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A ACLAMAÇÃO - HUZZÉ! HUZZÉ! HUZZÉ!

“A Luz da Maçonaria irradia do Oriente e cada Maçom deve ser uma Luz para a prática das boas Obras
composta de Lógica e Razão, princípio haurido dos "Códigos de Moral” e enaltecidos pela Sublime
Instituição. Do Templo Maçônico deve se estender a Luz da Razão para a humanidade” (Ir. Theobaldo
Varolli Filho). 

Aclamação Huzzé - destacando a sabedoria e a arte Sarracena, a cultura árabe sempre esteve presente nos
ensinamentos provenientes do Oriente. Nesse sentido e de modo eclético, a paulatina constituição
doutrinária da Maçonaria também não deixaria de utilizar inúmeros ensinamentos dessa cultura – se diz
nas preleções maçônicas que a Sabedoria vem do Oriente e que, de modo emblemático, teriam sido os
fenícios os operários construtores do Templo de Jerusalém – especulativamente, a maior alegoria
maçônica. 

A inegável influência árabe, de tantas outras reminiscências, na


senda iniciática maçônica sobejamente tem tido o desiderato de
enriquecer as doutrinas da grande maioria dos ritos maçônicos. Em
se tratando dessa influência cultural na Maçonaria, a aclamação
Huzzé é uma dessas reminiscências. 

Não há, porém, como esquecer nessa abordagem, a cultura hebraica,


destacando-se quem em muitos aspectos a língua árabe original
possui muita semelhança com a hebraica, o que tem feito com que
alguns autores, inadvertidamente acabem atribuindo raízes
etimológicas equivocadas dando vazão à conceitos falsos e
temerários.

Huzzé e a Acácia - por existir uma relação entre essas duas palavras
na construção de uma alegoria solsticial muito antiga, alguns
tratadistas, se utilizando a lei do menor esforço, enganosamente traduziram Huzzé (saudação) como
sendo o mesmo que Acácia (espécime vegetal). Como se verá a seguir, ambas as palavras até se
relacionam, contudo são substantivos distintos, ou seja, uma palavra não é tradução da outra.

Acácia espécime vegetal - segundo Varolli Filho, “shittah” em hebraico; plural “shittin”, se refere a uma
classe vegetal de nome “acácia” e aparece relacionada em vários textos Bíblicos, sobretudo quando se
refere à madeira utilizada como matéria prima para construção da Arca da Aliança e os seus varais.

No que diz respeito à autenticidade desse gênero vegetal, a verdadeira acácia, segundo o que citam bons
tratadistas, é a espécime Acácia do Nilo (akakia aegipti), ou “Vera Acácia. Trata-se de uma árvore
leguminosa de cujo gênero se produz a goma arábica e o tanino[1].

Como um vegetal símbolo na liturgia da Moderna Maçonaria e dona


de um importante conjunto emblemático, vale então mencionar que,
em se tratando da sua ocorrência em território brasileiro, a legítima
acácia (oriunda do nordeste da África) por aqui não se desenvolve,
ocorrendo no Brasil apenas a espécie “acácia negra” que é de origem
australiana - embora seja também produtora de boa goma com
considerável quantidade de tanino. Esse espécime no Brasil é
encontrado nas regiões tropicais, se dando muito bem na região sul
brasileira. Seus ramos são sempre aproveitáveis na liturgia
maçônica, substituindo simbolicamente o espécime original.

Como descrição dessa espécie de vegetal (akakia aegipti), a acácia é


uma árvore resistente em cujos galhos se apresentam alguns espinhos. Durante sua florada ela produz
flores esféricas ligeiramente amareladas. Produz uma madeira de longa durabilidade por não ser sujeita à
praga, qualidades estas que lhe renderam a fama de “eternidade”.

