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1. Do fato
Profissional de enfermagem questiona a possibilidade de se utilizar, no
quadro do CME, profissionais de nível médio capacitado em CME, sem formação de
auxiliar ou técnico de enfermagem, denominados como “agentes de esterilização”.
No mesmo sentido, questiona-se a responsabilidade do profissional enfermeiro
atuando nestes centros.
2. Da fundamentação e análise
A Enfermagem segue regramento próprio, consubstanciado na Lei do
Exercício Profissional nº 7.498/1986, seu Decreto regulamentador 94.406/1987,
Resolução Cofen nº 564/2017 - Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem,
Lei nº 5.905/1973 que regulamenta a criação dos Conselhos Regionais de
Enfermagem, além de Resoluções, Pareceres e Portarias.
Tendo em vista o tema a ser esclarecido, há que se observar o conteúdo da
alínea “l”, inciso III, do artigo 11 do Decreto Regulamentador 94.406/1987:
[...]
Art. 11. O Auxiliar de Enfermagem executa as atividades auxiliares, de nível
médio, atribuídas à equipe de enfermagem, cabendo-lhe:
[...]
III - executar tratamentos especificamente prescritos, ou de rotina, além de
outras atividades de enfermagem, tais como:
[...]
l) executar atividades de desinfecção e esterilização [...] (BRASIL, 1987).
[...]
Art. 2º Os Técnicos e Auxiliares de Enfermagem que atuam em CME, ou em
empresas processadoras de produtos para saúde, realizam as atividades
previstas nos POPs, sob orientação e supervisão do Enfermeiro [...]
(COFEN, 2012).
Dessa forma, em que pese a Resolução Anvisa, já citada, não fazer menção
expressa da necessidade dos trabalhadores que atuam em CME serem profissionais
de enfermagem, também indica que a atuação em todas as etapas do
processamento de produtos para saúde deve ser realizada por profissional para o
qual esta atividade esteja regulamentada pelo seu conselho de classe1, ainda que
não determine qualquer exclusividade desta ou daquela categoria em atuar em
CME.
No mesmo sentido, a Resolução determina a necessidade de capacitação
específica e periódica destes profissionais, em temas que requerem o prévio
conhecimento sobre conceitos relativos ao binômio saúde-doença, tais como:
[...]
Art. 29 Os profissionais da CME e da empresa processadora devem receber
capacitação específica e periódica nos seguintes temas:
I - classificação de produtos para saúde;
1
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA. RESOLUÇÃO - RDC Nº 15, DE 15 DE MARÇO DE
2012. Dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde e dá outras
providências. Disponível em: < https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/rdc0015_15_ 03_2012.
html >. Acesso em 11 abr. 2021. [...] Seção II. Recursos Humanos. Art. 27 Todas as etapas do processamento de
produtos para saúde devem ser realizadas por profissionais para os quais estas atividades estejam
regulamentadas pelos seus conselhos de classe.
II - conceitos básicos de microbiologia;
III - transporte dos produtos contaminados;
IV - processo de limpeza, desinfecção, preparo, inspeção,
acondicionamento, embalagens, esterilização, funcionamento dos
equipamentos existentes;
V - monitoramento de processos por indicadores químicos, biológicos e
físicos;
VI - rastreabilidade, armazenamento e distribuição dos produtos para saúde;
VII - manutenção da esterilidade do produto [...] (BRASIL, 2012).
2
TIPPLE, Anaclara F. Veiga. et al. O trabalhador sem formação em enfermagem atuando em centro de material
e esterilização: desafio para o enfermeiro. In.: Ver. Esc. Enferm. USP 2005; 39(2):173-80. Disponível em: <
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0080-62342005000200007&lng=en&nrm=iso&tlng
=pt >. Acesso em 12 abr. 2021.
Assim, um profissional de enfermagem que possui habilitação teórica,
científica e prática estaria mais bem preparado para atuação neste setor de grande
importância dentro dos hospitais e centros de saúde, do que outros profissionais.
Nesse sentido, quando tratamos do “agente de esterilização”, não é possível
ao Conselho emitir qualquer parecer sobre este profissional, tendo em vista não
fazer parte da categoria de enfermagem, bem como, não se vislumbrar sua inserção
junto à Classificação Brasileira de Ocupações e, portanto, impossível a averiguação
da base curricular de formação.
Ressalta-se, ainda, que por não serem uma categoria profissional
regulamentada e não estarem filiados a um conselho de classe, estes profissionais
não poderiam atuar em CME por expressa vedação legal, uma vez que a atuação
está atrelada ao fato de a atividade desenvolvida estar regulamentada por um
conselho de classe, conforme art. 27 da Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº
15/2012, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em relação à responsabilidade do profissional enfermeiro atuando nestes
Centros de Material e Esterilização, essa Resolução da Anvisa indica que os
responsáveis técnicos necessitam de formação superior, no seguinte sentido:
[...]
