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Juiz de Fora
2018
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Juiz de Fora
2018
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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel em Jornalismo, no Centro Universitário Estácio Juiz de Fora – Minas Gerais.
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado em 28/11/2018 pela banca formada pelos seguintes
membros:
_____________________________________________________
Prof. Dr. Leonardo Toledo (Centro Universitário Estácio Juiz de Fora) - Orientador
_____________________________________________________
Profa. Dra. Tâmara Lis (Centro Universitário Estácio Juiz de Fora) - Convidada
_____________________________________________________
Profa. Dra. Aline Maia (Centro Universitário Estácio Juiz de Fora) - Convidada
Conceito Obtido________________________________________
Juiz de Fora
Novembro - 2018
4
RESUMO
O colunismo social pode produzir uma relação de confiança entre o colunista e suas fontes.
Algumas vezes, esse fator pode justificar a publicação em primeira mão de notícias sobre
fatos políticos, econômicos e culturais, algo que pode ocorrer em detrimento dos cadernos
específicos dessas editorias. Sendo assim, este trabalho pretende verificar se essa realidade se
repete em Juiz de Fora, no jornal Tribuna de Minas, em relação à coluna de Cesar Romero.
Paralelamente, questiona-se como se dá a relação entre o colunista e suas fontes.
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho aos meus amados pais, Divino e Sônia, que me apoiaram e me
deram essa oportunidade de realizar meu sonho. Também dedico as minhas avós, Ana e
Cecília, e aos meus anjos que estão me protegendo lá de cima e me dando força para
continuar nessa caminhada, vô Folozino e tia Divina. Amo muito vocês!
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiro a Deus, por todas as bênçãos alcançadas nessa jornada nada fácil.
Agradeço também as minhas amigas Andressa e Liz, que sempre me incentivaram em ir em
frente nas dificuldades, minha família e amigos pelo apoio e ao Cesar Romero e equipe pela
ajuda em tudo que precisei. Agradecimento também ao meu orientador, Leonardo Ramos,
pela força e por aguentar meus choros. Obrigada de coração a cada um que de alguma
forma me ajudou nesse sonho!
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CONCLUSÃO 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 39
ANEXO 41
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INTRODUÇÃO
Dentro desse contexto, as notas publicadas nas colunas eram feitas com humor. As
notícias abordando os integrantes da burguesia eram escritas, algumas vezes, de
forma irônica, ressaltando o lado extravagante dos ricos, e, aos poucos, dando maior
importância às fofocas, ainda sem atingir seriamente a reputação dos personagens
retratados. Com o tempo as colunas sociais foram sofrendo alterações, inaugurando
um estilo também chamado gossip column – ou coluna de mexericos, como foi
chamada no Brasil. (DORNELLES, 2017, p.128)
No início dos anos 1950, Getúlio Vargas volta a governar e passa a estimular a
industrialização do país. Essa realidade impulsionou também a expansão dos jornais, que
passaram a contar com um público de leitores bem maior, formado por empregados
assalariados. “As colunas aos poucos foram deixando de ser sociais e locais, ampliando o
leque de assuntos abordados. Muitas colunas de maior prestígio também passaram a ser
reproduzidas em jornais do interior, aumentando [...] o seu alcance.” (SOUZA, 2005, p.4)
A partir da década de 1970, o colunismo vivencia uma ampliação de assuntos, a
parte social desses espaços, em alguns casos, passaria a ficar em segundo plano, resumindo-se
a pequenos registros, muitos deles divulgado por assessorias de imprensa de gravadoras,
editoras, empresas privadas e outros meios. Além disso, políticos influentes começam a
repassar com exclusividade aos colunistas informações sobre os bastidores do poder, que
podem ser relevantes ao interesse público ou apenas servir ao jogo de interesses dos mesmos.
Na visão de Caroline Vidal Netto, as mudanças no conteúdo das colunas sociais
demonstram a capacidade de adaptação do gênero a uma nova realidade social. Uma vez que
as antigas elites entraram em decadência, perdendo o posto de destaque para celebridades da
moda e eventuais sucessos comerciais do mercado econômico, esse tipo de jornalismo foi
obrigado a se reinventar e abrir espaço para outros tipos de notícias.
