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Em 2013, a Secretaria de Gestão do Trabalho e

Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde


do Brasil formalizou um intercâmbio de políticas
e práticas sobre demografia médica, avaliação
de competências dos profissionais da saúde e
Hermila Tavares Vilar Guedes centros de simulação realística com a Conselheria
é médica, com residência médica em Pediatria, de Igualdade, Saúde e Políticas Sociais da Junta de
Mestrado e Doutorado pela UFBA. É professora Andaluzia, Espanha. Após as mudanças decorrentes
adjunta do Curso de Medicina do Departamento da publicação da Lei 12.871/2013 (Programa Mais
de Ciências da Vida - Universidade do Estado da Médicos para o Brasil), colocou-se em pauta a
Bahia - UNEB (disciplina: Pediatria); e professora ordenação da formação de profissionais de saúde
adjunta da Escola Bahiana de Medicina e Saúde pelo SUS, postulando-se nessa parceria, entre
Pública (disciplina: Metodologia da Pesquisa outras ações, a transferência de tecnologia para
Científica). Foi Coordenadora Técnica do Curso construção de centros de simulação realística em
de Formadores de Multiplicadores em Simulação saúde no Brasil. A partir deste primeiro acordo
Clínica (ABEM/EBSERH/OPAS), quando ocupou e de oficinas de formação e desenvolvimento, a
o cargo de Diretora Executiva da Associação Ebserh foi incorporada à proposta e realizou-se
Brasileira de Educação Médica (ABEM). com os professores de Andaluzia uma oficina na
Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, na
perspectiva de mobilizar centros de formação
em simulação realística no SUS, voltados para
Gerson Alves Pereira Júnior educação permanente de profissionais de saúde e
é médico, com residências médicas em Cirurgia também para formação de estudantes e residentes.
Geral, de Urgência e do Trauma, e Terapia Intensiva, Este foi o primeiro movimento que, após anos,
Mestrado e Doutorado pela FMRP/USP. É docente resultou na presente carta‑acordo que possibilitou
do Curso de Medicina de Bauru/USP. É especialista à ABEM, em parceria com a OPAS, SGTES, Ebserh,
em Cirurgia Geral pelo Colégio Brasileiro de realizar o Projeto “Desenvolvimento da Rede
Cirurgiões (CBC), Cirurgia Digestiva pelo Colégio de centros de Simulação Clínica: elaboração de
Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD), Terapia curso para capacitação de multiplicadores”.
Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva
Este livro – Simulação em saúde para ensino e
Brasileira (AMIB) e em Medicina de Emergência pela
avaliação: conceitos e práticas – foi escrito por
Associação Brasileira de Medicina de Emergência
estudiosos e pesquisadores e reflete a experiência
(ABRAMEDE). Foi Coordenador Pedagógico do Curso
de elaboração e desenvolvimento de um curso
de Formadores de Multiplicadores em Simulação
para capacitação de multiplicadores oferecido
Clínica (ABEM/EBSERH/OPAS). É Coordenador
em 18 Centros de Simulação, distribuídos nas
do Programa de Simulação Clínica da Associação
diferentes regiões do País, do qual participaram
Brasileira de Educação Médica (ABEM).
mais de 300 profissionais de saúde. Com a
presente publicação, esperamos poder contribuir
para educação em saúde no século XXI.

Eliana Goldfarb Cyrino e Nildo Alves Batista


Todos os direitos desta edição reservados à Associação Brasileira de Educação Médica,
Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde e
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.

Venda proibida. Distribuição gratuita.

Esta publicação contou com o apoio da SGTES/MS, OPAS/OMS, ABEM e EBSERH.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Associação Brasileira de Educação Médica


Simulação em saúde para ensino e avaliação
[livro eletrônico] : conceitos e práticas /
Associação Brasileira de Educação Médica. --
São Carlos, SP : Cubo Multimídia, 2021.
PDF

ISBN 978-65-86819-11-3

1. Aprendizagem 2. Avaliação 3. Educação médica


4. Habilidades clínicas 5. Profissionais da saúde -
Formação 6. Simulação clínica I. Título.

21-68831 CDD-616.02507
Índices para catálogo sistemático:

1. Simulação em saúde para ensino e avaliação :


Ciências médicas 616.02507

Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

https://doi.org/10.4322/978-65-86819-11-3

Direitos autorais, 2021,


da Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM);
Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH)

Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM)


SCN - QD 02 - BL D - Torre A - Salas 1021 e 1023
Asa Norte - Brasília | DF | CEP: 70712-903
Telefones: (61) 3024-9978 / 3024-8013
ABEM
Gestão 2020 -2022

Conselho Diretor
Diretor Presidente Prof. Nildo Alves Batista
Diretor Vice-presidente Prof. Sandro Schreiber de Oliveira
Diretora Tesoureira Profa. Denise Herdy Afonso
Diretora de Inovação Profa Eliana Goldfarb Cyrino
Diretor Secretário Prof. Eduardo Arquimino Postal
Diretor Discente Acad. Carlos Eduardo Merss
Diretor Médico Residente Prof. André Ferreira de Abreu Júnior

Coordenadores Regionais
Centro Oeste Profa Ana Maria de Oliveira
Minas Gerais Prof Gustavo Antonio Raimondi
Nordeste I Prof Jorge Carvalho Guedes
Nordeste II Profa Daniela Chiesa
Norte Profa Maira Tiyomi Sacata Tongu Nazima
RJ/ES Prof Paulo Roberto Alves de Pinho
São Paulo Prof Aristides Palhares
Sul I Prof Leandro Tuzzin
Sul II Profa Lara Cristina Leite Guimaraes Machado

Coordenadores Residentes – Gestão 2020 – 2021


Guilherme Antoniacomi Pereira – São Paulo
João Lucas Cruz Castanho – RJ/ES

Coordenadores Discentes – Gestão 2020 -2021


Caio Alexandre Mendes Moreira – Centro Oeste
Júlia de Matos Rodrigues de Souza – Minas Gerais
Lía Sousa Rocha– Norte

Equipe Administrativa
Rozane Landskron Gonçalves
Cristiane Cavalcanti Pinto Ruiz
Érika Maria Lima Bandeira
Dyanara Lays Rohte Sbruzzi
Amara Rodrigues Mune
Assessoria Técnica editorial do livro
Eliana Goldfarb Cyrino
Nildo Alves Batista

Acompanhamento técnico OPAS/OMS


Monica Diniz Durães
Agradecemos aos nossos parceiros na realização e desenvolvimento do
presente projeto que possibilitou a construção deste livro, a EBSERH,
OPAS e SGTES.
Conselho Editorial
Luiz Ernesto Almeida Troncon
Oscarina da Silva Ezequiel
Ruy Guilherme Silveira de Souza
Valéria Vernaschi Lima
Sumário

9 Prefácio
Prof. Dr. Nildo Alves Batista

11 Apresentação
Mayra Isabel Correia Pinheiro

13 Apresentação
Mónica Padilla

15 Apresentação
Oswaldo de Jesus Ferreira

17 Apresentação do Livro 1
Prof. Gerson Alves Pereira Júnior

21 Capítulo 1
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de
competências para marcos de competências e “Entrustable Professional
Activities” (EPAs): um entendimento necessário para adequações da
formação médica
Gerson Alves Pereira Júnior

43 Capítulo 2
A simulação como enfoque para a segurança do paciente
Rosana Alves, Gustavo Alves Saldanha

53 Capítulo 3
Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de habilidades e
da elaboração das estações simuladas
Sara Fiterman Lima, Aurean D’Eça Junior, Richardson Augusto Rosendo da Silva,
Gerson Alves Pereira Júnior

83 Capítulo 4
Princípios Instrucionais na Simulação: Uso das Diretrizes de Desenho
Instrucional na Simulação
Brena Melo

97 Capítulo 5
Uso de pacientes simulados no ensino e avaliação em saúde
Emerson de Barros Rossini, Gerson Alves Pereira Júnior

107 Capítulo 6
A confecção da Moulage em diferentes cenários simulados
Mateus Henrique Goncalves Meska, Elaine Cristina Negri
119 Capítulo 7
Confecção e uso de simuladores de baixo custo: experiências da Medicina e
Enfermagem
Roxana Knobel, Raphael Raniere de Oliveira Costa

129 Capítulo 8
A colaboração como fundamento para o trabalho interprofissional em saúde
Marcelo Viana da Costa

141 Capítulo 9
A utilização da simulação na educação interprofissional
Sara Fiterman Lima, Cristiano Gil Regis, Marcelo Viana da Costa, Gerson Alves Pereira Júnior

157 Capítulo 10
A utilização da simulação na Gestão do Fator Humano e Riscos Assistenciais
na área da saúde (Crew Resource Management)
Gerson Alves Pereira Júnior, Alexandre Slullitel, Haggeas da Silveira Fernandes

169 Capítulo 11
Estruturação do ensino, treinamento e avaliação de habilidades
Fernanda Berchelli Girão Miranda

175 Capítulo 12
Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação
Gerson Alves Pereira Júnior

197 Capítulo 13
Avaliação com o uso de Checklists e Escalas de Avaliação Global
Renato Soleiman Franco, Camila Ament Giuliani dos Santos Franco

205 Capítulo 14
O uso de Feedback e Debriefing na Simulação
Renato Soleiman Franco, Camila Ament Giuliani dos Santos Franco

221 Capítulo 15
Cenários de Avaliação de Habilidades Não Técnicas (HNT)
Camila Ament Giuliani dos Santos Franco, Renato Soleiman Franco

229 Capítulo 16
O uso de instrumentos para a avaliação do ensino, da aprendizagem e de
outros atributos nos laboratórios simulados
Fernanda Berchelli Girão Miranda

237 Capítulo 17
Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas
de aprendizagem e a convergência tecnológica: orientações na montagem
dos Centros de Simulação
Gerson Alves Pereira Júnior, Hugo Silva Ferreira, Luciane Reginato Dobrowski,
Claudio Soares de Santana
Prefácio

É
com muita alegria que, em nome do Aborda as diferentes dimensões da Simulação,
Conselho Diretor da Associação Brasileira entendida como uma metodologia ativa e participa-
de Educação Médica (ABEM), participo do tiva de ensino, cada vez mais utilizada na formação
lançamento deste livro, um dos produtos do projeto em saúde, tanto na graduação como na pós-gradua-
“Desenvolvimento da Rede de Centros de Simulação ção, em cenários práticos controlados e protegidos.
Clínica: Elaboração de curso para capacitação de O livro inicia explorando a relação entre
multiplicadores”, desenvolvido pela ABEM, em par- Diretrizes Curriculares Nacionais, Competências,
ceria com a Organização Panamericana de Saúde Marcos de Competências e Entrustable Professional
(OPAS), a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Acivities (EPAs) para desenvolvimento de Matrizes
Educação em Saúde (SGTES) e a Empresa Brasileira Curriculares, aspectos relevantes na discussão da
de Serviços Hospitalares (EBSERH). Educação Médica contemporânea.
Esta livro – Simulação em saúde para ensino Conhecimentos básicos para estruturação do
e avaliação: conceitos e práticas – foi escrito por treinamento de habilidades, princípios instrucio-
quase duas dezenas de estudiosos e pesquisadores nais na Simulação, uso de pacientes simulados, con-
sobre Simulação e reflete uma experiência única fecção de moldagens e uso de simuladores artesa-
e bastante consolidada de elaboração e desenvol- nais e de baixo custo, vão indicando ruptura com
vimento de um curso para capacitação de multi- uma “ideia (exclusiva) de simulações com ambien-
plicadores oferecido em 18 Centros de Simulação, tes informatizados/robotizados e com simulado-
distribuídos nas diferentes regiões do País, do qual res hiper-realistas (que) tornam o uso dessa estra-
participaram mais de 300 profissionais de saúde. tégia inalcançável para a maioria dos campos de

Prefácio 9
ensino”, e que “a simulação e o uso de ambientes cina vivenciar situações de erros e acertos, relatar
simulados podem ser utilizados mesmo com re- e discutir sistematicamente estes erros e os quase
cursos limitados”. acidentes, reconhecer condições inseguras, inves-
A avaliação é também discutida, enfatizando tigar, repetir procedimentos até o acerto e melho-
desde os cenários para habilidades não técnicas, rar estes sistemas com uma compreensão completa
como comunicação, liderança, trabalho em equipe, da falibilidade humana”.
gerenciamento de tarefas, tomada de decisão, den- Entendemos que a comunidade da Educação
tre outras, até a avaliação de habilidades, com desta- Médica Brasileira recebe, sem dúvida, uma grande
que para a importância do Feedback e do Debriefing, obra! Sua leitura reveste-se de uma efetiva oportu-
bem como o uso de Checklists e Escalas de Avaliação nidade de aprofundar a compreensão de pressupos-
Global. tos, teorias e práticas sobre Simulação, com seus
A Simulação como estratégia de preparo de avanços e desafios na (re)construção de processos
uma prática profissional comprometida com a formativos que tenham significado e representem
SEGURANÇA do paciente é também enfatizada, possibilidades efetivas de transformação das prá-
uma vez que “oportuniza aos estudantes de medi- ticas profissionais.

Prof. Dr. Nildo Alves Batista


Diretor-Presidente da ABEM

10 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Apresentação

É
para mim motivo de honra e privilégio es- por um modelo de treinamento mais ético, com mi-
crever o prefácio do livro que será utilizado nimização de erros em saúde, que possam compro-
no Projeto “Desenvolvimento da Rede de meter a segurança do paciente.
Centros de Simulação Clínica: elaboração de curso O curso de capacitação de multiplicadores é as-
de capacitação de multiplicadores”. sim uma excelente contribuição para o conhecimento
A simulação clínica é um processo dinâmico que e formação em simulação realística no país, já reco-
envolve a criação de uma situação hipotética que in- nhecida como instrumento importante no processo
corpora uma representação autêntica da realidade, de ensino-aprendizagem na saúde, essencial para o
facilitando a participação ativa do aluno e integrando aperfeiçoamento de profissionais dessa área e para
o aprendizado prático e teórico com oportunidades a oferta de melhor assistência aos pacientes. Os te-
para a repetição, feedback, avaliação e reflexão, sem mas tratados nesse curso, tais como o uso de instru-
o risco de causar dano ao paciente. mentos para a avaliação do ensino nos laboratórios
As evidências mostram que as tecnologias de si- simulados, a utilização da simulação na capacitação
mulação clínica são estratégias capazes de articular da gestão de recursos em crise na área da saúde, a co-
práticas de ensino e pesquisa, necessárias na quali- laboração como fundamento para ao trabalho inter-
ficação dos profissionais da saúde, nos diversos ní- profissional em saúde, entre tantos outros, compõem
veis de atenção à saúde da população. assim um conjunto de ofertas que indiscutivelmente
Há uma recomendação da Organização Mundial marcam um avanço na educação em saúde no Brasil.
da Saúde (OMS) para a utilização dessa estratégia
durante a formação em saúde. Aprender e praticar
Mayra Isabel Correia Pinheiro
técnicas e/ou procedimentos em pacientes em situ- Secretária da Gestão do Trabalho e da
ação de vulnerabilidade pode assim ser substituída Educação na Saúde/ SGTES/MS

Apresentação 11
Apresentação

N
os últimos vinte anos, a aplicação de meto- modelos de simulação baseiam-se na capacidade de
dologias de simulação, como ferramenta de controlar variáveis que possam influenciar a aqui-
ensino-aprendizagem, foi desenvolvida como sição e colocar em prática competências definidas,
uma das principais alternativas para trabalhar com- bem como garantir um ambiente seguro, tanto para
petências educacionais (conhecimentos e habilida- os profissionais como para os usuários.
des) em um ambiente controlado, seguro e que per- No campo da saúde, a aplicação dos modelos
mite ser adaptado às necessidades de cada momento. de aprendizagem por simulação permite trabalhar
Os modelos de simulação realística, cada vez competências profissionais em ambientes realistas,
mais semelhantes à realidade, têm sido adaptados diminuindo, de forma significativa, o tempo neces-
a diferentes campos, onde os cenários de simula- sário para a aquisição de habilidades ao permitir a
ção causam impacto e permitem mais aquisição de repetição de ações de treinamento de forma ilimi-
competências, com agilidade de transferência des- tada, utilizando ambientes com diferentes níveis
tas em relação à situação treinada. de dificuldade, do mais simples ao mais complexo.
A simulação como estratégia de ensino-aprendi- No movimento da mudança das Diretrizes
zagem é de grande importância nos processos for- Curriculares Nacionais (DCNs) do Curso de
mativos, pois cada vez mais é necessário garantir Graduação em Medicina, em 2014, o Ministério da
a segurança do paciente para não ser considerado Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde
um objeto de aprendizado. O uso das simulações (OPAS) estabeleceram parceria com a Escuela
realísticas sempre terá como princípio garantir a Andaluza de Salud Publica (Easp), que, entre ou-
segurança e a prevenção de erros críticos, pois os tras ações, dedicou um componente específico para

Apresentação 13
trabalhar a área de aprendizagem por meio de si- conhecimentos e suas competências técnicas e re-
mulação, um componente importante a ser estimu- lacionais para trabalhar em equipe fez esse compo-
lado e desenvolvido no país. nente ampliar seu escopo, possibilitando que profis-
Naquele momento, coube às autoridades sani- sionais dos serviços de saúde fossem contemplados
tárias e educacionais do país promover e difundir na formação ofertada. Esta assessoria apresentou ao
essa metodologia nos processos de aprendizagem, final: a) Guia de orientação para implantação e ma-
por meio da articulação e da integração entre ensino nutenção de centros de simulação no Sistema Único
e serviço. A parceria com a Empresa Brasileira de de Saúde; b) Guia de desenvolvimento do programa
Serviços Hospitalares (EBSERH) foi de suma im- de formação de profissionais de saúde com o uso da
portância, visto que se estava iniciando a estrutu- simulação realística em saúde.
ração dos centros de simulação em seus hospitais. A produção do livro Simulação em saúde para
A articulação com as Faculdades de Medicina, por ensino e avaliação: conceitos e práticas, produto
meio da Associação Brasileira de Educação Médica do Projeto Desenvolvimento da Rede de Centros
(Abem), possibilitou identificar profissionais que de Simulação Clínica: Elaboração de Curso para
estavam se especializando nessa área. Capacitação de multiplicadores, apresenta avanços
Seguindo a experiência de criação do Complexo nessa área. A pandemia ocasionada pela Covid-19
Multifuncional Avançado de Simulação, Inovação tem permitido identificar a importância de man-
e Tecnologia (CMAT) de Granada, na Andaluzia, a ter esses cenários de prática como centros de trei-
assessoria da Easp abrangeu diversos aspectos no namento permanentes para desenvolver compe-
processo de tomada de decisão para estruturar e tências críticas no sistema e, neste sentido, reforça
desenvolver centros de aprendizagem por simula- ainda mais parcerias como esta que devem ser im-
ção realística. A criação de cenários adequados que pulsionadas no país, para proporcionar estruturas
permitem reproduzir situações que os profissionais que visam à qualificação de todos os trabalhado-
enfrentam e momentos em que devem integrar seus res da saúde.

Mónica Padilla
Coordenadora da Unidade Técnica Capacidades Humanas
para a Saúde Opas/Organização Mundial da Saúde

14 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Apresentação

A
parceria ABEM-Ebserh-Ministério da cas federais de ensino ou instituições congêneres,
Saúde/OPAS viabilizou a realização do pro- observada, nos termos do art. 207 da Constituição
jeto “Desenvolvimento da Rede de Centros Federal, a autonomia universitária.
de Simulação Clínica: Elaboração de Curso para A Ebserh caracteriza-se como uma rede que in-
Capacitação de Multiplicadores”, que teve como tegra 40 unidades hospitalares vinculadas a 37 ins-
objetivo desenvolver e capacitar multiplicadores tituições federais de ensino superior (IFES), das
em simulação clínica, no intuito de qualificar a atu- cinco regiões do País. Tem como propósito “Ensinar
ação em ensino, pesquisa e extensão dos centros de para transformar o cuidar” e a missão de fornecer
treinamento referenciais por meio de simulação. campo de prática de excelência para inovação em
A Empresa Brasileira de Serviços Hospitala- saúde por meio do ensino e pesquisa, praticando
res, Ebserh, empresa pública vinculada ao Minis- assistência de qualidade e uma gestão sustentável
tério da Educação (MEC), criada pela Lei nº 12.550, e transparente.
de 15 de dezembro de 2011, tem por finalidade a Atualmente, a Rede Ebserh conta com 18 polos
prestação de serviços gratuitos de assistência estruturados que trabalham com centros de simu-
médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio diag- lação ligados a hospitais e/ou a IFES. As demais
nóstico e terapêutico à comunidade, em média unidades hospitalares da Rede utilizam práticas de
e alta complexidade, assim como a prestação de simulação clínica, tais como simulação cênica, ro-
serviços de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, bótica, de baixa, média e alta complexidades, como
ao ensino-aprendizagem e à formação de pessoas estratégias de ensino-aprendizagem aplicadas aos
no campo da saúde pública às instituições públi- cenários de práticas dos discentes e capacitação de

Apresentação 15
seus profissionais. Não por acaso, a Rede reuniu as petências e habilidades para a gestão de centros de
condições necessárias para essa diferenciada ação simulação e organização de atividades para forma-
de capacitação, cujos resultados ainda incluem a ção e capacitação.
valiosa publicação desta obra. O livro Simulação em saúde para ensino e ava-
A evolução científica e as discussões éticas sobre liação: conceitos e práticas é mais uma iniciativa
modelos de ensino-aprendizagem trouxeram gran- para qualificação de recursos humanos que cola-
des restrições ao ensino em ciências da saúde, uma bora para que o ensino baseado em simulação seja
vez que por muitos anos tal formação foi baseada uma realidade e uma prática corriqueira nos hos-
em modelos animais. Como consequência, apesar pitais universitários federais.
das diversas restrições impostas por controles éti- A perspectiva pedagógica trazida nos capítulos
cos, o ensino prático realizado diretamente no pa- converge para atender à necessidade crescente de
ciente ainda é o principal modelo utilizado, o que profissionais envolvidos na compreensão da rela-
traz questões tanto para a formação do profissio- ção entre as diretrizes estabelecidas para a forma-
nal quanto para a qualificação do cuidado prestado. ção e a implementação de práticas interdisciplinares
O uso de simuladores para aprendizado tem sido colaborativas, base para aquisição de novos conhe-
aplicado há muitos anos em diversas áreas do co- cimentos com vistas a uma atuação interpessoal e
nhecimento. Notadamente, na área de aviação re- técnica integradas, além do domínio da metodolo-
percutiu de forma direta na diminuição do número gia baseada em simulação em saúde.
de erros e aumento da segurança. Contudo, seu uso Sem dúvida, o presente livro será referência
como recurso de ensino-aprendizagem na área da para a comunidade acadêmica, profissionais de
saúde é relativamente recente. saúde, estudantes, preceptores e docentes, do en-
O planejamento do ensino baseado em compe- sino técnico à pós-graduação, nos diversos hos-
tências e habilidades trouxe um grande incentivo pitais universitários e nas diferentes unidades da
à prática da simulação como meio de desenvolvi- rede de ensino e saúde do País. Isso porque repre-
mento do processo de ensino-aprendizagem com senta um convite à reflexão, ao debate e à atenção
várias vantagens relacionadas a aspectos éticos, re- aos desafios para o futuro das atividades de simu-
produtibilidade, segurança, eficiência, efetividade, lação clínica na formação e na capacitação dos
custo e receptividade por parte dos aprendizes. profissionais para melhorar a qualidade da assis-
Nesse sentido, desde 2016 a Ebserh tem fomentado, tência e garantir mais segurança para os pacien-
tanto a criação de laboratórios de habilidades e si- tes. A Ebserh orgulha-se de ter participado de tão
mulação quanto a formação de pessoal com com- importante parceria!

Oswaldo de Jesus Ferreira


Presidente da Ebserh

16 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Apresentação do Livro 1

N
o Brasil, a simulação clínica começou com rada no curso de medicina da Universidade Estadual
atividades pontuais que tiveram seu iní- de Londrina (UEL), que teve seu Laboratório de
cio na década de 1990, principalmente com Habilidades e Simulação montado e coordenado
cursos de suporte avançado de vida, como ATLS e pelo Prof. Samuel Silva da Silva (cardiologista e
ACLS. Nessa década e no início da seguinte, mui- hemodinamicista), juntamente com a Dra. Zuleika
tos acreditavam que a Aprendizagem Baseada em Thompson (pediatra) e o Dr. Kazuhiro Ito (patolo-
Problemas seria a única metodologia ativa que de- gista). Devemos reconhecimento a esses pioneiros
veria ser aplicada e que resolveria todas as ques- e também muita gratidão aos professores Marcio
tões de ensino dos cursos de medicina. Isso perdu- José de Almeida e João Campos, que receberam
rou por muito tempo, a ponto de se criar a alcunha dezenas de professores visitantes na UEL com ge-
pejorativa de “Cursos PBL”. nerosidade e compartilhamento total de informa-
Nessa época, não havia a inserção regular de ções e experiências. Foi o que aconteceu comigo em
atividades de simulação nas matrizes curricula- 2003, quando passei uma semana em Londrina/PR
res, limitando-se apenas ao treinamento de habili- para conhecer e vivenciar todas as atividades dos
dades, mais adotado pelos cursos de enfermagem estudantes da UEL.
do que de medicina. Da mesma maneira, a utilização da simulação
Dessa forma, o uso da simulação clínica como clínica para atividades de avaliação do tipo OSCE
ensino manteve-se no país em atividades isoladas ocorriam em alguns cursos de medicina públicos
realizadas por poucos docentes pioneiros. Cabe des- e privados, porém apenas de forma esparsa, com
tacar que esteve presente de forma mais estrutu- grande esforço pessoal de professores que preci-

Apresentação do Livro 1 17
savam convencer seus gestores acadêmicos, ven- gração da rede de urgência e emergência visando a
cer imensas barreiras logísticas e conseguir a ade- integralidade da atenção à saúde”, a partir do qual
são do corpo docente para serem avaliadores, além vários projetos de iniciação científica e mestrado
de precisarem suplantar a desconfiança e o medo foram realizados. Um dos projetos foi sobre a rea-
do corpo discente em ser avaliado por novas me- lização de simulação interprofissional no Campus
todologias. A partir de 2004, aplicamos o OSCE USP de Ribeirão Preto, que envolveu estudantes de
semestral para todas as turmas do novo currículo medicina, enfermagem, fisioterapia, farmácia e psi-
com uso de metodologias ativas na Universidade cologia, além das ciências matemáticas e da compu-
de Ribeirão Preto (UNAERP). tação do Campus USP de São Carlos, inclusive pro-
Em documento publicado em 2009, a movendo um Simpósio Internacional de Simulação
Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o Clínica Interprofissional em maio de 2017.
conceito de Segurança do Paciente como a redu- No período de 21 a 25 de novembro de 2014, foi
ção dos riscos de danos desnecessários associados realizada a 1ª Oficina de Formação em Competências
à assistência em saúde até um mínimo aceitável. e Simulação, na Universidade Federal de São Carlos
Com isso, a tradicional abordagem do ensino de (UFSCar/SP), com a equipe do instituto IAVANTE
medicina do tipo “veja e faça” para aprender e ex- da Andaluzia, cujo objetivo era definir um modelo
perimentar, expondo os pacientes ao atendimento de formação baseado em simulação, valorizando a
de profissionais de saúde inexperientes, e mesmo melhora dos indicadores-chaves dos processos as-
internos de medicina, não mais se sustentava do sistenciais para, ao mesmo tempo, atender às ne-
ponto de vista ético. cessidades de formação de profissionais dos di-
Essa escalada íngreme da curva de aprendiza- ferentes estados do Brasil. No entanto, apesar da
gem não é mais aceitável, pois a prática de tentativa realização dessa e de outras três oficinas, o pro-
e erro com pacientes reais torna-se cada vez mais jeto não foi adiante.
questionável. A simulação, nesse contexto, emerge Outra oportunidade de aprofundamento dos co-
como instrumento que auxilia a formação de pro- nhecimentos em simulação como avaliação tem sido
fissionais de saúde no treino de habilidades e de a participação de docentes de cursos de medicina
cenários simulados, antecipando a prática clínica de todo o Brasil nas aplicações da prova prática da
sem expor o paciente a erros evitáveis pela falta de 2ª fase do Exame de Revalidação de Diplomas de
conhecimento adequado e segurança na realização Médicos formados no Exterior (REVALIDA), prin-
dos procedimentos. cipalmente nas edições a partir de 2015, quando a
Na carreira docente na Universidade de São prova simulada passou a ser realizada, de forma si-
Paulo (USP) desde 2012, venho trabalhando com multânea, em muitas cidades das diversas regiões
blended learning e sala de aula invertida para ativi- do País, dada a quantidade cada vez maior de can-
dades simuladas na medicina de emergência trau- didatos inscritos.
mática e não traumática. Meu projeto aprovado No Congresso Brasileiro de Educação Médica
para o Programa de Desenvolvimento Docente para (COBEM) de 2015, no Rio de Janeiro/RJ, houve a
Educadores das Profissões da Saúde do Instituto programação prática de habilidades e simulação
Regional FAIMER Brasil para os anos de 2013 e para os estudantes e uma programação teórica vol-
2014 foi sobre a “Avaliação do processo de implan- tada aos docentes. Notou-se que não havia um pro-
tação da estratégia sequencial do ensino de urgência grama de simulação na ABEM. Apresentamos uma
e emergência na graduação médica”. Este projeto moção que foi aprovada na plenária deste congresso
FAIMER coincidiu com um dos quatro projetos da para a criação e reconhecimento de um grupo de
Carta-Acordo com a Organização Pan-Americana trabalho para um diagnóstico situacional sobre a
da Saúde (OPAS) em comemoração aos 50 anos da utilização da simulação nas escolas médicas e ca-
Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) pacitação docente.
e 10 anos das Diretrizes Curriculares Nacionais de A Diretoria ABEM, em março de 2016, solici-
2001. Como resultado de ambos, foram publicadas tou a entrega de um programa de simulação que
as recomendações ABEM para o ensino de urgên- foi elaborado com base em quatro componentes:
cia e emergência na graduação médica em 2013, 1) Diagnóstico situacional da presença do labora-
atualizada em 2015. tório de habilidades e simulação (LHS), área física,
Nessa mesma época, foi lançado o edital do PET/ acervo, uso nas programações curriculares para en-
Redes de urgência (2013-2015), e tive um projeto sino e avaliação, e identificação e contato dos pro-
aprovado sobre o “Estudo das estratégias de inte- fessores responsáveis, 2) Capacitação docente com

18 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


parte online e parte presencial, 3) Plano de segui- dades federais ligadas aos hospitais da rede Ebserh
mento institucional, que iria depender das neces- que participaram do curso de simulação.
sidades identificadas e 4) Produção de material di- O curso de formação de multiplicadores da rede
dático acerca dos conceitos e princípios práticos da Ebserh teve duração de 180 horas, com o formato
simulação clínica. Esse programa, apesar de entre- de ensino à distância (EaD), e o conteúdo foi distri-
gue à diretoria da época, nunca foi discutido nem buído em cinco módulos: 1) metodologias de ensino
desenvolvido. com simulação; 2) avaliação focada na simulação;
Nos COBEM seguintes, o programa de simulação 3) módulos específicos nas oito áreas de atuação
evoluiu para a demonstração de uma grande quanti- (pediatria, clínica médica, cirurgia, medicina de
dade de cenários simulados em Brasília/DF (2016), e família e comunidade, saúde mental, ginecologia
posteriormente para a realização das Olimpíadas de e obstetrícia, medicina de emergência e saúde co-
Simulação em Porto Alegre/RS (2017) e Vitória/ES letiva) com produção de dezenas de estações prá-
(2018). Na competição de 2019 em Belém/PA, que ticas simuladas; 4) gestão de centro de simulação;
assim como no ano anterior foi planejada e ope- e 5) aplicação presencial das estações práticas em
racionalizada por professores das escolas médi- cada polo. Porém, devido à situação epidemiológica
cas das Regionais do congresso, houve três salas do país, ao invés da aplicação presencial da avalia-
simultâneas com utilização de manequins de alta ção prática, foi realizado o OSCE online.
complexidade (Empresa LAERDAL), casos clíni- O curso começou com uma revisão dos cur-
cos da Body Interact (Empresa CIVIAM) e a simu- sistas sobre os projetos pedagógicos dos cursos
lação cênica, permitindo maior interação entre as em que estão inseridos, à luz das novas Diretrizes
equipes participantes e a discussão dos casos clí- Curriculares Nacionais e da evolução do conceito
nicos com a plateia. de competências para marcos de competências e
Essas Olimpíadas de Simulação do último Entrustable Professional Activities (EPAs). Em cada
COBEM presencial em Belém/2019 foram, mais atividade dentro dos módulos, os cursistas parti-
uma vez, um enorme sucesso de participação dos cipavam de fóruns de debates sobre os temas e ti-
estudantes e do público, que assistiu às disputas ravam dúvidas, compartilhando experiências. No
entre as equipes. Na entrega dos prêmios às três Módulo 3, os cursistas foram divididos nas 8 áreas
equipes primeiras colocadas durante a plenária de de atuação (pediatria, clínica médica, cirurgia ge-
encerramento do congresso, os depoimentos dos ral, ginecologia/obstetrícia, medicina de família e
estudantes (que podem ser vistos no link: https:// comunidade, saúde mental, medicina de emergên-
www.youtube.com/watch?v=sVERheV2HwQ) mos- cia e saúde coletiva), com a tarefa inicial de ela-
traram que a competição entre as escolas era enca- borar o mapeamento da Rede de Atenção à Saúde
rada pelos discentes de maneira bastante saudável, dentro das linhas de cuidados de sua região e as ca-
e o aprendizado com a experiência foi valorizado racterísticas epidemiológicas regionais de morbi-
pelos participantes. -mortalidade. Nessa atividade destacaram os pon-
No final da gestão da Diretoria ABEM em 2018, tos positivos e as fraquezas das linhas de cuidado.
foi aprovada uma parceria entre a ABEM, a Rede Em seguida, as matrizes de conteúdo construídas
Ebserh de Hospitais Universitários Federais e a pelos tutores foram complementadas com suges-
OPAS para o desenvolvimento do projeto de si- tões dos cursistas. Os tutores também elaboraram
mulação entregue em 2016, porém limitando-se os marcos de competência com base no projeto
apenas à capacitação de multiplicadores. No iní- Milestones (Marcos de Competências), adaptado
cio da gestão da Diretoria ABEM de 2019, reorgani- para nosso meio e divididos em seis níveis (os ní-
zei o projeto para essa parceria com a Ebserh, cujo veis iniciais são o pré-internato e o final do inter-
curso começou em 31 de outubro de 2019. Devido à nato), além das Entrustable Professional Activities
pandemia da covid-19, o curso teve que ser prorro- (EPAs). Após essa etapa, discutiram a educação e
gado com a finalização da parte online em setem- o trabalho em equipe multiprofissional. A partir
bro de 2020. A parte presencial, com a realização dessa base de conhecimentos, os cursistas suge-
das provas práticas utilizando estações simuladas riram casos clínicos prevalentes e relevantes de
(tipo OSCE), para conclusão do curso nos 18 polos suas experiências clínicas para a construção das
Ebserh, também foi adiada. Com a persistência da estações simuladas completas, utilizando o mo-
situação epidemiológica, para finalizar o curso foi delo do Revalida.
realizado o OSCE online para estudantes do inter- Foram convidados dois tutores médicos e um da
nato médico dos cursos de medicina das universi- enfermagem com experiência em simulação clínica

Apresentação do Livro 1 19
para cada área, que são os autores dos capítulos. à presença de laboratórios de habilidades e simula-
A plataforma digital disponibilizou os materiais di- ção, e a utilização da simulação clínica nas matri-
dáticos (textos e vídeos) elaborados pelos tutores. zes curriculares dos cursos de medicina.
Os capítulos deste livro foram os materiais di- Esses Núcleos terão as seguintes funções: 1) ma-
dáticos elaborados pelos autores para o 1º curso de pear as atividades de simulação clínica como ati-
capacitação de multiplicadores em simulação clí- vidade de ensino e/ou avaliação de cada escola da
nica da rede Ebserh, que contou com a participa- Regional e os principais responsáveis, 2) mapear
ção de 18 polos (Belo Horizonte/MG, Uberaba/MG, as provas de residência que envolvam a realização
Juiz de Fora/MG, Rio de Janeiro/RJ, São Carlos/SP, de provas práticas, 3) fomentar o desenvolvimento
Brasília/DF, Goiânia/GO, Cuiabá/MT, Campo de capacitação docente em simulação, 4) organi-
Grande/MS, Manaus/AM, Fortaleza/CE, Natal/RN, zar eventos que envolvam a simulação clínica na
Recife/PE, Aracaju/SE, Teresina/PI, Maceió/AL, Regional, e 5) participar do desenvolvimento e ope-
Curitiba/PR e Rio Grande-Pelotas/RS), numa par- racionalização de projetos regionais e nacionais que
ceria entre a Organização Pan-Americana de Saúde envolvam a simulação. Essa proposta contempla os
(OPAS), Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares objetivos do Projeto de Simulação Clínica enca-
(Ebserh) e o Programa de Simulação Clínica da minhado à Diretoria da ABEM em março de 2016.
Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM). Os Núcleos de Simulação das Regionais devem
Foram capacitados 321 profissionais de saúde estar vinculados a um Núcleo Central de Simulação,
(docentes e preceptores), 160 médicos e 161 pro- atrelado à Diretoria da ABEM, que coordene o pro-
fissionais de outras áreas da saúde (enfermagem, grama de simulação da entidade, assim como ocorre
fisioterapia, farmácia, psicologia e outros), distri- para o programa do Teste de Progresso.
buídos nas 8 áreas de atuação nos 18 polos Ebserh. Essa organização será um grande passo para o
Durante todos os módulos do curso, os concei- desenvolvimento da simulação no país, permitindo
tos apresentados e discutidos foram aplicados e os a criação de uma rede colaborativa de centros e pro-
cursistas com experiência clínica, após essa assi- fessores. Espera-se que, no futuro, seja o suporte
milação de conhecimentos, foram capazes de ela- para a organização e realização de uma prova prá-
borar mais de cinco centenas de estações simula- tica nacional para nossos formandos e para uma
das de bastante qualidade nas oito áreas de atuação etapa regional classificatória para as Olimpíadas
propostas no curso. de Simulação do COBEM.
Este curso foi a primeira iniciativa de capaci- Ainda como desdobramento deste curso de capa-
tação de multiplicadores em simulação clínica em citação em simulação com a rede Ebserh, este livro
maior escala realizada no país para instituições pú- com seus 17 capítulos tornou-se a Disciplina de Pós-
blicas federais de ensino na saúde, ligadas à Ebserh. Graduação de 90 horas (4 créditos) na Universidade
Dois desdobramentos do curso, propostos den- de São Paulo (HRB 4095) de “Simulação Clínica:
tro do Programa de Simulação Clínica da ABEM, já Conceitos e Aplicação na Formação e Capacitação
foram encaminhados e aprovados pela Diretoria em de Profissionais”, oferecida no primeiro semestre
agosto de 2020, porém ainda não desenvolvidos. O de 2021, tendo os autores como professores exter-
primeiro será a oferta do curso para as escolas mé- nos. Essa disciplina online teve mais de 150 alunos
dicas associadas que tenham interesse na sua reali- inscritos, sendo a maioria professores universitários
zação, e o outro desdobramento será a montagem de instituições públicas e privadas de todo o país.
dos Núcleos de Simulação das Regionais da ABEM, Para encerrar, gostaria de agradecer ao apoio
compostos por dois docentes. O objetivo é desenvol- sempre presente e justo da Profa. Hermila Guedes
ver essa metodologia de aprendizagem em diversos (Universidade Estadual da Bahia), que foi a di-
distritos geográficos de atuação e interagir com as retora da ABEM responsável pelo acompanha-
escolas médicas e seus membros. Além disso, pre- mento de quase todo o curso, sem a qual não ven-
tende-se criar uma rede colaborativa diante da di- ceríamos os inúmeros obstáculos no caminho de
versidade de contextos e situações existentes quanto sua realização.

Prof. Gerson Alves Pereira Júnior


Coordenador Pedagógico do Curso ABEM-Ebserh
Coordenador do Programa ABEM de Simulação

20 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


CA P Í T UL O 1

As Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) e a evolução
do conceito de competências
para marcos de competências
e “Entrustable Professional
Activities” (EPAs): um
entendimento necessário para
adequações da formação médica

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de competências


para marcos de competências e “Entrustable Professional Activities” (EPAs):
um entendimento necessário para adequações da formação médica 21
Gerson Alves Pereira Júnior
Docente de Cirurgia de
Urgência e do Trauma
Universidade de São Paulo
Coordenador do Programa
ABEM de Simulação

1. PANORAMA GERAL

Nos últimos anos, o ensino superior brasileiro tem contato com a teoria e, depois, com as situações prá‑
experimentado mudanças significativas, mais es‑ ticas. Essa configuração parte do pressuposto de que
pecificamente nas carreiras da saúde. São notórias os estudantes aplicarão o que lhes foi ensinado au‑
as complexidades e as exigências que envolvem a tomaticamente e de forma adequada, partindo do
formação desses profissionais. As transformações abstrato para o concreto (MAKUCH; ZAGONEL,
mundiais decorrentes das inovações tecnológicas, 2017). Na prática, esse modelo de formação resulta
científicas e econômicas, aliadas a um mercado em um distanciamento evidente entre o perfil dos
progressivamente instável e flexível, têm estabe‑ profissionais que estão se inserindo no mercado de
lecido novas regras de convivência social e práti‑ trabalho e as reais necessidades de saúde dos usuá‑
cas profissionais. Dessa maneira, há a necessidade rios (SPORTSMAN, 2010; FRENK et al., 2010). Por
de atualização contínua na área da educação, pois isso, muitas escolas médicas já avançaram para ou‑
a simplificação e a fragmentação do saber estão tros modelos, ainda que parcialmente, buscando
dando lugar a novos modelos de formação e ges‑ uma maior interdisciplinaridade e aplicação pre‑
tão da força de trabalho (CAMELO; ANGERAMI, coce dos conhecimentos.
2013; PÜSCHEL et al., 2017). Assim, é necessário um processo formativo que
Ainda hoje, muitos cursos da área da saúde têm expresse compromissos éticos e políticos com o
seu currículo organizado em disciplinas. Nessa es‑ exercício da cidadania e com a qualidade de vida
trutura tradicional, o estudante, inicialmente, tem da população, rompendo com o modelo de ensino

22 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


voltado apenas para a transmissão e absorção pas‑ Competência é uma palavra do senso comum, uti‑
siva do conhecimento. O processo de aprendizagem lizada para indicar que o indivíduo é qualificado
deve ser direcionado para aprender a pensar, saber para realizar alguma atividade. É “um saber agir
comunicar‑se e pesquisar, desenvolvendo no estu‑ responsável e reconhecido que implica mobilizar,
dante o raciocínio lógico, sínteses e elaborações te‑ integrar, transferir conhecimentos, recursos, habi‑
óricas (FERNANDES; REBOUÇAS, 2013). lidades, que agreguem valor econômico à organiza‑
O estudo de Barasuol e Poli (2014) demonstra ção e valor social ao indivíduo” (FLEURY; FLEURY,
uma problemática muito comum ao revelar que 2001, p. 188; FURUKAWA; CUNHA, 2010).
acadêmicos das áreas da saúde, incluindo aqueles O conceito de competência tem como alicerce
que concluíram mais da metade da carga horária três dimensões distintas: conhecimentos, habilida‑
total da graduação, não dominam o conhecimento des e atitudes. A essas três dimensões também se
suficiente sobre suas funções profissionais no seu aliam atributos que envolvem os aspectos cogniti‑
campo de trabalho, o que compromete o desempe‑ vos, técnicos, sociais e afetivos para o sucesso de
nho acadêmico e a prática profissional. Os autores uma atividade laboral (RUTHES; CUNHA, 2016).
atribuem esse problema à centralização do apren‑ Na educação, há três importantes enfoques con‑
dizado em conhecimentos técnicos, distanciando ceituais sobre competência: o primeiro associa com‑
os estudantes das competências exigidas ao en‑ petência a atributos pessoais; o segundo vincula
fermeiro no mercado de trabalho. O artigo conclui competência aos resultados de tarefas realizadas;
afirmando a necessidade de abordagem das com‑ e o terceiro propõe a noção de competência dia‑
petências desde o início do curso, pois isso amplia lógica, originada na associação das características
a visão dos estudantes sobre o cotidiano e as neces‑ pessoais para a realização de ações em contextos
sidades do trabalho. específicos, visando atingir determinados resulta‑
dos (LIMA, 2005).
Na área da saúde, o modelo de Miller (1990) in‑
2. CONCEITO DE COMPETÊNCIAS clui diferentes níveis de capacitação, que sustentam
a competência profissional e podem determinar sua
Existem diversas interpretações e definições acerca evolução, e é representado por uma pirâmide, em
do conceito de competência nos campos da admi‑ cuja base estão os conhecimentos necessários para
nistração e da educação. Porém, falta um modelo o desempenho eficaz do profissional; no segundo
consensual para aplicação das competências no nível, está a capacidade dele em utilizar os seus co‑
contexto do ensino e da avaliação dos profissionais nhecimentos; no terceiro nível, como ele demonstra
em saúde, tanto daqueles em formação quanto dos suas habilidades em determinada situação; e no pico
já formados. Desta maneira, esses conhecimentos da pirâmide, a ação dele em situações clínicas reais
não são transportados em ganhos reais para estu‑ (MILLER, 1990). Atualmente, diversos estudos têm
dantes e formadores. discutido o acréscimo de mais um nível de avaliação
O conceito de competência foi construído a par‑ na pirâmide de Miller (1990), um nível de desen‑
tir da história, cultura e desenvolvimento da socie‑ volvimento acima do “fazer”, que é o nível “ser”, no
dade e foi descrito pela primeira vez de maneira qual a identidade profissional, os valores, os com‑
estruturada em 1973 por David McClelland. Esse portamentos, as ações e as aspirações profissionais
autor evidenciou a compreensão da ação humana passam a ser considerados (CRUESS et al., 2015;
direcionada para os resultados. A partir de então, CRUESS; CRUESS; STEINERT, 2016; AL‑ERAKY;
competência passou a ser entendida como um con‑ MAREI, 2016). A Figura 1 mostra a pirâmide de
junto de conhecimentos, habilidades e atitudes que Miller atualizada.
explicam um alto desempenho, presumindo que os Sabe‑se que a competência não é algo que se
melhores desempenhos estão fundamentados na in‑ observa diretamente, mas pode ser inferida pelo
teligência e personalidade das pessoas (BONFIM, desempenho e pela articulação de tarefas e capa‑
2012; FURUKAWA; CUNHA, 2010). cidades, que dão a noção de competência profis‑
A competência não é uma avaliação estática, e sional com base em padrões ou critérios definidos.
sim um processo contínuo que envolve habilida‑ As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) de
des técnicas, raciocínio clínico, capacidade de re‑ 2014 preconizam que competência “é compreen‑
solver problemas, tomadas de decisões, compor‑ dida como a capacidade de mobilizar conhecimen‑
tamento psicológico e social para se adaptar aos tos, habilidades e atitudes, com utilização dos re‑
novos ambientes e condições (SPORTSMAN, 2010). cursos disponíveis; é também a capacidade de ter

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de competências


para marcos de competências e “Entrustable Professional Activities” (EPAs):
um entendimento necessário para adequações da formação médica 23
Figura 1. A versão corrigida da pirâmide de Miller, com a adição de “ser” e um esboço do que deve ser avaliado em cada
nível. Fonte: adaptada de Cruess, Cruess e Steinert (2016).

iniciativas e ações que traduzam desempenhos ca‑ No contexto das diretrizes do Plano Nacional
pazes de solucionar, com pertinência, oportunidade de Educação (PNE), do Ministério da Educação
e sucesso, os desafios que se apresentem à prática (MEC), expresso na Lei nº 10.172/2001, o Conselho
profissional em diferentes contextos do trabalho em Nacional de Educação (CNE) aprovou em 2001 as
saúde, traduzindo a excelência da prática médica” Diretrizes Curriculares para o Curso de Medicina.
(BRASIL, 2014). Esse foi um marco na regulamentação do ensino
em saúde, especialmente médico, no Brasil, pois
abrange todas as escolas de Medicina do país. As di‑
3. A INCLUSÃO DAS COMPETÊNCIAS NAS
retrizes de 2001 foram o parâmetro para a educação
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA OS médica até junho de 2014, quando o MEC lançou as
CURSOS DA ÁREA DA SAÚDE E A NECESSIDADE DE novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
REORIENTAÇÃO CURRICULAR Graduação em Medicina, que se tornaram os parâ‑
metros a serem observados na organização, desen‑
Para atender às necessidades do mercado de traba‑ volvimento e avaliação dos cursos de Medicina de
lho, as instituições de ensino devem determinar as todo o país (BRASIL, 2014; GONTIJO et al., 2013).
competências necessárias ao profissional da área, Para Makuch e Zagonel (2017), a reformulação
priorizando as mais críticas e importantes para do modelo pedagógico vigente é indispensável e ape‑
nas acontecerá por meio da implementação de um
garantir a formação de estudantes, os quais, ao fi‑
currículo que possibilite o desenvolvimento de com‑
nal do processo de formação, devem estar segu‑
petências. No entanto, embora as diretrizes curricu‑
ros e preparados para a prática clínica profissional
lares atuais indiquem esse objetivo, ainda existem
(SPORTSMAN, 2010; FRENK et al., 2010).
muitas limitações nas discussões sobre o modelo
Há a exigência de formar um profissional com‑ curricular orientado por competência profissio‑
petente, crítico e reflexivo, que seja capaz de corres‑ nal (PEREZ; TOURINHO; CARVALHO JÚNIOR,
ponder às constantes mudanças sociais e ao desen‑ 2016; MAKUCH; ZAGONEL, 2017).
volvimento da cidadania. Para oferecer profissionais A discussão sobre as necessidades de mudanças
com esse perfil ao mercado de trabalho, os órgãos e de novas adequações no ensino superior acontece
reguladores do ensino na área da saúde têm pro‑ há tempos, visto que o processo de formação dos
posto a revisão das DCNs e a coerência delas com profissionais da área da saúde apresenta lacunas no
os projetos pedagógicos dos cursos (BERNARDINO; ensino ou na aprendizagem. Assim, os estudantes
FELLI; PERES, 2010; SPORTSMAN, 2010). estão recebendo uma formação com o foco na me‑

24 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


canização do fazer clínico, técnico e assistencial, o trabalho e o cuidado. As discussões visam a uma
enquanto as demais competências têm sido abor‑ articulação conjunta entre a teoria e a prática, mo‑
dadas de maneira menos objetiva e, por muitas ve‑ dificando o modelo atual, no qual a teoria é apresen‑
zes, fragmentadas. Além disso, verifica‑se a descon‑ tada de maneira desconectada e antecede a prática.
textualização entre teoria e prática (BARASUOL; O desafio mais difícil é romper as barreiras institu‑
POLI, 2014). cionais que favorecem a rigidez curricular, o que é
Considera‑se que o movimento das DCNs dos fundamental para permitir a construção de mode‑
cursos da área da saúde enfoca a reestruturação los pedagógicos criativos e inovadores.
dos programas curriculares universitários, com a Para o avanço dessas questões, é necessário aca‑
intenção de atender às exigências do perfil profis‑ bar com a rigidez curricular que dificulta a incorpo‑
sional, as quais são determinadas pelas competên‑ ração de atividades ou módulos complementares,
cias e habilidades que devem ser seguidas por todas que proporcionam estratégias de aproveitamento
as instituições formadoras no território brasileiro de conhecimentos adquiridos pelo estudante, por
(MAKUCH; ZAGONEL, 2017). meio de estudos e práticas independentes. É preciso
Assim, as DCNs estabelecem formal e organiza‑ extinguir o uso, quase que exclusivo, da avaliação
damente os princípios, os fundamentos e as finalida‑ somativa em prol da avaliação formativa, à medida
des da formação em Medicina. Em consonância com que haja maior experiência dos professores e maior
orientações tão bem estipuladas, o momento atual amadurecimento dos estudantes. Porém, a simples
exige das escolas médicas a formação de um profis‑ adoção da avaliação formativa substituindo a soma‑
sional com visão holística, ciente da sua relevância tiva, sem a experiência e o amadurecimento neces‑
social e capacitado ética, técnica e cientificamente. sários, pode ser catastrófica. A avaliação deve ser
A função de uma matriz de competências é ex‑ centrada na prática, deixando de ser pontual, pu‑
pressar os consensos coletivos acerca do que é im‑ nitiva e discriminatória para respeitar a individua‑
prescindível e as inter‑relações entre os conteúdos lidade do estudante, articulando pesquisa, ensino e
essenciais que nenhum estudante deverá deixar de extensão, desenvolvendo habilidades e produzindo
saber ao se formar (ARAÚJO, 2007). Para tanto, as conhecimentos próprios e inovadores mediante sua
DCNs preconizam que a formação médica deve se inserção em realidades concretas (FERNANDES;
basear em competências, e o ensino por compe‑ REBOUÇAS, 2013).
tências implica desenvolver no estudante a capa‑ Cada vez mais as competências profissionais
cidade de mobilizar conhecimentos, habilidades e devem ser consideradas como aspectos essenciais
atitudes para lidar com situações, problemas e di‑ no desenvolvimento dos projetos pedagógicos e das
lemas da vida real, e sua certificação expressa le‑ matrizes curriculares dos cursos da área da saúde,
gitimação social de pessoas que passam a ser reco‑ norteando o processo de formação. Assim, o mo‑
nhecidas como capazes de atuar na carreira médica. delo de currículo fundamentado em competên‑
As DCNs visam, basicamente, à flexibilização cias é privilegiado para alavancar as transforma‑
curricular ao pretender uma sólida formação de ções e necessidades que vêm ocorrendo no mundo
acordo com o conhecimento desenvolvido em cada do trabalho, preparando o profissional para melhor
área, permitindo ao estudante contextualizar as mu‑ atender a população e aos serviços dos diferentes
danças na área da saúde e seus desdobramentos no níveis de atenção à saúde (PEREZ; TOURINHO;
mundo do trabalho, estimulando o perfil profissio‑ CARVALHO JÚNIOR, 2016).
nal generalista que promova o cuidado integral, téc‑ Desse modo, a instituição das DCNs vem pro‑
nico, científico, humanista, crítico e reflexivo, pre‑ vocando mudanças na estruturação curricular de
parado para atuar nos diferentes níveis de atenção diversos cursos e nos projetos das instituições de
à saúde (MAKUCH; ZAGONEL, 2017). ensino em saúde no cenário nacional. E sabe‑se
Muito se discute sobre as propostas e os desafios que a definição e a articulação entre conhecimen‑
encontrados na implementação das novas DCNs, tos, habilidades e atitudes requeridas do egresso
as quais fundamentalmente abordam as mudan‑ são imprescindíveis para o futuro exercício pro‑
ças do ensino centrado no professor para o ensino fissional do médico.
e a aprendizagem enfocados no estudante, como As DCNs de 2001 preconizam que a formação do
sujeito ativo do seu processo de formação, além médico tem por objetivo dotar o profissional dos co‑
de buscar romper com a fragmentação do modelo nhecimentos requeridos para o exercício das seguin‑
disciplinar para a construção de um modelo inte‑ tes competências e habilidades gerais: (I) atenção à
grado, cujo eixo de formação passa a ser a prática, saúde, (II) tomada de decisões, (III) comunicação,

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de competências


para marcos de competências e “Entrustable Professional Activities” (EPAs):
um entendimento necessário para adequações da formação médica 25
(IV) liderança, (V) administração e gerenciamento, Existem diferentes formas de organização cur‑
e (VI) educação permanente. Com base nessas com‑ ricular embasadas no desenvolvimento de compe‑
petências, a formação do médico deverá contem‑ tências (ARAÚJO, 2007). Como mencionado, esse
plar o sistema de saúde vigente no país, a atenção tipo de ensino objetiva ir além do simples repasse
integral da saúde e o trabalho em equipe (BRASIL, de conhecimento teórico. Nele, o estudante deve
2001a; PEREIRA; LAGES, 2013). ser inserido em contextos práticos que possibili‑
Por outro lado, as DCNs de 2014 trazem as com‑ tem o exercício da mobilização de conhecimentos
petências e habilidades preconizadas para o egresso em situações complexas (PEREZ; TOURINHO;
do curso de Medicina de maneira diferente em al‑ CARVALHO JÚNIOR, 2016).
guns aspectos, de modo que a formação do gradu‑ As discussões sugerem o uso de estratégias e
ado em Medicina deve se desdobrar nas seguintes metodologias ativas de ensino e aprendizagem com
áreas: (I) atenção à saúde, (II) gestão em saúde e a finalidade de estimular e desenvolver atitudes e
(III) educação em saúde (BRASIL, 2014). O Quadro 1 competências ativas nos estudantes. Isso contribui
elenca as competências definidas como necessá‑ para que o aprendizado integre conteúdos teóricos
rias ao egresso do curso de Medicina (FRANCO; e práticos, com enfoque formativo de modo a es‑
CUBAS; FRANCO, 2014). timular o estudante a buscar construir o conheci‑

Quadro 1. Descrição das competências propostas pelas DCNS de 2014. Fonte: Franco, Cubas e Franco (2014, p. 223‑224).

Competência Descrição da competência


1 Atenção à saúde.
2 Tomada de decisões.
3 Comunicação.
4 Liderança.
5 Administração e gerenciamento.
6 Educação permanente.
Promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades tanto dos seus
I clientes/pacientes quanto de sua comunidade, atuando como agente de transformação
social.
Atuar nos diferentes níveis de atendimento à saúde, com ênfase nos atendimentos
II
primário e secundário.
Comunicar‑se adequadamente com os colegas de trabalho, os pacientes e seus
III
familiares.
Informar e educar seus pacientes, familiares e comunidade em relação à promoção da
IV saúde, prevenção, tratamento e reabilitação das doenças, usando técnicas apropriadas
de comunicação.
Realizar com proficiência a anamnese e a consequente construção da história clínica,
V
bem como dominar a arte e a técnica do exame físico.
Dominar os conhecimentos científicos básicos da natureza biopsicossocioambiental
VI subjacentes à prática médica e ter raciocínio crítico na interpretação dos dados, na
identificação da natureza dos problemas da prática médica e na sua resolução.
Diagnosticar e tratar corretamente as principais doenças do ser humano em todas as
VII fases do ciclo biológico, tendo como critérios a prevalência e o potencial mórbido das
doenças, bem como a eficácia da ação médica.
Reconhecer suas limitações e encaminhar, adequadamente, pacientes portadores de
VIII
problemas que fujam ao alcance da sua formação geral.

26 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 1. Continuação...

Competência Descrição da competência


Otimizar o uso dos recursos propedêuticos, valorizando o método clínico em todos seus
IX
aspectos.
Exercer a medicina utilizando procedimentos diagnósticos e terapêuticos com base em
X
evidências científicas.
Utilizar adequadamente recursos semiológicos e terapêuticos, validados
XI cientificamente, contemporâneos, hierarquizados para atenção integral à saúde, no
primeiro, segundo e terceiro níveis de atenção.
Reconhecer a saúde como direito e atuar de forma a garantir a integralidade da
assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo de ações e serviços
XII
preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os
níveis de complexidade do sistema.
Atuar na proteção e na promoção da saúde e na prevenção de doenças, bem como no
XIII tratamento e reabilitação dos problemas de saúde e acompanhamento do processo de
morte.
Realizar procedimentos clínicos e cirúrgicos indispensáveis para o atendimento
XIV ambulatorial e para o atendimento inicial das urgências e emergências em todas as
fases do ciclo biológico.
Conhecer os princípios da metodologia científica, possibilitando a leitura crítica de
XV
artigos técnico‑científicos e a participação na produção de conhecimentos.
XVI Lidar criticamente com a dinâmica do mercado de trabalho e com as políticas de saúde.
Atuar no sistema hierarquizado de saúde, obedecendo aos princípios técnicos e éticos
XVII
de referência e contrarreferência.
Cuidar da própria saúde física e mental e buscar seu bem‑estar como cidadão e como
XVIII
médico.
Considerar a relação custo‑benefício nas decisões médicas, levando em conta as reais
XIX
necessidades da população.
Ter visão do papel social do médico e disposição para atuar em atividades de política e
XX
de planejamento em saúde.
XXI Atuar em equipe multiprofissional.
XXII Manter‑se atualizado com a legislação pertinente à saúde.

mento, em vez de meramente recebê‑lo (SOUZA; tamento dos problemas de saúde nos quais estejam
SILVA; SILVA, 2018). inseridos (SOUZA; SILVA; SILVA, 2018).
Trata‑se de uma concepção educacional a favor Com o uso dos métodos ativos de ensino e apren‑
do processo de ensino e aprendizagem, que pode dizagem, estão sendo buscadas mudanças de para‑
ser utilizada em experiências reais ou simuladas, digmas da relação clássica de poder vertical entre
integrando teoria e prática para a resolução de pro‑ docente‑discente para uma relação mais horizon‑
blemas. Permite que o estudante possa desenvolver tal, em que todos aprendem e contribuem com seus
competências ainda inexploradas, contrariamente valores, experiências e conhecimentos. No entanto,
ao enfoque apenas no conteúdo teórico. Isto con‑ é essencial que o currículo proposto apresente ob‑
tribui de forma significativa para a formação de jetivos de aprendizagem e estratégias de ensino
profissionais mais qualificados, fomentando com‑ bem definidos, com métodos de avaliação confiá‑
petências técnicas, éticas e políticas para o enfren‑ veis e válidos para o desenvolvimento das compe‑

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de competências


para marcos de competências e “Entrustable Professional Activities” (EPAs):
um entendimento necessário para adequações da formação médica 27
tências (BOLLELA; MACHADO, 2010; FONSECA; petentes. A aquisição de competências, integrando
OLIVEIRA, 2013; FERNANDES et al., 2012; SOUZA, conhecimentos, habilidades e atitudes em prol do
2012; PINILLA‑ROA, 2013). trabalho na prática, deve ser confirmada em um
As estratégias pedagógicas são essenciais para ambiente de trabalho.
promover a construção integradora do conheci‑ A organização do currículo no local de traba‑
mento, a observação reflexiva e a maior aproxima‑ lho (workplace curriculum) é um conjunto orde‑
ção possível do ambiente real. Porém, na maioria nado de experiências em um ambiente do mundo
dos cursos da área da saúde, ainda há uma escas‑ real que promove a aquisição de competências ne‑
sez da aplicação de metodologias ativas de aprendi‑ cessárias para atuar como profissional. Os recursos
zagem e poucas oportunidades de vivência prática que caracterizam um currículo no local de traba‑
dos futuros profissionais, que ainda são formados lho incluem: (i) uma trajetória de participação de
por currículos com base em estratégias tradicio‑ baixa a alta responsabilidade; (ii) acesso a conhe‑
nais de ensino (MARTINS, 2017). Muitas vezes, há cimentos que não seriam aprendidos apenas pela
o uso quase que exclusivo da aprendizagem base‑ descoberta; (iii) orientação direta de outras pes‑
ada em problemas como sinônimo do uso de me‑ soas e especialistas mais experientes; e (iv) orien‑
todologias ativas, o que tornou até jocosa a expres‑ tação indireta fornecida pelo ambiente físico e so‑
são que classifica os “cursos PBL”. cial (BILLETT, 2001, 2014).
Em todas as áreas de ensino dos profissionais de
saúde, é preciso ocorrer modificações do aprendi‑
zado clínico e diversificação dos cenários de apren‑ 4. O CONCEITO DE MARCOS DE COMPETÊNCIA
dizagem. Os métodos para a avaliação de compe‑
tências precisam se adaptar à nova realidade, e isso Existem inúmeros desafios na formação em saúde
inclui o uso de técnicas que facilitem o processo nas instituições de ensino das diferentes categorias
de avaliação do estudante durante o desenvolvi‑ profissionais, no sentido de promover o desenvolvi‑
mento de suas funções (AMARAL; DOMINGUES; mento do aprendiz com a responsabilidade de ofe‑
ZEFERINO, 2012). recê‑lo à sociedade como um profissional qualifi‑
Dessa forma, pode‑se concluir que a educação cado que atenda não somente às expectativas do
baseada em competências é definida por uma capa‑ sistema de saúde, mas, principalmente, que cor‑
cidade tangível de atuar no local de trabalho como responda positivamente às reais necessidades da
resultado da educação. É uma abordagem que visa população.
preparar futuros médicos para a prática orientada Apesar das dificuldades para superar a edu‑
para formar habilidades de resultados e organi‑ cação tradicional e incorporar metodologias de
zada em torno de competências derivadas de uma ensino e aprendizagem baseadas em competên‑
análise das necessidades sociais e dos pacientes. cias, tais necessidades têm seus principais pro‑
Ao valorizar as competências, o método destaca o gressos descritos no ensino de Medicina de língua
treinamento com base no tempo e promete maior inglesa (GRUPPEN; MANGRULKAR; KOLARS,
responsabilidade, flexibilidade e centralização no 2012; FERNANDES et al., 2012; BOLLELA;
estudante (FRANK et al., 2010). CASTRO 2014; LEUNG; TREVENA; WATERS,
A educação baseada em competências tem 2016; KLAMEM et al., 2016). Surgiram estudos
sido adotada por escolas médicas com o objetivo sobre o desenvolvimento de marcos de competên‑
de orientar a formação a partir da aplicação do co‑ cias, como as publicações do CanMEDS Framework
nhecimento e do desenvolvimento de habilidades (FRANK; DANOFF, 2007; VAN DER LEE et al.,
e atitudes. Esse método pressupõe uma avaliação 2013), Milestones (KORTE et al., 2013; TEHERANI;
formativa, em que se avalie o desempenho do estu‑ CHEN, 2014; TEN CATE et al., 2015), Tomorrows
dante em relação às competências previamente es‑ Doctors, do Reino Unido, e Scottish Doctor, da
tabelecidas (CARRACCIO et al., 2002; GRUPPEN; Escócia (VAN LOON, 2014).
MANGRULKAR; KOLARS, 2012; SANTOS, 2011). Os marcos de competências são descrições dos
Embora a competência tenha sido sempre o obje‑ conhecimentos, habilidades e atitudes para cada
tivo implícito das mais tradicionais estruturas edu‑ uma das competências esperadas durante a for‑
cacionais, a Competency‑Based Education (CBE) mação do estudante. São organizados de forma a
torna isso mais explícito, estabelecendo desempe‑ evidenciar os resultados de desenvolvimento pro‑
nhos observáveis e mensuráveis que os estudan‑ gressivo dos estudantes com base em competên‑
tes devem atingir para serem considerados com‑ cias, que vão desde a sua inserção na universi‑

28 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


dade até a pós‑graduação (WANCATA et al., 2016; até a prática profissional (nível 5) (Figura 2 e
LAMBA et al., 2016). Dessa forma, fornecem uma Tabela 2).
visão geral e de progressão para avaliar o desen‑ O marco de competência corresponde ao com‑
volvimento do graduando em Medicina e do mé‑ portamento observável dentro de cinco níveis de
dico‑residente em dimensões‑chave dos elementos proficiência, desde o nível 1 de entrada (graduando
da competência em uma especialidade ou subes‑ da escola médica), ao nível 5, a ser alcançado após
pecialidade e, posteriormente, a recertificação anos de prática clínica (Tabela 2). O nível 4 é o com‑
do médico especialista (WANCATA et al., 2016; portamento esperado para o médico‑residente para
LAMBA et al., 2016). a certificação inicial (WANCATA et al., 2016).
De maneira narrativa, descrevem as compe‑ Assim, a decisão de se desenvolverem marcos
tências que devem ser demonstradas repetida‑ para descrever as expectativas progressivas para
mente durante as programações curriculares em aprendizagem e desempenho é consistente com mo‑
ambientes clínicos com diferentes níveis de com‑ delos mais atuais de desenvolvimento. Tais modelos
plexidade (KRUPAT; PELLETIER, 2016). Isso per‑ enfatizam a natureza progressiva da aquisição de
mite a possibilidade de feedback formativo para conhecimentos, proporcionando a base conceitual
estímulo a mudanças nos comportamentos obser‑ para marcos de competência (LOMIS et al., 2017).
vados, além de possibilitar uma maior precisão na A formação generalista é a base de atuação do
aplicação de escalas avaliativas (BEESON et al., futuro egresso e tem como objetivo o fortalecimento
2013; LOMIS et al., 2017; PAGE et al., 2017). Esse do SUS e, em especial, da Atenção Primária à Saúde
modelo expandiu‑se nas variadas especialida‑ e das urgências. Nesse contexto, o profissional de‑
des médicas (SWING et al., 2013), como Cirurgia senvolverá atividades com usuários de todos os ci‑
Geral (LYLE et al., 2016; DROLET et al., 2017), clos de vida. Além disso, é a base também para futu‑
Pediatria (HICKS et al., 2010; BARTLETT et al., ras especializações nas linhas de atenção e cuidados,
2015) e Urologia (SMITH et al., 2017), com desta‑ cujas prevalências de morbimortalidades sejam es‑
que para a Medicina de Emergência (BEESON et al., tatisticamente significativas para a organização em
2014; PECK et al., 2014; BEESON et al., 2015; rede dos serviços e do trabalho.
KETTERER et al., 2017), cujos avanços no cuidado Para atingir essa formação desejada, é necessá‑
multiprofissional ocorrem em todo o mundo. ria a construção de autonomia e de práticas que se
Com cada especialidade médica desenvolvendo ancorem na integralidade. Somente em um cenário
metas voltadas para sua área de atuação, houve a educacional em transformação é possível construir
necessidade de desenvolver nomenclatura comum uma prática médica também transformadora, a des‑
a todas (LYLE, 2016). Um conjunto de marcos de peito de todos os desafios (FREITAS et al., 2018).
competência consiste na definição de todas as eta‑ A expectativa é de que os marcos de competên‑
pas de desenvolvimento em todos os níveis para uma cia sejam indicadores de qualidade dos programas
subcompetência em particular (WANCATA et al., de aprendizado nos vários momentos da forma‑
2016; DROLET et al., 2017). ção e da prática médica. Dessa forma, na avalia‑
Os marcos de competências representam ha‑ ção individual dos aprendizes, pode‑se monitorar
bilidades explícitas ou comportamentos que ocor‑ o progresso por meio desses marcos e determinar
rem durante o processo de tornar o médico capaz se houve progresso, estagnação ou regressão como
de desenvolver suas atividades profissionais de uma indicação da necessidade específica de corre‑
modo confiável, definidas para cada especialidade ções (PAGE et al., 2017).
(WANCATA et al., 2016). Esses marcos aumentam Por outro lado, os marcos das competências ava‑
a compreensão acerca das competências quando liadas também serão utilizados para determinar se
apresentadas de uma forma geral e estanque por: existem lacunas nos programas curriculares ou da
1) descrever competências mais específicas do que residência médica que precisam ser adequadas. Isso
o modelo atual; também poderá ser usado para garantir segurança
2) identificar o núcleo específico da especialidade aos pacientes, à sociedade, aos prestadores de ser‑
sobre conhecimentos, habilidades, atitudes e viços e aos formuladores de políticas de atenção à
crenças; saúde (BEESON et al., 2013a).
3) descrever as subcompetências como progres‑ Muito embora esteja ocorrendo essa evolução
sões dos conhecimentos, habilidades, atitudes na educação médica, na formação em enfermagem
que devem ser demonstrados desde a gradua‑ é um tema ainda a ser explorado, pois ainda per‑
ção (nível 1), residência médica (níveis 2 a 4) manece a visão de que o conteúdo ensinado de‑

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de competências


para marcos de competências e “Entrustable Professional Activities” (EPAs):
um entendimento necessário para adequações da formação médica 29
Figura 2. Nomenclaturas dos marcos de competências utilizadas no modelo da ACGME. PC refere‑se à primeira
competência geral “Assistência ao Paciente” e o número mostra que é a 3a subcompetência relacionada à PC, estando o
conjunto progressivo de marcos de competência definidos para cada nível de proficiência, desde a graduação (nível 1),
residência médica (níveis 2 a 4) e prática profissional (nível 5). Fonte: adaptada de Beeson et al. (2013b).

Tabela 2. Interpretação geral dos níveis de proficiência. Fonte: traduzida de Accreditation Council for Graduate Medical
Education and American Board of Emergency Medicine (2013).

Nível de proficiência Definição


O aluno de Medicina recém‑formado, ao entrar na residência médica, demonstra
1
estes marcos esperados.
O médico‑residente está avançando e demonstra marcos adicionais, mas ainda
2
não atingiu o nível intermediário para o programa de residência.
O médico‑residente continua a avançar e demonstrar marcos adicionais, sendo
3 que a maioria dos marcos de competência direcionados para a área específica da
residência médica está presente nesta subcompetência.
O médico‑residente tem avançado de forma a demonstrar que atingiu
4 substancialmente os marcos de competência previstos para o programa de
residência. Este nível é concebido como o alvo final da residência médica.
O médico‑residente tem avançado além das metas de desempenho estabelecidas
para o programa de residência médica. Demonstra metas atingidas para
5 aspirações maiores, no mesmo nível do profissional que esteja atuante na prática
há vários anos. Espera‑se que apenas alguns médicos‑residentes de desempenho
excepcional atinjam este nível.

30 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


pende da concepção dos docentes, e, geralmente, termos de competências iniciais para cada etapa.
possui uma disciplina específica para essas abor‑ Desta forma, as escolas médicas podem ter uma
dagens (MEYER et al., 2017; FILHO et al., 2017). É compreensão muito mais clara do conhecimento
muito importante que o ensino em Enfermagem e básico e das habilidades esperadas dos estudantes
outras áreas da saúde tenham essa evolução para de graduação (PECK et al., 2014).
que se possa permitir a educação e o trabalho Um tema que tem ganhado cada vez mais im‑
interprofissional. portância diz respeito ao conhecimento que os mé‑
dicos têm sobre o sistema de saúde e sobre a capa‑
4.1. MARCOS DE COMPETÊNCIA NA RESIDÊNCIA cidade para torná‑lo mais eficaz na assistência aos
MÉDICA pacientes. Os médicos devem ser capazes de colabo‑
Conforme mostrado na Tabela 2, o nível 1 possui rar com outros membros da equipe de saúde, tanto
os marcos projetados para corresponder ao nível de no ambiente pré quanto intra‑hospitalar, além de
competência dos estudantes de Medicina ao se for‑ considerar os custos avaliando riscos e benefícios,
marem, ou seja, antes de entrarem na residência. melhorando, assim, o desempenho do sistema por
Esses resultados são úteis para o desenvolvimento meio da identificação de erros de encaminhamento
de um método válido para a avaliação do desempe‑ e de comunicação entre os diferentes níveis da rede
nho médico dos estudantes. Isso permite que cada de atenção à saúde. Além disso, espera‑se que os
instituição possa adequar seu currículo em direção médicos consigam implementar potenciais solu‑
às metas de seus estudantes para alcançarem esses ções que contribuam para a melhoria da qualidade
resultados (BARTLETT et al., 2015). da assistência aos pacientes (CHAN et al., 2012).
Na avaliação dos programas de residência mé‑ O próximo desafio para cada especialidade du‑
dica, enquanto os requisitos essenciais se referem rante a residência médica é o desenvolvimento de
à sua estrutura ou processo (por exemplo, volume medidas de resultados objetivos de avaliação dos
de serviço de emergência, registros de casos etc.), marcos das subcompetências. Assim, múltiplos ins‑
as exigências de resultados são “declarações que trumentos de avaliação terão de ser desenvolvidos
especificam atributos esperados mensuráveis ou para fornecer medidas objetivas de uma ou mais
observáveis (conhecimentos, habilidades e atitu‑ subcompetências dentro dos marcos (KOGAN et al.,
des) nas várias fases da formação médica” (FRANK, 2009).
SNELL, SHERBINO, 2015). Ainda, estudos mais recentes foram desenvol‑
Ao padronizar os resultados esperados da apren‑ vidos para demonstrar a validade e a confiabili‑
dizagem na residência médica, os marcos irão de‑ dade dos marcos de competência como um ins‑
finir objetivamente quais os indicadores de co‑ trumento de avaliação para seu uso disseminado
nhecimento e aquisição de habilidades a serem (BEESON et al., 2015; LOMIS et al., 2017).
monitorados. Isso irá assegurar que o desenvol‑ Com os marcos de competências, a capacidade
vimento profissional ocorra antes da certificação de agrupar medidas em diferentes configurações
pelo programa de formação e que o médico‑resi‑ possibilita identificar tendências do desempenho
dente seja minimamente competente para a prá‑ do estudante, revelando a necessidade ou não de
tica, independentemente de sua especialidade mé‑ melhorias. Esses marcos orientam os docentes no
dica (BEESON et al., 2014). processo de desenvolvimento de suas programações
Na outra extremidade desse espectro de forma‑ dentro da matriz curricular ao longo do curso, bem
ção, os marcos têm o potencial para determinar o como no processo de avaliação, gerando um modelo
grau de desenvolvimento profissional mesmo após que pode ser compartilhado entre diversas progra‑
o término da residência médica, especialmente no mações no que diz respeito ao conhecimento, habi‑
que se refere à manutenção da certificação. Em lidades e comportamentos esperados dos estudan‑
2004, o programa de manutenção da certificação tes (GONTIJO et al., 2013; SANTEN et al., 2014).
foi desenvolvido para assegurar que os médicos Os relatórios do nível de proficiência deverão
estejam comprometidos com a aprendizagem ao ser fundamentados em dados objetivos para garan‑
longo da vida (educação permanente), mantendo tir uma avaliação coerente e adequada. Isso será um
as competências necessárias em sua especialidade importante aspecto do processo de certificação e
(BEESON et al., 2015). sua manutenção. Os instrumentos desse processo
Os marcos de competência tornam transparen‑ ainda devem incluir relatórios padronizados, for‑
tes as expectativas dos programas de formação, uma mação de um comitê de competências clínicas e uso
vez que determinados resultados são esperados em de aquisição dos marcos de competência como re‑

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de competências


para marcos de competências e “Entrustable Professional Activities” (EPAs):
um entendimento necessário para adequações da formação médica 31
flexo do desempenho do médico‑residente e de seu dos das competências desejadas estão sendo obti‑
programa (KETTELER et al., 2014). dos, o que claramente é útil como fonte de dados
O comitê de competências clínicas servirá para para discussões sobre melhorias e monitoramento
reunir informações sobre o desempenho de cada dos impactos potenciais das mudanças curriculares
médico‑residente e dos respectivos programas, aju‑ (SANTEN et al., 2014; FRANCO; CUBAS; FRANCO,
dando a equalizar as variações das avaliações entre 2014; FREITAS et al., 2018).
diferentes avaliadores e contribuindo para diminuir Quanto à sua aplicação, discute‑se sobre o con‑
a ameaça à integridade dos dados e de seus resulta‑ texto em que os marcos serão especificados e ob‑
dos (KETTELER et al., 2014). Há ainda várias van‑ serváveis, o número de marcos agrupados dentro
tagens em relação ao funcionamento deste comitê: de cada nível ou o número total de competências e
‑ embora esta tarefa envolva reuniões frequentes subcompetências a serem desenvolvidas e avalia‑
(mensais), não é onerosa. Depois de um certo das, o que, eventualmente, pode prejudicar a prá‑
tempo, duram cerca de uma hora; tica para a avaliação, necessitando de adequações
‑ as expectativas dos médicos‑residentes são mais da instituição de ensino (SCHUWIRTH; VAN DER
claras e, pela natureza dos marcos de compe‑ VLEUTEN, 2011; ENGLANDER et al., 2013). Esses
tência, são observáveis e tangíveis. O feedback questionamentos levaram à introdução do con‑
ocorre, geralmente, dentro de uma semana após ceito de Entrustable Professional Activities (EPAs)
a reunião com cada médico‑residente e gera co‑ (TEHERANI; CHEN, 2014; TEN CATE et al., 2015).
mentários e metas da direção do programa. O
foco dessas reuniões é definir o que os médi‑
cos‑residentes fazem bem e onde eles deveriam 5. A EVOLUÇÃO DOS MARCOS DE COMPETÊNCIAS
se esforçar para melhorar; PARA O CONCEITO DE ENTRUSTABLE PROFESSIONAL
‑ os preceptores familiarizados com as metas são ACTIVITIES (EPAS)
capazes de treinar mais efetivamente os médi‑
cos‑residentes, tornando claras as competên‑ Os marcos de competência descrevem de maneira
cias, até que eles estejam “de volta ao caminho narrativa as competências que se desenvolvem ao
certo” para a conclusão bem‑sucedida do pro‑ longo de um período de formação profissional e que
grama de residência; devem ser demonstradas repetidamente ao longo
‑ os médicos‑residentes que não atinjam metas da formação do aprendiz em ambientes clínicos
apropriadas podem ser alocados em ações de de diferentes níveis de complexidade (KRUPAT;
recuperação para que entendam que o resul‑ PELLETIER, 2016; WANCATA et al., 2016;
tado potencial de não alcançarem tais marcos LAMBA et al., 2016; PEREIRA, 2015; TEHERANI;
de competências pode determinar repetição de CHEN, 2014; TEN CATE et al., 2015).
um ano ou até mesmo a exclusão do programa No entanto, por causa da grande quantidade de
de treinamento; marcos de competências existentes e suas caracte‑
‑ a função do comitê e a maior compreensão dos rísticas de pouca integração, síntese e aplicabilidade,
marcos têm ajudado não só a avaliar melhor os notou‑se a necessidade de uma maior especificidade
médicos‑residentes, mas também os estágios para avaliação dos aprendizes nas atividades práti‑
necessários para garantir a oferta de experiên‑ cas. Assim, foi concebido o conceito de Entrustable
cias que ajudem a alcançar os marcos de com‑ Professional Activities (EPAs), ou atividades profis‑
petências necessários. sionais confiáveis (o melhor equivalente termino‑
A melhor forma de avaliação do comportamento lógico em português).
do médico‑residente é a observação direta da pres‑ As EPAS são unidades da prática profissional
tação de cuidados clínicos em seu ambiente de prá‑ alinhadas aos cuidados clínicos, que traduzem os
tica (avaliação no cenário de trabalho). Alguns edu‑ elementos da prática clínica em níveis de profici‑
cadores argumentam que esse é o método ideal de ência (PEREIRA, 2015). Trata‑se de uma maneira
avaliação de competências, porque fornece o con‑ de definir quais seriam as competências necessá‑
texto da prática profissional, em vez da avaliação rias para que o egresso possa exercer sua atividade
simulada ou padronizada (KOGAN et al., 2009). profissional de maneira confiável.
Os resultados fornecidos pelas avaliações dos Na Medicina de Emergência, por exemplo, as
marcos de competências servem como alertas so‑ EPAs se caracterizam por unidades da prática pro‑
bre o desempenho do currículo. A avaliação de uma fissional alinhadas aos cuidados clínicos no setor de
turma de estudantes pode mostrar se os resulta‑ urgência (BEESON et al., 2014). Apresentam poten‑

32 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


cial para traduzir elementos da prática clínica em ní‑ sões de avaliação e certificação (ASSOCIATION
veis de proficiência das subcompetências dos marcos. OF AMERICAN MEDICAL COLLEGES, 2014).
Como são clinicamente relacionadas, facilitam para o As EPAs possuem as seguintes vantagens:
corpo docente avaliar a prática clínica, em compara‑ ‑ são atividades que fazem sentido para os pro‑
ção com os marcos de competências (BEESON et al., fessores, os estagiários e também o público;
2014). E cada especialidade médica, de forma espe‑ ‑ representam o trabalho do dia a dia do profis‑
cífica, definiu seus critérios da forma de apresenta‑ sional;
ção de suas unidades de prática profissional. ‑ situam as competências e seus marcos no con‑
Mais recentemente, as várias associações mé‑ texto clínico;
dicas americanas e dos demais países do primeiro ‑ possibilitam uma avaliação mais prática do que
mundo vêm discutindo esse modelo conceitual, os marcos de competência, utilizando agrupa‑
usado na implementação da educação médica base‑ mento de atividades significativas;
ada na competência (Figura 3). O tutor/facilitador ‑ adicionam explicitamente as noções de con‑
deve apoiar o estudante como protagonista na sua fiança e supervisão na equação de avaliação.
trajetória rumo à competência e, logo, à indepen‑ A relação entre as EPAs e as competências está
dência, em um processo de autonomia crescente, bem descrita na literatura. As EPAs são unidades
à medida que esteja mais confiante. É complexo o de trabalho, enquanto as competências são os co‑
processo do preceptor realizar diuturnamente jul‑ nhecimentos, habilidades e atitudes dos indivíduos
gamentos acerca da confiabilidade do estudante (EL-HADDAD et al., 2016). As EPAs requerem a in‑
para desempenhar as unidades essenciais de prá‑ tegração de várias competências, geralmente en‑
tica profissional. Tais atividades profissionais cons‑ tre diferentes competências gerais (domínios) dos
tituem um legítimo instrumento processual de for‑ marcos (Figura 4).
jamento de profissionais dignos de confiança para São necessárias duas premissas fundamentais
desempenhá‑las com sucesso, isto é, são genuina‑ para toda EPA: confiabilidade e autoconsciência
mente confiáveis (NEUMANN et al., 2019). das limitações individuais, que gera comportamento
As EPAs são as tarefas ou responsabilidades que de busca de ajuda. Portanto, essas duas premissas
os médicos com adequada formação devem execu‑ devem ser documentadas para cada aprendiz an‑
tar sem supervisão depois de atingir os níveis de tes de ser tomada qualquer decisão sobre a avalia‑
competências específicas considerados suficientes. ção (ASSOCIATION OF AMERICAN MEDICAL
As EPAs definem atividades que requerem profi‑ COLLEGES, 2014).
ciência em várias competências simultaneamente e Outra característica das EPAs é a necessidade
são um foco mais adequado para avaliação de com‑ de integração de subcompetências, geralmente en‑
petências distintas, sendo independentemente exe‑ tre domínios ou entre competências gerais dos mar‑
cutáveis, observáveis e mensuráveis no seu processo cos (ASSOCIATION OF AMERICAN MEDICAL
e resultado e, portanto, apropriadas para as deci‑ COLLEGES, 2014; TEN CATE et al., 2015).
O número de vezes que cada competência foi
vinculada a cada EPA é um componente crítico
quanto à decisão de avaliação pelo supervisor. As
competências gerais de comunicação interpessoal
(equipe multiprofissional, pacientes e familiares)
e profissionalismo são as mais fundamentalmente
citadas para a realização das EPAs (TEN CATE,
2013; ASSOCIATION OF AMERICAN MEDICAL
COLLEGES, 2014).
Embora a relação entre EPA e competência seja
relativamente bem definida na literatura, sendo que
a primeira oferece contexto clínico para a segunda
(Tabela 3), a relação entre EPA e marco de compe‑
tência não o é.
Cada EPA pode ser mapeada para as compe‑
Figura 3. Relações entre as EPAs para cada fase da
tências críticas utilizadas para a tomada de deci‑
formação médica. Fonte: adaptada de Association of são durante a avaliação, e cada competência, em
American Medical Colleges (2014). seguida, tem marcos associados que representam

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de competências


para marcos de competências e “Entrustable Professional Activities” (EPAs):
um entendimento necessário para adequações da formação médica 33
Figura 4. As EPAs requerem a integração de subcompetências, geralmente a partir de dois ou mais domínios (competências
gerais). Para cada subcompetência, então, marcos podem ser estabelecidos e, em seguida, sintetizados em narrativas
descritivas de comportamentos esperados para os estudantes/médicos‑residentes em níveis pré‑confiáveis e confiáveis
de desempenho. M1 e M2 são marcos de competências para cada subcompetência. Fonte: traduzida de Association of
American Medical Colleges (2014).

