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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Educação - CE
Departamento de História
Disciplina: Educação patrimonial
Professora: Allan Alves da Mata Ribeiro.
Aluno(a): Daniella Agnes Alves Patricio

Fichamento do texto: SCIFONI, Simone. Para repensar a educação patrimonial. In:


PINHEIRO, Adson Rodrigo (org.). Cadernos do patrimônio cultural – educação
patrimonial. Fortaleza: Seccultfor/Iphan, 2015, p. 195-206.

Tema: Discutir a problemática da “origem” e o atual lugar da Educação Patrimonial


atualmente.

Objetivo: Analisar como existe a necessidade de uma nova pedagogia do patrimônio,


considerando as transformações de políticas e entendimento sobre assuntos patrimoniais e
educacionais

Tese: A urgência dessa pedagogia é justificada pois existe uma ausência de uma base teórica
consistente nesse campo, circulando como base apenas trabalhos de caráter meramente
informativo, o que representa uma limitação desse campo.

Desenvolvimento do texto:
A priori, a autora traz para a discussão a problemática “de origem” da educação
patrimonial relacionada a ligação de como a expressão se firmou no Brasil e sua base
teórica. Assim, relata que no ano de 1983, no Museu Imperial, em Petrópolis, em um
seminário foi usado pela primeira vez o termo “Educação Patrimonial”. Logo em seguida
pelo Iphan, no documento, Guia Básico de Educação Patrimonial, que assim, resultou na
consolidação do termo, conforme a autora relembram a pesquisa de Silveira & Bezerra
(2007)
O primeiro problema apresentado então é que o Guia básico de Educação
Patrimonial esteve pautado de acordo com uma única experiência, causando inconstância
na própria definição deste campo de atuação. É evidente que Educação Patrimonial não
segue uma metodologia de ensino, por isso a dificuldade de ser disseminada pelo país
como consta o guia. Já nas escolas, a educação patrimonial é enquadrado Nas escolas, a
educação patrimonial esse fato é associado a rotina escultura histórica escolar, de acordo
com autora, muitas das ações que hoje são vistas como educação patrimonial faziam parte
do currículo escolar, como em visitas aos patrimônios, aos centros históricos e aos
monumentos, que funcionavam como aulas práticas de campo, como parte das disciplinas
de História, Educação Artística e Geografia.
Nesse sentido, identifica- se dois distintos segmentos dos profissionais do
educativo no espaço de patrimônio, um de conhecimento teórico a respeito do patrimônio e
outro de gerenciamento público. Para a autora, ambas são problemáticas para a
consolidação da Educação Patrimonial, pois dessa forma, as ações educativas não fazem
parte das prioridades sendo parte apenas da divulgação dos bens tombados. É
constantemente associado ao trabalho no museu como exaustivo e intenso, o que resulta
em falta de tempo para preocupação de trabalho educativo. Por isso, é pontuado, como um
dos desafios principais a construção dessa pedagogia.
É citado Silveira e Bezerra para elucidar a tese da autora de conscientização a
respeito de trabalhos que foram desenvolvidos sob as premissas de que a educação
patrimonial é processo, e da importância integrá- la em um conjunto de metodologias
desenvolvidas desde o início da fase de identificação e proteção dos bens. Estes trabalhos
correspondem aos estudos de tombamento realizados entre os anos de 2008 e 2009, para a
região do Vale do Ribeira, em São Paulo, “Bens Culturais da Imigração Japonesa no Vale
do Ribeira” e do “Centro Histórico de Iguape”, buscou inserir os moradores, de forma
participativa, nas decisões sobre os rumos do patrimônio, estabelecendo, assim, um canal
de comunicação, através de oficinas de Educação Patrimonial, voltadas à população local.
Vemos como objetivo, a promoção de uma metodologia participativa e dialogada
com parte da realidade dos moradores. Foram utilizados mapas colaborativos, experiências
compartilhadas de escolhas, que se dão de forma coletiva, chamados “cartografia
colaborativa ou social” em que era possível dividir diferentes visões representadas no
mapa, valorizando um olhar local sobre o patrimônio e não uma perspectiva imposta de
fora para dentro.
Já as oficinas feitas nas cidades de Registro e Iguape, partiram justamente de um
convite aos moradores das localidades para a montagem coletiva do Mapa do Patrimônio
