Saúde e Pesquisa, Maringá (PR)

DOI: http://dx.doi.org/10.17765/1983-870.2015v8n1p131-140

EDUCAÇÃO CONTINUADA EM ENFERMAGEM NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM

SAÚDE: REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA

Isabelle Campos de A zevedo
Enfermeira; Mestranda em Enfermagem pelo Progra-
ma de Pós-graduação em Enfermagem da Universida-
de Federal do Rio Grande do Norte (PGENF/UFRN),
Bolsista CAPES; Membro do grupo de pesquisa “Nú-
cleo de Estudos e Pesquisas em Enfermagem Clínica”
(NEPEC/UFRN), Natal (RN), Brasil.
E-mail: isabellebr2511@gmail.com
Glauber Weder dos Santos Silva
Enfermeiro; Mestrando em Enfermagem pelo Progra-
ma de Pós-graduação em Enfermagem da Universida-
de Federal do Rio Grande do Norte (PGENF/UFRN),
Bolsista CAPES; Membro do grupo de pesquisa “Ações
Promocionais de Atenção a Grupos Humanos em
Saúde Mental e Saúde Coletiva” (UFRN), Natal (RN),
Brasil.
RESUMO: O presente estudo tem como objetivo buscar na literatura
nacional disponível artigos que proponham a discussão acerca da
Educação Permanente em Saúde, com vistas a traçar um perfil acerca
da publicação relativa a esse tema no Brasil. Trata-se de uma revisão
integrativa da literatura, cujo levantamento dos artigos ocorreu em
junho de 2013, na base de dados Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) com o emprego do descritor
‘educação permanente em saúde’. A partir da pesquisa realizada, foi
encontrado um total de 13 artigos. Este estudo permitiu identificar que
as atividades educativas com os trabalhadores da saúde e os diálogos
sobre essa temática estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste do
Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Capacitação em Serviço; Educação Continuada
em Enfermagem; Educação em Enfermagem; Ensino.

