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Universidade Estadual do Pará

Programa de Pós-Graduação em Educação


Centro de Ciências Sociais
Epistemologias e Práticas de Eucação Não Escolar
Dra. Maria Betânia B. Albuquerque
Dra. Taissa Tavernard de Luca

Saberes
de Cura
Discentes:
Bianca de Araújo Neves
Claudene Souza da Silva
Fernanda Nílvea P. Varela
Francisca Janice
Vivian J. V. do A. Divino
Livro e Artigo de Referência
BENZER, ORAR E EDUCAR: PERCURSOS DE UMA CURADORA DA AMAZÔNIA

Resumo:
O artigo analisa a benzedura como prática educativa a partir da experiência
de uma curadora evangélica, cuja prática se assenta no enfrentamento de
doenças físicas e espirituais, no ensino de terapêuticas e da doutrina
evangélica. O quilombo de Abacatal no Pará é o lócus de seu atendimento,
espaço de circulação de saberes. A experiência de Dona Dionéia revela a
benzedura como premissas para pensarmos o processo educativo sobre o
qual assenta sua prática. Teoricamente, o artigo situa-se na interface entre
educação e antropologia. Caracteriza-se como um estudo de natureza
qualitativa do tipo etnográfico sob a metodologia da História oral. A prática
educativa de Dona Dionéia mobiliza saberes ambientais, medicinais,
espirituais e corporais. Assim, homens e mulheres aprendem a partir da
observação que fazem do rito de cura, na escuta das orações e
terapêuticas, na imitação da técnica de produção e (re)criação do remédio,
configurando uma pedagogia do cotidiano.
Palavras-chave: Educação; Benzedura; Saberes
Sumário

5. Saberes de cura: “Na selva, quem resolvia as coisas era Deus e os


Guias”
5.1. “Quem era doutor lá no Juruá era eu“
5.2. “Era rezador de primeira linhagem”
5.3. A doença do curandeiro e o maior dos remédios: o Daime
5.4. Saberes do Parto: “só a presença dele fazia nascer o menino”
5.5. Casos diversos de cura
5.6. Plantas, remédios e tratamentos
6.Os atravessamentos dos saberes de cura: diálogos entre o Padrinho e
Dona Dioneia
5. Saberes de cura:
“Na selva, quem
resolvia as coisas era
Deus e os Guias”
Os saberes de cura estão intimamente relacionados
à sabedoria popular entendida como
conhecimentos, interpretações e sistemas de
compreensão que determinados grupos sociais
constroem em suas experiências cotidianas, no
intuito de dar sentido a elas (Martinic, 1994)
Os saberes de cura se referem ao vasto repertório de
conhecimentos e práticas visando a cura ou o alívio das
doenças, as diferentes táticas empreendidas nesse sentido,
o domínio das plantas e remédios, formas de manuseio e
tratamentos. Enfim, a gramática da cura que as camadas
populares põem em ação, cotidianamente, nas artes e
fazeres em busca da saúde.
Dentro desse capítulo, Albuquerque (2021),
destaca como objetivos:

•Descortinar as artes de cura de Sebastião


Mota, destacando os saberes que emergem de
suas práticas de cura, bem como os diversos
tipos de doenças ou remédios que manuseava

•Ressaltar o acervo de conhecimentos


mobilizados por Sebastião Mota nos
atendimentos que promoveu por meio da
relação travada com a floresta, com os guias
espirituais e com o Daime.
Mediadores culturais, tradução do original passeurs culturels, é um termo cunhado por
Gruzinski (2001, 2003) o qual permite compreendermos as interações entre as culturas
e a circulação de saberes, imaginários e representações de um determinado grupo.