O colunista atual não se destaca mais por ser aquele do “Depois eu te conto”, ele
precisa ter vários contatos, investir em apurações rigorosas e no “jogo de cintura”
para obter suas “preciosas” informações. (...) E, para fidelizar os leitores, investem
na abordagem diferenciada de notícias “quentes” dosadas com “pitadas” de humor e,
às vezes, ironia. A coluna social, de notas ou de variedades, se transformou em um
espaço onde é possível saber de tudo um “pouquinho”. Se o interesse é moda, existe
lá uma dica das cores que serão usadas na estação. Se o leitor quer saber como anda
a economia de sua cidade, encontra ali uma notinha sobre a indústria, ou o comércio.
E, se quer colaborar com informações, pode fazê-lo através de uma ligação
telefônica ou via e-mail. (NETTO, 2007, p.10)
A busca pela fonte é uma constante do trabalho jornalístico, uma vez que ela é
detentora da informação, elemento essencial desse ofício. Por isso mesmo, durante todo o
processo de avaliação estratégica para a apuração, a escolha das fontes requer cuidado
extremo. É preciso manter em mente que as fontes são pessoas e instituições que defendem
seus interesses acima de tudo e raramente são movidas por desprendimento e altruísmo.
Se uma pessoa aceita dar um depoimento para um repórter, ela não está
necessariamente dizendo a verdade, mesmo quando a iniciativa de falar venha da própria
fonte. O repórter deve, então, buscar provas do que foi dito. Por isso, o processo de checagem
é fundamental.
Conforme Nilson Lage, fontes são instituições ou personagens que “testemunham
ou participam de eventos de interesse público”. (LAGE, 2008, p.49) São essas pessoas e
entidades que fornecem ao jornalista as informações necessárias à produção de conteúdo. Há
diferentes maneiras de se classificar as fontes. Lage, entretanto, destaca alguns fatores que
considera mais importantes. Primeiramente, o autor destaca o importante papel das fontes
oficiais e oficiosas.
As fontes oficiais são aquelas “mantidas pelo estado ou por instituições que
preservam algum poder de Estado, como juntas comerciais e os cartórios de ofício; e por
empresas e organizações, como sindicatos, associações, fundações etc.” (LAGE, 2008, p.63)
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Esse seria um dos tipos de fonte mais utilizados não apenas pelo colunismo social, mas pelo
jornalismo em geral, uma vez que grande parte do material publicado é pautado por press
releases, ou por anúncios oficiais em coletivas de imprensa feitos por entidades oficiais. Esse
tipo de informação, entretanto, não garante ao colunista um de seus principais objetivos, a
notícia exclusiva.
Nesse caso, é muito comum que o colunista recorra a seu prestígio social ou a
relacionamentos pessoais com representantes de fontes oficiais para garantir o “furo”.
Diretores de empresas, políticos e chefes de departamentos do governo, aliás, são presenças
frequentes nas fotos que ilustram colunas sociais, seja na cobertura de festas ou mesmo de
eventos públicos.
A fonte oficiosa, por sua vez, pode ser definida como aquela que não pode falar
oficialmente em nome de uma empresa ou entidade pública, mas que tem informações para
passar ao jornalista. Nesse caso, há a garantia ética do anonimato, ou off, condição
indispensável que deve ser respeitada pelo jornalista. Esse tipo de informação passou a ser
cada vez mais utilizada pelo colunismo social, ao mesmo tempo em que a variedade de
assuntos cobertos por esse tipo de página aumentou.
Como sabemos, o off requer do jornalista o compromisso da checagem, uma vez
que a fonte em questão pode estar tentando se beneficiar de sua condição anônima. No
entanto, há certa liberdade no colunismo social que permite ao colunista a publicação de
rumores sem a devida documentação. É preciso ressaltar, nesse caso, que a responsabilidade
pela divulgação da informação passa a ser totalmente atribuída ao colunista, cujo nome assina
a coluna. Vale destacar, ainda, a importância de uma relação de absoluta confiança com a
fonte.
