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ISBN 978-65-86819-11-3
21-68831 CDD-616.02507
Índices para catálogo sistemático:
https://doi.org/10.4322/978-65-86819-11-3
Conselho Diretor
Diretor Presidente Prof. Nildo Alves Batista
Diretor Vice-presidente Prof. Sandro Schreiber de Oliveira
Diretora Tesoureira Profa. Denise Herdy Afonso
Diretora de Inovação Profa Eliana Goldfarb Cyrino
Diretor Secretário Prof. Eduardo Arquimino Postal
Diretor Discente Acad. Carlos Eduardo Merss
Diretor Médico Residente Prof. André Ferreira de Abreu Júnior
Coordenadores Regionais
Centro Oeste Profa Ana Maria de Oliveira
Minas Gerais Prof Gustavo Antonio Raimondi
Nordeste I Prof Jorge Carvalho Guedes
Nordeste II Profa Daniela Chiesa
Norte Profa Maira Tiyomi Sacata Tongu Nazima
RJ/ES Prof Paulo Roberto Alves de Pinho
São Paulo Prof Aristides Palhares
Sul I Prof Leandro Tuzzin
Sul II Profa Lara Cristina Leite Guimaraes Machado
Equipe Administrativa
Rozane Landskron Gonçalves
Cristiane Cavalcanti Pinto Ruiz
Érika Maria Lima Bandeira
Dyanara Lays Rohte Sbruzzi
Amara Rodrigues Mune
Assessoria Técnica editorial do livro
Eliana Goldfarb Cyrino
Nildo Alves Batista
9 Prefácio
Prof. Dr. Nildo Alves Batista
11 Apresentação
Mayra Isabel Correia Pinheiro
13 Apresentação
Mónica Padilla
15 Apresentação
Oswaldo de Jesus Ferreira
17 Apresentação do Livro 1
Prof. Gerson Alves Pereira Júnior
21 Capítulo 1
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de
competências para marcos de competências e “Entrustable Professional
Activities” (EPAs): um entendimento necessário para adequações da
formação médica
Gerson Alves Pereira Júnior
43 Capítulo 2
A simulação como enfoque para a segurança do paciente
Rosana Alves, Gustavo Alves Saldanha
53 Capítulo 3
Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de habilidades e
da elaboração das estações simuladas
Sara Fiterman Lima, Aurean D’Eça Junior, Richardson Augusto Rosendo da Silva,
Gerson Alves Pereira Júnior
83 Capítulo 4
Princípios Instrucionais na Simulação: Uso das Diretrizes de Desenho
Instrucional na Simulação
Brena Melo
97 Capítulo 5
Uso de pacientes simulados no ensino e avaliação em saúde
Emerson de Barros Rossini, Gerson Alves Pereira Júnior
107 Capítulo 6
A confecção da Moulage em diferentes cenários simulados
Mateus Henrique Goncalves Meska, Elaine Cristina Negri
119 Capítulo 7
Confecção e uso de simuladores de baixo custo: experiências da Medicina e
Enfermagem
Roxana Knobel, Raphael Raniere de Oliveira Costa
129 Capítulo 8
A colaboração como fundamento para o trabalho interprofissional em saúde
Marcelo Viana da Costa
141 Capítulo 9
A utilização da simulação na educação interprofissional
Sara Fiterman Lima, Cristiano Gil Regis, Marcelo Viana da Costa, Gerson Alves Pereira Júnior
157 Capítulo 10
A utilização da simulação na Gestão do Fator Humano e Riscos Assistenciais
na área da saúde (Crew Resource Management)
Gerson Alves Pereira Júnior, Alexandre Slullitel, Haggeas da Silveira Fernandes
169 Capítulo 11
Estruturação do ensino, treinamento e avaliação de habilidades
Fernanda Berchelli Girão Miranda
175 Capítulo 12
Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação
Gerson Alves Pereira Júnior
197 Capítulo 13
Avaliação com o uso de Checklists e Escalas de Avaliação Global
Renato Soleiman Franco, Camila Ament Giuliani dos Santos Franco
205 Capítulo 14
O uso de Feedback e Debriefing na Simulação
Renato Soleiman Franco, Camila Ament Giuliani dos Santos Franco
221 Capítulo 15
Cenários de Avaliação de Habilidades Não Técnicas (HNT)
Camila Ament Giuliani dos Santos Franco, Renato Soleiman Franco
229 Capítulo 16
O uso de instrumentos para a avaliação do ensino, da aprendizagem e de
outros atributos nos laboratórios simulados
Fernanda Berchelli Girão Miranda
237 Capítulo 17
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas
de aprendizagem e a convergência tecnológica: orientações na montagem
dos Centros de Simulação
Gerson Alves Pereira Júnior, Hugo Silva Ferreira, Luciane Reginato Dobrowski,
Claudio Soares de Santana
Prefácio
É
com muita alegria que, em nome do Aborda as diferentes dimensões da Simulação,
Conselho Diretor da Associação Brasileira entendida como uma metodologia ativa e participa-
de Educação Médica (ABEM), participo do tiva de ensino, cada vez mais utilizada na formação
lançamento deste livro, um dos produtos do projeto em saúde, tanto na graduação como na pós-gradua-
“Desenvolvimento da Rede de Centros de Simulação ção, em cenários práticos controlados e protegidos.
Clínica: Elaboração de curso para capacitação de O livro inicia explorando a relação entre
multiplicadores”, desenvolvido pela ABEM, em par- Diretrizes Curriculares Nacionais, Competências,
ceria com a Organização Panamericana de Saúde Marcos de Competências e Entrustable Professional
(OPAS), a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Acivities (EPAs) para desenvolvimento de Matrizes
Educação em Saúde (SGTES) e a Empresa Brasileira Curriculares, aspectos relevantes na discussão da
de Serviços Hospitalares (EBSERH). Educação Médica contemporânea.
Esta livro – Simulação em saúde para ensino Conhecimentos básicos para estruturação do
e avaliação: conceitos e práticas – foi escrito por treinamento de habilidades, princípios instrucio-
quase duas dezenas de estudiosos e pesquisadores nais na Simulação, uso de pacientes simulados, con-
sobre Simulação e reflete uma experiência única fecção de moldagens e uso de simuladores artesa-
e bastante consolidada de elaboração e desenvol- nais e de baixo custo, vão indicando ruptura com
vimento de um curso para capacitação de multi- uma “ideia (exclusiva) de simulações com ambien-
plicadores oferecido em 18 Centros de Simulação, tes informatizados/robotizados e com simulado-
distribuídos nas diferentes regiões do País, do qual res hiper-realistas (que) tornam o uso dessa estra-
participaram mais de 300 profissionais de saúde. tégia inalcançável para a maioria dos campos de
Prefácio 9
ensino”, e que “a simulação e o uso de ambientes cina vivenciar situações de erros e acertos, relatar
simulados podem ser utilizados mesmo com re- e discutir sistematicamente estes erros e os quase
cursos limitados”. acidentes, reconhecer condições inseguras, inves-
A avaliação é também discutida, enfatizando tigar, repetir procedimentos até o acerto e melho-
desde os cenários para habilidades não técnicas, rar estes sistemas com uma compreensão completa
como comunicação, liderança, trabalho em equipe, da falibilidade humana”.
gerenciamento de tarefas, tomada de decisão, den- Entendemos que a comunidade da Educação
tre outras, até a avaliação de habilidades, com desta- Médica Brasileira recebe, sem dúvida, uma grande
que para a importância do Feedback e do Debriefing, obra! Sua leitura reveste-se de uma efetiva oportu-
bem como o uso de Checklists e Escalas de Avaliação nidade de aprofundar a compreensão de pressupos-
Global. tos, teorias e práticas sobre Simulação, com seus
A Simulação como estratégia de preparo de avanços e desafios na (re)construção de processos
uma prática profissional comprometida com a formativos que tenham significado e representem
SEGURANÇA do paciente é também enfatizada, possibilidades efetivas de transformação das prá-
uma vez que “oportuniza aos estudantes de medi- ticas profissionais.
É
para mim motivo de honra e privilégio es- por um modelo de treinamento mais ético, com mi-
crever o prefácio do livro que será utilizado nimização de erros em saúde, que possam compro-
no Projeto “Desenvolvimento da Rede de meter a segurança do paciente.
Centros de Simulação Clínica: elaboração de curso O curso de capacitação de multiplicadores é as-
de capacitação de multiplicadores”. sim uma excelente contribuição para o conhecimento
A simulação clínica é um processo dinâmico que e formação em simulação realística no país, já reco-
envolve a criação de uma situação hipotética que in- nhecida como instrumento importante no processo
corpora uma representação autêntica da realidade, de ensino-aprendizagem na saúde, essencial para o
facilitando a participação ativa do aluno e integrando aperfeiçoamento de profissionais dessa área e para
o aprendizado prático e teórico com oportunidades a oferta de melhor assistência aos pacientes. Os te-
para a repetição, feedback, avaliação e reflexão, sem mas tratados nesse curso, tais como o uso de instru-
o risco de causar dano ao paciente. mentos para a avaliação do ensino nos laboratórios
As evidências mostram que as tecnologias de si- simulados, a utilização da simulação na capacitação
mulação clínica são estratégias capazes de articular da gestão de recursos em crise na área da saúde, a co-
práticas de ensino e pesquisa, necessárias na quali- laboração como fundamento para ao trabalho inter-
ficação dos profissionais da saúde, nos diversos ní- profissional em saúde, entre tantos outros, compõem
veis de atenção à saúde da população. assim um conjunto de ofertas que indiscutivelmente
Há uma recomendação da Organização Mundial marcam um avanço na educação em saúde no Brasil.
da Saúde (OMS) para a utilização dessa estratégia
durante a formação em saúde. Aprender e praticar
Mayra Isabel Correia Pinheiro
técnicas e/ou procedimentos em pacientes em situ- Secretária da Gestão do Trabalho e da
ação de vulnerabilidade pode assim ser substituída Educação na Saúde/ SGTES/MS
Apresentação 11
Apresentação
N
os últimos vinte anos, a aplicação de meto- modelos de simulação baseiam-se na capacidade de
dologias de simulação, como ferramenta de controlar variáveis que possam influenciar a aqui-
ensino-aprendizagem, foi desenvolvida como sição e colocar em prática competências definidas,
uma das principais alternativas para trabalhar com- bem como garantir um ambiente seguro, tanto para
petências educacionais (conhecimentos e habilida- os profissionais como para os usuários.
des) em um ambiente controlado, seguro e que per- No campo da saúde, a aplicação dos modelos
mite ser adaptado às necessidades de cada momento. de aprendizagem por simulação permite trabalhar
Os modelos de simulação realística, cada vez competências profissionais em ambientes realistas,
mais semelhantes à realidade, têm sido adaptados diminuindo, de forma significativa, o tempo neces-
a diferentes campos, onde os cenários de simula- sário para a aquisição de habilidades ao permitir a
ção causam impacto e permitem mais aquisição de repetição de ações de treinamento de forma ilimi-
competências, com agilidade de transferência des- tada, utilizando ambientes com diferentes níveis
tas em relação à situação treinada. de dificuldade, do mais simples ao mais complexo.
A simulação como estratégia de ensino-aprendi- No movimento da mudança das Diretrizes
zagem é de grande importância nos processos for- Curriculares Nacionais (DCNs) do Curso de
mativos, pois cada vez mais é necessário garantir Graduação em Medicina, em 2014, o Ministério da
a segurança do paciente para não ser considerado Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde
um objeto de aprendizado. O uso das simulações (OPAS) estabeleceram parceria com a Escuela
realísticas sempre terá como princípio garantir a Andaluza de Salud Publica (Easp), que, entre ou-
segurança e a prevenção de erros críticos, pois os tras ações, dedicou um componente específico para
Apresentação 13
trabalhar a área de aprendizagem por meio de si- conhecimentos e suas competências técnicas e re-
mulação, um componente importante a ser estimu- lacionais para trabalhar em equipe fez esse compo-
lado e desenvolvido no país. nente ampliar seu escopo, possibilitando que profis-
Naquele momento, coube às autoridades sani- sionais dos serviços de saúde fossem contemplados
tárias e educacionais do país promover e difundir na formação ofertada. Esta assessoria apresentou ao
essa metodologia nos processos de aprendizagem, final: a) Guia de orientação para implantação e ma-
por meio da articulação e da integração entre ensino nutenção de centros de simulação no Sistema Único
e serviço. A parceria com a Empresa Brasileira de de Saúde; b) Guia de desenvolvimento do programa
Serviços Hospitalares (EBSERH) foi de suma im- de formação de profissionais de saúde com o uso da
portância, visto que se estava iniciando a estrutu- simulação realística em saúde.
ração dos centros de simulação em seus hospitais. A produção do livro Simulação em saúde para
A articulação com as Faculdades de Medicina, por ensino e avaliação: conceitos e práticas, produto
meio da Associação Brasileira de Educação Médica do Projeto Desenvolvimento da Rede de Centros
(Abem), possibilitou identificar profissionais que de Simulação Clínica: Elaboração de Curso para
estavam se especializando nessa área. Capacitação de multiplicadores, apresenta avanços
Seguindo a experiência de criação do Complexo nessa área. A pandemia ocasionada pela Covid-19
Multifuncional Avançado de Simulação, Inovação tem permitido identificar a importância de man-
e Tecnologia (CMAT) de Granada, na Andaluzia, a ter esses cenários de prática como centros de trei-
assessoria da Easp abrangeu diversos aspectos no namento permanentes para desenvolver compe-
processo de tomada de decisão para estruturar e tências críticas no sistema e, neste sentido, reforça
desenvolver centros de aprendizagem por simula- ainda mais parcerias como esta que devem ser im-
ção realística. A criação de cenários adequados que pulsionadas no país, para proporcionar estruturas
permitem reproduzir situações que os profissionais que visam à qualificação de todos os trabalhado-
enfrentam e momentos em que devem integrar seus res da saúde.
Mónica Padilla
Coordenadora da Unidade Técnica Capacidades Humanas
para a Saúde Opas/Organização Mundial da Saúde
A
parceria ABEM-Ebserh-Ministério da cas federais de ensino ou instituições congêneres,
Saúde/OPAS viabilizou a realização do pro- observada, nos termos do art. 207 da Constituição
jeto “Desenvolvimento da Rede de Centros Federal, a autonomia universitária.
de Simulação Clínica: Elaboração de Curso para A Ebserh caracteriza-se como uma rede que in-
Capacitação de Multiplicadores”, que teve como tegra 40 unidades hospitalares vinculadas a 37 ins-
objetivo desenvolver e capacitar multiplicadores tituições federais de ensino superior (IFES), das
em simulação clínica, no intuito de qualificar a atu- cinco regiões do País. Tem como propósito “Ensinar
ação em ensino, pesquisa e extensão dos centros de para transformar o cuidar” e a missão de fornecer
treinamento referenciais por meio de simulação. campo de prática de excelência para inovação em
A Empresa Brasileira de Serviços Hospitala- saúde por meio do ensino e pesquisa, praticando
res, Ebserh, empresa pública vinculada ao Minis- assistência de qualidade e uma gestão sustentável
tério da Educação (MEC), criada pela Lei nº 12.550, e transparente.
de 15 de dezembro de 2011, tem por finalidade a Atualmente, a Rede Ebserh conta com 18 polos
prestação de serviços gratuitos de assistência estruturados que trabalham com centros de simu-
médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio diag- lação ligados a hospitais e/ou a IFES. As demais
nóstico e terapêutico à comunidade, em média unidades hospitalares da Rede utilizam práticas de
e alta complexidade, assim como a prestação de simulação clínica, tais como simulação cênica, ro-
serviços de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, bótica, de baixa, média e alta complexidades, como
ao ensino-aprendizagem e à formação de pessoas estratégias de ensino-aprendizagem aplicadas aos
no campo da saúde pública às instituições públi- cenários de práticas dos discentes e capacitação de
Apresentação 15
seus profissionais. Não por acaso, a Rede reuniu as petências e habilidades para a gestão de centros de
condições necessárias para essa diferenciada ação simulação e organização de atividades para forma-
de capacitação, cujos resultados ainda incluem a ção e capacitação.
valiosa publicação desta obra. O livro Simulação em saúde para ensino e ava-
A evolução científica e as discussões éticas sobre liação: conceitos e práticas é mais uma iniciativa
modelos de ensino-aprendizagem trouxeram gran- para qualificação de recursos humanos que cola-
des restrições ao ensino em ciências da saúde, uma bora para que o ensino baseado em simulação seja
vez que por muitos anos tal formação foi baseada uma realidade e uma prática corriqueira nos hos-
em modelos animais. Como consequência, apesar pitais universitários federais.
das diversas restrições impostas por controles éti- A perspectiva pedagógica trazida nos capítulos
cos, o ensino prático realizado diretamente no pa- converge para atender à necessidade crescente de
ciente ainda é o principal modelo utilizado, o que profissionais envolvidos na compreensão da rela-
traz questões tanto para a formação do profissio- ção entre as diretrizes estabelecidas para a forma-
nal quanto para a qualificação do cuidado prestado. ção e a implementação de práticas interdisciplinares
O uso de simuladores para aprendizado tem sido colaborativas, base para aquisição de novos conhe-
aplicado há muitos anos em diversas áreas do co- cimentos com vistas a uma atuação interpessoal e
nhecimento. Notadamente, na área de aviação re- técnica integradas, além do domínio da metodolo-
percutiu de forma direta na diminuição do número gia baseada em simulação em saúde.
de erros e aumento da segurança. Contudo, seu uso Sem dúvida, o presente livro será referência
como recurso de ensino-aprendizagem na área da para a comunidade acadêmica, profissionais de
saúde é relativamente recente. saúde, estudantes, preceptores e docentes, do en-
O planejamento do ensino baseado em compe- sino técnico à pós-graduação, nos diversos hos-
tências e habilidades trouxe um grande incentivo pitais universitários e nas diferentes unidades da
à prática da simulação como meio de desenvolvi- rede de ensino e saúde do País. Isso porque repre-
mento do processo de ensino-aprendizagem com senta um convite à reflexão, ao debate e à atenção
várias vantagens relacionadas a aspectos éticos, re- aos desafios para o futuro das atividades de simu-
produtibilidade, segurança, eficiência, efetividade, lação clínica na formação e na capacitação dos
custo e receptividade por parte dos aprendizes. profissionais para melhorar a qualidade da assis-
Nesse sentido, desde 2016 a Ebserh tem fomentado, tência e garantir mais segurança para os pacien-
tanto a criação de laboratórios de habilidades e si- tes. A Ebserh orgulha-se de ter participado de tão
mulação quanto a formação de pessoal com com- importante parceria!
