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Copyright © 2021 Wilma Heck

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos de imaginação do autor. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Capa: Laís Maria

Revisão: Natália Dias

Diagramação Digital: Jack A. F.

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangíve
— sem o consentimento da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital ǀ Criado no Brasil

1º Edição

Setembro de 2021
Amanda Sullivan é a queridinha da família. Ela vai se apaixonar pelo complicado David
Baker.
Quando sofre um grave acidente, fica com seu corpo coberto de cicatrizes. Impedida de dançar
nos palcos, vai para a fazenda da tia, decidida a se esquecer tudo o que passou. Só não esperava
encontrar lá o seu primeiro amor.

Os dois vivem um tórrido romance. Até que ela engravida.

David não deseja ser pai. Ele se considera indigno de formar uma família. Assustada, Amanda
decide fugir sem contar nada a ele sobre o bebê. Um ano depois, em uma missão, Baker é designado
a proteger algumas dançarinas da boate Red Velvet, pois a máfia russa quer a sua morte. Imagina a
surpresa dele ao encontrar Amanda dançando na boate, e ainda descobrir que ela tem um filho dele.
Si nops e
Epígrafe
Dedicatória
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Próximo livro
Mais Livros da Autora
Contatos da autora
Têm pessoas com cicatrizes nos corpos. Têm pessoas com cicatrizes na alma. O amor é o único
a deixar cicatrizes em nossos corações.
À minha mãe que amo tanto. Este livro é dedicado a você, que abriu mão de tantas coisas para
cuidar dos seus filhos.
Te amo muito, Roseli Padilha.
Dentro deste carro, indo em direção à fazenda de minha tia Ruth, eu me sinto um lixo! Um
nada!
Minha irmã Samantha liga o rádio para ouvir uma daquelas músicas sertanejas melosas que ela
adora. Desligo, porque não estou com paciência para ouvir. Isso me lembra dança, e dança me
lembra sofrimento. Por quê? Simplesmente porque já foi minha vida e hoje é só uma recordação.

Não posso mais fazer aquilo que amo, aquilo que nasci para fazer. Desde que me conheço por
gente, dançar é tudo para mim, mas agora não posso mais. Nunca mais pisarei em um palco.
Eu era a primeira bailarina de uma companhia de dança contemporânea de Londres. Minha
vida era superagitada. Estar nos palcos era o que me fazia levantar pela manhã e ir dormir exausta
todas as noites.

Uma noite, após um espetáculo, estávamos todos indo em direção a um pub para beber um
pouco e comemorar o sucesso que estava sendo aquela temporada. Estávamos atravessando a rua,
quando um motorista bêbado furou o sinal e nos atropelou. Estávamos em oito pessoas, três rapazes e
cinco garotas. Exatamente quatro de nós fomos atingidos pelo carro.
As únicas coisas de que me lembro é de uma luz muito forte me cegando, de ouvir o barulho
dos pneus derrapando e uma buzina muito alta. E depois, o impacto. Meu corpo foi arremessado vinte
metros à frente.

Naquela noite, perdi duas amigas queridas e um dos meus amigos ficou tetraplégico. Eu
quebrei as pernas e um braço. Apesar do meu corpo ter sido arremessado longe, caí sobre um monte
de sacos de lixo que estavam sobre a calçada. Algumas garrafas que estavam dentro de um saco se
partiram e cortaram meu rosto e pescoço, deixando cicatrizes profundas. Quase morri devido ao
sangramento. Meus amigos não tiveram a mesma sorte. Uma morreu na hora, outra teve traumatismo
craniano e faleceu cinco dias depois e meu amigo lesionou a coluna e ficou sem movimentos do
pescoço para baixo.

Fui vê-lo depois que me recuperei, e ele me confessou que preferia ter morrido a ter que viver
daquele jeito. Sem contar que uma das garotas mortas era sua noiva e minha melhor amiga Lauren.
Eles se casariam em dois meses, mas o destino não permitiu.
Eu, depois de cinco cirurgias e de pôr uma haste de metal na minha perna direita, fiquei
sabendo que nunca mais poderia voltar aos palcos. Alguns ligamentos da minha perna direita se
romperam, e eu nunca mais conseguiria realizar certos movimentos. Sem contar as cicatrizes
horríveis que ficaram nas minhas pernas, rosto e pescoço. Por mais que fizesse cirurgias plásticas,
meu rosto jamais seria o mesmo. A cicatriz do lado direito, que vai da têmpora até o pescoço,
sempre seria visível. Eu quase sempre deixo meus cabelos soltos para escondê-la, mas às vezes me
esqueço e, quando as pessoas a veem, fazem cara de pena. Eu odeio isso.
— Terra chamando Amanda! Ei, minha irmã! Outra vez está presa em seu universo paralelo?
— Samantha fala, percebendo o quanto estou perdida em meus pensamentos. — Mandy, estava
pensando no acidente outra vez? Querida, já faz um ano! Até quando vai ficar se torturando assim?

— Desculpe! Sei que prometi me divertir esses meses, mas não pude evitar —digo e passo a
mão em seu braço.
— Estamos quase chegando! Pelo GPS, a entrada deve ser por aqui. Ali, vê a placa? — Olho
para onde minha irmã aponta e vejo a placa “Bem-vindo à Fazenda Dona Francesca”. — Eu falei que
conseguiria encontrar! — diz Sam toda feliz.

Ela só veio para me fazer companhia. Acha que não sei que teve que recusar vários trabalhos
para ficar esse tempo comigo na fazenda.
Samantha mora em Nova Iorque. É uma famosa modelo plus size e ganha muito dinheiro com
isso. Minha querida irmã largou tudo assim que soube do meu acidente de um ano atrás. Pegou
apenas trabalhos pequenos em Londres e, poucas vezes, saiu para fazer campanhas maiores. Nunca
terei como pagar por tanto amor e desprendimento.
Minha mãe e meu pai também me ajudaram muito, mas Samantha foi fundamental para minha
recuperação, com todo seu otimismo e alegria de viver. Olhando para ela, vejo o quanto é forte, pois
teve que enfrentar muito preconceito antes de ser reconhecida no meio da moda. Ainda hoje, sei que
Sam ouve comentários preconceituosos por causa dos quilos a mais, mas ela nem liga. Sempre foi
super bem resolvida e nunca se deixou abater. Essa força foi que me ajudou a não cair em depressão
após o acidente.
Nossos pais ficaram em Porto Alegre. Eles virão para o Natal, chegarão em quatro dias. Hoje
é vinte de dezembro. Faz exatamente um ano que aconteceu o acidente que me tirou a dança, o que eu
tinha de mais importante.

