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"Ide" ou "Indo"?

Considerações do Texto Grego de Mt. 28:19-20


Prof. Dr. Kevin Bradford

Introdução
Quando o menino voltou para casa já era tarde da manhã. Seu pai já tinha ido ao
serviço e seus irmãos à escola. Sua mãe o repreendeu por demorar tanto para trazer o pão
da padaria e explicou que ninguém havia tomado café antes de sair. "Onde você foi e por
que demorou tanto?" O garoto respondeu que indo à padaria ele parou para assistir os
bombeiros que ajudavam o motorista de um carro que havia batido num poste de luz.
Depois ele passou na casa de seu amigo para ver se ele viria mais tarde. Então parou numa
banca de jornais para ver as fotos de seu time de futebol. Embora o menino tivesse voltado
com o pão, sua mãe decidiu aplicar uma pequena correção em sua gramática, para que, no
futuro, ele entendesse a diferença entre uma sugestão e uma ordem.

Existe uma forte tendência por parte de muitos pastores e mestres em interpretar a
Grande Comissão de Mateus 28:19-20 da seguinte forma: "Indo, portanto, fazei discípulos
... batizando ... ensinando ..." Ou seja, enfatizam (corretamente) que o verbo principal seja
o imperativo "Fazer discípulos", mas diminuem a força do verbo inicial, normalmente
traduzido "Ide" (Atualizada) ou "Vão" (NVI). A mudança transmite a idéia de "Enquanto
estiverem indo ... façam isso." Mesmo que isso não negue a responsibilidade global dos
discípulos de Jesus, tende diminuir a urgência da tarefa. Surge a idéia que você pode ser
missionário onde estiver, mas o lugar não importa tanto.

É verdade que o verbo "Ide" (grego: ) não é um imperativo em sua


forma, mas, sim, um particípio que antecede o imperativo no original. O particípio grego é
uma forma que não tem paralelo exato no português. Basicamente é uma forma verbal que
assume funções de um verbo e/ou adjetivo. Assim, é um termo muito "flexível" na sua
tradução. Às vezes tem a força de um verbo finito (independente), seja indicativo,
subjuntivo ou imperativo. Às vezes age como verbo dependente, modificando outro verbo
finito da oração gramatical. Assim, funciona praticamente como advérbio, indicando o
tempo, causa, meio ou circunstância (etc.) da ação indicada pelo outro verbo. 1 O
importante em todo caso é investigar as traduções possíveis e mais prováveis do particípio,
conforme o tipo de construção em que este aparece. Para decidir qual é a tradução melhor é
sempre importante lembrar de alguns princípios básicos de interpretação ou tradução:

1) O contexto imediato normalmente indica o melhor sentido. Pelo menos, o contexto


deve eliminar algumas possibilidades interpretativas.

2) Usos semelhantes da mesma construção gramatical e/ou do mesmo verbo em


trechos paralelos podem elucidar a tendência do autor. Desde que costumes
linguísticos variam com a passagem do tempo e também mudam de uma pessoa para
outra, os trechos mais próximos que usam os mesmos termos possuem um valor maior
na interpretação de trechos duvidosos. Por exemplo, um outro uso no contexto
imediato é melhor do que em outros contextos. Usos na mesma carta ou no mesmo
livro são melhores do que em outros escritos. Usos pelo mesmo autor são melhores do
que usos por outros autores. Usos bíblicos são melhores do que usos não-bíblicos
(principalmente por serem contemporâneos, pelo menos no caso dos escritos do NT).

3) Faltando exemplos claros de usos do mesmo verbo, o uso de outros verbos em


construções semelhantes também pode indicar as tendências lingüísticas.