N
o Brasil, a simulação clínica começou com rada no curso de medicina da Universidade Estadual
atividades pontuais que tiveram seu iní- de Londrina (UEL), que teve seu Laboratório de
cio na década de 1990, principalmente com Habilidades e Simulação montado e coordenado
cursos de suporte avançado de vida, como ATLS e pelo Prof. Samuel Silva da Silva (cardiologista e
ACLS. Nessa década e no início da seguinte, mui- hemodinamicista), juntamente com a Dra. Zuleika
tos acreditavam que a Aprendizagem Baseada em Thompson (pediatra) e o Dr. Kazuhiro Ito (patolo-
Problemas seria a única metodologia ativa que de- gista). Devemos reconhecimento a esses pioneiros
veria ser aplicada e que resolveria todas as ques- e também muita gratidão aos professores Marcio
tões de ensino dos cursos de medicina. Isso perdu- José de Almeida e João Campos, que receberam
rou por muito tempo, a ponto de se criar a alcunha dezenas de professores visitantes na UEL com ge-
pejorativa de “Cursos PBL”. nerosidade e compartilhamento total de informa-
Nessa época, não havia a inserção regular de ções e experiências. Foi o que aconteceu comigo em
atividades de simulação nas matrizes curricula- 2003, quando passei uma semana em Londrina/PR
res, limitando-se apenas ao treinamento de habili- para conhecer e vivenciar todas as atividades dos
dades, mais adotado pelos cursos de enfermagem estudantes da UEL.
do que de medicina. Da mesma maneira, a utilização da simulação
Dessa forma, o uso da simulação clínica como clínica para atividades de avaliação do tipo OSCE
ensino manteve-se no país em atividades isoladas ocorriam em alguns cursos de medicina públicos
realizadas por poucos docentes pioneiros. Cabe des- e privados, porém apenas de forma esparsa, com
tacar que esteve presente de forma mais estrutu- grande esforço pessoal de professores que preci-
Apresentação do Livro 1 17
savam convencer seus gestores acadêmicos, ven- gração da rede de urgência e emergência visando a
cer imensas barreiras logísticas e conseguir a ade- integralidade da atenção à saúde”, a partir do qual
são do corpo docente para serem avaliadores, além vários projetos de iniciação científica e mestrado
de precisarem suplantar a desconfiança e o medo foram realizados. Um dos projetos foi sobre a rea-
do corpo discente em ser avaliado por novas me- lização de simulação interprofissional no Campus
todologias. A partir de 2004, aplicamos o OSCE USP de Ribeirão Preto, que envolveu estudantes de
semestral para todas as turmas do novo currículo medicina, enfermagem, fisioterapia, farmácia e psi-
com uso de metodologias ativas na Universidade cologia, além das ciências matemáticas e da compu-
de Ribeirão Preto (UNAERP). tação do Campus USP de São Carlos, inclusive pro-
Em documento publicado em 2009, a movendo um Simpósio Internacional de Simulação
Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o Clínica Interprofissional em maio de 2017.
conceito de Segurança do Paciente como a redu- No período de 21 a 25 de novembro de 2014, foi
ção dos riscos de danos desnecessários associados realizada a 1ª Oficina de Formação em Competências
à assistência em saúde até um mínimo aceitável. e Simulação, na Universidade Federal de São Carlos
Com isso, a tradicional abordagem do ensino de (UFSCar/SP), com a equipe do instituto IAVANTE
medicina do tipo “veja e faça” para aprender e ex- da Andaluzia, cujo objetivo era definir um modelo
perimentar, expondo os pacientes ao atendimento de formação baseado em simulação, valorizando a
de profissionais de saúde inexperientes, e mesmo melhora dos indicadores-chaves dos processos as-
internos de medicina, não mais se sustentava do sistenciais para, ao mesmo tempo, atender às ne-
ponto de vista ético. cessidades de formação de profissionais dos di-
Essa escalada íngreme da curva de aprendiza- ferentes estados do Brasil. No entanto, apesar da
gem não é mais aceitável, pois a prática de tentativa realização dessa e de outras três oficinas, o pro-
e erro com pacientes reais torna-se cada vez mais jeto não foi adiante.
questionável. A simulação, nesse contexto, emerge Outra oportunidade de aprofundamento dos co-
como instrumento que auxilia a formação de pro- nhecimentos em simulação como avaliação tem sido
fissionais de saúde no treino de habilidades e de a participação de docentes de cursos de medicina
cenários simulados, antecipando a prática clínica de todo o Brasil nas aplicações da prova prática da
sem expor o paciente a erros evitáveis pela falta de 2ª fase do Exame de Revalidação de Diplomas de
conhecimento adequado e segurança na realização Médicos formados no Exterior (REVALIDA), prin-
dos procedimentos. cipalmente nas edições a partir de 2015, quando a
Na carreira docente na Universidade de São prova simulada passou a ser realizada, de forma si-
Paulo (USP) desde 2012, venho trabalhando com multânea, em muitas cidades das diversas regiões
blended learning e sala de aula invertida para ativi- do País, dada a quantidade cada vez maior de can-
dades simuladas na medicina de emergência trau- didatos inscritos.
mática e não traumática. Meu projeto aprovado No Congresso Brasileiro de Educação Médica
para o Programa de Desenvolvimento Docente para (COBEM) de 2015, no Rio de Janeiro/RJ, houve a
Educadores das Profissões da Saúde do Instituto programação prática de habilidades e simulação
Regional FAIMER Brasil para os anos de 2013 e para os estudantes e uma programação teórica vol-
2014 foi sobre a “Avaliação do processo de implan- tada aos docentes. Notou-se que não havia um pro-
tação da estratégia sequencial do ensino de urgência grama de simulação na ABEM. Apresentamos uma
e emergência na graduação médica”. Este projeto moção que foi aprovada na plenária deste congresso
FAIMER coincidiu com um dos quatro projetos da para a criação e reconhecimento de um grupo de
Carta-Acordo com a Organização Pan-Americana trabalho para um diagnóstico situacional sobre a
da Saúde (OPAS) em comemoração aos 50 anos da utilização da simulação nas escolas médicas e ca-
Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) pacitação docente.
e 10 anos das Diretrizes Curriculares Nacionais de A Diretoria ABEM, em março de 2016, solici-
2001. Como resultado de ambos, foram publicadas tou a entrega de um programa de simulação que
as recomendações ABEM para o ensino de urgên- foi elaborado com base em quatro componentes:
cia e emergência na graduação médica em 2013, 1) Diagnóstico situacional da presença do labora-
atualizada em 2015. tório de habilidades e simulação (LHS), área física,
Nessa mesma época, foi lançado o edital do PET/ acervo, uso nas programações curriculares para en-
Redes de urgência (2013-2015), e tive um projeto sino e avaliação, e identificação e contato dos pro-
aprovado sobre o “Estudo das estratégias de inte- fessores responsáveis, 2) Capacitação docente com
Apresentação do Livro 1 19
para cada área, que são os autores dos capítulos. à presença de laboratórios de habilidades e simula-
A plataforma digital disponibilizou os materiais di- ção, e a utilização da simulação clínica nas matri-
dáticos (textos e vídeos) elaborados pelos tutores. zes curriculares dos cursos de medicina.
Os capítulos deste livro foram os materiais di- Esses Núcleos terão as seguintes funções: 1) ma-
dáticos elaborados pelos autores para o 1º curso de pear as atividades de simulação clínica como ati-
capacitação de multiplicadores em simulação clí- vidade de ensino e/ou avaliação de cada escola da
nica da rede Ebserh, que contou com a participa- Regional e os principais responsáveis, 2) mapear
ção de 18 polos (Belo Horizonte/MG, Uberaba/MG, as provas de residência que envolvam a realização
Juiz de Fora/MG, Rio de Janeiro/RJ, São Carlos/SP, de provas práticas, 3) fomentar o desenvolvimento
Brasília/DF, Goiânia/GO, Cuiabá/MT, Campo de capacitação docente em simulação, 4) organi-
Grande/MS, Manaus/AM, Fortaleza/CE, Natal/RN, zar eventos que envolvam a simulação clínica na
Recife/PE, Aracaju/SE, Teresina/PI, Maceió/AL, Regional, e 5) participar do desenvolvimento e ope-
Curitiba/PR e Rio Grande-Pelotas/RS), numa par- racionalização de projetos regionais e nacionais que
ceria entre a Organização Pan-Americana de Saúde envolvam a simulação. Essa proposta contempla os
(OPAS), Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares objetivos do Projeto de Simulação Clínica enca-
(Ebserh) e o Programa de Simulação Clínica da minhado à Diretoria da ABEM em março de 2016.
Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM). Os Núcleos de Simulação das Regionais devem
Foram capacitados 321 profissionais de saúde estar vinculados a um Núcleo Central de Simulação,
(docentes e preceptores), 160 médicos e 161 pro- atrelado à Diretoria da ABEM, que coordene o pro-
fissionais de outras áreas da saúde (enfermagem, grama de simulação da entidade, assim como ocorre
fisioterapia, farmácia, psicologia e outros), distri- para o programa do Teste de Progresso.
buídos nas 8 áreas de atuação nos 18 polos Ebserh. Essa organização será um grande passo para o
Durante todos os módulos do curso, os concei- desenvolvimento da simulação no país, permitindo
tos apresentados e discutidos foram aplicados e os a criação de uma rede colaborativa de centros e pro-
cursistas com experiência clínica, após essa assi- fessores. Espera-se que, no futuro, seja o suporte
milação de conhecimentos, foram capazes de ela- para a organização e realização de uma prova prá-
borar mais de cinco centenas de estações simula- tica nacional para nossos formandos e para uma
das de bastante qualidade nas oito áreas de atuação etapa regional classificatória para as Olimpíadas
propostas no curso. de Simulação do COBEM.
Este curso foi a primeira iniciativa de capaci- Ainda como desdobramento deste curso de capa-
tação de multiplicadores em simulação clínica em citação em simulação com a rede Ebserh, este livro
maior escala realizada no país para instituições pú- com seus 17 capítulos tornou-se a Disciplina de Pós-
blicas federais de ensino na saúde, ligadas à Ebserh. Graduação de 90 horas (4 créditos) na Universidade
Dois desdobramentos do curso, propostos den- de São Paulo (HRB 4095) de “Simulação Clínica:
tro do Programa de Simulação Clínica da ABEM, já Conceitos e Aplicação na Formação e Capacitação
foram encaminhados e aprovados pela Diretoria em de Profissionais”, oferecida no primeiro semestre
agosto de 2020, porém ainda não desenvolvidos. O de 2021, tendo os autores como professores exter-
primeiro será a oferta do curso para as escolas mé- nos. Essa disciplina online teve mais de 150 alunos
dicas associadas que tenham interesse na sua reali- inscritos, sendo a maioria professores universitários
zação, e o outro desdobramento será a montagem de instituições públicas e privadas de todo o país.
dos Núcleos de Simulação das Regionais da ABEM, Para encerrar, gostaria de agradecer ao apoio
compostos por dois docentes. O objetivo é desenvol- sempre presente e justo da Profa. Hermila Guedes
ver essa metodologia de aprendizagem em diversos (Universidade Estadual da Bahia), que foi a di-
distritos geográficos de atuação e interagir com as retora da ABEM responsável pelo acompanha-
escolas médicas e seus membros. Além disso, pre- mento de quase todo o curso, sem a qual não ven-
tende-se criar uma rede colaborativa diante da di- ceríamos os inúmeros obstáculos no caminho de
versidade de contextos e situações existentes quanto sua realização.
As Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) e a evolução
do conceito de competências
para marcos de competências
e “Entrustable Professional
Activities” (EPAs): um
entendimento necessário para
adequações da formação médica
1. PANORAMA GERAL
Nos últimos anos, o ensino superior brasileiro tem contato com a teoria e, depois, com as situações prá‑
experimentado mudanças significativas, mais es‑ ticas. Essa configuração parte do pressuposto de que
pecificamente nas carreiras da saúde. São notórias os estudantes aplicarão o que lhes foi ensinado au‑
as complexidades e as exigências que envolvem a tomaticamente e de forma adequada, partindo do
formação desses profissionais. As transformações abstrato para o concreto (MAKUCH; ZAGONEL,
mundiais decorrentes das inovações tecnológicas, 2017). Na prática, esse modelo de formação resulta
científicas e econômicas, aliadas a um mercado em um distanciamento evidente entre o perfil dos
progressivamente instável e flexível, têm estabe‑ profissionais que estão se inserindo no mercado de
lecido novas regras de convivência social e práti‑ trabalho e as reais necessidades de saúde dos usuá‑
cas profissionais. Dessa maneira, há a necessidade rios (SPORTSMAN, 2010; FRENK et al., 2010). Por
de atualização contínua na área da educação, pois isso, muitas escolas médicas já avançaram para ou‑
a simplificação e a fragmentação do saber estão tros modelos, ainda que parcialmente, buscando
dando lugar a novos modelos de formação e ges‑ uma maior interdisciplinaridade e aplicação pre‑
tão da força de trabalho (CAMELO; ANGERAMI, coce dos conhecimentos.
2013; PÜSCHEL et al., 2017). Assim, é necessário um processo formativo que
Ainda hoje, muitos cursos da área da saúde têm expresse compromissos éticos e políticos com o
seu currículo organizado em disciplinas. Nessa es‑ exercício da cidadania e com a qualidade de vida
trutura tradicional, o estudante, inicialmente, tem da população, rompendo com o modelo de ensino
iniciativas e ações que traduzam desempenhos ca‑ No contexto das diretrizes do Plano Nacional
pazes de solucionar, com pertinência, oportunidade de Educação (PNE), do Ministério da Educação
e sucesso, os desafios que se apresentem à prática (MEC), expresso na Lei nº 10.172/2001, o Conselho
profissional em diferentes contextos do trabalho em Nacional de Educação (CNE) aprovou em 2001 as
saúde, traduzindo a excelência da prática médica” Diretrizes Curriculares para o Curso de Medicina.
(BRASIL, 2014). Esse foi um marco na regulamentação do ensino
em saúde, especialmente médico, no Brasil, pois
abrange todas as escolas de Medicina do país. As di‑
3. A INCLUSÃO DAS COMPETÊNCIAS NAS
retrizes de 2001 foram o parâmetro para a educação
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA OS médica até junho de 2014, quando o MEC lançou as
CURSOS DA ÁREA DA SAÚDE E A NECESSIDADE DE novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
REORIENTAÇÃO CURRICULAR Graduação em Medicina, que se tornaram os parâ‑
metros a serem observados na organização, desen‑
Para atender às necessidades do mercado de traba‑ volvimento e avaliação dos cursos de Medicina de
lho, as instituições de ensino devem determinar as todo o país (BRASIL, 2014; GONTIJO et al., 2013).
competências necessárias ao profissional da área, Para Makuch e Zagonel (2017), a reformulação
priorizando as mais críticas e importantes para do modelo pedagógico vigente é indispensável e ape‑
nas acontecerá por meio da implementação de um
garantir a formação de estudantes, os quais, ao fi‑
currículo que possibilite o desenvolvimento de com‑
nal do processo de formação, devem estar segu‑
petências. No entanto, embora as diretrizes curricu‑
ros e preparados para a prática clínica profissional
lares atuais indiquem esse objetivo, ainda existem
(SPORTSMAN, 2010; FRENK et al., 2010).
muitas limitações nas discussões sobre o modelo
Há a exigência de formar um profissional com‑ curricular orientado por competência profissio‑
petente, crítico e reflexivo, que seja capaz de corres‑ nal (PEREZ; TOURINHO; CARVALHO JÚNIOR,
ponder às constantes mudanças sociais e ao desen‑ 2016; MAKUCH; ZAGONEL, 2017).
volvimento da cidadania. Para oferecer profissionais A discussão sobre as necessidades de mudanças
com esse perfil ao mercado de trabalho, os órgãos e de novas adequações no ensino superior acontece
reguladores do ensino na área da saúde têm pro‑ há tempos, visto que o processo de formação dos
posto a revisão das DCNs e a coerência delas com profissionais da área da saúde apresenta lacunas no
os projetos pedagógicos dos cursos (BERNARDINO; ensino ou na aprendizagem. Assim, os estudantes
FELLI; PERES, 2010; SPORTSMAN, 2010). estão recebendo uma formação com o foco na me‑
Quadro 1. Descrição das competências propostas pelas DCNS de 2014. Fonte: Franco, Cubas e Franco (2014, p. 223‑224).
mento, em vez de meramente recebê‑lo (SOUZA; tamento dos problemas de saúde nos quais estejam
SILVA; SILVA, 2018). inseridos (SOUZA; SILVA; SILVA, 2018).
Trata‑se de uma concepção educacional a favor Com o uso dos métodos ativos de ensino e apren‑
do processo de ensino e aprendizagem, que pode dizagem, estão sendo buscadas mudanças de para‑
ser utilizada em experiências reais ou simuladas, digmas da relação clássica de poder vertical entre
integrando teoria e prática para a resolução de pro‑ docente‑discente para uma relação mais horizon‑
blemas. Permite que o estudante possa desenvolver tal, em que todos aprendem e contribuem com seus
competências ainda inexploradas, contrariamente valores, experiências e conhecimentos. No entanto,
ao enfoque apenas no conteúdo teórico. Isto con‑ é essencial que o currículo proposto apresente ob‑
tribui de forma significativa para a formação de jetivos de aprendizagem e estratégias de ensino
profissionais mais qualificados, fomentando com‑ bem definidos, com métodos de avaliação confiá‑
petências técnicas, éticas e políticas para o enfren‑ veis e válidos para o desenvolvimento das compe‑
Tabela 2. Interpretação geral dos níveis de proficiência. Fonte: traduzida de Accreditation Council for Graduate Medical
Education and American Board of Emergency Medicine (2013).
Tabela 3. A comparação das vantagens e desvantagens dos dois modelos conceituais: competências e EPAs. Fonte:
traduzida de Association of American Medical Colleges (2014).
Tabela 4. Prerrogativas relacionadas aos níveis de supervisão. Fonte: traduzida de Ten Cate et al. (2015).