Ricardo Noblat, por sua vez, reitera o risco da publicação de offs e sugere que eles
sejam publicados apenas quando confirmados por, pelo menos, mais uma pessoa: “Quantas
mentiras já não publicamos com base em informações obtidas em off! Quantos crimes o off já
não nos levou a cometer contra a honra e a imagem de pessoas e instituições!” (NOBLAT,
2003, p.62)
O Manual de Redação da Folha de S. Paulo (2010) classifica as fontes conforme
seu grau de confiabilidade, em uma graduação de que vai de zero a três, sendo a de tipo zero a
mais confiável.
1. Fonte tipo zero: aquela que tem tradição e não deixa margem a dúvidas, como
documentos e enciclopédias renomadas.
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2. Fonte tipo um: é a mais confiável quando a fonte é uma pessoa. Tem um histórico de
confiabilidade e não apresenta interesses imediatos na divulgação de uma informação.
O que elas dizem pode ser publicado sem consulta a outro nome.
3. Fonte tipo dois: as informações passadas devem ser consultadas com outras fontes
antes da publicação.
4. Fonte tipo três: é bem informada, mas possui interesses no que será publicado. É a
menos confiável
Cabe repetir, dessa forma, que a entrevista deve sempre ser realizada após uma
pré-apuração de qualidade, independente do tipo de fonte relatado acima. Além disso, o
repórter deve sempre desconfiar das informações ditas, o que torna indispensável o
cruzamento de dados para checagem. O relacionamento mais próximo entre fonte e repórter,
nesse sentido, merece ser colocado sob perspectiva.
Conforme Cleide Floresta e Ligia Braslauskas, a relação entre fonte e entrevistado
deve se pautar no respeito mútuo, mas não pela amizade. Esse tipo de proximidade poderia
colocar em cheque a credibilidade do jornalista em relação aos propósitos de uma notícia.
Além disso, o entrevistador poderia encontrar mais resistência para fazer perguntas
consideradas difíceis por colocar a fonte contra a parede. “Seja quem for o entrevistado, uma
coisa é certa: não existe pergunta proibida. Se há uma notícia, a pergunta deve ser feita”.
(FLORESTA, BRAUSLAUSKAS, 2009, p.98)
Com o crescimento da importância das assessorias de comunicação, boa parte dos
assuntos que pautam o cotidiano de uma redação são encaminhados via e-mail, na forma de
press releases. Com as colunas sociais não é diferente. Diariamente, chega material enviado
por dezenas de assessores, ávidos por tentar emplacar pautas de interesse de seus clientes e
obter mídia espontânea na imprensa. Cesar Romero explica como lida com os releases que
recebe.
Não adianta o assessor enviar para o colunista o mesmo release que será mandado
para a TV, a emissora de rádio ou o portal de internet. Os dados destinados às
colunas devem ser precisos e chamar a atenção de forma clara para o que se quer
“emplacar”. [...] a coluna não é um jornal inteiro, então o que vai sair ali é o
essencial. (ROMERO in NETTO, 2007, p.46)
O contato entre assessores e jornalista é importante, mas não vire refém desse tipo
de relação, caso contrário você corre o risco de só publicar o que é mais conveniente
para eles. E esse não é o procedimento correto – pense sempre no seu papel frente ao
leitor. O repórter tem de brigar por sua pauta, e esse trabalho não é feito apenas
dentro das redações. Muitas vezes o assessor acha que não é hora de falar sobre
determinado assunto, ou que a pauta não é de interesse do seu cliente. Os motivos
são muitos. (FLORESTA; BRASLAUSKAS, 2009, p.110)
Para Gonçalves, esse tipo de relação é uma das características fundamentais desse
tipo de jornalismo, o que tornaria oportuna a compreensão do papel do colunista e suas
relações com a elite, estabelecendo, assim, um parâmetro de comportamento para a cobertura
jornalística desse setor pelos profissionais que ingressam na área ou que desejam atuar como
colunistas sociais. (GONÇALVES, 1999)
Não se esquecendo da ética pessoal e profissional, de acordo com Isabel
Travancas Siqueira, “o que é fundamental é se mostrar isento perante os fatos, tentar apura-los
sem preconceitos ou ideias preconcebidas”. Uma ética perfeita solidifica a própria imagem da
coluna social. (SIQUEIRA, 1993, p.94)
Caroline Netto ressalta que o relacionamento entre o colunista e a fonte é algo de
suma importância nesse gênero jornalístico. Normalmente, o tipo de contato que se dá na
coluna social se diferencia do que ocorre em outras editorias, ultrapassando a troca impessoal
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Essa realidade, conforme veremos mais adiante, pode ser verificada no caso de
Cesar Romero. Em entrevista concedida em 2007 para Caroline Netto, o colunista comentou o
assunto, destacando a importância de seus relacionamentos pessoais para a produção de
conteúdo na coluna. Para ele, o estreitamento de relações em uma amizade pessoal poderia ser
entendido como um critério de confiança na fonte. “Tendo a amizade você tem a certeza de
que a pessoa não vai lhe passar nada furado”. (ROMERO apud NETTO, 2007)
Outro aspecto importante para a compreensão desse novo contexto da coluna
social seria sua aproximação com o jornalismo opinativo, uma vez que o colunista não apenas
apresenta informações como apresenta uma determinada perspectiva autoral sobre os fatos.
