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Prefácio

expressão em seu uso clássico, a terminologia clássica de um ressurge no dialeto


vulgar do outro. O espírito dos numerosos termos ou expressões gregas, até
mesmo em o Novo Testamento, poderia ser reproduzido com maior fidelidade
em algumas expressões que foram banidas da língua culta.
3. Poderá conhecer a ilustração ou a figura que permanece oculta em um vocá-
bulo. Veja, por exemplo, a nota acerca do termo obrigar, em Mt 5.41.
4. Poderá aprender algo acerca dos sinônimos gregos. Saberá como duas pa-
lavras diferentes, traduzidas por um mesmo vocábulo em língua portuguesa, re-
presentam fases distintas do mesmo conceito, e a razão por que cada uma delas
é posicionada especificamente naquele lugar. Assim, o termo “rede” ocorre tanto
em Mt 4.18 quanto no capítulo 13.47; só que o vocábulo grego é diferente nes-
ses dois versículos, e a substituição de um pelo outro seria inapropriado em seu
contexto original.
5. Poderá conhecer como dois termos que aparentemente não têm conexão um
com o outro são frequentemente expressos pelo mesmo vocábulo grego; e assim
poderá ter acesso à ideia que faz a conexão entre ambos. Às vezes, o leitor não
suspeita de que a palavra “regaço” (tb), em Lc 6.38, e “enseada,” em At 27.39, no
original, são representadas pela mesma palavra; ou de que exista uma conexão
entre o “cobrir” do corpo de Ananias, depois de sua morte (At 5.6), e a afirmação
de Paulo de que o tempo “se abrevia” (1Co 7.29).
6. Poderá chegar ao entendimento das razões por que ocorrem muitas mu-
danças na tradução de uma versão mais antiga que, em sua aparência, lhe parece
arbitrária e inútil.
7. Poderá aprender acerca do uso característico de palavras e expressões por
parte de diferentes autores, e também como detectar, até mesmo por meio das nos-
sas traduções, certas diferenças de estilo. (Vide Introduções aos diferentes livros.)
8. Poderá conhecer as distinções mais básicas entre os tempos verbais gregos,
e a força do artigo grego; além disso, como a observação dessas distinções impri-
me vigor e vivacidade à tradução.
Muitos temas semelhantes são contemplados em vários comentários. E, em al-
guns comentários populares, eles recebem um destaque considerável, como, por
exemplo, nas duas obras magníficas do Dr. Morrison sobre Mateus e Marcos.
Contudo, eles mostram-se espalhados em uma vasta gama de trabalhos, em sua
maioria, confinados aos comentários preparados para estudiosos mais críticos;
ao passo que muitos deles permanecem ocultos em léxicos e estudos etimológi-
cos, bem como em obras especiais distribuídas por meio de periódicos volumosos.
Reuni e separei uma grande quantidade dessas obras a partir de fontes múltiplas
e fidedignas, e as apliquei ao tratamento dos vocábulos na forma como eles ocor-
rem, versículo por versículo, despindo-os dos seus aspectos técnicos e tentando
colocá-los em um formato adequado aos estudantes da Bíblia.

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Vincent – Estudo no Vocabulário Grego NT
Estava tão determinado a fazer isso, que, no início, pensei seriamente em omi-
tir por completo as palavras em grego. Porém, ao considerar mais a fundo a
questão, percebi que o meu plano poderia, sem prejuízo da proposta inicial, ser
expandido a ponto de incluir os novatos no estudo do Testamento grego e certos
leitores de origem acadêmica que guardaram ainda, um pouco de grego do que
restou dos seus estudos clássicos. Para tornar isso possível, inseri as palavras
originais onde elas me pareceram necessárias, mas sempre entre parênteses e
acompanhadas de tradução. Portanto, o leitor poderá estar seguro de que qual-
quer valor atribuído a esta obra por ele não será diminuído pela presença de ca-
racteres que lhe são estranhos. Neste caso, ele poderá simplesmente passar-lhes
os olhos e concentrar a sua atenção no texto em português.
É óbvio que o meu objetivo me desobriga a realizar a exegese das passagens,
salvo nos casos onde o vocábulo em questão é o ponto de que depende o significado
inteiro da passagem. A tentação de ultrapassar este limite foi algo constantemente
presente, não sendo impossível que tenha ocasionalmente cedido a isso. Todavia,
o prazer e o valor do estudo especial de palavras serão, em minha opinião, intensi-
ficados para o estudante, se ele os separar do emaranhado gerado pelas questões
exegéticas em que, em comentários comuns, se perde quase por completo.
Algumas palavras devem ser ditas a respeito de um nome que o título deste
livro instantaneamente sugerirá aos estudiosos do Novo Testamento. Refiro-me
ao Dr. Bengel. A dívida e gratidão que todos os trabalhadores desta área devem
ao Dr. Johann Albrecht Bengel é, sem dúvida, inestimável. A sua conhecida obra
Gnomon, que continua sendo digna da mais alta reputação entre os comentários,
mesmo depois de passados quase cento e cinquenta anos do seu lançamento,
foi a pioneira neste método de tratamento do texto das Escrituras Sagradas. A
minha dívida pessoal para com ele é muito grande em função do impulso a esta
linha de pesquisa que recebi da tradução de Gnomon, há mais de vinte e cinco
anos atrás; mais por isso, sem sombra de dúvida, do que por todo o apoio re-
cebido no presente trabalho. Isto, porque o seu labor pessoal contribuiu para o
desenvolvimento desta linha de pesquisa especial, desde a aparição de Gnomon,
em 1742i. Toda a base da filologia do Novo Testamento e da crítica textual tem
sido alterada e ampliada, e, portanto, muitas de suas conclusões críticas precisam
ser modificadas ou rejeitadas. A sua obra continua mantendo o seu valor para
o pregador. Ele deve permanecer sempre em lugar de destaque por causa da
sua perspectiva arguta e profundamente espiritual, bem como pela expressivi-