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2016. a formação de profissionais de saúde: competências ou
43
Rosana Alves
Docente de Pediatra
Graduação e Mestrado ‑ FPP
Faculdades Pequeno Príncipe
Pós‑doutora em Ensino na Saúde
1. INTRODUÇÃO
O processo de formação do médico tem passado A partir do relatório To err is human: building a
por mudanças, com a inserção de cenários de prá‑ Safer Health system (Errar é humano: construindo
tica diversificados desde o início do curso até o in‑ um sistema de saúde mais seguro), muitos países
ternato, sendo um deles a simulação clínica reali‑ se voltaram para os problemas que o cuidado em
zada em laboratórios de habilidades institucionais, saúde pode acarretar, ou seja, qualquer atendimento
a qual propõe diminuir os riscos na interação gra‑ clínico, em qualquer nível de atenção, primária, se‑
duando‑paciente por meio do treinamento sistema‑ cundária ou terciária, possui o risco de proporcio‑
nar mais mal do que bem. De acordo com o relató‑
tizado em ambiente simulado e, assim, da melho‑
rio, nos Estados Unidos ocorrem em torno de 48 mil
ria da qualidade assistencial nos serviços de saúde.
mortes por ano em razão de erros na área da saúde.
Dessa forma, a simulação clínica oportuniza aos
Atualmente, estima‑se no mundo que esse número
estudantes de Medicina vivenciar situações de erros seja de cerca de 400 mil mortes por ano, a despeito
e acertos, relatar e discutir sistematicamente esses das medidas e políticas instituídas mundialmente
erros e os quase acidentes, reconhecer condições (KOHN; CORRIGAN; DONALDSON, 2000).
inseguras, investigar, repetir procedimentos até o A segurança do paciente é um desafio da saúde
acerto, melhorar esses sistemas com uma compre‑ pública mundial, pois busca‑se reduzir os danos cau‑
ensão completa da falibilidade humana e treinar a sados p elos cuidados de saúde. Na Alemanha, exis‑
comunicação dos erros aos pacientes e familiares. tem estratégias claramente definidas para a integra‑
cação da OMS para partos seguros: melhorar a qua‑ A lista de verificação, já aceita para organizar
lidade dos partos realizados em unidades de saúde etapas importantes e complexas da assistência à
para as mães e os recém‑nascidos tem o objetivo saúde, tem sido utilizada há muito tempo para que
de apoiar o uso de práticas essenciais de cuidados pontos essenciais não sejam esquecidos e deve fa‑
maternos e perinatais, com abordagem das princi‑ zer parte de todo programa de treinamento de ha‑
pais causas dos óbitos maternos, dos nascimentos bilidades na graduação e residência de Medicina e
mortos relacionados com complicações perinatais Enfermagem.
e mortes neonatais (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL Da mesma forma, o desenvolvimento da comu‑
DA SAÚDE, 2016). nicação eficaz é uma habilidade que deverá ser trei‑
REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
Figura 2 – Modelos de competências. A) pirâmide de Miller atualizada e B) modelo da aquisição de habilidades de Dreyfus.
Fonte: adaptada de Park (2015).
litador deve ter domínio e experiência na atividade tir ao facilitador meios de conduzir ou avaliar deter‑
clínica, em tecnologias e em comunicação que en‑ minada habilidade de forma estruturada, clara e ob‑
volve a simulação que será realizada. Sugere‑se que jetiva (DOMINGUES; NOGUEIRA; MIURA, 2020).
ele tenha formação específica em simulação, forne‑ Habilidade técnica (HT): habilidade necessá‑
cida por um curso formal, e/ou com abordagens es‑ ria para a realização de uma tarefa específica, por
pecíficas planejadas junto a um mentor experiente exemplo, inserir um dreno torácico ou realizar um
(MENEZES; MOLINA; DOS SANTOS, 2020). exame físico (LOPREIATO et al., 2020).
Feedback: informações ou diálogos ocorridos Habilidade não técnica (HNT): habilidades
entre participantes, facilitador, simulador ou pares cognitivas, sociais e pessoais que complementam
com o objetivo de melhorar a compreensão de con‑ as habilidades técnicas no desempenho adequado
ceitos ou de aspectos do desempenho. e seguro de tarefas, sendo que existem diversas ta‑
Frames: perspectivas pelas quais os indivíduos
xonomias para HNT. Na saúde, os marcadores com‑
interpretam novas informações e experiências para
portamentais mais comumente usados são: comu‑
tomada de decisão. São formados por experiências
nicação, liderança/trabalho em equipe, consciência
prévias e com base em conhecimentos, atitudes, sen‑
situacional, gerenciamento de tarefas e tomada de
timentos, metas, ações (fala e linguagem corporal),
decisão (DIECKMANN; ZELTNER; HELSØ, 2016).
atitudes (verbais e não verbais), regras e/ou per‑
cepções tanto do participante quanto do facilita‑ Julgamento clínico: compreende o processo
dor (DOMINGUES; NOGUEIRA; MIURA, 2020). mental e comportamental que engloba o atendi‑
Gatilhos: um evento ou eventos que movem a mento/assistência ao paciente. Refere‑se à realiza‑
simulação de um estado para outro (LOPREIATO ção de decisões baseadas nos vários tipos de conhe‑
et al., 2020). cimentos e é influenciado por experiências prévias
Guias de aprendizagem: guias de simulação clí‑ individuais e habilidades de resolução de proble‑
nica que compõem uma estratégia pedagógica e per‑ mas, pensamento crítico e raciocínio clínico.
mitem abordar e integrar conhecimentos, atitudes e Life savers: estratégia para gerenciar eventos
práticas dos aprendizes. Esses guias têm como obje‑ inesperados que ocorrem durante a simulação ba‑
tivo auxiliar a aprendizagem do participante por meio seada em planos predeterminados e/ou interven‑
da autocondução e autoavaliação, assim como permi‑ ções feitas espontaneamente durante os cenários,
Os cenários adequados dependem desse plane‑ dos profissionais nos serviços de saúde, sejam elas
jamento detalhado para condução da simulação clí‑ reconhecidas por seus componentes (é interes‑
nica, podendo variar em relação à complexidade e sante quando essa atividade parte das necessidades
ao tempo de duração, de acordo com os objetivos e expectativas dos participantes) ou secundárias
de aprendizagem propostos e resultados esperados, a demandas do contexto da saúde (administrati‑
sem impedir que outros pontos possam emergir du‑ vas, científicas, sociais e políticas). Quanto ao pú‑
rante a atividade. Dessa forma, o planejamento deve blico‑alvo, é importante identificar seu conheci‑
ser retroalimentado, flexível e cíclico, sendo com‑ mento prévio, pois o cenário simulado deve ser
posto por várias escolhas, decisões e construções adequado ao seu nível de conhecimento e vivên‑
(ALINIER, 2011; INTERNATIONAL NURSING cias (NEVES et al., 2017; EPPICH; CHENG, 2015;
ASSOCIATION FOR CLINICAL SIMULATION SANTALUCIA et al., 2016).
AND LEARNING, 2016). b) Definição dos objetivos de aprendizagem
Casos da vida real costumam ser um bom ponto É uma etapa essencial para a construção do cenário
de partida para o desenvolvimento de cenários, pois de simulação, pois são as ferramentas de orientação
costumam trazer consigo boas lições e pontos rele‑ para facilitar a obtenção de resultados e a marca re‑
vantes para aprendizagem (MURRAY, 2004). gistrada de um projeto educacional sólido.
Ao planejar os cenários, é importante lembrar Os objetivos podem ser amplos ou específicos,
dos conceitos estruturantes apresentados ante‑ e, nesse sentido, a taxonomia de Bloom, apresen‑
riormente ao projetar cenários para trabalhar tada anteriormente, fornece uma estrutura para
com fidelidade, buscando realismo e suspensão desenvolver e nivelar objetivos de forma a atender
da descrença. aos resultados esperados. Na taxonomia de Bloom
a) Reconhecimento do problema a ser abordado revisada, a hierarquia dos objetivos progride de
Ao iniciar a estruturação de um cenário, é impor‑ um nível inferior (lembrar e entender) para um
tante definir o problema a ser trabalhado e o pú‑ nível superior (aplicar, analisar, avaliar e criar).
blico‑alvo da simulação. Dependendo do local onde Esses verbos fornecem a estrutura e se comuni‑
será aplicado o cenário, o problema deve estar rela‑ cam com as competências que o participante deve
cionado aos conteúdos curriculares da graduação alcançar como resultado da participação na ativi‑
e pós‑graduação ou a situações ligadas ao trabalho dade de simulação (INTERNATIONAL NURSING
Quadro 2 – Itens para estruturação das encomendas dos cenários simulados. Fonte: elaborada pelos autores.
1‑ Tema/conteúdo a ser abordado (utilizar a matriz de conteúdos): escolher um título que represente o
problema a ser trabalhado.
2‑ Objetivos de aprendizagem/avaliação: o objetivo geral é o resultado que se espera com o
aprendizado. Os objetivos específicos são as medidas de desempenho do participante, que geralmente são
disponibilizados apenas para os facilitadores. O número de objetivos específicos depende da complexidade
e do tempo estabelecido para o cenário. Pode‑se utilizar os marcos de competências, que devem ser
mobilizados no desenvolvimento da estação.
3‑ Competências gerais a serem desenvolvidas: conhecimentos, habilidades e atitudes esperadas do
participante ao final da atividade, definindo as habilidades específicas a serem demonstradas.
4‑ Tipo de simulação: definir entre simulação clínica com uso de simulador (manequim), simulação clínica
com o uso de paciente simulado (se padronizado), role play, simulação híbrida, prática deliberada de ciclos
rápidos, simulação in situ, simulação interprofissional, simulação virtual ou telessimulação.
5‑ Caso/situação clínica: informações do caso clínico a ser desenvolvido e das tarefas a serem cumpridas,
descrevendo‑o de maneira sucinta e clara, com informações essenciais para o alcance dos objetivos
propostos.
6‑ Lesões/patologias: definir os achados do exame físico e exames complementares a serem explorados,
bem como as decisões críticas de diagnóstico e tratamento.
7‑ Procedimentos médicos a serem realizados (se houver): definir os materiais e equipamentos que
deverão estar presentes no cenário simulado.
8‑ Distratores: devem ser pensados com o propósito de auxiliar na aprendizagem e aproximar o cenário
de condições reais, entretanto não devem desviar a atenção do participante, afastando‑o dos objetivos
propostos.
9‑ Cenário de prática: local/referência de local em que será realizado o atendimento/procedimento.
10‑ Problemas de comunicação: com pacientes, familiares e membros da equipe interprofissional,
utilizando as situações mais frequentes de conflitos.
11‑ Conflitos éticos e jurídicos: caso se apliquem aos objetivos da simulação, realizar a inclusão.
12‑ Situação interprofissional envolvida: nos casos de utilização, definir as competências comuns e
colaborativas.
13‑ Nível estimado de dificuldade: fácil, médio ou difícil.
14‑ Informações complementares: inserir outras informações que possam ser úteis na construção da
estação.
15‑ Protocolo/consenso: de orientação para a construção e ponderação do checklist.
Quadro 3 – Itens para estruturação da estação simulada completa. Fonte: elaborada pelos autores.
Definições prévias:
‑ Gravação do cenário: definir se será realizada a gravação, bem como os equipamentos e o responsável.
‑ Tipo de comunicação entre estudante/candidato e avaliadores: formas verbal, escrita, visual.
1‑ Instruções para o participante/estudante/candidato: informações essenciais para o caso clínico,
definição das tarefas e sua duração (estabelecer um limite de duração da atividade com tempo suficiente
para que os participantes atinjam os objetivos).
2‑ Instruções sobre o cenário simulado: realizar a listagem dos recursos de acordo com as necessidades
e possibilidades do cenário: 1) espaço para a simulação; 2) simuladores (manequins), se forem utilizados;
3) mobiliários (cama, cadeira, armários, suporte de soro, biombo); 4) equipamentos (monitor, aspirador,
foco); 5) materiais (seringas, sondas, termômetro); 6) documentação de apoio (cartas de encaminhamento,
ficha de atendimento, exames complementares); 7) utilização de recursos diagnósticos e terapêuticos,
de medicações, de equipamentos; e 8) adereços (roupas, documentos de identificação, embalagens de
remédios, exames prévios, dispositivos invasivos, maquiagem, sangue e secreções).
3‑ Checklist de montagem da estação: incluindo a disposição do mobiliário e das pessoas envolvidas em
cena, para sua padronização e reprodutibilidade.
4‑ Recursos humanos para condução do cenário: definir os diferentes papéis a serem desempenhados no
cenário para estabelecer o número de participantes e seus pré‑requisitos. Em relação ao levantamento dos
recursos humanos, devem ser incluídos facilitadores, pacientes simulados ou padronizados, operadores de
equipamentos tecnológicos e outros que venham a se fazer necessários.
Definições prévias:
5‑ Orientações ao paciente simulado: script e, caso haja necessidade, descrição das observações para
moulage, vestimenta e adereços.
6‑ Orientações e informações ao examinador/avaliador: descrição sequencial e cronológica das condutas
a serem tomadas pelo estudante/candidato.
7‑ Informações sobre o caso e condutas a serem tomadas: descrição das possibilidades de condutas que o
estudante/candidato pode tomar e se comportar, definindo como agir.
8‑ Fluxograma de decisões possíveis das estações: para auxílio no desenvolvimento do cenário de acordo
com a evolução e as ações do participante.
9‑ Checklist do examinador/avaliador: contendo as ações/atividades adequadas que os participantes
devem desenvolver durante a prática simulada.
(caso seja simulação cênica, fluxograma de de‑ opções ou somente as duas extremas, inutilizando
cisão do avaliador e instrumento padronizado as opções intermediárias. No caso de utilização das
de avaliação – checklist). opções “Adequado” e “Parcialmente adequado”, é
Na engenharia do cenário simulado, após a de‑ preciso definir, em cada um dos itens, quais os cri‑
finição dos 15 itens da encomenda da estação simu‑ térios que diferenciam essas duas opções.
lada, os professores que estão sendo capacitados já
devem ter decidido por uma série de elementos que
permitem a visualização da futura estação simulada. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É neste momento que os facilitadores da capacita‑
ção docente, com experiência em simulação, fazem Neste capítulo, buscamos demonstrar que embora
as sugestões de viabilidade e fidelidade do cenário existam evidências de que o uso da simulação como
simulado. Feito isso, o próximo passo é a utilização estratégia de ensino e aprendizagem na educação
do modelo de construção completa da estação simu‑ em saúde possa ser eficaz, isso depende da forma
lada pelos professores em capacitação (Tabela 2). como ela é praticada, já que precisa ser formulada
Os checklists representam listas de ações ou itens de maneira apropriada para que de fato contribua
específicos a serem executados pelo aprendiz, bem com o aumento do conhecimento, e com a melho‑
como solicitam que os avaliadores atestem ações di‑ ria das habilidades e dos comportamentos profis‑
retamente observáveis. sionais e clínicos dos participantes.
A priori, um bom instrumento de avaliação deve Diante da diversidade de informações que atra‑
idealmente (KUUSKNE, 2017): vessam a literatura sobre o tema, e da ausência de
• possuir alta confiabilidade entre avaliadores; consenços, procuramos problematizar alguns con‑
• ter alta validade de construção; ceitos e práticas, buscando aporte em estudos recen‑
• ser viável para aplicar; tes que partem de questionamentos sobre conteúdos
• ser capaz de discriminar diferentes níveis de estruturantes para simulação enquanto técnica de
aprendizagem. ensino, tais como: 1) fidelidade; 2) realismo; 3) sus‑
É importante que a escolha dos itens do che‑ pensão da descrença; 4) contrato de ficção; e 5) com‑
cklist tenha o embasamento em protocolos e con‑ plexidade, com vistas a organizar os conhecimen‑
sensos para que não haja dúvidas sobre suas esco‑ tos básicos para estruturação do treinamento de
lhas. Isso também irá facilitar a ponderação de cada habilidades e da elaboração das estações simuladas.
tópico e de seus itens de avaliação. Outro ponto sobre o qual nos debruçamos foi
Na Quadro 4, pode‑se ver o modelo de checklist em relação ao desenvolvimento dos cenários para
proposto, com uma estrutura de tópicos que envol‑ o treinamento com simulação clínica, trazendo uma
vem vários itens de avaliação. Há quatro opções de sugestão para design, cuidadosamente elaborada e
respostas, sendo que, no processo de elaboração descrita, no intuito de instrumentalizar os leitores
do checklist, é necessário checar os itens individu‑ em relação a construção e aplicação de simulação
almente para se definir se serão mantidas todas as para o ensino e para avaliação.
Parcialmente
Indicadores de avaliação Não Fez Inadequado Adequado
adequado
A Tópico avaliado 1
1 Indicador a
2 Indicador b
3 Indicador c
4 Indicador d
B Tópico avaliado 2
5 Indicador f
6 Indicador g
7 Indicador h
8 Indicador i
C Tópico avaliado 3
9 Indicador j
10 Indicador k
11 Indicador l
12 Indicador m
6. REFERÊNCIAS
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Princípios Instrucionais na
Simulação: Uso das Diretrizes
de Desenho Instrucional na
Simulação
83
Brena Melo, MD, PhD, OBGYN
PhD Maastricht University
Coordenadora do Centro de Simulação da
Faculdade Pernambucana de Saúde ‑ FPS
Coordenadora da Enfermaria de Gestação de
Alto Risco do Instituto de Medicina Integral
Prof. Fernando Figueira ‑ IMIP
Figura 1 – Modelo de Processamento de Informação. Figura adaptada de Atkinson e Shiffrin (1968), Tradução: Brena Melo,
Arte: Bruno Hipólito.
Figura 3 – Representação gráfica dos quatro componentes do Modelo 4C/ID: (a) tarefas a serem aprendidas, (b) informação
de suporte (ou de Apoio), (c) informação de procedimento, e (d) prática parcial, by Jeroen J. G. van Merriënboer, 2020.
Fonte: Four-Component Instructional Design (2021).
