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Qualificação da Gestão do

Trabalho no SUS: registro de


uma experiência
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a
fonte e a autoria.

Ministério da Saúde
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
Departamento de Gestão do Trabalho em Saúde
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Natal/RN - Brasil

Conselho editorial: Janete Lima de Castro; Rosana Lúcia Alves de Vilar;


Lenina Lopes Soares Silva; José Paranaguá de Santana;
Cristiane Scolari Gosch.

Supervisão editorial e planejamento visual: Una

Editoração eletrônica: Alessandro Amaral

Revisão ortográfica, revisão gramatical e normalização bibliográfica: Una

Foto da capa: Carlos Roberto de Castro


Qualificação da Gestão do
Trabalho no SUS: registro de
uma experiência

Janete Lima de Castro


Rosana Lúcia Alves de Vilar
Maria Aparecida Dias
(Organização)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Lumos Assessoria Editorial
Bibliotecária: Priscila Pena Machado CRB-7/6971

Q1
Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS : registro de uma experiência
[recurso eletrônico] / organização Janete Lima de Castro, Rosana Lúcia
Alves de Vilar e Maria Aparecida Dias. — 1. ed. — Natal : Una, 2O21
Dados eletrônicos (pdf). — (Seminare ; 12)

Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-5854-514-9

1. Sistema Único de Saúde (Brasil). 2. Pessoal da área de saúde pública.


3. Saúde pública – Brasil. 4. Serviços de saúde pública – Brasil. 5. Política de
saúde - Brasil. I. Castro, Janete Lima de. II. Vilar, Rosana Lúcia Alves de. III.
Dias, Maria Aparecida. IV. Título
CDD 362.10981
A alegria não chega apenas no encontro do
achado, mas faz parte do processo da busca.
E ensinar e aprender não pode dar-se fora
da procura, fora da boniteza e da alegria.
Paulo Freire
(Do livro Pedagogia da autonomia)
Sumário

Apresentação 9

Quando o trabalho e a educação se encontram no 13


SUS: trajetória de uma experiência

Encontro com a experiência do Curso de 29


Especialização em Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde no Estado do Espírito Santo

Formação em Gestão do Trabalho e da Educação 52


na Saúde: reflexões a partir das experiências e
vivências do estado de Minas Gerais

Reflexões sobre o Curso de Gestão do Trabalho 88


e da Educação na Saúde no Paraná: semeando e
colhendo frutos

Gestão, trabalho e educação no sistema único de 105


saúde fluminense

Especialização em Gestão do Trabalho e da 134


Educação na Saúde: contribuições gaúchas ao
Sistema Único de Saúde

A Educação Permanente em Saúde: contribuições 159


para o fortalecimento da gestão do trabalho e da
Educação no Estado de Santa Catarina

Novos e persistentes desafios: lições aprendidas no 176


Curso de Especialização em Gestão do Trabalho e
da Educação na Saúde
Apresentação

Livros produzidos em instituições de ensino primam por sua


excelência acadêmica, sendo resultado da experiência de pes-
quisadores e discentes. No presente caso, a obra Qualificação
da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência,
organizada pelas professoras Janete Lima de Castro, Maria
Aparecida Dias e Rosana Lúcia Alves de Vilar, é o resultado
de atividades iniciadas em 2012 em todos os estados da fe-
deração por meio do Curso de Especialização em Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde, utilizando as tecnologias de
comunicação e informação, que possibilitam a viabilização de
cursos a distância. Foram formados ao longo desse ciclo mais
de 1.790 especialistas, que estão atuando no Sistema Único de 9
Saúde em todo o território nacional. O Curso de Especiali-
zação permitiu o desenvolvimento de ações de extensão e de
pesquisa, contribuindo fortemente para o desenvolvimento
de conhecimento técnico e científico, com importante impac-
to na sociedade.
O Observatório de Recursos Humanos em Saúde, sediado
no Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e no Departamen-
to de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, albergou o Curso de Especialização em Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde e as demais atividades de
pesquisa e de extensão com financiamento proveniente do
Ministério da Saúde, por meio do Termo de Execução Des-
centralizada (TED) n. 024/2016, através do projeto Apoio à
Estruturação da Rede de Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde – o título do projeto antecipava o seu propósito, que

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


consistia em fortalecer o campo da gestão do trabalho e da
educação na saúde das Secretarias de Saúde estaduais e mu-
nicipais. O Observatório RH em Saúde permitiu que a UFRN
intensificasse sua cooperação com o Sistema Único de Saúde
(SUS), reafirmando, assim, o seu compromisso e responsabili-
dade social com um sistema de saúde criado com a premissa
de que todos têm direito à saúde e cabe ao Estado garantir este
direito. Isso, na perspectiva de uma sociedade mais justa, mais
solidária e democrática.
O presente livro, organizado em oito capítulos escritos pe-
los professores e coordenadores dos cursos, aborda as diversas
experiências das turmas dos estados das Regiões Sul e Sudeste
do Brasil – esclarece-se que as demais regiões foram objeto
de outras publicações. No Capítulo 1, o leitor encontrará um
panorama das duas regiões e informações gerais sobre a ini-
ciativa realizada. Em seguida, do Capítulo 2 ao Capítulo 8, são
10
apresentados textos que tratam das experiências do conjunto
de turmas por estado. Esses textos foram elaborados a partir
dos relatórios de pesquisas desenvolvidas pelo projeto citado,
relatórios das turmas por estado, e relatórios enviados para o
Ministério da Saúde, assim como os trabalhos de conclusão de
curso, que foram apresentados como projetos de intervenção
para as instituições as quais os alunos estavam vinculados.
A Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte traz a público mais uma importante
obra, reconhecendo o potencial desta experiência para con-
tribuir com a melhoria dos processos de trabalho e de ges-
tão dos serviços de saúde, além de fortalecer os laços entre
as instituições de serviço e de ensino, realizada sob múltiplos
e críticos olhares. A produção científica e a formação de re-
cursos humanos devem ser constantes, permitindo avanços

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


nessa promissora e prazerosa caminhada, que culmina com a
melhoria diária das ações nos serviços de saúde.

Rubens Maribondo
Pró-Reitor de Pós-Graduação da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Janete Lima de Castro


Coordenadora do Observatório de Recursos Humanos em Saúde;
coordenadora do Curso de Especialização em Gestão do Trabalho
e da Educação na Saúde
Quando o trabalho e a educação
se encontram no SUS: trajetória
de uma experiência

Janete Lima de Castro | janetecastro.ufrn@gmail.com


Dra. em Educação; professora do Depto. de Saúde Coletiva da
UFRN; coordenadora da Especialização em Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde (UFRN); coordenadora do Mestrado Profissional
em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde da UFRN

Maria Aparecida Dias | cidaufrn@gmail.com


Dra. em Educação; professora do Depto. de Educação Física da UFRN;
coordenadora pedagógica da Especialização em Gestão do Trabalho
e da Educação na Saúde (UFRN); profa. do Mestrado Profissional em
Gestão, Trabalho, Educação e Saúde da UFRN

Rosana Lúcia Alves de Vilar | rosanaalvesrn@gmail.com


Dra. em Ciências Sociais, profa. do Depto. de Enfermagem da UFRN;
vice-coordenadora da Especialização em Gestão do Trabalho e
da Educação na Saúde (UFRN); vice-coordenadora do Mestrado
Profissional em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde da UFRN
INTRODUÇÃO

A proposta de criação do Sistema Único de Saúde (SUS) teve


como premissa a ideia de que todos têm direito à saúde e cabe
ao Estado garantir este direito. Paim (2009, p. 43) ressalta que
“com base na concepção de seguridade social, o SUS supõe
uma sociedade solidária e democrática, movida por valores de
igualdade e de equidade, sem discriminações ou privilégios”.
A implantação do SUS representou um passo importante
na busca do sonho de uma sociedade mais justa, mais solidá-
ria e democrática. Todavia, os desafios enfrentados durante o
processo de implantação e consolidação do SUS não foram –
14
ao longo de mais de 30 anos da sua existência – de todo supe-
rados. Entre esses desafios estão aqueles relacionados à gestão
e regulação do trabalho e à educação na saúde.
Este capítulo, assim como os demais que compõem este
livro, trata da realização de um projeto de qualificação dos
trabalhadores da saúde, mais especificamente, daqueles traba-
lhadores que atuam, direta ou indiretamente, com as questões
referentes à gestão e regulação do Trabalho e Educação no SUS.
Registre-se que o projeto aqui retratado foi concebido na pers-
pectiva de ser uma atividade de cooperação técnica tendo em vista
o aperfeiçoamento e o fortalecimento das práticas dos setores da
gestão do trabalho e da educação na saúde das Secretarias Estadu-
ais e Municipais de Saúde, prioritariamente. Assim, pode-se dizer
que foi uma atividade de cooperação técnica realizado por meio de
um processo educacional desenhado na forma de currículo inte-
grado e viabilizado na modalidade de Educação a Distância (EaD).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Cumpre frisar que o projeto citado dá continuidade a ou-
tros que vieram antes dele e que também tinham como pro-
pósito qualificar a gestão do trabalho e da educação, enten-
dendo ser este um movimento estratégico para fortalecer a
gestão do SUS em seus diversos aspectos e áreas.
A etapa do projeto relatada neste texto corresponde à re-
alização dos cursos de especialização e de aperfeiçoamento
desenvolvidos nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil. Ressalta-
se que os cursos do citado projeto foram viabilizados inicial-
mente na Região Nordeste (2013-2014), seguindo para as Re-
giões Centro-Oeste e Norte (2014-2016) e sendo finalizado
nas Regiões Sul e Sudeste (2018-2019). Vale também ressaltar
que em todas essas etapas foram garantidas vagas para a ins-
tituição formadora (UFRN) e para a instituição financiadora
(Ministério da Saúde).
Dos 993 alunos/trabalhadores que começaram o curso na
15
etapa Sul/Sudeste, 745 concluíram a especialização e 28 con-
cluíram o curso de aperfeiçoamento. No total, foram 773 alu-
nos que participaram efetivamente do processo educacional,
distribuídos em 32 turmas (CASTRO et al., 2019).
O objetivo do curso consistiu em “qualificar os processos
de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, no âmbito do
setor público, através da capacitação dos técnicos que atuam
nas dimensões políticas, técnica e administrativa” (CASTRO;
VILAR; LIBERALINO, 2018, p.8).
O público preferencial foi constituído por profissionais res-
ponsáveis pelas funções de assessoramento, coordenação ou ge-
rência de recursos humanos/gestão do trabalho e da educação na
saúde. Contudo, também foram contemplados: Secretários(as)
de Saúde; diretores(as) de hospitais, gerentes dos distritos sani-
tários, gerentes de unidades básicas de saúde e das unidades de
referências, diretores(as) dos escritórios das regionais de saúde.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Como foi dito em parágrafo anterior, este texto trata es-
pecificamente da etapa que compreende os cursos de espe-
cialização e os de aperfeiçoamento em Gestão do Trabalho e
da Educação na Saúde destinados aos profissionais da gestão
das Secretarias de Saúde das Regiões Sul e Sudeste. As experi-
ências desse processo educativo nas demais regiões já foram
abordadas em outras publicações.
Como caminho metodológico, este capítulo se configura
como relato de experiência que descreve uma vivência tendo
como fontes de informação: o projeto do curso, as avaliações
realizadas sobre o processo educacional, relatórios parciais e
final, além da memória dos autores deste capítulo, envolvidos
diretamente na condução da experiência.

A PROBLEMATIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


16

Elaborada de acordo com os pressupostos da Educação Per-


manente, a proposta do Curso em Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde reafirmou o compromisso da Universi-
dade Federal do Rio Grande do Norte com o SUS. Com base
nesse compromisso, a Educação Permanente foi compreendi-
da como uma proposta de ação estratégica capaz de contribuir
para a necessária transformação dos processos formativos e
das práticas pedagógicas e para a organização dos serviços
(CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
Nesse sentido, um dos elementos fundantes da proposta
pedagógica do curso foi a construção de um arcabouço de
conhecimentos, através da sua estrutura curricular, que favo-
recesse o diálogo com as práticas dos trabalhadores que no
momento estavam na condição de estudantes do curso. O mé-
todo de ensino escolhido foi o da problematização, compre-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


endendo-se que este método pressupõe a construção do co-
nhecimento a partir das experiências dos alunos e apoia-se na
aprendizagem significativa e por descoberta, buscando desen-
volver atitudes críticas e criativas no sujeito da aprendizagem.
O primeiro grande desafio dos autores do curso foi – aten-
dendo à solicitação da instituição demandante, o Ministério da
Saúde – organizar um processo em larga escala, sem renunciar
à concepção pedagógica que colocava a problematização como
o método facilitador do ensino e da aprendizagem. Acreditan-
do-se que a EaD poderia facilitar o acesso de trabalhadores
e gestores dos serviços de saúde aos processos educacionais
e permitiria alcançar profissionais nas Secretarias de Saúde
mais distantes, foi feita a aposta nessa modalidade de ensino.
Contudo, uma importante questão se apresentava em relação à
proposta pedagógica do curso que tinha como característica a
adoção de metodologias ativas: Como trabalhar com metodo-
17
logias ativas na modalidade de Educação a Distância?
Nessa perspectiva, uma certeza orientou as fases de elabora-
ção e de execução do curso: o uso das novas tecnologias de in-
formação e comunicação não deveria estar acima das concep-
ções pedagógicas do curso, pelo contrário, as novas tecnologias
deveriam atender e responder às exigências da concepção pe-
dagógica que iria definir o método de ensino-aprendizagem
do processo educacional.
Vallin (2014), a partir de uma revisão do livro Pedagogia
da Autonomia, de Freire (1996), afirma que as recomendações
e considerações sobre a docência, assim como a definição do
projeto pedagógico, a construção dos materiais didáticos, as
propostas de atividades e a mediação pedagógica, podem ser
aplicadas à modalidade da EaD, constituindo-se em uma edu-
cação transformadora. Avalia-se que este foi o caminho utili-
zado pelo curso.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


A Universidade Federal do Rio Grande do Norte possui em
sua estrutura organizacional a Secretaria de Educação a Distância
(SEDIS). Lá são abrigados cursos de graduação e pós-graduação
lato sensu. No caso específico do curso tratado neste texto, o pro-
cesso educacional foi executado por meio do Ambiente Virtual
de Aprendizagem do SUS (AVASUS), construído pela SEDIS.
Tal plataforma atendeu de forma exitosa às necessidades do
projeto pedagógico do curso, apoiando o uso do método da
problematização, possibilitando as condições adequadas para
estimular “a capacidade do aprendiz a refletir sobre sua pró-
pria existência de aprender, identificando as potencialidades e
limitações e desenvolvendo um processo de aprendizagem em
ritmo próprio e de forma contínua” (CASTRO; VILAR; LIBE-
RALINO, 2018, p. 9). Cabe, pois, concluir que os processos edu-
cacionais desenvolvidos na modalidade a distância não devem
prescindir de preservar todas as qualidades de uma boa educa-
18
ção que possibilitam ao indivíduo a desenvolver suas capaci-
dades cognitivas sociais, emocionais, profissionais e éticas, ga-
rantia para uma formação de qualidade (CASTRO et al., 2019).

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO


NA SAÚDE: O PERCURSO NAS REGIÕES SUL E SUDESTE

A especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na


Saúde foi iniciada na Região Sudeste em 20 de agosto de 2018;
na Região Sul, o seu início se deu em 30 de agosto de 2018. Em
todos os estados, as aberturas foram presenciais, com a pre-
sença dos alunos, representações do Ministério da Saúde e das
instituições parceiras, coordenação do curso e os tutores res-
ponsáveis pelas turmas. O encerramento aconteceu, também
no formato presencial, com a apresentação dos Trabalhos de

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Conclusão de Curso em 5 de agosto de 2019 na Região Sudes-
te, e no dia 9 de agosto de 2019 na Região Sul.
O curso foi organizado em quatro Unidades Didáticas
constituídas por módulos, perfazendo uma carga horária de
380 horas (CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018, p. 9).
Unidade I – Serviços de Saúde, Cidadania e Traba-
lho: Módulo 1: O SUS e o direito à cidadania; Módulo
2: As mudanças no mundo do trabalho e as repercus-
sões na saúde; Módulo 3: O processo de trabalho em
saúde; Unidade II – Gestão do Trabalho em Saúde:
Módulo 1: Características das instituições de saúde;
Módulo 2: Humanização na gestão do trabalho em
saúde; Módulo 3: Saúde do trabalhador no contexto
do SUS; Módulo 4: Negociação como metodologia de
gestão do trabalho; Módulo 5: Mecanismos e instru-
mentos de gestão do trabalho; Unidade III – Gestão
da educação na saúde: Módulo 1: Educação para qua- 19

lificação do trabalho em saúde; Módulo 2: O processo


educativo nos serviços de saúde; Unidade IV – Meto-
dologia da pesquisa: Módulo 1: Metodologia da pes-
quisa: elaborando um projeto de intervenção.

Com o intuito de garantir a qualidade da formação, foi


construído um livro didático que, em diálogo com ambiente
virtual, explicitava os objetivos de aprendizagem e apresenta-
va o conteúdo já organizado de forma problematizadora, en-
trelaçando as atividades didáticas teóricas e práticas.
Nessa perspectiva, Castro, Vilar e Liberalino (2018, p. 8) apre-
sentam os seguintes objetivos de aprendizagem para o curso:
Compreender as questões relacionadas à gestão do traba-
lho e da educação, a partir da construção histórica do Siste-
ma Único de Saúde (SUS) e da sua relação com a cidadania,

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


das transformações que se dão no mundo do trabalho con-
temporâneo e de suas repercussões nos modos de produ-
zir serviços de saúde; 3.2. Analisar questões da gestão do
trabalho no SUS, nos seus aspectos institucionais e operati-
vos, desenvolvendo um conhecimento crítico que permita
a formulação de estratégias que apontem para a eficiên-
cia e efetividade dos serviços de saúde e para a melhoria
da qualidade do atendimento à população; 3.3. Promover
reflexões críticas sobre o sistema de saúde brasileiro, inse-
rindo elementos conceituais e ampliando o conhecimento
teórico e prático na perspectiva de contribuir para qualifi-
car a gestão e as intervenções neste campo; 3.4. Fornecer
instrumentos para a construção de projeto de intervenção
exequível na área da Gestão do Trabalho e da Educação na
Saúde, como parte integrante do processo de formação.

É necessário sublinhar que o livro didático conduziu o proces-


20
so formativo e que o diálogo com o aluno começou desde a sua
elaboração,1 conforme revelam Castro, Vilar e Dias (2018, p.3).
Los contenidos fueron organizados siguiendo el méto-
do del esquema representativo de Maguerez, utilizado
por Bordenave y Pereira (2004) en el cual, los alumnos
son estimulados a observar la realidad de su trabajo y del
contexto en donde éste se incluye, a partir de ejercicios
de problematización y búsqueda de información. Poste-
riormente, son incitados a analizar los problemas, iden-
tificando puntos clave a fin de aclarar sus determinantes,
ampliando también las relaciones existentes entre los dife-
rentes problemas. Aunque muchos aspectos teóricos (ide-
as y conceptos) ya se hacen presentes a partir de los dos
momentos problematizadores iniciales, en los cuales las

1 O livro está publicado postado no site observatoriorh.ufrn.br, na sessão biblio-


teca/livros.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


experiencias de los alumnos son explicitadas, el método
incorpora un momento de teorización para la elaboración
de las respuestas y fundamentación de los temas tratados.
Finalmente, se llevan a cabo reflexiones sobre hipótesis de
soluciones para lograr cambios en la práctica, aplicando
así el aprendizaje en intervenciones en la realidad.

Dessa forma, observa-se a forte presença de Paulo Freire em


toda a trajetória do curso, desde a sua concepção. De acordo com
esse autor, o conteúdo não é um conjunto de informes e de valo-
res a ser depositado dos educandos, mas, sim, algo organizado a
partir da situação presente existencial e concreta (FREIRE, 1987).
Os Trabalhos de Conclusão de Curso tiveram como caracte-
rística a intervenção, compreendendo o projeto de intervenção
como uma proposta de ação construída a partir da identificação
de problemas, necessidades e fatores determinantes. Cabe lem-
brar que o termo projeto refere-se a um plano para realização 21
de uma ação coordenada no futuro; ou seja, algo que se lança à
frente, sustentado em objetivos a serem alcançados. Já a palavra
intervenção implica uma ação objetiva, um fazer concreto numa
dada realidade. Nesse sentido, um projeto de intervenção deve
definir e orientar as ações planejadas para resolução de proble-
mas e/ou necessidades identificadas, preocupando-se em gerar
mudança e desenvolvimento (SCHNEIDER; FLACH, 2014).
Cumpre frisar que, de acordo com Castro et al. (2019, p.13),
a opção pela modalidade de Trabalho de Conclusão de Curso2
foi orientada pelas seguintes questões:

2 Na biblioteca do site observatoriorh.ufrn.br estão postados dois livros (um


para cada região) com os resumos dos projetos de intervenção. Sementes ger-
minadas na Região Sul: resumos apresentados no curso de especialização em
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (CASTRO et al., 2021) e Sementes
germinadas na Região Sudeste: resumos apresentados no curso de especializa-
ção em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (CASTRO et al., 2021).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


• O curso foi concebido como um projeto político-insti-
tucional tendo em vista desencadear mudanças efetivas
no processo de trabalho de seus participantes.
• A concepção pedagógica adotada referente à problema-
tização inclui, como uma de suas etapas, a formulação
de hipóteses de soluções para problemas identificados,
tendo como base a reflexão sobre o contexto dos mes-
mos e o referencial teórico discutido.
• A clientela do curso foi composta eminentemente por
trabalhadores inseridos no Sistema Único de Saúde.
• O compromisso do curso de trazer contribuições para o
Sistema Único de Saúde.

O Quadro 1 demonstra a abrangência dos projetos de in-


tervenção e revela o potencial do processo educativo para co-
laborar com o trabalho no SUS.
22

Quadro 1 - Relação de projetos de intervenção,


segundo região e estado, 2019

Região Sudeste
Concluintes de
Estado Concluintes de Especialização
Aperfeiçoamento
Espírito Santo 90 Projetos de intervenção 6
Minas Gerais 140 Projetos de intervenção 4
Rio de Janeiro 60 Projetos de intervenção 3
São Paulo 94 Projetos de intervenção 2
Total 384 Projetos de intervenção 15

Região Sul
Concluintes de
Estado Concluintes de Especialização
Aperfeiçoamento
Paraná 106 Projetos de intervenção 3

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Rio Grande do Sul 95 Projetos de intervenção 5
Santa Catarina 72 Projetos de intervenção 4
Total 273 Projetos de intervenção 12

Demais Turmas
Concluintes de
Instituição Concluintes de Especialização
Aperfeiçoamento
Ministério da Saúde 48 Projetos de intervenção -
UFRN 40 Projetos de intervenção 1
Total 88 Projetos de intervenção 1
Fonte: Castro et al. (2019).

DESAFIOS E RESSONÂNCIAS DA EXPERIÊNCIA

Sabe-se que a melhoria da qualidade dos serviços não depen-


de apenas da disponibilidade de pessoal, nos seus aspectos 23
qualitativo e quantitativo. Ter a força de trabalho capacitada
é um fator decisivo para a qualificação das práticas, todavia,
não é o suficiente para a melhoria do serviço. Isto depende
também de outros fatores e de outros investimentos institu-
cionais, como, por exemplo, o apoio da gestão na promoção
de condições necessárias para a implementação de mudanças.
Nesse sentido, identificam-se como necessários aos serviços
de saúde: implantação de processos educativos que sejam estra-
tegicamente conduzidos não apenas como uma proposta para
a qualificação dos profissionais, mas também como instrumen-
tos de reorganização do trabalho; fortalecimento de políticas
de desenvolvimento de pessoal que tenham continuidade e que
sejam planejadas estrategicamente, implementadas e avaliadas;
implantação de políticas e programas que contribuam para a
qualificação do trabalho e que estimulem a participação dos

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


trabalhadores; desenvolvimento de ações que fortaleçam o diá-
logo com o serviço, tendo por princípio a Educação Permanente
em Saúde, compreendendo-a como uma abordagem pedagógi-
ca onde há “o encontro com o outro e a troca de modos de agir
e saberes, produzindo sentido ético e político para o seu fazer
no campo da saúde” (MERHY, 2015, p.10). Dito isso, defende-se
que as realidades dos distintos espaços de trabalho devem ser
observadas, discutidas, reformuladas e compartilhadas.
A experiência da Especialização em Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde vivenciada nas Regiões Sul e Sudeste, por
sua característica de escuta dos alunos, desvendou as várias rea-
lidades institucionais. Esse processo foi fundamental para que os
projetos de intervenção apresentados revelassem as necessida-
des locais e tivessem o apoio das gestões dos diferentes serviços.
A experiência aqui relatada possibilitou uma prática pe-
dagógica proativa com ressonâncias, não somente no serviço,
24
como, também, em outras demandas, tais como produções de
diversos artigos científicos sobre as temáticas que envolveram
o curso, edição de livros com os resumos das propostas de
intervenção elaboradas pelos alunos – em versões digital e
impressa – e edição de livros com as pesquisas feitas sobre
as problemáticas discutidas durante o curso. Ademais, este
processo de capacitação lato sensu estimulou e oportunizou
a criação de um programa de pós-graduação stricto sensu,
sediado no Departamento de Saúde Coletiva/UFRN – o Mes-
trado Profissional em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde –,
fomentando, com isso, o conhecimento teórico-metodológi-
co já existente nesta área e subsidiando novas intervenções, na
perspectiva da melhoria dos processos de trabalho, visando à
superação de problemas e ao fortalecimento do sistema públi-
co de saúde do Brasil.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivenciar a Especialização em Gestão do Trabalho e da Edu-


cação na Saúde oportunizou a reflexão crítica sobre a prática,
o crescimento profissional e a troca de experiências entre dis-
centes e discentes, docentes e discentes e docentes e docentes.
O foco foi o fortalecimento do campo da Gestão do Trabalho
e da Educação na Saúde, compreendendo-o como um campo
de práticas e de produção de conhecimentos estratégicos para
o fortalecimento do Sistema Único de Saúde.
O curso foi considerado como disparador de uma nova atu-
ação proporcionada pelo empoderamento dos sujeitos envol-
vidos e pela defesa do Sistema Único de Saúde, reconhecendo,
a partir de suas especificidades, as conquistas, fragilidades e
possibilidades de avanço deste grande sistema de Saúde do
Brasil, materializado nas demandas apresentadas nas Regiões
25
Sul e Sudeste do país.
Outra questão importante a ser ressaltada é a modalidade
de ensino, que viabilizou e facilitou o acesso e as condições
para a participação dos alunos. No momento em que foi utili-
zado o Ensino a Distância, esta abrangência foi possível.
A acessibilidade para um maior número de pessoas em
diversos municípios foi possível e, mais do que isso, sem ocor-
rer o afastamento do trabalho. É importante ressaltar a res-
ponsabilidade e o comprometimento dos alunos, dos tutores
e de toda a equipe organizadora do curso para que a formação
tivesse êxito.
A qualidade da plataforma virtual interativa favoreceu o
interesse e debate entre alunos, tutores e coordenação do cur-
so e permitiu se adequar às metodologias ativas, com um foco
constante na aprendizagem significativa e que pudesse ser
materializada na prática laboral dos alunos do curso.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Finalizando, consideramos que o curso proporcionou a
compreensão da realidade sobre as necessidades nas institui-
ções de saúde dos municípios que compõem as Regiões Sul
e Sudeste; possibilitou trocas de experiências entre os alunos
sobre a diversidade de seus cotidianos laborais e dinamizou
um movimento de mudanças no âmbito da Gestão do Traba-
lho e da Educação na Saúde no SUS.

26

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


REFERÊNCIAS

CASTRO, J. L. et al. Curso de Especialização em Gestão do


Trabalho e da Educação na Saúde. 2019. Relatório final.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Ministério da
Saúde. Disponível em: http://observatoriorh.ufrn.br/uploads/
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Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Encontro com a experiência do Curso
de Especialização em Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde no
estado do Espírito Santo

Hylarina Ma. Montenegro Diniz Silva | hyldiniz@gmail.com


Doutora em Ciências da Saúde; professora do Departamento de
Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
INTRODUÇÃO

A primeira aproximação

O Sistema Único de Saúde (SUS) nasce no Brasil envolto em


desafios, dentre eles, a necessidade de um olhar sensível para
os trabalhadores e gestores espalhados por todo o país, sob o
prisma de seus princípios. Atualmente, são percebidas dife-
rentes versões do Brasil em termos de igualdade/desigualdade
social, política e econômica, fato que caracteriza a dicotomia
entre o que é proposto e o efetivado como política pública
de saúde e consequente repercussão nos processos de gestão
30 (PINHEIRO et al., 2018).
Nessa perspectiva, torna-se premente para o Ministério da
Saúde (MS), a criação de espaço técnico e político, com ênfase
na área de Recursos Humanos em Saúde (RHS), para conhecer e
compreender as objeções, advindas da complexidade da amplia-
ção da cobertura das ações e serviços de saúde (MAGNAGO et
al., 2017a).
Em resposta à necessidade desse olhar e nova estruturação,
tem-se a criação, em 2003, pelo MS, da Secretaria de Gestão
do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) com o objetivo
de desenvolver ações para a promoção de políticas voltadas
para a formação e valorização dos trabalhadores, educação
permanente e democratização das relações de trabalho no
SUS (BRASIL, 2003; BRASIL, 2011).
Dentre as iniciativas da SGTES, a formação dos trabalha-
dores e gestores do SUS em gestão do trabalho e da educação

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


na saúde constitui um avanço para a qualificação da gestão,
com vistas ao atendimento da população e, ainda, a tornar vi-
sível os indivíduos que cotidianamente constroem e materia-
lizam o sentido de pertencimento, a defesa do SUS e a cons-
trução de espaços de resistência e existência em um mundo
para o trabalho e para além deste (CARVALHO; MERHY;
SOUSA, 2019).
Desse modo, a Política de Gestão do Trabalho e da Educa-
ção na Saúde pressupõe visibilidade e garantia de condições
mínimas para a valorização do trabalhador e do seu trabalho,
em ações efetivas como o Plano de Carreira, Cargos e Salários
(PCCS), proteção dos vínculos de trabalho, instâncias de ne-
gociação do trabalho, humanização da qualidade do trabalho,
educação permanente, saúde do trabalhador, dentre outros.
Somente com respeito à concepção de que o trabalhador in-
fluencia e é influenciado pelo trabalho e suas relações e, nesse
31
sentido, torna-se sujeito, agente e protagonista de práticas e
saberes, durante o processo de trabalho, é que se observará a
saúde e o trabalhador como um bem público (MACHADO;
XIMENES NETO, 2018).
A Educação Permanente (EP) figura como uma das ações
consideradas efetivas para o fortalecimento do SUS. Nasce
como resultado dos debates entre representantes de diversas
áreas, envolvendo trabalhadores, gestão e Conselho Nacional
de Saúde, e se torna uma política pública de acordo com a
Resolução CNS n° 335/2003 (BRASIL, 2004a), e da Portaria
n° 198/GM/MS9, de 13 de fevereiro de 2004 (BRASIL, 2004b).
Considerada um marco legal e ponto de partida para o re-
conhecimento do potencial indutor de mudanças, as ações do
âmbito da Educação Permanente no SUS e, dentre elas, a qua-
lificação dos trabalhadores que atuam nas dimensões política,
técnica e administrativa, nos processos de gestão do trabalho

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


e da educação na saúde, do setor público de saúde consiste
em importante estratégia de melhoria na qualidade dos ser-
viços prestados à população quaisquer que sejam os níveis da
atenção e espaços de atuação. O curso de Especialização em
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, na modalidade
de Educação a Distância (EaD), resultado da parceria entre a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Mi-
nistério da Saúde, destaca-se dentre as importantes iniciativas
do MS neste campo (CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
O desafio consiste, especialmente, na abrangência de sua
realização — em todo o Brasil — e no período de tempo de
sua realização — dividido em etapas — contemplando as cin-
co regiões do país, com início em 2013 e conclusão em 2019.
Soma-se a isso, a modalidade de oferta em EaD, com o ob-
jetivo de atingir o maior número possível de profissionais.
Tal modalidade destaca-se como uma das potencialidades do
32
Curso de Especialização, visto considerar o esforço operacio-
nal na dimensão continental do Brasil.
A modalidade EaD, permite que o trabalhador, na condi-
ção de especializando, possa realizar seu planejamento de es-
tudo durante o horário disponível, desenvolva competências
para o uso de plataformas tecnológicas de acesso de conteúdo
e interação com tutor, promova maiores níveis de inclusão.
Essa modalidade exige disciplina, organização do tempo e
perfil autodidata, como condições para caminhar com eficá-
cia no curso. Além disso, é importante destacar o papel dos
professores, sua qualificação para o ensino EaD e a qualidade
e compatibilidade do material para essa modalidade de en-
sino (MARCHISOTTI; OLIVEIRA; LUKOSEVICIUS, 2017).
Nesse cenário, percebe-se a importância da universidade
pública contribuindo com o SUS, por meio de qualificação
dos gestores, de modo a materializar seus princípios e prota-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


gonismo na educação permanente. Conforme aponta Chaui
(2003), diante do mundo globalizado, a educação permanen-
te constitui uma estratégia pedagógica indispensável, pois —
permeada de significados — induz permanente movimento
de transformação do saber e da formação, encontrando terre-
no fértil na universidade pública.
Assim, partindo dessa concepção de educação permanen-
te, o Curso de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde foi
ofertado aos trabalhadores das regiões Sul e Sudeste entre os
anos 2018 e 2019, com carga horária de 380 horas para o nível
especialização e de 304 horas para nível de aperfeiçoamento.
O público-alvo definido constou de trabalhadores com atua-
ção na área de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde,
ocupantes de funções de assessoramento, coordenação ou ge-
rência de recursos humanos com ênfase para as áreas de ges-
tão e de preparação de pessoal; e ainda, de representantes dos
33
trabalhadores nas Mesas de Negociação do Trabalho das Se-
cretarias Municipais de Saúde (SMS) e Secretarias Estaduais
de Saúde (SES) e Mesa Nacional de Negociação Permanente
do SUS (CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
O curso, iniciado em agosto de 2018 e finalizado em ju-
nho de 2019, foi conduzido pelo Observatório de Recursos
Humanos em Saúde, da Universidade Federal do Rio Gran-
de do Norte (UFRN), em articulação com o Departamento
de Gestão do Trabalho em Saúde (DEGTS), do Ministério da
Saúde, contando com o apoio do Núcleo de Estudos em Saúde
Coletiva (NESC) e da Secretaria de Educação a Distância (SE-
DIS) da UFRN, além das parcerias locais internas e externas
ao âmbito da universidade. No estado do Espírito Santo (ES),
os parceiros privilegiados foram a Secretaria de Saúde do Es-
pírito Santo e a Faculdade Multivix de Vitória/ES (CASTRO,
2019).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


O estado do Espírito Santo contou com a inscrição de 137
alunos distribuídos em quatro turmas, destacando a presença
de participantes das quatro regiões de saúde, sendo sete alu-
nos da região norte, dezoito da região central, 81 da região
metropolitana e 31 da região sul. Dos 78 municípios que com-
põem o estado do Espírito Santo, 21 deles foram representa-
dos por formandos que concluíram o curso. Ao final, noventa
profissionais-formandos concluíram a especialização, alcan-
çando uma taxa de 65,69% de concluintes, e uma taxa de eva-
são de 34,30% (CASTRO, 2019).
Os dados sobre o curso revelam a importância e alcance do
SUS como um espaço público. De fato, somente um sistema
universal, como aponta Campos (2018), pode alicerçar a po-
lítica de pessoal única para o SUS, como condicionante para
o seu funcionamento, segundo seus princípios e diretrizes le-
gais. E se constituir, portanto, um cenário para o desenvolvi-
34
mento e qualificação da Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde.
Dialogar com as experiências do curso de Especialização em
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do estado do Es-
pírito Santo é o objetivo deste capítulo. Foram tomados como
referências os dados do curso apresentados em relatórios, ma-
terial didático utilizado no curso e autores que tratam do tema.