Notas do editor:
i. Johann Albrecht Bengel (1687-1752) é considerado o patrono da pesquisa bíblica moderna. Foi
um aluno notável da Universidade de Tübingen, professor e pedagogo eficiente, e pesquisador
piedoso das Escrituras. Os objetivos de Bengel na erudita obra Gnomon era determinar a majes-
tade, a simplicidade, a profundidade, a concisão, a extensão e o uso prático da Palavra de Deus.

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Prefácio
dade maravilhosamente sucinta e vigorosa pela qual, como quem faz uso de uma
chave-mestra, costuma abrir na primeira tentativa as câmaras secretas de um
vocábulo; entretanto, para resultados críticos, o estudioso deve consultar guias
mais recentes e exatos.
Quanto às fontes, é suficiente mencionar que utilizei, de forma liberal, tudo o
que me pareceu útil. O livro, entretanto, não é uma compilação. O meu plano me
forçou a fugir das análises e dos processos demasiadamente prolixos, e a ater-me
principalmente à postulação dos resultados. A fim de evitar o excesso de referên-
cias nas páginas, anexei uma lista das fontes utilizadas; e os nomes dos demais
autores não mencionados ali serão encontrados junto às citações.
Não procedi com os exercícios de critica textual. Segui principalmente o tex-
to de Westcott e Hort, comparando-o com a oitava edição de Tischendorf, e
normalmente adotando qualquer redação com que ambos concordassem. Talvez
seja de pouca importância mencionar que as traduções muito literais e frequen-
temente grosseiras que amiúde ocorrem são apresentadas meramente com o ob-
jetivo de lançar as frases ou expressões o mais próximo possível das suas formas
gregas, e não são recomendadas para adoção como versõesii.
Minha tarefa foi um labor amoroso, mesmo tendo sido implementada em meio
a muitas distrações e várias obrigações de um pastorado urbano. Espero com-
pletá-la, no tempo devido, por um volume adicional que contemple os escritos de
João e de Pauloiii.
Conta-se que, há alguns anos atrás, foi descoberta, em um de nossos estados
do oeste, um geodo que, ao ser quebrado, revelou um grupo de cristais dispostos
no formato de uma cruz. Ser-me-á de grande alegria se, com esta tentativa de
quebrar a casca dessas palavras da vida e de desvendar as suas joias secretas,
puder auxiliar o estudioso da Bíblia, aqui e acolá, a atingir uma visão mais clara
acerca da cruz, que é o centro e a glória do evangelho.

Marvin R. Vincent
Covenant Parsonage, Nova York, 30 de outubro de 1886.

ii. Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort (Westcott-Hort) publicaram, em 1881,
The New Testament in the Original Greek, obra crítica em dois volumes, contendo, além do texto
grego do Novo Testamento, a fundamentação teórica e metodológica usada na preparação do
texto original. Lobegott Friedrich Constantin von Tischendorf (1815-1874) foi o estudioso ale-
mão responsável pela tradução do Codex Ephraemi Rescriptus, manuscrito do Novo Testamento
do século V, e pela descoberta do famoso Codex Sinaiticus. A tradução a que Vincent se refere é
conhecida como Novum Testamentum Graece, editio viii, de 1862-1872.
iii. Este labor foi executado primorosamente por Vincent. Os escritos de João compõem o volume
II desta obra, e os de Paulo, os volumes III e IV.

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Prefácio à 2.ª Edição

Nesta segunda edição, corrigimos alguns erros nas citações bíblicas, junto
com diversas falhas tipográficas no texto grego, como acentos fora do seu lugar,
omissão de aspirações etc. Algumas modificações também foram feitas segundo
as sugestões dos meus revisores. Em muitas das correções do texto grego, estou
em grande dívida com meu velho amigo, Dr. Henry Drisler, do Columbia Col-
lege, cuja ajuda inestimável jamais teria ousado solicitar, no caso de uma tarefa
literária assim tão penosa, mas que, de forma voluntária e gentil, me apresentou
uma lista dos erros percebidos por ele anotados em sua leitura atenta da obra.

Nova York, 10 de dezembro de 1888.