Conforme Vinícius Barros Lemos e Thiago Coury Luiz, a divisão do jornalismo em
categorias vem sendo cada vez mais questionada, uma vez que é possível encontrar a
contaminação mútua entre diferentes modalidades. “Os gêneros jornalísticos possuem
organização textual própria e diversos modos de classificação. Eles são dinâmicos e variam
com o tempo, pois as atividades sociais e suas funções não são rígidas e estão em constante
mudança.” (LEMOS; LUIZ, 2017, p.4) No entanto, as colunas sociais teriam
progressivamente assumido características do jornalismo opinativo, uma vez que seus autores
comentam livremente informações que em outras editorias aparecem de maneira bem mais
objetiva.
Ainda segundo os autores, a associação do colunismo social ao gênero opinativo
seria possível pelo fato de o colunista social assinar sua página, por meio de uma chancela no
alto da página, em que registra-se não só o nome do autor da coluna, como também a
fotografia do mesmo. Assim, por meio desse tipo de recurso, o colunista assumiria
publicamente a responsabilidade pelas palavras ali publicadas. (LEMOS; LUIZ, 2017)
Beltrão, aliás, define opinião como “função psicológica pelo qual o ser humano,
informado de ideias, fatos ou situações conflitantes, exprime a respeito seu juízo.”
(BELTRÃO, 1980, p.14) Esse tipo de percepção para o autor estaria na base de qualquer
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informação, uma vez que a percepção de um fato passa pelo crivo particular de um indivíduo
que conta com conceitos próprios, formado a partir de sua experiência colateral individual.
Nesse sentido, o autor afirma que o fator opinativo pode se manifestar mais
abertamente em conteúdos editoriais, mas também, de maneira velada, em reportagens. No
primeiro caso, entretanto, por estar sob a assinatura de um editor, seria permitido um grau de
parcialidade maior, que se manifesta de maneira aberta ao leitor. “A opinião do editor é
expressa pelos editoriais e pela linha do jornal, identificáveis pelo critério de seleção das
informações, pelo relevo dado a determinadas matérias, pelos títulos, fotografias e outras
características.” (BELTRÃO, 1980, p.19)
Para que seja possível compreender tais questões em relação ao objeto de estudo
deste trabalho, no próximo capítulo, será realizado um levantamento sobre a coluna Cesar
Romero, incluindo seu histórico, seu formato atual no jornal Tribuna de Minas e suas
principais características.
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2.1 O COLUNISTA
Outro grande passo para sua carreira aconteceu em 1977, quando Cesar foi
convidado pelo prefeito Francisco Antônio de Mello Reis a integrar a equipe de assessoria de
imprensa da Prefeitura de Juiz de Fora, cargo esse que exerceu durante cinco anos e que
possibilitou ao jornalista o acesso a notícias sobre política, muitas delas em primeira mão. O
colunista, assim, conseguia noticiar o que ninguém mais conseguia. “Com acesso facilitado às
decisões executivas e legislativas, os furos na coluna são frequentes e surpreendem até o
próprio prefeito.” (YAZBECK, 2009, p. 37)
Conforme Ivanir Yazbeck (2009), com a coluna social no Diário Mercantil
completando um ano, Cesar fora agraciado com uma “Moção de Aplausos” concedida pela
Câmara Municipal de Juiz de Fora. O colunista prosseguia retratando assuntos do cotidiano da
sociedade juiz-forana, não deixando de fora a política, o esporte, a educação e o lazer. Em
1979 um furo de reportagem alavancara ainda mais sua carreira: A vinda do Presidente João
Figueiredo e do então Senador Tancredo Neves a Juiz de Fora, no ano de 1980.