GESTÃO DO TRABALHO EM SAÚDE:


CONCEITOS E IMPRESSÕES

O termo recursos humanos, amplamente discutido na 12ª Con-


ferência Nacional de Saúde, realizada em 2003, acompanhan-
do os ritos das mudanças, foi substituído pela expressão gestão
do trabalho em saúde. Conforme destacam Viana, Martins e

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Frazão (2018), em pesquisa realizada sobre a temática, notou-
se que no uso da expressão gestão do trabalho em saúde, no
Brasil, são examinados diversos aspectos. A complexidade dos
conceitos é percebida nas análises e reflexões, a depender do
momento político, social e econômico, em que este foi elabo-
rado. Contudo, admite-se que essa expressão contempla con-
teúdos que se relacionam com áreas de conhecimento sobre
trabalhador e seu trabalho, observando-se temas como: valo-
rização profissional, precarização das atividades profissionais,
direitos trabalhistas, formação, capacitação, atuação nos pro-
cessos de trabalho e participação nas formulações de políticas
(VIANA; MARTINS; FRAZÃO, 2018).
Nessa perspectiva, entende-se que a participação do tra-
balhador ocorre pelo desempenho de vários papéis, ao atu-
ar como sujeito, protagonista de práticas e saberes, agente
de transformação de sua realidade, influenciando e sendo
35
influenciado por ela. Além disso, presume-se que sua valori-
zação e do seu trabalho sejam requisitos básicos a serem ob-
servados no PCCS, nas relações de trabalho com proteção so-
cial, fóruns de negociação do trabalho, educação permanente,
condições para o desenvolvimento do trabalho, dentre outros
(MACHADO; XIMENES NETO, 2018).
Para Carvalho, Merhy e Sousa (2019), é preciso compreen-
der e valorizar os trabalhadores e usuários, reconhecer a ri-
queza de suas experiências e do potencial transformador que
as caracteriza para que, na realidade em que vivem, possam
se transformar em matéria-prima para criar e recriar os seus
modos de produção.
As discussões teóricas sobre gestão do trabalho em saú-
de podem induzir mudanças nas práticas de gestão em subs-
tituição aos modelos burocráticos e de produção em massa
ainda prevalentes. A incorporação desse conceito e expressão

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


revela um amplo significado, ao considerar todas as interfa-
ces do trabalho e promover a visibilidade do trabalhador, do
trabalho e das condições em que o processo ocorre (VIANA;
MARTINS; FRAZÃO, 2018).
A partir do encontro dos trabalhadores participantes com
o curso de Especialização em Gestão do Trabalho e da Edu-
cação na Saúde, foi possível dar visibilidade aos temas que
expressam as experiências e desejos de introduzir novas con-
cepções de gestão em políticas já existentes, cuja concretiza-
ção parece ainda distante.
Assim, dentre as propostas de intervenções apresentadas,
percebe-se uma ênfase para as políticas públicas na área de
Gestão do Trabalho em Saúde, tais como: implantação da Po-
lítica de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Política
da Saúde do Trabalhador e Política Nacional de Humanização;
implantação de Programa de Segurança do Trabalho; criação
36
de Sistema de Informações referentes à Saúde e Segurança do
Trabalho; implantação/implementação de política para moni-
toramento, avaliação de desempenho e dimensionamento da
força de trabalho; gerenciamento do Processo de Contratação
de Profissionais (CASTRO, 2019).
De acordo com Carvalho, Merhy e Sousa (2019), espera-se
que as políticas públicas, resultado do encontro de trabalha-
dores, usuários e gestão, possam se materializar, indo além do
distanciamento percebido entre a realidade e as informações
produzidas em planilhas gerenciais e sistemas de informação.
Esse é certamente um desafio a ser enfatizado, pois a reflexão
teórica e conceitual indica que ainda são almejadas mudanças
efetivas na prática das organizações de saúde, sobremodo, na
gestão do trabalho, em detrimento de arranjos de gestão, como
departamento de pessoal, gestão de recursos humanos ou gestão
de pessoas, entre outras (VIANA; MARTINS; FRAZÃO, 2018).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


GESTÃO DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE:
CONCEITOS E IMPRESSÕES

A educação na saúde, tem sido importante condição para a


qualidade do cuidado, tendo como referência os determinan-
tes sociais da saúde, as necessidades de saúde das famílias e
comunidades, e o perfil epidemiológico locorregional. Refletir
sobre isso, implica em reconhecer que a formação dos traba-
lhadores da saúde, seja desenvolvida sob os alicerces da educa-
ção permanente, compreendida por competências específicas
e comuns para atender as demandas advindas do cenário do
trabalho sanitário (MACHADO; XIMENES NETO, 2018).
Para o campo da Gestão da Educação na Saúde, considera-
se que as práticas de educação permanente, quando ocorrem
in loco no ambiente de trabalho, a aprendizagem se funda-
menta e oferece a base de estruturação para o desenvolvimen-
to de uma consciência crítica e reflexiva. Entretanto, faz-se 37

necessário registrar as dificuldades para a implementação de


ações educativas, dentre elas, a difícil articulação entre traba-
lho e formação, o desinteresse dos trabalhadores, os proble-
mas de natureza política/jurídica presentes na esfera do ser-
viço público. Dentre os aspectos que encorajam a formação
dos profissionais, o incentivo financeiro merece destaque, mas
não se resume a esta dimensão, indo além, quando se perce-
be a dimensão da educação em saúde para a qualidade da
atenção, organização do processo de trabalho nos serviços de
saúde, qualificação da gestão pública e consolidação do SUS
(VERMELHO; FIGUEIREDO, 2017).
A cada dia, torna-se evidente que a educação em saúde
compreende diversas dimensões, sendo uma delas a qualifi-
cação de pessoal, considerando seus efeitos sobre o atendi-
mento das necessidades de saúde da população, baseado nos

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


princípios norteadores do SUS. Uma das dificuldades do tra-
balhador reside na necessidade de ausentar-se total ou par-
cialmente do seu ambiente de trabalho para realizar ativida-
des de estudo. Para além do trabalhador, existem dificuldades
relacionadas com a falta de um plano político-pedagógico e
de uma cultura de educação no trabalho, em que estejam en-
volvidos os gestores (SIGNOR, E. et al., 2015).
A Educação Permanente em Saúde (EPS)
[...] pode ser compreendida como uma proposta de
ação estratégica capaz de contribuir para a necessária
transformação dos processos formativos, das práticas
pedagógicas e de saúde e para a organização dos serviços
(CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018, p. 158).

O conceito de EPS apresenta referenciais que induzem sua


38
materialidade no contexto do trabalho e sociedade, visto se
tratar de importante estratégia para o desenvolvimento dos
profissionais e para as transformações necessárias das práticas
vigentes nos serviços de saúde (CASTRO; VILAR; LIBERA-
LINO, 2018).
Assim, a Política Nacional de Educação Permanente em
Saúde (PNEPS) surge como uma política de Estado, com fi-
nanciamento público, para estruturação de programas edu-
cativos, tendo como propósito dar sustentação, promover de-
senvolvimento e, principalmente, consolidar o SUS (SIGNOR,
E. et al., 2015).
Ao considerar as propostas de intervenções apresentadas
pelos profissionais na área temática de Gestão da Educação na
Saúde, destacam-se: implementação da Política de Educação
Permanente em diversos cenários como secretarias municipais
de saúde e hospitais; implantação da Política Nacional de Hu-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


manização; e Avaliação de Desempenho dos Servidores. Den-
tre os temas para a realização de capacitações, evidenciam-se:
Recursos Humanos; Saúde da Família; Saúde Menta; Processos
Técnicos de Trabalho em Vigilância Sanitária; Sistemas de In-
formação nos Setores Administrativos de Recursos Humanos
das unidades da Secretaria Estadual de Saúde, Biossegurança;
Notificações de Acidentes de Trabalho; Avaliação e Monitora-
mento dos Contratos de Gestão (CASTRO, 2019).

EXPERIÊNCIAS E SIGNIFICADOS: O CURSO

O curso teve dois encontros presenciais, a aula inaugural no


dia 24 de agosto de 2018 e o encerramento, no dia 28 de ju-
nho de 2019, na Faculdade Multivix, de Vitória, localizada no
Bairro Goiabeiras, em Vitória-ES. No primeiro momento, es-
tiveram presentes a representante da Coordenação Nacional 39

do Curso da UFRN, e da Coordenação Pedagógica, o gerente


de Recursos Humanos da Secretaria de Estado da Saúde, além
de tutores e profissionais especializandos. Por ocasião do en-
cerramento, no segundo momento presencial, estiveram pre-
sentes os representantes da Secretaria de Gestão do Trabalho
e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, da Secretaria
de Estado da Saúde e da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (CASTRO, 2019).
O curso na modalidade EaD teve seu desenvolvimento na
Plataforma Virtual, ambiente que ofereceu ao especializando
múltiplos materiais e espaços para troca de mensagens e dis-
cussão, como: bibliografia, videoaulas, filmes, canal de men-
sagem, feedbacks, chat e fóruns. Para dar celeridade à comu-
nicação, as turmas organizaram grupos no WhatsApp, que
contaram com a participação de representantes da coordena-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


ção pedagógica a fim de contribuir com o grupo (CASTRO,
2019).
Dentre as estratégias adotadas pelos tutores, destacam-se:
o acompanhamento sistemático dos acessos dos alunos no
ambiente virtual de aprendizagem, com o objetivo de acom-
panhar possíveis dificuldades, bem como identificar a evolu-
ção dos estudos; orientação para acesso a vídeos tutoriais que
conduziam a navegação pelo ambiente virtual de aprendiza-
gem; envio de mensagens via plataforma e contatos telefôni-
cos, mídias digitais e vídeos. Tais recursos foram utilizados na
medida em que se percebia alguma dificuldade dos especiali-
zandos no desenvolvimento de atividades do curso, no cum-
primento do cronograma pactuado (CASTRO, 2019).
Essa interação entre tutores e alunos produziu uma di-
nâmica que repercutiu de modo satisfatório no processo de
aprendizagem, sendo potencializadas pelos recursos tecno-
40
lógicos digitais, possibilitando aos sujeitos, a construção, a
transformação e a ressignificação do seu trabalho (NUNES;
PEREIRA; BRASILEIRO, 2018).
Das situações apontadas pelos alunos que atrasaram o cro-
nograma ou desistiram, destacam-se: falta de tempo em de-
corrência do cumprimento de escala de trabalho; dificuldades
para o desenvolvimento das atividades por incompatibilidade
de horários; dificuldade de organizar e priorizar o tempo para
estudo; dificuldade de navegar no ambiente virtual, pela inex-
periência e por estarem fazendo curso EaD pela primeira vez;
falta de identidade e/ou interesse pelo tema ou conteúdo do
curso; doença grave impossibilitante (CASTRO, 2019). Para
os alunos que conseguiram concluir o curso, a experiência de
navegar na plataforma, de interagir, mesmo de modo remoto,
com outros colegas e professores, possibilitou-lhes um apren-
dizado certamente útil para o tempo presente, que nos impôs

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


atividades remotas sempre que possível, especialmente ativi-
dades de educação permanente.
Apesar das dificuldades vivenciadas, é evidente o apren-
dizado proporcionado pela relação Tutor/Aluno, principal-
mente quando revelada a potencialidade dos Trabalhos de
Conclusão de Curso (TCCs) elaborados e a multiplicidade de
áreas de atuação dos profissionais, a saber:
[...]nível central da Secretaria, dos setores de Recur-
sos Humanos, Fundo Estadual de Saúde, Medicina do
Trabalho, Vigilância em Saúde, Desenvolvimento de
Recursos Humanos, Instituto de Previdência dos ser-
vidores, Hemocentros, Centros de Reabilitação Física,
Hospital Universitário, Hospitais municipais e filan-
trópicos, estes últimos, locais de assistência direta ao
público; além de locais de assistência nos municípios:
como Atenção Secundária e Unidades de Saúde da Fa-
41
mília (CASTRO, 2019, p. 9-10).

Esta diversidade de áreas, representada pelos alunos do


curso, foi de grande importância para todos, considerando as
trocas de experiências não somente no cotidiano laboral dos
mesmos, como na possibilidade de diálogo entre os diversos
conhecimentos advindos de cada área.
A realização do curso constituiu um grande desafio para
todos os envolvidos, principalmente, ao se reconhecer a im-
portante articulação e participação ativa dos gestores estadu-
ais e municipais para oportunizar o processo de qualificação
dos trabalhadores do SUS.
Mais do que validar a experiência de formação, oportuni-
zou-se uma integração social, no sentido de promover opor-
tunidade de conhecimento, suscitar a reflexão sobre o sentido
das práticas pedagógicas críticas, para agir na esfera pública e

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


antecipar as necessidades profissionais futuras (HABOWSKI;
CONTE; JACOBI, 2020).

TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO:


RESULTADOS E A CONCRETIZAÇÃO DO ENCONTRO

Os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) foram elabo-


rados utilizando-se a metodologia de Projeto de Intervenção
(PI). A escolha de metodologia problematizadora se deu por
proporcionar ao aluno a oportunidade de se colocar como
observador de sua própria realidade e, assim, identificar um
problema, e ao mesmo tempo buscar soluções criativas para
intervir (CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
Desse modo, ao utilizar a metodologia de PI, o aluno teve
a oportunidade de contribuir para a melhoria dos serviços,
42 verificando-se o potencial da metodologia sobre os problemas
enfrentados por profissionais e usuários do SUS. Ressalta-se
que esse momento constituiu uma oportunidade ímpar de
aprendizado, promovida pela complexidade da realidade de
cada aluno no seu contexto de trabalho e relações.
Ao final do curso, 66% dos alunos foram aprovados, ou
seja, do número total de iniciantes, noventa alunos das quatro
turmas do estado do Espírito Santo concluíram a especializa-
ção (CASTRO, 2019).
Dentre os TCCs apresentados, 43% (39 trabalhos) aborda-
ram temas relacionados a área da Gestão do Trabalho em Saú-
de; 45% (41 trabalhos) temas na área de Gestão da Educação
na Saúde; e 12% (11 trabalhos) versaram sobre implantação
de protocolos assistenciais (prevenção e tratamento de lesões
de pele, atenção à Saúde Mental), padronização de processos
(realização de exames ocupacionais, comunicação interna

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


nos setores administrativos da secretaria municipal de saúde,
fluxograma para situações de urgência no Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS), implantação do matriciamento na As-
sistência Farmacêutica no município, faturamento de hospital
estadual) (CASTRO, 2019).
No entanto, observou-se que assuntos como Mesa de Ne-
gociação do Trabalho e PCCS não foram contempladas nas
temáticas. Sobre o tema Mesa de Negociação do Trabalho,
Magnago et al. (2017b) chama atenção para a complexidade
de sua concretização, ainda que se configure como um fórum
com participação de trabalhadores e gestores, sua implanta-
ção e funcionamento encontram grandes desafios. Em pes-
quisa realizada, destacou-se que entre os motivos para a não
implantação estão a inexistência de assessoria técnica e utili-
zação de outras formas para negociação do trabalho. As prin-
cipais repercussões positivas nas relações de trabalho, como
43
consequência da atuação das mesas de negociação, foram a
realização de concursos públicos, políticas de desprecarização
do trabalho e a implantação de PCCS.
A implantação de um Plano de Carreira, Cargos e Salários
(PCCS), por sua vez, consiste em um passo fundamental para
o desenvolvimento da área da gestão do trabalho e da edu-
cação na saúde, visto contribuir para a valorização profissio-
nal e, por conseguinte, para a permanência e para a melhoria
dos serviços de saúde oferecidos pelo SUS que, certamente,
enfrenta também grandes desafios para sua concretização
(VIEIRA et al., 2017).
Diante do exposto, considera-se inquestionável o valor das
experiências e possibilidades construídas por cada um dos
alunos, com a elaboração dos TCCs. Sobre isso, entende-se
que somente os debates entre os sujeitos propiciarão a cons-
trução coletiva para encontrar respostas e soluções, para os

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


problemas que se relacionam à gestão do trabalho e da edu-
cação na saúde, adequadas às realidades e especificidades dos
municípios, contribuindo com importante parcela para o for-
talecimento das políticas do MS e SGTES (MAGNAGO et al.,
2017a).

EXPERIÊNCIAS E APRENDIZADO: POTENCIALIDADES

A concepção de um curso em formato EaD que utiliza uma


metodologia pedagógica problematizadora, confere aos seus
participantes a oportunidade de se aproximarem de sua re-
alidade com diferentes olhares e chances de influenciar e ser
influenciado por ela. Nessa perspectiva, Chagas (2019) consi-
dera que um curso EaD que se propôs incorporar a micropo-
lítica na elaboração de sua proposta pedagógica, além de lidar
44 com múltiplos desafios, consegue desenvolver o potencial dos
envolvidos.
Assim, como potencialidade do curso de especialização
merece destaque a abordagem das áreas de conhecimento em
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Sabendo que
constituiu um desafio, o percurso teórico-metodológico evi-
denciou temas introdutórios na Unidade I - Serviços de Saú-
de, cidadania e trabalho que propiciou um nivelamento inicial
dos participantes (CASTRO, 2019).
Outro aspecto importante na condução do processo de for-
mação, diz respeito ao ambiente virtual de aprendizagem uti-
lizado, pois ao mesmo tempo que representou um desafio, tor-
nou-se uma potencialidade, quando formandos perceberam as
possibilidades de aprendizado e que a aproximação entre estes
e seus tutores permitiu o desenvolvimento de habilidades para
o uso de novas tecnologias da informação (CASTRO, 2019).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Durante o curso, foram identificadas dificuldades de alguns
alunos no acompanhamento do cronograma. Neste sentido, a
adoção de medidas para abertura e flexibilidade do ambiente
virtual permitiu que alunos dessem continuidade e conclu-
íssem o curso, fato que contribuiu para um menor número
de evasão. Essa medida só foi possível pelo esforço coletivo
envolvendo coordenações, tutores e alunos (CASTRO, 2019).
Para a UFRN, a experiência com o curso proporcionou a
melhoria de sua estrutura relacionada ao desenvolvimento de
ambientes virtuais de aprendizagem para os cursos oferecidos
na modalidade EaD. Os servidores envolvidos identificaram li-
mites e passaram a oferecer estratégias para melhorias na pla-
taforma virtual AVASUS, oportunizando maior interação entre
os alunos nos fóruns; melhoria de acesso e promoção de uma
navegação entre as unidades com poucos atalhos (CASTRO,
2019).
45
Destaco ainda a potencialidade promovida pelo encontro
de profissionais de 21 municípios do estado do Espírito Santo,
fato que poderá facilitar um intercâmbio de saberes e experi-
ências técnico-científica e políticas, resultando em parcerias
para o desenvolvimento de ações que venham a contribuir
com a efetivação do SUS.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Encontro com a experiência

Finalmente, considera-se que o Curso de Especialização em


Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, no estado do
Espírito Santo, obteve grande êxito na medida em que pro-
porcionou a formação de trabalhadores e gestores, a qual se
converte em potencial para mudanças nos processos de ges-
tão do SUS. Aliado a isso, trata-se de uma política indutora
de transformações no fazer em saúde, a partir da adoção, por
parte dos trabalhadores, de novas concepções filosófico-teó-
rico-político das práticas de gestão nas instituições de saúde.
Vale destacar ainda a participação da Universidade Fede-
ral do Rio Grande do Norte, enquanto instituição pública de
ensino superior, protagonizando seu compromisso com a for-
46 mação de profissionais e gestores, contribuindo com a Políti-
ca Nacional de Educação Permanente em Saúde. Ao mesmo
tempo em que construiu novos caminhos para a formação na
modalidade de Educação a Distância e acumulou experiên-
cias pela parceria com o Ministério da Saúde, por meio da
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde,
somando-se a outras experiências de relevo a exemplo dos
programas Pró-Saúde, PET Saúde, Telessaúde, Projeto Vivên-
cias e Estágios na Realidade do SUS (VER-SUS), Programa
Mais Médico, dentre outros.
O curso permitiu um rico encontro de saberes ao propor-
cionar a tutores, trabalhadores e gestores, a oportunidade de
navegar pelos temas desenvolvidos nos TCCs, no quais estavam
contidas suas inquietações e anseios de transformação da rea-
lidade do Sistema Único de Saúde, na perspectiva de dar con-
cretude a seus princípios de ser universal, integral e equânime.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Por fim, espera-se que a semente plantada pelos projetos
de intervenção, metodologia utilizada nos TCCs, tenha rendi-
do frutos e nessa perspectiva, se possa, no futuro, conhecer as
transformações ocorridas nos cenários de atuação dos traba-
lhadores e gestores, assim como se almeja a realização de no-
vos projetos de Curso de Especialização em Gestão do Traba-
lho e da Educação na Saúde, em fluxo contínuo, considerando
que existe um sistema de saúde a ser defendido e fortalecido.

47

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


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Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


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Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Formação em Gestão do Trabalho e
da Educação na Saúde: reflexões a
partir das experiências e vivências
do estado de Minas Gerais

Eliana Costa Guerra | elianacostaguerra@gmail.com


Doutora em Sociologia; professora do Departamento de Saúde Coletiva da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte; professora do Programa de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFRN
INTRODUÇÃO

A preocupação com a formação da força de trabalho em saú-


de é anterior ao nosso Sistema Único de Saúde (SUS), mas
ganha novo significado e importância à medida que ocorre o
processo de implantação do Sistema e que a pactuação de res-
ponsabilidades com a prestação dos serviços entre os entes da
federação ganha corpo. No período anterior ao SUS, apenas
nos municípios de maior porte e nas capitais existiam servi-
ços de saúde estruturados, restritos a determinado públicos
(segurados da Previdência Social, cooperativados, clientes de
planos e serviços privados de saúde). Com o advento do SUS,
53
os municípios precisaram se organizar, dependendo, para tan-
to, do apoio dos governos estaduais e do governo federal.1 De
fato, como afirmam Haddad et al. (2010, p. 1), a questão dos
recursos humanos “[...] vem ocupando a agenda da política de
saúde como ponto nodal para a implementação dos sistemas
nacionais de saúde”. A preocupação refere-se tanto a aspec-
tos qualitativos quanto quantitativos, de distribuição e fixa-
ção dos profissionais nos diversos territórios. No Brasil, essa
preocupação ganha maior relevo considerando a dimensão
continental de nosso território e as históricas desigualdades
socioterritoriais,

1 Importante lembrar que, em 1978, a conferência de Alma-Ata recomendou o


reforço da Atenção Primária de Saúde (APS) como forma de alcançar a meta
“Saúde para Todos no Ano 2000”. Recomendação que norteou as discussões da
construção do SUS.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


[...] com condições de saúde [que] variam enorme-
mente de região para região, com evidente prejuízo
para as regiões mais pobres do país e, dentro delas, para
as áreas rurais, para as áreas periféricas das cidades, e
para as classes sociais subalternas (BUSS, 1995, p. 97).

Como as necessidades e demandas em saúde são histórica


e socialmente determinadas, há necessidade constante de ava-
liar a capacidade dos serviços de saúde para planejar políticas e
ações e, desse modo, atender à demanda de seus respectivos ter-
ritórios, de modo eficiente, assegurando qualidade à gestão do
cuidado, segurança ao manejo de usuários, ambientes seguros
e adequados aos trabalhadores, fazendo valer os princípios da
universalidade, equidade e integralidade (princípios doutriná-
rios do SUS). Ademais, os serviços públicos de saúde devem se
orientar pelos princípios organizativos do SUS: regionalização
54 e hierarquização; descentralização e comando único e partici-
pação popular. Assim, o objetivo do presente texto é proceder
a uma síntese crítica do processo de formação em Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde2, realizado no estado de Mi-
nas Gerais, entre 2018 e 2019, por meio de um curso de espe-
cialização ofertado aos trabalhadores do SUS, um total de 169
profissionais oriundos dos municípios e serviços estaduais.

2 Seguindo a metodologia adotada nas demais regiões e estados, o Curso de Es-


pecialização teve carga horária de 380 horas, organizado em quatro unidades
didáticas, sendo estas: Unidade I: Serviços de saúde, cidadania e trabalho; Uni-
dade II: Gestão do trabalho em saúde; Unidade III: Gestão da educação na saú-
de e, Unidade IV: Metodologia da pesquisa. Os conteúdos e materiais didáticos
foram disponibilizados na plataforma AVASUS, mantida pela SEDIS/UFRN.
Os formandos e professores foram devidamente inscritos na plataforma de
gestão acadêmica SIGAA/UFRN. Além da coordenação assegurada pelo Ob-
servatório de Recursos Humanos em Saúde da UFRN, com sua equipe de pro-
fessores e experts, o curso contou com o apoio de técnicos locais na condição
de professor/tutor e de coordenadora local.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


De fato, com a implantação do SUS, a formação e a qualifi-
cação da força de trabalho em saúde se complexificam, sendo
permeadas por desafios de diferentes naturezas, enfrentados
ao longo dos anos: econômicos, sociais, políticos, culturais e
ainda pela dimensão continental do nosso país. A partir dos
anos 1990, o avanço das medidas de ajuste do Estado vem
aniquilando conquistas, com sucessivos cortes de recursos. À
luz das elaborações de Carvalho (2004) pode-se afirmar que o
confronto entre perspectivas distintas, orientadas por projetos
políticos contraditórios caracteriza o Brasil contemporâneo.
Em verdade, desde o início da década de 1990, ganha hegemo-
nia o projeto ajustador neoliberal, que restringe claramente as
possibilidades de investimento público em políticas sociais, a
exemplo da saúde, da educação e da assistência em detrimento
do projeto democratizante que acenava com a possibilidade de
dar respostas para as históricas desigualdades sociais e iniqui-
55
dades no acesso à educação e saúde, com expansão dos direitos
sociais (CARVALHO; GUERRA, 2015). Desse modo, quanto
se esperava que o SUS pudesse se impor como um sistema
universal, ocorre um verdadeiro paradoxo, com a deman-
da crescendo, tornando-se mais complexo, ao mesmo tempo
em que avança a disputa do fundo público pelo setor privado,
composto por hospitais e planos de saúde, além dos setores
farmacêutico, de produção de equipamentos e insumos para
a saúde3. Publicações recentes ressaltam os avanços e conquis-

3 Na saúde, a disputa entre o projeto democrático-popular do Movimento da


Reforma Sanitária e o projeto liberal conservador, ao qual está vinculado o
setor privado, o segundo tem hegemonia, sendo determinante para restringir
as perspectivas de desenvolvimento do SUS, com sistema universal capaz de
enfrentar as iniquidades no acesso à saúde e, sobretudo, de atuar pautado em
um modelo que aposta na saúde e não na doença, na educação e promoção da
saúde e não em esquemas curativos e medicalizantes (SOUZA et al., 2019).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


tas do SUS,4 mas indicam que persistem “velhas dificuldades”
enquanto novas surgem e que, finalmente, o direito universal à
saúde ainda não foi alcançado (SOUZA et al., 2019).
Do ponto de vista da força de trabalho do SUS, uma pri-
meira derrota ocorre quando o então presidente Fernando
Collor veta, da lei do SUS (Lei 8080/90), os artigos relativos
à carreira SUS.5 Uma segunda grande derrota acontece mais
recentemente com a lei da terceirização que autoriza contra-
tação de trabalho para atividades-fim na saúde pública. O
paradoxo consiste exatamente em enfrentar uma demanda
crescente e cada vez mais complexa direcionada ao SUS, com
recursos cada vez mais limitados, especialmente com o ad-
vento das Emendas à Constituição Federal (EC 55) e da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF).
Assim, se reconhece que a Gestão do Trabalho e da Edu-
cação na Saúde6 constitui uma dimensão fundamental por
56
seu potencial de assegurar a qualidade dos serviços, nos mol-
des previstos na arquitetura do SUS, constituindo um cam-
po de pesquisa, de saberes e de formação, mas que a mesma

4 Em comemoração aos 30 anos do SUS, revistas de renome no campo da saúde


coletiva, a exemplo de Ciência & Saúde Coletiva, Cadernos de Saúde Pública e
Saúde em Debate publicaram seções ou números especiais.
5 Em 1986, a Comissão da Reforma Sanitária já tinha em sua pauta a discussão
dos Planos de Carreira SUS; a Lei Federal nº 8.080/90 também os menciona,
mas não os regulamenta. Todavia, os “[...] planos de carreira no SUS só come-
çaram a ser efetivamente impulsionados após a criação da Secretaria de Gestão
do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES/MS) e reinstalação da Mesa Na-
cional de Negociação Permanente do SUS (MNNP-SUS), em 2003” (VIEIRA
et al., 2017).
6 A área de Recursos Humanos em Saúde e Gestão do Trabalho e da Educa-
ção na Saúde compreende temáticas centrais como plano de carreira, cargos
e salários, enfrentamento da precarização do trabalho, mesa de negociação
permanente, estratégia de educação permanente, avaliação de desempenho e
incentivos à produtividade, dentre outros aspectos, tendo, progressivamente,
se constituindo um campo importante no âmbito da saúde coletiva.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


representa um desafio constante para o Ministério da Saúde,
instância maior de planejamento e gestão do SUS no terri-
tório brasileiro, e para os diferentes níveis da gestão do SUS
(estados, municípios, equipamentos e serviços de saúde). A
dimensão da educação permanente em saúde é considerada,
inclusive, como uma ferramenta para articular ensino e servi-
ços na perspectiva do fortalecimento do SUS. Essa dimensão
articuladora está presente no documento Política de Educa-
ção e Desenvolvimento para o SUS: Caminhos para a Educação
Permanente em Saúde, de 2004, que, assim, se expressa:
Educação Permanente em Saúde apresenta-se como
uma proposta de ação estratégica capaz de contribuir
para a transformação dos processos formativos, das
práticas pedagógicas e de saúde e para a organização
dos serviços, empreendendo um trabalho articulado
entre o sistema de saúde, em suas várias esferas de ges-
57
tão, e as instituições formadoras (BRASIL, 2004, p. 9).

