seus
pés, tente encontrar uma temperatura
confortável acrescentando água natural
aos poucos. Nesse momento, aprove-
ite, também, para separar uma toalha
para o final secar os pés.
3º Passo:
Na bacia com água morna, adicione sal
grosso e ervas medicinais. Você, tam-
bém, pode adicionar óleos essenciais.

4º Passo:
Sente-se e coloque os pés na bacia.
Eles devem ficar 15min ou mais em
contato com a água. Aproveite para
colocar uma música e relaxar.

5º Passo:
Ao tirar o pé da água, é importante secar
bem os pés. Aproveite para hidratar os
pés aproveitando para massageá-los,
realizando pequenos movimentos circu-
lares na planta, dedos, calcanhares e
dorso. Também, pode colocar meias e
não tome friagem depois do escalda-pés.
Algumas das principais ervas:

Alecrim: bem-estar, alegria, disposição e melhora a concentração.

Arnica: para reduzir a dor, inchaço e relaxar.

Arruda: purifica o corpo.

Calêndula: ajuda na circulação, nos problemas de varizes.

Canela: aumenta a energia vital e dissolve tristeza.

Capim limão (óleo ou folhas de capim-cidró ou cidreira): calmante, descongestionante,


relaxa a mente cansada.

Cravo: fortalece a ação, iniciativa e coragem.

Erva-cidreira: diminui o nervosismo, inquietação e insônia.

Eucalipto e Hortelã: combatem cansaço e livram as pernas da sensação de peso, além de


auxiliar nos problemas respiratórios – eucalipto glóbulos, e é um estimulante.

Guiné: Purifica o corpo.

Lavanda: relaxante, regeneradores celulares e podem curar frieiras, pois são fungicidas,
bactericidas e cicatrizantes.

Manjericão: é estimulante e tonificante para os nervos, alivia os sintomas de cabeça pesada,


descongestionante, diminui ansiedade, insônia e purifica o corpo.

Orégano: ação anti-inflamatória, analgésica e antimicrobiana.

Sálvia branca ou sálvia officinalis: como tônico, antidepressivo, baixa a pressão e equilibra
a circulação, renova a pele.

Sal grosso ou fino: Para potencializar, proporcionam sensação de leveza nos pés, ajudando
a drenar o excesso de líquidos e reduzir o inchaço

Referências

AFREEKANA, Carol. Raiz Afreekana: Escalda-pés. In: AFREEKANA, Carol. Raiz Afreeka-
na. São Paulo, 7 set. 2012. Disponível em: http://raizafreekana.blogspot.com/2012/09/escal-
da-pes.htmlhttp://raizafreekana.blogspot.com/2012/09/escalda-pes.html. Acesso em: 1 nov.
2021.
BARAKAT, Dalila. Escalda pés, uma cultura milenar. In: O Mil e uma Viagens – 1001 Trips.
[S. l.], 5 jul. 2020. Disponível em: https://www.mileumaviagens.com.br/escalda-pes/. Acesso
em: 1 nov. 2021.
SAAD, G. A. et al. Fitoterapia contemporânea: tradição e ciência na prática clínica. 2. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
STRÄHUBER, Luciane. Escalda-pés: uma prática milenar, terapêutica e restauradora. In:
Wohali Terapias. [S. l.], 15 jul. 2020. Disponível em: https://wohaliterapias.com/2015/08/05/
escalda-pes-uma-pratica-milenar-terapeutica-e-restauradora/. Acesso em: 1 nov. 2021.
“Por entender que
são saberes e fazeres
tradicionais das famílias,
etnias, comunidades
e que são essenciais
para a formação de um
cidadão e de todo ser
humano.”
Maria do Socorro dos Santos
Remanso / BA