Somente precisa-se observar que argumentos teológicos também podem ajudar na


tradução das Escrituras. A inspiração divina tem produzido uma harmonia de idéias
teológicas na Bíblia, enquanto há desenvolvimento das mesmas também. Portanto, as
interpretações difíceis devem ser mantidas em segundo plano quando outras que estiveram
mais de acordo com a sã doutrina foram igualmente possíveis. No desenrolar do Evangelho
de Mateus é até possível argumentar teologicamente cada interpretação considerada aqui,
embora possa ser notado uma tendência dos Evangelhos Sinóticos de concluirem com
imperativos "divinos" (cf. Mt 28:5, 6, 10, 19; Mc 16:6, 7, 15; Lc 24:6, 39, 49). De qualquer
forma, argumentos teológicos sempre devem estar apoiados no alicerce firme de um estudo

1.
LaSor, W. S. Gramática Sintática do Grego do N. T., págs. 20, 75-77.
do texto que procede de uma hermenêutica sensível à gramática e à lingüística grega e ao
contexto imediato (conforme as regras indicadas acima). No caso da Grande Comissão de
Mateus, é este alicerce que pode indicar a melhor tradução.

As Posições
A construção gramatical de Mt 28:19-20 é clara no texto grego. O verbo principal é
um imperativo aoristo,  ("fazei discípulos"), antecedido por um particípio
aoristo  (do verbo: "ir") e seguido pelos particípios presentes
 ("batizando") e  ("ensinando"). As dificuldades principais
surgem ao tentar determinar o significado dos particípios em relação ao verbo principal.

Crítica da Posição que a Melhor Tradução é "Indo"


Alguns teólogos mantém a posição que o particípio  deve ser traduzido
como verbo dependente com um sentido temporal ou algo semelhante, i.e. "enquanto
estiver indo." Por exemplo, Culver ajunta diversos argumentos tentando provar que
particípios não podem ter a mesma força modal do verbo finito com o qual são relacionados
(neste caso, um imperativo). Ele afirma que  . . . não é uma forma
imperativa e que um particípio aoristo naturalmente seria traduzido ou "tendo ido" ou
"enquanto estiver indo."2

Para apoio, Culver apela a diversos comentaristas e gramáticos, que, em seu


julgamento ou fornecem uma interpretação semelhante de Mt 28:19, ou falham em
produzir exemplos claros no Novo Testamento de particípios "imperativos." Nessa
instância, ele cita Lenski "Jesus não ordena 'Vá!' O particípio é um mero auxiliar do verbo
principal, 'Tendo ido, discipule!'"

Contudo, os argumentos de Culver com respeito a gramática grega parecem estar


mal-empregados. Muito da discussão realizada pelas gramáticos é direcionado para o uso

2.
Culver, R. D. What is the Church's Commission? Bibliotheca Sacra 125, July 1968, pág. 244; cf. Zuck, R.
B. Greek Words for Teach, Bibliotheca Sacra 121, April 1965, pág. 163.
de um particípio num sentido "absoluto", independente de um verbo finito. 3 Assim, a
questão não se relaciona diretamente à construção de Mt 28:19, onde o particípio está
claramente ligado ao verbo principal.

A ligação com o verbo finito não é dificil de perceber. Sendo nominativo em forma,
 está de acordo com o sujeito (oculto) do imperativo. Até Culver afirma que
deve ser entendido como particípio circunstancial (adverbial, no caso), ligado ao verbo
finito. Porém, contrário a posição dele, a posição defendida por outros intérpretes
(inclusive aqui) é que o particípio não deve ser atribuído como uma das subcategorias
adverbiais geralmente listadas (i.e. tempo, causa, meio, concessão etc.) mas que deve ser
traduzido como imperativo, sendo designado à categoria de "particípio de circunstância
atendente."