Formar e assegurar capacitação continuada aos trabalha-


dores em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde cons-
titui um investimento importante para qualificar os serviços.
Todavia, nem sempre são destinados recursos e mantidos, de
forma continuada, políticas e programas específicos nesta im-
portante área da saúde.
Importante ressaltar que o advento da Covid-19 colocou
na ordem do dia a preocupação com a qualificação da ges-
tão da força de trabalho da saúde, uma vez que os elevados
índices de transmissibilidade, a gravidade da doença, o apa-
recimento de variantes, as sequelas pós-Covid 19, as consequ-
ências de tratamentos prolongados, nos casos mais graves, o
iminente risco de perda de vidas e mesmo de contaminação
dos profissionais, colocaram gestores de todos os níveis diante

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


da necessidade de agir e, ao mesmo tempo, capacitarem-se e
promoverem capacitações específicas para os diversos profis-
sionais de suas equipes. Concomitantemente, os gestores da
saúde foram levados a redimensionar equipes para manterem
atendimentos aos usuários com doenças crônicas e para as
demais ocorrências em caso de urgência e emergência.
A pandemia evidenciou fragilidades e limites do sistema pú-
blico de saúde, mas, igualmente seu potencial, dada sua capila-
ridade, força de trabalho mobilizada em todo o território nacio-
nal, mesmo existindo limitações resultantes de determinantes
estruturais ainda não superados (SOUZA et al., 2019). De fato,
o SUS “[...] calcado na universalidade e descentralização, den-
tre outros princípios, tem sido entendido como um diferencial
relevante no enfrentamento da Covid-19” (GLERIANO et al.,
2020, p. 2).
A pandemia pôs em destaque a necessidade premente de
58
se fortalecer o SUS e a Gestão do Trabalho e da Educação na
Saúde, aspecto que ratifica a relevância do Curso de Especia-
lização em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, em
particular, para os municípios que puderam se beneficiar das
primeiras rodadas do Curso. Neste sentido, o curso de forma-
ção e qualificação dos trabalhadores que atuam nos serviços
de saúde, possibilitado por uma parceria entre o Ministério
da Saúde (MS), consistiu em importante estratégia de apoio à
estruturação de uma rede, no Brasil, de Gestão do Trabalho e
da Educação na Saúde. O curso foi promovido e organizado
pelo Observatório de Recursos Humanos em Saúde, integran-
te do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC), e contou
com apoio técnico e informacional da Secretaria de Educação
a Distância (SEDIS), estruturas da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN), que atuaram na concepção e
montagem do curso na plataforma AVASUS. Tomou por base

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


a realidade de cada território, buscando atender as demandas
de formação da força de trabalho para a gestão do SUS, de
municípios e instituições estaduais, considerando as dimen-
sões política, técnica e administrativa (CASTRO; VILAR; LI-
BERALINO, 2018). Pautado em uma inovadora tecnologia da
informação e da comunicação e em metodologias ativas, com
suporte cotidiano de tutores capacitados e supervisionados
por componentes da coordenação, nas regiões Sul e Sudeste, o
Curso de Especialização, iniciado em agosto de 2018, findou
em julho de 2019.
O Curso de Especialização, desenvolvido em estreita re-
lação com as Secretarias Estaduais de Saúde, mobilizou, es-
pecialmente, profissionais oriundos de municípios, onde as
necessidades formativas no campo da gestão e regulação do
trabalho são ainda prementes. Ora, se os estados enfrentam
significativas adversidades no campo da gestão do trabalho
59
no setor saúde, nos municípios, sobremodo, aqueles menores,
localizados em regiões mais pobres e distantes das capitais e
de cidades maiores, podem ser encontradas dificuldades basi-
lares, como desconhecimento total de ferramentas de dimen-
sionamento da força de trabalho, produção e análise de da-
dos para nortear as decisões, além da escassez e rotatividade
de profissionais de nível superior, especialmente de médicos
comprometidos com a Atenção Primária à Saúde.
O curso integra o leque de ações historicamente realiza-
das pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na
Saúde (SGTES/MS), a exemplo dos cursos de Capacitação e
Formação em Saúde da Família (Polos de Capacitação em
Saúde da Família, Cursos de Especialização em Saúde da Fa-
mília e Residência em Saúde da Família), Especialização em
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde; Polos de Educação
Permanente em Saúde; PET-Saúde (Programa de Educação

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


pelo Trabalho para a Saúde); Programa Nacional de Incenti-
vo às Mudanças Curriculares para as Escolas Médicas (PRO-
MED); (Pro-Saúde),7 com vistas formar e qualificar a força de
trabalho para o SUS. A despeito dos obstáculos encontrados
por coordenadores, tutores e profissionais em formação, os
resultados foram reconhecidos como de grande importância
para o aprimoramento do SUS e, especialmente, para avigorar
a capacidade de gestão da força de trabalho da saúde nos mu-
nicípios onde atuavam os formandos.
As características geopolíticas, sociais e econômicas do
Brasil – país de dimensões continentais, grande heterogenei-
dade inter-regional e interestadual, além do elevado nível de
desigualdade social, expresso no território nacional – impõem
a necessidade de uma breve caracterização dos estados, ao se
tratar do processo de estruturação do SUS, de suas redes de
assistência, modalidades de gestão e formação da força de tra-
60
balho para a saúde. Isto porque, as dimensões estaduais e mu-
nicipais são fundantes na estruturação dos serviços de saúde
e no processo de descentralização posto pela lei 8080/90, pelas
normas e orientações delas decorrentes. De fato, no âmbito do
SUS, a descentralização consubstancia uma via para assegu-
rar e materializar os princípios da integralidade do cuidado,
da equidade e da universalidade de acesso à saúde, caros ao
Movimento da Reforma Sanitária ocorrido no país, a partir
do final dos anos 1980 e que contribuiu com o delineamen-
to do SUS. Dada a heterogeneidade presente nos estados, as
desigualdades sociais expressas no território brasileiro, a cen-

7 É importante mencionar ainda os cursos profissionalizantes para Trabalhado-


res da Área de Enfermagem (Profae); Qualificação de Equipes Gestoras de Sis-
temas e Serviços de Saúde (Aperfeiçoamento de Gestores); Desenvolvimento
Gerencial de Unidades Básicas de Saúde (GERUS); PROVAB; Programa Mais
Médicos para o Brasil, dentre outros.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


tralização de recursos e serviços nas capitais e cidades de mé-
dio porte, o processo de descentralização não foi suficiente
para enfrentar as iniquidades de acesso aos serviços de saúde,
produzindo certa fragmentação, vazios assistenciais e grande
disparidade na qualidade dos serviços e níveis de cobertura
(GLERIANO et al., 2020). Assim, foi importante considerar
a realidade de cada estado na organização da formação e no
acompanhamento aos estudantes em formação.
O curso integra a estratégia de implantação da política de
gestão do trabalho e educação na saúde nos estados e muni-
cípios, tendo por objetivo “[...] estruturar uma rede de ges-
tores que se dedicam ao tema e avançar na democratização
das relações de trabalho e melhoria das condições de atuação
profissional e atendimento no SUS” (CASTRO; VILAR; LIBE-
RALINO, 2018, p.9). Esta estratégia tem ainda em perspectiva
atuar perante as transformações que ocorrem no mundo do
61
trabalho, a partir dos processos de restruturação produtiva,
com suas novas modalidades de gestão da força de trabalho,
que se espraiam pelos mais diversos setores da economia,
adentrando o universo da gestão pública e, em particular, no
campo da saúde. O objetivo é formar para uma atuação dinâ-
mica e de qualidade, capaz de promover a apropriação de no-
vas tecnologias e assegurar padrões de eficácia e de segurança
tanto para usuários do SUS, quanto para seus trabalhadores,
nos mais diversos níveis e setores de atuação.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


UMA EXPERIÊNCIA EXITOSA DE FORMAÇÃO PARA A GESTÃO
DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE EM MINAS GERAIS

Tendo presente que o processo de regionalização, em suas di-


mensões política e técnica, apresenta-se como uma estratégia
para aperfeiçoar a estruturação dos serviços de saúde nos di-
versos estados brasileiros e assegurar maior qualidade para a
assistência prestada à população, o Curso de Especialização
foi estruturado por regiões com calendários próprios, seguin-
do a mesma metodologia de ensino e utilizando as mesmas
ferramentas pedagógicas.
Desse modo, antes de adentrar na discussão sobre o Curso
de Especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na
Saúde, no estado de Minas Gerais, região Sudeste do Brasil,
cabe discorrer sobre algumas de suas características territo-
riais, sociais e econômicas que impactam diretamente nas ne-
62 cessidades em termos de formação para a Gestão do Trabalho
e da Educação na Saúde para responder de modo eficaz às
necessidades e demandas postas nos distintos municípios e
regiões de saúde desta unidade da Federação.
Inicialmente, é importante salientar a dimensão territorial
do estado de Minas Gerais, sua população e quantidade de
municípios, com destaque para o número de municípios de
pequeno e médio porte. Minas Gerais tem uma população es-
timada de 21.411.923 habitantes, distribuída em uma área ter-
ritorial de 586.513,993 km2, dividida em 853 municípios. O
estado apresenta importantes diferenças regionais, compreen-
dendo municípios com baixo índice de desenvolvimento hu-
mano e municípios com indicadores socioeconômicos mais
favoráveis, o que se reflete na distribuição dos serviços de saú-
de entre os municípios (MINAS GERAIS, 2020). Para efeito
de planejamento, observando o processo de descentralização

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


dos sistemas e serviços de saúde, sua distribuição no território
e visando organizar e promover uma gestão mais eficaz e efi-
ciente. O Plano Diretor de Regionalização, aprovado em 2019,
agrupou os municípios em quatorze Macrorregiões, com de-
zoito Polos Macros, três Polos Macros Complementares, dois
Polos Macros Complementares de Apoio e 89 Microrregiões,
com 107 Polos Micros. Considerando a extensão territorial do
estado e o quantitativo de municípios, para efeito administra-
tivo e de gestão, foram constituídas as Unidades Regionais de
Saúde (URS), que constituem sedes físicas da Secretaria Esta-
dual de Saúde (SES-MG), descentralizadas dentro do estado
de Minas Gerais, sendo representadas pelas Superintendên-
cias Regionais de Saúde (SRS) e pelas Gerências Regionais de
Saúde (GRS).
O estado de Minas Gerais tem incentivado a constituição
de Consórcios Interfederativos de Saúde (CIS), para melhor
63
planejamento local e regional em saúde, deliberação conjunta
sobre o fomento e a utilização dos serviços de saúde necessá-
rios a cada território e microrregião, promovendo economia
de escala e melhor qualidade dos serviços. Dados de 2020 in-
dicam a existência de 74 CIS, sendo 61 generalistas e treze
temáticos (gestão do SAMU) distribuídos no território do
estado. Esse breve panorama permite antever a necessidade
de formação para a gestão dos serviços e sistemas de saúde,
compreendendo forte componente de Gestão do Trabalho e
da Educação na Saúde.
Na perspectiva de responder à demanda por formação em
Gestão do Trabalho em Minas Gerais, 169 estudantes, oriun-
dos de 76 municípios, foram inscritos e distribuídos em cinco
turmas. Deste total, 137 concluíram o curso, perfazendo 81%,
o que pode ser considerado um percentual elevado para cur-
sos na modalidade EaD. Todas as turmas relataram casos de

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


formandos que concluíram três ou quatro módulos, mas, por
motivos diversos (pessoais ou profissionais), não consegui-
ram, elaborar e defender o TCC, o que indica, ter havido con-
tato com o conteúdo disponibilizado e com as ferramentas de
ensino e aprendizagem.
A avaliação dos resultados obtidos deixa clara a contribui-
ção do Curso na introdução de inovações na Gestão do Traba-
lho e da Educação na Saúde, com a perspectiva de que sejam
produzidas melhorias nas secretarias municipais de saúde, em
setores e serviços da secretaria estadual de saúde, a depender
das possibilidades concretas e do compromisso dos técnicos
e gestores formados com a execução dos projetos elaborados.
O Curso de Especialização realizado em Minas Gerais pode
ser entendido como uma experiência formativa piloto, dada a
quantidade de municípios ainda não contemplados e mesmo
a necessidade de reforço em alguns dos municípios já aten-
64
didos. Advoga-se ainda o caráter piloto das experiências rea-
lizadas dado o investimento na elaboração e estruturação do
Curso em formato EaD, construção da plataforma, produção
do material didático, formação do corpo de docentes, consti-
tuição da equipe de coordenação, etc. Todo esse investimento
pode ser potencializado, ampliando-se o acesso de um maior
número de profissionais ao Curso de Especialização.

GESTÃO DO TRABALHO EM SAÚDE: DESCORTINANDO


O UNIVERSO DAS FERRAMENTAS DE APOIO À
GESTÃO DE TRABALHO NO SUS

Valorizar o trabalhador e instaurar um processo de planos


de cargos e carreiras nas instituições, orientar e disciplinar o
caminhar do trabalhador em sua vida laboral, com remune-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


ração e condições de trabalho adequadas às suas funções e
possibilidades de qualificação – temáticas do campo da ges-
tão do trabalho em saúde – revelam-se como oportunidades
animadoras para todos os profissionais desse campo. Mas, em
tempos de precarização estrutural do trabalho, de terceiriza-
ção generalizada, estas parecem questões anacrônicas.
Revendo o campo da gestão do trabalho em saúde, consta-
ta-se que, mormente, após a criação da Secretaria de Gestão
do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), em 2003, hou-
ve maior desenvolvimento do setor, com capacitações, editais
e programas de fomento à mudanças tanto no âmbito da for-
mação e da capacitação continuada quanto na implementação
de mecanismos e ferramentas de gestão dos serviços e da for-
ça de trabalho, possibilitando, dentre outros, a implantação de
plano de cargos e carreiras, a instalação da mesa nacional de
negociação, em 2003, e a adoção de instrumentos de dimen-
65
sionamento da força de trabalho.
Em 2006, o Ministério da Saúde lança a Portaria Ministe-
rial nº 2.261/2006, que instituiu as bases legais para o Progra-
ma de Estruturação e Qualificação da Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde (PROGESUS), com o objetivo de “[...] es-
truturar, qualificar e suprir as secretarias de saúde com ferra-
mentas de gestão para a organização e a profissionalização da
gestão do trabalho no SUS” (MAGNAGO et al., 2017, p.115).
Trata-se de um programa de cooperação técnicas e financeira
envolvendo governo federal, estados e municípios, com o fito
de fortalecer as estruturas estaduais e municipais de recursos
humanos do SUS (MAGNAGO et al., 2017).
Em 2011, o Projeto InovaSUS foi criado, premiando os pri-
meiros doze projetos de valorização do trabalho e de inova-
ções na gestão do trabalho, visando incentivar mudanças que
pudessem se traduzir na melhoria da qualidade dos serviços

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


de saúde. O prêmio, reeditado a cada ano, visa dar a conhecer
e propiciar maior visibilidade para as experiências locais, for-
talecendo o campo da gestão do trabalho.
A despeito de suas funções na gestão de secretarias e ser-
viços de saúde, muitos alunos desconheciam ferramentas de
gestão do trabalho apresentadas e discutidas no Curso de Es-
pecialização. E, ao conhecerem tais ferramentas, passaram a
direcionar um olhar crítico para a realidade de seus muni-
cípios e serviços. Assim, foram identificados problemas rela-
cionados à definição, regulamentação e desenvolvimento de
processos de avaliação de desempenho, capazes de guiar de
fato as decisões dos gestores; à implementação de ferramentas
para mapear e dimensionar a força de trabalho; à mobilização
de trabalhadores e gestores para a criação de plano de car-
reira, cargos e salários no nível municipal; à discussão e im-
plantação da política de saúde do trabalhador tanto no nível
66
do município, de modo geral, como de modo específico, por
meio de programas de saúde do trabalhador da saúde, reali-
zando estudos sobre fatores condicionantes de adoecimento e
absenteísmo dos trabalhadores.
No Curso de Especialização em Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde, os temas tratados cobrem um vasto leque
de dimensões da gestão do trabalho e os projetos se destinam
a implantar mecanismos de gestão das estruturas hierárquicas
e organizacionais onde se encontravam inseridos os profis-
sionais em formação. Destacam-se as seguintes temáticas tra-
tadas: Dimensionamento da força de trabalho; Mapeamento
da força de trabalho; Saúde do trabalhador do SUS; Plano de
Carreira, Cargos e Salários; Política de Saúde do Trabalhador;
Avaliação de Desempenho; Estudos avaliativos sobre causas
do absenteísmo; Gestão de conflitos e de situações de violên-
cia no trabalho; Mesa de negociação; e Implantação de siste-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


mas de Informação para a Gestão do Trabalho no SUS.
Dentre os temas abordados pela SGTES apenas Despreca-
rização da Força de Trabalho do SUS; Políticas de Provimen-
to e/ou Fixação de Trabalhadores e Articulação da Gestão
do Trabalho com a Gestão da Educação na Saúde não foram
contemplados pelos TCCs. A desprecarização do trabalho não
aparece formulada enquanto tal, mas pôde ser abordada nos
trabalhos que trataram da implantação de Planos de Carreira,
Cargos e Salários, ainda que a dimensão da proteção e segu-
rança do trabalhador, das condições materiais e de infraestru-
tura para o exercício laboral constituam dimensões da preca-
rização não evidenciadas pelos participantes do curso.
Não se pode negar que o Ministério da Saúde, por meio
da SGTES, vem empreendendo esforços com o objetivo de
melhorar todos os aspectos da gestão do trabalho. E são evi-
dentes as melhorias quando se avalia uma evolução no tem-
67
po (MAGNAGO et al., 2017). Todavia, considerando que o
Curso de Especialização envolveu apenas um percentual de
municípios de cada estado, a quantidade de trabalhadores
formados permanece aquém das reais necessidades presentes
nos territórios estaduais.8

GESTÃO DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE: DIMENSÃO ESSENCIAL NA


VALORIZAÇÃO DO TRABALHADOR DO SUS

Na esteira de Machado e Ximenes Neto (2018, p. 1972), olhar


para a educação na saúde e, mais especificamente, para a ges-
tão da educação na saúde requer entender a saúde como o

8 Em Minas Gerais, estado denso e de uma complexa teia de municípios (853), o


total de 137 formandos que concluíram o Curso parece ainda pequeno, repre-
sentando 8,9% do total de municípios.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


“[...] complexo mercado de trabalho da saúde”, considerando
o modo de inserção do trabalhador e da trabalhadora9 nessa
teia também complexa que é o sistema de saúde, no qual se
entrelaçam empregos formais e informais, uma diversidade
de postos de trabalho no setor público e privado, a tendên-
cia de multiempregos, condições de trabalho e adoecimento
dos trabalhadores da saúde e ainda um olhar especial para os
processos formativos e de educação permanente e para suas
repercussões sobre dinâmicas de trabalho individuais e cole-
tivas (MACHADO; XIMENES NETO, 2018).
A formação e educação permanente dos profissionais para
o SUS, requer ainda o investimento na infraestrutura dos ser-
viços e em condições salariais atrativas ao profissional para
que este possa se fixar nos municípios mais distantes das
grandes cidades e capitais, em áreas de maior vulnerabilidade
e risco. Para o Ministério da Saúde, o “[...] investimento em
68
adequação da rede física, de tecnologia, de medicamentos e
de insumos é em vão, se os profissionais de saúde não apos-
tarem no SUS” (BRASIL, 2009, p. 9). Esta aposta depende, so-
bremodo, da sua formação, inserção, permanência e educação
continuada para atuação nas Redes de Atenção à Saúde do
SUS. Envolve as atividades educativas e a gestão do próprio
processo de formação dos trabalhadores e de iniciantes, por
exemplo, formação da força de trabalho já em serviço, força
de trabalho para novas ocupações; preparação dos trabalha-

9 Machado e Ximenes Neto (2018, p. 1972) distinguem “[...] profissionais da


saúde sendo os que, estando ou não ocupados no setor, têm formação ou qua-
lificação profissional específica para o desempenho de atividades ligadas ao
cuidado ou às ações de saúde; trabalhadores da saúde são os que se inserem
direta ou indiretamente na atenção à saúde no setor saúde, podendo ter ou não
formação específica para as funções atinentes; trabalhadores do SUS são os
que se enquadram tanto como profissionais ou trabalhadores da saúde, inseri-
dos na atenção à saúde nas instituições no âmbito do SUS”.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


dores para uso de novas ferramentas, especialmente, relacio-
nadas às tecnologias da informação e da comunicação, para
novos protocolos de assistência, para a gestão participativa,
para o acolhimento humanizado, para a construção de corres-
ponsabilidade do usuário e de sua família no tratamento e nos
cuidados em saúde.
As problemáticas circunscritas no âmbito da Gestão da
Educação na Saúde compreendem tanto a formação da força
de trabalho para ingresso no SUS e para os serviços suple-
mentares de saúde (setor privado) quanto a capacitação con-
tinuada e a educação permanente em saúde direcionadas para
qualificação da força de trabalho em exercício profissional,
que necessita se atualizar com relação às demandas especí-
ficas postas pela sociedade e pelo desenvolvimento de tecno-
logias, pelo surgimento de novas doenças e reaparecimento
de antigas; para a adoção de novos protocolos de tratamento,
69
além da formação para a gestão do SUS e, particularmente,
para a Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.
Esses dois universos implicam um diálogo permanente
entre gestores e trabalhadores do campo das políticas educa-
cionais, sob o comando do Ministério da Educação e gestores
e trabalhadores do SUS, a cargo do Ministério da Saúde, das
secretarias estaduais e municipais de saúde e das instâncias de
participação coletiva e de controle social no SUS. Além de di-
álogo permanente, demandam destinação de recursos finan-
ceiros direcionados ao incentivo e realização de tais processos
formativos.
Os TCCs do Curso de Especialização trataram temáticas
como: a gestão do cuidado; preparação e implantação do
prontuário eletrônico do cidadão, classificação de risco; e hu-
manização do cuidado e do acolhimento.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO:
UMA PERSPECTIVA DE MELHORIA NA QUALIDADE
DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DO SUS

As temáticas abordadas foram agrupadas por turma em uma


tabela única (Tabela 1). Observa-se uma maior frequência de
projetos relacionados aos temas de Gestão do Trabalho e dos
temas referentes a Educação Permanente em Saúde, seguidos
por projetos relacionados aos temas Humanização na Saú-
de (Tabela 1). Educação na Saúde/Educação Permanente foi
a temática com maior número de TCCs elaborados, ou seja,
59 trabalhos no estado de Minas Gerais, perfazendo 43% do
total. Compreendeu discussões diversas, desde formação para
o acolhimento humanizados em setores ou em serviços, de
modo geral, a formações mais específicas direcionadas para
aprendizado e desenvolvimento de habilidades relativas ao
70 uso da Tecnologias da Informação e da Comunicação, quan-
to formações direcionadas aos usuários e seus representantes
para reforçar a participação nas instâncias colegiadas do SUS.
Não foram abordadas diversas questões ainda presentes
nos territórios como capacitações para o enfrentamento de
graves problemáticas como mortalidade materno-infantil,
a gestão e o fortalecimento das Redes de Atenção à Saúde,
vinculadas aos territórios regionais e estadual, condução de
processos de avaliação, análise de dados epidemiológicos dos
territórios para orientar decisões das diversas escalas territo-
riais, dentre outras.
Em Minas Gerais, a Gestão do Trabalho figura em segundo
lugar, o que revela uma preocupação com os trabalhadores,
suas condições laborais, os tipos mais comuns de adoecimen-
to, além de uma preocupação com incentivo à implantação
de sistema de avaliação sistemática, de dimensionamento da

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


força de trabalho, de gestão de conflitos e de situações de vio-
lência e assédio. Cabe mencionar que nos TCCs ainda havia
certa confusão entre recursos humanos em saúde e gestão do
trabalho. Muitas vezes estes conceitos são usados como equi-
valentes e passíveis de serem intercambiados, ou seja, o uso
corrente parece revelar que não foram apreendidas ou per-
cebidas as mudanças concretas que condicionaram mudan-
ças conceituais (na Tabela 1 ainda aparecem dois grupos de
trabalho um – com apenas um TCC – designado a gestão de
recursos humanos e outro, denominado gestão do trabalho em
saúde, com 30 TCCs, representando 22% do total de trabalhos
finalizados.
Certamente, com as mudanças no contexto decorrentes
da pandemia da Covid-19, novas demandas sugiram após a
conclusão do curso e ainda irão se impor na agenda de priori-
dades, a exemplo da questão da biossegurança, dos protocolos
71
de cuidados nos diversos tipos e estágios da doença e no pós-
-Covid-19. De todo modo, o acesso aos conteúdos discutidos
no Curso sensibilizou o olhar para a força de trabalho e a suas
necessidades como aspecto importante para a concretização
dos objetivos do SUS.

Tabela 1 – Estado de Minas Gerais. Temas dos TCCs


das Turmas de Especialização em Gestão
do Trabalho e da Educação na Saúde
ESTADO
TURMAS 01 02 03 04 05
MG
TEMAS (N) % (N) % (N) % (N) % (N) % (N) %
Educação
Permanente 16 55% 08 29% 11 42% 07 28% 17 56% 59 43%
em Saúde
Gestão do
03 10% 12 44% 04 15% 08 32% 03 10% 30 22%
Trabalho

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Avaliação de
00 00% 01 4% 00 0% 02 8% 03 10% 06 4%
Desempenho
Saúde do
06 21% 04 15% 06 23% 03 12% 02 7% 21 15%
Trabalhador
Plano de
Carreira,
01 4% 00 0% 00 0% 02 8% 02 7% 05 4%
Cargos
Salários
Negociação
Coletiva do 00 0% 00 0% 00 0% 00 0% 02 7% 02 2%
Trabalho
Humanização
00 0% 00 0% 04 15% 01 4% 01 3% 06 4%
na Saúde
Dimensiona-
03 10% 00 0% 01 4% 02 8% 00 0% 06 4%
mento
Gestão de
Recursos 00 0% 01 4% 00 0% 00 0% 00 0% 01 1%
Humanos
Informações
00 0% 01 4% 00 0% 00 0% 00 0% 01 1%
na GTES
TOTAL 29 100% 27 100% 26 100% 25 100% 30 100% 137 100%
Fonte: Elaboração própria a partir dos Relatórios Finais por turma do estado de Minas
Gerais (Turmas 01, 02, 03, 04, 05) produzidos por seus respectivos tutores

Como os estudantes foram instados a analisar seus respec-


tivos territórios de atuação, entendemos que a Tabela 1 traça
um panorama das necessidades mais imediatas e de proble-
mas aos quais os alunos estavam mais sensíveis durante a re-
alização do curso de especialização. O processo de produção
dos TCCs apresentou certo nível de dificuldade, para alguns,
relativo à produção de textos acadêmicos baseados em pes-
quisas em bases de dados e em documentos para respaldar
a construção das problemáticas e em leituras da própria bi-
bliografia disponível na plataforma. Inicialmente, nem todos
os estudantes entendiam que se tratava de elaborar um Pro-
jeto de Intervenção, não de investigação, e que a intervenção
propriamente dita deveria ser de responsabilidade do próprio
estudante, juntamente com seus colegas de trabalho.
Ao começarem a Unidade IV, destinada à elaboração dos
TCCs, os estudantes foram orientados para constituírem gru-
pos de apoio nos seus ambientes de trabalho para discutirem
os problemas e nós críticos, para elegerem um dos nós/proble-
mas para constituir objeto do Projeto e pensarem juntos uma
metodologia apropriada. O curso utilizou como metodologia
orientações via fóruns, com conversas individuais e produção
de guias com orientações. O aprendizado propiciado por esta
Unidade IV (elaboração do TCC) pode ser considerado vá-
lido para qualquer função ou local onde o profissional vier a
trabalhar.

73
A CONSTRUÇÃO DA REDE DE GESTÃO DO TRABALHO EM
MINAS GERAIS: OS DESAFIOS E SEUS DETERMINANTES

Dentre os desafios estaduais, destacam-se a dimensão do ter-


ritório e o número elevado de municípios. Oriundos de 76
municípios e de serviços estaduais, 69 profissionais de saúde
puderam se inscrever. Assim, uma demanda reprimida per-
siste além da necessidade de ampliar o quantitativo de for-
mandos por município para abranger outras áreas da gestão, a
exemplo de hospitais municipais e regionais, gerências regio-
nais, unidades de saúde, serviços de vigilância epidemiológi-
ca, entre outros.
Com relação às dificuldades dos próprios estudantes, estas
são bem comuns nas especializações e cursos de maior dura-
ção – algumas independem de a modalidade ser presencial
ou a distância. Por exemplo, a disponibilidade de tempo para

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


leituras e realização de tarefas, habilidades para realização de
pesquisas, domínio de formatos acadêmicos de trabalho e há-
bito de estudo são aspectos também comuns nos cursos pre-
senciais, tanto no nível de graduação quanto de pós-gradua-
ção, especialmente, nos cursos de especialização com alunado
composto por profissionais já em serviço.
No caso do campo da saúde, enfrenta-se ainda o problema
de estudantes que são profissionais com mais de um vínculo
empregatício, o que resulta em plantões adicionais às jornadas
semanais ou deslocamentos entre mais de um município de
uma região. Nestes casos, os tutores criaram guias de orien-
tação para facilitar a produção de textos, respeitando os as-
pectos éticos e acadêmicos da produção científica. O longo
tempo passado entre a finalização do curso de graduação e a
realização da especialização foi relatado por estudantes como
uma dificuldade enfrentada, explicando a falta de hábito de
74
estudo e de produção de textos acadêmicos.
Ainda relacionados às dinâmicas de trabalho, casos de ro-
tatividade de profissionais, saindo de um serviço para outro,
ou mesmo de um município para outro, também ocorreram
e exigiram um esforço maior de adaptação para evitar eva-
são. A precariedade nas relações e condições de trabalho10
correspondeu ainda a uma questão importante, a interferir na
adesão ao curso. Muitas vezes as condições e a forma como
são desenvolvidas as atividades laborais são geradoras de in-
segurança, instabilidade e adoecimento (VIEIRA et al., 2017).
Alguns estudantes foram desligados dos serviços do SUS/MG

10 Aqui estão incluídas a condição ocupacional, agravada pela flexibilização per-


mitida pela Reforma Trabalhista, resultando em trabalho sem o devido ampa-
ro em normas legais, sem garantia de segurança e de ambientes de saudáveis.
O trabalho por metas em condições desfavoráveis tem gerado muitas reclama-
ções.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


durante o percurso do curso, fato que os levou a desistir do
curso.
A falta de compreensão de chefias sobre a importância da
especialização e a necessidade de liberar horas de trabalho para
o bom desempenho do formando no curso ocorreu de forma
incipiente, uma vez que a maior parte ocupava cargos na ges-
tão municipal ou na gestão de serviços em âmbito estadual.
Outras dificuldades decorrem do formato em EaD, que
impõe a necessidade de acesso à internet, disponibilidade de
computadores, manuseio da plataforma de modo sistemático
e continuado por cerca de um ano. Mas, merece ênfase o fato
desta modalidade ter favorecido o ingresso de estudantes, que
puderam planejar seus momentos de estudo, considerando os
processos de trabalho em que estão inseridos no cotidiano,
reafirmando os princípios da Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde (PNEPS), construída no âmbito do
75
SUS.
Para minimizar dificuldades relacionadas à modalidade
EaD, os tutores, apoiados pela coordenação, se dispuseram a
realizar atendimentos individualizados em horários agenda-
dos e orientar por telefone e por tutoriais o trabalho na pla-
taforma. Para não atrasar as leituras e feitura de exercícios, os
estudantes foram orientados a imprimir uma versão do livro-
-texto para trabalharem em momentos de indisponibilidade
de conexão ou de equipamentos de informática.
Os tutores foram criativos na forma de fortalecer os vín-
culos com os seus alunos. Uma tutora adotou um encontro
chamado Café com Ideias (BARBOSA, 2019), ao final de cada
unidade do curso para propiciar momentos de troca, de con-
versa mais informais entre estudantes e destes com a tutora.
As trocas por meio dos grupos de WhatsApp e ainda a re-
alização de trabalhos de modo coletivo quando havia mais

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


de um estudante inserido no mesmo serviço ou atuando em
um mesmo município. Essas estratégias foram motivadoras e
contribuíram para o elevado nível de sucesso obtido em Mi-
nas Gerais se comparado aos demais estados das regiões Sul
e Sudeste: dos 167 inscritos, 137 concluíram o curso, ou seja,
81% dos inscritos concluíram e defenderam seus TCCs e qua-
tro realizaram o curso, mas como não atenderam as etapas de
elaboração e apresentação do TCC, obtiveram o certificado de
aperfeiçoamento.
Uma das principais dificuldades enfrentadas pelos tutores
foi o ritmo diferenciado dos estudantes, decorrente da hete-
rogeneidade das turmas. Um subgrupo de alunos conseguia
manter-se em dia com o calendário pactuado com a coorde-
nação do curso, depois deste seguiam-se dois ou três outros
subgrupos que realizavam e postavam seus trabalhos em da-
tas repactuadas. Desse modo, as turmas tinham estudantes fi-
76
nalizando a Unidade I enquanto o grupo mais avançado já es-
tava findando a Unidade IV e iniciando a elaboração do TCC.
Isto representava um esforço a mais dos tutores para acom-
panharem três ou quatro esquemas de orientação concomi-
tantemente e diversos fóruns de discussão, com trabalhos a
responder. Os alunos mais adiantados, em geral, não retor-
navam aos fóruns para ler e refletir sobre temas que estavam
sendo debatidos por aqueles que vinham na sequência. Isto
fez com que muitos estudantes não deixassem o curso, pois
foram paulatinamente incentivados a retomar e pôr em dia
suas tarefas. Foi uma estratégia que se mostrou adequada por-
que respeitou o ritmo de aprendizagem dos estudantes. Toda-
via, resultou em menor riqueza das discussões, especialmente
para o grupo da linha de frente. De modo geral, este ritmo
diferenciado não trouxe grande prejuízo, porque no momento
de realização dos TCCs, em função das temáticas escolhidas

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


e das necessidades dos estudantes, eles puderam rever fóruns
anteriores e reler materiais e atividades já realizadas. A discus-
são via grupo de WhatsApp também contribuía para o reforço
ao trabalho coletivo e de ajuda mútua.
O encontro extra no estado de Minas Gerais também cons-
tituiu um momento importante para reconectar a turma e
incentivar a todos a concluírem o curso. Isto porque houve
um grande acidente no município de Brumadinho, na Região
Metropolitana de Belo Horizonte,11 no período do curso, atin-
gindo familiares e amigos de formandos incidindo sobre o es-
tado de ânimo da população do estado, de modo geral e dos
estudantes do curso, em particular.