4.4 REPETIÇÃO
Após uma primeira exposição ao cenário, os pro‑
fissionais em treinamento devem ser expostos a
mais de uma oportunidade de praticar os objeti‑
Figura 4 – Treinamento simulado para hemorragia pós‑parto
realizado em ambiente in situ (dentro do hospital). Foto:
vos de aprendizagem. Dessa forma, mais de um ce‑
Juliano Domingues (imagens autorizadas). nário deve ser elaborado e oferecido durante cada
treinamento. Outro elemento a ser considerado é
6. REFERÊNCIAS
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proposed system and its control processes. Psychology motivation. Vol. 2. New York: Academic Press, 1968. pp.
97
Emerson de Barros Rossini
Mestre em Artes Cênicas pela
Universidade de São Paulo
1. INTRODUÇÃO 2. CONCEITOS
REFERÊNCIAS
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A confecção da Moulage em
diferentes cenários simulados
107
Mateus Henrique Goncalves Meska
Enfermeiro
Mestre em Ciências da Saúde
1. INTRODUÇÃO
Moulage, palavra de origem francesa que significa ção dos modelos de cera passaram a ser utilizados
fundição ou moldagem, é a arte de criar, imitar ou para caracterizar e investigar a morte de indiví‑
replicar a fim de promover realismo. Também pode duos e para expandir o conhecimento anatômico
ser definida como o uso de maquiagem de efeitos (COOKE, 2010).
especiais, que possibilita simular contusões, feridas, A moulage perdeu sua popularidade no ensino
sangue, incisões, hematomas, idade do paciente, em meados do século XX por causa da criação da
características clínicas de determinadas doenças fotografia (STOKES‑PARISH; DUVIVIER; JOLLY,
ou outros efeitos a um simulador ou paciente si‑ 2018), cujo avanço levou ao desenvolvimento da
mulado (SMITH‑STONER, 2011; MERICA, 2011; indústria cinematográfica. Consequentemente, a
SWAN, 2013). moulage passou a ser utilizada como técnica de
Os primeiros registros de moulage foram en‑ elaboração de efeitos especiais. Filmes de terror
contrados em artefatos do Antigo Egito, no pro‑ e ação começaram a empregá‑la para trazer rea‑
cesso de caracterização de faraós. Posteriormente, lismo às cenas, por imitar com perfeição ferimen‑
no Renascimento, a moulage começou a ser reali‑ tos, cortes, sangue, deformidades, entre muitos ou‑
zada com modelos de cera para representar ca‑ tros (FALCÃO; SOARES, 2015).
racterísticas anatômicas, possibilitando o estudo Ainda no século XX, a moulage passou a ser
da anatomia humana e animal nas ciências médi‑ usada no treino militar de guerra, em um tipo de te‑
cas. No início do século XVII, a produção e a cria‑ rapia comportamental baseada no princípio do con‑
Produtos Utilidade
A massa de modelagem profissional é utilizada por
profissionais do teatro e cinema para produzir efeitos de
Massa de modelagem
ferimentos. Pode ser comprada ou até mesmo produzida em
casa.
Produto, na composição líquida, que pode ser encontrado
na cor vermelha (sangue vivo) e preta (sangue queimado) e
Sangue falso utilizado tanto na composição de uso em pele quanto para uso
em mucosas, sendo conhecido como sangue teatral comestível.
Pode ser produzido em casa com corantes e água.
É encontrado na composição líquida ou pastosa, sendo que,
quanto mais recente a sua data de fabricação, mais líquido
Pigmento e seus
será o pigmento. Geralmente, é utilizado para caracterizar
componentes
hematomas, sangramentos, peles ressecadas, entre outros,
sendo encontrado nas cores vermelha, amarela, roxa e azul.
É um acessório que funciona como um protetor e
impermeabilizador para conservar a qualidade da maquiagem
A secagem é rápida; quando a cor do material passar de branca
Látex bicentrifugado
para incolor/transparente, é que provavelmente já esteja seco.
e pré‑vulcanizado
Pode ser utilizado também para caracterizar pacientes idosos,
quando aplicado em várias camadas sobre o rosto, dando efeito
de rugas.
Tinta aquarela, na forma de pasta, utilizada por profissionais.
Pode ser utilizada para dar cor às formas da moulage. As cores
Tinta de colorir
preta, vermelha, amarela, bege, marrom e branca são as mais
utilizadas.
Produto que emprega e ressalta visualmente o efeito “luz e
sombra”, manifestando efeitos de iluminação e profundidade.
Sombra
É encontrada em várias cores, formas e texturas, como líquida,
mousse, bastão, cremosa ou em pó.
Serve para regularizar o tom da pele. Pode ser: cremosa, que
Base é indicada para peles secas e sensíveis, e em pó, chamadas de
pancake.
Produtos Utilidade
mente o simulador, e também não causa alergias e glicerina é facilmente encontrada nas farmácias e a
irritações no paciente simulado. um baixo custo. E a mistura pode ser feita com uma
Podem ser utilizados como barreira a vaselina parte de glicerina e duas partes de água.
antes da maquiagem, o plástico filme transparente,
a fita adesiva e o látex pré‑vulcanizado, vendido por 2.2 VÔMITO
marcas conhecidas e utilizado para este fim. O vômito pode ser elaborado de acordo com o
Maquiagens do tipo “longa” ou “permanente” objetivo do cenário e conter fragmentos de ali‑
devem ser usadas sobre uma barreira rígida, pois mentos, sangue (hematêmese), borra de café, as‑
há enorme chance de manchar o simulador. pecto verde‑amarelado (bilioso), entre outras
Sempre quando a modulagem for realizada em possibilidades.
um paciente simulado, recomenda‑se verificar se Uma variedade de ingredientes facilmente en‑
o indivíduo apresenta alergia a alguma substância. contrados na cozinha pode simular o vômito com
Ao fazer hematomas, escoriações e petéquias na diferentes odores e características, criando uma
pele do simulador, é necessário dar prioridade a um aparência autêntica. Podem ser utilizadas sobras
pó make‑up. Deve‑se também evitar aplicar creme de sopas de vegetais, macarrão instantâneo, aveia,
base, líquido ou spray de maquiagem diretamente cereais matinais, bolachas de água e sal trituradas,
na pele do simulador. A única exceção a essa regra
suco de laranja, vinagre branco, leite, suco de limão,
é a maquiagem de creme para rosto.
queijo parmesão, ervilha enlatada, uva‑passa, grão
As lesões simuladas precisam ter relação com o
de milho, entre outros.
objetivo proposto no cenário. Por isso, planeja‑se o
Gotas de corantes alimentícios também podem
tipo de material a ser utilizado antes de se realizar
ser adicionados para criar aspectos de acordo com
a montagem do cenário. Por exemplo, ao criar he‑
o objetivo proposto. Para obter consistência, adi‑
matomas, é preciso basear‑se na anatomia e fisiolo‑
gia para compreender como a cor pode transmitir ciona‑se gelatina incolor ou lubrificante à base de
o tempo do hematoma e a gravidade das contusões. água.
Além da moulage, a caracterização do ambiente do
2.3 FEZES
simulador/ator é importante e faz parte do conjunto
para aumentar a realidade do cenário. As fezes podem ser produzidas com consistência
A seguir são listadas algumas sugestões de mou‑ sólida, pastosa e diarreica, por meio de uma varie‑
lage simples e de baixo custo que melhoram a ca‑ dade de ingredientes e restos de alimentos, como
racterização do paciente e do cenário simulado. grão‑de‑bico e abóbora cabotiá, que, após cozi‑
dos e batidos no liquidificador, formam uma pasta
2.1 SUDORESE amolecida.
Para simular uma sudorese, por exemplo, em situ‑ Fezes com presença de sangue são produzi‑
ações de atendimento a pacientes com hipoglice‑ das com ingredientes como chocolate em pó, leite,
mia e choque hemodinâmico, pode ser utilizada a corante líquido/gel comestível vermelho e ama‑
glicerina líquida diluída em água e posteriormente relo, sendo misturados até obter o efeito desejado
borrifada com um spray sobre o simulador/ator. A (Figura 1).
A presença de coágulos de sangue nas fezes pode Caso o sulfato ferroso seja em drágea, deve‑se re‑
ser simulada acrescentando ameixa em calda ou mover o revestimento que o comprimido possui,
pedaços de gelatina de cor vermelho‑escura com mergulhando‑o em uma vasilha com água quente.
consistência firme, obtida diminuindo a quantidade Depois, adiciona‑se o tablete à mistura principal e
de água ou colocando gelatina sem sabor durante mexe‑se até que todos os componentes estejam dis‑
o preparo. Outra opção é utilizar borra de café ou solvidos (LANGFORD, 2018). Já os comprimidos
chocolate em pó misturado com aveia, adicionando sem revestimento devem ser macerados e mistura‑
água até atingir a consistência desejada, para simu‑ dos ao preparo. Então, deve‑se adicionar o corante
lar fezes com característica de melena (Figura 2 e 3). vermelho até obter a coloração desejada e, após, o
Para obter odor, pode ser adicionada uma ampola de corante azul líquido comestível, gota a gota, para
Fluimucil®, medicamento que possui odor sulfúreo ajustar a cor conforme necessário. Por fim, a mis‑
(enxofre), contribuindo para o realismo no cenário. tura deve descansar por pelo menos quatro horas
Outro exemplo para simular fezes é o uso de antes de ser usada (LANGFORD, 2018).
fígado de boi cru e feijão cozido, batendo tudo no Como resultado, obtém‑se um sangue consis‑
liquidificador e mantendo em um saco ou vasilha tente e mais espesso (Figura 4).
plástica fechada fora da geladeira por um dia. Essa Outra maneira simples é misturar água e corante
mistura irá apresentar característica de fezes pas‑ vermelho, adicionando corante verde com cuidado
tosas e com odor fisiológico, podendo ser utilizada até atingir a cor desejada. Esse tipo de preparo tam‑
para simular efluentes de colostomia. bém pode ser colocado em bolsas de sangue para
simular transfusão.
2.4 SANGUE Ingredientes como glicose de milho e corantes
Assim como vômito e fezes, o sangue também tem alimentares vermelho, azul e amarelo também são
uma variedade de opções. Langford (2018) sugere ótimas opções para serem utilizadas. Os corantes
os seguintes ingredientes: uma colher de sopa de azul e amarelo aumentam o realismo da pigmenta‑
sal, um tubo de gel lubrificante à base de água (tipo ção, no entanto devem ser usados em pouca quan‑
gel para ultrassom) ou gel para cabelo incolor e tidade, sendo acrescentados conforme o resultado
sem álcool, corante líquido/gel comestível verme‑ desejado.
lho, água, corante líquido/gel azul comestível para Os coágulos de sangue podem ser utilizados em
ajustar a cor – comprimidos de sulfato ferroso po‑ cenários de obstetrícia, traumas, urológicos, en‑
dem ser acrescentados, proporcionando um cheiro tre outros, e produzidos a partir dos seguintes in‑
realista ao sangue. gredientes: gelatina incolor em pó, água fria, água
Para o preparo, é preciso aquecer a água (morna), morna, glicerina biodestilada (umectante para
dissolver o sal na água e adicionar o gel lubrificante. fins alimentícios) e corante líquido/gel vermelho
Figura 2 – Aspecto de fezes produzidas com aveia em flocos, borra de café e água.
Fonte: direito de imagem do autor.
Figura 4 – Aspecto de sangue produzido com corante líquido/gel vermelho e azul, comprimido de ferro, água, gel
hidrossolúvel e sal.
Fonte: direito de imagem do autor.
Figura 5 – Coágulos de sangue produzidos com água, gelatina em pó, glicerina, corante comestível líquido/gel verde e
vermelho.
Fonte: direito de imagem do autor.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Florianópolis, v. 28, e20180199, 2019. 1-10, 2018.
119
Roxana Knobel
Médica ‑ Mestre e doutora
em tocoginecologia
Especialista em Educação para
as Profissões da Saúde
Docente da Universidade
Federal de Santa Catarina
1. INTRODUÇÃO
O uso de simuladores e ambientes de simulação a maioria dos campos de ensino. De fato, quando as
para o ensino de profissionais de saúde está bem es‑ evidências da efetividade do uso de simulações para
tabelecido (ELLINAS; DENSON; SIMPSON, 2015; o ensino ficaram mais robustas, um problema ficou
MOTOLA et al., 2013). Embora a qualidade dos es‑ evidente: o elevado custo desses equipamentos. Tanto
tudos seja heterogênea e com indicadores variados, sua aquisição quanto sua manutenção têm sido obs‑
as evidências vêm demonstrando que o ensino com táculos para o seu emprego, podendo, não raramente,
base em simulações é eficaz e leva a resultados me‑ inviabilizar sua utilização em várias regiões do Brasil
lhores e mais duradouros que o ensino tradicional e do mundo (ELLINAS; DENSON; SIMPSON, 2015;
(MCGAGHIE et al., 2011a; HEGLAND et al., 2017). KNOBEL et al., 2018a; SOUZA et al., 2020).
Seu uso pode melhorar as habilidades clínicas, téc‑ Os simuladores de alta fidelidade são, geral‑
nicas, de comunicação e de trabalho em equipe, os mente, importados e apresentam‑se no mercado
níveis de satisfação e autoconfiança e o desempe‑ com valores que podem chegar a mais de U$ 150.000
nho cognitivo, além de reduzir erros (ELLINAS; (SOUZA et al., 2020); sendo este um dos principais
DENSON; SIMPSON, 2015; COSTA et al., 2020; limitadores para a disseminação em larga escala pe‑
ROWSE et al., 2015). las instituições formadoras (ELLINAS; DENSON;
A ideia de simulações com ambientes informa‑ SIMPSON, 2015; ROWSE et al., 2015; KNOBEL et al.,
tizados/robotizados e com simuladores hiper‑rea‑ 2018a; MAGEE; SHIELDS; NOTHNAGLE, 2013;
listas torna o uso dessa estratégia inalcançável para PEROSKY et al., 2011).
Vantagens
Baixo custo (aquisição de materiais e manutenção).
Reprodutibilidade: os modelos podem ser reproduzidos e melhorados constantemente.
Estímulo à criação (e consequente ampliação de conhecimentos e técnicas): estudantes, docentes, técnicos
de laboratórios e pesquisadores podem desenvolver seus próprios modelos.
O desenvolvimento de modelos conforme necessidade e especificidade da área/especialidade.
Ampliação das possibilidades de treinar procedimentos de diferentes complexidades em modelos ainda não
desenvolvidos pelo mercado.
Reposição de peças/elementos do modelo mais simples e acessível.
Desenvolvimento/aquisição de modelos em instituições com limitação de orçamento.
Ampliação das práticas simuladas e das oportunidades de aprendizagem.
Possibilidade de participação em uma comunidade de prática com desenvolvimento e melhoria de
simuladores de tecnologia aberta.
Possibilidade de utilizar modelos híbridos – com materiais já existentes ou que possam ser “vestidos” por
pacientes simulados.
Limitações
Dificuldades de aquisição de alguns materiais alternativos, sobretudo por instituições públicas e por
processos de licitações.
Tempo para desenvolver os projetos e suas etapas.
Requisição de conhecimentos específicos, como delineamentos de pesquisa, conhecimento de informática e
parcerias entre outras áreas do conhecimento (engenharias), o que pode ser mais difícil em universidades/
locais mais remotos.
Com simuladores mais simples, pode haver dificuldade de os estudantes sentirem que estão vivenciando a
situação clínica real, principalmente para aqueles mais avançados.
Etapas Comentários
Identificar um “gap”, uma necessidade dos aprendizes (ELLINAS; DENSON; SIMPSON,
2015), a qual pode ser de conhecimento (por exemplo, conhecer as camadas anatômicas
da parede abdominal), de habilidades (a maioria dos simuladores treina habilidades –
Identificar por exemplo, intubação orotraqueal, punção de cistos, sutura de diferentes estruturas
uma anatômicas) ou atitudes (trabalho em equipe, comunicação).
necessidade
educacional É importante se atentar também às necessidades do laboratório e/ou centro de simulação.
Em alguns casos, as instituições possuem simuladores de referência/comercial em
quantidades limitadas. Dessa forma, a confecção pode ser um “plus” no acervo de
tecnologias.
Buscar formas de trabalhar a necessidade levantada (ELLINAS; DENSON; SIMPSON,
2015; KNOBEL et al., 2020) e procurar se já existem outros simuladores. Alguns
Procurar
questionamentos podem guiar esse levantamento, como “Alguém já criou um simulador
ideias e
semelhante?” ou “O que é necessário simular?”. Fazer buscas em artigos científicos, na
inspirações
literatura cinzenta e em outros espaços (em sites de busca, como Google, e em canais de
compartilhamentos de vídeos, como YouTube).
Etapas Comentários
Caso seja encontrado simulador semelhante, deve‑se examinar os materiais utilizados e as
Procurar etapas e buscar alternativas locais para a simulação.
ideias e
inspirações Em diversas ocasiões, não haverá o simulador buscado. Por isso, esta também é uma
vantagem da criação de simuladores artesanais: estimular a criatividade.
Montar um simulador inicial. É necessário adquirir os materiais e planejar o processo de
montagem.
Se a ideia é inicial, devem ser feitos diversos modelos diferentes, utilizando variadas
estruturas, materiais e processos e sempre avaliando vantagens e desvantagens, custos e
benefícios.
Fazer um Por exemplo, se a necessidade é treinar técnicas específicas de sutura, um modelo com
piloto carne de frango pode ser adequado. Porém, ele será perecível e trará algumas dificuldades
em termos de local de realização e limpeza do material. Se a necessidade não incluir a
verossimilhança com a estrutura (treinar técnica de manipulação de instrumentos, de dar
nós específicos), um modelo de couro sintético ou espuma pode ser suficiente.
A depender do desenho, pode ser interessante o planejamento do modelo/simulador
em programas de modelagem 2D e 3D. Além disso, a impressão desses modelos pode ser
necessária para a etapa de adequações e testes.
Certificar‑se de que o simulador funciona conforme planejado e fazer a simulação com
pessoas mais experientes e/ou pequenos grupos – verificar se atinge os objetivos de
Testar aprendizagem.
Deve‑se refazer o piloto quantas vezes forem necessárias.
Validar o projeto (MOKKINK et al., 2010).
Validade de face – aspecto, realismo, simulação da estrutura pretendida, apresentação das
características necessárias para o que se pretende simular.
Validar
Validade de conteúdo – valor pedagógico, efetividade em resolver o problema proposto.