Sou Maria do Socorro Santos, sou daqui do Remanso, território do


Sertão do São Francisco.
Desde muito cedo eu tomei gosto pelo trabalho com as plantas,
os saberes medicinais têm me ajudado bastante, assim como ten-
ho ajudado outras pessoas e a minha família. Quanto mais você
usa, mais a sua saúde melhora. Por isso eu lhe digo, uma oficina
dessa, por menor que seja, por pouco que seja, como é virtual,
às vezes a gente se dispersa, mas você aprende. Tudo que você
aprende numa oficina dessa você tem condições de repassar para
outra pessoa, com uma certeza de que aquela folha, aquela tin-
tura, que aquele alho, aquele Gergelim, aquilo alí faz bem para a
sua saúde e para as outras pessoas.
CUIDANDO DAS
DORES DO CORPO
A Cura Pela Argila
Zoraia Nunes da Gama Santos

Argila (barro) é um produto natural encontrado embaixo da terra. Em função das suas proprie-
dades terapêuticas, é utilizada desde a Antiguidade em olarias, na fabricação de cerâmica,
nas medicinas e na estética.
A argila possui uma grande quantidade de minerais e um alto poder de absorção, o que lhe
possibilita reter toxinas e impurezas do organismo e tratar inflamações. Além disso, a argila
irradia energia, estimula o bom funcionamento dos órgãos adoecidos, combate a dor e o in-
chaço, tem efeito cicatrizante, calmante e antibacteriana.
Existem argilas de várias cores: (verde, branca, vermelha e amarela). As mais utilizadas na
medicina caseira são a branca e a vermelha.

Coleta:

A argila deve ser colhida em local apropriado, livre de contaminações como esterco, insetici-
da ou esgoto, longe de hospitais, indústrias e cemitérios.
Para coleta de argila, deve-se cavar um a dois metros de profundidade na terra. Após cavar,
deve-se colocar fogo na enxada para desinfecção e em seguida retirar a argila em blocos. A
argila pode ser estendida sobre uma lona para secar ao sol. Depois de seca, pode-se bater
a argila com um martelo de madeira e peneirá-la como uma peneira fina, formando um pó.
Caso não seja possível realizar este procedimento, pode-se utilizar a argila imediatamente
após colhida.
Para conservar suas propriedades e não contaminá-la deve ser guardada em vasilha de
cerâmica, louça, vidro ou madeira e cobri-la com um pano de algodão. Não se deve usar met-
al ou plástico para guardar ou manusear a argila. Para retirar a argila da vasilha, recomen-
da-se usar uma colher de pão. A argila pode ser aplicada no local a ser tratado, em forma de
cataplasma grande ou pequeno.

Cataplasma

O cataplasma é uma mistura de argila com água que possui aspecto grudento. Para preparar
o cataplasma, devemos usar vasilhas de cerâmica ou vidro e colher de pau. É importante
separar esses instrumentos apenas para manuseio do barro medicinal.
Misturamos a argila com água, até formar uma mistura grudenta. Podemos aplicá-la em
camadas de 1cm de espessura, envolvendo o membro do corpo com dor, diretamente so-
bre a pele ou entre dois panos de algodão. Este cataplasma deve ficar na pele por 2 horas.
Recomenda-se não aplicar imediatamente após as refeições.
Os cataplasmas grandes são mais usados para casos de dores em geral, reumatismo, dores
na coluna, cólica dos rins ou da vesícula, dores de estômago e do intestino. Os cataplasmas
pequenos são usados para ferida infectada, panarício (inflamação nas unhas) e queimadu-
ras. Nesse caso, usar em cima do pano de algodão.
O cataplasma frio pode ser aplicado em qualquer parte do corpo. Sobre o coração, rins e a
coluna vertebral é aconselhável aplicar argila morna, levemente aquecida em banho-maria
ou ao sol.
Após o uso, o cataplasma deve ser descartado no lixo ou em local que não contamine o
ambiente.
Lembre-se: quando estamos fazendo tratamento com argila, devemos evitar alimentos indus-
trializados e medicamentos que interferem na eliminação das toxinas.

Referência:
WERNER, David. Onde não há médico. Paulus, 22 ed, 2002.

Receita de Gel Medicinal


Marta Campos

A seguir apresentamos uma receita de gel medicinal que pode ser usado para dores muscu-
lares, traumas leves e contusões.