POTENCIALIDADES DO CURSO: PARA ALÉM DA MODALIDADE


DE ENSINO, A QUALIDADE DO ACOMPANHAMENTO SE IMPÕE
COMO FATOR PREPONDERANTE 77

Na avaliação dos alunos, a modalidade de curso em EaD cons-


tituiu a um só tempo uma potencialidade e um desafio. De
fato, o formato do curso em EaD destacou-se como elemento
decisivo para que profissionais da gestão em saúde, de mu-

11 Em 25 de janeiro de 2019, às 12h35, rompeu a barragem da Mina Córrego do


Feijão, no município de Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte,
que armazenava 12 milhões de metros cúbicos de lama de rejeitos da minera-
ção de ferro. Após uma semana, foram contabilizadas 110 vítimas fatais, das
quais 71 identificadas; 192 pessoas resgatadas; 395 localizadas, 108 desalojadas
e 238 desaparecidas. Naquele momento, a probabilidade de se encontrarem so-
breviventes era mínima. Mas, a dimensão do impacto desse enorme desastre é
ainda maior: 12 milhões de metros cúbicos de lama com grande potencial de
contaminação foram espalhados na região provocando aumento da carga de
sedimentos. O espalhamento de lama atingiu os rios Paraopeba e São Francisco,
comprometendo a fauna e a flora. Os danos ao ecossistema são considerados
irreversíveis. A contaminação comprometeu sobrevivência das comunidades
tradicionais das vazantes (OLIVEIRA; ROHLFS; GARCIA, 2019).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


nicípios distantes e de municípios mais próximos da capital
pudessem se atualizar, sem terem custos e tempos de desloca-
mento, adotando, com a ajuda de seus respectivos tutores, rit-
mos adequados para as suas dinâmicas de trabalho. Oliveira,
Oesterreich e Almeida (2018, p. 3) ressaltam a importância do
ensino a distância no contexto brasileiro:
No caso do Brasil, que possui um território de di-
mensões continentais e baixos indicadores sociais,
é natural que a EaD se sobressaia como modalidade
educativa diferenciada e alternativa para a capacitação
e disseminação massiva de conhecimentos, com uso
intensivo das tecnologias de informação e comunica-
ção para promoção de interações com vistas à apren-
dizagem.

Mas, a modalidade EaD apresenta níveis de complicação


78
para alguns dos estudantes que não dominam a tecnologia,
não estão habituados a usá-la no cotidiano e ainda não dis-
põem de equipamentos e fornecimento de internet compa-
tíveis com essa modalidade de ensino e aprendizagem. Com
relação a esse aspecto, há que se destacar a atuação cotidiana
dos tutores, suas estratégias de motivação, utilizando aplicati-
vos como o WhatsApp para resgatar e até, no início, orientar
estudantes quanto ao manuseio da plataforma. Mas, os auto-
res reconhecem que a evasão, considerando tanto o abandono
no início ou quanto a não conclusão do curso, figura como
um dos principais problemas, representando perdas ou mau
uso de recursos públicos investidos nesses tipos de formação
(OLIVEIRA; OESTERREICH; ALMEIDA, 2018).
E, em geral, a evasão consiste em um fenômeno multifa-
torial, decorrendo de aspectos intrínsecos ao aluno e exter-
nos a esses. A Associação Brasileira de Educação a Distância

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


(ABED, 2018) destaca cinco elementos associados a qualida-
de na EaD, mas avalia que estes independem da modalidade,
por se associarem com a educação de modo geral: conteúdos
corretos e atualizados; professores qualificados, tutores quali-
ficados, atendimento ágil às necessidades dos alunos; metodo-
logias adequadas e gestão eficaz. O caráter mais geral desses
elementos os faz válidos para a qualidade das mais diversas
modalidades de ensino.
No caso do ensino e aprendizagem na modalidade EaD
destinado a profissionais gestores e, especialmente, da área
da saúde, ganham relevo: a interação cotidiana tutor/aluno;
os aspectos motivacionais, uma vez que os formandos estão
imersos em contextos de demandas complexas e, em geral, ur-
gentes que, facilmente, se interpõem sobre as necessidades de
leitura, elaboração de trabalhos, reflexão e respostas às ques-
tões da plataforma, ainda que estas estejam diretamente rela-
79
cionadas ao seu dia a dia de trabalho ou que os leve a ques-
tionar e identificar fragilidades e potencialidades do serviços
onde atuam.
O material de apoio em formato impresso, utilizado por
parte dos estudantes como suporte ao processo de estudo e
reflexão crítica, a realização de tarefas manualmente para, em
seguida, inserir na plataforma, e o rápido feedback dos tuto-
res sobre exercícios postados figuram também como poten-
cialidades do curso que favoreceram a adesão, continuidade
e conclusão do mesmo por um quantitativo importante de
alunos. Nas turmas de Minas Gerais, 81% dos estudantes ins-
critos defenderam os seus Trabalhos de Conclusão do Curso.
Considerando tratar-se de curso em nível de pós-graduação
(especialização), ofertado por instituição de ensino superior
pública, estima-se que o percentual de sucesso obtido foi ele-
vado, se comparado a outras experiências.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Todo o material didático do curso, os conteúdos relaciona-
dos com a área de gestão do trabalho e da educação na saú-
de estão apresentados no livro-texto, em linguagem bastante
acessível, de forma a possibilitar um bom aprendizado, com
base na metodologia problematizadora (CASTRO; VILAR;
LIBERALINO, 2018). Esse material e a metodologia adotada
permitem pôr em relevo as experiências dos estudantes e, a
partir das fundamentações teóricas, possibilitando a compre-
ensão crítica da realidade na qual atuam, e a construção de
propostas para resolução de importantes problemas existen-
tes no cotidiano do trabalho.
Merece ainda relevo o potencial do trabalho coletivo e da
criatividade com o compartilhamento das atividades do cur-
so nos territórios, especialmente, quando da escolha das te-
máticas dos Trabalhos de Conclusão de Curso, que deviam
contemplar, prioritariamente, demandas dos cenários de atu-
80
ação dos alunos. Finalmente, é importante ressaltar o papel da
coordenação geral e local, além da relação tutor-aluno, cons-
truindo corresponsabilidade sempre positiva para a conclu-
são de todo o percurso do curso (LIMA, 2019).

UMA AGENDA PARA O FUTURO: CAMINHOS E PERSPECTIVAS

Pensar uma agenda para o futuro requer um olhar crítico so-


bre o passado e o presente, identificando necessidades, poten-
cialidades, passíveis de serem levadas em conta na construção
de propostas e implantação de projetos, programas e políticas
ou no redirecionamento de estruturas existentes. Uma breve
avaliação realizada pelos tutores do Curso de Especialização
em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde de Minas Ge-
rais revela a importância reconhecida dos espaços formativos,

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


a descoberta de ferramentas, nem tão novas, mas ignoradas
por gestores do SUS, o potencial de melhoria da qualidade dos
serviços com intervenções relativamente simples, de baixo
custo, proporcionado pela formação. Para dar conta de uma
tarefa de tal monta e promover um maior aproveitamento, os
gestores estaduais das estruturas intermediárias (secretarias
regionais) precisam ser convocados e articulados, especial-
mente para dar o suporte necessário à implementação de pro-
jetos de intervenção.
Afirmam Souza et al. (2019, p. 2784) que “[...] no contex-
to de crise econômica, social e política em que se encontra
o Brasil, não há dúvida de que são enormes os desafios da
luta pelo direito à saúde no país”. O contexto da pandemia da
Covid-19 veio reforçar a importância do SUS e, ao mesmo
tempo, a necessidade de se olhar detidamente para suas di-
versas dimensões e, em particular, para um de seus maiores
81
capitais – a força de trabalho atuante nos mais diversos ní-
veis da atenção à saúde, nos diferentes serviços, sejam eles da
atenção primária, sejam eles da atenção especializada, sejam
eles da gestão do sistema. O campo da Gestão do Trabalho e
da Educação na Saúde ganha destaque, ainda que não sejam
aventadas possibilidades de elaboração de uma política ou de
novos programas neste campo.
A realização do Curso de Especialização pouco tempo
antes da pandemia permitiu ampliar o debate sobre Gestão
do Trabalho e da Educação na Saúde. Ainda que se considere
um percentual limitado de municípios cobertos no estado de
Minas Gerais, a avaliação dos formandos é de que sementes
foram plantadas e que podem germinar e florescer em forma
de ações, projetos ou mesmo políticas que possam valorizar
a força de trabalho do SUS, instalar mecanismos de gestão e
promover sua atualização de modo permanente. Por certo,

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


nem todos os projetos de intervenção propostos nos TCCs
foram implementados e este constitui um dos desafios para
os gestores locais e formandos do Curso. Seria importante em
cada estado serem pensados mecanismos de monitoramen-
to e acompanhamento das intervenções pós-curso para ver o
impacto real da formação oferecida em cenários de práticas.
Os resumos dos TCCs devidamente revistos e ajustados
pelos formandos, com apoio dos tutores foram publicados
compondo um livro com um leque de possibilidades de in-
tervenções no campo da Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde (CASTRO et al., 2020). A implementação das pro-
postas construídas nos TCCs ficou a cargo dos estudantes que
se sentiram meio órfãos, sem acompanhamento dessa parte
final, por não haver no estado uma estrutura capaz de gerir
essa tarefa.
A perspectiva de se criar mecanismos de acompanhamen-
82
to de inovações na Gestão do Trabalho e da Educação na Saú-
de seria um modo de contribuir com o processo de educação
permanente e de reflexão crítica sistemática sobre as práticas
no âmbito de cada estado da federação. De todo modo, os es-
tudantes conheceram instrumentos de gestão e puderam fa-
zer uma avaliação crítica de necessidades de seus municípios,
bem como observar o quanto a introdução destas ferramentas
poderia trazer de benefício para melhoria da qualidade dos
serviços de saúde e o fortalecimento do SUS.
Considerando o período pandêmico vivenciado no Brasil
e as dificuldades enfrentadas em termos de gestão da crise
sanitária, temáticas como formação e educação permanente
da força de trabalho; dimensionamento da força de trabalho
nos diversos setores da saúde; estabelecimento de rotinas de
trabalho; biossegurança nos ambientes das unidades de saúde
e unidades hospitalares ganham importância e passam a figu-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


rar como demandas efetivas não somente dos trabalhadores
e trabalhadoras do SUS, mas dos usuários atendidos que bus-
cam informações, reagem aos protocolos apresentados, têm
seus quadros crônicos agravados, apresentam novas e mais
complexas demandas e necessidades.
Resta também, como desafio, a ampliação de iniciativas do
mesmo gênero ou a atualização do Curso de Especialização
em Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, considerando
os conteúdos ofertados e seu material pedagógico para, desse
modo, oferecer turmas a outros municípios, gerando maior
economia de escala, uma vez que a estrutura e a plataforma já
se encontram montadas e que a coordenação obteve grande
êxito na tarefa para a qual se propôs.
A atualização permanente dos gestores do SUS, de modo
aprofundado e com perspectiva de reversão do aprendizado
em melhoria da qualidade dos serviços prestados, dando ên-
83
fase ao âmbito municipal, por concentrar maior demanda e
necessidade de formação ainda se impõe como uma impe-
riosa necessidade. Novas ofertas do Curso de Especialização
constituiriam importante reforço à construção da Rede de
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.
Evidente que o fortalecimento do SUS e da saúde como
direito implica na resolução de problemas históricos que con-
dicionam e alimentam as desigualdades sociais gritantes que
marcam nosso país, condicionam os principais problemas de
saúde e limitam o campo da Gestão do Trabalho e da Educa-
ção na Saúde.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


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2021.

87

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Reflexões sobre o Curso de Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde no
Paraná: semeando e colhendo frutos

Elaine Rossi Ribeiro | elaine.ribeiro@fpp.edu.br


Doutora em Medicina; professora da Faculdade Pequeno
Príncipe (FPP/PR); professora do Programa de
Pós-Graduação Ensino nas Ciências da Saúde da FPP
INTRODUÇÃO

Semente lançada

A sociedade, ao se transformar ciclicamente, traz no bojo do


movimento, a imperiosa necessidade de mudanças no mun-
do do trabalho. Mudanças estas que acontecem em tempos,
velocidades e ambientes diferentes, “ocorrendo em função e a
partir de transformações na dinâmica social, sendo, ao mes-
mo tempo, determinantes e determinadas por novos compor-
tamentos sociais” (BRASIL, 2011, p.15).
Na perspectiva da complexidade dos objetos de trabalho rela-
tivos às práticas de saúde, com a incorporação tecnológica, com 89

vistas a acompanhar sistematicamente esta transformação, há


que se buscar o desenvolvimento de novas competências em um
cenário assimétrico, complexo e mutável. Competências, neste
caso, são definidas, segundo Fleury e Fleury (2001), como a ca-
pacidade de mobilizar, integrar e transferir os conhecimentos,
recursos e habilidades, num contexto profissional determinado.
Assim, ao associar o conceito de competência com o mundo do
trabalho, ambos em constante transformação, o Ministério da Saúde,
especificamente o Departamento de Gestão e Regulação do Traba-
lho em Saúde (DEGERTS) anuncia, com probidade temporal, isto
é, em tempo adequado, a realização de um Curso de Especialização
em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, desenvolvido em
parceria com o Observatório de Recursos Humanos em Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Este curso
fez parte de um projeto maior, denominado Apoio à estruturação da

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Rede de Gestão do Trabalho e da Educação nas regiões Sul e Sudeste,
sob o Termo de Execução Descentralizado nº. 24/2016.
Esta terminologia, Gestão do Trabalho, vem sendo discutida
desde 2004, quando foi criada a Secretaria de Gestão do Traba-
lho e da Educação na Saúde (SGTES). Pierantoni et al., (2008)
dizem que, com o objetivo de implementar uma política de
valorização do trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS) e de
seus trabalhadores, tal iniciativa passa a considerar a gestão do
trabalho como uma questão estratégica. Pode-se conceituar:
A gestão do trabalho e da educação na saúde é uma com-
petência constitucional e legal dos gestores do SUS. Cabe
ao Ministério da Saúde propor, acompanhar e executar as
políticas de gestão do trabalho e de regulação profissional,
de negociação do trabalho em saúde, junto com outros
segmentos do governo e os trabalhadores, e o incentivo
à estruturação de uma política de gestão do trabalho nas
90
três esferas de governo, envolvendo os setores público e
privado que compõem o SUS. […] Saúde se faz com gen-
te. Gente que cuida de gente, respeitando-se as diferenças
de gênero, étnico-raciais e de orientação sexual. Por isso,
os trabalhadores não podem ser vistos como mais um re-
curso na área da Saúde (BRASIL, 2004a, p. 115).

É nesta perspectiva que o referido curso foi desenhado e


ofertado, entendendo-se que seria pertinente valorizar o tra-
balhador, promovendo sua capacitação, formação e partici-
pação em momentos de reflexão conjunta, que contribuísse
para discussões aprofundadas sobre os processos de trabalho,
formulação de políticas, vida funcional, entre tantos outros
aspectos que venham a desenvolver novas competências es-
pecíficas para a sua atuação como profissional da saúde.
Assim, a semente foi lançada!

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


CARACTERÍSTICAS GERAIS DO CURSO: SEMENTE PLANTADA

Com a finalidade de atender às necessidades de aperfeiço-


amento das práticas em saúde e qualificar os processos de
gestão do trabalho e da educação na saúde no âmbito do
setor público de saúde, através da capacitação dos trabalha-
dores que atuam nas dimensões política, técnica e adminis-
trativa do Sistema Único de Saúde (SUS), o curso foi reali-
zado na modalidade de educação a distância (EaD), e ficou
hospedado no ambiente virtual de aprendizagem AVASUS,
plataforma gerenciada pela UFRN.

Implantação no Paraná: o solo vermelho terroso


O estado do Paraná recebeu 140 vagas para o curso, um quan-
titativo de vagas que pôde atender, de forma exitosa, as neces-
sidades do estado. O curso foi pautado em objetivos de apren-
91
dizagem que materializam os saberes importantes quando
se trata das questões voltadas para Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde. Tais objetivos são apresentados no livro
didático que serviu de suporte teórico e metodológico para
toda a especialização, são eles:
Compreender as questões relacionadas com a gestão
do trabalho e da educação a partir da construção his-
tórica do Sistema Único de Saúde (SUS) e da sua re-
lação com a cidadania, das transformações que se dão
no mundo do trabalho contemporâneo e suas reper-
cussões nos modos de produzir serviços de saúde, e
do processo de trabalho em saúde. [...] Analisar ques-
tões da gestão do trabalho no SUS nos seus aspectos
institucionais e operativos, desenvolvendo um conhe-
cimento crítico que permita a formulação de estraté-
gias que apontem para a eficiência e efetividade dos

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


serviços de saúde e para a melhoria da qualidade do
atendimento à população. Promover reflexões críti-
cas sobre a realidade existente no sistema educacional
brasileiro, inserindo elementos conceituais e amplian-
do o conhecimento teórico e prático na perspectiva de
contribuir para qualificar a gestão da educação e as in-
tervenções nesse campo. Fornecer instrumentos para
que os participantes possam construir um projeto de
intervenção exequível na área da gestão do trabalho e
da educação na saúde [...] (CASTRO; VILAR; LIBE-
RALINO, 2018, p. 8).

Desde a abertura do Edital n.º 003/2018 – DSC/NESC/


UFRN, que ficou disponível no site do Sistema Integrado de
Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA) da UFRN (ht-
tps://sigaa.ufrn.br/sigaa/public/processo_seletivo/lista.
92
jsf?nivel=L&aba=p-lato), foi realizada uma aproximação com
gestores locais do município de Curitiba e mais fortemente
com os gestores da Secretaria de Saúde do Paraná (SESA), para
que houvesse incentivo à participação. Assim, foi possível fe-
char uma turma com vagas preenchidas para o curso com 384
horas, mediado por tecnologia e direcionado à qualificação dos
gestores no SUS.
Contou-se com orientação permanente de um tutor por
turma de 30 alunos em média, e uma equipe responsável pela
efetivação e operacionalização do curso, com uma coordenação
geral, vice-coordenação, coordenação pedagógica além de uma
coordenação local, no caso do Paraná.
A aula de abertura ocorreu presencialmente em setembro
de 2018, na Escola de Saúde Pública do Paraná, na cidade de
Curitiba. Na ocasião, promoveu-se o acolhimento dos alunos,
com dinâmicas de grupo, apresentação da plataforma virtual e

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


contato com os tutores. No encerramento, igualmente presen-
cial, foi o momento em que se montaram bancas de avaliação
compostas por um membro interno ao curso e um membro
externo convidado e, no mesmo local, os alunos apresentaram
seus Trabalhos de Conclusão de Curso.
Concernente à participação dos municípios, destacam-se
alunos de Curitiba, São José dos Pinhais, Piraquara, Fazenda Rio
Grande, Guaratuba, Pinhais, Ponta Grossa, Araucária, União da
Vitória, Ortigueira, Guaraqueçaba, Rio Branco do Sul, Campo
do Tenente, Cascavel, Maringá, Engenheiro Beltrão, Goioxim,
Toledo, Pato Branco, São Miguel do Iguaçu, Cruzeiro do Oes-
te e Assis Chateaubriand, Quitandinha e Paranavaí. Os alunos
participantes foram 50% de servidores de instituições de gestão
municipal, 24% de gestão federal, 12% de gestão estadual, 12%
de funcionários de empresa pública e 2% de instituição privada
filantrópica.
93
O solo basáltico de cor avermelhada recebeu as sementes e
deixou germinar em abundância!

Abordagem pedagógica e metodológica: definindo o tipo


de plantio
O escopo do curso foi pensado de modo a favorecer a prá-
xis reflexiva e para tal, optou-se pela concepção pedagógica
da problematização, metodologia com caraterísticas próprias,
que parte da realidade social e para ela volta com a intencio-
nalidade de transformá-la. Segundo Berbel (1998, p. 144),
o propósito maior é preparar o estudante/ser humano
para tomar consciência de seu mundo e atuar inten-
cionalmente para transformá-lo, sempre para melhor,
para um mundo e uma sociedade que permitam uma
vida mais digna para o próprio homem.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Sendo assim, a estrutura pedagógica configurou-se desta
forma: Unidade I – Serviços de Saúde, cidadania e trabalho
(três módulos com temas sobre Sistema Único de Saúde, di-
reitos e cidadania); Unidade II – Gestão do trabalho em saúde
(cinco módulos abordando sobre humanização, saúde do tra-
balhador, negociação coletiva, instrumentos de gestão e etc.);
Unidade III – Gestão da educação na saúde (dois módulos
com abordagem sobre qualificação do trabalho em saúde e
processos educativos nos serviços de saúde) e Unidade IV–
Metodologia da pesquisa (contando com um módulo relacio-
nado à elaboração do projeto de intervenção).
Os conteúdos e tarefas disponibilizadas articulavam-se di-
retamente com o contexto do trabalho a qual o aluno estava
inserido, fortalecendo a integração ensino-serviço. O curso
também contou com a utilização de aprendizagem colabora-
tiva a partir de fóruns temáticos (temas pré-estabelecido pelo
94
curso) e fóruns gerais (criados pelo tutor se necessário), pos-
sibilitando uma maior interação e construção coletiva do co-
nhecimento – seja entre tutor/aluno, seja entre aluno/aluno –
e disponibilizou o livro Gestão do Trabalho e da Educação na
Saúde como base para compreensão teórica e conceitual do
campo da gestão do trabalho e da educação na saúde (CAS-
TRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
Com a missão de formular, desenvolver e gerir a política es-
tadual de saúde para fortalecer o SUS, em consonância com as
realidades regionais, com a participação da sociedade, visando
a qualidade da saúde da população, o Paraná está dividido em
quatro macrorregionais, a saber: leste, oeste, norte e noroeste,
totalizando 22 regionais de saúde no estado. Neste sentido, 139
trabalhadores de todas as regionais tiveram oportunidade de
participação efetiva no curso, trazendo à discussão algumas
problemáticas vividas no cotidiano do trabalho e da educação.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


SEMENTE 1: GESTÃO DO TRABALHO E
DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE
A Gestão do Trabalho é um termo utilizado há muito tem-
po pela área da administração e atualmente foi incorporado à
área da saúde, como componente estratégico de organizações
complexas, para aprimoramento do trabalho. Conceitualmen-
te, pode ser entendida como toda atividade laboral, as relações
técnicas dos envolvidos e as atividades relacionadas aos pro-
cessos de execução da atividade em si (BRASIL, 2004b).
Viana, Martins e Frazão (2018, p.75) aprofundam o conceito:
[...] essa expressão aborda temas relacionados ao tra-
balhador e seu trabalho, incluindo sua valorização por
meio da regulação e desprecarização das atividades
profissionais, além de considerar toda sua vida funcio-
nal desde seu ingresso até a garantia dos direitos traba-
lhistas, perpassando capacitação, formação, participação 95
nos processos de trabalho e nas formulações de políticas.

Por outro lado, a Gestão da Educação, é apontada como res-


ponsável pela implementação das políticas relativas à formação,
educação permanente, capacitação e desenvolvimento profis-
sional. Independentemente dos pressupostos teóricos que sus-
tentam tais conceitos, importa que, ao participarem do curso e
ao construírem conhecimentos, venham a contribuir para a or-
ganização da área da Gestão do Trabalho e da Educação de for-
ma qualificada, com vistas à modernização da gestão na saúde.
Neste sentido, o curso possibilitou sustentação teórica e
epistemológica para aprofundamento em áreas distintas, des-
de reflexões aprofundadas sobre as transformações no mundo
do trabalho, seus diferentes processos, a formação dos traba-
lhadores para o SUS e a política de educação permanente, as-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


suntos pertinentes ao desenvolvimento de competências ge-
renciais, em primeiro plano.
A aprendizagem colaborativa como estratégia metodoló-
gica foi revelada considerando-se que os estudantes traba-
lham juntos, em pequenos grupos, em torno de um objetivo
comum, mesmo a distância. Para Gokhale (1995), o aprendi-
zado colaborativo favorece o desenvolvimento da capacidade
crítica através de discussões, além da clarificação das próprias
ideias e da avaliação de ideias originadas dos colegas. E foi
exatamente assim durante o desenvolvimento do curso, pois
as trocas entre os estudantes eram constantes e profícuas, in-
cluindo-se a participação efetiva das tutoras que colaboravam
com aprofundamentos teóricos, mediação das discussões e
ofertas de referenciais atualizados na área em questão.
O plantio se revelou eficaz, possibilitando construções co-
letivas!
96

COLHEITA ESPERADA:
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
As propostas mais apresentadas pelos cursistas revelaram-se
nas temáticas dos trabalhos de conclusão do curso, sendo as-
sim divididos: Gestão da Educação: 51 TCCs; Gestão do Tra-
balho: 47 TCCs; Gestão em Saúde: 7 TCCs.
Importante destacar que os TCCs relativos à Gestão da
Educação, 37 deles, correspondente a 72,5% continham o
termo Educação Permanente em seus títulos. Pode-se inferir
que é uma problemática que ainda tem espaço para reflexão e
busca pelo novo por meio da investigação científica. Por outro
lado, naqueles relativos à Gestão do Trabalho, discutiram-se
bastante os temas gestão de pessoas e planos de carreira, car-
gos e salários.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Entende-se que alguns temas poderiam ser mais aborda-
dos, tais como: composição da rede de serviços de saúde local
e análise da acessibilidade aos serviços; transformações no
mundo do trabalho e novas competências requeridas para o
trabalhador; serviços de saúde como cenários de práticas e as
tecnologias em saúde.
Não obstante, o tema segurança do paciente ser parte do
senso comum como de conhecimento e prática usual de to-
dos os profissionais de saúde, quando se entende que todos
os trabalhadores conhecem, portanto praticam, os números
notificados (ou subnotificados?), indicam que erros e even-
tos adversos continuam a existir e a temática mereceria mais
aprofundamentos e pesquisas que motivassem o desenvolvi-
mento da cultura de segurança em todos os níveis de atenção
à saúde. Este assunto mereceria mais cultivo!
97
DESAFIOS: REGANDO O SOLO, TIRANDO AS PEDRAS
Alguns percalços apareceram durante a implementação do
curso, embora a equipe tenha se mobilizado fortemente para
acolher e resolver cada um dos problemas.
Iniciou-se com 139 profissionais matriculados, mas apenas
91 concluíram seus estudos. Foram os mais diversos motivos,
mas principalmente o concernente à gestão do tempo, pois
todos os alunos são também trabalhadores e gestores em ple-
no exercício de suas funções profissionais. Sequencialmente
surgiram problemas de saúde, pessoais e relacionados à famí-
lia e além destes, deve-se destacar as mudanças de governo,
pois no ano de 2018, vários alunos foram transferidos de seus
cargos, o que também veio a impactar o desenvolvimento dos
projetos de TCCs daqueles que permaneceram no curso.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


No espaço de tempo que o curso indicou como necessá-
rio para desenvolvimento do TCC, pode-se observar como
fragilidade dos trabalhadores em saúde, eles conhecerem mi-
nimamente a configuração de um trabalho de conclusão e a
composição, seja estrutural, seja metodológica, de um estudo
científico. Por este motivo, somados aos anteriormente citados,
o cronograma proposto não foi seguido e pelos atrasos signi-
ficativos foram necessárias repactuações ao longo do percurso
para evitar desistências. Tal fato impactou na usabilidade dos
fóruns, pois o tempo entre uma postagem e outra era diferente
e dificultou a interação entre alunos e orientadores.
Outro ponto crítico foi a distinção entre um projeto de
intervenção (que está intimamente ligado a prática e atuação
profissional) e um projeto de pesquisa (que responde a um
fenômeno social), momento em que grande parte dos alunos
teve dificuldades de compreensão. Os tutores destacaram o
98
apoio dado pela coordenação geral e pedagógica do curso,
que juntamente com a coordenação local, estiveram sempre
disponíveis para sanar as dúvidas dos tutores durante todo
curso.
Foi possível detectar que, por ser um curso a distância, al-
guns alunos apresentaram dificuldades em lidar com a auto-
nomia, com as liberdades no ambiente virtual de aprendiza-
gem, com a responsabilidade de planejar uma programação
de estudo sem a presença física de um professor, com a gestão
do tempo individual, o que colaborou com os atrasos nos en-
vios das atividades e pode ter contribuído para as desistências
ao longo do curso. As pedras foram visíveis no caminho, mas
o aprendizado durante o processo deixou marcas que certa-
mente poderão ser evitadas em outros momentos!