Em novembro de 1983, o Diário Mercantil encerra a sua circulação, e no ano
seguinte até 1986, Cesar Romero da “sequência” a sua famosa coluna no jornal Estado de
Minas, do qual também foi gerente comercial. No mesmo ano, o colunista começa a integrar a
Tribuna da Tarde. Apesar de ter sede em Belo Horizonte, o jornal mantinha uma edição local
em Juiz de Fora, algo que foi mantido até 1990, quando surge, na capital, o noticiário Hoje em
Dia.
1
Cesar Romero não é formado em Jornalismo, sua formação é em Direito pela Faculdade Vianna Júnior em
1986.
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Após um período trabalhando em Belo Horizonte, Cesar retorna para Juiz de Fora
em 1993 e inicia sua coluna no jornal Tribuna de Minas, onde permanece até hoje.
Juracy Neves, médico e empresário, em 1981 cria a Tribuna de Minas, como ele
mesmo cita, “num período em que os investimentos empresariais eram contidos, em todos os
setores”. (YAZBECK, 2009, p. 9). Ocupando instalações modestas em um prédio próximo ao
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Colégio Academia, o periódico reúne uma jovem equipe de jornalistas, tendo os exemplares
impressos na gráfica dos padres verbitas, a Esdeva. A empresa então, não passava de um
pequeno empreendimento.
Tendo o jornal Diário Mercantil como principal concorrente, a Tribuna passa a
circular na cidade, em preto e branco, de terça a domingo, com a intenção de atingir toda a
população, independentemente de idade. Juracy Neves em seu discurso de apresentação do
jornal, declara “O Jornal é a janela através da qual se pode ver o que acontece na cidade, no
país e no mundo. Deve, portanto, fazer parte do cotidiano de cada cidadão.” (TRIBUNA DE
MINAS, 13 dez. 1997)
Em 1983, o Diário Mercantil é fechado e a Tribuna alavanca suas vendas. O
periódico investe na ampliação de seu público e, em 1985, chega a mudar sua sede para Belo
Horizonte, para concorrer com o Estado de Minas. Com isso, nasce a Tribuna da Tarde
(1986) com matérias destinadas a Juiz de Fora. Cesar Romero passa a fazer parte da equipe
com a sua coluna social.
Em Belo Horizonte, a Tribuna de Minas não alcança seu objetivo e volta para Juiz
de Fora, encerrando a circulação da Tribuna da Tarde. Juracy Neves cria o Grupo Solar de
Comunicação para ser encarregado pelo jornal. Em 1994, o impresso passou a ser primeiro da
cidade em cores.
O periódico passou por três grandes reformas gráficas e editoriais, em 1992, 1997
e 2016, respectivamente, em que as fotos e o nome do jornal passaram a ter mais destaque,
valorizando mais a editoria cidade, com matérias factuais, e a coluna social de Cesar Romero.
Segundo editorial publicado na edição inaugural da segunda reforma gráfica, as
transformações são “uma preocupação explícita em valorizar a informação e hierarquizar as
matérias para facilitar a leitura, destacando os fatos mais importantes” (Em busca de novas
perspectivas. Tribuna de Minas, Juiz de Fora, p.3, 10 dez. 1997).
A mudança mais polêmica no jornal, entretanto, ocorreria em 2016, quando o
jornal passou do formato standard para o tabloide. Essa reformulação foi acompanhada por
uma mudança drástica na identidade visual do periódico, incluindo do logotipo. Além disso,
os cadernos foram redistribuídos. Nesse redesign, a coluna de Cesar Romero ganhou mais
autonomia, tendo sido alocada em diferentes lugares, dentro e fora do Caderno Dois.
Entretanto, o colunista manteve o número de páginas reservadas a ele na versão anterior do
jornal, uma durante a semana e três ou quatro aos finais de semana.
Outra mudança digna de menção aconteceu em 2001, quando a Tribuna de Minas
passou a ser impressa no novo parque gráfico da Esdeva Indústria Gráfica S/A, que nesse
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meio tempo passou de uma pequena gráfica anexa ao Colégio dos Jesuítas para uma das mais
bem equipadas da América Latina.