Samantha estaciona o carro em frente à casa grande. É assim que chamamos as construções do
século XIX, porque são estilo as fazendas de café na época de ouro do café no Brasil. Fica no
interior de Santa Catarina, na serra Catarinense, em uma localidade próximo a São Joaquim. E é
maravilhosa! A última vez que estivemos aqui eu tinha doze anos. Foi logo que tia Ruth tomou posse
da herança deixada por seu avô, que era meu bisavô. Tio Rodrigo largou sua carreira no futebol e
tocou o lugar junto com minha, fazendo-o prosperar. Hoje é uma enorme fazenda de criação de gado
de corte.

Sam buzina, e tia Ruth e Manu vêm correndo nos receber.

— Que saudades! — fala tia Ruth após me abraçar. Depois me solta, vai abraçar Sam. Manu
me abraça também.
— Prima, há quanto tempo!

— Realmente, tempo demais. Olhe para você, está linda! — digo, surpresa ao ver a mulher
linda que Manu se transformou. Vi suas fotos no Facebook, mas não faziam jus à sua beleza. Ela se
tornou exuberante e maravilhosa.

— E eu? Será que não mereço um abraço? — Ouço alguém falar atrás de mim e me viro. Não
posso acreditar em quem vejo parado de braços abertos e ostentando o maior sorriso do mundo.
— Nick! Não posso acreditar! — falo surpresa. — Quanto tempo!

Ele me aperta em seus braços. Não aguento a emoção e começo a chorar.

— Pronto! A manteiga derretida já está chorando! — Sam zomba de mim.

— Desculpe, é que não nos vemos há quatorze anos! É muito bom ter você por perto!

Nick para mim é como um irmão mais velho. Ele está bem maior que da última vez em que o

vi.

— Eu também estou muito feliz por estar aqui — Nicolas fala isso olhando para Manu, que
fica vermelha.
Sam me dá aquele olhar, que só duas nós sabemos o que significa. Quer dizer que estamos
entendendo bem o que está acontecendo. Nick me solta, e eu vou para o lado de Sam, que cochicha
em meu ouvido, olhando para Nicolas. Ele não tira os olhos de Manu.

— Percebeu o clima? — Eu apenas confirmo com a cabeça. — Depois, vou fazer Manu me
contar tim-tim por tim-tim desse babado!
Tenho certeza de que Samantha vai conseguir descobrir tudo.

— Vamos entrar! Vocês devem estar exaustas da viagem — fala tia Ruth.

— Estamos sim. Tudo o que mais quero agora é um banho! — Sam exclama enquanto se
abanando, porque realmente está muito quente. — Onde está o tio?
— Está por aí cavalgando com Fabrizio. Aqueles dois parecem que nasceram com a bunda
grudada nos lombos dos cavalos. Daqui a pouco eles aparecem por aqui.
Entramos, e o clima dentro da casa está gostoso devido ao ar-condicionado. Tia Ruth nos
instala em um quarto ótimo. Sam e eu ficaremos juntas. O cômodo é bem arejado e iluminado, porque
tem uma janela grande com uma sacada que dá para a frente da casa. A primeira coisa que faço é ir
até ela para observar a vista linda.
Estou distraída olhando para a paisagem, mas uma conversa me chama a atenção. Nick está
conversando com outro cara. Eles estão falando sobre treinos. O outro cara diz que meu primo está
perdendo o foco, que ele não pode se distrair. Analiso-o de longe, vendo que é baixo perto do meu
primo, que é muito grande.
Um terceiro homem se junta à conversa e, quando meus olhar pousa nele, meu coração para de
bater por um segundo. É o cara mais bonito que eu já tinha visto na vida! Com a pele bronzeada, os
cabelos loiros, um sorriso torto e lindo. Quando ele olha para mim na varanda, meu coração para de
vez. Ele tem os olhos mais lindos do mundo! Não dá para dizer com precisão se são azuis ou verdes,
pois são uma mistura dos dois. E estão presos aos meus.

Sei muito bem quem ele é, porque jamais me esqueceria daqueles olhos.

Por alguns segundos, meu cérebro esquece de comandar meu corpo, pois não manda estímulos
elétricos para meus pulmões fazerem o movimento para puxar o ar e para meu coração voltar a
bombear o sangue. Quando isso finalmente acontece, é tudo de uma vez só. Meu coração bate
acelerado, e minha respiração fica ofegante. Eu nunca me senti assim com ninguém antes. Ele me fez
sentir assim apenas com um olhar.

— O que você está olhando aí? — A magia é quebrada por minha irmã que chega no quarto. —
Hum… Que belo pedaço de mau caminho temos aqui! — fala alto, e o cara apenas ri. Neste instante,
sinto minhas pernas virarem espaguete cozido. Viro-me e fico de costas para ele.

— Samantha! Será que você pode ser menos óbvia? — repreendo.

— O que foi, querida irmãzinha? Por que ficou vermelha? Só porque te peguei observando o
bonitão ali?
Manu entra no quarto e nos encontra na varanda.

— O que vocês estão fazendo aqui?

— Nada! Só olhando a vista! — Samantha fala e aponta para os rapazes lá embaixo. Manu
olha, e meu primo parece que sentiu seu olhar, porque olha para cima no mesmo instante. — Viu,
Mandy? Você não é a única que está admirando a vista!
— Sam! Por favor! — Tento mais uma vez chamar a atenção da minha irmã.

— Me diz qual o nome do bonitão que chamou a atenção da Mandy.

— David Baker — Manu responde na hora.