Art. 28 O CME e a empresa processadora devem possuir um Profissional
Responsável de nível superior, para a coordenação de todas as atividades
relacionadas ao processamento de produtos para a saúde, de acordo com
competências profissionais definidas em legislação especifica [...] (BRASIL,
2012).
[...]
Art. 1º Cabe aos Enfermeiros Coordenadores, Chefes ou Responsáveis por
Centro de Material e Esterilização (CME), ou por empresa processadora de
produtos para saúde:
I – Planejar, coordenar, executar, supervisionar e avaliar todas as etapas
relacionadas ao processamento de produtos para saúde, recepção, limpeza,
secagem, avaliação da integridade e da funcionalidade, preparo,
desinfecção ou esterilização, armazenamento e distribuição para as
unidades consumidoras;
II – Participar da elaboração de Protocolo Operacional Padrão (POP) para
as etapas do processamento de produtos para saúde, com base em
referencial científico atualizado e normatização pertinente. Os Protocolos
devem ser amplamente divulgados e estar disponíveis para consulta;
III – Participar da elaboração de sistema de registro (manual ou
informatizado) da execução, monitoramento e controle das etapas de
limpeza e desinfecção ou esterilização, bem como da manutenção e
monitoramento dos equipamentos em uso no CME;
IV – Propor e utilizar indicadores de controle de qualidade do
processamento de produtos para saúde, sob sua responsabilidade;
V – Avaliar a qualidade dos produtos fornecidos por empresa processadora
terceirizada, quando for o caso, de acordo com critérios preestabelecidos;
VI – Acompanhar e documentar, sistematicamente, as visitas técnicas de
qualificação da operação e do desempenho de equipamentos do CME, ou
da empresa processadora de produtos para saúde;
VII – Definir critérios de utilização de materiais que não pertençam ao
serviço de saúde, tais como prazo de entrada no CME, antes da utilização;
necessidade, ou não, de reprocessamento, entre outros;
VIII – Participar das ações de prevenção e controle de eventos adversos no
serviço de saúde, incluindo o controle de infecção;
IX – Garantir a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), de
acordo com o ambiente de trabalho do CME, ou da empresa processadora
de produtos para saúde;
X – Participar do dimensionamento e da definição da qualificação
necessária a os profissionais para atuação no CME, ou na empresa
processadora de produtos para saúde;
XI – Promover capacitação, educação permanente e avaliação de
desempenho dos profissionais que atuam no CME, ou na empresa
processadora de produtos para saúde;
XII – Orientar e supervisionar as unidades usuárias dos produtos para
saúde, quanto ao transporte e armazenamento dos mesmos;
XIII – Elaborar termo de referência, ou emitir parecer técnico relativo à
aquisição de produtos para saúde, equipamentos e insumos a serem
utilizados no CME, ou na empresa processadora de produtos para saúde;
XIV – Atualizar-se, continuamente, sobre as inovações tecnológicas
relacionadas ao processamento de produtos para saúde. [...] (COFEN,
2012).
[...]
Art. 51 Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades
profissionais, independentemente de ter sido praticada individual ou
em equipe, por imperícia, imprudência ou negligência, desde que tenha
participação e/ou conhecimento prévio do fato.
Parágrafo único. Quando a falta for praticada em equipe, a
responsabilidade será atribuída na medida do(s) ato(s) praticado(s)
individualmente [...] (COFEN, 2017, grifos nossos).
3. Da conclusão
Ante o acima exposto, entende-se que a atuação profissional sem o
conhecimento técnico-científico específico em atividade que possui riscos, como no
CME, pode causar danos tanto à assistência, quanto para quem a desenvolve.
O técnico e o auxiliar de enfermagem são os detentores do conhecimento
necessário para uma atuação cada vez mais segura em Centro de Material e
Esterilização (CME), sendo assim o Coren-SP não recomenda a contratação de
“agentes de esterilização” para atuar nesses ambientes, apesar de não ser tratada
como ilícita.
Referente ao enfermeiro, este tem aptidão técnico-científica e respaldo legal
para atuar em todas as etapas de processamento de produtos para a saúde,
inclusive naquelas especificadas nos artigos 33, 34 e 35 da Resolução da Diretoria
Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), RDC nº 15/2012
(Responsabilidade Técnica do serviço de saúde e Responsabilidade Legal da
empresa processadora).
Ressalta-se, oportunamente, a necessidade imperativa de construção de
protocolos institucionais no intuito de delimitar, informar e respaldar a atuação
profissional, além da promover e fomentar a capacitação específica e periódica dos
profissionais envolvidos.
É o parecer.
Referências