Ingredientes

Matéria prima Quantidade (g) Medida - Colheres (média)

Goma Xantana 0,6 g 1/2 col de chá

Glicerina 1,8 g 1 col de sopa

Água Deionizada 76,4 g 1/2 copo de extrato de tomate

Extrato de Arnica 4g 4 col de sopa

Mentol 0,8 g 5 gotas

Cânfora 0,8 g 5 gotas

Extrato de própolis 1,5 g 15 gotas


Modo de fazer: umedeça a goma xantana na glicerina até formar uma pasta. Em seguida,
misturar com água até formar um gel. À parte, colocar o mentol e a cânfora em banho-maria
até dissolver em álcool de cereais (utilizar 10ml de álcool). Acrescentar a solução ao gel até
se homogeneizar completamente. Acrescentar a tintura de ervas, como: gengibre, arnica,
desinchadeira. Adicionar 15 gotas de própolis à mistura. Para uma maior durabilidade, usar
conservante certificado pela ECOCERT (Nipaguard é uma opção. No entanto, só se acha
este tipo de matéria-prima em grandes lojas de venda de insumo de cosméticos naturais)
colocar o gel medicinal em um pote limpo, tampar e guardar na geladeira.

Aplicar o gel nas partes doloridas do corpo. Uso externo.

NOTAS:
● No lugar da água, pode fazer com chá forte de alguma outra erva.
● O própolis serve como conservante.
● É importante manter na geladeira para aumentar o tempo de conservação do gel.
“Por entender que
são saberes e fazeres
tradicionais das famílias,
etnias, comunidades
e que são essenciais
para a formação de um
cidadão e de todo ser
humano.”
Eva Ferreira Santos
Ilhéus/BA

Para mim, a importância dos saberes tradicionais é muito grande,


é infinito. Por entender que são saberes e fazeres tradicionais das
famílias, etnias, comunidades e que são essenciais para a for-
mação de um cidadão e de todo ser humano. Para mim, é impor-
tante que disseminemos a cultura desses saberes e fazeres para
que possamos entender como nossos antepassados cuidavam da
saúde espiritual e carnal, como cultuavam os seus deuses sem
distinção e/ou discriminação.
SAÚDE ÍNTIMA FEMININA
Saberes Femininos
Marta Campos

Nós mulheres somos guardiãs e detentoras dos saberes sobre nossos corpos. Historica-
mente, o paradigma médico dominante nos fez acreditar que as medicinas vindas da Mãe
Terra não serviam para prevenir doenças ou tratar desordens de nossos ciclos. Mas, sabe-
mos que a Mãe Terra oferece, generosamente, plantas e ervas potentes para equilibrar,
cuidar, acalmar e suavizar possíveis desequilíbrios, bem como para ser uma amiga que nos
acompanha e nos acolhe diariamente.
Neste exercício de resgatar e relembrar a potência da Mãe Terra, apresentaremos algumas
desordens mais comuns do nosso ciclo feminino, e possíveis cuidados e tratamentos fito-
terápicos e naturais.

TPM - “Tempo para Mim”

Nossa cultura retirou a possibilidade de viver o ciclo menstrual de maneira confortável e bem
cuidada. Normalmente, mesmo menstruada, trabalhamos e produzimos sem conseguir ga-
rantir um tempo para o autocuidado.
Quando estamos perto de menstruar, nosso corpo físico, emocional e espiritual manifesta
sensações, que podem nos informar sobre nossas necessidades mais profundas. Muitas
vezes, sentimos cansaço, peso nas pernas, irritação, dor de cabeça, inchaços. Tudo isso nos
aponta que precisamos guardar alguns minutos do dia para o autocuidado.
Para ajudar nesse processo, podemos fazer algumas medicinas:
• Chá de tangerina + casca de limão + anis estrelado - 2x ao dia
• Escalda-pés com ervas calmantes (camomila, lavanda, cidreira)
• Tomar chá de camomila - 2x ao dia
• Tintura ou chá de artemísia - 3x ao dia

Cólicas Menstruais

As cólicas nos alertam que algo precisa ser cuidado/olhado no ciclo menstrual. Neste período
é importante beber bastante água e descansar sempre que possível.
Para ajudar na diminuição de dores e incômodos do período menstrual, podemos usar:
• Chá de anis estrelado
• Chá de alecrim
• Chá de camomila
• Chá de orégano
• Mascar ou fazer chá da raiz do gengibre
• Escalda-pés, para deixar os pés quentinhos. Desta forma, também deixaremos nosso
útero quentinho e confortável.