— Hum, até mesmo o nome dele é interessante! Espera aí! — Ela se vira imediatamente para
mim. — Esse é o David Baker? Aquele que Amanda se apaixonou quando era uma menina? —
Samantha pergunta, e dou mais uma olhada para onde os rapazes estão. Agora entendo por que os
olhos dele me chamaram tanto a atenção.

Você é o garoto que roubou meu coração e nunca mais me devolveu, David Baker. O que tem
em você que me atraiu tanto?Pergunto em pensamento, e ele olha novamente para mim. Neste exato
momento, tenho a resposta para minha pergunta. São os olhos misteriosos. Eles são a causa da
minha atração e provavelmente serão a da minha ruína.
De uma coisa eu tenho certeza: David Baker não é alguém para se apaixonar. Algo em seus
olhos me diz para fugir, porque eu só iria sofrer. Mas meu coração me diz para sentir e amar, porque
também seria inesquecível.

Quinze anos se passaram, e novamente estou aqui, presa em seu olhar.

David Baker esteve em meus sonhos por anos. Nem posso acreditar que ele está bem aqui na
minha frente. Ele é o homem mais bonito e sensual que eu já tinha visto. Tem a boca carnuda e um
belo corpo cheio de músculos bem definidos.

Ficamos assim nos encarando, até que ele me dá mais um sorriso. Meu coração acaba de saltar
do meu peito e vai parar nas mãos dele. Sim, porque foi o que ele fez. Ganhou meu coração com seus
belos olhos e sorriso torto.

— Ele está sorrindo para você, mana! — Samantha fala e me cutuca. Eu não digo nada, apenas
sorrio também. Nicolas olha para a sacada e joga um beijo. Manu fica vermelha e entra no quarto.
— O que está acontecendo aqui? É a temporada dos corações apaixonados e ninguém me
avisou? — Samantha fala ainda da sacada. — Oh, meu Deus! Acabei de ser avisada! Quem é aquele
deus grego que vem montado no cavalo? — Manu e eu voltamos para a sacada.

— É o Brizio! — Manu responde.

— Seu irmão? Não acredito! Desde quando ele tem tantos músculos?

— Samantha, o trabalho na fazenda é pesado. Meu irmão trabalha duro aqui.

Ficamos ali as três, babando por aqueles belos exemplares de homens.


— Mais alguém aqui precisa de um banho frio? Eu com certeza preciso.

Samantha entra no quarto e começa a se despir.

— Samantha, conheço bem esse seu olhar… Acho melhor você tirar essa ideia da cabeça —
repreendo.
— Que ideia? — Ela se faz de desentendida.

— Brizio faz parte da família, não é como esses homens que você está acostumada.

— Mandy, talvez esteja na hora de mudar. Eu também desejo me casar e ter filhos, sabe? Estou
cansada dessas viagens, das festas, dos caras que só me querem por causa do meu corpo. Quero
alguém que me ame por quem sou, pelo que tenho aqui! — diz, apontando para seu coração. — Mas
às vezes acho que os caras olham para mim e tudo o que veem é somente um belo par de seios e uma
bunda enorme!

— Não sabia que você se sentia assim — digo, e Manu apenas ouve.

— Sei que tenho esse meu jeitão louco, mas também anseio por um amor de verdade, daqueles
que viram nossa vida de cabeça para baixo.
— Você estaria disposta a morar aqui na fazenda e ter uma vida pacata como a da mamãe? —
Manu pergunta. — Porque meu irmão nunca vai sair daqui. Ele ama tudo isso.
— Ei! Vocês estão exagerando, né? Eu apenas achei Brizio gostoso! Não falei que quero me
casar com ele! — Samantha fala, voltando a ser ela mesma. — Mas me conte! Você e o Nicolas,
he i n?

— Ele me beijou ontem! — Manu fala, e seu rosto todo fica da cor de um tomate maduro. — E
não foi qualquer beijo! Foi o beijo.
Ela se joga de costas na cama.

— Uau! Quem diria, você e Nick? Eu nunca imaginaria!

Samantha pega uma toalha.

— O amor é assim mesmo, cheio de surpresas. Só vai devagar, porque nosso primo é muito
impulsivo. Quando ele põe algo na cabeça, não desiste até conseguir. Sem falar que ele tem todo
aquele jeitão explosivo. Tenha cuidado! Não quero que se magoe.

— Obrigada por se preocupar, Mandy, mas acho que já me apaixonei por ele. Isso foi
inevitável.
— Sei bem do que você está falando.

— Diz isso por causa de David? — ela pergunta, apoiando-se nos seus cotovelos para olhar
para mim.
— Sim, sabe que eu me apaixonei por ele quando ainda era uma menina. Nunca consegui me
esquecer daqueles olhos. E hoje, o destino nos colocou no mesmo lugar. Sabe o que isso significa?
— Que chegou o momento de vocês! Era para ser agora. Como a vovó Giovanna sempre diz…

— Tudo tem um propósito, NADA É POR ACASO! — falamos juntas e rimos.

Samantha vai correndo para o banho em seguida.

— Vou descer, porque tenho que ajudar a mamãe.

— Só vou tomar uma ducha e desço em seguida para ajudar.

Enquanto Sam está no chuveiro, vou mais uma vez até a varanda, mas os rapazes não estão
mais lá. Fico por ali sentindo a brisa morna que sopra e me lembrando daquele sorriso torto e dos
olhos mais lindos do mundo.
Quando a vejo na varanda, não posso acreditar. Eu nunca me esqueceria dos olhos daquela
garotinha que um dia vi me espiando enquanto eu digitava em meu notebook. Ela me seguia por todos
os lados. Tornou-se uma linda mulher, a mais bonita que eu já tinha visto.
Agora, só falta sorrir para que eu veja novamente as covinhas que se formavam em suas
bochechas. Desde a primeira vez, achei lindas.
Ela é a prima de Nicolas. Ele falava muito dela, e até houve uma época que eu achei que ele
era apaixonado por ela, mas Nick sempre negou, dizendo que eram como irmãos.
Nicolas me disse que ela era bailarina, mas que depois de um acidente, não poderia mais
dançar. A mulher continua me encarando, talvez tentando se lembrar de onde me conhece. Eu, por
outro lado, a reconheci assim que pus os olhos nela.