Luana Dantas Vale

Enfermeira; Discente do curso de Especialização em
Enfermagem em Terapia Intensiva e Urgência/Emer-
gência pelas Faculdades Integradas de Patos (FIP),
Caicó (RN), Brasil.
Quintila Garcia Santos
Enfermeira pela Universidade do Estado do Rio Gran-
de do Norte, Caicó (RN), Brasil; Advogada (OAB/RN)
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Caicó (RN), Brasil.
Alexandra do Nascimento Cassiano
Enfermeira; Residente Multiprofissional em Saúde
Materno-Infantil pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), Santa Cruz (RN), Brasil.
Ildone Forte de Morais
Enfermeiro; Mestre em Enfermagem pelo Programa
de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (PGENF/UFRN); Do-
cente Assistente IV do Curso de Graduação em Enfer-
magem da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Caicó (RN), Brasil
Cecília Nogueira Valença
Enfermeira; Doutora em Enfermagem pelo Programa
de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (PGENF/UFRN); Do-
cente Adjunto I da Faculdade de Ciências da Saúde do
Trairí (FACISA/UFRN), Santa Cruz/RN, Brasil
CONTINUOUS EDUCATION IN NURSING WITHIN THE
CONTEXT OF PERMANENT HEALTH EDUCATION:
INTEGRATIVE REVISION OF THE LITERATURE
ABSTRACT: Current paper deals with scientific articles published in
Brazil on Permanent Education in Health so that an idea of publications
on the theme would be available in the country. An integrative review of
the literature was undertaken in June 2013 based on the Latin American
and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) data base with
the descriptor ‘permanent education in health’. Thirteen articles were
available and the study identified that educational activities with health
professionals and dialogues on the theme are concentrated in the
southern and south-eastern regions of Brazil.
Key words: Updating; Continuous Education in Nursing; Education
in Nursing; Teaching.
INTRODUÇÃO
O processo de ensino-aprendizagem se constitui em um
pré-requisito para a organização da consciência e da identidade do
sujeito social, sendo patente a relevância da atividade educativa no
contexto da transformação do ser em seus mais diversos aspectos,
devendo-se evitar a hiperespecialização do saber. Tal ideal aponta para
um aprimoramento dos serviços de saúde na perspectiva de atender
às necessidades dos usuários em suas diversas interfaces, buscando-
132 Educação continuada em enfermagem no âmbito da educação permanente em saúde: revisão integrativa...
se, assim, a efetivação de um sistema único de saúde
enquanto política pública.
A educação deve ser pensada como um
exercício coletivo de valorização das vivências e da
criatividade individual, buscando novos instrumentos
para o trabalho. Desse modo, a educação é a (re)
invenção e a (re)construção do conhecimento de forma
personalizada. Assim, transpõe o mero preparo de
mão de obra para o mercado de trabalho, buscando a
capacitação do profissional e a autonomia intelectual,
entendido como um transformador da realidade, um (re)
avaliador crítico-reflexivo-participativo. Esta condição
favorece uma (re)descoberta do indivíduo, das suas
potencialidades, dos seus limites e, de alguma maneira,
subsidia o desenvolvimento de suas capacidades diante
das situações vivenciadas no trabalho (GUIMARÃES;
MARTIN; RABELO, 2010; OLIVEIRA; PEREZ; SILVA, 2011).
Tendo como base o pensamento freireano, a
educação promove autonomia, responsabilidade social,
além de contribuir para a formação de indivíduos
políticos/emancipados, críticos e reflexivos, capazes
de transpor as dificuldades e modificar a realidade
atual, a partir dos saberes socialmente construídos,
continuamente, na prática comunitária (AMESTOY et al.,
2010; FREIRE, 2011).
No âmbito da saúde, o processo de trabalho em
enfermagem tem como finalidade atender às necessidades
de saúde dos usuários. Nesse sentido, entende-se que para
os enfermeiros, o objeto de trabalho são as necessidades
de cuidado de enfermagem e seu gerenciamento, pelo
qual se pode alcançar a promoção, a proteção e a
recuperação da saúde, como também a prevenção de
doenças, sendo os primeiros, a real finalidade do trabalho
de enfermagem. Já os instrumentos se constituem como
materiais e imateriais, como os saberes técnicos, por
exemplo, que informam e fundamentam imediatamente
a ação realizada (ROSSE; SILVA, 2005; PINHO; SANTOS;
KANTORSKI, 2007).
A Educação Permanente em Saúde (EPS) tem
sido considerada uma das ferramentas que levam à
transformação e aperfeiçoamento do atendimento
em saúde, assim como a mudança da práxis no saber/
fazer saúde. As transformações que vêm ocorrendo
nesse âmbito têm repercutido nos modos de assistir os
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usuários, nos diferentes campos dos serviços (AZEVEDO;
AZEVEDO; SILVA, 2011). Dessa maneira, compreende-
se que este é um dos primeiros passos para amenizar as
condições atuais do trabalho nos serviços de saúde, através
do distanciamento do modelo institucional desgastante,
por um local promotor de satisfação, desenvolvimento e
capacitação pessoal (AMESTOY et al., 2010).
Na esfera da saúde/enfermagem, os cursos
de qualificação e capacitação continuada têm
proporcionado o acúmulo de conhecimento, exigindo