Tabela 3. A comparação das vantagens e desvantagens dos dois modelos conceituais: competências e EPAs. Fonte:
traduzida de Association of American Medical Colleges (2014).

EPAs Marcos de competência


• São “atividades” que fazem • As competências têm sido a base
sentido para os professores, os para a avaliação há mais de uma
estagiários e o público. década.
• Representam o trabalho do dia a
• No total, definem o “bom médico”.
dia do profissional.
• Têm evidências razoáveis em
• Situam competências e marcos
torno da avaliação dos domínios
no contexto clínico em que se
“tradicionais” (conhecimento médico
Vantagens vive.
e assistência ao paciente)
• Têm sido utilizados para
• Permitem avaliação mais
o estabelecimento ou o
prática por grupos de marcos em
desenvolvimento de marcos de
atividades significativas.
desempenho.
• Adicionam explicitamente
noções de confiança e supervisão
na avaliação.
• Foram recentemente
• São abstratos.
introduzidas na literatura.
• São granulares e, portanto, muitas
• Houve pouca operacionalização
vezes não refletem a maneira como se
em todo o mundo.
Desvantagens pensa ou se observa os alunos.
• Foram desenhadas
originalmente para a transição da
residência para a vida profissional
subsequente.

34 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


definições de comportamento para progressão dos quer fase de sua formação, qual o nível específico
níveis de desempenho (DWYER et al., 2016). Assim, de supervisão exigida (Tabela 4).
uma EPA está diretamente relacionada aos mar‑ Existem várias características que pesam na de‑
cos para determinadas competências (TEN CATE, cisão de confiar ao aprendiz, em qualquer nível de
2013; ASSOCIATION OF AMERICAN MEDICAL sua formação, a responsabilidade assistencial de
COLLEGES, 2014). pacientes (TEN CATE et al., 2015):
Uma vez determinadas as competências crí‑ • qualidades fundamentais, baseadas, principal‑
ticas para cada EPA, desenvolvem‑se metas para mente, na competência e raciocínio clínico;
cada competência, com dois pontos descritivos: 1) • consciência e confiança nas ações;
o ponto em que o estudante/médico‑residente se‑ • veracidade e honestidade;
ria considerado “pré‑confiável” (ou seja, ainda não • discernimento de suas limitações e propensão
é capaz de realizar a atividade sem supervisão di‑ a pedir ajuda, se realmente necessário;
reta); e 2) o ponto em que o estudante/médico‑resi‑ • empatia, compreensão e receptividade para com
dente poderia ser considerado “confiável” (ou seja, os pacientes;
é capaz de realizar a atividade sem supervisão di‑ • habilidade na comunicação e colaboração in‑
reta). Em seguida, sintetizam‑se as metas combi‑ terprofissional;
nadas do estudante/médico‑residente pré‑confiá‑ • sentimento de autoconfiança e segurança em
vel para criar a narrativa e a descrição dos pontos agir;
(TEN CATE, 2013; ASSOCIATION OF AMERICAN • hábitos de autoavaliação, reflexão e desenvol‑
MEDICAL COLLEGES, 2014). O mesmo foi feito vimento;
utilizando os marcos de competência para o estu‑ • senso de responsabilidade;
dante/médico‑residente confiável. Uma vez cria‑ • capacidade adequada para lidar com erros pró‑
das descrições comportamentais e traduzidas em prios e alheios.
competências clínicas, estas podem ser usadas como Como tais decisões são normalmente tomadas
base para avaliação pelo corpo docente (Figura 4). sem muito tempo para deliberação criteriosa, mui‑
Os resultados da avaliação baseada nas EPAs tas vezes são baseadas em “intuição” e com informa‑
permitem apontar em relação ao aprendiz, em qual‑ ções limitadas. Isso não significa, necessariamente,

Tabela 4. Prerrogativas relacionadas aos níveis de supervisão. Fonte: traduzida de Ten Cate et al. (2015).

Níveis de supervisão Definição


1 Estar presente e observar.
Atuar com supervisão proativa direta, ou seja, com supervisor fisicamente
presente no local:
2 a) realiza o ato, auxiliado pela supervisão;
b) age sozinho, com o supervisor presente na sala, pronto para intervir se
necessário.
Agir com supervisão reativa indireta, ou seja, prontamente disponível a pedido por
meio de telefonia e/ou modalidades eletrônicas:
a) age com supervisor imediatamente disponível, sendo todas as decisões
definidas em conjunto;
3
b) age com supervisor imediatamente disponível, porém as principais decisões são
definidas em conjunto;
c) age com supervisor disponível a distância (por exemplo, por telefone), devendo
revisar os achados e as decisões.
Agir com supervisão não imediatamente disponível no local, mas com supervisão
4
distante e vigilante.
5 Fornecer supervisão de aprendizes mais inexperientes.

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de competências


para marcos de competências e “Entrustable Professional Activities” (EPAs):
um entendimento necessário para adequações da formação médica 35
que a tomada de tais decisões seja imprecisa, pois Esse esquema pedagógico avaliativo foi intro‑
nem tudo que fundamenta uma decisão pode ser tra‑ duzido no campo da educação médica pelo holan‑
duzida em números, escalas ou mesmo palavras. Às dês Olle ten Cate e permite operacionalizar os pro‑
vezes, a supervisão “sente” que pode confiar ou não cessos de confiabilidade que os bons professores
no aprendiz. Essa confiança presuntiva com base clínicos já faziam intuitivamente no dia a dia. O
em credenciais anteriores, combinada à confiança esquema desse autor coloca a avaliação de com‑
inicial após breve observação, pode ser suficiente petências no contexto adequado da prática mé‑
para se assumir a decisão de deixar o aprendiz re‑ dica, justamente por meio da linguagem da con‑
alizar ações médicas sobre o paciente, que seriam fiança, um conceito essencial e nuclear da atenção
de responsabilidade profissional da própria super‑ à saúde. É possível reconhecer a aplicabilidade prá‑
visão. Em determinado momento da formação, as tica do esquema avaliativo fundamentado nas EPAs
decisões que demandam anuência para agir sem durante o internato médico, já que leva em conta
supervisão devem ser baseadas em avaliações sis‑ não só as definições abrangentes e integrativas de
temáticas que considerem as qualidades do apren‑ competências, mas também sua conotação legal.
diz (TEN CATE et al., 2015). Alguns critérios po‑ Isso significa que o aprendiz adquire por mérito a
dem fundamentar tais decisões: capacidade e o direito de atuar como profissional
• desempenho em exames cognitivos e de habi‑ (NEUMANN et al., 2019).
lidades; Em artigo publicado em português em 2019
• observações diretas por parte dos superviso‑ na Revista Brasileira de Educação Médica,
res, relacionados com o desempenho nas EPAs “Guia Atualizado sobre Atividades Profissionais
Confiáveis”, Olle ten Cate fez uma revisão do estado
específicas;
da arte do trabalho com as atividades profissionais
• observação e feedback por parte de pacientes e
confiáveis (APCs) em diferentes disciplinas, profis‑
colegas;
sões e países, mostrando que esse conceito surgiu
• auditoria da prática e dos registros médicos;
pela primeira vez em 2005 e agora tem se tornado
• uso de técnicas de ensino utilizadas pelos pre‑
popular nos programas de pós‑graduação e, mais re‑
ceptores na observação dos aprendizes;
centemente, nos de graduação (TEN CATE, 2019).
• credenciais anteriores, confiança e reputação
Em 2019, diversos autores gaúchos escreveram
relatada pelos colegas;
um livro no qual se encontra a descrição de uma tra‑
• verificação amostral da precisão das informa‑ jetória percorrida por docentes, com o objetivo de
ções relatadas no item anterior; ampliar a avaliação por competências no internato,
• apresentações de casos clínicos nas visitas mé‑ introduzindo o conceito de EPAs – o qual traduzi‑
dicas e discussões que se seguem; ram como atividades profissionais confiabilizado‑
• avaliação de casos atendidos e situações espe‑ ras –, de reconhecido valor na avaliação de habilida‑
cíficas durante o plantão; des durante a formação dos profissionais da saúde
• discussões de casos elaborados para esta (NEUMANN et al., 2019).
finalidade;
• exercícios de autorreflexão;
• auditoria e análise de fatos relevantes, identifi‑ 6. USO DE MARCOS DE COMPETÊNCIA E EPAS NA
cando as lacunas de aprendizagem; SIMULAÇÃO CLÍNICA
• feedback de múltiplas fontes sobre habilidades
interprofissionais; A simulação clínica se apresenta como uma possível
• condução de casos clínicos e de investigação estratégia de ensino e/ou avaliação, por meio da qual
por iniciativa própria; se pode conquistar e/ou confirmar competências
• sinais de preparação e iniciativas/proatividade; clínicas, otimizar métodos de avaliação na forma‑
• atribuição de tarefa em que a segurança do pa‑ ção profissional, atributos interpessoais, capacidade
ciente pode ser avaliada. de raciocínio clínico, tomada de decisão, habilida‑
Avançar para o próximo nível de responsabili‑ des técnicas, entre outros (MONTIEL et al., 2012).
dade e autonomia exige a coleta de informações vá‑ Uma revisão sistemática sobre as característi‑
lidas sobre os formandos e a utilização sistemática cas e usos de simulações médicas levou à identifi‑
de instrumentos e métodos empregados, principal‑ cação baseada em evidências e proposta de recur‑
mente nos cenários de prática (TEN CATE et al., sos e melhores práticas para o ensino médico eficaz
2015). com base em simulação (ISSENBERG et al., 2005):

36 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


1. Feedback. tes precisam praticar sob supervisão em pacientes
2. Prática repetitiva/deliberada. reais. Isso também vale para as habilidades relacio‑
3. Integração curricular. nadas à gestão em saúde: é necessário que o apren‑
4. Medição de resultados. diz realize treinamento em sistemas de prestação
5. Fidelidade da simulação e validade do simulador. de cuidados em equipes para aprender a partici‑
6. Aquisição e manutenção de habilidades. par e liderar equipes de saúde (CHACKO, 2017).
7. Aprendizado de domínio individualizado. Para os estudantes, as experiências de aprendi‑
8. Transferência para a prática. zagem baseada em simulação incorporadas ao cur‑
9. Treinamento de equipe. rículo oferecem a oportunidade ideal para praticar
10. Teste de alto risco. o atendimento ao paciente longe da beira do leito.
11. Treinamento de instrutores. Em ambiente simulado, é possível aplicar os princí‑
12. Contexto educacional e profissional. pios da aprendizagem e da prática deliberada para
O princípio da educação baseada em simulação o domínio de conhecimentos e habilidades.
é que haja a transferência das competências ad‑ Como há muitos caminhos para desenvolver e
quiridas em atividades simuladas, em que o trei‑ avaliar as competências nas atividades simuladas,
namento permite a aquisição de habilidades cog‑ é necessário desenvolver e aprimorar métodos de
nitivas, afetivas e psicomotoras adquiridas fora do ensino e aprendizagem e avaliação de competências
local de trabalho e possa servir na melhor qualifi‑ que sejam capazes de assegurar resultados confiá‑
cação e segurança para a resolução dos problemas veis (MOADEL, EVANS, 2015).
dos pacientes no ambiente clínico. O treinamento Nesse contexto, os marcos de competências fo‑
com base em simulação está muito próximo desse ram desenvolvidos e são utilizados para a avaliação
modelo de aprendizagem em seu design, e o rea‑ da progressão do aprendiz. Sabe‑se que, original‑
lismo dos ambientes de ensino simulados pode ser mente, as EPAs foram criadas para serem desenvol‑
um fator que influencia a transferência da apren‑ vidas no contexto da prática, no entanto há estudos
dizagem cognitiva, afetiva e psicomotora para o lo‑ na área médica que demonstram a possibilidade de
cal de trabalho (KHAN et al., 2010). serem realizadas em simulação clínica, pela capaci‑
Não há dúvida sobre a necessidade de simula‑ dade de similitude desse método com o contexto real
ção na educação médica no currículo com base em da prática clínica em saúde (CROFT et al., 2020).
competências, para que os estudantes possam ter No atual momento, a educação médica base‑
os melhores resultados pela capacitação e treina‑ ada em simulação vem procurando estudar e uti‑
mento prévio (SAVOLDELLI, VAN GESSEL, 2016). lizar as melhores práticas, buscando maximizar
O pré‑treinamento no simulador ou no ambiente seus benefícios educacionais no contexto do currí‑
simulado antes do encontro com o paciente aborda culo por competências (CHACKO, 2017). As EPAs
as questões de segurança nas condutas e procedi‑ podem fornecer uma plataforma para decisões de
mentos. Isso salvaguarda as instituições de ensino confiança em torno das principais habilidades, pre‑
quando confrontadas por aquele que fizer propa‑ enchendo, assim, a lacuna entre a teoria e a prática
ganda negativa de que “os pacientes estão sendo (CROFT et al., 2020).
tratados pelos estudantes”. Existem várias restrições e desafios práticos
Para os pacientes, ter estudantes e médicos‑re‑ que precisam ser superados na implementação de
sidentes treinados em simulação é a garantia de que programas de treinamento em simulação, como
estes tenham desenvolvido um nível mínimo de restrições de tempo, falta de capacitação do corpo
competência antes de sua interação clínica. Isso os docente, alto custo do equipamento e de sua ma‑
deixa mais dispostos a permitir que os estudantes nutenção e restrições de espaço necessário para la‑
realizem procedimentos, uma vez que já tiveram o boratórios educacionais. Como os simuladores não
treinamento em simulação (GRABER et al., 2005). substituem educadores treinados em bons princí‑
No entanto, a educação médica baseada em si‑ pios educacionais e técnicas de ensino, esses pro‑
mulação é apenas um complemento e não substitui fessores precisam ser identificados e receber trei‑
os muitos métodos e estratégias educacionais exis‑ namentos no uso de simulação (CHACKO, 2017).
tentes no ambiente clínico tradicional para garantir Em um estudo, EPAs de complexidade crescente
que os graduandos se tornem competentes. Após a foram propostas para as responsabilidades e com‑
experiência de aprendizagem baseada em simulação petências dos membros do corpo docente que en‑
para desenvolver o nível mínimo de competências sinam no laboratório de simulação. A abordagem
para a prestação de cuidados seguros, os estudan‑ em camadas das EPAs ajudou os docentes a ganhar

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a evolução do conceito de competências


para marcos de competências e “Entrustable Professional Activities” (EPAs):
um entendimento necessário para adequações da formação médica 37
confiança em suas habilidades e a entender como tente e positiva. Dessa forma, a adoção de currícu‑
progrediam, o que era benéfico para eles e seus es‑ los com simulação fundamentados em EPAs nos
tudantes, e os julgamentos de competência de ní‑ anos clínicos é viável e generalizável, garantindo
vel pessoal eram informados por múltiplas EPAs, uma boa avaliação formativa. E a avaliação forma‑
diretamente observáveis e mensuráveis. Por isso, é tiva longitudinal utilizando atividades simuladas é
fundamental que se tenha processos bem definidos de extrema importância no desenvolvimento efi‑
para garantir maior competência entre os respon‑ caz das EPAs essenciais (HERRIGEL et al., 2020).
sáveis pela formação das gerações futuras de pro‑
vedores de saúde, visto que a implementação de
EPAs para líderes de simulação pode ser um mé‑ 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
todo para alcançar esse objetivo (GARDNER; GEE;
AHMED, 2018). As EPAs são tarefas clínicas observáveis e execu‑
Outro estudo desenvolveu uma ferramenta cha‑ táveis que refletem uma ou mais competências clí‑
mada E‑ASSESS (EPA Assessment for Structured nicas. O objetivo é que os estudantes realizem seu
Simulated Emergency Scenarios) para coletar evi‑ trabalho com segurança e eficácia sem supervisão,
dências que apoiassem o uso das EPAs em simu‑ uma vez que tenham demonstrado competência
lação para fornecer informações de avaliação que suficiente e se tornem confiáveis na sua execução.
pudessem contribuir potencialmente para as de‑ No final do treinamento, a atividade profissional
cisões sobre confiabilidade. Essa ferramenta pode deve ser realizada com segurança. Isso significa
ser um modelo para outras semelhantes que visam que a avaliação do estudante deve ser enfocada na
informar decisões sobre independência na realiza‑ sua capacidade de realizar e de lidar com quais‑
ção das atividades práticas (ANDLER et al., 2020). quer acontecimentos inesperados que ocorram du‑
A incorporação da educação médica baseada em rante a atividade.
simulação no currículo pode ser alcançada usando a A simulação oferece uma oportunidade única
ferramenta de mapeamento do currículo. Por meio para avaliar as EPAs e medir, objetivamente, as ha‑
dele, é possível identificar e abordar todas as EPAs bilidades sem ameaça à segurança do paciente.
necessárias. A avaliação das competências pode ser reali‑
Para superar esse desafio relacionado ao corpo zada durante a observação do desempenho de um
docente da educação médica baseada em simula‑ aprendiz, integrando os vários componentes e sub‑
ção, as instituições devem recompensar adequa‑ componentes dos domínios de cada marco de com‑
damente os educadores por meio de promoções e petência, e é sempre necessária, anteriormente a
garantir‑lhes um tempo protegido para ensinar, rea‑ qualquer decisão de atribuição. Já as competências
lizar pesquisas adicionais e participar de avaliações são medidas e avaliadas para assegurar a sua aqui‑
periódicas do programa para melhorar a qualidade sição por parte do aprendiz, e, se forem avaliadas
e a eficácia do treinamento com base em simulação. no contexto do desempenho, apresentam melho‑
As instituições também devem priorizar a simula‑ res resultados (ASSOCIATION OF AMERICAN
ção em seus hospitais (simulação in situ), de acordo MEDICAL COLLEGES, 2014).
com as necessidades curriculares, por meio do ma‑ A discussão apresentada tem a intenção de ser
peamento do currículo, tendo em mente as instala‑ fonte inspiradora de reflexões para a elaboração e
ções e oportunidades disponíveis nas enfermarias o desenvolvimento de marcos de competências e
e ambulatórios e identificando as EPAs que reque‑ EPAs nos cursos da área da saúde.
rem pré‑treinamento em simuladores antes que se‑ O uso dos marcos de competência permite que
jam praticadas em pacientes reais (CHACKO, 2017). o estudante visualize seu roteiro de aprendizagem
Há evidências emergentes sobre como as EPAs e se conscientize da necessidade de identificação
podem ser efetivamente introduzidas no treina‑ das lacunas de sua formação para atingir as compe‑
mento clínico na graduação médica. As EPAs es‑ tências essenciais. Trata‑se de um norteador para
pecíficas com escalas de supervisão adaptadas ao estudantes e docentes visando à formação de pro‑
contexto podem ser úteis, aproveitando melhor seu fissionais preparados.
potencial de avaliação formativa (PINILLA et al., As EPAs permitem que os supervisores siste‑
2021). matizem a avaliação das competências dos apren‑
Um estudo recente mostrou que a percepção dizes que devem ser demonstradas de forma con‑
dos estudantes sobre o valor de aprendizagem das fiável na execução das diversas atividades práticas,
atividades baseadas em simulação é muito consis‑ sendo sua aplicação mais objetiva, sintética e in‑

38 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


tegrada, assegurando a qualidade no ensino e ava‑ sino e avaliação de competências, sendo possível
liação e contribuindo também para a segurança utilizá‑los para avaliá‑las em atividades simuladas.
do paciente. A incorporação desses conceitos e de sua prática
Desta forma, é possível a aplicação dos marcos na atualização das matrizes curriculares é uma ne‑
de competências e das EPAs nos cursos da área da cessidade obrigatória dos cursos da área da saúde,
saúde, pois se complementam no processo de en‑ particularmente na Medicina, nos dias atuais.

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42 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


CA P Í T UL O 2

A simulação como enfoque para


a segurança do paciente

43
Rosana Alves
Docente de Pediatra
Graduação e Mestrado ‑ FPP
Faculdades Pequeno Príncipe
Pós‑doutora em Ensino na Saúde

Gustavo Alves Saldanha


Estudante Medicina da Escola
Superior de Ciências da Santa Casa de
Misericórdia de Vitória (EMESCAM)

1. INTRODUÇÃO

O processo de formação do médico tem passado A partir do relatório To err is human: building a
por mudanças, com a inserção de cenários de prá‑ Safer Health system (Errar é humano: construindo
tica diversificados desde o início do curso até o in‑ um sistema de saúde mais seguro), muitos países
ternato, sendo um deles a simulação clínica reali‑ se voltaram para os problemas que o cuidado em
zada em laboratórios de habilidades institucionais, saúde pode acarretar, ou seja, qualquer atendimento
a qual propõe diminuir os riscos na interação gra‑ clínico, em qualquer nível de atenção, primária, se‑
duando‑paciente por meio do treinamento sistema‑ cundária ou terciária, possui o risco de proporcio‑
nar mais mal do que bem. De acordo com o relató‑
tizado em ambiente simulado e, assim, da melho‑
rio, nos Estados Unidos ocorrem em torno de 48 mil
ria da qualidade assistencial nos serviços de saúde.
mortes por ano em razão de erros na área da saúde.
Dessa forma, a simulação clínica oportuniza aos
Atualmente, estima‑se no mundo que esse número
estudantes de Medicina vivenciar situações de erros seja de cerca de 400 mil mortes por ano, a despeito
e acertos, relatar e discutir sistematicamente esses das medidas e políticas instituídas mundialmente
erros e os quase acidentes, reconhecer condições (KOHN; CORRIGAN; DONALDSON, 2000).
inseguras, investigar, repetir procedimentos até o A segurança do paciente é um desafio da saúde
acerto, melhorar esses sistemas com uma compre‑ pública mundial, pois busca‑se reduzir os danos cau‑
ensão completa da falibilidade humana e treinar a sados p​​ elos cuidados de saúde. Na Alemanha, exis‑
comunicação dos erros aos pacientes e familiares. tem estratégias claramente definidas para a integra‑

44 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


ção do tema segurança do paciente nos currículos 1. Reação adversa: complicação inesperada de‑
dos profissionais de saúde. Assim, para uma reestru‑ corrente de uma ação justificada que seguiu o
turação bem‑sucedida dos currículos, incluindo as procedimento correto para o contexto em que
competências necessárias e as mudanças compor‑ ocorreu o evento.
tamentais dos alunos, é essencial o apoio da admi‑ 2. Agente: objeto, substância ou sistema que age
nistração das faculdades e dos hospitais de ensino para produzir mudança.
(OPITZ et al., 2020; NIE et al., 2011). 3. Atributos: qualidades, propriedades ou carac‑
No entanto, a formação para a segurança do pa‑ terísticas de alguém ou de algo.
ciente não tem acompanhado as exigências do mer‑ 4. Características do incidente: determinados
cado de trabalho. Por isso, as unidades de saúde atu‑ atributos de um incidente.
alizam suas equipes em relação às boas práticas por 5. Circunstância: situação ou fator que pode in‑
meio de treinamentos simulados, que permitem fa‑ fluenciar um evento, um agente, uma ou mais
cilitar o entendimento da cultura da segurança do pessoas.
paciente e, ao mesmo tempo, desenvolver compe‑ 6. Circunstância notificável: situação em que
tências específicas, tais como habilidades para pro‑ houve potencial significativo para dano, mas
cedimentos e comunicação. nenhum incidente ocorreu (incidente com po‑
tencial dano ou lesão).
7. Cuidados em saúde: serviços recebidos por in‑
2. SEGURANÇA DO PACIENTE divíduos ou comunidades para promover, man‑
ter, monitorar ou restabelecer a saúde.
Segurança do paciente, por definição da Organização 8. Dano: comprometimento da estrutura ou fun‑
Mundial da Saúde (OMS), é reduzir a um mínimo ção do corpo e/ou qualquer efeito dele oriundo,
aceitável o risco de dano desnecessário associado ao incluindo‑se doenças, lesão, sofrimento, morte,
cuidado da saúde. Trata‑se de uma dimensão de qua‑ incapacidade ou disfunção, podendo, assim, ser
lidade em cuidados de saúde. A cultura de segurança físico, social ou psicológico.
do paciente é considerada um importante compo‑ 9. Dano associado aos cuidados em saúde: dano
nente estrutural dos serviços, visto que favorece a decorrente ou associado a planos ou ações to‑
implantação de práticas seguras e a diminuição de madas durante a prestação de cuidados em
incidentes de segurança (ANDRADE et al., 2018).
saúde, mas não associado a uma doença ou le‑
A cultura de segurança é o produto de valores,
são subjacente.
atitudes, competências e padrões de comporta‑
10. Debriefing: compreende o ensino e a reflexão
mentos individuais e coletivos que determinam
com esclarecimentos relacionados às ativida‑
o compromisso, o estilo e a proficiência da admi‑
des realizadas nas simulações.
nistração de uma organização segura. O incentivo
11. Deficiência: qualquer tipo de comprometi‑
ao relato de eventos adversos e a mudança da cul‑
mento de estrutura ou função orgânica, limita‑
tura punitiva podem facilitar a detecção de falhas
no sistema e a criação de mecanismos de preven‑ ção da atividade e/ou restrição de participação
ção (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009; na sociedade, relacionado a um dano passado
FERMO et al., 2016). ou presente.
Em 2004, a OMS desenvolveu a Classificação 12. Detecção: ação ou circunstância que resulta na
Internacional da Segurança do Paciente (CISP) – descoberta de um incidente.
em inglês, International Classification for Patient 13. Disclosure: “revelação” ou “divulgação”, como
Safety (ICPS) –, para que os pesquisadores enten‑ um protocolo adotado para reconhecer e infor‑
dessem o trabalho uns dos outros, o que permiti‑ mar pacientes e familiares sobre a ocorrência de
ria análise, comparações e interpretação correta um evento adverso na assistência à saúde.
das informações. Em 2009, um total de 48 concei‑ 14. Doença: toda disfunção fisiológica ou psicoló‑
tos‑chave foram unificados pela OMS, e, em 2010, gica.
o Centro Colaborador para a Qualidade do Cuidado 15. Efeito colateral: efeito conhecido, para além do
e Segurança do Paciente (Proqualis) os traduziu que era inicialmente pretendido, relacionado às
para o português. Aqui estão listadas as definições propriedades farmacológicas de uma medicação.
dos principais conceitos‑chave (WORLD HEALTH 16. Erro: falha na execução de uma ação correta‑
ORGANIZATION, 2009; RUNCIMAN et al., 2009; mente planejada ou aplicação de um plano de
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2010, 2016): maneira incorreta.

A simulação como enfoque para a segurança do paciente 45


17. Evento: algo que acontece a um paciente ou o 35. Saúde: estado de bem‑estar físico, mental e
envolve diretamente. social, e não apenas a ausência de doença ou
18. Evento adverso: incidente que resulta em dano enfermidade.
ao paciente. 36. Segurança: redução, a um mínimo aceitável, do
19. Evento sentinela: ocorrência inesperada en‑ risco de dano desnecessário associado ao cui‑
volvendo morte, lesão ou risco físico ou psico‑ dado de saúde.
lógico. O evento é chamado sentinela porque 37. Segurança do paciente: redução, a um mínimo
envia um sinal que requer atenção imediata. aceitável, do risco de dano desnecessário ligado
20. Evitável: aceito pela comunidade como pos‑ aos cuidados em saúde.
sível de se evitar em determinado conjunto de 38. Tipo de incidente: termo descritivo de uma ca‑
circunstâncias. tegoria formada por incidentes de natureza co‑
21. Extensão do dano: severidade e duração do mum, agrupados por determinadas caracterís‑
dano, bem como quaisquer implicações tera‑ ticas compartilhadas.
pêuticas, resultantes de um incidente. 39. Violação: desvio deliberado de um procedi‑
22. Fator atenuante: ação ou circunstância que pre‑ mento, um padrão ou uma regra vigente.
vine ou modera o risco de um incidente causar A segurança é um dos seis atributos da quali‑
lesão a um paciente. dade, ao lado da efetividade, do cuidado centrado no
23. Fator contribuinte: circunstância, ação ou in‑ paciente, da oportunidade, da eficiência e da equi‑
fluência que se acredita ter contribuído para a dade. Em 2006, a “Joint Commission International”
origem ou o desenvolvimento de um incidente, (JCI), em parceria com a OMS, desenvolveu as seis
ou para aumentar o risco dele. metas internacionais para a segurança do paciente
24. Feedback: o docente fornece informações para (CATALANO, 2006):
os estudantes, conduzindo‑os nas atividades e, 1. Identificar o paciente corretamente: usar pelo
assim, reforçando informações para melhorar menos duas identificações de três (número do
a aprendizagem das habilidades. prontuário, nome completo e data de nasci‑
25. Handover: transferência de cuidado, represen‑ mento), antes de qualquer ação assistencial, para
tada pela passagem de plantão. qualquer tratamento ou procedimento; não uti‑
26. Handoff: transferência de cuidado, represen‑ lizar o número do leito do paciente como iden‑
tada pela passagem de caso quando o paciente tificação; considerar que fatores como queda do
é transferido de lugar dentro do mesmo estabe‑ nível de consciência do paciente e trocas de se‑
lecimento e quando a transferência é para ou‑ tores podem aumentar a incidência de erro de
tra instituição. identificação.
27. Incidente de segurança do paciente: evento 2. Melhorar a comunicação entre os profissio-
ou circunstância que poderia ter resultado, ou nais de saúde: implementar um processo para
de fato resultou, em dano desnecessário a um ordens verbais ou por telefone, ou relato verbal
paciente. de resultados de exames; padronizar ‘como’, ‘por
28. Incidente sem dano ou lesão: incidente que quem’ e ‘para quem’ são transmitidas as infor‑
atingiu o paciente, mas não resultou em dano mações sobre o paciente (prescrições verbais,
perceptível. resultados de exames críticos e transição de
29. Incidente com dano (evento adverso): inci‑ cuidados), bem como a forma de registro des‑
dente que resultou em dano a um paciente. sas informações.
30. Infecção associada aos cuidados em saúde: 3. Melhorar a segurança de medicamentos de
infecção que não existia nem estava incubada alta vigilância: organizar protocolo de segu‑
na hora da admissão do paciente e que normal‑ rança na prescrição, uso e administração de me‑
mente se manifesta três noites após sua admis‑ dicamentos; verificar aqueles potencialmente
são no hospital. perigosos ou de alta vigilância (com maior risco
31. Lesão: dano a tecidos causado por um agente de dados) e itens como denominação do medi‑
ou evento. camento, dosagem e via de administração.
32. Near miss (quase erro): incidente que não atin‑ 4. Garantir o local correto, o procedimento cor-
giu o paciente. reto e a cirurgia no paciente correto: garantir
33. Perigo: circunstância, agente ou ação com po‑ que o procedimento seja realizado conforme o
tencial de causar dano. planejado, atendendo aos cinco certos, que são
34. Risco: probabilidade de um incidente ocorrer. paciente, procedimento, lateralidade (lado a ser

46 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


operado, quando aplicável), posicionamento e em todo o mundo devem estar preparados para um
equipamentos; usar um checklist antes de co‑ atendimento mais seguro ao paciente desde o início
meçar o procedimento cirúrgico para assegurar de seu treinamento (BOHOMOL; CUNHA, 2015).
o paciente, o procedimento e o local do corpo Portanto, toda proposta pedagógica acerca da se‑
correto; usar um checklist para verificar se to‑ gurança do paciente deverá ter apoio institucional,
dos os documentos e equipamentos necessários pois envolve corpo docente e infraestrutura tanto
para cirurgia estão corretos e/ou funcionando da IES como da unidade de saúde. Assim, a coor‑
bem antes de seu início; marcar o local preciso denação pela integração ensino‑serviço institucio‑
onde será a cirurgia; usar uma marcação clara nal poderá realizar parceria com o núcleo de segu‑
e precisa envolvendo o paciente nisso. rança do paciente nos estabelecimentos de saúde.
5. Reduzir o risco de infecções hospitalares/re-
duzir o risco de infecção associada ao cuidado:
ter protocolos de higiene das mãos. 3. A SIMULAÇÃO PARA A SEGURANÇA DO PACIENTE
6. Reduzir o risco de dano ao paciente decorrente
de quedas: avaliar e reavaliar periodicamente Tradicionalmente, a educação médica baseava‑se em
o risco de queda de cada paciente, incluindo o conhecimentos individuais, ensinamentos de pro‑
risco potencial associado com medicação usada fessores, leituras de evidências científicas e práti‑
ou eliminar os riscos identificados. cas de procedimentos em pacientes reais.
O Brasil é um dos países que compõem a Aliança Já o uso da simulação é recente em universi‑
Mundial para a Segurança do Paciente, fundada pela dades, escolas médicas e outras áreas da saúde no
OMS em 2004, com o objetivo de instituir medidas Brasil. As Diretrizes Curriculares Nacionais para os
que aumentem a qualidade dos serviços e, por conse‑ Cursos de Medicina mudaram esse cenário, promo‑
guinte, a segurança do paciente. A Agência Nacional vendo maior integração entre ensino‑serviço‑co‑
de Vigilância Sanitária (ANVISA), a Organização munidade e proporcionando treinamento prévio
Pan‑Americana da Saúde (OPAS) e a Secretaria de de habilidades, por meio da simulação, antes do
Assistência à Saúde (SAS), do Ministério da Saúde contato real com pacientes (BRASIL, 2001, 2014;
(MS), trabalham em conjunto desde então para que KHAN; PATTISON; SHERWOOD, 2011).
esse propósito seja cumprido, contando ainda com a A segurança do paciente, por meio de todos os
participação de órgãos e entidades da área de saúde, programas, envolve a lista de verificação (checklist),
além de instituições de ensino superior (IES) e de a qual, apesar de simples, tem desempenhado im‑
pesquisa na área de segurança do paciente. portante papel em prevenir eventos adversos, ou
Em 2009, foi criado o Proqualis, vinculado à seja, ela é definida como uma série de ações com
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)/MS, com a fi‑ objetivo principal de garantir que nenhum passo
nalidade de organizar e divulgar informações e seja esquecido.
tecnologias em qualidade e segurança do paciente A realização de uma lista de verificação de ci‑
(FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2016). rurgia segura é uma das ferramentas mais pode‑
E, em 2013, foi criado o Programa Nacional de rosas para evitar eventos adversos, visto que, por
Segurança do Paciente (PNSP) para contribuir para ano, são realizadas cerca de 200 milhões de cirur‑
a qualificação do cuidado em saúde em todos os es‑ gias no mundo.
tabelecimentos de saúde do território brasileiro. O Segundo desafio global para a segurança do
A portaria MS/GM nº 529/2013, em seu Art.5º, apre‑ paciente: cirurgias seguras salvam vidas, publicado
senta o objetivo de fomentar a inclusão do tema em 2009 pela OMS, mostrou que a taxa de mortes e
Segurança do Paciente no ensino da graduação na complicações cirúrgicas caiu mais de 30% com o uso
área da saúde. (BRASIL, 2013a; BRASIL, 2013b). da lista de verificação (Figura 1) (ORGANIZAÇÃO
Em vários países desenvolvidos, existem estraté‑ MUNDIAL DA SAÚDE, 2009; HAYNES et al., 2009;
gias claramente definidas para a integração do tema MAIA et al., 2018).
segurança do paciente nos currículos dos profissio‑ A OMS também publicou uma lista de verifica‑
nais de saúde, incluindo as competências necessá‑ ção para partos seguros, a qual é dividida em qua‑
rias e as mudanças comportamentais dos alunos. No tro partes, cada uma aplicada a um momento da
entanto, é essencial o apoio da administração das assistência ao parto: 1. na admissão; 2. antes da ex‑
faculdades e dos hospitais de ensino para que isso pulsão (ou antes da cesariana); 3. logo após o parto
acontece, já que há um consenso entre a comuni‑ (no espaço de 1 hora); e 4. antes da alta. Publicado
dade profissional de que os profissionais de saúde em 2016, o Guia de implementação da lista de verifi‑

A simulação como enfoque para a segurança do paciente 47


Figura 1 – Lista de verificação de segurança cirúrgica.
Fonte: Organização Mundial da Saúde (2009).
Esta lista de verificação não tem a intenção de ser abrangente. Acréscimos e modificações para adaptação à prática local
são recomendados.

cação da OMS para partos seguros: melhorar a qua‑ A lista de verificação, já aceita para organizar
lidade dos partos realizados em unidades de saúde etapas importantes e complexas da assistência à
para as mães e os recém‑nascidos tem o objetivo saúde, tem sido utilizada há muito tempo para que
de apoiar o uso de práticas essenciais de cuidados pontos essenciais não sejam esquecidos e deve fa‑
maternos e perinatais, com abordagem das princi‑ zer parte de todo programa de treinamento de ha‑
pais causas dos óbitos maternos, dos nascimentos bilidades na graduação e residência de Medicina e
mortos relacionados com complicações perinatais Enfermagem.
e mortes neonatais (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL Da mesma forma, o desenvolvimento da comu‑
DA SAÚDE, 2016). nicação eficaz é uma habilidade que deverá ser trei‑

48 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


nada durante todo o curso de graduação, por muito apenas um estudante ou profissional de saúde é ca‑
mais do que uma transmissão unilateral. Essa preo‑ paz de realizá‑los, ou divididos em partes para gran‑
cupação com as transferências de informações tem des situações, como gerenciamento de desastres,
estimulado pesquisas e recomendações da JCI para em que uma equipe deverá participar da discussão
que os hospitais americanos padronizem a forma (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2011).
como os handoffs (passagens de plantão) são rea‑ Ressalta‑se que todos os docentes e precepto‑
lizados. Nos Estados Unidos, as falhas de comuni‑ res que realizam a prática assistencial em ambiente
cação nas passagens de plantão são a causa primá‑ real ou simulado tenham familiaridade com o tema,
ria em 30% das acusações de erros e más práticas. e isso envolve mudança de postura, e não apenas o
Geralmente, o profissional aprende a realizar a pas‑ acréscimo de um conteúdo.
sagem de plantão só após a formatura, quando passa Em um ambiente de prática assistencial, os es‑
a ser responsável pelo plantão (COHEN et al., 2012; tudantes podem observar o modo como docentes
CRICO STRATEGIES, 2016). e preceptores realizam diversos “procedimentos”,
Por isso, é necessário que o processo de ensino desde um cumprimento até uma cirurgia, o que é
e aprendizagem em segurança do paciente seja sig‑ o chamado de currículo oculto, que pode ser tanto
nificativo e que haja apreensão diária de conteúdos para o bem quanto para o mal. Infelizmente, para o
por meio de práticas supervisionadas por docen‑ mal, docentes e preceptores “culpam e humilham”
tes/preceptores que conheçam a cultura de segu‑ quando estudantes, internos ou profissionais de
rança do paciente. saúde cometem algum erro e, muitas vezes, assu‑
Desse modo, os profissionais devem saber os mem uma atitude desrespeitosa com membros da
princípios de segurança do paciente e contextua‑ equipe, pacientes e familiares. Para o bem, os es‑
lizá‑los. Para auxiliar nesse processo, o Guia curricu‑ tudantes visualizam os docentes como um exem‑
lar para segurança do paciente, organizado pela OMS plo a seguir, um “espelho”. Desta forma, é impor‑
em 2011, apresenta estratégias com diversas situa‑ tante que, no ambiente simulado, sejam destacados
ções clínicas que podem ser aplicadas em estudos somente os aspectos positivos (ORGANIZAÇÃO
de caso ou em casos simulados (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2011), tais como:
MUNDIAL DA SAÚDE, 2011). • interagir com os pacientes e seus familiares;
O melhor momento do currículo para aprender • respeitar as vontades dos pacientes e de suas
sobre a segurança do paciente é quando o estudante famílias;
inicia a realização de procedimentos e, que ideal‑ • informar aos pacientes e às famílias os riscos;
mente ocorrerá com treinamento de habilidades em • levar em conta a relação risco‑benefício ao de‑
laboratórios de simulação, neste período as etapas terminar planos de gerenciamento e tratamento;
de cada procedimento podem ser simuladas, ava‑ • responder às perguntas dos pacientes e familia‑
liadas e discutidas (FLATO, GUIMARÃES, 2011). res e os incentivar a perguntar;
Além disso, o relato ético e a discussão de situações • higienizar as mãos entre uma consulta e outra;
reais de erros que ocorreram, contextualizam e jus‑ • adotar uma abordagem de equipe;
tificam as etapas do procedimento. • aceitar conselhos de colegas;
Os tutoriais de estudos de caso podem mostrar • seguir os protocolos do local de trabalho;
o que não deve ser feito (aprender com a experiên‑ • admitir suas dúvidas;
cia negativa) e também o que deve ser feito (apren‑ • reconhecer que a aprendizagem acontece com
der com a experiência positiva). Para tal, pode ha‑ seus próprios erros e os dos outros;
ver um tutorial presencial ou em vídeo, à beira do • resolver problemas de caráter sistêmico;
leito ou em um laboratório de habilidades e simu‑ • cuidar de si mesmo e de seus colegas.
lação (demonstração), junto com um artigo sobre o No Quadro 1 a seguir, destacam‑se as compe‑
procedimento ou as diretrizes. Os tutoriais podem tências relacionadas à segurança do paciente e as
ser referentes a pequenos procedimentos, em que estratégias de avaliação em ambiente simulado.

A simulação como enfoque para a segurança do paciente 49


Exame clínico objetivo estruturado (OSCE); miniexercício clínico avaliativo (mini‑CEX); feedback de fontes múltiplas (MSF).

Competências Formatos de avaliação


Cuidados seguros para o paciente: sistemas
Ensaio; avaliação formativa atesta que o
aluno de cuidados em saúde acompanhou
Entender a complexa interação entre ambiente, profissional da
um paciente durante sua jornada clínica
saúde e paciente.
e que depois participou de uma pequena
discussão de grupo.
Avaliação formativa assinada por
Tomar ciência quanto aos mecanismos que minimizam erros, instrutor ou supervisor atesta que o
por exemplo, listas de verificação, protocolos clínicos. aluno participou de atividade extra ou
fora de seu expediente.
Competências Formatos de avaliação
Cuidados seguros ao paciente: controle de infecções
Praticar as técnicas antissépticas e corretas de higiene das
OSCE
mãos.
Usar sempre métodos para minimizar a transmissão entre
OSCE
pacientes.
Cuidados seguros ao paciente: segurança da medicação
Saber como prescrever e administrar medicações de forma
OSCE
segura.
Comunicação
Interação com o paciente: contexto
Usar boa comunicação e conhecer seu papel nas relações
OSCE
eficazes dos cuidados em saúde.
Desenvolver estratégias para lidar com pacientes difíceis e
OSCE
vulneráveis.
Interação com o paciente: respeito
Tratar os pacientes com cortesia e respeito, demonstrando
OSCE/mini‑CEX
consciência e sensibilidade a culturas e históricos diferentes.
Manter privacidade e confidencialidade
Fornecer informações claras e honestas aos pacientes e
OSCE/mini‑CEX
respeitar suas escolhas de tratamento.
Interação com o paciente: fornecer informações
Compreender os princípios da boa comunicação. OSCE/mini‑CEX /MSF
Comunicar‑se com pacientes e cuidadores de forma que eles
OSCE
entendam.
Interação com o paciente: como dar más notícias
Participar das comunicações de más notícias aos pacientes e
OSCE
cuidadores.
Mostrar solidariedade e compaixão. OSCE

Fonte: adaptado de Organização Mundial da Saúde (2011).

50 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Continuação...

Interação com o paciente: a revelação do erro (disclosure)


Assegurar que os pacientes sejam apoiados e cuidados após um
OSCE
evento adverso.
Demonstrar compreensão com os pacientes que passaram por
OSCE
um evento adverso.
Interação com o paciente: queixas
Responder adequadamente às queixas usando os
OSCE
procedimentos locais.
Adotar comportamentos que evitem queixas. OSCE

Fonte: adaptado de Organização Mundial da Saúde (2011).

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52 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


CA P Í T UL O 3

Conhecimentos básicos para


estruturação do treinamento de
habilidades e da elaboração das
estações simuladas

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 53
Sara Fiterman Lima
Enfermeira
Professora Adjunta da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA)

Aurean D’Eça Junior


Enfermeiro
Professor Adjunto da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA)

Richardson Augusto Rosendo da Silva


Enfermeiro
Professor Adjunto da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Gerson Alves Pereira Júnior


Docente de Cirurgia de
Urgência e do Trauma
Universidade de São Paulo (USP)

1. INTRODUÇÃO

O uso da simulação como ferramenta de ensino progressivamente ​​na educação e treinamento de


e aprendizagem teve seu início há séculos, apon‑ uma variedade de profissões e disciplinas, incluindo
tado por diferentes autores em registros bíblicos, a educação em saúde (BRADLEY, 2006; ALINIER;
nas indústrias de aviação e aeroespacial, no exér‑ PLATT, 2014; KNEEBONE; AGGARWAL, 2009;
cito, em companhias aéreas comerciais, em usinas ZIV et al., 2003).
nucleares, nos negócios e na Medicina. Na área da A simulação consiste em uma estratégia educa‑
saúde, existem registros que datam desde o início cional, que se utiliza de atividades estruturadas, em
do século XVII, com alguns modelos utilizados que são criadas ou replicadas condições para repre‑
para ajudar estudantes de Medicina a aprender es‑ sentar situações reais ou potenciais na educação e na
truturas anatômicas, parto na obstetrícia, reanima‑ prática. Essas atividades permitem que os aprendi‑
ção na anestesia e em estágios de neurologia com zes desenvolvam ou aprimorem seus conhecimen‑
pacientes padronizados (ISSEBERG et al., 2001; tos, habilidades e atitudes em um ambiente artificial,
AL‑ELQ, 2010; BRADLEY, 2006; ORLEDGE et al., onde possam analisar situações semelhantes às da
2012; OWEN, 2016). vida real e responder a isso (PILCHER et al., 2012;
Todos esses grupos têm em comum o fato de que, MEAKIM et al., 2013; LOPREIATO et al., 2020).
para cada um deles, o treinamento ou teste de siste‑ Nas últimas duas décadas, o ensino com base
mas no mundo real seria muito caro ou perigoso de em simulação vem gradualmente aumentando,
se realizar. Assim, o uso da simulação vem evoluindo tornando‑se, hoje, um componente significativo

54 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


da educação em saúde nos níveis de graduação, novas necessidades no âmbito da saúde, aumen‑
pós‑graduação, educação continuada e permanente. tam‑se as exigências por profissionais mais cria‑
Existem muitos motivos que podem ser elencados tivos e resolutivos. Nesse contexto, o processo de
para esse desenvolvimento, incluindo: ensino e aprendizagem vem, de certa forma, evo‑
‑ rápido crescimento das informações em saúde, luindo em uma perspectiva de construção de sa‑
levando a um conteúdo cada vez maior de co‑ beres, em que professores e estudantes partici‑
nhecimentos que desafiam os currículos e de‑ pam ativamente. A adoção de metodologias ativas
mandam melhorias na formação; para estimular a participação efetiva do estudante
‑ segurança do paciente, pois eticamente não é em todas as etapas do processo de aprendizagem
mais aceitável usar pacientes reais como mo‑ vem crescendo, e entre estes métodos está a si‑
delos de aprendizado primário para estudan‑ mulação (GONZÁLEZ‑HERNANDO et al., 2015;
tes e profissionais de saúde; COSTA et al., 2015).
‑ aumento nas possibilidades do realismo, uma Portanto, se existe uma intenção de trabalhar
vez que a tecnologia avançou e permite o uso com a simulação na prática educacional, é indis‑
de simuladores com respostas mais fidedignas; pensável a compreensão enquanto método de en‑
‑ redução da disponibilidade de determinados sino e aprendizagem, pois a utilização dos treina‑
pacientes, haja vista que os avanços no atendi‑ mentos simulados em saúde, sem um adequado
mento reduziram o número de portadores de
embasamento teórico, não assegura resultados efi‑
algumas afecções antes comuns, as quais hoje
cientes para o aprendizado final (JEFFRIES, 2005;
passaram a ser raras, diminuindo as possibili‑
COSTA et al., 2015).
dades de acesso dos estudantes a essas condi‑
ções durante o rodízio nos seus estágios de for‑
2.1 TEORIAS QUE APOIAM A SIMULAÇÃO COMO
mação, principalmente do internato médico; ESTRATÉGIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM
‑ crescentes demandas de aprendizagem, que, A simulação, enquanto método de ensino e apren‑
combinadas com as restrições de horários, limi‑ dizagem, é apoiada por várias teorias da educa‑
taram a disponibilidade para oferta do ensino;
ção. Do construtivismo, são utilizados princípios
‑ padronização dos cenários, resultantes das pres‑
como: 1) cada pessoa traz a sua própria experiência
sões para melhores medições de resultados, le‑
(única) e um conjunto de conhecimentos prévios
vando a simulação a evoluir na capacidade de
para a situação, empregando‑os durante a simula‑
replicação consistente de casos (RODGERS,
ção; 2) a aprendizagem ocorre por meio da explo‑
2007; CANNON‑DIEHL, 2009; TURKOT et al.,
ração ativa, quando o conhecimento não se ajusta
2019).
à experiência vivida, levando o participante a re‑
O escopo da simulação como estratégia de en‑
sino e aprendizagem na educação em saúde é, en‑ construir esse conhecimento com base em novas
tretanto, complexo, porque, embora existam evi‑ informações; e 3) a aprendizagem requer intera‑
dências de que a simulação possa ser eficaz, isso ção dentro de um contexto social, sendo relevante
depende da forma como é praticada, já que precisa que a simulação ocorra em equipe.
ser formulada de maneira apropriada para que de Para a teoria do aprendizado significativo,
fato aumente o conhecimento e melhore as habi‑ que se baseia no modelo construtivista, a nova in‑
lidades e os comportamentos profissionais e clíni‑ formação precisa ser adquirida mediante um es‑
cos dos participantes (TURKOT et al., 2019). Nessa forço deliberado do aprendiz, para ligá‑la a concei‑
perspectiva, o presente texto vai discorrer sobre co‑ tos ou proposições preexistentes ou prévias. Com
nhecimentos básicos para instrumentalizar a es‑ essa influência, a simulação promove uma apren‑
truturação do ensino fundamentado em habilida‑ dizagem significativa, incentivando a disposição
des e simulação. do estudante para aprender e buscando incenti‑
var significados lógicos (natureza dos cenários) e
psicológicos (experiência individual) no processo
2. A SIMULAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E de ensino e aprendizagem (AUSUBEL et al., 1980;
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE CARDOSO; DICKMAN, 2012)
Em relação à aprendizagem experiencial, a
Ensinar nos dias de hoje, diante de uma sociedade simulação aproveita os dois componentes princi‑
do conhecimento, além de ser mais complexo, pais: 1) experiência ativa, na qual o participante in‑
exige certa versatilidade. Em consequência das terage com o ambiente de aprendizagem; e 2) o pro‑

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 55
cesso reflexivo, que analisa as ações da experiência processos são cumulativos, e uma categoria cogni‑
e identifica áreas para melhoria. tiva depende da anterior e, por sua vez, dá suporte
A teoria da aprendizagem de adultos (andra‑ à seguinte. As referidas categorias são organizadas
gogia) está centrada em seis pressupostos, todos em um gradiente em termos de complexidade dos
observados no ensino por simulação: 1) os adul‑ processos mentais. A versão revisada do domínio
tos possuem uma necessidade intrínseca de saber; cognitivo, apresentada na Figura 1, dá nomes dife‑
2) os adultos possuem responsabilidade própria; rentes aos seis níveis da hierarquia da versão origi‑
3) os adultos possuem experiências de vida inteira; nal (conhecimento, compreensão, aplicação, análise,
4) os adultos têm uma prontidão inata para apren‑ síntese e avaliação) e inverte as posições de “sín‑
der; 5) os adultos têm uma orientação para a apren‑ tese” (agora “criar”) e “avaliação” (agora “avaliar”)
dizagem centrada na vida; e 6) os adultos têm mo‑ (NEGRI et al., 2019).
tivações internas. O domínio afetivo, descrito em 1964, vincula‑se
A aprendizagem baseada no cérebro às emoções e sentimentos, estando relacionado a
(Brain‑Based Learning) é uma teoria relativamente um conjunto de valores pessoais, e compreende as
nova, que examina como o cérebro aprende. Trata‑se categorias receptividade, resposta, valorização, or‑
de um metaconceito que mistura alguns elemen‑ ganização e caracterização (internalização de va‑
tos ecléticos, necessários para a aprendizagem e lores) (KRATHWOHL, 2002).
aplicáveis à simulação: 1) a exposição a diferentes Este domínio forma uma estrutura hierárquica
ambientes promove a plasticidade neural e, con‑ baseada no princípio da internalização e é organi‑
sequentemente, o aprendizado; 2) o cérebro hu‑ zado de sentimentos mais simples para os mais com‑
mano é modulado pela repetição de estímulos; 3) o plexos. Internalização se refere ao processo pelo
estresse moderado, ao provocar desafios, estimula qual seu afeto em relação a algo vai de um nível de
a aprendizagem; e 4) o cérebro é social e desen‑ consciência geral a um ponto em que é internali‑
volve‑se melhor em contato com outros cérebros. zado e orienta ou controla seu comportamento de
Observa‑se que a simulação enquanto estraté‑ forma consistente. Portanto, com movimento para
gia de ensino e aprendizagem se apoia nas teorias mais complexidade, o estudante se torna mais en‑
da educação para promover adequadamente a cons‑ volvido, comprometido e com maior motivação in‑
trução ativa do conhecimento. Nesse sentido, outra trínseca (HOQUE, 2016).
referência que tem grande influência para a simu‑ Na literatura educacional, quase todos os auto‑
lação é a taxonomia de Bloom. Esse pesquisador, res afirmam que o domínio afetivo é essencial para
em conjunto com seus colaboradores, em 1956, es‑ a aprendizagem, mas é o menos estudado, o mais
truturou as dimensões que fazem parte da constru‑ frequentemente esquecido, o mais nebuloso e o
ção do conhecimento do indivíduo, agrupando‑as mais difícil de avaliar dos três domínios de Bloom.
em três domínios: 1) cognitivo; 2) afetivo; e 3) psi‑ Assim, há um valor significativo em perceber o po‑
comotor (BLOOM et al., 1956; FOREHAND, 2012; tencial de aumentar a aprendizagem dos estudan‑
NEGRI et al., 2019). Bloom e sua equipe nunca de‑ tes por meio do domínio afetivo. Da mesma forma,
senvolveram uma taxonomia para a área psicomo‑ os estudantes podem enfrentar obstáculos afetivos
tora, mas outros especialistas o fizeram. à aprendizagem que não podem ser reconhecidos
Em 2002, Krathwohl publicou uma revisão da
taxonomia de Bloom, na qual foram combinados
o tipo de conhecimento a ser adquirido (dimen‑
são do conhecimento) e o processo utilizado para
a aquisição desse conhecimento (dimensão do pro‑
cesso cognitivo), tornando mais fáceis tanto a tarefa
de definir com clareza objetivos de aprendizagem
quanto aquela de alinhar esses objetivos com as ati‑
vidades de avaliação (conhecimento como conte‑
údo assimilado).
O domínio cognitivo, descrito em 1956, está
relacionado à capacidade mental, à aquisição de
conhecimentos e ao aprendizado, sendo dividido
em seis categorias: 1) (re)lembrar; 2) entender; Figura 1 – Domínio cognitivo, segundo a taxonomia
3) aplicar; 4) analisar; 5) sintetizar; e 6) criar. Os revisada de Bloom. Fonte: adaptada de Krathwohl (2002).

56 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


nem resolvidos quando se usa uma abordagem pu‑ gem corporal); e 3) Dave (1975) ‑ imitação, manipu‑
ramente cognitiva (KOBALLA, 2007). lação (por meio de instruções), precisão, articulação
É claro que há muito do domínio afetivo que (duas ou mais habilidades combinadas, sequencia‑
pode ser suscetível ao treinamento, particularmente das e executadas de forma consistente) e natura‑
envolvendo resultados de aprendizagem que visam lização (desempenho é automático com pouco es‑
aumentar a eficácia da avaliação dos mecanismos ou forço físico ou mental) (HOQUE, 2016).
que promovem a interação positiva entre o proces‑ Uma avaliação abrangente do desempenho dos
samento inteligente do pensamento e reações afeti‑ estudantes nos cursos é importante para a forma‑
vas. Alguns exemplos óbvios incluem: a) aprender ção de futuros profissionais que sejam capazes de
a discernir os estados emocionais de outros, con‑ integrar a teoria e a prática aprendidas em qualquer
forme as palavras expressas, o tom de voz, a lingua‑ programa de educação de nível superior (BEGAM;
gem corporal e as ações feitas; b) aprender formas THOLAPPAN, 2018).
de expressar emoções que melhorem a quantidade A taxonomia de Bloom tem sido muito utili‑
e a qualidade do relacionamento mútuo e a compre‑ zada para o desenvolvimento dos objetivos edu‑
ensão entre si e os outros; e c) aprender a aplicar de cacionais nas atividades de simulação, pois esses
forma coerente a afetividade, experiência, habilida‑ verbos fornecem estrutura e comunicam as com‑
des intelectuais e mecanismos de enfrentamento, a petências que o participante deve alcançar como
fim de aumentar a viabilidade, para resolver situa‑ resultado da participação na atividade de simula‑
ções de conflitos, gerar comportamentos morais e ção (INTERNATIONAL NURSING ASSOCIATION
solucionar problemas sociais ou contexto pessoal. FOR CLINICAL SIMULATION AND LEARNING,
Cada um desses resultados de aprendizagem, e mui‑ 2016; KRATHWOHL, 2002; CONKLIN, 2005;
tos outros, é entendido em termos da estrutura de NEGRI et al., 2019).
viabilidade. Não apenas as habilidades de compo‑
Segundo Mager (1984), um objetivo instrucio‑
nentes específicos podem ser identificadas no caso
nal é uma descrição clara sobre o desempenho e a
de cada resultado da aprendizagem, mas, dentro da
competência que os educadores gostariam que seus
estrutura de viabilidade, o objetivo e o propósito
educandos demonstrassem antes de serem consi‑
da experiência de ensino e aprendizagem podem
derados conhecedores de determinados assuntos.
ser mais facilmente articulados e compreendidos.
Esse objetivo está ligado a um resultado intencio‑
Isso prepara o terreno para a análise de resultados
nal diretamente relacionado ao conteúdo e à forma
de aprendizagem específicos e o início de ativida‑
como ele deverá ser aplicado. Os objetivos do do‑
des de design instrucional dentro do domínio afe‑
tivo (BRETT FLEEGLER et al., 2012). mínio cognitivo e psicomotor implicam capacidade
O domínio psicomotor, descrito no início da de fazer algo (poder fazer), enquanto os objetivos
década de 1970, diz respeito à codificação física da do domínio afetivo respondem a questões de valor
informação, ao movimento e/ou às atividades em e atitude (querer fazer).
que os diferentes músculos são usados ​​para ex‑ De acordo com Anderson et al. (2001), a meta‑
pressar ou interpretar informações ou conceitos. cognição envolve o conhecimento cognitivo real,
Esta área também se refere a respostas ou refle‑ assim como a consciência da aprendizagem indi‑
xos naturais e autonômicos. O domínio psicomo‑ vidual da amplitude e profundidade de conheci‑
tor consiste em utilizar habilidades motoras e co‑ mento adquirido de determinado conteúdo. Essa
ordená‑las (HOQUE, 2016). Como Bloom não fez a subcategoria tem se tornado muito importante na
compilação do domínio psicomotor, há três autores área educacional, uma vez que a possibilidade de
muito populares que propõem diferentes categorias: autoaprendizagem e o controle do aprendizado re‑
1) Simpson (1966) ‑ percepção, prontidão para agir, lacionado à autonomia de aprender devem ser pro‑
resposta guiada (imitação), mecanicismo, resposta cessos cada vez mais conscientes e passíveis de me‑
aberta complexa, adaptação e originação (cria no‑ dição. Isso é possibilitado pelo uso da tecnologia da
vos movimentos); 2) Harrow (1972) ‑ organização de comunicação na educação, pela criação de novas
acordo com o grau de coordenação, incluindo res‑ oportunidades educacionais e pela popularização
postas involuntárias e capacidades aprendidas, mo‑ da modalidade a distância. Em contraste com o co‑
vimentos reflexos, movimento fundamental básico, nhecimento procedural, esse conhecimento é rela‑
perceptivo (sinais ambientais que permitem ajus‑ cionado à interdisciplinaridade. A ideia principal
tar os movimentos), atividades físicas, movimentos é utilizar conhecimentos previamente assimilados
qualificados e comunicação não discursiva (lingua‑ (interdisciplinares) para a resolução de problemas

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 57
e/ou a escolha do melhor método, teoria ou estru‑ A simulação enquanto estratégia de ensino e
tura (FERRAZ; BELHOT, 2010). aprendizagem busca trabalhar com os níveis de
O princípio da progressão da complexidade foi competências necessárias aos estudantes e, nessa
mantido do simples para o complexo (cumulati‑ perspectiva, apoia‑se nos conceitos da pirâmide
vidade e hierarquia), do concreto para o abstrato, de Miller atualizada e do modelo de aquisição de
mas, novamente, foi atribuída mais flexibilidade ao habilidades de Dreyfus (Figura 2).
conceito cumulativo e dependente de cada catego‑ Com a evolução do conceito de competências
ria (eixo comum), pois sabe‑se que diferentes disci‑ para os marcos de competências (Milestones), que se
plinas requerem processos cognitivos diferenciados. referem a um “ponto” dentro de uma competência
Os estilos de aprendizagem possibilitam aos discen‑ ou subcompetência em uma progressão contínua do
tes aprender melhor em um estágio mais elevado desenvolvimento do aprendiz, este inicia como um
e depois ter a capacidade de entender os anterio‑ estudante principiante e avança ao longo de toda a
res. Assim, o conceito da metacognição abre espaço formação até se tornar competente, podendo atingir
para que os estudantes transitem livremente pelas o nível de um expert (após anos de prática) da for‑
subcategorias com o objetivo de melhorar seu au‑ mação do aprendiz. Os marcos são claramente des‑
toaprendizado (KRATHWOHL, 2002). critos e geralmente específicos da área da graduação
No modelo da pirâmide de Miller, descreve‑se ou especialidade (PEREIRA JÚNIOR et al., 2015).
a competência clínica de acordo com a relação entre No entanto, as descrições dos marcos de compe‑
conhecimentos, habilidades e atitudes. As compe‑ tências são contextuais e independentes; portanto,
tências foram classificadas em: 1) sabe; 2) sabe como; não definem a complexidade de implementação em
3) mostra; 4) faz (MILLER, 1990; MEHAY, 2012). ambiente clínico, no qual as habilidades serão de‑
Atualmente, diversos estudos têm discutido o acrés‑ monstradas. Assim, para preencher a lacuna entre
cimo de mais um nível de avaliação na pirâmide de a teoria e a prática clínica, foi criado o conceito de
Miller, um nível de desenvolvimento acima do “fa‑ Entrustable Professional Activities (EPAs), reconhe‑
zer”, que é o nível “ser”, no qual a identidade pro‑ cidas internacionalmente como uma estrutura para
fissional, os valores, os comportamentos, as ações e avaliação significativa da competência desde a for‑
as aspirações profissionais passam a ser considera‑ mação do graduando, residência médica até a recer‑
dos (CRUESS; CRUESS; STEINERT, 2016). tificação profissional (TEN CATE, 2013).
Já o modelo de aquisição de habilidades de As EPAs representam uma unidade de prática
Dreyfus possui cinco estágios para adultos e leva em profissional que pode ser confiada a um estudante
consideração os componentes, a perspectiva, a de‑ ou profissional competente e que requer proficiên‑
cisão e o compromisso, para dividir os níveis de ha‑ cia em múltiplas competências simultaneamente.
bilidade em: 1) principiante; 2) iniciante avançado; Essa abordagem fornece um enfoque amplo e prá‑
3) competente; 4) proficiente; e 5) especialista/ tico para a avaliação, uma vez que não avalia as com‑
expert (DREYFUS, 2004; GREENE; LEMIEUX; petências de maneira individual ou isolada (TEN
MCGREGOR, 1993). CATE, 2013). Estão vinculadas a decisões de atri‑

Figura 2 – Modelos de competências. A) pirâmide de Miller atualizada e B) modelo da aquisição de habilidades de Dreyfus.
Fonte: adaptada de Park (2015).

58 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


buição, ou seja, avaliam se o aprendiz pode realizar no local de prática clínica, constituindo uma des‑
determinadas atividades de prática clínica sob um crição do trabalho, independentemente das pes‑
nível designado de supervisão. Os aprendizes po‑ soas (TEN CATE et al., 2015).
dem ser incumbidos das responsabilidades ou ta‑ Com o uso das EPAs, há a possibilidade de ava‑
refas que devem ser feitas no cuidado ao paciente, liar se os aprendizes podem executar as tarefas de
as quais podem ser pequenas ou grandes, ou seja, forma independente ou não, permitindo identi‑
simples ou complexas, mas que normalmente são ficar suas lacunas de conhecimentos individuais,
atividades com início e fim, confiadas somente a como pode ser visto na Figura 3. Pode‑se definir
pessoas competentes (TEN CATE, 2018). também qual o rol de EPAs a serem almejadas pe‑
Assim, as EPAs se caracterizam como uma evo‑ los aprendizes iniciantes e intermediários ou para
lução do conceito educacional fundamentado em aqueles que já possuem expertise suficiente para
competências, em que se aplica o conceito de com‑ realização autônoma da atividade prática (TEN
petências de um aprendiz em contextos específicos CATE et al., 2015).
O modelo de Kirkpatrick também vem sendo
utilizado na literatura em associação com a simula‑
ção, sendo empregado durante o planejamento pe‑
dagógico dos cenários para obtenção de melhores
resultados e evidências em relação ao aprendizado
(Figura 4) (KIRKPATRICK,1996; MOTOLA et al.,
2013).

2.2 CONCEITOS ESTRUTURANTES DA SIMULAÇÃO


COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Em relação à simulação, esta seção destaca o con‑
ceito de Gaba (2007), quando registra que a simu‑
lação é uma técnica, não uma tecnologia. A partir
Figura 3 – Em relação ao limiar de competência, o aprendiz de agora, serão discutidos outros conhecimentos
é confiável para a execução das EPAs 1, 2, 3 e 4, mas não
para a EPA 5. Se não fosse esse modelo de EPAs, não
importantes para a compreensão adequada da es‑
seria possível identificar essa lacuna de conhecimento do truturação da simulação enquanto estratégia de en‑
aprendiz. sino e aprendizagem, tais como: 1) fidelidade; 2) re‑

Figura 4 – Modelo de aprendizagem de Kirkpatrick. Fonte: adaptada de Kirkpatrick (1996).

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 59
alismo; 3) suspensão da descrença; 4) contrato de o termo “simulação realística” (HAMSTRA et al.,
ficção; e 5) complexidade. 2014; TUN et al., 2015).
Trata‑se, portanto, de um método por meio do Entre as diversas proposições existentes na li‑
qual se busca substituir ou amplificar experiên‑ teratura, uma tipologia de fidelidade atualmente
cias reais, mediante situações guiadas que evocam muito utilizada na simulação em saúde defende que,
ou replicam aspectos substanciais do mundo real para além da 1) fidelidade do equipamento (simu‑
de uma forma interativa. Assim, um dos conceitos lador e engenharia), deve‑se ainda considerar a 2)
importantes para o exercício da simulação é o de fidelidade ambiental (espaço e recursos) e a 3) fi‑
fidelidade (DIECKMANN; GABA; HALL, 2007a; delidade psicológica (respostas dos participantes)
ADVISORY GROUP FOR AEROSPACE RESEARCH (REHMANN et al., 1995; TETERIS et al., 2012). Para
AND DEVELOPMENT, 1980; BEAUBIEN; BAKER, Tun et al. (2015), embora essas dimensões forne‑
2004). çam melhores descrições de fidelidade, elas pare‑
A fidelidade é uma propriedade intrínseca à si‑ cem ser mais adequadas à simulação com máquinas/
mulação e pode ser definida como o grau de preci‑ robôs do que para situações clínicas. Assim, os au‑
são com que uma simulação, seja ela física, mental tores apresentam uma proposta mais clinicamente
ou ambas, representa determinado quadro de rea‑ orientada para atividades de simulação, com base
lidade em termos de pistas, estímulos e interações em aspectos da simulação que seriam eficazes para
permissíveis (TUN et al., 2015). o treinamento de habilidades em saúde.
O termo “fidelidade” tem sido frequentemente A estrutura tridimensional de fidelidade da
utilizado de forma inconsistente na literatura, simulação para educação em saúde, proposta por
sendo observados alguns equívocos terminológi‑ Tun et al. (2015), parte de um conceito de fideli‑
cos. Percebe‑se, por exemplo, uma associação de dade absoluta (tão realística a ponto de não poder
ser diferenciada da realidade) e aponta três dimen‑
fidelidade com sofisticação tecnológica, a despeito
sões (complementares) necessárias para aumentar
da verossimilhança de uma experiência. Assim, o
a fidelidade em cenários de saúde: 1) o paciente; 2)
termo é citado de forma unidimensional e atre‑
o ambiente; e 3) o cenário clínico.
lado a uma classificação estática dos dispositivos
A dimensão do paciente engloba representações
de simulação, o que será discutido mais adiante
de interações com o todo ou com parte de um pa‑
(ISSENBERG et al., 2005; MARAN; GLAVIN, 2003;
ciente, como comunicar‑se ou realizar um procedi‑
BEAUBIEN; BAKER, 2004; TUN et al., 2015).
mento, e leva em consideração a fidelidade da anato‑
A rotulagem de fidelidade de simulação como
mia e da fisiologia. A dimensão do ambiente engloba
alta, intermediária ou baixa já vem sendo questio‑ representações dos equipamentos clínicos (instru‑
nada há algum tempo e tem sido considerada por mentos, monitores) e do ambiente (onde ocorre a
diversos autores como vaga, simplista e inconsis‑ atividade ou o encontro com o paciente). A dimen‑
tente. Há um reconhecimento da necessidade de são do cenário clínico está relacionada às represen‑
extrapolar essa rotulagem unilateral de baixa para tações relativas ao roteiro, à progressão do cená‑
alta, uma vez que não fornece informações sufi‑ rio e à complexidade situacional, como a dinâmica
cientes para determinar a fidelidade geral de um da equipe e da família, dependendo do caso simu‑
cenário simulado. Numerosos estudos apontam a lado, o que inclui o envolvimento dos facilitadores.
falta de entendimento entre autores quanto à de‑ Na prática, segundo Tun et al. (2015), a maioria
finição de fidelidade dentro desse constructo e, na das simulações trabalha com uma fidelidade subab‑
tentativa de novas proposições, destacam diferen‑ soluta, pois existem elementos irreais que são utili‑
tes classificações e definições, persistindo a falta de zados para aumentar o nível de realismo dos cená‑
consenso subjacente. Cumpre destacar que, diante rios. Tais elementos, quando ocultados, geram um
de tal problemática, alguns autores já sugeriram in‑ engano que pode ter conotação negativa e culmi‑
clusive o abandono do termo (REHMANN et al., nar com a decepção (DIECKMANN et al., 2007b;
1995; TETERIS et al., 2012; COOK et al., 2011; TUN et al., 2015). Dessa forma, o conceito de fide‑
HAMSTRA et al., 2014; ISSENBERG et al., 1999; lidade ainda segue mal interpretado e definido na
MATSUMOTO et al., 2002; GROBER et al., 2004). literatura da simulação em saúde. Entretanto, ad‑
A fidelidade é multifatorial e variável, de acordo mite‑se que ele ainda é fundamental para compre‑
com o contexto de aprendizagem, e, dessa forma, ender a eficácia que qualquer simulação pode ter
faz‑se necessário repensar o termo “fidelidade” na preparação de estudantes para seu desempenho
na educação baseada em simulação, assim como clínico (GRIERSON, 2014).

60 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Outro conceito muito importante para a simu‑ mesmo que a base física para transportar essa in‑
lação é o de realismo, o qual, por vezes, é indevi‑ formação não seja realista (seringas cheias de água
damente utilizado como sinônimo de fidelidade, podem ser usadas como se contivessem um medi‑
mas que se sobrepõe a ela, uma vez que a fidelidade camento) (LAUCKEN, 2003; DIEKMANN; GABA;
é utilizada nas práticas simuladas com o objetivo HALL, 2007a).
alcançá‑lo (DIECKMANN; GABA; HALL, 2007a; O modo fenomenológico inclui emoções, cren‑
MUCKLER, 2016). ças e estados cognitivos autoconscientes de pen‑
O significado de realismo para simulação pode samento racional que as pessoas vivenciam dire‑
ser explorado em associação aos três modos de pen‑ tamente enquanto estão em uma situação. O modo
samento: 1) físico; 2) semântico; e 3) fenomenoló‑ fenomenológico é relevante para simulação, por‑
gico. Todos são necessários para descrever e es‑ que descreve os diferentes elementos da experiên‑
pecificar qualquer situação clínica a ser simulada cia. Os participantes vivenciam diretamente o ce‑
(LAUCKEN, 2003; DIECKMANN; GABA; HALL, nário simulado como: 1) uma situação complexa em
2007a). tempo real (por exemplo, interagindo com o mane‑
O modo físico diz respeito a entidades que po‑ quim simulador e o equipamento dentro da lógica
dem ser medidas em termos físicos e químicos fun‑ do caso simulado); e 2) como um evento educacio‑
damentais por meio de dimensões mensuráveis (por nal real que é configurado para se aproximar fisica‑
exemplo, centímetros, gramas e segundos). Deste mente de outra situação real (uma situação clínica
modo, um simulador pode ser descrito em suas di‑ com um paciente real). Se a simulação “funcionar”,
mensões físicas, como o peso ou a força gerada pelo os participantes experimentarão o cenário de si‑
tórax em movimento. O ambiente de simulação mulação relevante para o objetivo da sessão e se‑
pode ser descrito de forma semelhante em termos rão capazes de dar sentido semântico ao cenário,
de suas características físicas, incluindo qualquer apesar de suas diferenças físicas em relação à si‑
equipamento que resida lá, e de aspectos físicos tuação clínica (LAUCKEN, 2003; DIECKMANN;
dos movimentos realizados (por exemplo, a forma GABA; HALL, 2007a).
e o peso de um ventilador ou os padrões de força Assim sendo, surge um outro conceito, de base
necessários para intubar a traqueia do paciente si‑ literária e teatral, que também é muito relevante
mulado) (LAUCKEN, 2003; DIECKMANN; GABA; para simulação, mas pouco utilizado e explorado,
HALL, 2007a). que é o de suspensão da descrença, reconhecido
De acordo com o modo físico de pensar, os ma‑ por diversos autores como uma dimensão que dá
nequins simuladores existentes têm muitos elemen‑ sentido ao realismo. Refere‑se à capacidade dos
tos irrealistas, apesar de sua forma quase humana. participantes de acreditar no inacreditável e resis‑
Eles são claramente construídos com materiais di‑ tir ao julgamento da autenticidade da simulação, do
ferentes dos seres humanos. Seus sons respiratórios ato cognitivo de aceitar um impostor (simulação)
são tipicamente distinguíveis qualitativamente dos como genuíno (clínico), de deixar de lado sua des‑
sons respiratórios reais e não são ouvidos em todos crença e aceitar o exercício simulado como sendo
os locais usuais de um paciente real (LAUCKEN, real durante a aplicação do cenário (GROBER et al.,
2003; DIECKMANN; GABA; HALL, 2007a). 2004; RUDOLPH et al., 2014; TUN et al., 2015;
O modo semântico diz respeito a conceitos e MUCKLER, 2016).
seus relacionamentos – como teorias, significado Quando suspendem a descrença durante a si‑
ou informações –, apresentados por meio de texto, mulação, eles podem verbalizar e completar tare‑
imagens, sons ou eventos. Por exemplo, dentro do fas como se estivessem engajados em um encontro
modo semântico, uma simulação de hemorragia real com o paciente, e a percepção se desenvolve de
pode ser descrita como: se A (sangramento) acon‑ maneira aumentada, tornando mais fácil mergulhar
tece então B (diminuir a pressão arterial). Nessa si‑ na experiência e sentir as emoções que vêm do ce‑
tuação, é irrelevante como as informações (sobre nário (RUDOLPH et al., 2014; MUCKLER, 2016).
a hemorragia) são transmitidas. As mesmas infor‑ A suspensão da descrença durante a simula‑
mações poderiam ser representadas por meio de ção é de grande relevância para que o participante
um monitor de sinais vitais, uma descrição verbal, maximize o aprendizado e a retenção de conheci‑
a percepção tátil de pulsos cada vez mais palpáveis mento, sendo responsabilidade do facilitador de‑
ou ainda outros meios. Assim, os cenários podem terminar e implementar as técnicas mais eficazes
ser semanticamente realistas se as informações para garantir as dimensões de fidelidade neces‑
apresentadas forem razoavelmente interpretáveis, sárias para a imersão do participante na simula‑

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 61
ção: 1) contrato de ficção; 2) segurança psicoló‑ que de fato deve determinar o grau de complexi‑
gica; 3) compromisso emocional; e 4) significado dade de uma atividade de simulação não são os ní‑
atribuído (WILSON; WITTMAN‑PRICE, 2015; veis de tecnologia incorporados, e sim o número de
MUCKLER, 2016). objetivos do cenário e as ações individuais e con‑
O contrato de ficção é um conceito importante juntas necessárias para o alcance dos resultados es‑
para a prática do treinamento simulado atual, pois, perados (LIOCE et al., 2020).
antes de imergirem no cenário, os participantes são Resumindo, é importante estabelecer que a fi‑
orientados sobre as limitações da simulação, para delidade geral dos cenários simulados raramente
encorajar sua imersão e minimizar os efeitos nega‑ se iguala apenas à fidelidade mecânica dos mane‑
tivos dos elementos irrealistas para o desempenho quins. Tradicionalmente, a fidelidade geral tem sido
(TUN et al., 2015). Trata‑se de um acordo tácito, descrita como uma soma total de “fidelidade me‑
em que os facilitadores se comprometem a fazer cânica”, “fidelidade ambiental (contexto)” e “fi‑
o melhor possível para otimizar a experiência de delidade psicológica”, mas há outros dois contri‑
simulação, e os estudantes, a fazer o possível para buintes importantes para ela, que são a “fidelidade
ignorar os aspectos irrealistas e mergulhar na ex‑ temporal”, que se refere à recriação de eventos ao
periência apenas por uma questão de aprendizado longo de uma linha do tempo, conforme acontecem
(CHENG et al., 2007). na vida real, permitindo intervalos de tempo realis‑
A segurança psicológica consiste em tranqui‑ tas entre as intervenções e os resultados durante os
lizar os estudantes de que a intenção da simulação cenários simulados, e a “fidelidade de ação”, que
está voltada para a aprendizagem, e não para a re‑ representa as tarefas atribuídas aos alunos, con‑
percussão dos erros. Para aproveitar ao máximo uma forme ditadas pelos cenários (KHAN et al., 2010).
oportunidade de aprendizado, os indivíduos devem Desta forma, a soma total de todas essas fide‑
se sentir confiantes o suficiente para assumir ris‑ lidades é denominada “fidelidade de percepção”,
cos, fazer perguntas e superar o medo de serem hu‑ que é a variável mais importante (Figura 5).
milhados ou repreendidos por erros ou tomada de
decisões equivocadas. Uma sensação de segurança 2.3 CONCEITOS COMPLEMENTARES
psicológica os autoriza a superar o medo do cons‑ É importante destacar também outros conceitos
trangimento e do fracasso (RUDOLPH et al., 2014). complementares à simulação:
O compromisso emocional refere‑se à adesão Ambiente seguro de aprendizagem: ambiente
dos participantes para que se envolvam emocio‑ emocional criado por meio da interação entre to‑
nalmente na simulação com o propósito de apren‑ dos os participantes, no qual se sentem à von‑
der, e isso ocorre quando eles experimentam um tade mesmo cometendo erros ou assumindo ris‑
apego e uma conexão emocional ao cenário, acei‑ cos (DOMINGUES; NOGUEIRA; MIURA, 2020).
tando o que imita a realidade, o que depende muito Ambiente de realidade virtual: ambiente de
do seu estado de espírito e do enredo do cenário aplicativos fundamentados em computador, comu‑
(BAUMAN, 2012). mente associado a características 3D imersivas e al‑
O significado atribuído à simulação varia de tamente visuais, que permite ao participante olhar
acordo com as experiências psicológicas e sociais e navegar em um mundo aparentemente real ou fí‑
do participante, sendo que, quando o conteúdo ou sico (LOPREIATO et al., 2020).
habilidade aprendida é relevante para o estudante Avatar: refere‑se a um objeto virtual utilizado
e aplicável à sua realidade, a aprendizagem tende a para representar um objeto físico (exemplo, um ser
alcançar melhores significados (KNOWLES, 1980; humano) em um ambiente virtual. É uma represen‑
MUCKLER, 2016). tação gráfica gerada por computador de um partici‑
Outro conceito relevante e que vem sendo uti‑ pante em uma simulação ou jogo de realidade vir‑
lizado de maneira equivocada na simulação é o de tual (LOPREIATO et al., 2020).
complexidade. Neste caso, é importante definir a Confiabilidade: representa a consistência de
que complexidade se está referindo: se a comple‑ uma medida ou o grau em que um instrumento mede
xidade dos equipamentos de simulação (capaci‑ da mesma maneira quando aplicado em uma con‑
dade tecnológica do simulador) ou se a complexi‑ dição e com participantes semelhantes.
dade da própria simulação (cenário), uma vez que Facilitador (também conhecido como profes‑
há muita confusão dessas dimensões, e isso faz com sor/instrutor/tutor): indivíduo treinado que fornece
que a complexidade da simulação seja atrelada so‑ suporte e orientação em parte ou em todos os está‑
mente à tecnologia dos simuladores. Portanto, o gios do ensino fundamentado na simulação. O faci‑

62 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Figura 5 – A interação dos componentes de “fidelidade de percepção”. Fonte: adaptada de Khan et al. (2010).

litador deve ter domínio e experiência na atividade tir ao facilitador meios de conduzir ou avaliar deter‑
clínica, em tecnologias e em comunicação que en‑ minada habilidade de forma estruturada, clara e ob‑
volve a simulação que será realizada. Sugere‑se que jetiva (DOMINGUES; NOGUEIRA; MIURA, 2020).
ele tenha formação específica em simulação, forne‑ Habilidade técnica (HT): habilidade necessá‑
cida por um curso formal, e/ou com abordagens es‑ ria para a realização de uma tarefa específica, por
pecíficas planejadas junto a um mentor experiente exemplo, inserir um dreno torácico ou realizar um
(MENEZES; MOLINA; DOS SANTOS, 2020). exame físico (LOPREIATO et al., 2020).
Feedback: informações ou diálogos ocorridos Habilidade não técnica (HNT): habilidades
entre participantes, facilitador, simulador ou pares cognitivas, sociais e pessoais que complementam
com o objetivo de melhorar a compreensão de con‑ as habilidades técnicas no desempenho adequado
ceitos ou de aspectos do desempenho. e seguro de tarefas, sendo que existem diversas ta‑
Frames: perspectivas pelas quais os indivíduos
xonomias para HNT. Na saúde, os marcadores com‑
interpretam novas informações e experiências para
portamentais mais comumente usados são: comu‑
tomada de decisão. São formados por experiências
nicação, liderança/trabalho em equipe, consciência
prévias e com base em conhecimentos, atitudes, sen‑
situacional, gerenciamento de tarefas e tomada de
timentos, metas, ações (fala e linguagem corporal),
decisão (DIECKMANN; ZELTNER; HELSØ, 2016).
atitudes (verbais e não verbais), regras e/ou per‑
cepções tanto do participante quanto do facilita‑ Julgamento clínico: compreende o processo
dor (DOMINGUES; NOGUEIRA; MIURA, 2020). mental e comportamental que engloba o atendi‑
Gatilhos: um evento ou eventos que movem a mento/assistência ao paciente. Refere‑se à realiza‑
simulação de um estado para outro (LOPREIATO ção de decisões baseadas nos vários tipos de conhe‑
et al., 2020). cimentos e é influenciado por experiências prévias
Guias de aprendizagem: guias de simulação clí‑ individuais e habilidades de resolução de proble‑
nica que compõem uma estratégia pedagógica e per‑ mas, pensamento crítico e raciocínio clínico.
mitem abordar e integrar conhecimentos, atitudes e Life savers: estratégia para gerenciar eventos
práticas dos aprendizes. Esses guias têm como obje‑ inesperados que ocorrem durante a simulação ba‑
tivo auxiliar a aprendizagem do participante por meio seada em planos predeterminados e/ou interven‑
da autocondução e autoavaliação, assim como permi‑ ções feitas espontaneamente durante os cenários,

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 63
possibilitando que os participantes completem a competências de menor nível de complexidade. A
atividade simulada. depender da habilidade a ser desenvolvida, podem
Moulage: a aplicação de maquiagens e moldes ser utilizados simuladores de partes do corpo, como
nos membros, tórax, cabeça etc. de um ser humano um braço (para técnica de punção venosa) ou um
ou do simulador para fornecer elementos de re‑ tórax (para técnica de ressuscitação cardiorrespi‑
alismo (como sangue, vômito, fraturas expostas ratória) (BONDUELLE; CHO; ELLOY, 2020).
etc.) à simulação de treinamento. Trata‑se de téc‑ A simulação clínica com o uso de simuladores
nicas usadas para simular lesões, doenças, enve‑ de pacientes (manequins) é uma das formas mais
lhecimento e outras características físicas especí‑ utilizadas como estratégia de ensino prático na área
ficas de um cenário. A moulage apoia as percepções da saúde. Ela pode ser realizada com simuladores
sensoriais dos participantes e a fidelidade do ce‑ de baixa ou média tecnologia, quando os objetivos
nário de simulação por meio do uso de maquia‑ envolvem treinamento de habilidades técnicas es‑
gem, artefatos fixáveis (por exemplo, objetos pene‑ pecíficas, ou com simuladores de alta tecnologia,
trantes) e cheiros (INTERNATIONAL NURSING quando a intenção é praticar treinamentos para o de‑
ASSOCIATION FOR CLINICAL SIMULATION senvolvimento de raciocínio clínico, tomada de de‑
AND LEARNING, 2016). cisão, habilidades técnicas, atuação da equipe mul‑
Scribe: ato de fazer anotações sobre um cená‑ tiprofissional ou outras competências mais amplas,
rio e documentar as ações realizadas ou não reali‑ a partir de casos clínicos complexos. A construção
zadas (LOPREIATO et al., 2020). de casos clínicos contribui para essa estratégia de
Tomada de decisão: processos mentais (cog‑ simulação, seja ela de baixa, média ou alta tecnolo‑
nitivos) que levam à escolha de um plano de ação gia (BERGAMASCO; PASSOS; NOGUEIRA, 2020).
para determinada situação. A simulação clínica com paciente simulado
Dando continuidade à explanação sobre normas (humano) utiliza pessoas para representar sinto‑
para as melhores práticas em simulação, os próxi‑ mas ou problemas clínicos. Nessa modalidade de si‑
mos elementos‑chave (design da simulação, resul‑ mulação, é obrigatória a construção de um caso clí‑
tados e objetivos, facilitação, debriefing, avaliação nico que deverá ser interpretado pelo participante
do participante, integridade profissional e educa‑ simulado, seguindo um roteiro de encenação (script)
ção interprofissional aprimorada por simulação) e favorecendo uma maior interação durante a apli‑
serão descritos a seguir. cação do cenário (AKAIKE et al., 2012).
A utilização de pessoas que desempenham ou
2.4 AS DIFERENTES TÉCNICAS DE SIMULAÇÃO E OS assumem papéis nos roteiros de simulação permite
SIMULADORES diferentes tipos de participação, o que leva a equí‑
Em relação à simulação, existem diversas estraté‑ vocos conceituais. Frequentemente, observa‑se na
gias, entre as quais se destacam: 1) a simulação clí‑ literatura a descrição dos termos “paciente simu‑
nica para treinamento de habilidades; 2) a simula‑ lado”, “paciente estandardizado” e “paciente pa‑
ção clínica com o uso de simuladores de diferentes dronizado” como sendo similares (vide destaque).
tipos; (3) a simulação clínica com paciente simu‑ Definir a diferença entre esses participantes é muito
lado (simulação cênica); 4) a simulação híbrida; relevante, pois eles exigem estruturas diferentes em
(5) a prática deliberada em ciclos rápidos (PDCR); sua preparação, desenvolvimento e entrega.
(6) a simulação virtual; (7) a simulação in situ; e Outro detalhe importante é que, no início da prá‑
(8) a telessimulação. tica de simulação, os representantes de pacientes
A simulação clínica para treinamento de ha‑ humanos eram comumente chamados de pacientes
bilidades, também chamada de aula simulada, re‑ padronizados ou simulados, entretanto, mais recen‑
fere‑se ao preparo de ambientes simulados para que temente, percebendo‑se que estes podem represen‑
os participantes tenham a oportunidade de prati‑ tar um escopo expandido de funções (por exem‑
car habilidades psicomotoras, cognitivas e/ou afe‑ plo, clientes, familiares, profissionais de saúde), o
tivas, com objetivos de aprendizagem predefinidos. termo “participante simulado” passou a ser utili‑
Durante a prática da técnica proposta, estimula‑se zado por representar essa função de maneira mais
que os participantes discutam os passos técnicos, inclusiva (LEWIS et al., 2017)
esclareçam as dúvidas e preencham suas lacunas in‑ O role‑play, ou “troca de papéis”, pode se en‑
dividuais de conhecimento. O treinamento de habi‑ quadrar nesse tipo de simulação. Consiste em um
lidades possibilita que a mesma técnica ou procedi‑ método de aprendizagem em que os estudantes
mento seja repetido diversas vezes, desenvolvendo são convidados a assumir o papel de outras pessoas

64 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


por meio de dramatização, com objetivo de com‑ tir das inovações tecnológicas e envolve a criação
preenderem um fenômeno partindo de uma pers‑ da realidade de um ou mais cenários de simulação
pectiva diferente da sua. Esse recurso é utilizado na tela do computador. Neste ambiente, o partici‑
na formação de diferentes profissionais da saúde pante exerce um papel central no cumprimento de
para sensibilizar estudantes em relação a uma te‑ tarefas específicas e no desenvolvimento de habili‑
mática ou situação (DE OLIVEIRA; DE PRADO; dades de interação, tomada de decisão e comunica‑
KEMPFER, 2014). ção no atendimento a pacientes virtuais criados, a
A simulação híbrida é a combinação de mais de partir de uma variedade de configurações clínicas
uma modalidade de simulação em um único trei‑ (PADILHA et al., 2019).
namento, como a associação de um paciente simu‑ A simulação in situ é uma estratégia que amplia
lado com um simulador de qualquer nível de tec‑ a fidelidade, pois leva a atividade simulada direta‑
nologia. Essa estratégia permite o desenvolvimento mente ao local onde a assistência à saúde ocorre.
de habilidades processuais e de comunicação com
Uma das suas principais vantagens é permitir que
uma pessoa, trazendo uma sensação de realismo à
a equipe realize práticas simuladas em seu próprio
atividade que pode não ser alcançada usando ato‑
ambiente de trabalho. E esse tipo de simulação con‑
res ou simuladores isoladamente. É uma opção de
templa tanto a aprendizagem individual quanto em
simulação financeiramente acessível e, ao mesmo
equipe (TUN et al., 2015; BERGAMASCO; PASSOS;
tempo, eficaz (BROWN; TORTORELLA, 2020;
UNVER et al., 2018). NOGUEIRA, 2020).
A PDCR é uma das formas mais recentes de si‑ A telessimulação é uma modalidade inovadora
mulação, em que um caso clínico é construído e apli‑ para educação, treinamento e avaliação na área da
cado a um grupo de participantes ou equipe, que saúde, que permite o desenvolvimento dos domí‑
repete o mesmo cenário diversas vezes, até o mo‑ nios cognitivo e afetivo. Esta estratégia de simula‑
mento em que a competência desejada seja apreen‑ ção é definida como um processo pelo qual recur‑
dida. Quando o objetivo desse ciclo é atingido, são sos de telecomunicação e simulação são utilizados
adicionadas outras dificuldades ao cenário, aumen‑ para fornecer educação, treinamento e avaliação
tando a complexidade do caso, e um novo ciclo se de participantes em local externo, muitas vezes re‑
inicia (HUNT et al., 2014). moto e de difícil acesso, possibilitando o ensino e a
A simulação virtual (simulação baseada em aprendizagem a um grupo maior de participantes
computador ou realidade virtual) foi proposta a par‑ (MCCOY et al., 2017).