Pode‑se também ofertar cursos de curta duração e/ou workshop. Esses momentos podem
ser excelentes oportunidades para a validação do modelo.
É hora de colocar o simulador para funcionar.
Deve‑se encontrar um momento adequado durante o curso ou disciplina para inserir o uso
do simulador.
Implementar
É importante lembrar que o simulador em si é apenas uma parte do processo de
aprendizagem, por isso é preciso planejar toda a estratégia educacional envolvida.
Às vezes, no momento da implementação, novas mudanças são necessárias no simulador.
Há diversas maneiras de avaliar a efetividade de uma simulação. Seguindo o modelo de
Kirkpatrik (DORRI; AKBARI; SEDEH, 2016), podem ser avaliados: dados de satisfação do
Avaliar
aprendiz, desempenho nas simulações, desempenho clínico, mudança de indicadores de
saúde na instituição etc.
Compartilhar a criação pode ajudar outras pessoas ao redor do mundo (KNOBEL et al.,
2020). Inclusive, elas podem também sugerir mudanças e aperfeiçoar as criações. Assim,
Compartilhar
pode‑se criar uma comunidade de tecnologia aberta que está sempre crescendo e se
fortalecendo. Ainda, devem‑se fornecer os créditos das ideias que inspiraram a simulação!
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A colaboração como
fundamento para o trabalho
interprofissional em saúde
129
Marcelo Viana da Costa
Enfermeiro
Universidade Federal do
Rio Grande do Norte
Escola Multicampi de Ciências
Médicas ‑ Caicó/RN
1. INTRODUÇÃO
boração, não é razoável atribuir toda a responsabi‑ da história como demasiadamente conteudista
lidade aos profissionais de saúde. (COSTA et al., 2016). A necessidade de desenvol‑
Apesar do reconhecimento da colaboração como vimento de competências específicas para o exercí‑
princípio do trabalho interprofissional, muitas vezes cio das profissões deu sustentação ao modelo disci‑
as dimensões política, institucional e cultural esti‑ plinar de formação, com pouco ou nenhum diálogo
mulam a competição entre as profissões, cuja regu‑ entre os diferentes campos do conhecimento. A es‑
lação frequentemente acentua os conflitos e a de‑ trutura departamental das universidades, muitas ve‑
sigualdade entre elas. Em contextos institucionais, zes, constituiu uma barreira para a articulação de
normas e regimentos podem desencorajar a colabo‑ saberes, até mesmo no interior de um único curso
ração e fomentar a competição. A dimensão cultu‑ da área da saúde (COSTA, 2014).
ral se expressa na tendência de centrar atenção na Entretanto, a pouca articulação não ficou restrita
expertise do profissional, colocando‑o como centro apenas aos diferentes campos do conhecimento.
do processo, e a busca por status e reconhecimento A tendência de separação das áreas também ge‑
social se torna justificativa para conflitos com ou‑ rou pouca ou nenhuma interação entre as práticas
tros colegas no trabalho em saúde (OANDASAN; profissionais. A formação dos profissionais, orien‑
REEVES, 2005). tada por marcos teórico‑conceituais para susten‑
tar as práticas, estabeleceu uma lógica que pouco
favorece a formação de profissionais mais aptos à
3. A EDUCAÇÃO INTERPROFISSIONAL E O colaboração – fundamento central do efetivo tra‑
DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS balho em equipe (PEDUZZI et al., 2013).
COLABORATIVAS Na contramão dessa realidade, as necessidades
de saúde, ao longo dos anos, tornam‑se cada vez
O processo de formação em saúde com ênfase na mais complexas, evidenciando limites desse mo‑
dimensão técnica foi se consolidando ao longo delo conteudista e disciplinar que orienta a for‑
Domínios de
competências Objetivos de aprendizagem
colaborativas
Clareza dos papéis · Abordar a atuação da equipe diante da sobreposição das práticas e/ou ausência
de profissionais no trabalho em equipe.
Domínios de
competências Objetivos de aprendizagem
colaborativas
· Apoiar e defender o envolvimento do paciente como membro da equipe no
trabalho interprofissional.
Atenção centrada
· Defender a mudança nos modelos de atenção à saúde ao paciente no contexto
no paciente/família/
da instituição de saúde, quando necessário.
comunidade
· Garantir e defender a centralidade do paciente no trabalho interprofissional e
nos serviços de saúde.
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A utilização da simulação na
educação interprofissional
141
Sara Fiterman Lima Marcelo Viana da Costa
Enfermeira Enfermeiro
Universidade Federal do Universidade Federal do Rio
Maranhão (UFMA) Grande do Norte (UFRN)
1. INTRODUÇÃO
As necessidades cada vez mais complexas dos precoce na formação) e profissionais de saúde de
usuários dos serviços de saúde e da população em diferentes áreas por meio de espaços dialógicos,
geral levaram as profissões a caminhar histori‑ nos quais possam aprender com os outros, sobre
camente em busca de formas de cuidado mais so‑ os outros e entre si, para um adequado enfrenta‑
fisticadas, para que dessem conta dessa realidade. mento dos problemas de saúde, com colaboração
Tradicionalmente, as instituições de educação têm e interdependência (BARR et al., 2005; REEVES,
perpetuado uma formação em saúde de modo de‑ 2016; TOASSI, 2017).
partamentalizado, levando ao desenvolvimento de A necessidade de compartilhamento das histó‑
silos uniprofissionais e invisibilizando a necessi‑ rias de cada profissão, equipes de saúde, organiza‑
dade de preparo para o trabalho conjunto nas equi‑ ções e indivíduos passa a ser devidamente enfati‑
pes de saúde (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001; zada em consequência do reconhecimento mundial
BENNER et al., 2010; REEVES, 2016). de que as lacunas no trabalho em equipe constituem
Com o tempo, evidenciou‑se que essa aborda‑ ameaças à segurança do paciente e à qualidade dos
gem isolada perpetua uma cultura de baixa colabo‑ serviços de saúde (PALAGANAS; EPPS; RAEMER,
ração, comunicação deficiente e trabalho em equipe 2014). Assim, a interprofissionalidade ganha desta‑
pouco efetivo, resultando em graves prejuízos para a que com a proposta de garantir uma interação con‑
qualidade da atenção em saúde (WORLD HEALTH tínua e compartilhamento de conhecimento entre
ORGANIZATION, 2010). diferentes profissionais, organizados para resolver
Diante dessa realidade, surge uma demanda por ou explorar em conjunto uma variedade de ques‑
integração e interações entre estudantes (de forma tões de educação e assistência (PAIGE et al., 2015).
2. A SIMULAÇÃO E A EDUCAÇÃO
INTERPROFISSIONAL
País e ano de
Fonte e autoria Intenção e justificativa Domínios
publicação
Para permitir uma abordagem 1) Conhecimento a partir da
The mais coerente, integrada e prática.
Interprofessional centrada no paciente; modernizar
2) Prática ética.
Capability a contribuição educacional em
Reino Unido,
Framework relação a futuros profissionais 3) Trabalho interprofissional.
2004
(Universities de saúde; promover o trabalho
Interprofessional em equipe, com parceria e
Learning Unit). colaboração entre os profissionais 4) Reflexão (aprendizagem).
e as agências com os pacientes.
1) Comunicação
National interprofissional.
Interprofessional 2) Atenção centrada no paciente.
Para desenvolver, por meio da
Competency
colaboração entre diferentes 3) Clareza de papéis.
Framework
Canada, 2010 profissionais, um quadro
(Canadian 4) Funcionamento da equipe.
nacional de competências
Interprofessional
interprofissionais. 5) Liderança colaborativa.
Health Collaborative
Working Group). 6) Resolução de conflitos
interprofissionais.
País e ano de
Fonte e autoria Intenção e justificativa Domínios
publicação
Core Competencies 1) Valor e ética profissionais.
for Interprofessional Para transformar a educação das
2) Funções e responsabilidades.
Collaborative profissões de saúde e atender
Practice Estados à necessidade de construir 3) Comunicação
(Interprofessional Unidos, 2011 sistemas de saúde mais seguros, interprofissional.
Education mais centrados no paciente e
Collaborative Expert orientados para a comunidade. 4) Trabalho em equipe e
Panel). cuidado realizado em equipe.
Os cenários simulados em EIP podem ser definidos O trabalho em equipe ocorre quando há coordena‑
como o planejamento de uma situação clínica que ção de esforços, troca dinâmica de recursos e adap‑
possibilita o desenvolvimento de objetivos especí‑ tação a fatores situacionais variáveis. Trata‑se de
ficos para aprendizagem interprofissional, devendo um conjunto inter‑relacionado de pensamentos,
ser verossímil, envolver estratégias para comunica‑ comportamentos e sentimentos dos membros da
ção, raciocínio crítico, tomada de decisões e solução equipe, para que funcionem como uma unidade
de problemas (ALINIER, 2011; NEVES et al., 2017). (SWEZEY; MELTZER; SALAS, 1994).
A simulação em EIP deve incluir um conjunto Para definir as competências, durante o plane‑
de estratégias teoricamente embasadas para: jamento é necessário entendê‑las como domínios
(1) aumentar as competências do trabalho cola‑ construídos e adquiridos em situações cotidianas
borativo em equipe para uma melhor assistên‑ que, necessariamente, envolvem a compreensão
cia; (2) dar aos membros da equipe oportuni‑ da ação empreendida e do uso a que essa ação se
dades para ganhar experiências com uso dessas destina. Portanto, competência é a capacidade de
competências, de forma segura. mobilizar recursos cognitivos, emocionais e psico‑
motores (conhecimentos, habilidades e atitudes)
Uma vez definidos o problema e o arcabouço para solucionar, com eficácia, algumas situações
teórico, pode‑se partir para a definição do pú‑ (BAILLIE; CURZIO, 2009; AGUIAR; RIBEIRO,
blico‑alvo (lembrando que, para ser interprofis‑ 2010). Para isso, Aguiar e Ribeiro (2010) destacam
sional, deve‑se envolver duas ou mais profissões). que, frequentemente, observa‑se o uso do termo
É fundamental definir as categorias profissionais “competências” para expressar objetivos de en‑
que participarão da atividade simulada e o número sino quanto a “condutas e práticas observáveis”,
de participantes. Também é importante identificar em que se acrescenta um “ser capaz de”, expres‑
qual o conhecimento prévio deles, pois é relevante são que caracteriza uma ação, sem haver uma pre‑
a adequação do cenário ao nível de conhecimento e ocupação com a transferência de conhecimentos
vivências dos participantes. Essas informações se‑ para aplicação em contextos diversos ou sua mo‑
rão úteis para definição das competências a serem bilização em situações complexas, que são indiscu‑
trabalhadas na simulação e para elaboração dos ob‑ tivelmente necessárias para uma competência. Por
jetivos de aprendizagem congruentes com tais com‑ esse motivo, é importante garantir que a simulação
petências (NEVES et al., 2017; EPPICH; CHENG, exceda uma experiência unicamente prática e sem
2015; SANTALUCIA et al., 2016). sustentação teórica.
Apesar de relatos positivos, com muitos desfru‑ riência formativa. Na simulação, o debriefing é um
tando de atividades de aprendizagem em equipe, a momento privilegiado para a reflexão e revisão das
integração da EIP na educação clínica permanece práticas, visando mudar o comportamento dos estu‑
limitada. Nesse sentido, o trabalho simulado em dantes. Porém, é possível aplicar um teste de verifi‑
equipe ainda apresenta muitas barreiras que podem cação de conhecimentos prévios ou uma escala para
impactar na EIP (JEFFRIES, 2005; PALAGNAS, checar a prontidão/disponibilidade dos estudantes
2012; INTERPROFESSIONAL EDUCATION para a EIP no momento do briefing. Ademais, realizar
COLLABORATIVE EXPERT PANEL, 2011). observação com preenchimento de checklist durante
a ação da simulação é uma importante forma de ava‑
4.3 A AVALIAÇÃO DA SIMULAÇÃO liar o desempenho dos estudantes. Todas essas são
INTERPROFISSIONAL
possibilidades interessantes, desde que os estudan‑
Partindo de uma perspectiva formativa, a avaliação
tes tenham conhecimento prévio do método de ava‑
de simulação interprofissional não se encerra em
liação ao qual serão submetidos na prática simulada.
si, ou seja, seu objetivo não é simplesmente atri‑
Além de uma avaliação sistematizada com a uti‑
buir nota e classificar os estudantes como apro‑
lização de instrumentos validados, encorajar a re‑
vados ou reprovados. Ela deve fazer parte de um
flexão contribuiu para o aprendizado e para o ca‑
processo formativo que se inicia no planejamento
da unidade curricular ou curso que assumiu a EIP ráter formativo da avaliação. Para os estudantes,
como uma de suas estratégias formativas e, dessa algumas questões norteadoras sobre o momento
forma, propõe intencionalmente atividades para o do pré‑briefing e briefing são:
desenvolvimento de competências colaborativas. o Eu estava preparado para esta simulação?
Avaliar se e como os objetivos de aprendizagem o Que bagagem (conhecimentos, habilidades, ati‑
foram alcançados gera informações sobre a apren‑ tudes, expectativas, medos, anseios, dificulda‑
dizagem interprofissional dos estudantes e sobre o des, preconceitos) eu trouxe para esta atividade?
ensino proposto (que envolve corpo docente, equipe o Eu me sentia confortável com a proposta de tra‑
de apoio, infraestrutura, cenário/caso escolhido, en‑ balhar com estudantes de outras profissões?
tre outros) para o replanejamento do processo de o Eu compreendi o problema e os passos da ta‑
ensino e aprendizagem. A avaliação da simulação refa a ser realizada?
realizada pelos participantes, facilitadores e toda No que concerne à ação da simulação, os estu‑
equipe envolvida é fundamental para auxiliar na dantes podem refletir:
melhoria do processo de qualidade. o Eu consegui mobilizar recursos cognitivos, emo‑
Importa também ressaltar que a avaliação não cionais e psicomotores para solucionar a situa‑
é uma atividade pontual que se dá ao final da expe‑ ção apresentada?
REFERÊNCIAS
A utilização da simulação
na Gestão do Fator Humano
e Riscos Assistenciais na área
da saúde
(Crew Resource Management)
Alexandre Slullitel
Médico anestesista
Mestrado em Ciências da Saúde
Universidade de São Paulo
1. INTRODUÇÃO
“Nem toda situação pode ser prevista ou ante‑ mento das chamadas habilidades não técnicas, que
cipada. Não existe checklist para tudo.” promove, em conjunto, o desenvolvimento da cul‑
tura de segurança, da responsabilidade mútua e do
Chesley B. Sullenberger trabalho em equipe, reduzindo o erro cognitivo pro‑
duzido pelo fator humano e sua participação efe‑
A Gestão do Fator Humano – atualmente co‑ tiva nas operações organizacionais (ROSENBAUM,
nhecida como Crew Resource Management, Crisis 2019; NICKSON, 2020)
Resource Management ou mesmo Corporate Resource Em 1977, no aeroporto de Tenerife, um Boeing
Management (CRM) –, utilizada por organizações 747 da empresa holandesa KLM colidiu com outra
em locais onde eventos catastróficos podem ocor‑ aeronave do mesmo porte, da empresa americana
rer na ausência de medidas de controle, em razão PAN AM, durante o procedimento de decolagem, a
da natureza de sua atividade de risco, envolve a despeito dos avisos da torre de comando, causando a
preparação de profissionais de um time multidis‑ morte de 583 pessoas, no que se tornou o maior aci‑
ciplinar na prevenção, mitigação e aprendizado dente da história da aviação (ROSENBAUM, 2019).
com situações de risco e eventos adversos evitá‑ Essa catástrofe, associada a outros acidentes aéreos
veis. Apesar dessa variação na forma como é men‑ graves, levou o Conselho Nacional de Segurança de
cionada, a CRM, no geral, refere‑se ao aperfeiçoa‑ Transportes dos Estados Unidos a procurar solu‑
Tabela 2 – Prós e contras das escalas globais de avaliação e checklists (KUUSKNE, 2017).
Prós Contras
Maior confiabilidade interna. Menor precisão.
Maior sensibilidade ao definir o nível de Subjetividades de julgamento e tomada
Escalas globais treinamento. de decisão pelo avaliador.
de avaliação
Necessidade de peritos ou avaliadores
Maior confiabilidade entre estação e
mais treinados para avaliar os
generalidade.
aprendizes.
Melhor adequação a medidas de etapas ou
Menor confiabilidade.
componentes específicos do desempenho.
Dicotomização da avaliação, com perda
Maior objetividade.
Checklists eventual de informação.
Maior facilidade de execução.
Maior facilidade para identificar ações
para o feedback do aprendiz.
opinião de “especialistas” para poder classificar os tudantes. Cada um dos instrumentos apresentados
alunos de maneira eficaz e confiável. Os checklists, – a escala de classificação global e as listas de veri‑
por outro lado, são considerados menos subjeti‑ ficação (checklists) – tem suas próprias vantagens e
vos e, quando bem elaborados, são fáceis de apli‑ armadilhas e pode ser usado para a avaliação de me‑
car; assim, qualquer avaliador pode usá‑los (e não didas de resultado específicas. Estudos sugerem que
depender de especialistas para administrar a fer‑ a EGA tem algumas vantagens importantes sobre as
ramenta). Ao medir comportamentos definidos e listas de verificação, embora a evidência para estas
específicos, os checklists podem ajudar a orientar pareça ligeiramente melhor do que no passado. Ainda
o feedback para os aprendizes (KUUSKNE, 2017). assim, seja qual for a ferramenta escolhida, é funda‑
Uma ferramenta de avaliação ideal para avaliar a mental projetá‑la e testá‑la para garantir que avalie
simulação seria confiável, válida, abrangente e per‑ adequadamente o resultado desejado. Se possível, o
mitiria a discriminação entre as habilidades dos es‑ uso de uma lista de verificação e escala de avaliação
Tabela 3 – Checklist e avaliação global de intubação sequencial rápida (habilidades técnicas) em um exame clínico objetivo
estruturado (Hall et al. 2012).
