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Nº 1.

037
11MAI2020

Adm: VM Fábio Ferreira da Rosa Neto


Comissão de Ritualística e Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas Maçônicas
GOB-SP – Oriente de Sorocaba – ARLS Cavaleiros da Luz, 4048

A TRADIÇÃO PAGÃ NA MAÇONARIA

Alberto Henrique da Cruz Feliciano – 10 ago. 2015

Os ensinamentos maçônicos trazem a herança dos primórdios da civiliza-


ção, preservando a tradição longínqua da evolução
do espírito humano. A maioria de nós, ao adentrar
na Ordem, ao mesmo tempo em que sente um pro-
fundo respeito e admiração pelos trabalhos maçô-
nicos, também fica surpresa e embaraçada pela
forma com que a Maçonaria apresenta seus ensina-
mentos.

A começar pela recepção do candidato à iniciação, depois, nos próprios


trabalhos no Templo Maçônico, tudo parece estar encerrado em pesados véus
de simbologia a desvendar.
O próprio ritual traduz por-
menores e alegorias que,
para os menos atenciosos,
não passam de palavras es-
tranhas, a representar algo
não muito definido para seu entendimento.

Vamos tecer alguns comentários que poderão ser úteis no entendimento


do sistema de trabalho ritualístico Maçônico.
Como sabemos, a Maçonaria remonta a idades sem conta, e traz em seus
ensinamentos a herança dos primórdios da civilização humana. O homem pri-
mitivo vivia e convivia em meio à Natureza, dela participava e dela sofria as
adversidades de suas intempéries.

Da Natureza dependia sua sobrevivência, quer fosse das plantações


como das criações, e, paulatinamente,
percebeu quão importante seria poder
conhecer seus mistérios, pois poderia
melhor aproveitar de seus benefícios e
evitar suas adversidades.

Assim, ao mesmo tempo em que surgiram sentimentos de grande res-


peito e adoração aos Espíritos que comandavam a Natureza e os elementos que
influenciavam sua vida, surgiram também pensamentos, indagações e conse-
quentemente observações dos fenômenos da Natureza. Esforços foram des-
pendidos para minimizar os efeitos adversos.

Dentre os diversos elementos da Natureza que o rodeava, um sem dú-


vida alguma, era o maior responsável pelas mutações
naturais: o Sol, que marcava sensivelmente sua vida,
por ser o responsável pelos ciclos dos dias e das noites,
da luz e das trevas, mas também pelas estações que
afetavam suas culturas de sobrevivência. Seria de
grande valia e importância que o soubesse quando os
ciclos ocorreriam para poder rogar aos Espíritos dire-
tores da Natureza, proteção e fartura de suas cultu-
ras.

Do Arquétipo dos Sábios à Alegoria da Construção


Diversos cultos surgiram em adoração ao Sol e seus ciclos, decorrentes
da observação do levantar e do pôr do
Sol, bem como de suas posições de
apogeu diário. Surgiram monumentais
construções astronômicas na antigui-
Stonehenge - Inglaterra

dade para melhor compreensão dos


mistérios celestes, como Stonehenge,
as pirâmides de Gizeh, Chitzen Itza,
Machu Pichu e outros.

Os antigos tinham a Natureza como se fosse um grande templo onde ha-


bitava o Grande Regente, o Grande Espírito Diretor, que castigava ou premiava
seus vassalos de acordo com seus méritos. Com a evolução da arte da constru-
ção, os homens passaram a representar a Natureza e seus fenômenos em sua
arquitetura e em seus ritos.

As construções sagradas sempre pro-


curaram exaltar e representar a Natureza,
suas leis e princípios. Através da Geometria
Sagrada, os construtores iniciados da anti-
guidade, procuravam em suas obras man-
ter a harmonia e a beleza existente na Na-
tureza, obra do Grande Arquiteto do Uni-
verso.

Esses construtores constituíram um grupo especial dentro da sociedade


comum, pois detinham os grandes conhecimentos das leis naturais e sabiam
como aplicá-Ias em suas obras.

Sob o arquétipo dessa classe de sábios iluminados é que a Maçonaria


fundamentou sua doutrina, através da alegoria da construção do Templo de
Jerusalém, idealizado por David e
executado por seu filho Salomão,
com a cooperação dos artífices fení-
cios, donde apareceram as figuras
de Hiram, Rei de Tiro, e do arquiteto
Hiram Abiff.

Como consequência imediata, todos esses elementos vieram a ser agru-


pados na Maçonaria Especulativa, para simbolizar o grande trabalho que o Ma-
çom, como construtor de si mesmo, deve realizar.

Assim, a Maçonaria é uma das Ordens Rituais que preservou esta tradi-
ção da longínqua e trabalhosa evolução do espírito humano, desde seu primór-
dio na Terra.

A Simbologia do Sol na Arquitetura e nos Trabalhos

O Templo Maçônico é a represen-


tação da Natureza, e seus rituais estão
repletos da simbologia pagã dos fenô-
menos da Natureza.

A orientação do Templo se faz de


acordo com os pontos cardeais, e em
referência com o nascer, zênite e pôr do
Sol. ................................ ............

Os Oficias dirigentes de uma Loja são denominados Luzes, como verda-


deiros representantes do Sol em seus diferentes pontos na evolução diária. Es-
tão colocados nos pontos cardeais correspondentes ao nascer (Oriente ou
Leste), no ocaso (Ocidente ou Oeste) e no seu apogeu ou zênite (Sul).
Cabe aqui uma explicação. Como a Maçonaria originalmente se desen-
volveu no Hemisfério Norte do
planeta, o Sol em sua caminhada
diária pelo céu, levanta-se no
Leste, passando pelo Sul, para ir
se pôr no Oeste. Por esta razão é
que o Norte é considerado com
região das trevas ou menos iluminada no Templo, e aí não se encontra ne-
nhuma das Luzes. A Maçonaria no Hemisfério Sul conserva o simbolismo do
Hemisfério Norte, uma vez que é daí que herdamos suas tradições.