Após quase 36 anos do seu lançamento, a Tribuna tornou-se um dos maiores
jornais da cidade, vendendo durante a semana uma média de cinco mil exemplares e, aos
domingos, cerca de 20 mil exemplares, conforme informações prestadas pelo grupo Solar.
Atualmente, o jornal também está na internet, com um site interativo, onde busca promover
uma aproximação ao público com o acesso a versão online do jornal e a outros conteúdos
exclusivos.
A coluna César Romero completa 22 anos de existência na Tribuna de Minas em
2018. Depois de algumas tentativas mal-sucedidas de realocação da coluna na sequência de
editorias do jornal, em abril de 2018, a coluna passa a ocupar uma página do Caderno Dois
(figura 1), entre terça e sábado. Aos domingos, quando a tiragem do jornal é quatro vezes
maior, a edição ocupa entre 3 e 4 páginas, recebendo o título “Cesar Romero especial de
domingo”. Além das notas sociais, como nos dias de semana, o espaço traz seções especiais,
como “Papo de Domingo”, “Fala Quem Sabe”, “Eles acontecem”, “Ping-pong, JF”, “Por aí” e
“Fotos do fim de semana”.
2
Ancelmo Gois, 70 anos, deu inicio em sua carreira de jornalista na Gazeta de Sergipe com 15 anos, passou
pela revista Veja e atualmente é colunista no jornal O Globo, onde em meia página, traz um mix de notinhas
para todo tipo de público, entre elas estão, música, televisão, justiça, política, cidade (Rio de Janeiro), vida dos
famosos e dos típicos cariocas e frequentemente furos de notícias relacionadas ao mercado financeiro. A
coluna conta com fotos de celebridades e outros, e também com o espaço “Zona Franca” que é composto por
frases curtas com informações sociais. Já na versão online com o nome O Blog da Turma da Coluna, a coluna
tem um espaço maior, trazendo notinhas durante todo o dia e expandindo os temas, história, teatro, futebol,
saúde, natureza etc.
3
Mônica Bergamo, 51 anos, atualmente trabalha na rádio BandNews e no jornal Folha de S. Paulo desde 1999.
Mônica apresenta em sua coluna basicamente três temas, moda, celebridades e política. Ocupando meia
página, a coluna contem uma galeria de fotos e também traz um “Curto-Circuito” onde se encontra
informações rápidas. Tanto impressa, quanto online, a colunista retrata mais notinhas sobre política com
informações de fontes importantes e furos de notícias.
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longo do tempo, convivendo com estrelas não é para qualquer um...” (YAZBECK, 2009, p.
120).
Figura 2 - Coluna Cesar Romero online (Fonte: site do jornal Tribuna de Minas)
Como foi visto nos capítulos anteriores, atualmente, a coluna social pode exercer
uma função que supera o entretenimento e informações superficiais sobre pessoas
consideradas da elite social ou cultural. Neste capítulo, assim, será realizada uma análise da
coluna Cesar Romero com objetivo de verificar se esse tipo de conteúdo também pode ser
verificado nas páginas da Tribuna de Minas. Além disso, objetiva-se discutir se as notícias
publicadas em primeira mão na referida seção do jornal se devem ao contato privilegiado do
colunista com determinadas fontes.
Nesse intuito, num primeiro momento, serão apresentadas as duas metodologias
de pesquisa empregadas neste trabalho. A partir da análise de conteúdo, será realizada uma
leitura crítica da coluna tendo em vista o conteúdo publicado durante o mês de setembro de
2018. O recorte leva em consideração 25 edições, uma vez que o jornal em questão não
circula às segundas-feiras.
Para uma melhor compreensão do objeto escolhido, a análise de conteúdo será
complementada com uma entrevista em profundidade realizada com o colunista Cesar
Romero, realizada em junho de 2018, disponível no Anexo 1.
35
30
25
20
Semana
15 Domingos
10
5
0
Notas (média) Fotos (média)
Gráfico 1
Entre as notas publicadas na coluna Cesar Romero foi possível perceber não só
novidades sobre Juiz de Fora e região, mas também a presença de comentários sobre notícias
de repercussão nacional. Esse conteúdo opinativo apareceu 11 vezes durante o período
analisado, a exemplo do dia 1º de setembro, quando a coluna comentou os resultados de uma
pesquisa sobre a qualidade do ensino no Brasil.