que os profissionais adquiram novas competências no
tocante ao cuidado, e influenciando, por exemplo, o (re)
pensar da sistematização da assistência em enfermagem
(SAE) (AZEVEDO; AZEVEDO; SILVA, 2011).
A EPS configura-se, portanto, como estratégia
de grande relevância para promover transformações
do trabalho em saúde para que venha a ser lugar de
atuação crítica, reflexiva, propositiva, compromissada e
tecnicamente competente, o que denota a necessidade
de descentralizar e disseminar a capacidade pedagógica
entre os integrantes do Sistema Único de Saúde
(SUS) (CECCIM, 2005a). Por isso é que, na formação
permanente, o momento essencial, o ápice, é o da
reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente
a práxis de hoje ou de ontem que se pode melhorar a
prática do futuro (FREIRE, 2011).
A Portaria GM/MS nº 1.996, de 20 de agosto de
2007, dispõe sobre as diretrizes para a implementação
da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde
(PNEPS) e dá outras providências. Tal política se volta
para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores
do SUS, proporcionando assistência de qualidade através
da transformação das práticas profissionais e da própria
organização do trabalho no setor de saúde, pautada nas
necessidades de saúde dos usuários/população (BRASIL,
2009; STROSCHEIN; ZOCCHE, 2011).
Assim, a EPS é compreendida como ação
fundamental para a reformulação das práticas de gestão,
de atenção, de formação e de controle social, uma vez que
o processo de aprendizagem tem natureza participativa e
apresenta como eixo norteador o cotidiano nos serviços
de saúde, de forma a redimensionar o desenvolvimento
da autonomia dos profissionais e dos usuários (CECCIM;
FEUERWEKER, 2004).
Azevedo, Silva, Vale, Santos, Cassiano, Morais e Valença
No que se refere ao processo de trabalho de
enfermagem, em especial a EPS, referida anteriormente,
é possível reconhecer a predominância da concepção
de Educação Continuada (EC) tanto na área de
enfermagem como no campo da saúde. A EC relaciona-
se a treinamentos, reciclagens e atualizações dos
conhecimentos, pois envolve atividades de ensino com
tempos determinados e por meio de metodologias
tradicionais (SILVA; PEDUZZI, 2009).
Além disso, a EC é trabalhada de forma esporádica
e uniprofissional, buscando uma prática autônoma que
enfoque temas específicos mediante à utilização de
metodologia fundamentada na pedagogia da transmissão
através de aulas, conferências e palestras em locais
diferentes dos ambientes de trabalho e, por fim, tem
como principal objetivo a atualização técnico-científica.
Ao passo que a EPS aplica atividades de forma contínua
e multiprofissional, abordando temáticas relacionadas
à inserção no mercado de trabalho, fundamentando-
se na pedagogia centrada na resolução de problemas,
geralmente através de oficinas de trabalho. É uma prática
efetuada no serviço de saúde/ambiente de trabalho,
que visa a transformação das rotinas técnicas e práticas
sociais dos profissionais da saúde (ORTIZ; RIBEIRO;
GARANHANI, 2008).
Quando a EPS pertence à construção objetiva
de quadros institucionais e à investidura de carreiras por
serviço em tempo e lugar específicos, pode corresponder
à EC, quando essa última se apresenta amplamente porosa
às multiplicidades da realidade de vivências profissionais
e coloca-se em aliança de projetos integrados entre o
setor/mundo do trabalho e o setor/mundo do ensino
(CECCIM, 2005b).
Diante dessas considerações, pode-se inferir que
há um consenso quanto à relevância da efetivação da
política supracitada, de modo que se torna importante
conhecer como essa proposta vem sendo discutida
e percebida no âmbito da enfermagem, no cenário
nacional, através das produções científicas. Partindo
desse pressuposto, podem ser levantadas as seguintes
problemáticas: como esse tema vem sendo discutido no
Brasil? Há uma produção uniforme em território nacional?
Que Estados são pioneiros nessa discussão? Quais os
principais sujeitos de estudo e subtemas abordados?
Revista Saúde e Pesquisa, v. 8, n. 1, p. 131-10, jan./abr. 2015 - ISSN 1983-1870 - e-ISSN 2176-9206
133
Ao considerar essa realidade, o presente
artigo tem como objetivo buscar na literatura nacional
Promoção da Saúde- Revisão
disponível artigos que proponham a discussão sobre EC,
com vistas a traçar um perfil acerca da publicação relativa
a esse tema no Brasil.
2 TECENDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DE
EDUCAÇÃO CONTINUADA EM ENFERMAGEM
A educação é o processo pelo qual a sociedade
atua constantemente sobre o desenvolvimento dos
indivíduos, no intuito de integrá-los aos modos de vida
da população. É um processo político, social e cultural
situado no tempo e no espaço. Uma atividade educacional
eficaz não pode ser estabelecida se não através de uma
análise das necessidades reais de determinada sociedade
(TAVARES, 2006).
O profissional, dentre eles o da área da saúde,
para conseguir uma melhor qualidade de vida, é obrigado
a trabalhar ao mesmo tempo em que se educa. Assim, o
desenvolvimento com uma educação que corresponda às
necessidades das pessoas durante a vida atraem sujeitos
comprometidos com a sociedade em que vivemos. Para
tal feito, o fenômeno da educação permanente provoca a
atenção de numerosos educadores (TAVARES, 2006).