Paciente simulado é quando um participante de uma simulação representa o papel de um personagem


ou pessoa. Essa atuação pode ser desempenhada por atores devidamente treinados ou improvisada
entre os participantes da simulação.
Paciente padronizado (standardized patients) diferencia‑se do paciente simulado pela capacidade de
se comportar de uma maneira consistente e precisa, que pode ser igualmente repetida, a fim de dar a
cada aluno uma chance justa e igual de aprendizagem, permitindo ainda uma avaliação das habilidades
aprendidas em um ambiente clínico simulado. Assume‑se esse papel por meio de um contrato legal
junto à instituição de ensino. Esta prática, iniciada com um neurologista em 1963, apresenta considerável
crescimento e, hoje, já possui reconhecimento de muitas organizações educacionais, contando também
com diversos programas de formação para pacientes padronizados (LEWIS et al., 2017; BEARNSON;
WILKER, 2005; CHURCHOSE; MCCAFFERTY, 2012).
Para exercer o papel de paciente padronizado, podem ser utilizados: (1) estudantes de artes cênicas,
atores de companhias de teatro amador ou mesmo atores profissionais em simulação, principalmente
em processos seletivos ou provas de suficiência, cuidadosamente recrutados e treinados para assumir
as características de um paciente; (2) membros da comunidade (criança, adolescente, adulto, idoso
ou mesmo portador de alguma doença, que vão responder a qualquer questionamento da história
médica e social a partir de sua própria vida) (CHURCHOSE; MCCAFFERTY, 2012).
Esse recurso tem se constituído como possibilidade concreta para prover o ensino e o treinamento no
campo das habilidades clínicas, em função do seu potencial para preencher condições mais próximas
às ideais, garantindo a fidedignidade da interação humana com a comunicação e a empatia. Por
questões éticas e legais, essa não tem sido uma técnica muito utilizada no Brasil.

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 65
Em relação aos simuladores, entende‑se que
1) EXEMPLOS DE SIMULADORES
são as ferramentas que permitem a prática de simu‑
UTILIZADOS EM SIMULAÇÃO DE BAIXA
lações. Como não existe uma classificação padrão, FIDELIDADE.
geralmente, ao classificá‑los, são considerados seus
níveis variados de tecnologia, fidelidade, função fi‑
siológica, entre outras particularidades (TUN et al.,
2015; DOMINGUES; NOGUEIRA; MIÚRA, 2020).
Para demonstrar essa diversidade de classificações
dos simuladores, apresentam‑se alguns exemplos
comumente citados na literatura.
Chiniara et al. (2012) classificaram os simula‑
dores de acordo com o material de que são consti‑
tuídos: 1) simuladores orgânicos, como animais, te‑
cidos ou cadáveres e pacientes simulados/atores;
Modelo para treino de habilidades no
ou 2) simuladores sintéticos, que incluem os cha‑ manejo das vias aéreas em adultos.
mados treinadores de tarefas parciais e simulado‑
res de paciente quando usados p ​​ ara esta finalidade.
Já Tun et al. (2015) citam que os simuladores
incluem: 1) treinadores de tarefas parciais; 2) ma‑
nequins ou simuladores de pacientes; 3) pacientes
simulados ou padronizados (SP); 4) ambientes fun‑
damentados em tela; e 5) equipamentos simulados e
ambientes de saúde. Os autores apontam ainda que Modelo para treinamento de acesso
os simuladores não precisam ser necessariamente intravenoso e intra‑arterial.
físicos, podendo assumir a forma de software ou
até mesmo ocorrer na mente de estudantes envol‑
vidos em atividades imaginárias, como simulações
mentais facilitadas. 2) EXEMPLOS DE SIMULADORES
UTILIZADOS PARA SIMULAÇÕES DE
Por sua vez, Flato e Guimarães (2011) classifi‑
MÉDIA FIDELIDADE.
caram os simuladores em: 1) de baixa tecnologia;
2) de alta tecnologia; 3) Part‑task trainer (parte do
corpo ou de algum órgão interno para treinamento
de técnicas, procedimentos ou tarefas); 4) realidade
virtual; 5) simuladores com base em programas de
computadores (Screen Based Simulator); 6) simula‑
ções com pessoas (atores e/ou pacientes); e 7) Game
Based Simulation.
Seropian et al. (2004) classificaram os simula‑
Modelo para treinamento de suporte
dores em três categorias distintas, tomando como avançado de vida.
referência a capacidade de interação, o uso de tec‑
nologia e o mecanismo de controle:
(1) Part‑task trainer:
‑ treinador não dinâmico básico de plástico;
‑ treinador dinâmico básico de plástico;
‑ treinador de realidade virtual de baixa fideli‑
dade com haptics;
‑ treinador de realidade virtual de alta fidelidade
com haptics.
(2) Sistema com base em computador:
Modelo para treinamento de parto.
‑ pacientes simulados;
‑ ambiente simulado.
(3) Simulador integrado:
‑ simulador dirigido por instrutor;

66 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


‑ simulador dirigido por modelo. Já os simuladores utilizados para simulações
Em sua classificação, Seropian et al. (2004) usam de alta fidelidade são aqueles capazes de criar uma
o termo “haptics”, muito presente na literatura so‑ situação com um alto grau de realismo, sentido e vi‑
bre simuladores. Trata‑se do processo de reconhe‑ venciado pelos estudantes, de modo que se transmi‑
cimento de objetos por meio do toque, entregue na tam, da melhor forma possível, as intervenções na
forma de vibrações e feedback de força, criado por vida real. Permitem treinar a atenção para patologias
componentes móveis de um dispositivo e contro‑ em doentes em uma situação clínica estável, instável,
lado por software integrado. A percepção háptica crítica ou em situação anestésica, bem como a dire‑
abrange tanto a percepção tátil somatossensorial ção de uma equipe que tem de resolver uma situa‑
mediada pela pele quanto o feedback propriocep‑ ção concreta, em que a tomada de decisões e o traba‑
tivo cinestésico nos tendões, músculos e ligamentos lho em equipe são cruciais (ORLEDGE et al., 2012).
(RANGARAJAN; DAVIS; PUCHER, 2020). Alguns desses simuladores são conduzidos por
Observa‑se, no entanto, que a classificação que um software e se apresentam como manequins de
tem sido mais utilizada na literatura é a que está corpo inteiro, com grande semelhança anatômica e
relacionada com a fidelidade, variando desde mo‑
delos de baixa fidelidade até modelos de alta fide‑
lidade (PERKINS, 2007). Ressalva‑se aqui a neces‑
sidade de considerar os aspectos já mencionados 3) EXEMPLOS DE SIMULADORES
sobre a interpretação de fidelidade, pois essa con‑ UTILIZADOS EM SIMULAÇÃO DE ALTA
FIDELIDADE.
fusão se deve a interesses mais comerciais do que
das características do cenário simulado.
Os simuladores utilizados para simulação de
baixa fidelidade, geralmente, são aqueles que não
interagem com o cenário por causa da ausência
de respostas anatômicas, fisiológicas e sensoriais.
Podem ser encontrados em corpo completo ou par‑
cial, na forma de membros, órgãos ou suas partes
(Part‑task trainer) e, normalmente, são utilizados
para o desenvolvimento de habilidades específicas, Modelo controlado por computador
como realização de suturas, acessos para adminis‑ para atendimento a diferentes situações
tração de medicamentos, drenagem torácica, ma‑ clínicas.
nejo das vias aéreas, entre outras.
Em geral, não necessitam de contextualização
do cenário, pois sua utilização, na maioria das ve‑
zes, consiste em treinamento para realização ade‑
quada de determinados procedimentos e demons‑
tração de competências.
Por sua vez, os simuladores utilizados para
simulações de média fidelidade permitem maior
aproximação com situações reais e apresentam li‑
mitadas respostas anatômicas, fisiológicas e senso‑
riais, que permitem alguma interação com o apren‑
diz. Ainda, são utilizados para treino individual ou Sala de controle de simuladores de alta
em grupo de habilidades, protocolos e Guidelines tecnologia.
(TUN et al., 2015).
São simuladores que apresentam a possibilidade
de ausculta de sons respiratórios, cardíacos e ab‑
dominais, permitindo a monitorização de traçados
eletrocardiográficos, identificação de alguns pulsos
e sons vocais, além de possibilitar todos os recur‑
sos que o simulador de baixa fidelidade possui para
a realização de habilidades específicas (AL‑ELQ, Painel de configuração do simulador.
2010; DECKER et al., 2008).

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 67
fisiológica ao ser humano. Chegam a apresentar mo‑ Assim, para melhorar a educação em diferen‑
vimentos respiratórios, pulsos venosos e arteriais, tes níveis e aumentar a segurança do paciente, o
piscam os olhos, alteram a coloração de mucosas e uso da simulação tem crescido em diferentes am‑
possibilitam ainda a avaliação de dados da pele, aus‑ bientes de aprendizagem (AGRAWAL et al., 2010).
culta intestinal, cardíaca, respiratória, entre muitos
outros recursos. Esses simuladores podem ser pro‑
gramados para responder a falhas na administra‑ 3. A ESTRUTURAÇÃO DOS CENÁRIOS SIMULADOS
ção de medicamentos, com ênfase na performance EM SAÚDE
de habilidades na decisão, preparação e administra‑
ção terapêutica. No entanto, para o desenvolvimento O desenvolvimento dos cenários é de grande rele‑
de habilidades de comunicação, uma vez que a co‑ vância para o treinamento com simulação clínica,
municação efetiva é competência clínica essencial para garantir a qualidade e a validade do conteúdo
para o exercício das profissões da área da saúde, es‑ e apoiar os objetivos e resultados esperados. Assim,
ses simuladores não são adequados. As técnicas de os cenários devem ser estruturados a partir de caso
comunicação podem ser ensinadas e aperfeiçoadas fundamentado em situações da vida real e com uma
efetivamente com o uso da dramatização nas práti‑ história principal, incluindo uma sequência de ati‑
cas simuladas (BAER et al., 2008). vidades de aprendizagem e envolvendo tomadas de
decisão estratégicas para resolução de problemas,
2.4 A SIMULAÇÃO E A SEGURANÇA DO PACIENTE raciocínio inteligente e outras habilidades cogni‑
A expressão latina “Primum non nocere”, que sig‑ tivas (ALINIER, 2011; NADOLSKI et al., 2008).
nifica “acima de tudo, não causar dano”, é conside‑ Seu design direciona a abordagem de aspectos
rada um fundamento da bioética, entretanto o re‑ essenciais da estrutura, processo e resultados da
latório To Err is Human, do Instituto de Medicina atividade (DOMINGUES; NOGUEIRA; MIÚRA,
(INSTITUTE OF MEDICINE, 1999), revelou que 2020). Na literatura, são observadas várias propos‑
até 98 mil mortes ocorrem em hospitais norte‑ame‑ tas para desenvolvimento desses cenários, entre‑
ricanos como um resultado de erro médico a cada tanto a maioria destaca a necessidade de planeja‑
ano (AGRAWAL et al., 2010). mento e desenvolvimento adequados (KHAN et al.,
Estudos globais sugerem que aproximadamente 2010).
10% dos pacientes internados em hospital sofrem A simulação serve como atividade de ensino e
algum tipo de erro de procedimento. A Medicina, avaliação. Para tanto, existem diferenças no processo
tradicionalmente, confia em uma abordagem do de elaboração e desenvolvimento das estações simu‑
tipo “veja e faça” para aprender e experimentar. ladas que precisam ser conhecidas (Figuras 6 e 7).
Isso, inevitavelmente, expõe os pacientes ao atendi‑ No ensino, a simulação é utilizada, principal‑
mento de profissionais de saúde inexperientes e aos mente, como uma ferramenta de avaliação forma‑
perigos e danos associados a isso (DELLIFRAINE; tiva. Cada cenário de simulação seguido por um
LANGABEER; KING, 2010; AGRAWAL et al., 2010) debriefing é um processo de avaliação formativa, e
Escalar a curva de aprendizado de maneira ín‑ o feedback é um dos principais contribuintes para
greme não é mais aceitável, pois a prática de ten‑ a melhoria do desempenho. A amostragem da me‑
tativa e erro com pacientes reais torna‑se cada vez tacognição é possível durante o debriefing, permi‑
mais inadmissível. A simulação, nesse contexto, tindo que os alunos pensem e reflitam sobre suas
emerge como instrumento que auxilia na formação ações. Os resultados de aprendizagem definidos
de profissionais de saúde em relação ao treino de dos cenários direcionam a avaliação formativa.
habilidades sem expor o paciente a erros evitáveis Assim, o debriefing realizado no final de cada ce‑
pela falta de conhecimento adequado (REZNICK; nário de simulação apresenta uma oportunidade
MACRAE, 2006). ideal para fornecer ao candidato um feedback re‑
Além disso, a simulação tem o potencial de re‑ levante e com foco individual ou em grupo, a fim
criar cenários que, raramente, são experimentados de maximizar a experiência geral de aprendiza‑
e testar profissionais em situações desafiadoras, gem. A Figura 6 resume todo o processo de simu‑
além de permitir a repetição ou o exame cuida‑ lação como ensino.
doso de suas ações, o que favorece a aquisição ou o Na avaliação, a simulação é utilizada, princi‑
aperfeiçoamento de determinadas habilidades para palmente, como uma ferramenta de avaliação so‑
o atendimento (AGENCY FOR HEALTHCARE mativa. Um cenário simulado bem projetado pode
RESEARCH AND QUALITY, 2009). demonstrar o desempenho diante de situações clí‑

68 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Figura 6 – Proposta para estruturação de cenários simulados para ensino. Fonte: elaborada pelos autores.

nicas simuladas, inferindo o desempenho em am‑ de simulação) que englobam o conhecimento da


bientes clínicos. A Figura 7 resume todo o processo Medicina, simuladores, diferentes ambientes clí‑
de simulação como avaliação. nicos e currículos. O objetivo geral da engenharia
A validade é a capacidade de um conjunto de de cenário deve ser o de facilitar a entrega e a ob‑
variáveis ​​de prever resultados com base em infor‑ tenção de um conjunto de resultados de aprendi‑
mações de outras variáveis e​​ de se relacionar com zagem claros, mantendo a “fidelidade” a mais alta
critérios concretos no “mundo real”, assim como a possível (KHAN et al., 2010).
fidedignidade e a reprodutibilidade são as grandes As habilidades necessárias para criar cenários
vantagens da utilização da simulação como avalia‑ de simulação de alta fidelidade são diferentes da‑
ção, tanto formativa quanto somativa. quelas para escrever cenários de ensino para dis‑
cussões baseadas em casos. É por isso que o con‑
3.1 PLANEJAMENTO DOS CENÁRIOS SIMULADOS ceito de “engenharia de cenário” é mais adequado
A estruturação de cenários simulados requer um do que “escrita de cenário”. Se os cenários não fo‑
planejamento prévio, intencional, sistemático e mi‑ rem projetados com a devida diligência, eles não
nucioso da atividade proposta. Tal processo deve, apenas impactarão a ação e a fidelidade temporal,
preferencialmente, ser inclusivo e dialógico, envol‑ mas também reduzirão o impacto educacional da
vendo colaboradores com experiência em simula‑ educação baseada em simulação, por não se vincu‑
ção e/ou a área de conhecimento objeto da prá‑ larem diretamente ao currículo. A integração cur‑
tica simulada. ricular refere‑se a cenários de simulação usados
A engenharia de cenários de simulação é a como uma ferramenta de rotina na entrega de par‑
arte de desenvolver aplicações práticas (cenários tes selecionadas do currículo (KHAN et al., 2010).

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 69
Figura 7 – Proposta para estruturação de cenários simulados para avaliação. Fonte: elaborada pelos autores.

Os cenários adequados dependem desse plane‑ dos profissionais nos serviços de saúde, sejam elas
jamento detalhado para condução da simulação clí‑ reconhecidas por seus componentes (é interes‑
nica, podendo variar em relação à complexidade e sante quando essa atividade parte das necessidades
ao tempo de duração, de acordo com os objetivos e expectativas dos participantes) ou secundárias
de aprendizagem propostos e resultados esperados, a demandas do contexto da saúde (administrati‑
sem impedir que outros pontos possam emergir du‑ vas, científicas, sociais e políticas). Quanto ao pú‑
rante a atividade. Dessa forma, o planejamento deve blico‑alvo, é importante identificar seu conheci‑
ser retroalimentado, flexível e cíclico, sendo com‑ mento prévio, pois o cenário simulado deve ser
posto por várias escolhas, decisões e construções adequado ao seu nível de conhecimento e vivên‑
(ALINIER, 2011; INTERNATIONAL NURSING cias (NEVES et al., 2017; EPPICH; CHENG, 2015;
ASSOCIATION FOR CLINICAL SIMULATION SANTALUCIA et al., 2016).
AND LEARNING, 2016). b) Definição dos objetivos de aprendizagem
Casos da vida real costumam ser um bom ponto É uma etapa essencial para a construção do cenário
de partida para o desenvolvimento de cenários, pois de simulação, pois são as ferramentas de orientação
costumam trazer consigo boas lições e pontos rele‑ para facilitar a obtenção de resultados e a marca re‑
vantes para aprendizagem (MURRAY, 2004). gistrada de um projeto educacional sólido.
Ao planejar os cenários, é importante lembrar Os objetivos podem ser amplos ou específicos,
dos conceitos estruturantes apresentados ante‑ e, nesse sentido, a taxonomia de Bloom, apresen‑
riormente ao projetar cenários para trabalhar tada anteriormente, fornece uma estrutura para
com fidelidade, buscando realismo e suspensão desenvolver e nivelar objetivos de forma a atender
da descrença. aos resultados esperados. Na taxonomia de Bloom
a) Reconhecimento do problema a ser abordado revisada, a hierarquia dos objetivos progride de
Ao iniciar a estruturação de um cenário, é impor‑ um nível inferior (lembrar e entender) para um
tante definir o problema a ser trabalhado e o pú‑ nível superior (aplicar, analisar, avaliar e criar).
blico‑alvo da simulação. Dependendo do local onde Esses verbos fornecem a estrutura e se comuni‑
será aplicado o cenário, o problema deve estar rela‑ cam com as competências que o participante deve
cionado aos conteúdos curriculares da graduação alcançar como resultado da participação na ativi‑
e pós‑graduação ou a situações ligadas ao trabalho dade de simulação (INTERNATIONAL NURSING

70 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


ASSOCIATION FOR CLINICAL SIMULATION lidades e atitudes) para solucionar, com eficácia, as
AND LEARNING, 2016). situações da prática em saúde (BAILLIE; CURZIO,
Para ter resultados alcançáveis, é importante 2009; AGUIAR; RIBEIRO, 2010).
traçar objetivos mensuráveis e claramente defini‑ Para definição dessas competências, é válido
dos. No campo da gestão corporativa, Doran (1981) utilizar a pirâmide de Miller atualizada e o modelo
criou o acrônimo SMART (específico, mensurável, da aquisição de habilidades de Dreyfus, apresenta‑
atribuível, realista e relacionado ao tempo) como dos anteriormente.
uma estrutura para desenvolver objetivos mensurá‑ Mais atualmente, pode‑se empregar os marcos
veis e significativos, que pode ser visto no Quadro 1. de competências e EPAs para selecionar quais se‑
No planejamento do cenário, podem ser desen‑ rão utilizados na elaboração do cenário simulado.
volvidos objetivos gerais e específicos para atender d) Definição do formato da simulação
às necessidades identificadas e otimizar o alcance Uma vez definidos os objetivos de aprendizagem
dos resultados esperados. Os objetivos gerais re‑ e o público‑alvo da prática simulada, é importante
fletem o propósito da experiência baseada em si‑ selecionar a modalidade apropriada para a experi‑
mulação e estão relacionados com as metas organi‑ ência baseada em simulação, escolhendo entre os
zacionais, enquanto os objetivos específicos estão diversos formatos apresentados até agora. Existem
relacionados com as medidas de desempenho do evidências de que a utilização de pacientes simula‑
participante. dos treinados (que podem ser atores) nas ativida‑
Durante a fase de design, é importante determi‑ des de simulação aumenta a adesão dos estudan‑
nar quais objetivos serão ou não disponibilizados tes, tornando a aprendizagem mais significativa.
para os participantes antes da experiência da simu‑ A definição do cenário de prática que a esta‑
lação. Os objetivos que fornecem informações ge‑ ção irá simular (unidade básica de saúde, ambu‑
rais e contextuais devem ser apresentados para os latório, enfermaria, sala de emergência, centro ci‑
participantes (por exemplo, realizar cuidados para rúrgico, unidade de terapia intensiva) também é
paciente com insuficiência cardíaca); já aqueles que muito relevante.
se referem às medidas de desempenho dos partici‑ Deve‑se ainda estruturar as experiências base‑
pantes não devem ser apresentados.
adas na simulação, incluindo ponto de início, ativi‑
c) Identificação das competências a serem
dades estruturadas do participante e ponto de tér‑
trabalhadas
mino. O ponto de início representa as circunstâncias
As competências são domínios construídos e adqui‑
iniciais do paciente ou a situação quando o partici‑
ridos em situações cotidianas que necessariamente
envolvem a compreensão da ação empreendida e do pante inicia seu envolvimento na experiência baseada
uso a que essa ação se destina. Portanto, competên‑ em simulação. As atividades estruturadas do parti‑
cia é a capacidade de mobilizar recursos cognitivos, cipante são compostas para envolvimento do par‑
emocionais e psicomotores (conhecimentos, habi‑ ticipante (por exemplo, caso simulado ou um des‑
dobramento do cenário e/ou ensino/avaliação das
habilidades psicomotoras). O ponto final é o está‑
gio em que se espera que a experiência baseada em
simulação termine, geralmente quando os resulta‑
dos esperados da aprendizagem foram demonstra‑
dos, o tempo se esgota ou o cenário não pode pros‑
seguir (KANEKO; LOPES, 2019).
e) Levantamento de recursos
É importante para determinar as necessidades do
cenário simulado a ser elaborado, incluindo recur‑
sos materiais e humanos, considerando o cenário de
prática que vai ser simulado, os objetivos de apren‑
dizagem e os resultados esperados.
Em relação ao levantamento dos recursos ma‑
teriais necessários, devem ser incluídos: 1) espaço
para a simulação (laboratório de simulação, serviço
Quadro 1 – Ferramenta SMART. Fonte: adaptado de INACSL
(INTERNATIONAL NURSING ASSOCIATION FOR CLINICAL de saúde ou outro); 2) simuladores (manequins), se
SIMULATION AND LEARNING, 2016). forem utilizados; 3) mobiliários (cama, cadeira, ar‑

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 71
mários, suporte de soro, biombo); 4) equipamentos bal (por meio do paciente, facilitador ou um partici‑
(monitor, aspirador, foco); 5) materiais (seringas, son‑ pante incorporado no momento), visual (mudança
das, termômetro); 6) documentação de apoio (cartas dos sinais vitais no monitor), por intermédio de da‑
de encaminhamento, ficha de atendimento, exames dos adicionais (novos resultados de exames), e as‑
complementares); 7) utilização de recursos diagnósti‑ sim por diante, mas isso deve ser pensado na for‑
cos e terapêuticos, de medicações, de equipamentos; mulação do cenário.
e 8) adereços (roupas, documentos de identificação, A organização de um fluxograma para tomada
embalagens de remédios, exames prévios, disposi‑ de decisão é importante para auxílio no desenvolvi‑
tivos invasivos, maquiagem, sangue e secreções). mento do cenário de acordo com a evolução e ações
No que se refere ao levantamento dos recursos do(s) participante(s). Nesse fluxograma, devem ser
humanos, devem ser incluídos facilitadores, pa‑ descritos os passos esperados dele(s) durante o ce‑
cientes simulados ou padronizados, operadores de nário proposto e as ações a serem realizadas caso al‑
equipamentos tecnológicos e outros que venham a guma atividade seja ou não feita. Nesse caso, a forma
se fazer necessários. oval é utilizada para iniciar e finalizar o processo;
Quanto mais detalhado o inventário dos recur‑ a retangular representa uma etapa do processo; e
sos necessários, menor será a possibilidade de que a triangular mostra as decisões a serem tomadas.
um recurso não providenciado previamente ou ga‑ Além disso, a realização do checklist contendo
rantido de última hora interfira na aplicação ade‑ as ações/atividades que os participantes devem
quada do cenário. desenvolver durante a prática simulada, conside‑
f ) Contexto e detalhamento do cenário simulado rando o que é indicado por evidências científicas,
O contexto deve incluir a realização da documenta‑ os objetivos do cenário e as competências que estão
ção para condução das atividades, como presença de sendo trabalhadas, também representa um recurso
relógios para controlar o tempo, scripts e informa‑ interessante tanto para o facilitador quanto para
ções a serem oferecidas aos participantes durante o os participantes observadores durante o acompa‑
aquecimento da atividade (briefing). Por exemplo: nhamento da simulação (KANEKO; LOPES, 2019).
(1) o roteiro do paciente, de forma que quem está É importante determinar também se haverá
falando com o paciente possa, por exemplo, res‑ a utilização de distratores, que devem ser pensa‑
ponder às perguntas dos participantes sobre seus dos com propósito de auxiliar na aprendizagem e
sintomas, alergias, medicamentos, história médica aproximar o cenário de condições reais; entretanto,
anterior, última ingestão e eventos que levaram à não devem desviar a atenção do participante, afas‑
sua queixa principal. Esse roteiro deve informar tando‑o dos objetivos propostos. É relevante ainda
ao paciente como ele deve falar, por exemplo, em determinar o tempo necessário para a progressão
frases completas ou não, expressando dor ou des‑ do cenário, para garantir que exista tempo razoá‑
conforto, ser confuso, calmo ou agressivo; (2) ro‑ vel para atingir os objetivos a serem trabalhados.
teiro para atores, esclarecendo se eles têm infor‑ Recomenda‑se ainda construir um roteiro or‑
mações adicionais para fornecer aos participantes ganizado do cenário simulado, incluindo a dispo‑
quando solicitados e se eles devem ser bastante ati‑ sição do mobiliário e das pessoas envolvidas em
vos e prestativos, ou apenas responder às solicita‑ cena, para sua padronização e reprodutibilidade.
ções dos participantes; (3) informações para o par‑ g) Orientações para o facilitador
ticipante com descrição do caso, tarefa e tempo de Neste passo, devem estar descritas as ações críti‑
realização; (4) caso para o cenário simulado, com cas que serão observadas pelo facilitador, as quais
descrição sucinta e clara e informações essenciais sinalizam se os objetivos foram contemplados pe‑
para o alcance dos objetivos propostos. los participantes. Frequentemente, são utilizados
Para detalhamento do cenário, deve ser ainda instrumentos objetivos, como as listas de tarefas
planejada a comunicação entre facilitador e parti‑ (checklists), possibilitando a padronização da ob‑
cipantes, bem como providenciadas as pistas para servação e aumentando a sua reprodutibilidade.
fornecer informações quanto à evolução clínica do Esta parte do cenário também deve conter dicas de
caso, em resposta às ações do participante. Estas pis‑ ações a serem tomadas pelo facilitador no sentido
tas devem ser adicionadas para medida de desem‑ de resolver problemas de execução, sugerindo ca‑
penho e utilizadas para redirecionar o participante minhos alternativos.
quando se desvia do objetivo pretendido. Elas po‑ Ações prévias do facilitador, como reunião com
dem ser entregues aos participantes de forma ver‑ pacientes simulados para esclarecimento do script

72 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


e pontos fundamentais da atuação cênica, devem tência da experiência baseada em simulação, tanto
ser definidas. O desenvolvimento do cenário, em para os participantes quanto para os facilitadores,
todas as suas etapas, também deve ser alvo de dis‑ reforçando comportamentos positivos, corrigindo
cussão e detalhamento. e esclarecendo dúvidas.
Consiste em uma etapa pautada em uma estru‑
3.2 DESENVOLVIMENTO DO CENÁRIO SIMULADO tura teórica e deve ser direcionado para os objeti‑
a) Pré‑briefing e briefing vos de aprendizagem e resultados esperados.
O pré‑briefing deve ser conduzido de forma es‑ O ambiente do debriefing deve ser positivo e
truturada antes do desenvolvimento do cenário. entusiástico, seguindo a visão de “não criticar”,
Nele, o facilitador pode identificar as expectativas utilizando uma condução com questionamentos
dos participantes. Nessa etapa, realizam‑se orien‑ adequados e permitindo que o estudante/partici‑
tações aos participantes sobre o espaço, equipa‑ pante memorize as ações, de forma a agir conforta‑
mento e simulador (INTERNATIONAL NURSING velmente quando um caso real semelhante lhe for
ASSOCIATION FOR CLINICAL SIMULATION apresentado. Assim, auxilia o participante na con‑
AND LEARNING, 2016). ceitualização construída na aprendizagem, facilita
No briefing, devem ser repassadas todas as a reflexão sobre o desempenho individual e permite
orientações específicas quanto ao cenário simu‑ resumir a aprendizagem fechando as lacunas de co‑
lado que será desenvolvido, com a apresentação do nhecimento e desenvolvendo o raciocínio clínico.
problema e dos passos relativos à tarefa a ser rea‑ No caso de avaliações de habilidades com uso
lizada. Também é interessante estabelecer regras de atividades de simulação, o debriefing pode ser
e limites, realizando o contrato de ficção com os substituído pelo feedback, de modo que os parti‑
participantes, orientação sobre quem são e os pa‑ cipantes sejam guiados para melhorar ou confir‑
péis dos facilitadores e avaliadores da simulação. mar sua prática.
b) Estação simulada No feedback, informações ou diálogos ocorrem
O momento da ação de simulação é aquele em que a entre participantes, facilitador, paciente simulado
tarefa é realizada de forma prática, sendo observada ou pares, com o objetivo de melhorar a compreen‑
pelo facilitador e pelos demais participantes, com são de conceitos ou de aspectos relacionados ao
ou sem gravação audiovisual. Este momento possui
desempenho.
ponto de início, atividades estruturadas previstas
para o participante e ponto de término. É fundamen‑
3.3 REFLEXÃO PÓS‑PRÁTICA
tal que os observadores tenham máxima atenção ao
cumprimento dos passos preestabelecidos, de modo Por causa da natureza dinâmica do treinamento
a facilitar o debriefing/feedback. Nessa etapa, o faci‑ fundamentado em simulação, essa experiência não
litador deve estar atento para conduzir a evolução se encerra em si mesma. São comuns as reverbera‑
do cenário, estimulando a participação de todos e o ções e reflexões decorrentes da vivência de partici‑
trabalho em equipe (INTERNATIONAL NURSING pantes, facilitadores e suas interações.
ASSOCIATION FOR CLINICAL SIMULATION A aplicação do cenário costuma levar a outras
AND LEARNING, 2016; NOGUEIRA; DOMINGUES; possibilidades valiosas para aprendizagem e a al‑
BERGAMASCO, 2020). gumas lacunas nesse processo, e a identificação
c) Debriefing e sessão de feedback destes pontos deve retroalimentar o planejamento
O debriefing é uma fase planejada e voltada para a do cenário para que haja um constante aperfeiço‑
promoção do pensamento reflexivo e o aperfeiço‑ amento dele.
amento do desempenho futuro do participante que Além da identificação de novas possibilidades
promove o entendimento e apoia a transferência de e lacunas de aprendizagem, a reflexão pós‑prática
conhecimentos, habilidades e atitudes. leva os participantes a um processo de autoavalia‑
Deve ser facilitado por uma pessoa competente ção, em que refletem sobre os aspectos específicos
no processo, desenvolvido em um ambiente que per‑ de suas condutas e conquistas, e à identificação do
mita a aprendizagem e a confidencialidade, facili‑ que poderia ser melhorado nesse sentido. Ao mesmo
tando o envolvimento dos participantes com con‑ tempo, a experiência pode conduzi‑los a uma refle‑
fiança, comunicação aberta e reflexiva. Além disso, xão a respeito do desempenho dos demais partici‑
fornece um feedback formativo, planejado para en‑ pantes, o que pode servir como um balizador para
riquecer o aprendizado e contribuir para a consis‑ a transformação de condutas.

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 73
4. CAPACITAÇÃO DOCENTE PARA ELABORAÇÃO DAS A inserção de simulação nos currículos médi‑
ESTAÇÕES SIMULADAS cos é mais bem‑sucedida quando se torna parte
da matriz curricular, e não apenas quando utili‑
No contexto da educação baseada em simulação, o zada de forma esporádica (ISSENBERG et al., 2005;
desenvolvimento do corpo docente envolve mais MCGAGHIE et al., 2010). Deve‑se determinar quais
do que apenas o treinamento para executar os ce‑ componentes de um currículo são aprimorados
nários de simulação e fornecer feedback de forma usando educação baseada em simulação e incorpo‑
eficaz; envolve pelo menos uma compreensão bá‑ rando o uso das estações simuladas de forma mais
sica de todos os aspectos da simulação, incluindo a direcionada e sustentada. Esta abordagem tem o
manutenção de ambientes de aprendizagem segu‑ benefício adicional de auxiliar a determinar os re‑
ros, gerenciamento de fidelidade e engenharia de cursos humanos e materiais, assim como o espaço
cenário (KHAN et al., 2010). físico que serão necessários para realizar os treina‑
O treinamento do corpo docente abaixo do ideal mentos. Em um currículo já estruturado, permite
pode levar a uma integração curricular deficiente uma revisão crítica de como o currículo está sendo
da simulação com os demais ambientes de ensino, administrado e como os objetivos de aprendizagem
engenharia de cenário inadequada, fraco gerencia‑ são mais bem alcançados usando as diferentes mo‑
mento de fidelidade e debriefing e feedback inefi‑ dalidades de ensino disponíveis. Desenvolvendo‑se
cazes ou contraproducentes. Uma combinação de um plano abrangente antes da sua implementação,
qualquer um desses fatores pode ser prejudicial à certamente irá economizar tempo e recursos valio‑
autoconfiança e ao aprendizado dos trainees. Isso sos (MOTOLA et al., 2013).
poderia, por sua vez, criar uma percepção negativa Utilizando‑se do conceito de engenharia dos
da educação baseada em simulação, reduzindo a uti‑ cenários simulados, durante o processo de capa‑
lidade dessa ferramenta educacional em seus trei‑ citação docente há o planejamento do processo de
namentos futuros. Portanto, é vital treinar o corpo instrução em três etapas:
docente com os mais altos padrões possíveis, e isso 1‑ escrita do caso clínico selecionado a ser trans‑
pode ser alcançado com programas de desenvolvi‑ formado em atividade simulada;
mento do corpo docente cuidadosamente elabora‑ 2‑ montagem dos 15 itens da encomenda da estação
dos (KHAN et al., 2010). simulada (Quadro 2), que é o início da transfor‑
Além do uso de simulação para fins de avalia‑ mação do caso clínico em estação simulada, já
ção formativa e somativa, também pode ser usada permitindo a visualização de como será cons‑
como uma ferramenta de avaliação diagnóstica, o truída a estação simulada;
que ajuda a informar os professores sobre as ne‑ 3‑ modelo de construção completa da estação si‑
cessidades dos estudantes e contribui para a mo‑ mulada (Quadro 3), que é o roteiro integral do
dificação e concepção dos planos de ensino ou da cenário simulado, em que estão as instruções do
matriz curricular com base nos resultados. O uso cenário e tarefas do estudante/candidato, orien‑
de simulação em tal contexto pode ser extrema‑ tações ao avaliador, lista de materiais e equipa‑
mente útil, especialmente no início de um ano mentos, mapa de disposição dos móveis e re‑
ou semestre, antes de passar para a próxima fase cursos humanos dentro do ambiente físico da
(KHAN et al., 2010). estação simulada, script do paciente simulado

Quadro 2 – Itens para estruturação das encomendas dos cenários simulados. Fonte: elaborada pelos autores.

1‑ Tema/conteúdo a ser abordado (utilizar a matriz de conteúdos): escolher um título que represente o
problema a ser trabalhado.
2‑ Objetivos de aprendizagem/avaliação: o objetivo geral é o resultado que se espera com o
aprendizado. Os objetivos específicos são as medidas de desempenho do participante, que geralmente são
disponibilizados apenas para os facilitadores. O número de objetivos específicos depende da complexidade
e do tempo estabelecido para o cenário. Pode‑se utilizar os marcos de competências, que devem ser
mobilizados no desenvolvimento da estação.
3‑ Competências gerais a serem desenvolvidas: conhecimentos, habilidades e atitudes esperadas do
participante ao final da atividade, definindo as habilidades específicas a serem demonstradas.

74 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 2 – Continuação...

4‑ Tipo de simulação: definir entre simulação clínica com uso de simulador (manequim), simulação clínica
com o uso de paciente simulado (se padronizado), role play, simulação híbrida, prática deliberada de ciclos
rápidos, simulação in situ, simulação interprofissional, simulação virtual ou telessimulação.
5‑ Caso/situação clínica: informações do caso clínico a ser desenvolvido e das tarefas a serem cumpridas,
descrevendo‑o de maneira sucinta e clara, com informações essenciais para o alcance dos objetivos
propostos.
6‑ Lesões/patologias: definir os achados do exame físico e exames complementares a serem explorados,
bem como as decisões críticas de diagnóstico e tratamento.
7‑ Procedimentos médicos a serem realizados (se houver): definir os materiais e equipamentos que
deverão estar presentes no cenário simulado.
8‑ Distratores: devem ser pensados com o propósito de auxiliar na aprendizagem e aproximar o cenário
de condições reais, entretanto não devem desviar a atenção do participante, afastando‑o dos objetivos
propostos.
9‑ Cenário de prática: local/referência de local em que será realizado o atendimento/procedimento.
10‑ Problemas de comunicação: com pacientes, familiares e membros da equipe interprofissional,
utilizando as situações mais frequentes de conflitos.
11‑ Conflitos éticos e jurídicos: caso se apliquem aos objetivos da simulação, realizar a inclusão.
12‑ Situação interprofissional envolvida: nos casos de utilização, definir as competências comuns e
colaborativas.
13‑ Nível estimado de dificuldade: fácil, médio ou difícil.
14‑ Informações complementares: inserir outras informações que possam ser úteis na construção da
estação.
15‑ Protocolo/consenso: de orientação para a construção e ponderação do checklist.

Quadro 3 – Itens para estruturação da estação simulada completa. Fonte: elaborada pelos autores.

Definições prévias:
‑ Gravação do cenário: definir se será realizada a gravação, bem como os equipamentos e o responsável.
‑ Tipo de comunicação entre estudante/candidato e avaliadores: formas verbal, escrita, visual.
1‑ Instruções para o participante/estudante/candidato: informações essenciais para o caso clínico,
definição das tarefas e sua duração (estabelecer um limite de duração da atividade com tempo suficiente
para que os participantes atinjam os objetivos).
2‑ Instruções sobre o cenário simulado: realizar a listagem dos recursos de acordo com as necessidades
e possibilidades do cenário: 1) espaço para a simulação; 2) simuladores (manequins), se forem utilizados;
3) mobiliários (cama, cadeira, armários, suporte de soro, biombo); 4) equipamentos (monitor, aspirador,
foco); 5) materiais (seringas, sondas, termômetro); 6) documentação de apoio (cartas de encaminhamento,
ficha de atendimento, exames complementares); 7) utilização de recursos diagnósticos e terapêuticos,
de medicações, de equipamentos; e 8) adereços (roupas, documentos de identificação, embalagens de
remédios, exames prévios, dispositivos invasivos, maquiagem, sangue e secreções).
3‑ Checklist de montagem da estação: incluindo a disposição do mobiliário e das pessoas envolvidas em
cena, para sua padronização e reprodutibilidade.
4‑ Recursos humanos para condução do cenário: definir os diferentes papéis a serem desempenhados no
cenário para estabelecer o número de participantes e seus pré‑requisitos. Em relação ao levantamento dos
recursos humanos, devem ser incluídos facilitadores, pacientes simulados ou padronizados, operadores de
equipamentos tecnológicos e outros que venham a se fazer necessários.

Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 75
Quadro 3 – Continuação...

Definições prévias:
5‑ Orientações ao paciente simulado: script e, caso haja necessidade, descrição das observações para
moulage, vestimenta e adereços.
6‑ Orientações e informações ao examinador/avaliador: descrição sequencial e cronológica das condutas
a serem tomadas pelo estudante/candidato.
7‑ Informações sobre o caso e condutas a serem tomadas: descrição das possibilidades de condutas que o
estudante/candidato pode tomar e se comportar, definindo como agir.
8‑ Fluxograma de decisões possíveis das estações: para auxílio no desenvolvimento do cenário de acordo
com a evolução e as ações do participante.
9‑ Checklist do examinador/avaliador: contendo as ações/atividades adequadas que os participantes
devem desenvolver durante a prática simulada.

(caso seja simulação cênica, fluxograma de de‑ opções ou somente as duas extremas, inutilizando
cisão do avaliador e instrumento padronizado as opções intermediárias. No caso de utilização das
de avaliação – checklist). opções “Adequado” e “Parcialmente adequado”, é
Na engenharia do cenário simulado, após a de‑ preciso definir, em cada um dos itens, quais os cri‑
finição dos 15 itens da encomenda da estação simu‑ térios que diferenciam essas duas opções.
lada, os professores que estão sendo capacitados já
devem ter decidido por uma série de elementos que
permitem a visualização da futura estação simulada. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É neste momento que os facilitadores da capacita‑
ção docente, com experiência em simulação, fazem Neste capítulo, buscamos demonstrar que embora
as sugestões de viabilidade e fidelidade do cenário existam evidências de que o uso da simulação como
simulado. Feito isso, o próximo passo é a utilização estratégia de ensino e aprendizagem na educação
do modelo de construção completa da estação simu‑ em saúde possa ser eficaz, isso depende da forma
lada pelos professores em capacitação (Tabela 2). como ela é praticada, já que precisa ser formulada
Os checklists representam listas de ações ou itens de maneira apropriada para que de fato contribua
específicos a serem executados pelo aprendiz, bem com o aumento do conhecimento, e com a melho‑
como solicitam que os avaliadores atestem ações di‑ ria das habilidades e dos comportamentos profis‑
retamente observáveis. sionais e clínicos dos participantes.
A priori, um bom instrumento de avaliação deve Diante da diversidade de informações que atra‑
idealmente (KUUSKNE, 2017): vessam a literatura sobre o tema, e da ausência de
• possuir alta confiabilidade entre avaliadores; consenços, procuramos problematizar alguns con‑
• ter alta validade de construção; ceitos e práticas, buscando aporte em estudos recen‑
• ser viável para aplicar; tes que partem de questionamentos sobre conteúdos
• ser capaz de discriminar diferentes níveis de estruturantes para simulação enquanto técnica de
aprendizagem. ensino, tais como: 1) fidelidade; 2) realismo; 3) sus‑
É importante que a escolha dos itens do che‑ pensão da descrença; 4) contrato de ficção; e 5) com‑
cklist tenha o embasamento em protocolos e con‑ plexidade, com vistas a organizar os conhecimen‑
sensos para que não haja dúvidas sobre suas esco‑ tos básicos para estruturação do treinamento de
lhas. Isso também irá facilitar a ponderação de cada habilidades e da elaboração das estações simuladas.
tópico e de seus itens de avaliação. Outro ponto sobre o qual nos debruçamos foi
Na Quadro 4, pode‑se ver o modelo de checklist em relação ao desenvolvimento dos cenários para
proposto, com uma estrutura de tópicos que envol‑ o treinamento com simulação clínica, trazendo uma
vem vários itens de avaliação. Há quatro opções de sugestão para design, cuidadosamente elaborada e
respostas, sendo que, no processo de elaboração descrita, no intuito de instrumentalizar os leitores
do checklist, é necessário checar os itens individu‑ em relação a construção e aplicação de simulação
almente para se definir se serão mantidas todas as para o ensino e para avaliação.

76 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 4 – Estrutura de montagem do checklist das estações simuladas. Fonte: elaborada pelos autores.

Parcialmente
Indicadores de avaliação Não Fez Inadequado Adequado
adequado
A Tópico avaliado 1
1 Indicador a
2 Indicador b
3 Indicador c
4 Indicador d
B Tópico avaliado 2
5 Indicador f
6 Indicador g
7 Indicador h
8 Indicador i
C Tópico avaliado 3
9 Indicador j
10 Indicador k
11 Indicador l
12 Indicador m

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80 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


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Conhecimentos básicos para estruturação do treinamento de


habilidades e da elaboração das estações simuladas 81
CA P Í T UL O 4

Princípios Instrucionais na
Simulação: Uso das Diretrizes
de Desenho Instrucional na
Simulação

83
Brena Melo, MD, PhD, OBGYN
PhD Maastricht University
Coordenadora do Centro de Simulação da
Faculdade Pernambucana de Saúde ‑ FPS
Coordenadora da Enfermaria de Gestação de
Alto Risco do Instituto de Medicina Integral
Prof. Fernando Figueira ‑ IMIP

1. PANORAMA GERAL: POR QUE SIMULAÇÃO?

Nas últimas décadas, a simulação – replicação de a experimentação de novas práticas (PINTO DE


aspectos da realidade em ambiente controlado – MELO, 2018).
tem sido cada vez mais adotada como estratégia de Um marco histórico de disseminação do treina‑
treinamento na área de saúde. Historicamente, a mento em simulação na área da saúde foi o relató‑
simulação foi amplamente adotada nas rotinas de rio To Err is Human, de 1999, do National Institutes
treinamento das indústrias da guerra e da aviação. of Health (NIH). De acordo com o documento, a
Ou alguém, em tempos atuais, concebe embarcar cada ano, 98 mil pessoas morriam em hospitais
em um avião comandado por um piloto sem um dos Estados Unidos como resultado de erros mé‑
número adequado de horas de treinamento em si‑ dicos evitáveis. Além de chocar a opinião pública
muladores, com feedback adequado e treinamento da época, o relatório tornou evidente a necessidade
de situações adversas? Da mesma forma, na saúde de treinamento regulares para os profissionais de
o treinamento em simulação torna‑se indispensá‑ saúde – tanto para aqueles em formação quanto os
vel para o desenvolvimento das diferentes com‑ mais experientes. A partir daí, associado ao unís‑
petências de seus profissionais, tendo a oportuni‑ sono objetivo de melhoria nos cuidados com pa‑
dade de promover: a) treinamento em “ambiente cientes e nos desfechos deles, houve a dissemina‑
seguro para erros” – eventuais erros não levam a ção do treinamento em simulação na área da saúde.
perdas de vidas; b) chance de repetição da prá‑ Atualmente, alguns dados sustentam essa necessi‑
tica até a sua excelência; e c) um ambiente para dade, por exemplo, o aumento do número de mortes

84 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


maternas nos Estados Unidos (muitas evitáveis) – mento) (MELO et al., 2018; VAN MERRIËNBOER;
na contramão do panorama mundial de redução de KIRSCHNER, 2018).
mortes maternas. Ainda, atualizações preocupantes Para um bom desenho instrucional da simula‑
do levantamento realizado pelo NIH apontam para ção, o uso de algumas orientações, organizadas sob
números pelo menos duas vezes maiores de eventos forma de diretrizes, deve ser considerado. As dire‑
adversos evitáveis do que os anteriormente repor‑ trizes de desenho instrucional são recomendações
tados (KOHN et al., 2000; JAMES, 2013). práticas para o aprendizado e a transferência dele
A disseminação dos treinamentos em simula‑ e derivam de sólidas teorias cognitivas sobre como
ção em saúde, frequentemente associada a eleva‑ as pessoas aprendem. Mais adiante, serão apresen‑
dos investimentos financeiros, sem planejamento tadas duas diretrizes de desenho instrucional que
adequado, contudo, não assegura uma melhoria de sumarizam as principais orientações: os primei‑
resultados para os pacientes. Para uma eficiência e ros princípios instrucionais de Merrill – Merrill’s
consequente otimização dos recursos, é necessário, First Principles of Instruction – e o modelo de dese‑
portanto, um planejamento instrucional (pedagó‑ nho instrucional de quatro componentes – 4C/ID
gico) dos formatos dos treinamentos. Esse planeja‑ model (MERRILL, 2002; VAN MERRIËNBOER;
mento tem o objetivo de maximizar: a) o aprendi‑ KIRSCHNER, 2018). Mas, antes, faz‑se um resumo
zado; b) a transferência do conhecimento – tornar de conceitos cognitivos introdutórios sobre o pro‑
o aprendiz capaz de aplicar o conhecimento adqui‑ cesso de aprendizagem.
rido em seu ambiente profissional; e c) os resulta‑
dos – no caso da saúde, uma melhora dos desfechos
nos cuidados com os pacientes (KIRKPATRICK, 3. COMO APRENDEMOS?
1996). Metanálises sobre a eficiência dos treina‑
mentos em simulação apontam para essa necessi‑ O modelo de Atkinson e Shiffrin – uma das teorias
dade de planejamento pedagógico adequado com de memória humana mais aceitas – descreve o pro‑
o uso de elementos instrucionais eficientes (por cessamento de informações pelo cérebro humano
exemplo, variabilidade e complexidade crescente em três estágios: registro sensorial, memória de tra‑
de casos, feedback) (COOK et al., 2013). balho e memória de longo prazo. O primeiro, o regis‑
tro sensorial, percebe os diferentes estímulos sen‑
soriais do ambiente a partir dos sentidos: audição,
2. CONSTRUÇÃO DE CENÁRIO PARA APRENDIZAGEM tato, visão e olfato. Naquele momento, o aluno tem
a capacidade de reter a informação por apenas al‑
A simulação como estratégia instrucional pode ser gumas frações de segundos. A seguir, apenas parte
planejada tanto para o ensino de habilidades ma‑ dessa informação é selecionada e processada pela
nuais pontuais, por exemplo, aprender pontos de memória de trabalho – com capacidade de reten‑
suturas, quanto para manejos de situações clínicas ção um pouco maior, mas ainda menos de um mi‑
complexas. Na prática diária, o manejo real do pa‑ nuto, e depois facilmente esquecida. Entretanto, é
ciente envolve uma grande interação de elementos, nesse estágio, na memória de trabalho, em que há
e essa complexidade vivenciada pelo profissional chance de ocorrer o processo cognitivo, após o qual
de saúde pode ser aprendida, treinada e praticada a informação pode ser processada e retida por mais
(aprendizagem complexa) em um ambiente simu‑ tempo. Uma vez processada pela memória de tra‑
lado. Ao se considerar essa necessidade de apren‑ balho, a informação é então armazenada na memó‑
dizagem complexa – a integração de conhecimento, ria de longo prazo (ATKINSON; SHIFFRIN, 1968;
habilidades psicomotoras e atitudes –, fica evidente MELO et al., 2018).
o quão fundamental é planejar treinamentos eficien‑ A memória de trabalho é considerada como de
tes em simulação. A grande vantagem da simulação “capacidade limitada”, conforme sintetizada no
ocorre por conta de sua característica de possibilitar conceito tradicional de Miller (MILLER, 1955),
o estímulo simultâneo de vários dos sentidos, como do “número mágico sete, mais ou menos dois”. De
audição, tato e visão, favorecendo, assim, o apren‑ acordo com esse conceito, a memória de trabalho
dizado. Além disso, se bem desenhada sob uma pers‑ tem a capacidade de processar grupos de informa‑
pectiva instrucional, ela promoverá não apenas o ções em blocos de sete mais ou menos duas unida‑
aprendizado, mas, em longo prazo, a capacitação do des. Exemplos práticos desse conceito podem ser
aprendiz de aplicar o conhecimento adquirido na vistos em números de telefone, códigos de endere‑
sua prática profissional (transferência do conheci‑ çamento postal (CEP) etc. Por fim, a memória de

Princípios Instrucionais na Simulação: Uso das Diretrizes de Desenho Instrucional na Simulação 85


longo prazo tem potencial para arquivar um nú‑ 4. DIRETRIZES DE DESENHO INSTRUCIONAL
mero ilimitado de esquemas cognitivos após pro‑
cessamento na memória de trabalho. A seguir, serão apresentadas duas das principais
Baseada nessas premissas, a teoria da carga cog‑ diretrizes de desenho instrucional: os primeiros
nitiva diferencia três tipos de cargas: carga intrín‑ princípios instrucionais de Merrill – Merrill’s First
seca, determinada pela complexidade das tarefas Principles of Instruction – e o modelo de desenho
(por exemplo, a quantidade de elementos de intera‑ instrucional de quatro componentes – 4C/ID model
ção que devem ser processados simultaneamente); (MERRILL, 2002; VAN MERRIËNBOER; CLARK;
carga externa ou irrelevante, trazida por desenhos CROOCK, 2002).
instrucionais subótimos e associados a processos que De acordo com Merrill, cinco princípios instru‑
não contribuem para a aprendizagem (por exem‑ cionais devem ser considerados ao se elaborar um
plo, lidar com redundância ou dispersões); e carga treinamento para promover aprendizagem e trans‑
cognitiva natural ou relevante, causada por dese‑ ferência da aprendizagem: (1) os aprendizes devem
nho instrucional apropriado e processos associados ser estimulados a resolver um problema do mundo
que contribuem diretamente para a aprendizagem real (problema autêntico); (2) o conhecimento pré‑
(por exemplo, a indução e a elaboração) (SWELLER, vio dos aprendizes deve ser utilizado como base
1994; VAN MERRIËNBOER; SWELLER, 2010). para a construção de novo conhecimento; (3) deve
A Figura 1 representa esse modelo. haver demonstração do que se deseja ensinar; (4) o
Para serem eficientes, as estratégias de instru‑ aprendiz deve ter a oportunidade de aplicar o novo
ção, como a simulação, devem facilitar o esforço conhecimento; e (5) o aprendiz deve ter a oportuni‑
da memória de trabalho e promover a construção dade de integrar o novo conhecimento ao seu mundo
de esquemas cognitivos para o longo prazo, e as real. A Figura 2 apresenta uma síntese dessa dire‑
diretrizes de desenho instrucional fazem exata‑ triz (MERRILL, 2002).
mente esse papel (VAN MERRIËNBOER; KESTER; Já o modelo 4C/ID apresenta quatro componen‑
PAAS, 2006; VAN MERRIËNBOER; SLUIJSMANS, tes: (1) tarefas a serem aprendidas; (2) informação
2009; SWELLER; MERRIËNBOER; PAAS, 1998; de suporte (ou de apoio); (3) informação de proce‑
VAN MERRIËNBOER; SWELLER, 2005; VAN dimento; e (4) prática parcial (Figura 3). As tarefas
MERRIËNBOER; KIRSCHNER, 2018; PINTO DE a serem aprendidas (o “problema” do cenário) de‑
MELO, 2018). vem visar à integração de conhecimento, práticas e

Figura 1 – Modelo de Processamento de Informação. Figura adaptada de Atkinson e Shiffrin (1968), Tradução: Brena Melo,
Arte: Bruno Hipólito.

86 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


atitudes e promover tarefas completas, não apenas
parciais. Elas devem ser autênticas, ou seja, basea‑
das em problemas factíveis do dia a dia, e devem ser
organizadas em tipos de tarefas com ordem cres‑
cente de complexidade, com diminuição progres‑
siva do suporte (orientações) a cada tipo diferente
de tarefa praticada. O ideal é que haja grande varia‑
bilidade das práticas, o que, na simulação, pode ser
oferecido por meio de múltiplos cenários.
A informação de suporte (ou de apoio) deve dar
suporte à aprendizagem e performance dos aspec‑
tos não recorrentes (não automatizados) das tarefas.
São roteiros, diretrizes, referências ou resumos so‑
bre o tema a ser ensinado. Ela corresponde ao emba‑
Figura 2 – Primeiros Princípios instrucionais de Merrill
samento teórico do problema (objetivo de aprendi‑
(Merrill’s First Principles of Instruction) Figura adaptada de zagem) e deve explicar como resolver os problemas
Merrill (2002).Tradução: Brena Melo, Arte: Bruno Hipólito. e como organizar o conhecimento. A informação

Figura 3 – Representação gráfica dos quatro componentes do Modelo 4C/ID: (a) tarefas a serem aprendidas, (b) informação
de suporte (ou de Apoio), (c) informação de procedimento, e (d) prática parcial, by Jeroen J. G. van Merriënboer, 2020.
Fonte: Four-Component Instructional Design (2021).

Princípios Instrucionais na Simulação: Uso das Diretrizes de Desenho Instrucional na Simulação 87


de suporte (ou de apoio) deve ser específica para decrescentes das bolas maiores indicam a diminui‑
cada tipo de tarefa e estar sempre disponível para ção do suporte ao longo do treinamento.
os aprendizes (VAN MERRIËNBOER; CLARK;
DE CROOCK, 2002; VAN MERRIËNBOER; 4.1 AUTENTICIDADE DO PROBLEMA
KIRSCHNER, 2018; FREREJEAN et al., 2019; Um elemento fundamental para promover o apren‑
PINTO DE MELO, 2018). Por exemplo, em um dizado e a transferência de conhecimento a longo
treinamento simulado para hemorragia pós‑parto prazo é a motivação do aprendiz. Para sentir‑se
(HPP), a informação de suporte (ou de apoio) pode “motivado” a resolver o problema apresentado,
ser representada por um protocolo sintetizando as o cenário simulado deve parecer autêntico, real.
condutas para o manejo da HPP. Assim, algumas dimensões devem ser considera‑
A informação de procedimento deve ser pré‑re‑ das para se imprimir um clima de motivação e re‑
quisito para a aprendizagem e performance dos as‑ alidade ao cenário.
pectos recorrentes das tarefas práticas e deve de‑ Primeiramente, o cenário deve refletir um pro‑
talhar, de maneira precisa, como realizá‑las, com blema passível de ser encontrado pelo profissional
orientações passo a passo. Ela deve ser apresen‑ em treinamento, seja um evento raro ou frequente
tada no exato momento em que o aprendiz precisa no dia a dia do profissional. Além disso, há o grau
(just‑in‑time – JIT – information) até poder ser dis‑ de fidelidade do cenário, que deve ser considerado
pensada. Por exemplo, em uma simulação para in‑ em dois aspectos: a fidelidade psicológica e a fide‑
tubação orotraqueal, o JIT poderia ser represen‑ lidade de engenharia. A fidelidade psicológica, ou
tado por um diagrama demonstrando como testar funcional, refere‑se ao quanto a apresentação e o
o cuff do tubo orotraqueal antes do procedimento. desenho do cenário motivam os aprendizes a resol‑
Por fim, a prática parcial oferece a oportunidade ver o problema apresentado. Se, por exemplo, du‑
de praticar alguns aspectos recorrentes das tare‑ rante um treinamento simulado os aprendizes afir‑
fas até que se atinja um grau elevado de automa‑ mam ter, de fato, engajado‑se emocionalmente na
ção, e, para isso, a atividade deve oferecer oportu‑ resolução do problema presente no cenário, houve
nidade de várias repetições (VAN MERRIËNBOER; boa fidelidade psicológica. Em um estudo qualita‑
KIRSCHNER, 2018; VAN MERRIËNBOER; CLARK; tivo com entrevistas com residentes, após um trei‑
DE CROOCK, 2002; FREREJEAN et al., 2019). namento simulado um deles afirmou: “Houve uma
As duas diretrizes apresentadas têm como pre‑ hora em que todos se estressaram com o caso”, o
missas em comum que um treinamento eficiente ou que demonstra uma boa fidelidade psicológica desse
simulação deva apresentar um “problema” ou obje‑ treinamento (PINTO DE MELO, 2018).
tivo de aprendizagem que tenha autenticidade, ou Já a fidelidade de engenharia, ou física, refere‑se
seja, cenários que reproduzam os desafios do dia a ao grau com que o simulador (manequim parcial
dia do aprendiz. Elas também destacam a importân‑ ou completo, de alta ou baixa fidelidade) ou o am‑
cia de se oferecer oportunidade de repetição da prá‑ biente replicam as características físicas da tarefa
tica durante o treinamento por meio, por exemplo, de real. Apesar do debate atual na literatura quanto à
múltiplos cenários; oferecer prática distribuída, com exata definição de autenticidade, há um consenso
aumento progressivo de dificuldade a cada cenário; geral de que o importante é provocar os aprendi‑
promover a interação cognitiva e construir o apren‑ zes a perceber o cenário como “desafiadores”, a
dizado a partir do conhecimento prévio do apren‑ ponto de sentirem‑se motivados a despender o es‑
diz; oferecer diferentes estratégias de aprendizagem; forço necessário para resolver o problema apresen‑
oferecer feedback ou debriefing no caso da simula‑ tado (MARAN; GLAVIN, 2003; GRIERSON, 2014;
ção; diminuir o suporte ao longo do treinamento; PINTO DE MELO, 2018).
dar oportunidade de praticar e integrar o conheci‑ Enquanto a fidelidade psicológica deve ser sem‑
mento (CHAUVIN, 2015; VAN MERRIËNBOER; pre priorizada, a intensidade da fidelidade de en‑
KIRSCHNER, 2018; MERRIËNBOER; SWELLER, genharia vai depender, principalmente, do grau de
2005; CHENG et al., 2014; LEVETT‑JONES; experiência dos alunos. Para os mais experientes
LAPKIN, 2014; HATALA et al., 2014). (internos ou já profissionais de saúde), há maior
Na Figura 3, os círculos maiores representam necessidade de uma fidelidade do ambiente, do
as tarefas a serem aprendidas; as imagens em “L”, a material, ou seja, da fidelidade de engenharia, o
informação de suporte; as barras cinzas com setas, que pode ser obtido a partir de uma combinação
a informação de procedimento; e as caixas com bo‑ de um paciente simulado com um simulador par‑
las menores, a prática parcial. Os preenchimentos cial de baixo custo, por exemplo. Dessa forma, a in‑

88 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


corporação de manequins de alta fidelidade pode autenticidade ao cenário (SØRENSEN et al., 2013,
se adequar às diferentes realidades orçamentárias 2017; PINTO DE MELO, 2018).
sem maiores prejuízos. Para aprendizes noviços, os
simuladores devem estar disponíveis, mas a repro‑ 4.2 ATIVAÇÃO DO CONHECIMENTO PRÉVIO
dutibilidade do ambiente, como um bloco cirúrgico, Outro elemento instrucional há muito reconhecido
pode ser reproduzido em menor riqueza de deta‑ como relevante é a ativação do conhecimento pré‑
lhes (MARAN; GLAVIN, 2003; NORMAN; DORE; vio. Por esse motivo, é intrigante que alguns trei‑
GRIERSON, 2012; GRIERSON, 2014). namentos continuem a ser desenhados e planeja‑
Outro elemento importante para uma boa trans‑ dos sem essa etapa. Mesmo diante de um grupo
ferência do conhecimento é a relevância do conte‑ sem qualquer experiência prática sobre o assunto,
údo a ser treinado, ou seja, os objetivos de aprendi‑ a ativação prévia de questionamentos e de concei‑
zagem da simulação devem ser considerados como tos ainda imprecisos promove uma maior apren‑
relevantes pelos aprendizes, pois isso aumenta a dizagem. Isso porque o arcabouço teórico, ou seja,
chance de o conhecimento adquirido ao longo do o esquema cognitivo provocado e montado nessa
treinamento ser aplicado posteriormente no seu dia etapa, pode, então, ser aprimorado e/ou corrigido
a dia de trabalho (BALDWIN; FORD, 1988). Como ao longo do treinamento. Essa etapa deve estar
exemplo, pode‑se preparar um caso de reanimação presente em todas as simulações planejadas como
cardiovascular para estudantes do final do curso de treinamento (PINTO DE MELO, 2018; MERRILL,
Medicina e/ou casos de classificação de risco atípi‑ 2002; SWELLER; MERRIENBOER; PAAS, 1998).
cos para estudantes de Enfermagem. Por exemplo, pode‑se nessa etapa revisar o mate‑
O local onde será oferecido o treinamento tam‑ rial teórico enviado previamente para os apren‑
bém deve ser considerado como importante para dizes sobre o tema da simulação a ser vivenciada.
a autenticidade do cenário. Um treinamento simu‑
lado pode ocorrer “in situ”, ou seja, no próprio am‑ 4.3 DEMONSTRAÇÃO
biente de trabalho (uma sala de parto sem pacien‑ Depois da elaboração de um cenário autêntico e da
tes reais), ou “off site”, em um centro de simulação ativação do conhecimento prévio, no passo a seguir
(Figura 4). As questões operacionais envolvidas (via‑ os objetivos de aprendizagem (por exemplo, inser‑
bilidade de se bloquear uma sala do centro cirúr‑ ção de cateter ou manejo adequado de caso clínico)
gico para treinamento) terminam sendo decisivas devem ser preferencialmente demonstrados àqueles
nesse processo de escolha. Quando possível, para em treinamento. A demonstração pode ser feita em
treinamento de profissionais mais experientes, o tempo real, por um instrutor ou monitor, com uso
treinamento in situ contribui para dar uma maior dos manequins, simuladores parciais e/ou pacien‑
tes simulados, por vídeos ou outras formas de mul‑
timídia (MELO et al., 2017; VAN MERRIËNBOER;
KIRSCHNER, 2018).
Nessa etapa de demonstração, deve‑se refletir
sobre o contexto em que as tarefas a serem apren‑
didas podem estar inseridas, e, se possível, ele deve
ser também demonstrado. Ao se considerar como
tarefas a serem aprendidas uma colocação de sonda
vesical de demora, os possíveis contextos devem ser
incorporados na etapa de demonstração, por exem‑
plo, inserção de sonda em um paciente inconsciente
ou colocação de sonda em um paciente com des‑
conforto durante o procedimento.

4.4 REPETIÇÃO
Após uma primeira exposição ao cenário, os pro‑
fissionais em treinamento devem ser expostos a
mais de uma oportunidade de praticar os objeti‑
Figura 4 – Treinamento simulado para hemorragia pós‑parto
realizado em ambiente in situ (dentro do hospital). Foto:
vos de aprendizagem. Dessa forma, mais de um ce‑
Juliano Domingues (imagens autorizadas). nário deve ser elaborado e oferecido durante cada
treinamento. Outro elemento a ser considerado é

Princípios Instrucionais na Simulação: Uso das Diretrizes de Desenho Instrucional na Simulação 89


a variabilidade. Os múltiplos cenários oferecidos Em um estudo comparativo realizado sobre o
precisam ter variações nos casos clínicos, apesar uso de diretrizes de desenho instrucional para o
do objetivo final de aprendizado em comum. Por treinamento da HPP, compararam‑se dois forma‑
exemplo, os diferentes cenários de manejo da he‑ tos de treinamento: um com base nas boas práti‑
morragia pós‑parto (objetivo de aprendizado glo‑ cas disponíveis até então, e outro fundamentado
bal) podem apresentar causas variadas para o san‑ nas diretrizes de desenho instrucional, com os ca‑
gramento (por exemplo, um caso de HPP pode ser sos apresentados em forma crescente de comple‑
causado por hipotonia isolada; e o outro caso, pela xidade (MELO et al., 2017). Nesse formato funda‑
combinação da hipotonia e laceração de trajeto). mentado nas diretrizes, o primeiro caso de HPP era
A variabilidade é um elemento fundamental para de uma retenção placentária simples; no segundo
a promoção do aprendizado e transferência do co‑ caso, a HPP era causada por uma combinação de
nhecimento – maiores detalhes dessa série de estu‑ laceração e hipotonia uterina, porém responsivas
dos serão apresentados adiante (MELO et al., 2017; às drogas; no terceiro, último e mais complexo caso
PINTO DE MELO, 2018; VAN MERRIËNBOER; apresentado, a HPP não era responsiva às drogas, a
KIRSCHNER, 2018) paciente evoluía com choque hipovolêmico, e era
necessário indicar histerectomia, ou seja, a cada ce‑
4.5 PRÁTICA DISTRIBUÍDA OU EFEITO DE nário, os aprendizes eram submetidos a uma com‑
ESPAÇAMENTO plexidade crescente dos casos.
O espaçamento entre exposições a conteúdo e/ou
treinamentos é chamado de prática distribuída ou 4.7 INTEGRAÇÃO
efeito de espaçamento. Durante um treinamento, é Um próximo elemento instrucional que não deve
importante programar tempos de intervalos de ex‑ ser negligenciado é a integração do conhecimento
posição do mesmo tipo de conteúdo, pois essa prá‑ adquirido. Em casos de treinamentos para procedi‑
tica favorece a construção dos esquemas cogniti‑ mentos, um cenário final deve oferecer a oportuni‑
vos e a retenção do conhecimento (CEPEDA et al., dade de integrar as diferentes dimensões envolvi‑
2012; SWELLER; MERRIENBOER; PAAS, 1998; das nos objetivos de aprendizagem. Por exemplo,
VAN MERRIËNBOER; CLARK; CROOCK, 2002). um treinamento de inserção de sonda vesical de de‑
A programação de intervalos curtos leva a melho‑ mora pode apresentar um cenário em que: a) seja
res resultados quando comparados a picos concen‑ avaliada a indicação do procedimento; b) seja rea‑
trados de práticas sem intervalos. A programação lizado o procedimento; e c) haja oportunidade para
de prática parcial das tarefas é importante, uma explicar ao paciente simulado ou acompanhante si‑
vez que promove o aprendizado de maneira distri‑ mulado o procedimento realizado (MERRILL, 2002;
buída e habilita o aprendiz a associar o conteúdo VAN MERRIËNBOER; CLARK; CROOCK, 2002).
parcial ao conteúdo global (VAN MERRIËNBOER;
CLARK; CROOCK, 2002). Pode‑se, por exemplo,
programar pausas e intervalos ao longo de um dia 5. AVALIAÇÃO DA SIMULAÇÃO
de treinamento ou entre os cenários de um treina‑
mento simulado. 5.1 EFETIVIDADE DO TREINAMENTO SIMULADO:
MODELO DE KIRKPATRICK
4.6 COMPLEXIDADE CRESCENTE Para a avaliação do impacto do treinamento, o mo‑
Quando múltiplos e variados cenários forem ofere‑ delo mais comumente utilizado é o de Kirkpatrick
cidos, eles devem ser organizados em ordem cres‑ (Figura 5). De acordo com esse modelo, desfechos
cente de complexidade, preferencialmente inter‑ do treinamento são hierarquizados em quatro ní‑
calados por uma sessão de feedback ou debriefing. veis: 1) reação do aprendiz – o quanto os aprendi‑
A complexidade das tarefas pode ser definida pelo zes gostaram do treinamento; 2) aprendizagem – o
grau de interatividade entre os diferentes elemen‑ quanto se aprendeu; 3) comportamento ou transfe‑
tos das tarefas (por exemplo, conhecimento, ha‑ rência da aprendizagem; e 4) resultados – no caso da
bilidades, atitudes). A oportunidade de acrescer simulação, os desfechos dos pacientes. Estes níveis
e sedimentar o conhecimento a cada repetição, são tradicionalmente apresentados em uma ordem
cada vez mais complexa, favorece a aprendizagem hierárquica em que os resultados finais dependem
(VAN MERRIËNBOER; KIRSCHNER, 2018; VAN de bons resultados em cada um dos níveis iniciais
MERRIËNBOER; KESTER; PAAS, 2006). (PINTO DE MELO, 2018; KIRKPATRICK, 1996).

90 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


checklist ou por avaliação global (CHAUVIN, 2015;
ILGEN et al., 2015).
Uma outra proposta de avaliação pode ser ainda
ser considerada, a do domínio do aprendizado
(mastery learning), cujo objetivo final é que todos
os aprendizes atinjam todos os objetivos de apren‑
dizagem, com pouca ou nenhuma variação, mesmo
que isso demande um tempo maior de treinamento
(MCGAGHIE, 2015; COOK et al., 2013b).
É importante destacar que a simulação permite a
reprodução de um cenário autêntico em saúde, ideal‑
mente com o envolvimento de uma equipe multipro‑
fissional. Dessa forma, esse tipo de treinamento tem o
potencial para desenvolver a própria equipe nos mais
diferentes domínios: segurança do paciente, tomada
de decisões, consciência situacional (situational awa‑
Figura 5 – O modelo de quatro níveis de avaliação de reness) e o próprio trabalho em equipe (crew resource
treinamento de Kirkpatrick. Fonte: elaborada com base management). Por esse motivo, é de grande impor‑
em Kirkpatrick (1996). tância planejar quais os objetivos de aprendizado de
um cenário/treinamento elaborado e a quem eles se
destinam – a apenas um grupo de profissionais ou a
Mais recentemente, o modelo de Kirkpatrick, mais de um? À integração entre eles? Apenas após es‑
muito aplicado ao treinamento na área de ne‑ sas definições será possível selecionar os instrumen‑
gócios, tem sido citado na literatura de treina‑ tos de avaliação do treinamento (MCGAGHIE, 2015;
mento em saúde, particularmente em simulação EDOZIEN, 2015; BARSUK et al., 2016; COOK et al.,
(SCHAEFER et al., 2011; KIRKPATRICK, 1979; 2013a; EPPICH et al., 2011; WEAVER; DY; ROSEN,
SØRENSEN et al., 2009; AMEH; VAN DEN BROEK, 2014; ONWOCHEI; HALPERN, 2017; FUNG et al.,
2015). Apesar do seu uso disseminado por causa de 2015; SALAS; WILSON; BURKE, 2006; SALAS et al.,
sua fácil aplicação, há algumas críticas quanto ao 2012; PINTO DE MELO, 2018).
formato taxonômico de classificação, por não ha‑ Por sua vez, em relação ao terceiro nível de
ver detalhamento suficiente dos elementos envol‑ Kirkpatrick, o comportamento, ou transferência da
vidos no construto de cada um dos níveis nem das aprendizagem da simulação para o ambiente de tra‑
interações entre esses elementos. balho, é importante considerar a influência de fato‑
O próprio autor argumenta que a simplici‑ res presentes antes, no decorrer e depois do treina‑
dade do modelo teria sido intencional para facili‑ mento. De acordo com modelo de transferência da
tar seu uso (KIRKPATRICK, 1996; HOLTON, 1996; aprendizagem de Baldwin e Ford, os fatores presentes
YARDLEY; DORNAN, 2012; PINTO DE MELO, antes do treinamento (pré‑treinamento) que influen‑
2018). Ainda de acordo com os críticos, o primeiro ciam a transferência são a motivação do aprendiz em
nível de Kirkpatrick, a reação dos aprendizes, seria aprender e a relevância do conteúdo do treinamento
o mais frágil dos quatro níveis propostos, com me‑ (COOK; ARTINO, 2016; DYBOWSKI; SEHNER;
nor correlação com aprendizagem. Reconhece‑se, HARENDZA, 2017; FACTEAU et al., 1995).
então, que a reação (grau de satisfação dos apren‑ Entre os fatores do treinamento em si, destaca‑se
dizes com o treinamento) não deve ser priorizada o desenho instrucional da simulação. Recomenda‑se
como parâmetro para avaliação da eficiência do o planejamento instrucional cuidadoso, de preferên‑
treinamento (PINTO DE MELO, 2018). cia por meio das diretrizes de desenho instrucional
Em relação aos demais níveis de Kirkpatrick, – principalmente quando for planejada a aprendi‑
algumas estratégias podem ser adotadas com o in‑ zagem complexa, como é frequente em simulação
tuito de aprimorar suas avaliações. Por exemplo, na saúde (COOK et al., 2013a; SCHAEFFER et al.,
para a mensuração do segundo nível de Kirkpatrick 2011; ISSENBERG et al., 2005; MCGAGHIE et al.,
(aprendizagem), pode‑se fazer uso de diferentes for‑ 2010; MELO et al., 2017).
matos de avaliação na simulação: desde pré‑teste Os fatores pós‑treinamento influenciadores são
e pós‑teste, com avaliação simples do conheci‑ o feedback institucional e a oportunidade de aplicar
mento teórico, a avaliações por vídeo com uso de o conteúdo no ambiente de trabalho (BALDWIN;

Princípios Instrucionais na Simulação: Uso das Diretrizes de Desenho Instrucional na Simulação 91


FORD, 1988; SALAS et al., 2012; MELO et al., 2017). de residentes que participaram do treinamento dese‑
O feedback institucional consiste no monitoramento nhado com diretrizes de desenho instrucional, uma
das ações do aprendiz no ambiente de trabalho, por maior percepção de transferência do conhecimento,
parte da instituição; já a oportunidade de aplicar o com descrição mais detalhada dessa transferência.
conteúdo está relacionada ao planejamento da ati‑ Além disso, os residentes desse grupo também des‑
vidade, que deve se adequar à realidade profissio‑ creveram uma melhor capacidade de percepção da
nal do aprendiz (SALAS et al., 2012; BALDWIN; situação (situational awareness) após o treinamento
FORD, 1988). (PINTO DE MELO, 2018; EDOZIEN, 2015).
Na já referida série de estudos sobre o uso das No terceiro estudo da série, ao se analisar o im‑
diretrizes de desenho instrucional na simulação pacto no desfecho das pacientes com HPP antes e
para a hemorragia pós‑parto (HPP), foi demons‑ depois do treinamento simulado fundamentado
trado o impacto positivo do uso de tais diretrizes nas diretrizes de desenho instrucional, observa‑
na eficiência da simulação. No primeiro estudo, re‑ ram‑se resultados positivos após o treinamento.
alizou‑se uma comparação do aprendizado dos re‑ Verificou‑se um aumento na dose média de ocito‑
sidentes de tocoginecologia para o manejo da HPP cina por paciente com HPP, com administração de
entre dois tipos de formatos de simulação – um com doses terapêuticas de ocitocina em um menor nú‑
base em diretrizes de desenho instrucional e o ou‑ mero de mulheres, nos casos de HPP, naquele hospi‑
tro fundamentado em um desenho tradicional –, e tal, após o treinamento. Tais achados sugerem uma
a comparação foi feita por cenários simulados de melhor situational awareness após o treinamento
pré‑teste e pós‑teste. No pós‑teste, demonstrou‑se simulado com base nas diretrizes de desenho ins‑
que o grupo de residentes que atendeu ao treina‑ trucional (MELO et al., 2019).
mento fundamentado em diretrizes de desenho
instrucional realizou um número maior de tarefas
em um intervalo de tempo mais curto (MELO et al., 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
2017; MELO et al., 2018, MELO et al., 2019).
Um segundo estudo entrevistou os residentes que Os elementos (pedagógicos) instrucionais são fun‑
participaram dos dois desenhos de simulação para a damentais para promover a aprendizagem, particu‑
HPP quanto às suas percepções da transferência do larmente, na educação de adultos. Além do aprendi‑
conhecimento a longo prazo, dois anos após o trei‑ zado, um treinamento eficiente deve ter por objetivo
namento. Os residentes de ambos os formatos de também promover a transferência do conheci-
treinamento em simulação apontaram uma percep‑ mento, ou seja, o aprendiz deve tornar‑se apto a
ção positiva de transferência do conhecimento. Eles aplicar o conteúdo aprendido no seu próprio am‑
destacaram o uso da estratégia do dual‑coding como biente de prática profissional após o treinamento.
um elemento contribuinte para essa transferência. O E a simulação em saúde, quando associada ao uso
dual‑coding consiste em utilizar a combinação tam‑ das diretrizes de desenho instrucional, oferece as
bém de imagens que sumarizem a discussão e faci‑ condições ideais para um treinamento eficiente que
litem o armazenamento das informações discutidas leve ao aprendizado e promova a transferência do
(CLARK; PAIVIO, 1991). Houve, contudo, no grupo conhecimento (PINTO DE MELO, 2018).