Amanda Sullivan é linda e sensual, mas não posso ter nada com ela. Meu coração continuará
fechado, porque um cara com minha herança genética não pode se dar ao luxo de se apaixonar. Isso é
para pessoas normais, e eu não sou uma delas.

O amor para mim é proibido. Não o mereço. Como alguém nascido do horror pode sequer
pensar nisso? Não, definitivamente, esse sentimento não é um luxo ao qual eu possa desfrutar.
Mas então por que ao olhar para ela o meu coração anseia por isso? Anseia por um toque, um
pouco de carinho, por seus beijos?
Coração idiota! Não sabe que isso é algo que não foi feito para nós? Porque ficar batendo
acelerado em meu peito se nunca poderemos tê-la?
Decido tirar esses pensamentos da minha cabeça e prestar atenção na conversa que estava
tendo com Nick.
Vejo outra mulher aparecer na varanda e falar algo para Amanda, que fica vermelha e briga
com ela. Reconheço-a também. É Samantha Sullivan, a famosa modelo plus size. Ela já ficou
hospedada algumas vezes na casa de Nicolas. É uma mulher muito bonita e exuberante, mas é direta
demais para meu gosto. Quem faz meu tipo mesmo é Amanda, que é discreta e formal.
O que estou pensando? Como assim meu tipo? Não posso me apaixonar! É um risco que não
estou disposto a correr. Mas não resisto e dou mais uma olhada para ela, que continua me encarando.
Um sorriso que não posso conter surge em meus lábios de repente.
Não entendo por que meu corpo reage assim. Sempre fui muito controlado, mas agora até meu
sorriso sai sem que eu perceba.
Fico ali encarando aqueles olhos castanhos cor de chocolate, que tem um toque de tristeza
neles. Preciso me lembrar de que ela é prima de Nick, um grande amigo e também meu patrão.
Nick e eu nos conhecemos há quinze anos, quando a mãe dele foi sequestrada por um ex-
namorado. Na época, Alessandro, meu pai, já trabalhava na agência de investigações que ele tinha
junto com tio Scott. Ele não é meu tio de verdade, mas é como um irmão para meu pai. A agência
ainda existe, e seu Alessandro quer que eu fique à frente dela quando ele resolver se aposentar, mas
não sei se quero.

Sou um perito em computadores e consigo invadir qualquer rede, hackear qualquer site desde
os treze anos. Até trabalhei com meu pai por um tempo, mas o tio dele, Willian, que era senador, me
contratou para trabalhar na CIA. Fiquei lá por cinco anos, fui treinado em várias artes marciais e era
um
Ele dos melhores agentes que eles tinham, mas, em uma das minhas missões, perdi meu parceiro.
foi morto com dois tiros. Fiquei muito abalado e pedi para sair. Antes disso, encontrei seu assassino
e o matei. Eu devia isso a Raul, meu querido amigo. Ele tinha esposa e filhos, que ficaram órfãos por
causa de um traficantezinho de merda. Eu não podia deixar aquilo barato, então continuei as
investigações, encontrei o homem e o matei. Sem misericórdia.
Foi então que reencontrei Nick, quando ele tinha vinte e dois anos e estava se preparando para
a luta pelo cinturão. Conversamos, e Nicolas me contratou para trabalhar para ele.
Não precisava de dinheiro, e sim de um lugar onde tivesse amigos. Foi o que encontrei com a
equipe que o treinava. Eu via meus pais raramente. Depois de uma briga muito séria, em que
descobri que Alessandro Baker não era meu pai biológico, fiquei revoltado, pois eles nunca me
contaram. Quase toda a família sabia, menos Jacob, meu irmão, e eu.
Jacob também está seguindo os passos do meu pai e trabalha com ele na agência. Hoje, ele tem
a idade de Nick, vinte e sete anos, está casado e é pai de duas crianças, um menino e uma menina.
Minha mãe, Diana, ainda está envolvida com a casa de chá, e é sócia junto com suas amigas Eliza e
Sofia. A casa de apoio às pessoas que sofrem violência ainda está lá e, infelizmente, cheia de
mulheres que passam por isso.

Eu segui meu caminho longe deles e agora que estou aqui no Brasil. Tenho certeza de que meu
pai vai ligar pedindo que eu vá visitá-los.
As garotas ainda estão na varanda. Manuela está olhando para Nick. Bem que eu percebi um
clima entre eles ontem. Só espero que ele não faça nenhuma burrada, porque ela parece ser uma boa
garota, diferente das que Nicolas costuma andar lá em Los Angeles.

Quanto a mim, sou um cara de trinta anos, continuo sozinho e é assim que pretendo continuar.
Não sou digno de amar ninguém, porque minha origem me impede. Não posso correr o risco de amar
uma mulher e depois fazê-la sofrer, porque meu coração tem uma escuridão que não posso
controlar. Algo que está em meu sangue. Essa herança maldita me faz temer almejar qualquer coisa
boa e depois estragar tudo.

Definitivamente tenho que me afastar de Amanda. Se apenas com um olhar ela já foi capaz de
me despertar esse tipo de reação, imagine quando estivermos perto? Ou nos tocando. É isso, manterei
distância dela.

— Hoje temos aquela festa para os funcionários do frigorífico, vocês vão, não é? — Nick
pergunta entusiasmado.
— Não sei. Acho melhor não — digo, sabendo que Amanda estará lá.

— Baker! Você não vai me deixar ir somente com o Bryan, cara! Ele é o maior porre. Quando
começa a beber, fica insuportável. E se ele se meter em alguma confusão?
O pior é que ele tem razão. Bryan bêbado é um perigo. Ele perde toda a noção e o bom-senso.

— Você tem razão, mas o resto do pessoal da equipe não vai?

— Não, eles querem aproveitar para descansar antes de começarmos os treinos. E meu tio vai
fazer um churrasco para eles e para os funcionários da fazenda.
— Então por que você não fica aqui também? — pergunto, tentando fazê-lo mudar de ideia.

— David, meu amigo… — Ele descansa a mão em meu ombro. — Eu preciso ir nessa festa.
Manuela estará lá. Acha mesmo que vou a deixar livre para que um idiota qualquer tente roubar o que
é meu?