Diante da expansão progressiva e da organização
dos serviços de saúde no Brasil, faz-se premente e
necessária a articulação de programas e conteúdos para
os trabalhadores da saúde por meio de um processo
educativo contínuo, a fim de que possam, além do
desempenho rotineiro de suas atribuições, buscar
essencialmente a melhoria do padrão de assistência à
saúde e estruturação dos serviços (LINO et al., 2009).
Daí a importância de que esse movimento tenha
início durante o processo formativo dos trabalhadores
em saúde, em especial da enfermagem, promovendo sua
instrumentalização como seres críticos e comprometidos
com o seu fazer, bem como a melhoria da saúde da
comunidade por eles atendida (SILVA et al., 2008).
É válido ressaltar a necessidade de se
desenvolver processos de capacitação com trabalhadores
de enfermagem, já que o trabalho de tais profissionais
é compreendido como central para a melhoria do
134 Educação continuada em enfermagem no âmbito da educação permanente em saúde: revisão integrativa...
desempenho e da atenção prestada pelos serviços de
saúde aos usuários (TAVARES, 2006).
O trabalho entendido como prática social
pressupõe uma relação recíproca, de mútua influência,
entre as práticas educativas que capacitam e formam os
profissionais de saúde e de enfermagem e sua inserção
concreta nos serviços de saúde (MERHY; FEURWERKER;
CECCIM, 2006).
Os modelos de educação para esses
trabalhadores são referidos na literatura com três
diferentes denominações: educação continuada (EC),
educação em serviço e educação permanente em saúde
(EPS) (GIRADE; CRUZ; STEFANELLI, 2006; PASCHOAL;
MANTOVANI; MÉIER, 2007). Essas nomenclaturas
apresentam a ausência de consenso sobre educação
no trabalho de enfermagem e, também, a existência de
duas propostas mais consolidadas que têm um caráter
complementar e não excludente, embora com marcantes
diferenças conceituais (MONTANA; PEDUZZI, 2010).
A EC é tradicionalmente desenvolvida no
setor de saúde e de enfermagem como continuação
ou extensão do modelo escolar e acadêmico, pautada,
sobretudo na ciência, como fonte do conhecimento,
portanto fundamentada no conhecimento técnico-
científico, com ênfase em cursos e treinamentos
orientados a cada categoria profissional (GIRADE;
CRUZ; STEFANELLI, 2006; PEDUZZI et al., 2009). Dessa
maneira, oportunizando o desenvolvimento contínuo
dos profissionais, enquanto atores sociais autônomos,
cooperando e agregando valores e conhecimentos,
proporcionando a auto-organização do sistema por meio
de redes, de forma a atender as necessidades de saúde da
população (AMESTOY et al., 2010).
Apesar da crescente valorização da EC, as
características apontadas acima põem em destaque o
objetivo de adequar os profissionais de enfermagem
ao trabalho na respectiva unidade, para uma atuação
orientada por conhecimentos e comportamentos
institucionalizados e pré-estabelecidos. De modo que a EC
não se constitua como espaço de reflexão e crítica sobre
as necessidades de cuidado dos usuários e das práticas
que lhe correspondem, e sim como reprodução de
abordagens consagradas pela racionalidade instrumental,
instrumental no sentido de ação dirigida a um dado
Revista Saúde e Pesquisa, v. 8, n. 1, p. 131-140, jan./abr. 2015 - ISSN 1983-1870 - e-ISSN 2176-9206
fim estabelecido a priori e independentemente das
vicissitudes da atenção à saúde no cotidiano dos serviços
(PEDUZZI, 2007).
Nesse sentido, a concepção de EC tende a
reproduzir os valores predominantes na organização do
trabalho de enfermagem, bem como do setor de saúde,
que se referem à fragmentação das ações, hierarquização
das relações de trabalho, trabalho individualizado por
profissional e paroxismo técnico-científico (PEDUZZI,
2007).
Estudo recente que apresenta reflexão teórica
sobre os conceitos de EC, EPS e educação em serviço
na área de enfermagem, mostra que a concepção de
EC é a que guarda maior consonância com os autores
e os peritos consultados nessa revisão (GIRADE; CRUZ;
STEFANELLI, 2006).
Diante do exposto, é possível perceber a
necessidade da adesão a essa prática, por parte dos
enfermeiros à sua práxis profissional, com vistas a
aperfeiçoar a assistência prestada aos usuários e,
consequentemente, oferecer um serviço integral e
qualificado.
3 METODOLOGIA
Estudo descritivo-exploratório em base
documental, correspondente à revisão integrativa da
literatura. O levantamento dos artigos ocorreu em junho
de 2013, na base de dados Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) com o emprego
do descritor “educação permanente em saúde”, obtendo-
se um total de 280 artigos científicos publicados entre
1984 e 2010. Os artigos selecionados foram submetidos
aos critérios de inclusão e à leitura do título e resumo.
Os critérios de inclusão estabelecidos foram:
artigos completos em língua portuguesa, disponíveis
eletronicamente, publicados entre 2004 e 2010 em
periódicos da área de interesse, tendo como assunto
principal “educação continuada em enfermagem”, fossem
estes artigos de nota prévia, editorial, pesquisa, relato
de experiência ou reflexão. Após serem atendidos os
critérios foi totalizado um universo de 13 artigos.
Após a leitura completa dos manuscritos, estes
Azevedo, Silva, Vale, Santos, Cassiano, Morais e Valença 135