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94 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


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Princípios Instrucionais na Simulação: Uso das Diretrizes de Desenho Instrucional na Simulação 95


CA P Í T UL O 5

Uso de pacientes simulados no


ensino e avaliação em saúde

97
Emerson de Barros Rossini
Mestre em Artes Cênicas pela
Universidade de São Paulo

Gerson Alves Pereira Júnior


Docente de Cirurgia de
Urgência e do Trauma
Universidade de São Paulo
Coordenador do Programa
ABEM de Simulação

1. INTRODUÇÃO 2. CONCEITOS

A importância da prática de simulação na Na educação em saúde, a simulação é uma prá-


área médica já é bastante discutida e estudada. tica interdisciplinar utilizada como meio didático
Numerosos artigos revelam o olhar para o ensino e pedagógico que possibilita ao estudante a anteci-
ou treinamento dos estudantes para o aprimora- pação das situações clínicas para treinar, retreinar,
mento de suas habilidades antes de se tornarem tirar dúvidas e aprimorar suas competências, an-
profissionais. Este texto traz a experiência do pro- tes do encontro com os pacientes reais. Dessa ma-
fissional da área de atuação e direção de elenco, neira, a simulação clínica apresenta-se como uma
com o objetivo de pensar na produção e no treina- possível estratégia de ensino e avaliação por meio
mento, entre outras especificidades, do trabalho do da qual se podem conquistar e confirmar compe-
paciente simulado/ator neste cenário. Ao se pen- tências clínicas, otimizando a capacitação profis-
sar na interpretação como uma ferramenta não só sional (OSSINI, 2020).
para pacientes simulados/atores em exercício de A participação de pacientes simulados na si-
suas funções, mas também como uma abertura de mulação cênica é um dos meios mais eficazes para
percepção para médicos em formação, podem-se a avaliação e formação de estudantes de Medicina,
ampliar as possibilidades de interação e de leitura atendendo às Diretrizes Curriculares Nacionais,
da relação interpessoal entre médico e paciente. que estipulam

98 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


[...] integralidade e humanização do cuidado por rimento de sensações como a vivência do papel
meio de prática médica contínua e integrada de paciente e de outros profissionais.
com as demais ações e instâncias de saúde [...], • Paciente simulado - é quando um participante
qualidade na atenção à saúde, pautando seu de uma simulação assume o papel de um perso-
pensamento crítico [...], segurança na realiza- nagem ou pessoa e o representa. Essa atuação
ção de processos e procedimentos, referencia- pode ser desempenhada por atores devidamente
dos nos mais altos padrões da prática médica, treinados ou improvisada entre os participan-
de modo a evitar riscos, efeitos adversos e da- tes da simulação.
nos aos usuários, a si mesmo e aos profissionais • Paciente padronizado - diferencia-se do pa-
do sistema de saúde. (BRASIL, 2014). ciente simulado pela capacidade de se comportar
de maneira consistente e precisa, que pode ser
Quando se pensa na avaliação do médico em igualmente repetida, a fim de dar a cada aluno
formação a partir de uma relação direta com o pa- uma chance justa e igual de aprendizagem, per-
ciente simulado/ator, o interesse também é enten- mitindo ainda uma avaliação das habilidades
der como esse futuro profissional da saúde, a par- aprendidas em um ambiente clínico simulado.
tir de seus conhecimentos teóricos e de sua postura Assume-se esse papel por meio de um contrato
como ser humano, lida com o paciente. O atendi- legal com a instituição de ensino. Para exercer
mento humanizado coloca o médico em uma situ- o papel de paciente padronizado, podem ser
ação mais empática com o paciente, ampliando a utilizados:
qualidade do atendimento e dos processos de tra- - estudantes de artes cênicas, atores de com-
balho, transformando e possibilitando a abertura de panhias de teatro amador ou mesmo atores
diálogo, promovendo a relação interpessoal em de- profissionais em simulação, principalmente
trimento de uma relação hierárquica e profanando em processos seletivos ou provas de sufici-
a esfera do divino, creditada aos que têm o poder ência, cuidadosamente recrutados e treina-
de curar e manter nossos corpos vivos e saudáveis. dos para assumir as características de um
Tanto no ensino como nas avaliações, o paciente paciente;
simulado é cuidadosamente treinado para assumir - membros da comunidade (criança, adoles-
as características de um paciente real, a fim de pro- cente, adulto, idoso ou mesmo portador de al-
porcionar ao estudante a oportunidade de apren- guma doença, que vão responder a qualquer
der e/ou ser avaliado em suas supostas habilidades questionamento da história médica e social a
em primeira mão. partir de sua própria vida) (CHURCHOUSE;
No início da prática de simulação, os represen- MCCAFFERTY, 2012).
tantes de pacientes humanos eram comumente cha- • Modelo misto - combina paciente simulado com
mados de pacientes padronizados ou simulados, en- um simulador de baixa complexidade para o de-
tretanto, mais recentemente, percebendo-se que senvolvimento durante um cenário de uma ati-
estes podem representar um escopo expandido de vidade específica. Por exemplo, um braço aco-
funções (por exemplo, clientes, familiares, profis- plado a um estudante para compor o cenário
sionais de saúde), o termo “participante simulado” de coleta de sangue. Esse modelo proporciona
passou a ser utilizado por representar essa função ao aprendiz o desenvolvimento de habilidades
de maneira mais inclusiva (LEWIS et al., 2017). técnicas e comportamentais. Nos casos em que
Há muitos recursos e possibilidades nessas prá- há exames mais invasivos, como exposição do
ticas e, consequentemente, algumas nomenclaturas corpo nu, toque, apalpações, cenas com bebês,
(NEGRI et al., 2017) usadas de acordo com a carac- incisões ou até feridas, é necessária a utilização
terística da simulação. A seguir, apresentam-se os de manequins, bonecos ou exames pré-produ-
termos propostos: zidos na simulação, tudo para evitar possíveis
• Role play ( jogo de papéis) - consiste na situação constrangimentos.
em que o aprendiz, facilitador e/ou instrutor as- Há também a possibilidade dos “pacientes incóg-
sumem papéis diferentes no cenário simulado nitos”, que são aqueles pacientes reais, em ambien-
como se fossem integrantes de um caso clínico, tes reais, capacitados para avaliar o desempenho do
para fins de ensino e treinamento. Essa estra- profissional em meio a uma rotina de atendimento.
tégia fornece oportunidades de aprendizagem, Apesar de haver diferenças importantes na qua-
envolvendo tanto o processo afetivo quanto o lidade de interpretação (técnica de repetição, con-
cognitivo dos estudantes, pois permite o expe- trole muscular, controle emocional, técnicas inter-

Uso de pacientes simulados no ensino e avaliação em saúde 99


pretativas) entre atores e membros da comunidade, parcerias com núcleos teatrais ajuda na negocia-
aqui será adotado o termo “paciente padronizado”. ção das contratações, na ampliação da rede de co-
laboradores e na criação de um grupo capacitado
tecnicamente. Ademais, os contratos devem sem-
3. ARTICULAÇÕES NECESSÁRIAS PARA A CRIAÇÃO pre ser documentados e assinados nas bases legais,
DE GRUPOS DE PACIENTES SIMULADOS/ATORES assim como é aconselhável pedir assessoramento
PARA PARTICIPAÇÃO COMO PACIENTES SIMULADOS para sindicatos de artistas.
Além do estímulo financeiro ou de permuta,
A utilização de pacientes simulados pode se pode-se considerar que, sempre que possível, pa-
dar de várias maneiras, dependendo da estrutura cientes simulados/atores e atrizes devem ser re-
envolvida. Organizações como a Association of quisitados de uma maneira eficaz e contínua, e não
Standardized Patient Educators (ASPE), sediada de modo intermitente, pois isso mantém o inte-
na Flórida, Estados Unidos, e com membros asso- resse, a habilidade prática e a motivação. Definir
ciados em vários países, como Canadá, Turquia, uma agenda prévia ajuda a estreitar esses laços e
Austrália, Suíça, Chile, entre outros, criam redes compromissos.
especializadas em treinamentos de pacientes simu- Em outros países, essa prática é utilizada em
lados no mundo todo. Para a criação de um centro menores proporções, mas com aporte financeiro
específico de treinamento, deve-se levar em conta fornecido pelas universidades. Jennifer White, ad-
não só o orçamento apropriado, mas também a ar- ministradora do Programa de Pacientes Simulados
ticulação de pessoas capacitadas para a função de e Voluntários, trabalha com o modelo misto e re-
recrutamento. Seguindo o modelo da Association for cruta pacientes simulados/atores e voluntários a
Medical Education in Europe (AMEE) (CLELAND; partir do banco de dados da University Hospital
ABE; RETHANS, 2009), podem-se recrutar pacien- Southampton NHS Foundation Trust, na Inglaterra.
tes simulados em quatro etapas: Na Universidade de Leeds, também nesse país, são
• Etapa 1: em uma entrevista de triagem, incluir recrutados pacientes simulados/atores, e, muitas ve-
perguntas como “por que você está interessado zes, os próprios médicos trabalham na dramatização.
em se tornar um paciente simulado?”. Em relação aos valores pagos a pacientes si-
• Etapa 2: informar ao candidato a função do pa- mulados/atores e atrizes, eles variam por período
ciente simulado e, se possível, dar a ele a opor- trabalhado. Em Leeds, o cachê é em torno de 100
tunidade de observar um treinamento ou uma libras a diária. Já segundo a tabela de valores de
dramatização. cachês feita pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos
• Etapa 3: orientar o trabalho em prol dos objeti- em Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo
vos educacionais do programa em acordo mútuo. (2018), o valor da diária do paciente simulado/ator
• Etapa 4: estabelecer um período de avaliação é de R$ 487,08. Contudo, outros tipos de vínculos
para poder verificar se o candidato é apto e se podem ser feitos de acordo com a articulação local.
gosta de trabalhar como paciente simulado.
Reservar esse período de teste no recrutamento
também pode ajudar a prever possíveis proble- 4. ESTRATÉGIAS PARA CAPACITAÇÃO DO PACIENTE
mas de execução. SIMULADO: POSSIBILIDADES DE TREINAMENTO
Podem-se também estabelecer vínculos afeti-
vos com grupos de teatro amadores/profissionais, Para que haja isonomia nas condições oferecidas
estudantes de artes cênicas e outros cursos para aos estudantes ou candidatos que participam das
encontrar uma saída de baixo custo e interessante simulações, os pacientes simulados/atores e atrizes
para todos os envolvidos. A remuneração é neces- que representam o mesmo personagem precisam
sária em todos os casos envolvendo profissionais, padronizar a interpretação, o que é um grande de-
mas, quando o compromisso se estabelece também safio quando se trata de uma situação subjetiva e
em outras bases, o grupo se fortalece. É muito co- que depende do jogo estabelecido entre os pacien-
mum pacientes simulados/atores trabalharem com tes simulados/atores e candidatos. Dentro da sala
permutas em suas produções. Grupos recém-for- de atendimento, a simulação pode ser feita com o
mados, estudantes em escolas de teatro e grupos ator (seja ele profissional ou não), o candidato/es-
universitários estão sempre dispostos a negocia- tudante, o médico examinador e, quando possível,
ções, na maioria das vezes ligadas à falta de espa- também um técnico de áudio e vídeo para o regis-
ços para ensaio de suas produções. Por isso, gerar tro da simulação. Toda a estação pode ser gravada,

100 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


e o médico examinador faz a análise de forma sín- às técnicas usadas e que deve ser orientado por um
crona ou assíncrona. profissional da área do teatro, pois há numerosos
Os pacientes simulados/atores são treinados exercícios que podem chegar ao mesmo resultado.
e estão aptos a improvisar, padronizar a atuação e Os itens listados a seguir são questões abordadas
a repetir as situações diversas vezes, mantendo o em um treinamento para pacientes simulados/ato-
mesmo nível de atuação. Essas competências são res, aprimorando suas habilidades e conhecimen-
muito importantes para o sucesso da aplicação desse tos específicos para a dramatização:
tipo de prática. Além disso, evita-se a utilização de ▪ Informar as condições de trabalho, caracterís-
pacientes reais ou o risco da falta de adequação de ticas da prova, quantidade de pessoas envolvi-
um não profissional da área da atuação. Os pacien- das, logística, contratos se houver (consultar o
tes simulados/atores são contratados para simular sindicato local), horários de paradas para lan-
uma situação entre médico e paciente ou qualquer che ou almoço, além de tudo relacionado à parte
outro personagem por meio da utilização de um ro- organizacional e burocrática para que não haja
teiro de encenação (script), com a máxima proxi- dúvidas e contratempos.
midade de um atendimento real. Eles são escolhi- ▪ Fazer um treinamento mais direcionado ao
dos previamente pelo perfil de idade, sexo, etnia e, corpo dos pacientes simulados/atores e atri-
em algumas ocasiões, com especificidades físicas zes. Exercícios de observação, concentração, vi-
relacionadas às patologias propostas. são periférica, mimese corporal e controle mus-
No caso de avaliação utilizando a simulação, a cular são importantes para nivelar a técnica dos
confidencialidade das estações simuladas é fun- pacientes simulados/atores e minimizar as di-
damental, pois nenhuma informação sobre o caso ferenças que possam haver em seus aprendiza-
deve ser passada para o elenco até o dia da avalia- dos. Em um trabalho em grupo, há sempre a ne-
ção, evitando possíveis recursos judiciais poste-
cessidade de um “nivelamento técnico”.
▪ Fazer um treinamento de padronização de ges-
riores, principalmente nas situações em que haja
concorrência ou seleção a cargos. Em exames de
tos. Aqui acontece um trabalho mais específico
seleção, tais como as provas de residência médica
de criação de um vocabulário gestual do paciente
ou o Revalida, a logística deve ser programada para
simulado/ator, como graduar expressões de 1 a
que haja um coordenador de pacientes simulados/
10. Em uma escala visual numérica, a dor ab-
atores circulando pelos locais, sempre atento a qual-
dominal “nível 1”, em comparação com a “ní-
quer problema que possa surgir. É muito comum
vel 5”, tem diferentes consequências no corpo
que os médicos avaliadores tentem mudar, entre
um candidato e outro, o que já foi ensaiado, por en- do paciente simulado/ator. Quais seriam es-
tenderem a questão de forma diferente ou por per- sas diferenças? Como o paciente simulado/ator
ceberem que alguma informação não está clara. É pode igualar sua interpretação com os demais
orientado aos pacientes simulados/atores, caso isso do grupo?
ocorra, relatar ao coordenador para que as mudan- ▪ Criar partituras corporais (SANTOS, 2010) e
ças não alterem o conteúdo já treinado. É necessá- vocabulários uníssonos para que os pacientes
rio também haver pacientes simulados/atores ex- simulados/atores possam acessá-los com mais
tras de cada perfil, possibilitando trocas, rodízios, facilidade e rapidez.
pausas e momentos de descanso para manter a qua- ▪ Se possível, treinar os pacientes simulados/
lidade das reproduções interpretativas de cada es- atores com modelos de questões de provas dos
tação simulada. Essas práticas ajudam a evitar es- anos anteriores, ou seja, um ensaio da simulação.
tresses e preservar a acurácia da interpretação e a Dividir o grupo em duplas facilita o processo, co-
qualidade da atividade simulada. locando um para representar o médico, e o ou-
Na escolha dos pacientes simulados/atores, seus tro, o paciente. Aquele que treinará o papel do
históricos de formação e/ou suas experiências pro- paciente recebe as orientações específicas das
fissionais de palco devem ser levados em conta. A perguntas e respostas que devem ser dadas de
repetição, o controle muscular, a capacidade de im- acordo com o perfil da doença, enquanto o ou-
provisar dentro de um tema, a precisão e a escuta tro que representará o médico improvisa a si-
são algumas técnicas que pacientes simulados/ato- tuação. Já os demais pacientes simulados/ato-
res dominam e que são imprescindíveis em pacien- res assistem à improvisação. Também, deve-se
tes simulados. Após a escolha do elenco, é necessá- reservar um tempo no final para comentários e
rio treinamento específico, que pode variar quanto possíveis dúvidas.

Uso de pacientes simulados no ensino e avaliação em saúde 101


▪ Levar questões mais complexas de interpretação situação simulada da prática profissional, com
e, durante o improviso, problematizar criando a participação de paciente simulado/ator, ma-
obstáculos previsíveis, por exemplo, o candidato nequim ou simuladores de sons. O EAPP é um
passar mal ou falar muito baixo, ou ainda o pa- “caso longo” que possibilita a compreensão glo-
ciente simulado/ator apresentar sintomas que bal (integral) do paciente. As situações utiliza-
não eram estipulados no script da prova, enfim, das estão relacionadas às tarefas realizadas pelos
colocar os participantes em situações que são estudantes, na respectiva série e derivam das si-
comuns durante as simulações. tuações reais da prática profissional. (MORAES;
▪ Falar sobre os conceitos de comportamento ANGELI, 2016).
ético, tais como: não levar o celular para o lo-
cal da simulação; não fazer comentários sobre Atualmente, esse tipo de estratégia de simulação
o desempenho do candidato em momento al- é utilizado tanto para a avaliação do desempenho
gum; não falar alto para não atrapalhar a sala com caráter formativo e somativo quanto para o pro-
ao lado; manter a interpretação o mais fiel pos- cesso de ensino e aprendizagem, estando inserido
sível ao que foi passado no treinamento e está nos cursos de Medicina e Enfermagem. Outro exem-
no script; manter o corpo neutro, evitando ex- plo é o método amplamente utilizado na Escócia:
pressões involuntárias (tossir, coçar-se, puxar durante a dramatização, o paciente simulado deve
conversa fora do contexto da prova). responder se o candidato foi compreensivo e se sen-
Para assegurar que não haja imprevistos ou pro- tiu à vontade em falar com ele. São dadas notas de
blemas maiores, deve-se sempre pensar em um 0 a 2 para o candidato, sendo 0 = fraco, 1 = aceitá-
elenco extra. O coordenador de pacientes simula- vel e 2 = bom. A classificação contribui aproxima-
dos/atores precisa estar atento também à questão damente com 5% da pontuação geral.
de alimentação, intervalos para descanso, banheiro O acúmulo de funções pode atrapalhar o de-
e rodízios periódicos. É preciso lembrar que a re- sempenho do paciente simulado/ator, mas, quando
lação interpessoal humanizada é um treinamento combinada e treinada com antecedência, essa ava-
não só para médicos e pacientes, mas para todos liação pode se somar ao resultado final. Ao se pen-
envolvidos no processo, por isso boas conversas e sar em uma avaliação menos técnica, é possível apli-
acordos claros evitam problemas. car um checklist simples, com poucas informações,
também entre um candidato e outro.
Apesar de haver poucos estudos científicos so-
5. O PACIENTE SIMULADO/ATOR COMO AVALIADOR bre a prática do feedback de pacientes simulados,
COLABORADOR seja no ensino ou em situações de avaliação, as pos-
sibilidades são várias e heterogêneas. Portanto, não
Uma das vantagens de se trabalhar com pacien- há um padrão para esse treinamento específico que
tes simulados é a possibilidade de se ter uma avalia- possa ser realizado de acordo com as necessidades
ção específica sob a perspectiva do paciente. Esse de cada grupo.
feedback (BOKKEN et al., 2009) pode ser definido
como “informações específicas sobre a compara-
ção entre o desempenho observado de um estagiá- 6. REDAÇÃO DE UM ROTEIRO DE ENCENAÇÃO
rio e um padrão, dado com a intenção de melhorar (SCRIPT) PARA O PACIENTE SIMULADO
o desempenho do estudante”, podendo ser oral ou
escrito, durante ou após a dramatização. Contudo, Nas situações de uso da simulação para ensino,
este tipo de colaboração ainda é pouco usado no pode-se enviar o script alguns dias antes e até dis-
Brasil. Em uma instituição pública de ensino su- cutir pormenores com os pacientes simulados.
perior do interior do Estado de São Paulo, essa es- Entretanto, em situações de avaliação, o script é
tratégia está inserida na graduação nos cursos de entregue aos pacientes simulados/atores somente
Medicina e Enfermagem. Em 2003, com a mudança no dia, depois que todos os envolvidos na avaliação
curricular adotada na instituição, passou-se a utili- estiverem identificados e sem comunicação com o
zar o formato do Exercício de Avaliação da Prática meio exterior à prova. Como o treinamento da ques-
Profissional (EAPP), um: tão específica com o grupo de pacientes simulados/
atores que fará o mesmo personagem geralmente
[...] instrumento que avalia o desempenho do dura entre 60 a 120 minutos, então é aconselhável
estudante na realização de uma tarefa em uma treinar os examinadores das estações simuladas

102 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


no mesmo grupo. Além disso, utilizar gravação de ▪ Alguns candidatos, seguros de seu desempenho
vídeo de uma simulação de caso também ajuda no e de que nada mais precisa ser feito naquele pos-
aperfeiçoamento dos treinamentos. sível tempo de sobra, quebram o protocolo e en-
Para um script objetivo e eficaz, é possível citar tram em um diálogo coloquial sobre a vida dos
possíveis conteúdos: pacientes simulados/atores, e não do persona-
▪ Nome do personagem, idade, sexo e etnia. gem em questão. Descontraídos, tentam quebrar
▪ Resumo breve das características principais da o jogo da encenação fazendo perguntas pesso-
atuação, por exemplo, “paciente com muita dor, ais aos pacientes simulados/atores, por exem-
ansioso pelo resultado do exame”. Informações plo, se eles estão em cartaz com alguma peça,
curtas ajudam o paciente simulado/ator a se ou elogiando a interpretação, entre outros co-
lembrar da ação principal. mentários. Os pacientes simulados/atores de-
▪ Histórico do paciente simulado: informações vem manter o jogo dramático até o final, não
relevantes que têm ligação direta com a ação conversando com os candidatos.
dramatizada.
▪ Frases que DEVEM ser ditas pelo paciente si-
mulado/ator: a exatidão de termos usados evita 7. RELAÇÃO ENTRE A ESTAÇÃO PRÁTICA
ELABORADA E A DEFINIÇÃO DE PERFIL DOS
mal-entendidos. PACIENTES SIMULADOS
▪ Frases que NÃO DEVEM ser ditas pelo paciente
simulado/ator: pode acontecer de um paciente
Mesmo que haja um roteiro de ficção, o corpo do
simulado/ator em improviso falar algo que in-
paciente simulado/ator estará presente, e sua mate-
duza o candidato ao erro, e isso deve ser evitado.
rialidade será significante. Em um exemplo de um
▪ A descrição da enfermidade e seus sintomas
caso simulado em que o candidato teria que diag-
como dores e lesões, bem como a descrição da
nosticar um problema de tireoide no paciente simu-
situação física pormenorizada: por exemplo, lado, uma das atrizes tinha uma cicatriz real locali-
quais movimentos um paciente com dores lom- zada no pescoço exatamente na região da glândula
bares conseguiria fazer e quais não. analisada. Essa marca aparente deixou o candidato
▪ Objetividade e clareza: evitar sensações, abstra- confuso, pois ele entendeu que a cicatriz fazia parte
ções ou qualquer sintoma subjetivo. Por exem- da avaliação. Nesse momento, o avaliador interveio
plo, a indicação de uma reação a uma notícia e sinalizou que a cicatriz não era parte da questão.
de morte. O paciente simulado/ator deve cho- A atriz teve que ser dispensada para que não hou-
rar? Deve gritar? Deve socar a mesa? O enten- vesse mais confusão. Em outro caso, em um modelo
dimento da reação física do paciente simulado/ misto de simulação, com uma atriz e um bebê bo-
ator ajuda na padronização da interpretação. neco, de tamanho e peso real de um recém-nascido,
▪ As perguntas mais óbvias que podem ser feitas cujas medidas teriam que ser avaliadas no atendi-
pelos candidatos precisam ser previstas e ter mento, o candidato manipulou o boneco sem cui-
suas respostas definidas de forma bem clara. dado, segurando-o pendurado pelos pés, sendo mal
▪ É muito comum candidatos fazerem perguntas avaliado. Esses dois exemplos de relação entre rea-
não previstas ou fora de contexto. Como o pa- lidade e ficção mostram possibilidades distintas na
ciente simulado/ator responde a essas pergun- simulação cênica, um de supervalorização do real e
tas? É possível o improviso ou padronizam-se outro de displicência e incredulidade. Há uma ten-
respostas como “não sei sobre isso, doutor” ou são entre o corpo fenomenal e o corpo semiótico
“não está previsto no script!”. (FISCHER-LICHTE, 2013), e é preciso se atentar
▪ Além das perguntas espontâneas feitas pelos para essa tensão para que não haja prejuízo ao can-
candidatos e previstas no script, também pode- didato. Por isso, a corporeidade do paciente simu-
-se fazer a previsão de perguntas ativas feitas pe- lado/ator deve ser levada em conta na seleção do
los pacientes simulados em momentos especí- elenco, assim como a etnia, não só pelo fenótipo,
ficos do desenvolvimento da estação simulada, mas também pela sua carga cultural.
complementando a avaliação dos candidatos. As Aqui o corpo do paciente simulado/ator cria
respostas a serem dadas a essas perguntas ati- uma tensão dramática entre o que ele é e o que ele
vas dos pacientes simulados podem ser compu- representa, evocando diferentes objetivos, como es-
tadas como itens do instrumento padronizado pontaneidade, autenticidade e construção de uma
de avaliação (checklist) dos candidatos. materialidade realística da situação.

Uso de pacientes simulados no ensino e avaliação em saúde 103


Em alguns casos, a fusão dessa relação real e fic- dimento, sendo um controle visível. Percebe-se que,
cional está presente na interpretação do paciente durante a simulação, a maioria dos candidatos está
simulado/ator. Por exemplo, em uma ação em que o sempre atenta ao tempo, operando com uma pres-
paciente simulado/ator interpretava uma dor lom- são psicológica, já citada, uma pressão intencional,
bar que o impedia de se movimentar facilmente. que também faz parte da avaliação.
O médico/candidato tinha acertado quase toda a O ambiente é preparado para reproduzir o coti-
questão, e faltava apenas um item, que se referia diano das salas de atendimento dos hospitais. A re-
a uma exame específico para o qual o paciente si- alização das provas em salas de atendimento passa
mulado/ator deveria estar em outra posição física. por uma questão mais prática e financeira, tentando
Faltavam apenas poucos segundos para terminar manter a estética a mais próxima do real. É possí-
a prova quando o candidato se lembrou do exame. vel também construir consultórios médicos perso-
Em um impulso, como reação imediata para aju- nalizados conforme o tema em outros espaços. Em
dar o candidato e movido pela relação empática ambos os casos, a preservação do ambiente con-
criada, o paciente simulado/ator se posicionou ra- trolado e a similaridade com um consultório são
pidamente para o exame, esquecendo-se de toda a fundamentais para a imersão do candidato em sua
dificuldade de movimentação que o papel exigia. relação interpessoal com os pacientes simulados.
Nesse caso, houve um rompimento do jogo ficcio-
nal por força da relação real estabelecida, e o pa-
ciente simulado/ator foi advertido pela sua falha 8. OUTRAS POSSIBILIDADES
Esse não é um comportamento ideal para este tipo
de prova, pois interfere no resultado da avaliação. Estas relações pessoais têm se transformado
Há também casos inversos, em que o corpo feno- com a utilização da internet. A virtualidade vem se
menal do paciente simulado/ator/atriz esbarra em estabelecendo e criando muitos conflitos éticos e
posturas éticas e impasses práticos. Uma das ques- morais na prática da Medicina. Vista com cautela
tões era um exame de mama, e, nesse caso, não era pelos profissionais da saúde, essa relação entre ho-
possível trabalhar com uma atriz, pois a mama te- mem e máquina se coloca como opção para substi-
ria de apresentar a saliência do nódulo, nem com tuir as situações de relações diretas entre humanos.
um manequim, pois a prova também deveria ser re- Já existem estudos para a criação do paciente vir-
solvida na relação com o paciente simulado/ator/ tual (HUBAL et al., 2000). Trata-se de um paciente
atriz com base em perguntas e respostas. Para tanto, padronizado e programado com capacidade para
foram usadas próteses de silicone produzidas com responder a milhares de perguntas, em diferentes
a saliência do nódulo. Como as atrizes não pode- cenários e gêneros, simulando traumas e acidentes,
riam sobrepor essas próteses às suas próprias ma- com o qual o estudante poderá treinar várias vezes
mas, então foram chamados pacientes simulados/ em cenários que reproduzem a realidade por meio
atores que interpretaram mulheres usando essas de apenas alguns cliques. O AVA TALK™ (HUBAL;
próteses. Aqui a ficção se sobrepôs ao real para que FRANK; GUINN, 1998) é um exemplo desse tipo de
o resultado fosse mais plausível. Assim, depara-se tecnologia. Ele minimiza os custos da contratação
com uma forma de emergência nessa alternância de pacientes simulados/atores em simulações para
de percepção. A ordem de presença e sua fenome- aulas diárias nas faculdades de Medicina, facilitando
nologia trazem cuidados minuciosos em relação à o financiamento, entre outras possibilidades já ci-
leitura do corpo do intérprete. tadas anteriormente. Contudo, a habilidade em li-
A cenografia também é manipulada nas simula- dar com o encontro real traz consequências diretas
ções para apoiar a especificidade da cena. Objetos ao paciente. Pequenos detalhes não percebidos por
como estetoscópios, resultados de exames, macas máquinas podem definir o futuro de uma pessoa.
e leitores de radiografias são colocados, em caso de Em uma questão realizada na prova de residência
necessidade para realização do atendimento, trans- médica do Hospital das Clínicas em São Paulo, por
formando o espaço em um set apropriado para cada exemplo, a atriz interpretava uma paciente que so-
estação prática simulada. Portanto, a cena é adap- fria abuso doméstico. Ela foi maquiada previamente
tada às necessidades específicas do roteiro a ser se- para caracterizar um olho roxo. O roteiro indicava
guido, compondo um ambiente físico e psicológico que ela simplesmente pedisse informações sobre
o mais próximo possível do real. métodos anticoncepcionais que pudessem ser usa-
Ainda, em todas as salas das provas práticas, co- dos sem o marido perceber. Nesse caso, o candidato
loca-se também um relógio cronometrando o aten- simplesmente teria de notar o hematoma no olho

104 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


da atriz e questioná-la, pois era um caso de agres- lar as falas emitidas tão bem quanto as ações, ges-
são física do marido alcoólatra e violento, que abu- tos e posturas para que a comunicação aconteça de
sava da esposa, e ela, quando grávida, sofria aborto forma plena. Os estudantes de Medicina ou candi-
por conta das seguidas agressões. Aqui o médico te- datos, muitos deles bem preparados para o processo
ria de indicar o serviço social ou até fazer a denún- seletivo de avaliação, mas sob pressão momentâ-
cia, mas alguns sequer percebiam o olho da atriz nea, perdem a escuta na interação com o paciente
ou, mesmo olhando, não relacionavam a história e falham na comunicação. Na pressa de resolve-
ao achado físico. O treinamento para esse tipo de rem a estação simulada, atropelam os itens avalia-
olhar mais minucioso prepara o médico para essas dos, por exemplo, o olho no olho já citado, pergun-
situações extremas de violência, salvando vidas não tar o nome, lavar as mãos antes do atendimento ou
com bisturis ou transplantes, e sim apenas com um também perceber possíveis doenças causadas por
olhar mais cuidadoso. um histórico de hábitos sociais, procedimentos que
são de extrema importância na avaliação humanís-
tica do profissional (OSSINI, 2020).
Essa interação com o paciente simulado/ator é
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
atravessada o tempo todo pela pressão e pelo nervo-
sismo natural do candidato. Muitos deles já tiveram
A simulação de atendimentos médicos, seja em experiências semelhantes e conseguem lidar melhor
situação de avaliação ou em aulas, aponta para o com o “contrato de ficção” que se estabelece, mas
resgate dos vínculos sociais e a humanização dos muitos outros se perdem na ânsia de querer acertar
atendimentos médicos. Ninguém melhor do que o a todo custo. Com o treinamento adequado, o pa-
paciente simulado/ator, um profissional que de- ciente simulado proporcionará aos estudantes uma
dica seu tempo para treinar relações, mergulhar experiência consistente, aumentando, assim, a vali-
em emoções e no entendimento da alma, para ser dade, a reprodutibilidade e a profundidade da expe-
uma das peças principais na realização dessa tarefa. riência de aprendizado e da avaliação de diferentes
A utilização de pacientes simulados pode regu- domínios de competências. Como resultado desse
lar a conduta do profissional de Medicina a partir da processo de ensino e avaliação, os candidatos cer-
observação da relação dialógica, ou seja, da capaci- tamente estarão mais preparados e confiantes para
dade que o paciente simulado/ator tem de contro- suas futuras vidas profissionais (OSSINI, 2020).

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106 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


CA P Í T UL O 6

A confecção da Moulage em
diferentes cenários simulados

107
Mateus Henrique Goncalves Meska
Enfermeiro
Mestre em Ciências da Saúde

Elaine Cristina Negri


Enfermeira
Doutora em Ciências da Saúde.
Docente da Universidade do
Oeste Paulista‑UNOESTE

1. INTRODUÇÃO

Moulage, palavra de origem francesa que significa ção dos modelos de cera passaram a ser utilizados
fundição ou moldagem, é a arte de criar, imitar ou para caracterizar e investigar a morte de indiví‑
replicar a fim de promover realismo. Também pode duos e para expandir o conhecimento anatômico
ser definida como o uso de maquiagem de efeitos (COOKE, 2010).
especiais, que possibilita simular contusões, feridas, A moulage perdeu sua popularidade no ensino
sangue, incisões, hematomas, idade do paciente, em meados do século XX por causa da criação da
características clínicas de determinadas doenças fotografia (STOKES‑PARISH; DUVIVIER; JOLLY,
ou outros efeitos a um simulador ou paciente si‑ 2018), cujo avanço levou ao desenvolvimento da
mulado (SMITH‑STONER, 2011; MERICA, 2011; indústria cinematográfica. Consequentemente, a
SWAN, 2013). moulage passou a ser utilizada como técnica de
Os primeiros registros de moulage foram en‑ elaboração de efeitos especiais. Filmes de terror
contrados em artefatos do Antigo Egito, no pro‑ e ação começaram a empregá‑la para trazer rea‑
cesso de caracterização de faraós. Posteriormente, lismo às cenas, por imitar com perfeição ferimen‑
no Renascimento, a moulage começou a ser reali‑ tos, cortes, sangue, deformidades, entre muitos ou‑
zada com modelos de cera para representar ca‑ tros (FALCÃO; SOARES, 2015).
racterísticas anatômicas, possibilitando o estudo Ainda no século XX, a moulage passou a ser
da anatomia humana e animal nas ciências médi‑ usada no treino militar de guerra, em um tipo de te‑
cas. No início do século XVII, a produção e a cria‑ rapia comportamental baseada no princípio do con‑

108 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


dicionamento clássico conhecido como “Systematic (MERICA, 2011; STOKES‑PARISH; DUVIVIER;
desensitization”, ou “dessensibilização sistemática”. JOLLY, 2017).
Desenvolvida por Wolpe durante os anos 1950, é No cenário simulado, a moulage pode auxiliar
uma técnica comportamental comumente utili‑ o estudante a confirmar os sinais físicos e fisioló‑
zada para tratar o medo, os transtornos de ansie‑ gicos que sustentam a tomada de decisão e o racio‑
dade e as fobias. Por meio desse método, a pessoa cínio clínico. Permite ainda a descoberta de dados
é gradualmente exposta a um estímulo produtor pertinentes à avaliação clínica do paciente, como
de ansiedade para conseguir superar o problema características de lesões, etiologia, processo de ci‑
(PETERSEN et al., 2017). No treino militar, a mou‑ catrização, sangramento, quantidade de exsudato
lage era incorporada a pacientes simulados e si‑ e odores corporais, entre outros, e ensina a coletar
mulava as vítimas da guerra, para que os militares informações relevantes para um correto diagnóstico
realizassem o atendimento delas, dando‑lhes os (MERICA, 2011; STOKES‑PARISH; DUVIVIER;
primeiros socorros. JOLLY, 2017).
Na literatura, os benefícios da moulage em simu‑ Mesmo com estudos que fornecem a descri‑
lação clínica são bem discutidos, evidenciando seu ção detalhada da técnica da moulage e a caracteri‑
potencial para aumentar o realismo, a confiança, a zação dos atores e manequins (FOOT et al., 2008;
aprendizagem e a retenção do conhecimento. É um SARMASOGLU et al., 2020; SWAN 2013), além de
recurso que incrementa fidedignidade ao cenário sites e vídeos disponíveis gratuitamente, o maior
simulado e tem se tornado essencial para a avalia‑ dos desafios de sua utilização nos contextos simu‑
ção clínica e tomada de decisões (SMITH‑STONER, lados é a capacitação de profissionais qualificados
2011). para esta finalidade.
Quando usada adequadamente na simulação, Há um grande investimento de empresas na
a moulage pode beneficiar os cenários simulados, aquisição de moulages pré‑moldadas que acom‑
sendo uma ferramenta de extrema importância para panham os simuladores para utilizar nos contex‑
os educadores. Seu uso garante a criação dos mais tos simulados, porém isso exige um alto custo e se
variados cenários simulados de acordo com os obje‑ limita a um único tipo, o que não permite ao edu‑
tivos de aprendizagem, não os limitando à necessi‑ cador a flexibilidade de criar a moulage desejada
dade de cenários embasados apenas nos simuladores (MORRISON; CATANZARO, 2010).
disponíveis nas instituições (WRIGHT et al., 2018). Neste contexto, é necessário conhecer alguns
No Brasil, o uso dessa técnica vem sendo uti‑ produtos que facilitam a sua confecção e ter va‑
lizada nos diversos cenários do ensino em saúde, riação de criatividade, assim será possível realizar
como em feridas (SILVA, OLIVEIRA‑KUMAKURA., uma variedade de cenários simulados.
2018, ALMEIDA et al., 2021) e estomias intesti‑
nais (NEGRI et al., 2019), destacando o realismo e
a contribuição no processo de ensino e aprendiza‑ 2. COMPONENTES DO KIT MOULAGE
gem dos estudantes.
A literatura menciona o uso bem‑sucedido Existe uma variedade de materiais disponíveis para
da técnica de moulage na avaliação de habilida‑ a confecção da moulage que podem ser encontra‑
des e competências de estudantes de Medicina dos em sites e lojas de fantasias, como tintas, san‑
(SABZWARI; AFZAL; NANJI, 2017). No exame gues falsos, massas de modelagem e pigmentações,
clínico objetivo estruturado (OSCE), essa técnica conforme apresenta o Quadro 1. Até mesmo, podem
pode ser utilizada em diversos contextos simulando ser utilizados os mais variados recursos disponíveis
sinais e sintomas do paciente, como hipoglicemia, em mercados comuns, como corantes, glucose, mel
icterícia, casos traumáticos, feridas, queimaduras, para realizar sangue, gelatina com glicerina para
úlceras ou lesões cutâneas, contribuindo para au‑ realizar uma massa de modelagem, entre outros.
tenticidade e o realismo do processo de avaliação Ao adquirir o produto para a moulage, é necessá‑
(ELSHAMA, 2020). rio verificar a compatibilidade com a pele dos simu‑
Além disso, a moulage diminui a descrença dos ladores, pois, geralmente, em alguns locais, a pele,
estudantes durante a vivência na atividade de simu‑ que é de plástico ou borracha, não pode ser substitu‑
lação, desenvolve o engajamento sensorial e, conse‑ ída. Desta maneira, deve‑se usar uma barreira pro‑
quentemente, aumenta o desempenho do tempo de tetora para a pele do simulador e do paciente simu‑
resposta do cenário simulado, proporcionando pis‑ lado, a menos que o produto já tenha sido testado,
tas ao pensamento crítico e ao julgamento clínico garantindo que não altera e danifica permanente‑

A confecção da Moulage em diferentes cenários simulados 109


Quadro 1 – Produtos utilizados para a confecção da moulage.

Produtos Utilidade
A massa de modelagem profissional é utilizada por
profissionais do teatro e cinema para produzir efeitos de
Massa de modelagem
ferimentos. Pode ser comprada ou até mesmo produzida em
casa.
Produto, na composição líquida, que pode ser encontrado
na cor vermelha (sangue vivo) e preta (sangue queimado) e
Sangue falso utilizado tanto na composição de uso em pele quanto para uso
em mucosas, sendo conhecido como sangue teatral comestível.
Pode ser produzido em casa com corantes e água.
É encontrado na composição líquida ou pastosa, sendo que,
quanto mais recente a sua data de fabricação, mais líquido
Pigmento e seus
será o pigmento. Geralmente, é utilizado para caracterizar
componentes
hematomas, sangramentos, peles ressecadas, entre outros,
sendo encontrado nas cores vermelha, amarela, roxa e azul.
É um acessório que funciona como um protetor e
impermeabilizador para conservar a qualidade da maquiagem
A secagem é rápida; quando a cor do material passar de branca
Látex bicentrifugado
para incolor/transparente, é que provavelmente já esteja seco.
e pré‑vulcanizado
Pode ser utilizado também para caracterizar pacientes idosos,
quando aplicado em várias camadas sobre o rosto, dando efeito
de rugas.
Tinta aquarela, na forma de pasta, utilizada por profissionais.
Pode ser utilizada para dar cor às formas da moulage. As cores
Tinta de colorir
preta, vermelha, amarela, bege, marrom e branca são as mais
utilizadas.
Produto que emprega e ressalta visualmente o efeito “luz e
sombra”, manifestando efeitos de iluminação e profundidade.
Sombra
É encontrada em várias cores, formas e texturas, como líquida,
mousse, bastão, cremosa ou em pó.
Serve para regularizar o tom da pele. Pode ser: cremosa, que
Base é indicada para peles secas e sensíveis, e em pó, chamadas de
pancake.

Sua função é dar cor ou profundidade à parte das maçãs do


Blush
rosto, deixando a pele com uma tonalidade mais saudável.

Indicado para finalizar a maquiagem com a função de


uniformizar a pele. Pode ser translúcido ou colorido, dando

um toque especial na pele e maquiagem, melhorando o aspecto
e fixando a maquiagem.

Instrumento utilizado para aplicar maquiagem na forma


Esponja queijinho
líquida e na forma de pó.

Fonte: direito de imagem do autor.

110 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 1 – Continuação...

Produtos Utilidade

Instrumento para modelar a maquiagem, mais utilizado para


Espátula de metal
modelar e dar forma à massa SLUG®.

Instrumento utilizado para aplicar maquiagem na forma


Pincel sombra
líquida e na forma de pó.

Fonte: direito de imagem do autor.

mente o simulador, e também não causa alergias e glicerina é facilmente encontrada nas farmácias e a
irritações no paciente simulado. um baixo custo. E a mistura pode ser feita com uma
Podem ser utilizados como barreira a vaselina parte de glicerina e duas partes de água.
antes da maquiagem, o plástico filme transparente,
a fita adesiva e o látex pré‑vulcanizado, vendido por 2.2 VÔMITO
marcas conhecidas e utilizado para este fim. O vômito pode ser elaborado de acordo com o
Maquiagens do tipo “longa” ou “permanente” objetivo do cenário e conter fragmentos de ali‑
devem ser usadas sobre uma barreira rígida, pois mentos, sangue (hematêmese), borra de café, as‑
há enorme chance de manchar o simulador. pecto verde‑amarelado (bilioso), entre outras
Sempre quando a modulagem for realizada em possibilidades.
um paciente simulado, recomenda‑se verificar se Uma variedade de ingredientes facilmente en‑
o indivíduo apresenta alergia a alguma substância. contrados na cozinha pode simular o vômito com
Ao fazer hematomas, escoriações e petéquias na diferentes odores e características, criando uma
pele do simulador, é necessário dar prioridade a um aparência autêntica. Podem ser utilizadas sobras
pó make‑up. Deve‑se também evitar aplicar creme de sopas de vegetais, macarrão instantâneo, aveia,
base, líquido ou spray de maquiagem diretamente cereais matinais, bolachas de água e sal trituradas,
na pele do simulador. A única exceção a essa regra
suco de laranja, vinagre branco, leite, suco de limão,
é a maquiagem de creme para rosto.
queijo parmesão, ervilha enlatada, uva‑passa, grão
As lesões simuladas precisam ter relação com o
de milho, entre outros.
objetivo proposto no cenário. Por isso, planeja‑se o
Gotas de corantes alimentícios também podem
tipo de material a ser utilizado antes de se realizar
ser adicionados para criar aspectos de acordo com
a montagem do cenário. Por exemplo, ao criar he‑
o objetivo proposto. Para obter consistência, adi‑
matomas, é preciso basear‑se na anatomia e fisiolo‑
gia para compreender como a cor pode transmitir ciona‑se gelatina incolor ou lubrificante à base de
o tempo do hematoma e a gravidade das contusões. água.
Além da moulage, a caracterização do ambiente do
2.3 FEZES
simulador/ator é importante e faz parte do conjunto
para aumentar a realidade do cenário. As fezes podem ser produzidas com consistência
A seguir são listadas algumas sugestões de mou‑ sólida, pastosa e diarreica, por meio de uma varie‑
lage simples e de baixo custo que melhoram a ca‑ dade de ingredientes e restos de alimentos, como
racterização do paciente e do cenário simulado. grão‑de‑bico e abóbora cabotiá, que, após cozi‑
dos e batidos no liquidificador, formam uma pasta
2.1 SUDORESE amolecida.
Para simular uma sudorese, por exemplo, em situ‑ Fezes com presença de sangue são produzi‑
ações de atendimento a pacientes com hipoglice‑ das com ingredientes como chocolate em pó, leite,
mia e choque hemodinâmico, pode ser utilizada a corante líquido/gel comestível vermelho e ama‑
glicerina líquida diluída em água e posteriormente relo, sendo misturados até obter o efeito desejado
borrifada com um spray sobre o simulador/ator. A (Figura 1).

A confecção da Moulage em diferentes cenários simulados 111


Figura 1– Aspecto de fezes com presença de sangue, produzidas com leite, chocolate em pó, corante líquido/gel vermelho
e amarelo.
Fonte: direito de imagem do autor.

A presença de coágulos de sangue nas fezes pode Caso o sulfato ferroso seja em drágea, deve‑se re‑
ser simulada acrescentando ameixa em calda ou mover o revestimento que o comprimido possui,
pedaços de gelatina de cor vermelho‑escura com mergulhando‑o em uma vasilha com água quente.
consistência firme, obtida diminuindo a quantidade Depois, adiciona‑se o tablete à mistura principal e
de água ou colocando gelatina sem sabor durante mexe‑se até que todos os componentes estejam dis‑
o preparo. Outra opção é utilizar borra de café ou solvidos (LANGFORD, 2018). Já os comprimidos
chocolate em pó misturado com aveia, adicionando sem revestimento devem ser macerados e mistura‑
água até atingir a consistência desejada, para simu‑ dos ao preparo. Então, deve‑se adicionar o corante
lar fezes com característica de melena (Figura 2 e 3). vermelho até obter a coloração desejada e, após, o
Para obter odor, pode ser adicionada uma ampola de corante azul líquido comestível, gota a gota, para
Fluimucil®, medicamento que possui odor sulfúreo ajustar a cor conforme necessário. Por fim, a mis‑
(enxofre), contribuindo para o realismo no cenário. tura deve descansar por pelo menos quatro horas
Outro exemplo para simular fezes é o uso de antes de ser usada (LANGFORD, 2018).
fígado de boi cru e feijão cozido, batendo tudo no Como resultado, obtém‑se um sangue consis‑
liquidificador e mantendo em um saco ou vasilha tente e mais espesso (Figura 4).
plástica fechada fora da geladeira por um dia. Essa Outra maneira simples é misturar água e corante
mistura irá apresentar característica de fezes pas‑ vermelho, adicionando corante verde com cuidado
tosas e com odor fisiológico, podendo ser utilizada até atingir a cor desejada. Esse tipo de preparo tam‑
para simular efluentes de colostomia. bém pode ser colocado em bolsas de sangue para
simular transfusão.
2.4 SANGUE Ingredientes como glicose de milho e corantes
Assim como vômito e fezes, o sangue também tem alimentares vermelho, azul e amarelo também são
uma variedade de opções. Langford (2018) sugere ótimas opções para serem utilizadas. Os corantes
os seguintes ingredientes: uma colher de sopa de azul e amarelo aumentam o realismo da pigmenta‑
sal, um tubo de gel lubrificante à base de água (tipo ção, no entanto devem ser usados em pouca quan‑
gel para ultrassom) ou gel para cabelo incolor e tidade, sendo acrescentados conforme o resultado
sem álcool, corante líquido/gel comestível verme‑ desejado.
lho, água, corante líquido/gel azul comestível para Os coágulos de sangue podem ser utilizados em
ajustar a cor – comprimidos de sulfato ferroso po‑ cenários de obstetrícia, traumas, urológicos, en‑
dem ser acrescentados, proporcionando um cheiro tre outros, e produzidos a partir dos seguintes in‑
realista ao sangue. gredientes: gelatina incolor em pó, água fria, água
Para o preparo, é preciso aquecer a água (morna), morna, glicerina biodestilada (umectante para
dissolver o sal na água e adicionar o gel lubrificante. fins alimentícios) e corante líquido/gel vermelho

112 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


e verde. Para obtê‑los, deve‑se misturar a gelatina colher de glicerina. Em seguida, acrescentam‑se o
incolor em pó em aproximadamente 100 ml de água corante líquido vermelho e o verde até obter a to‑
morna e depois acrescentar 50 ml de água fria e uma nalidade desejada, deixando, por fim, na geladeira

Figura 2 – Aspecto de fezes produzidas com aveia em flocos, borra de café e água.
Fonte: direito de imagem do autor.

Figura 3 – Aspecto de fezes produzidas com aveia em flocos, chocolate em pó e água.


Fonte: direito de imagem do autor.

Figura 4 – Aspecto de sangue produzido com corante líquido/gel vermelho e azul, comprimido de ferro, água, gel
hidrossolúvel e sal.
Fonte: direito de imagem do autor.

A confecção da Moulage em diferentes cenários simulados 113


para obter consistência firme. A adição da glicerina combinação se assemelha ao conteúdo GI e PH
biodestilada e de pouca água proporciona uma maior (Figura 6) (CHEZ MOULAGE, 2008).
durabilidade na consistência do coágulo (Figura 5) A mistura com ingredientes como tomate, salsa
(CHEZ MOULAGE, 2008). ou coentro, cebola, suco de limão, alho picado, mi‑
Outra opção para simular coágulos no sangue é lho, água, corante líquido e borra de café propor‑
preparar gelatina com sabores de morango, frambo‑ ciona uma drenagem com aspecto vermelho/mar‑
esa, frutas vermelhas e uva de forma bem concen‑ rom, associada à sangramento gástrico, cirurgia e
trada, diluindo‑a apenas em 150‑200 ml de água. outras causas. Para isso, deve‑se despejar a quanti‑
dade desejada da mistura no liquidificador e bater
2.5 DRENAGEM GÁSTRICA até triturar o alimento em pequenas partículas, adi‑
A combinação de ingredientes é importante para cionando água para a consistência e corante líquido
produzir a drenagem que se deseja na simulação, por para coloração desejada. Quando mantida em tem‑
exemplo, em situações de peritonite e de íleo para‑ peratura ambiente, a mistura começa a azedar den‑
lítico. Sopa cremosa, borra de café, corante líquido tro de dois‑três dias, dando um odor azedo ao conte‑
comestível vermelho e água produzem uma drena‑ údo drenado. Esta opção também pode ser utilizada
gem com característica preto‑esverdeada (CHEZ para simular vômito (CHEZ MOULAGE, 2008).
MOULAGE, 2008).
Outra opção é diluir 50% ou menos de cola em 2.6 URINA
água, adicionando gotas de corante líquido/gel Utilizando chá de camomila e corante amarelo, ver‑
verde‑escuro para alcançar a cor desejada. Essa melho ou verde, é possível alcançar as cores dese‑

Figura 5 – Coágulos de sangue produzidos com água, gelatina em pó, glicerina, corante comestível líquido/gel verde e
vermelho.
Fonte: direito de imagem do autor.

Figura 6 – Aspecto de secreção gástrica para cenário de drenagem nasogástrica.


Fonte: direito de imagem do autor.

114 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


jadas, variando desde aspecto amarelo‑claro, ama‑ esponja áspera ou gaze e arrastar na superfície da
relo‑citrino, amarelo‑escuro, hematúria, âmbar pele do manequim/ator.
e esverdeada turvo‑piúria. Os exemplos a seguir
(Figura 7 e 8) foram feitos com chá de camomila, 2.8 LESÃO POR PRESSÃO
alterando a proporção da água na diluição. A lesão por pressão pode ser confeccionada em
Para uma urina de coloração âmbar, adiciona‑se qualquer lugar do corpo, tanto manequim quanto
leite ou amido de milho. O acréscimo de detergente paciente simulado. Vale lembrar que, a partir desta
líquido neutro de coloração amarela à mistura pro‑ técnica, é possível criar qualquer tipo de lesão de‑
porciona um aspecto de diurese com espuma. sejada, como cortes, fissuras, úlceras arteriais, ve‑
Além disso, tinta à base de água amarela mistu‑ nosas etc.
rada com água também pode simular a urina. Para este caso, são necessários os seguintes in‑
Já para simular incontinência urinária, deve‑se gredientes: látex pré‑vulcanizado, massa de mode‑
pulverizar a mistura preparada, acrescentando amô‑ lagem, tintas nas cores amarela e vermelha, sombra
nia para obter odor, nas roupas do simulador/ator, branca, rosa, base líquida e pó compacto. A seguir
roupas de cama e fraldas. Também podem ser ob‑ são descritos o passo a passo da confecção de uma
tidos sedimentos por meio da adição de amido ou lesão por pressão (Figura 9).
pó de giz. Na Figura 10 esta apresentado o resultado final
Esta mistura também pode ser adicionada em da lesão conforme o passo a passo descrito.
um saco/frasco coletor de urina, comadre ou papa‑
gaio, de acordo com os objetivos definidos na ati‑ 2.9 PACIENTE QUEIMADO
vidade proposta. A queimadura irá depender do grau e do cenário
simulado. Para produzi‑la, são necessários os se‑
2.7 ARRANHÕES E ABRASÕES guintes ingredientes: látex, pigmentação amarela
Para obter arranhões e abrasões, é necessário apli‑ e vermelha e sangue falso vermelho. Deve‑se apli‑
car o sangue falso, batom ou tinta vermelha em uma car na área desejada da queimadura três camadas

Figura 7 – Aspecto de urina para cenário simulado.


Fonte: direito de imagem do autor.

Figura 8 – Aspecto de urina colúrica e com sedimentos.


Fonte: direito de imagem do autor.

A confecção da Moulage em diferentes cenários simulados 115


Figura 9 – Passo a passo da criação da lesão por pressão.
Fonte: direito de imagem do autor.

Figura 10 – Moulage de lesão por pressão.


Fonte: direito de imagem do autor.

116 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Figura 11 – Moulage de queimadura.
Fonte: direito de imagem do autor.

pigmentação amarela e vermelha e, sobre toda a ex‑


tensão do braço, sangue falso vermelho ou preto e
pigmentação vermelha (Figura 11).

2.10 PACIENTE EVISCERADO


Para obter um paciente eviscerado, é preciso de
sangue artificial vermelho e sangue queimado, lin‑
guiça e papel filme. Deve‑se molhar uma esponja
com sangue vermelho ou sangue queimado e es‑
palhar sobre toda a área de queimadura desejada.
Após, aplica‑se o sangue falso em toda a pele da re‑
gião do tórax e abdome do paciente, adicionam‑se
pedaços de linguiça sobre o abdome e passa‑se pa‑
pel filme. Com uma espátula, macera‑se a linguiça e
retira‑se parte dela para fora do papel filme. Então,
deve‑se cobrir toda a região com mais sangue falso
(Figura 12).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A moulage é um recurso que possibilita trazer rea‑


lismo ao que se deseja mostrar. Trata‑se de uma fer‑
ramenta importante desde o início da sociedade e se
implementou na educação logo no Renascimento,
dando um tom realístico para o cinema e a foto‑
Figura 12 – Moulage paciente eviscerado.
Fonte: direito de imagem do autor.
grafia e tornando‑se imprescindível para os cená‑
rios simulados.
Como demonstrado neste texto, quando reali‑
zada com planejamento, a moulage pode ser utili‑
de látex, esperando secar cada aplicação. Depois de zada a partir de recursos simples, de fácil aquisição e
seca, marca‑se a área de queimadura desejada e re‑ baixo custo para sua confecção. Investindo em cria‑
tira‑se o látex apenas dela (ficando com aspecto de tividade, é possível criar e recriar diversos cenários
bolha). Então, aplicam‑se, sobre a área de dentro, simulados ao educador para a simulação clínica.

A confecção da Moulage em diferentes cenários simulados 117


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118 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


CA P Í T UL O 7

Confecção e uso de simuladores


de baixo custo: experiências da
Medicina e Enfermagem

119
Roxana Knobel
Médica ‑ Mestre e doutora
em tocoginecologia
Especialista em Educação para
as Profissões da Saúde
Docente da Universidade
Federal de Santa Catarina

Raphael Raniere de Oliveira Costa


Mestre e doutor em Enfermagem
Docente da Escola Multicampi
de Ciências Médicas – EMCM
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN

1. INTRODUÇÃO

O uso de simuladores e ambientes de simulação a maioria dos campos de ensino. De fato, quando as
para o ensino de profissionais de saúde está bem es‑ evidências da efetividade do uso de simulações para
tabelecido (ELLINAS; DENSON; SIMPSON, 2015; o ensino ficaram mais robustas, um problema ficou
MOTOLA et al., 2013). Embora a qualidade dos es‑ evidente: o elevado custo desses equipamentos. Tanto
tudos seja heterogênea e com indicadores variados, sua aquisição quanto sua manutenção têm sido obs‑
as evidências vêm demonstrando que o ensino com táculos para o seu emprego, podendo, não raramente,
base em simulações é eficaz e leva a resultados me‑ inviabilizar sua utilização em várias regiões do Brasil
lhores e mais duradouros que o ensino tradicional e do mundo (ELLINAS; DENSON; SIMPSON, 2015;
(MCGAGHIE et al., 2011a; HEGLAND et al., 2017). KNOBEL et al., 2018a; SOUZA et al., 2020).
Seu uso pode melhorar as habilidades clínicas, téc‑ Os simuladores de alta fidelidade são, geral‑
nicas, de comunicação e de trabalho em equipe, os mente, importados e apresentam‑se no mercado
níveis de satisfação e autoconfiança e o desempe‑ com valores que podem chegar a mais de U$ 150.000
nho cognitivo, além de reduzir erros (ELLINAS; (SOUZA et al., 2020); sendo este um dos principais
DENSON; SIMPSON, 2015; COSTA et al., 2020; limitadores para a disseminação em larga escala pe‑
ROWSE et al., 2015). las instituições formadoras (ELLINAS; DENSON;
A ideia de simulações com ambientes informa‑ SIMPSON, 2015; ROWSE et al., 2015; KNOBEL et al.,
tizados/robotizados e com simuladores hiper‑rea‑ 2018a; MAGEE; SHIELDS; NOTHNAGLE, 2013;
listas torna o uso dessa estratégia inalcançável para PEROSKY et al., 2011).

120 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Mas, em algum momento de sua formação, quase aquisição, reposição e manutenção dessas tecnolo‑
todo estudante de Medicina, de Enfermagem e de gias (SOUZA et al., 2020; TEMPERLY et al., 2018).
outras profissões de saúde utilizou simuladores ar‑ Nessa perspectiva, surge a definição de simu‑
tesanais, mesmo sem saber que era isso o que estava lador de baixo custo, cujo conceito não está defi‑
fazendo. É o caso da aplicação de injeções em fru‑ nido na literatura e, evidentemente, é bastante di‑
tas e carnes de animais, do treinamento de pontos verso conforme a realidade socioeconômica do local.
cirúrgicos amarrando fios de algodão nas cadeiras Assim, provavelmente o que é baixo custo para uma
do “estar médico”. Essas simulações eram parte, universidade nos Estado Unidos é diferente do que
geralmente, de um ensino informal e não eram va‑ é para uma universidade no Brasil. A ideia da cons‑
lidadas e estudadas como instrumentos de ensino. trução e validação de alternativas com simuladores
A simulação e o uso de ambientes simulados po‑ de baixo custo, os quais objetivam apresentar um
dem ser utilizados mesmo com recursos limitados. menor custo sem necessariamente perder a quali‑
O baixo custo e, por vezes, até a baixa fidelidade de dade, com a vantagem de necessitar de gasto mí‑
um simulador não representam um empecilho ao nimo para a sua conservação, é viável para países
seu uso. Não há evidência demonstrando que a hi‑ em desenvolvimento na América Latina e África
per‑realidade do simulador melhore a aprendiza‑ (RAMSEYER; LUTGENDORF; 2019; CORTÉS et al.,
gem do participante (DESTEPHANO et al., 2015; 2019; BULAMBA et al., 2019).
SCHAUMBERG; SCHRÖDER; SANDER, 2017).
Em geral, os simuladores considerados de baixo
Portanto, a depender dos objetivos de aprendiza‑
custo apresentam atributos relacionados ao desen‑
gem estabelecidos, simuladores de baixo custo po‑
volvimento de modelos – de diferentes níveis de fi‑
dem ser eficazes no processo de ensino e aprendi‑
delidade – geralmente com materiais alternativos a
zagem (ROWSE et al., 2015; MAGEE; SHIELDS;
um custo bastante inferior aos modelos de referên‑
NOTHNAGLE, 2013; RAMSEYER; LUTGENDORF,
cia disponíveis na indústria de simuladores para o
2019; DESTEPHANO et al., 2015).
ensino em saúde (ELLINAS; DENSON; SIMPSON,
Entretanto, é importante destacar que, em ra‑
zão de seu caráter recente, sobretudo no contexto 2015; KNOBEL et al., 2018a; SOUZA et al., 2020;
brasileiro, ainda há uma lacuna de resultados edu‑ MCCLELLAND et al., 2019; KNOBEL et al., 2020;
cacionais quando se comparam modelos de baixo PEREIRA DA SILVA et al., 2018; PEROSKY et al.,
custo a outros modelos de diferentes níveis de fide‑ 2011; KNOBEL et al., 2018b; DE OLIVEIRA et al.,
lidade. Portanto, é indispensável que pesquisadores 2017).
e estudiosos na área da simulação clínica incluam A produção de simuladores artesanais é me‑
em suas agendas de pesquisas objetivos relaciona‑ nos estudada, embora existam diversos exemplos
dos a esse problema. deles (KNOBEL et al., 2018b; GRAHEM et al.,
Nessa perspectiva, o objetivo deste texto é apre‑ 2017; RAMSEYER; LUTGENDORF, 2019; SHEA;
sentar conceitos e uma descrição do processo de ROVERA, 2015; GOMES; SOARES; PESSOA, 2011).
criação, validação e uso de simuladores artesanais, Destaca‑se que simulação de baixo custo e simu‑
mostrar alguns exemplos de simuladores já desen‑ ladores artesanais não são, necessariamente, sinô‑
volvidos e discutir possibilidades de uso e inserção nimos. Como a própria denominação demonstra, o
deles no ensino de Medicina e Enfermagem. baixo custo se refere aos gastos de aquisição e ma‑
nutenção. Já a denominação “artesanais”, ou “home
made”, diz respeito aos materiais e ao próprio pro‑
2. SIMULADORES DE BAIXO CUSTO E ARTESANAIS cesso de montagem.
Em geral, simuladores artesanais são de baixo
Simuladores são tecnologias que reproduzem dis‑ custo, mas é importante estar atento a esse fato. Por
positivos, peças físicas e/ou representações de ser‑ exemplo, um simulador artesanal que utiliza um
viços (SHAH et al., 2019). A literatura aponta para peito de peru, com inclusões de azeitonas para simu‑
diferentes classificações, sendo a mais comum a re‑ lar punções de nódulos de mama guiadas por ultras‑
lacionada à fidelidade do simulador, a saber: baixa, som (GIEBUROWSKI, 2018), é artesanal, mas não
média e alta (COSTA et al., 2020; PEREIRA DA é, necessariamente, barato, já que a matéria‑prima
SILVA et al., 2018; SEROPIAN et al., 2014). Essa (carne de peru), além de seu preço, é perecível e
classificação diz respeito ao aparato tecnológico e pode ser utilizada para um número limitado de si‑
feedback dos modelos. Mais recentemente, apare‑ mulações. Em algumas ocasiões, os simuladores co‑
ceu outra classificação, que se refere aos custos de merciais podem ser mais baratos.

Confecção e uso de simuladores de baixo custo: experiências da Medicina e Enfermagem 121


Nos últimos cinco anos, pode‑se observar um a oferta de um módulo optativo intitulado “Inovação
crescimento exponencial no desenvolvimento de Tecnológica em Saúde”, que possui carga horária
pesquisas – estudos metodológicos, projetos‑pi‑ de 30 horas e é ofertado uma vez por ano. Faz parte
loto e validação – relacionadas ao desenvolvimento da estrutura curricular do curso de Medicina da
de simuladores de baixo custo. Na Medicina, des‑ EMCM e recebe 20 estudantes de diferentes se‑
taca‑se a área de cirurgia (GRAHEM et al., 2017; mestres do curso.
MCCLELLAND et al., 2019; BING et al., 2019; O módulo se propõe a desenvolver noções de ino‑
TEMPERLY et al., 2018; GOMES; SOARES; vações tecnológicas e de tecnologias educacionais
PESSOA, 2011). Entretanto, identificam‑se inicia‑ e criar protótipos de simuladores de baixo custo a
tivas em diversas outras especialidades (ROWSE, partir do despertar da criatividade e do estudo de
P. G. et al., 2015; MCGAGHIE et al., 2011b) como materiais e métodos que permitam o desenvolvi‑
as experiências em obstetrícia, que buscam apri‑ mento e a avaliação de recursos materiais para o
morar o treinamento para parteiras, profissionais ensino médico.
de Enfermagem e médicos (MAGEE; SHIELDS; A experiência tem sido bastante produtiva e tem
NOTHNAGLE, 2013; RAMSEYER; LUTGENDORF, gerado alguns projetos de iniciação científica rela‑
2019; PEROSKY et al., 2011). Especificamente para cionados ao desenvolvimento e validação de simu‑
Enfermagem, também há um aumento de publi‑ ladores de baixo custo. Na Figura 1, apresenta‑se um
cações (COSTA et al., 2020; KNOBEL et al., 2020; compilado de experiências desenvolvidas no módulo.
PEREIRA DA SILVA et al., 2018). Na Universidade Federal de Santa Catarina, um
Para além da simulação em si, a construção de projeto de extensão propôs a criação e o comparti‑
simuladores estimula a criatividade, a resolução de
lhamento de simuladores artesanais para o ensino
problemas, o trabalho em equipe, o trabalho multi‑
em saúde em uma página web1. A ideia deste site é
profissional e a comunicação entre pares e outros
divulgar ideias para que todos possam copiar, de
agentes. São algumas competências necessárias
uma forma simples e barata, seguindo o conceito
para a formação de profissionais de saúde, geral‑
de “open source”, ou de “código aberto”, que inicial‑
mente com poucas oportunidades de serem traba‑
mente se referia apenas a softwares e passou a ser‑
lhadas durante os cursos de graduação e residência.
vir para hardwares e todos os processos.
Como toda tecnologia, os simuladores de
Os simuladores estão sendo criados e compar‑
baixo custo apresentam vantagens e limitações. O
Quadro 1 traz uma síntese dessas variáveis. tilhados desde 2017. A maioria dos simuladores é
para o ensino de obstetrícia e contém o passo a passo
(DIY – Do It Yourself) para confecção e utilizaçãoAs
Figuras 2 e 3 trazem alguns exemplos de modelos
3. PROCESSO DE MONTAGEM
Recentemente, a Federación Latinoamericana de
Simulación Clínica y Seguridad del Paciente (FLASIC)
Espera‑se que, neste momento, os leitores já este‑
publicou um e‑book com 44 diferentes experiências
jam convencidos de que montar simuladores arte‑
de construção de simuladores de baixo custo, pro‑
sanais de baixo custo pode ser uma forma acessí‑
venientes de diversos países do mundo, incluindo
vel de realizar simulações. Além disso, é importante
o Brasil. Além dos simuladores, são compartilhados
considerar que não há só uma maneira e/ou método
os objetivos de aprendizagem, o custo estimado em
para o desenvolvimento de projetos e protótipos.
dólares americanos, os materiais e os passos para o
A expertise do proponente guiará a escolha pelo
método mais adequado e viável. Estudos metodo‑ desenvolvimento (MARTÍNEZ et al., 2019).
lógicos, projetos‑piloto e Design Thinking são al‑
guns métodos que podem ser utilizados. A seguir, o
Quadro 2 apresenta um resumo das etapas do pro‑ 5. EXPECTATIVAS PARA O FUTURO
cesso de montagem de um simulador.
Ao reconhecer e apostar no potencial desse fenô‑
meno, tanto para a melhoria das práticas educati‑
4. EXPERIÊNCIAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS NO vas no ensino em saúde quanto para a populariza‑
ENSINO EM SAÚDE ção e o amplo uso da simulação clínica enquanto

Na Escola Multicampi de Ciências Médicas (EMCM) 1


A página está disponível para consulta e uso em: https://
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, há saudesimuladores.paginas.ufsc.br/.

122 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 1 – Vantagens e limitações relacionadas aos simuladores de baixo custo.

Vantagens
Baixo custo (aquisição de materiais e manutenção).
Reprodutibilidade: os modelos podem ser reproduzidos e melhorados constantemente.
Estímulo à criação (e consequente ampliação de conhecimentos e técnicas): estudantes, docentes, técnicos
de laboratórios e pesquisadores podem desenvolver seus próprios modelos.
O desenvolvimento de modelos conforme necessidade e especificidade da área/especialidade.
Ampliação das possibilidades de treinar procedimentos de diferentes complexidades em modelos ainda não
desenvolvidos pelo mercado.
Reposição de peças/elementos do modelo mais simples e acessível.
Desenvolvimento/aquisição de modelos em instituições com limitação de orçamento.
Ampliação das práticas simuladas e das oportunidades de aprendizagem.
Possibilidade de participação em uma comunidade de prática com desenvolvimento e melhoria de
simuladores de tecnologia aberta.
Possibilidade de utilizar modelos híbridos – com materiais já existentes ou que possam ser “vestidos” por
pacientes simulados.
Limitações
Dificuldades de aquisição de alguns materiais alternativos, sobretudo por instituições públicas e por
processos de licitações.
Tempo para desenvolver os projetos e suas etapas.
Requisição de conhecimentos específicos, como delineamentos de pesquisa, conhecimento de informática e
parcerias entre outras áreas do conhecimento (engenharias), o que pode ser mais difícil em universidades/
locais mais remotos.
Com simuladores mais simples, pode haver dificuldade de os estudantes sentirem que estão vivenciando a
situação clínica real, principalmente para aqueles mais avançados.

Quadro 2 – Etapas do processo de montagem de simuladores artesanais de baixo custo.

Etapas Comentários
Identificar um “gap”, uma necessidade dos aprendizes (ELLINAS; DENSON; SIMPSON,
2015), a qual pode ser de conhecimento (por exemplo, conhecer as camadas anatômicas
da parede abdominal), de habilidades (a maioria dos simuladores treina habilidades –
Identificar por exemplo, intubação orotraqueal, punção de cistos, sutura de diferentes estruturas
uma anatômicas) ou atitudes (trabalho em equipe, comunicação).
necessidade
educacional É importante se atentar também às necessidades do laboratório e/ou centro de simulação.
Em alguns casos, as instituições possuem simuladores de referência/comercial em
quantidades limitadas. Dessa forma, a confecção pode ser um “plus” no acervo de
tecnologias.
Buscar formas de trabalhar a necessidade levantada (ELLINAS; DENSON; SIMPSON,
2015; KNOBEL et al., 2020) e procurar se já existem outros simuladores. Alguns
Procurar
questionamentos podem guiar esse levantamento, como “Alguém já criou um simulador
ideias e
semelhante?” ou “O que é necessário simular?”. Fazer buscas em artigos científicos, na
inspirações
literatura cinzenta e em outros espaços (em sites de busca, como Google, e em canais de
compartilhamentos de vídeos, como YouTube).

Confecção e uso de simuladores de baixo custo: experiências da Medicina e Enfermagem 123


Quadro 2 – Continuação...

Etapas Comentários
Caso seja encontrado simulador semelhante, deve‑se examinar os materiais utilizados e as
Procurar etapas e buscar alternativas locais para a simulação.
ideias e
inspirações Em diversas ocasiões, não haverá o simulador buscado. Por isso, esta também é uma
vantagem da criação de simuladores artesanais: estimular a criatividade.
Montar um simulador inicial. É necessário adquirir os materiais e planejar o processo de
montagem.
Se a ideia é inicial, devem ser feitos diversos modelos diferentes, utilizando variadas
estruturas, materiais e processos e sempre avaliando vantagens e desvantagens, custos e
benefícios.

Fazer um Por exemplo, se a necessidade é treinar técnicas específicas de sutura, um modelo com
piloto carne de frango pode ser adequado. Porém, ele será perecível e trará algumas dificuldades
em termos de local de realização e limpeza do material. Se a necessidade não incluir a
verossimilhança com a estrutura (treinar técnica de manipulação de instrumentos, de dar
nós específicos), um modelo de couro sintético ou espuma pode ser suficiente.
A depender do desenho, pode ser interessante o planejamento do modelo/simulador
em programas de modelagem 2D e 3D. Além disso, a impressão desses modelos pode ser
necessária para a etapa de adequações e testes.
Certificar‑se de que o simulador funciona conforme planejado e fazer a simulação com
pessoas mais experientes e/ou pequenos grupos – verificar se atinge os objetivos de
Testar aprendizagem.
Deve‑se refazer o piloto quantas vezes forem necessárias.
Validar o projeto (MOKKINK et al., 2010).
Validade de face – aspecto, realismo, simulação da estrutura pretendida, apresentação das
características necessárias para o que se pretende simular.
Validar
Validade de conteúdo – valor pedagógico, efetividade em resolver o problema proposto.
Pode‑se também ofertar cursos de curta duração e/ou workshop. Esses momentos podem
ser excelentes oportunidades para a validação do modelo.
É hora de colocar o simulador para funcionar.
Deve‑se encontrar um momento adequado durante o curso ou disciplina para inserir o uso
do simulador.
Implementar
É importante lembrar que o simulador em si é apenas uma parte do processo de
aprendizagem, por isso é preciso planejar toda a estratégia educacional envolvida.
Às vezes, no momento da implementação, novas mudanças são necessárias no simulador.
Há diversas maneiras de avaliar a efetividade de uma simulação. Seguindo o modelo de
Kirkpatrik (DORRI; AKBARI; SEDEH, 2016), podem ser avaliados: dados de satisfação do
Avaliar
aprendiz, desempenho nas simulações, desempenho clínico, mudança de indicadores de
saúde na instituição etc.
Compartilhar a criação pode ajudar outras pessoas ao redor do mundo (KNOBEL et al.,
2020). Inclusive, elas podem também sugerir mudanças e aperfeiçoar as criações. Assim,
Compartilhar
pode‑se criar uma comunidade de tecnologia aberta que está sempre crescendo e se
fortalecendo. Ainda, devem‑se fornecer os créditos das ideias que inspiraram a simulação!

124 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Figura 1 – Experiências com o desenvolvimento de
simuladores de baixo custo na EMCM. 1 ‑ Simulador de
massagem cardíaca; 2 – simulador de rafia; 3 – simulador
de traqueostomia; 4 – simulador de administração de
medicamentos.

Figura 3 – Bermuda e boneco comercial para simulação de


parto e exemplo de simulação.

anseios e perspectivas. Além disso, espera‑se um


maior apoio das instituições de ensino, laborató‑
rios de habilidades e simulação clínica, e dos ór‑
gãos de fomento para o financiamento em editais
e a divulgação em periódicos da saúde.
Figura 2 – Camadas da parede abdominal para cirurgia
cesariana – modelo com diversos materiais confeccionados
pelos alunos, simulando as sete camadas da parede
abdominal. Na imagem, o modelo está sendo utilizado com 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
um simulador comercial de pelve obstétrica com bebê.

Neste texto, foi feita uma contextualização do uso


de simuladores de baixo custo e artesanais no en‑
método, espera‑se que, nos próximos anos, os estu‑ sino e aprendizagem de estudantes e profissionais
dos e a divulgação de experiências exitosas possam de saúde. Além de uma análise e diferenciação en‑
contribuir para diminuir as arestas das incertezas e tre esses dois conceitos centrais, discutiu‑se sobre
as limitações relacionadas à efetividade dessas tec‑ os aspectos gerais relacionados às suas vantagens
nologias de baixo custo. e limitações.
Anseia‑se pelo aperfeiçoamento coletivo dos Foram apresentadas as etapas e a descrição de‑
produtos construídos, seja do ponto de vista de seus las relacionadas ao processo de criação de mode‑
materiais e métodos ou pela validação do protótipo. los. Com isso, elucidaram‑se os passos imprescin‑
Com isso, essas tecnologias vão encorajar experiên‑ díveis para a execução de projetos dessa natureza.
cias que ultrapassem os muros dos centros de pes‑ Somado a isso, foram compartilhadas experiên‑
quisa e dos laboratórios de simulação, tais como cias nacionais e internacionais, bem como os an‑
ações voltadas para educação permanente de pro‑ seios dos autores sobre o futuro dessa área de es‑
fissionais da saúde ou para a educação em saúde da tudo e pesquisa. Espera‑se que este material possa
própria comunidade. contribuir para o despertar e a ampliação do inte‑
Para tanto, convidam‑se pesquisadores e curio‑ resse entre curiosos e amantes da simulação clínica.
sos da área a unir forças e compartilhar projetos, Pense, planeje, execute e compartilhe!

Confecção e uso de simuladores de baixo custo: experiências da Medicina e Enfermagem 125


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Confecção e uso de simuladores de baixo custo: experiências da Medicina e Enfermagem 127


CA P Í T UL O 8

A colaboração como
fundamento para o trabalho
interprofissional em saúde

129
Marcelo Viana da Costa
Enfermeiro
Universidade Federal do
Rio Grande do Norte
Escola Multicampi de Ciências
Médicas ‑ Caicó/RN

1. INTRODUÇÃO

O contexto atual impõe importantes desafios ao A tendência à superespecialização no trabalho


trabalho e à formação em saúde. Transformações em saúde – embora importante para a produção de
nos perfis demográficos e epidemiológicos, com in‑ novos conhecimentos e escopo de práticas – tam‑
cremento de novos riscos infecciosos, ambientais bém produz como um dos resultados a forte com‑
e comportamentais, evidenciam a necessidade de petição entre os profissionais (FAULCONBRIDGE;
repensar o atual modelo de formação e de trabalho MUZIO, 2012). A dimensão técnica do trabalho em
em saúde. Os problemas e as necessidades desse saúde como manifestação do saber, status e poder
campo se apresentam cada vez mais complexos e das profissões vem servindo para a intensificação
exigem uma mudança de paradigma na produção da competição em detrimento da colaboração –
dos serviços de saúde, colocando os usuários e suas princípio fundamental para o efetivo trabalho em
necessidades na centralidade do processo (CRISP; equipe (BAKER et al., 2011; PIPPITT et al., 2015).
CHEN, 2014; FRENK et al., 2010). A produção dos serviços de saúde apresenta
Apesar desse cenário, a lógica da produção dos como uma de suas características a pressão pelo
serviços de saúde ainda está orientada por forte di‑ tempo para dar as respostas necessárias às necessi‑
visão do trabalho, fragmentando os atos e expondo, dades existentes. A complexidade do trabalho nessa
muitas vezes, os usuários à repetição, o que acaba área se materializa nos contextos marcados pela
aumentando os riscos de erros e os custos com os necessidade de articular aspectos da dimensão in‑
serviços de saúde (REEVES, 2016). dividual, da equipe e da instituição para a garantia

130 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


dos melhores resultados de saúde (HOOKER et al., rentes práticas profissionais e que, para o contexto
2008). brasileiro, exerce peculiar importância por sua co‑
Estudos indicam que mortes evitáveis nos ser‑ erência com o princípio da integralidade da aten‑
viços de saúde assumem proporções preocupantes, ção (PEDUZZI et al., 2020).
em grande parte, por causa da dificuldade do traba‑ Outros autores também apresentam uma tipo‑
lho em equipe. A melhora na precisão diagnóstica logia de trabalho em equipe que contribui para esse
e nas terapêuticas depende do nível e da qualidade debate. São definições que associam o formato de
das relações interprofissionais. Outras pesquisas evi‑ equipe a diversos aspectos, tais como integração,
denciam também que a redução da mortalidade em colaboração, identidade de equipe, papel do usu‑
unidade de terapia intensiva foi observada a par‑ ário na ordenação do trabalho, compartilhamento
tir de maior investimento na melhora das relações de objetivos, entre outros (REEVES; XYRICHIS;
interprofissionais no trabalho em equipe. Por isso, ZWARENSTEIN, 2018).
a segurança do paciente fica fortemente compro‑ Esse debate inspira importantes inquietações:
metida em cenários de frágil comunicação entre quais aspectos influenciam a integração e a inter‑
os profissionais de saúde (FREYTAG et al., 2017; dependência entre os profissionais na produção dos
KÄMMER et al., 2017). Tomando por base essas e serviços de saúde? Será que a formação dos profis‑
outras evidências, organismos internacionais vêm sionais de saúde está desenvolvendo competências
estimulando cada vez mais estratégias de forma‑ para o efetivo trabalho em equipe? Há competên‑
ção em saúde capazes de desenvolver competên‑ cias capazes de fortalecer a perspectiva do efetivo
cias para o efetivo trabalho em equipe (WORLD trabalho em equipe?
HEALTH ORGANIZATION, 2010). São questões complexas que exigem um pouco
Problemas de comunicação entre os profissio‑ de adensamento, e este texto não tem a pretensão
nais da equipe, limitada clareza dos papéis profissio‑
de esgotar essa discussão, mas de fornecer subsí‑
nais, competição entre as profissões e inexistência
dios para ampliá‑la e para compreender as impli‑
de identidade de equipe são problemas que trazem
cações desse debate para as mudanças no modelo
prejuízos para a dinâmica do trabalho em equipe,
de atenção à saúde.
mas podem ser abordados nos processos formati‑
vos dos diferentes profissionais de saúde. A publica‑
ção “Interprofessional education and collaboration:
2. COLABORAÇÃO COMO PRINCÍPIO CENTRAL DO
a call to action for emergency medicine”, por exem‑
TRABALHO INTERPROFISSIONAL
plo, destaca a importância dessa colaboração, de‑
fendendo a implementação da educação interpro‑
fissional (EIP) na formação de profissionais para o D’Amour et al. (2005), em um texto clássico, traz
enfrentamento desses aspectos (WILBUR, 2014). uma assertiva de grande profundidade: embora se
Considerando essas problemáticas, a compre‑ reconheça a importância do trabalho em equipe,
ensão do conceito de equipe é um ponto de partida não há clareza do caráter complexo da colaboração.
importante para se assumir a melhor perspectiva Considerando a necessidade de clarificar o conceito
de trabalho e formação em saúde e oferecer servi‑ de colaboração e suas implicações para o processo
ços de qualidade e resolutivos. de trabalho em saúde, a autora apresenta seus quatro
Importante contribuição para essa compreen‑ pilares fundamentais: compartilhamento, parceria,
são pode ser encontrada em publicação recente de interdependência e poder (D’AMOUR et al., 2005).
Peduzzi et al. (2020), em que revisita alguns concei‑ A Figura 1 sintetiza os pilares apresentados por
tos relacionados ao trabalho em equipe, interpro‑ D’Amour et al. (2005). Não se trata de uma relação
fissionalidade e práticas colaborativas. Nesse sen‑ linear, mas de aspectos que se mantêm interdepen‑
tido, a autora descreve dois formatos de equipe: a dentes para que a colaboração aconteça.
equipe do tipo agrupamento e a equipe do tipo in‑ A Figura 1 apenas ilustra os pilares da colabora‑
tegração. Na primeira configuração, os profissionais ção e não tem a pretensão de simplificar um debate
dividem um mesmo espaço de trabalho, mas o foco que é de grande complexidade. Colaborar, antes de
são as competências específicas nas produções de tudo, representa o desejo de se integrar às demais
atos, muitas vezes fragmentadas. Uma marca desse práticas profissionais, reconhecendo a importân‑
modelo é a frágil comunicação entre os diferentes cia do papel do outro colega para a produção dos
profissionais de saúde. A equipe do tipo integra‑ serviços de saúde. Embora a intencionalidade in‑
ção é a que mantém forte articulação entre as dife‑ dividual seja fundamental para que ocorra a cola‑

A colaboração como fundamento para o trabalho interprofissional em saúde 131


Figura 1 – Pilares da colaboração: compartilhamento, parceria, interdependência e poder.
Fonte: adaptada a partir de D’Amour et al. (2005).

boração, não é razoável atribuir toda a responsabi‑ da história como demasiadamente conteudista
lidade aos profissionais de saúde. (COSTA et al., 2016). A necessidade de desenvol‑
Apesar do reconhecimento da colaboração como vimento de competências específicas para o exercí‑
princípio do trabalho interprofissional, muitas vezes cio das profissões deu sustentação ao modelo disci‑
as dimensões política, institucional e cultural esti‑ plinar de formação, com pouco ou nenhum diálogo
mulam a competição entre as profissões, cuja regu‑ entre os diferentes campos do conhecimento. A es‑
lação frequentemente acentua os conflitos e a de‑ trutura departamental das universidades, muitas ve‑
sigualdade entre elas. Em contextos institucionais, zes, constituiu uma barreira para a articulação de
normas e regimentos podem desencorajar a colabo‑ saberes, até mesmo no interior de um único curso
ração e fomentar a competição. A dimensão cultu‑ da área da saúde (COSTA, 2014).
ral se expressa na tendência de centrar atenção na Entretanto, a pouca articulação não ficou restrita
expertise do profissional, colocando‑o como centro apenas aos diferentes campos do conhecimento.
do processo, e a busca por status e reconhecimento A tendência de separação das áreas também ge‑
social se torna justificativa para conflitos com ou‑ rou pouca ou nenhuma interação entre as práticas
tros colegas no trabalho em saúde (OANDASAN; profissionais. A formação dos profissionais, orien‑
REEVES, 2005). tada por marcos teórico‑conceituais para susten‑
tar as práticas, estabeleceu uma lógica que pouco
favorece a formação de profissionais mais aptos à
3. A EDUCAÇÃO INTERPROFISSIONAL E O colaboração – fundamento central do efetivo tra‑
DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS balho em equipe (PEDUZZI et al., 2013).
COLABORATIVAS Na contramão dessa realidade, as necessidades
de saúde, ao longo dos anos, tornam‑se cada vez
O processo de formação em saúde com ênfase na mais complexas, evidenciando limites desse mo‑
dimensão técnica foi se consolidando ao longo delo conteudista e disciplinar que orienta a for‑

132 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


mação dos profissionais de saúde. Nesse sentido, mudanças de atitudes dos participantes. Estudos
outros conhecimentos, habilidades e atitudes pas‑ longitudinais mais robustos, que integrem distintas
sam a ser necessários para complementar as práti‑ abordagens e que busquem analisar as influências
cas profissionais. Partindo da necessidade de for‑ da EIP sobre a melhoria da qualidade da atenção
necer elementos para o desenvolvimento do perfil e dos resultados em saúde, são imperativos para o
profissional coerente com as demandas apresen‑ fortalecimento da EIP como base capaz de contri‑
tadas pelo conjunto da sociedade, insere‑se a rele‑ buir para reorientar o modelo de formação e o tra‑
vância da educação baseada em competências no balho em saúde (XYRICHIS, 2020).
contexto da formação em saúde. Nesse sentido, a EIP exige uma intencionali‑
Tomando por base essas problemáticas, o de‑ dade expressa nas propostas pedagógicas, nas me‑
bate sobre a EIP vem crescendo em todo o mundo todologias adotadas e nos processos de avaliação.
(BARR, 2015). Definida como a oportunidade em A produção elaborada por Barr (1998) traz impor‑
que membros de duas ou mais profissões aprendem tantes contribuições para ampliar a compreensão
em conjunto e de forma interativa, com o propó‑ sobre competências a serem incorporadas no pro‑
sito explícito de melhorar a colaboração e a quali‑ cesso de formação e no trabalho em saúde, na pers‑
dade dos cuidados, a EIP vem se mostrando capaz pectiva interprofissional e colaborativa. O autor
de orientar mudanças no processo de formação com define três grandes grupos de competências: es‑
foco no desenvolvimento de profissionais mais pre‑ pecíficas ou complementares, comuns e colabora‑
parados e comprometidos com a oferta de serviços tivas (BARR, 1998, 2013).
de saúde mais efetivos e resolutivos (REEVES et al., As competências específicas, ou complemen‑
2016). tares, referem‑se ao conjunto de conhecimentos,
Iniciativas de EIP têm contribuído para a maior habilidades e atitudes que fundamentam o exercí‑
clareza de papéis dos colegas de outras profissões, cio das práticas dos diferentes profissionais. Para
melhoram a comunicação no processo de aprendi‑ simplificar, seriam as competências que orientam
zagem e tomada de decisões, estimulam a valoriza‑ as práticas específicas de cada profissão. É inte‑
ção dos usuários como centro do processo de produ‑ ressante notar que Barr (1998) também define esse
ção dos serviços de saúde e (re)significam os estilos grupo de competências como complementares, rei‑
de lideranças, permitindo um deslocamento de uma terando a compreensão da relação de interdepen‑
tendência mais centralizadora para a colaboração, dência entre as profissões.
entre outras competências. No trabalho em saúde, Competências comuns são aquelas comparti‑
a perspectiva interprofissional e colaborativa con‑ lhadas por todos os profissionais de saúde (BARR,
tribui para a racionalização dos custos, a redução 1998). São conhecimentos, habilidades, atitudes
dos eventos adversos e da duplicação dos atos e a e valores compartilhados pelo conjunto de pro‑
melhora da satisfação dos trabalhadores de saúde fissionais de saúde, e o desenvolvimento dessas
e usuários (FELGOISE et al., 2019). competências por diferentes profissionais não re‑
Apesar das reconhecidas implicações da EIP presenta desrespeito aos limites de cada profissão.
para o desenvolvimento de profissionais mais ap‑ Também podem ser entendidas como um campo
tos ao trabalho em equipe, ainda são expressivos os comum de práticas (DE OLIVEIRA; DE SOUSA
desafios para assegurar os efeitos sobre as transfor‑ CAMPOS, 2015).
mações na lógica de produção dos serviços de saúde. As competências colaborativas, por sua vez, di‑
As iniciativas em todo o mundo são muito diver‑ zem respeito ao conjunto de conhecimentos, habi‑
sas, e, algumas vezes, há uma compreensão equi‑ lidades, atitudes e valores que fortalecem as rela‑
vocada de que reunir profissionais ou estudantes ções interprofissionais para o efetivo trabalho em
em um mesmo espaço qualifica a iniciativa como equipe. Esse conjunto de competências estimula o
interprofissional. Para que se perceba os efeitos da desenvolvimento dos pilares da colaboração como
EIP, é fundamental garantir rigor teórico‑concei‑ fundamento para a oferta de serviços de saúde mais
tual e metodológico e explícita intencionalidade no integrais e resolutivos (REEVES et al., 2011).
desenvolvimento de competências interprofissio‑ Na apresentação dessas competências, é co‑
nais (LANGLOIS et al., 2020). mum alguma confusão em relação às competên‑
Outro aspecto que merece destaque é a necessi‑ cias comuns e colaborativas como se elas fossem si‑
dade de elaborar estudos que possam produzir evi‑ nônimas. Competências colaborativas também são
dências científicas mais robustas – que consigam compartilhadas por todos os profissionais. O dife‑
expressar aspectos para além das percepções ou rencial é que elas asseguram relações interprofis‑

A colaboração como fundamento para o trabalho interprofissional em saúde 133


sionais mais horizontais, fortalecimento da iden‑ dos aspectos considerados relevantes para o fortale‑
tidade de equipe e inserção cada vez mais forte do cimento das relações interprofissionais com vistas
usuário como corresponsável pela produção dos à colaboração na produção dos serviços de saúde.
serviços de saúde. A matriz do Reino Unido – a primeira sistema‑
A diferenciação entre os três grupos de compe‑ tização de competências colaborativas – naquele
tências é feita para fins didáticos, e há intensa ar‑ momento histórico usava a terminologia “capaci‑
ticulação dessas competências com contextos de dades” para se referir ao escopo de conhecimento,
materialização do trabalho em equipe. As compe‑ habilidades e atitudes com foco no desenvolvimento
tências colaborativas são fundamentais para a in‑ de competências para o efetivo trabalho em equipe.
tegração das competências específicas e comuns As demais matrizes adotaram o termo “competên‑
no trabalho em saúde. cias”, a partir da definição exposta anteriormente.
Considerando a importância dessa discussão, Todas as matrizes são importantes e buscaram
pesquisadores, instituições formadoras e respon‑ elaborar uma matriz coerente com as demandas do
sáveis pela formulação de políticas centraram es‑ processo de formação e do sistema de saúde. No en‑
forços na elaboração de marcos teórico‑conceitu‑ tanto, para fins de exemplificar esta discussão, na
ais capazes de contribuir para o desenvolvimento Figura 3 estão apresentadas a descrição do domínio
de competências colaborativas. Esses marcos de de competências (conhecimentos, habilidade, ati‑
competências são grandes contribuições no sen‑ tudes e valores) da matriz canadense como forma
tido de garantir a intencionalidade na formação do de fornecer subsídios para a inserção desses pon‑
perfil profissional mais apto ao efetivo trabalho em tos das estratégias de formação dos profissionais
equipe (THISTLETHWAITE et al., 2014). de saúde (PANEL, 2011).
A Figura 2 traz uma síntese desses marcos de O escopo de competências específicas, comuns
competências para que se tenha um panorama geral e colaborativas fundamenta a escolha de conteú‑

Figura 2 – Matrizes de competências interprofissionais.