Pelas características de incorruptibilidade, a madeira da acácia (akakia aegipti) ganhou, ao longo dos
tempos, múltiplas interpretações peculiares. No caso da Maçonaria, a sua durabilidade lhe rendeu a divisa
simbólica da imortalidade.
A flor da Acácia e o símbolo do Sol - outra característica que lhe rendeu importante representatividade
emblemática é a sua flor aveludada, ou radiada e de forma esferoide. Pelo seu formato irradiado sua flor
lembra, desde as antigas civilizações, o Sol, sendo inclusive utilizada como elemento para saudar o astro
rei no solstício de inverno no hemisfério Norte, o que, em última análise, a fez possuir estreita ligação com
a aclamação Huzzé!

Saudação à volta Sol – presentes em muitas manifestações das antigas civilizações (cultos solares da
antiguidade), no Antigo Egito e em certas regiões árabes, a acácia era considerada uma planta sagrada.
Era comum em certas tribos, como a dos Drusos por exemplo, o costume de se saudar a volta do Sol no
solstício de inverno, o que ocorria em se manejando e agitando um ramo florido de acácia (shittah ou
shittin) e ao mesmo tempo proferindo a aclamando “Huzzah!” (Viva!) ou, conforme os dialetos locais,
“Uezzah!”. 

O solstício de inverno ao Norte se dá quando o Sol atinge o ponto máximo da sua inclinação ao Sul (21 de
dezembro). Após atingir a maior declinação na sua eclíptica, aparentemente ele parece iniciar o seu
retorno (porta solsticial). No misticismo árabe, exatamente esse era o momento em que os ramos floridos
de acácia eram agitados dando-se vivas (Huzzah) ao retorno do Sol (luz e conforto). Após o advento do
Islã essa prática seria proibida por Maomé.

Em que pese alguns autores defenderem Huzzé (Viva) como palavra de origem escocesa, alegando que
essa é uma aclamação utilizada pelo Rito Escocês Antigo e Aceito, numa analise mais acurada essa tese
não se sustenta, pois esse Rito, embora traga de fato na sua liturgia essa aclamação, não é originário da
Escócia, porém da França, sendo, inclusive, mais conhecido na Europa como Rito Antigo e Aceito e não
como Rito Escocês. O título “escocês” dado a ele não é por questão de nacionalidade.

Vale também a pena mencionar que essa aclamação não é parte de um dialeto escocês como querem
afirmar alguns autores. É mais provável sim que em Maçonaria a aclamação Huzzé (Viva) tenha surgido
de uma corruptela de pronuncia da língua inglesa, haurida dos tempos em que as regiões árabes
permaneciam sob domínio britânico. É o caso, por exemplo, do conhecido ip hurrah! que significa “viva!”,
ou “salve!”. Assim, estima-se que Huzzé seja uma corrupção linguística propiciada pelos ingleses da
palavra árabe Huzzah, ou Uezzah.

Acácia confundida com Huzzé - desafortunadamente, ainda alguns autores maçons, se utilizando da lei do
menor esforço, simplesmente entenderam que a “saudação” ao Sol feita com um ramo florido de “acácia”
era o próprio espécime vegetal. Dessa falsa interpretação resultou o equívoco de que “acácia” (gênero
vegetal), em árabe seria Huzzé, o que não é verdade, pois acácia é o vegetal que produz o ramo florido
utilizado para se dar vivas (Huzzé) à volta do Sol. Em síntese, a acácia fornecia o adereço para com ele às
mãos os homens bradassem... Viva! (Huzzé!)

Ainda muitos maçons precisam compreender que a antiga prática de saudação ao Sol, oriunda dos cultos
solares da antiguidade, foi inserida na liturgia maçônica somente como suporte de lição moral, nunca
como elemento de adoração ou de proselitismo para crenças particulares. O misticismo que envolve a
saudação à volta do Sol é um costume muito antigo entre as civilizações. Os períodos solsticiais são
marcos determinantes na indicação dos ciclos Natureza – opostos conforme o hemisfério. Para os
“cortadores da pedra” do passado medieval, essas datas marcavam ciclos operativos que envolviam as
construções, portanto essa alegoria jamais teve o desiderato de dar na Moderna Maçonaria qualquer
suporte a crenças com viés de ocultismo e nem mesmo alicerçar proselitismos religiosos.