foram fichados e incluídos na revisão. A análise e o 4 DESENVOLVIMENTO

tratamento dos dados se deram a partir de estatística

Promoção da Saúde- Revisão

descritiva, com a interpretação dos estudos encontrados
e sua síntese/correlação com o referencial teórico
consultado, a exemplo de Amestoy, Ceccim, Peduzzi
e Tavares. A pesquisa não envolveu a participação de
sujeitos, não sendo necessário, portanto, proceder à
submissão do presente estudo à apreciação do comitê de
ética em pesquisa.
Para estabelecer as características desses estudos
e nortear as discussões foram considerados os seguintes
aspectos: autores, ano de publicação, tipo de estudo,
periódico, Qualis/CAPES da revista, Estado onde o estudo
foi realizado, sujeitos do estudo e principal temática
abordada. Os principais resultados foram apresentados
na forma de gráficos e figuras elaborados utilizando o
software Microsoft Excel 2007.
No que concerne à autoria, os 13 trabalhos
analisados foram publicados por 48 autores, sendo 43 do
sexo feminino e 05 do sexo masculino. Tal dado corrobora
o estudo realizado por Ferraz et al. (2012), sobre
programas e políticas de educação permanente em saúde
do Brasil, no qual 120 autores eram do sexo feminino e
24 do masculino. A diferença entre o número de autores
em relação ao número de trabalhos publicados ocorreu
devido à multiautoria das publicações nos periódicos.
Quanto ao ano de publicação dos estudos, um
foi publicado em 2004, dois em 2006, um em 2007, dois
em 2008, dois em 2009 e cinco em 2010. Destes, seis
estudos se tratavam de pesquisas, seis de reflexões e um
de relato de experiência (Quadro 1).

Quadro 1. Distribuição dos artigos científicos segundo autores/ano de publicação, título do estudo, tipo de estudo, periódico e
Qualis/CAPES da revista, Caicó (RN), 2013.
Autores/Ano de publicação
MANCIA, J. R.; CABRAL, L.
C.; KOERICH, M. S. (2004)
GIRADE, M. G.;
CRUZ, E. M. N. T.;
STEFANELLI, M. T. (2006)
TAVARES, C. M. M. (2006)
LINO, M. M. et al. (2007)
SILVA, B. T. et al. (2008)
ORTIZ, M. C. L.; RIBEIRO, R.
P.; GARANHANI, M. L. (2008)
SILVA, A. M.;
PEDUZZI, M. (2009)
FLÔR, R. C.;
GELBCKE, F. L. (2009)
AMESTOY, S. C. et al. (2010)
RODRIGUES, A. C. S.;
VIEIRA, G. L. C.; TORRES, H.
C. (2010)
(continuação)
Título do estudo Tipo de estudo Periódico Qualis
Educação permanente no contexto da
Reflexão Rev. Bras. Enferm. A2
enfermagem e na saúde
Educação continuada em enfermagem Rev. Esc. Enferm.
Reflexão A2
psiquiátrica: reflexão sobre conceitos USP
A educação permanente da equipe
Texto & Contexto
de enfermagem para o cuidado nos Pesquisa A2
Enferm.
serviços de saúde mental
A realidade da Educação Continuada na
Online Braz. J.
Enfermagem nos Serviços Públicos de Pesquisa B1
Nurs. (Online)
Saúde de Florianópolis
Educação permanente: instrumento de
trabalho do enfermeiro na instituição Reflexão Ciênc. Cuid. Saúde B1
de longa permanência
Educação à distância: uma ferramenta
para educação permanente de
Pesquisa Cogitare Enferm. B2
enfermeiros que trabalham com
assistência perioperatória
Caracterização das atividades educativas
Rev. Eletrônica
de trabalhadores de enfermagem na Pesquisa B1
Enferm.
ótica da educação permanente
Tecnologias emissoras de radiação
ionizante e a necessidade de educação
Reflexão Rev. Bras. Enferm. A2
permanente para uma práxis segura da
enfermagem radiológica
Paralelo entre educação permanente Rev. Gaúcha
Reflexão B1
em saúde e administração complexa Enferm.
A proposta da educação permanente
Relato de Rev. Esc. Enferm.
em saúde na atualização da equipe de A2
Experiência USP
saúde em diabetes mellitus