Fonte: adaptada de Thistlethwaite et al. (2014).

134 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Figura 3 – Descrição do domínio de competências.
Fonte: traduzida e adaptada de Canadian Interprofessional Health Collaborative (2010).

dos, cenários de aprendizagem, metodologias de O Quadro 1 traz exemplos de objetivos de apren‑


ensino e avaliação da aprendizagem e de processo. dizagem para cada domínio de competência. Não se
Algumas experiências organizam seus processos trata de modelos, mas de subsídios teórico‑concei‑
formativos, assegurando a intencionalidade na for‑ tuais e metodológicos que podem contribuir para
mação de profissionais de saúde mais aptos à co‑ pensar na inserção dessas competências como um
laboração por meio da inserção das competências dos objetivos no processo de formação em saúde.
colaborativas como um dos objetivos educacionais. A intencionalidade no desenvolvimento de com‑
O Centro de Ciências da Saúde e Educação petências colaborativas, sem dúvida, é um desafio
Interprofissional, da Escola de Medicina do Norte para o contexto da formação dos profissionais de
de Ontário, com esse objetivo, estabeleceu três ní‑ saúde. Entretanto, esses exemplos subsidiam o de‑
veis de aprendizagem em iniciativas de EIP: expo‑ bate para que a colaboração realmente se faça pre‑
sição, imersão e avançado. Para cada um dos níveis sente na dinâmica da formação e do trabalho em
de aprendizagem, definiu o conjunto de competên‑ saúde. Certamente, o sistema de saúde sairá mais
cias colaborativas esperadas como resultados dos fortalecido e os usuários terão acesso a serviços
produtos formativos (JECKER et al., 2015). mais resolutivos e integrais.

A colaboração como fundamento para o trabalho interprofissional em saúde 135


Quadro 1 – Domínios de competências colaborativas e exemplos de objetivos de aprendizagem.

Domínios de
competências Objetivos de aprendizagem
colaborativas

· Desenvolver confiança no escopo da prática no contexto do trabalho


interprofissional.

· Adaptar o papel profissional a diferentes contextos/ambientes do trabalho


interprofissional.

· Acumular e integrar os diferentes papéis profissionais para aumentar a


eficiência e melhorar a atenção à saúde.

Clareza dos papéis · Abordar a atuação da equipe diante da sobreposição das práticas e/ou ausência
de profissionais no trabalho em equipe.

· Defender a representação de papéis profissionais ausentes no trabalho em


equipe.

· Articular as habilidades pessoais com os demais membros da equipe.

· Defender outras profissões e discutir aspectos relacionados aos estereótipos e


hierarquias profissionais.

· Valorizar feedback de uma variedade de fontes, incluindo paciente, família e


comunidade.

· Fornecer feedback efetivo sob circunstâncias difíceis ou complexas.

· Analisar e empregar o uso apropriado da tecnologia no compartilhamento de


Comunicação
informações entre os membros da equipe.
interprofissional
· Pesquisar atos sobre possíveis/reais violações na confidencialidade como forma
de assegurar uma prática coerente com políticas e legislações institucionais.

· Integrar habilidades de comunicação verbal e não verbal com os demais


membros da equipe, pacientes e famílias em situações difíceis ou complexas.

· Analisar, minimizar e resolver conflitos de forma apropriada em situações


Resolução de conflitos difíceis ou complexas.
interprofissionais · Utilizar ferramentas reflexivas para demonstrar a autoconsciência e a
autorregulamentação de sua atuação profissional.

· Integrar de forma dinâmica os comportamentos dos diferentes profissionais


para apoiar a atuação da equipe.

· Atuar nos casos em que há falta de respeito ou confiança na equipe ou exclusão


de algum de seus membros.
Funcionamento da
· Demonstrar abertura para novas ideias em discussões e tomada de decisão.
equipe
· Contribuir para as mudanças necessárias para melhorar os resultados da
equipe.

· Utilizar ferramentas reflexivas para fortalecer os processos do trabalho em


equipe.

Fonte: traduzida e adaptada de Jecker et al. (2015).

136 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 1 – Continuação...

Domínios de
competências Objetivos de aprendizagem
colaborativas
· Apoiar e defender o envolvimento do paciente como membro da equipe no
trabalho interprofissional.
Atenção centrada
· Defender a mudança nos modelos de atenção à saúde ao paciente no contexto
no paciente/família/
da instituição de saúde, quando necessário.
comunidade
· Garantir e defender a centralidade do paciente no trabalho interprofissional e
nos serviços de saúde.

· Integrar feedback às práticas profissionais e da equipe.

· Estimular a participação do paciente/família/comunidade em contextos de


barreiras institucionais para acessar ou usar informações em saúde.

· Defender mudanças organizacionais para reduzir as barreiras à colaboração.


Liderança colaborativa
· Defender novas tecnologias e estratégias para superar as barreiras à
colaboração.

· Atuar com base na reflexão para melhoria de processos de trabalho e


organização dos sistemas de saúde.

Fonte: traduzida e adaptada de Jecker et al. (2015).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS no interior das instituições formadoras são alguns


dos desafios que estão postos, evidenciando que
A oferta de serviços de saúde de qualidade, resolu‑ esse debate requer ampliação e aprofundamento
tivos e seguros exige valorização e fortalecimento para que mudanças futuras possam ser sentidas na
da colaboração na dinâmica do trabalho em saúde. melhoria dos resultados e dos sistemas de saúde.
Trata‑se de uma mudança paradigmática em que a No contexto brasileiro, o movimento de valori‑
lógica da produção dos serviços de saúde transita zação da colaboração interprofissional precisa re‑
de um modelo centrado no profissional para outro conhecer a trajetória de lutas e acúmulos históri‑
centrado nas necessidades complexas e dinâmicas cos em torno da consolidação e fortalecimento do
das pessoas. Embora esse seja o caminho óbvio, a Sistema Único de Saúde. Compreender as muitas
realidade evidencia que há limitações na supera‑ interlocuções dessa discussão com os princípios e
ção de um modelo que tende a fragmentar as prá‑ diretrizes do SUS assegura um debate em defesa
ticas em saúde, situando o usuário no papel de re‑ de um sistema de saúde forte, resolutivo e compro‑
ceptor de atos e serviços de saúde. metido com a superação das muitas desigualdades
Reconhecer a relevância da colaboração como que se expressam no acesso aos serviços de saúde.
pressuposto para o fortalecimento das práticas co‑ É oportuno afirmar, portanto, que o debate da
laborativas certamente é um avanço para a reorien‑ colaboração interprofissional se junta a outros
tação das práticas e do processo de formação em avanços na resistência aos muitos ataques que his‑
saúde. Entretanto, é imprescindível que se tenha toricamente se realizam ao SUS. Defender as re‑
clareza das enormes tensões que ainda se colocam lações horizontais entre os diferentes profissio‑
como barreiras para as práticas interprofissionais nais de saúde, o protagonismo e a centralidade dos
e colaborativas. A cultura das profissões em atuar usuários na produção dos serviços de saúde mais
isoladamente, o contexto marcado pela competição integrais e resolutivos e um SUS forte é princípio
como mote das relações na sociedade globalizada, humanitário que retoma a defesa da vida como
as normativas institucionais que legitimam a frag‑ principal bandeira de luta e sentido da produção
mentação dos atos em saúde e a rigidez curricular dos serviços de saúde.

A colaboração como fundamento para o trabalho interprofissional em saúde 137


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A colaboração como fundamento para o trabalho interprofissional em saúde 139


CA P Í T UL O 9

A utilização da simulação na
educação interprofissional

141
Sara Fiterman Lima Marcelo Viana da Costa
Enfermeira Enfermeiro
Universidade Federal do Universidade Federal do Rio
Maranhão (UFMA) Grande do Norte (UFRN)

Cristiano Gil Regis Gerson Alves Pereira Júnior


Enfermeiro Docente de Cirurgia de
Universidade Federal do Acre (UFAC) Urgência e do Trauma
Universidade de São Paulo (USP)

1. INTRODUÇÃO

As necessidades cada vez mais complexas dos precoce na formação) e profissionais de saúde de
usuários dos serviços de saúde e da população em diferentes áreas por meio de espaços dialógicos,
geral levaram as profissões a caminhar histori‑ nos quais possam aprender com os outros, sobre
camente em busca de formas de cuidado mais so‑ os outros e entre si, para um adequado enfrenta‑
fisticadas, para que dessem conta dessa realidade. mento dos problemas de saúde, com colaboração
Tradicionalmente, as instituições de educação têm e interdependência (BARR et al., 2005; REEVES,
perpetuado uma formação em saúde de modo de‑ 2016; TOASSI, 2017).
partamentalizado, levando ao desenvolvimento de A necessidade de compartilhamento das histó‑
silos uniprofissionais e invisibilizando a necessi‑ rias de cada profissão, equipes de saúde, organiza‑
dade de preparo para o trabalho conjunto nas equi‑ ções e indivíduos passa a ser devidamente enfati‑
pes de saúde (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001; zada em consequência do reconhecimento mundial
BENNER et al., 2010; REEVES, 2016). de que as lacunas no trabalho em equipe constituem
Com o tempo, evidenciou‑se que essa aborda‑ ameaças à segurança do paciente e à qualidade dos
gem isolada perpetua uma cultura de baixa colabo‑ serviços de saúde (PALAGANAS; EPPS; RAEMER,
ração, comunicação deficiente e trabalho em equipe 2014). Assim, a interprofissionalidade ganha desta‑
pouco efetivo, resultando em graves prejuízos para a que com a proposta de garantir uma interação con‑
qualidade da atenção em saúde (WORLD HEALTH tínua e compartilhamento de conhecimento entre
ORGANIZATION, 2010). diferentes profissionais, organizados para resolver
Diante dessa realidade, surge uma demanda por ou explorar em conjunto uma variedade de ques‑
integração e interações entre estudantes (de forma tões de educação e assistência (PAIGE et al., 2015).

142 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Neste contexto, a educação interprofissional
(EIP) surge como estratégia em que estudantes e/
ou profissionais da saúde de duas ou mais profissões
aprendem juntos e de forma interativa, com o pro‑
pósito explícito de melhorar a colaboração e a quali‑
dade dos cuidados (REEVES, 2016; ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2010). Portanto, ela é rele‑
vante para formação de uma força de trabalho de
saúde colaborativa e preparada para a prática, pois
incentiva os profissionais a trabalhar juntos, melho‑
rando as capacidades dos recursos humanos para
responder às necessidades locais de saúde e pres‑
tando serviços mais abrangentes e dinâmicos. Seus Figura 1 – Modelo de aprendizado contínuo interprofis-
resultados, em última instância, permitem signifi‑ sional. Fonte: adaptada de Toassi (2017).
cativos avanços e fortalecem os sistemas de saúde
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2010;
TOASSI, 2017).
A utilização da EIP já possui reconhecimento tem uma interatividade explícita entre os partici‑
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e seus pantes. Esta interatividade e o repertório de conhe‑
parceiros, que, após quase 50 anos de pesquisa, ad‑ cimentos prévios possibilitam o desenvolvimento
mitiram a existência de evidências suficientes para de competências necessárias para a colaboração in‑
mostrar que a EIP proporciona uma prática colabo‑ terprofissional (BARR et al., 2005; REEVES, 2016).
rativa eficaz. A OMS reconheceu ainda a colabora‑ Além da teoria educacional, é importante que haja
ção interprofissional na formação e nas práticas em rigor na definição do método de ensino e aprendi‑
saúde como uma estratégia inovadora com poten‑ zagem, o qual deve ser ativo, interativo e reflexivo,
cial para desempenhar um papel importante na re‑ criando oportunidades para comparar e contrastar
dução da crise de saúde mundial (ORGANIZAÇÃO papéis, responsabilidades, conhecimentos, habili‑
MUNDIAL DA SAÚDE, 2010). dades e atitudes (BARR et al., 2016).
Diante dessa relevância reconhecida, estudiosos Não se pode ignorar que um dos pressupos‑
passaram a buscar evidências sobre o melhor mo‑ tos‑chave da EIP é explicitamente a interação en‑
mento para a implementação da EIP em institui‑ tre diferentes profissionais de saúde, a qual deve
ções de ensino e de assistência à saúde. Alguns au‑ orientar a escolha de métodos de aprendizagem
tores defendem sua inclusão no início da graduação que permitam essa interatividade (REEVES, 2016).
como forma de superar os estereótipos já existen‑ Entre os diferentes tipos de métodos que se apli‑
tes em relação a outros grupos profissionais. Essa cariam a essa premissa, Reeves (2016) indica algu‑
integração no início do processo de formação pode mas possibilidades metodológicas:
apoiar a socialização interprofissional. Outros, no ‑ Aprendizagem baseada em seminário.
entanto, defendem essa inclusão após a graduação, ‑ Aprendizagem baseada em observação
visto que já existiria uma melhor compreensão da (shadowing).
identidade profissional e de seu papel entre os par‑ ‑ Aprendizagem baseada em problemas.
ticipantes. Existem também aqueles que defendem ‑ Aprendizagem baseada em simulação.
o início precoce e contínuo da EIP na trajetória for‑ ‑ Aprendizagem baseada na prática clínica.
mativa, de forma transversal, desde a formação ini‑ ‑ Aprendizagem e‑learning (por exemplo: discus‑
cial até a vida profissional (Figura 1). Considerando sões on‑line).
que os objetivos e a natureza da EIP diferem de‑ ‑ Aprendizagem híbrida (integrando e‑learning
pendendo do estágio de aprendizado, essa aborda‑ com outro método tradicional).
gem tem se mostrado mais coerente e apropriada Tais métodos de aprendizagem devem ser es‑
(REEVES, 2016; LIE et al., 2016). colhidos de acordo com os objetivos da iniciativa
Buscando assegurar os resultados da EIP, inicia‑ de formação, dos participantes e dos recursos dis‑
tivas bem‑sucedidas utilizam a orientação em dife‑ poníveis. Entretanto, há um consenso de que a si‑
rentes teorias de aprendizagem. A teoria da apren‑ mulação, em todas as suas modalidades, é uma po‑
dizagem de adultos vem sendo amplamente adotada tente estratégia para a EIP (PALAGANAS; EPPS;
por subsidiar métodos de aprendizagem que permi‑ RAEMER, 2014).

A utilização da simulação na educação interprofissional 143


Embora se reconheça a efetividade de diversos
métodos para formação das competências colabo‑
rativas e destacando que a combinação de diferen‑
tes métodos interativos de aprendizagem em uma
iniciativa de EIP pode contribuir para um maior
aprendizado, este texto vai discutir sobre o uso da
simulação.

2. A SIMULAÇÃO E A EDUCAÇÃO
INTERPROFISSIONAL

Figura 2 – Relação entre educação interprofissional e


A primeira iniciativa documentada de EIP mediada simulação em saúde. Fonte: adaptada de Wilhaus et al.
por simulação data de 1947 e enfocou a educação (2013).
inter e transdisciplinar. O manuscrito não utilizou
as palavras específicas “educação interprofissio‑
nal” ou “simulação”, mas exemplificou uma situa‑
ção em que os estudantes aprenderam com os ou‑
tros, sobre os outros e entre si por meio do uso de Sendo a simulação um método de aprendizagem
atores treinados para facilitar as atividades de dra‑ que se utiliza de cenários, nos quais determinado
matização entre as profissões (JANTSCH, 1970; conjunto de condições é (re)criado artificialmente
PALAGANAS; EPPS; RAEMER, 2014). para possibilitar a aprendizagem experimental de
As melhorias na simulação utilizada em EIP situações que acontecem no mundo real, ela pode
emergiram na década de 1950 por meio de simula‑ auxiliar na formação de profissionais mais aptos ao
ções computadorizadas para sociologia, psicologia, trabalho em equipe (GABA, 2004; AL‑ELQ, 2010).
ciências comportamentais e teoria organizacional. Estudos apontam a metodologia da simulação
como uma das melhores práticas para implemen‑
Na década de 1960, essa literatura foi ampliada, pro‑
tação da EIP. Por meio da integração de partici‑
vavelmente, em decorrência de estudos dos fatores
pantes de duas ou mais profissões, ela organiza a
humanos e trabalho em equipe. Na mesma década,
formação em torno de uma disciplina e realidade
a colaboração passou a ser referida como o futuro
específica, em que cada profissão examina a base
para prestação de cuidados de saúde (PALAGANAS;
de seu conhecimento e os papéis de outras pro‑
EPPS; RAEMER, 2014).
fissões, com respeito, confiança e apoio mútuos, e
O treinamento da equipe de saúde com simu‑ compartilha, assim, um propósito comum de mol‑
lação surgiu na década de 1980, com o MedTeams dar seus conhecimentos e habilidades (SMITH,
(inspirado no programa de treinamento da tripula‑ 2016; NATIONAL LEAGUE FOR NURSING
ção desenvolvido pela indústria da aviação) e com o ACCREDITING COMMISSION, 2012; PALAGNAS,
treinamento de gerenciamento de recursos de crise 2012; PINAR, 2015). Dessa forma, a simulação está
em simulações de anestesia (MCCONAUGHEY, cada vez mais sendo usada em EIP, porque oferece
2008; GABA, 1997). aos profissionais de saúde a oportunidade de atuar
A EIP e a simulação em saúde evoluíram histo‑ em equipe e trabalhar de forma colaborativa para re‑
ricamente como estratégias distintas, entretanto se solver problemas e prestar atendimento em um am‑
sobrepuseram naturalmente em um campo mes‑ biente seguro (NIMMAGADDA; MURPHY, 2014).
clado. Assim, em 2011, a Society for Simulation in
Healthcare (SSH) e a National League for Nursing
(NLN) identificaram uma oportunidade de aprimo‑ 3. A UTILIZAÇÃO DA SIMULAÇÃO PARA A
rar os resultados da EIP, ao compreender e apro‑ FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL
veitar melhor a sua interseção com a simulação
(Figura 2). A simulação em EIP é a sobreposição da Conforme apontado anteriormente, a EIP se faz
pedagogia da simulação e da EIP, proporcionando necessária em todos os momentos da formação em
uma abordagem colaborativa para o desenvolvi‑ saúde para que sejam trabalhadas as competên‑
mento e o domínio das competências colaborati‑ cias colaborativas. Mais de 75% dos erros na área
vas (INACSL STANDARDS COMMITTEE, 2016). de saúde envolvem um elemento de comunicação

144 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


deficiente e outros fatores humanos, sendo irrefu‑ Para o uso da simulação em EIP, faz‑se neces‑
tável que um bom trabalho em equipe, com colabo‑ sária a compreensão de que colocar em um cenário
ração entre todos os profissionais de saúde, é vital. membros de diferentes profissões não é suficiente
Com a simulação, pode‑se criar um ambiente livre para assegurar a aprendizagem interprofissional en‑
de riscos e tolerante a erros, em que estudantes, em tre os participantes. Por ser inerentemente intera‑
diferentes estágios de aprendizado e de diferentes tiva, a interprofissionalidade demanda que as ati‑
profissões, podem interagir para melhorar o traba‑ vidades realizadas assegurem a integração desses
lho em equipe e a colaboração (ZHANG et al., 2011; sujeitos no processo de ensino e aprendizagem, para
O’BRIEN; MOULD, 2016). que haja o desenvolvimento das competências cola‑
Além disso, o uso da simulação, incluindo di‑ borativas (REEVES; GOLDMAN; ZWARENSTEIN,
ferentes profissões com foco em fatores humanos 2009). Nesse sentido, a importância da interação se
(como comunicação, consciência situacional, li‑ complementa por outro importante aspecto, que é
derança e trabalho em equipe), permite que pro‑ a intencionalidade. Os pressupostos da EIP preci‑
fissionais e estudantes se tornem cada vez mais sam estar intencionalmente inseridos na proposta
conscientes da relevância desses fatores em um pedagógica, na escolha dos conteúdos, na constru‑
contexto de uma situação clínica e da contribui‑ ção dos objetivos, nas competências esperadas, na
ção da interação social para um cuidado de saúde organização do cenário e na avaliação da aprendi‑
adequado (O’BRIEN; MOULD, 2016). Assim, a si‑ zagem (COSTA et al., 2019).
mulação para EIP pode ser utilizada em diferentes Essa intencionalidade deve se expressar na
combinações de profissões e contextos, incluindo inclusão de competências colaborativas no pro‑
a graduação, a pós‑graduação e a educação perma‑ cesso de formação, visto que são tais competên‑
nente, além de estar presente em diferentes áreas cias que conferem a aprendizagem interprofis‑
da saúde, como atenção primária, pediatria, clí‑ sional. Essas competências colaborativas podem
nica médica, cirurgia, obstetrícia, psiquiatria, ur‑ ser encontradas em diferentes matrizes. Nesse
gência e emergência, entre outras (PALAGNAS, sentido, apresentam‑se algumas dessas matrizes
2012; PINAR, 2015). (Quadro 1), que foram elaboradas por instituições

Quadro 1 – Quatro matrizes de competências interprofissionais publicadas.

País e ano de
Fonte e autoria Intenção e justificativa Domínios
publicação
Para permitir uma abordagem 1) Conhecimento a partir da
The mais coerente, integrada e prática.
Interprofessional centrada no paciente; modernizar
2) Prática ética.
Capability a contribuição educacional em
Reino Unido,
Framework relação a futuros profissionais 3) Trabalho interprofissional.
2004
(Universities de saúde; promover o trabalho
Interprofessional em equipe, com parceria e
Learning Unit). colaboração entre os profissionais 4) Reflexão (aprendizagem).
e as agências com os pacientes.
1) Comunicação
National interprofissional.
Interprofessional 2) Atenção centrada no paciente.
Para desenvolver, por meio da
Competency
colaboração entre diferentes 3) Clareza de papéis.
Framework
Canada, 2010 profissionais, um quadro
(Canadian 4) Funcionamento da equipe.
nacional de competências
Interprofessional
interprofissionais. 5) Liderança colaborativa.
Health Collaborative
Working Group). 6) Resolução de conflitos
interprofissionais.

Fonte: adaptado de Thistlethwaite et al. (2014).

A utilização da simulação na educação interprofissional 145


Quadro 1 – Continuação...

País e ano de
Fonte e autoria Intenção e justificativa Domínios
publicação
Core Competencies 1) Valor e ética profissionais.
for Interprofessional Para transformar a educação das
2) Funções e responsabilidades.
Collaborative profissões de saúde e atender
Practice Estados à necessidade de construir 3) Comunicação
(Interprofessional Unidos, 2011 sistemas de saúde mais seguros, interprofissional.
Education mais centrados no paciente e
Collaborative Expert orientados para a comunidade. 4) Trabalho em equipe e
Panel). cuidado realizado em equipe.

Para promover as capacidades 1) Comunicação.


necessárias aos profissionais
2) Trabalho em equipe.
de saúde, para que sejam
Interprofessional colaborativos, prontos para 3) Clareza de papéis.
Capability Austrália, uma prática eficaz e eficiente
Framework (Curtin 2011 e para o trabalho em equipe 4) Resolução de conflitos.
University) interprofissional, e aptos a
fornecer serviços e cuidados
seguros e de alta qualidade para 5) Reflexão.
clientes, famílias e comunidades.

Fonte: adaptado de Thistlethwaite et al. (2014).

formadoras, pesquisadores e representantes po‑ As simulações podem promover a aprendiza‑


líticos e que devem ser consideradas no planeja‑ gem colaborativa entre alunos, instrutores e ou‑
mento das atividades de simulação interprofissio‑ tros profissionais de saúde para fornecer um am‑
nal, pois são extremamente úteis como guias para biente em que todos trabalhem juntos, imitando
atividades de aprendizagem e avaliações adequa‑ o que realmente é feito na vida real. Entretanto,
damente alinhadas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL para que sejam efetivas, as práticas simuladas in‑
DA SAÚDE, 2010; PALAGANAS; EPPS; RAEMER, terprofissionais devem ser planejadas por meio da
2014; THISTLETHWAITE et al., 2014). construção de tais cenários, com vistas a permitir
Em relação às competências colaborativas, ao se uma experiência simulada entre representantes
considerar os serviços de saúde como a organização de diferentes profissões, intencionalmente orga‑
na qual os profissionais atuam em equipe, infere‑se nizadas, de forma a possibilitar aos participantes
que os referenciais de competência interprofissio‑ a vivência de experiências cognitivas, afetivas e
nal são relevantes para todos os profissionais, sendo psicomotoras, com base em uma situação clínica
úteis para educadores que estão realizando a EIP em que envolva a necessidade do trabalho em equipe.
seus programas (THISTLETHWAITE et al., 2014). Nos cenários simulados, os participantes podem
integrar conteúdos teóricos e habilidades técni‑
cas e não técnicas (JEFFRIES, 2005; LIOCE et al.,
4. CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS SIMULADOS EM 2020; PINAR, 2015; NOGUEIRA; DOMINGUES;
EDUCAÇÃO INTERPROFISSIONAL BERGAMASCO, 2020).

Os cenários simulados em EIP podem ser definidos O trabalho em equipe ocorre quando há coordena‑
como o planejamento de uma situação clínica que ção de esforços, troca dinâmica de recursos e adap‑
possibilita o desenvolvimento de objetivos especí‑ tação a fatores situacionais variáveis. Trata‑se de
ficos para aprendizagem interprofissional, devendo um conjunto inter‑relacionado de pensamentos,
ser verossímil, envolver estratégias para comunica‑ comportamentos e sentimentos dos membros da
ção, raciocínio crítico, tomada de decisões e solução equipe, para que funcionem como uma unidade
de problemas (ALINIER, 2011; NEVES et al., 2017). (SWEZEY; MELTZER; SALAS, 1994).

146 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Para que os participantes se sintam os mais Simulation and Learning (INACSL STANDARDS
próximos possíveis das situações reais, os cená‑ COMMITTEE, 2016), com algumas adaptações
rios devem ser adequadamente planejados e ser‑ (Figura 4):
vir como recurso para otimizar a prática das com‑ Sugere‑se, inicialmente, partir do problema a
petências colaborativas, incluindo na organização ser abordado, o qual, por sua vez, deve estar rela‑
meios que permitam a utilização dos conheci‑ cionado aos conteúdos curriculares da graduação e
mentos, habilidades e atitudes dos participantes pós‑graduação ou a situações relacionadas ao traba‑
(NOGUEIRA; DOMINGUES; BERGAMASCO, lho da equipes profissionais nos serviços de saúde,
2020; NIMMAGADDA; MURPHY, 2014). sejam estas reconhecidas por seus componentes
Vários modelos são encontrados na literatura (é interessante quando se parte das necessidades
para orientar a construção de cenários de simu‑ e expectativas dos participantes) ou secundárias a
lação, entretanto optou‑se por sugerir uma estru‑ demandas do contexto da saúde (administrativas,
turação de cenários simulados para EIP em três científicas, sociais e políticas) (NEVES et al., 2017;
etapas fundamentais para estruturação do ensino PALAGANAS; EPPS; RAEMER, 2014).
simulado (Figura 3). Outro ponto relevante se refere à escolha do ar‑
cabouço teórico que irá fundamentar a prática si‑
4.1. PLANEJAMENTO E ESTRUTURAÇÃO
mulada e a aprendizagem dos participantes, pau‑
DE CENÁRIOS SIMULADOS EM EDUCAÇÃO
INTERPROFISSIONAL tada nas melhores evidências científicas. Como a
Todas as experiências baseadas em simulação re‑ maioria das estações simuladas se aplica a situações
querem planejamento intencional, minucioso e sis‑ associadas a conteúdos clínicos específicos e tam‑
temático, ainda que flexível e cíclico. Para que os bém à prática colaborativa, deve‑se trabalhar com
objetivos de aprendizagem sejam devidamente ex‑ dois tipos de referenciais: aqueles voltados para te‑
plorados, e os resultados esperados possam ser al‑ mática em saúde explorada e aqueles voltados para
cançados, o design e o desenvolvimento da simu‑ EIP. Esta é uma etapa para reconhecimento de pos‑
lação devem considerar critérios que facilitam a sibilidades, por isso recomenda‑se que toda e qual‑
efetividade das experiências baseadas em simulação. quer fonte de referência a ser utilizada na constru‑
Existem vários modelos que orientam esse plane‑ ção do cenário seja listada, para dar credibilidade e
jamento. Nesse caso, serão aproveitadas as orienta‑ validar sua confecção (NOGUEIRA; DOMINGUES;
ções da International Nursing Association for Clinical BERGAMASCO, 2020; NEVES et al., 2017).

Figura 3 – Etapas para construção de cenários simulados em EIP.

A utilização da simulação na educação interprofissional 147


Figura 4 – Melhores práticas para o planejamento da simulação. Fonte: adaptada de INACSL STANDARDS COMMITTEE
(2016).

A simulação em EIP deve incluir um conjunto Para definir as competências, durante o plane‑
de estratégias teoricamente embasadas para: jamento é necessário entendê‑las como domínios
(1) aumentar as competências do trabalho cola‑ construídos e adquiridos em situações cotidianas
borativo em equipe para uma melhor assistên‑ que, necessariamente, envolvem a compreensão
cia; (2) dar aos membros da equipe oportuni‑ da ação empreendida e do uso a que essa ação se
dades para ganhar experiências com uso dessas destina. Portanto, competência é a capacidade de
competências, de forma segura. mobilizar recursos cognitivos, emocionais e psico‑
motores (conhecimentos, habilidades e atitudes)
Uma vez definidos o problema e o arcabouço para solucionar, com eficácia, algumas situações
teórico, pode‑se partir para a definição do pú‑ (BAILLIE; CURZIO, 2009; AGUIAR; RIBEIRO,
blico‑alvo (lembrando que, para ser interprofis‑ 2010). Para isso, Aguiar e Ribeiro (2010) destacam
sional, deve‑se envolver duas ou mais profissões). que, frequentemente, observa‑se o uso do termo
É fundamental definir as categorias profissionais “competências” para expressar objetivos de en‑
que participarão da atividade simulada e o número sino quanto a “condutas e práticas observáveis”,
de participantes. Também é importante identificar em que se acrescenta um “ser capaz de”, expres‑
qual o conhecimento prévio deles, pois é relevante são que caracteriza uma ação, sem haver uma pre‑
a adequação do cenário ao nível de conhecimento e ocupação com a transferência de conhecimentos
vivências dos participantes. Essas informações se‑ para aplicação em contextos diversos ou sua mo‑
rão úteis para definição das competências a serem bilização em situações complexas, que são indiscu‑
trabalhadas na simulação e para elaboração dos ob‑ tivelmente necessárias para uma competência. Por
jetivos de aprendizagem congruentes com tais com‑ esse motivo, é importante garantir que a simulação
petências (NEVES et al., 2017; EPPICH; CHENG, exceda uma experiência unicamente prática e sem
2015; SANTALUCIA et al., 2016). sustentação teórica.

148 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Ao usar a simulação em EIP, muitos dos obje‑ simulação virtual (realidade virtual), simulação in
tivos e resultados de aprendizagem permanece‑ situ e telessimulação (BERGAMASCO et al., 2020).
rão os mesmos para todas as profissões, entretanto Ainda no planejamento, deve‑se realizar um le‑
são necessárias algumas variações nas atribuições vantamento dos recursos necessários, incluindo o
das profissões individuais e nas diretrizes clínicas. ambiente no qual a atividade será desenvolvida, si‑
Assim, embora o planejamento esteja voltado para muladores, materiais/equipamentos, equipe audio‑
a formação interprofissional, o cenário pode enfo‑ visual, pacientes padronizados, moulage, adereços,
car também a aquisição, a manutenção ou a avalia‑ recursos diagnósticos e terapêuticos. A complexi‑
ção das competências específicas e comuns, para dade do problema a ser resolvido deve determi‑
além das colaborativas, mas os objetivos podem nar a magnitude dos recursos a serem utilizados
incluir a avaliação de saúde, o plano de cuidados, (NEVES et al., 2017).
a avaliação de cuidados e os cuidados de acompa‑ A construção de uma lista de itens essenciais so‑
nhamento (NEVES et al., 2017; NIMMAGADDA; bre a organização da experiência simulada é uma
MURPHY, 2014). estratégia efetiva para essa fase do planejamento,
Quanto aos objetivos de aprendizagem, eles pois os registros irão facilitar a conferência de to‑
devem espelhar os resultados esperados por meio dos os aspectos necessários que devem compor o
da simulação, levando em consideração o trabalho cenário final antes de sua aplicação (NOGUEIRA;
em equipe em sua formulação. Ao planejar os ob‑ DOMINGUES; BERGAMASCO, 2020).
jetivos, deve‑se envidar esforços para que estes fi‑ O conjunto dessas atividades de planejamento
quem claros, concisos e mensuráveis, explicitando vão garantir o nível de fidelidade do cenário, des‑
os desempenhos desejados. Dessa forma, não se tacando aqui que fidelidade não é um sinônimo de
pode esquecer da inclusão de competências cola‑ tecnologia, e sim uma propriedade intrínseca da si‑
borativas em sua construção, pois é nessa atitude mulação, que pode ser definida como o grau de pre‑
intencional que se garante a presença da interpro‑ cisão com que uma simulação, seja ela física, men‑
fissionalidade na aprendizagem. Para isso, é pos‑ tal ou ambas, representa determinado quadro de
sível recorrer às matrizes indicadas no Quadro 1 e realidade em termos de pistas e estímulos e inte‑
à pergunta: Quais competências deverão ser desen‑ rações possíveis (TUN et al., 2015).
volvidas pela equipe nesta atividade? (KANEKO; Uma vez planejado o cenário, ele deve ser orga‑
nizado para que possa ser aplicado. Nessa etapa, os
LOPES, 2019; COSTA; AZEVEDO; VILAR, 2019).
itens indicados no planejamento devem ser garan‑
Destaca‑se ainda que, ao planejar os objetivos,
tidos, o que inclui a reserva dos recursos existen‑
estes podem ser divididos em gerais (relacionados
tes e a criação e a aquisição de recursos inexisten‑
às metas organizacionais da estação) e específicos
tes necessários para condução da estação simulada.
(relacionados às medidas de desempenho espera‑
Um cenário é útil quando tem um bom poten‑
das dos participantes). Além disso, os objetivos ge‑
cial instrutivo, ou seja, facilita a contemplação dos
rais devem ser disponibilizados aos participantes
objetivos de aprendizagem, exercitando cada par‑
antes do início da atividade simulada, enquanto os
ticipante para enfrentar as situações reais viven‑
específicos devem ficar restritos aos facilitadores,
ciadas em equipe, estimulando‑os para o alcance
já que direcionam o processo de acompanhamento
dos resultados esperados (INACSL STANDARDS
e avaliação (KANEKO; LOPES, 2019; NOGUEIRA;
COMMITTEE, 2016).
DOMINGUES; BERGAMASCO, 2020).
A estratégia de EIP será mais eficaz quando as
Outro ponto importante no planejamento é a ferramentas, métodos de entrega e conteúdo dis‑
modalidade/estratégia de simulação que será uti‑ poníveis são combinados:
lizada. Uma atividade de simulação pode ser con‑
duzida por diferentes modalidades, e a escolha do
Quando se trata de um cenário para trabalhar
melhor método deve ser pautada nos objetivos pro‑ a EIP, é interessante considerar diferentes ex‑
postos e nos desempenhos esperados dos partici‑ periências profissionais. Assim, é indicado que
pantes. Entre as diversas estratégias de simulação, estes cenários sejam desenvolvidos e revisa‑
destacam‑se o treinamento de habilidades e os di‑ dos por representantes das profissões envolvi‑
versos tipos de simulação clínica com o uso de si‑ das na simulação, para que sejam respeitadas
muladores (manequins) e paciente simulado (ator), e valorizadas as especificidades de cada uma.
simulação híbrida (simulador mais paciente simu‑ Entretanto, outro ponto fundamental consiste
lado), prática deliberada em ciclos rápidos (PDCR), em criar oportunidades de aprendizagem pro‑

A utilização da simulação na educação interprofissional 149


positais, estabelecendo metas mútuas entre as volvidos na condução do cenário. Esse detalha‑
profissões envolvidas na experiência, para ga‑ mento descrito do cenário facilitará a comunica‑
rantir a sua integração (INACSL STANDARDS ção e a atuação dos participantes, dos facilitadores,
COMMITTEE, 2016; PINAR, 2015). das equipes de apoio e dos atores durante a simula‑
ção. Além disso, no planejamento da atividade, po‑
Com base no problema definido e nos objetivos dem‑se incluir distrações, planejadas a partir de
de aprendizagem, organiza‑se um caso (que pode possíveis ocorrências em um cenário real, e ques‑
ser hipotético ou com base em experiências reais) tões éticas, para conferir maior fidelidade ao cená‑
e, a partir dele, realizam‑se os instrumentos ne‑ rio (KANEKO; LOPES, 2019; INACSL STANDARDS
cessários para o desenvolvimento da simulação. COMMITTEE, 2016).
O caso descrito, ou a história de fundo, fornece
Alguns instrumentos para construção de cená‑ um ponto de início realístico para as atividades es‑
rios simulados: truturadas, mas o cenário tem seus desdobramentos,
em que as demais informações podem ser ofereci‑
1) Orientação para montagem do cenário, con‑ das ao grupo participante verbalmente, encontra‑
tendo listagem dos recursos e as indicações para das em documentação de suporte, como pron‑
sua distribuição no ambiente; tuário, ou ser reveladas à medida que emergirem
as perguntas adequadas por parte dos participan‑
2) Caso descrito de maneira sucinta e clara, con‑ tes (INACSL STANDARDS COMMITTEE, 2016).
tendo apenas as informações essenciais e rele‑ Assim, outro ponto necessário é organizar as
vantes para o desenvolvimento da atividade; respostas às ações dos participantes, incluindo fa‑
las padronizadas e pistas que possam direcioná‑los
3) Roteiro com informações a serem oferecidas quando se desviam do objetivo pretendido. Essas
aos participantes durante o aquecimento da ati‑ pistas podem ser fornecidas verbalmente (pelo fa‑
vidade (Briefing); cilitador ou paciente padronizado), visualmente
(pelo monitor) ou por meio de dados adicionais (no‑
vos resultados de exames) ((INACSL STANDARDS
4) Informações a serem oferecidas aos parti‑
COMMITTEE, 2016).
cipantes para orientar a sua participação du‑
rante a atividade, contendo a descrição do caso, O uso da árvore de tomada de decisões ou flu‑
o tempo e a tarefa a ser realizada; xograma também é uma ferramenta muito útil,
pois auxilia no desenvolvimento do cenário de
acordo com a evolução e ações do(s) participante(s).
5) Scripts dos atores simulados e documenta‑
Ressalta‑se que esse roteiro do cenário ou caso de‑
ção de apoio;
senvolvido necessita de consistência e padronização
para permitir a sua reprodutibilidade e confiabili‑
6) Orientações e informações para o examinador/
dade (INACSL STANDARDS COMMITTEE, 2016).
avaliador;
Além disso, um checklist contendo as ações/
atividades que o(s) participante(s) voluntário(s)
7) Fluxograma de acordo com as decisões pos‑ deve(m) desenvolver durante a prática simulada
síveis das estações; também representa um recurso instrucional in‑
teressante tanto para o facilitador quanto para os
8) Checklist do caso para examinador/avaliador. participantes observadores durante o acompanha‑
mento da simulação, facilitando, posteriormente, o
Como se trata de uma simulação interprofissio‑ direcionamento do debriefing e a reflexão do grupo
nal, o cenário deve, preferencialmente, ser criado (NOGUEIRA; DOMINGUES; BERGAMASCO,
por facilitadores de diferentes profissões, de ma‑ 2020).
neira colaborativa. A simulação consiste em uma ati‑ Nos cenários com pacientes simulados, de‑
vidade viva, sendo necessário realizar uma descri‑ vem ser definidas as quantidades necessárias de
ção completa das possíveis progressões para o caso, envolvidos, garantindo sua presença na simula‑
respeitando os papéis de cada profissional e valo‑ ção; em alguns casos, é preciso realizar o treina‑
rizando a interdependência entre os participantes. mento dos atores pautado em um roteiro deta‑
Os roteiros devem ser elaborados de maneira lhado, bem como uma caracterização (vestimentas
detalhada, para propiciar dados para todos os en‑ e moulage), quando necessário, para garantir o rea‑

150 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


lismo e o sucesso do cenário (KUMAKURA; SILVA; ser realizado por: 1) sala de aula invertida com o en‑
GONÇALVES, 2018). vio de referências para estudo prévio (textos e ví‑
Estabelecer um limite de duração da atividade deos) dos aprendizes; 2) exposição dialogada pré‑
simulada que garanta tempo suficiente para que os via do instrutor, de preferência gravada; 3) busca
participantes atinjam os objetivos é fundamental, e, ativa pelos aprendizes como complemento ao es‑
mesmo quando as intervenções esperadas não forem tudo prévio; e 4) ensino por metodologias ativas
alcançadas no período definido, o cenário deve ser (IGLESIAS; PAZIN FILHO, 2015).
encerrado, e o insucesso da resolução, discutido pos‑ É interessante ainda que o briefing seja estrutu‑
teriormente no debriefing da equipe (NOGUEIRA; rado, planejado com consistência e completo, apli‑
DOMINGUES; BERGAMASCO, 2020). cado imediatamente antes do cenário/caso e que o
plano do briefing seja escrito ou gravado para padro‑
A escassez de tempo pode aumentar o estresse nização do processo e utilizações futuras (INACSL
dos participantes, por outro lado, cenários STANDARDS COMMITTEE, 2016).
com ritmo excessivamente lento podem redu‑ O momento de desenvolvimento do cenário
zir o grau de imersão dos mesmos na atividade de simulação é aquele em que a tarefa é realizada
(NEVES et al., 2017). de forma prática, sendo observada pelo instrutor e
pelos demais participantes, com ou sem gravação
Além disso, a seleção de facilitador que con‑ audiovisual. Este momento possui ponto de início,
duzirá a atividade simulada deve considerar o co‑ atividades estruturadas para o participante e ponto
nhecimento do tema proposto e a experiência na de término. É fundamental que os observadores te‑
estratégia, pois ele é o principal agente apoiador nham máxima atenção ao cumprimento dos passos
para o processo de aprendizagem. É o facilitador preestabelecidos, de modo a facilitar o feedback.
que ajuda a melhorar um desempenho insatisfató‑ Nesta etapa, o facilitador deve estar atento para con‑
rio ou reforça um bom desempenho do participante, duzir a evolução do cenário, estimulando a parti‑
por meio da reflexão guiada sobre a experiência da cipação de todos e o trabalho em equipe (INACSL
simulação, tendo, assim, um importante papel du‑ STANDARDS COMMITTEE, 2016; NOGUEIRA;
rante e após a realização no cenário. Portanto, sua DOMINGUES; BERGAMASCO, 2020).
escolha é fundamental para garantir o sucesso do ce‑ Ao final da ação de simulação como ensino,
nário (MENEZES; MOLINA; DOS SANTOS, 2020). tem‑se o debriefing, que é o momento de estímulo
para o levantamento de ideias e possibilidades de
4.2. APLICANDO A SIMULAÇÃO INTERPROFISSIONAL abordagens diferentes, o que propicia o ensino de
O início da aplicação de uma simulação interpro‑ diferentes habilidades específicas (cognitivas, de co‑
fissional deve acontecer por meio de um pré‑brie‑ municação, procedurais, de colaboração, entre ou‑
fing, em que o facilitador irá saudar os participantes, tras), e também ocorre o feedback sobre o desem‑
mostrar os tipos de simuladores que podem estar penho dos estudantes que participaram do cenário
relacionados ao cenário, estabelecer o “contrato de simulado. Trata‑se de um momento de reflexão que
ficção” e identificar as expectativas dos participan‑ pode levar a novas interpretações pelos participan‑
tes, as quais, dependendo do nível de experiência tes. O debriefing promove o entendimento e apoia
e bagagem teórica de cada um, podem ser diferen‑ a aquisição de conhecimento, habilidades e atitu‑
tes. Também é interessante estabelecer regras e li‑ des visando às práticas recomendadas para promo‑
mites (IGLESIAS; PAZIN FILHO, 2015; INACSL ver o tratamento seguro e de boa qualidade ao pa‑
STANDARDS COMMITTEE, 2016). ciente, além de desenvolver a função profissional
Após o pré‑briefing com as instruções gerais da do participante. As habilidades do facilitador são
simulação, ocorre o momento do briefing com as importantes para assegurar os melhores resultados
instruções específicas, logo antes da aplicação do de possíveis aprendizagem (INACSL STANDARDS
cenário simulado. Nesta etapa, há a apresentação COMMITTEE, 2016; MONTANDON et al., 2020).
do problema e dos passos relativos à tarefa a ser re‑ O ambiente do debriefing deve ser positivo e en‑
alizada, os quais devem ser apresentados de forma tusiástico, seguindo a visão de “não criticar”, por
clara, objetiva e sucinta, podendo ser expostos em meio de uma condução com questionamentos ade‑
cartazes para rápida consulta e visualização. É im‑ quados (Figura 5), e permitindo que o aluno/par‑
portante que o componente cognitivo da competên‑ ticipante memorize as ações, de forma a agir con‑
cia esteja internalizado e seja de domínio dos parti‑ fortavelmente quando um caso real semelhante lhe
cipantes antes do momento presencial, o que pode for apresentado.

A utilização da simulação na educação interprofissional 151


Figura 5 – Perguntas estruturadas para o debriefing. Fonte: adaptada de Gibbs (1988).

Apesar de relatos positivos, com muitos desfru‑ riência formativa. Na simulação, o debriefing é um
tando de atividades de aprendizagem em equipe, a momento privilegiado para a reflexão e revisão das
integração da EIP na educação clínica permanece práticas, visando mudar o comportamento dos estu‑
limitada. Nesse sentido, o trabalho simulado em dantes. Porém, é possível aplicar um teste de verifi‑
equipe ainda apresenta muitas barreiras que podem cação de conhecimentos prévios ou uma escala para
impactar na EIP (JEFFRIES, 2005; PALAGNAS, checar a prontidão/disponibilidade dos estudantes
2012; INTERPROFESSIONAL EDUCATION para a EIP no momento do briefing. Ademais, realizar
COLLABORATIVE EXPERT PANEL, 2011). observação com preenchimento de checklist durante
a ação da simulação é uma importante forma de ava‑
4.3 A AVALIAÇÃO DA SIMULAÇÃO liar o desempenho dos estudantes. Todas essas são
INTERPROFISSIONAL
possibilidades interessantes, desde que os estudan‑
Partindo de uma perspectiva formativa, a avaliação
tes tenham conhecimento prévio do método de ava‑
de simulação interprofissional não se encerra em
liação ao qual serão submetidos na prática simulada.
si, ou seja, seu objetivo não é simplesmente atri‑
Além de uma avaliação sistematizada com a uti‑
buir nota e classificar os estudantes como apro‑
lização de instrumentos validados, encorajar a re‑
vados ou reprovados. Ela deve fazer parte de um
flexão contribuiu para o aprendizado e para o ca‑
processo formativo que se inicia no planejamento
da unidade curricular ou curso que assumiu a EIP ráter formativo da avaliação. Para os estudantes,
como uma de suas estratégias formativas e, dessa algumas questões norteadoras sobre o momento
forma, propõe intencionalmente atividades para o do pré‑briefing e briefing são:
desenvolvimento de competências colaborativas. o Eu estava preparado para esta simulação?
Avaliar se e como os objetivos de aprendizagem o Que bagagem (conhecimentos, habilidades, ati‑
foram alcançados gera informações sobre a apren‑ tudes, expectativas, medos, anseios, dificulda‑
dizagem interprofissional dos estudantes e sobre o des, preconceitos) eu trouxe para esta atividade?
ensino proposto (que envolve corpo docente, equipe o Eu me sentia confortável com a proposta de tra‑
de apoio, infraestrutura, cenário/caso escolhido, en‑ balhar com estudantes de outras profissões?
tre outros) para o replanejamento do processo de o Eu compreendi o problema e os passos da ta‑
ensino e aprendizagem. A avaliação da simulação refa a ser realizada?
realizada pelos participantes, facilitadores e toda No que concerne à ação da simulação, os estu‑
equipe envolvida é fundamental para auxiliar na dantes podem refletir:
melhoria do processo de qualidade. o Eu consegui mobilizar recursos cognitivos, emo‑
Importa também ressaltar que a avaliação não cionais e psicomotores para solucionar a situa‑
é uma atividade pontual que se dá ao final da expe‑ ção apresentada?

152 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


o Como eu me senti atuando com estudantes de tas (INACSL STANDARDS COMMITTEE, 2016;
outras profissões? NOGUEIRA; DOMINGUES; BERGAMASCO, 2020).
o Quais foram as minhas dificuldades? Questionários de avaliação do conhecimento adqui‑
o O que eu aprendi que me torna um profissional rido pelos participantes antes e/ou depois da ati‑
mais colaborativo? vidade simulada (pré e pós‑teste) também são am‑
o Qual foi o meu desempenho geral? plamente utilizados (NOGUEIRA; DOMINGUES;
o Qual foi o nosso desempenho geral? BERGAMASCO, 2020).
Sobre o debriefing, algumas questões nortea‑ No que tange à simulação interprofissional, o
doras são: número de instrumentos é menor, dada a especifi‑
o Como eu me sinto em relação ao feedback que cidade dessa questão. No Brasil, uma série de ins‑
está sendo dado pelos docentes e pelos demais trumentos está sendo validada (originais e adap‑
estudantes sobre minha atuação? tados à realidade brasileira), e seu uso em diversas
o Como posso utilizar o feedback para melhorar iniciativas de EIP, não apenas em simulação, tem
minha prática interprofissional? sido crescente. Sua utilização em simulações inter‑
Para a equipe que promoveu a simulação (do‑ profissionais produz dados sobre variados aspec‑
centes, facilitadores, monitores e apoio), as ques‑ tos da interprofissionalidade, como colaboração,
tões para a reflexão são: socialização e prontidão para a EIP. Desses instru‑
o O cenário/caso proposto foi o mais adequado mentos, importa citar:
para o desenvolvimento da(s) competência(s) o Escala de Prontidão para o Aprendizado In‑
colaborativa(s) escolhida(s)? Por quê? terprofissional (Readiness for Interprofessional
o Os objetivos de aprendizagem traçados foram Learning Scale – RIPLS).
alcançados? Em que nível? o Escala de Avaliação de Colaboração em Equipe
o Como podemos melhorar a simulação para o Interprofissional (Assessment of Interprofessional
alcance dos objetivos e o desenvolvimento de Team Collaboration Scale II – AITCS II).
competências colaborativas? o Escala de Socialização e Valorização Interpro‑
Como já comentado, a avaliação do desempenho fissional (Interprofessional Socialisation and
dos participantes deve estar vinculada aos objeti‑ Valuing Scale – ISVS).
vos de aprendizagem e à complexidade do cenário. o Escala de Clima de Equipe (Team Climate
Ela é realizada por meio de instrumentos válidos Inventory – TCI).
e confiáveis que permitam mensurar os resultados o Escala de Percepção de Educação Interprofis‑
esperados (INACSL STANDARDS COMMITTEE, sional (Interprofessional Education Perception
2016; NOGUEIRA; DOMINGUES; BERGAMASCO, Scale – IESP).
2020) e também por instrumentos qualitativos que o Escala Jefferson de Atitudes em Relação à Co‑
investiguem a aprendizagem interprofissional a par‑ laboração Interprofissional (Jefferson Scale of
tir da percepção dos participantes. Attitudes Toward Interprofessional Collaboration).
Neste segundo caso, portfólios, narrativas, en‑ o Escala de avaliação de atitudes de estudantes em
trevistas, grupos focais e questionários com per‑ relação à EIP na graduação em saúde.
guntas abertas são instrumentos potentes, que per‑ O Exame Clínico Estruturado Observado
mitem a compreensão da experiência vivenciada (Objective Structured Clinical Examination – OSCE)
e consideram o ponto de vista dos estudantes, não é uma estratégia padrão para avaliar as competên‑
apenas do avaliador. cias clínicas em cursos de graduação em Medicina
Em se tratando de instrumentos quantita‑ em todo o mundo. Dado o crescente interesse em
tivos para avaliar a simulação, uma série de es‑ iniciativas interprofissionais e de segurança do pa‑
calas pode ser encontrada na literatura cientí‑ ciente, a Universidade McMaster e a Universidade
fica, como: Escala de Satisfação e Autoconfiança de Ottawa estimularam entre seus educadores o de‑
no Aprendizado (ESAA), Escala de Satisfação senvolvimento do Encontro Clínico Estruturado
com Experiências Clínicas Simuladas (ESECS), Observado em Equipe (Team Observed Structured
Simulation Effectiveness Tool ‑ Modified (SET‑M), Clinical Encounter – TOSCE) para a avaliação
Escala do Design da Simulação (EDS) e Escala de competências colaborativas (MCMASTER
de Ganhos Percebidos com a Simulação de Alta UNIVERSITY, 2010).
Fidelidade (EGPSA). A criação destas e de novas O TOSCE, assim como outras variações oriun‑
escalas acontece em consulta com especialistas, das do OSCE (Inter‑Professional Team Objective
ou seja, estatísticos, pesquisadores e psicometris‑ Structured Clinical Examination – ITOSCE – e Group

A utilização da simulação na educação interprofissional 153


Structured Clinical Examination – GOSCE) encon‑ responsabilidades, atenção centrada no paciente/
tra estreita relação com os fundamentos da EIP, família, gerenciamento de conflitos e funciona‑
por permitir a avaliação do trabalho interprofissio‑ mento da equipe.
nal em situações de simulação (SYMONDS et al., Percebe‑se que a seleção de um instrumento já
2003; GONTIJO; FREIRE FILHO; FORSTER, 2019; validado ou a elaboração de um novo instrumento
NAJARKOLAI et al., 2016). O TOSCE propõe um específico para a simulação interprofissional pro‑
checklist para ser preenchido por um observador du‑ posta são duas possibilidades possíveis e desejáveis.
rante a simulação. Os participantes recebem pontu‑ A criação e a validação de novos instrumentos, além
ação de 1 (bem abaixo do esperado) a 9 (bem acima de resultar em instrumentos que cumprem bem o
do esperado) para seis domínios de competências papel de avaliar simulação interprofissional, am‑
colaborativas: comunicação, colaboração, papéis e pliam as possibilidades de uso.

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156 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


CA P Í TUL O 10

A utilização da simulação
na Gestão do Fator Humano
e Riscos Assistenciais na área
da saúde
(Crew Resource Management)

A utilização da simulação na Gestão do Fator Humano e Riscos Assistenciais na área da saúde


(Crew Resource Management) 157
Gerson Alves Pereira Júnior
Docente de Cirurgia de
Urgência e do Trauma
Universidade de São Paulo
Coordenador do Programa
ABEM de Simulação

Alexandre Slullitel
Médico anestesista
Mestrado em Ciências da Saúde
Universidade de São Paulo

Haggeas da Silveira Fernandes


Médico intensivista
Diretor de Práticas Médicas e Qualidade
Hospital Israelita Albert Einstein

1. INTRODUÇÃO

“Nem toda situação pode ser prevista ou ante‑ mento das chamadas habilidades não técnicas, que
cipada. Não existe checklist para tudo.” promove, em conjunto, o desenvolvimento da cul‑
tura de segurança, da responsabilidade mútua e do
Chesley B. Sullenberger trabalho em equipe, reduzindo o erro cognitivo pro‑
duzido pelo fator humano e sua participação efe‑
A Gestão do Fator Humano – atualmente co‑ tiva nas operações organizacionais (ROSENBAUM,
nhecida como Crew Resource Management, Crisis 2019; NICKSON, 2020)
Resource Management ou mesmo Corporate Resource Em 1977, no aeroporto de Tenerife, um Boeing
Management (CRM) –, utilizada por organizações 747 da empresa holandesa KLM colidiu com outra
em locais onde eventos catastróficos podem ocor‑ aeronave do mesmo porte, da empresa americana
rer na ausência de medidas de controle, em razão PAN AM, durante o procedimento de decolagem, a
da natureza de sua atividade de risco, envolve a despeito dos avisos da torre de comando, causando a
preparação de profissionais de um time multidis‑ morte de 583 pessoas, no que se tornou o maior aci‑
ciplinar na prevenção, mitigação e aprendizado dente da história da aviação (ROSENBAUM, 2019).
com situações de risco e eventos adversos evitá‑ Essa catástrofe, associada a outros acidentes aéreos
veis. Apesar dessa variação na forma como é men‑ graves, levou o Conselho Nacional de Segurança de
cionada, a CRM, no geral, refere‑se ao aperfeiçoa‑ Transportes dos Estados Unidos a procurar solu‑

158 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


ções que tornassem o setor da aviação comercial e (POWELL‑DUNFORD et al., 2017). Para tal, sem‑
militar absolutamente seguro e à “prova de erros”. pre estão em busca de duas abordagens essenciais:
O fato surpreendente foi a constatação de que o erro ‑ Prevenção (antecipação): envolve identificar
humano contribuiu para mais de 70% dos aciden‑ riscos que podem levar a eventos não planeja‑
tes aéreos estudados (HELMREICH et al., 1999). dos, criando processos para evitá‑los.
As ações, a partir de então, passariam a ser não so‑ ‑ Resiliência (contenção): refere‑se à habilidade
mente com foco em melhorias ergonômicas e tec‑ de manter ou recuperar um status de estabili‑
nológicas, mas também em treinamentos com to‑ dade na presença de estresse.
dos os recursos disponíveis (debriefings, discussões A história por trás da alta confiabilidade está na
de casos e simulações) que conseguissem abordar pesquisa conduzida na Universidade de Berkeley,
o erro cognitivo e preparar o indivíduo para geren‑ Califórnia, por Laporte, Rochlin e Roberts, que
ciar riscos e crises no seu ambiente de trabalho. examinaram semelhanças entre controle do trá‑
Esse reconhecimento crítico levou ao desen‑ fego aéreo, companhias comerciais de aviação e
volvimento de programas de treinamento de “ge‑ plantas nucleares. Os autores destacaram que a
renciamento de recursos da tripulação”, com base utilização adequada das habilidades não técnicas
em simulação, que se concentraram nos compor‑ (soft skills) e a implementação de processos que
tamentos principais do trabalho em equipe, como apoiam o profissional em tarefas complexas, o que
liderança, comunicação, consciência situacional e pode ser facilitado pela utilização de tecnologias
utilização adequada dos recursos disponíveis. O trei‑ ((POWELL‑DUNFORD et al., 2017).
namento de gerenciamento de recursos da tripula‑ Os princípios e definições das HROs são
ção tem sido um padrão global na aviação desde a (OSTER; BRAATEN; BARNSTEINER, 2016):
década de 1990 e agora é um componente obriga‑ A‑ Preocupação com a falha: ação preemptiva e
tório do treinamento (HELMREICH; MERRITT; proativa na prevenção de acidentes. Caso ocor‑
WILHELM, 1999). ram, eles servirão como aprendizado para evi‑
O termo provém originalmente de Cockpit tar futuros eventos. Os profissionais são treina‑
Resource Management (CRM), cunhado pela in‑ dos para reconhecer defeitos e anormalidades
dústria de aviação para treinamento de pilotos, co‑ e agir, atuando com elevada segurança psicoló‑
pilotos e engenheiros de voo, profissionais que es‑ gica, ou seja, capacidade de expor suas preocu‑
tavam no comando das aeronaves à época. pações a despeito da hierarquia e sem medo de
Com a evolução dos conhecimentos, a segunda ser criticado.
era do treinamento de fatores humanos evoluiu B‑ Relutância em simplificar interpretações:
para o Crew Resource Management. Houve, nesse qualquer condição de risco é avaliada com o
momento, o claro reconhecimento da importância mesmo nível de intensidade, evitando a análise
de envolver profissionais que diretamente lidavam individual e estimulando a opinião em equipe.
com a operação de um avião e que, consequente‑ C‑ Sensibilidade a operações: interações e com‑
mente, poderiam envolver‑se em falhas, lapsos e partilhamento de informações sobre fatores or‑
acidentes de diferentes origens. O objetivo passou ganizacionais e humanos que criam o “big pic‑
a ser, nessa fase, reconhecer as equipes como dis‑ ture”, de forma que ajustes são feitos evitando o
funcionais e apoiá‑las para a correção cognitiva, o acúmulo de situações que podem levar ao erro.
desenvolvimento e a sustentação da cultura de se‑ D‑ Compromisso com a resiliência: fundamental
gurança e colaboração (NICKSON, 2020). para o desenvolvimento de cooperação, conten‑
Nas fases mais recentes, a aviação promoveu o ção e recuperação de falhas, lapsos e deslizes que
treinamento de Corporate Resource Management, ocorrem antes de um evento catastrófico, ou seja,
entendendo a importância do envolvimento de pro‑ há uma adaptação a condições não esperadas.
fissionais de áreas como manutenção, atendimento E‑ Deferência à expertise: princípio que escalona
ao cliente, controle de voo. decisões, em momentos de crise ou sério pro‑
A aviação é um exemplo clássico de Organizações blema, para pessoas que possuem expertise e
de Alta Confiabilidade (HROs), as quais são defini‑ experiência no problema em questão, indepen‑
das como aquelas que operam em ambientes com dentemente da hierarquia ou representação de
alta exposição a condições de risco, porém aca‑ autoridade.
bam por adaptar‑se a mudanças não esperadas de Erros humanos são inevitáveis e causados por
cenários, conduzindo sua entrega final próxima à complexos fatores. Aceitar esse fato é o passo funda‑
margem zero de erro e sem eventos catastróficos mental para um efeito positivo no desenvolvimento

A utilização da simulação na Gestão do Fator Humano e Riscos Assistenciais na área da saúde


(Crew Resource Management) 159
da alta confiabilidade no setor de saúde. Porém, ig‑ plementação do gerenciamento de recursos de crise
norar a inevitabilidade do erro humano significa de anestesia (ACRM), um curso com base em simu‑
manter a frustração de lidar sempre com eventos lação que se concentrou em habilidades cruciais de
que causam danos aos pacientes e seus familiares. trabalho em equipe, como a tomada de decisão di‑
A aplicação do conceito e ações operacionais nâmica, a comunicação interpessoal e a liderança
em ambiente de saúde, principalmente nas áreas da equipe (HOWARD et al., 1992; GABA, 2010).
de alto risco (terapia intensiva, emergências, salas Para fornecer assistência médica segura e eficaz,
de trauma, centro cirúrgico, salas de parto), é ab‑ os profissionais médicos devem executar estraté‑
solutamente possível. É necessária, porém, a mu‑ gias altamente coordenadas à equipe. A gestão de
dança de paradigmas que envolvem a busca pela recursos de equipe (CRM) é composta por um con‑
Medicina baseada em valor, centrada no paciente, junto de princípios que lidam com comportamen‑
tornando a gestão da qualidade estratégica e priori‑ tos cognitivos e interpessoais, contribuindo para o
tária, com investimentos financeiros e regulamen‑ desempenho ideal da equipe (CHENG et al., 2012).
tação adequada e envolvimento de todos os players, O objetivo do treinamento de CRM é melhorar
incluindo os médicos, naturais líderes pela busca o desempenho e minimizar erros na realização de
da alta confiabilidade. uma tarefa complexa envolvendo uma equipe pro‑
A segurança dos pacientes depende de alguns fa‑ fissional nos citados ambientes de risco.
tores que vão desde habilidades específicas de cada O modelo de queijo suíço de causas de aciden‑
profissional que integra determinada equipe até a tes, apresentado na Figura 1, é utilizado na análise
vigilância, a capacidade de percepção do cenário e de gerenciamento de riscos em vários setores de
o julgamento (tomada de decisão) desses mesmos atividade humana, incluindo segurança de aviação,
integrantes de uma equipe multidisciplinar. engenharia, saúde e organizações de serviços de
A saúde é um setor muito propenso a crises, emergência. Como princípio de segurança em ca‑
o que é especialmente verdadeiro para especiali‑ madas, leva em conta múltiplas fatias de queijo su‑
dades de cuidados agudos, como anestesiologia e íço, empilhadas, lado a lado, em que o risco de uma
medicina de emergência, em que os profissionais ameaça vai se tornando uma realidade e superando
devem tratar pacientes criticamente doentes, en‑ as diferentes camadas e tipos de defesas. Portanto,
frentando ambiguidade diagnóstica, limitações de em teoria, os lapsos e as fraquezas, uma vez desa‑
recursos e numerosas interrupções em ambientes fiados por barreiras de defesa, não permitem que o
de trabalho que podem se tornar caóticos (LEI; risco se materialize em evento adverso, já que ou‑
PALM, 2021). tras barreiras estão presentes evitando o ponto da
A anestesiologia foi a primeira especialidade a falha (LAROUZEEA; COZEB, 2020).
incorporar princípios da CRM na formação de seus A razão de erro é definida como “um ermo ge‑
clínicos, desde o final da década de 1980, com a im‑ nérico para abranger todas as ocasiões em que uma

Figura 1 – Teoria do queijo suíço.

160 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


sequência planejada de atividades mentais ou físicas à tarefa propriamente dita ao indivíduo, à equipe e
não atinge seu resultado pretendido”. Essa sequên‑ ao ambiente ou cenário (NICKSON, 2020).
cia de “atos inseguros” e lapsos poderiam ocorrer Em relação à tarefa, a complexidade dela, o risco
durante ações em estado de automação (aqui de‑ inerente associado (doença com risco de vida, im‑
finido como um estado em que o indivíduo realiza plicações médico‑legais), a limitação de tempo para
a tarefa sem o devido raciocínio ou capacidade de a execução dela e a falta de informação adequada
julgamento para possíveis falhas ou desvios da nor‑ são considerados fatores determinantes para sua
malidade) (LAROUZEEA; COZEB, 2020). realização. Quanto ao indivíduo, podem ocorrer
Após o sucesso na aviação e na anestesiologia, privações individuais (fome, irritação, atraso, can‑
os programas de treinamento de CRM com base em saço ou estresse), falta de sono, alterações do es‑
simulação foram logo desenvolvidos em outras es‑ tado emocional, problemas pessoais de saúde ou
pecialidades médicas, incluindo medicina de emer‑ sofrimento físico, inexperiência e falta de conhe‑
gência (PARSONS et al., 2018), medicina intensiva cimento técnico. Tais fatores podem interferir no
(BARRÉ; NEUSCHWANDER; TESNIÈRE, 2017) e desempenho da equipe, mas outros fatores também
neonatologia (KRISTEN et al., 2011). Atualmente, podem ocorrer, como treinamento insuficiente,
os cursos de CRM também foram incorporados em confusão de funções/responsabilidades, falta de
quase todas as especialidades médicas e cirúrgi‑ comunicação adequada e relacionamentos disfun‑
cas (OUNOUNOU et al., 2019), bem como em ou‑ cionais. Já no que se refere ao ambiente, podem
ocorrer interrupções, ruídos, pressão produtiva,
tras profissões de saúde, incluindo Enfermagem
falha de equipamentos, falta de familiaridade com
(COPPENS et al., 2018), Farmácia (TREMBLAY,
o ambiente ou equipamento e passagem de plan‑
2018) e serviços médicos pré‑hospitalares de emer‑
tão (MAHANKALI; NAIR, 2019).
gência (GILLMAN et al., 2016). Vale frisar que esse
Existem semelhanças entre a área de saúde e
treinamento oferece um valor de entrega maior e
outras indústrias, embora haja várias característi‑
definitivo, quando os diferentes profissionais inte‑
cas que as distinguem. Apesar de tais diferenças, o
ragem, discutem sobre seu ambiente de trabalho e
aprendizado com processos de qualidade e segu‑
geram uma ajuda mútua na detecção de oportuni‑ rança de outras áreas de conhecimento e atuação
dades, durante simulações e debriefings. humana é marcante. A anestesia, em particular, tem
Portanto, pode‑se definir CRM como um sis‑ sido a líder entre as especialidades médicas na ado‑
tema de gerenciamento com utilização otimizada ção de práticas inovadoras de várias indústrias, em
de recursos disponíveis, tais como recursos huma‑ um esforço para melhorar a segurança do paciente
nos, procedimentos operacionais e equipamentos, e a qualidade do atendimento e reduzir o desperdí‑
visando promover a segurança operacional em si‑ cio e a ineficiência (GABBA et al., 2015).
tuações críticas. Esse conceito envolve a observa‑
ção contínua do ambiente de trabalho em busca de
aperfeiçoamentos e melhoria contínua, apoiado por 3. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA CRM
treinamento por meio da simulação e por pessoas
ou grupo de pessoas, na abordagem de situações de Os princípios básicos da CRM são:
grande risco, como desastres, catástrofes e emer‑ 1. Conhecer o ambiente.
gências. Tem como objetivo final o cumprimento de 2. Antecipar e planejar.
tarefas e respostas de forma eficaz e eficiente, prio‑ 3. Chamar ajuda precocemente.
rizando o trabalho em equipe e enfocando as com‑ 4. Exercer liderança.
petências necessárias, tais como comunicação, coor‑ 5. Distribuir tarefas.
denação e colaboração, para a prevenção de erros e a 6. Mobilizar recursos disponíveis.
promoção de um ambiente seguro (NASCIMENTO; 7. Comunicar‑se efetivamente.
TRAVASSOS, 2010). 8. Usar toda informação disponível.
9. Prevenir e gerir erros de fixação.
10. Realizar dupla verificação.
2. FATORES DETERMINANTES PARA O DESEMPENHO 11. Usar auxílios cognitivos.
DE TAREFAS COMPLEXAS 12. Reavaliar repetidamente.
13. Usar trabalho em equipe.
Entre os fatores que podem afetar a realização de 14. Alocar atenção de forma inteligente.
tarefas complexas, incluem‑se aqueles relacionados 15. Definir prioridades de forma dinâmica.

A utilização da simulação na Gestão do Fator Humano e Riscos Assistenciais na área da saúde


(Crew Resource Management) 161
Para que tais tarefas sejam executadas de forma 5. USO DA SIMULAÇÃO PARA TREINAMENTO DAS
SITUAÇÕES DE CRM
adequada, algumas categorias de habilidades não
cognitivas (FLIN; MARAN, 2015), mencionadas na
sequência, são identificadas como fundamentais. A Com a mudança para a educação baseada em com‑
petências, o uso da simulação tem desempenhado
Gestão de Riscos e Conformidades (GRC) é a co‑
um papel importante na avaliação das competên‑
leção integrada de recursos que permite que uma
cias dos estudantes. As avaliações com base em si‑
organização alcance objetivos de maneira confi‑
mulação permitem avaliar diretamente o conheci‑
ável, resolva as incertezas e aja com integridade.
mento individual, habilidades técnicas, raciocínio
Visa identificar e desenvolver tais habilidades para
clínico e trabalho em equipe. Dessa forma, toda a
obter o resultado esperado de acabamento da ta‑ estruturação para a adequada construção e avalia‑
refa desejada. ção dos cenários simulados pode ser utilizada para
as situações de CRM.
Dessa forma, a CRM é importante porque
4. PRINCIPAIS CATEGORIAS DE HABILIDADES NÃO (DOWHOS; ALIFERIS; CHIN, 2015):
TÉCNICAS (HNTS)
• Otimiza o desempenho da equipe em ambien‑
tes de rápidas respostas.
Existem princípios básicos para a execução de tare‑ • Reduz o erro médico.
fas que são comuns à grande variedade de cenários • Melhora a segurança do paciente.
críticos (FLIN; MARAN, 2015; KUUSKNE, 2017): Os três princípios‑chave da CRM são (DOWHOS;
• comunicação; ALIFERIS; CHIN, 2015):
• execução de tarefas; • Comunicação de circuito fechado:
• percepção situacional; ‑ O transmissor envia mensagem.
• tomada de decisão; ‑ O destinatário confirma o recebimento.
• liderança; ‑ O receptor confirma que a tarefa foi conclu‑
• trabalho em equipe; ída, fazendo seu fechamento.
• enfrentamento do estresse; • Clareza do papel:
• gestão da fadiga. ‑ Cada membro da equipe tem uma função ex‑
As HNT, ou soft skills (habilidades interpesso‑ plicitamente delegada pelo líder da equipe.
ais, em tradução livre do inglês) (BERSIN, 2019), ‑ As funções são diferentes com cada cenário
tornaram‑se cada vez mais importantes em am‑ clínico. Uma dica importante é atribuir uma
bientes profissionais onde novas tecnologias, pro‑ única tarefa por vez para cada membro da
porcionadas pela Quarta Revolução Industrial, irão equipe.
substituir atividades laborais rotineiras ou repeti‑ • Consciência situacional:
‑ Esteja ciente das mudanças na condição do
tivas (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016), e de
paciente.
forma significativa na área da saúde. Em um prazo
‑ Compartilhe seu modelo mental.
de aproximadamente cinco anos, cerca de um terço
‑ Reúna o feedback de sua equipe.
das habilidades que são consideradas importantes
para a força de trabalho atual deverá ter mudado.
Em 2017, uma publicação da Royal College of
6. CHECKLISTS X ESCALAS GLOBAIS DE AVALIAÇÃO
Physicians and Surgeons of Canada fez uma exce‑ (EGA)
lente estruturação da gestão para melhorar a se‑
gurança do paciente e o desempenho da equipe Os exercícios simulados constituem a espinha dor‑
(BRINDLEY; CARDINAL, 2017). sal da CRM e devem abranger as habilidades cogni‑
Os mecanismos básicos e os processos que ge‑ tivas e as HNTs que serão avaliadas em seus vários
ram recorrentes formas de uma gama ou tipos de quesitos. Alguns instrumentos de avaliação podem
erros são descritos por um autor sob a forma do sis‑ ser utilizados, tais como escalas globais de avalia‑
tema de modelos gerais de erros (generic error‑mo‑ ção (KUUSKNE, 2017) e checklists, como o exem‑
delling system – GEMS), apresentado no Quadro 1, plificado na Tabela 1.
que tem como objetivo precípuo delimitar as ori‑ A EGA é uma ferramenta que permite que os
gens dos tipos básicos de erro humano (REASON, avaliadores julguem o desempenho geral dos par‑
2003). ticipantes ou forneçam uma impressão geral do de‑

162 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


sempenho em subtarefas específicas. Os checklists, • Ter alta validade de construção.
ou listas de verificação, representam listas de ações • Ser viável para aplicação.
ou itens específicos a serem executados pelo apren‑ • Ser capaz de discriminar diferentes níveis de
diz e solicitam que os avaliadores atestem ações di‑ aprendizagem.
retamente observáveis. A Tabela 2 elenca as principais diferenças en‑
A priori, um bom instrumento de avaliação deve tre ambos os métodos de avaliação.
idealmente (KUUSKNE, 2017): Algumas das limitações das EGAs estão relacio‑
• Possuir alta confiabilidade entre avaliadores. nadas à subjetividade, pois também dependem da

Quadro 1 – Dinâmica de modelos gerais de erros. Fonte: Nascimento, 2010

A utilização da simulação na Gestão do Fator Humano e Riscos Assistenciais na área da saúde


(Crew Resource Management) 163
Tabela 1 – Checklist para avaliação de liderança.

Checklist – Liderança (exemplo)


Parâmetros e indicadores de liderança Sim/Não (+ ou ‑) Observações
Havia um líder de equipe nitidamente
reconhecido.
O líder da equipe sabia a missão da sua
equipe.
O líder de equipe demonstrou percepção
situacional.
O líder da equipe demonstrou habilidades
na solução de problemas e na tomada de
decisão.
O líder de equipe demonstrou habilidades de
planejamento para a resposta (inclusive de
planos de contingência).

Tabela 2 – Prós e contras das escalas globais de avaliação e checklists (KUUSKNE, 2017).

Prós Contras
Maior confiabilidade interna. Menor precisão.
Maior sensibilidade ao definir o nível de Subjetividades de julgamento e tomada
Escalas globais treinamento. de decisão pelo avaliador.
de avaliação
Necessidade de peritos ou avaliadores
Maior confiabilidade entre estação e
mais treinados para avaliar os
generalidade.
aprendizes.
Melhor adequação a medidas de etapas ou
Menor confiabilidade.
componentes específicos do desempenho.
Dicotomização da avaliação, com perda
Maior objetividade.
Checklists eventual de informação.
Maior facilidade de execução.
Maior facilidade para identificar ações
para o feedback do aprendiz.

opinião de “especialistas” para poder classificar os tudantes. Cada um dos instrumentos apresentados
alunos de maneira eficaz e confiável. Os checklists, – a escala de classificação global e as listas de veri‑
por outro lado, são considerados menos subjeti‑ ficação (checklists) – tem suas próprias vantagens e
vos e, quando bem elaborados, são fáceis de apli‑ armadilhas e pode ser usado para a avaliação de me‑
car; assim, qualquer avaliador pode usá‑los (e não didas de resultado específicas. Estudos sugerem que
depender de especialistas para administrar a fer‑ a EGA tem algumas vantagens importantes sobre as
ramenta). Ao medir comportamentos definidos e listas de verificação, embora a evidência para estas
específicos, os checklists podem ajudar a orientar pareça ligeiramente melhor do que no passado. Ainda
o feedback para os aprendizes (KUUSKNE, 2017). assim, seja qual for a ferramenta escolhida, é funda‑
Uma ferramenta de avaliação ideal para avaliar a mental projetá‑la e testá‑la para garantir que avalie
simulação seria confiável, válida, abrangente e per‑ adequadamente o resultado desejado. Se possível, o
mitiria a discriminação entre as habilidades dos es‑ uso de uma lista de verificação e escala de avaliação

164 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


global ajudaria a otimizar a eficácia da educação ba‑ Uma prática de CRM consta da avaliação de
seada em simulação (KUUSKNE, 2017). competências na prova do título de especialista em
Uma avaliação comparativa de desempenho de anestesiologia em Israel desde 2003. Neste contexto,
habilidades técnicas também pode ser verificada uma das cinco estações simuladas ao qual o apren‑
empregando‑se um ou outro padrão de avaliação, diz (médico‑residente) é submetido é sobre esse as‑
como pode ser visto na Tabela 3. sunto (BERKENSTADT et al., 2006).

Tabela 3 – Checklist e avaliação global de intubação sequencial rápida (habilidades técnicas) em um exame clínico objetivo
estruturado (Hall et al. 2012).

Impossível de
Não executado Executado Bem executado
verificar
Pré‑oxigenação 100% de
O2 c/ BMV
Posicionamento
otimizado (supina,
cabeceira, altura do Min 1/4 Min 3/4
leito, suporte de cabeça
‑ 4 itens)
Agente de indução Etomidato/
Cetamina
‑opção propofol
Agente de indução ‑
dose cetamina 1‑2 mg/
kg; etomidato 0,3 mg/kg;
propofol 1‑2 mg/kg
Bloqueador Succinilcolina/
neuromuscular ‑ opção rocurônio
Bloqueador
neuromuscular ‑
dose SCC 1‑2 mg/kg;
rocurônio 1,2 mg/kg
Laringoscopia ‑
intervalo de tempo
Laringoscopia
‑ segurança
Intubação de forma
segura
Confirmação com
ETCO2
Confirmação com
ausculta
Solicitação de Rx de
tórax
Sedação pós‑intubação
(+/‑ BNM)
Sonda nasogástrica

A utilização da simulação na Gestão do Fator Humano e Riscos Assistenciais na área da saúde


(Crew Resource Management) 165
Tabela 3 – Continuação...

Impossível de
Não executado Executado Bem executado
verificar
PONTUAÇÃO TOTAL
AVALIAÇÃO GLOBAL
1 2 3 4 5
ACIMA DA
FALHA MARGINAL SATISFATÓRIO EXCELENTE
MÉDIA

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ências potencialmente desastrosas. Durante situa‑


ções de crise, os recursos perceptivos e cognitivos
Fazer a coisa certa no momento certo requer profi‑ de cada membro da equipe são mais propensos a se
ciência dinâmica na tomada de decisões, liderança, tornarem sobrecarregados, especialmente quando
comunicação e gerenciamento de equipe. Várias as situações são desconhecidas ou os recursos são
tarefas devem ser priorizadas e coordenadas para inadequados.
manter a segurança do paciente até que informa‑ Dessa forma, a antecipação das situações de
ções suficientes se tornem disponíveis para defi‑ risco, que podem ocorrer na operação de rotina na
nir o diagnóstico adequado e realizar a terapêu‑ área da saúde, é essencial e tem na gestão de fato‑
tica apropriada. res humanos e no treinamento com simulação ex‑
As equipes de saúde também devem entender celente estratégia para apoiar as organizações na
que suas ações ou a falta delas carregam consequ‑ busca pela alta confiabilidade.