Impossível de
Não executado Executado Bem executado
verificar
Pré‑oxigenação 100% de
O2 c/ BMV
Posicionamento
otimizado (supina,
cabeceira, altura do Min 1/4 Min 3/4
leito, suporte de cabeça
‑ 4 itens)
Agente de indução Etomidato/
Cetamina
‑opção propofol
Agente de indução ‑
dose cetamina 1‑2 mg/
kg; etomidato 0,3 mg/kg;
propofol 1‑2 mg/kg
Bloqueador Succinilcolina/
neuromuscular ‑ opção rocurônio
Bloqueador
neuromuscular ‑
dose SCC 1‑2 mg/kg;
rocurônio 1,2 mg/kg
Laringoscopia ‑
intervalo de tempo
Laringoscopia
‑ segurança
Intubação de forma
segura
Confirmação com
ETCO2
Confirmação com
ausculta
Solicitação de Rx de
tórax
Sedação pós‑intubação
(+/‑ BNM)
Sonda nasogástrica
Impossível de
Não executado Executado Bem executado
verificar
PONTUAÇÃO TOTAL
AVALIAÇÃO GLOBAL
1 2 3 4 5
ACIMA DA
FALHA MARGINAL SATISFATÓRIO EXCELENTE
MÉDIA
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Estruturação do ensino,
treinamento e avaliação de
habilidades
169
Fernanda Berchelli Girão Miranda
Profa. Departamento de Enfermagem
Universidade Federal de
São Carlos ‑UFSCar
A atual geração de estudantes apresenta necessida‑ No entanto, não é incomum que os estudantes
des de aprendizagem associadas à tecnologia e está das diferentes áreas da saúde cheguem ao final da
prontamente preparada para se adaptar aos avan‑ graduação sem nunca terem realizado algumas ha‑
ços vistos desde a virada do século, esperando que bilidades psicomotoras consideradas básicas em
métodos ativos de ensino substituam os tradicio‑ um paciente no ambiente clínico, principalmente
nais. Consequentemente, é necessário haver es‑ em pacientes pediátricos e de cuidados intensi‑
tratégias de ensino e aprendizagem para melhorar vos (LEIGHTON, 2013). Dessa forma, as habili‑
o conhecimento, a compreensão, a competência e dades psicomotoras que são praticadas na prática
as habilidades exigidas pelos estudantes (DALEY; clínica ficam comprometidas, o que reforça e justi‑
CAMPBELL, 2013). fica o uso da prática simulada nas últimas décadas
A aquisição de habilidades clínicas psicomotoras (FOTHERINGHAM, 2010; SAEYER et al., 2015).
é parte integrante de qualquer curso de formação Atualmente, a simulação é amplamente usada
profissional em saúde; assim, o ensino deve capa‑ e estabelecida para motivar a aprendizagem dos
citar os aprendizes para que aprimorem suas ha‑ estudantes, fornecendo inúmeras oportunidades
bilidades, resolvam problemas, desenvolvam suas para o desenvolvimento de suas habilidades clíni‑
abordagens reflexivas e de pensamento crítico, au‑ cas (BERRAGAN, 2011; MOULE, 2011; SUNDLER;
mentem a competência e autonomia para atuarem PETTERSSON; BERGLUND, 2015; RYAN; DECI,
profissionalmente (BERRAGAN, 2011; MOULE, 2000).
2011, SUNDLER; PETTERSSON; BERGLUND, É necessário entender que as habilidades cog‑
2015; RYAN; DECI, 2000). nitivas estão diretamente associadas à aquisição de
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Avaliação na educação em
saúde com o uso da simulação
175
Gerson Alves Pereira Júnior
Docente de Cirurgia de
Urgência e do Trauma
Universidade de São Paulo
Coordenador do Programa
ABEM de Simulação
Técnica Descrição
São criadas cinco estações, cada uma com dois avaliadores e com duração
Practical Assessment of
de 20 minutos, para avaliar um exame clínico (dos sistemas respiratório,
Clinical Examination
cardiovascular, neurológico, endócrino e locomotor e da parte abdominal, ocular
Skills (PACES) –
e dermatológica), coleta de história, comunicação e ética profissional. Esta
(PACES, 2000)
técnica é utilizada pelo Royal College of Physicians.
Caracteriza‑se pelo emprego de, pelo menos, dois casos longos em sequência;
da atuação simultânea de, pelo menos, dois observadores diferentes; e,
Objective Structured
especialmente, do uso de um instrumento padronizado, no qual o número e
Long Case Examination
o tipo de julgamentos a serem feitos pelos dois examinadores, em cada caso
Record (OSLER) –
clínico, são predefinidos e compreendem um conjunto suficientemente amplo
(GLEESON, 1997)
de itens relevantes de observação (quatro itens da história, três itens do exame
físico e três itens de raciocínio clínico e conduta).
Objective Structured A avaliação é dividida em duas partes: na primeira, do procedimento em si; e na
Assessment of Technical segunda, do conhecimento, da destreza na manipulação dos instrumentos e do
Skills (OSATS) – registro da ação. Foi criado pelo Surgical Education Group, da Universidade de
(MARTIN et al., 1997) Toronto, para ser um teste em sala de aula de habilidades cirúrgicas.
Muito semelhante ao OSCE, tem como principal diferença o fato de que, em cada
estação, o estudante deve cumprir todo o conjunto de tarefas necessárias para que
a abordagem do paciente se complete. Em cada situação, o estudante encontra um
Clinical Skills
paciente que deve ser entrevistado, com vistas à obtenção da sua história clínica,
Assessment (CSA) –
realização do exame físico, e, em seguida, informado e orientado sobre as medidas
(MUNRO et al., 2006)
diagnósticas e terapêuticas necessárias para a solução do referido problema.
A principal vantagem desta modalidade é a abordagem integral do caso, em
condições mais próximas da realidade da prática profissional.
Instrumento utilizado para avaliação direta dos estudantes em atendimentos
Mini‑Clinical
reais. O tutor observa diretamente o desempenho deles e, por meio de um
Evaluation Exercise
checklist, aponta os ganhos de aprendizado em cada etapa do exame clínico e
(MINI‑CEX) –
pontua a performance dos estudantes, utilizando uma escala de cinco pontos,
(NORCINI et al., 2003)
dando um feedback imediato.
Técnica Descrição
Direct Observation of Variação do Mini‑CEX, em que o avaliador observa o estudante quando ele está
Procedural Skills (DOPS) fazendo o procedimento (por exemplo, administrando uma injeção, retirando
– (MOORTHY et al., sangue, inserindo um tubo), e a performance é pontuada conforme uma escala,
2003) dando um feedback.
É o mesmo que avaliação 360º. Envolve uma avaliação externa de performance
Multi‑Source Feedback por um longo período de tempo por supervisores ou observadores com
(MSF) – (LOCKYER, conhecimento de similar prática (1), colegas (2), mas não com a mesma profissão,
2003) por exemplo, enfermeiras ou pessoal administrativo avaliando médicos,
pacientes (3) e o próprio profissional (4).
Atribui ao estudante um conceito de maneira retrospectiva (MINI‑CEX
retrospectivo) no final de um estágio, utilizando categorias gerais, em vez de
Global Rating Scale
comportamentos específicos. Este conceito deve ser construído com itens que
(Conceito Global) –
especifiquem o que está sendo avaliado, contemplando os atributos necessários
(COHEN, 1991)
(conhecimentos, atitudes, valores e habilidades) para o desempenho profissional
esperado.
Em um ambiente simulado, a avaliação por com‑ supervisionadas finais, quando se espera que obte‑
petências vai muito além de um enfoque exclusivo nha a especialização em determinada competência
em determinada ação. Engloba avaliar os conheci‑ para atender às necessidades da assistência à saúde
mentos, as habilidades e as atitudes dos aprendi‑ (ACCREDITATION COUNCIL FOR GRADUATE
zes de maneira formativa, deliberada e contínua, MEDICAL EDUCATION; AMERICAN BOARD OF
em um processo complexo que vem sendo gradati‑ EMERGENCY MEDICINE, 2013).
vamente construído (NOGUEIRA; RABEH, 2014). O progresso do aprendiz é mensurado, sendo
Pode abranger a solução de problemas, decisões éti‑ possível determinar se houve progressão, estagna‑
cas, tomada de decisão e desenvolvimento de in‑ ção ou regressão no desenvolvimento como uma in‑
tervenções. Ainda podem ser avaliadas competên‑ dicação da ausência ou de necessidades específicas
cias globais para a prática clínica, como o trabalho de correções. O marco de competência é equivalente
em equipe, a tomada de decisão em situações com ao comportamento observável dentro de cinco níveis
maiores complexidades, a comunicação com pa‑ de proficiência, e por meio deles os estudantes de‑
cientes, familiares e profissionais, a liderança, en‑ monstram os conhecimentos, habilidades, atitudes e
tre outros (MAZZO et al., 2017). desempenho que refletem cada um desses níveis de
Os marcos de competências são descrições nar‑ desenvolvimento (PEREIRA JÚNIOR et al., 2015).
rativas de comportamentos em uma progressão con‑ Essas descrições narrativas do comportamento
tínua do desenvolvimento do aprendiz, em que ele dos aprendizes têm sido efetivas para organizar
inicia como um estudante principiante e avança ações mais complexas e em grande quantidade,
ao longo de toda a formação até se tornar compe‑ permitindo a possibilidade de feedback formativo
tente, podendo chegar a atingir o nível de um ex‑ para estímulo a mudanças nos comportamentos
pert (após anos de prática deliberada) (PEREIRA observados, além de possibilitar uma maior preci‑
JÚNIOR et al., 2015). são na aplicação de escalas e estratégias avaliativas
Um marco refere‑se a um “ponto” dentro de (LOMIS et al., 2017).
uma competência ou subcompetência no progresso No entanto, as descrições das competências são
e confiabilidade da formação do aprendiz. Os mar‑ contextuais e independentes, portanto não definem
cos são claramente descritos e geralmente especí‑ a complexidade de implementação em ambiente
ficos da área da graduação ou especialidade. Por clínico, no qual as habilidades serão demonstra‑
exemplo, um marco de competência para a medi‑ das (TEN CATE, 2013). Assim, Olle Ten Cate bus‑
cina de emergência pode ser a habilidade de geren‑ cou preencher a lacuna entre a teoria e a prática
ciamento de vias aéreas para um paciente com in‑ clínica, apresentando as Entrustable Professional
suficiência respiratória. Activities (EPAs), reconhecidas internacionalmente
O uso dos marcos de competências supera to‑ como uma estrutura para avaliação significativa da
das as expectativas do aprendiz, pois o deixa ciente competência durante a formação do graduando, a
do que necessita desempenhar, desde as etapas ini‑ residência médica e a recertificação profissional.
ciais de sua formação até as práticas educacionais (TEN CATE, 2013).
Gráfico 1 – Número de candidatos participantes e aprovados na 1a fase (provas objetivas) do Revalida de 2011 a 2020.
Nos retângulos, está o percentual de aprovação a cada edição da 1ª fase em todas as edições.
Tabela 3 – Percentual de aprovação dos candidatos inscritos nas duas fases do Revalida a cada edição.
zação deste texto, não havia sido realizada a 2ª fase reflexiva e a consciência precoce da necessidade de
do Revalida 2020. educação permanente, não se restringindo apenas às
habilidades cognitivas, psicomotoras e afetivas, mas
também às habilidades não técnicas. Isso possibilita
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS a formação de profissionais com melhor compreen‑
são das necessidades de saúde da população e mais
Um programa de avaliações planejado e executado capacitados para o desempenho de suas atividades.
de modo criterioso, com foco no debriefing/feedback Os problemas utilizados na prática avaliativa de‑
e na identificação/correção das lacunas de aprendi‑ vem refletir o mundo real, cujos problemas têm se
zagem, promove o crescimento pessoal e profissio‑ apresentado cada vez mais complexos e indetermi‑
nal do aprendiz e contribui para o aprimoramento nados, fazendo com que os estudantes tenham que
do processo educacional. Deve ser abrangente, in‑ tomar decisões sob condições de incerteza, lidando
cluindo os diversos atributos que compõem a for‑ com a ambiguidade e alguns “aparentes” paradoxos.
mação pessoal e profissional, priorizando as habili‑ Se isso não for superado pelas práticas academica‑
dades de comunicação e relacionamento, a avaliação mente estruturadas, haverá a formação de profis‑
REFERÊNCIAS
197
Renato Soleiman Franco
Psiquiatra
Professor Adjunto – Curso
de Medicina da PUCPR
Coordenador do Programa de Residência
Médica em Psiquiatria da Prefeitura
Municipal de Curitiba, SMS/FEAS.
1. INTRODUÇÃO
Os checklists e as escalas globais são utilizados para ou não realizado”, escalas com gradação, escalas
avaliação em diversos contextos na simulação e po‑ tipo Likert, entre outras (SWANSON; VAN DER
dem estar presentes tanto em avaliações formati‑ VLEUTEN, 2013).
vas quanto somativas. Ambos têm como objetivo Assim, os checklists avaliam o desempenho de
oferecer um parâmetro objetivo do que é esperado cada elemento observável de determinada com‑
que seja realizado. É preciso que sejam elaborados petência. Por outro lado, a avaliação global é uma
com bastante cuidado e atenção, uma vez que, mui‑ avaliação geral ou subdividida em subdomínios de
tas vezes, são a base para discutir os elementos de competências (ILGEN et al., 2015). Por exemplo:
aprendizagem tanto com professores (ou tutores) o exame físico e as habilidades de comunicação
quanto com os trainees. De forma geral, checklists podem ser dois subdomínios diferentes. Ao utili‑
consistem em itens detalhados de desempenho, zar o checklist, o avaliador irá definir cada com‑
como, por exemplo, “lavou as mãos”, “introduz‑se portamento observável no exame físico e nas ha‑
para o paciente” ou “mede a pressão arterial com bilidades de comunicação. Já na avaliação global,
um manguito de tamanho apropriado.” Esses itens haverá uma impressão geral sobre o desempenho
normalmente são qualificados em escalas binárias, quanto às habilidades de comunicação e quanto
como “concluído” ou “não concluído”, “realizado ao exame físico.
Dos autores, Renato Soleiman Franco e Camila Ament Giuliani dos Santos Franco.
Referência ‑ Camila Ament Giuliani dos Santos Franco e Renato Soleiman Franco ‑ baseado no processo de validação
dos OSCEs do artigo: Franco et al. (2015).
Nome ‑ Avaliador(a):
Checklist (Exemplo): Gradação de cada item: sim/não – Nessa estação, o estudante:
Cumprimentou a paciente
Disse seu nome e função
Iniciou a entrevista com perguntas abertas
Investigou se havia ideação suicida
Investigou se havia planejamento suicida
Perguntou sobre suporte familiar
Fez perguntas que possibilitassem avaliar a afetividade da paciente
Fez perguntas que possibilitassem avaliar a sensopercepção
Pediu que a paciente chamasse por ajuda
Solicitou que a paciente esperasse, acompanhada de um membro da equipe, até que seu/sua responsável
chegasse
Referência ‑ Camila Ament Giuliani dos Santos Franco e Renato Soleiman Franco ‑ baseado no processo de validação
dos OSCEs do artigo: Franco et al. (2015).
Deixou‑se disponível e certificou que a paciente não tinha mais nada a dizer
Avalie de forma Global: Investigação do Risco de Suicídio foi adequada?
Avalie de forma Global: A conduta frente ao Risco de Suicídio foi adequada?
Avalie de forma Global: Houve uma condução adequada do caso, de acordo com as diretrizes nacionais para
acolhimento dos (as) pacientes com risco de suicídio?
Favor realizar uma análise do checklist abaixo e responder:
1) Existem algumas habilidades/competências que poderiam ser incluídas nesse checklist e não estão
representadas?
2) Quais itens geraram dúvida no preenchimento?
3) Há itens extensos que precisariam ser desmembrados?
4) Foi possível avaliar o objetivo do cenário com esse checklist?
5) O nível exigido é o adequado para os sujeitos em treinamento?
6) Como foi o tempo para o preenchimento?
7) Sugestões
Referência ‑ Camila Ament Giuliani dos Santos Franco e Renato Soleiman Franco ‑ baseado no processo de validação
dos OSCEs do artigo: Franco et al. (2015).
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205
Renato Soleiman Franco
Psiquiatra
Professor Adjunto ‑ Curso de
Medicina da PUCPR
Coordenador do Programa de
Residência Médica em Psiquiatria
da Prefeitura Municipal de
Curitiba, SMS/FEAS.
1. OBJETIVOS DO CAPÍTULO
O feedback e o debriefing são elementos essen‑ Em 1980, um artigo publicado no NEJM por
ciais para que uma simulação consiga estimular a Eichna (1980) sobre a educação médica entre os
aprendizagem e o desenvolvimento de competên‑ anos 1975 e 1979, nos EUA, destaca que muitos es‑
cias. Neste capítulo, o feedback e o debriefing se‑ tudantes passavam pelo curso de medicina sem te‑
rão contextualizados no panorama da simulação. rem sido observados e, por conseguinte, sem rece‑
Serão apresentados conceitos e discutidos a apli‑ ber uma devolutiva ou avaliação de sua performance
cabilidade, os modelos e os requisitos para a reali‑ (EICHNA, 1980). Três anos após, Jack Ende (1983)
zação de feedback e debriefing de forma adequada. faz uma revisão sobre a importância do feedback
em Educação Médica. Já nessa data, propõem uma
linha guia para orientar o feedback nas escolas mé‑
2. FEEDBACK EM EDUCAÇÃO MÉDICA – UM BREVE dicas (Tabela 1) (ENDE, 1983).
HISTÓRICO Assim, há quase 40 anos, o feedback em
Educação Médica já tem seu objetivo e suas dire‑
Há quase 40 anos, foram propostos os objetivos e trizes propostas:
as diretrizes do feedback. Ele visa apresentar e es‑ • Apresentar e clarificar as falhas e aquilo que
clarecer as falhas e os pontos positivos com o ob‑ está sendo bem feito com o objetivo de “melho‑
jetivo de melhorar a performance. rar a performance” – hoje em dia – “qualidade
*Tabela elaborada pelos autores com base em um modelo para feedback (2).
e segurança”. Notem! É quase que o mesmo ob‑ Ao dar qualquer retorno ao estudante, é essencial
jetivo da simulação!!! que os professores façam o exercício de perceber as
Atualmente, além da melhoria da qualidade e necessidades e aquilo que cada estudante é capaz
segurança, o feedback eficaz sobre o desempenho de receber. Assim, podemos dizer que o feedback
é considerado parte integrante do treinamento clí‑ deve ser centrado no estudante, nas suas necessi‑
nico e deve: dades e possibilidades, e ser realizado com atenção
• Permitir que o estudante (residente, médico e compaixão por parte do professor.
ou qualquer outro profissional) reflita criti‑ Todos poderiam se beneficiar de receber feed‑
camente sobre seu desenvolvimento. back, entretanto o feedback nem sempre é conside‑
Assim, pode parecer redundante, mas deve ficar rado bem‑sucedido ou benéfico (VAN DER LEEUW;
claro que, apesar de informar (postura passiva), o SLOOTWEG, 2013). Alguns estudos mostram uma
principal objetivo do feedback é promover a refle‑ piora na performance com uso de feedback, em es‑
xão do estudante (postura ativa) sobre o que está pecial, feedbacks massivos após todos os eventos.
fazendo. Para fornecer um feedback eficaz, preci‑ Para minimizar esse insucesso, devemos ter muito
samos levar em conta: 1) o desempenho em si; 2) o claro que o objetivo é mostrar de uma forma efe‑
cenário em que o feedback é oferecido, e 3) os re‑ tiva o que foi feito e o que poderia ser melhorado.
sultados esperados do encontro (ISKANDER, 2015). Para isso, aquele que realiza (ou fornece) o feed‑
Para que o feedback tenha um efeito significativo na back deve conseguir adaptá‑lo não somente aos ce‑
aprendizagem, os professores precisam desenvol‑ nários, objetivos e resultados esperados, mas para
ver a sensibilidade e estarem atentos ao estudante. cada pessoa avaliada.