— Acho que você está exagerando!

— Não, não estou! Ouça bem o que vou dizer: antes de esses quatro meses acabarem, estarei
casado com Manuela. Isso eu garanto!
— Você é louco — digo, balançando a cabeça negativamente. — Tudo bem, vou nessa festa.

— Obrigado, amigo!

O irmão de Manuela, Brizio, chega em seu cavalo, e começamos uma conversa animada. Dou
uma última olhada para a varanda, mas não há mais ninguém ali. Então, decidimos andar a cavalo
para eu conhecer a fazenda. É um lugar espetacular. Sempre gostei de lugares assim, longe da
agitação da cidade. Sinto-me bem onde posso estar isolado.
Brizio nos leva para conhecer o local. Estou acostumado a andar a cavalo, pois meu tio Johnny
comprou um rancho. Vou lá de vez em quando. Nick já esteve lá comigo algumas vezes e também
gosta de montar.

Bryan insiste em ir conosco, mas é uma má ideia. Ele nunca tinha subido em um cavalo. Um
cara de Los Angeles que nunca tinha sequer chegado perto do animal. Tive que me segurar para não
rir do seu jeito de ficar em cima dele. Na verdade, é uma égua. Brizio disse que é a mais mansa que
eles têm.
Cavalgamos por vários lugares e aproveitamos para ver o salão de festas, onde montaremos a
academia para os treinos. O lugar é perfeito, bem espaçoso. Logo depois das festas de fim de ano, os
treinos começarão, afinal Nick tem uma luta dura. O lutador Henry McCarthy o desafiou e está indo a
todos os meios de comunicação para fazer um alarde, dizendo que irá desbancar Nick, que o tempo
dele já havia acabado. Meu amigo está tranquilo, porque nunca foi de aceitar provocações, mas
também nunca se negou a aceitar um bom desafio.
Durante esses anos em que ele é o detentor do cinturão, já foi desfiado seis vezes, e todos
diziam a mesma coisa. Nicolas ficava em silêncio e no octógono é que mostrava do que era capaz.
Eu, particularmente, acho que ele vence essa luta fácil. O garoto ainda é inexperiente, tem vinte
e dois anos, mas Nick diz que não se pode menosprezar o adversário, afinal ele também era muito
novo quando conquistou o cinturão, e isso só aconteceu porque o campeão o menosprezou por ser
jovem demais.
A luta foi marcada para daqui a cinco meses, e eu sei o quanto Nick é um cara responsável. Ele
irá levar esse treinamento a sério, mas, no momento, precisa relaxar um pouco. Até mesmo ele
precisa de descanso de vez em quando, ficar longe daquela badalação que é Los Angeles.

Bryan faz questão de organizar festas e eventos, e eu sei o quanto Nick detesta isso. Arruma
mulheres para ele, dizendo que isso o ajuda a construir uma imagem forte de pegador. Só eu sei o
quanto tudo isso é falso e o quanto Nicolas odeia isso. Nas revistas, ele aparece o tempo todo
acompanhado de mulheres lindas, mas é tudo mentira.
Então, Nick decidiu vir para cá, assim Bryan — que só pensa no dinheiro, patrocínio, imagem
e todo esse blá-blá-blá — não pode inventar nada para tirá-lo do seu foco principal, que é treinar.
Não sei como Nick ainda não deu um pé na bunda desse mala. Se eu conheço bem meu amigo, ele
está muito interessado na Manu. E o jeito que Bryan olhou para ela ainda vai dar confusão.
Depois de uma manhã cavalgando, estamos aqui em frente à casa grande, como todas chamam a
área principal, esperando pelo almoço. Amanda não está mais na varanda, provavelmente foi tomar
um banho, porque faz muito calor e ela acabou de chegar de viagem.
Pensar em Amanda tomando banho não é uma boa ideia, porque a imagem dela nua sob o
chuveiro, com a água escorrendo por seu corpo, é a última coisa em que eu deveria pensar, mas isso
vem automaticamente em minha mente.
Acho que sou masoquista, porque sei que nunca poderei tê-la e, mesmo assim, fico fantasiando
com ela debaixo do chuveiro, em tocar cada parte do seu corpo molhado e amá-la ali mesmo.
— Não é, Baker? — Bryan pergunta alguma coisa, que não ouvi porque estava distraído com
meus pensamentos.
— Desculpe, não ouvi!

— Onde você está com a cabeça? — Nick pergunta e olha para a varanda onde Manu estava
instantes atrás com as primas.
— Eu falei que essa festa vai ser uma boa para relaxar antes que os treinos comecem. Disse a
Nick para aproveitar esse breve tempo de férias, porque depois o treino será intenso.
— Claro! Você está certo — falo.

—Você parece animado demais para uma simples festa de cidade do interior, Bryan. Essas
festas não são como as badaladas de Los Angeles — Nick diz.
— Mas também não é uma daquelas festas caipiras que vemos na TV, né? — pergunta curioso.

— Não, será bem divertida, você vai ver — Nick responde e lhe dá um tapa nas costas. —
Agora vamos entrar, meu estômago está roncando.
Entramos, e a mesa já está posta com aquela variedade de comida que só se tem nas fazendas.
Estamos nos ajeitando quando Amanda e Samantha descem a escada e se juntam a nós na sala de
jantar. Eu não consigo tirar meus olhos dela, e ficamos assim nos encarando, presos um nos olhos do
outro.
Ela é muito tímida, pois seu rosto cora com a intensidade do meu olhar, mas é inevitável. É
como se uma energia invisível me puxasse para ela e, por mais que eu queira sair do seu campo de
atração, não consigo.

Amanda desvia o olhar, e percorro os meus olhos por todo seu corpo. Ela usa um vestido solto
que vai até seus joelhos, e posso ver as cicatrizes em suas pernas. Ao perceber que eu as notei, fica
ainda mais vermelha e trata de achar um lugar para se sentar.