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


POTENCIALIDADES: MOMENTO DA COLHEITA
No outro lado da moeda foi possível identificar momentos
potenciais que produziram acolhimento, assertividade, com-
prometimento de todo grupo envolvidos na consecução do
curso.
Embora ainda haja alguns que prefiram o curso de forma
presencial, a utilização de uma plataforma a distância foi bem
aceita, principalmente por ser de fácil utilização e extrema-
mente intuitiva, o que facilitou muito todo o processo. No
entanto, a oportunidade de contato com a plataforma no pri-
meiro encontro presencial e a disponibilização de tutoriais
explicativos preparados pela equipe técnica da Secretaria de
Educação a Distância (SEDIS) ajudaram sobremaneira neste
processo.
Vale um destaque para o processo de tutoria, que neste
caso, foram quatro tutoras que acompanharam todo o proces- 99
so e desenvolvimento do curso. Ficou evidente a competência
tanto técnica em relação ao conteúdo, mas também de media-
ção das situações adversas que fazem parte de um processo
como este. Afinal, foram dez meses de curso e o tutor acompa-
nhou uma turma de mais ou menos trinta alunos. As coorde-
nações também desempenharam um papel muito importan-
te no contato ativo com os alunos que apresentavam alguma
dificuldade em acompanhar o cronograma como também na
resolução de casos específicos.
Ideias inovadoras não faltaram!
Com a intenção de incentivar os alunos atrasados no cro-
nograma e para aqueles que não acessavam a plataforma com
frequência, os tutores desenvolveram algumas estratégias
criativas, como por exemplo, a Dica da Sexta — orientações
via aplicativo WhatsApp e fórum, relacionadas com as ativi-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


dades dos módulos e a criação do bloco “Calma que dá tem-
po”, lançado no período do Carnaval de 2019 – convidando os
alunos a “caírem na folia” das atividades e plantão de dúvidas
em vésperas de encerramento dos módulos.
A realização de capacitação dos tutores antes do início do
curso foi certamente uma potencialidade, pois possibilitou
uma maior proximidade dos tutores com a plataforma, conte-
údo programático e troca de experiências, favorecendo forte-
mente o processo da tutoria.
O grande diferencial do curso foi o método pedagógi-
co utilizado que priorizou a metodologia problematizadora
na construção do conhecimento, partindo-se das experiên-
cias vivenciadas pelos alunos, experiências estas totalmente
diferentes, pois os alunos eram advindos de diferentes esfe-
ras de gestão, de diferentes municípios do estado do Paraná,
com diferentes práticas em saúde, fato que possibilitou trocas
100
e compartilhamentos ricos, aumentando a oportunidade de
aperfeiçoamento.
Outros pontos que merecem destaques são a qualidade do
livro-base, os temas selecionados para discussão e reflexão em
cada módulo, a secretaria acadêmica, a secretaria executiva do
curso e a SEDIS, que sempre se mostraram disponíveis para
sanar dúvidas, colaborar e prestar apoio quando necessário.
Finalmente, pode-se destacar como ponto relevante para
o sucesso do curso, a abrangência em vários municípios, vá-
rias categorias profissionais envolvidas tornando o processo
interdisciplinar e as inúmeras melhorias em todos os níveis de
densidade tecnológica do sistema.
A colheita foi real!

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


UMA AGENDA PARA O FUTURO:
NOVOS TERRENOS, NOVAS SEMENTES
O Curso de Especialização em Gestão do Trabalho e da Edu-
cação na Saúde possibilitou fortalecer os profissionais partici-
pantes, bem como as instituições de saúde a qual pertenciam.
O resultado final evidenciou que a lacuna relativa à gestão do
trabalho e da educação pode ser sanada e que outros cursos
possam ser disponibilizados com características semelhantes
ao que foi ofertado.
Neste sentido, aponta-se como metas futuras, para uma
possível agenda: continuar com o ensino a distância, mas
promover um momento presencial para fortalecimento da
estruturação da escrita do projeto; contato sistemático com a
gestão local, de forma a possibilitar minimamente a apresen-
tação dos projetos com vistas à implementação e implantação
dos temas pesquisados com possibilidade de transferência e 101
aplicabilidade do conhecimento construído; permanecer uti-
lizando-se a metodologia problematizadora, a qual permitiu
reflexão constante sobre a realidade local a partir do referen-
cial teórico adotado no curso, favorecendo a elaboração de
propostas de melhorias dos serviços em diferentes setores de
trabalho; promover a integração das experiências práticas dos
estudantes com a fundamentação teórica, a fim de contribuir
para análise da realidade e apontar para a resolução de im-
portantes problemas existentes nas práticas cotidianas de tra-
balho; e apoiar de modo irrestrito a utilização de tecnologias
educacionais em saúde.
Diante de tais considerações, se pode afirmar que os ob-
jetivos do curso foram alcançados, mostrando-se como uma
estratégia fundamental para implantação da Política de Ges-
tão do Trabalho e da Educação na Saúde no estado do Paraná,

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


contribuindo para a estruturação da rede de gestores nessa
área, bem como para a democratização das relações de traba-
lho e melhoria das condições de atuação profissional no SUS.
O curso proporcionou e certamente continuará proporcio-
nando mudanças graduais na realidade complexa dos servi-
ços de saúde. São novas sementes!
Finalmente, poder-se ia pensar, como agenda de futuro
próximo, a proposição de um novo projeto com o objetivo
de avaliar o impacto do curso, com metodologia própria para
avaliação de programas, para se conhecer as melhorias nos
processos de trabalho, os avanços na área de Gestão do Tra-
balho e da Educação na Saúde, e consequentemente na qua-
lidade dos serviços de saúde prestados para a população do
estado do Paraná.
À guisa das considerações finais, pode-se dizer que a opção
pela escrita deste texto baseou-se na perspectiva de comparti-
102
lhar, divulgar e difundir todas as etapas de uma estação, com
base na vivência coletiva que aconteceu a partir de um grupo
de trabalhadores da saúde que deliberadamente assumiu um
plantio, independente do solo, das pedras, da temperatura. Por
entenderem que a colheita seria certa, as experiências vividas
podem aqui ser compartilhadas de forma a conduzirem a
novos terrenos, principalmente naqueles que venham trazer
novas sementes, emancipatórias, humanas e, acima de tudo,
transformadoras do trabalho em saúde.
Com o celeiro farto e abundante, permite-se finalizar as-
sim, usando as palavras de Neves et al. (2010, p. 45), que disse-
ram sabiamente: “O que aqui buscamos afirmar é uma aposta
radical na invenção de um outro mundo possível, de outros
modos de estar nos verbos da vida e, especialmente, de uma
saúde pública possível”.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


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104
Acesso em: 24 ago. 2021.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Gestão, Trabalho e Educação no Sistema
Único de Saúde fluminense

Rafael Rodolfo Tomaz de Lima | limarrt@gmail.com


Bacharel em Saúde Coletiva; especialista em Gestão do Trabalho e da
Educação na Sáude; meste em Ciências da Saúde; professor substituto do
Departamento de Saúde Coletiva da UFRN
INTRODUÇÃO

Segundo Severino (2007), a pesquisa bibliográfica se faz a


partir da consulta a dados previamente analisados por outros
pesquisadores e divulgados em arquivos virtuais ou impres-
sos, tais como livros, artigos, monografias, boletins informa-
tivos, manuais técnicos, entre outros. Nessa perspectiva, com
base na leitura dos relatórios produzidos por tutores e coor-
denação local do Curso de Especialização em Gestão do Tra-
balho e da Educação na Saúde (CGTES) no estado do Rio de
Janeiro (RJ), disponibilizados pela coordenação nacional do
referido curso, o presente capítulo pretende: 1) Descrever a
106
experiência do desenvolvimento do CGTES no RJ; 2); Carac-
terizar os problemas e as prioridades da gestão do trabalho e
da educação na saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS) fluminense.
Para alcançar esses objetivos e qualificar as reflexões que po-
derão ser suscitadas, o autor deste texto também irá apoiar-se
na literatura científica sobre as questões pertinentes ao tema
gestão do trabalho e da educação na saúde, assim como da nar-
rativa construída a partir das suas memórias, afinal, ele integrou
a equipe tutorial do CGTES no RJ. A produção da narrativa,
segundo Vieira, Pinto e Melo (2018), está atrelada ao ato de re-
memorar e de recuperar experiências por meio de indagações.
Outrossim, a partir das memórias do passado, a narrativa per-
mite construir novos caminhos para o presente e para o futuro.
O CGTES integra um rol de atividades e compromissos
definidos no projeto Apoio à Estruturação da Rede de Gestão

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


do Trabalho e da Educação na Saúde nas Regiões Sul e Sudeste,
firmado entre a Universidade Federal do Rio Grande do Nor-
te (UFRN), por meio do Observatório de Recursos Humanos
em Saúde do Departamento de Saúde Coletiva (DSC), e o
Ministério da Saúde, por meio do Departamento da Gestão
do Trabalho em Saúde (DEGTS) da Secretaria de Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES).
Esse curso de pós-graduação lato sensu surgiu a partir de
uma demanda do DEGTS, na época denominado Departa-
mento de Gestão e Regulação do Trabalho em Saúde (DE-
GERTS), após identificar algumas fragilidades e necessidades
nos setores responsáveis pela gestão dos recursos humanos
das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde brasileiras.
Portanto, esse processo educativo possui a finalidade de con-
tribuir com o aperfeiçoamento dos processos de gestão do
trabalho e da educação na saúde por meio da qualificação dos
107
atores que atuam nas dimensões técnica, política e gestora do
SUS (CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
Ademais, segundo Castro, Vilar e Costa (2017), o CGTES
oportuniza o acesso de gestores e trabalhadores da saúde a
novos conhecimentos teóricos e práticos, contribuindo para o
fortalecimento da gestão do trabalho e da educação na saúde
nos espaços institucionais do sistema de saúde brasileiro.
No RJ, o CGTES aconteceu entre agosto de 2018 e junho de
2019, dentro de uma ampla oferta destinada aos gestores e tra-
balhadores das Secretarias de Saúde das regiões Sul e Sudeste
do Brasil. Cabe ressaltar que essa oferta se configurou como
a terceira edição do curso, sendo a primeira realizada entre
2013 e 2014, para as Secretarias de Saúde da região Nordeste;
e a segunda entre 2014 e 2015, para as Secretarias de Saúde
das regiões Norte e Centro-Oeste (LIMA, 2020a).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Em todas as edições, o CGTES aconteceu com financia-
mento público, fruto da cooperação técnica e da parceria ensi-
no-serviço entre a UFRN e o Ministério da Saúde, no formato
de Educação a Distância (EaD), por meio da plataforma Am-
biente Virtual de Aprendizagem do SUS (AVASUS). Apesar
dos avanços políticos, tecnológicos e científicos ocorridos no
Brasil, no país ainda existem diversas desigualdades sociais,
incluindo as desigualdades de acesso da força de trabalho do
SUS às ações de educação permanente.
Considerando que a educação a distância tem se tornado
cada vez mais comum, em que o ensino-aprendizado é me-
diado por ambientes virtuais e construído em uma constante
interação entre tutores e alunos, situados em espaços geográ-
ficos diferentes (VILAR et al., 2017), essa modalidade de en-
sino foi escolhida pela coordenação nacional do CGTES para
auxiliar a qualificação dos trabalhadores e gestores da saúde
108
de diferentes municípios e regiões brasileiras, com foco na
gestão do trabalho e da educação na saúde. Desse modo, acre-
dita-se que é possível investir no ensino a distância como uma
estratégia para o fortalecimento da educação permanente em
saúde, tornando as ações educativas amplas e democráticas,
capazes de contribuir com mudanças nos serviços de saúde
e proporcionar inovações nos modelos de gestão e atenção à
saúde.
A experiência fluminense do CGTES, desde a divulgação
até o desenvolvimento do curso em si, contou com o apoio
da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES/RJ)
e do Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), principalmente para mobi-
lizar os trabalhadores-estudantes e para auxiliar na logística
dos três encontros presenciais. Ao todo, 92 alunos foram se-
lecionados, com base nas normas regulamentadoras do Edi-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


tal Público nº 003/2018 – DSC/NESC/UFRN, matriculados e
distribuídos em três turmas.
Cada turma foi conduzida por um professor/tutor, com
graduação na área da saúde e pós-graduação em saúde co-
letiva, além de possuir experiências de trabalho, de ensino e
de pesquisa na gestão do trabalho e da educação na saúde.
Ressalta-se que dois meses antes do primeiro encontro pre-
sencial, realizado na SES/RJ, em agosto de 2018, todos os tuto-
res participaram de uma capacitação pedagógica realizada em
Natal/RN para compreender a estrutura curricular do curso,
conhecer o material didático e se familiarizar com a platafor-
ma AVASUS.
Ainda sobre os cursistas, 55 alunos, representando 60% do
total, atuavam em instituições de saúde não localizadas na ca-
pital do RJ, e três alunos (3%) em serviços de saúde de muni-
cípios interioranos da região Sul do Brasil (Quadro 1). Esses
109
três alunos do Paraná e de Santa Catarina foram matriculados
em turmas do estado fluminense para preencher vagas rema-
nescentes.

Quadro 1 – Distribuição do quantitativo de alunos matriculados


nas turmas do CGTES-RJ segundo estados e municípios de
atuação. Natal, Brasil, 2021

Estados Municípios Quantitativo de alunos


Angra dos Reis 1
Araruama 1
Areal 2
Rio de Janeiro Barra Mansa 1
Duque de Caxias 6
Engenheiro Paulo de Frontin 1
Itaboraí 1

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Japerí 4
Maricá 2
Mendes 2
Mesquita 4
Niterói 4
Nova Iguaçu 2
Paracambi 1
Piraí 1
Rio Bonito 3
Rio de Janeiro 34
Rio de Janeiro
São Gonçalo 2
São João de Meriti 1
São José do Vale do Rio Preto 2
São Pedro da Aldeia 1
Saquarema 4
Sumidouro 2
110 Teresópolis 1
Três Rios 1
Valença 1
Vassouras 4
Paraná Barracão 1
Bendito Novo 1
Santa Catarina
Timbó 1
Total 92
Fonte: França (2019)

Lima (2020b), baseando-se no estudo desenvolvido por


Costa (2018), afirma que a concentração de oferta de cursos
em cidades de grande porte é justificada pelo fato desses mu-
nicípios possuírem, dentro dos seus respectivos estados, uma
maior quantidade de serviços de saúde e, consecutivamente,

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


demandarem uma maior necessidade de qualificação dos re-
cursos humanos que neles atuam. Porém, o Quadro 1 revela
o contrário, demonstrando que, no estado do RJ, o CGTES
teve um maior alcance em municípios interioranos e de porte
pequeno.
Sendo assim, pode-se inferir que a ampliação de trabalha-
dores capacitados, bem como a democratização do acesso às
oportunidades de qualificação profissional, uma das premis-
sas do ensino a distância e do CGTES, já é uma relevante con-
tribuição do curso aqui tratado para os estabelecimentos do
SUS.
No caso do RJ, a rede de saúde é composta por 32 equipa-
mentos estaduais de saúde, de diferentes níveis de atenção e
especialidades, distribuídos em nove regiões administrativas
(Metropolitana I, Metropolitana II, Baía da Ilha Grande, Mé-
dio Paraíba, Centro Sul, Serrana, Baixada Litorânea, Norte e
111
Noroeste) (ESTRELA; LIMA, 2021).
Além disso, a rede estadual de saúde também conta com
serviços municipais, federais, privados e filantrópicos. Por-
tanto, considerando a magnitude da organização da atenção
à saúde no mencionado estado, faz jus formular processos
educativos que contribuam com a qualificação das pessoas
que atuam no âmbito da gestão do trabalho e da educação na
saúde.
Organizado em quatro as unidades didáticas (Quadro 2),
observa-se que o CGTES possui a problematização como con-
cepção pedagógica. Nesse sentido, os procedimentos didáticos
do curso não são centralizados nos tutores, mas, sim, em me-
todologias ativas e críticas, nas quais o aluno é um sujeito ativo
no processo de ensino e o tutor atua como um facilitador da
aprendizagem.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Quadro 2 – Estrutura curricular do CGTES, etapa
Sul e Sudeste. Natal, Brasil, 2021

Unidade didática Módulos Período Carga horária


Módulo 1 – O SUS e o 27/08/2018 a
direito à cidadania 09/09/2018
Unidade I –
Módulo 2 – As mudanças
Serviços de 10/09/2018 a
no mundo do trabalho e 60h
Saúde, Cidadania 23/09/2018
as repercussões na saúde
e Trabalho
Módulo 3 – O processo 24/09/2018 a
de trabalho em saúde 07/10/2018
Módulo 1 – Caracterís-
08/10/2018 a
ticas das instituições de
21/10/2018
saúde
Módulo 2 – Humaniza-
22/10/2018 a
ção na gestão do trabalho
04/11/2018
em saúde
Unidade II
Módulo 3 – Saúde do
– Gestão do 05/11/2018 a
trabalhador no contexto 160h
112 Trabalho em 18/11/2018
do SUS
Saúde
Módulo 4 – Negociação
19/11/2018 a
como metodologia de
16/12/2018
gestão do trabalho
Módulo 5 – Mecanismos
17/12/2018 a
e instrumentos de gestão
27/01/2019
do trabalho
Módulo 1 – Educação
28/01/2019 a
Unidade III para qualificação do
24/02/2019
– Gestão da trabalho em saúde
80h
Educação na Módulo 2 – O processo
Saúde 25/02/2019 a
educativo nos serviços de
24/03/2019
saúde
Módulo 1 – Metodologia 80h
Unidade IV –
da pesquisa: elaborando 25/03/2019 a
Metodologia da
um projeto de interven- 31/05/2019
Pesquisa
ção
Fonte: Castro, Vilar e Liberalino (2018)

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Baseando-se também nos preceitos da Política Nacional
de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) (BRASIL, 2009)
e nas correntes e tendências da pedagogia crítica (PEREIRA,
2003), os conteúdos pedagógicos do curso estão diretamente
relacionados com as vivências dos alunos. Desse modo, ape-
sar do CGTES e da interação tutor-aluno acontecer em um
ambiente virtual, o aprendizado e as práticas advindas dessa
formação têm impacto positivo no cotidiano e, consecutiva-
mente, nos espaços de trabalho dos cursistas.
Os conhecimentos adquiridos durante o processo educativo
são utilizados como meios para o diagnóstico de problemas exis-
tentes na gestão do trabalho e da educação na saúde, bem como
para a proposição de estratégias para a resolução destes. Tais pro-
posições podem ser construídas ao longo do curso e sistematiza-
das no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), produto final, em
formato de projeto de intervenção, a ser entregue pelos alunos.
113
Para desenvolver o projeto de intervenção, o aluno precisa-
va identificar “um problema dentro do seu lócus de trabalho e, a
partir deste, escolher as maneiras de solucioná-lo” (LIMA, 2020a,
p. 925). Portanto, a partir dessas fragilidades apontadas nos pro-
jetos de intervenção dos concluintes do CGTES, o tópico a seguir
pretende caracterizar os problemas e as prioridades da gestão do
trabalho e da educação na saúde no âmbito do SUS fluminense.

PROBLEMAS E PRIORIDADES EXPOSTOS NOS TRABALHOS


DE CONCLUSÃO DE CONCURSO

Ao todo, foram apresentados e aprovados 62 TCCs, represen-


tando a integralização da formação de 67% dos alunos matricu-
lados nas turmas do CGTES, no RJ. Entre os 62 concluintes, 52
cursistas (84%) são do gênero feminino, acompanhando a ten-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


dência do mundo do trabalho em saúde no Brasil, onde desde
1970, anterior à redemocratização do país e do surgimento do
SUS, as mulheres expressam a maioria da força de trabalho em
saúde (WERMELINGER et al., 2010). Porém, esse contingente
feminino ainda enfrenta desigualdades de gênero nas questões
profissionais, como a desigualdade salarial e as divergências das
condições de trabalho entre homens e mulheres.
Ainda acerca dos cursistas concluintes, os profissionais que
atuam diretamente com a atenção aos usuários do SUS, como
enfermeiros, dentistas, assistentes sociais, psicólogos, entre
outros, representam 48% do total. Um quantitativo menor de
alunos-trabalhadores, 11 (18%), atua na gestão do trabalho e
da educação na saúde.
Cabe destacar que nenhum concluinte, independente de atu-
ar na atenção ou na gestão do SUS, já havia participado de al-
gum curso sobre a gestão do trabalho e da educação na saúde,
114
ressaltando a importância do desenvolvimento do CGTES. Essa
lacuna pode ser justificada pelo fato de outros cursos de especia-
lização sobre a temática já terem sido ofertados no estado do RJ
entre 2006 e 2017, pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio
Arouca (ENSP), mas com uma concentração de alunos oriun-
dos de regiões mais centrais do estado, como a região metropo-
litana da cidade do Rio de Janeiro (MOYSES et al., 2020).
Segundo Paim (1994), a gestão do trabalho e da educação
na saúde é uma área com problemas crônicos e antigos. Por si
só, a diversidade de profissionais e, por conseguinte, de interes-
ses já é um desafio para a sustentação do SUS, à luz dos anseios
da Reforma Sanitária Brasileira e dos pressupostos teóricos da
Saúde Coletiva. Com o processo de descentralização dos ser-
viços do SUS, a gestão do trabalho e da educação na saúde, à
época mais conhecida como gestão de recursos humanos em
saúde, passou a se configurar como uma área prioritária nas

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e a ser incluída na
agenda de prioridades de intervenção do poder público.
Políticas, programas e ações para a gestão do trabalho e
da educação na saúde adquiriram maior visibilidade em 2003,
quando o Ministério da Saúde instituiu em seu organograma
institucional uma Secretaria específica para a gestão dos re-
cursos humanos em saúde, a SGTES. De acordo com Magna-
go et al. (2017), a SGTES assumiu a responsabilidade de con-
duzir em todo o território nacional estratégias voltadas para a
gestão, regulação e qualificação da força de trabalho em saúde.
Entretanto, após quase duas décadas da criação da SGTES
no Ministério da Saúde, nota-se que algumas políticas e ações
dessa Secretaria não ganharam tamanha extensão nos órgãos
estaduais e municipais de gestão do SUS. Nos últimos cinco
anos, por exemplo, os setores de gestão do trabalho e da edu-
cação na saúde das Secretarias Estaduais de Saúde têm enfren-
115
tado desafios para dimensionar a força de trabalho em saúde,
organizar ou aperfeiçoar sistemas de informação que apoiem a
gestão do trabalho em saúde, instituir ou aperfeiçoar a avalia-
ção de desempenho e o PCCS, fazer concursos públicos, definir
estratégias de formação profissional articulada às necessidades
do SUS, realizar diagnóstico acerca das condições de trabalho
dos profissionais da saúde, entre outros (CASTRO et al., 2019).
No RJ, os problemas enfrentados pela gestão do trabalho e
da educação na saúde foram identificados por meio da leitura
dos resumos dos TCCs (Quadro 3). Ao mesmo tempo em que
se encontram as fragilidades, é possível perceber temas prio-
ritários de intervenção. A partir das congruências existentes
entre os objetivos dos TCCs, os problemas foram classifica-
dos em categorias e subcategorias preestabelecidas, de acordo
com as subáreas da gestão do trabalho e da educação na saúde
e os títulos dos módulos educativos do CGTES.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Quadro 3 – Síntese dos objetivos dos TCCs apresentados
nas turmas do CGTES, no RJ, por categorias e subcategorias
temáticas. Natal, Brasil, 2021

Categoria Subcategoria Objetivo geral do TCC


Estabelecer uma Mesa de Negociação
Permanente na Secretaria de Saúde de
Nova Iguaçu/RJ.
Implantar um protocolo de mediação de
conflitos para nortear a atuação de cirur-
giões-dentistas na atenção básica à saúde
de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Negociação
Propor a instalação de uma Mesa de Ne-
como
gociação Permanente na gestão municipal
metodologia
de saúde de Japeri, Rio de Janeiro.
de gestão do
trabalho Implantar a Mesa de Negociação Perma-
nente no município de Duque de Caxias
como método de mediação de conflitos
no âmbito do Sistema Único de Saúde.
116 Criar melhorias na gestão de saúde do
Gestão do município de Vas-souras/RJ por meio
trabalho em da implantação da Mesa de Negociação
saúde Permanente.
Implantar o Programa de Vigilância em
Saúde do Trabalhador (VISAT) na Secre-
taria Municipal de Sumidouro/RJ.
Diminuir índices de absenteísmo nas
unidades municipais de saúde gerenciadas
pela Empresa Pública de Saúde do Rio de
Saúde do Janeiro (RioSaúde).
trabalhador no
contexto do Implantar o ambulatório de PICS na Área
SUS de Saúde do Trabalhador (ARSAT) do
Instituto Nacional de Traumatologia e
Ortopedia Jamil Haddad (INTO).
Contribuir para a redução das taxas de
absenteísmo dos profissionais de enferma-
gem que buscam os serviços da Unidade
de Perícia Médica do Ministério da Saúde.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Desenvolver uma estratégia de promoção
da saúde do trabalhador para os profissio-
nais da Clínica da Família (CF) Alkindar
Soares Pereira Filho.
Implantar a Câmara Técnica das con-
dições de trabalho dos profissionais da
saúde dos hospitais federais no Rio de
Janeiro.
Propor um ciclo de gestão baseado no
PDCA (Ciclo PDCA: Plan, Do, Check,
Action ou Planejar, Fazer, Verificar e Agir),
Saúde do
estabelecendo uma forma de melhoria
trabalhador no
contínua das ações de formação em
contexto do
VISAT/GTS como ações integradas, que
SUS
podem ser aplicadas em qualquer institui-
ção de saúde.
Analisar o absenteísmo dos servidores
da Secretaria Municipal de Saúde de
Gestão do Vassouras/RJ.
trabalho em Implantar em todas as Estratégias de Saú-
saúde de da Família do munícipio de Vassouras 117
um programa de apoio ao trabalhador vi-
sando promover saúde e prevenir doenças
relacionadas às atividades desenvolvidas
no ambiente de trabalho.
Transformar as práticas do trabalho tendo
como base reflexões críticas sobre as
necessidades e demandas da realidade dos
serviços do SUS de São José do Vale do
Rio Preto/RJ.
Criar um Procedimento Operacional
O processo de
Padrão (POP) para organizar, qualificar e
trabalho em
otimizar o processo de trabalho da equipe
saúde
da Secretaria Executiva do Mestrado
Profissional em Saúde da Família (PRO-
FSAÚDE).
Reorganizar o processo de trabalho dos
profissionais da US Policlínica Geral de
Nova Iguaçu.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Melhorar a integração entre os membros
das equipes de saúde, promover o estabe-
lecimento de vínculos e a sensibilização
para um processo de humanização que
traga como consequência o atendimento
Humanização de qualidade ao cuidado em saúde.
na gestão do Possibilitar a reinvenção do trabalho em
trabalho em saúde a partir da implantação dos cole-
Gestão do saúde giados gestores nas unidades básicas de
trabalho em saúde de Duque de Caxias/RJ.
saúde
Criar um sistema de gestão participativa
das ações de pré-natal, utilizando o aplica-
tivo WhatsApp como recurso auxiliar na
comunicação com os profissionais.
Mecanismos e Planejar um processo seletivo simplifica-
instrumentos do para contratar profissionais de saúde,
de gestão do objetivando ampliar a força de trabalho
trabalho da atenção básica à saúde de Japeri.
Utilizar o AVASUS como ferramenta de
ensino-aprendizagem para a Educação
118 Permanente em Saúde dos profissionais
da Secretaria Municipal de Saúde de
Angra dos Reis/RJ.
Contribuir para a reorganização do
processo de trabalho a partir da reestru-
turação da atenção à demanda espontânea
dessa unidade de saúde por meio da reali-
Educação para zação de ações de Educação Permanente.
Gestão da
qualificação do Analisar a oferta e garantia de educação
educação na
trabalho em permanente aos profissionais do Hospi-
saúde
saúde tal Municipal Nossa Senhora das Dores
(HMNSD).
Estruturar e implantar um núcleo de
educação permanente na Secretaria Mu-
nicipal de Saúde de Japeri, município do
interior do estado do Rio de Janeiro.
Implantar um programa de educação
permanente em saúde na Secretaria
Municipal de Saúde do município de
Saquarema/RJ.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Implantar um programa de educação
permanente coparticipativo para os agen-
tes comunitários de saúde, destacando a
importância da educação permanente no
cotidiano desse profissional.
Implantar ações de educação permanen-
te na Secretaria Municipal de Saúde de
São José do Vale do Rio Preto, município
da região serrana do estado do Rio de
Janeiro.
Propor a criação de um setor de educação
permanente em saúde na Empresa Pública
de Saúde do Rio de Janeiro (RioSaúde).
Implementar no Hospital Municipal
Evandro Freire e na Coordenação Emer-
gencial Regional (CER) Ilha, na cidade do
Rio de Janeiro/RJ, um instrumento para
facilitar o levantamento das necessidades
Educação para de educação permanente para os trabalha-
Gestão da
qualificação do dores que lidam com cuidados paliativos.
educação na
trabalho em Propor um plano de educação permanen- 119
saúde
saúde te em saúde para a Maternidade Munici-
pal Mariana Bulhões, em Nova Iguaçu.
Elaborar programa de educação perma-
nente para potencializar as competências
da enfermagem no ensino, na pesquisa, na
gestão e na assistência aos pacientes com
câncer de mama e seus familiares.
Elaborar um plano de intervenção para
gestão e execução da EPS nas equipes de
Saúde da Família do Rio de Janeiro, de
acordo com a Política Nacional de Educa-
ção Permanente em Saúde (PNEPS).
Implantar um plano de educação per-
manente, elaborado a partir do cotidiano
de profissionais envolvidos no processo
de assistência no serviço de urgência e
emergência da Unidade de Pronto Atendi-
mento (UPA) Paciência, no município do
Rio de Janeiro.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Implantar um plano de educação per-
manente no contexto de trabalho dos
servidores dos hospitais federais no Rio
de Janeiro.
Educação para
qualificação do Reformular o processo de planejamento
trabalho em do núcleo de educação permanente do
saúde setor da atenção básica do município de
Vassouras de forma a serem oferecidas
capacitações pautadas nas reais necessida-
des e deficiências dos servidores da saúde
desse setor.
Contribuir para a qualificação, por meio
de uma proposta de capacitação, do
processo de acolhimento da Unidade da
Estratégia Saúde da Família de Palmital,
em Saquarema, município do interior do
Rio de Janeiro.
Qualificar a atenção em saúde à popula-
Gestão da ção em situação de rua, organizando uma
educação na rede de cuidados humanizada, acolhedora
120
saúde e compartilhada, dando visibilidade ao
funcionamento do programa.
Capacitar as equipes multiprofissionais
O processo recém-admitidas para a ESF para a
educativo nos execução, com qualidade e confiabilidade,
serviços de dos testes rápidos para HIV, sífilis, HVB e
saúde HVC (hepatites do tipo B e C), nas unida-
des de saúde.
Capacitar em rede de frio e calendário
básico de vacinação a equipe de enferma-
gem e os agentes comunitários de saúde
atuantes na Estratégia de Saúde da Família
(ESF) da Secretaria de Saúde de Sumidou-
ro/RJ.
Capacitar os membros da equipe mul-
tiprofissional da Estratégia de Saúde da
Família de Água Branca/Saquarema/Rio
de Janeiro em Acolhimento com Classifi-
cação de Risco.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Qualificar os agentes comunitários de
saúde para atuarem com as equipes mul-
tiprofissionais e desenvolverem ações de
cuidado à saúde de indivíduos e grupos
sociais, em domicílios e coletividades.
Qualificar e sensibilizar os profissionais da
Atenção Básica de Rio Bonito, município
do interior do estado do Rio de Janeiro,
quanto à importância da notificação
compulsória de maus-tratos e violências
contra crianças e adolescentes na perspec-
tiva da proteção.
Ampliar e fortalecer os trabalhos de edu-
cação em saúde, favorecendo o acesso à
informação referente aos setores da saúde
do município, e ressaltar a importância da
equipe multiprofissional em uma aborda-
gem biopsicossocial.
O processo Contribuir para que os profissionais da
Gestão da
educativo nos APS de Vassouras/RJ se tornem agentes
educação na
serviços de críticos e reflexivos, sendo capazes de
saúde 121
saúde desenvolver ações alternativas para solu-
cionar problemas.
Promover o acolhimento institucional e a
capacitação dos ACS recém-contratados e
alocados na UBS.
Desenvolver uma estratégia de formação
para o SUS destinada aos alunos de nível
médio, superior e internato que utilizam
as unidades de saúde da SES-RJ como
campo de estágio.
Elaborar uma proposta de atualização
em processos de EPS para os docentes e
direção da Escola de Formação Técnica
Enfermeira Izabel dos Santos (ETIS).
Implementar uma ação educativa voltada
à organização do processo de trabalho e
melhoria do acolhimento na Unidade de
Pronto Atendimento Comendador Soares.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Qualificar os trabalhadores das unidades
estaduais de saúde da Região Metropo-
litana I do estado do Rio de Janeiro para
atuarem perante as necessidades e especi-
ficidades de saúde da população negra.
Capacitar a equipe profissional da área
de saúde do trabalhador do Instituto
Nacional de Traumatologia e Ortopedia
Jamil Haddad (INTO), na perspectiva da
pedagogia crítica.
Qualificar os trabalhadores do Centro de
Saúde Vasco Barcelos, em Nova Iguaçu/
RJ, para atuarem à luz dos princípios
e diretrizes da Política Nacional de Huma-
nização.
O processo
Gestão da Capacitar os profissionais da UBS Parque
educativo nos
educação na Ludolf para atenderem de forma huma-
serviços de
saúde nizada as mulheres vítimas de violência
saúde
doméstica.
Capacitar o profissional de enfermagem
122 que atuará nas ações cirúrgicas do Projeto
Suporte para, por meio do autocontrole,
superar as situações adversas e o estresse
emocional durante a ação.
Implementar ação de Educação Perma-
nente em Hemoterapia para a equipe de
enfermagem do Instituto Nacional de
Câncer (INCA).
Desenvolver oficinas de capacitação
para qualificar as visitas domiciliares
dos agentes comunitários de saúde das
equipes de Saúde da Família do município
de Niterói/RJ.
Fonte: Castro et al. (2020)