Enquanto nem todos trabalham com esta categoria, ela é mencionada por muitos
gramáticos. Por exemplo, Moods and Tenses de Burton, um dos mais conceituados livros
da gramática grega, fornece diversos exemplos do particípio de circunstância atendente,
observando que,
"o termo 'atendente' não define a relação temporal do particípio ao verbo, mas
sua relação lógica. ele é apresentado meramente como acompanhamento da
ação do verbo. Não define, por exemplo, o tempo ou a causa ou o meio da ação
do verbo principal, mas simplesmente prefixa ou acrescenta um fato ou
concepção associada. Portanto, é frequentemente equivalente ao verbo
coordenado com  Embora não seja um elemento gramaticalmente
independente da sentença, o particípio em tais casos se torna afirmativo,
hortativo, optativo, imperativo etc. no seu sentido, segundo a função do verbo
principal."4

3.
Por exemplo, Robertson, A. T. A Grammar of the Greek New Testament, págs. 944-6; Moulton, J. H. A
Grammar of New Testament Greek, Volume 1: Prolegomena, págs. 180-3; Dana, H. E. e Mantey, J. R. A
Manual Grammar of the Greek New Testament, pág. 229; cf. Blass, F. e Debrunner, A. A Greek Grammar of
the New Testament and Other Early Christian Literature, parágrafos 417-424, 466.
4.
Burton, E. D. Syntax of the Moods and Tenses in New Testament Greek, págs. 173-4.
O uso principal desta construção parece ser no indicativo. Assim, Burton fornece
exemplos onde o particípio precede (ex. Mc 16:20,  , "saíram e
pregaram") e segue (ex. Lc 4:15,     , "ensinava . . . sendo
glorificado") o verbo indicativo tendo a mesma força dele. Contudo, o particípio de
circunstância atendente é também achado ao lado de subjuntivos hortatórios e pode ser
traduzido como o mesmo (ex. Hb 12:1,     , "livremos-nos . . . e
corramos"). Da mesma forma, pode acompanhar imperativos, ganhando a força
imperatival (veja os exemplos a seguir).

Para o propósito deste estudo é importante notar que, enquanto outros usos do
particípio circunstancial são subordinados ao verbo finito, a idéia expressada pelo particípio
nem sempre é subordinado. Ao considerar exemplos onde a ação do particípio é
coordenado com um imperativo, a possibilidade deste uso (tradução como imperativo) em
Mt 28:19 será estabelecida.

Defesa da Posição que a Melhor Tradução é "Ide"

Uma pesquisa computadorizada do Novo Testamento revela 48 casos de um


particípio aoristo seguido (dentro de seis palavras) por um imperativo. Uma maioria
substancial destes ocorrem nos escritos de Lucas (28 casos) e de Mateus (16). 5 Dos 48
casos, apenas quatro se encaixam definitivamente dentro de outro tipo de construção (ex.
Mt 17:27 - particípio adjetival). Dos outros 44 casos, cada um dos particípios poderia ser
traduzido no português como imperativo coordenado com o imperativo verdadeiro.
Ademais, em diversos casos, um imperativo coordenado parece ser quase a única opção
interpretativa. Os exemplos mais marcantes seguem.

Lucas-Atos. Em pelo menos três-quartos das construções de Lucas e Atos, fica claro
que a melhor opção interpretativa seja traduzi-lo como particípio de circunstância atendente

5.
Da literatura restante, há apenas um caso em cada livro de Marcos, Efésios, 2 Timóteo e 2 Pedro.
com força imperativa. Mesmo nos demais casos onde há outras possibilidades gramaticais,
a maioria parece encaixar melhor neste sentido.

Dois dos exemplos mais marcantes são de Atos 16. Em At 16:9 o chamado do
homem de Macedônia é "Passa . . . e ajuda-nos" ()    ). A importância
do particípio é tanta que é possível dizer que o livro de Atos por inteiro, com a expansão da
Igreja de Jerusalém até Roma, gira em torno deste verbo. Não foi simplesmente um caso de
Paulo seguir qualquer caminho e, eventualmente, ajudar o povo lá. Foi um chamado
especifíco de Deus (At 16:10) para passar até uma certa região.

Da mesma forma, At 16:37 focaliza a força imperativa do particípio. Depois de ser


liberto da prisão, Paulo apelou para justificação pelos oficiais na base da sua cidadania
romana,     ("Venham eles mesmos e nos libertem,"
NVI). O envolvimento pessoal deles era importante. Para Paulo não foi simplesmente uma
questão de tratar "quando eles vierem."