Candidíase ou Fungos Vaginais

O fungo que mais provoca infecções é o Candida albicans. Por isso chamamos de can-
didíase. Este fungo é encontrado em todas as partes do corpo, como boca, intestino e vagina.
Na vagina, o fungo pode viver sem causar danos, mas desequilíbrios podem fazer o fungo se
desenvolver e multiplicar, provocando incômodos.
Quando a acidez da vagina se altera, o fungo passa a se reproduzir, causando infecções.
Principais sintomas: fluxo vaginal anormal (normalmente abundante, cor branca e textura
leitosa), vermelhidão, ardor, coceira.

Cuidados

Para tratar e amenizar os sintomas, podemos usar:


• Banho de assento de casca de romã, malva rosa, camomila, calêndula.
• Banho de assento com uma colher de vinagre.
• É importante não coçar o local. Mas você pode fazer um chá com uma dessas plantas,
e deixar em garrafinhas no banheiro. Sempre que for ao banheiro, limpar a região com o
chá escolhido.
• Pomada de calêndula - usada para amenizar coceiras, inchaços e machucados na vulva.
20 ml de óleo de coco (colocar em infusão folhas secas de calêndula, 3 semanas antes).
5g de cera de abelha.

Menopausa

É o fechamento do período fértil (no sentido biológico) da mulher.


É também conhecido como segunda primavera, pois é um momento marcado por transfor-
mações profundas na vida das mulheres.
Anos antes da suspensão definitiva da menstruação, as mulheres começam a sentir os
efeitos da redução hormonal. Este pode ser um momento difícil e confuso. Normalmente a
menstruação fica irregular. No entanto, a mulher ainda ovula, sendo comum a ocorrência de
gestações nesta fase.
Em função da redução hormonal, é comum a mulher sentir diferentes sintomas, sendo algu-
mas vezes bem incômodos. Os sintomas mais comuns são: irregularidade da menstruação,
ondas de calor, insônia, instabilidade emocional, infecções vaginais, urinárias, secura vagi-
nal, dentre outros.
Normalmente a medicina tenta resolver com a reposição de hormônios sintéticos. É preciso
estar atenta, pois mulheres com histórico familiar de problemas cardíacos, diabetes ou cânc-
er precisam ficar mais atentas quanto aos possíveis efeitos dos hormônios sintéticos.

Cuidados

Para regulação hormonal natural (calorões):


• Chá ou TM de folha de amora - 250 ml de chá 2x/ dia / 20 gts 3x/dia

Para secura vaginal


• calêndula/camomila/sálvia em infusão no óleo de coco - Com o auxílio dos dedos limpos,
aplicar na região interna e externa da vagina, sempre que necessário.
• Atenção: O óleo vegetal em contato com o látex de preservativos masculino/feminino
favorece o seu rompimento. Atenção ao usar nas relações sexuais.
• Óleo de coco puro - pode ser um ótimo lubrificante para auxiliar na relação sexual.
Para equilíbrio do sistema nervoso (insônia, irritabilidade)
• Tintura de Avena

Para aumentar a libido


• Garrafada: 3 cravos, raspa de casca de limão, canela e noz moscada. Deixar durante 1
semana em maceração no vinho (1 garrafa). Tomar um cálice por dia.
Cistites ou Infecções Urinárias

Cistite é uma inflamação na bexiga, sendo muito comum acontecer nas mulheres. Estamos
mais propensas a contraí-la porque nossa uretra é mais curta e próxima ao ânus, o que pode
facilitar as infecções.

Situações em que as mulheres usam pílulas anticoncepcionais, tem diabetes, estão gestan-
tes ou estão com baixa imunidade também são fatores que colaboram no aparecimento das
inflamações.