Os antigos observavam também que o Sol no


transcorrer do ano nascia em diferentes posições,
como que num bailado ou serpenteado em torno de
um ponto central. Marcaram com colunas de pedra os
pontos de maior afastamento que o Sol alcançava de
um lado e de outro, localizando imediatamente o
ponto central do início do bailado.
Analema
Dança do Sol durante o ano Através dessas colunas, podia o observador ve-
rificar as estações do no e os pontos de solstícios e equinócios e, assim poder
rogar aos deuses do período a proteção às suas famílias e criações.

A tradição dessas duas colunas também está em nossos Templos, nas Co-
lunas B e J, que representam os pontos
solsticiais. Por entre eles passam todos
aqueles que, ansiosos pela Luz ou pelo
Conhecimento Solar, procuram, no es-
pelho da natureza templária, identificar-
se com os mais altos princípios do uni-
verso.
Os trabalhos maçônicos começam ao meio-dia e
terminam à meia-noite, sendo mais uma alusão ao Prin-
cípio da Luz e Trevas que está sob a influência solar. Há
uma antiga tradição que nos fala que Zoroastro, por
volta do século VII a.C., utilizava este sistema de traba-
lho em sua escola, começando ao meio-dia e termi-
nando à meia-noite. Convém lembrar que Zoroastro (Za-
ratustra) ou “Zero Astro”, é o mesmo Sol, que tem seu
fulgor máximo ao meio-dia e sua decrepitude máxima à meia-noite.

Os antigos consideravam o período do meio-dia à meia-noite propício às


coisas do espírito, enquanto que da meia-noite ao meio-dia, propício para as
coisas da matéria. Isto porque, da meia-noite ao meio-dia cresce a influência
objetiva (material) do Sol, enquanto que do meio-dia à meia-noite cresce a in-
fluência subjetiva (espiritual) do Sol, propiciando assim os estudos espirituais.

O Sol está representado em nosso Templo e Rituais sob muitas formas e


maneiras, cada qual referindo-se a um de
seus aspectos. Temos o Sol no Altar do Ve-
nerável Mestre, como no teto da Loja,
como está implicitamente representado na
circulação do Mestre de Cerimônias. No Al-
tar do Venerável Mestre, o Sol está acom-
panhado de sua parceira, a Lua. Neste assunto existem muitas controvérsias,
sobre qual a posição correta de cada um dos luminares em relação ao Trono.

A Ritualística Exalta a Grandiosidade da Natureza

O Templo representa o Universo e também o próprio homem. Como os


dois luminares são representantes fidedignos da polaridade lateral dos hemis-
férios, tanto terrestre e celeste, como do próprio homem, e, tendo ainda por
princípio que o Sol representa
a razão, enquanto que a Lua a
emoção, notamos que na mai-
oria dos Templos as posições
dos dois luminares obrigam a
que, o homem representado
pelo Templo, esteja de bruços,
posição negativa, ao invés de decúbito dorsal que é uma posição positiva.

Por outro lado, a posição do Sol no lado do Sul está em correspondência


com o simbolismo dos hemisférios já descritos. De qualquer forma, o impor-
tante é notar que o Sol, nesta posição, faz equilíbrio com a Lua na divisão dos
hemisférios da Loja, e representam os princípios da polaridade universal.

O Sol no teto da Loja, acha-se no Oriente, e está representado no cenário


do sistema celeste do plano horizontal do teto, o Rei da Evolução e comandante
do nosso sistema, Geralmente, está acima do Altar dos Perfumes, como indi-
cando que é ele que diariamente vem perfumar a natureza com seus fulguran-
tes raios. Representa também poder de iluminar do Venerável Mestre, que co-
manda a luminosidade da Lua que está acima do 1º Vigilante e da Estrela Fla-
mejante do 2º Vigilante.

A circulação do Mestre de Cerimônias indicando a translação aparente


do Sol em relação à Terra, sendo sua representação, enquanto os demais
oficiais possuem sua representação planetária própria.

Como vemos, inúmeros são os exemplos que constam em nossos rituais


sobre a tradição simbólica pagã em loja, e por demais extenso seria aqui relatar.

A Maçonaria exalta, na sua ritualística, a grandiosidade da Natureza e


seus elementos, e, mister se faz, que o obreiro se torne consciente desses prin-
cípios, para que trabalhe em harmonia com a Natureza Universal, alcançar a
Sabedoria, a Força e a Beleza de sua natureza interior.
Dessa forma notamos que na Maçonaria fundem-se a tradição pagã com
a Arte Construtora Sagrada e a tradição hebraica, aliado à lenda do construtor,
na figura de Hiram Abiff. Assim, nossa ritualística, toma um caráter judaico-hi-
ramítico-pagão.

Deve o maçom especulativo, iluminado pelas leis judaicas expressas no


Livro da Lei, sob o modelo da alegoria do Construtor Sagrado e auxiliado pelos
conhecimentos da antiguidade, erguer o Templo Interno de espírito, a fim de
obrigar a Individualidade Superior para a Glória do GADU.

* As imagens não fazem parte do artigo original, foram inseridas para


facilitar seu estudo e compreensão.

Artigo disponível em: http://iblanchier3.blogspot.com/2016/12/a-tradi-


cao-paga-na-maconaria.html

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