Tabela 2 – Modelo: Pergunte‑Conte‑Pergunte Tabela adaptada pelos autores ‑ Foco Reflexão, adaptado pelos autores
* Dos autores Renato Soleiman Franco e Camila Ament Giuliani dos Santos Franco.
* Dos autores Renato Soleiman Franco e Camila Ament Giuliani dos Santos Franco.
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Cenários de Avaliação de
Habilidades Não Técnicas (HNT)
221
Camila Ament Giuliani dos
Santos Franco
Médica de Família e Comunidade
Professora Adjunta do Curso
de Medicina ‑ PUCPR
Professora no Curso de Medicina
nas Faculdades Pequeno
Príncipe, Curitiba, PR.
Preceptora responsável pela
disciplina de Comunicação Clínica na
Residência Médica em Medicina de
Família e Comunidade ‑ Residência
Integrada, Curitiba, PR.
1. INTRODUÇÃO
Conceituar habilidades não técnicas (soft skills) ROSENBAUM, 2018). O ambiente simulado tem
é algo difícil, a começar pela sua nomenclatura. sido um dos mais utilizados tanto para o desen‑
Apesar de ser um nome classicamente empregado volvimento quanto para a avaliação das HNT
e reconhecido, o termo pode trazer uma conota‑ (GORDON et al., 2019). Entretanto, vale a pena res‑
ção de que não são habilidades treinadas e desen‑ saltar que cenários simulados e checklists podem
volvidas por repetição ou que seriam habilidades ter uma abordagem reducionista frente a habilida‑
de importância secundária para o profissional de des tão complexas (CHUNG et al., 2016). Assim, o
saúde. O desenvolvimento das HNT requer mais do observador/avaliador deve ter bastante sensibili‑
que a repetição, exige uma prática reflexiva e uma dade, estar atento e promover um feedback e/ou
análise crítica de comportamentos e desempenhos. debriefing adequados para maximizar a aprendi‑
Assim, decidimos manter esse título (HNT) no ca‑ zagem nesses cenários.
pítulo pelo uso corrente do termo, mas destacar que Podemos considerar as habilidades não técni‑
são habilidades complexas e compreendem o de‑ cas como os recursos cognitivos, sociais e pessoais
senvolvimento de processos cognitivos e afetivos. que complementam as habilidades técnicas e con‑
Estudos apontam que a falta de HNT é res‑ tribuem para o desempenho seguro e eficiente das
ponsável pela grande maioria de processos médi‑ tarefas (FLIN et al., 2003). Na área da saúde, es‑
cos, além de impactar decisivamente nos resulta‑ sas habilidades incluem trabalho em equipe, lide‑
dos do cuidado ao paciente (KIERAN; JENSEN; rança, habilidades de comunicação clínica, consci‑
Calgary‑Cambridge MCCP
• Etapas transversais:
◦ Início da consulta
• Explorando a saúde, a doença e a experiência da
◦ Coleta de informações
doença
◦ Exame físico
• Entendendo a pessoa como um todo
◦ Explicação e planejamento
• Elaborando um plano conjunto de manejo dos
◦ Encerramento da consulta
problemas
• Etapas longitudinais:
• Intensificando a relação entre a pessoa e o médico
◦ Promover estrutura para a consulta
◦ Construir o relacionamento com o paciente
BAILE, W. F. et al. SPIKES‑A six‑step protocol for delivering bad news: application to the patient with cancer. The
Oncologist, Dayton, v. 5, n. 4, p. 302‑311, 2000.
zar demais as situações. Ela deve ser real e factí‑ que afetam o desfecho clínico, a segurança do pa‑
vel para promover o aperfeiçoamento dos envol‑ ciente e até mesmo o bem‑estar do profissional.
vidos. Um maior aprofundamento nos modelos A elaboração de cenários nas HNT é uma ativi‑
de comunicação difícil pode ser útil na constru‑ dade complexa que demanda conhecimento dos refe‑
ção desses cenários (BAILE et al., 2000; BAILE; renciais teóricos nessa área. Ao preparar os cenários,
BLATNER, 2014; BONNAUD‑ANTIGNAC et al., deve‑se ter muito cuidado com o nível de expertise
2010; BOWYER et al., 2010; CRUZ; RIERA, 2016; dos participantes, bem como com o treinamento
LINO et al., 2011; MEITAR; KARNIELI‑MILLER; dos avaliadores/observadores. É essencial que o am‑
EIDELMAN, 2009), mas, no geral, deve‑se prezar biente seja protegido, seguro e de boa convivência.
pela segurança e pelo bem‑estar do paciente/fami‑ Uma vez que, muitas vezes, as HNT remetem
liar/cuidador, realizar a comunicação em forma de a atitudes e valores, o cuidado, o respeito e a sensi‑
diálogo (evitar extensas exposições descontextuali‑ bilidade são essenciais para promover seu ensino
zadas), transmitir as informações na quantidade e e aprendizagem. Treinamento e expertise em de‑
briefing e feedback, bem como a preparação cui‑
da forma adequada, permitir que o paciente/fami‑
dadosa dos cenários, são cruciais para o sucesso no
liar/cuidador expresse suas emoções e responder
treinamento das HNT em simulação. As HNT en‑
de maneira adequada (verbal e não verbalmente),
volvem elementos cognitivos diversos, como o ra‑
realizando síntese e reconhecimento daquilo que
ciocínio e as emoções. Ao preparar cenários de si‑
o paciente compreendeu.
mulação voltados para esse fim, deve‑se ter sempre
em mente que mesmo quando as emoções (dos pa‑
cientes e dos profissionais) não forem o foco, elas
5. SÍNTESE estarão fortemente em pauta. Assim, ao desenvolver
os cenários, é essencial incluir os aspectos emocio‑
As habilidades não técnicas (HNT) correspondem nais e preparar professores/facilitadores para lidar
a um grupo de habilidades complexas e diversas, com essas demandas. No capítulo sobre feedback e
que devem ser valorizadas no processo de ensino debriefing, descrevemos elementos essenciais para
e aprendizagem da área da saúde. São habilidades lidar com essas questões.
REFERÊNCIAS
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A simulação contribui com a aprendizagem ao tre outras (OGDEN et al., 2013). Reconhecida como
longo da vida, o continuum educacional, propor‑ uma estratégia de educação cognitiva e comporta‑
cionando a resolução de problemas, a autoavalia‑ mental, pode promover altos níveis de autoestima,
ção dos participantes, o pensamento crítico, entre autoconfiança, satisfação, motivação, entre outras
outros (OGDEN et al., 2013). (CAMACHO, 2011).
Os cenários e o treino simulado são reconhe‑ Concomitante, a literatura compartilha instru‑
cidos como estratégias de ensino essenciais para a mentos e ferramentas para colaborarem com os
formação de profissionais de saúde. São estratégias educadores na mensuração e no desenvolvimento
pelas quais transcorrem o ensino e a avaliação da da simulação. Descrevemos, a seguir algumas pos‑
graduação até o nível da pós‑graduação, bem como sibilidades que podem colaborar a depender dos
durante toda a vida profissional, promovendo im‑ objetivos da simulação.
pactos em estudantes, profissionais e pacientes, e
nas instituições de assistência à saúde (MARTINS;
CARLOS, 2017).
AVALIAÇÃO DA ESTRUTURAÇÃO DOS CENÁRIOS
Os cenários simulados, quando bem elaborados, SIMULADOS
permitem incluir e avaliar as competências relacio‑
nadas ao atendimento ao paciente, ao conhecimento
profissional, à aprendizagem baseada na prática, à ESCALA DE DESIGN DA SIMULAÇÃO
habilidade interpessoal e de comunicação, ao pro‑ A avaliação da estruturação dos cenários simulados
fissionalismo, à prática baseada em evidências, en‑ pode ser através da Escala de Design da Simulação
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 237
Gerson Alves Pereira Júnior Luciane Reginato Dobrowski
Docente de Cirurgia de Bióloga
Urgência e do Trauma Especialista em Microbiologia
Universidade de São Paulo Clínica e Industrial
Coordenador do Programa Especialista em Engenharia
ABEM de Simulação Ambiental
1. INTRODUÇÃO
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 239
conscientes alguns processos, a estabelecer cone‑ gem mais integral, em que os estudantes estão em
xões não percebidas, a superar etapas mais rapida‑ grupos e os professores circulam entre eles como
mente e a confrontá‑los com novas possibilidades orientadores (VALENTI, 2015).
(MORAN, 2015). As novas formas de ensino e aprendizagem pre‑
Outra mescla, ou blended, é a de prever processos cisam de novas configurações de salas de aulas e
de comunicação mais planejados, organizados e for‑ laboratórios. Cada vez mais universidades estão
mais com outros mais abertos, como os que aconte‑ reorganizando ambientes de aprendizagem para
cem nas redes sociais, nas quais há uma linguagem acomodar aprendizagem mais ativa, para facilitar
mais familiar, uma espontaneidade maior, uma flu‑ pedagogias emergentes e estratégias, como a sala
ência de imagens, ideias e vídeos (MORAN, 2015). de aula invertida (LAMBERT, 2012).
As competências necessárias para cada etapa As configurações educacionais são cada vez mais
da formação profissional utilizando a aprendiza‑ adaptadas para apoiar projetos baseados em inte‑
gem significativa devem estar bem definidas com rações, com atenção para maior mobilidade, fle‑
as informações pertinentes a cada momento e que xibilidade e uso de vários dispositivos. As insti‑
combinam percursos pessoais com participação es‑ tuições terão de atualizar a largura de banda sem
timulada em grupos, por meio de plataformas adap‑ fio para criar “salas inteligentes” que suportam
tativas, que reconhecem cada aluno e, ao mesmo conferências na web e outros métodos de comuni‑
tempo, aprendem com suas interações, sendo que, cação remota e colaborativa (INSTRUCTIONAL
para tudo isso, deve‑se combinar o uso de diversas & INFORMATION TECHNOLOGY SERVICES,
tecnologias adequadas. 2020). Televisões de telas grandes e monitores es‑
Dessa forma, a construção de um currículo ino‑ tão sendo instalados para permitir a interação co‑
vador deve integrar as TDIC em processos que ex‑ laborativa entre projetos digitais e apresentações
pandem os tempos e espaços educativos; envolvem informais. Como o ensino superior está com ten‑
busca, organização, interpretação e articulação de dências à educação centrada nos estudantes, aban‑
informações; estimulam a reflexão crítica; o com‑ donando as aulas tradicionais baseadas em pales‑
partilhamento de experiências; e a produção de no‑ tras e substituindo‑as por mais cenários práticos,
vos conhecimentos na compreensão histórica do as salas de aulas devem começar a se parecer com
mundo e da ciência o real ambiente de trabalho do mundo real e do
âmbito social, que facilitam as interações entre in‑
divíduos e serviços para a resolução de problemas
2. REDESENHO DOS ESPAÇOS FÍSICOS DE interdisciplinares.
APRENDIZAGEM E A CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA Um estudo descobriu que os estudantes eram
mais propensos a envolver‑se em espaços de apren‑
O ambiente físico das salas de aula, dos laborató‑ dizagem inovadores (IS, 2017).
rios e da escola como um todo também precisa ser Essa integração dos espaços físicos e virtu‑
redesenhado dentro dessa nova concepção mais ais de aprendizagem introduziram uma nova
ativa, mais centrada no aluno. A sala de aula tradi‑ maneira de pensar sobre o aprendizado combi‑
cional é asfixiante para todos, principalmente para nado (QUEENSLAND UNIVERSITY, 2019).
os mais novos. (MORAN, 2013). As salas de aula po‑ Aprendizagem polissíncrona refere‑se a uma mis‑
dem ser mais multifuncionais, que combinem fa‑ tura de canais com momentos presenciais, assín‑
cilmente atividades de grupo, de plenário e indivi‑ cronos e síncronos de comunicação online. A par‑
duais. Os ambientes precisam estar conectados em ticipação dos estudantes em diversos locais é citada
redes sem fio, para uso de tecnologias móveis, o que como um benefício principal, o que exige que as sa‑
implica uma banda larga que suporte conexões si‑ las de aula físicas sejam projetadas para permitir
multâneas necessárias (MORAN, 2015). que os estudantes se comuniquem perfeitamente
As escolas como um todo precisam repensar es‑ com outras pessoas de forma presencial e virtual
ses espaços tão quadrados para espaços mais aber‑ (HIGHER ED IQ, 2015).
tos, onde lazer e estudo estejam mais integrados. A Internet e as tecnologias móveis revolucio‑
O que impressiona nas escolas com desenhos ar‑ naram a forma como as pessoas encontram, conso‑
quitetônicos e pedagógicos mais avançados é que mem e interagem com os conteúdos didáticos. Uma
os espaços são mais amplos, agradáveis, permitindo manifestação dessa tendência é a remoção de livros
mais contato com a natureza, que têm vantagens e periódicos em série das prateleiras de bibliote‑
inegáveis para projetos de ecologia de aprendiza‑ cas acadêmicas e de pesquisa, o que provou con‑
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 241
são acompanhados por todos, avaliados para de‑ aprendizagem baseada em problemas (DAVIS &
pois serem incorporados mais rapidamente pelos HARDEN, 1999; DOLMANS et al., 2005); 2) Sistemas
demais cursos. Ir da experiência focada e avaliada Orgânicos Integrados ‑ aprendizagem baseada em
para a estrutural é um caminho que tem muitas van‑ equipes (BURGESS et al., 2017; OLIVEIRA et al.,
tagens: todos aprendem com o grupo experimental 2018); 3) Laboratório de Habilidades e Simulação
e se preparam melhor para implementar um novo ‑ sala de aula invertida (HURTUBISE et al.,
projeto mais ousado. O importante neste processo 2015; DERUISSEAU, 2016) e simulação clínica
é que a discussão do projeto inovador seja feita pre‑ (KRISHNAN; KELOTH; UBEDULLA, 2017;
viamente por toda a comunidade acadêmica, que BATTISTA; NESTEL, 2018), e 4) Atenção Integral
deve acompanhar e avaliar sua implantação. à Saúde ‑ problematização com uso do Arco de
Também são possíveis transformações mais pro‑ Maguerez (BERBEL; GAMBOA, 2012; VIEIRA;
fundas nos projetos pedagógicos sem estrutura de PANÚNCIO‑PINTO, 2015), aprendizagem base‑
gestão baseada em departamentos, com currículos ada em casos (THISTLETHWAITE et al., 2012;
mais abertos, não baseados em disciplinas, com pro‑ MCLEAN SF, 2016) e/ou em projetos (DILEKLI,
gramações de conteúdos interdisciplinares com in‑ 2020; SI, 2020).
tegrações horizontais e verticais ao longo da matriz Nas programações dos diversos conteúdos, deve
curricular, geralmente com roteiros de aprendiza‑ haver um encadeamento progressivo dos temas de
gem dos ambientes de ensino. O planejamento dos cada problema das tutorias com objetivos de apren‑
ambientes físicos das salas de aula e dos laborató‑ dizagem bem definidos e alinhados aos dos demais
rios deve considerar as metodologias ativas utili‑ ambientes de ensino, permitindo a integração ver‑
zadas e a convergência digital de diversas tecnolo‑ tical não apenas das ciências básicas e clínicas, mas
gias de informação e comunicação. Uma plataforma também o entendimento dos fatores biopsicosso‑
educacional adaptativa associada a uma central de ciais e das necessidades de saúde da população, no
análises de dados de acessos aos conteúdos e às ati‑ ambiente de atenção integral à saúde.
vidades didáticas permite atividades presenciais e
virtuais, de forma síncrona e assíncrona, além de
avaliações formativas e somativas dos diversos am‑ 5. O LABORATÓRIO DE HABILIDADES E SIMULAÇÃO
bientes de ensino dos cursos. COMO AMBIENTE DE ENSINO
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 243
O ambiente físico para discussão prévia ou pos‑
terior às atividades simuladas com o grupo de apren‑
dizes deve ser amplo o suficiente para o número
de aprendizes em cada atividade, podendo conter
a turma inteira ou em grupos menores para rodí‑
zios. De preferência, deve ser um espaço multifun‑
cional, com possibilidades de uso de vários recur‑
sos tecnológicos de imagem, não deve ter cadeiras
fixas e o mobiliário deve ser acolhedor. A melhor
alternativa para esse ambiente é um hall central,
como apresentado na Figura 1.
Figura 1 – Hall central para discussão pré e pós‑atividades
O setor clínico do Centro de Simulação pode ter
simuladas.
um número variável de consultórios simples mul‑
tifuncionais, leitos de enfermaria e de UTI, e lei‑
tos para simulação de alta complexidade, de acordo
com o número total de aprendizes e os rodízios de
pequenos grupos planejados. Na Figura 2, podemos
ver um exemplo de consultório simples multifuncio‑
nal que, de preferência, deve ter paredes retráteis
para a versatilidade desse ambiente físico em rela‑
ção ao número de aprendizes que estão presentes.