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136 Educação continuada em enfermagem no âmbito da educação permanente em saúde: revisão integrativa...
Educação permanente em saúde e no
SILVA, L. A. A. et al. (2010) trabalho de enfermagem: perspectiva
de uma práxis transformadora
Educação permanente em enfermagem:
MONTANHA, D.; PEDUZZI, levantamento de necessidades e
M. (2010) resultados esperados segundo a
concepção dos trabalhadores
Educação permanente no Programa
COSTA, V. Z. et al. (2010)
Saúde da Família: um estudo qualitativo
Fonte: Elaboração própria, novembro de 2013.
Tais resultados demonstram que o número de
publicações acerca da temática abordada vem crescendo
nos últimos anos, havendo um aumento considerável
no ano de 2010, quando ocorreu um crescimento da
produção científica de 150% em relação a 2009. Esse
progresso pode estar relacionado ao lançamento da
PNEPS, através da Portaria GM/MS nº 1.996, de 20 de
agosto de 2007 (BRASIL, 2009). Aliado ao lançamento da
política, nas últimas décadas, o Brasil buscou desenvolver
diversos projetos e programas na área de educação
permanente em saúde, fato que também contribuiu para
suscitar o interesse pela produção de estudos que avaliem
a execução da proposta no âmbito nacional (FERRAZ et
al., 2012).
No tocante aos dados obtidos quanto ao tipo de
estudo, sobressaíram as pesquisas e reflexões (38%), o que
pode ser visto positivamente, pois denota a construção de
novos saberes nesse campo e o (re)pensar dessa prática.
Há relevância também do estudo de relato de experiência
por comprovar a aplicabilidade desse conhecimento que
vem sendo construído na práxis do trabalho em saúde,
em especial, no âmbito da enfermagem. Este tipo de
trabalho contribui para o desenvolvimento de futuros
estudos acerca de como as atividades de EC estão sendo
realizadas, bem como balizam e servem de parâmetro
para novas iniciativas (MOREIRA, 2010).
Nesse sentido, as instituições de saúde devem
estar cada vez mais conscientes de que seu sucesso é
determinado pela capacitação e qualificação de seus
trabalhadores, passando a atribuir maior relevância à
EC como estratégias de aprendizagem. Esse método de
ensino/aprendizagem busca promover não somente a
atualização e transmissão de novos conhecimentos, mas
orienta a sua ação em direção à mobilização do potencial
criativo dos sujeitos à descoberta de um fazer diferente,
criativo e inovador/transformador, capaz de operar
novos saberes/conhecimentos no cotidiano de trabalho
elaborados no coletivo (MEDEIROS et al., 2010).
Revista Saúde e Pesquisa, v. 8, n. 1, p. 131-140, jan./abr. 2015 - ISSN 1983-1870 - e-ISSN 2176-9206
(conclusão)
Rev. Gaúcha
Reflexão B1
Enferm.
Rev. Esc. Enferm.
Pesquisa A2
USP
Invest. Educ.
Pesquisa B1
Enferm.
Quanto ao Qualis/CAPES das revistas, 31% têm
Qualis A2, 54% Qualis B1, 8% Qualis B2 e 8% Qualis B3.
Considerando o bom conceito dos periódicos, ratifica-
se a crescente relevância do debate da EPS no âmbito
da produção do conhecimento científico, bem como a
validade e originalidade dos estudos.
Dentre esses trabalhos científicos, 92% foram
publicados nos periódicos de enfermagem, ocorrendo
uma predominância de publicações da Revista Escola
de Enfermagem da USP (três estudos), seguida da
Revista Brasileira de Enfermagem (dois estudos) e da
Revista Gaúcha de Enfermagem (dois estudos), decerto
justificados pela especificidade das revistas e pela
inquietação dos pesquisadores da área em divulgar suas
pesquisas. Foi encontrada, também, uma (8%) publicação
em outra revista da área da saúde não específica da
enfermagem (Gráfico 1), o que denota a preocupação
dos profissionais da enfermagem em difundir tal temática
para as outras categorias da área da saúde, como forma de
corroborar sua eficácia e de incentivar sua prática.
8%
Artigos publicados
em periódicos de
enfermagem
Artigos publicados
em outras revistas
92%
da área da saúde
Gráfico 1. Percentual de publicação sobre educação continuada em
enfermagem por periódico segundo a área, no período de 2004 a
2010, Caicó (RN), 2013.
Fonte: Elaboração própria, junho de 2013.
Azevedo, Silva, Vale, Santos, Cassiano, Morais e Valença 137