Os passeurs culturels são elementos – pessoas, objetos – que atuam como


mediadores entre tempos e espaços diversos, contribuindo na elaboração e na
circulação de representações e do imaginário. Por seu forte enraizamento cultural e
sua grande mobilidade, esses mediadores atuam como catalisadores de ideias, sendo
capazes de organizar sentidos e de criar um sistema de conexões dentro do universo
cultural no qual transitam. A atuação desses mediadores permite entender como os
diversos universos culturais se entrecruzam (FONSECA, 2003, p. 68).

A figura do mediador cultural (Guzinski, 2001) exerce a função de fazer circular saberes,
de ser um agente transmissor desses saberes, um operador/orquestrador de saberes.
5.1
“Quem era doutor lá no
Juruá era eu“
Nas comunidades rurais da Amazônia, onde são fortes os
traços indígenas na cultura, predomina o sistema médico
popular conhecido como curandeirismo em que sobressai o
manuseio dos chamados remédios da mata, sejam oriundos
de folhas, cascas, raízes ou ervas [...]
(Albuquerque, 2021, p. 210)
“Quem era doutor lá no
Juruá era eu”
Quem era o doutor la no Juruá era eu. Quando
precisavam de uma ajuda nessa parte que eu
trabalhava, só se viviam me carregando pra outros
seringais, pra aqui e acolá. Com esses seres, fiz
muitas operações, muita cura boa. No tempo em que
eu vim embora ficaram lá chorando
(Albuquerque, 2021, p. 212).

GUIAS ESPIRITUAIS:
José Bezerra de Menezes
Antônio Jorge
Mestre Osvaldo:
importante professor

Mestre Osvaldo tornou-se, assim um importante professor de


Sebastião nos saberes de cura, ensinando-lhes rezas, remédios e
terapêuticas diversas, além de conhecimentos mediúnicos na
linha espírita-kardecista, muito embora se tratasse de um
espiritismo de cunho popular crivado de elementos da
religiosidade local. (Albuquerque, 2021, p. 214).
Espiritismo à brasileira

De fato, como escreveu a historiadora Mary Del Priore (2014, p.


101-1), “o espiritismo sofreu interferências do catolicismo popular
e das religiões afro-brasileiras, resultando no que muitos
especialistas chamam de ‘espiritismo à brasileira’.
AMPLITUDE DA MEDICINA LOCAL

Segundo Heraldo Maués (1994, p. 76) há uma diversidade de agentes


de cura presentes na Amazônia, como as práticas de pajelança na
cidade de Itapuá, analisada por ele. Fazendo notar a ligação
fundamental entre a prática de culto acompanhada da prática
médica, o que demonstra a amplitude da “Medicina Local”, a qual se
manifesta em “crenças religiosas, conhecimentos da natureza,
relações sociais, trocas econômicas, cerimônias, rituais e diversão”
(Heraldo Maués, 1994, p. 76).
“Não tinha médico, hospital nem remédio...”

Não tinha médico, hospital nem remédio. A gente se


curava muito com a medicina da floresta, com o remédio
da floresta e o Mestre Osvaldo costumava fazer umas
garrafadas de plantas para fortificar aquelas pessoas
que chegavam doente, fracas; para ajudar a curar
aquelas pessoas que recebiam cirurgia, que recebia
operações. E meu pai junto. Então dava carmelitana e até
ervas. Tudo era usado em certos momentos e não só para
remédio, para cura. [...]

Alfredo Gregório de Melo (2021a)


“Habitus dos agentes
de cura amazônidas”
[...] constatou-se que as formas de atenção à “saúde” mediadas pelas
práticas de cura popular (que abrangem um conjunto diversificado de
conhecimentos tradicionais), além de se apresentarem como alternativa
substantiva ao modelo biomédico hegemônico de atenção à “saúde”,
mesclam estes conhecimentos numa “simbiose” de saberes expressando
a configuração de um habitus particular: o habitus dos “agentes-de cura-
amazônidas” (Hauradou; Oliveira, 2017, p.279)
“Habitus dos agentes
de cura amazônidas”
[...] a maneira como são conduzidas essas práticas revela o reavivamento
do que estamos considerando um habitus particular desses agentes, pois
estas práticas de cura e de atenção às demandas em saúde processam-
se num movimento de criação e recriação contínuo. Ou seja, “[...] tende,
ao mesmo tempo, a reproduzir as regularidades inscritas nas condições
objetivas e estruturais que presidem a seu princípio gerador, e a permitir
ajustamentos e inovações às exigências postas pelas situações concretas
que põem à prova sua eficácia” (BOURDIEU, 1992, p. 41).
(Hauradou; Oliveira, 2017, p.279)
“Habitus dos agentes
de cura amazônidas”