Que idiota e insensível eu fui! Já sabia que ela tinha cicatrizes, porque Nicolas me disse que o
acidente que sofreu foi muito grave. Amanda só se salvou por um milagre.
Durante o almoço, noto que ela quase não come. De vez em quando, me olha por baixo dos
cílios e disfarça quando percebe que eu estou encarando-a. Não consigo parar de fazer isso, é mais
forte que eu. Percebo que ainda continua aquela garota tímida que conheci quando tinha onze,
talvez doze anos.
É justamente essa timidez que me atrai nela. Nunca gostei de mulheres atiradas, sempre gostei
de conquistar, não de ser conquistado.
Mesmo assim, ainda eram casos passageiros, porque eu sabia que nunca poderia ter algo
duradouro, não com minha ascendência. Não poderia pôr em risco a vida de nenhuma mulher, e era
isso o que faria se me envolvesse demais com qualquer uma. Portanto, o correto a fazer é me afastar
de
eu Amanda antes mesmo de acontecer alguma coisa. Só não sei como! Durante esses quatro meses,
a verei todos os dias. E essa atração instantânea que sinto por ela tornará tudo mais difícil.
Estamos nos arrumando para a festa. Samantha está terminando de me maquiar, e Manu
fechando seu vestido, que é lindo! É um frente única vermelho e preto. O meu é com um corpete bem
apertado e longo. Sam sabe muito bem o quanto odeio mostrar minhas marcas, então escolheu um
vestido de acordo com meu gosto.
Desde o acidente, não ligo muito para o que visto, contanto que minhas cicatrizes não fiquem
aparentes.
Logo meus pais vão chegar com meu irmão Renato. Minha mãe é uma pintora muito
reconhecida por seus quadros lá na Inglaterra, mas agora meu pai cismou que quer voltar para o
Brasil. No começo, ela relutou um pouco, mas papai acabou convencendo-a. Ele sempre consegue
aquilo que quer.
Colocaram a casa à venda e estão de mudança para o Brasil. Meu pai enfiou na cabeça que
Renato tem que jogar no Grêmio, assim como ele. Quem está feliz com isso são meus avós, porque
eles detestam que a gente more tão longe. Meu pai só aceitou o emprego no Manchester na época que
ele ainda jogava por minha causa. Eu quis estudar balé em uma conceituada escola de dança na
Inglaterra, e ele e mamãe jamais me deixariam viver sozinha por lá.

Terminada minha maquiagem, é a vez de Sam se vestir. Ela é corajosa! Isso eu tenho que
admitir. Ela escolheu um vestido preto que marca todas as suas curvas e com um enorme decote na
frente.

Brizio está batendo na porta feito um louco.

— Andem logo! Desse jeito só vamos chegar quando todos tiverem ido embora!

Sam abre a porta, e eu queria ter tirado uma foto da cara que Brizio faz ao ver o vestido de
Sam. Ela olha para mim e pisca, mostrando-me que conseguiu o que queria ao escolhê-lo.
— Deixa de ser exagerado, Brizio. Já estamos prontas! Vamos?

Ela dá o braço para ele, que ainda está meio embasbacado com a beleza da minha irmã. Lá na
varanda, os rapazes nos esperam. Assim que vê Manu, Nick vem correndo e a abraça.
— Você está linda! — diz ele, sem conseguir disfarçar seu interesse nela. — Vocês estão
lindas!
David está perto dos carros. Olha para mim, só que depois me ignora. Isso me deixa triste,
pois hoje eu me arrumei para ele. Queria que me notasse, mas, pelo visto, sou invisível para ele.
Na hora de escolher o veículo para ir até a festa, David espera que eu escolha primeiro e vai
no outro. Agora tenho certeza de que está me evitando. Acho que ainda me vê como aquela garotinha
que o seguia por todos os lados, babando por ele.

Vou com Nick e Manu, super desanimada. Ainda tenho que testemunhar os momentos
românticos deles.
— Prima, sei que você já é adulta, mas me sinto na obrigação de falar isso para você. — Nick
me encara através do espelho retrovisor. — Percebi a maneira que você olhou para o David hoje.
Ele é um cara complicado. Não tem relacionamentos. Sabe, se você insistir nisso, vai acabar se
magoando. Não quero isso para você.
— Nick, como você disse, sou adulta. Sei muito bem o que faço! — falo ríspida. Estou
cansada de todos me tratarem como um cristal frágil que pode se quebrar a qualquer momento.
— Desculpe, eu não quis te chatear. É porque conheço David há mais de quinze anos. Ele já
está trabalhando comigo há cinco. Eu o conheço bem e me preocupo com você — responde,
claramente magoado pela forma como o respondi.

— Me desculpe também, exagerei um pouco. Estou cansada de todos me tratando como se eu


fosse quebrar a qualquer momento!
— Sinto muito se você se sente assim. Nós só te amamos e nos preocupamos com você — ele
continua.
— Eu sei, eu sei!

Só não gosto disso, porque não sou tão frágil. Eles pensam assim desde que eu era menina, me
tratam como se a qualquer momento eu fosse quebrar. É difícil ser aceita pelo que sou, mas vou
provar a todos que a imagem que têm de mim não é verdadeira.

Finalmente chegamos a tal festa. Nicolas e Manu resolveram ter uma sessão de amassos no
carro antes de entrarmos no salão.
— Ah, não! Isso já é demais para mim! — digo, saindo do veículo.

Encontro com os outros, e entramos, indo direto para a mesa que nos foi reservada. Os homens
vão até o bar para pegarem as bebidas. Nick mal entra no salão e já é reconhecido, então, logo se
forma uma fila de fãs para tirar fotos com ele. Quem não gosta muito disso é Manu, que está com os
braços cruzados em frente ao corpo e um bico enorme na boca.
— Você terá que se acostumar a isso. Ele é o Nick “punhos de aço” e é conhecido quase no
mundo todo — Samantha fala, mas Manu continua com a cara emburrada.
Sam e Brizio vão para a pista de dança. Bryan convida Manu, que aceita rapidamente. Eu
procuro David, mas ele sumiu. Fico ali sentada bebendo minha Coca. Minutos depois, um rapaz até
que bem bonito me convida para dançar, e eu aceito. Mas no meio do caminho me arrependo, pois
percebo que ele está bêbado. Sou medrosa demais para voltar atrás.
Na pista de dança, ele me envolve pela cintura, enquanto eu descanso meus braços em seu
pescoço. Não me sinto à vontade, pois o homem me aperta demais. Tenho que subir suas mãos várias
vezes, pois ele teima em querer deixá-las na minha bunda. Estou lá tentando tirar as mãos do tarado
de mim pela décima vez, quando vejo David dançando com uma garota. Ela é bonita, tem um corpão
e cabelos longos.