Com o panorama apresentado no Quadro 3, percebe-se


que a predominância dos problemas da gestão do trabalho
e da educação na saúde no estado do RJ está relacionada à

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


gestão da educação na saúde (56%). Dentro desse quantitati-
vo, destaca-se a necessidade de qualificação dos profissionais
nos serviços de saúde (57%) com a finalidade de aperfeiçoar
os processos de trabalho, sejam eles da gestão, sejam eles da
atenção à saúde.
Ressalta-se que essa situação não é específica do estado do
RJ, mas também de outros estados do Sudeste do Brasil. No Es-
pírito Santo, por exemplo, 64% dos problemas existentes na ges-
tão dos recursos humanos das instituições de saúde partícipes
do CGTES referem-se às fragilidades na gestão da educação na
saúde (VILAR et al., 2020). Ainda segundo Vilar et al. (2020),
essa situação perdura ao longo do tempo e pode ser determina-
da por situações complexas, como a alta rotatividade dos pro-
fissionais, a incorporação de novas tecnologias no cotidiano do
trabalho, mudanças no processo de trabalho, pouca articulação
entre instituições de saúde e instituições de ensino, etc.
123
Essa situação coaduna com os resultados de alguns estudos
desenvolvidos no Brasil, revelando a baixa institucionalida-
de e abrangência da PNEPS nos diferentes cenários do SUS
(FRANÇA et al., 2017a; FRANÇA et al., 2017b; MACHADO;
XIMENES NETO, 2018). Nesse sentido, faz-se necessário
priorizar os projetos de intervenção desenvolvidos no CG-
TES, possibilitando a implementação de uma política de edu-
cação permanente nas secretarias de saúde do estado do RJ
para que as ações educativas no trabalho não sejam pontuais
e atendam às necessidades locais, transformando a gestão, o
trabalho, a formação e o controle social na saúde.
Entre os problemas relacionados à gestão do trabalho em
saúde, destacam-se aqueles oriundos de questões relacionadas
à saúde do trabalhador (43%), como o absenteísmo e a ausên-
cia de estratégias para a prevenção de doenças ocupacionais
e promoção da saúde dos trabalhadores da saúde. Na edição

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


do CGTES para as instituições de saúde do Norte e Centro-
-Oeste do Brasil, a saúde do trabalhador do SUS também foi
um problema emergente, em que 27% dos TCCs retratavam o
adoecimento desses trabalhadores em virtude das más condi-
ções de trabalho, desvalorização salarial, violação dos direitos
trabalhistas, precarização dos vínculos empregatícios, entre
outros entraves (DIAS et al., 2020).
As mudanças, às vezes abruptas, no mundo do trabalho em
geral demandam adequações, nem sempre satisfatórias para
os trabalhadores, e podem colocar a força de trabalho em saú-
de em situações de vulnerabilidade (sobrecarga de trabalho,
estresse, acidentes ocupacionais, etc.), aumentando também
as possibilidades de adoecimento e absenteísmo (afastamento
do trabalhador do ambiente de trabalho). Segundo Freitas et
al. (2021), cabe ao SUS assegurar e promover a saúde do tra-
balhador, inclusive para os seus trabalhadores, mediante ações
124
intersetoriais e articuladas, sobretudo pela Rede Nacional de
Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), criada
pelo Ministério da Saúde em 2002.
A RENAST utiliza os Centros de Referência em Saúde do
Trabalhador (CEREST) para compreender a relação entre o
adoecimento e a atividade laboral das pessoas, promovendo
assistência, prevenção, educação e vigilância em saúde do tra-
balhador (LEÃO; VASCONCELLOS, 2011). Todavia, no con-
texto apresentado neste capítulo, percebem-se poucas inicia-
tivas e desarticulação da gestão do trabalho em saúde com a
vigilância em saúde do trabalhador para diagnosticar e supe-
rar os desafios que permeiam os serviços de saúde, atingem os
recursos humanos em saúde e, consecutivamente, prejudicam
a qualidade da atenção aos usuários do SUS.
Diante desse levantamento dos TCCs, foi possível perceber
os principais problemas, mas também quais devem ser as prio-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


ridades da gestão do trabalho e da educação na saúde no SUS
fluminense. O investimento em estratégias para a educação
permanente dos profissionais e para a promoção da saúde do
trabalhador, apontadas nos TCCs já apresentados no Quadro
3, coloca-se como urgente e necessário para o fortalecimento
da rede estadual de gestão do trabalho e da educação na saúde.
Os demais temas, como a negociação do trabalho, huma-
nização da gestão do trabalho e mecanismos para a gestão do
trabalho em saúde, por exemplo, não se sobressaíram nos te-
mas dos TCCs. Entretanto, são problemas diagnosticados no
cotidiano das instituições e que também precisam de aten-
ção e resolução. Independente da magnitude do problema, as
propostas de intervenção desenvolvidas pelos cursistas já são
possibilidades para a transformação das realidades em que
eles estão inseridos.
125

DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA PROPOSTA EDUCATIVA

Como já foi dito neste capítulo, o CGTES aconteceu em um


ambiente virtual de aprendizagem. Porém, desde a sua con-
cepção, o referido curso tem uma importante articulação com
os aspectos reais vivenciados pelos alunos-trabalhadores nos
serviços de saúde, respeitando a sua própria concepção me-
todológica problematizadora descrita no projeto pedagógico.
Nesse sentido, diante do contexto social, os desafios pessoais
e profissionais enfrentados pelos cursistas das turmas do CG-
TES, no RJ, tiveram reflexos negativos no processo de ensino-
-aprendizagem, como a queda na assiduidade dos alunos pe-
rante as atividades acadêmicas solicitadas.
Além disso, dificuldades de manuseio e acesso ao AVASUS
ajudaram a agudizar essa circunstância. De acordo com os de-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


poimentos dos alunos, assim como dos relatos da equipe tuto-
rial e coordenação local, a citada plataforma virtual era con-
fusa e não auxiliava a navegação. Por exemplo, para ingressar
no AVASUS, era preciso abrir duas páginas do navegador; em
seguida, buscar a aba do CGTES, que continha um excesso de
informações com pouca relevância para o corpo discente. Para
a entrega das atividades, os cursistas precisavam percorrer vá-
rias abas, atrasando o processo de envio pelos alunos e, em de-
corrência disso, o feedback por parte dos tutores.
Uma alternativa para superar tais dificuldades de acesso à
plataforma virtual seria o desenvolvimento de um aplicativo
do AVASUS pela Secretaria de Educação a Distância (SEDIS)
da UFRN, a ser instalado em smartphones. Apesar dos avanços
tecnológicos e da usabilidade desses aparelhos em nosso coti-
diano, inclusive nas atividades profissionais e educacionais, essa
possibilidade prometida por profissionais da SEDIS durante o
126
momento de abertura do curso não foi materializada.
Na tentativa de contornar essa situação e evitar uma alta eva-
são dos alunos, a equipe tutorial, em articulação com as coor-
denações local, pedagógica e nacional, resolveu instituir men-
sagens via e-mail e WhatsApp como ferramentas alternativas de
comunicação com os alunos. O AVASUS continuava sendo o
espaço formal de aprendizagem, entretanto os espaços alternati-
vos de diálogo eram mais dinâmicos e interativos.
Essa alternativa, atrelada ao empenho dos tutores e da co-
ordenação local, possibilitou resgatar alunos que estavam em
atraso com as tarefas do curso, em especial no período que
compreendia o término da Unidade Didática II, a mais extensa
(160h), e o início da Unidade Didática III (80h). Esse intervalo
entre as mencionadas unidades didáticas foi atravessado pelo
recesso de fim de ano nas instituições, nas quais boa parte dos
trabalhadores, alunos do CGTES, goza seus dias de férias.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Outra estratégia, também vista como potencialidade da expe-
riência educativa que aqui vem sendo apresentada, foi a realização
de um segundo encontro presencial, ocorrido nas dependências
do IMS/UERJ, em março de 2019. Tal encontro não estava pre-
visto no planejamento nacional do CGTES, sendo, entre as tur-
mas da região Sudeste, uma especificidade local das turmas do
RJ. Ademais, esse encontro foi importante para repactuar alguns
prazos com os alunos e esclarecer as eventuais dúvidas sobre o
formato do TCC e possíveis temas de intervenção.
Talvez seja repetitivo, mas cabe destacar mais uma vez a
concepção pedagógica do CGTES, pois diferentemente de
outras propostas educativas na modalidade EaD, que são, em
sua maioria, autoinstrucionais, o curso propõe e permite um
diálogo constante com as práticas profissionais dos alunos.
Esse é um ponto positivo destacado pelos cursistas, acrescido
dos elogios ao material didático elaborado pela coordenação
127
nacional do CGTES.
O livro, que diferentemente das etapas anteriores do CGTES
não foi entregue em formato impresso aos discentes, somente em
formato digital, possibilitou ao aluno conhecer a estrutura curri-
cular do curso, ler conteúdos teóricos importantes para a gestão
do trabalho e da educação na saúde no SUS e ter acesso prévio
aos tópicos das atividades e fóruns virtuais postados no AVASUS.
Também merece destaque, como potencialidade, a capaci-
tação pedagógica destinada aos tutores antes do início do CG-
TES para que os mesmos possam conhecer com mais afinco
a proposta do curso de especialização e o ambiente virtual de
aprendizagem. Para finalizar esta seção do capítulo, destacam-
-se as principais potencialidades do CGTES: qualificar atores
do SUS para atuarem na gestão do trabalho e da educação na
saúde; possibilitar o diagnóstico de necessidades na gestão do
trabalho e da educação na saúde; facilitar o planejamento de

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


intervenções na área da gestão do trabalho e da educação na
saúde; e fortalecer a rede da gestão do trabalho e da educação
na saúde, nos estados brasileiros, como se propôs a fazer no RJ.

UMA AGENDA PARA O FUTURO

Diante da experiência do CGTES no RJ, com seus desafios e po-


tencialidades, é preciso vislumbrar outros caminhos para que a
qualificação dos trabalhadores do SUS, especialmente daque-
les que atuam na gestão do trabalho e da educação na saúde,
seja permanente. A partir dessa experiência nacional, outras
ações educativas podem ser realizadas, inclusive com iniciati-
vas locais, para que a gestão dos recursos humanos em saúde
seja uma área prioritária nas instituições de saúde, tais como a
Secretaria Estadual e as Secretarias Municipais de Saúde do RJ.
128 Se tais iniciativas para a qualificação das equipes respon-
sáveis pela gestão do trabalho e da educação na saúde ocor-
rerem no formato virtual, é importante que a construção da
plataforma virtual se dê de forma dialogada com todos os ato-
res envolvidos no processo (coordenadores, tutores e alunos)
e validada de acordo com os interesses pedagógicos do curso.
Assim, acredita-se que os problemas de navegação enfrenta-
dos por alunos e tutores do CGTES no RJ não serão repetidos.
Para concretizar a potencialidade do CGTES no SUS flu-
minense, é preciso que as propostas de intervenção desenvol-
vidas pelos cursistas sejam implementadas. Assim, as solu-
ções poderão sair do papel e impulsionar transformações na
prática, possibilitando, em especial, a educação permanente
dos trabalhadores da saúde e o desenvolvimento de ações que
promovam a saúde dos trabalhadores do SUS, principais te-
mas abordados nos TCCs.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos relatórios elaborados por tutores e coordenação


local do CGTES no estado fluminense, este capítulo objetivou
descrever a experiência do desenvolvimento desse curso e ca-
racterizar os problemas e as prioridades da gestão do trabalho
e da educação na saúde, no âmbito do SUS, no RJ. Para am-
pliar tais objetivos, sugere-se que outras análises e produções
sejam realizadas, englobando outras abordagens metodológi-
cas e as visões de outros atores envolvidos no processo.
Outrossim, é fundamental acompanhar o desenvolvimento
das intervenções propostas com os TCCs dos cursistas. Des-
sa forma, os desafios da gestão do trabalho e da educação na
saúde poderão ser superados, demonstrando a importância
da interação ensino-serviço para a sustentação do SUS e do
ensino a distância para a educação permanente dos trabalha-
129
dores da saúde.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


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Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Especialização em Gestão do Trabalho
e da Educação na Saúde: contribuições
gaúchas ao Sistema Único de Saúde

Rafael Rodolfo Tomaz de Lima | limarrt@gmail.com


Bacharel em Saúde Coletiva; especialista em Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde; mestre em Ciências da Saúde; professor substituto do
Departamento de Saúde Coletiva da UFRN
INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde


(PNEPS), instituída no Brasil em 2007 por intermédio do Mi-
nistério da Saúde, consiste em um conjunto de iniciativas vol-
tadas à educação na saúde com a finalidade de contribuir com
mudanças na formação dos profissionais de saúde e nas prá-
ticas cotidianas dos serviços que integram o Sistema Único
de Saúde (SUS) (LEITE; PINTO; FAGUNDES, 2020). Ainda
segundo Leite, Pinto e Fagundes (2020), a educação perma-
nente em saúde torna-se oposta à educação continuada, que
é caracterizada por uma formação pontual a fim de atender a
135
interesses individuais dos trabalhadores, qualificando-os ape-
nas tecnicamente.
A educação permanente em saúde consiste na integração
entre a educação e o trabalho, proporcionando uma análise
do contexto dos trabalhadores e qualificando-os a partir da
detecção e resolução de problemas reais, suscitando melho-
rias na gestão, atenção e controle social no SUS. Nessa pers-
pectiva, a partir de um diagnóstico realizado em 2013 pelo
Departamento de Gestão e Regulação do Trabalho em Saúde
(DEGERTS), atualmente denominado como Departamen-
to da Gestão do Trabalho em Saúde (DEGTS), da Secretaria
de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) do
Ministério da Saúde, identificaram-se algumas fragilidades na
área da gestão do trabalho e da educação na saúde de diversas
instituições gestoras do SUS, incluindo o próprio Ministério
da Saúde.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Para superar essas fragilidades, seria preciso, entre outras
coisas, capacitar os profissionais que atuam na gestão do tra-
balho e da educação na saúde e reorganizar o processo de
trabalho nos setores responsáveis pela gestão dos recursos
humanos das instituições de saúde, como as Secretarias Esta-
duais e Municipais de Saúde. Nesse contexto, criou-se o Curso
de Especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na
Saúde (CGTES).
O CGTES é ofertado pelo Observatório de Recursos Hu-
manos do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com o
DEGTS do Ministério da Saúde, e visa, segundo Castro, Vilar
e Liberalino (2018, p.8), “qualificar os processos de gestão do
trabalho e da educação na saúde no âmbito do setor público
de saúde por meio da capacitação dos técnicos que atuam nas
dimensões política, técnica e administrativa”.
136
Nesse sentido, o CGTES destina-se, preferencialmente, aos
gestores ou integrantes das equipes responsáveis pela formula-
ção e execução de políticas na área da gestão do trabalho e da
educação na saúde do SUS; gestores ou integrantes das Escolas
Técnicas do SUS ou das Escolas de Saúde Pública; integrantes
das Mesas de Negociação Permanente do SUS; secretários de
saúde ou gerentes de regionais de saúde ou distritos sanitá-
rios; gestores ou integrantes das equipes gestoras de hospitais,
unidades especializadas ou unidades básicas de saúde; mem-
bros da equipe técnica do Conselho de Secretarias Municipais
de Saúde (COSEMS) ou da Comissão Intergestora Bipartite
(CIB); gestores e técnicos da SGTES do Ministério da Saúde; e
membros da Câmara Técnica de Recursos Humanos do Con-
selho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) (CASTRO
et al., 2020a).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Entre 2018 e 2019 ocorreu a terceira oferta do CGTES, en-
cerrando um ciclo de educação permanente para a gestão do
trabalho e da educação na saúde no Brasil. Nesse período, o
curso se destinou aos estabelecimentos do SUS localizados
nas regiões Sul e Sudeste; entre 2013 e 2014, para as insti-
tuições públicas de saúde da região Nordeste; e entre 2014 e
2015, para as instituições públicas de saúde das regiões Norte
e Centro-Oeste (LIMA, 2020).
Para dar conta da magnitude desse curso, bem como para
oportunizar um maior acesso de trabalhadores do SUS às ações
de educação permanente, todas as edições do CGTES foram
desenvolvidas na modalidade de Educação a Distância (EaD),
em que o processo de ensino-aprendizagem acontecia por meio
da interação tutor-aluno em um ambiente virtual. Na terceira
edição do curso, a plataforma virtual utilizada foi o Ambiente
Virtual de Aprendizagem do SUS (AVASUS), desenvolvida pela
137
Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) e Laboratório de
Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS), ambos da UFRN.
No estado do Rio Grande do Sul (RS), o CGTES aconteceu
entre setembro de 2018 e julho de 2019. Com base nas normas
regulamentadoras descritas no Edital Público nº 003/2018 -
DSC/NESC/UFRN, 126 alunos-trabalhadores foram selecio-
nados, matriculados e distribuídos em quatro turmas. Tais
turmas foram conduzidas por quatro tutoras, com formação
na área da saúde e experiência, de ensino ou de atuação profis-
sional, na gestão do trabalho e da educação na saúde.
Em junho de 2018, anteriormente ao início do curso, essas
tutoras e a coordenadora local participaram de uma oficina
pedagógica na cidade de Natal/RN com a finalidade de com-
preender a estrutura curricular do curso e os recursos didá-
ticos que seriam utilizados como aporte, bem como para se
familiarizar com o manuseio da plataforma AVASUS.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Perante o exposto, este capítulo objetiva relatar a experi-
ência do desenvolvimento do CGTES no RS e descrever as
suas contribuições para a gestão do trabalho e da educação na
saúde no âmbito do SUS gaúcho.
Para o alcance dos objetivos propostos, o autor do presente
capítulo utilizou as informações contidas nos relatórios ela-
borados pelas tutoras e coordenadora local do CGTES no RS,
disponibilizados pela coordenação nacional do referido curso
de pós-graduação lato sensu.

O DESENVOLVIMENTO DO CURSO

Organizado em quatro unidades didáticas e com uma car-


ga horária total de 380 horas (Quadro 1), o CGTES utilizou
metodologias ativas para o desenvolvimento do processo en-
138 sino-aprendizagem. De acordo com Berbel (2011), as meto-
dologias ativas possibilitam o emprego da problematização
como estratégia pedagógica, visando motivar o aluno, diante
das problemáticas, para que ele possa examinar, refletir e dar
um novo significado às suas descobertas.

Quadro 1 – Estrutura curricular do CGTES, etapa


Sul e Sudeste. Natal, Brasil, 2021

Unidade didática Módulos Carga horária


Módulo 1 – O SUS e o direito à
Unidade I – cidadania
Serviços de Saúde, Módulo 2 – As mudanças no mundo
60h
Cidadania e do trabalho e as repercussões na saúde
Trabalho Módulo 3 – O processo de trabalho
em saúde

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Módulo 1 – Características das insti-
tuições de saúde
Módulo 2 – Humanização na gestão
do trabalho em saúde
Unidade II – Gestão
Módulo 3 – Saúde do trabalhador no
do Trabalho em 160h
contexto do SUS
Saúde
Módulo 4 – Negociação como meto-
dologia de gestão do trabalho
Módulo 5 – Mecanismos e instrumen-
tos de gestão do trabalho
Módulo 1 – Educação para qualifica-
Unidade III – ção do trabalho em saúde
Gestão da Educação 80h
na Saúde Módulo 2 – O processo educativo nos
serviços de saúde
Unidade IV – 80h
Módulo 1 – Metodologia da pesquisa:
Metodologia da
elaborando um projeto de intervenção
Pesquisa
Fonte: Castro, Vilar e Liberalino (2018)

139
Para Freire (2001), a problematização é um método de en-
sino capaz de induzir o estudante a ter um contato com o con-
texto real e a produzir conhecimento com a finalidade de de-
senvolver soluções e, principalmente, a sua própria formação.
No CGTES, a aprendizagem ocorreu por meio de uma ação
motivadora e de uma situação-problema realística, em que a
construção do conhecimento se deu a partir das experiências
dos alunos e da aquisição de atitudes críticas e criativas.
Sendo assim, no decorrer do processo educativo, os alunos-
-trabalhadores foram instigados a observar os seus cenários de
atuação e a tecer reflexões críticas acerca da gestão do trabalho e
da educação na saúde, à luz dos princípios do SUS e da sua rela-
ção com a democracia e a cidadania. Nesse percurso, as tutoras
atuaram como facilitadoras, estando pedagogicamente qualifi-
cadas para dialogar com os cursistas e, de forma competente, in-
telectual e afetiva, colaborar com a construção da aprendizagem.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Nota-se que a realidade dos alunos-trabalhadores sempre
esteve presente no processo formativo que vem sendo dis-
corrido neste capítulo, tanto que as dificuldades vividas pelos
cursistas tiveram um forte impacto na condução do CGTES
no RS. De acordo com a análise dos relatórios elaborados pela
equipe tutorial, as dificuldades enfrentadas pelos alunos eram,
em sua maioria, de cunho pessoal.
No estado do RS, em especial na Secretaria Estadual da
Saúde (SES), as mudanças na reforma previdenciária impul-
sionaram a abertura de muitos processos de aposentadoria,
sem substituição da força de trabalho por não haver novos
concursos públicos (VALDUGA, 2019). Ainda de acordo
com Valduga (2019), muitos trabalhadores que continuaram
ocupando os postos de trabalho adoeceram, em decorrência
da sobrecarga de trabalho, e se afastaram das suas atividades
laborais. Aqueles que estavam matriculados no CGTES tam-
140
bém evadiram da plataforma virtual de aprendizagem.
No âmbito das cidades gaúchas, especialmente nas cida-
des de pequeno porte, as novas gestões municipais, formadas
após o período eleitoral de 2018, provocaram mudanças nas
composições das equipes gestoras das Secretarias Municipais
de Saúde, interferindo também no rendimento daqueles traba-
lhadores que eram discentes do CGTES. Com isso, percebeu-
-se um declínio da participação dos cursistas nos fóruns virtu-
ais de discussão e as atividades didáticas eram, em sua maioria,
entregues sem aprofundamento dos temas abordados.
Ademais, os alunos que não atuavam na gestão em saúde,
ou especificamente na gestão do trabalho e da educação na
saúde, apresentavam dificuldades para compreender os con-
teúdos abordados nas unidades didáticas e realizar as ativi-
dades propostas. Diante dessa situação, estratégias foram de-
senvolvidas pela equipe tutorial, com apoio das coordenações

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


local, pedagógica e nacional, para auxiliar as reflexões críticas
e a elaboração das atividades por parte do corpo discente.
Como exemplo dessas estratégias, destaca-se o uso de ca-
nais alternativos de comunicação para estreitar o diálogo en-
tre tutoras e alunos, como envio de mensagens via e-mail ou
Whatsapp e encontros tutoriais por chamadas de vídeo. Outra
estratégia desenvolvida foi a realização de mais um encontro
presencial, não previsto no planejamento do curso.
A princípio só ocorreriam dois encontros presenciais: um
no momento inicial do curso, configurando-se como aula
inaugural, e outro no encerramento, visando à apresentação
dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs). Para o desen-
volvimento dos TCCs, produto final obrigatório a ser entre-
gue pelos cursistas, em formato de projeto de intervenção, as
dificuldades já elencadas somaram-se às dificuldades de com-
preender como estruturar esse tipo de projeto.
141
Apesar de haver uma unidade didática específica no cur-
so para orientar a elaboração do TCC, muitos alunos não
possuíam experiência com o desenvolvimento de projetos
de intervenção e ainda não haviam definido a temática a ser
abordada. Portanto, o encontro realizado em abril de 2019,
nas dependências da Escola de Saúde Pública do Rio Grande
do Sul (ESP/RS), objetivou facilitar a construção dos projetos
de intervenção e repactuar alguns prazos para a conclusão do
curso de especialização.
Serão apresentados, no tópico a seguir, os principais temas
expostos nos TCCs. Outrossim, será possível identificar os
principais problemas presentes na rede de gestão do trabalho
e da educação na saúde no RS e quais devem ser as priorida-
des de intervenção.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


PROBLEMAS E PRIORIDADES DE INTERVENÇÃO: O QUE
REVELAM OS TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO?

Em respeito à concepção pedagógica do CGTES, para elabo-


rar o projeto de intervenção o aluno precisava, primeiramen-
te, identificar um problema relacionado à gestão do trabalho
e da educação na saúde dentro do seu espaço de atuação; em
seguida, escolher as maneiras de como solucionar tal proble-
ma, baseando-se nos conhecimentos adquiridos durante a sua
trajetória formativa (LIMA, 2020). Entre os 126 alunos ma-
triculados nas turmas do CGTES no RS, 94 discentes (75%)
conseguiram apresentar os seus respectivos TCCs e concluir
o citado curso de especialização.
Os problemas enfrentados pela gestão do trabalho e da
educação na saúde no RS foram identificados por meio da lei-
tura dos resumos dos TCCs (Quadro 2). Ao mesmo tempo
142 que se encontram as dificuldades, é possível perceber temas
prioritários de intervenção. A partir das aproximações temá-
ticas encontradas nos respectivos TCCs, os problemas foram
classificados em categorias e subcategorias preestabelecidas,
de acordo com as subáreas da gestão do trabalho e da educa-
ção na saúde e os títulos dos módulos educativos do CGTES.

Quadro 2 – Síntese dos objetivos dos TCCs apresentados


nas turmas do CGTES, no RS, por categorias e subcategorias
temáticas. Natal, Brasil, 2021

Categoria Subcategoria Objetivo geral do TCC


Negociação
Implementar a Mesa de Negociação do municí-
Gestão do como
pio de Sinimbu, no Rio Grande do Sul, visando
trabalho em metodologia
legitimar um espaço coletivo de negociação dos
saúde de gestão do
trabalhadores do SUS.
trabalho

