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A BALAUSTRADA
A BALAUSTRADA
Muitos irmãos já divagaram sobre a origem e o simbolismo da balaustrada,
também chamada em alguns rituais de “Grade da Razão”. A imaginação chega a tanto
que há quem defenda que a balaustrada é uma espécie de portal pelo qual o maçom, ao
atravessar, sai do mundo do si mesmo e conquista o terreno dos sonhos, do inconsciente,
da espiritualidade, dos mistérios e da magia. Deve ser por isso que de vez em quando
nos deparamos com irmãos dormindo no Oriente! Mas voltemos à vida real.
Foi por volta da década de 60 do Século XVIII que surgiram os primeiros imóveis
construídos com objetivo exclusivo de funcionamento de Lojas Maçônicas, ainda na
Inglaterra. A iniciativa de tal movimento é creditada aos líderes maçons William Preston,
James Heseltine e Thomas Dunckerley. Mas esses imóveis não foram chamados de
Templos, nem passaram por cerimônias de sagração. Aliás, até hoje não são chamados
de Templos e não são sagrados, porque mantém o significado original dos locais de
reuniões dos maçons. São conhecidos por Lodge Room (Sala da Loja). Em outras
palavras, são apenas aposentos de reuniões maçônicas, assim como eram quando em
tavernas, por exemplo. A diferença é que, com as construções próprias, o local fica mais
bem guardado dos não maçons e não precisa ser preparado e desmanchado a cada
reunião.
Notas:
[1] SADLER, H. Thomas Dunckerley, His Life, Labours, and Letters, Including Some Masonic and Naval
Memorials of the 18th Century. Londres: Diprose & Bateman, 1891.
[2] SMITH, G. The Use and Abuse of Freemasonry. New York: Masonic Publishing and
Manufacturing, 1783, p. 165.
[3] MACKEY, A. Encyclopedia of Freemasonry. New York: The Masonic History Company, 1914, p. 315-
316.
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O traçado deste Balaústre, bem como outros que já tenho apresentado gira à volta do
pensamento do grande filósofo e músico russo Vladimir Jankélévitch.
A filosofia jankélévitchiana vai demonstrar-nos que o silêncio é, antes de mais, uma das
experiências mais profundas da natureza humana, pois só o homem tem a possibilidade
falar e, por conseguinte, só ele tem o privilégio de fazer silêncio. Segundo o autor, o
desenvolvimento da linguagem na nossa civilização constitui uma das formas mais nobres
de expressão do espírito humano, todavia, a palavra em comparação com a música será
sempre uma forma de ruído, um ‘ruído’ nobre relativamente às outras formas de ruído
presentes no mundo, mas nunca deixa de ser um ‘ruído’ ensurdecedor e perturbador para
quem deseja realmente ouvir a ‘voz do silêncio’. Deste modo, Jankélévitch critica o estatuto
da linguagem na vida humana, considerando-a como uma forma de ‘barulho’, com o intuito
de demonstrar que o discurso linguístico é um verdadeiro entrave à fruição da vida, um
entrave à ‘experiência’. É neste ambiente crítico e dilacerador de regras, que o autor nos
propõe o Silêncio como experiência primordial da vida, do amor e da música. Tal
derrubamento da linguagem tem como finalidade reconduzir o homem para a arte musical,
pois enquanto o homem estiver preso ao discurso não pode vivênciar a beleza dos sons.
Jankélévitch afirma que o amante da música tem tendência a desvalorizar a palavra, na
medida em que a linguagem surge como algo ameaçador, algo que pode perturbar o homem
e distrai-lo daquilo que é mais essencial, neste sentido, vai verificar-se uma certa oposição
entre a linguagem e a música. Em primeiro lugar, para se ouvir música, para se criar e
compor música é necessário, como condição fundamental, um vazio e um silêncio inicial,
por isso, quando o homem tenta perscrutar os sons deve fazer silêncio. A música e a
linguagem não podem, assim, existir em simultâneo, travando uma luta acirrada, que
desencadeia uma grande tensão entre ambas. Jankélévitch refere que quando a linguagem
e a música entram em ‘concorrência’, a prioridade deve ser concedida à música, pois o
homem deve calar as suas palavras para deixar ouvir e “falar” os sons.