Tal realidade permite inferir que a enfermagem enfermagem, neste estudo, decorre da especificidade do
busca agregar a EC ao seu campo de conhecimento, descritor utilizado.

Promoção da Saúde- Revisão

compreendendo a importância de publicar experiências O Quadro 2 mostra os Estados onde os estudos
positivas e transformadoras sobre a temática no escopo foram realizados, os sujeitos envolvidos e o principal
dos periódicos (FERRAZ et al., 2012). Contudo, ressalva- assunto abordado nas publicações pesquisadas.
se que a predominância de publicações em revistas de

Quadro 2. Distribuição dos artigos por Estado de realização de estudo, sujeitos do estudo e temática principal, Caicó (RN), 2013.
Estado de realização do estudo Sujeitos do estudo Temática principal

Rio Grande do Sul Enfermeiros Relevância da Educação Permanente em Saúde

Proposta atual de educação permanente voltada
Rio Grande do Sul Equipe de Saúde para a formação de recursos humanos para o
Sistema Único de Saúde
Equipes da Estratégia Saúde da Família Avaliar o Processo de educação permanente nessas
Rio Grande do Sul
(ESF) unidades
Estimular os leitores a repensar a educação em
Rio Grande do Sul Equipe da saúde
saúde
Política Nacional de Educação Permanente em
Santa Catarina Enfermeiros
Saúde (PNEPS) e Administração
Santa Catarina Equipe radiológica de enfermagem Processo de Trabalho

Diretoria Executiva (DIREX),

Coordenadores dos Serviços de
Educação Continuada (CSEC) das
Santa Catarina
áreas administrativa, médica e de
enfermagem e com participantes de
Programas de Educação Continuada
Paraná Enfermeiros
São Paulo Equipe de Enfermagem
São Paulo Enfermeiros Psiquiátricos
Exercício do processo de construção de uma
Política de Educação Continuada Institucional de
um Hospital Universitário da região Sul do Brasil
Interesse dos enfermeiros que trabalham na área
de enfermagem perioperatória em praticar cursos
de curta duração na modalidade de educação a
distância
Perfil dos trabalhadores e as atividades educativas
realizadas
Conceito de educação continuada, educação em
serviço e educação permanente mais utilizada para
denominar programas de atualização

Analisar as ações educativas dos trabalhadores em

São Paulo Equipe de Enfermagem
enfermagem de um hospital
Enfermeiros que trabalham com saúde A necessidade da educação permanente em saúde
Rio de Janeiro
mental nos serviços de saúde mental
Equipe da Estratégia Saúde da Família
Minas Gerais Atualização profissional acerca da Diabetes Tipo 02
(ESF)
Fonte: Elaboração própria, junho de 2013.