ESTRUTURAS

ESTRUTURAS MENTAIS DOS


OBJETIVAS HABITUS
AGENTES SOCIAIS
CONHECIMENTOS TRADICIONAIS E
DIMENSÃO ESPIRITUAL

Homens e mulheres, dotados de capacidade para se


relacionar com o sagrado e manipular as forças
espirituais, dominaram o espaço da cura em
diferentes tempos, lugares e culturas, traduzindo os
sintomas aos doentes e ensinando-lhes a curar seus
males. (Sousa; Albuquerque, 2018, p. 4)
Porém, com a Modernidade essas práticas educativas de cura
foram sendo subalternizadas e marginalizadas pelos padrões
científicos da ciência moderna. Apesar disso, essas práticas nunca
deixaram de existir mesmo estando em invisibilidade social, por
dois fatores principais, primeiro pelo fato de que essas práticas
colaboram para a construção identitárias dos sujeitos e, segundo,
devido a necessidade de acesso a tratamentos de saúde para
além da ciência médica moderna que não chega em muitas
localidades interioranas da Amazônia.
Medicina Popular + Biomedicina

[...] é importante relativizar essa ideia de que as pessoas recorriam as práticas de


cura populares, exclusivamente, devido à falta de acesso aos recursos biomédicos.
Como bem ressaltou Maués (1994), as práticas de medicina popular, de forma
geral, são bem mais amplas que as da biomedicina e visam responder perguntas
outras. Desse modo, mais do que práticas antagônicas, elas costumam ser
acionadas como recursos complementares uma vez que , embora possam ter
acesso aos recursos biomédicos, as pessoas não deixam de procurar outras
práticas de cuidado com a saúde, como é o caso das rezas. (Albuquerque, 2021, p.
215)
5.2. “Era rezador
de primeira
linhagem”
E o prazer que ele tinha, quando
tava em vida, era receber
pessoas desenganadas dos
médicos”

Gercila Teixeira de Souza


Quem foi o Padrinho?
Era um rezador de primeira
linhagem
O ato de benzer, também chamado de rezar foi e continua sendo
muito utilizado como forma de cura em todo o território brasileiro;
“ A benzedura como como um espaço de interseções religiosas, o
trânsito fluido que opera entre o catolicismo popular e a pajelança,
em que vicejam crenças nos seres encantados e nas forças da
natureza, de modo geral, e o fato de despontar como tática de
resistência ante a negligência de políticas públicas voltadas à
saúde no Brasil”;
SOBRESSAIU COM SEUS SABERES
DE REZADOR

“Desde esse tempo a casa de Sebastião e Rita não parou mais de


receber gente doente, principalmente crianças e recém nascidos.
Na tenra idade, estão sujeitos à influência dos olhares de certas
pessoas, que mesmo involuntariamente colocam quebrante, isto é
entristecem o inocente que passa a ter crises anormais de choro,
falta de apetite, dor de barriga,. Quebrante é mal que só cura com
rezas”
A BENZIÇÃO

É a forma de tratamento mais importante para algumas doenças


naturais (cobrelo, erzipla, fogo selvage, etc) e não naturais
(quebranto e todas as formas de mau olhado.
(Heraldo Maués, 1990, p.212 apud ALBUQUERQUE, 2021, p. 216).
O povo desenganado pelos médicos