EDUCAÇÃO
Os dados apresentados pelo MEC são absolutamente preocupantes. Cerca de 70%
dos estudantes que concluem o ensino médio em escolas públicas apresentam
resultados considerados insuficientes em matemática e português. O ensino tem
esbarrado num tripé vicioso: escolas em estado precário, professores desvalorizados
e estudantes desestimulados. Fica difícil ensinar e aprender. (TRIBUNA DE
MINAS, 01º/09/2018)
4
O período de análise da coluna coincidiu com o lançamento das candidaturas a deputado estadual, deputado
federal, senador, governador e presidente da República, das eleições 2018.
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Opinativo
Agenda geral
Notas sociais
Gráfico 2
Conforme o gráfico anterior, é possível verificar que, das 458 notas publicadas no
mês de setembro na coluna, 89% referem-se a notas sociais, como festas, casamentos e
aniversários de “colunáveis”. Em seguida, com percentual expressivamente menor, 6%, estão
as notícias relacionadas à agenda, como eventos públicos ou visitas de políticos a instituições
da cidade. Por fim, as notas opinativas constituem apenas 5% do total. Esse resultado, vai de
encontro à afirmação do colunista de que sua página é “diversificada” e segue “linha mais
analítica”. (ROMERO, 2018) Ao contrário, esse tipo de conteúdo representaria quase uma
exceção à regra da coluna social tradicional.
Na etapa seguinte, foram contabilizados os números de “furos” que a coluna
Cesar Romero trouxe em relação às outras editorias do jornal em que é publicada.
Desconsiderando as notas sociais, tradicionalmente não publicadas no conteúdo editorial do
periódico, foram identificadas 48 notícias inéditas. De 50 notas referentes ao conteúdo de
interesse geral (agenda e opinativo), portanto, apenas duas foram publicadas em outras
editorias da Tribuna de Minas. A maioria do conteúdo exclusivo tem caráter político e trata de
temas de abrangência nacional. Mais especificamente, há um comentário sobre o incêndio do
Museu Nacional, na edição do dia 4 de setembro – que foi noticiado na página “Brasil” – e
uma notícia sobre a visita do então governador Antônio Anastasia ao Abrigo Santa Helena, no
dia 9 de setembro – com cobertura completa na página de política do jornal.
34
Exclusivas
Repetidas
Gráfico 3
Regional
Nacional
Gráfico 4
35
Eu não tenho um contato diário com todos da redação, apenas com o diagramador
via Skype, pois a coluna é editada e produzida na Agência CR-Nova. Mas, uma vez
na semana, vou à redação do jornal, para fazer uma visita ao diretor geral [Paulo
Cesar Magela] ou para alguma reunião. Com isso, consigo trocar informações com
alguns colegas, no sentido de auxiliar com alguma fonte, informação que ele precisa
ou até contato para apurar. Eu acho importante esse lado de ajuda, da mesma forma
que às vezes eu posso recorrer a eles. (ROMERO, 2018)
Como fica explícito na citação acima, por se tratar de uma coluna assinada, a
página de Cesar Romero não segue os mesmos crivos de edição do restante do jornal, ficando
sob tutela do próprio colunista. “Nunca tive que passar a coluna para ser lida pelo editor geral
ou pela editora executiva antes dela ser publicada. É questão de confiança, de respeito mútuo
e responsabilidade”. (ROMERO, 2018)
Dentre o conteúdo opinativo publicado na coluna (excluindo-se as notas sociais e
agenda), é possível observar a predominância da política, com 60% do total de notas
publicadas. Em seguida, estão as informações relacionadas ao conteúdo de cidade, com 30%.
Cultura e esportes completam o quadro, com apenas 5% para cada assunto.
36
Política
Cultura
Cidade
Esporte
Gráfico 5
CONCLUSÃO
A coluna social reivindica, cada vez mais, sua importância nos meios
jornalísticos. Isso se dá através de uma diversificação crescente de temas abordados nessas
páginas e também da possibilidade de publicação de notícias em primeira mão, muitas vezes
obtidas por meio de fontes exclusivas, que priorizam a visibilidade desse tipo de espaço e o
prestígio de determinados colunistas.