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Marvin R. Vincent –
Vida e Obra

O pastor e teólogo presbiteriano Marvin Richardson Vincent (1834-1922) é,


sem dúvida, um dos maiores especialistas do texto grego do Novo Testamento
em todos os tempos. Já em sua época, Vincent era assim considerado, e toda a
fama que o antecedeu, e que atravessou décadas, chegando aos nossos dias, é
mais do que justificada. A obra que o leitor tem em mãos é um forte testemu-
nho dessa verdade. Trata-se de sua obra magna, publicada em 1886 e que, mais
de cem anos depois, ainda é referência para os estudantes da Bíblia.
Marvin R. Vincent nasceu em 11 de setembro de 1834, na cidade de Pou-
ghkeepsie, no estado de Nova York, EUA. Filho de um pastor metodista, seus
primeiros anos de fé foram como membro da Igreja Metodista Episcopal de
Nova York. Formou-se no Columbia College (hoje, Universidade de Colum-
bia), em 1854, graduando-se com honras e como o primeiro aluno da sua tur-
ma. Nos quatro anos seguintes, dirigiria, ao lado do professor Charles Anthon,
o Liceu do College Columbia, até aceitar o convite para assumir a cadeira de
professor de latim na Troy University, fundada em Nova York, em 1858, pela
Igreja Metodista Episcopal. Nesse período, estudou Teologia privativamente,
e, depois de passar por testes que comprovaram seu conhecimento teológico,
foi ordenado ao ministério pela Igreja Metodista Episcopal, em 1860.
O jovem pastor lecionaria em Troy até 1861, quando a instituição teve de
fechar as portas. Em 1862, segundo ano da Guerra Civil Americana, Vincent
seria pastor da Igreja Metodista Episcopal do bairro do Brooklyn, na Pacific
Street, em Nova York; mas, no ano seguinte, deixaria a sua denominação, aten-
dendo a um convite para liderar a Primeira Igreja Presbiteriana de Troy. Ele
assumiu o pastorado dela em 23 de junho de 1863. Foi a partir dessa época que
seu ministério ganhou notoriedade.

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Vincent – Estudo no Vocabulário Grego NT
Vincent pastorearia essa igreja por dez anos, desenvolvendo um ministé-
rio relevante em sua geração, com repercussões até mesmo no meio secular.
Nesse período, ele ficaria famoso, por exemplo, pela sua defesa intransigente
em favor da causa abolicionista, pregando, com base nas Escrituras, contra o
pecado da escravatura na América. Igualmente célebre foi o seu “Sermão sobre
o assassinato de Abraham Lincoln”, de abril de 1865, usando como base de sua
mensagem o texto de 2Sm 3.38: “Não sabeis que hoje caiu em Israel um prínci-
pe e um grande homem?”. Vincent não foi o único pastor de seu país a pregar
um sermão, refletindo sobre o assassinato de Lincoln, mas o seu sermão foi um
dos mais célebres e marcantes de sua época. Em 1868, ele receberia o título de
Doutor em Teologia pelo Union Theological Seminary, em Nova York.
Quando deixou o pastorado da Primeira Igreja Presbiteriana de Troy para
assumir, em abril de 1873, a liderança da jovem Igreja Presbiteriana da Alian-
ça, em Nova York, Vincent já era uma celebridade. Com apenas 13 anos de fun-
dação, a Igreja da Aliança já contava com um belíssimo templo com capacidade
para mil pessoas, o qual muitas vezes ficava repleto para ouvir os sermões do
seu erudito pastor, admirado pela sua vasta cultura e dedicação. Era bastante
comum encontrar nos jornais nova-iorquinos da época informações sobre o
ministério de Vincent. Quando ele assumiu a liderança da Igreja da Aliança,
por exemplo, foi matéria no jornal The New York Times. E quando a deixou,
para passar quatro meses na Europa, e depois assumir uma cadeira no Union
Theological Seminary (UTS), mais uma vez o Times publicou, em 26 de maio
de 1888, uma matéria, noticiando as mudanças ministeriais na vida do reveren-
do Vincent.
Também por essa época, Vincent já havia se notabilizado pela publicação
de sermões, como “Amusement: A Force in Christian Training” (1867), “The
Two Prodigals” (1876) e “God and Bread” (1884), dentre tantos outros; por
obras teológicas de sua autoria, como Faith and Character (1880), The Minister’s
Handbook (1882) e Cristo como Ensinador (1886); e pela tradução, do alemão
para o inglês, de Gnomon of the New Testament, do pastor e teólogo luterano
pietista Johann Albrecht Bengel (1687-1752), o qual traduziu em parceria com
o professor Charlton T. Lewis. Essa tradução, publicada em 1863 (dois volu-
mes de 900 páginas cada), foi citada pelo jornal The New York Times de 21 de
setembro de 1874 como sendo, em apenas 11 anos, já de grande popularidade
na América.
Porém, a maior das obras de Vincent ainda viria ao lume. Foi apenas em
1886, aos 52 anos de idade e mais de 30 anos de magistério e ministério, quan-
do era professor de literatura sacra no Union Theological Seminary, que o
reverendo Marvin Vincent lançou a obra de sua vida, a mais madura e rica de

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