Mateus. Em Mt 2:13 é gramaticalmente possível traduzir Ἐγερθεὶς παράλαβε por


"quando se levantar, tome." Porém, a urgência da situação requer duas ações específicas.
Assim, a melhor tradução é com força imperativa "Levante-se, tome" (NVI). Ao julgar
pelo fato que José partiu para Egito aquela mesma noite, parece que ele entendeu o
particípio Ἐγερθεὶς como imperativo (cp. Mt 2:20).

Do mesmo modo, para fazer qualquer sentido de Mt 9:6, a sequência Ἐγερθεὶς


ἆρόν tem que ser traduzido com dois imperativos. Subordinação temporal (i.e. "quando se
levantar, tome") seria uma possibilidade gramatical, desde que represente a sequência
cronológica dos eventos. Mas, a demonstração da autoridade de Jesus gera em torna do
termo "levanta-te" e não o termo "tome." O primeiro é o milagre em si, não o segundo.
Esse fato é ainda mais óbvio ao ver a omissão do segundo termo em v. 7. Outras opções
gramaticais para o particípio circunstancial beiram no ridículo, por exemplo, proposital:
"para levantar, tome"; meio: "por meio de levantar, tome"; ou, talvez o pior de todos,
condicional: "se você levanta, tome". Ao mesmo tempo é interessante notar que, ao relatar
este milagre, os demais sinóticos usam a forma imperativa do verbo,  (Mc 2:11; Lc
5:24; cp. Jo 5:8).

Outros exemplos em Mateus apontam para ações definidas que, enquanto


sequenciais, não enfatizam a conexão temporal tanto quanto o fato que ambas as facetas
têm que acontecer. Em Mt 9:18 o chefe da sinagoga veio a Jesus principalmente para fazer
Ele vir. Ver o particípio  com sentido imperativo pressupõe muita ousadia por parte
dele. Mas tentar ver o termo com mero sentido temporal ("quando você vir") vai além de
ousadia.

Uma construção semelhante é vista em Mt 17:27. Jesus deu a Pedro a tarefa


específica, exigindo que ele primeiro "vá ao mar" e então "lance". Os publicanos não
olhariam bem se fosse entendido apenas como "quando você for ao mar."

Mt 21:2 dá ainda mais um exemplo deste tipo. Pressupõe a ignorância de primeira


ordem por parte dos discípulos se a sequência λύσαντες ἀγάγετέ tivesse sentido temporal
("depois que você desamarrarem, tragam-nos") ou meio ("por meio de desamarrar, tragam-
nos"). É muito mais razoável pressupor força coordenada para o particípio ("Desamarrem-
nos e tragam-nos", NVI). Mais uma vez se pode notar que a passagem paralela em Mc 11:2
usa dois imperativos, λύσατε αὐτὸν καὶ φέρετε no lugar desta construção. Observe que a
passagem paralela, Lc 19:30, usa a mesma forma de Mateus. Como muitos intérpretes,
Moule comenta neste versículo que tanto o particípio aoristo como o imperativo devem ser
traduzidos "desamarrem-nos e tragam-nos".
Segundo os princípios de interpretação mencionados acima, Mt 28:7 apresenta o
melhor paralelo ao Mt 28:19, tanto no sentido de proximidade como de forma do verbo e
estrutura. As mulheres foram mandadas "Ide . . . e dizei" ( ) aos
discípulos que Cristo ressuscitou. Não foi simplesmente uma questão de "enquanto vocês
forem" ou "tendo ido." O advérbio  ("depressa") reforça a idéia imperativa por trás do
particípio. E mais uma vez o imperativo é usado no lugar do particípio na passagem
paralela de Mc 16:7,  .
Nos outros exemplos de Mateus, as melhores traduções para este tipo de construção
gramatical pedem dois imperativos coordenados. As traduções da Corrigida, Atualizada e
NVI seguem este princípio em Mt 2:8; 9:13; 11:4; 17:27c e 22:13.