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A utilização da simulação na Gestão do Fator Humano e Riscos Assistenciais na área da saúde


(Crew Resource Management) 167
CA P Í TUL O 11

Estruturação do ensino,
treinamento e avaliação de
habilidades

169
Fernanda Berchelli Girão Miranda
Profa. Departamento de Enfermagem
Universidade Federal de
São Carlos ‑UFSCar

A atual geração de estudantes apresenta necessida‑ No entanto, não é incomum que os estudantes
des de aprendizagem associadas à tecnologia e está das diferentes áreas da saúde cheguem ao final da
prontamente preparada para se adaptar aos avan‑ graduação sem nunca terem realizado algumas ha‑
ços vistos desde a virada do século, esperando que bilidades psicomotoras consideradas básicas em
métodos ativos de ensino substituam os tradicio‑ um paciente no ambiente clínico, principalmente
nais. Consequentemente, é necessário haver es‑ em pacientes pediátricos e de cuidados intensi‑
tratégias de ensino e aprendizagem para melhorar vos (LEIGHTON, 2013). Dessa forma, as habili‑
o conhecimento, a compreensão, a competência e dades psicomotoras que são praticadas na prática
as habilidades exigidas pelos estudantes (DALEY; clínica ficam comprometidas, o que reforça e justi‑
CAMPBELL, 2013). fica o uso da prática simulada nas últimas décadas
A aquisição de habilidades clínicas psicomotoras (FOTHERINGHAM, 2010; SAEYER et al., 2015).
é parte integrante de qualquer curso de formação Atualmente, a simulação é amplamente usada
profissional em saúde; assim, o ensino deve capa‑ e estabelecida para motivar a aprendizagem dos
citar os aprendizes para que aprimorem suas ha‑ estudantes, fornecendo inúmeras oportunidades
bilidades, resolvam problemas, desenvolvam suas para o desenvolvimento de suas habilidades clíni‑
abordagens reflexivas e de pensamento crítico, au‑ cas (BERRAGAN, 2011; MOULE, 2011; SUNDLER;
mentem a competência e autonomia para atuarem PETTERSSON; BERGLUND, 2015; RYAN; DECI,
profissionalmente (BERRAGAN, 2011; MOULE, 2000).
2011, SUNDLER; PETTERSSON; BERGLUND, É necessário entender que as habilidades cog‑
2015; RYAN; DECI, 2000). nitivas estão diretamente associadas à aquisição de

170 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


habilidades psicomotoras em diferentes contextos. para promover repetição de tarefas e proporcionar
Assim, ao desenvolver uma intervenção técnica, o feedback imediato com base em evidências, por in‑
estudante deverá apresentar não apenas conheci‑ termédio de um facilitador (HUNT et al., 2014).
mento e competência na execução das etapas do O uso de pacientes simulados é reconhecido
componente, mas uma compreensão profunda da como uma alternativa para o estudante desenvol‑
teoria subjacente, a fim de que ocorra uma adapta‑ ver habilidades clínicas, possibilitando até mesmo
ção da habilidade para se adequar ao contexto da a participação do paciente com feedback formativo
assistência (ROURKE, 2020; FOTHERINGHAM, e podendo ser aplicado na avaliação da aquisição
2010; SAEYER et al., 2015). de habilidades clínicas (SUNDLER; PETTERSSON;
O ensino por meio de simulação é visto como BERGLUND, 2015).
uma forma de minimizar a lacuna existente entre A realidade virtual para o ensino e a capacita‑
cognitivo e psicomotor (JOSEPHINE SCULLY, ção de recursos humanos em saúde se caracteriza
2011; MONAGHAN, 2015) e pode evitar as experi‑ como emergente, porém essa metodologia tem se
ências potencialmente desastrosas de erros come‑ consagrado como uma ferramenta de apoio em ati‑
tidos durante a assistência direta a um paciente da vidades didáticas, destacando‑se no desenvolvi‑
vida real (LEWIS et al., 2012). mento de habilidades motoras e de senso crítico,
A frase “A educação fornece conhecimento, mas tomada de decisão e raciocínio clínico, permitindo
só a prática gera competência” (POIKELA; POKEILA, a repetição do treino e o julgamento crítico para
2012) traz a reflexão de que a repetição da prática apri‑ fundamentar a destreza manual no paciente real
mora a capacidade profissional mais rapidamente. (SANTOS et al., 2017).
O ensino de habilidades por meio da simulação Para Santos et al. (2017), em revisão integrativa,
normalmente ocorre em laboratórios de habilidades, na maior parte dos estudos de desenvolvimento de
usando task trainer para o resgate de procedimen‑ habilidades motoras foi utilizado o conceito de hap-
tos hands on com uso de manequins, práticas deli‑ tic, termo relacionado à resposta que o usuário tem
beradas de ciclo rápido (PDCR), simulação baseada ao tocar uma superfície interativa, permitindo o fee-
em computadores por aplicativos de softwares e se- dback imediato e a avaliação de tutores e aprendizes.
rious games ( jogos sérios) como um complemento Estudos revelam que o uso de treinamento
ou substituição para o treinamento presencial, te‑ de habilidades invasivas, como punções, inter‑
lessimulação, uso de atores humanos (pacientes si‑ venções clínicas e cirúrgicas na formação médica
mulados) para replicar cenários clínicos ou tarefas (VAUGHAN et al., 2016), na enfermagem e em concei‑
procedimentais para o treino das habilidades não tos gerais na educação de saúde (HAMMER; SOUERS,
técnicas (WELLER et al., 2012; WANG et al., 2016; 2004; ULRICH; MANCINI, 2013), tem se tornado
DONOVAN et al., 2018). rotina (KHAN et al., 2018; SAMADBEIK et al., 2018).
Treinar habilidades faz parte do processo que O fornecimento de experiências educacionais
proporciona o desenvolvimento do aprendiz até se para alunos em locais externos pode ser realizado
tornar expert. O task trainer é um simulador pro‑ com recursos de telecomunicações e simulação,
jetado para treinar os elementos‑chave do proce‑ pois os modelos teóricos que servem de base para
dimento ou habilidade a ser aprendida, represen‑ o treinamento eficaz de simulação não exige que o
tando uma parte ou região do corpo humano, como aluno e o instrutor estejam fisicamente no mesmo
um braço, um tórax, uma pelve, entre outras. Pode local. A telessimulação permite que os benefícios
apresentar interfaces mecânicas ou eletrônicas para da simulação se estendam além das paredes de um
ensinar e fornecer feedback sobre as habilidades centro de simulação, sendo particularmente útil
manuais, como inserção intravenosa, reanimação onde: há limitações de distância que impedem a
cardiopulmonar, varredura de ultrassom, sutura instrução eficaz/eficiente; ocorrem restrições de
etc. Esses simuladores normalmente são utiliza‑ tempo que tornam impraticável a viagem para o
dos para desenvolvimento de habilidades procedi‑ aluno ou o local do instrutor; ou faltam educado‑
mentais, mas podem ser usados em conjunto com res disponíveis com conhecimento de conteúdo es‑
outras tecnologias de aprendizagem para criar si‑ pecífico. Ela fornece valores no campo educacional
tuações clínicas integradas (LOPREIATO, 2016). nas áreas da aprendizagem dos domínios psicomo‑
Outra estratégia de simulação para treinar ha‑ tor, cognitivo (pensamento) e afetivo (sentimento)
bilidades é o uso da PDCR, cujo objetivo é melho‑ (MCCOY et al., 2017).
rar a performance dos participantes para que alcan‑ O processo de avaliação de habilidades envolve
cem a maestria em uma habilidade. É organizada fazer um julgamento, incluindo pontos fortes e fra‑

Estruturação do ensino, treinamento e avaliação de habilidades 171


cos apresentados pelo estudante. A avaliação mede Os estudantes são avaliados por meio de ob‑
a qualidade e a produtividade em relação a um pa‑ servação direta, checklists ou exercícios de acom‑
drão de desempenho (BOURKE; IHRKE, 2016; panhamento por escrito, de caráter formativo com
LOPRIEATO, 2016). Do ponto de vista da avalia‑ feedback ou somativo.
ção das habilidades psicomotoras, a definição do Os checklists são elaborados para gerar feedback
procedimento operacional padrão (POP) das vá‑ aos estudantes após a realização de um procedi‑
rias intervenções práticas (sondagens gástrica e mento simulado. Embora sejam conhecidos como
vesical, curativos etc.), mostrando a sequência de ferramentas de avaliação práticas e de baixo custo,
passos corretos para sua execução, deve compor os eles podem ter várias deficiências inerentes, pois
instrumentos pré‑elaborados (checklists) de aferi‑ avaliam medidas subjetivas que podem ser envie‑
ção dos desempenhos dos aprendizes. sadas por muitas variáveis relacionadas às avalia‑
A avaliação de habilidades pode envolver uma ções dos facilitadores/observadores sobre parâme‑
avaliação formativa, em que o foco do facilitador tros qualitativos (ATESOK et al., 2017).
está no progresso do participante em direção ao O feedback permite que, por meio da demons‑
alcance da meta por meio de critérios predefini‑ tração das habilidades técnicas ou não técnicas, os
dos. Ela pode ser direcionada apenas a um indiví‑ participantes se expressem e que o entendimento
duo ou a um grupo, com o propósito de fornecer da ação esperada seja explorado (ERAUT, 2000). É
feedback construtivo (NATIONAL LEAGUE FOR uma atividade na qual as informações são retrans‑
NURSING, 2013; LOPRIEATO, 2016). mitidas para os estudantes. Com caráter constru‑
A avaliação de habilidades também pode es‑ tivo, assertivo e respeitoso, o feedback aborda os as‑
tar associada à avaliação somativa, e, ao final de pectos específicos do desempenho e sempre deve
um período de aprendizagem ou em um momento ser direcionado conforme os objetivos de aprendi‑
discreto, os participantes recebem feedback sobre a zagem. O compartilhamento de informações entre
obtenção do resultado por meio de critérios prede‑ os participantes, facilitador, paciente simulado ou
finidos. É caracterizada como um processo para de‑ colega de cena proporciona melhorias na compre‑
terminar a competência técnica de um participante ensão de conceitos ou aspectos do desempenho
engajado na atividade de saúde, podendo estar as‑ (MEAKIM et al., 2013). O feedback pode ser forne‑
sociada a uma nota atribuída (LOPRIEATO, 2016). cido por um instrutor, uma máquina, um compu‑
Os estudantes em saúde devem aprender e ser tador, um paciente simulado ou por outros alunos,
avaliados quanto a habilidades psicomotoras não desde que faça parte do processo de aprendiza‑
apenas no início, mas também durante todo o seu gem. Ademais, independentemente de como o fee-
percurso da graduação. Uma vez que a competência dback for estruturado, sempre deve apresentar uma
é avaliada no laboratório de habilidades, o estudante, abordagem sensível, aberta e flexível (SUNDLER;
normalmente no campo de prática, recebe a permis‑ PETTERSSON; BERGLUND, 2015).
são para executar essas habilidades sob supervisão O Objective Structured Assessment of Technical
direta do docente, até que este o considere seguro Skills (OSATS) é uma ferramenta confiável e válida
executá‑las por conta própria (LEIGHTON, 2013). para avaliar as habilidades técnicas e baseia‑se em
Uma maneira de conduzir a avaliação de habi‑ uma abordagem de classificação global para estru‑
lidades é por meio do Objective Structured Clinical turar a avaliação de habilidades técnicas por espe‑
Examination (OSCE), que se caracteriza como uma cialistas. Os avaliadores trabalham a partir de uma
abordagem para a avaliação da competência clí‑ lista de competências operacionais, cada uma clas‑
nica ou profissional, em que os componentes de sificada em uma escala do tipo Likert de 5 pon‑
competência são avaliados de forma planejada e tos, ancorada por descritores comportamentais.
estruturada, com atenção sendo dada à objetivi‑ Estudos recentes na área médica têm utilizado a
dade do exame (HARDEN, 1988). Trata‑se de um ferramenta OSATS para avaliação simulada de pro‑
método de avaliação em que os estudantes, em um cedimentos cirúrgicos (ANDERSON et al., 2016;
ambiente simulado de trabalho, realizam habili‑ ATESOK et al., 2017).
dades e comportamentos específicos, que podem O uso de vídeo para avaliar, posteriormente,
ser desenvolvidos por meio de uma ou diversas sé‑ as habilidades pode complementar a avaliação em
ries de estações clínicas projetadas para avaliar a tempo real. Neste caso, um observador deve estar
competência de desempenho em habilidades clíni‑ pronto no laboratório para avaliar o desempenho
cas individuais ou outras habilidades profissionais de um estudante com um checklist. O feedback com
(LOPRIEATO, 2016). base em vídeo é um método prático que permite a

172 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


avaliação do desempenho por meio das ferramen‑ 2015), o fato de proporcionar uma experiência de
tas avaliativas, no momento em que for mais con‑ treino simulado e repetitivo para o aprendiz poder
veniente para o avaliador. Permite também que di‑ praticar suas habilidades sem causar danos a um
ferentes avaliadores examinem a mesma gravação paciente real, certamente, pode ser uma oportuni‑
de vídeo e pontuem o desempenho, o que pode ser dade de aquisição de conhecimentos e competên‑
eficaz na redução do viés (ATESOK et al., 2017). cias (ORIQUE; PHILLIPS, 2018).
Embora os processos específicos e as estraté‑ É evidente que os benefícios da simulação são
gias educacionais associadas ao desenvolvimento notáveis. No entanto, deve‑se lembrar de que a
de habilidades não sejam totalmente conhecidos, prática clínica não deve ser completamente subs‑
não esclarecendo especificamente o impacto do tituída pela simulação (SUNDLE; PETTERSSON;
uso da simulação para examinar as habilidades clí‑ BERGLUND, 2015), pois existe a necessidade
nicas de graduandos e, consequentemente, o im‑ de pacientes reais e da prática. Portanto, a si‑
pacto de tais exames para o aprendizado dos estu‑ mulação precisa ser um complemento à colo‑
dantes (SUNDLE; PETTERSSON; BERGLUND, cação clínica.

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174 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


CA P Í TUL O 12

Avaliação na educação em
saúde com o uso da simulação

175
Gerson Alves Pereira Júnior
Docente de Cirurgia de
Urgência e do Trauma
Universidade de São Paulo
Coordenador do Programa
ABEM de Simulação

1. O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

A aprendizagem é muito mais significativa à medida gica e psicologicamente significativo: o signifi‑


que o novo conteúdo é incorporado às estruturas do cado lógico depende somente da natureza do
conhecimento de um estudante e adquire signifi‑ conteúdo, e o significado psicológico é uma ex‑
cado para ele a partir da relação com seu conheci‑ periência individual. Cada aprendiz faz uma
mento prévio. No processo tradicional, ao contrá‑ filtragem dos conteúdos que têm significado
rio, a aprendizagem se torna mecânica ou repetitiva, ou não para si. Ausubel propõe que os conhe‑
uma vez que se produziram menos essa incorpo‑ cimentos prévios dos estudantes sejam valori‑
ração e atribuição de significados, e o novo conte‑ zados, para que possam construir estruturas
údo passa a ser armazenado isoladamente ou por mentais utilizando como meio os mapas con‑
meio de associações arbitrárias na estrutura cog‑ ceituais, os quais permitem descobrir e redes‑
nitiva (PELIZZARI et al., 2002). cobrir outros conhecimentos, caracterizando,
Para haver aprendizagem significativa, são ne‑ assim, uma aprendizagem prazerosa e eficaz
cessárias duas condições: (PELIZZARI et al., 2002).
1) o estudante precisa ter disposição para apren‑ A aprendizagem se faz por vários meios, entre
der. Se ele quiser memorizar o conteúdo arbi‑ os quais as metodologias ativas de ensino e apren‑
trária e literalmente, então a aprendizagem será dizagem, cujo aperfeiçoamento é tema de estudos
mecânica. constantes. O professor exerce a sua habilidade de
2) o conteúdo a ser aprendido tem que ser poten‑ mediador das construções de aprendizagem, e me‑
cialmente significativo, ou seja, tem que ser ló‑ diar é intervir para promover mudanças. Os desafios

176 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


que a educação atualmente busca se referem a três do processo educacional e à interferência positiva
aprendizagens básicas: aprender a conhecer, apren‑ no aprendizado do estudante (TRONCON, 1996).
der a fazer e aprender a ser (ZEFERINO, 2007a). Assim, a avaliação deve efetivamente fornecer in‑
O aprender a conhecer requer assimilação, in‑ formações e retroalimentar ajustes de condutas
terpretação do conteúdo e raciocínio de como apli‑ (MIQUELANTE et al., 2017).
car esse conhecimento à prática do indivíduo. Não Existem dois propósitos distintos da avaliação:
se deve ofertar a aprendizagem de saberes inú‑ alguns se referem aos objetivos da administração
teis à sua formação e que sobrecarregam currícu‑ da instituição; outros, às metas educativas e pe‑
los, sem resultar em uma formação profissional de dagógicas. Os primeiros estão fundamentados na
qualidade. É necessário selecionar as informações avaliação somativa e por normas; os últimos, na
que, de fato, possam ser contextualizadas com a avaliação formativa e por critérios e diagnósticos
realidade e com o objetivo proposto para o curso, (TRONCON, 1996).
estando sempre atento ao perfil do estudante que A avaliação diagnóstica indica o ponto de par‑
se pretende formar e desenvolvendo habilidades tida do processo de ensino e aprendizagem para o
para que ele construa o conhecimento (ZEFERINO, alcance dos objetivos de aprendizagem traçados
2007a). e possibilita o ajuste dos processos metodológi‑
Aprender a fazer requer a habilidade de colocar cos para tal fim. Já a avaliação formativa é parte
em prática o conhecimento adquirido. Essa habili‑ integrante do processo e orienta docentes e estu‑
dade não significa apenas saber executar determi‑ dantes para o alcance dos objetivos de aprendiza‑
nada tarefa, mas também como executá‑la utili‑ gem traçados, provocando a junção de métodos e
zando a criatividade, as evidências científicas e a atividades, com o único objetivo de se alcançar tal
ética, transformando o progresso do conhecimento fim. Atribui também importância ao estudante e
em novas possibilidades. Muitos educadores acre‑ tem como foco a motivação, a regularidade do seu
ditam que, se o estudante demonstra adequada‑ esforço, a forma de abordar as tarefas e as estraté‑
mente a prática do conhecimento, o domínio cog‑ gias de resolução de problemas que utiliza. Por fim,
nitivo também foi alcançado (ZEFERINO, 2007a). a avaliação somativa é um juízo final e de síntese
Para uma formação integral do estudante, o e tem como função estimar valores do processo de
aprender a ser é essencial para que ele adquira uma ensino e aprendizagem finalizado, certificando o
postura condizente com a formação que obteve. progresso e o próprio processo de ensino e apren‑
O objetivo principal é desenvolver nele atitudes e dizagem (MIQUELANTE et al., 2017).
condutas adequadas à sua profissão, estimulando Como não existe um único método de avalia‑
o pensamento autônomo e crítico sobre o conheci‑ ção capaz de atingir todos estes elementos (conhe‑
mento adquirido e as evidências científicas encon‑ cimentos, habilidades e atitudes), entende‑se que
tradas (ZEFERINO, 2007a). apenas a combinação de métodos é capaz de produ‑
A avaliação é parte integrante do processo de zir os resultados esperados da avaliação (NORCINI;
ensino e aprendizagem e tem como meta a supe‑ MCKINLEY, 2007). Desta forma, cabe às esco‑
ração de limites e obstáculos. Deve ser coerente las médicas se mobilizarem e criarem condições
com a metodologia do trabalho do docente, favo‑ adequadas para que estudantes e docentes consi‑
recendo a aprendizagem, auxiliando o estudante a gam desenvolver uma nova cultura de avaliação,
entender suas necessidades nos diferentes momen‑ como instrumento de aprendizado e crescimento
tos do seu estágio de desenvolvimento e indicando profissional.
as correções necessárias. No contexto educacional,
a avaliação implica obter informações, por meio da
aplicação de métodos específicos, que podem sub‑ 2. A AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
sidiar a tomada de decisões que interessam tanto
ao processo do aprendizado como ao educando As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
(TRONCON, 1996). A forma e o conteúdo das ava‑ Medicina, de 2014, no parágrafo único do Artigo 8º
liações são importantes, visto que constituem um do Capítulo II, definem competência como a “ca‑
poderoso determinante de como os estudantes es‑ pacidade de mobilizar conhecimentos, habilidades e
tudam e aprendem (GODFREY, 1995). atitudes, com utilização dos recursos disponíveis, e
Neste sentido, a avaliação pode ser definida exprimindo‑se em iniciativas e ações que traduzem
como um processo de obtenção de informações, desempenhos capazes de solucionar, com pertinên‑
visando à tomada de medidas para o aprimoramento cia, oportunidade e sucesso, os desafios que se apre‑

Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação 177


sentam à prática profissional, em diferentes contex‑ de avaliar desempenho é definir a tarefa a ser re‑
tos do trabalho em saúde, traduzindo a excelência alizada em dado contexto e verificar a capacidade
da prática médica, prioritariamente, nos cenários do estudante de mobilizar, naquela situação parti‑
do Sistema Único de Saúde – SUS” (BRASIL, 2014). cular, seus atributos de forma adequada para efe‑
O reconhecimento de uma competência não tuar a tarefa. A competência pode ser aprimorada
passa apenas pela identificação de situações a se‑ no dia a dia, no processo de ensino e aprendizagem
rem controladas, de problemas a serem resolvidos, e na vivência do sujeito, na qual ele sofistica seu
de decisões a serem tomadas, mas também pela ex‑ conhecimento tácito (AGUIAR; RIBEIRO, 2010).
plicitação dos saberes, das capacidades, dos esque‑ Na educação baseada em competências, a apren‑
mas de pensamento e das orientações éticas neces‑ dizagem não deve ser vista como uma transferên‑
sárias (PERRENOUD, 2002). cia de conhecimentos, mas deve partir da análise de
Na educação médica, as competências envolvi‑ situações e atitudes para derivar o conhecimento,
das constituem, quase sempre, habilidades comple‑ abrangendo, entre outras características, conheci‑
xas e que compreendem inter‑relações variadas en‑ mento, capacidade de execução, habilidade para
tre os domínios cognitivo, psicomotor e afetivo da a execução, raciocínio, pensamento crítico, pos‑
taxonomia de Bloom. O contexto da avaliação por tura profissional e ética, relacionamento humano,
competências é influenciado por diversos fatores, comportamento, valores, mudança de atitude e
como o tipo de paciente (crianças, mulheres, adul‑ até certa independência para a produção do saber
tos e idosos), o conteúdo envolvido (condições de (BORDENAVE; PEREIRA, 1982).
natureza variada, relacionadas aos diferentes sis‑ A definição de currículos fundamentados em
temas orgânicos de forma isolada ou combinada), competência requer uma opção conceitual em re‑
as circunstâncias de cada situação (gravidez, di‑ lação ao entendimento da competência como resul‑
versas patologias traumáticas ou não traumáticas, tante da relação entre o mundo da aprendizagem e
sendo cirúrgicas ou não), bem como as caracterís‑ o mundo do trabalho. A articulação de tarefas e ca‑
ticas de personalidade do médico (ou estudante) e pacidades verificáveis pelo desempenho permite a
o efeito modulador de experiências prévias seme‑ inferência de competência para determinada área
lhantes (TRONCON, 1996). profissional, a partir de padrões ou critérios pactua‑
A noção de educação baseada em competên‑ dos, considerados necessários e desejáveis para prá‑
cia foi associada à avaliação de objetivos compor‑ ticas de saúde de qualidade adequada (LIMA, 2004).
tamentais. Para os objetivos de aprendizagem que
merecem ser avaliados, adotou‑se o conceito de per‑
formance ou desempenho, ou seja, as ações efeti‑ 3. SIMULAÇÃO CLÍNICA NO ENSINO E AVALIAÇÃO
vamente manifestas, nas quais o estudante deveria
realizar dado desempenho, definindo o nível de per‑ Nas mais diversas ciências e, mais enfaticamente,
formance considerado aceitável (GONTIJO et al., na formação em saúde, entre as diversas estratégias
2013). que têm sido utilizadas com sucesso para o ensino
Desta forma, não se avalia competência; ava‑ e a avaliação de profissionais, tem merecido desta‑
liam‑se desempenhos que traduzem a ação profis‑ que o uso da simulação clínica.
sional considerada competente, e, por meio dos de‑ A simulação é uma tentativa de imitar e ante‑
sempenhos, infere‑se a competência. A avaliação cipar as peculiaridades de determinada situação
de competências não deve se restringir à execu‑ real, almejando sua melhor compreensão e gestão.
ção de uma série de tarefas discretas, definidas de É uma estratégia que recorre a um ambiente artifi‑
modo meramente técnico e avaliadas por uma abor‑ cial, recriando uma situação real, com o propósito
dagem descontextualizada com a aplicação de um de praticar, aprender, avaliar, testar ou desenvol‑
instrumento padronizado de avaliação (checklist). ver a compreensão dos sistemas ou ações huma‑
Essa abordagem simplista subestima o desenvol‑ nas (QUIRÓS; VARGAS, 2014). Não se limita ao
vimento e a avaliação dos atributos relacionados desenvolvimento ou teste de alguns objetos de en‑
aos desempenhos e os fundamenta, reduzindo a sino e aprendizagem, mas, sobretudo, integra tec‑
aprendizagem ao cumprimento de tarefas (AGUIAR; nologias, competências, habilidades e trabalho em
RIBEIRO, 2010). equipe, promovendo a resolução de situações‑pro‑
Essas capacidades podem ser avaliadas por meio blema e incentivando o raciocínio crítico em um
de situações simuladas e/ou práticas profissionais ambiente completamente seguro, não ameaçador,
em contextos reais (não simulados). A melhor forma que preserva eticamente o paciente e o profissio‑

178 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


nal. Ainda, integra os domínios cognitivo e afetivo cimentos interdisciplinares e complexos de uma
e é um excelente método de ensino e de avaliação forma contextualizada e global, o que abre amplas
(MAZZO et al., 2017). vertentes de cenários e situações clínicas. Os pa‑
Segundo Gaba, a simulação pode ser entendida râmetros‑chave do processo de aprendizagem de
como um processo educacional que replica cená‑ simulação são: contexto, ambiente e participação
rios de cuidados ao paciente em um ambiente pró‑ ativa dos estudantes (ALINIER, 2007).
ximo à realidade, com o objetivo de analisar e refle‑ Ao variar os parâmetros dos cenários simulados,
tir as ações realizadas de forma segura. É necessário é possível expor os estudantes a uma ampla diversi‑
enfatizar que a simulação é uma técnica que evoca, dade de comportamentos e resultados, comparati‑
substancialmente, aspectos do mundo real em um vamente aos que iriam encontrar na prática clínica
ambiente interativo, e não exclusivamente uma tec‑ em um certo período de tempo (ALINIER, 2007).
nologia que tem por objetivo substituir ou amplificar Assegura também que os estudantes ganhem
uma experiência real com supervisão (GABA, 2009). experiência clínica sem dependerem do inespe‑
Um princípio básico no uso da simulação no rado dos casos clínicos disponíveis em determinado
ensino da Medicina é que, quanto mais o estu‑ serviço, em certo dia, possibilitando o contato com
dante acreditar que a situação que experiencia é patologias raras ou situações incomuns (LATEEF,
real, melhor será a sua utilidade (MURPHY et al., 2010). Deve‑se levar em consideração que os estu‑
2007). Desta forma, esse “contrato de ficção” pre‑ dantes não têm sempre acesso a uma gama de expe‑
cisa ficar bem explícito entre professores e estu‑ riências educacionais com casos reais, o que acar‑
dantes, permitindo a “suspensão da descrença”, reta uma menor oportunidade de observar e avaliar
com o uso adequado de materiais e equipamentos, os pacientes com uma grande variedade de doenças,
em um ambiente simulado que deve ser bem pró‑ sinais físicos e sintomas (BRANDÃO; COLLARES;
ximo ao real, fazendo todos os passos dos procedi‑ MARIN, 2014).
mentos de forma bastante fiel e mostrando a im‑ Independentemente de ser adquirida em condi‑
portância da autenticidade das situações recriadas ções simuladas ou na vida real, a experiência repe‑
(LATEEF, 2010). tida e acumulada melhora a performance e a con‑
Determinado pelos objetivos de aprendizagem fiança dos estudantes (HOFMANN, 2009). Esta
ou de avaliação, o método, em diferentes graus de prática repetitiva é precisamente um elemento da
complexidade e fidelidade (simulação de baixa fi‑ simulação que facilita a aprendizagem. A simulação
delidade/complexidade, simulação de média fi‑ permite uma intervenção mais ativa pelos estudan‑
delidade/complexidade e simulação de alta fi‑ tes, uma vez que incita a autoavaliação, a autorre‑
delidade/complexidade), pode incorporar uma flexão e o espírito crítico sobre a sua performance
infinidade de recursos para maior realismo dos (WAYNE; MCGAGHIE, 2010). A identificação das
cenários simulados. lacunas de conhecimento e dos pontos fracos no
O que determina o grau de fidelidade da ativi‑ desempenho leva à melhoria prática da sua perfor‑
dade simulada não são os níveis de tecnologia incor‑ mance. Vários estudos comprovam o melhor desem‑
porados, e sim as ações individuais e conjuntas ne‑ penho técnico alcançado com a prática de proce‑
cessárias à resolução dos problemas, que permitem dimentos em simuladores (SALAS, 2009). Alguns
o raciocínio clínico, a tomada de decisão, o traba‑ desses simuladores demonstraram, inclusive, en‑
lho em equipe, a liderança e todas as situações com‑ curtar significativamente a curva de aprendizagem
plexas do cotidiano da prática clínica em saúde. A (BRUNCKHORST et al., 2016).
complexidade tecnológica dos simuladores robóti‑ A educação baseada em simulação permite in‑
cos, frequentemente, tem sido confundida com sua tegrar o fator humano, uma vez que é possível trei‑
fidelidade. A fidelidade do simulador é a sua capa‑ nar e avaliar as habilidades não técnicas aplicadas
cidade de imitar o ser humano na sua aparência e em diferentes contextos, principalmente o traba‑
reações. No entanto, por mais fidedigno que seja lho em equipe, os diferentes tipos de comunicação,
o modelo escolhido, é importante lembrar que ele as capacidades de resolução de problemas e toma‑
nunca será um indivíduo (LOPREIATO et al., 2016; das de decisão, o profissionalismo, a ética e a lide‑
MAZZO et al., 2017). rança (EVAIN et al., 2019; GORDON et al., 2019).
Em simulação, os objetivos de aprendizagem Outro grande potencial da educação baseada em
ou de avaliação da atividade devem indicar os re‑ simulação está na possibilidade de recriar situações
cursos a serem utilizados. A grande vantagem do complexas enquanto é mantida a segurança dos pa‑
uso da simulação é facilitar a integração de conhe‑ cientes. Isso pode melhorar não apenas a perfor‑

Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação 179


mance técnica, mas também o crescimento intrín‑ res e a ausência de realismo de alguns modelos. Os
seco do conhecimento clínico e autoconfiança, o próprios estudantes reconheceram a importância
que abrange aprender a lidar com o estresse, a in‑ do formador e seu papel crucial na demonstração
certeza e até o medo (KNEEBONE, 2009). do procedimento, a observação da execução da téc‑
Um fato interessante é que os estudantes podem nica pelos aprendizes e o feedback.
ser expostos a procedimentos que até então lhes es‑ Para otimizar tudo o que foi colocado a respeito
tavam vedados e praticá‑los em um ambiente seguro. do uso da simulação clínica nas matrizes curricu‑
Isso é extremamente motivante e pode despertar lares dos cursos da área da saúde, particularmente
o interesse por áreas com as quais teriam menos da Medicina, é possível a implementação de mu‑
contato. Estudos apontam para um impacto posi‑ danças que desenvolvam uma aprendizagem mul‑
tivo a longo prazo da simulação em estudantes de tidisciplinar com integração vertical e longitudi‑
Medicina na área de cirurgia vascular, podendo de‑ nal do conhecimento (em espiral), valorizando a
sempenhar um papel importante no recrutamento aprendizagem significativa.
de estudantes para futuros programas de residên‑ A utilização apropriada de diversas metodolo‑
cia médica (LEE et al., 2009). gias ativas de ensino e aprendizagem e de avalia‑
Apesar da valiosa contribuição da educação ba‑ ção permite a monitorização do processo de en‑
seada em simulação, não se deve esquecer de que sino e avaliação por meio da introdução de novas
suas várias modalidades não substituem a experi‑ abordagens, que incentivam o comportamento do
ência clínica e que, como qualquer outra interven‑ estudante como sujeito ativo da construção do seu
ção em Medicina, a sua utilização deve ser susten‑ conhecimento, e possibilita a análise sequencial da
tada em evidências, pois existem riscos quando os sua progressão ao longo dos semestres do curso.
estudantes são habilitados apenas com certos tipos Há uma infinidade de procedimentos que po‑
de simuladores em detrimento dos pacientes reais. dem ser simulados, como ausculta cardíaca e pul‑
Apesar das inúmeras vantagens, é essencial com‑ monar, exame do fundo ocular, toque retal, punção
provar se esses benefícios se traduzem na prática lombar, intubação endotraqueal ou desfibrilação.
clínica. Quanto à execução de procedimentos, foi Isso permite a inserção de habilidades e cenários
demonstrado que o volume de experiência reduz simulados ao longo de todo o curso médico, em di‑
as taxas de complicação nos pacientes, melho‑ ferentes complexidades, e que estejam adequados
rando o desempenho antes mesmo de esses pro‑ ao momento de formação dos estudantes, para que
cedimentos serem realizados no cenário real de prá‑ possam simular em ambiente controlado e, logo em
tica (DOMURACKI et al., 2009). As pesquisas sobre seguida, usar tal treinamento para a assistência de
educação baseada em simulação, muitas vezes, não pacientes reais.
abordam a questão mais relevante da validade pre‑ O uso da simulação clínica também pode ser
ditiva, isto é, se as capacidades adquiridas em am‑ uma forma de antecipar a contextualização das ci‑
biente simulado podem ser generalizadas para si‑ ências básicas no complexo ambiente clínico, favo‑
tuações clínicas reais. Uma vez que há dificuldade recendo a sua compreensão e valorização, e acele‑
em delinear e executar estudos que permitam ve‑ rando a aquisição de correlações translacionais no
rificar essa hipótese, já que exigiria um seguimento ensino médico (GORDON et al., 2019). A integra‑
dos estudantes a longo prazo, a transferência desse ção simultânea dos princípios e conteúdos das ci‑
aprendizado da simulação para a prática clínica e ências básicas e clínicas no processo de ensino e
cirúrgica continua por ser compreendida. Assim, aprendizagem, como ocorre nas correlações fisio‑
é fundamental reconhecer que essa metodologia lógicas e clínicas de sinais e sintomas, e nas corre‑
pode não ser apropriada em todos os casos, esta‑ lações anatomorradiológicas, particularmente, com
belecendo quais situações de uso da simulação tra‑ o uso de ultrassom, permite uma aprendizagem sig‑
rão vantagens. É também necessário esclarecer se nificativa, de modo a facilitar o entendimento e a
há manutenção das competências aprendidas por correlação de conhecimentos mais precoces dos
um longo período de tempo. estudantes, o que colabora enormemente para sua
Shanks et al. (2010) averiguaram as perspecti‑ motivação intrínseca.
vas dos internos de Medicina sobre o uso de simu‑ Todavia, para direcionar a escolha dos recursos,
ladores no seu percurso na graduação, apontando é indispensável levar em conta a sua disponibilidade
como principais obstáculos a limitação de tempo, e a relação entre custos e benefícios. Simuladores
o grande número de estudantes para cada instru‑ de alta complexidade são onerosos, têm dispendio‑
tor, a disponibilidade condicionada dos simulado‑ sos e complexos processos de manutenção e atua‑

180 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


lização e, por isso, nem sempre se encontram dis‑ tes de artes cênicas e cursos de teatro ou de profis‑
poníveis na grande maioria das instituições. Além sionais de outras áreas vinculados à instituição de
disso, se fossem considerados como as únicas pos‑ ensino, devidamente preparados para tal situação.
sibilidades de se fazer atividades simuladas, invia‑ O modelo misto (ou híbrido) de simulação
bilizariam quaisquer processos de larga escala de permite a realização de procedimentos durante o
ensino e avaliação. Existem situações em que os re‑ role player ou o uso de pacientes simulados, ao se
cursos da simulação cênica são capazes de promo‑ associar um simulador estático ao indivíduo que
ver maior veracidade da interação, principalmente está desenvolvendo o personagem, para que sejam
utilizando a comunicação verbal e não verbal. realizados os procedimentos do cenário simulado
(NEGRI et al., 2017).
3.1 A SIMULAÇÃO CÊNICA NOS PROCESSOS DE O uso de pacientes padronizados pode ser con‑
AVALIAÇÃO siderado como uma modalidade que suscita ques‑
A simulação cênica é um recurso de menor custo tionamentos éticos, relacionados à vulnerabilidade
quando comparada à aquisição de simuladores. do paciente e ao comprometimento ético e profis‑
Pode ser definida como uma representação teatral sional com os achados encontrados. Consiste no
ou dramatização, a partir de determinado foco ou uso de indivíduos normais (crianças, adolescen‑
tema, com o objetivo de expressar ideias, concei‑ tes, adultos e idosos), determinados profissionais
tos e argumentos de um estudo de caso. (médicos, enfermeiros, nutricionistas, entre outros)
Na saúde, possibilita ao profissional e ao estu‑ ou ainda pacientes reais (com patologia diagnosti‑
dante: cada, por exemplo, neoplasia de mama), que esta‑
1) vivenciar comportamentos frequentes da rela‑ belecem um contrato comercial para protagonizar
ção profissional/paciente, por exemplo, a ava‑ um personagem em um cenário clínico. Apesar de
liação de atitudes e decisões em um ambiente bastante difundida em outros países, essa modali‑
controlado, sem risco de efeitos negativos, como dade de simulação não tem sido muito utilizada nos
seria na prática direta com o paciente real; cenários simulados do Brasil (NEGRI et al., 2017).
2) verificar o desempenho de intervenções que Pelo fato de desempenharem um papel unifor‑
exigem raciocínio clínico competente, como a mizado, em algumas situações pacientes simula‑
coleta de dados a partir do passado relevante e dos ou padronizados também podem participar das
histórico da doença atual. avaliações dos estudantes (BOKKEN et al., 2009).
No ensino com simulação cênica, podem ser A simulação cênica com uso de pacientes simu‑
utilizados o role player, ou jogo de papéis, os pa‑ lados tem sido empregada em diversas provas prá‑
cientes simulados, os modelos mistos (híbridos) ticas simuladas, seja na progressão do estudante
e os pacientes padronizados (MAZZO et al., 2017; durante o curso de graduação, em programas de
NEGRI et al., 2017). aperfeiçoamento, educação corporativa e especia‑
O role player, ou jogo de papéis, permite ao lização (como as provas de residência médica) e/ou
participante experimentar sensações diversas que na revalidação de diplomas. No âmbito de institui‑
devem ser levadas em consideração e estimuladas ções de saúde e mesmo em outras áreas, os editais
como pontos da reflexão durante o feedback da ati‑ de concursos têm começado a utilizar a simulação
vidade. Nessa modalidade, o estudante, docente ou como parte dos processos de seleção.
facilitador podem desempenhar personagens no
cenário simulado, como se fossem integrantes do
caso clínico. Os personagens desempenhados, ge‑ 4. O PROCESSO DE AVALIAÇÃO UTILIZANDO A
ralmente, estão relacionados a representações dos SIMULAÇÃO
profissionais (médicos, enfermeiros, recepcionis‑
tas etc.), pacientes, familiares, acompanhantes, en‑ Testes escritos não avaliam competências em sua
tre outros. completude, pois, geralmente, a observação direta
Os pacientes simulados são utilizados tanto é necessária para isso. Tradicionalmente, a avalia‑
com a finalidade de ensino como de avaliação. Nesta ção de competências clínicas (capacidade de colher
técnica, durante o desenvolvimento do cenário, po‑ história, realizar exame físico, efetuar procedimen‑
dem‑se contratar atores treinados para desempe‑ tos, utilizar o raciocínio clínico, tomar conduta, co‑
nhar o papel de pacientes. Geralmente, eles são in‑ municar‑se com paciente e outros profissionais e
térpretes contratados pela instituição, mas existem adotar conduta ética) é realizada por meio de ca‑
relatos da participação de ex‑pacientes, estudan‑ sos longos ou curtos (KAUFMAN; MANN, 2010).

Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação 181


Embora essas modalidades mais tradicionais de A) AVALIAÇÃO DE HABILIDADES
avaliação possam fornecer dados relevantes sobre As habilidades estão relacionadas às destrezas ne‑
o nível de competência clínica dos estudantes, ca‑ cessárias para o desenvolvimento do trabalho e po‑
recem de maior objetividade e de padronização. dem traduzir‑se em práticas motoras, sociais e/ou
Os resultados obtidos são fortemente influencia‑ comportamentais, as quais, agregadas, formam as
dos pelo tipo de paciente disponível para determi‑ competências necessárias ao profissional.
nado exame, e toda a avaliação depende muito do Em simulação clínica, as habilidades são parte
avaliador. Além disso, cada estudante é avaliado em integrante de uma curva de aprendizado e, geral‑
condições muito diferentes, o que dificulta a com‑ mente, são desenvolvidas em peças anatômicas ou
paração dos resultados entre os avaliandos. Essas simuladores inanimados de menor custo que pos‑
particularidades concorrem para que esses méto‑ sibilitam o treino repetido das práticas, as quais
dos sejam considerados como de reduzida fidedigni‑ devem ser oferecidas em número suficiente aos
estudantes, com a substituição rotineira de peças
dade. Dessa forma, a simulação clínica, com sua alta
danificadas.
reprodutibilidade, fidedignidade e validade, ganhou
Durante o treino de habilidades, é imprescin‑
importância na avaliação de desempenho dos estu‑
dível incorporar realismo à prática realizada, por
dantes (SAMPAIO; PRICINOTE; PEREIRA, 2014).
exemplo, a saída de urina ao se cateterizar a ure‑
Assim, além de a simulação ser o modo ideal de
tra, a aspiração de sangue em uma punção ou de
aprendizagem sem causar prejuízo ou inconveniente
secreção em uma broncoaspiração de vias aéreas.
aos pacientes, é também um método muito conve‑
O treino de habilidades aumenta a autocon‑
niente para avaliar competências, já que permite re‑
fiança dos estudantes na realização dos procedi‑
criar situações realistas que colocam os participan‑
mentos, e alguns autores têm associado o treino
tes perto do topo da pirâmide de Miller (ALINIER,
precoce à maior satisfação e confiança na profis‑
2007). O examinador, com o auxílio de instrumen‑
são (BING‑YOU et al., 2018).
tos de registro predefinidos (checklist), enfoca a
A avaliação de habilidades deve ser vista como
atenção no desempenho de habilidades específi‑ algo construtivo pelos estudantes, com o objetivo
cas, objetivando a avaliação. de maximizar seus desempenhos no decorrer da
Como em todo processo avaliativo bem plane‑ formação e da vida profissional, dentro de um ne‑
jado, a avaliação com uso de simulação é complexa, cessário processo de educação permanente. Nesse
ampla e multidimensional. No contexto de ensino sentido, o uso de checklists que direcionem o com‑
e aprendizagem, necessita‑se levar em considera‑ portamento do facilitador, o feedback e o debrie‑
ção os conhecimentos, as experiências prévias, as fing são ferramentas muito importantes. Os pa‑
características pessoais dos avaliados, e nos pro‑ râmetros desejados de qualidade das habilidades
cessos de seleção/certificação, garantir que os pa‑ clínicas devem ter como base o protocolo opera‑
râmetros preestabelecidos considerados adequa‑ cional padrão (POP).
dos sejam atingidos. O debriefing e o feedback são pontos‑chave do
O uso da simulação permite a apresentação dos processo de ensino utilizando simulação, pois pres‑
problemas e situações clínicas da mesma forma para supõem uma constante colaboração, com a finali‑
cada examinando e minimiza a variabilidade ine‑ dade de partilhar e discutir se as atitudes aprendi‑
rente ao uso de casos clínicos com pacientes reais. das foram efetuadas de forma correta, da mesma
Essa reprodutibilidade torna‑se, particularmente, que forma que a reunião entre os participantes, em
importante nas decisões para avaliações em pro‑ que se recolhem informações de como ocorreu certa
cessos seletivos. tarefa, exigindo a assistência contínua de um faci‑
Com a simulação clínica, podem ser testadas litador (WAYNE; MCGACHIE, 2010).
múltiplas competências de forma simultânea, tais Os checklists são listas de verificação que devem
como assistência aos pacientes, conhecimento mé‑ ser rigorosa e metodicamente cumpridas para que
dico, habilidades psicomotoras para procedimen‑ um procedimento se desenvolva com o máximo de
tos, profissionalismo e habilidades interpessoais, segurança e qualidade (SANTOS, 2011). A simpli‑
entre outras, permitindo tanto o desenvolvimento ficação dos procedimentos em várias etapas, que
e a avaliação de competências individuais em situ‑ viabiliza a oportunidade de simular cada uma das
ações semelhantes que ocorrem no dia a dia quanto tarefas isoladamente, pode representar uma vanta‑
a colaboração efetiva em equipe e construção de gem considerável para a aquisição de habilidades
uma cultura orientada para a segurança. clínicas e cirúrgicas.

182 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Após a realização da simulação, faz‑se necessá‑ a complexidade e os objetivos da atividade são fa‑
ria a reflexão do atendimento realizado pelos es‑ cilmente controlados e passíveis de serem atingi‑
tudantes por meio do debriefing. Nessa fase, o pro‑ dos (PATRICIO et al., 2013).
fessor que acompanhou o atendimento terá uma São projetados para serem objetivos e estrutu‑
postura de facilitador da discussão em grupo so‑ rados e permitem a aquisição e a demonstração de
bre as impressões dos participantes do cenário si‑ conhecimento clínico. Como originalmente descrito
mulado, bem como dos demais observadores, o que, por Harden e colaboradores, o OSCE consiste em
no final, permitirá discutir os acertos e oportunida‑ uma série de “estações procedimentais”, seguidas de
des de melhorias do aprendizado após a identifica‑ “estações de perguntas e respostas”. As estações de
ção das lacunas de conhecimento (DIECKMANN, procedimentos, geralmente, usam pacientes simula‑
2009). A realização do debriefing pode ser auxiliada dos, mas podem apresentar uma tarefa determinada
ou não com as imagens gravadas do atendimento (como interpretar um teste de diagnóstico ou de‑
simulado, esclarecendo e revivendo, de forma pon‑ monstrar uma habilidade usando um simulador de
tual, os momentos cruciais do cenário utilizado baixa fidelidade). O OSCE também fornece oportu‑
(FAROOQ et al., 2017). nidades para feedback formativo, no qual o desem‑
Os feedbacks devem ser realizados de maneira penho do estudante é realizado por escrito ou por
construtiva, assertiva e respeitosa, em ambiente re‑ meio de feedback verbal individual, ou em sessões
servado, de forma a possibilitar a reflexão do estu‑ de esclarecimento em grupo. As avaliações objeti‑
dante sobre o seu aprendizado (ZEFERINO et al., vas e o feedback tornam essa ferramenta um exce‑
2007b). lente método de avaliar as principais competências
em um ambiente simulado (PRINCE et al., 2014).
B) OBJECTIVE STRUCTURED CLINICAL EXAMINATION A elaboração de ambientes simulados deve ser
(OSCE) a mais próxima possível da realidade, podendo ser
Desde 1975, o Objective Structured Clinical desafiadoras as estações que envolvem elemen‑
Examination (OSCE) tem sido amplamente utili‑ tos subjetivos, como comunicação e sentimentos.
zado. Trata‑se de uma ferramenta avaliativa muito Quanto mais próximos da prática, maior relevân‑
versátil, na qual o aprendiz demonstra suas habi‑ cia e significado dos cenários simulados para os es‑
lidades quando se depara com cenários simulados tudantes (FRANCO et al., 2015).
muito semelhantes a situações e casos clínicos re‑ O estudo de Weinberg, Sinha e Saleh (2014) mos‑
ais. Pode ser usado para avaliar diversos resulta‑ trou que, em estações apenas com o uso simulado‑
dos de aprendizagem em diferentes fases da for‑ res de baixa fidelidade ou de peças anatômicas, por
mação e em várias profissões de saúde, além de ser exemplo, um braço inanimado para coleta de san‑
muito utilizado para
​​ exames práticos na área mé‑ gue, a estratégia se torna extremamente artificial,
dica (PATRICIO et al., 2013). pois as habilidades não técnicas, como a comuni‑
Dessa forma, o advento do OSCE permitiu que cação, que é extremamente importante nesse tipo
as avaliações clínicas tivessem vantagens equiva‑ de procedimento, não ocorre. Para isso, o uso da si‑
lentes às provas escritas objetivas de conhecimento mulação híbrida, na qual os manequins são associa‑
(HARDEN et al., 1975). dos a pacientes simulados, representa um impor‑
Na graduação médica, sua aplicação pratica‑ tante recurso e pode contribuir para o aumento da
mente tem se tornado universal. A Association of autenticidade e do realismo das estações práticas.
American Medical Colleges (AAMC) publicou que, Os parâmetros desejados de qualidade no de‑
em 2016, das 184 escolas de Medicina existentes, sempenho dos estudantes nas estações práticas de
133 fizeram com que seus estudantes concluíssem o cenários simulados devem ter como base os pro‑
OSCE institucional no final do curso e 108 exigiram tocolos clínicos e diretrizes terapêuticas (PCDTs)
uma nota de aprovação mínima no exame para ob‑ fundamentados nas melhores evidências clínicas
terem o título da graduação (JAYAKUMAR, 2018). disponíveis.
O OSCE apresenta uma gama de contextos re‑ O OSCE possui excelente validade (capacidade
latados em diferentes formatos, além de flexibili‑ de avaliar, efetivamente, “o que deve realmente ser
dade e possibilidade de adaptação às situações lo‑ avaliado”) e fidedignidade, que é a característica que
cais. Ele avalia os conhecimentos, habilidades e se relaciona à precisão, à acurácia, à objetividade e à
atitudes do aprendiz, sendo uma estratégia que reprodutibilidade do instrumento, fatores que, por
permite que a maioria dos conhecimentos dos es‑ sua vez, determinam a confiabilidade e a consistên‑
tudantes sejam testados, uma vez que as variáveis, cia dos resultados obtidos. O maior problema rela‑

Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação 183


tado ao seu uso é a viabilidade ou a praticidade de Neste contexto, a avaliação clínica estruturada
sua execução. Alguns estudos revelam dificuldades vem se popularizando na educação em saúde em
na implementação do OSCE, como as complexida‑ todo o mundo e também no Brasil, e vem sendo
des da organização logística, o tempo para planeja‑ vastamente referida por vários autores. Além do
mento e implementação, os recursos físicos e ma‑ formato do OSCE, diversos procedimentos de ava‑
teriais necessários, os custos associados a pacientes liação prática podem ser utilizados conforme o con‑
simulados e examinadores, a carga horária do corpo texto institucional a ser avaliado, com possibili‑
docente, entre outros. No entanto, apesar desses fa‑ dade de várias modificações: Practical Assessment
tores associados, os estudos revelam que realizar um of Clinical Examination Skills (PACES), Objective
OSCE é aconselhável por causa dos benefícios edu‑ Structured Long Case Examination Record (OSLER),
cacionais alcançados (SKRZYPEK et al., 2017). As Objective Structured Assessment of Technical
estratégias utilizando a gravação dos vídeos com o Skills (OSATS), Clinical Skills Assessment (CSA),
desempenho dos estudantes/candidatos e posterior Mini‑Clinical Evaluation Exercise (MINI‑CEX),
avaliação de forma assíncrona pelos examinadores, Direct Observation of Procedural Skills (DOPS),
e o OSCE realizado de forma on‑line, com estudan‑ Multi‑Source Feedback (MSF) e Global Rating Scale
tes e avaliadores também on‑line, diminuem muito (Conceito Global). A Tabela 1 mostra o conceito de
o custo dessas provas práticas. cada uma dessas modificações do OSCE.

Tabela 1 – Diferentes tipos de avaliação clínica estruturada.

Técnica Descrição
São criadas cinco estações, cada uma com dois avaliadores e com duração
Practical Assessment of
de 20 minutos, para avaliar um exame clínico (dos sistemas respiratório,
Clinical Examination
cardiovascular, neurológico, endócrino e locomotor e da parte abdominal, ocular
Skills (PACES) –
e dermatológica), coleta de história, comunicação e ética profissional. Esta
(PACES, 2000)
técnica é utilizada pelo Royal College of Physicians.
Caracteriza‑se pelo emprego de, pelo menos, dois casos longos em sequência;
da atuação simultânea de, pelo menos, dois observadores diferentes; e,
Objective Structured
especialmente, do uso de um instrumento padronizado, no qual o número e
Long Case Examination
o tipo de julgamentos a serem feitos pelos dois examinadores, em cada caso
Record (OSLER) –
clínico, são predefinidos e compreendem um conjunto suficientemente amplo
(GLEESON, 1997)
de itens relevantes de observação (quatro itens da história, três itens do exame
físico e três itens de raciocínio clínico e conduta).
Objective Structured A avaliação é dividida em duas partes: na primeira, do procedimento em si; e na
Assessment of Technical segunda, do conhecimento, da destreza na manipulação dos instrumentos e do
Skills (OSATS) – registro da ação. Foi criado pelo Surgical Education Group, da Universidade de
(MARTIN et al., 1997) Toronto, para ser um teste em sala de aula de habilidades cirúrgicas.
Muito semelhante ao OSCE, tem como principal diferença o fato de que, em cada
estação, o estudante deve cumprir todo o conjunto de tarefas necessárias para que
a abordagem do paciente se complete. Em cada situação, o estudante encontra um
Clinical Skills
paciente que deve ser entrevistado, com vistas à obtenção da sua história clínica,
Assessment (CSA) –
realização do exame físico, e, em seguida, informado e orientado sobre as medidas
(MUNRO et al., 2006)
diagnósticas e terapêuticas necessárias para a solução do referido problema.
A principal vantagem desta modalidade é a abordagem integral do caso, em
condições mais próximas da realidade da prática profissional.
Instrumento utilizado para avaliação direta dos estudantes em atendimentos
Mini‑Clinical
reais. O tutor observa diretamente o desempenho deles e, por meio de um
Evaluation Exercise
checklist, aponta os ganhos de aprendizado em cada etapa do exame clínico e
(MINI‑CEX) –
pontua a performance dos estudantes, utilizando uma escala de cinco pontos,
(NORCINI et al., 2003)
dando um feedback imediato.

184 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Tabela 1 – Continuação...

Técnica Descrição
Direct Observation of Variação do Mini‑CEX, em que o avaliador observa o estudante quando ele está
Procedural Skills (DOPS) fazendo o procedimento (por exemplo, administrando uma injeção, retirando
– (MOORTHY et al., sangue, inserindo um tubo), e a performance é pontuada conforme uma escala,
2003) dando um feedback.
É o mesmo que avaliação 360º. Envolve uma avaliação externa de performance
Multi‑Source Feedback por um longo período de tempo por supervisores ou observadores com
(MSF) – (LOCKYER, conhecimento de similar prática (1), colegas (2), mas não com a mesma profissão,
2003) por exemplo, enfermeiras ou pessoal administrativo avaliando médicos,
pacientes (3) e o próprio profissional (4).
Atribui ao estudante um conceito de maneira retrospectiva (MINI‑CEX
retrospectivo) no final de um estágio, utilizando categorias gerais, em vez de
Global Rating Scale
comportamentos específicos. Este conceito deve ser construído com itens que
(Conceito Global) –
especifiquem o que está sendo avaliado, contemplando os atributos necessários
(COHEN, 1991)
(conhecimentos, atitudes, valores e habilidades) para o desempenho profissional
esperado.

5. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO UTILIZADOS EM 6. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE COMPETÊNCIAS


SIMULAÇÃO
No processo de avaliação, deve ser possível identi‑
Com a crescente propagação do uso da simulação ficar o avanço do estudante na aquisição de conhe‑
clínica na educação em saúde, percebe‑se uma cimentos, habilidades, atitudes, valores e aptidões,
disseminação de diversos instrumentos destina‑ os quais, em conjunto, estruturam as competên‑
dos a apoiar as mais variadas estratégias de avalia‑ cias. É necessário identificar e reforçar os pontos
ção do desempenho dos participantes nas práti‑ fortes e as lacunas de aprendizagem de cada es‑
cas simuladas (KARDONG‑EDGREN; ADAMSON; tudante, estabelecendo as estratégias corretivas e
FITZGERALD, 2010). melhorias no processo de ensino e aprendizagem,
Em estudo de revisão, os itens avaliados em si‑ estimulando a capacidade de autoavaliação e de‑
mulação clínica que apareceram com maior fre‑ terminando a eficácia da ação do facilitador, assim
quência foram as habilidades procedimentais e de como dos métodos de ensino empregados. O obje‑
comunicação. Para apoio ao processo de avaliação, tivo final deve ser a obtenção do mais alto nível de
foram utilizados checklists, escalas validadas e/ou competência profissional dos aprendizes, justifi‑
construídas pelos próprios autores com base em cando os recursos materiais, financeiros, estrutu‑
programas de qualidade e segurança do paciente rais e humanos investidos, e certificando com se‑
e, até mesmo, o Mini‑CEX (MIRANDA; MAZZO; gurança a qualidade do estudante, a fim de garantir
PEREIRA JÚNIOR, 2018). que a sociedade seja atendida por um profissional
O Mini‑CEX é um instrumento criado pela competente e autorizado para exercer a profissão
American Board of Internal Medicine para desen‑ (MONTIEL et al., 2012).
volver a formação, a avaliação e a promoção da me‑ Diante das modificações do aprendizado clínico
lhora do desempenho clínico de profissionais da e da diversificação dos cenários de aprendizagem,
saúde. Sua confiabilidade e impacto educacional os métodos de avaliação de competências em saúde
positivo têm sido relatados em muitas especiali‑ necessitaram se adaptar aos novos métodos de en‑
dades; todavia, foi criado para a observação direta sino e aprendizagem, como a simulação clínica.
na prática clínica de anamnese, exame físico e ha‑ Uma tendência do ensino em saúde é a utilização
bilidades de comunicação. de estratégias que facilitem o processo de avalia‑
A Tabela 2 apresenta os principais instrumen‑ ção do estudante na observação durante o desen‑
tos utilizados para avaliação de práticas simuladas volvimento de habilidades técnicas e não técnicas
nos últimos 15 anos. nas práticas clínicas (NOGUEIRA; RABEH, 2014).

Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação 185


Tabela 2 – Diferentes instrumentos utilizados para avaliação de práticas simuladas.

Instrumentos utilizados para


Estudo Autores Itens avaliados na simulação
avaliação
Checklist construído pelos Habilidades de comunicação e cuidados
1 Yoo, M.S.; Yoo, Y.
autores. com os pacientes.
Checklist construído pelos Comunicação do estudante com paciente
2 Baez, A.
autores. em entrevistas clínicas.
Quest, T.E.; Checklist construído pelos
Comunicação e afetividade com o paciente
3 Ander, D.S.; autores, denominado Affective
e familiar.
Ratcliff, J.J. Competency Score (ACS).
Kurz, J.M.;
Mahoney, K.; Checklist construído pelos
4 Comunicação e atendimento clínico.
Martin-Plank, autores.
L.; Lidicker, J.
Conhecimentos, habilidades e atitudes nos
Jarzemsky, P.;
Quality and Safety in the cuidados centrados no paciente, trabalho
5 McCarthy, J.;
Education of Nurses (QSEN). em equipe, prática baseada em evidências,
Ellis, N.
segurança e recursos de informática.
1) Comunicação em momentos críticos,
1) SEGUE framework. podendo ser aplicado a diferentes
profissionais de saúde.
Carvalho,
2) Interpersonal and 2) Habilidades interpessoais e de
I.P.; Pais, V.G.;
Communication Skills Checklist comunicação durante o início e o final da
6 Almeida, S.S.;
(ICSC). entrevista com o paciente.
Ribeiro-Silva,
R. et al. 3) Autoconfiança nas habilidades de
sensibilidade psicológica, sensibilidade
3) Self-efficacy.
emocional, gestão da somatização, comunicação
diretiva e não diretiva com o paciente.
Checklists construídos pelos 1) Opinião do paciente simulado sobre o
autores: atendimento do estudante.
1) Interpersonal skills/
attributes evaluated by SPs
2) Habilidades técnicas e não técnicas.
(avaliação dos pacientes
Armstrong, simulados).
7 K.J.; Walker, S.; 2) Standardized patient history
Jarriel, A.J. and physical examination 3) Autoavaliação respondida pelo
checklist: concussion evaluation estudante.
(avaliação do facilitador).
3) Student self-evaluation of
standardized patient evaluation:
autoavaliação do estudante.
National Association of
Cates, L.A.; Competências para cuidados com
8 Neonatal Nurse Practitioners
Wilson, D. pacientes neonatais.
(NANNP) Core Competencies.
Kubota, Y.;
Roter Interaction Analysis Comunicação entre profissionais e
9 Yano, Y.; Seki, S.;
System (RIAS). pacientes.
Takada, K. et al.

186 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Tabela 2 – Continuação...

Instrumentos utilizados para


Estudo Autores Itens avaliados na simulação
avaliação
1) Instrumento desenvolvido 1) Habilidades de comunicação com
Young, K.H.; por Yoo (2001). paciente.
10
Eun, K.; Lee, E.S. 2) Instrumento desenvolvido
2) Competência clínica.
por Yang e Park (2004).
Waterval, Habilidades de competência e teste de
E.M.E.; Stephan, Checklist construído pelos avaliação de conhecimento, com base
11
K.; Peczinka, D.; autores. na política do hospital e procedimento
Shaw, A. padrão dos profissionais.
1) Nursing Performance Profile
1) Competência dos enfermeiros.
(NPP).
2) Instrument Taxonomy of
Error, Root Cause Analysis 2) Competências relacionadas à segurança
Practice Responsibility do paciente.
Hinton, J.E.; (TERCAP).
Mays, M.Z.;
12 Hagler, D.; 3) Responsabilidade profissional, defesa
Randolph, 3) Nursing Performance Profile do paciente, atenção, raciocínio clínico
P. et al. (NPP) instrument competency percebido, raciocínio clínico entendido,
categories. comunicação, prevenção, competência
processual, documentação.
4) Clinical Competency
Assessment of Newly Licensed 4) Competência clínica.
Nurses (NCSBNs).
1) Communication Competence
1) Competência em comunicação.
Scale (CCS).
Hsu, L.L.;
2) Communication Self-Efficacy 2) Comunicação com pacientes e
13 Huang, Y.H.;
Scale (CSES). familiares.
Hsieh, S.I.
3) Communication Performance 3) Comunicação com pacientes
Checklist (CPC). hospitalizados.
1) Instrumento desenvolvido
1) Pensamento crítico.
por Yoon (2004).
Eun, K.; Kim, 2) Instrumento desenvolvido
14 2) Competência clínica.
H.Y. por Yang e Park (2004).
3) Instrumento desenvolvido
3) Processo de resolução de problemas.
por Woo (2000).
Franklin, A.E.;
Sideras, S.; Creighton Simulation
15 Avaliação de competências.
Gubrud-Howe, Evaluation Instrument (CSEI).
P.; Lee, C.S.
Milner, K.A.;
Watson, S.M.; Mini-Clinical Evaluation Habilidades e competências clínicas
16
Stewart, J.G.; Exercise (Mini-CEX). gerais.
Denisco, S.

Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação 187


Tabela 2 – Continuação...

Instrumentos utilizados para


Estudo Autores Itens avaliados na simulação
avaliação
1) Standardized Simulation-
Bodamer, C.; 1) Conhecimento e atitudes relacionados.
Based Examination (SSBE).
Feldman, M.;
17 2) United States Medical
Kushinka, J.;
Brock, E. Licensing Examination 2) Teste de conhecimento.
(USMLE).
Franco, C.A.G.S.;
Franco, R.S.; Checklist construído pelos
18 Comunicação.
Santos, V.M.; pesquisadores.
Uiema, L.A.

Em um ambiente simulado, a avaliação por com‑ supervisionadas finais, quando se espera que obte‑
petências vai muito além de um enfoque exclusivo nha a especialização em determinada competência
em determinada ação. Engloba avaliar os conheci‑ para atender às necessidades da assistência à saúde
mentos, as habilidades e as atitudes dos aprendi‑ (ACCREDITATION COUNCIL FOR GRADUATE
zes de maneira formativa, deliberada e contínua, MEDICAL EDUCATION; AMERICAN BOARD OF
em um processo complexo que vem sendo gradati‑ EMERGENCY MEDICINE, 2013).
vamente construído (NOGUEIRA; RABEH, 2014). O progresso do aprendiz é mensurado, sendo
Pode abranger a solução de problemas, decisões éti‑ possível determinar se houve progressão, estagna‑
cas, tomada de decisão e desenvolvimento de in‑ ção ou regressão no desenvolvimento como uma in‑
tervenções. Ainda podem ser avaliadas competên‑ dicação da ausência ou de necessidades específicas
cias globais para a prática clínica, como o trabalho de correções. O marco de competência é equivalente
em equipe, a tomada de decisão em situações com ao comportamento observável dentro de cinco níveis
maiores complexidades, a comunicação com pa‑ de proficiência, e por meio deles os estudantes de‑
cientes, familiares e profissionais, a liderança, en‑ monstram os conhecimentos, habilidades, atitudes e
tre outros (MAZZO et al., 2017). desempenho que refletem cada um desses níveis de
Os marcos de competências são descrições nar‑ desenvolvimento (PEREIRA JÚNIOR et al., 2015).
rativas de comportamentos em uma progressão con‑ Essas descrições narrativas do comportamento
tínua do desenvolvimento do aprendiz, em que ele dos aprendizes têm sido efetivas para organizar
inicia como um estudante principiante e avança ações mais complexas e em grande quantidade,
ao longo de toda a formação até se tornar compe‑ permitindo a possibilidade de feedback formativo
tente, podendo chegar a atingir o nível de um ex‑ para estímulo a mudanças nos comportamentos
pert (após anos de prática deliberada) (PEREIRA observados, além de possibilitar uma maior preci‑
JÚNIOR et al., 2015). são na aplicação de escalas e estratégias avaliativas
Um marco refere‑se a um “ponto” dentro de (LOMIS et al., 2017).
uma competência ou subcompetência no progresso No entanto, as descrições das competências são
e confiabilidade da formação do aprendiz. Os mar‑ contextuais e independentes, portanto não definem
cos são claramente descritos e geralmente especí‑ a complexidade de implementação em ambiente
ficos da área da graduação ou especialidade. Por clínico, no qual as habilidades serão demonstra‑
exemplo, um marco de competência para a medi‑ das (TEN CATE, 2013). Assim, Olle Ten Cate bus‑
cina de emergência pode ser a habilidade de geren‑ cou preencher a lacuna entre a teoria e a prática
ciamento de vias aéreas para um paciente com in‑ clínica, apresentando as Entrustable Professional
suficiência respiratória. Activities (EPAs), reconhecidas internacionalmente
O uso dos marcos de competências supera to‑ como uma estrutura para avaliação significativa da
das as expectativas do aprendiz, pois o deixa ciente competência durante a formação do graduando, a
do que necessita desempenhar, desde as etapas ini‑ residência médica e a recertificação profissional.
ciais de sua formação até as práticas educacionais (TEN CATE, 2013).

188 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


As EPAs representam uma unidade de prática 2) permissão para agir com supervisão direta, e o
profissional que pode ser confiada a um estudante supervisor presente na sala;
ou ao profissional competente e que requer pro‑ 3) permissão para agir com supervisão indireta,
ficiência em múltiplas competências simultanea‑ não presente, mas rapidamente disponível se
mente. Essa abordagem fornece um enfoque amplo necessário;
e prático para a avaliação, uma vez que não avalia 4) permissão para atuar sob supervisão distante,
as competências de maneira individual ou isolada não diretamente disponível (“sem supervisão”);
(TEN CATE, 2013). 5) permissão para fornecer supervisão a jovens es‑
As EPAs estão vinculadas a decisões de atribui‑ tagiários (TEN CATE et al., 2015).
ção, ou seja, avaliam se o aprendiz pode realizar Enquanto em currículos tradicionais essas opor‑
determinadas atividades de prática clínica sob um tunidades são oferecidas aos estudantes no final do
nível designado de supervisão. Os aprendizes po‑ curso, em currículos fundamentados em EPAs elas
dem ser incumbidos das responsabilidades ou ta‑ ocorrem em vários momentos ao longo da forma‑
refas que devem ser feitas no cuidado ao paciente, ção, ou seja, assim que houver uma confiança fun‑
as quais podem ser pequenas ou grandes, ou seja, damentada e justificada de que o estudante tenha
simples ou complexas, mas que normalmente são demonstrado os objetivos propostos para exercer
atividades com início e fim, e são confiadas somente a EPA determinada. Desta forma, em currículos
a pessoas competentes (TEN CATE, 2018). com base em EPAs, a progressão dos estudantes é
Assim, as EPAs caracterizam‑se como uma evo‑ baseada em competências, e não apenas no tempo
lução do conceito educacional com base em com‑ (TEN CATE, 2018).
petências, em que se aplica o conceito de compe‑ Os marcos de competência fornecem um ro‑
tências de um aprendiz em contextos específicos teiro da aprendizagem para que os aprendizes te‑
no local de prática clínica, constituindo uma des‑ nham uma visão geral da evolução necessária e es‑
crição do trabalho e sendo independentes das pes‑ perada do seu desempenho ao longo da formação,
soas (TEN CATE et al., 2015). enquanto o uso das EPAs apresenta as seguintes
As EPAs definem operacionalmente uma pro‑ vantagens (PEREIRA JÚNIOR et al., 2015):
fissão, formando uma lista de tarefas específicas ‑ são atividades que fazem sentido para profes‑
que devem ocorrer em um período de tempo pla‑ sores, estagiários e público;
nejável; já as competências estão ligadas às pessoas. ‑ representam o trabalho do dia a dia do profis‑
Para os aprendizes se tornarem profissionais con‑ sional;
fiáveis, eles devem adquirir competências, que in‑ ‑ situam as competências e seus marcos no con‑
cluem conhecimento, habilidades e atitudes (TEN texto clínico;
CATE, 2018). ‑ fazem uma avaliação mais prática por marcos
Assim, existe a possibilidade de avaliar se os utilizando agrupamento de atividades signifi‑
aprendizes podem executar as tarefas de forma cativas;
independente ou não. Pode‑se definir qual o rol de ‑ adicionam explicitamente as noções de con‑
EPAs a serem almejadas pelos aprendizes inician‑ fiança e supervisão na equação de avaliação.
tes e intermediários ou para aqueles que já possuem
expertise suficiente para a realização autônoma da
atividade prática (TEN CATE et al., 2015). 7. OS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO EM LARGA
Conforme Ten Cate (2018), as EPAs só podem ESCALA COM PROVAS PRÁTICAS: A EXPERIÊNCIA DO
ser delegadas aos estudantes se eles forem conside‑ REVALIDA
rados competentes para desenvolvê‑las. A decisão
de transferir a responsabilidade para um aprendiz Existe uma crescente pressão no sentido de com‑
é chamada de atribuição, que são decisões tomadas provar que o ensino traz efetivamente resultados.
para as responsabilidades futuras que o estudante Isso faz com que as instituições acadêmicas e as
deve apresentar a partir de determinado momento. organizações profissionais se autorregulem e esti‑
O estudante é avaliado com base na sua capaci‑ pulem parâmetros de referência de qualidade, mas
dade e, consequentemente, conquista o direito e representa, principalmente, uma resposta à exigên‑
o dever de estar envolvido no atendimento clínico cia do público para assegurar que os médicos são
dos pacientes. competentes e confiáveis, sobretudo em um cená‑
Os níveis de supervisão são detalhados como: rio de abertura de grande número de escolas mé‑
1) não há permissão para agir, apenas observar; dicas em todo o país.

Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação 189


Na Medicina, as experiências com avaliações si‑ mais que 20), com diferentes ponderações defini‑
muladas têm sido diversas e realizadas em diferentes das pela subcomissão.
escalas de números de candidatos, como nas provas A prova prática da segunda fase do Revalida nos
de residência médica e de revalidação de diplomas. anos de 2011, 2012 e 2013 foi realizada em apenas
A prova de revalidação de diplomas de médicos um local (Brasília/DF) por causa do pequeno nú‑
formados no exterior para atuação no Brasil, cha‑ mero de candidatos: 96, 98 e 155, respectivamente.
mada de Revalida, foi iniciada por meio da Portaria Em 2014, também foi realizada em um único lo‑
Interministerial MEC/MS nº 278, de 17 de março cal (São Paulo/SP), porém com 843 candidatos,
de 2011, com aplicação em duas fases: primeira fase o que causou muitos transtornos. Nas edições de
com avaliação teórica (100 questões de múltipla es‑ 2015 e 2016, a prova adquiriu características de
colha e 5 questões discursivas, sendo, respectiva‑ avaliação em larga escala, tendo, respectivamente,
mente, 20 testes e uma discursiva de cada uma das 1.920 e 2.400 candidatos. Em razão disso, foram
cinco grandes áreas da Medicina – pediatria, clí‑ necessárias várias mudanças logísticas para apli‑
nica médica, cirurgia geral, ginecologia/obstetrí‑ cação da prova prática, sendo, em 2016, realizada
cia e saúde coletiva/medicina de família e comuni‑ simultaneamente em 7 cidades (Porto Alegre/RS –
dade), de caráter eliminatório para quem não atingiu 2 locais –, Florianópolis/SC, Curitiba/PR, São Paulo/
a nota corte; e segunda fase com avaliação prática, SP, Brasília/DF – 3 locais –, Fortaleza/CE e São
também de caráter eliminatório. A prova prática é Luiz/MA) com 10 locais de aplicação.
composta por 10 estações práticas simuladas, sendo Os pacientes simulados foram selecionados em
2 de cada grande área da Medicina. A duração de cada cidade de aplicação da prova prática e capa‑
cada estação é de 10 minutos, sendo realizadas 5 es‑ citados em um curso de 32 horas uma semana an‑
tações (uma de cada área) no sábado e as outras 5 no tes da prova prática por um grupo de professores
domingo, em sistema de rodízio após confinamento de artes cênicas. Os examinadores foram selecio‑
dos candidatos, divididos em um grupo no período nados e participaram de capacitação de 8 horas na
da manhã e outro no da tarde. O confinamento ga‑ tarde anterior ao início da segunda fase do Revalida.
rante a ausência de contato entre candidatos que já No início da manhã de cada dia da aplicação
fizeram a prova prática e aqueles que ainda farão. da prova prática, os pacientes simulados e exami‑
As provas teóricas e práticas são elaboradas por nadores selecionados para as estações, já confina‑
uma subcomissão de professores médicos espe‑ dos, recebiam as orientações escritas e assistiam
cialistas, selecionados pelo Instituto Nacional de aos vídeos com as instruções sobre as cinco esta‑
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira ções práticas a serem realizadas naquele dia, tanto
(INEP) com total sigilo do conteúdo. no sábado como no domingo. Os pacientes simu‑
A subcomissão do Revalida elabora as questões lados também estudavam seus scripts com os exa‑
de múltipla escolha e discursivas que são enviadas minadores que estariam responsáveis pela avalia‑
aos professores, os quais se cadastram no Banco ção das mesmas estações práticas, aproveitando‑se
Nacional de Itens (BNI) e selecionam as questões nesse momento para tirar as dúvidas.
finais que irão compor a prova da primeira fase do Por uma questão legal presente no edital, to‑
exame nacional. Também elabora as 10 estações prá‑ das as provas práticas realizadas pelos candidatos
ticas que irão compor a prova prática da segunda foram filmadas para eventuais recursos jurídicos
fase. A montagem da prova prática conta com ins‑ que pudessem ser impetrados com solicitações de
truções para os candidatos, examinadores e pacien‑ reavaliação das notas. Assim, para cada candidato
tes simulados (scripts de atuação), bem como lista presente na segunda fase do Revalida, havia 10 fil‑
os materiais necessários e orienta a disposição ge‑ magens de 10 minutos de cada estação prática rea‑
ográfica de mesas, cadeiras e macas na sala de ava‑ lizada pelo candidato. Entre as queixas dos candi‑
liação, além da posição dentro da sala onde deve‑ datos estavam incluídas a falta de padronização do
rão ficar o candidato, o examinador e o videomaker. desempenho dos pacientes simulados. Assim, in‑
A subcomissão também elabora os itens do instru‑ daga‑se como era a relação desses indivíduos com
mento padronizado de avaliação (checklist) que o os examinadores; se a performance dos candidatos
examinador irá utilizar na avaliação dos candida‑ afetava o processo de avaliação; e se as questões éti‑
tos, sendo capacitado para preenchê‑lo no dia an‑ cas relacionadas ao nível do exame interferiam no
terior ao início do exame nacional. Cada checklist processo e no seu nível de formação.
é composto de diferentes números de tópicos com O Gráfico 1 mostra o comparativo dos resulta‑
um conjunto de subitens (em geral, no total não dos na 1ª fase e a variação percentual de aprovação

190 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


nas edições do Revalida de 2011 a 2020. A série his‑ Na edição de 2017, dos 7.379 médicos forma‑
tórica demonstra que o exame tem ampliado pro‑ dos no exterior que tentaram revalidar o diploma,
gressivamente a quantidade de participantes na 1ª 963 foram considerados aptos na primeira etapa do
fase a cada edição, mostrando o grande número de processo. Desse total, 941 fizeram as provas de habi‑
formandos no exterior, a maioria de brasileiros que lidades clínicas da segunda etapa e apenas 389 pas‑
tenta revalidar seus diplomas médicos no Brasil. saram (5,27%) e conseguiram do governo federal a
Em 2018 e 2019, não ocorreram edições do autorização para validar seus diplomas e exerce‑
Revalida por causa da grande quantidade de re‑ rem a Medicina no Brasil.
cursos judiciais (1.377) impetrados pelos candida‑ Dessa forma, a cada edição do Revalida, consi‑
tos na edição de 2017. Com isso, a edição de 2017 derando a aplicação da 1ª e 2ª fases, o percentual
ocorreu apenas em novembro de 2018. de aprovados é mostrado na Tabela 3.
A Gráfico 2 mostra o comparativo dos resulta‑ Na edição de 2020, dos 15.580 candidatos ins‑
dos da 2ª fase e a projeção de variação percentual critos, 13.961 (89,6%) efetivamente fizeram as pro‑
do Revalida de 2011 a 2017. Neste gráfico, conside‑ vas objetiva e discursiva da primeira fase, as quais
ram‑se inscritos os mesmos apresentados na refe‑ ocorreram no mesmo dia (06/12/2020). Na cor‑
rência à 1ª fase. Identifica‑se expansão no número reção da prova objetiva, 3.031 candidatos (21,7%)
de aprovados na 2ª fase, como no caso de 2015, com superaram a nota de corte e tiveram suas provas
1.683 aprovados, porém houve decréscimo em 2016. discursivas corrigidas. Desse total, 2.402 candi‑
Quando se analisa a variação percentual, identi‑ datos (ou seja, 79,2% dos candidatos que superam
fica‑se aumento expressivo do número de aprova‑ a nota de corte da prova objetiva) passaram para
dos, atingindo aumento de 2.255% em 2016, com‑ a 2ª fase, sendo selecionados para a realização da
parado com 2011. prova prática de habilidades médicas. Até a finali‑

Gráfico 1 – Número de candidatos participantes e aprovados na 1a fase (provas objetivas) do Revalida de 2011 a 2020.
Nos retângulos, está o percentual de aprovação a cada edição da 1ª fase em todas as edições.

Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação 191


Gráfico 2 – Número de candidatos participantes e aprovados na 2a fase (prova prática) do Revalida de 2011 a 2017. Nos
retângulos, está o valor percentual de aprovação a cada edição da 2ª fase em todas as edições.

Tabela 3 – Percentual de aprovação dos candidatos inscritos nas duas fases do Revalida a cada edição.

Edição 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017


Aprovados 12,10% 9,85% 6,83% 32,6% 42,1% 24,84% 5,27%

zação deste texto, não havia sido realizada a 2ª fase reflexiva e a consciência precoce da necessidade de
do Revalida 2020. educação permanente, não se restringindo apenas às
habilidades cognitivas, psicomotoras e afetivas, mas
também às habilidades não técnicas. Isso possibilita
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS a formação de profissionais com melhor compreen‑
são das necessidades de saúde da população e mais
Um programa de avaliações planejado e executado capacitados para o desempenho de suas atividades.
de modo criterioso, com foco no debriefing/feedback Os problemas utilizados na prática avaliativa de‑
e na identificação/correção das lacunas de aprendi‑ vem refletir o mundo real, cujos problemas têm se
zagem, promove o crescimento pessoal e profissio‑ apresentado cada vez mais complexos e indetermi‑
nal do aprendiz e contribui para o aprimoramento nados, fazendo com que os estudantes tenham que
do processo educacional. Deve ser abrangente, in‑ tomar decisões sob condições de incerteza, lidando
cluindo os diversos atributos que compõem a for‑ com a ambiguidade e alguns “aparentes” paradoxos.
mação pessoal e profissional, priorizando as habili‑ Se isso não for superado pelas práticas academica‑
dades de comunicação e relacionamento, a avaliação mente estruturadas, haverá a formação de profis‑

192 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


sionais sem o adequado preparo para o mundo real cursos da área da saúde. A integralidade da atenção
do trabalho a que estarão expostos. precisa estar contemplada nos objetivos de apren‑
Desta forma, a melhor articulação entre teoria dizagem dos cursos. Para isso, as diversas compe‑
e prática no contexto acadêmico e profissional du‑ tências necessárias devem estar bem definidas, e
rante a formação profissional implica o estabeleci‑ os cenários de prática devem privilegiar a vivência
mento de relações entre a produção de vários tipos dos estudantes com os pacientes e com a comuni‑
de conhecimento, seu uso no contexto profissional dade dentro de sua realidade social e dos serviços
e a educação permanente. de saúde. Nesta conjuntura, diversas maneiras de
Quando se aprofunda na avaliação das atividades avaliação formativa, que permitam a reflexão sobre
práticas, tendo em vista a construção da integrali‑ as ações desempenhadas, devem integrar a aquisi‑
dade da assistência, não há como deixar de reconhe‑ ção das competências.
cer a dificuldade que ocorre pela falta da interdis‑ A consolidação de uma nova “cultura avaliativa”
ciplinaridade, do trabalho em equipe e do cuidado na área da saúde que supere a atual abordagem pu‑
que deveria ser organizado de forma multiprofis‑ nitiva demandará aprofundamento de conceitos de
sional. Esses fatores são muito pouco contemplados construção de currículos, objetivos de aprendiza‑
nos processos formativos, e, assim, fica difícil tra‑ gem, seleção de conteúdos, aplicação de metodolo‑
balhar junto profissionalmente no futuro, se hou‑ gias ativas, utilização de diferentes tecnologias de
ver uma formação sem essa necessária valorização. informação e comunicação, pactuação de critérios,
O resultado disso é a prevalência da visão cor‑ elaboração de instrumentos de avaliação e capaci‑
porativista das categorias profissionais, que acaba tação dos professores como elaboradores e reviso‑
sendo prejudicial ao melhor interesse dos pacien‑ res de itens e de estações práticas para que esses
tes. A maneira de reverter a situação atual é a cons‑ conhecimentos sejam democratizados e reorientem
trução de uma educação interprofissional para os o processo de ensino e aprendizagem.

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Avaliação na educação em saúde com o uso da simulação 195


CA P Í TUL O 13

Avaliação com o uso de


Checklists e Escalas de
Avaliação Global

197
Renato Soleiman Franco
Psiquiatra
Professor Adjunto – Curso
de Medicina da PUCPR
Coordenador do Programa de Residência
Médica em Psiquiatria da Prefeitura
Municipal de Curitiba, SMS/FEAS.

Camila Ament Giuliani


dos Santos Franco
Médica de Família e Comunidade
Professora Adjunta ‑ Curso
de Medicina ‑ PUCPR
Professora no Curso de Medicina
nas Faculdades Pequeno
Príncipe, Curitiba, PR.
Preceptora responsável pela
disciplina de Comunicação Clínica na
Residência Médica em Medicina de
Família e Comunidade ‑ Residência
Integrada, Curitiba, PR.

1. INTRODUÇÃO

Os checklists e as escalas globais são utilizados para ou não realizado”, escalas com gradação, escalas
avaliação em diversos contextos na simulação e po‑ tipo Likert, entre outras (SWANSON; VAN DER
dem estar presentes tanto em avaliações formati‑ VLEUTEN, 2013).
vas quanto somativas. Ambos têm como objetivo Assim, os checklists avaliam o desempenho de
oferecer um parâmetro objetivo do que é esperado cada elemento observável de determinada com‑
que seja realizado. É preciso que sejam elaborados petência. Por outro lado, a avaliação global é uma
com bastante cuidado e atenção, uma vez que, mui‑ avaliação geral ou subdividida em subdomínios de
tas vezes, são a base para discutir os elementos de competências (ILGEN et al., 2015). Por exemplo:
aprendizagem tanto com professores (ou tutores) o exame físico e as habilidades de comunicação
quanto com os trainees. De forma geral, checklists podem ser dois subdomínios diferentes. Ao utili‑
consistem em itens detalhados de desempenho, zar o checklist, o avaliador irá definir cada com‑
como, por exemplo, “lavou as mãos”, “introduz‑se portamento observável no exame físico e nas ha‑
para o paciente” ou “mede a pressão arterial com bilidades de comunicação. Já na avaliação global,
um manguito de tamanho apropriado.” Esses itens haverá uma impressão geral sobre o desempenho
normalmente são qualificados em escalas binárias, quanto às habilidades de comunicação e quanto
como “concluído” ou “não concluído”, “realizado ao exame físico.

198 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


2. PREPARAÇÃO DE CHECKLISTS E ESCALAS que variam entre 1 e 63 itens (MA et al., 2014). Nessa
GLOBAIS
mesma revisão, os autores observaram que os che‑
cklists eram em sua maioria binários, ou seja, do
Cada item, nas escalas globais, compreende uma tipo suficiente/insuficiente, realizou (sim/não),
série de comportamentos, habilidades e atitudes. entre outros. Mas também observaram escalas do
Dessa forma, as ferramentas que utilizam Escalas tipo Likert, por exemplo, com gradação entre 1 e 4.
de Avaliação Global (do inglês – Global Rate Scale No caso das escalas do tipo Likert, é possível
– GRS) apresentam número bem menor de itens − transcrever os objetivos de aprendizagem como
em torno de 6, diferente dos checklists, em torno uma afirmativa e graduar o nível de concordância
de 19 (ILGEN et al., 2015). As GRSs podem ser di‑ do avaliador. Por exemplo: “O estudante realizou
cotômicas, descritivas (o avaliador descreve a sua de forma adequada a palpação do pulso radial’ –
avaliação) ou escalonadas (de baixa até alta perfor‑ frente a isso, o avaliador pode graduar: concordo
mance; novato/intermediário/expert; afirmativas, totalmente (1), concordo parcialmente (2), nem
com – concordo totalmente até discordo totalmente concordo ou discordo (3), discordo parcialmente
− ou até mesmo entre 0 e 100) (MA et al., 2014). (4) e discordo totalmente (5). Alguns estudos in‑
Os checklists e as GRSs podem ser utilizados cluem uma categoria de gradação, como o “não re‑
para as mais variadas habilidades/competências, alizado”, para elementos não observados pelo exa‑
como, por exemplo, habilidades de comunicação, minador. Apesar de haver inúmeras possibilidades,
exames clínicos ou procedimentos cirúrgicos (VAN cada uma delas terá pontos positivos e negativos.
HOVE et al., 2010; CÖMERT et al., 2016). A escolha Entre os tipos de gradação de checklist, o mo‑
dos itens em um checklist deve estar de acordo com delo binário demonstra maior confiabilidade en‑
o objetivo de aprendizagem e o cenário de ensino tre examinadores e é mais fácil de ser reproduzido.
(o quê, para quem, para o quê, por quem e como) No entanto, traz uma diferenciação menor entre os
(Tabela 1 e 2): participantes e capta com menor precisão diferen‑
tes níveis de habilidades e competências. Muitas
vezes, os avaliadores gostariam de classificar dife‑
3. GRADAÇÃO DO CHECKLIST rentes níveis de expertise dentro da realização da
competência ou habilidade proposta e não conse‑
A partir da definição do objetivo de aprendizagem guem alcançar tal classificação com modelos biná‑
e do cenário de ensino, é possível definir com maior rios. Não há um modelo certo e outro errado, mas
clareza como será o checklist. Há uma maleabili‑ deve‑se ter noção de que, ao escolher um modelo de
dade grande quanto ao checklist. Por exemplo, em gradação no checklist, um grande passo está sendo
uma revisão sistemática sobre cateterismo venoso tomado. Por exemplo, em uma avaliação que tem
central, os autores identificaram o uso de checklists como objetivo uma maior reprodutibilidade, esca‑

Tabela 1 – Objetivos de aprendizagem para elaboração do checklist e da GRS

O que será ensinado? Objetivo da atividade – Quais competências a serem desenvolvidas?


Para quem será ensinado? Sujeitos – Qual o nível de treinamento/especialização pretendido?
Motivo do uso do Checklist – Qual o propósito? O chekclist será um apoio
Para o quê (motivo)?
para avaliação formativa, somativa, com ou sem feedback?
O checklist pode ser completado por professores, preceptores, pacientes,
Por quem será realizado o pacientes simulados, monitores, pares ou pelo próprio aprendiz
checklist? (autoaplicáveis). É possível que haja mais de um avaliador da mesma
categoria ou de categorias diferentes.
Tempo – Qual a duração da atividade?
Como será ensinado? Local – Qual contexto (simulação, OSCE, role play, entre outros) e
recursos disponíveis?

Dos autores, Renato Soleiman Franco e Camila Ament Giuliani dos Santos Franco.