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Implementar a Mesa de Negociação Perma-
nente na Secretaria Municipal de Saúde do
município de Igrejinha.
Instalar uma mesa de negociação permanente
na 28ª Região de Saúde do Rio Grande do Sul.
Negociação
Implantar a Mesa de Negociação Permanente
como
na Secretaria de Saúde do município de Igreji-
metodologia
nha, Rio Grande do Sul.
de gestão do
trabalho Implantar a Mesa de Negociação Permanente
no Sistema Único de Saúde do município de
Nova Bassano, envolvendo a gestão municipal,
os prestadores de serviços e os trabalhadores.
Implantar Mesa Municipal de Negociação Per-
manente do SUS no município de Gravataí/RS.
Implantar uma rede de saúde mental relacio-
nada ao trabalho, na fronteira oeste do Rio
Grande do Sul.
Implantar a educação alimentar e nutricional,
Gestão do em ambiente virtual de aprendizagem, por meio
trabalho em da educação permanente em saúde, visando 143
saúde à promoção de práticas alimentares e de vida
saudáveis.
Implantar o Centro de Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde no município de
Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul.
Saúde do
Implementar estratégias de educação perma-
trabalhador
nente em saúde do trabalhador para os gestores
no contexto
da Atenção Primária à Saúde do município de
do SUS
Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Desenvolver ações de Educação Permanente em
Saúde do Trabalhador na Secretaria Municipal
de Saúde de Cruzaltense, no Rio Grande do Sul.
Implantar um programa de qualidade de vida
no trabalho aos servidores da Unidade Básica
de Saúde de Maratá, Rio Grande do Sul.
Estruturar uma Política de Atenção à Saúde e
Segurança do Trabalho para o servidor público
estadual do Rio Grande do Sul vinculado à
Secretaria Estadual de Saúde.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Organizar uma Política em Saúde do Traba-
lhador visando evitar ou diminuir o índice
dos afastamentos por doenças ocupacionais
Saúde do na Secretaria Municipal de Igrejinha, no Rio
trabalhador Grande do Sul.
no contexto
do SUS Implantar o processo de monitoramento e
avaliação na execução da Política Municipal
de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora do
SUS, através da MMNP SUS Pelotas.
Propor a organização da linha de cuidado ao
idoso na Secretaria Estadual da Saúde do Rio
Grande do Sul a partir do modelo de atenção
integral.
Implementar, como instrumento ordenador da
Rede de Saúde, a planificação nas Regiões de
Saúde da 10ª Coordenadoria Regional de Saúde.
Implantar as políticas de equidade nos serviços
de saúde da atenção primária dos municípios
Gestão do da Região Sete Povos das Missões.
trabalho em
saúde Criar uma comissão técnica para avaliação das
144 demandas que se originam da judicialização
da saúde no município de Passo Fundo, no Rio
O processo de Grande do Sul.
trabalho em Aprimorar o Programa de Qualificação da
saúde Atenção e Gestão (Proquali) da Fundação Mu-
nicipal de Saúde de Canoas.
Propor estratégias de participação dos integran-
tes da equipe de teleducação do TelessaúdeRS
da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul na elaboração de metas de avaliação de
desempenho visando à gestão de desempenho
baseada em competências.
Reorganizar o processo de trabalho no Centro
Municipal de Saúde de Pejuçara, Rio Grande do
Sul, visando à resolutividade da atenção básica.
Implantar a Sistematização da Assistência de
Enfermagem no município de Sinimbu, Rio
Grande do Sul.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Mobilizar mudanças nos processos de trabalho
dos profissionais da equipe multiprofissional
perante o impacto da hospitalização e morte,
com um olhar na relação usuário-familiar-pro-
fissionais.
Melhorar a assistência à gestante de alto risco
O processo de por meio da consulta de enfermagem.
trabalho em
saúde Promover a integração do NASF com a Unida-
de Básica de Saúde Alvorada, de modo a qualifi-
car os processos de trabalho da equipe de saúde.
Reestruturação do fluxograma de entrega dos
prontuários aos pacientes por meio do SAME
do Hospital Escola da Universidade Federal de
Pelotas, Rio Grande do Sul.
Implantar grupo de trabalho em humanização
com ações voltadas à efetivação da comunica-
ção entre os serviços de higienização, segurança
e apoio logístico em uma unidade assisten-
Humanização cial do Hospital das Clínicas de Porto Alegre
Gestão do (HCPA), Rio Grande do Sul.
na gestão do
trabalho em 145
trabalho em Promover a Política de Humanização no SUS
saúde
saúde com foco na humanização dos processos de
trabalho de trabalhadores de uma Unidade
Básica de Saúde (UBS) e das Estratégias Saúde
da Família (ESF) do município de Sinimbu, Rio
Grande do Sul.
Realizar um levantamento de trabalhadores da
Secretaria da Saúde para compor o banco de
docentes efetivo na Escola de Saúde Pública do
Rio Grande do Sul.
Elaborar um plano de cargos, carreiras e salá-
Mecanismos e rios como instrumento de valorização do traba-
instrumentos lho em saúde no Grupo Hospitalar Conceição.
de gestão do Implantar uma ferramenta informatizada de ar-
trabalho mazenamento de dados para gestão de pessoas
em uma unidade básica de saúde.
Implantar definitivamente uma política que
atraia o servidor da saúde com graduação
suficiente de forma a estruturar plenamente o
quadro de docentes da Escola de Saúde Pública.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Dimensionar o quadro de tutores docentes
assistenciais dos programas da residência
multiprofissional em saúde da Escola de Saúde
Pública da Secretaria da Saúde do Rio Grande
do Sul.
Implantar Banco Permanente de Remoção por
Permuta (BPRP) na SES/RS.
Propor a criação de uma base de dados no
Departamento de Gestão da Tecnologia da In-
formação para agilizar a busca de profissionais
com perfil para docência.
Propor a implantação da gestão por competên-
cias na Secretaria da Saúde do Rio Grande do
Sul (SES/RS) como apoio à gestão do trabalho.
Realizar o dimensionamento da força de tra-
balho especializado da Secretaria Municipal de
Saúde de Alegrete.
Implantar a utilização de software para elabo-
Mecanismos e ração automática de escala de trabalho para os
Gestão do
instrumentos profissionais de enfermagem do Hospital Escola
trabalho em
146 de gestão do da Universidade Federal de Pelotas.
saúde
trabalho
Implantar o plano de cargos, carreiras e salários
para os trabalhadores do SUS da Prefeitura
Municipal de Ernestina.
Implantar o dimensionamento de pessoal no
hemocentro.
Revisar o atual PCCS dos servidores da FUMS-
SAR.
Implantar o plano de cargos, carreiras e salários
na Secretaria Municipal de Saúde de Sinimbu.
Implantar o PCCS-Saúde no município de
Caxias do Sul com vistas ao fortalecimento, à
valorização e ao crescimento profissional dos
trabalhadores da saúde.
Propor a implantação do plano de cargos,
carreiras e salários na Fundação de Saúde de
Sapucaia do Sul, Rio Grande do Sul, como fer-
ra-menta de gestão estratégica para valorização
e motivação dos trabalhadores da instituição.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Ampliar o Programa de Preparação para a
Aposentadoria aos servidores públicos federais
do Núcleo Estadual do Ministério da Saúde do
Rio Grande do Sul.
Implantar uma planilha de sistematização dos
motivos de afastamento do trabalho dos servi-
dores da 7ª Coordenadoria Regional de Saúde
do Estado do Rio Grande do Sul.
Implantar uma ferramenta de avaliação de
Mecanismos e desempenho em unidades básicas de saúde de
Gestão do um município da serra gaúcha.
instrumentos
trabalho em
de gestão do Implementar o plano de carreiras, cargos e
saúde
trabalho salários no âmbito do Sistema Único de Saúde
na Secretaria Municipal de Saúde de Cruz Alta,
Rio Grande do Sul.
Levantar as necessidades de educação perma-
nente nas equipes de Atenção Básica de um
município do Sul do Brasil a partir das discus-
sões dos resultados do SispreNatal/2007-2017.
Implantar o plano de carreiras, cargos e salários
para os trabalhadores da saúde do município de 147
Morro Redondo.
Educação Organizar e implementar um curso de educa-
Gestão da para ção permanente para os conselheiros de saúde
educação na qualificação do estado do Rio Grande do Sul.
saúde do trabalho
em saúde
Implementar a educação permanente nos
centros especializados em reabilitação do Rio
Grande do Sul.
Utilizar encontros de educação permanente
com metodologias ativas para desenvolver,
nas lideranças, competências fundamentais à
liderança transformacional.
Implantar a educação permanente para gestores
na Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul.
Implementar a Comissão de Educação Perma-
nente no Instituto Municipal de Estratégia de
Saúde da Família, na cidade de Porto Alegre.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Qualificar os professores da Escola de Saúde
Pública do Rio Grande do Sul enquanto orien-
tadores de trabalhos de conclusão de curso e
projetos de pesquisa dos alunos da Residência
Integrada em Saúde e do Curso de Especializa-
ção em Saúde Pública.
Implantar um núcleo de educação municipal de
saúde coletiva no município de Farroupilha, Rio
Grande do Sul.
Implementar o NUMESC em Passo Fundo, no
Rio Grande do Sul, para qualificar o processo
de EPS das equipes.
Ampliar o número de núcleos municipais de
educação em saúde coletiva na 28ª Região de
Saúde, tendo em vista a importância da educa-
ção permanente em saúde na rede de serviços
do SUS.
Construir um plano de intervenção para a
Educação elaboração do documento administrativo e
Gestão da para normativo relacionado ao COAPES.
148
educação na qualificação
saúde do trabalho Propor um instrumento orientador para a
em saúde implantação de ações de Educação Permanente
em Saúde sobre Tecnologia da Informação e
Comunicação (TIC), em uso atualmente, para
profissionais de enfermagem da Secretaria de
Saúde de Igrejinha, Rio Grande do Sul.
Implementar o Contrato Organizativo de Ação
Pública Ensino-Saúde a partir da integração
ensino-serviço no município.
Implantar o Programa de Educação Permanen-
te em Câncer Bucal voltado para a equipe da
Estratégia Saúde da Família (ESF) do município
de Estrela, no Rio Grande do Sul.
Elaborar um plano de educação permanente
para a equipe multiprofissional do Centro de
Saúde da Mulher e da Criança a partir de proto-
colos e rotinas existentes no município.
Implantar o programa de educação permanente
nas unidades de saúde da Secretaria Municipal
de Saúde de Sinimbu, Rio Grande do Sul.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Implantar o programa de educação permanen-
te sobre investigação e notificação dos óbitos
e agravos relacionados ao trabalho para os
responsáveis pela vigilância em saúde do traba-
lhador dos municípios da 14ª Coordenadoria
Regional de Saúde (CRS).
Implementar ações de educação permanente
como estratégia de qualificação do acolhimento
na atenção primária à saúde do município de
Dois Irmãos, Rio Grande do Sul.
Implementar ações de educação permanente no
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Rio Gran-
de do Sul, com vistas a qualificar o cuidado
centrado no paciente.
Propor ações de educação permanente, para
profissionais de saúde de uma instituição hospi-
talar, acerca do tema da violência e da vigilância
desse agravo.
Educação Capacitar os gestores e trabalhadores da Secre-
Gestão da para taria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul
educação na qualificação (SES/RS) em planejamento governamental e no 149
saúde do trabalho planejamento específico do Sistema Único de
em saúde Saúde.
Construir coletivamente, com equipes e gesto-
res, estratégias para otimizar as ações execu-
tadas no trabalho, qualificando as atividades
realizadas para o enfrentamento da sífilis
adquirida no município de Porto Alegre, na
perspectiva do conceito ampliado de saúde.
Implantar o uso da simulação realística para
qualificar profissionais da Atenção Primária.
Capacitar as equipes multiprofissionais dos
serviços de reabilitação intelectual do SUS do
Rio Grande do Sul, conforme as Diretrizes
da Reabilitação Intelectual: Atenção à Pessoa
com Deficiência Intelectual e/ou Transtorno
do Espectro Autista, estabelecendo o início do
processo de Educação Permanente em Saúde.
Promover o processo de educação permanente
em saúde mental ao agente comunitário de
saúde no município de Morro Reuter.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Propor ações de educação permanente com
vistas a implementar o acesso avançado em
uma equipe de Estratégia Saúde da Família do
município de Dois Irmãos, no Rio Grande do
Sul.
Propor ações de educação permanente como
estratégia de fixação dos profissionais do cargo
de assistente administrativo no setor de Folha
de Pagamento da Fundação Hospitalar de Sapu-
caia do Sul, Rio Grande do Sul.
Implementar ações de educação permanente
como estratégia para qualificar o acolhimento
aos usuários do CAPS AD do município de
Canoas, Rio Grande do Sul.
Capacitar a equipe de enfermagem que atua na
atenção primária à saúde para o atendimento
do paciente com lesão pós-alta hospitalar em
Canoas, Rio Grande do Sul, por meio de ações
Educação de educação permanente.
Gestão da para
Promover oficinas pedagógicas como forma de
educação na qualificação
150 educação permanente dos servidores de saúde
saúde do trabalho
dos municípios que compreendem a 18ª Coor-
em saúde
denadoria Regional de Saúde no SISREG.
Implementar ações de educação permanente
em Saúde com vistas a qualificar os serviços
de urgência e emergência do município de Rio
Grande, Rio Grande do Sul.
Propor ações de educação permanente para
melhorar a cobertura vacinal de crianças de 0 a
11 anos de idade no município de Canoas, Rio
Grande do Sul.
Instrumentalizar o enfermeiro do município de
Canoas, Rio Grande do Sul, para a realização
da gestão do cuidado integral à saúde da pessoa
idosa.
Implementar ações de educação permanente
com vistas a melhorar a adesão da equipe mul-
tiprofissional aos protocolos de segurança do
paciente em uma unidade de terapia intensiva
neonatal.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Implantar um programa de educação perma-
nente em saúde para fortalecer e qualificar os
processos de trabalho em um centro de atenção
psicossocial.
Implementar ações de educação permanente
com vistas a qualificar a assistência de enfer-
magem em uma unidade de terapia intensiva
neonatal.
Implementar estratégias de educação permanen-
te com vistas a promover melhoria dos processos
de trabalho nas unidades de atenção básica.
Propor ações de educação permanente com
vistas à formação de facilitadores capazes de
implantar o Programa de Segurança do Pacien-
te na Atenção Primária na 11º Região de Saúde
do Estado do Rio Grande do Sul.
Implementar ações de educação permanente
na Unidade Maternoinfantil do Hospital Escola
Educação da Universidade Federal de Pelotas visando à
Gestão da para qualificação técnica dos profissionais da equipe
educação na qualificação de enfermagem. 151
saúde do trabalho
em saúde Qualificar os profissionais das Divisões de
Vigilância Sanitária do Estado do Rio Grande
do Sul e dos seus municípios com base nos
preceitos da EP.
Demonstrar como a utilização das premissas
de Educação Permanente em Saúde (EPS)
pode aprimorar os processos de trabalho na
Regional.
Desenvolver ações de educação continuada
para fortalecer o Programa Primeira Infância
Melhor (PIM).
Elaborar um processo de qualificação da
Equipe de Saúde sobre o tema Acolhimento na
Demanda Espontânea como instrumento de
apoio ao trabalho dos profissionais no Centro
Municipal de Saúde.
Elaborar um Programa de Capacitação Perma-
nente em Saúde Mental e Trabalho para funcio-
nários públicos municipais de Sinimbu.
Fonte: Castro et al. (2020b)

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Diante do levantamento apresentado no Quadro 2, perce-
be-se que os problemas encontrados na gestão do trabalho e
da educação na saúde no estado do RS, diagnosticados pelos
alunos do CGTES, estão relacionados, em sua maioria (54%),
com a gestão do trabalho em saúde. Entre o quantitativo de
projetos de intervenção e de problemas identificados na ges-
tão do trabalho em saúde, 22 (43%) referem-se à necessidade
de desenvolvimento de mecanismos que facilitem a gestão do
trabalho nos serviços e sistemas de saúde, como a avaliação de
desempenho, o Plano de Carreiras, Cargos e Salários (PCCS) e
o dimensionamento de pessoal.
Apesar dos avanços provocados em todo o território brasi-
leiro a partir de 2003, com a criação de uma Secretaria dentro
da estrutura do Ministério da Saúde, a SGTES, voltada para
a gestão, regulação e formação dos trabalhadores do SUS, as
políticas e programas dessa Secretaria não têm ganhado visi-
152
bilidade nas instituições municipais e estaduais de saúde. Para
exemplificar, podemos citar o estudo elaborado por Castro et
al. (2019), no qual se identificou que as Secretarias Estaduais
de Saúde ainda enfrentam desafios para dimensionar a força
de trabalho em saúde, organizar ou aperfeiçoar sistemas de
informação que apoiem a gestão do trabalho em saúde, insti-
tuir ou aperfeiçoar a avaliação de desempenho e o PCCS, fazer
concursos públicos, definir estratégias de formação profissio-
nal articulada às necessidades do SUS, desenvolver ações estra-
tégicas para a saúde dos trabalhadores da saúde etc.
Na atual conjuntura vivenciada no Brasil, com avanço da
violação aos direitos sociais da classe trabalhadora, a proposi-
ção de intervenções que aprimorem a gestão do trabalho em
saúde e promovam melhorias nas condições de trabalho é pri-
mordial. Porém, diante de um cenário desfavorável à humani-
zação da gestão do trabalho em saúde, envolvendo a partici-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


pação dos trabalhadores do SUS, acredita-se que os projetos
de intervenção aqui expostos não terão muita governabilidade
para serem executados.
Para que mudanças de fato ocorram na gestão do trabalho
e da educação na saúde, além de qualificar a força de trabalho,
em especial aquela responsável pela gestão dos recursos hu-
manos do SUS, é preciso dar autonomia e valorizar os sujei-
tos envolvidos. Como garantir soluções por meio da educação
permanente se não existem condições de trabalho adequadas
para os profissionais?
A pandemia causada pela Covid-19 trouxe à tona proble-
mas crônicos que afetam o SUS e seus trabalhadores. O risco
de contaminação, adoecimento e morte gerou sofrimento psí-
quico nos trabalhadores da saúde, como ansiedade, estresse e
distúrbios do sono. Tal problemática é agudizada com o sub-
-financiamento do sistema público de saúde, deterioração dos
153
serviços de saúde e precarização da gestão e das relações de tra-
balho. Nessa situação caótica, os processos de trabalho precisa-
ram ser urgentemente reorganizados para atender à demanda,
sem necessariamente haver capacitação e proteção adequada
para os profissionais do SUS (TEIXEIRA et al., 2020).

POTENCIALIDADES E DESAFIOS DO CGTES

Na visão das tutoras e coordenadora local do CGTES no RS,


o resultado final do curso foi satisfatório e o mesmo foi bem
avaliado pelos alunos, demonstrando a contribuição dessa pro-
posta educativa para o aperfeiçoamento das suas práticas pro-
fissionais. Ademais, os cursistas também recomendam o ensino
a distância como estratégia para a qualificação dos demais pro-
fissionais que atuam nas Secretarias de Saúde envolvidas.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


A formação de especialistas em gestão do trabalho e da
educação na saúde, com visão crítica e reflexiva; a articula-
ção entre os conteúdos pedagógicos e as unidades didáticas,
oportunizando o acesso a novos conceitos; e a concepção pe-
dagógica problematizadora, buscando a construção do saber
a partir das vivências no contexto do trabalho, também foram
pontos destacados como potencialidades.
Ainda no rol das potencialidades do CGTES no RS, tam-
bém cabe ressaltar o apoio dado pela coordenação pedagógica
local e nacional do curso, assim como pela secretaria acadê-
mica, sendo um diferencial ao comparar-se com outras pro-
postas educativas que também são mediadas por tecnologias.
O livro didático do curso também foi visto como uma poten-
cialidade, sendo um material com vasto referencial teórico-
-metodológico, de fácil compreensão e de grande importância
para a condução do ensino-aprendizado.
154
Como desafios, destacam-se as instabilidades da platafor-
ma AVASUS, acarretando atrasos dos alunos para envio das
atividades; ausência de interatividade entre todos os partici-
pantes do curso (coordenadores, tutores e alunos) no ambien-
te virtual de aprendizagem; baixo desempenho dos cursistas
nas atividades didáticas, assim como nos fóruns virtuais e no
desenvolvimento dos TCCs. Como sugestão, acredita-se que
uma revisão do AVASUS e dos critérios de seleção dos cur-
sistas, incluindo apenas os trabalhadores que atuam na gestão
do SUS, pode ser uma possibilidade para a superação dos de-
safios apontados.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


UMA AGENDA PARA O FUTURO

Visando compreender o impacto do CGTES nos serviços de


saúde localizados no RS, é importante que os projetos de in-
tervenção apresentados sejam acompanhados longitudinal-
mente, avaliando quais foram implementados, as mudanças
provocadas e as fragilidades enfrentadas. Assim, poderá haver
um ciclo contínuo de melhorias e inovações voltadas à gestão
do trabalho e da educação na saúde, incluindo novas ofertas
de educação permanente para os trabalhadores que atuam no
SUS.
Para desenvolver esse ciclo contínuo de melhorias e inova-
ções no SUS gaúcho, acredita-se que os atores responsáveis pela
gestão do trabalho e da educação na saúde podem se debruçar
sobre a síntese dos principais problemas e temas prioritários de
intervenção abordados neste capítulo (Quadro 2), a saber: ne-
gociação do trabalho em saúde; saúde do trabalhador do SUS; 155

organização do processo de trabalho em saúde; mecanismos de


gestão do trabalho em saúde e educação para a qualificação do
trabalho em saúde.
Não podemos definir de que maneira as estratégias serão
desenvolvidas pela gestão do SUS no RS para solucionar os
problemas elencados. Porém, nos resumos dos TCCs contidos
no livro organizado por Castro et al. (2020b), são apontados
planos de ação, caracterizados como metodologias de interven-
ção, para que as propostas de melhorias saiam do papel e sejam
concretizadas.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendendo que se trata de uma proposta inacabada e


que a mesma não esgota todas as reflexões e percepções acer-
ca da ação educativa aqui discorrida, este capítulo objetivou,
com base nos relatórios produzidos pelas tutoras e coordena-
ção local do curso, relatar a experiência do desenvolvimen-
to do CGTES no RS e descrever as suas contribuições para a
gestão do trabalho e da educação na saúde no âmbito do SUS
gaúcho.
A partir disso, percebeu-se que o CGTES foi uma iniciativa
importante para a qualificação dos trabalhadores da saúde e
que a gestão do trabalho em saúde no referido estado é uma
área permeada por diferentes problemas. Recomenda-se que
a gestão do SUS estadual, com apoio da gestão federal, desen-
volva estratégias para implementar os projetos de interven-
156
ção elaborados pelos cursistas, em especial aqueles que visam
criar mecanismos para facilitar os processos de gestão da for-
ça de trabalho em saúde.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


REFERÊNCIAS

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Disponível em: http://observatoriorh.ufrn.br/uploads/
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LEITE, C. M.; PINTO, I. C. M.; FAGUNDES, T. L. Q. Educação


permanente em saúde: reprodução ou contra-hegemonia?

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


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e da educação na saúde: relatório final da coordenação local do
Rio Grande do Sul. Natal: Observatório de Recursos Humanos –
UFRN, 2019.
158

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


A Educação Permanente em Saúde:
contribuições para o fortalecimento da
gestão do trabalho e da Educação no
estado de Santa Catarina

Sheila Saint-Clair da Silva Teodósio | saintclairenf@gmail.com


Doutora em Enfermagem; professora do
Departamento de Enfermagem da UFRN

Nathalia Hanany Silva de Oliveira | nathalia.cgets@gmail.com


Mestra em Saúde Coletiva; pesquisadora do Observatório
de Recursos Humanos em Saúde da UFRN

Maria Eloiza Silva | eloiza.silva.116@ufrn.br


Estudante do Curso de Graduação em Saúde Coletiva da UFRN;
bolsista de Iniciação à Pesquisa do Observatório de
Recursos Humanos em Saúde da UFRN
INTRODUÇÃO

A Política de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde tem


como ponto principal a fundamental participação do traba-
lhador para a efetividade e eficiência do Sistema Único de
Saúde (SUS). Assim, ele se configura como importante pro-
tagonista de práticas e saberes, nos seus espaços de atuação
(MACHADO; XIMENES NETO, 2018).
A partir desse entendimento, o Observatório de Recursos
Humanos em Saúde e o Núcleo de Estudos em Saúde Cole-
tiva, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Nor-
te (NESC/UFRN), vêm desenvolvendo ações educativas, no
160
campo da gestão do trabalho e da educação na saúde, que se
articulam por possuírem problemas comuns, com o propósito
de possibilitar o intercâmbio de experiências e o debate para a
construção de soluções coletivas que contribuam na qualifica-
ção dos gestores e das ações desenvolvidas por estes.
Nesse intuito, foi elaborada a proposta de criação do Curso
de Especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na
Saúde. O curso surge como uma das estratégias de apoio à es-
truturação de uma rede de Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde no Brasil, tendo como eixo central o fortalecimento
da política de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
nos estados e municípios, principalmente, no que se refere à
qualificação dos técnicos que atuam nas dimensões política,
técnica e administrativa no setor público de saúde (CASTRO;
VILAR; LIBERALINO, 2018).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Segundo as autoras acima citadas, o curso resultou de uma
parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Nor-
te, por meio do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC),
Observatório de Recursos Humanos em Saúde, Secretaria de
Educação a Distância (SEDIS) e o Ministério da Saúde (CAS-
TRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
Ele teve como propósito qualificar os processos de gestão
do trabalho e da educação no âmbito do setor público de saú-
de, através da capacitação dos trabalhadores que atuam nas
dimensões política, técnica e administrativa (CASTRO; VI-
LAR; LIBERALINO, 2018). Convém destacar que ele se alia
aos desafios do SUS no que se refere a necessidade de promo-
ver mudanças na formação de pessoal, por meio de ações de
educação permanente, com o objetivo de promover transfor-
mações das práticas técnicas e sociais de saúde.
O curso foi ofertado no período de 2013 a 2019, para to-
161
das as regiões do Brasil, em três etapas. A primeira etapa foi
desenvolvida na Região Nordeste (2013-2014); a segunda,
nas Regiões Norte e Centro-Oeste (2014-2016); e a terceira,
nas Regiões Sul e Sudeste (2018-2019). O curso no estado de
Santa Catarina teve início em 30 de agosto de 2018, com 135
alunos matriculados, distribuídos em quatro turmas, e com 65
concluintes (CASTRO, 2019).
A aula inaugural do curso ocorreu, de forma presencial, na
Escola de Formação em Saúde (EFOS), no Município de São
José. Esse encontro objetivou promover a aproximação do alu-
no com a estrutura do curso e com o tutor. Nesta oportunidade,
foram discutidos o cronograma, o manuseio da plataforma e a
pactuação de compromissos em relação ao curso. Outro mo-
mento presencial ocorreu no dia 3 de julho de 2019, por oca-
sião da apresentação dos Trabalhos de Conclusão do Curso, e
culminou com a solenidade de encerramento da especialização.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Conforme previamente definido no projeto pedagógico
do curso, o público-alvo foi composto por trabalhadores com
atuação na área de Gestão do Trabalho e da Educação na Saú-
de, ocupantes de funções de assessoramento, coordenação ou
gerência de recursos humanos com ênfase para as áreas de
gestão e de preparação de pessoal; e, ainda, representantes dos
trabalhadores nas Mesas de Negociação do Trabalho das Se-
cretarias Municipais de Saúde (SMS) e Secretarias Estaduais
de Saúde (SES) e Mesa Nacional de Negociação Permanente
do SUS (CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
O referido curso adotou a modalidade da Educação a Dis-
tância (EaD)
por possibilitar a democratização do ensino profissio-
nal, proporcionando o acesso de um maior contingente
de profissionais, envolvidos na gestão do trabalho e da
162 educação no Sistema Único de Saúde (SUS). Muitos
desses, por diversas razões não conseguem ter acesso
aos cursos presenciais que, em geral, são realizados nos
maiores centros urbanos (TEODÓSIO, 2016a, p. 2-3).

No que concerne à metodologia, optou-se pelo método da


problematização, com atividades que dessem oportunidade à
reflexão crítica da realidade dos serviços de saúde, vivencia-
da pelos alunos em seus locais de atuação. Desse modo, teve
como ferramenta o Arco de Maguerez, partindo da proble-
matização das ações desenvolvidas na prática cotidiana e dos
seus determinantes, promovendo a articulação entre teorias e
práticas vividas, ensino-serviço e o redirecionamento de suas
práticas (TEODÓSIO, 2016a).
Essa escolha deveu-se ao entendimento de que a aproxi-
mação ensino-serviço deve ser tratada de forma significativa.
Para tanto, a organização das atividades de cada módulo do

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


curso procurou ampliar as possibilidades de desenvolvimento
de conhecimentos, competências e habilidades em uma rela-
ção estreita entre teoria e prática, ensino e serviço.
Ademais, a metodologia do curso estava alinhada aos fun-
damentos teóricos da educação permanente, entendida como
estratégia de formação e desenvolvimento dos profissionais da
saúde, a qual propõe que os processos de qualificação abordem
as necessidades de saúde das pessoas e comunidades no senti-
do de transformar essas práticas e a organização do trabalho.
Assim, a concordância entre o referencial teórico e metodoló-
gico permitiu que os alunos pudessem refletir e analisar de forma
crítica a realidade concreta, a partir dos cenários vivenciados co-
tidianamente no processo de trabalho, no sentido de buscar es-
tratégias de superação e propor intervenções que contribuíssem
para a modificação dos problemas identificados. A esse respeito,
Ceccim (2005, p.49) afirma que a capacitação dos profissionais
163
de saúde deve ser “estruturada a partir da problematização do seu
trabalho. Seu objetivo deve ser a transformação das práticas pro-
fissionais e da própria organização do trabalho”.
Neste sentido, a articulação ação-reflexão-ação das ativida-
des realizadas ao longo do curso possibilitou o desvelamento
dos problemas inerentes às áreas de Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde, alguns dos quais foram selecionados para
o trabalho de conclusão do curso (TCC), sob forma de proje-
tos de intervenção. Segundo Schneider e Flach (2017, p.7), “um
projeto de intervenção deve definir e orientar as ações plane-
jadas para resolução de problemas e/ou necessidades identifi-
cadas, preocupando-se em gerar mudança e desenvolvimento”.
A partir desse entendimento, os TCCs foram elaborados
com base nas demandas identificadas no local de prática real
dos alunos, criando possibilidades de transformação no seu
processo de trabalho e fortalecimento da gestão do trabalho e

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


da saúde. Pois, segundo Freire (1996, p. 28), “não aprendemos
para nos adaptarmos à realidade, mas, sobretudo, para trans-
formar, para nela intervir, recriando-a”.
Considerando que o TCC se constituiu em um importante
produto final pela sua estruturação em projetos de interven-
ção, os quais foram construídos a partir da prática real dos
alunos, surgiu a intenção de analisar as demandas referentes a
área de capacitação /formação presentes nos TCCs dos alunos
do Curso de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do
estado de Santa Catarina.
As fontes documentais que subsidiaram esse trabalho foram
os TCCs do Curso de Gestão do Trabalho e da Educação na
Saúde, que tiveram como temática central a área da gestão da
educação na saúde no sistema público de saúde, os relatórios
de final do curso, o relatório consolidado do curso do estado de
Santa Catarina e bibliografia pertinente ao tema. Para Teodósio
164
et al. (2016b), utilizar o documento como fonte de investigação
se constitui uma técnica importante pelo valor das informações
e verificação de dados que subsistem ao longo do tempo.
Deste modo, a análise temática dos documentos apontou
para duas categorias: as demandas dos gestores objeto das
intervenções da educação na saúde referentes a área de ca-
pacitação; e o referencial teórico que deu sustentabilidade às
intervenções propostas.

AS DEMANDAS DOS GESTORES OBJETO DAS INTERVENÇÕES DA


EDUCAÇÃO NA SAÚDE REFERENTES À ÁREA DE CAPACITAÇÃO

Os projetos de intervenção desenvolvidos no Curso de Espe-


cialização em Gestão do Trabalho e da Educação no estado de
Santa Catarina foram distribuídos nas seguintes áreas: Gestão

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


do Trabalho, 14; Gestão da Educação na Saúde, 31; e Gestão
em Saúde, 17 (CASTRO, 2019). As demandas da área de capa-
citação foram bem diversificadas, conforme o quadro abaixo.

Quadro 1 – Categoria 1 – Demandas referentes a área de


capacitação do estado de Santa Catarina

Demandas SC
Público da intervenção
• Trabalhadores/profissionais de saúde 8
• Gestores 3
Foco dos projetos de intervenção
• Ações educativas para melhoria da atenção e assistência à saúde da 6
população
• Ações para implantação e fortalecimento da EPS 2
• Ações educativas para melhoria do processo de trabalho administrativo 3
e de gestão
Âmbito governamental do projeto de intervenção 165

• Municipal 10
• Estadual 1
Fonte: Autoras

Quanto ao público-alvo dos projetos de intervenção em


Santa Catarina, em sua maioria, as ações educativas foram
destinadas aos trabalhadores/profissionais da saúde das di-
versas funções e profissões, em especial os Agentes Comu-
nitários de Saúde. Ademais, também foram público-alvo das
ações educativas os gestores.
Assim, as estratégias de educação na saúde apresentam-se
com um olhar sobre as necessidades da população, desenhan-
do-se como um processo de gestão participativa e transfor-
madora que inclui instituições de ensino, trabalhadores, ges-
tores e usuários, conformando o “quadrilátero da formação”
(FRANÇA et al., 2017).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Conforme é demonstrado no Quadro 1, seis projetos de
intervenção focaram na melhoria da assistência e atenção à
saúde da população; três foram de projetos de ações educati-
vas voltados para a melhoria do processo de trabalho admi-
nistrativo e de gestão; além de duas ações educativas voltadas
para implantação e fortalecimento da Educação Permanente
em Saúde.
Os dados acima confirmam o pensamento de França, et
al (2017), quando fala que a Educação Permanente em Saúde
(EPS) é compreendida como um conceito pedagógico que rela-
ciona ensino, serviço, docência e saúde, contribuindo para o de-
senvolvimento profissional, a gestão setorial e o controle social.
Assim sendo, a formação dos profissionais de saúde, para
ser viável, requer uma intervenção sobre a estrutura das prá-
ticas de saúde, articulando, cada vez mais intensa e organica-
mente, o mundo do ensino com o mundo do trabalho. Trata-
166
-se, por conseguinte, de reconhecer o caráter educativo do
próprio trabalho e de aproveitar as oportunidades educativas
proporcionadas pela organização e pelo desenvolvimento e
operação dos serviços de saúde, constituindo-se como base
estruturante de um processo político-pedagógico de forma-
ção (LEMOS; FONTOURA, 2009).
As principais áreas especificas que demandaram processos
de capacitação que se sobressaíram em Santa Catarina foram:
ações para o fortalecimento da educação permanente em saú-
de; saúde mental para o enfrentamento de problemas exis-
tentes, principalmente, na atenção básica; promoção a saúde;
manuseio e utilização de sistemas eletrônicos de informação;
e gestão do trabalho.
Desse modo, detectou-se que a maioria das demandas ain-
da é por processos de capacitação dos profissionais, em de-
corrência de vários fatores a exemplo de: alta rotatividade no

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


trabalho, mudanças no processo de trabalho, inovações tec-
nológicas, entre outros.
Observa-se, também, que ainda há a necessidade do fortale-
cimento da EPS, pela existência de diversas dificuldades, dentre
elas, a assistência à saúde fragmentada, as práticas curativistas
e centradas em procedimentos, o que reforça a necessidade de
efetivação dessa política (MENDONÇA; NUNES, 2011).
No que concerne a esfera governamental, os projetos de in-
tervenção, estão vinculados aos âmbitos municipal e estadual,
considerando a vinculação institucional e a vivência do pro-
fissional idealizador do projeto. Desse modo, os profissionais
do Estado de Santa Catarina propuseram dez intervenções em
nível municipal e uma estadual.
Embora haja um substancial quantitativo de ações educa-
tivas na esfera municipal, Peres, Silva e Barba (2016) afirmam
que as ações de Educação Permanente se encontram fragiliza-
167
das nos municípios devido à ruptura de políticas municipais
em razão da alternância de governo. Embora essa esfera de
governo tenha potencial para efetivar a EPS, também desta-
cam as referidas autoras.
Contudo, recentemente buscou-se resgatar o protagonismo
de quem executa a Política de Educação Permanente, especial-
mente as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, em um
processo que contou com apoio institucional do Ministério da
Saúde para o desenvolvimento de iniciativas que possibilitaram
a retomada do planejamento ascendente, em um esforço cole-
tivo para a realização de ações articuladas entre os três níveis
de gestão, valorizando as experiências em curso no país, divul-
gadas por meio do Laboratório de Inovações em Educação na
Saúde, as quais evidenciam a potencialidade da PNEPS no que
diz respeito à contribuição para a melhoria da qualidade dos
serviços prestados pelo SUS (GONÇALVES et al., 2019).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Cabe destacar que o quantitativo de projetos de interven-
ção por âmbito de governança não está proporcionalmente
definido. Como mencionado, os projetos de intervenção têm
ligação com a vinculação institucional dos profissionais, já
que o objetivo do curso é a mudança da realidade e da prática.
No entanto, o público do curso não foi selecionado seguindo
o critério de proporcionalidade entre as esferas municipais e
estadual, e sim por sua vinculação com a área de Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde.
Vale destacar também que as demandas de ações educati-
vas se articulavam às estratégias de capacitação, tendo como
referencial teórico os pressupostos da Educação Permanente
em Saúde.

AS CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO PERMANENTE


168
EM SAÚDE PARA O DESENVOLVIMENTO DAS
PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO

Conforme a análise dos TCCs e relatórios do Curso de Gestão


do Trabalho e da Educação na Saúde, as propostas de inter-
venção elaboradas pelos gestores estão em consonância com
os pressupostos defendidos pela Política Nacional de Educa-
ção Permanente em Saúde, principalmente, no que se refere à
construção de uma prática na transformadora, reconhecendo
a educação permanente como fundamental para o desenvol-
vimento dos profissionais, quando pensada como uma peda-
gogia problematizadora (CECCIM, 2005).
A Educação Permanente em Saúde surgiu como uma po-
lítica de formação e desenvolvimento dos trabalhadores para
o SUS, tendo como propósito desencadear mudanças no pro-
cesso de educação dos profissionais da saúde, para atender

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


às reais necessidades de saúde da população. Suas diretrizes,
para a implementação, foram publicadas no ano de 2007, atra-
vés da Portaria GM/ MS 1.996/07 (BRASIL, 2009).
Conforme Ceccim (2005), a Educação Permanente em
Saúde apresenta, desde a sua origem, um amplo conjunto de
concepções. No entanto, ele considera que
[...] o que deve ser realmente central à Educação Per-
manente em Saúde é sua porosidade à realidade mutá-
vel e mutante das ações e dos serviços de saúde; é sua
ligação política com a formação de perfis profissionais
e de serviços, a introdução de mecanismos, espaços e
temas que geram autoanálise, autogestão, implicação,
mudança institucional (CECCIM, 2005, p.167).