Sintomas mais comuns: vontade frequente de urinar, sensação de ardor, sobretudo quando
fizer xixi. Fazer xixi com sangue ou dor; dor acima do púbis; falso desejo de fazer xixi (só
saem algumas gotinhas); xixi com mal cheiro e mais escuras.

Caso perceba algum destes sintomas, mantenha os cuidados básicos de hidratação e pro-
cure com agilidade a Unidade de Saúde mais próxima. Infecções são normalmente causadas
por bactérias e, por isso, precisam ser rapidamente curadas.

Cuidados básicos

Beber muita água - pelo menos 2 litros por dia.


Sempre após as relações sexuais, fazer xixi.
Para aumentar a imunidade
• TM de folha de equinácea - 3x ao dia - 20 gts

Limpeza Uterina

O útero é considerado o segundo coração das mulheres. Através dele as energias de criação
e fertilidade são movimentadas em nossas vidas.

Durante todo o ciclo, esse órgão vive diferentes transformações, sendo um grande receptor
de sangue, fluídos, emoções e energias.

Por isso, é importante que pelo menos a cada 6 meses façamos uma limpeza uterina, para
uma faxina física e emocional.

Garrafada de limpeza uterina


Casca de aroeira, Sálvia, Hortelã graúda, Mel, Uxi amarelo e Unha de gato

Deixar em maceração em uma garrafa de vinho tinto por 15 dias. Depois de pronto, coar.
Tomar 2 colheres de sopa por dia até finalizar a garrafada. Repetir por três meses, para trat-
amentos mais profundos. Pode ser usado para tratamento de endometriose e adenomiose

Referências

ALMEIDA, M. Senhora Verde. Manual de ervas para o ciclo feminino. Matricaria.


SAN MARTÍN, P.P. Manual de introdução à ginecologia natural. 3ª ed. Ginecosofia, 2018.
SAN MARTÍN, P.P.. Del corpo a las raíces: uso de plantas medicinales para la salud sexual y
reproductiva de las mujeres. 2ª ed. Argentina: Ginecosofia, 2017.
SAZANOFF, A. Manual de Ginecologia Natural. 2017.
“A importância dos saberes
da nossa ancestralidade é
uma coisa muito importante
no dia a dia da gente, porque
todos os medicamentos
vêm,(é) das folhas, das
flores, dos frutos”
D. Olinda de Souza Oliveira dos Santos
Quilombo Rio dos Macacos
Simões Filho/BA

Os saberes que a gente cultiva da nossa ancestralidade, dos nossos


avós, bisavós, tataravós são coisas que têm salvado muitas vidas. Meu
pai era descendente de índio e minha mãe descendente de escravos.
E cada qual na sua sabedoria e saberes, faziam remédios para gente
pequeno... A gente aqui nunca teve gripe forte, meu pai curava a gente
com raízes do mato, ele saía, colhia raízes, fazia o xarope e a gente
tomava.
As folhas para nós são sagradas. A floresta é nosso laboratório, porque
a gente quando vai para o mato, a gente colhe umas folhas, é para fazer
um chá. Quem é de oração, faz uma oração. Quem é de candomblé, faz
os seus ritos, certo? Quem é católico faz suas orações também. A gente
pede licença aos donos da mata para a gente colher uma flor ou uma fol-
ha e fazer nossos remédios. A gente tem um respeito muito grande pelas
folhas, pelos frutos, pela floresta e pelas águas. Eu me sinto uma pessoa
privilegiada de ter nascido no mato. Ter me criado no mato e ter minhas
curas do mato, das folhas. Hoje qualquer coisa que a gente sente vamos
procurar no quintal. Vai ao lado da casa e tiramos umas folhas, faz um
escalda-pés, faz um assento... Para nós quilombolas que nascemos no
mato, isso tem uma importância muito grande. Para a sociedade, acredito
também que é muito importante, porque são os saberes dos nossos an-
tepassados que fazem com que hoje as pessoas tenham sabedoria para
criar nossas curas para a humanidade.

Você também pode gostar