Avaliação com o uso de Checklists e Escalas de Avaliação Global 199


Tabela 2 – Roteiro preparatório para elaboração de Checklist e GRS

Preparação para realização do Checklist


1) Objetivo da atividade
Objetivo geral – Nessa atividade, o aluno deverá ser capaz de:
Domínios envolvidos: Habilidades/Competências específicas
( ) Habilidades de comunicação
( ) Exame físico
( ) Raciocínio Clínico
( ) Procedimentos
( ) Outro ‑ Qual?
2) Sujeitos
Número de sujeitos envolvidos: Trabalho em equipe: ( ) sim ( ) não
Categorias profissionais:
Grau de especialização: ( ) estudante/graduação ( ) residentes ( ) especialistas
( ) Outro grau ‑ Qual?
3) Motivo(s) do uso do Checklist:
( ) Avaliação formativa ( ) Avaliação somativa
( ) Feedback ( ) Processo de seleção
( ) Suporte ao ensino ( ) Outro motivo ‑ Qual?
4) Por quem será realizado o checklist?
( ) pares ( ) pacientes simulados
( ) professores ( ) preceptores
( ) outros − quem?
5) Ambiente
Qual contexto: ( ) simulação, ( ) OSCE, ( ) role play ( )outros ‑ Quais?
Recursos disponíveis/utilizados ‑ Quais?
Tempo:

Referência ‑ Camila Ament Giuliani dos Santos Franco e Renato Soleiman Franco ‑ baseado no processo de validação
dos OSCEs do artigo: Franco et al. (2015).

las binárias podem ser melhores; já para utilizar 4. AVALIAÇÃO DE HABILIDADES/COMPETÊNCIAS


a escala para auxiliar no feedback, modelos com
mais itens de gradação podem ser mais apropria‑ Utilizamos o acrônimo SMART (simples, mensurá‑
dos. No entanto, isso não é uma regra universal e o vel, atingível, realista e tempo adequado) para de‑
professor/facilitador deve ponderar riscos/bene‑ finir os itens a serem avaliados no checklist e nas
fícios e sempre reavaliar se sua escolha tem alcan‑ GRSs (CHATTERJEE; CORRAL, 2017). Os itens po‑
çado seus objetivos. dem ser: idênticos/semelhantes a checklists/GRS já

200 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


validados, adaptados a partir de modelos teóricos o checklist deve contemplar todos os domínios de
ou teórico‑práticos consagrados ou definidos a par‑ competência a serem avaliados.
tir da necessidade da atividade que será realizada. Além de utilizar modelos validados, é possível
Os itens devem estar dispostos em uma sequ‑ construir checklists e escalas globais. Ao elaborar
ência clara que facilite a avaliação, não devem ser um modelo para a avaliação, é possível enfatizar
muito longos e precisam ser claros. Um exemplo determinada competência ou habilidade a ser de‑
de item longo seria: realizou a palpação abdominal senvolvida, como, por exemplo, quanto às compe‑
com as manobras corretas para percussão e palpa‑ tências de comunicação (Figura 1).
ção hepáticas com ênfase no volume do fígado. Ao
ter que marcar sim ou não, o avaliador ficará muito
confuso. Caso forem realizadas algumas manobras 5. IMPORTÂNCIA DE VALIDAR CHECKLIST E GRS
e outras não, ou então, se não forem realizadas as
manobras corretas, mas for avaliado o tamanho de A primeira etapa na construção do checklist/GRS é
uma forma não convencional, também haverá difi‑ discutir o seu objetivo de aprendizagem e cenário
culdade para o avaliador. A presença de muitas habi‑ de ensino (o quê, para quem, para quê, por quem
lidades ou procedimentos em um mesmo item deve e como); subsequente a isso, é importante realizar
ser cuidadosamente avaliada pelos professores/ um estudo aprofundado do tema a ser avaliado pelo
facilitadores. checklist/GRS e decidir se:
No entanto, se a presença de todos esses ele‑ A) aquela habilidade e/ou competência é passível
mentos for essencial e for necessária uma associa‑ de ser mensurada a partir do checklist/GRS;
ção entre eles, justifica‑se a presença em conjunto. B) existem checklists/GRS que sejam referências
Contudo, devem‑se considerar os riscos e benefí‑ já validadas – em caso positivo, para qual con‑
cios desse modelo de item mais longo e complexo. texto, ou se o checklist/GRS será elaborado de
Nesse caso, se o item fosse: Realizou a hepatime‑ acordo com as necessidades dos objetivos do ce‑
tria utilizando a manobra X, haveria maior cla‑ nário – baseados ou não em modelos prévios, e
reza, objetividade e menor dúvida na qualifica‑ C) realizar um piloto com o uso do checklist/GRS.
ção. Um exercício interessante é buscar em cada A validação do conteúdo e o consenso entre os
área de interesse escalas e checklists já utilizados, avaliadores são elementos essenciais para constru‑
mas é igualmente prudente adaptá‑los aos cená‑ ção do checklist e da GRS. Existem várias formas
rios de simulação e objetivos das atividades a se‑ de realizar essa validação, mas o objetivo é ter um
rem realizadas. checklist e uma GRS de boa qualidade, e que se‑
Muitas vezes, por dificuldades quanto à dispo‑ jam confiáveis. Se possível, incluir nessa atividade
nibilidade de simuladores, professores, salas ou até especialistas na área − para validar o conteúdo − e
mesmo porque é importante que competências di‑ não especialistas. Os não especialistas valorizam
versas sejam envolvidas, os checklists podem se tor‑ a forma e apresentam uma impressão global, as‑
nar extensos e envolver diversos domínios de com‑ sim como, quando o cenário for desenvolvido para
petências ou diferentes habilidades. Isso é possível residentes ou estudantes, auxiliam muito na cate-
de ser realizado, mas deve‑se estar atento para o gorização dos graus de dificuldade. Geralmente,
tempo disponibilizado para os cenários, assim como as pessoas envolvidas na validação do checklist/
com a expertise do examinador. Quanto maior o GRS recebem antes a descrição do cenário, os ob‑
número de itens no checklist, maiores a complexi‑ jetivos e os checklists/GRS, e podem assim con‑
dade e a exigência para o examinador. tribuir com apontamentos e sugestões para uma
É importante lembrar que estações que avaliam reunião de consenso. A reunião de consenso e va‑
habilidades muito específicas exigem menos itens. lidação pode ser realizada a partir da gravação de
No exemplo acima, o objetivo poderia estar relacio‑ um vídeo e da solicitação de preenchimento pe‑
nado com “demonstra ser capaz de realizar a he‑ los avaliadores, ou mesmo em ambiente simulado
patimetria”. Agora, se o cenário é um ambiente de em tempo real. Na reunião de consenso, em ge‑
trauma, que envolve desde manejo do ambiente, ral, são apresentados o objetivo de aprendizagem
habilidades de comunicação, habilidades ligadas e o cenário. A partir disso, os avaliadores discu‑
a manobras de reanimação cardiopulmonar e ra‑ tem (Tabela 3):
ciocínio clínico, certamente o checklist será mais 1) Existem algumas habilidades/competências que
extenso e, consequentemente, o tempo para reali‑ poderiam ser incluídas e que não estejam repre‑
zar a estação também). É importante destacar que sentadas nesses itens?

Avaliação com o uso de Checklists e Escalas de Avaliação Global 201


Figura 1 – Modelo utilizado pelos autores para avaliação de comunicação clínica
Modelo de checklist e GRS elaborado por Camila Ament Giuliani dos Santos, baseado no Guia Calgary‑Cambridge de
Comunicação.

Tabela 3 – Roteiro para validação do conteúdo do Checklist ou GRS

Nome ‑ Avaliador(a):
Checklist (Exemplo): Gradação de cada item: sim/não – Nessa estação, o estudante:
Cumprimentou a paciente
Disse seu nome e função
Iniciou a entrevista com perguntas abertas
Investigou se havia ideação suicida
Investigou se havia planejamento suicida
Perguntou sobre suporte familiar
Fez perguntas que possibilitassem avaliar a afetividade da paciente
Fez perguntas que possibilitassem avaliar a sensopercepção
Pediu que a paciente chamasse por ajuda
Solicitou que a paciente esperasse, acompanhada de um membro da equipe, até que seu/sua responsável
chegasse

Referência ‑ Camila Ament Giuliani dos Santos Franco e Renato Soleiman Franco ‑ baseado no processo de validação
dos OSCEs do artigo: Franco et al. (2015).

202 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Tabela 3 – Continuação...

Deixou‑se disponível e certificou que a paciente não tinha mais nada a dizer
Avalie de forma Global: Investigação do Risco de Suicídio foi adequada?
Avalie de forma Global: A conduta frente ao Risco de Suicídio foi adequada?
Avalie de forma Global: Houve uma condução adequada do caso, de acordo com as diretrizes nacionais para
acolhimento dos (as) pacientes com risco de suicídio?
Favor realizar uma análise do checklist abaixo e responder:
1) Existem algumas habilidades/competências que poderiam ser incluídas nesse checklist e não estão
representadas?
2) Quais itens geraram dúvida no preenchimento?
3) Há itens extensos que precisariam ser desmembrados?
4) Foi possível avaliar o objetivo do cenário com esse checklist?
5) O nível exigido é o adequado para os sujeitos em treinamento?
6) Como foi o tempo para o preenchimento?
7) Sugestões

Referência ‑ Camila Ament Giuliani dos Santos Franco e Renato Soleiman Franco ‑ baseado no processo de validação
dos OSCEs do artigo: Franco et al. (2015).

2) Quais itens geraram dúvida no preenchimento? 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS


3) Há itens extensos que precisariam ser desmem‑
brados? Apesar de o Checklist e a GRS serem modelos de es‑
4) Foi possível avaliar o objetivo do cenário com calas diferentes, a correlação entre eles é boa. A con‑
esse checklist? fiabilidade entre os avaliadores para ambos os tipos
5) O nível exigido é o adequado para os sujeitos de escala era similarmente elevada. As GRSs apre‑
em treinamento? sentam maior confiabilidade entre os itens e entre
6) Como foi o tempo para o preenchimento? as estações. Os valores de confiabilidade para am‑
7) Após isso, faz‑se uma checagem quanto à con‑ bos os modelos são menores para habilidades menos
cordância (sugestão – não realizar a checagem objetivas, como as de comunicação. Geralmente, os
da concordância antes de avaliar o construto de checklists são validados com base em opiniões de
uma forma global, como apresentado nos itens especialistas, já as GRS têm maior fundamento em
acima). modelos teóricos/referenciais (ILGEN et al., 2015).
8) Após a correção, pode‑se seguir uma nova ro‑ Um exemplo é a Avaliação Objetiva Estruturada de
dada de correções até que o checklist/GRS seja Habilidades Técnicas (OSATS), que tem sido mo‑
considerado adequado. dificada para diferentes propósitos, como descrito
Em avaliações que exigem alta fidelidade, como em um estudo Brasileiro por Barreto et al. (2019).
exames finais ou concursos, pode‑se realizar um Há autores que consideram os checklists melho‑
teste‑piloto. No teste‑piloto, além da reunião de res para discriminar eventuais dificuldades do es‑
consenso e dos passos realizados anteriormente, tudante em determinados comportamentos/habi‑
programa‑se com um grupo de cerca de 5 a 10 su‑ lidades, além de possibilitarem um feedback mais
jeitos (ou maior, conforme necessidade) a realiza‑ objetivo (ILGEN et al., 2015). Por outro lado, no pre‑
ção das estações/cenários com o preenchimento enchimento da GRS, nota‑se uma correlação maior
dos checklists/GRS. Como, geralmente, o número com o objetivo da estação. O foco não é na observa‑
de participantes no piloto é pequeno, uma análise ção de cada passo ou cada habilidade, mas sim em
qualitativa dos preenchimentos é mais apropriada. alcançar o resultado de uma forma global. Não ra‑

Avaliação com o uso de Checklists e Escalas de Avaliação Global 203


ramente, os estudantes conseguem fazer isso por sejam inseridos, após os itens dos checklists, itens
vias não previamente determinadas e que, portanto, de avaliação global. O essencial é alinhar o modelo
não estariam no checklist (WALZAK et al., 2015). de instrumento desenvolvido com os objetivos de
Por outro lado, tem sido mais fácil o balizamento aprendizagem e com as razões pelas quais deci‑
dos checklists do que das avaliações globais, lem‑ diu utilizar o instrumento (por exemplo, para fe‑
brando que avaliadores menos experientes prefe‑ edback, para avaliação de um caso longo, para um
rem os checklists (SEO; THOMAS, USPAL, 2019). OSCE, entre outros). A partir disso, podem‑se fa‑
Fica claro que GRS e checklists têm seus pon‑ zer avaliações e análises psicométricas em testes‑pi‑
tos positivos e negativos. Na prática, sugerimos que loto e após seu uso.

REFERÊNCIAS

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defined learning objectives. The Journal of Education MedEdPORTAL – The Journal of Teaching and Learning
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204 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


CA P Í T UL O 14

O uso de Feedback e Debriefing


na Simulação

205
Renato Soleiman Franco
Psiquiatra
Professor Adjunto ‑ Curso de
Medicina da PUCPR
Coordenador do Programa de
Residência Médica em Psiquiatria
da Prefeitura Municipal de
Curitiba, SMS/FEAS.

Camila Ament Giuliani


dos Santos Franco
Médica de Família e Comunidade
Professora Adjunta ‑ Curso de
Medicina ‑ PUCPR
Professora no Curso de Medicina
nas Faculdades Pequeno
Príncipe, Curitiba, PR.
Preceptora responsável pela
disciplina de Comunicação
Clínica na Residência Médica em
Medicina de Família e Comunidade ‑
Residência Integrada, Curitiba, PR.

1. OBJETIVOS DO CAPÍTULO

O feedback e o debriefing são elementos essen‑ Em 1980, um artigo publicado no NEJM por
ciais para que uma simulação consiga estimular a Eichna (1980) sobre a educação médica entre os
aprendizagem e o desenvolvimento de competên‑ anos 1975 e 1979, nos EUA, destaca que muitos es‑
cias. Neste capítulo, o feedback e o debriefing se‑ tudantes passavam pelo curso de medicina sem te‑
rão contextualizados no panorama da simulação. rem sido observados e, por conseguinte, sem rece‑
Serão apresentados conceitos e discutidos a apli‑ ber uma devolutiva ou avaliação de sua performance
cabilidade, os modelos e os requisitos para a reali‑ (EICHNA, 1980). Três anos após, Jack Ende (1983)
zação de feedback e debriefing de forma adequada. faz uma revisão sobre a importância do feedback
em Educação Médica. Já nessa data, propõem uma
linha guia para orientar o feedback nas escolas mé‑
2. FEEDBACK EM EDUCAÇÃO MÉDICA – UM BREVE dicas (Tabela 1) (ENDE, 1983).
HISTÓRICO Assim, há quase 40 anos, o feedback em
Educação Médica já tem seu objetivo e suas dire‑
Há quase 40 anos, foram propostos os objetivos e trizes propostas:
as diretrizes do feedback. Ele visa apresentar e es‑ • Apresentar e clarificar as falhas e aquilo que
clarecer as falhas e os pontos positivos com o ob‑ está sendo bem feito com o objetivo de “melho‑
jetivo de melhorar a performance. rar a performance” – hoje em dia – “qualidade

206 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Tabela 1 – Guia para um feedback adequado, baseado em Ende (1983) (2)

Sugestões para um feedback efetivo: O que fazer?


Os professores/tutores devem esclarecer os
1) Os professores (que realizarão o feedback) e
objetivos, que devem fazer sentido para os alunos
estudantes (que receberão o feedback) devem estar
e estar inseridos dentro de um contexto de
alinhados e com objetivos em comum
aprendizagem claro.
É importante avisar os estudantes qual o momento
2) Deve ser oportuno e esperado em que receberão feedback, quem fará o feedback e
quem estará presente.
Focar o feedback no que foi observado e não em
3) Baseado naquilo que é observado, apresentado explicações ou teorias que tentem analisar o
pelo professor/tutor em uma linguagem descritiva comportamento. Descrever o comportamento de
forma clara e objetiva.
Além de focar no comportamento observado, defina
4) Deve ser adequado em quantidade e limitado a uma lista de prioridades, pois há um limite para
comportamentos que sejam remediáveis recepção do feedback. Considerar a tolerância do
grupo quanto a receber feedback.
Não se devem inferir comportamentos em outros
5) Lidar com desempenhos específicos, não com
cenários e até mesmo na prática real no momento
generalizações. Trabalhar a partir de decisões
do feedback. Não generalizar, deve ficar claro que
e ações, em vez de intenções assumidas ou de
isso foi observado em determinado contexto e nesse
interpretações
momento.
Alguns dados podem ser mais subjetivos, como
impressões, reações não verbais, entre outros.
7) Oferecer dados subjetivos, mas que devem ser
Isso deve ser checado com os participantes e ficar
apresentados e discutidos como tal
claro que é uma impressão subjetiva. Deve‑se estar
sempre aberto para rever essas impressões.

*Tabela elaborada pelos autores com base em um modelo para feedback (2).

e segurança”. Notem! É quase que o mesmo ob‑ Ao dar qualquer retorno ao estudante, é essencial
jetivo da simulação!!! que os professores façam o exercício de perceber as
Atualmente, além da melhoria da qualidade e necessidades e aquilo que cada estudante é capaz
segurança, o feedback eficaz sobre o desempenho de receber. Assim, podemos dizer que o feedback
é considerado parte integrante do treinamento clí‑ deve ser centrado no estudante, nas suas necessi‑
nico e deve: dades e possibilidades, e ser realizado com atenção
• Permitir que o estudante (residente, médico e compaixão por parte do professor.
ou qualquer outro profissional) reflita criti‑ Todos poderiam se beneficiar de receber feed‑
camente sobre seu desenvolvimento. back, entretanto o feedback nem sempre é conside‑
Assim, pode parecer redundante, mas deve ficar rado bem‑sucedido ou benéfico (VAN DER LEEUW;
claro que, apesar de informar (postura passiva), o SLOOTWEG, 2013). Alguns estudos mostram uma
principal objetivo do feedback é promover a refle‑ piora na performance com uso de feedback, em es‑
xão do estudante (postura ativa) sobre o que está pecial, feedbacks massivos após todos os eventos.
fazendo. Para fornecer um feedback eficaz, preci‑ Para minimizar esse insucesso, devemos ter muito
samos levar em conta: 1) o desempenho em si; 2) o claro que o objetivo é mostrar de uma forma efe‑
cenário em que o feedback é oferecido, e 3) os re‑ tiva o que foi feito e o que poderia ser melhorado.
sultados esperados do encontro (ISKANDER, 2015). Para isso, aquele que realiza (ou fornece) o feed‑
Para que o feedback tenha um efeito significativo na back deve conseguir adaptá‑lo não somente aos ce‑
aprendizagem, os professores precisam desenvol‑ nários, objetivos e resultados esperados, mas para
ver a sensibilidade e estarem atentos ao estudante. cada pessoa avaliada.

O uso de Feedback e Debriefing na Simulação 207


Dica n.º 1: O feedback deve ser feedback e realizem a avaliação com cuidado e res‑
adaptado para aquele que o recebe. peito (vale a pena sempre repetir isso). O ambiente
Devemos promover uma discussão que deve prezar pela segurança, em especial emocional,
faça sentido e de uma forma que promova dos participantes e todos os envolvidos. Essas estra‑
diálogo e reflexão. Assim, devemos lidar tégias devem ser avaliadas quanto a sua qualidade e
com a resistência e as dificuldades tanto aplicabilidade. Assim, por exemplo, tanto os SP, os
daquele que recebe quanto daquele que observadores/avaliadores, os pares e demais parti‑
fornece o feedback. cipantes podem participar do feedback.
Como o feedback é realizado a partir de cená‑
rios ou situações elaboradas para fins específicos, é
possível que os professores previamente elaborem
Conceito‑chave: Feedback em
instrumentos de avaliação. Esses instrumentos po‑
Educação Médica – Objetivo final:
dem ser escalas mais gerais ou conter itens especí‑
melhoria da qualidade, melhoria da
ficos, como em escalas do tipo Likert (a construção
segurança do paciente/profissional e
desses instrumentos será detalhada no capítulo so‑
desenvolvimento de uma autoavaliação
bre escalas e checklists). Os professores podem ter
que seja crítica, reflexiva e ativa.
esses instrumentos consigo, assim como os obser‑
vadores e, ao final ou antes do começo, os próprios
estudantes. Para isso, é essencial desenvolver ins‑
3. QUEM REALIZA O FEEDBACK EM SIMULAÇÃO?
trumentos de avaliação que possam ser facilmente
compreendidos e utilizados como guia. É impor‑
A aplicação do feedback em simulação é ampla e, tante que os objetivos de aprendizagem e os itens a
por ser realizada por pacientes estandardizados serem avaliados sejam compreendidos por todos os
(Standardized Patient – sigla do inglês, SP), incluindo envolvidos na avaliação e no feedback. Entretanto,
atores e pacientes experts (BOKKEN et al., 2009), o feedback não deve se restringir aos guias. Esses
pares (estudantes ou profissionais no mesmo nível/ guias frequentemente não abrangem toda a com‑
nível semelhante de treinamento)(CUSHING et al., plexidade de um cenário e é essencial que os avalia‑
2011), professores/instrutores, gestores, entre ou‑ dores estejam atentos a isso. Além disso, todo com‑
tros, ou seja, há uma grande variedade se possi‑ portamento é somente a ponta de um iceberg, tudo
bilidades. Alguns autores desencorajam que seja o que está por baixo só pode se tornar evidente num
realizado feedback por pessoas que não estive‑ processo de feedback que envolva o diálogo cuida‑
ram envolvidas na avaliação (formativa ou soma‑ doso entre estudantes e professores.
tiva), na qual foram obtidas as informações sobre Por exemplo, através da “gap analysis – análise
o desempenho. de lacunas”, há uma comparação entre as pontua‑
A formação em técnicas de feedback é essen‑ ções globais obtidas de um grupo de avaliadores e
cial para o sucesso das atividades que envolvem as autoavaliações dos participantes. Assim, os ava‑
essa prática (BOKKEN et al., 2009). O feedback liadores realizam sua avaliação, checam com a au‑
por múltiplos avaliadores, apesar de envolver um toavaliação dos participantes e, dessa forma, faz‑se
maior treinamento da equipe e uma maior discus‑ uma discussão com o enfoque naquilo que foi mais
são entre os envolvidos quanto aos resultados es‑ divergente. Isso pode ser um começo para a discus‑
perados, parece trazer um benefício superior para são e o feedback, mas ficar somente nisso pode re‑
aprendizagem (JOSHI; LING; JAEGER, 2004; duzir o processo a um encontro impessoal e que não
LAMIANI et al., 2011). se aprofunda nas raízes das dificuldades ou dos po‑
tenciais encontrados.
Dica n.º 2: Quem poderá fornecer
o feedback? Todos os envolvidos no
processo da simulação – no entanto, 4. FEEDBACK – QUANDO REALIZAR?
devem ter treinamento ou, no mínimo,
serem apresentados às regras de um Considera‑se que o melhor momento para realizar
feedback adequado. o feedback é o mais próximo possível de quando foi
realizada a atividade de simulação. Uma vez que o
Deve‑se tomar cuidado para que todos os envol‑ feedback é a análise da performance do trainee, ele
vidos no feedback recebam algum treinamento em pode ser realizado tanto durante o debriefing (aqui,

208 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


a proximidade conceitual com o debriefing é muito as etapas ou preceitos elaborados pelo avaliador. É
grande) quanto em outros momentos. possível que os estudantes realizem atividades de
Há possibilidade de o feedback ser mais dire‑ forma competente de maneiras diferentes daquelas
tivo, sendo fornecido aos estudantes sem necessa‑ que foram previstas. É evidente que os meios para
riamente ser realizado debriefing ou uma discus‑ os resultados são importantes e não podem fugir
são mais aprofundada. Para o debriefing, é essencial daquilo que seria adequado, mas o avaliador deve
que os participantes descrevam o que aconteceu, considerar essas inúmeras possibilidades de que o
apontem aquilo que aconteceu durante a cena para estudante pode lançar mão.
iniciar o processo do debriefing. No caso do feed‑
back, poderia ser uma devolutiva mais pontual so‑ Dica n.º 3: O feedback pode acontecer
bre determinado comportamento ou performance. em diversas etapas da simulação.
Assim, por exemplo, um SP após uma simulação
pode se reunir com o trainee ou com a equipe que
realizou a performance e apresentar as lacunas de
desempenho e as sugestões de melhoria. Ou, em
5. FEEDBACK – MODELOS ESTRUTURADOS
outro caso, durante a própria simulação, o obser‑
vador intervém mostrando o que e como deve ser
feito; após isso, o aprendiz realiza a atividade no‑ O feedback pode mostrar desde uma forma com
vamente e continua o cenário. Ou mesmo após a maior estruturação até uma forma com menor es‑
simulação, um profissional mais treinado faz o fe‑ truturação. Um método estruturado de feedback
edback do que aconteceu e como deveria ter acon‑ em simulação foi realizado por Pfeiffer et al. (2005)
tecido, mostrando sua técnica. (Figura 1). Aqui fica claro que o modelo é com foco
Quando o feedback não se foca no próprio mo‑ na performance e no treinamento de performance
vimento (internal‑focus feedback) mas em seu re‑ e não tanto na discussão e na reflexão. Pode ser
sultado, a melhora é significativamente maior. Esses utilizado durante a simulação (um modelo espe‑
estudos de “external‑focus feedback” têm orientado cífico para o feedback durante a simulação – “cor‑
cada vez mais para a importância de se avaliar o im‑ retivo” será apresentado a seguir) ou após o tér‑
pacto do feedback e o modelo instrutivo utilizado mino da mesma.
(WULF et al., 2010). Apesar de as experiências em Outro método para realizar o feedback é
educação médica serem restritas, as experiências o Ask‑Tell‑Ask – Pergunte‑Conte‑Pergunte
com o foco atencional do feedback (interno vs. ex‑ (FRENCH et al., 2015). Nele, inicialmente, é soli‑
terno)(STURMBERG et al., 2013) podem trazer citada a autoavaliação do estudante/trainee. Após
novas perspectivas e modelos mais eficazes de fe‑ ouvir atentamente e reconhecer a opinião do estu‑
edback. Parece ser mais importante avaliar o resul‑ dante/trainee (sugerimos que o avaliador anote o
tado do que foi feito do que se a forma seguiu todas que é dito na autoavaliação), o avaliador apresenta/

Figura 1 – Modelo Estruturado de Feedback ‑ Foco em Performance (Pfeiffer, 2005).

O uso de Feedback e Debriefing na Simulação 209


conta o que observou; geralmente, começa com um Dica n.º 4: Comece o feedback
ponto positivo/algo que foi bem realizado e pon‑ perguntando. Os dois modelos sugerem
tua o que poderia ter sido melhorado, na sua visão. isso – não utilizamos isso somente no
Pergunta novamente o que o estudante/trainee feedback‑minuto.
avalia dessa nova informação. Após a resposta do
estudante/trainee, o avaliador apresenta de forma Feedback‑minuto: No contexto da simulação, o
objetiva e clara como o comportamento ou a ha‑ feedback pode ser usado numa variedade de contex‑
bilidade desejada pode ser alcançada. Nesse mo‑ tos, como, por exemplo, durante os Exames Clínicos
mento, pode pedir mais uma autoavaliação sobre Estruturados Objetivos (OSCE – do inglês). O tempo
outro ponto observado ou promover uma discus‑ para o feedback é um importante limitador para
são com destaque aos pontos que são relevantes ao o tipo de feedback realizado. Baseados na expe‑
estudante. Além disso, o avaliador apresenta e/ou riência em “One Minute Preceptor” – Preceptor
negocia algumas estratégias de aprendizagem para Minuto, os autores deste capítulo realizaram o que
que o resultado seja obtido. (Tabela 2). chamam de Feedback‑ Minuto. É evidente que isso

Tabela 2 – Modelo: Pergunte‑Conte‑Pergunte Tabela adaptada pelos autores ‑ Foco Reflexão, adaptado pelos autores

Fase Descrição Sugestões


a autoavaliação do estudante/ Agradecer, reconhecer e abordar
Pergunte:
trainee. as preocupações do estudante
atentamente/anote a percepção
Escute:
do estudante/trainee.
a autoavaliação do estudante e
Reconheça: o que observou considerando a
autoavaliação do estudante.
novamente o que o estudante/
Conte: trainee avalia dessa nova
informação.
atentamente/anote a percepção Aborde no máximo 1 a 2
Pergunte:
do estudante/trainee. habilidades para melhoria
a nova autoavaliação do
Escute:
estudante.
de forma objetiva e clara como o
Reconheça: comportamento ou a habilidade
desejada pode ser alcançada.
Conte:
sobre a compreensão do
Apresentar as propostas de
estudante sobre o processo,
Pergunte: forma clara, objetiva, e verificar a
as dúvidas ou até mesmo as
compreensão do estudante
sugestões.
sua avaliação do processo – ao
final, pode discutir um plano
de aprendizagem – como o
Conte/Encerre:
estudante vai alcançar o que
foi identificado que precisa
aprimorar.

210 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


pode modificar o desempenho do estudante/trai‑ estudante ou trainee uma informação mais clara
nee, mas parece ter uma boa aceitação pelos estu‑ sobre a performance. Assim, por exemplo, atra‑
dantes e é simples de ser realizado. Acreditamos vés de um recurso visual, pode‑se mostrar algo
que ele não exclui a importância do debriefing ou que, através de um checklist ou pela fala do ob‑
de um feedback mais detalhado. Na nossa experiên‑ servador, não seria possível. Como, por exemplo,
cia, logo depois de uma estação de OSCE, o observa‑ no caso do observador/facilitador ter notado um
dor lia o checklist e descrevia sumariamente (lendo momento em que a comunicação entre dois pro‑
o chekclist) o que foi observado (FRANCO et al., fissionais tornou‑se agressiva e, a partir de então,
2015). Dessa forma mesmo e simples assim... Leitura a equipe começou a brigar e não cooperar. Ao re‑
do checklist e descrição do que o estudante reali‑ latar isso no debriefing, o líder da equipe, que re‑
zou e o que não realizou. alizou a simulação, não reconhece e nem se lem‑
bra do evento. Mostrar isso em um vídeo poderia
ser benéfico e esclarecedor.
6. FEEDBACK DURANTE A SIMULAÇÃO Modelos de feedback utilizando o vídeo têm
sido aplicados, mas o princípio de potencializa‑
O feedback que ocorre durante a simulação tem sido ção deve ser seguido. Caso o vídeo não acrescente
chamado de Feedback Focal e Corretivo (Focused informação ou seja dispensável, não deve ser uti‑
and Corretive Feedback) e tem sido usado na sua lizado. Caso se opte por utilizá‑lo, deve‑se ter em
maior parte para treino de habilidades (KIM et al., mente que essa estratégia demanda tempo e tec‑
2017), mas pode também ser utilizado para cor‑ nologia de qualidade, e que muitas vezes desvia a
reção das habilidades de comunicação e atitudes. atenção do feedback.
É importante que seja avisado para os partici‑ O uso do vídeo pode acontecer no momento
pantes, durante o briefing, que isso poderá aconte‑ do feedback quando o observador/avaliador
cer. Na maioria das experiências, ele é focal e cir‑ apresenta seu ponto de vista ou considerações.
cunscrito à realização da técnica, sendo a discussão Assim, faz essa etapa de forma guiada. Para isso,
sobre o que foi feito realizada no debriefing. é importante ter anotado o tempo exato da gra‑
Os outros modelos de feedback apresentados vação em que o ponto avaliado aconteceu, o que
até aqui também podem ser feitos durante a simu‑ muitas vezes demanda a presença de um técnico
lação, mas o modelo “corretivo”, mais comumente que auxilie nisso.
usado, segue as etapas: O uso do vídeo pode ser utilizado também para
1) Identificação da situação (pelo examinador/ autoavaliação e feedback por pares em atividades
observador/participante); de treinamento, nas quais, guiados por instrumen‑
2) Realização do procedimento/intervenção da tos, os estudantes avaliam sua performance e, em
forma desejada pelo examinador/observador; alguns experimentos, repetem aquilo que foi rea‑
3) Continuação da simulação. lizado (PHILLIPS et al., 2017). Isso é uma espécie
Esse tipo de feedback é tido como “corretivo”, de feedback autoguiado que é facilitado por vídeo e
ou seja, o observador/avaliador demonstra e/ou ex‑ seria muito difícil de ser realizado sem o uso deste.
plica o que deveria ser feito. Apesar de ser utilizado, O feedback pode ainda ser realizado de forma ver‑
o feedback durante a simulação parece ser me‑ bal ou escrita, em meio eletrônico ou físico, indivi‑
nos efetivo do que aquele feito após (por exemplo, dualmente ou na presença do grupo.
debriefing), em especial para aprendizes novatos
como os estudantes da graduação (HATALA et al., Dica n.º 5: Para usar a tecnologia
2014). de apoio no feedback, é preciso tempo
e, possivelmente, auxílio para editar e
passar somente as sequências de vídeo
7. FEEDBACK – POTENCIALIZAÇÃO – USO DE necessárias. O vídeo com a gravação pode
TECNOLOGIAS ser utilizado quando o professor/tutor
apresenta aquilo que observou.
Além do direcionamento do feedback, há possi‑
bilidade de potencialização do feedback com re‑
cursos voltados para os diferentes sentidos, como, 7.1. FEEDBACK – COMUNICAÇÃO E EMOÇÕES
por exemplo, visão, audição e tato (SIGRIST et al., Os diversos elementos de competência médica, in‑
2013). O objetivo dessas estratégias é apresentar ao cluindo habilidades procedimentais, atitudes e co‑

O uso de Feedback e Debriefing na Simulação 211


municação, podem integrar a simulação e receber Nesses cenários, assim como no debriefing com
qualquer um dos modelos de feedback apresenta‑ foco nas emoções, é de grande valia a contribuição
dos. No entanto, há algumas estratégias específicas de atores. O feedback dos atores nesses casos é en‑
para determinadas situações de feedback. riquecedor; no entanto, deve‑se promover treina‑
Lidar com as próprias emoções é uma necessi‑ mento para esses atores para um feedback efetivo
dade diária na prática clínica em diversos ambien‑ e cuidadoso.
tes de atuação dos profissionais de saúde. As emo‑ Apresentamos diversas formas de Feedback em
ções despertadas pelo caso, em geral, acontecem simulação e algumas bases conceituais sobre como
durante o debriefing. esse retorno pode ser feito. Em simulação, a di‑
A preparação do caso deve contemplar cená‑ ferença entre feedback e debriefing não é muito
rios e situações que revelem aquilo que se deseja clara, mas há alguns elementos que aproximam es‑
discutir, como, por exemplo, a angústia causada em ses dois conceitos e outros elementos que os afas‑
uma comunicação de óbito ou a tensão em uma co‑ tam. Por ora, apresentamos primeiro o Feedback por
municação de má notícia, entre outros. A situação ser um termo mais geral em Educação em Saúde e
precisa incluir a complexidade das relações e da que guiou muito do que se faz no Debriefing, que
prática em saúde, mostrando a fragilidade dos pa‑ não deixa de ser um retorno (feedback) feito ao fi‑
cientes, dos profissionais e as dificuldades que a nal da simulação.
equipe enfrenta ao realizar escolhas ou determina‑
dos tratamentos. As reflexões, como, por exemplo,
“que médico eu gostaria de ser” ou “que medicina 8. DEBRIEFING
eu gostaria de praticar” frente a situações comple‑
xas e desafiadoras ajudam a reflexão frente a essas A simulação começa antes mesmo da apresentação
situações (SCHWELLER et al., 2018). do cenário e dos objetivos da atividade aos parti‑
O observador/avaliador deve reconhecer que o cipantes. Assim, antes do debrifieng, é importante
feedback focado nas emoções pode levar mais tempo contextualizar outras etapas, como pré‑briefing e
e, muitas vezes, além de opiniões e pontos de vista, briefing.
podem ser discutidos valores e atitudes. Deve‑se ter
muito cuidado para considerar a complexidade das 8.1. CONTEXTUALIZAÇÃO E DEFINIÇÃO DO
situações e não perder o foco de que a discussão BRIEFING
está baseada no comportamento observado e não O briefing em simulação pode ser definido como o
no julgamento pessoal do estudante/trainee. As re‑ momento em que as informações relativas às ativi‑
flexões ultrapassam o caso e a simulação, e devem dades de simulação são transmitidas aos estudan‑
ser compreendidas como tal. Sensibilidade, cautela, tes e/ou aos facilitadores, para que haja uma maior
treinamento e ambiente seguro são essenciais para compreensão do que acontecerá durante a experiên‑
que esse tipo de feedback aconteça. cia. O briefing pode ser descrito como um processo
Apesar de a comunicação ser tratada muitas ve‑ de três fases: pré‑briefing, orientações e briefing do
zes como uma competência ou habilidade “não‑téc‑ cenário (ORIOT; ALINIER, 2018). Um briefing efi‑
nica”, há diversas referências técnicas e teóricas caz no início da sessão de simulação destina‑se a
que embasam determinados modelos ou teorias evitar complicações durante toda a simulação, in‑
de comunicação. cluindo o debriefing (BOET et al., 2014). Ao elabo‑
Assim, a comunicação pode envolver diver‑ rar o cenário, deve‑se ter clareza de quais elemen‑
sos aspectos, como Liderança, Comunicação tos de competência serão trabalhados. A simulação
Interprofissional e Comunicação Clínica com o e seu objetivo podem envolver prioritariamente ha‑
paciente (FRANCO et al., 2018). Cada um desses bilidades e decisão clínica, comportamentos, atitu‑
domínios da comunicação tem referenciais espe‑ des, comunicação interpessoal, entre outros. Isso
cíficos e modelos para serem adotados como de‑ deve ser esclarecido para os participantes desde o
sejados na performance do profissional. Por vezes, briefing. Muitas vezes, os observadores/avaliado‑
é difícil que o estudante/trainee que realizou a si‑ res têm o desejo de inserir diversos elementos de
mulação tenha uma ideia clara da maneira como competência, no entanto é essencial considerar as
se comunica. Nesses casos, pode‑se utilizar o ví‑ limitações dos participantes e do próprio cenário.
deo como uma ferramenta para esclarecer as ati‑ Note‑se que, muitas vezes, temos de focar em um
tudes, linguagens não verbais, a comunicação ver‑ dos elementos de competência e restringir nos‑
bal, entre outros. sos objetivos.

212 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Dica n.º 6: Defina o objetivo do cenário Dica n.º 7: Na etapa do pré‑briefing,
− saiba quem são seus facilitadores, o objetivo é a preparação do grupo,
participantes e o que terá à sua com destaque aos OBJETIVOS
disposição. Utilize uma linguagem de fácil daquela simulação, e a criação de um
compreensão para informar aos envolvidos ambiente seguro e de confiança entre os
na simulação o que acontecerá naquele participantes. A explicação adequada de
dia. Se achar necessário, pode preparar um como será toda simulação está relacionada
material impresso ou audiovisual. a melhores resultados, pois estimula o
julgamento crítico, diminui o estresse e
aumenta os processos reflexivos, tornando
8.2. A PRIMEIRA FASE DO BRIEFING: PRÉ‑BRIEFING os estudantes ativos no seu processo de
Nessa fase, os anseios e as dúvidas dos participan‑ aprendizagem (SHAROFF, 2015).
tes em relação a todo processo da simulação de‑
vem ser conhecidos e abordados. É importante,
nessa fase, perceber as angústias e ansiedades, pois 8.3. A SEGUNDA FASE DO BRIEFING: FASE DE
é muito frequente que o estudante tenha medo de ORIENTAÇÃO DO AMBIENTE, DO EQUIPAMENTO E
julgamento, crítica, erro, entre outros. Portanto, é DA TECNOLOGIA DE SIMULAÇÃO
essencial que a confidencialidade e o respeito en‑ Devem‑se fornecer todas as informações necessá‑
tre os participantes e facilitadores sejam estimu‑ rias para que o participante se localize dentro do
lados. Construir um ambiente de aprendizagem cenário, bem como devem ficar claras todas as fun‑
seguro para os seus participantes é fundamental cionalidades do ambiente que fogem ao esperado.
((KOLBE; GRANDE; SPAHN, 2015) É importante informar se há algum outro suporte,
No dia a dia da simulação, é no pré‑briefing que como, por exemplo, telefone ou equipe de resgate.
se deve: Devem ser descritas todas as características do si‑
1) fornecer informações gerais sobre o que é es‑ mulador, informando as suas limitações e suas ca‑
perado quanto à aprendizagem; racterísticas mais reais. Deve ficar claro para os
2) informar se, durante a simulação, podem pedir participantes o que é possível e o que não é possí‑
ajuda ou se os observadores/avaliadores darão fe‑ vel avaliar nos simuladores/manequins/ pacientes
edback (há casos nos quais o observador/avalia‑ simulados (ORIOT; ALINIER, 2018).
dor pode realizar feedback durante a simulação);
3) indicar quem irá participar do cenário e, mui‑ Dica n.º 8: Esclareça sobre o cenário e
tas vezes, deixar que os participantes explorem seus recursos. Caso houver dúvidas sobre
o cenário; a tecnologia ou o funcionamento dos
4) informar o que deve ser efetivamente feito ou o equipamentos, elas devem ser sanadas.
que será somente informado sobre a sua execu‑
ção (por exemplo: retirar sangue e encaminhar
para cultura – isso pode ser somente informado 8.3. A TERCEIRA FASE DO BRIEFING: BRIEFING DO
– “Estou aqui retirando o sangue” – ou pode ser CENÁRIO
realizado em um modelo); Nesta fase, o cenário é explicado e são apresentados
5) informar qual o comportamento esperado; os papéis dos facilitadores e atores. Os aprendizes
6) especificar quais as limitações do cenário; devem ser orientados se haverá mais de um cená‑
7) se, no caso, o paciente pode morrer ou não, de‑ rio e mais de um papel para o participante (ORIOT;
pendendo da ação do participante, ou se o pa‑ ALINIER, 2018).
ciente, em nenhuma circunstância, irá morrer; Nessa fase, serão apresentados a situação, o con‑
8) informar quanto ao sinal específico para o tér‑ texto, o ambiente e o tempo, e serão esclarecidas as
mino do cenário; dúvidas antes de iniciar a performance da simula‑
9) orientar para que os participantes, assim que ção. O adequado briefing resulta em simulações com
terminarem a simulação, se dirijam para o de‑ melhores resultados de aprendizagem. Os estudan‑
briefing (usualmente não devem conversar ou tes que compreendem adequadamente o briefing
discutir após o término – reservar esse espaço diminuem a ansiedade para a realização tanto da
ao debriefing) (ORIOT; ALINIER, 2018); simulação quanto do debriefing (SHAROFF, 2015).
10) informar como ocorrerá o debriefing e quem Assim, o cenário é apresentado, bem como o que
participará. é esperado e os papéis de todos os envolvidos. Caso

O uso de Feedback e Debriefing na Simulação 213


haja tempo delimitado, este deve ser previamente debriefing depende do modelo utilizado pelo faci‑
informado. Somente deve‑se passar para perfor‑ litador e/ou objetivos de aprendizagem). Pode ser
mance do cenário se os participantes tiverem com‑ coordenado por um observador/facilitador ou até
preendido o briefing. Após o briefing, a simulação mesmo ser autoguiado pelos participantes da si‑
começa; na prática, utilizamos algum aviso sonoro mulação, sendo a primeira opção a mais utilizada.
ou uma contagem regressiva que prepare os par‑ Assim, o debriefing é uma forma de análise, após
ticipantes. Ao terminar a simulação, haverá o de‑ determinada experiência (no caso, simulação), ava‑
briefing, etapa essencial da simulação. É a base para liando e integrando tudo o que foi aprendido a partir
fixação e correção dos comportamentos. Nos pró‑ de um modelo que torna os participantes conscien‑
ximos temas, serão descritos feedback e debriefing. tes tanto daquilo que experimentaram e aprende‑
Optamos por iniciar com o feedback por ser um con‑ ram, quanto dos seus esquemas de aprendizagem
ceito mais abrangente. Além disso, mesmo durante (GARDNER, 2013).
a simulação, pode acontecer feedback; já para o de‑ Entre os principais objetivos do debriefing, po‑
briefing, a performance da simulação deve ter ter‑ demos citar: facilitar reflexão, aprendizagem, con‑
minado. Mas isso é assunto para o próximo tema. ceptualização e contextualização entre a simulação
e a prática real em ambiente de trabalho (não simu‑
Dica n.º 9: Faça um teste da explicação lado) (SO et al., 2019).
da situação clínica. Reúna um grupo de
estudantes ou professores que não irá Dica n.º 10: É essencial, muito
participar e treine o briefing. É muito importante, crucial − para não dizer,
importante que esteja tudo muito claro. elementar − que o debriefing inclua
a análise da situação, não somente
da performance! Imagine que o
debriefing teve como inspiração as
atividades militares. Era preciso que os
9 ‑ HISTÓRICO DO DEBRIEFING
participantes avaliassem não somente sua
performance/desempenho, mas a situação
Um dos precursores do debriefing na Educação em como um todo. Por isso, a descrição da
Saúde foi o seu uso em atividades militares, quando situação é uma etapa fundamental do
os participantes retornavam de uma determinada debriefing, enquanto, no feedback, ela não
missão e se reuniam para discuti‑la. Essa discussão é obrigatória.
militar teria três objetivos principais:
1) educacional (aprendizagem);
2) operacional (programação de ações futuras e 9.2. SIMULAÇÃO, FEEDBACK E DEBRIEFING
continuidade da missão), e Os termos feedback e debriefing se confundem em
3) função terapêutica – psicológica. vários artigos. Consideramos e reconhecemos que
Nesse último objetivo, os participantes recons‑ feedback é um termo anterior ao debriefing em edu‑
truíam a missão (o que aconteceu), os significados cação médica, bem como que é aplicado a variados
para cada um dos envolvidos e compartilhavam suas ambientes e em cada um poderá ter sua definição/
impressões − construções cognitivas − para um alí‑ aplicação adaptada. Aqui, no contexto da simula‑
vio psicológico (FANNING; GABA, 2007). ção, trataremos do feedback como o ato instrucional
de dar a devolutiva ao trainee quanto a sua perfor‑
9.1. DEFINIÇÃO E OBJETIVO DO DEBRIEFING mance, desempenho, habilidade, atitude ou outros
Ao caracterizar o debriefing, Cheng et al. (2014) des‑ elementos de aprendizagem (MAIA et al., 2018).
tacam que, no campo da educação, em especial da Assim, o feedback pode acontecer associado a um
educação em saúde, o debriefing pode ser conside‑ debriefing ou até mesmo ser realizado durante ou
rado como uma técnica específica de feedback. Os mesmo após a simulação em momentos outros que
autores propõem, para o uso do termo debriefing em o debriefing. No entanto, ambos, feedback ou de‑
simulação, como um processo interativo, bidirecio‑ briefing, exigem que o professor/facilitador tenha
nal e reflexivo de discussão (CHENG et al., 2014). muito cuidado, atenção e atitude compassiva em
O debriefing ocorre na sequência da perfor‑ relação ao estudante/trainee e devem ser realiza‑
mance da simulação, com a reunião dos partici‑ dos de acordo com a necessidade do estudante e a
pantes (em situações com SP − a presença deles no sua receptividade.

214 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Mais importante do que definir ou categori‑ os primeiros momentos da simulação, até mesmo
zar esse entrelaçamento de conceitos é compre‑ antes da performance, desde o pré‑briefing. O local
ender ou discutir os possíveis motivos para isso. onde será realizado e os participantes do debriefing
O feedback é tido como um elemento central e as‑ podem variar. Em geral, é preferível que seja reali‑
pecto essencial para o aprendizado, em especial, zado no ambiente onde foi praticada a simulação,
no aprendizado baseado ou apoiado pela simulação mas pode ser realizado em outro ambiente. Muitas
(MCGAGHIE et al., 2010). Por exemplo, em uma vezes, há observadores externos, que não partici‑
revisão sobre a Educação Baseada em Simulação param diretamente da performance. Esses obser‑
(SBE – Simulation Based Medicine) de 2010, os vadores podem presenciar o debriefing ou podem
termos feedback e debriefing aparecem em algu‑ também observar a partir de sala de espelho ou por
mas frases como sinônimos (“feedback or debrie‑ transmissão de vídeo. Apesar de o uso do vídeo tra‑
fing...”) (MCGAGHIE et al., 2010). zer alguns benefícios, muitas vezes, não há diferença
entre o debriefing assistido por vídeo ou não. Ambos
9.3. O QUE PODE DIFERENCIAR UM FEEDBACK DO têm impacto na melhora da performance, mas sem
DEBRIEFING? diferença significativa entre eles, em algumas situ‑
O debriefing seria a troca entre os participantes de ações (LEVETT‑JONES; LAPKIN, 2012).
uma simulação ou determinado evento com um ava‑ Com a participação de observadores externos
liador ou observador, que acontece após a simula‑ (não participaram diretamente da simulação nem
ção. Essa diferença foi importante no trabalho que fazem parte da equipe dos facilitadores/tutores/
Cheng et al. (2014) realizaram, pois puderam com‑ avaliadores/instrutores), deve‑se prezar ainda mais
parar modelos em que houve trocas (debriefing) pela segurança, pelo respeito e pelo bem‑estar dos
com aqueles mais diretivos, como vídeo‑feedback ou participantes.
feedback (CHENG et al., 2014). Assim, Cheng et al. O facilitador deve primeiro se dirigir aos parti‑
utilizam o feedback para eventos mais diretivos. As cipantes, iniciar o processo de debriefing com eles
outras formas de feedback apresentadas que ocor‑ e, caso for decidido incluir os observadores com
rem após a simulação e envolvem a discussão e re‑
flexão do que aconteceu no ambiente simulado se‑
riam consideradas, por eles, debriefing.
Outra questão importante é que o feedback pode Partindo de um conceito mais global
ser realizado em qualquer momento da simulação. e universal de feedback em Educação
Os instrutores/professores podem, a qualquer etapa Médica, poderíamos dizer que: o debriefing
da simulação, oferecer o feedback com correção ou é um tipo específico de feedback, realizado
não do comportamento ou da habilidade. ao final de uma atividade (simulada ou
Concluímos, assim, que os termos se confundem não), na qual os participantes analisam
e se mesclam quanto aos objetivos e autores, mas há a situação como um todo, incluindo o
algumas características necessárias para se conside‑ desempenho dos participantes. Além disso,
rar uma “devolutiva” como feedback ou debriefing. há uma discussão com os outros envolvidos
na simulação (tutores, examinadores
Dica n.º 11: É amplamente aceito e instrutores – pode incluir outros
que o debriefing acontece APÓS A participantes também como observadores)
SIMULAÇÃO (logo após). Assim, é quase − que visa auxiliar na aprendizagem
consenso que as práticas que acontecem e no incremento das competências/
durante a simulação são feedback! habilidades/atitudes dos trainees
Os modelos de feedback que geram Por outro lado, há definições mais
discussão/reflexão entre os participantes categóricas em que o feedback é uma
e avaliadores descritos no capítulo de devolutiva ao trainee, focada em seu
feedback podem ser utilizados na etapa desempenho, com o objetivo de melhoria
do debriefing para sua estruturação. de suas competências/habilidades/atitudes.
Assim, as outras formas de devolutiva em
que há discussão e reflexão que ocorrem
9.4. O PROCESSO DO DEBRIEFING após uma situação com a equipe/indivíduo
Apesar de o debriefing ser um dos momentos finais participante são denominadas debriefing.
da simulação, ele tem sua preparação realizada desde

O uso de Feedback e Debriefing na Simulação 215


perguntas ou algum feedback, isso deve ser feito 1) Deve‑se manter um ambiente calmo e ordenado;
com cuidado e instrução de todos os envolvidos. 2) A discussão somente deve ser iniciada após to‑
A construção de um ambiente de segurança e dos estarem preparados; tanto para perguntas
confiança mútua, a apresentação dos objetivos de como para respostas aos questionamentos, de‑
aprendizagem e a apresentação dos cenários ocor‑ vem ser mantidos ordem e respeito pela fala de
rem antes da realização do debriefing, mas são es‑ cada um dos envolvidos;
senciais e praticamente formam um processo con‑ 3) Evitar julgamentos ou críticas aos participan‑
tínuo entre pré‑briefing e debriefing. Em especial, tes – preferir perguntas abertas para compre‑
os objetivos do debriefing devem ser bem claros ender e não julgar o que aconteceu;
para o instrutor/avaliador – é essencial, ao iniciar 4) Confidencialidade do que for discutido e
o debriefing, que esteja claro, para quem for facili‑ observado.
tar o debrieng, “o que são” e “quais são” os princi‑ As regras são simples e, apesar de serem apre‑
pais aspectos que precisam ser abordados. Em ge‑ sentadas mesmo antes de iniciar a simulação, pre‑
ral, dois elementos contribuem para definir sobre cisam ser reforçadas antes do início do debriefing.
o que será o debrienfing: os objetivos de aprendi‑
zagem e a performance (ORIOT; ALINIER, 2018).
No entanto, algum aspecto adicional pode surgir 10. MODELOS DE DEBRIEFING
e, se for relevante, precisará ser explorado. Além
disso, o tempo disponível é fundamental e deve‑se O debriefing é considerado um encontro no qual,
tentar ao máximo se ater ao cronograma determi‑ a partir de um facilitador, há reflexão baseada em
nado (Tabela 3). uma aprendizagem por experiência (experiential le-
arning episode) (19). Para Mort e Donahue (2004),
9.5. INICIANDO O DEBRIEFING o debriefing deve contemplar quatro elementos
As regras devem ser explicadas e além disso deve (4 “Es”‑ Eventos; Emoções; Empatia – pelos parti‑
ser verificado se houve compreensão por parte de cipantes e entre os participantes −, e Explicações)
todos os envolvidos na simulação sobre como será (MORT; DONAHUE, 2004) (Tabela 4).
todo o processo, em especial, do debriefing. De uma forma sintetizada, podemos conside‑
Regras para iniciar o Debriefing (ORIOT; rar três fases do debriefing: 1) Reação emocional
ALINIER, 2018) – Informa‑se aos participantes que: ‑ permitir que os participantes diminuam a ten‑

Tabela 3 – A preparação para o Debriefing começa no Briefing (pré‑briefing)

Objetivo da Simulação e do Debriefing / Uso ou não de tecnologia auxiliar


(vídeo/outros) / Definição e apresentação do local para o Debriefing /
Briefing
Apresentação de quem participará do Debriefing / Breve introdução do que será
feito após a simulação – ambiente seguro/respeito.
Quem for realizar o debriefing pode ter um instrumento com o desempenho
Durante a Simulação /
esperado, a avaliação global ou a escala Likert, anotar as informações
Performance
importantes – Muita atenção! Se houver mais de um facilitador, divida tarefas.
Debriefing Com toda a preparação anterior, a chance de sucesso é muito maior!

* Dos autores Renato Soleiman Franco e Camila Ament Giuliani dos Santos Franco.

Tabela 4 – Aspectos Gerais do Debriefing

Término do cenário Iniciar o debriefing no local indicado.


Informar as regras novamente (de uma forma mais rápida, pois já tinham sido
Iniciando o Debriefing
abordadas no Briefing)
Lembrar dos 4 Es. − Evento/Emoção/Empatia/Explicações − de Mort e Donahue
Durante o Debriefing
(2004).

* Dos autores Renato Soleiman Franco e Camila Ament Giuliani dos Santos Franco.

216 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


são (relaxamento) e verbalizem os sentimentos; talvez seja a que exige maior habilidade, pois nesta
2) Análise ‑ para descobrir o que aconteceu e por são destacadas três abordagens: 1) autoavaliação
quê, e 3) Generalização ‑ integrar a experiência de do estudante/trainee – promover reflexão pergun‑
simulação na prática clínica do mundo real para tando sobre a própria performance; 2) Facilitação
melhorar o desempenho (GARDEN et al., 2015). – explorar profundamente aspectos‑chave da per‑
Essas três fases devem fazer parte dos objetivos dos formance, e 3) Prover informações – a partir das la‑
avaliadores/observadores quando promovem um cunas (gaps), oferecer conhecimento ou comporta‑
debriefing. Independentemente do modelo de fe‑ mentos que auxiliariam na resolução do problema
edback adotado durante o debriefing, deve‑se pro‑ (BAJAJ et al., 2018; EPPICH; CHENG, 2015).
mover que esses três elementos estejam presentes. Esses modelos de debriefing apresentados
Outro modelo utilizado é o de Rudolph (2008), se assemelham com o feedback (Ask‑Tell‑Ask –
com quatro etapas: 1) observar lacunas (gaps) de Pergunte‑Conte‑Pergunte) (9), que pode ser utili‑
desempenho relacionadas aos objetivos predeter‑ zado na análise dialogada entre os participantes e
minados; 2) fornecer feedback descrevendo a la‑ o facilitador. Na opinião dos autores deste capítulo,
cuna; 3) investigar a base da lacuna explorando os é essencial que o debriefing envolva:
quadros e as emoções que contribuem para o ní‑ 1) Descrição do que aconteceu (framework – qua‑
vel de desempenho atual, e 4) ajudar a reduzir a la‑ dro de trabalho para a análise – descrição da
cuna de desempenho por meio de discussões ou ins‑ performance);
truções específicas sobre princípios e habilidades 2) Autoavaliação dos participantes quanto às emo‑
relevantes para o desempenho (RUDOLPH et al., ções e performance (pode‑se fazer uma rodada
2008). Esse modelo de Rudolph é mais ligado à de questionamentos sobre as emoções e depois
etapa de análise e generalização do modelo de três sobre a performance);
fases. Assim, ao tentar entender o que aconteceu e 3) Análise dialogada entre os participantes e os ob‑
o motivo para tal desfecho, pode‑se iniciar solici‑ servadores/avaliadores sobre as lacunas (o que
tando para que os participantes descrevam as la‑ era esperado e o que foi realizado), e
cunas (o que faltou) frente aos objetivos propostos; 4) Refletir sobre a aplicabilidade prática e como
segue‑se a isso, a avaliação do observador frente a alcançar o melhor desempenho – Elaborar um
essas lacunas e ele pergunta a impressão dos par‑ plano de aprendizagem.
ticipantes sobre o motivo de terem realizado a per‑ O Debriefing é tão importante que alguns au‑
formance de determinada maneira, e finalmente tores destacam que a própria simulação é um pre‑
se discute de forma objetiva como solucionar es‑ texto para o debriefing (GARDNER, 2013). Isso re‑
ses problemas. força a importância do treinamento e da clareza de
O framework PEARLS (Promoting Excellence informações que devem ser fornecidas para os par‑
and Reflective Learning in Simulation) é um mo‑ ticipantes (aqueles que participaram ativamente da
delo de quatro fases bastante utilizado: 1) Reações performance) e observadores (aqueles que observa‑
– Objetivo: Explorar as emoções e a percepção dos ram externamente ao cenário). Independentemente
participantes sobre a simulação/performance – pes‑ do modelo, é importante conseguir identificar o
soal e do grupo; 2) Descrição – Objetivo: Esclarecer modelo mental internalizado pelos participantes e
o que aconteceu – promover uma compreensão promover reflexão. Esse modelo mental é a forma
compartilhada sobre a simulação – descrever si‑ com a qual os processos de aprendizagem, no caso
mulação / performance / diagnóstico / conduta; 3) a simulação, passaram do meio externo (vivência,
Análise – Objetivo: Explorar os diversos domínios comportamento, observação, entre outros) para o
de performance/lacunas de aprendizagem (descrito meio interno através da cognição e das emoções/
no capítulo de feedback) – muitas vezes, as lacu‑ afetos. Nesse processo de aprendizagem, promo‑
nas já são descritas nas fases anteriores – pode ser ver reflexão passa a ser papel central do debriefing.
feita uma síntese e promover maior discussão; 4)
Sumarização/Aplicação – Objetivo: Identificar as 10.1. REFLEXÃO E DEBRIEFING
principais mensagens – podem ser realizadas ob‑ Apesar de haver diversos modelos de debriefing, a
servações centradas no estudante/trainee − a partir reflexão parece ser um objetivo comum. Assim, ao
daquilo que eles levantaram/discutiram, bem como desenvolver, aplicar e avaliar o debriefing, o mais
centradas no instrutor − a partir daquilo que eram os importante é analisar se o processo de interação
objetivos de aprendizagem e os apontamentos defi‑ com os estudantes gerou um processo reflexivo
nidos pelo avaliador/facilitador. A fase de Análise, voltado para o crescimento e a melhoria dos par‑

O uso de Feedback e Debriefing na Simulação 217


ticipantes quanto aos conhecimentos, habilidades jamento, trocas e vivências (KUMAGAI; NAIDU,
ou atitudes. Assim, apresentaremos brevemente al‑ 2015). Assim, considerar a simulação como um es‑
guns conceitos relacionados à reflexão. paço que promove reflexão seria extrapolar a visão
A reflexão pode ser considerada um processo estritamente biomédica da simulação e compre‑
metacognitivo (pensar sobre pensar ou pensar sobre ender o estudante/trainee dentro de suas dimen‑
as próprias atitudes/comportamentos) (SANDARS, sões biopsicossociais. Pode parecer abstrato, mas
2009). Isso acontece, pois, na reflexão, é inevitável seria considerar e prezar, em especial no debrie‑
avaliar uma questão sobre diversos pontos de vista, fing, pelo background do estudante, valorizando
inclusive o ponto de vista daquele que reflete. Assim, suas experiências de vida, valores e perspectivas,
reflexão torna‑se uma análise multifacetada e crí‑ incluindo sua criatividade e diferentes formas de
tica de qualquer elemento ou situação. conseguir resolver problemas. Tudo isso em um am‑
O enfoque em reflexão utilizando a simulação biente protegido e acolhedor com respeito e possi‑
vai desde os objetivos de aprendizagem, passa pela bilidade de diálogo.
construção dos cenários e termina na simulação pro‑ O diálogo no contexto de uma prática reflexiva
priamente dita, incluindo o debriefing. Assim, a re‑ envolvem a inclusão dos afetos e as dimensões ex‑
flexão não é algo que deve fazer parte somente do perienciais e cognitivas de aprendizagem, com foco
debriefing, mas também de seu desenvolvimento, na descoberta de novas perspectivas, insights e ques‑
que precisa ser planejado em todas as etapas que tionamentos. Um debriefing reflexivo que leva os
envolvem a simulação. Além disso, é importante participantes naturalmente a uma descoberta é me‑
preparar os estudantes para isso, pois um ambiente nos diretivo e mais colaborativo. Frente à falta de
reflexivo, muitas vezes, é um ambiente cercado de espaços reflexivos na formação médica e em ou‑
dúvidas e incertezas. Esses dois últimos, os princi‑ tras áreas da saúde, ter na simulação um ambiente
pais disparadores de reflexão. protegido para refletir, certamente, elevará o sta‑
Em 2015, Kumagai e Naidu tencionaram so‑ tus da simulação quanto à importância na forma‑
bre a necessidade emergente de espaços reflexi‑ ção da identidade profissional dos profissionais de
vos e de diálogo na formação médica (KUMAGAI; saúde. É evidente que, para isso, o treinamento de
NAIDU, 2015). Para conseguir formar médicos ca‑ toda a equipe para oferecer esse tipo de debriefing
pazes de promover um cuidado ético, socialmente é fundamental. Promover esse clima e ambiente re‑
responsável e centrado no paciente, é de vital im‑ flexivo é mais do que fazer o estudante pensar ou
portância promover que os estudantes tenham um analisar o que fez, é valorizar seus sentimentos, va‑
pensamento crítico reflexivo (MANN, GORDON, lores, conhecimentos, habilidades e atitudes. Além
MACLEOD, 2009). A promoção de espaços e di‑ disso, é preciso promover o processo de educação
álogos no sentido de estimular a reflexão é reali‑ a partir de um diálogo humanístico e próximo às
zada quando se proporcionam espaços de enga‑ necessidades dos estudantes/trainees.

REFERÊNCIAS

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220 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


CA P Í T UL O 15

Cenários de Avaliação de
Habilidades Não Técnicas (HNT)

221
Camila Ament Giuliani dos
Santos Franco
Médica de Família e Comunidade
Professora Adjunta do Curso
de Medicina ‑ PUCPR
Professora no Curso de Medicina
nas Faculdades Pequeno
Príncipe, Curitiba, PR.
Preceptora responsável pela
disciplina de Comunicação Clínica na
Residência Médica em Medicina de
Família e Comunidade ‑ Residência
Integrada, Curitiba, PR.

Renato Soleiman Franco


Psiquiatra
Professor Adjunto ‑ Curso
de Medicina da PUCPR
Coordenador do Programa de Residência
Médica em Psiquiatria da Prefeitura
Municipal de Curitiba, SMS/FEAS.

1. INTRODUÇÃO

Conceituar habilidades não técnicas (soft skills) ROSENBAUM, 2018). O ambiente simulado tem
é algo difícil, a começar pela sua nomenclatura. sido um dos mais utilizados tanto para o desen‑
Apesar de ser um nome classicamente empregado volvimento quanto para a avaliação das HNT
e reconhecido, o termo pode trazer uma conota‑ (GORDON et al., 2019). Entretanto, vale a pena res‑
ção de que não são habilidades treinadas e desen‑ saltar que cenários simulados e checklists podem
volvidas por repetição ou que seriam habilidades ter uma abordagem reducionista frente a habilida‑
de importância secundária para o profissional de des tão complexas (CHUNG et al., 2016). Assim, o
saúde. O desenvolvimento das HNT requer mais do observador/avaliador deve ter bastante sensibili‑
que a repetição, exige uma prática reflexiva e uma dade, estar atento e promover um feedback e/ou
análise crítica de comportamentos e desempenhos. debriefing adequados para maximizar a aprendi‑
Assim, decidimos manter esse título (HNT) no ca‑ zagem nesses cenários.
pítulo pelo uso corrente do termo, mas destacar que Podemos considerar as habilidades não técni‑
são habilidades complexas e compreendem o de‑ cas como os recursos cognitivos, sociais e pessoais
senvolvimento de processos cognitivos e afetivos. que complementam as habilidades técnicas e con‑
Estudos apontam que a falta de HNT é res‑ tribuem para o desempenho seguro e eficiente das
ponsável pela grande maioria de processos médi‑ tarefas (FLIN et al., 2003). Na área da saúde, es‑
cos, além de impactar decisivamente nos resulta‑ sas habilidades incluem trabalho em equipe, lide‑
dos do cuidado ao paciente (KIERAN; JENSEN; rança, habilidades de comunicação clínica, consci‑

222 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


ência situacional, manejo do cansaço e raciocínio Quadro 1 – Domínio das HNT
clínico/tomada de decisão (HIGHAM et al., 2019).
Comunicação
Desse modo, ao definir que o cenário envolverá
HNT, é importante destacar quais dos seus elemen‑ Liderança/trabalho em equipe
tos (domínios) serão abordados. Os cinco princi‑
Consciência situacional
pais são (Quadro 1):
É importante lembrar que o domínio comuni‑ Gerenciamento de tarefas
cação envolve tanto a comunicação entre os profis‑ Tomada de decisão
sionais quanto entre profissionais e paciente, fami‑
liares e cuidadores. Outras importantes categorias
que integram as HNT são profissionalismo e manejo
de estresse (HIGHAM et al., 2019).
Os cenários para avaliação irão depender do ob‑ vem GRC. Deve‑se desenvolver o cenário em GRC
jetivo e contexto da atividade, dos recursos dispo‑ para a avaliação, de acordo com:
níveis e do nível de treinamento desejado. No en‑ 1) Objetivo educacional: qual ou quais elementos
tanto, não se deve afastar do objetivo primordial das HNT os participantes pretendem desen‑
do trabalho com as HNT, que é a melhoria na qua‑ volver (comunicação; liderança/trabalho em
lidade da assistência e no desenvolvimento pro‑ equipe; consciência situacional, entre outros).
fissional. Assim, por exemplo, a comunicação não 2) Para quais sujeitos será aplicado – nível ou ní‑
pode ser somente um fim em si mesma, mas deve veis de treinamento.
estar atrelada a uma melhoria no processo de cui‑ 3) Para quantos sujeitos – adequar espaço, recur‑
dado. Isso é relevante, pois senão o trabalho com sos e professores.
essas habilidades terá uma utilidade questionável. 4) Quais recursos: manequim, paciente simulado,
pares, salas, vídeo, entre outros.
Dica n.º 1: Defina o objetivo do 5) No desenvolvimento das estações, é importante
cenário – alinhe com os avaliadores/ discutir se o paciente simulado irá morrer caso
instrutores o que é esperado das HNT o cuidado não seja adequado; se o cenário já co‑
(e quais dentre as HNT). Dê preferência meça com o paciente em estado crítico ou se o
para o uso de termos que deixem estado crítico irá se instalar aos poucos.
mais claro o foco da simulação, como, Com isso, é possível definir quais as habilida‑
por exemplo: Comunicação – entre des precisarão ser desenvolvidas e avaliadas. Caso o
os profissionais e entre profissionais foco seja a comunicação com o paciente/familiares
e paciente/familiares/cuidadores; ou cuidadores, o uso de pacientes simulados (ato‑
Liderança/trabalho em equipe; res ou outros) é importante. Entretanto, é possível
Consciência situacional; Gerenciamento realizar simulação com HNT sem pacientes simu‑
de tarefas, ou Tomada de decisão. lados (atores ou outros), mas o foco será no relacio‑
namento entre a equipe, na consciência situacional,
na tomada de decisão ou no gerenciamento de ta‑
refas. Assim, a partir dos recursos disponíveis, as
2. CENÁRIOS DE URGÊNCIA / PACIENTES GRAVES possibilidades de simulação em GRC são variadas.
– TERAPIA INTENSIVA, AMBIENTE CIRÚRGICO A criatividade é sempre uma grande aliada na
(INCLUINDO ANESTESIA), TRAUMAS E URGÊNCIA/ preparação de cenários. Por exemplo, um estudo
EMERGÊNCIA recente investigou o impacto de um planejamento
rápido entre a equipe antes do manejo da resposta
A Gestão de Recursos em Crises (GRC) é ampla‑ à crise. Os autores criaram cenários e dividiram os
mente discutida no capítulo referente à simula‑ participantes entre equipes que tiveram tempo para
ção em cenários de emergência. Frisamos neste se planejar e outras que não tiveram esse tempo.
capítulo que as possíveis respostas dos participan‑ Nesse caso, o foco não era o GRC, mas o impacto
tes frente aos cenários devem ser antecipadas e os do planejamento no desfecho. Os autores conclu‑
avaliadores devem estar preparados para lidar com íram que um tempo de planejamento, mesmo que
isso. Nicolaides et at. (2019) propõem uma série de curto (quatro minutos), trouxe benefícios nos des‑
cenários para o ensino e aprendizagem de HNT, fechos clínicos, no manejo da crise e na diminuição
(NICOLAIDES et al., 2019) a maioria deles envol‑ do estresse (EVAIN et al., 2019).

Cenários de Avaliação de Habilidades Não Técnicas (HNT) 223


Esse tipo de estratégia inovadora deve ser esti‑ Há alguns checklists que são validados e se ba‑
mulada e nasce a partir da participação de sujeitos seiam nesses referencias (CÖMERT et al., 2016),
com prática e atuação nos campos a serem ensina‑ entre eles o EPSCALE‑ Explanation and Planning
dos pela simulação. Assim, devemos nos perguntar Scale (SILVERMAN et al., 2011) (baseado no Guia
quais habilidades, fluxos ou processos que envol‑ Calgary‑Cambridge) e o CG ‑ Common Ground
vem HNT devem ser estimulados e aprimorados, ou Instrument (baseado no Kalamazoo) (LANG et al.,
quais outros podem ser melhorados através das HNT. 2004), entretanto, não há consenso entre o me‑
Alguns modelos de avaliação das GRM são: lhor modelo para avaliação da comunicação clínica
TEAM (COOPER et al., 2010), Observational (SETYONUGROHO; KENNEDY; KROPMANS,
Teamwork Assessment for Surgery (OTAS) 2015). Na prática, a maioria dos estudos toma como
(UNDRE et al., 2006), Oxford NOnTECHnical Skills base esses referenciais, mas acaba por adaptá‑los
(Oxford NOTECHS) (MISHRA; CATCHPOLE; segundo sua necessidade.
MCCULLOCH, 2009), Non‑Technical Skills for Os cenários podem contemplar uma consulta
Surgeons (NOTSS) (YULE et al., 2006) e Ottawa ou outra atividade completa desde o início até o fi‑
CRM Global Rating Scale (KIM et al., 2006) nal, ou então, serem focados em determinadas eta‑
(Tabela 1). pas. As próprias referências em comunicação for‑
necem dicas importantes sobre a abordagem nos
cenários. Por exemplo, o Guia Calgary‑Cambrigde
3. CENÁRIOS DE PRÁTICA CLÍNICA AMBULATORIAL avalia a consulta incluindo etapas (não necessa‑
riamente sequenciais) transversais e longitudinais
Nos cenários ambulatoriais (atenção primária ou (que perpassam toda consulta). Um outro modelo
secundária), as HNT estão mais associadas à co‑ é o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP),
municação entre o médico e o paciente (ou fami‑ que também apresenta componentes não necessa‑
liar/cuidador), às tomadas de decisão e ao raciocí‑ riamente sequenciais (Tabela 2).
nio clínico. No entanto, também é possível elaborar Por exemplo, ao elaborar uma estação para o en‑
cenários de interação entre a equipe e a liderança. sino do início da consulta, deve‑se atentar para a pre‑
A comunicação clínica tem sido destacada como paração do ambiente, a primazia pelo conforto do
um elemento essencial da graduação, em especial paciente, a ergonomia do profissional, a identifica‑
no currículo médico (FRANCO et al., 2018). Os re‑ ção do motivo da consulta, a escuta ativa, entre ou‑
ferenciais teóricos em comunicação clínica são bons tros. Nesse sentido, diversos cenários poderiam ser
norteadores para a elaboração de cenários de avalia‑ elaborados, assim como subsequentes checklists ou
ção que contemplem a comunicação clínica. Entre outros modelos de escalas de avaliação que sejam ob‑
as referências, o Guia Calgary‑ Cambridge (KURTZ; jetivas e focadas em comportamentos observáveis.
SILVERMAN; DRAPER, 1998) , o Consenso de Uma leitura mais profunda dos modelos pode
Kalamazoo (DUFFY et al., 2004) e o Método Clínico auxiliar bastante na preparação dos cenários. O ar‑
Centrado na Pessoa (STEWART et al., 2014) des‑ tigo de Campos e Rios (2018) e o de Franco et al.
tacam uma prática clínica orientada para um cui‑ (2015) são referências nacionais que apresentam
dado clínico empático, compartilhado e com foco de forma clara modelos de comunicação e cená‑
em uma comunicação eficaz. rios possíveis em ambientes simulados.

Tabela 1 – Domínios de HNT em Cirurgia/Emergência.

OTAS NOTSS Ottawa CRM Oxford NOTECHS TEAM


• Liderança e gestão
• Liderança. • Liderança
• Trabalho
• Comunicação • Comunicação • Liderança
• Liderança em equipe e
• Trabalho em • Resolução de • Trabalho em
• Comunicação cooperação
equipe problemas equipe
• Coordenação • Resolução de
• Consciência • Consciência • Gerenciamento
• Cooperação problemas e
situacional situacional de tarefas
• Monitorização. tomada de decisão
• Tomada de • Utilização de • Avaliação global
• Consciência da
decisão recursos
situação

224 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Tabela 2 – Referências em Abordagem Clínica na Consulta.

Calgary‑Cambridge MCCP
• Etapas transversais:
◦ Início da consulta
• Explorando a saúde, a doença e a experiência da
◦ Coleta de informações
doença
◦ Exame físico
• Entendendo a pessoa como um todo
◦ Explicação e planejamento
• Elaborando um plano conjunto de manejo dos
◦ Encerramento da consulta
problemas
• Etapas longitudinais:
• Intensificando a relação entre a pessoa e o médico
◦ Promover estrutura para a consulta
◦ Construir o relacionamento com o paciente

A comunicação em cenários ambulatoriais vai e perspectiva (BUCKMAN, 1984). Assim, qualquer


além da comunicação clínica e inclui liderança e diagnóstico ou situação pode condizer com uma
trabalho em equipe (FRANCO et al., 2018). Além notícia difícil uma vez que é necessário conside‑
disso, raciocínio clínico, tomada de decisão e cons‑ rar não somente qual doença ou problema, mas a
ciência situacional também envolvem HNT na prá‑ opinião e o contexto do sujeito.
tica ambulatorial. Em cenários com essa abordagem, o foco é na
comunicação de determinada condição e na tomada
Dica n.° 2: Defina qual irá ser o foco de decisão frente a ela. O conceito de conversa di‑
do ensino e aprendizagem. Novamente: fícil inclui não somente o diagnóstico ou situação,
Comunicação – entre os profissionais e mas amplia o cenário para questões relacionadas
entre profissionais e paciente/familiares/ com o contexto, o paciente ou o próprio médico.
cuidadores; Liderança/trabalho em Por exemplo, um médico que numa emergên‑
equipe; Consciência situacional; cia atende um colega pode encontrar maior difi‑
Gerenciamento de tarefas, ou Tomada culdade não no diagnóstico em si, mas na relação
de decisão. Cuidado para não inserir médico‑paciente. Além disso, lidar com pacientes
muitos elementos. A partir daí, estude os mais ansiosos, irritados ou com outros perfis pode
modelos já validados na sua área e elabore tornar a situação difícil.
a estação e os instrumentos que auxiliem O uso de modelos e protocolos deve ser reali‑
na avaliação e ensino dessas HNT. zado com muito cuidado. Temos observado que a
empatia, a escuta ativa e o foco no bem‑estar do
paciente/familiar/cuidador são essenciais. Assim,
ao utilizar os protocolos, deve‑se ter cuidado para
4. COMUNICAÇÃO DE NOTÍCIAS DIFÍCEIS OU não reforçar uma abordagem mecanicista. Um dos
CONVERSAS DIFÍCEIS protocolos mais utilizados é o SPIKES (Tabela 3
(BAILE et al., 2000).
A comunicação de notícias difíceis é um tópico de Os cenários podem envolver uma situação com‑
muita importância em simulação e pode ser reali‑ pleta de comunicação difícil ou ter o foco em um
zada em diferentes cenários e contextos, e para di‑ dos elementos que envolvem esse tipo de comu‑
versos públicos alvo. As conversas difíceis/comu‑ nicação. Por exemplo, para discutir a preparação
nicações de notícias difíceis, em geral, envolvem para a notícia (primeiro “S”), o cenário deve incluir
a comunicação em conjunto com a tomada de de‑ a privacidade, o envolvimento de pessoas de con‑
cisão. Em um cenário completo, o profissional de fiança (caso necessário e desejado pelo paciente/
saúde não somente realiza a comunicação do pro‑ familiar/cuidador), o conforto (médico e paciente,
blema ou condição como também o seu manejo e pelo menos, sentados), o contato e a comunicação
a tomada de decisão. não verbais, o manejo do tempo e de interrupções
A comunicação de notícia difícil envolve qual‑ por outros profissionais, entre outros.
quer informação que afete negativa e seriamente É essencial adequar a comunicação difícil à
um indivíduo, de acordo com a sua própria opinião realidade do aprendiz, bem como não dramati‑

Cenários de Avaliação de Habilidades Não Técnicas (HNT) 225


Tabela 3 – Protocolo SPIKES

S Preparando‑se para o encontro (Setting up)


P Percebendo o paciente (Perception)
I Convidando para o diálogo (Invitation)
K Transmitindo as informações (Knowledge)
E Expressando emoções (Emotions)
S Resumindo e organizando estratégias (Strategy and Summary)

BAILE, W. F. et al. SPIKES‑A six‑step protocol for delivering bad news: application to the patient with cancer. The
Oncologist, Dayton, v. 5, n. 4, p. 302‑311, 2000.

zar demais as situações. Ela deve ser real e factí‑ que afetam o desfecho clínico, a segurança do pa‑
vel para promover o aperfeiçoamento dos envol‑ ciente e até mesmo o bem‑estar do profissional.
vidos. Um maior aprofundamento nos modelos A elaboração de cenários nas HNT é uma ativi‑
de comunicação difícil pode ser útil na constru‑ dade complexa que demanda conhecimento dos refe‑
ção desses cenários (BAILE et al., 2000; BAILE; renciais teóricos nessa área. Ao preparar os cenários,
BLATNER, 2014; BONNAUD‑ANTIGNAC et al., deve‑se ter muito cuidado com o nível de expertise
2010; BOWYER et al., 2010; CRUZ; RIERA, 2016; dos participantes, bem como com o treinamento
LINO et al., 2011; MEITAR; KARNIELI‑MILLER; dos avaliadores/observadores. É essencial que o am‑
EIDELMAN, 2009), mas, no geral, deve‑se prezar biente seja protegido, seguro e de boa convivência.
pela segurança e pelo bem‑estar do paciente/fami‑ Uma vez que, muitas vezes, as HNT remetem
liar/cuidador, realizar a comunicação em forma de a atitudes e valores, o cuidado, o respeito e a sensi‑
diálogo (evitar extensas exposições descontextuali‑ bilidade são essenciais para promover seu ensino
zadas), transmitir as informações na quantidade e e aprendizagem. Treinamento e expertise em de‑
briefing e feedback, bem como a preparação cui‑
da forma adequada, permitir que o paciente/fami‑
dadosa dos cenários, são cruciais para o sucesso no
liar/cuidador expresse suas emoções e responder
treinamento das HNT em simulação. As HNT en‑
de maneira adequada (verbal e não verbalmente),
volvem elementos cognitivos diversos, como o ra‑
realizando síntese e reconhecimento daquilo que
ciocínio e as emoções. Ao preparar cenários de si‑
o paciente compreendeu.
mulação voltados para esse fim, deve‑se ter sempre
em mente que mesmo quando as emoções (dos pa‑
cientes e dos profissionais) não forem o foco, elas
5. SÍNTESE estarão fortemente em pauta. Assim, ao desenvolver
os cenários, é essencial incluir os aspectos emocio‑
As habilidades não técnicas (HNT) correspondem nais e preparar professores/facilitadores para lidar
a um grupo de habilidades complexas e diversas, com essas demandas. No capítulo sobre feedback e
que devem ser valorizadas no processo de ensino debriefing, descrevemos elementos essenciais para
e aprendizagem da área da saúde. São habilidades lidar com essas questões.