Para o autor, a transformação das práticas de cuidado à saú-


de somente é efetivada quando há intenção de mudar e incor-
169
porar novas concepções e elementos a essas práticas. Para tanto,
torna-se crucial o desenvolvimento de recursos tec-
nológicos de operação do trabalho perfilados pela
noção de aprender a aprender, de trabalhar em equi-
pe, de construir cotidianos eles mesmos como objeto
de aprendizagem individual e coletiva e institucional
(CECCIM, 2005, p. 163).

As ações educativas propostas para o enfrentamento das


demandas dos gestores do Curso de Especialização em Gestão
do Trabalho e da Educação na Saúde estavam em consonân-
cia com os pressupostos da Educação Permanente em Saúde,
centrados na aprendizagem significativa. Algumas demandas
se referiram à capacitação dos gestores e coordenadores dos
Núcleos de Educação Permanente em Saúde, por ainda per-
sistir pouco domínio sobre a concepção da PNEPS.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


A esse respeito, a literatura mostra a importância de se
discutir o papel da educação permanente partindo-se da ne-
cessidade de capacitação dos profissionais para enfrentar as
mudanças no mundo do trabalho, tendo como parâmetro a
educação reflexiva, crítica e participativa. Além disso, ressalta-
se que a educação permanente assume uma posição estraté-
gica nas instituições de saúde, a partir da adoção da gestão
participativa. A flexibilização de gestão, a participação e a
interdisciplinaridade são estratégias efetivas na execução do
trabalho em saúde (CECCIM; FEUERWERKER, 2004).
Afinal,
a transformação do trabalho é o objetivo central da
educação permanente na saúde, e esta visa à reorga-
nização e melhoria da gestão e da qualidade dos ser-
viços, ao possibilitar cuidados e acesso aos serviços de
170
saúde com equidade (LEITE; PINTO; FAGUNDES,
2020, p. 5).

Destarte, torna-se imprescindível a participação e envol-


vimento de todos que compõem o quadrilátero da formação:
ensino, serviço, gestão e controle social, em nível local, para
que possam refletir sobre suas necessidades de intervenção e
qualificação no que diz respeito aos processos de educação
permanente (CECCIM; FEUERWERKER, 2004).
Portanto, ressalta-se que a educação permanente, como
uma das dimensões importantes para a materialização de
uma política de desenvolvimento de pessoas em uma institui-
ção, servindo como processo de construção permanente do
conhecimento e desenvolvimento profissional, permitiu que,
através das intervenções os gestores pudessem agregar contri-
buições fundamentais para as mudanças nas práticas da saúde
do estado de Santa Catarina.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise dos TCCs e relatórios do Curso de Gestão


do Trabalho e da Educação na Saúde, percebeu-se que a maio-
ria das demandas dos projetos de intervenção foram destina-
das à educação na saúde para os profissionais do SUS, prin-
cipalmente, no âmbito municipal, em decorrência de vários
fatores, a exemplo de: alta rotatividade no trabalho, mudanças
no processo de trabalho, inovações tecnológicas, entre outros.
As principais áreas específicas que demandaram processos
de capacitação foram, dentre outras: acolhimento na perspec-
tiva da humanização do atendimento do usuário nos serviços
de saúde; saúde mental para o enfrentamento de problemas
existentes principalmente, na atenção básica; manuseio e uti-
lização de sistemas eletrônicos de informação, saúde do traba-
lhador e gestão do trabalho.
171
No que se refere às propostas de intervenção elaboradas
pelos gestores, todas tiveram como referencial os pressupos-
tos defendidos pela EPS, principalmente, no que se refere a
construção de uma prática na saúde transformadora, tendo
como eixo norteador a aprendizagem significativa e a meto-
dologia problematizadora.
Contudo, ainda se observa a necessidade do fortalecimen-
to da EPS, pela existência de diversas dificuldades, o que re-
força a necessidade de reflexões e análises sobre a efetivação
dessa política.
No que pese a existência de algumas fragilidades na imple-
mentação da EPS, em Santa Catarina, constatou-se que a EPS,
como estratégia fundamental para a mudança no sistema de
saúde e para a recomposição das práticas de formação, atenção,
gestão, formulação de políticas e controle social no setor saúde,
contribuiu, sobremaneira, para o fortalecimento da qualificação

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


das ações na área da gestão do trabalho e da educação na saúde,
das instituições públicas de saúde do estado de Santa Catarina.
Assim, almeja-se que o estudo contribua à reflexão sobre
os desafios do trabalho e da educação na saúde, com a pro-
moção de debates sobre políticas públicas que favoreçam mu-
danças nas práticas de saúde dominantes tendo, como efeito,
melhorar os resultados de saúde da população.

172

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


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175

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Novos e persistentes desafios: lições
aprendidas no Curso de Especialização em
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde

Marcelo Viana da Costa | vianacostam@yahoo.com.br


Doutor em Ciências da Saúde; docente da Escola Multicampi de Ciências
Médicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Flávia Maraísa de Paiva Silva | flavia.maraisa@hotmail.com


Enfermeira do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas do
município de Pombal/PB; mestra em Práticas de Saúde e Educação
INTRODUÇÃO

A gestão do trabalho e da educação na saúde no contexto do


Sistema Único de Saúde (SUS) é uma necessidade frente ao
papel central das relações de trabalho e do perfil dos profissio-
nais de saúde para a viabilização do processo de reorientação
do modelo de atenção à saúde, com vistas a efetividade e efici-
ência do SUS. Portanto esse debate torna-se fundamental para
aperfeiçoar os processos de trabalho e o processo de formação
e qualificação profissional para assegurar a efetiva melhoria
dos serviços prestados à população (MACHADO; XIMENES
NETO, 2018).
177
As demandas para a gestão e a gerência de serviços e pro-
cessos exigem o desenvolvimento de competências gerenciais
para a consolidação do Sistema Único de Saúde. Os profissio-
nais precisam ser qualificados para gerir as unidades de saúde,
para dirigir áreas como Recursos Humanos, para dirigir ou
coordenar outras áreas e funções, enfim, assumir posição de
decisão em áreas estratégicas para o funcionamento do SUS
(BRASIL, 2003).
Com esse compromisso, o Observatório de Recursos Huma-
nos em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), em parceria com o Ministério da Saúde elaboraram a
oferta do Curso de Especialização em Gestão do Trabalho e da
Educação em Saúde (CGTES). Na perspectiva de investir na
gestão e educação dos profissionais de saúde enquanto forma
de fortalecimento do Sistema Único de Saúde, o curso foi ofer-
tado para as cinco regiões que compõem o território brasileiro.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Na região Sudeste, especificamente no estado de São Paulo, o
curso ocorreu no período de agosto de 2018 a julho de 2019.
O processo seletivo aconteceu através do Edital Público n.º
003/2018 – DSC/NESC/UFRN, publicado no dia 23 de abril de
2018, com todas as orientações regulamentadoras.
O curso teve como propósito qualificar os processos de
gestão do trabalho e da educação em saúde no âmbito do se-
tor público de saúde, por meio da capacitação dos técnicos
que atuam nas dimensões política, técnica e administrativa.
O público-alvo foram profissionais ocupantes das funções de
assessoramento, coordenação ou gerência de recursos huma-
nos, em especial das áreas de gestão e preparação de pessoal,
e representantes dos trabalhadores nas mesas de negociação
do trabalho do SUS (CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
Além da importância histórica, a iniciativa se configura
como estratégia do Ministério da Saúde para implantação da
178
Política de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde nos es-
tados e municípios, visando estruturar uma rede de gestores
nessa área, bem como avançar na democratização das relações
de trabalho e melhoria das condições de atuação profissional e
atendimento no SUS (CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
Considerando a complexidade deste campo de discus-
são, a criação de espaços democráticos de diálogo favorece a
aproximação às tecnologias leves de cuidado, possibilitando
o fomento à humanização e reorientação da atenção à saúde.
No estado de São Paulo, para o CGTES, foram organizadas
quatro turmas do referido curso, contendo carga-horária de
380 horas, com sua estrutura organizada em quatro unidades
didáticas, constituídas por módulos.
O curso possibilitou aos estudantes a oportunidade de
analisarem a realidade dos seus territórios, ou seja, a gestão
do processo de trabalho e do processo educacional, identifi-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


cando potencialidades e, especialmente, fragilidades, as quais
despertaram reflexões e propostas de intervenção.
A partir da visualização dos desafios e entraves identifica-
dos dentro das práticas profissionais no âmbito dos recursos
humanos, o CGTES foi articulado com o objetivo de ampliar
o acesso dos trabalhadores de saúde, em especial os gestores
da área de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, a uma
experiência educativa que contribuísse para a qualificação do
processo de trabalho desenvolvido.
No estado de São Paulo foram articuladas quatro turmas, com
127 cursistas ingressantes, de 37 municípios diferentes. Destes
profissionais, 87 (69%) apresentaram o Trabalho de Conclusão
do Curso e obtiveram, portanto, o título de especialistas em Ges-
tão do Trabalho e da Educação na Saúde.

179
GESTÃO DO TRABALHO EM SAÚDE

A literatura apresenta diferentes significados para a Gestão do


Trabalho em Saúde. Independente da definição adotada, o de-
bate ao longo da história aborda as questões relacionadas ao
trabalhador e seu trabalho. Esse debate possibilita a reflexão
sobre as transformações no mundo do trabalho e suas influên-
cias no trabalho em saúde. Questões relacionadas às condições
do trabalho, direitos dos trabalhadores de saúde, precarização
do trabalho, participação nos processos decisórios e de elabo-
ração de políticas públicas, desenvolvimento de protagonismo
nas decisões que repercutem no trabalho e na vida do traba-
lhador de saúde são aspectos a serem considerados como for-
ma de viabilizar uma atenção à saúde mais resolutiva, eficiente
e coerente com os princípios de uma sociedade democrática e
humana (VIANA; MARTINS; FRAZÃO, 2017).

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


O mundo do trabalho passou por importantes transforma-
ções nos diversos momentos da história, o que acabou por in-
fluenciar o trabalho em saúde. Por se tratar de um importante
setor da economia muitas das mudanças decorrem de inte-
resses do mercado, que acabam trazendo consequências para
os trabalhadores e, sobretudo, para a qualidade dos serviços
de saúde. Um bom exemplo para ilustrar essa problemática
é a fragilização da defesa do Estado de bem-estar social, com
uma defesa cada vez mais forte de uma sociedade regulada
pelos interesses do mercado. Nessa lógica, o trabalhador vem
vivenciando progressivas perdas de seus direitos, com uma
estrutura de suporte cada vez mais frágil. A redução do papel
do Estado tende a fragilizar o sistema de proteção social, com
intensa precarização do trabalho (JUNQUEIRA et al., 2010).
No campo da saúde essa realidade se mostra cada vez mais
evidente. A forte divisão do trabalho, o intenso processo de
180
alienação do trabalhador, reduções de direitos e da capacida-
de de participação nos processos que interferem na vida e no
trabalho acabam por trazer prejuízos para a qualidade de vida
do trabalhador, com implicações marcantes na luta histórica
pela construção e consolidação de um sistema de saúde mais
forte e comprometido com as transformações sociais que a
sociedade requer. Diferentes formas de contratações dos pro-
fissionais de saúde, pouca participação nas políticas e ações
relacionadas ao trabalho, grande rotatividade em razão de
frágeis processos de fixação dos profissionais, grande compe-
titividade, ausência de políticas de remuneração e de carrei-
ras e de capacitação têm um peso importante no processo de
fortalecimento do SUS (MACHADO; OLIVEIRA; MOYSES,
2011).
O processo de precarização do trabalho em saúde vem sen-
do debatido nos anos mais recentes como forma de identificar

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


os seus determinantes e efeitos sobre a vida dos trabalhadores
e trabalhadoras. Os sinais da precarização se travestem muitas
vezes de modernização da gestão dos serviços de saúde, com
especial destaque para a terceirização dos serviços de saúde.
Essa pretensa modernização vem acompanhada de baixos sa-
lários, novos regimes de trabalho, redução da segurança e da
proteção ao trabalhador, que também não vivencia a fragiliza-
ção de movimentos coletivos de defesa de melhores condições
de trabalho. As reformas trabalhistas e a redução do papel dos
sindicatos são aspectos de uma realidade que avança na fra-
gilização do trabalhador como sujeito de transformação e o
torna objeto de uma engrenagem orientada nos moldes do
capitalismo mais perverso (DRUCK, 2016).
Essas problemáticas têm repercussões importantes para a
saúde do trabalhador, mas também para a manutenção de um
projeto de continuidade na construção das diretrizes funda-
181
mentais do SUS. Assim, o debate sobre a gestão do trabalho
em saúde no SUS deve ser espaço de luta pela dignidade do
trabalhador de saúde, compreendendo a inviabilidade de for-
necer serviços de saúde de qualidade com um sistema que
não protege os trabalhadores e permite a descontinuidade dos
processos estruturantes de reorientação do cuidado em saúde.
Considerando essa realidade, diversos temas relacionados
à gestão do trabalho em saúde foram abordados no curso, a
saber: Plano de Carreiras, Cargos e Salários e Remuneração,
formas de contratação, regimes de trabalho, participação dos
trabalhadores em mesas de negociações, estes foram alguns
aspectos reiterados pelos cursistas como relevantes para que o
resgate e avanços de políticas capazes de construir uma nova
lógica na relação entre trabalho e trabalhadores de saúde.
Importante destacar a complexidade desse debate em um
contexto marcado onde o ideário neoliberal se faz cada vez

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


mais forte. Espaços de debates e de resgate da responsabilida-
de coletiva se faz mais necessária do que nunca. As reformas
neoliberais mostram sua força e o processo de construção,
consolidação e fortalecimento do SUS pode estar ameaçado
em razão da priorização dos interesses do mercado em detri-
mento da construção de uma sociedade mais justa e humana.
Discutir o trabalho em saúde e seus trabalhadores é premissa
para que se tenha um novo projeto de sociedade.

GESTÃO DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE

A preocupação com o processo de formação dos profissionais


em saúde no Brasil não é recente; o país acompanhou o movi-
mento global com o escopo de adequar os perfis profissionais às
necessidades de saúde da população e ao fortalecimento dos Sis-
182 temas Nacionais de Saúde (BATISTA, 2013; FEUERWERKER,
2007). Assim, a discussão em torno da elaboração de propostas
que pudessem se configurar como contra hegemônicas, ante-
cede até mesmo a criação e implantação do Sistema Único de
Saúde, sendo contemporânea do movimento da medicina co-
munitária que ganhou força no âmbito dos departamentos de
medicina preventiva. O processo de formação ganha destaque
nesse momento histórico, na medida em que se discutia a inco-
erência de uma reforma do setor saúde, sem a necessária refor-
ma do processo de formação da força de trabalho, que seria a
sustentação deste (GONZÁLEZ; ALMEIDA, 2010).
Desse período até a atualidade, as iniciativas, movimentos
e políticas com foco na reorientação da formação em saúde
assumiram configurações distintas, muitas vezes mudando o
tom por força das concepções de grupos. Essa realidade, pre-
sente na literatura nacional, mostra a fragilidade, em alguns

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


momentos da história, das iniciativas enquanto política de Es-
tado, na medida em que transitava de formato, por mudanças
de governo (DIAS; LIMA; TEIXEIRA, 2013).
Destarte, a gestão da educação na saúde também assume
papel estratégico no processo de fortalecimento do SUS. O
debate sobre a gestão da educação na saúde se justifica pela
necessidade de desenvolver perfis profissionais coerentes com
as necessidades de saúde das pessoas e comprometidos com
os princípios fundamentais do SUS. Nesse sentido, a gestão
do trabalho e da educação na saúde são fundamentais para a
reorientação do modelo de atenção à saúde.
Partindo desse pressuposto o Curso de Gestão do Trabalho
e da Educação na Saúde estimulou, também, o desenvolvimen-
to de estudos e pesquisas relacionadas à gestão da educação na
saúde. Interessante notar que a Política de Educação Perma-
nente em Saúde foi o principal tema trabalhado pelos cursistas,
183
o que mostra o seu papel estruturante na definição de processos
de formação e qualificação profissional sólidos, sustentáveis e
coerentes com as lutas e compromissos históricos com o SUS.
A Educação Permanente em Saúde se propõe a atuar em
três áreas estratégicas: a educação em serviço, como forma de
assegurar qualificação técnica diante das transformações em
curso; a educação continuada, com o objetivo de qualificar a
força de trabalho em saúde, em seus locais de trabalho e a edu-
cação formal dos profissionais de saúde, em que as instituições
formadoras, também, eram espaços dessa política (CECCIM,
2005). No curso, os participantes discutiram mais fortemente
os processos de educação em serviço, reconhecendo o caráter
transformador do trabalho como princípio educativo.
Pensar a reorientação da formação profissional exige um
exercício de reflexão sobre a realidade dos serviços de saúde.
Produções teóricas importantes chamam a atenção para que

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


a reforma dos sistemas de saúde aconteça em paralelo com
reformas no ensino dos profissionais de saúde e aponta como
áreas críticas, a formação na perspectiva interprofissional e
a aproximação entre formação e serviços de saúde, além de
transformações em elementos estratégicos do processo de en-
sino e aprendizagem, no intuito de superar o modelo tradi-
cional de formação na área da saúde (CRISP; CHEN, 2014;
THIBAULT, 2013).
Partindo dessa premissa e olhando atentamente para a
realidade brasileira é possível visualizar importantes iniciati-
vas em torno do processo de reorientação da formação dos
profissionais de saúde. As transformações alcançadas até aqui
são fruto, portanto, de esforços conjuntos do Estado, que nos
diversos momentos históricos redesenha as políticas voltadas
para a formação profissional; das instituições, que estimulam,
ou devem estimular novas estratégias de aprendizagem, bem
184
como mudanças curriculares, entre outras frentes de atuação;
dos professores que devem entender o seu papel diante dos
desafios impostos à formação; e, por último, os alunos, que
devem entender a necessidade de sujeitos aptos a atuarem sob
novas bases.

TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO

Consolidando os objetivos da proposta educacional do CG-


TES, para Trabalho de Conclusão, os cursistas foram orienta-
dos a desenvolver projetos de intervenção com temáticas na
área de Gestão do Trabalho ou da Educação na Saúde, par-
tindo das fragilidades diagnosticadas durante a realização do
curso em seu ambiente de trabalho, de forma que pudessem
trazer melhorias para sua instituição. O projeto de interven-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


ção teve este princípio, o produto final, deveria ter o com-
promisso com a possibilidade de intervir na realidade e por
consequência transformá-la na medida em que estes projetos
possam ser implantados.
De forma geral, a maior parte dos cursistas já tinha defi-
nido ao longo do curso qual tema seria trabalhado no TCC,
uma pequena minoria teve dificuldades em definir o tema.
Podemos observar no quadro abaixo que a grande maioria
dos projetos de intervenção trataram do tema da Gestão da
Educação na Saúde; sendo que os demais trataram da Gestão
do Trabalho, onde apareceram temas da área de Humaniza-
ção entre outros, como também, no que se refere a Gestão de
Sistemas, isso mostra que os temas foram definidos de acordo
com o preconizado pelo projeto pedagógico do curso, ou seja,
com o diálogo constante com a realidade do lócus de trabalho
que o aluno fazia parte.
185

Quadro 1 – Relação Trabalho de Conclusão


de Curso (TCC) e Tema Central

Estado Gestão do Trabalho Gestão da Educação Gestão de Sistemas/


em Saúde na Saúde Serviços de Saúde
% % %
SP 32,1% 47,3% 20,6%
Fonte: Autores

Os temas abordados em menor intensidade podem ser for-


talecidos em outros momentos direcionados aos profissionais,
a partir de experiências de outros formatos educacionais, visto
que o ensino a distância, apesar das facilidades, promove um
espaço de autorresponsabilidade que muitas vezes distancia
alguns perfis de cursistas. Discussões em diferentes experiên-
cias precisam ser fomentadas dentro da realidade dos muni-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


cípios no intuito de esclarecer e consolidar o entendimento e,
consequentemente, seu papel fundamental no direcionamen-
to do processo de trabalho.
Observou-se que os cursistas tiveram muitas dificuldades
quanto à metodologia científica, formatação e normalização
dos trabalhos, visto que muitas vezes dominavam o conteú-
do teórico, mas não sabiam estruturar no formato de traba-
lho científico. Com a tutoria, foi realizado fortalecimento das
orientações necessárias, com a conclusão de trabalhos satisfa-
toriamente avaliados.
Essa fragilidade, identificada como a mais acentuada no pro-
cesso de construção dos trabalhos, reflete uma lacuna na for-
mação acadêmica, demonstrando a necessidade de uma aborda-
gem mais aprofundada em momentos de qualificação, visto que
para muitos este domínio é algo distante da sua prática.
186

DESAFIOS E SEUS DETERMINANTES

Entendemos que no estado de São Paulo há uma carência de


profissionais com formação nesta área, uma vez que poucos
processos de formação foram ofertados. Além disso, em mui-
tos municípios menores não há uma estrutura formal de Ges-
tão do Trabalho e da Educação na Saúde, ficando esta temáti-
ca sob a responsabilidade de outras secretarias do município,
contribuindo inclusive para o distanciamento dos profissio-
nais em relação à temática.
Quanto à experiência dos cursistas com o material di-
dático e com a plataforma, houve uma pequena dificuldade
na fase inicial de adaptação à plataforma, no entanto, logo
se adaptaram ao acesso e uso. Alguns cursistas costumavam
complementar as atividades com referencial teórico além dos

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


que eram adotados no curso, no entanto, algumas ferramentas
do ensino a distância apresentaram pouca adesão, como os
fóruns, que obtiveram participação bastante tímida, mesmo
mediante estímulo por meio da tutoria.
Em relação à experiência do tutor com a plataforma, aconte-
ceu de forma harmônica, sem relato de dificuldade. A formata-
ção da plataforma foi desenvolvida para oportunizar uma expe-
riência intuitiva, facilitando rapidamente a adaptação. Também
houve suporte técnico da Secretaria de Educação a Distância
(SEDIS) para tirar dúvidas e resolver problemas técnicos.
Outra dificuldade evidenciada pelos cursistas foi a dispo-
nibilidade de acompanhar o cronograma do curso quanto ao
prazo de envio das atividades, de modo que muitos se man-
tiveram atrasados em relação cronograma durante o curso.
Como limitação de um curso a distância, tem-se a dificuldade
que alguns cursistas apresentaram de lidar com a autonomia,
187
com a liberdade que o ambiente virtual promove e com a res-
ponsabilidade de montar uma programação de estudo sem a
presença física de um professor, o que colaborou com os atra-
sos nos envios das atividades e pode ter contribuído para as
desistências ao longo do curso.
Essa adversidade passou a demandar do tutor mensagens
constantes de estímulo a fim de que não desistissem do curso
e conseguisse acompanhar o cronograma, tendo para isso, su-
porte da coordenação local que esteve sempre disponível para
entrar em contato com os cursistas quando necessário.
Como forma de promover mais uma ferramenta para
aproximar os cursistas, bem como intensificar e facilitar o diá-
logo, foram criados grupos de WhatsApp, onde o tutor atuou
no sentido de discutir as principais dificuldades enfrentadas
pelos cursistas e a discutir coletivamente estratégias para o
enfrentamento das dificuldades.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


POTENCIALIDADES DO CURSO

Destaca-se como potencialidade dessa experiência a qualifi-


cação de profissionais do Sistema Único de Saúde na modali-
dade de Educação a Distância (EaD), o que permitiu que vá-
rios profissionais, de diferentes municípios do estado de São
Paulo, tivessem a oportunidade de se aperfeiçoar, participan-
do de um curso de especialização ofertado por uma universi-
dade pública de outra região geográfica do país.
A Educação a Distância (EaD) é considerada uma mo-
dalidade de ensino estratégica na educação permanente dos
profissionais de saúde. Ela facilita a autoaprendizagem, com a
ajuda de recursos didáticos organizados, e pode ser utilizada
por diversos meios de comunicação. No Brasil, a EaD é recen-
te e tem alcançado impulso e expressão política com a Nova
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei n. 9394 de
188 1996, que a colocou como modalidade regular integrante do
sistema educacional nacional (OLIVEIRA, 2007).
O uso das estratégias da educação a distância tem tido uma
importante contribuição para o desenvolvimento dos recur-
sos humanos em saúde, seja no processo de formação, seja no
processo contínuo de conhecimento, visto que permite a troca
de experiências que contribuem para a construção do conhe-
cimento, mesmo que os profissionais estejam em espaços e
tempos não compartilhados (SILVA et al., 2015).
Outra potencialidade visualizada nessa experiência de
tutoria foi a metodologia adotada no curso que permitiu a
reflexão sobre a prática profissional com vistas a sua trans-
formação. A realização de um projeto de intervenção no final
do curso provoca a construção de uma contribuição, a partir
dos conhecimentos adquiridos no curso, com melhorias em
sua instituição, fortalecendo assim o SUS. O aluno aprende a

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


produzir conhecimento a partir de um estudo da realidade, e
o mais importante, dá uma contribuição para melhora do ce-
nário do trabalho em saúde no qual ele mesmo está inserido.
A utilização da metodologia problematizadora para con-
dução do processo ensino-aprendizagem oportunizou a cons-
trução do saber vinculada ao contexto de trabalho nos quais
os cursistas estavam inseridos. A construção do conhecimen-
to ocorreu a partir das experiências dos cursistas, buscando
desenvolver atitudes críticas e criativas para que os profissio-
nais pudessem intervir com ações que pudessem contribuir
para as mudanças e qualificação de seus processos de trabalho
(CASTRO; VILAR; LIBERALINO, 2018).
O uso de metodologias problematizadoras permite a refle-
xão sobre a prática profissional. Essas metodologias revelam-
se como estratégias eficazes para incentivar os cursistas a re-
fletirem sobre situações complexas e particulares dos sistemas
189
e dos serviços de saúde em que trabalham com vistas a sua
transformação (FORTE et al., 2015; CRUZ et al., 2015).
A metodologia adotada permitiu que os cursistas refletissem
sobre sua realidade local, a partir do referencial teórico adotado
no curso, e elaborassem, ao longo das atividades, propostas de
melhorias dos serviços em suas unidades/setores de trabalho.
Considerando a carência de gestores na área de Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde, o CGTES mostra-se como
uma estratégia de fundamental importância para implantação
da Política de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde
no estado de São Paulo, contribuindo para a estruturação da
rede de gestores nessa área, bem como para a democratização
das relações de trabalho e melhoria das condições de atuação
profissional e atendimento no SUS.
O CGTES propôs e executou um diferencial didático peda-
gógico na produção de conhecimentos a distância, pois, ape-

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


sar de ser na modalidade EaD, aproxima os profissionais de
seus cenários de prática.

UMA AGENDA PARA O FUTURO

Elaborar uma agenda para o futuro em relação aos aspectos


da gestão do trabalho e da educação na saúde não é uma tare-
fa simples, tendo em vista a complexidade do momento atual.
Não há um caminho claro num contexto marcado por mui-
tos retrocessos e pela fragilização dos ideais do bem coletivo.
Apesar do reconhecimento dessa dificuldade, uma pergunta
pode ser útil na elaboração de uma agenda para o futuro: Qual
sociedade precisamos construir nos próximos anos? Reflexões
realizadas a partir dessa provocação pode ajudar a pensar ações
estratégicas para a gestão do trabalho e da educação na saúde.
190 O aumento da desigualdade social, agravado pela redução do
papel do Estado pressiona mais fortemente o setor saúde, que
também é desmontado por políticas de austeridade fiscal (CHA-
VES; GEHLEN, 2019; CAMPELLO et al., 2018). Nessa perspec-
tiva há uma fragilização dos ideais da reforma sanitária brasi-
leira que traz, sobretudo, uma proposta de uma sociedade mais
justa e igualitária. Com o passar do tempo ficará mais evidente
que a luta por um sistema de saúde forte, resolutivo, equânime,
universal e integral não condiz com políticas sociais e econômi-
cas que fragilizam o sistema de proteção social. A defesa intran-
sigente da concepção ampliada de saúde como exercício pleno
de cidadania certamente deve ser reforçada como premissa na
orientação da elaboração de políticas sociais e econômicas.
Por outro lado, se o desejo é por uma sociedade mediada
pelos interesses econômicos, certamente os rumos atuais serão
exitosos. O argumento de redução dos direitos trabalhistas e

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


fragilização do sistema de proteção do trabalhador como pre-
missa para o desenvolvimento social e econômico vem trazen-
do outras consequências: aumento da pobreza, da miséria, da
desigualdade social. Essa realidade torna a vida de muitos tra-
balhadores muito mais difícil e o dia a dia é marcado pela busca
por um padrão mínimo de sobrevivência. Cada um buscando
sua sobrevivência, fragilizando os coletivos organizados, pos-
sibilitando o florescimento de interesses das grandes corpora-
ções. Nessa perspectiva, a competição vai se tornando cada vez
mais natural e os sofrimentos se intensificam (D’ANGELO;
RABELO, 2018; PITOMBEIRA; OLIVEIRA, 2020).
A leitura do contexto atual, certamente, pode ser feita a
partir de diferentes visões de mundo ou influências teóricas, o
que é muito legítimo. Entretanto, o debate sobre uma agenda
para o futuro da gestão do trabalho e da educação na saúde
requer o resgate e defesa dos referenciais que valorizem a vida,
191
a centralidade do trabalho como categoria de transformação
da vida do trabalhador de saúde, que é percebido como agente
transformador de seu espaço de atuação, protagonista de prá-
ticas e saberes, durante o processo de trabalho — individual
e coletivo — (MACHADO; XIMENES NETO, 2018), o que
requer uma análise contextualizada e crítica sobre o contexto
atual e perspectivas futuras.
A Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde constitui-
se numa área temática que precisa ser enfaticamente discutida
dentro das realidades, visto que precisa ser bem compreendida,
dada a sua importância para consolidação do sistema de saú-
de brasileiro (ALVES; ASSIS, 2011). Por essa razão esse debate
não pode ser deslocado de um processo de transformação da
sociedade. Se não há clareza sobre o projeto de sociedade para
o futuro, uma análise do contexto atual pode ajudar no delinea-
mento dos seus efeitos sobre a vida e a saúde das pessoas.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O curso foi embasado pela perspectiva de fortalecimento da


Política de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, que
tem como foco central a participação do trabalhador como
fundamental para a efetividade do SUS. Considerando o óti-
mo desempenho nas atividades e Trabalho de Conclusão de
Curso, bem como a qualidade dos projetos de intervenção
elaborados ao final do curso, considera-se que o objetivo do
curso foi alcançado, e espera-se que essa especialização possa
contribuir com avanços na área de Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde no estado de São Paulo, bem como traga
mudanças e melhorias nos processos de trabalho, e conse-
quentemente na qualidade dos serviços de saúde prestado à
população do estado.
Para tanto, mesmo mediante a avaliação satisfatória da ex-
192
periência relatada, vale ressaltar a reflexão sobre aspectos que
ainda precisam ser fortalecidos para reorientação do trabalho
em saúde na perspectiva do fortalecimento do SUS, junta-
mente com as práticas das políticas de gestão do trabalho e da
educação na saúde.
Os mecanismos de gestão se deparam com pontos confli-
tantes, que constituem desafios e suscitam algumas discussões
neste âmbito que devem ser consideradas urgentes para o es-
tabelecimento de realidades de trabalho que sejam compatí-
veis com a cobrança instaurada pela dinâmica dos princípios
do SUS. Ressaltam-se instrumentos normativos que busquem
a garantia de requisitos básicos para a valorização do traba-
lhador e do seu trabalho, como: PCCS, vínculos de trabalho
com proteção social, espaços de discussão e negociação do
trabalho, educação permanente, humanização da qualidade
do trabalho, dentre outros.

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Apesar dos avanços no campo da Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde nos últimos anos, para alavancar esse pro-
cesso de reorientação das práticas profissionais é necessário
que se consolidem intervenções em diversas perspectivas de
desafios que influenciam e repercutem na atuação dentro dos
serviços de saúde.

193

Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


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Qualificação da Gestão do Trabalho no SUS: registro de uma experiência


Este livro foi editorado pela Una
no ano de 2021

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