Significado da Aclamação no REAA - a liturgia maçônica adota várias manifestações do pensamento


humano para construir sua doutrina de aprimoramento. Dentre as quais pode-se citar os ciclos da
Natureza e o movimento aparente anual e diário do Sol nas suas práticas ritualísticas. Nesse sentido, a
aclamação Huzzé, recorrente na abertura e no encerramento dos trabalhos nos graus de Aprendiz e de
Companheiro no REAA, está diretamente relacionada à alegoria iniciática da Luz.

Nessa exposição figurada de pensamento aparecem os dois momentos da aclamação ritualística. A


primeira relacionada ao período que o canteiro se submete à plena iluminação do dia (Meio-Dia). De alto
valor simbólico, esotericamente o Sol a pino significa hora de extremada igualdade. Com o Sol no zênite
reduzem-se as sombras e a probabilidade é de que ninguém faça sombra a ninguém. O momento de
iluminação plena denota também o vigor do obreiro prestes a iniciar a Obra. É por esse motivo que o
Meio-Dia recebe a aclamação. O segundo momento se dá ao final, à Meia-Noite. Seu simbolismo prende-
se ao fato de que já passada a hora do ocaso certamente outro dia irá raiar (esperança). Quanto mais
escura é a madrugada, mais próximo se aproxima o nascer de um novo dia. Emblematicamente, Meia-
Noite representa o fim da jornada. Esotericamente é o fim da etapa. O corpo é devolvido à mãe Natureza.
Se a vida produziu bons brutos, certamente a sua Obra será perene, duradoura e servirá de exemplo aos
pósteros. A certeza é de que tudo é transitório, pois assim como o Sol se oculta no Ocidente para encerrar
o dia, também é certo o raiar de um novo dia. Eis a razão pela qual aclama-se o retorno do Sol no
encerramento.

Conclusão – Huzzé é uma antiga aclamação que corresponde a se dar “vivas!”. Como uma espécie de
saudação à Luz, Huzzé nada tem a ver com atos supersticiosos e crenças acercadas de vibrações ocultas,
chacras, egrégoras, etc. A aclamação é simplesmente um meio simbólico de instigar no maçom o respeito
à sabedoria e ao esclarecimento (virtudes simbolizadas pela Luz). O simbolismo maçônico não trata de
adorações, mas busca nos métodos velados por alegorias e ilustrado por símbolos perscrutar a Verdade e
não se distorcer a razão. (a) Pedro Juk – outubro de 2003. Revisado em junho de 2019.

ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO.
CARVALHO, Assis – O Mestre Maçom – Editora Maçônica A Trolha – Londrina 1991.
MELLOR, Alec – Dicionário da Franco Maçonaria e dos Franco Maçons – Editora Martins Fontes – São
Paulo – 1.989.
VAROLI, Theobaldo F. – Curso de Maçonaria Simbólica – Tomos I, II e III – A Gazeta Maçônica – São
Paulo – 1.993
CASTELLANI, José – Consultório Maçônico IV – Editora Maçônica A Trolha – Londrina – 1.998.
CARVALHO, Francisco – A Maçonaria Usos e Costumes I – Editora Maçônica A Trolha – Londrina –
1.994
PALOU, Jean – A Franco Maçonaria Simbólica e Iniciática – Editora Pensamento – São Paulo 1.964
NEWTON, John F. – The Builders – A Story and Study of Masonry – Iowa – 1.916.
CASTELLANI, José – Maçonaria e Sua Herança Hebraica – Editora Maçônica A Trolha – Londrina 1.993.
[1] Substância amorfa, adstringente, extraída principalmente da noz-de-galha e que se encontra na casca de numerosas árvores e
arbustos. Classe de substâncias adstringentes encontradas em certos vegetais, que dão coloração azul com sais de ferro, usadas no
curtimento de couros e também como mordentes
T.F.A.
PEDRO JUK 

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