“Traziam as crianças já quase morta para ele rezar e ele rezava. O


povo chegava desenganado dos médicos: Padrinho eu vim aqui pro
Senhor me curar, e ele curava”
O médico da beirada do Rio

Cada vez mais gente recorria aos seus serviços: picada de cobra
peçonhenta (o padrinho relatava, nele mesmo, mais de dez)
espinhela caída, quebranto, osso quebrado, ferimento de bala e
principalmente mal de espírito. Essas eram suas especialidades e,
quanto mais curava, mais aumentava sua freguesia.
Sebastião efetivamente, rezava e
rezava muito

Ele rezava pra tudo tipo de doença. Ele rezava para vermelha que é
uma coisa que dá no corpo da pessoa que fica vermelho . Ele rezava
para para muitas coisas. Padrinho era uma pessoa que rezava
muito
Quié que coso

“Quié que coso, carne criada, nervo torto, veia cavalgada, osso
rendido”
“Você pega um pedaço de pano com uma agulha e vai dizendo
essas palavras, é como se tivesse costurando, como os
mandigueiros antigos fazia. Pegava uma agulha com um pedaço
de linha e um pedaço de pano”
Rezador de primeira linhagem

“Nego tivesse que morrer e estivesse perto do


Padrinho Sebastião, podia morrer, mas não morria só.
Ele era rezador de primeira linhagem”
5.3. A doença do curandeiro e o
maior dos remédio: O Daime
Sebastião Mota dominava muitos saberes de cura,
porém esse fato não o isentou dos “males
mundanos”.
Após engasgar com um leite, Sebastião Mota
passou a sentir “nauseas e um bolo que vinha até a
garganta e voltava”. Perdeu o apetite. Sebastião
buscou auxílio com médico e farmacêutico,
chegando a ser medicado por estes mas não
obteve a cura. Neste contexto, Padrinho Sebastião
foi em busca de um curador, do qual já tinha ouvido
falar, denominado Mestre Irineu, o qual utilizava um
remédio por ele mesmo denominado de daime.
Os saberes vegetalistas de cura Mestre Irineu provavelmente
eram derivados de índios e caboclos (Moreira; MacRae, 2011, p.
147). Este era conhecido como importante curador juntando em
torno de si vários seguidores.
Sebastião Mota se apresenta diante de Mestre
Irineu ao que é orientado a beber o daime, ao sentir
os efeitos da bebida, Sebastião tem uma
experiência espiritual e recebe a cura. O milagre é
compartilhado com seus parentes e vizinhos que
também passam a aderir ao uso do daime.
O encontro de Sebastião com o daime e seu processo de cura milagrosa
assinalou o início de uma outra etapa em sua vida, agora definida pela
doutrina do Santo Daime. Sebastião se interessou no processo de feitura da
poderosa bebida e incorporou o uso do daime em suas práticas de cura.
O poder curativo do daime é explicado
pelo fato da bebida conter um agente
psicoativo denominada de
dimetiltriptamina (DMT) (Metzner,
2002)

Estudos como os de Couto (1989) e


Pelaez (2002) afirmam que o daime se
constitui em um recurso para
diagnóstico de doenças, além de um
instrumento de comunicação com o
mundo espiritual.
O sentimento de transcendência possibilita a cura de
desequilíbrios físicos, mentais ou espirituais. O poder do daime não
estaria relacionado então, apenas a cura física e sim a uma
transformação espiritual.
De acordo com Pelaez (2002) o daime
permitiria ao indivíduo reconhecer seu
Eu superior, acordar sua
espiritualidade e iniciar um caminho
de cura que se estenderia para toda a
vida.