Ele ainda não me viu. A mulher está se esfregando nele como uma gata no cio com seus peitos
enormes. Droga, por que eu tenho que ser tão sem graça? E esse cara folgado! Daqui a pouco vou dar
uma joelhada nele!

Quando David enfim me vê, sua expressão parece com… ciúme? Não, acho que estou
imaginando coisas. David Baker jamais sentiria ciúme de mim.
Continuamos a dança, e ele não tira os olhos de mim. Estou tão presa em seu olhar que nem
percebo mais o que o cara está fazendo. Ele fala algo em meu ouvido, mas quem disse que eu
entendi?

Então, resolvo sanar as minhas dúvidas e recosto minha cabeça no peito do cara com quem
danço. Vejo os olhos de David semicerrarem e uma linha dura se formar em sua boca. O tarado desce
mais uma vez a mão para minha bunda. Neste momento, David solta a garota e vem na minha
direção.

— Posso dançar com a moça agora?

Ele nem espera a resposta e me puxa pelo braço, enlaçando-me pela cintura, moldando meu
corpo ao dele. Estamos tão juntos que mal posso respirar. Nossos rostos estão tão próximos que
consigo ver cada toque verde em seus olhos cor de safira.

— David, por favor, não posso respirar. — Ele não afrouxa seu aperto, fica assim apenas me
olhando. — Por que está me olhando assim? — pergunto quase sem fôlego.
— Você é muito bonita — diz, olhando fixamente para minha boca.

— Seu mentiroso.
— Você é a mulher mais bonita que eu conheço. — Meu coração para. — E não pense nem por
um segundo que minto. Você é linda.
Estamos muito, muito próximos. Quando menos espero, David me beija. No começo, é um
beijo casto e lento, mas basta que eu dê abertura para que ele aprofunde e me beije mais
apaixonadamente, invadindo minha boca com sua língua.

De repente, sinto como se estivéssemos sozinhos neste salão. Entrego-me àquele beijo como se
minha vida dependesse disso, sentindo a maciez dos seus lábios, seu gosto na minha boca e toda a
paixão que ele demonstra agora. Mas assim como começou, acaba.

— Me desculpa! Eu não deveria… — diz e sai, deixando aqui no meio do salão com cara de
tonta.
Mas estou decidida a não deixar isso passar! Vou atrás dele, mas não o encontro em lugar
algum. É como se tivesse desaparecido em um passe de mágica. Ando um pouco aqui fora. O clube
onde organizaram a festa é bem bonito, muito arborizado. Passeio entre as árvores até encontrar um
jardim lindo.
Sento-me em um pequeno banco de madeira e daqui não dá nem mesmo para ouvir a música, só
então percebo o quanto havia me afastado pensando no beijo que David me deu, no quanto esperei
por isso e no quão maravilhoso foi. Mil vezes melhor do que imaginei tantas vezes.

Está esfriando. Abraço meu corpo e esfrego meus braços para aquecê-los. Ouço um estalo
como de um galho quebrando.
— Quem está aí? — pergunto, mas não obtenho resposta. Deixo para lá, porque deve ser algum
animal.
Ainda sentada, fico observando as estrelas quando sinto uma mão repousar sobre meu ombro.
Acho que é David, então olho para trás sorrindo, mas meu sorriso morre assim que percebo que é
aquele cara com quem dancei.

— O que uma garota linda como você faz sozinha aqui? — questiona, e posso sentir o cheiro
forte de álcool em seu hálito.
— Só vim tomar um ar, mas já estou voltando para a festa!

Levanto-me para sair, porém ele me bloqueia parando na minha frente.

— Não tenha tanta pressa, menina linda! Estou de olho em você a noite toda. Vi o beijo que
você deu naquele cara grandão. Será que não tem um beijinho para mim também?
Ele chega mais perto.
— Com licença, tenho que ir — digo, e ele apenas sorri.

Em seguida, passa os olhos por todo meu corpo, fazendo-me ter calafrios de medo. Como sou
idiota! Por que tinha que me afastar tanto? Ele pega no meu braço.
— Me solte, por favor! — Puxo meu braço, mas ele mantém seu aperto.

— Ou o quê? Você vai gritar? Grita! Ninguém vai te ouvir. Estamos muito longe. — Ele me
aperta em seus braços, prendendo-me, e depois cheira meu pescoço. — Hum… Cheirosa! Assim que
eu gosto!

Passa a língua no meu pescoço, e tento me desvencilhar, mas ele é mais forte que eu. Quero lhe
acertar uma joelhada, como meu pai me ensinou, só que meu vestido está preso sob meus pés e não
consigo. Uso todas as forças para empurrá-lo e finalmente consigo. Ele se desequilibra e cai,
segurando meu vestido, que rasga na parte da frente, expondo meu sutiã. Imediatamente, levanto
minhas mãos para proteger meu corpo e tento sair correndo, mas ele é mais rápido e me agarra,
jogando-me no chão e deitando-se sobre mim em seguida.
— Vamos ver se você é tão gostosa quanto seu cheiro!

Passa as mãos por minhas pernas, subindo pelas minhas coxas. Eu luto contra ele, dando socos,
tapas, arranhando seu rosto, mas ele não desiste.
— Não! — grito. — Me solta! — continuo gritando, então sinto sua mão na minha calcinha.
Oh, meu Deus! Ele vai me violentar! — Socorro! Alguém me ajuda! — grito com toda força que
tenho nos meus pulmões e sinto que ele é tirado de cima de mim.