com base na indicação de lugares, contribuição de relatos e histórias de vida, com fotos e
documentos pessoais, ampliando a compreensão dos sentidos sociais e históricos
atribuídos ao patrimônio. Na cidade de Iguape, as oficinas de educação patrimonial
apontaram para um bem fora do perímetro da área central, tratava-se de uma capela, a
Capela de São João Batista, símbolo dos áureos tempos da navegação fluvial. Conhecemos
a história da Capela, que na década de 1940, a capela de pedra e cal em ruínas foi
demolida. A Capela é ainda um símbolo importante daquela zona portuária, assim,
percebe-se que a Educação Patrimonial foi construída não na perspectiva tradicionalista da
equipe técnica deter todo conhecimento e levar para a população sobre o seu patrimônio,
mas compreender o patrimônio a partir das histórias pelos seus moradores, em perspectiva
de participação social no processo de identificação e proteção do patrimônio. A autora
retorna no início do texto para a discussão da escolha histórica do modelo francês de
proteção do patrimônio que colocou a representação da memória a partir de tudo que é
monumental e excepcional, apagando-se os conflitos e as desigualdades e a grandiosidade
dos símbolos determinando a invisibilidade de sujeitos sociais.
A proposta da autora não é negar todo trabalho produzido a respeito de educação
patrimonial, assim, utiliza- se da elucidação de Walter Benjamin (2011) compreender o
caráter contraditório inerente aos bens culturais, uma vez que eles são produto tanto do
gênio criador, como da força de trabalho empregada em sua construção, sujeitos sociais
anônimos e nunca celebrados, considerados pois de importância menor. A ideia é observar
com uma visão crítica e libertadora.
Em conclusão, repensar a Educação Patrimonial dentro da ideia de uma nova
pedagogia exige então, romper com a tradição da transmissão da cultura baseada na
descriminção. É necessário então retornar aos princípios do que Paulo Freire, no que ele
chamou de educação como prática da libertação, baseado no diálogo e emancipação dos
homens. A princípio é preciso desmistificar e desfetichizar o patrimônio como objetos
dados, e reconhecer valores intrínsecos, segundo Chagas (2006), na prática, não há como
separar memória e preservação do exercício do poder. Assim, é necessário considerar os
bens culturais possuem valores importantes para identificação de grupos sociais e é
necessário observar e integrar a perspectiva desses grupos sociais sobre o patrimônio
necessário a citação exemplifica- se pela citação de Fernanda Biondo (2016, p. 48-49)
é importante considerar, ainda, que a metodologia “inaugurada” no Brasil
em 1983 – e amplamente divulgada a partir da publicação do Guia, em
1999 – distanciou-se, também das discussões fomentadas pelo Projeto
interação durante o final da década de 1970 e início de 1980, no âmbito
das secretarias do mec, assim como da concepção de educação integral
que
aproxima as práticas cotidianas dos conteúdos estudados nos
setores da educação formal e não formal. é interessante notar
como os marcos temporais aqui estabelecidos se intercruzam
neste momento. O
Projeto interação
, que trouxe diversas con
-
tribuições tanto para o campo da educação, como da cultura
e do patrimônio, esteve em vigor de 1981 a 1985, enquanto
o seminário que “oficializou” a
educação
patrimonial no
Brasil foi realizado em 1983. O que a história mostra é que
nos anos 1980 ocorreram movimentos de caráter educativo
que partiam de visões que poderíamos considerar como
antagônicas. O interessante é que com o passar do tempo
Rev. CPC, v.13, n.25, p.140–162, jan./set. 2018. 146) o Projeto interação
desaparece e a metodologia de ep se estende pelo país sendo amplamente
divulgada através do Guia. embora não seja objetivo desta pesquisa
responder a esta indagação, fica a pergunta: que decisões políticas teriam
levado a esta escolha em relação às práticas educativas no campo de
preservação do patrimônio cultural.

Referências bibliográficas:

BiOndO, Fernanda Gabriela. desafios da educação no campo do patrimônio cultural: e asa do


patrimônio e redes de ações educativas. dissertação de mestrado. Brasília: instituto do patrimônio
Histórico e artístico nacional, 2016.

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