Para Alverga (1998, p. 39) o


“renascimento espiritual” é o ponto
culminante da cura, porém este não é
um processo simples, pois a
“resistência dos nossos falsos eus é
muito grande”.
“MULHER QUE TOMA DAIME NÃO MORRE DE PARTO”

Muito embora o ofício de parteira esteja


relacionado mais com as práticas de mulheres,
Padrinho Sebastião também atuou como parteiro,
pois sempre era requisitado em momentos
difíceis.
Usando dons mediúnicos, seus conhecimentos de
cura e o daime, Sebastião Mota auxiliou diversas
pessoas a encontrar a cura, seja através de
orações, vibração de pensamento, sua presença
física que trazia segurança aos parturientes, ou
pela ingestão da bebida.
Ayahuasca contém DMT
que age no sistema
nervoso central causando
euforia e visões
psicodélicas.
Os Efeitos sobre o corpo
são subjetivos e podem
incluir visões, delírios,
alterações da percepção e
de cognição.
Pode causar vômito,
diarreia, taquicardia,
tontura, hipertensão, dor
no peito e até convulsões.
É contra indicado para
pessoas com transtorno
mentais e que fazem uso
de antidepressivos.
Quais são os prós do uso da ayahuasca?

Contato com Deus: Uma pesquisa


realizada com milhares de cobaias
pela Johns Hopkins demonstra ainda
que boa parte dessas pessoas
sentiram mudanças positivas e
duradouras no seu dia a dia depois do
rito. As principais delas são
relacionadas à saúde psicológica,
como uma maior satisfação com a
vida, um propósito mais claro ou a
sensação de significado para a
existência. Esses efeitos perduram
mesmo após décadas do uso.
Quais são os prós do uso da ayahuasca?

Contribuição curativa: pesquisadores da Hopkins utilizaram dados de


mais de 4.200 pessoas, que relataram suas experiências e como isso
mudou as suas vidas:

mais de dois terços dos que afirmaram inicialmente ser ateus, ao fim do
experimento já não se identificaram mais assim;
cerca de 70% dos participantes afirmaram ter uma experiência de
encontro que envolvia a comunicação com alguma entidade consciente;
70% dos participantes afirmaram ter menos medo da morte após a
experiência;
15% consideraram essa vivência a mais desafiadora de suas vidas.
Quais são os prós do uso da ayahuasca?

Alguns desses estudos inclusive chegam a abordar o potencial


terapêutico da ayahuasca, especialmente para ajudar as pessoas a
parar de fumar ou para aliviar o desgaste e sofrimento mental após
diagnósticos como os de um câncer, por exemplo.

Combate à depressão: Alguns testes já começaram a ser realizados


em uma unidade psiquiátrica de São Paulo para entender como o
uso da ayahuasca impacta o tratamento contra a depressão. Em
geral, pode-se atrelar um bem-estar subjetivo e efeitos
antidepressivos em quem usa a bebida.
Quais são os prós do uso da ayahuasca?

Ações fisio-imunológicas: Entre as ações fisio-imunológicas da


ayahuasca está o aumento da produção das chamadas células
Natural Killers (NK), responsáveis por combater parasitas e células
cancerosas. O uso regular do chá já chegou a apresentar resultados
de remissão de cânceres, bem como outros problemas de mesma
gravidade. Além disso, ela altera a forma como os genes
transportam serotonina pelo corpo, aumentando inclusive a
produção desse gene de transporte, resultando em efeitos imuno-
modulatórios expressivos
Quais são os prós do uso da ayahuasca?

Ação anti-microbiológica e anti-parasitária:


o Trypanosoma lewisii;
o Trypanosoma cruzi (agente etiológico da doença de chagas);
o Plasmodium sp. (um dos agentes da malária);
a Leishmania (causadora da leishmaniose);
o Toxoplasma gondii (agente etiológico da toxoplasmose);
ação profilática contra amebíase e giardíase;
combate a doenças parasitárias helmínticas;
há também relatos de combate a vários tipos de vírus.
Quais são os prós do uso da ayahuasca?