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Cenários de Avaliação de Habilidades Não Técnicas (HNT) 227


CA P Í TUL O 16

O uso de instrumentos para


a avaliação do ensino, da
aprendizagem e de outros
atributos nos laboratórios
simulados

O uso de instrumentos para a avaliação do ensino, da aprendizagem e de outros atributos nos


laboratórios simulados 229
Fernanda Berchelli Girão Miranda
Profa. Departamento de Enfermagem
Universidade Federal de
São Carlos ‑UFSCar

A simulação contribui com a aprendizagem ao tre outras (OGDEN et al., 2013). Reconhecida como
longo da vida, o continuum educacional, propor‑ uma estratégia de educação cognitiva e comporta‑
cionando a resolução de problemas, a autoavalia‑ mental, pode promover altos níveis de autoestima,
ção dos participantes, o pensamento crítico, entre autoconfiança, satisfação, motivação, entre outras
outros (OGDEN et al., 2013). (CAMACHO, 2011).
Os cenários e o treino simulado são reconhe‑ Concomitante, a literatura compartilha instru‑
cidos como estratégias de ensino essenciais para a mentos e ferramentas para colaborarem com os
formação de profissionais de saúde. São estratégias educadores na mensuração e no desenvolvimento
pelas quais transcorrem o ensino e a avaliação da da simulação. Descrevemos, a seguir algumas pos‑
graduação até o nível da pós‑graduação, bem como sibilidades que podem colaborar a depender dos
durante toda a vida profissional, promovendo im‑ objetivos da simulação.
pactos em estudantes, profissionais e pacientes, e
nas instituições de assistência à saúde (MARTINS;
CARLOS, 2017).
AVALIAÇÃO DA ESTRUTURAÇÃO DOS CENÁRIOS
Os cenários simulados, quando bem elaborados, SIMULADOS
permitem incluir e avaliar as competências relacio‑
nadas ao atendimento ao paciente, ao conhecimento
profissional, à aprendizagem baseada na prática, à ESCALA DE DESIGN DA SIMULAÇÃO
habilidade interpessoal e de comunicação, ao pro‑ A avaliação da estruturação dos cenários simulados
fissionalismo, à prática baseada em evidências, en‑ pode ser através da Escala de Design da Simulação

230 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


originalmente desenvolvida pela National League ESCALA DE SATISFAÇÃO COM AS EXPERIÊNCIAS
CLÍNICAS SIMULADAS (ESECS)
for Nursing (NLN). A escala foi traduzida e vali‑
dada para a o português brasileiro por Almeida et al. Outra escala que mensura satisfação é a Escala de
(2015a), sendo composta por cinco dimensões: 1) ob‑ Satisfação com as Experiências Clínicas Simuladas
jetivos e informações; 2) apoio; 3) resolução de pro‑ (ESECS) construída e validada por Baptista et al.
blemas; 4) feedback, e 5) reflexão; realismo. Estas di‑ (2014). Essa escala avalia a satisfação dos estudan‑
mensões têm contemplados 20 itens, que se dividem tes de Enfermagem com as experiências clínicas
em duas subescalas: concordância e importância. simuladas. Conta com 17 itens, perante os quais o
Essa escala tem sido utilizada em diferentes estudante expressa a sua opinião sobre cada um,
cenários, como, por exemplo, para identificar a numa escala tipo Likert com variação de um a dez,
percepção dos estudantes de Enfermagem e as di‑ em que o valor um representa o menor nível de sa‑
mensões estruturais do design em cenários ma‑ tisfação e o valor dez, o maior nível de satisfação
terno‑infantis (BRASIL et al., 2018) e em cenários (BAPTISTA et al., 2014).
de simulação de alta fidelidade na imunização de Estudos têm aplicado a escala, como pode‑
adultos, no contexto da atenção primária à saúde mos ver em Meska et al. (2018), que verificaram
(COSTA et al., 2019) a satisfação e a autoconfiança dos estudantes de
Enfermagem em cenários com e sem a presença de
odores; em Franzon et al. (2020), a escala foi apli‑
AVALIAÇÃO DE SATISFAÇÃO E AUTOCONFIANÇA cada em atividades clínicas simuladas sobre me‑
didas de conforto e higiene ao paciente usuário de
fraldas descartáveis; em Bortolato‑Major (2017),
Nos últimos anos, a literatura mostrou que a avalia‑
ocorreu a avaliação do desenvolvimento da compe‑
ção da satisfação e da autoconfiança dos aprendi‑
tência clínica de estudantes de Enfermagem, espe‑
zes em ambientes simulados tem despertado grande
cificamente para o atendimento a casos de disfun‑
interesse na prática e na pesquisa, e, consequente‑
mente, tem sido investigada nos mais diversos con‑ ção cardíaca, neurológica e respiratória, usando a
textos (ALMEIDA et al., 2015b). Escala de Satisfação de Estudantes e Autoconfiança
A simulação de alta fidelidade proporciona com a Aprendizagem (ALMEIDA et al., 2015b) e a
um aumento da autoconfiança e melhorias nas Escala de Satisfação com as Experiências Clínicas
habilidades técnicas e não técnicas (HOADLEY, Simuladas (ESECS) (BAPTISTA et al., 2014), com
2008; GORDON; BUCKLEY, 2009; STEFANSKI, as experiências clínicas simuladas.
ROSSLER; 2009; HOADLEY, 2009). Observa‑se Essa escala também foi utilizada para verifica‑
também que a satisfação do aprendiz após a prática ção da autoconfiança e da satisfação de aprendizes
simulada pode minimizar os sentimentos de medo submetidos ao método de ensino tradicional com
e ansiedade perante a prática profissional (YING; aula expositiva e ao método de ensino com simu‑
YIWEN; RABIAH, 2014), lação realística (Ferreira et al., 2018).
A teoria de autoeficácia de Bandura (1983) re‑
fere que o aumento da autoeficácia ou autoconfiança SELF‑CONFIDENCE SCALE (SCE)
permite que os profissionais sejam mais propensos Para avaliar a autoconfiança de estudantes em situ‑
a aceitar novos desafios e a enfrentar melhor as si‑ ações críticas, existe a Self‑Confidence Scale (SCE)
tuações de insucessos. (HICKS; COKE; LI, 2009), adaptada culturalmente
para o português em cenários simulados de emer‑
ESCALA DE SATISFAÇÃO DE ESTUDANTES E gência (MARTINS et al., 2014). Essa escala possui
AUTOCONFIANÇA COM A APRENDIZAGEM itens que identificam a capacidade do estudante
A Escala Student Satisfaction and Self‑Confidence in em reconhecer os sinais e sintomas de alterações
Learning, originalmente criada pela National League fisiológicas respiratórias, cardíacas e neurológicas,
for Nursing (NLN), foi traduzida e validada para o e possibilita a avaliação precisa do paciente, a in‑
português brasileiro por ALMEIDA et al. (2015b) tervenção apropriada e a avaliação da eficácia das
denominada Escala de Satisfação de Estudantes e intervenções implementadas.
Autoconfiança com a Aprendizagem. Trata‑se de
uma escala tipo Likert de cinco pontos dividida nas DEBRIEFING
duas dimensões, a satisfação e a autoconfiança do Reconhecido como um processo analítico de refle‑
indivíduo, indicada para ser aplicada na simulação xão a ser desempenhado após ou durante os cená‑
de alta fidelidade. rios simulados, o debriefing é a etapa responsável por

O uso de instrumentos para a avaliação do ensino, da aprendizagem e de outros atributos nos


laboratórios simulados 231
cerca de 80% da aprendizagem obtida pelos parti‑ talhada, inclusive com exemplos de pergunta‑guia
cipantes em uma atividade simulada, contribuindo para a orientação em cada um dos estágios, a fim
com o desenvolvimento de conhecimentos, habili‑ de facilitar que os educadores iniciantes realizem
dades e atitudes, obtidos através da reflexão sobre discussões com foco nas melhores práticas peda‑
a ação, da consolidação dos saberes e da mudança gógicas (GOES; JACKMAN, 2020)
de comportamentos errados (NASCIMENTO, et al.
2020; COUTINHO et al., 2014). Na última década,
mais de 30 métodos e 10 técnicas de debriefing fo‑ INSTRUMENTOS, ROTEIROS OU ESCALAS PARA
ram descritos (NASCIMENTO et al., 2020). AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TÉCNICAS E
COGNITIVAS
ESCALA DE AVALIAÇÃO DO DEBRIEFING ASSOCIADO
À SIMULAÇÃO (EADAS) E ESCALA DE EXPERIÊNCIA A avaliação de competências clínicas por facilitado‑
COM O DEBRIEFING res em ambientes simulados necessita ser guiada por
Em 2014, justificada pela inexistência de instru‑ instrumentos, roteiros ou escalas válidos e confiá‑
mentos de avaliação de debriefing na língua por‑ veis, visando à observação sistematizada, criteriosa e
tuguesa, a Escala de Avaliação do Debriefing asso‑ imparcial, além de estes serem imprescindíveis para
ciado à Simulação (EADaS) contendo 34 itens, foi o reconhecimento das lacunas de conhecimento de
construída e validada com 209 estudantes de uma cada estudante (VILARINHO et al., 2020).
universidade portuguesa por Coutinho et al. (2014). A Scoping Review de Miranda, Mazzo e
A escala americana, a Debriefing Experience Pereira‑Junior (2018) identificou instrumentos e
Scale, desenvolvida por Reed (2012), foi tradu‑ métodos variados, utilizados para a avaliação de
zida e validada para ser utilizada em Simulação de competências individuais e interprofissionais em
Alta Fidelidade. A versão brasileira foi nomeada atividades clínicas simuladas na formação e capa‑
como “Escala de Experiência com o Debriefing” citação de profissionais da área de saúde.
(ALMEIDA et al., 2016) e apresenta 20 itens dis‑ Entre as habilidades mais avaliadas, destaca‑
tribuídos em quatro fatores: 1) Analisando os pen‑ ram‑se a habilidade de comunicação e procedi‑
samentos e sentimentos; 2) Aprendendo e fazendo mentais (MIRANDA; MAZZO; PEREIRA‑JUNIOR,
conexões; 3) Habilidade do professor em conduzir o 2018).
debriefing, e 4) Orientação apropriada do professor. Nesse contexto, nos últimos anos, diversos es‑
tudos permeiam em busca de construir, validar e
TRÊS ESTÁGIOS DO DEBRIEFING HOLÍSTICO adaptar culturalmente ferramentas que possam co‑
Na vertente de que ainda hoje faltam evidências a laborar em atividades simuladas.
respeito da capacidade de educadores, instrutores O estudo de Cancino et al. (2020) validou um ro‑
ou debriefers para apoiar, orientar, observar, ava‑ teiro de avaliação de administração segura de medi‑
liar e direcionar as ações, discussões para promo‑ camentos em estudantes de Enfermagem; o roteiro
ver a aprendizagem reflexiva durante a Simulação validado apresenta oito subprocessos (revisão da
de Alta Fidelidade (SAF), um guia holístico de de‑ prescrição do medicamento, avaliação, transcrição,
briefing foi construído e validado em inglês e por‑ preparação, administração, notificação de erros de
tuguês brasileiro (GOES; JACKMAN, 2020). medicação, acompanhamento e monitoramento, e
As autoras utilizaram o referencial sobre o pro‑ informação e educação ao paciente), avaliados por
cesso de debriefing de Lederman e o referencial de 58 itens ajustados em ambiente simulado de baixa
aprendizagem de Zabala como base teórica para fidelidade e prática clinica. Para os autores, o ro‑
promover a aprendizagem reflexiva. O instrumento teiro contribui para a avaliação dessa prática, prin‑
é dividido em: 1) Primeiro estágio do debriefing: cipalmente em ambientes simulados.
Autorreflexão imediata do aluno após a Experiência O instrumento denominado Lasater Clinical
Prática/Debriefing Focalizado; 2) Segundo estágio do Judgment Rubric (LCJR) mensura o julgamento
debriefing: Facilitar a Discussão/Reflexão/Debriefing clínico (LASATER, 2007). Propõe a avaliação dos
Formativo em Grupo, e 3) Terceiro estágio do de‑ participantes em 11 comportamentos do julgamento
briefing: Resumo Final do Aprendizado Obtido na clínico, sendo esses: 1) observação focada; 2) re‑
Experiência de Simulação (Debriefing Somativo). conhecimento de desvios dos padrões esperados;
Nos três itens, é sugerido o período de tempo 3) busca por informações; 4) priorização dos dados;
para conclusão de cada estágio da simulação, in‑ 5) compreensão dos dados; 6) atuação calma e con‑
cluindo o pré‑briefing. Cada uma dessas etapas é de‑ fiante; 7) comunicação clara; 8) intervenção bem pla‑

232 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


nejada; 9) habilidade técnica; 10) avaliação/autoaná‑ em saúde do estudante de Enfermagem na realiza‑
lise, e 11) comprometimento com o aperfeiçoamento. ção de procedimentos técnicos usando a dramati‑
Esse escores estão relacionados a quatro ní‑ zação (GÓES et al., 2017).
veis de desenvolvimento do participante: iniciante, Ressalta‑se que a escala contém afirmações sobre
em desenvolvimento, proficiente ou exemplar. No comunicação verbal e não verbal, compatíveis de se‑
Brasil, esse instrumento passou por adaptação trans‑ rem analisadas para qualquer profissional da saúde.
cultural e avaliação de confiabilidade (NUNES et al., A Organização Pan‑Americana da Saúde (OPAS)
2016; MORAIS et al., 2018). e a Organização Mundial da Saúde (OMS) reco‑
O estudo de Carvalho e Zem‑Mascarenhas (2020) mendam os métodos de simulação clínica para a
utilizou o referido instrumento para avaliar o julga‑ educação transformadora, para aumentar a edu‑
mento clínico do enfermeiro no manejo da sepse. cação e a qualificação de trabalho interprofissional
No contexto de avaliação de competências, o da saúde. Assim, a necessidade de produção cien‑
instrumento Creighton Competency Evaluation tífica de novos instrumentos, a adaptação trans‑
Instrument (CCEI) foi traduzido e adaptado trans‑ cultural dos existentes e sobretudo a aplicação em
culturalmente para a língua portuguesa brasileira, diferentes contextos de educação profissional, vi‑
originando a versão Instrumento Creighton para sando atingir os melhores resultados aos aprendi‑
Avaliação de Competências Clínicas (CCEI‑Br) ver‑ zes, tornam‑se fundamentais.
são português do Brasil, que apresenta os domí‑ Para Campbell (2019), o uso da simulação é uma
nios avaliação, comunicação, julgamento clínico e ferramenta valiosa para formação de profissionais
segurança do paciente (VILARINHO et al., 2020). de saúde. No entanto, os facilitadores necessitam
Uma competência fundamental para o trabalho entender a aplicação da teoria e serem capacitados
em saúde é a comunicação, pois permite a transmis‑ para o desenvolvimento de todas as fases, princi‑
são, de um indivíduo para outro, de informações palmente da fase de avaliação na aprendizagem si‑
claras e objetivas, tornando possível uma intera‑ mulada (CAMPBELL, 2019).
ção social. No entanto, a avaliação da comunicação As normas da International Nursing Association
é uma tarefa complexa, pois envolve empatia, cla‑ for Clinical Simulation and Learning (INACSL)
reza, objetividade, segurança, entre outros requi‑ (2016) referem que o processo de avaliação deverá
sitos (PETERSON; CARVALHO, 2011; MIRANDA; incluir os estudantes e os facilitadores, à experiên‑
MAZZO; PEREIRA‑JUNIOR, 2018). cia baseada em simulação, bem como as instalações
A Health Communication Assessment Tool e também a equipe de apoio. Ressalta‑se ainda que
(HCAT) (CAMPBELL et al., 2013) foi adaptada cul‑ é necessário determinar o processo de avaliação na
turalmente para o Brasil (REIS et al., 2018). A versão fase de construção do design do cenário, para ga‑
original da HCAT contém 22 afirmações analisadas rantir a qualidade e a efetividade da experiência
a partir de uma escala que varia de um a cinco pon‑ baseada na simulação; além disso, é essencial ado‑
tos, sendo: 1 ‑ concordo fortemente; 2 ‑ concordo; tar uma estrutura de avaliação para guiar a seleção
3 ‑ indeciso; 4 ‑ discordo; 5 ‑ discordo fortemente. e/ou o desenvolvimento de uma ferramenta válida
Esse instrumento possibilita analisar comportamen‑ e confiável para medir os resultados esperados.
tos verbais ou não verbais; vínculo, estímulo, capa‑ Deverá ser garantido que todos os participan‑
citação e valorização entre profissional, paciente e tes do cenário tenham clareza dos métodos de ava‑
familiares (REIS et al., 2018). liação, se estes tratam de aplicação de uma avalia‑
Essa escala tem sido utilizada em diferentes con‑ ção formativa, somativa e/ou alta performance,
textos para avaliar a comunicação professional em antes ou no início da simulação. O processo ava‑
saúde. O estudo de Bianchini et al. (2020) verificou liativo deverá ser realizado entre os participantes
o uso da simulação clínica na formação de Técnicos ou aos pares e é importante que os resultados pos‑
em Enfermagem em relação às suas capacidades na sam ser utilizados para auxiliar na avaliação da ati‑
comunicação com pacientes e seus familiares. O uso vidade ou programa de simulação para melhoria
da referida escala na atividade simulada mostrou do processo de qualidade (INACSL STANDARDS
que, mesmo após a participação simulada, os es‑ COMMITTEE, 2016).
tudantes demostraram pouco preparo para comu‑ Assim, é importante ressaltar que essas esca‑
nicar‑se, o que leva à reflexão de que a simulação las e instrumentos devem ser considerados como
como atividade isolada pode surtir reflexos apenas recursos auxiliares para aprimorar as práticas de
indiretos na aprendizagem da comunicação. A es‑ avaliação nos diferentes contextos de ensino pro‑
cala também foi utilizada para avaliar comunicação fissional em saúde.

O uso de instrumentos para a avaliação do ensino, da aprendizagem e de outros atributos nos


laboratórios simulados 233
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O uso de instrumentos para a avaliação do ensino, da aprendizagem e de outros atributos nos


laboratórios simulados 235
CA P Í TUL O 17

Redesenho dos espaços


físicos de acordo com o uso
das metodologias ativas de
aprendizagem e a convergência
tecnológica: orientações na
montagem dos Centros de
Simulação

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 237
Gerson Alves Pereira Júnior Luciane Reginato Dobrowski
Docente de Cirurgia de Bióloga
Urgência e do Trauma Especialista em Microbiologia
Universidade de São Paulo Clínica e Industrial
Coordenador do Programa Especialista em Engenharia
ABEM de Simulação Ambiental

Hugo Silva Ferreira Claudio Soares de Santana


Engenheiro Civil Gestor em Saúde
Diretor de Desenvolvimento CEO Csanmek Tecnologia
de Infraestrutura
Csanmek Tecnologia

1. INTRODUÇÃO

As instituições educacionais atentas às mudanças jetos, com supervisão de professores orientadores


necessárias para a atualização contínua de seus pro‑ (MORAN, 2015).
jetos pedagógicos escolhem fundamentalmente dois Em ambas as situações de mudanças, principal‑
caminhos: um mais suave, com mudanças progres‑ mente na mais profunda, é necessária uma completa
sivas, ou outro mais amplo, com mudanças profun‑ readequação dos ambientes físicos dos cursos, tanto
das. No caminho mais suave, elas mantêm o modelo as salas de aula quanto os laboratórios de ensino.
curricular disciplinar de forma predominante, mas As diferentes concepções de currículo orientam
priorizam o envolvimento maior do aluno, com me‑ para a prevalência de um currículo construído na
todologias ativas, como o ensino por projetos de prática social e implicam superação na abordagem
forma mais interdisciplinar, o ensino híbrido ou pedagógica, alicerçada na transmissão de informa‑
blended learning e a sala de aula invertida. Outras ções, englobando conteúdos, métodos, procedimen‑
instituições propõem modelos mais inovadores, dis‑ tos, instrumentos culturais, experiências prévias e
ruptivos, sem disciplinas, que redesenham o projeto atividades (GIMENO SACRISTÁN, 1998), com vis‑
pedagógico com introdução de diversas metodolo‑ tas a propiciar o desenvolvimento da aprendizagem
gias ativas de aprendizagem, baseadas em ativida‑ em ambientes que instigam a curiosidade episte‑
des, desafios, problemas e jogos, pelas quais cada mológica, estimulam a pergunta, a invenção/rein‑
aluno aprende no seu próprio ritmo e necessidade, venção e a transformação, como formas de avançar
e também aprende com os outros, em grupos e pro‑ no conhecimento (ALMEIDA & VALENTE, 2012).

238 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Os métodos tradicionais, que privilegiam a trans‑ A integração das Tecnologias Digitais de
missão de informações pelos professores, faziam Informação e Comunicação (TDIC) e currículo
sentido quando o acesso à informação era difícil. propicia a articulação dos contextos de formação
Com a Internet e a divulgação aberta de muitos e aprendizagem com as situações de experiências
cursos e materiais, podemos aprender em qualquer autênticas, potencializando o desenvolvimento do
lugar, a qualquer hora e com muitas pessoas dife‑ currículo como construção permanente de práti‑
rentes. Isso é complexo, necessário e um pouco as‑ cas intencionais, com significado cultural, histórico
sustador, porque não temos modelos prévios bem e social (PACHECO, 2005). Este processo recons‑
sucedidos para aprender de forma flexível numa trutivo encontra suporte em conteúdos oriundos
sociedade altamente conectada (ALMEIDA & de distintas fontes e são representados em lingua‑
VALENTE, 2012). gens (VALENTE, 2011).
O ensino híbrido é uma das maiores tendências A maior parte do tempo, na educação presen‑
da educação no século XXI. Essa nova metodologia cial e a distância, ensinamos com materiais e co‑
tem como objetivo aliar métodos de aprendizado municações escritos, orais e audiovisuais, previa‑
online e presencial. A utilização prática dos concei‑ mente selecionados ou elaborados. As metodologias
tos de aprendizagem personalizada, colaborativa e precisam acompanhar os objetivos pretendidos. Se
orientada, nos dias de hoje, é fundamental. A apren‑ queremos que os alunos sejam proativos, precisa‑
dizagem se constrói num processo equilibrado en‑ mos adotar metodologias em que os alunos se en‑
tre três movimentos principais: a construção indi‑ volvam em atividades cada vez mais complexas, em
vidual, em que cada aluno percorre seu caminho; que tenham de tomar decisões e avaliar os resulta‑
a construção grupal, em que aprendemos com os dos, com apoio de materiais relevantes. Se quere‑
semelhantes (pares), e a construção orientada, em mos que sejam criativos, eles precisam experimen‑
que aprendemos com alguém mais experiente, com tar inúmeras novas possibilidades de mostrar sua
um especialista ou um professor (BACICH; TANZI iniciativa (MORAN, 2015).
NETO; TREVISANI, 2015). Os processos pedagógicos, que têm como obje‑
O que a tecnologia traz hoje é a integração de tivo auxiliar o aprendiz a construir conhecimento,
todos os espaços e tempos. O ensinar e o aprender adotam como principal eixo articulador de suas ati‑
acontecem numa interligação simbiótica, profunda vidades o desenvolvimento de projetos em busca de
e constante entre o que chamamos mundo físico e respostas a questões, que tenham significado para a
mundo digital. Não são dois mundos ou espaços, própria vida e o contexto dos aprendizes (COOREY,
mas um espaço estendido, uma sala de aula am‑ 2016). Tais processos se tornam mais viáveis com
pliada. Por isso, a educação formal é cada vez mais a disseminação das tecnologias móveis, com co‑
blended, misturada, híbrida, porque não acontece nexão sem fio à Internet, associadas com as faci‑
só no espaço físico da sala de aula, mas nos múlti‑ lidades de manuseio das ferramentas e interfaces
plos espaços do cotidiano, que incluem os digitais. gratuitas, com potencial de interação, autoria e co‑
O professor precisa seguir comunicando‑se face a laboração. Além do acesso à Educação de qualquer
face com os alunos, mas também digitalmente, com lugar e tempo, sem que as pessoas necessitem des‑
as tecnologias móveis, equilibrando a interação com locar‑se fisicamente, estas tecnologias propiciam a
todos e com cada um (MORAN, 2015). participação em processos formativos que integram
No caso dos cursos da área da saúde, o espaço co‑ as situações de trabalho e a aprendizagem em con‑
tidiano mais importante é a integração ensino‑ser‑ textos reais, nos quais se desenvolvem as experiên‑
viço, pois o contato precoce com a realidade dos cias (KEEGAN, 2007; ALMEIDA, 2011).
problemas da população e dos trabalhadores, e com Desafios e atividades podem ser dosados, pla‑
espaços físicos dos serviços de saúde, assim como o nejados, acompanhados e avaliados com apoio de
entendimento das diferentes formas de gestão, ha‑ tecnologias. Os desafios bem planejados contri‑
bilita os futuros profissionais em formação a terem buem para mobilizar as competências desejadas,
uma vivência profissional que os tornará mais ap‑ intelectuais, emocionais, pessoais e comunicacio‑
tos e competentes, quando estiverem inseridos no nais. Exigem pesquisar, avaliar situações e pontos
mercado de trabalho. Essa mescla, entre sala de aula de vista diferentes, fazer escolhas, assumir alguns
e ambientes virtuais, e a integração ensino‑serviço riscos, aprender pela descoberta e caminhar do
nos cursos da área da saúde são fundamentais para simples para o complexo. Nas etapas de formação,
abrir a escola para o mundo e trazer o mundo para os alunos precisam de acompanhamento de pro‑
dentro da escola. fissionais mais experientes para ajudá‑los a tornar

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 239
conscientes alguns processos, a estabelecer cone‑ gem mais integral, em que os estudantes estão em
xões não percebidas, a superar etapas mais rapida‑ grupos e os professores circulam entre eles como
mente e a confrontá‑los com novas possibilidades orientadores (VALENTI, 2015).
(MORAN, 2015). As novas formas de ensino e aprendizagem pre‑
Outra mescla, ou blended, é a de prever processos cisam de novas configurações de salas de aulas e
de comunicação mais planejados, organizados e for‑ laboratórios. Cada vez mais universidades estão
mais com outros mais abertos, como os que aconte‑ reorganizando ambientes de aprendizagem para
cem nas redes sociais, nas quais há uma linguagem acomodar aprendizagem mais ativa, para facilitar
mais familiar, uma espontaneidade maior, uma flu‑ pedagogias emergentes e estratégias, como a sala
ência de imagens, ideias e vídeos (MORAN, 2015). de aula invertida (LAMBERT, 2012).
As competências necessárias para cada etapa As configurações educacionais são cada vez mais
da formação profissional utilizando a aprendiza‑ adaptadas para apoiar projetos baseados em inte‑
gem significativa devem estar bem definidas com rações, com atenção para maior mobilidade, fle‑
as informações pertinentes a cada momento e que xibilidade e uso de vários dispositivos. As insti‑
combinam percursos pessoais com participação es‑ tuições terão de atualizar a largura de banda sem
timulada em grupos, por meio de plataformas adap‑ fio para criar “salas inteligentes” que suportam
tativas, que reconhecem cada aluno e, ao mesmo conferências na web e outros métodos de comuni‑
tempo, aprendem com suas interações, sendo que, cação remota e colaborativa (INSTRUCTIONAL
para tudo isso, deve‑se combinar o uso de diversas & INFORMATION TECHNOLOGY SERVICES,
tecnologias adequadas. 2020). Televisões de telas grandes e monitores es‑
Dessa forma, a construção de um currículo ino‑ tão sendo instalados para permitir a interação co‑
vador deve integrar as TDIC em processos que ex‑ laborativa entre projetos digitais e apresentações
pandem os tempos e espaços educativos; envolvem informais. Como o ensino superior está com ten‑
busca, organização, interpretação e articulação de dências à educação centrada nos estudantes, aban‑
informações; estimulam a reflexão crítica; o com‑ donando as aulas tradicionais baseadas em pales‑
partilhamento de experiências; e a produção de no‑ tras e substituindo‑as por mais cenários práticos,
vos conhecimentos na compreensão histórica do as salas de aulas devem começar a se parecer com
mundo e da ciência o real ambiente de trabalho do mundo real e do
âmbito social, que facilitam as interações entre in‑
divíduos e serviços para a resolução de problemas
2. REDESENHO DOS ESPAÇOS FÍSICOS DE interdisciplinares.
APRENDIZAGEM E A CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA Um estudo descobriu que os estudantes eram
mais propensos a envolver‑se em espaços de apren‑
O ambiente físico das salas de aula, dos laborató‑ dizagem inovadores (IS, 2017).
rios e da escola como um todo também precisa ser Essa integração dos espaços físicos e virtu‑
redesenhado dentro dessa nova concepção mais ais de aprendizagem introduziram uma nova
ativa, mais centrada no aluno. A sala de aula tradi‑ maneira de pensar sobre o aprendizado combi‑
cional é asfixiante para todos, principalmente para nado (QUEENSLAND UNIVERSITY, 2019).
os mais novos. (MORAN, 2013). As salas de aula po‑ Aprendizagem polissíncrona refere‑se a uma mis‑
dem ser mais multifuncionais, que combinem fa‑ tura de canais com momentos presenciais, assín‑
cilmente atividades de grupo, de plenário e indivi‑ cronos e síncronos de comunicação online. A par‑
duais. Os ambientes precisam estar conectados em ticipação dos estudantes em diversos locais é citada
redes sem fio, para uso de tecnologias móveis, o que como um benefício principal, o que exige que as sa‑
implica uma banda larga que suporte conexões si‑ las de aula físicas sejam projetadas para permitir
multâneas necessárias (MORAN, 2015). que os estudantes se comuniquem perfeitamente
As escolas como um todo precisam repensar es‑ com outras pessoas de forma presencial e virtual
ses espaços tão quadrados para espaços mais aber‑ (HIGHER ED IQ, 2015).
tos, onde lazer e estudo estejam mais integrados. A Internet e as tecnologias móveis revolucio‑
O que impressiona nas escolas com desenhos ar‑ naram a forma como as pessoas encontram, conso‑
quitetônicos e pedagógicos mais avançados é que mem e interagem com os conteúdos didáticos. Uma
os espaços são mais amplos, agradáveis, permitindo manifestação dessa tendência é a remoção de livros
mais contato com a natureza, que têm vantagens e periódicos em série das prateleiras de bibliote‑
inegáveis para projetos de ecologia de aprendiza‑ cas acadêmicas e de pesquisa, o que provou con‑

240 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


troverso para algumas comunidades acadêmicas. 3. AS DIFERENTES OPÇÕES INSTITUCIONAIS DE
PROCESSOS DE MUDANÇAS CURRICULARES
Bibliotecas estão substituindo suas pilhas de livros COM USO DE METODOLOGIAS ATIVAS DE
por novos tipos de espaços que oferecem áreas de es‑ APRENDIZAGEM
tudo, tanto individuais quanto coletivas, para maior
colaboração entre os estudantes e melhor atender As metodologias ativas de aprendizagem são cami‑
às suas necessidades com móveis, tecnologia e es‑ nhos para avançar para um currículo mais flexível,
paços. As necessidades mais atuais dos espaços de mais centrado no estudante, nas suas necessidades
aprendizagem adaptáveis são adicionar mais luga‑ e expectativas. A maior parte das escolas e univer‑
res sentados, WIFI, espaços de estudo em grupos, sidades quer mudar, mas está presa na cultura dis‑
pontos de tomadas de energia e móveis ajustáveis, ciplinar transmissiva e paternalista. Na dependên‑
tais como sofás e puffs (NEW ENGLAND BOARD cia da cultura e do clima organizacional de cada
OF HIGHER EDUCATION, 2015; WONG, 2016). instituição, das condições em que se encontra e do
A convergência tecnológica exige mudanças percurso de mudança já trilhado, a opção pode ser
muito mais profundas que afetam a escola em to‑ por mudanças mais rápidas ou lentas, mais super‑
das as suas dimensões: infraestrutura, projeto pe‑ ficiais ou mais profundas.
dagógico, formação docente e mobilidade. Os am‑ Na maioria das instituições, as mudanças curri‑
bientes devem estar cada vez mais adaptados para culares mais viáveis são as progressivas, que partem
dos modelos disciplinares para níveis de integração
uso de tecnologias móveis.
cada vez mais amplos. A primeira mudança é dentro
As tecnologias permitem o registro e a visibi‑
de cada disciplina, introduzindo metodologias ati‑
lização do processo de aprendizagem de cada um
vas, principalmente a sala de aula invertida, o que
e de todos os envolvidos. Mapeiam os progressos,
permite avanços rápidos pela maior qualidade da
apontam as dificuldades e podem prever alguns discussão presencial, com maior aprofundamento
caminhos para os que têm dificuldades específi‑ dos conteúdos. O caminho para avançar na integra‑
cas (plataformas adaptativas). Elas facilitam como ção é organizar atividades com conteúdos que en‑
nunca antes múltiplas formas de comunicação ho‑ volvam mais de uma disciplina: projetos comuns,
rizontal, em redes, em grupos e de forma individu‑ atividades integradoras, ampliando o uso das me‑
alizada. É fácil o compartilhamento, a coautoria, todologias ativas e dos modelos híbridos. A insti‑
a publicação, produzir e divulgar narrativas dife‑ tuição pode propor a criação de eixos de forma‑
rentes. A combinação dos ambientes mais formais ção para a integração longitudinal e transversal de
com os informais (redes sociais, wikis, blogs), feita conteúdos de diferentes disciplinas, o que é impor‑
de forma inteligente e integrada, nos permite con‑ tante para o estudante desenvolver uma visão mais
ciliar a necessária organização dos processos com ampla do que já aprendeu, irá aprender nesse mo‑
a flexibilidade de poder adaptá‑los a cada aluno e mento e o que ainda será aprendido futuramente.
grupo (MORAN, 2013). O próximo nível é o da integração entre as diver‑
As tecnologias nos libertam das tarefas mais pe‑ sas disciplinas por meio de um projeto mais amplo,
nosas, principalmente as repetitivas, e nos permi‑ planejando atividades conjuntas. A adoção do en‑
tem concentrar‑nos nas atividades mais criativas, sino híbrido também aumenta com maior inserção
das tecnologias digitais. A partir daí, a instituição já
produtivas e fascinantes. As plataformas adaptati‑
estará mais preparada para implementar um currí‑
vas monitoram os avanços de cada aluno em tempo
culo muito mais integrador, flexível, com foco em
real, sugerem alternativas e permitem que cada
projetos, e terá tido tempo de acompanhar outras
um estude sem professor no seu próprio ritmo, até
instituições que já implementaram currículos mais
um determinado ponto. Cada aluno conta com um ousados e que terão uma avaliação mais precisa do
dashboard, um quadro em que visualiza o percen‑ que vale a pena trazer para a própria instituição.
tual de conclusão de cada tema ou atividade e mais Dependendo da maturidade de professores, ges‑
estatísticas do seu desenvolvimento. Ele consegue tores e estudantes, também é possível uma mudança
perceber quais temas domina mais e os de maior curricular simultânea. Uma forma de acelerar as
dificuldade, que demandam mais ajuda. Em para‑ mudanças sem por em risco a cultura da institui‑
lelo, o professor visualiza, em um quadro em tempo ção é começar a inovação em pequena escala, em
real, o desempenho dos estudantes em cada tema uma área que tem maior abertura, com gestores e
(HORN; STAKER, 2015). professores mais empreendedores. Esses projetos

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 241
são acompanhados por todos, avaliados para de‑ aprendizagem baseada em problemas (DAVIS &
pois serem incorporados mais rapidamente pelos HARDEN, 1999; DOLMANS et al., 2005); 2) Sistemas
demais cursos. Ir da experiência focada e avaliada Orgânicos Integrados ‑ aprendizagem baseada em
para a estrutural é um caminho que tem muitas van‑ equipes (BURGESS et al., 2017; OLIVEIRA et al.,
tagens: todos aprendem com o grupo experimental 2018); 3) Laboratório de Habilidades e Simulação
e se preparam melhor para implementar um novo ‑ sala de aula invertida (HURTUBISE et al.,
projeto mais ousado. O importante neste processo 2015; DERUISSEAU, 2016) e simulação clínica
é que a discussão do projeto inovador seja feita pre‑ (KRISHNAN; KELOTH; UBEDULLA, 2017;
viamente por toda a comunidade acadêmica, que BATTISTA; NESTEL, 2018), e 4) Atenção Integral
deve acompanhar e avaliar sua implantação. à Saúde ‑ problematização com uso do Arco de
Também são possíveis transformações mais pro‑ Maguerez (BERBEL; GAMBOA, 2012; VIEIRA;
fundas nos projetos pedagógicos sem estrutura de PANÚNCIO‑PINTO, 2015), aprendizagem base‑
gestão baseada em departamentos, com currículos ada em casos (THISTLETHWAITE et al., 2012;
mais abertos, não baseados em disciplinas, com pro‑ MCLEAN SF, 2016) e/ou em projetos (DILEKLI,
gramações de conteúdos interdisciplinares com in‑ 2020; SI, 2020).
tegrações horizontais e verticais ao longo da matriz Nas programações dos diversos conteúdos, deve
curricular, geralmente com roteiros de aprendiza‑ haver um encadeamento progressivo dos temas de
gem dos ambientes de ensino. O planejamento dos cada problema das tutorias com objetivos de apren‑
ambientes físicos das salas de aula e dos laborató‑ dizagem bem definidos e alinhados aos dos demais
rios deve considerar as metodologias ativas utili‑ ambientes de ensino, permitindo a integração ver‑
zadas e a convergência digital de diversas tecnolo‑ tical não apenas das ciências básicas e clínicas, mas
gias de informação e comunicação. Uma plataforma também o entendimento dos fatores biopsicosso‑
educacional adaptativa associada a uma central de ciais e das necessidades de saúde da população, no
análises de dados de acessos aos conteúdos e às ati‑ ambiente de atenção integral à saúde.
vidades didáticas permite atividades presenciais e
virtuais, de forma síncrona e assíncrona, além de
avaliações formativas e somativas dos diversos am‑ 5. O LABORATÓRIO DE HABILIDADES E SIMULAÇÃO
bientes de ensino dos cursos. COMO AMBIENTE DE ENSINO

As competências médicas são adquiridas por meio


4. AMBIENTES DE APRENDIZAGEM DA ÁREA DA de habilidades cognitivas (conhecimento), psico‑
SAÚDE E USO DE METODOLOGIAS ATIVAS motoras (prática) e atitudinais (afetiva). As habi‑
lidades não técnicas, como comunicação, julga‑
Particularmente nos cursos de Medicina para atin‑ mento clínico e planejamento, são já inseridas na
gir os marcos de competências a cada momento da formação teórico‑clínica básica da educação médica
formação dos estudantes, os projetos pedagógicos (HEMMING, 2012). Para aprender e melhorar as
mais modernos utilizam várias metodologias ativas habilidades técnicas/psicomotoras e as habilidades
de ensino, de acordo com o ambiente de ensino e interpessoais, a prática repetida e a simulação são
os objetivos de aprendizagem. necessárias, permitindo a automação de habilidades
Basicamente, os cursos de medicina têm quatro manuais e destreza. O uso das ferramentas e técni‑
ambientes de ensino, sendo dois complementares cas de simulação na educação médica é chamado de
para o desenvolvimento cognitivo (tutorias e siste‑ Educação em Saúde baseada em Simulação (EMBS).
mas orgânicos integrados, sendo esse último a inte‑ Um Laboratório de Habilidades e Simulação
gração dos conteúdos das áreas básicas – anatomia, (LHS) é um centro de treinamento para estudan‑
fisiologia, histologia, biologia celular e molecular, tes de graduação, médicos residentes ou profissio‑
embriologia etc.), um para o treinamento prévio de nais de saúde, que permite adquirir/treinar habi‑
atividades práticas de habilidades e simulação, e lidades e procedimentos em um ambiente seguro
outro para integração ensino‑serviço‑comunidade. e protegido. Essas instalações também são ampla‑
Em cada um desses ambientes de ensino, há mente conhecidas como Centros de Simulação.
diferentes relações adequadas entre o número de Um Centro de Simulação pode ser usado para
estudantes por professor/facilitador e estudantes, diversas finalidades:
assim como o uso de diversas metodologias ativas ‑ treinamento de graduação (no estudo de ana‑
de aprendizagem em cada um deles: 1) Tutorias ‑ tomia, funções fisiológicas, técnicas de anam‑

242 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


nese e exame médico, além de procedimentos 6. CARACTERÍSTICAS DOS ESPAÇOS FÍSICOS DO
CENTRO DE SIMULAÇÃO
cirúrgicos);
‑ treinamento de residência (refinamento de ha‑
bilidades e técnicas processuais; O Centro de Simulação pode ter vários espaços fí‑
‑ para as pesquisas de pós‑graduação em educa‑ sicos, de acordo com as características e comple‑
ção em saúde; xidades de treinamento de cada local. Pode haver
‑ treinamento de equipes multiprofissionais (por salas específicas para capacitação de radiologia in‑
exemplo, treinamento em habilidades práticas, tervencionista, hemodiálise, hemodinâmica cardí‑
competências baseadas em equipe); aca, UTI neonatal, entre outras. No entanto, os espa‑
ços físicos que devem estar presentes em qualquer
‑ para a educação permanente dos profissionais
centro de simulação são:
de saúde, como contrapartida pelo uso da rede
‑ ambiente multifuncional central ‑ para reuni‑
pública de saúde;
ões de grupos de aprendizes antes e/ou depois
‑ para provas práticas de graduandos e médicos
das atividades simuladas;
residentes;
‑ setor clínico – deve ter um número variável de
‑ para provas práticas de processos seletivos de
consultórios simples multifuncionais, leitos de
variados tipos de profissionais de saúde de ins‑
enfermaria e de UTI, e leitos para simulação de
tituições públicas ou privadas, e
alta complexidade;
‑ para oferta de cursos privados que envolvem es‑
‑ setor cirúrgico ‑ com previsão de bancada de
tações práticas simuladas (como ATLS, ACLS,
lavagem das mãos, salas multifuncionais para
PALS, ALSO etc.).
treinamentos de técnicas cirúrgicas básicas (pa‑
A implantação de Centros de Simulação tem as
ramentação, curativos e suturas) e avançadas
seguintes fases:
(treinamento individual e de equipes em di‑
1) Objetivos; versos procedimentos cirúrgicos nas diferen‑
2) Plano de desenvolvimento e Ações; tes áreas ‑ cirurgia geral, especialidades cirúr‑
3) Recursos humanos; gicas, ginecologia/obstetrícia etc.);
4) Infraestrutura; ‑ setor de discussão das atividades práticas (de‑
5) Organização e regras de funcionamento; briefing e feedback) com possibilidade de uso
6) Desenvolvimento curricular para inserção de de diversos recursos tecnológicos;
atividades simuladas; ‑ salas de backstage para consultórios, nos quais
7) Agenda de capacitação docente em simulação; será utilizada a simulação de alta complexidade;
8) Acervo de simuladores e materiais; ‑ área técnica ‑ para preparo das práticas;
9) Estrutura de monitoramento de ações e ‑ almoxarifado ‑ para guarda do acervo de simu‑
avaliação; ladores e demais equipamentos;
10) Engajamento dos apoiadores internos e exter‑ ‑ setor de armários para guarda dos pertences dos
nos, e aprendizes ‑ que deve estar antes da recepção
11) Fases de implementação e plano de tempo. de entrada e segurança do centro de simulação;
Cada instituição de ensino e curso deve avaliar ‑ sala de controle das gravações de áudio e vídeo
as finalidades a que se destinam seus Centros de dos diversos ambientes físicos do centro de si‑
Simulação e, com isso, definir as fases de implan‑ mulação, e
tação individuais que pretendem. ‑ salas de coordenação.
Existem numerosos exemplos de cada uma des‑ O número total de salas do Centro de Simulação
sas fases, principalmente sobre as regras de utiliza‑ é muito importante para o planejamento da reali‑
ção e funcionamento do Laboratório de Habilidades zação periódica das avaliações práticas por esta‑
e Simulação de diversos cursos de medicina dispo‑ ções (OSCEs) para graduandos de cursos da área
níveis nos buscadores da Internet. da saúde. Isso torna o Centro de Simulação autos‑
Neste capítulo, o foco será a avaliação dos espa‑ suficiente para a avaliação prática, utilizando suas
ços físicos disponíveis aos Centros de Simulação e próprias salas, sem a necessidade de transporte de
as sugestões de mobiliários e recursos tecnológicos, simuladores e equipamentos para outros setores.
visando à melhor adequação dos objetivos de apren‑ E também evita a ociosidade da construção de sa‑
dizagem e avaliação dos currículos inovadores com las próprias para provas tipo OSCE, que existem
utilização de metodologias ativas de aprendizagem. em muitos locais.

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 243
O ambiente físico para discussão prévia ou pos‑
terior às atividades simuladas com o grupo de apren‑
dizes deve ser amplo o suficiente para o número
de aprendizes em cada atividade, podendo conter
a turma inteira ou em grupos menores para rodí‑
zios. De preferência, deve ser um espaço multifun‑
cional, com possibilidades de uso de vários recur‑
sos tecnológicos de imagem, não deve ter cadeiras
fixas e o mobiliário deve ser acolhedor. A melhor
alternativa para esse ambiente é um hall central,
como apresentado na Figura 1.
Figura 1 – Hall central para discussão pré e pós‑atividades
O setor clínico do Centro de Simulação pode ter
simuladas.
um número variável de consultórios simples mul‑
tifuncionais, leitos de enfermaria e de UTI, e lei‑
tos para simulação de alta complexidade, de acordo
com o número total de aprendizes e os rodízios de
pequenos grupos planejados. Na Figura 2, podemos
ver um exemplo de consultório simples multifuncio‑
nal que, de preferência, deve ter paredes retráteis
para a versatilidade desse ambiente físico em rela‑
ção ao número de aprendizes que estão presentes.
Na dependência do número de aprendizes que
farão a atividade simulada, poderá ser necessário
um espaço físico para os que não estiverem parti‑
Figura 2 – Consultório simples multifuncional. Notar as
cipando diretamente da atividade de simulação te‑
paredes retráteis.
rem diferentes opções de áudio e vídeo, e compreen‑
dam melhor o que ocorre no cenário de simulação,
como pode ser visto na Figura 3.
Na Figura 4, podemos observar a sala de simu‑
lação de alta complexidade por meio da sala de ba-
ckstage, com espelho de visão unidirecional.
Na Figura 5, podemos notar duas opções de lei‑
tos de enfermaria ou de Terapia Intensiva, que po‑
dem ser utilizadas no Centro de Simulação.
O setor cirúrgico do Centro de Simulação neces‑
sita da previsão de bancadas de lavagem das mãos,
como pode ser visto na Figura 6, salas multifuncio‑
Figura 3 – Uma opção para realização de atividades
nais para treinamentos de técnicas cirúrgicas bási‑ simuladas semelhantes ou diferentes em salas sucessivas
cas (paramentação, curativos e suturas), vistos na com visualização e escuta do áudio independente para
Figura 7, e técnicas cirúrgicas avançadas (treina‑ cada uma.
mento individual e de equipes em diversos proce‑
dimentos cirúrgicos nas diferentes áreas − cirurgia
geral, especialidades cirúrgicas, ginecologia/obste‑
trícia etc.), na Figura 8.
No setor de discussão das atividades práticas,
temos de prever salas de debriefing e feedback, com
possibilidade de uso de diversos recursos tecnoló‑
gicos para utilização de áudios e vídeos gravados
durante as atividades simuladas. Na Figura 9, pode‑
mos notar uma opção de sala de debriefing.
Em cada instituição de ensino ou curso, é neces‑
sária a adequação do Centro de Simulação ao uso Figura 4 – Visão unidirecional por meio do espelho da sala
de atividades didáticas de simulação clínica, que de controle para a sala de simulação de alta complexidade.

244 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


devem cada vez mais estar presentes nas progra‑ como readequação da infraestrutura de tomadas
mações das matrizes curriculares ao longo de toda elétricas e pontos de Internet, para a convergência
duração da graduação e também de acordo com os tecnológica de diversos recursos que podem ser uti‑
objetivos previstos de utilização do espaço físico, lizados para melhor aproveitamento pedagógico.
conforme suas diversas finalidades. Como a maio‑ Após essa avaliação individual de cada espaço
ria dos cursos já possui um Centro de Simulação, destinado ao Centro de Simulação de cada institui‑
geralmente muito pequeno, é necessária uma rede‑ ção ou curso, deve‑se elaborar um projeto de layout,
senho dos espaços físicos disponibilizados, assim da organização interna dos ambientes do imóvel.

Figura 5 – Visão de duas diferentes opções (A e B) para os leitos de enfermaria ou de Terapia Intensiva do Centro de
Simulação.

Figura 6 – Visão duas opções (A e B) de bancada de lavagem das mãos para procedimentos cirúrgicos.

Figura 7 – Opção de sala de treinamento de habilidades Figura 8 – Opção de sala de treinamento de habilidades
cirúrgicas básicas. cirúrgicas avançadas.

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 245
emular o mais fidedignamente, tanto a aparência
física quanto o fluxo interno dos ambientes dos
serviços de saúde, particularmente os hospitala‑
res. Também devem ser levados em consideração
a quantidade de estudantes e os rodízios das tur‑
mas, para dimensionar a capacidade de atender a
demanda de aulas e estudantes no centro de simu‑
lação, de acordo com a particularidade de cada ins‑
tituição de ensino (entrada semestral ou anual, nú‑
mero de estudantes, relação docente/estudantes,
tipo de divisão dos estudantes em grupo para ro‑
dízio das atividades, presença concomitante de ou‑
tros cursos etc.). Para tanto, devem seguir as orien‑
tações abaixo.
Figura 9 – Opção de sala de treinamento de habilidades
cirúrgicas avançadas.
7.1 DIMENSIONAMENTOS DOS AMBIENTES
SIMULADOS DE SAÚDE
Seguindo a Resolução RDC nº 50, DE 21 de fevereiro
de 2002 (Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
2002), que determina como os ambientes de saúde
devem ser elaborados, seguem abaixo as dimensões
mínimas indicadas (Quadro 1):

7.2 DIMENSÕES MÍNIMAS DOS CORREDORES


Os corredores destinados à circulação de pacientes
Figura 10 – Modelos de projetos de layout que podem ser
devem ter corrimãos em ao menos uma parede la‑
elaborados após a avaliação das áreas físicas dos Centros
de Simulação de cada instituição ou curso. teral, a uma altura de 80 cm a 92 cm do piso, e com
finalização curva. Os bate‑macas podem ter tam‑
bém a função de corrimão.
Os corredores de circulação de pacientes am‑
O principal objetivo desse projeto arquitetônico é bulantes ou em cadeiras de rodas, macas ou camas,
a otimização dos espaços e do fluxo de pessoas, ga‑ devem ter a largura mínima de 2,00 m para os maio‑
rantindo o melhor desempenho possível das ativi‑ res de 11,0 m e 1,20 m para os demais, não podendo
dades a serem realizadas nos ambientes que serão ser utilizados como áreas de espera.
reformados ou construídos. Isso garante a certeza Os corredores de circulação de tráfego intenso
da elaboração de um ambiente que seja funcional de material e pessoal devem ter largura mínima de
e que traga conforto aos usuários. 2,00 m, não podendo ser utilizados como área de
Dessa forma, ao final da avaliação dos espaços estacionamento de carrinhos.
destinados ao Centro de Simulação, o projeto de Nas áreas de circulação, só podem ser instala‑
layout deve mostrar a planta do espaço a ser rea‑ dos telefones de uso público, bebedouros, extinto‑
dequado com toda a previsão de espaços e medi‑ res de incêndio, carrinhos e lavatórios, de tal forma
das, móveis, pontos de tomadas, pontos de Internet, que não reduzam a largura mínima estabelecida e
pontos hidráulicos (cubas, pias, torneiras e ralos) não obstruam o tráfego, a não ser que a largura ex‑
e equipamentos, como pode ser visto no exemplo ceda a 2,00 m;
da Figura 10. Os corredores destinados apenas à circulação
de pessoal e de cargas não volumosas devem ter
largura mínima de 1,20 m.
7. DETALHES TÉCNICOS DOS ESPAÇOS FÍSICOS E DA No caso de desníveis de piso superiores a 1,5 cm,
INFRAESTRUTURA DO CENTRO DE SIMULAÇÃO deve ser adotada solução de rampa unindo os dois
níveis.
Visando ao pleno aproveitamento da infraestru‑ Circulações das unidades de emergência e ur‑
tura e ao melhor aprendizado dos estudantes, os gência, centro cirúrgico e obstétrico, devem sem‑
Centros de Simulação devem ser elaborados para pre possuir largura mínima de 2,00 m.

246 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 1 – Dimensões mínimas dos ambientes de saúde.

AMBIENTE DIMENSÃO MÍNIMA


Sala de demonstração e educação em saúde 1 m por ouvinte
2

Consultórios 6,0 m2
Salas coletivas de observação 8,5 m2 por leito
12 m2 por leito

Sala de emergência/UTI Com distância de 1 m entre os leitos e paredes, exceto


cabeceira, e com espaço suficiente para manobra da maca
junto ao pé dessa. Pé‑direito mínimo = 2,7 m
12 m2
Distância entre leito e paredes: 1m cabeceira = inexistente;
Enfermaria (01 Leito)
Pé do leito =1,2 m;
Lateral = 0,5 m
Quarto de 2 leitos = 7,0 m2 por leito
Distância entre leitos paralelos = 1 m
Enfermaria (02 leitos) Distância entre leito e paredes: cabeceira = inexistente;
Pé do leito =1,2 m;
Lateral = 0,5 m
Quarto de 3 a 6 leitos = 6,0 m2 por leito
Distância entre leitos paralelos = 1 m
Enfermaria (03 a 06 leitos) Distância entre leito e paredes: cabeceira = inexistente;
Pé do leito =1,2 m;
Lateral = 0,5 m
Sala de aula 0,8 m2 por aluno

7.3 PISOS E RODAPÉS Especial atenção deve ser dada à união do rodapé
Os pisos indicados para esses ambientes são o viní‑ com a parede de modo que os dois estejam alinha‑
lico e o epóxi, pois não podem ter índice de absor‑ dos, evitando‑se o tradicional ressalto do rodapé
ção de água superior a 4%. E, para as áreas críticas, que permite o acúmulo de pó e é de difícil limpeza.
utilizar materiais de acabamento que tornem as su‑ Fica estabelecida a utilização de piso condu‑
perfícies monolíticas, com o menor número possí‑ tivo somente quando houver uso de misturas anes‑
vel de ranhuras ou frestas, mesmo após o uso e lim‑ tésicas inflamáveis com oxigênio ou óxido nitroso,
peza frequente. Esses tipos de piso são indicados bem como quando houver agentes de desinfecção,
também em ambientes de Instituições onde hou‑ incluindo‑se aqui a Zona de Risco.
ver a opção de utilização de cadáveres, pois, por se‑
rem hospitalares, eles estão de acordo com as nor‑ 7.4 ACABAMENTOS DE PAREDES, TETOS, BANCADAS
mas técnicas de biossegurança preconizadas pela E DIVISÓRIAS
ANVISA (RDC 50/2002). Como esses locais devem mimetizar ambientes hos‑
A execução da junção entre o rodapé e o piso deve pitalares e, em alguns casos, utilizar ou ter de con‑
ser com cantos em formatos arredondados em 45 tar com a circulação de materiais biológicos, é ne‑
graus, permitindo a completa limpeza do ambiente. cessário cumprir alguns requisitos.

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 247
A limpeza e a sanitização de pisos, paredes, Nos demais casos em que houver apenas simu‑
tetos, pias e bancadas devem seguir as normas lação sem materiais biológicos, o uso de forros con‑
contidas no manual Processamento de Artigos e tínuos pode ser utilizado normalmente.
Superfícies em Estabelecimentos de Saúde 2ª edi‑
ção, Ministério da Saúde/Coordenação de Controle 7.6 ACESSÓRIOS (BATE‑MACAS, PROTETORES DE
de Infecção Hospitalar. Brasília‑DF, 1994 ou o que PAREDE)
vier a substituí‑lo. O sistema de proteção de paredes, portas e cantos,
Os materiais adequados para o revestimento de também conhecido como bate‑macas, é impres‑
paredes, pisos e tetos dos ambientes devem ser re‑ cindível para a segurança em ambientes hospita‑
sistentes à lavagem e ao uso de desinfetantes, con‑ lares. O bate maca hospitalar tem como função ab‑
forme preconizado no manual supracitado. sorver os impactos dos processos cotidianos, para
Os materiais, cerâmicos ou não, quando usados assim oferecer máxima proteção e conservação do
nas áreas críticas, não podem possuir índice de ab‑ ambiente. No mercado, há fabricantes especializa‑
sorção de água superior a 4% individualmente ou dos em cortinas divisórias para leitos e sistemas de
depois de instalados no ambiente, além de se ob‑ proteção que oferecem soluções adequadas às mais
servar que o rejunte de suas peças, quando existir, exigentes normas técnicas arquitetônicas para exe‑
também deve ter esse mesmo índice de absorção. cução em projetos hospitalares.
As tintas elaboradas à base de epóxi, PVC, po‑
liuretano ou outras destinadas a áreas molhadas 7.7 PORTAS
podem ser utilizadas nas áreas críticas tanto nas Todas as portas de acesso a pacientes devem ter di‑
paredes e tetos quanto nos pisos, desde que sejam mensões mínimas de 0,80 (vão livre) × 2,1 m, inclu‑
resistentes à lavagem, ao uso de desinfetantes e não sive nos sanitários.
sejam aplicadas com pincel. Quando utilizadas no Todas as portas de acesso aos ambientes onde
piso, devem resistir também a abrasão e impactos forem instalados equipamentos de grande porte têm
a que serão submetidas. de possuir folhas ou painéis removíveis, com lar‑
O uso de divisórias removíveis nas áreas críti‑ gura compatível com o tamanho do equipamento,
cas não é permitido, entretanto paredes pré‑fabri‑ permitindo assim sua saída.
cadas podem ser usadas, desde que, quando insta‑ Todas as portas utilizadas para a passagem de
ladas, tenham acabamento monolítico, ou seja, não camas/macas e de laboratórios devem ter dimen‑
possuam ranhuras ou perfis estruturais aparentes, sões mínimas de 1,10 (vão livre) × 2,10 m, exceto as
e sejam resistentes à lavagem e ao uso de desinfe‑ portas de acesso para as unidades de diagnóstico
tantes, conforme preconizado no manual citado no e terapia, que necessitam acesso de maca. As salas
primeiro parágrafo deste item. Nas áreas semicríti‑ de exame ou terapias devem ter dimensões míni‑
cas, as divisórias só podem ser utilizadas se forem, mas de 1,20 × 2,10 m.
também, resistentes ao uso de desinfetantes e à la‑ As portas de banheiros e sanitários de pacien‑
vagem com água e sabão, conforme preconizado no tes devem abrir para fora do ambiente ou permitir
manual ora citado. a retirada da folha pelo lado de fora, a fim de que
Nas áreas críticas e semicríticas, não deve haver sejam abertas sem necessidade de empurrar o pa‑
tubulações aparentes nas paredes e tetos. Quando ciente eventualmente caído atrás da porta. As por‑
estas não forem embutidas, devem ser protegidas tas devem ser dotadas de fechaduras que permi‑
em toda sua extensão por um material resistente a tam facilidade de abertura em caso de emergência
impactos, lavagem e uso de desinfetantes. e barra horizontal a 90 cm do piso.

7.5 FORROS
7.8 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
Os tetos em áreas críticas (especialmente nas salas
destinadas à realização de procedimentos cirúrgicos 7.8.1 ILUMINAÇÃO
ou similares) devem ser contínuos, sendo proibido Nos ambientes onde não acontecerão simulações
o uso de forros falsos removíveis, do tipo que inter‑ com pacientes simulados, não serão necessárias
fira na assepsia dos ambientes. Nas demais, pode‑se condições especiais de iluminação. Também não
utilizar forro removível, inclusive por razões liga‑ necessitam de incidência de luz de fonte natural
das à manutenção, desde que, nas áreas semicríti‑ direta nem de iluminação artificial especial.
cas, esses sejam resistentes aos processos de lim‑ Nos ambientes em que houver simulações com
peza, descontaminação e desinfecção. pacientes simulados, deve ser adotada iluminação

248 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


que não altere a cor do paciente, como focos auxi‑ 7.12 GASES
liares e similares. Os projetos de ambientes simulados, em sua maio‑
ria, não utilizarão instalações de gases convencio‑
nais. Em determinados projetos, somente haverá a
7.8.2 TOMADAS ELÉTRICAS
instalação da régua de gases para simulação e, em
O número de pontos de tomadas elétricas deve ser alguns destes projetos, haverá instalação de ar com‑
determinado após avaliação da sala/laboratório, le‑ primido por meio de compressores que devem ser
vando em conta as funções de destinação do local instalados externamente ao ambiente de simulação
e os equipamentos elétricos que podem ser utili‑ para evitar problemas com ruídos.
zados no ambiente. Quando necessário, realizar a instalação de
gases medicinais por meio de tubulações, sendo
7.9 INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS que os projetos devem atender a NBR 12188 e suas
Deverá ser desenvolvido um projeto básico das ins‑ especificações.
talações hidráulicas e especiais do estabelecimento,
destinado a compatibilizar o projeto arquitetônico 7.13 SEGURANÇA
com as diretrizes básicas a serem adotadas no desen‑ 7.13.1 SINALIZAÇÃO DE SEGURANÇA
volvimento do projeto, contendo quando aplicáveis: Todas as saídas de pavimento e setores de incên‑
‑ Descrição básica do sistema de abastecimento dio têm de estar sinalizadas. As circulações conta‑
de água: entrada; rão com sinais indicativos de direção desde os pon‑
‑ Previsões do consumo de água; tos de origem de evacuação até os pontos de saída.
‑ Descrição básica do sistema de proteção e com‑ A sinalização perfeitamente visível deve confirmar
bate a incêndio; a utilização, por exemplo, de escadas de incêndio.
‑ Localização da rede pública de esgoto e/ou, Toda porta que não seja saída e que não tenha in‑
quando necessária, a indicação de sistema de dicação relativa à função do recinto a que dá acesso
tratamento (fossa séptica, câmaras de decan‑ pode induzir a erro. Dessa forma, deve ser sinali‑
tação para esgoto radioativo, outros), e zada com o rótulo “SEM SAÍDA”.
‑ Descrição básica do sistema de fornecimento Os sistemas de detecção são constituídos pelos
seguintes elementos:
de gases medicinais (oxigênio, óxido nitroso,
● Dispositivos de entrada ‑ Detectores automá‑
ar comprimido medicinal e outros) quando for
ticos, acionadores automáticos e acionadores
o caso.
manuais;
● Centrais de alarme ‑ Painéis de controle indivi‑
7.10 ACÚSTICA dualizados, no mínimo, por setor de incêndio;
Para a realização de simulação dentro dos ambien‑ ● Dispositivos de saída ‑ Indicadores sonoros, in‑
tes destinados para tal função, é necessário controle dicadores visuais, painéis repetidores, discagem
de ruídos para que o áudio de um local não atrapa‑ telefônica automática, desativadores de instala‑
lhe os demais. Para isso, existe uma série de prin‑ ções, válvulas de disparo de agentes extintores,
cípios arquitetônicos gerais para controle acústico fechamento de portas CORTA‑FOGO e moni‑
nos ambientes, em que todos agem no sentido de tores, e
isolar as pessoas da fonte de ruído, a partir de limi‑ ● Rede de interligação ‑ Conjunto de circuitos que
tes de seus níveis estabelecidos por normas brasi‑ interligam a central com os dispositivos de en‑
leiras e internacionais. trada, saída e as fontes de energia do sistema.
A Norma Brasileira NBR 10152 estabelece os ní‑
7.13.2 GUARDA DE PERTENCES DE ESTUDANTES,
veis de ruídos aceitáveis para diferentes ambientes.
FUNCIONÁRIOS, PROFESSORES E CONVIDADOS
Em um local externo ao Centro de Simulação, de‑
7.11 CLIMATIZAÇÃO
vem ser destinados armários com dispositivo de
Visando ao conforto dos alunos e professores, deve fechamento individual para a guarda de perten‑
ser desenvolvido um programa básico das instala‑ ces das diversas pessoas que podem adentrá‑lo. De
ções de ar‑condicionado e ventilação mecânica, acordo com as regras definidas pela instituição ou
destinado a compatibilizar o projeto arquitetônico curso, estes armários podem ter dispositivos de fe‑
com as diretrizes básicas a serem adotadas no de‑ chamento individual, com cadeados e chaves que
senvolvimento do projeto. são retirados na recepção, mediante a entrega de

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 249
documentos com fotos, ou permitir que cada estu‑ 7.15 RECOMENDAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS
dante tenha seu armário. Os profissionais técnicos em um centro de simu‑
lação são de suma importância e têm as seguin‑
tes funções:
7.13.3 CONTROLE DE ACESSO
‑ É peça‑chave para apoio direto ao docente na
Uma das melhores opções é o uso de catracas ele‑
construção da prática simulada solicitada;
trônicas com um sistema de controle de acesso bio‑ ‑ Acompanha diretamente os docentes e estudan‑
métrico ou cartões de acesso (proximidade ou có‑ tes durante a simulação;
digo de barras). Porém, a biometria oferece mais ‑ Faz cumprir as normas estabelecidas para aden‑
segurança e comodidade, pois evita empréstimos trar ao centro de simulação;
de cartões e/ou senhas de acesso, assim como perda ‑ Executa as manutenções necessárias nos simu‑
ou extravio dos mesmos, além de custos adicionais ladores e demais equipamentos, bem como a
com emissão dos cartões. limpeza dos materiais e simuladores, e
Para os frequentadores da faculdade, sua iden‑ ‑ Gerencia estoque dos materiais.
tificação se dá quando coloca‑se o dedo no leitor Em geral, esses profissionais são da área de en‑
biométrico da catraca. O sistema de controle de fermagem, pois já conhecem todos os materiais uti‑
acesso, ao reconhecer a impressão digital do usuá‑ lizados nas atividades práticas.
rio cadastrada no banco de dados, libera então sua
entrada ou saída. Pessoas que não estão com sua di‑ 7.16 ACESSIBILIDADE
gital cadastrada no sistema não poderão ter acesso Todos os ambientes devem ser desenvolvidos nor‑
livre às dependências do recinto, garantindo, assim, teados pelas Leis 10.048 e 10.098 (BRASIL, 2000),
a segurança de todos. as quais regulam a acessibilidade nos ambientes
As principais vantagens, ao controlar o Fluxo educacionais.
de Acesso de pessoas, são:
● Tranquilidade e segurança para alunos, profes‑
sores e demais funcionários; 8. DETALHES TÉCNICOS DA UTILIZAÇÃO E
● Bloqueio da entrada de pessoas não autoriza‑ CONVERGÊNCIA DE RECURSOS TECNOLÓGICOS
das e/ou mal intencionadas, etc.; E DO MOBILIÁRIO DOS DIVERSOS SETORES DO
● Segurança patrimonial dos equipamentos; CENTRO DE SIMULAÇÃO
● Controle de frequência dos estudantes;
● Relatório dos registros da entrada de alunos, O uso das tecnologias de informação e comunica‑
professores e terceiros, e ção (TICs) nos cursos da área da saúde, particular‑
● Controle de presença por turno, por turmas, etc. mente na medicina, favorece a institucionalização
de métodos e práticas de ensino/ aprendizagem,
7.14 RECOMENDAÇÕES DE HUMANIZAÇÃO incentiva o uso das tecnologias da comunicação
A humanização dos estabelecimentos de saúde tem e informação, e visa criar uma cultura acadêmica
uma diretriz transversal e constitui‑se num con‑ que considere tais recursos como instrumentos
junto de ações sobre diversas práticas e condições motivadores da aprendizagem individual e em
na prestação dos serviços de saúde, assim como em grupo. Eles devem estar alinhados com os objeti‑
vos de aprendizagem e o projeto pedagógico, per‑
diferentes níveis do Sistema, formando uma cons‑
mitindo a melhor utilização dos mesmos e otimi‑
trução coletiva de todos os atores envolvidos. Para
zando a integração entre a rede de saúde, a atenção
o Ministério da Saúde, trata‑se de uma das estra‑
e a universidade.
tégias para alcançar a qualificação da atenção e da
Desta forma, objetiva a formação de qualidade,
gestão em saúde no SUS. Trata‑se de uma forma em que profissionais médicos sejam capazes de re‑
de tornar parceiros, tanto usuários como profis‑ conhecer, nas aplicações das tecnologias de infor‑
sionais de saúde, na busca da qualidade dos servi‑ mação e comunicação, amplas possibilidades de
ços, um projeto de corresponsabilidade e qualifi‑ aprender a ensinar, desenvolvendo a habilidade de
cação dos vínculos interprofissionais e entre estes manusear os recursos tecnológicos existentes, em
e os usuários na produção de saúde. Essa humani‑ favor de sua formação e atualização, bem como a
zação hospitalar, ao mesmo tempo em que colabora sua competência para conceber ações em direção
com o processo terapêutico do paciente, contribui à saúde e ao bem‑estar social.
para a qualidade dos serviços de saúde prestados Os conteúdos educacionais e materiais didáti‑
pelos profissionais envolvidos (MARTINS, 2004). cos serão desenvolvidos através da utilização de re‑

250 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


cursos tecnológicos, tais como ambientes virtuais O uso de elementos interativos como realidade
de aprendizagem, programas de indexação e busca virtual podem ser utilizados, tanto para simulação
de conteúdo, objetos educacionais e outros, que de‑ clínica como para apoio à anatomia, tornando o
vem ser acessíveis em versão mobile, por computa‑ aprendizado mais interessante ao aluno, pois esse
dores pessoais e tablets. tipo de recurso se faz presente no cotidiano deles.
Para melhor uso das metodologias ativas, as ins‑ O sistema de rede de dados e voz deve ser bem es‑
tituições podem usar os elementos tecnológicos que truturado, contendo banda larga suficiente para aten‑
as apoiem, como utilização de câmeras e sistema der aos discentes e docentes com qualidade, de modo
de vídeo para gravar as atividades e enviar aos es‑ que sejam utilizados os diversos portais de pesquisa
tudantes para reflexão pós‑debriefing ou uso em via internet e também os aplicativos e recursos de
sala de aula invertida, de elementos de multimí‑ ambientes virtuais proporcionados pela própria ins‑
dia, como computadores, projetores, telas grandes tituição, facilitando a acessibilidade aos aprendizes.
de TV, entre outros, para apoio em ambientes de re‑ A seguir, em cada quadro (Quadros 3 a 11), se‑
flexão de casos, que podem ser também utilizados rão apresentados os mobiliários e recursos tecnoló‑
como pré‑briefing e sala de TBL ou PBL, tornando gicos sugeridos para cada setor descrito do Centro
esses locais multiuso e multifuncionais (Quadro 2). de Simulação.

Quadro 2 – Hall central (vide Figura 1)

Sugestões de equipamentos e mobiliários


Para que os alunos fiquem à vontade e interajam com
as tecnologias disponíveis e tenham maior rendimento
Puffs e mochos confortáveis
e interação em grupos, de acordo com a metodologia
utilizada.
Permite interação nos conteúdos, como anatomia, fisiologia,
Plataforma multidisciplinar 3D ou mesa histologia, patologia, entre outras possibilidades, auxiliando
anatômica na discussão pós‑prática dos alunos e no uso do currículo
integrado dentro desse ambiente.
É utilizado como apoio à discussão em grupo, reflexão
Projetor e tela de projeção retrátil pós‑prática, sala de aula invertida, briefing e debriefing,
entre outras aplicações.
Utilizadas para filmar os ambientes, atividades e avaliações
Câmeras de alta definição
de simulação.
Lousa fixa ou móvel Lousa para apoio às discussões de casos, reflexão de casos.

Quadro 3 – Consultórios (vide Figuras 2 e 3)

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


A. Equipamentos
Item Descrição
Câmeras de alta definição com
Utilizadas para filmar os ambientes, atividades e avaliações de
sistema de captura de áudio e
simulação.
vídeo
Cabeamento e sala de controle para gerenciar a gravação,
Infraestrutura de captura de
armazenamento e agendamento das atividades de multimídia
vídeos e áudios
envolvendo os equipamentos.
Para uso durante simulação na qual serão utilizados softwares para
Laptop ou desktop
emular prontuário eletrônico com telemedicina.

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 251
Quadro 3 – Continuação...

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


A. Equipamentos
Item Descrição
Balança Balança Antropométrica.
Para manter a temperatura equilibrada e a integridade dos
Ar condicionado
equipamentos e simuladores.
B. Softwares
Sistema de telerradiologia com casos reais de diversas patologias para
Sistema de telerradiologia
uso remoto e presencial nas simulações.
Software para gerenciar gravação, armazenamento e agendamento
Software para gravação
das atividades de multimídia envolvendo os equipamentos.
C. Mobiliários
Maca Maca hospitalar com armário.
Mesa para atendimento Mesa para uso durante a simulação pelos alunos e professores.
Lavatório em inox para assepsia Lavatório em inox para assepsia com acionamento por pedal.
Cadeiras confortáveis para uso durante a simulação pelos alunos e
Cadeiras
professores.
D. Outros
Lixeira branca Lixeira branca com pedal.
Dispenser de sabonete líquido Dispenser de sabonete líquido próximo ao lavatório.
Dispenser de álcool gel Dispenser de álcool gel próximo à entrada do consultório.
Dispenser de papel Dispenser de papel próximo ao lavatório.
Coletor perfurocortante Coletor perfurocortante (3 litros) com suporte de parede

Quadro 4 – Salas de simulação e controle (para 1, 2 e 4 salas contíguas) (vide Figura 4)

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


Cadeiras confortáveis para uso dos técnicos de multimídia
Cadeiras
que farão a operação dos sistemas de gestão de imagens.
Para uso durante a gravação e controle dos simuladores e
Mesas
sistemas.
Equipamento para gestão do áudio e vídeo das salas de
Mesa de som
simulação.
Câmeras de alta definição com sistema de Utilizadas para filmar ambientes, atividades e avaliações de
captura de áudio e vídeo simulação.
Cabeamento e sala de controle para gerenciar gravação,
Infraestrutura de captura de vídeos e
armazenamento e agendamento das atividades de
áudios
multimídia envolvendo os equipamentos.
TV 40 polegadas (utilizada na sala de Serão utilizadas como monitores externos para reprodução
debriefing) do conteúdo gravado nos consultórios.
Em caso de a instituição optar por armazenamento local dos
Servidor de Vídeo
conteúdos gerados.

252 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 5 – Enfermarias (vide Figura 5)

Sugestões de equipamentos, softwares, mobiliários e materiais


A. Equipamentos
Item Descrição
Câmeras de alta definição com Utilizadas para filmar ambientes, atividades e avaliações de
sistema de captura de áudio e vídeo simulação.
Cabeamento e sala de controle para gerenciar gravação,
Infraestrutura de captura de vídeos
armazenamento e agendamento das atividades de multimídia
e áudios
envolvendo os equipamentos.
Monitor multiparamétrico Monitor multiparamétrico simulado ou simples.
Serão utilizadas como monitores externos para reprodução do
TV 40 polegadas (utilizada na sala
conteúdo gravado nos consultórios (colocaria somente na sala de
de debriefing)
debriefing).
Para manter a temperatura equilibrada e a integridade dos
Ar condicionado
equipamentos e simuladores.
Régua de gases Régua de gases para uso em simulação.
B. Softwares
Software para gerenciar gravação, armazenamento e agendamento
Software para gravação
das atividades de multimídia envolvendo os equipamentos.
C. Mobiliários
Cama hospitalar com elevação manual ou mecânica para uso em
Cama Hospitalar
simulação.
Mesa Mayo Mesa auxiliar
Lavatório em inox para assepsia Lavatório em inox para assepsia com acionamento por pedal.
D. Outros
Lixeira branca Lixeira branca com pedal.
Dispenser de sabonete líquido Dispenser de sabonete líquido próximo ao lavatório.
Dispenser de álcool gel Dispenser de álcool gel próximo à entrada do consultório.
Dispenser de papel Dispenser de papel próximo ao lavatório.
Coletor perfurocortante Coletor perfurocortante (3 litros) com suporte de parede

Quadro 6 – UTI adulto (vide Figura 5)

Sugestões de equipamentos, softwares, mobiliários


A. Equipamentos
Item Descrição
Câmeras de alta definição com Utilizadas para filmar ambientes, atividades e avaliações de
sistema de captura de áudio e vídeo simulação.
Cabeamento e sala de controle para gerenciar gravação,
Infraestrutura de captura de vídeos
armazenamento e agendamento das atividades de multimídia
e áudios
envolvendo os equipamentos.

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 253
Quadro 6 – Continuação...

Sugestões de equipamentos, softwares, mobiliários


A. Equipamentos
Item Descrição
Ventilador mecânico Ventilador simples ou simulado.
Monitor multiparamétrico Monitor multiparamétrico (simulado ou não)
Serão utilizadas como monitores externos para reprodução do
TV 40 polegadas (utilizada na sala
conteúdo gravado nos consultórios (colocaria somente na sala de
de debriefing)
debriefing).
Para manter a temperatura equilibrada e a integridade dos
Ar Condicionado
equipamentos e simuladores.
Régua de gases Régua de gases para uso em simulação.
B. Softwares
Software para gerenciar gravação, armazenamento e agendamento
Software para gravação
das atividades de multimídia envolvendo os equipamentos
C. Mobiliários
Suporte de soro Suporte simples de soro
Cama hospitalar Cama hospitalar com elevação mecânica para uso em simulação
Carrinho de parada Simulado ou simples
Mesa Mayo Mesa auxiliar
Lavatório em inox para assepsia Lavatório em inox para assepsia com acionamento por pedal
D. Outros
Lixeira branca Lixeira branca com pedal
Dispenser de sabonete líquido Dispenser de sabonete líquido próximo ao lavatório
Dispenser de álcool gel Dispenser de álcool gel próximo à entrada do consultório
Dispenser de papel Dispenser de papel próximo ao Lavatório
Coletor perfurocortante Coletor perfurocortante (3 litros) com suporte de parede

Quadro 7 – Treinamento de técnicas cirúrgicas básicas e avançadas (vide Figuras 6, 7 e 8)

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


A. Equipamentos
Item Descrição
Câmeras de alta definição com Utilizadas para filmar ambientes, atividades e avaliações de
sistema de captura de áudio e vídeo simulação.
Cabeamento e sala de controle para gerenciar gravação,
Infraestrutura de captura de vídeos
armazenamento e agendamento das atividades de multimídia
e áudios
envolvendo os equipamentos.
Para simulação em ambiente cirúrgico com as mesmas
Foco de teto
características do original.

254 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 7 – Continuação...

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


A. Equipamentos
Item Descrição
Mesa com sistema de filmagem, transmissão e gravação de imagens
de procedimentos, que pode ser utilizada para envio de vídeos em
Mesa de inox inteligente tempo real para os alunos dentro ou fora do ambiente, evitando
aglomerações em redor do professor e permitindo o uso para
acompanhamento remoto.
Serão utilizadas como monitores externos para reprodução do
TV 40 polegadas
conteúdo ministrado das mesas de inox inteligentes.
Instalação de ambiente de assepsia contendo vestiários, área de
Infraestrutura de assepsia paramentação e cubas para lavagem de mãos e antebraços, com
sistema de acionamento por pedal ou similar.
Para manter a temperatura equilibrada e a integridade dos
Ar condicionado
equipamentos e simuladores.
B. Softwares
Software para gerenciar gravação, armazenamento e agendamento
Software para gravação
das atividades de multimídia envolvendo os equipamentos.
C. Mobiliários
Com regulagem de altura para uso durante os treinamentos e
simulações. Deve ser em inox para evitar riscos biológicos. (Se o
Banquetas em inox
objetivo do local for lidar somente com peças sintéticas, não há
necessidade de ser totalmente em inox, pois o custo é alto).
Mesas de inox de 50 centímetros Para treinamento em suturas e demais habilidades cirúrgicas.
Lavatório em inox para assepsia Lavatório em inox para assepsia com acionamento por pedal.
Mesas de inox Para treinamentos em habilidades cirúrgicas e simulação.
D. Outros
Lixeira branca Lixeira branca com pedal.
Dispenser de sabonete líquido Dispenser de sabonete líquido próximo ao lavatório.
Dispenser de álcool gel Dispenser de álcool gel próximo à entrada do consultório.
Dispenser de papel Dispenser de papel próximo ao lavatório
Coletor perfurocortante Coletor perfurocortante (3 litros) com suporte de parede

Quadro 8 – Salas de debriefing (vide Figura 9)

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


Para que os alunos fiquem à vontade e interajam com
as tecnologias disponíveis e tenham maior rendimento
Puffs e mochos confortáveis
e interação em grupos, de acordo com a metodologia
utilizada.
Mesa estratégica modular que se divide em seis lugares
Mesas sextavadas modulares permitindo ao docente dividir a turma em grupos de acordo
com a metodologia ou a estratégia educacional utilizada.

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 255
Quadro 8 – Continuação...

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


Esse recurso acompanha teclado e mouse sem fio para que
os alunos o utilizem nas bancadas e mesas para discussões
TV 55’ polegadas com minisservidor
avançadas com acesso à base de dados e bibliotecas virtuais
do curso.
Lousas laterais ou móveis Para apoio às discussões entre discentes e professores.
Câmeras de alta definição com sistema de Utilizadas para filmar ambientes, atividades e avaliações de
captura de áudio e vídeo simulação.
Utilizado nos ambientes de debriefing, permitindo aos
Sistema de checklist informatizado
alunos interagir nas simulações.
Cabeamento e sala de controle para gerenciar gravação,
Infraestrutura de captura de vídeos e
armazenamento e agendamento das atividades de
áudios
multimídia envolvendo os equipamentos.

Quadro 9 – Salas de treinamento de habilidades (vide Figuras 7 e 8)

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


A. Equipamentos
Item Descrição
Câmeras de alta definição com Utilizadas para filmar ambientes, atividades e avaliações de
sistema de captura de áudio e vídeo simulação.

Cabeamento e sala de controle para gerenciar gravação,


Infraestrutura de captura de vídeos
armazenamento e agendamento das atividades de multimídia
e áudios
envolvendo os equipamentos.

Console soft para telemedicina com braço articulado com câmera


permitindo ao aluno transmitir os procedimentos em tempo real,
Console TM para orientação virtual
compartilhando experiências, inclusive sendo utilizado como
recurso para sala de aula invertida

Para simulação em ambiente cirúrgico com as mesmas


Foco de teto
características do original.

Mesa com sistema de filmagem, transmissão e gravação de imagens


de procedimentos, que pode ser utilizada para envio de vídeos em
Mesa de inox inteligente tempo real para os alunos dentro ou fora do ambiente, evitando
aglomerações em redor do professor e permitindo o uso para
acompanhamento remoto.

Serão utilizadas como monitores externos para reprodução do


TV 50 polegadas
conteúdo ministrado das mesas de inox inteligentes.

Instalação de ambiente de assepsia contendo vestiários, área de


Infraestrutura de assepsia paramentação e cubas para lavagem de mãos e antebraços, com
sistema de acionamento por pedal ou similar.

Para manter a temperatura equilibrada e a integridade dos


Ar condicionado
equipamentos e simuladores.

256 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 9 – Continuação...

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


B. Softwares
Utilizado nos ambientes de debriefing, permitindo aos estudantes
Sistema de checklist informatizado
interagir nas simulações.
Software para gerenciar gravação, armazenamento e agendamento
Software para gravação
das atividades de multimídia envolvendo os equipamentos.
C. Mobiliários
Com regulagem de altura para uso durante os treinamentos e
simulações. Deve ser em inox para evitar riscos biológicos (se o
Banquetas em inox
objetivo do local for lidar somente com peças sintéticas, não há
necessidade de ser totalmente em inox, pois o custo é alto).
Mesas de inox de 50 centímetros Para treinamento em suturas e demais habilidades cirúrgicas.
Maca ginecológica Para simulação de procedimentos.
Lavatório para assepsia em inox Lavatório para assepsia em inox com acionamento por pedal.
Lousas laterais ou móveis Para apoio às discussões entre discentes e professores.
Mesas de Inox Para treinamentos em habilidades cirúrgicas e simulação.
D. Outros
Lixeira branca Lixeira branca com pedal.
Dispenser de sabonete líquido Dispenser de sabonete líquido próximo ao lavatório.
Dispenser de álcool gel Dispenser de álcool gel próximo à entrada do consultório.
Dispenser de papel Dispenser de papel próximo ao lavatório.
Coletor perfurocortante Coletor perfurocortante (3 litros) com suporte de parede

Quadro 10 – Centro Obstétrico (Admissão, pré‑parto e sala de parto)

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


A. Equipamentos
Item Descrição
Câmeras de alta definição com Utilizadas para filmar ambientes, atividades e avaliações de
sistema de captura de áudio e vídeo simulação,
Cabeamento e sala de controle para gerenciar gravação,
Infraestrutura de captura de vídeos
armazenamento e agendamento das atividades de multimídia
e áudios
envolvendo os equipamentos.
Console soft para telemedicina com braço articulado com câmera,
permitindo ao aluno transmitir os procedimentos em tempo real,
Console TM para orientação virtual
compartilhando experiências, inclusive sendo utilizado como
recurso para sala de aula invertida.
Berço aquecido simulado Para configuração do cenário obstétrico.
Para simulação em ambiente cirúrgico com as mesmas
Foco de teto
características do original.

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 257
Quadro 10 – Continuação...

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


A. Equipamentos
Item Descrição
Mesa com sistema de filmagem, transmissão e gravação de imagens
de procedimentos, que pode ser utilizada para envio de vídeos em
Mesa de inox inteligente tempo real para os alunos dentro ou fora do ambiente, evitando
aglomerações em redor do professor e permitindo o uso para
acompanhamento remoto.
Serão utilizados como monitores externos para reprodução do
TV 50 polegadas
conteúdo ministrado nas mesas de inox inteligentes.
Instalação de ambiente de assepsia contendo vestiários, área de
Infraestrutura de assepsia paramentação e cubas para lavagem de mãos e antebraços, com
sistema de acionamento por pedal ou similar.
Para manter a temperatura equilibrada e a integridade dos
Ar condicionado
equipamentos e simuladores.
B. Softwares
Utilizado nos ambientes de debriefing, permitindo aos estudantes
Sistema de checklist informatizado
interagir nas simulações.
Software para gerenciar gravação, armazenamento e agendamento
Software para gravação
das atividades de multimídia envolvendo os equipamentos.
C. Mobiliários
Com regulagem de altura para uso durante os treinamentos e
simulações. Deve ser em inox para evitar riscos biológicos (se o
Banquetas em inox
objetivo do local for lidar somente com peças sintéticas, não há
necessidade de ser totalmente em inox, pois o custo é alto).
Mesas de inox de 50 centímetros Para treinamento em suturas e demais habilidades cirúrgicas.
Maca ginecológica Para simulação de procedimentos.
Lavatório em inox para assepsia Lavatório em inox para assepsia com acionamento por pedal.
Mesas de inox Para treinamentos em habilidades cirúrgicas e simulação.
D. Outros
Lixeira branca Lixeira branca com pedal.
Dispenser de sabonete líquido Dispenser de sabonete líquido próximo ao lavatório.
Dispenser de álcool gel Dispenser de álcool gel próximo à entrada do consultório.
Dispenser de papel Dispenser de papel próximo ao lavatório.
Coletor perfurocortante Coletor perfurocortante (3 litros) com suporte de parede

Quadro 11 – Sala de controle e gravação de áudio e vídeo (vide Figura 4)

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


Cadeiras confortáveis para uso dos técnicos de multimídia
Cadeiras
que farão a operação dos sistemas de gestão de imagens.

258 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


Quadro 11 – Continuação...

Sugestões de equipamentos, softwares e mobiliários


Para uso durante gravação e controle dos simuladores e
Mesas
sistemas.
Equipamento para gestão do áudio e vídeo das salas de
Mesa de som
simulação.
Microfones para captação de áudio do ambiente,
Microfones de ambiente
permitindo gravação das simulações com qualidade.
Câmeras de alta definição com sistema de Utilizadas para filmar ambientes, atividades e avaliações de
captura de áudio e vídeo simulação.
Cabeamento e sala de controle para gerenciar gravação,
Infraestrutura de captura de vídeos e
armazenamento e agendamento das atividades de
áudios
multimídia envolvendo os equipamentos.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS cursos tecnológicos que permitirão o ensino híbrido


(blended learning), combinando, numa aprendizagem
Este capítulo mostrou a necessidade contínua de as polissíncrona, uma mistura de canais com momen‑
instituições de ensino superior, com foco nos cur‑ tos presenciais, assíncronos e síncronos de comuni‑
sos da área da saúde, manterem seus projetos peda‑ cação online. A participação dos estudantes em di‑
gógicos atualizados, com a introdução de diversas versos locais é o principal benefício, o que exige que
metodologias ativas de aprendizagem com integra‑ as salas de aula físicas sejam projetadas para permi‑
ção horizontal e vertical dos conteúdos didáticos, tir que os estudantes se comuniquem perfeitamente
ao longo das matrizes curriculares, visando à intro‑ com outras pessoas de forma presencial e virtual.
dução precoce de atividades práticas e vivência nos A convergência tecnológica de diferentes recur‑
serviços, para obterem o melhor desempenho pos‑ sos existentes – e, agora, mais acessíveis − exige mu‑
sível na formação de seus profissionais e para que danças muito mais profundas, que afetam os cursos
eles entendam e tenham engajamento no seu pro‑ em todas as suas dimensões: infraestrutura, projeto
cesso de educação permanente. pedagógico, formação docente e mobilidade. Os am‑
Essa atualização do projeto pedagógico prevê um bientes devem estar cada vez mais adaptados para
redesenho e uma reorganização dos ambientes físi‑ o uso de tecnologias móveis.
cos de aprendizagem, desde as salas de aula até os Dessa forma, o objetivo do capítulo foi mostrar
vários laboratórios do curso, inclusive do mobiliário, essas necessidades para os diversos níveis da gestão
para torná‑los mais acolhedores às novas gerações acadêmica − reitores, coordenadores, supervisores,
de estudantes e para a incorporação de diversos re‑ entre outros − e para os professores e estudantes.

REFERÊNCIAS

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e tecnologias e a produção de narrativas digitais. Currículo de Saúde, 2011.
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trabalhadores: registro, documentação e acompanhamento. para planejamento, programação, elaboração e avaliação de
In: TRINDADE, M. A. B. (Org.). As tecnologias da projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.
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260 Simulação em saúde para ensino e avaliação: conceitos e práticas


invertida com centralidade nos estudantes no processo VALENTE, J. A. Tecnologias e Currículo: trajetórias
ensino‑aprendizagem. Revista Brasileira de Educação convergentes ou divergentes? São Paulo: Paulus, 2011.
Médica, v. 42, n. 4, p. 86‑95, 2018. VALENTI, M. Beyond Active Learning: Transformation
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Journal of Medical Education, v. 32, n. 1, p. 47‑57, 2020. p. 241‑248, 2015.

Redesenho dos espaços físicos de acordo com o uso das metodologias ativas de aprendizagem e a
convergência tecnológica: orientações na montagem dos Centros de Simulação 261
Em 2013, a Secretaria de Gestão do Trabalho e
Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde
do Brasil formalizou um intercâmbio de políticas
e práticas sobre demografia médica, avaliação
de competências dos profissionais da saúde e
Hermila Tavares Vilar Guedes centros de simulação realística com a Conselheria
é médica, com residência médica em Pediatria, de Igualdade, Saúde e Políticas Sociais da Junta de
Mestrado e Doutorado pela UFBA. É professora Andaluzia, Espanha. Após as mudanças decorrentes
adjunta do Curso de Medicina do Departamento da publicação da Lei 12.871/2013 (Programa Mais
de Ciências da Vida - Universidade do Estado da Médicos para o Brasil), colocou-se em pauta a
Bahia - UNEB (disciplina: Pediatria); e professora ordenação da formação de profissionais de saúde
adjunta da Escola Bahiana de Medicina e Saúde pelo SUS, postulando-se nessa parceria, entre
Pública (disciplina: Metodologia da Pesquisa outras ações, a transferência de tecnologia para
Científica). Foi Coordenadora Técnica do Curso construção de centros de simulação realística em
de Formadores de Multiplicadores em Simulação saúde no Brasil. A partir deste primeiro acordo
Clínica (ABEM/EBSERH/OPAS), quando ocupou e de oficinas de formação e desenvolvimento, a
o cargo de Diretora Executiva da Associação Ebserh foi incorporada à proposta e realizou-se
Brasileira de Educação Médica (ABEM). com os professores de Andaluzia uma oficina na
Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, na
perspectiva de mobilizar centros de formação
em simulação realística no SUS, voltados para
Gerson Alves Pereira Júnior educação permanente de profissionais de saúde e
é médico, com residências médicas em Cirurgia também para formação de estudantes e residentes.
Geral, de Urgência e do Trauma, e Terapia Intensiva, Este foi o primeiro movimento que, após anos,
Mestrado e Doutorado pela FMRP/USP. É docente resultou na presente carta‑acordo que possibilitou
do Curso de Medicina de Bauru/USP. É especialista à ABEM, em parceria com a OPAS, SGTES, Ebserh,
em Cirurgia Geral pelo Colégio Brasileiro de realizar o Projeto “Desenvolvimento da Rede
Cirurgiões (CBC), Cirurgia Digestiva pelo Colégio de centros de Simulação Clínica: elaboração de
Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD), Terapia curso para capacitação de multiplicadores”.
Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva
Este livro – Simulação em saúde para ensino e
Brasileira (AMIB) e em Medicina de Emergência pela
avaliação: conceitos e práticas – foi escrito por
Associação Brasileira de Medicina de Emergência
estudiosos e pesquisadores e reflete a experiência
(ABRAMEDE). Foi Coordenador Pedagógico do Curso
de elaboração e desenvolvimento de um curso
de Formadores de Multiplicadores em Simulação
para capacitação de multiplicadores oferecido
Clínica (ABEM/EBSERH/OPAS). É Coordenador
em 18 Centros de Simulação, distribuídos nas
do Programa de Simulação Clínica da Associação
diferentes regiões do País, do qual participaram
Brasileira de Educação Médica (ABEM).
mais de 300 profissionais de saúde. Com a
presente publicação, esperamos poder contribuir
para educação em saúde no século XXI.

Eliana Goldfarb Cyrino e Nildo Alves Batista

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