Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA

CURSO DE MEDICINA
DISCIPLINA: EDUCAÇÃO EM SAÚDE

PAPEL DAS REZADEIRAS E DOS CURANDEIROS NA PROMOÇÃO DE


SAÚDE

Discentes:
Antonia Maria Luiza de Oliveira Germano
Débora Moraes Angulo
Duany Nascimento e Lima
Layane de Moura Freitas
Raissa Santos Soares

Docente: Maria Lidiany Tributino de Sousa

Barreiras
2023
O ato de rezar em alguém com o objetivo de fazer com que ela melhore de
um determinado mal, seja “quebrante”, mau olhado, espinhela caída, como relata o
texto, se faz presente e persistente como uma das práticas de saúde popular.
Conforme a literatura sugerida, é um saber majoritariamente utilizado pelos
segmentos populares, contudo a elite que via essa prática como “segmentos
místicos e alienados, responsáveis por ideias supersticiosas no processo de
construção das crendices de um povo”, também utiliza desses conhecimentos das
rezadeiras/curandeiros na busca pela cura de suas enfermidades. Entrevistamos
dona Sônia Maria da Costa Bezerra, 63 anos de idade, a fim de não só
compreender o que as benzeções e rezas representam para quem as buscam e
exercem, como também analisar sua importância para os processos de saúde-
doença, no que tange a inclusão e valorização dos saberes populares nos cuidados
em saúde.
Ao analisar o texto e realizar a entrevista, fica perceptível como as pessoas
que realizam essas práticas de benzimento e cura gostam de desenvolvê-las e
aplicá-las para todos que buscam-as. Ao entrevistar a dona Sônia, rezadeira, ela
conta que tudo começou quando uma senhora pediu para ela rezar para um
afilhado, mas que foi resistente de início ao pedido. Com a insistência da comadre,
a rezadeira acendeu uma vela e rezou pelo enfermo e dali em diante aceitou esse
propósito e nunca recusou um pedido. Durante a conversa, a rezadeira manifestava
sempre a satisfação e honra que era rezar em alguém e por alguém que ia ao seu
encontro, seja por qual motivo fosse, podia ser por uma doença, um mau olhado,
que para ela esses momentos eram gratificantes por estar ajudando outra pessoa
com aquilo que Deus tinha dado a ela.
Dona Sônia relatou que o início de suas práticas ocorreu após ela passar por
momentos conturbados em sua vida, e que, ao pedido de uma colega para rezar em
seu filho, foi que se descobriu médium e com o dom de rezar e ajudar na cura das
pessoas. Desde então, quem a procura é benzido com os ramos e suas rezas, e
assim, é curado, o mau-olhado sai e seu corpo fica mais protegido. Ainda, Dona
Sônia enfatiza que não é ela quem faz a cura das pessoas, ela atua como uma
intermediadora entre a oração e a cura, sendo ela a pessoa que reza e, no seu
caso, Deus, a que cura. Nesse sentido, nota-se que, diferentemente do que muitos
sinalizam, não há um conflito de interesses e ações entre rezadeiras e profissionais
da saúde, pelo contrário, há uma elevada possibilidade de união e potencialização
no que diz respeito aos atores no processo de cura.
A literatura sugerida aborda sobre a problemática que existe na relação
médico-paciente, a qual, por muitas vezes, não é construída de forma eficiente, seja
pelas consultas rápidas, a não escuta do paciente e a falta de visão holística tanto
para compreender a pessoa em seu contexto quanto para promover uma
terapêutica personalizada às suas necessidades e realidade, levando assim a
descontinuidade do tratamento por parte dos pacientes. Nesse contexto, inserir
pessoas que atuem com práticas de saúde popular e estão mais próximas dos
pacientes configura uma atmosfera de identificação e pertencimento. Esse cenário
de valorização cultural ficou visível durante a entrevista, pois ao falarmos sobre o
projeto realizado na Paraíba, com a participação de rezadeiras para orientação à
população quanto aos cuidados em saúde, a senhora Sônia afirmou que seria de
grande valia caso acontecesse na cidade, pois além de conferir mais visibilidade
para essa parcela da população, também aproximaria aqueles que não dão crédito
para a medicina tradicional.
“Ela afirma que talvez o trabalho das rezadeiras esteja muito esquecido
diante das mudanças vivenciadas pela sociedade contemporânea”. Apesar do
trecho anterior estar presente na literatura sugerida, fica perceptível que mesmo
com a modernização da sociedade e com o afastamento das pessoas das crendices
que antes eram fortes, a busca por pessoas que realizam esses atos de benzer
ainda se mantém forte na sociedade, principalmente em regiões do interior, pois
inúmeros são os indivíduos que veem nessa prática a única solução para a sua
problemática. Isso foi percebido também durante a conversa com a senhora Sônia,
em que ela refere que mesmo diante da pandemia, que começou em 2019, as
pessoas não deixaram de procurá-la, e que para ela era algo gratificante de se fazer
em meio a toda situação que estava ocorrendo.
Ademais, a procura por essas orações e preces, atualmente, são mais
frequentemente feitas pelas mães de crianças para a cura ou melhora do quadro
clínico de seus pequenos. Suas rezas também são muito solicitadas para idosos
que se encontram debilitados ou mais entristecidos, aparentemente, sem uma
causa, e até para animais. Dona Sônia também ressalta que os jovens ainda
buscam suas práticas. Tudo isso mostra como a participação desses grupos
religiosos são influentes nos processos de saúde-doença e o quanto a inclusão nos
serviços de saúde pode contribuir para uma maior adesão aos cuidados médicos
pela população, o que também é visto no artigo sugerido para leitura.
Entretanto, observa-se na sociedade científica a dificuldade em aceitar a
religiosidade frente ao processo saúde-doença, sendo essa associação vista como
componentes opostos. No entanto, a presença da fé e de ritos promove maior
resiliência à comunidade, o que colabora no processo de cura e de resistência
contra as enfermidades. Isso ocorre devido a uma perspectiva mais positiva e de
maior confiança que à religião passa aos pacientes. Por conta disso, a presença de
curandeiros e rezadores na sociedade, bem como de representantes de outras
religiões,não deve ser vista como um entrave aos avanços na medicina, mas sim
um componente que soma à terapêutica do indivíduo, alcançando além da visão
orgânica. Todavia, assim como na leitura sugerida, os rituais e rezas não devem
substituir a medicina tradicional, porquanto o saber científico e os avanços na área
da saúde são fundamentais para o bem-estar da comunidade.
Por fim, fica claro que tanto a fé quanto a medicina tradicional podem andar
juntas quando há harmonia e respeito entre ambas as partes, as quais reconhecem
o seu papel social e suas limitações. Por isso, é importante que os profissionais da
área da saúde em geral sejam capazes de compreender o contexto religioso que os
respectivos pacientes estão inseridos, além de respeitar as práticas religiosas e os
saberes da comunidade, tendo em vista que não é somente o saber científico que é
válido e capaz de gerar impacto na qualidade de vida dos indivíduos.

Você também pode gostar