Efeitos
neuropsicológicos: Além
dos já descritos, existem
outros efeitos
neuropsicológicos que
puderam ser
identificados por meio
de estudos científicos
com usuários que
ingeriram a ayahuasca.
Quais são os prós do uso da ayahuasca?

um estado mais otimista, de descontração e despreocupação;


mais facilidade para socializar, estando os indivíduos mais
amigáveis;
sensação de bem-estar mental, psicológico e cognitivo;
melhor desempenho em testes neuropsicológicos;
maior pontuação na espiritualidade;
grande potencial terapêutico no tratamento da doença de
Parkinson.
De acordo com o estudo, adolescentes que consumiram o chá
durante dois anos apresentaram perfis psiquiátricos e
neuropsicológicos normais, nenhum uso problemático de drogas e
um desenvolvimento considerado normal na tomada de decisões.
5.5. Casos
diversos de cura
Casos diversos de cura

CIRURGIAS DE EMERGÊNCIAS OU “OPERAÇÕES” apoiadas pela presença dos guias


espirituais;

Importante aspecto da prática de cura do Padrinho: a escuta (Del Priore, 2014, p.105)

Ouvir o paciente falar de seus males já era uma forma de cura: sua solidão e angústia
diminuíam diante dos homens que conseguiam preservar a esperança de quem os
consultava (Albuquerque, 2021, p.247)
Casos diversos de cura

“BANHOS DE COZIMENTO” E ALIMENTAÇÃO AO DOENTE – Contribuição de Maria


Brilhante

Era muitas ervas misturada, a gente botava as folhas de laranja, folha de limão,
corama. Alfavaca, até vassourinha. Pegava a vassourinha, arrancava ela, lavava e
botava no banho. Casca de alho quando a pessoa tá muito carregada, bota para
cozinhar para fazer o banho (Maria Brilhante, entrevista)

TRATAMENTOS COM A AJUDA DO DAIME (Alcoolismo, Chagas)


Casos diversos de cura
PERTURBAÇÕES POR AÇÕES DE ESPÍRITOS - apoiado pelos Padrinhos Mário Rogério,
Sebastião e Alfredo

A mulher gemia, suspirava e às vezes soltava alguma


blasfêmia. Estava irrequieta, prestes a perder o controle Então
o Padrinho se levantou e começou a falar uma língua
estranha, tudo dito com muita expressão, como se estivesse
•O TRABALHO DE CURA passando uma descompostura em aramaico. Nesse momento
•O TRABALHO DE ESTRELA a doença tentava vomitar com espasmos convulsivos.
Finalmente soltou um “arrotão”, isto é, um sonoro arroto e
•O TRABALHO DE SÃO MIGUEL vomitou uma água escura. Na mesma hora a janela, que
•O TRABALHO DE MESA BRANCA estava destramelada, se abriu sem ser tocada por ninguém e
alguma coisa invisível pulou para fora. Uns tantos cachorros,
•O TRABALHO DE CRUZES
que até aquele momento estavam silenciosos e friorentos,
correram em cima como se estivessem vendo uma
assombração atravessar a janela (...). Depois disso a mulher
ficou tranquila, chorava com serenidade, sem desespero
(Mortiner, 2001)
5.6. Plantas,
remédios e
tratamentos
PLANTAS, REMÉDIOS E
TRATAMENTOS

BASE ERA SEMPRE A FLORESTA


PLANTAS: FOLHAS, CASCAS,
RAÍZES, CIPÓS
CHÁS, BANHOS,
LAMBEDOUROS E
COZIMENTOS
Pedagogia da Cura

Pedagogia da cura - consiste no processo pedagógico que


atravessa as práticas populares de cura, onde entram em
jogo fatores como a educação da atenção de que nos fala
Ingold (2010), observável na frase: “Como eu vi o Padrinho
fazendo e a minha mãe também ...aí eu fiz” (Albuquerque, 2021,
p.260).
6. Os
atravessamentos dos
saberes de cura:
diálogos entre o
Padrinho e Dona
Dioneia
O ATENDIMENTO PEDAGÓGICO DE
DONA DIONÉIA E SEUS SABERES