Na dependência do número de aprendizes que
farão a atividade simulada, poderá ser necessário
um espaço físico para os que não estiverem parti‑
Figura 2 – Consultório simples multifuncional. Notar as
cipando diretamente da atividade de simulação te‑
paredes retráteis.
rem diferentes opções de áudio e vídeo, e compreen‑
dam melhor o que ocorre no cenário de simulação,
como pode ser visto na Figura 3.
Na Figura 4, podemos observar a sala de simu‑
lação de alta complexidade por meio da sala de ba-
ckstage, com espelho de visão unidirecional.
Na Figura 5, podemos notar duas opções de lei‑
tos de enfermaria ou de Terapia Intensiva, que po‑
dem ser utilizadas no Centro de Simulação.
O setor cirúrgico do Centro de Simulação neces‑
sita da previsão de bancadas de lavagem das mãos,
como pode ser visto na Figura 6, salas multifuncio‑
Figura 3 – Uma opção para realização de atividades
nais para treinamentos de técnicas cirúrgicas bási‑ simuladas semelhantes ou diferentes em salas sucessivas
cas (paramentação, curativos e suturas), vistos na com visualização e escuta do áudio independente para
Figura 7, e técnicas cirúrgicas avançadas (treina‑ cada uma.
mento individual e de equipes em diversos proce‑
dimentos cirúrgicos nas diferentes áreas − cirurgia
geral, especialidades cirúrgicas, ginecologia/obste‑
trícia etc.), na Figura 8.
No setor de discussão das atividades práticas,
temos de prever salas de debriefing e feedback, com
possibilidade de uso de diversos recursos tecnoló‑
gicos para utilização de áudios e vídeos gravados
durante as atividades simuladas. Na Figura 9, pode‑
mos notar uma opção de sala de debriefing.
Em cada instituição de ensino ou curso, é neces‑
sária a adequação do Centro de Simulação ao uso Figura 4 – Visão unidirecional por meio do espelho da sala
de atividades didáticas de simulação clínica, que de controle para a sala de simulação de alta complexidade.
Figura 5 – Visão de duas diferentes opções (A e B) para os leitos de enfermaria ou de Terapia Intensiva do Centro de
Simulação.
Figura 6 – Visão duas opções (A e B) de bancada de lavagem das mãos para procedimentos cirúrgicos.
Figura 7 – Opção de sala de treinamento de habilidades Figura 8 – Opção de sala de treinamento de habilidades
cirúrgicas básicas. cirúrgicas avançadas.
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 245
emular o mais fidedignamente, tanto a aparência
física quanto o fluxo interno dos ambientes dos
serviços de saúde, particularmente os hospitala‑
res. Também devem ser levados em consideração
a quantidade de estudantes e os rodízios das tur‑
mas, para dimensionar a capacidade de atender a
demanda de aulas e estudantes no centro de simu‑
lação, de acordo com a particularidade de cada ins‑
tituição de ensino (entrada semestral ou anual, nú‑
mero de estudantes, relação docente/estudantes,
tipo de divisão dos estudantes em grupo para ro‑
dízio das atividades, presença concomitante de ou‑
tros cursos etc.). Para tanto, devem seguir as orien‑
tações abaixo.
Figura 9 – Opção de sala de treinamento de habilidades
cirúrgicas avançadas.
7.1 DIMENSIONAMENTOS DOS AMBIENTES
SIMULADOS DE SAÚDE
Seguindo a Resolução RDC nº 50, DE 21 de fevereiro
de 2002 (Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
2002), que determina como os ambientes de saúde
devem ser elaborados, seguem abaixo as dimensões
mínimas indicadas (Quadro 1):
Consultórios 6,0 m2
Salas coletivas de observação 8,5 m2 por leito
12 m2 por leito
7.3 PISOS E RODAPÉS Especial atenção deve ser dada à união do rodapé
Os pisos indicados para esses ambientes são o viní‑ com a parede de modo que os dois estejam alinha‑
lico e o epóxi, pois não podem ter índice de absor‑ dos, evitando‑se o tradicional ressalto do rodapé
ção de água superior a 4%. E, para as áreas críticas, que permite o acúmulo de pó e é de difícil limpeza.
utilizar materiais de acabamento que tornem as su‑ Fica estabelecida a utilização de piso condu‑
perfícies monolíticas, com o menor número possí‑ tivo somente quando houver uso de misturas anes‑
vel de ranhuras ou frestas, mesmo após o uso e lim‑ tésicas inflamáveis com oxigênio ou óxido nitroso,
peza frequente. Esses tipos de piso são indicados bem como quando houver agentes de desinfecção,
também em ambientes de Instituições onde hou‑ incluindo‑se aqui a Zona de Risco.
ver a opção de utilização de cadáveres, pois, por se‑
rem hospitalares, eles estão de acordo com as nor‑ 7.4 ACABAMENTOS DE PAREDES, TETOS, BANCADAS
mas técnicas de biossegurança preconizadas pela E DIVISÓRIAS
ANVISA (RDC 50/2002). Como esses locais devem mimetizar ambientes hos‑
A execução da junção entre o rodapé e o piso deve pitalares e, em alguns casos, utilizar ou ter de con‑
ser com cantos em formatos arredondados em 45 tar com a circulação de materiais biológicos, é ne‑
graus, permitindo a completa limpeza do ambiente. cessário cumprir alguns requisitos.
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 247
A limpeza e a sanitização de pisos, paredes, Nos demais casos em que houver apenas simu‑
tetos, pias e bancadas devem seguir as normas lação sem materiais biológicos, o uso de forros con‑
contidas no manual Processamento de Artigos e tínuos pode ser utilizado normalmente.
Superfícies em Estabelecimentos de Saúde 2ª edi‑
ção, Ministério da Saúde/Coordenação de Controle 7.6 ACESSÓRIOS (BATE‑MACAS, PROTETORES DE
de Infecção Hospitalar. Brasília‑DF, 1994 ou o que PAREDE)
vier a substituí‑lo. O sistema de proteção de paredes, portas e cantos,
Os materiais adequados para o revestimento de também conhecido como bate‑macas, é impres‑
paredes, pisos e tetos dos ambientes devem ser re‑ cindível para a segurança em ambientes hospita‑
sistentes à lavagem e ao uso de desinfetantes, con‑ lares. O bate maca hospitalar tem como função ab‑
forme preconizado no manual supracitado. sorver os impactos dos processos cotidianos, para
Os materiais, cerâmicos ou não, quando usados assim oferecer máxima proteção e conservação do
nas áreas críticas, não podem possuir índice de ab‑ ambiente. No mercado, há fabricantes especializa‑
sorção de água superior a 4% individualmente ou dos em cortinas divisórias para leitos e sistemas de
depois de instalados no ambiente, além de se ob‑ proteção que oferecem soluções adequadas às mais
servar que o rejunte de suas peças, quando existir, exigentes normas técnicas arquitetônicas para exe‑
também deve ter esse mesmo índice de absorção. cução em projetos hospitalares.
As tintas elaboradas à base de epóxi, PVC, po‑
liuretano ou outras destinadas a áreas molhadas 7.7 PORTAS
podem ser utilizadas nas áreas críticas tanto nas Todas as portas de acesso a pacientes devem ter di‑
paredes e tetos quanto nos pisos, desde que sejam mensões mínimas de 0,80 (vão livre) × 2,1 m, inclu‑
resistentes à lavagem, ao uso de desinfetantes e não sive nos sanitários.
sejam aplicadas com pincel. Quando utilizadas no Todas as portas de acesso aos ambientes onde
piso, devem resistir também a abrasão e impactos forem instalados equipamentos de grande porte têm
a que serão submetidas. de possuir folhas ou painéis removíveis, com lar‑
O uso de divisórias removíveis nas áreas críti‑ gura compatível com o tamanho do equipamento,
cas não é permitido, entretanto paredes pré‑fabri‑ permitindo assim sua saída.
cadas podem ser usadas, desde que, quando insta‑ Todas as portas utilizadas para a passagem de
ladas, tenham acabamento monolítico, ou seja, não camas/macas e de laboratórios devem ter dimen‑
possuam ranhuras ou perfis estruturais aparentes, sões mínimas de 1,10 (vão livre) × 2,10 m, exceto as
e sejam resistentes à lavagem e ao uso de desinfe‑ portas de acesso para as unidades de diagnóstico
tantes, conforme preconizado no manual citado no e terapia, que necessitam acesso de maca. As salas
primeiro parágrafo deste item. Nas áreas semicríti‑ de exame ou terapias devem ter dimensões míni‑
cas, as divisórias só podem ser utilizadas se forem, mas de 1,20 × 2,10 m.
também, resistentes ao uso de desinfetantes e à la‑ As portas de banheiros e sanitários de pacien‑
vagem com água e sabão, conforme preconizado no tes devem abrir para fora do ambiente ou permitir
manual ora citado. a retirada da folha pelo lado de fora, a fim de que
Nas áreas críticas e semicríticas, não deve haver sejam abertas sem necessidade de empurrar o pa‑
tubulações aparentes nas paredes e tetos. Quando ciente eventualmente caído atrás da porta. As por‑
estas não forem embutidas, devem ser protegidas tas devem ser dotadas de fechaduras que permi‑
em toda sua extensão por um material resistente a tam facilidade de abertura em caso de emergência
impactos, lavagem e uso de desinfetantes. e barra horizontal a 90 cm do piso.
7.5 FORROS
7.8 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
Os tetos em áreas críticas (especialmente nas salas
destinadas à realização de procedimentos cirúrgicos 7.8.1 ILUMINAÇÃO
ou similares) devem ser contínuos, sendo proibido Nos ambientes onde não acontecerão simulações
o uso de forros falsos removíveis, do tipo que inter‑ com pacientes simulados, não serão necessárias
fira na assepsia dos ambientes. Nas demais, pode‑se condições especiais de iluminação. Também não
utilizar forro removível, inclusive por razões liga‑ necessitam de incidência de luz de fonte natural
das à manutenção, desde que, nas áreas semicríti‑ direta nem de iluminação artificial especial.
cas, esses sejam resistentes aos processos de lim‑ Nos ambientes em que houver simulações com
peza, descontaminação e desinfecção. pacientes simulados, deve ser adotada iluminação
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 249
documentos com fotos, ou permitir que cada estu‑ 7.15 RECOMENDAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS
dante tenha seu armário. Os profissionais técnicos em um centro de simu‑
lação são de suma importância e têm as seguin‑
tes funções:
7.13.3 CONTROLE DE ACESSO
‑ É peça‑chave para apoio direto ao docente na
Uma das melhores opções é o uso de catracas ele‑
construção da prática simulada solicitada;
trônicas com um sistema de controle de acesso bio‑ ‑ Acompanha diretamente os docentes e estudan‑
métrico ou cartões de acesso (proximidade ou có‑ tes durante a simulação;
digo de barras). Porém, a biometria oferece mais ‑ Faz cumprir as normas estabelecidas para aden‑
segurança e comodidade, pois evita empréstimos trar ao centro de simulação;
de cartões e/ou senhas de acesso, assim como perda ‑ Executa as manutenções necessárias nos simu‑
ou extravio dos mesmos, além de custos adicionais ladores e demais equipamentos, bem como a
com emissão dos cartões. limpeza dos materiais e simuladores, e
Para os frequentadores da faculdade, sua iden‑ ‑ Gerencia estoque dos materiais.
tificação se dá quando coloca‑se o dedo no leitor Em geral, esses profissionais são da área de en‑
biométrico da catraca. O sistema de controle de fermagem, pois já conhecem todos os materiais uti‑
acesso, ao reconhecer a impressão digital do usuá‑ lizados nas atividades práticas.
rio cadastrada no banco de dados, libera então sua
entrada ou saída. Pessoas que não estão com sua di‑ 7.16 ACESSIBILIDADE
gital cadastrada no sistema não poderão ter acesso Todos os ambientes devem ser desenvolvidos nor‑
livre às dependências do recinto, garantindo, assim, teados pelas Leis 10.048 e 10.098 (BRASIL, 2000),
a segurança de todos. as quais regulam a acessibilidade nos ambientes
As principais vantagens, ao controlar o Fluxo educacionais.
de Acesso de pessoas, são:
● Tranquilidade e segurança para alunos, profes‑
sores e demais funcionários; 8. DETALHES TÉCNICOS DA UTILIZAÇÃO E
● Bloqueio da entrada de pessoas não autoriza‑ CONVERGÊNCIA DE RECURSOS TECNOLÓGICOS
das e/ou mal intencionadas, etc.; E DO MOBILIÁRIO DOS DIVERSOS SETORES DO
● Segurança patrimonial dos equipamentos; CENTRO DE SIMULAÇÃO
● Controle de frequência dos estudantes;
● Relatório dos registros da entrada de alunos, O uso das tecnologias de informação e comunica‑
professores e terceiros, e ção (TICs) nos cursos da área da saúde, particular‑
● Controle de presença por turno, por turmas, etc. mente na medicina, favorece a institucionalização
de métodos e práticas de ensino/ aprendizagem,
7.14 RECOMENDAÇÕES DE HUMANIZAÇÃO incentiva o uso das tecnologias da comunicação
A humanização dos estabelecimentos de saúde tem e informação, e visa criar uma cultura acadêmica
uma diretriz transversal e constitui‑se num con‑ que considere tais recursos como instrumentos
junto de ações sobre diversas práticas e condições motivadores da aprendizagem individual e em
na prestação dos serviços de saúde, assim como em grupo. Eles devem estar alinhados com os objeti‑
vos de aprendizagem e o projeto pedagógico, per‑
diferentes níveis do Sistema, formando uma cons‑
mitindo a melhor utilização dos mesmos e otimi‑
trução coletiva de todos os atores envolvidos. Para
zando a integração entre a rede de saúde, a atenção
o Ministério da Saúde, trata‑se de uma das estra‑
e a universidade.
tégias para alcançar a qualificação da atenção e da
Desta forma, objetiva a formação de qualidade,
gestão em saúde no SUS. Trata‑se de uma forma em que profissionais médicos sejam capazes de re‑
de tornar parceiros, tanto usuários como profis‑ conhecer, nas aplicações das tecnologias de infor‑
sionais de saúde, na busca da qualidade dos servi‑ mação e comunicação, amplas possibilidades de
ços, um projeto de corresponsabilidade e qualifi‑ aprender a ensinar, desenvolvendo a habilidade de
cação dos vínculos interprofissionais e entre estes manusear os recursos tecnológicos existentes, em
e os usuários na produção de saúde. Essa humani‑ favor de sua formação e atualização, bem como a
zação hospitalar, ao mesmo tempo em que colabora sua competência para conceber ações em direção
com o processo terapêutico do paciente, contribui à saúde e ao bem‑estar social.
para a qualidade dos serviços de saúde prestados Os conteúdos educacionais e materiais didáti‑
pelos profissionais envolvidos (MARTINS, 2004). cos serão desenvolvidos através da utilização de re‑
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 251
Quadro 3 – Continuação...
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 253
Quadro 6 – Continuação...
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 255
Quadro 8 – Continuação...
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 257
Quadro 10 – Continuação...
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Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 261
Em 2013, a Secretaria de Gestão do Trabalho e
Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde
do Brasil formalizou um intercâmbio de políticas
e práticas sobre demografia médica, avaliação
de competências dos profissionais da saúde e
Hermila Tavares Vilar Guedes centros de simulação realística com a Conselheria
é médica, com residência médica em Pediatria, de Igualdade, Saúde e Políticas Sociais da Junta de
Mestrado e Doutorado pela UFBA. É professora Andaluzia, Espanha. Após as mudanças decorrentes
adjunta do Curso de Medicina do Departamento da publicação da Lei 12.871/2013 (Programa Mais
de Ciências da Vida - Universidade do Estado da Médicos para o Brasil), colocou-se em pauta a
Bahia - UNEB (disciplina: Pediatria); e professora ordenação da formação de profissionais de saúde
adjunta da Escola Bahiana de Medicina e Saúde pelo SUS, postulando-se nessa parceria, entre
Pública (disciplina: Metodologia da Pesquisa outras ações, a transferência de tecnologia para
Científica). Foi Coordenadora Técnica do Curso construção de centros de simulação realística em
de Formadores de Multiplicadores em Simulação saúde no Brasil. A partir deste primeiro acordo
Clínica (ABEM/EBSERH/OPAS), quando ocupou e de oficinas de formação e desenvolvimento, a
o cargo de Diretora Executiva da Associação Ebserh foi incorporada à proposta e realizou-se
Brasileira de Educação Médica (ABEM). com os professores de Andaluzia uma oficina na
Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, na
perspectiva de mobilizar centros de formação
em simulação realística no SUS, voltados para
Gerson Alves Pereira Júnior educação permanente de profissionais de saúde e
é médico, com residências médicas em Cirurgia também para formação de estudantes e residentes.
Geral, de Urgência e do Trauma, e Terapia Intensiva, Este foi o primeiro movimento que, após anos,
Mestrado e Doutorado pela FMRP/USP. É docente resultou na presente carta‑acordo que possibilitou
do Curso de Medicina de Bauru/USP. É especialista à ABEM, em parceria com a OPAS, SGTES, Ebserh,
em Cirurgia Geral pelo Colégio Brasileiro de realizar o Projeto “Desenvolvimento da Rede
Cirurgiões (CBC), Cirurgia Digestiva pelo Colégio de centros de Simulação Clínica: elaboração de
Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD), Terapia curso para capacitação de multiplicadores”.
Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva
Este livro – Simulação em saúde para ensino e
Brasileira (AMIB) e em Medicina de Emergência pela
avaliação: conceitos e práticas – foi escrito por
Associação Brasileira de Medicina de Emergência
estudiosos e pesquisadores e reflete a experiência
(ABRAMEDE). Foi Coordenador Pedagógico do Curso
de elaboração e desenvolvimento de um curso
de Formadores de Multiplicadores em Simulação
para capacitação de multiplicadores oferecido
Clínica (ABEM/EBSERH/OPAS). É Coordenador
em 18 Centros de Simulação, distribuídos nas
do Programa de Simulação Clínica da Associação
diferentes regiões do País, do qual participaram
Brasileira de Educação Médica (ABEM).
mais de 300 profissionais de saúde. Com a
presente publicação, esperamos poder contribuir
para educação em saúde no século XXI.