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O PAVIMENTO DE MOSAICO

Ir.’. José Castellani

O pavimento quadriculado é originário da Suméria, na


Mesopotâmia ("terra entre rios"), região da Ásia, situada entre
os rios Tigre e Eufrates, a qual abrigou, ao lado do vale do Nilo,
as mais antigas civilizações organizadas e estratificadas da
Terra.

Estabelecidos na região de Sumer, ao sul da Mesopotâmia, a


partir do V milênio a.C., os sumerianos influiram, decisivamente,
na formação mística, metafísica e cultural dos demais povos
asiáticos e mediterrâneos. Hoje, não restam mais dúvidas de que
eles inventaram a escrita (cuneiforme); o sumeriano era a língua
hierática (sagrada), usada nos textos religiosos de praticamente
todos os povos antigos, enquanto o acadiano (de Acad, região ao
norte de Sumer) era a língua diplomática, usada, inclusive, pelos
egípcios.

Além da justiça, é certo que os sumerianos criaram quase


tudo: administração e justiça fundadas em Códigos, que serviam de
padrão; formas políticas de governo, que vão desde as cidades-
estado até ao império; instrumentos de troca e de produção; formas
de pensamento religioso, que dominaram o mundo antigo; a
astronomia e a astrologia, técnicas de construção, que foram
copiadas por outros povos (os especialistas Woolley e Parror
reconstituíram, além dos templos religiosos, as casas sumerianas
de dois andares, protótipos das futuras casas gregas e romanas);
e assim por diante.

A religião, contudo, foi o centro e o motor de toda a vida


mesopotâmica, tornando-se a base de toda a religiosidade cósmica
do mundo antigo e da mitologia greco-romana. Entre os símbolos
religiosos sumerianos, encontrava-se o pavimento quadriculado,
composto de quadrados brancos e negros intercalados, simbolizando
os opostos, principalmente o dia e a noite, já que o culto era
solar.

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O pavimento quadriculado era terreno sagrado, antecâmara dos
santuários, só percorrido pelo sacerdote hierarquicamente mais
graduado, nos dias mais importantes do calendário religioso.

Nem todos os demais povos, todavia, adotaram esse símbolo (os


hebreus, por exemplo, não o usaram e ele não existia no templo de
Jerusalém), enquanto muitos o adotaram apenas como elemento
decorativo (caso dos antigos gregos e cretenses), sem qualquer
conotação religiosa e sem caráter sagrado.

Em Maçonaria, nos ritos que o adotam, o pavimento não tem


sentido sagrado, não sendo proibido pisá-lo (como absurdamente,
ainda fazem algumas Lojas), pois ele recobre todo o solo do templo;
nesse caso, a orla dentada é colocada junto ao rodapé, como
guarnição do pavimento.

Ele não tem, também, a importância que certos autores místicos


lhe querem dar, pois antigos rituais NEM SEQUER O CITAM,
demonstrando a sua finalidade de elemento decorativo, não
essencial à simbologia maçônica. Quando, todavia, existir na
decoração maçônica, deverá ocupar todo o solo do templo, incluído
o átrio, pois este faz parte do templo.

Ele é, geralmente, chamado de mosaico, graças à lenda, segundo


a qual Moisés teria assentado, no chão do Tabernáculo (em hebraico:
suká = tenda, ou mishkán = santuário), pequenas pedras coloridas.
O termo nada tem a ver com o pavimento, ou mural, feito de pedras,
que formam desenhos, e nem com a palavra "musaeum" (museu), como
querem alguns autores.

Na realidade, o vocábulo mosaico, quando usado como adjetivo


(como é o caso, em pavimento mosaico), É ALUSIVO A MOISÉS e, por
extensão, ao hebraísmo; quando usado como substantivo, significa
"pavimento feito de pequenas peças, que, pela disposição de suas
cores, dão a aparência de desenhos.

Na Maçonaria inglesa e toda aquela sob sua influência, diz-


se pavimento quadriculado (“checkered flooring"), sem qualquer
alusão a mosaico, ou a Moisés. Isso, inclusive, seria o mais
correto, evitando especulações cansativas e irrelevantes.

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