O atendimento pedagógico marca o momento mais expressivo do


trabalho de cura de Dona Doneia, é nele que saberes são postos em
circulação e ensinados ao seu público. Está divido em diálogo,
orações e terapêuticos. Essa tríade foi inspirada na divisão do ritual
das benzedeiras, feita por Quintana(1999) e apropriada ao estudo dos
saberes de Dona Dioneia.
TRÍADE QUE COMPÕE O ATENDIMENTO
PEDAGÓGICO DE DONA DIONÉIA
DIÁLOGO ORAÇÃO TERAPÊUTICAS

DIÁLOGO: O que favorece Dona Dionéia adquiri habilidades para dar prognósticos e
diagnósticos das doenças físicas e espirituais ao público. Enfermos compartilham dores,
temores e sintomas. Prognósticos e diagnósticos.

ORAÇÃO: Durante a oração, Dona Dionéia e seu público adentram a dimensão espiritual,
nesse momento se dá o encontro com o sagrado. Nesta relação o enfermo e o intercessor
são envolvidos pela fé em suas devoções(mistura de fé e devoção em prol da saúde do
corpo). Para além dos particularismos, neste sentido, as orações de Dona Dionéia, não
seguem padrões específicos, como observados nos trabalhos de Quintana (1999), Oliveira(
1985ª) e Araújo( 2011) sobre benzeduras que há uma certa incidência de ejaculatória.
EJACULATÓRIA USADA PARA BENZER
COBREIRO

Corta cobreiro bravo. Corta cabeça e corta rabo. Nome de Deus, Virgem Maria. Nem para adiante
nem para tràs este cobreiro há de andar, mas antes há de secar. São Pedro, São Bento. Benza
este filho deste cobreiro peçonhento, em nome de Deus( QUINTANA, 1999, P.77). Dona Dionéia não
faz uso de ejaculatórias em suas orações. Estas direcionadas à santíssima Trindade, , mesclam-
se ao repertório católico( Pai Nosso e o creio Deus Pai), porém reiventado por ela num processo
criativo.
TERAPÊUTICAS: são ensinadas conforme o tipo de enfermidade apresentada pelo doente, Dona
Dionéia reinventa o seu modo particular de curar e educar durante seus atendimentos.
Como observou Quintana(1999), o remédio só tem sentido dentro do ritual. Logo as terapêuticas
da dona Dionéia só podem ser interpretadas a partir da dimensão religiosa, mágica e educativa
de seu atendimento, no contexto em que vive.
DONA DIONÉIA É INDAGADA SOBRE A
DIFERENÇA ENTRE BENZER E ORAR

Após certa reflexão ela proferiu a seguinte explicação: “ Sim. Por que o benzer- quando eu benzia eu
rezava o creio em Deus Pai, Pai Nosso, Ave Maria, santa Maria, Salve Rainha e agora é diferente, agora
eu não rezo. Agora eu oro. Você sabe, nós oramos e pedimos pra Jesus, ele cura”(Entrevista,14 mar,
2015).
Dualidade entre o benzer e o orar, como forma distintas de invocar o sagrado, a busca por benção é
o que move o público. Assim, a oração é um ato de abençoar. É uma benzeção reinventada.
O ENFRENTAMENTO DO SOFRIMENTO REALIZADO POR DONA DIONÉIA
Doenças físicas: realizado por meio de produção e o ensino de chás, xaropes, infusões, compressas
banhos, garrafas....)
Sofrimento espirituais: utiliza o exorcismo e o ensino de banhos espirituais para purificação do lar,
orações bíblicas como Salmos 23 e 91). Esses elementos compõem a sua farmacopeia, usada como
terapêutica , para promover a cura.
OS SABERES DE CURA DE DONA
DIONEIA