Outros casos. O exemplo de Mc 16:15 merece consideração por ser paralelo a Mt


28:19. O Evangelho de Marcos avança rapidamente para seu clímax final representado por
este mandamento. Seja Marcos fonte para Mateus e Lucas, ou seja, ele o beneficiário
destas obras, alguém teria que questionar porque escolheu esse momento estratégico para
incluir um particípio circunstancial, a não ser que o significado fosse muita claro ao
recipiente. Conforme foi visto nas ilustrações acima, parece que o significado era claro ao
leitor: o particípio circunstancial frequentemente possui força imperativa. 6

Vale a pena notar que Rogers fornece ainda mais exemplos da Setuaginta. 7 Em Gn
27:13, Manuscrito B da LXX tem ς , um particípio aoristo seguido por
um imperativo. O sentido pode ser apenas "vá, traga . . ." Rogers nota que no hebraico
ambas as palavras são imperativos. Semelhantemente, Gn 37:14 tem um imperativo no
hebraico que é apresentado como particípio (ς) na LXX. A construção deve ser
traduzida como dois imperativos coordenados, "vá e vede." Ex 5:18 apresenta outra
construção com o mesmo sentido. Segundo Rogers, "Certamente Faraó não pretendia
dizer, 'tendo ido, então trabalhe.'" Outros exemplos são encontrados em Ex 12:32 e 2 Rs
(LXX: 4 Rs) 2:16. "Em todos estes exemplos é claro que o particípio é parte íntegra do
mandamento específico que algo seja feito."

6.
Nota-se que, para os últimos dois particípios, há mais consenso entre os intérpretes. Normalmente entende
se que descrevem o modo ou a maneira pela qual os discípulos serão feitos (cf. Robertson, A. T. A Grammar
of the Greek New Testament, pág. 1128; Kirschner, E. Mateus 28:18-20: Missão Conforme Jesus Cristo, Vox
Scripturae 6, Março 1996, pág. 44). A questão que surge é se há alguma força imperativa presente aqui
também. Segundo Carson, "embora o particípio dependente de um imperativo normalmente ganhe força
imperativa quando antecipa o imperativo, sua força principal quando segue o imperativo é normalmente
outra." Mesmo assim, afirma que batizando e ensinando, como tarefas que caracterizam o fazer discípulos,
tem que carregar pelo menos alguma força imperativa do verbo principal [Carson, D. A. Matthew em The
Expositor's Bible Commentary, vol. 8., pág. 597; cf. F. Rienecker, Das Evangelium des Matthaus (Wuppertal,
1966), pág. 378 citado em Rogers, C. The Great Commission, Bibliotheca Sacra 130, July 1973, pág. 262.].
7.
Rogers, C. Op. cit. pág. 260.
Conclusão
1) A validade da categoria "circunstância atendente" para o particípio deve ser evidente.
Nos casos examinados fica óbvio que o antecedente do particípio é muito ligado ao verbo
finito, ao ponto, inclusive, de eliminar tais categorias como "nominativo absoluto" ou
outros comparáveis. Ainda, mesmo sendo particípios circunstanciais, estas construções não
encaixam nas categorias subordinadas normais de tempo, causa, meio, propósito, condição
etc.8 A evidência indica uma força verbal mais ou menos igual e concomitante à ação do
verbo finito.

2) No caso específico do particípio de circunstância atendente relacionado ao imperativo, é


possível afirmar que também carregue a força de um imperativo. Na maioria dos casos, a
ação do imperativo verdadeiro não seria possível se a ação do particípio não acontecesse.
Em alguns casos, a ação do particípio é enfocada ainda mais que o próprio imperativo (ex.
"Levanta-te, toma o teu leito," "Passa à Macedônia, e ajuda-nos" etc.). O particípio fornece
um aspecto da ação necessária para cumprir o mandamento. Sendo ou não o foco do
mandamento, tem de acontecer.

3) Uma nota de urgência é frequentemente percebida. Essa provavelmente se deve ao fato


de ser uma construção aorista na maioria dos casos. No levantamento, não somente os
particípios são aoristos, mas a maioria (37 de 48) dos imperativos são também, uma alta
porcentagem para o Novo Testamento.9 Provavelmente isso se deve ao fato de que a
maioria das construções são da literatura narrativa, onde mandamentos específicos são mais
comuns.