Revista Saúde e Pesquisa, v. 8, n. 1, p. 131-10, jan./abr. 2015 - ISSN 1983-1870 - e-ISSN 2176-9206
138 Educação continuada em enfermagem no âmbito da educação permanente em saúde: revisão integrativa...
De acordo com o Quadro 2, pode-se observar
que das publicações encontradas, quatro estudos foram
realizados no Rio Grande do Sul, três em Santa Catarina,
três em São Paulo, um no Paraná, um no Rio de Janeiro
e um em Minas Gerais, evidenciando o pioneirismo das
regiões Sul e Sudeste na produção científica com essa
temática. Assim, 62% das produções encontradas são
oriundas da região Sul e 38% da Sudeste, não sendo
encontrado, a partir dos critérios estabelecidos, nenhum
estudo nas demais regiões.
Os principais sujeitos dos estudos pesquisados
foram os enfermeiros, em um total de cinco artigos, dos
quais dois têm como atores de pesquisa enfermeiros
da psiquiatria/saúde mental. Outro estudo nacional,
realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
de um hospital público do Rio Grande do Sul, corrobora
com os resultados dessa pesquisa quando coloca o
enfermeiro como o personagem que deve estimular
e conduzir mudanças no seu processo de trabalho,
buscando soluções inovadoras e resolutivas junto ao
grupo e, assim, impulsionar o processo de inovação e
aprendizagem (MEDEIROS et al., 2010).
Em relação aos demais estudos, dois trabalharam
com a equipe de enfermagem; dois com a equipe da
Estratégia Saúde da Família; dois com outras Equipes de
Saúde; um com a Equipe de Radiologia de Enfermagem;
e um com a Diretoria Executiva (DIREX), Coordenadores
dos Serviços de Educação Continuada (CSEC) das
áreas administrativa, médica e de enfermagem e com
participantes de Programas de Educação Continuada.
Conforme o Quadro 2, observa-se que as
publicações versam sobre diversos temas dentro da EC
que podem contribuir com o aperfeiçoamento da prática
profissional no âmbito da saúde e, principalmente, na
área de enfermagem.
A EC, igualmente à EPS, deve estar comprometida
a trabalhar com metodologias ativas, tais como
dinâmicas reflexivas e aulas teórico-práticas, nas quais
os participantes possam ser protagonistas e atores do
seu processo de aprendizagem (DAMASCENO; BRITO;
MONTEIRO, 2010).
Assim, compreende-se que a EPS é uma estratégia
para que o indivíduo tenha mais habilidade e oportunidade
de construir-se dentro do mundo do trabalho, como
Revista Saúde e Pesquisa, v. 8, n. 1, p. 131-140, jan./abr. 2015 - ISSN 1983-1870 - e-ISSN 2176-9206
sujeito de modificação, em um movimento dinâmico e
complexo mediado por valores políticos, socioculturais e
éticos (RICALDONI; SENA, 2006).
Percebe-se a importância da educação continuada
em enfermagem como prática necessária à construção de
um saber eficaz e eficiente para a assistência prestada
ao usuário, como também contribui para construção de
valores que cooperem com a relação entre os profissionais
e entre profissional-usuário.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo traçou um perfil de publicação
de manuscritos científicos que abordavam a temática
educação continuada no território brasileiro, a partir da
revisão integrativa da literatura. Foram encontrados 13
artigos publicados em seis Estados do Brasil. O Estado
onde se publicou mais manuscritos foi o Rio Grande
do Sul, com quatro artigos. Os grupos mais trabalhados
foram os enfermeiros, as equipes de saúde e as equipes da
Estratégia Saúde da Família. As temáticas mais abordadas
foram a relevância, a avaliação e a necessidade de EPS nos
serviços de saúde.
A discussão no campo da EPS e da EC, através
de publicações no meio científico, vem contribuir para a
efetivação dessa proposta, uma vez que estas iniciativas
podem colaborar para a melhoria da atenção e da
assistência prestada aos indivíduos, bem como para a
consolidação do SUS.
Este estudo permitiu identificar que as
atividades educativas com os trabalhadores da saúde
e os diálogos sobre essa temática concentram-se nas
regiões Sul e Sudeste do país. Portanto, o desafio
consiste em traçar estratégias e medidas gerenciais que
promovam e disseminem as ações e debates nessas
áreas de conhecimento nas demais regiões brasileiras,
através do estímulo à participação dos profissionais de
enfermagem no seu próprio percurso de aprendizagem,
contextualizados e sintonizados com as experiências
vivenciadas no cotidiano do trabalho em saúde.
Azevedo, Silva, Vale, Santos, Cassiano, Morais e Valença
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