SABERES AMBIENTAIS

SABERES MEDICINAIS

SABERES RELIGIOSOS

SABERES CORPORAIS
OS SABERES DE CURA DE DONA
DIONEIA

SABERES AMBIENTAIS: referem-se aos conhecimentos e habilidades para se movimentar no


interior da mata, localizar e extrair as matérias primas, necessárias à fabricação do fármaco e
realização a cura. As ervas, plantas e frutos compõem a base dos tratamentos ensinados ao
público. Tais saberes lhe possibilitam criar uma farmacopeia munida de sentidos e
significados
SABERES MEDICINAIS: constituem um conjunto de habilidades que lhe permite ler sintomas e
identificar as doenças através das manifestações corporais dos doentes que ela atende e
inferir prognósticos e diagnósticos que podem ser de caráter físico e/ou espiritual.
A presença de medicamentos alopáticos: antibióticos, antitérmicos, e anti-flamatórios nas
receitas de Dona Dioneia e a aproximação dos saberes medicinais e ambientais aos saberes
religiosos, são aspectos que diferenciam a terapêutica a sua terapêutica
OS SABERES DE CURA DE DONA
DIONEIA

SABERES RELIGIOSOS: Comportam um conjunto de cosmovisões( modo particular de


perceber o mundo) forjadas a partir das suas práticas religiosas, os quais lhe
possibilitaram a leitura da realidade e a formação cosmogonia(criação do universo,
narrativas fantasiosas) ensinada dentro e fora do espaço da cura em Abacatal.
Traços religiosos( seu núcleo familiar foi marcado por crenças e práticas advindas do
catolicismo, umbanda, com saberes e práticas envolvendo a benzedura, as novenas, a
manipulação das ervas medicinais, além de imaginários e crenças nos seres espirituais.
Dona Dionéia se apropriou de práticas curativas como exorcismo e o banho espiritual ,
comuns entre as igrejas do reino de Deus e a igreja Internacional da Graça de Deus.
OS SABERES DE CURA DE DONA
DIONEIA
SABERES CORPORAIS
Conformam um conjunto de técnicas corporais
usadas por D. Dionéia dentro e fora do seu
atendimento, como os demais saberes estes
também estão ligados a identidade religiosa e
propiciam a tradução e o enfrentamento das
doenças manifestadas física e/ou espiritualmente
nos corpos das pessoas enfermas. Duas técnicas
corporais presentes nos saberes corporais
empregados por D. Dionéia: imposição da mão e a
oração.
Referências

ALBUQUERQUE, Maria Betânia B. Sabenças do Padrinho. Belém: EDUEPA, 2021


Experiences of ‘Ultimate Reality’ or ‘God’ Confer Lasting Benefits to Mental Health.
Disponivel em: https://www.hopkinsmedicine.org/news/newsroom/news-
releases/2019/04/experiences-of-ultimate-reality-or-god-confer-lasting-benefits-to-
mental-health
Meneguetti1, Dionatas Ulises de Oliveira. BENEFÍCIOS A SAÚDE OCASIONADOS PELA
INGESTÃO DA AYAHUASCA: CONTEXTO SOCIAL E AÇÃO NEUROPSICOLÓGICA,
FISIOIMUNOLÓGICA, MICROBIOLÓGICA E PARASITÁRIA. Cadernos Brasileiros de Saúde
Mental, ISSN 1984-2147, Florianópolis, v.6, n.13, p.104-121, 2014.
Quais são os perigos da ayahuasca? Entenda. Hospital Santa Mônica. 20/02/2020.
Disponivel em: https://hospitalsantamonica.com.br/quais-sao-os-perigos-da-
ayahuasca-entenda/
SOUSA, Marcio Barradas. Albuquerque, Maria Betânia. Benzer, Orar e Educar: Percursos
de uma curadora da Amazônia. Educação em Revista [online]. 2018, v. 34 Disponível em:
https://doi.org/10.1590/0102-4698183866
Obrigada!

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