4) Portanto, a conclusão de Culver e os demais intérpretes de que o particípio


ς de Mt 28:19 não possui caráter imperativo corre contra a interpretação dos
exemplos semelhantes. A dificuldade pode residir na natureza do verbo do qual o

8.
LaSor, W. S. Op. cit. págs. 75-77.
9.
Observe também que 4 dos 11 imperativos restantes no tempo presente frequentemente são traduzidos
idiomaticamente como verbos no passado, ex. ; cf. Fanning, B. M. Advanced Greek Grammar sua
secção sobre "Tense in Non-indicative Forms".
particípio é formado (i.e. ). Em quase qualquer imperativo complexo a
declaração inicial "vá" poderia ser concebida como antecedente temporal daquilo que
segue, ex. "vá e busque água para a gente." Assim, o verbo inicial é quase redundante (i.e.
"Não me importa onde você for, apenas busque água para a gente."). Contudo, onde o
mandamento de Jesus é fazer discípulos "de todas as nações." Assim, o particípio "Ide"
dificilmente será considerado redundante. Talvez seja óbvio demais, mas não redundante.

É verdade que outras categorias circunstanciais (esp. o temporal) podem fazer sentido
gramatical na declaração. Porém, devido à abundância de exemplos paralelos (sem fazer
menção das exigências das passagens paralelas, ex. Mc 16:15; Lc 24:45-49; Jo 20:21; At
1:8), o imperativo "Ide!" deve ser preservado em Mt 28:19, coordenado com o verbo "fazei
discípulos."10

É importante para o corpo de Cristo obedecer completamente a Grande Comissão do


Senhor, não somente fazendo discípulos por onde surgirem as oportunidades, mas também,
na medida do necessário, saindo para lugares mais distantes para cumprir tal ordem. Sendo
que a maioria dos povos não-alcançados do mundo, representando bilhões de pessoas, não
serão contatados sem o envio de missionários transculturais, este imperativo é de suma-
importância hoje.

10.
Kirschner acresenta, "Será que Jesus deu uma ordem cujo desempenho seria apenas casual, circunstancial?
Creio que não! Nem a gramática . . . nem o bom senso teológico permitem tal conclusão. Basta ler um texto
como At 10, que relata a conversão do primeiro não-judeu, para que sejamos convencidos do contrário. O
judeu Pedro tem que ser convencido de maneira sobrenatural, a obedecer a ordem de Deus ir à casa do gentio
Cornélio a fim de evangelizá-lo [cf. At 10:9-23]. Dificilmente poderíamos imaginar israelitas,
tremendamente exclusivistas em seu perfil teológico, saindo pelo mundo para evangelizar sem uma forte
compulsão divina." [Kirschner, E. Op. cit. pág. 42.]
Fontes Consultadas

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Christian Literature. Traduzido e revisado por Robert Funk. Chicago: University of
Chicago Press, 1961.
BURTON, E. D. Syntax of the Moods and Tenses in New Testament Greek. Edinburgh: T.
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CARSON, D. A. Matthew em The Expositor's Bible Commentary, vol. 8. Editado por


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CULVER, R. D. What is the Church's Commission? Bibliotheca Sacra 125, July 1968, ps.
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FANNING, B. M. Advanced Greek Grammar. Apostila de Dallas Theological Seminary,


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HENDRICKSEN, W. The Gospel of Matthew. Grand Rapids: Baker, 1973.

LaSOR, W. S. Gramática Sintática do Grego do N. T. São Paulo: Vida Nova, 1986.

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University Press, 1959.
MOULTON, J. H. A Grammar of New Testament Greek. Volume 1: Prolegomena.
Edinburgh: T. & T. Clark, 1908.

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TURNER, N. A Grammar of New Testament Greek. Volume 3: Syntax. Edinburgh: T. &


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