Diante do tipo de distribuição de conteúdo verificado na página, é possível
perceber que a coluna Cesar Romero dedica a maior parte de seus esforços aos eventos
sociais, com ampla cobertura fotográfica. Isso reforça que a página do colunista ainda possui
ênfase muito grande nos antigos moldes da coluna social.
Mesmo que a coluna de Romero publique grande número de informações que não
são verificadas em outras páginas da Tribuna de Minas, é possível perceber que a maioria
dessas notícias contêm conteúdos tipicamente veiculados em press releases, como
inaugurações de empreendimentos comerciais, agenda de eventos políticos ou ações em datas
comemorativas.
A exemplo de outras colunas sociais, a página de Romero traz notas de conteúdo
opinativo. Entretanto, algumas delas referem-se a comentários de fatos de abrangência
nacional, veiculados a exaustão em mídias concorrentes. Por outro lado, o colunista também
procura emitir seu ponto de vista a respeito de personalidades da vida pública local, seja por
meio da adjetivação direta ou do espaço conferido a declarações de determinados políticos e
empresários.
Além disso, apesar do conteúdo fortemente opinativo, não foi identificada, no
período analisado, alguma nota em que a coluna tenha sido privilegiada com a exclusividade
de uma fonte, sendo o “furo” praticamente inexistente na coluna. A maioria das informações
em primeira mão, ao contrário, parecem não preencher os critérios de noticiabilidade adotados
nas outras editorias do jornal Tribuna de Minas.
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REFERÊNCIAS
ABREU, Alzira Alves de. Jornalismo cidadão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
JUNIOR, Wilson Corrêa da Fonseca. Análise de conteúdo. In: Métodos e técnicas de pesquisa
em comunicação. Organização: Jorge Duarte, Antonio Barros. São Paulo: Atlas, 2006.
LEMOS, Viníciu Barros; LUIZ, Thiago Cury. Colunismo social e jornalismo opinativo: um
debate epistemológico. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste. Cuiabá:
2017. Disponível em: http://portalintercom.org.br/anais/centrooeste2017/resumos/R56-0079-
1.pdf. Acessado em 12 de outubro de 2018.
NOBLAT, Ricardo. A arte de escrever um jornal diário. 4ª edição. São Paulo: Contexto,
2003.
-----------------------. O que é ser jornalista: memórias profissionais de Ricardo Noblat.
Rio de Janeiro: Ed. Record, 2005.
MANUAL de redação da Folha de S. Paulo. 14ª ed. São Paulo: Publifolha, 2010.
SOUZA, Ana Cláudia. A (re) invenção do real: o limite entre vida pública e privada na
cobertura das revistas de celebridade. 2004. Dissertação de Mestrado apresentado à Escola de
Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004.
SIQUEIRA, Isabel Travancas. O mundo dos jornalistas. São Paulo: Ed. Summus , 1993.
Algum jornalista já ficou com raiva por você ter dado algum furo?
R: Acredito que não, mas se teve, eu não fiquei sabendo. (risos)
Você já falou em entrevista que não tem aquela pessoa que você consulta todo dia, isso
permanece?
R: Com certeza, se não você fica vinculado nas mesmas fontes. Você tem que variar ao máximo e em
determinados assuntos, é interessante você também recorrer a algumas fontes que não tem contato
permanente.
Uma fonte, que você não tem muito contato, passa uma informação importante, você apura?
R: Se eu tenho certeza daquela informação e essa fonte esta sendo mais precisa, ai eu não tenho que
chegar. Agora se é uma informação que deixa dúvidas, eu apuro para não ter problemas. Também não
levo em conta quando a fonte passa informação que ela vê só o lado dela e quer utilizar a coluna, mas
quando é coletivo, vamos publicar.
Na coluna social também ocorre da pauta “cair”?
R: Tem sim. Às vezes uma nota que esta programada para sair no dia seguinte cai, porque surgiu uma
de com mais importância, ou o espaço na hora da diagramação não permite a entrada da nota. Já no
online, às vezes no outro dia pela manhã a nota tem importância e depois do almoço não tem mais,
então ela é retirada do ar.