Arrasto-me no chão para fugir dele e só então vejo David segurando-o pela garganta. Ele olha
para mim, e seus olhos se tornam escuros. Começa a bater no cara, dando socos após jogá-lo no
chão. David sobe nele e bate mais, depois se levanta e começa a chutá-lo. Algumas pessoas
aparecem e veem a briga, e eu fico ali no chão, tentando segurar a parte rasgada do meu vestido para
esconder meu corpo.

David olha para mim novamente, com seu rosto sujo de sangue.

— Você está bem? — pergunta, e apenas afirmo com a cabeça. Ele volta a bater no cara, que a
essa altura já está desmaiado no chão.
Nicolas chega e tira David de cima do infeliz. Sua roupa está toda ensanguentada.

— Calma, Baker, você ficou louco? — Nick pergunta.

David olha para mim antes de responder:


— Esse desgraçado agarrou Amanda à força! Se eu demorasse um pouco mais para a
encontrar, ele teria a estuprado!
Todos olham para mim, e eu quero morrer neste momento tamanha é a minha vergonha. Saio
correndo, e Samantha vê, vindo atrás de mim logo em seguida.
Quando ouço os gritos, não sei de quem são, mas ainda assim corro até lá para ajudar. Nada
havia me preparado para a cena que testemunho. Amanda está no chão, e aquele cara que dançou
com ela sobre seu corpo. Ela luta contra ele, dando socos e o arranhando. O nojento tenta segurar
suas mãos.
Não penso duas vezes antes de ir até lá e agarrar o maldito pela camisa para tirá-lo de cima
dela. Minha mão vai direto para seu pescoço e tudo o que mais quero neste momento é esmagá-lo
com minhas próprias mãos.

Olho para Amanda, que está assustada e com a roupa rasgada. Vê-la assim enche meu peito de
uma fúria animal, e a única coisa que eu quero é acertá-lo, socar a cara dele até que não sobre dentes
na sua boca. E é o que faço. Começo a bater no desgraçado e jogo-o no chão. Sigo socando e
chutando mesmo sabendo que ele não aguenta mais.
Alguns curiosos vêm e formam uma roda à nossa volta, mas eu não me importo. A imagem dele
sobre Amanda, tentando forçá-la, não me sai da mente, e só penso em matá-lo por isso.
De repente, sinto alguém me segurar. É Nicolas que me tira de cima do maldito fodido antes
que eu realmente o mate. Dois homens o carregam para longe de mim, mas eu ainda não acabei com
ele. Tento me desvencilhar de Nicolas e terminar com o desgraçado de uma vez.

— Me solta! Vou matar esse desgraçado! — Eu tento me soltar, mas Nicolas me segura firme,
impedindo-me de chegar a ele.
— Calma, Baker! Você ficou louco? — grita, tentando me chamar a razão, mas está bem difícil.
Não consigo!
— Esse desgraçado agarrou Amanda à força! Se eu demorasse um pouco mais para a
encontrar, ele teria a estuprado! — grito, e Manuela fica chocada. Amanda sai correndo,
acompanhada de Samantha.

— Oh, meu Deus! Para onde ela foi?

— Deve ter ido com Samantha até o banheiro. O desgraçado rasgou o vestido dela.
Assim que termino de falar, Manuela sai correndo para ver a prima. A polícia chega em
seguida, e explicamos o aconteceu. Eles levaram o maldito sob custódia. As garotas voltam, e
Amanda não para de chorar. Não aguento vê-la assim e vou até ela. Agacho-me em frente à sua
cadeira.
— Por favor, pare de chorar. Ele já foi preso, não pode mais te fazer mal.

Seguro seu rosto, fazendo-a olhar bem em meus olhos.

— Obrigada. Se você não tivesse chegado, ele…

Ela começa a chorar novamente. Sem pensar no que poderiam pensar, eu a aperto em meus
braços. Com este abraço, quero afastar todas aquelas terríveis lembranças. Sei muito bem o que elas
significam para uma mulher. Somente um covarde age assim, alguém que nunca poderia compreender
o íntimo de uma mulher, alguém com a mente pior que a de um animal.
Isso me traz tantas lembranças ruins de uma parte da minha vida que eu quero muito esquecer.
Sinto que, aos poucos, Amanda vai se acalmando. Tento me levantar, mas ela me aperta mais em seu
abraço.

— Não me deixe sozinha, por favor!

Olho novamente para os belos olhos cor de chocolate e não posso resistir ao seu pedido.

— Tudo bem, não vou te deixar. Eu prometo.

O pior é que eu disse a verdade. Depois do beijo que trocamos, não sei se poderei deixá-la
sair da minha vida.
— Acho que a festa acabou para gente, vamos para casa — Brizio fala, e seguimos para os
carros. Amanda fica tensa ao chegarmos perto dos veículos.
— Eu prometi que não vou te deixar e vou cumprir.

Abro a porta, e ela entra. Sento-me ao seu lado e a envolvo em meus braços. Ficamos em
silêncio até chegarmos à fazenda. Saímos todos, e eu a levo até a porta de casa.
— Agora você está segura.

Amanda me olha bem nos olhos, passa suavemente a mão em meu rosto e diz:

— Obrigada! Nunca vou me esquecer que você me salvou hoje!

Ela me dá um beijo na bochecha, que pega no canto da minha boca, e entra. Eu espero alguns
instantes, dou boa-noite para Nicolas e Manuela e sigo para a cabana onde estou hospedado.
Andando até lá, não consigo tirar Amanda e o nosso beijo da cabeça. Isso me deixa aflito.
Eu não poderia, nem deveria, me apaixonar por ela, mas é justamente isso que está
acontecendo… Estou me apaixonando por Amanda.
Estou sentado perto da janela quando vejo Bryan se jogar no lago.

— Idiota!

Saio correndo e vejo Fabrizio se jogar atrás dele, mas do jeito que ele estava bêbado, Fabrizio
não vai conseguir tirá-lo de lá sozinho. Jogo-me também, e os dois juntos conseguimos trazê-lo para
a beira.

— Eu vou matar você, Bryan! — grito com ele. — Essa água está um gelo!

— Nem me fale! Essa era a minha melhor roupa! — Fabrizio fala, olhando para si mesmo. —
Vamos levar logo esse rato para tomar um banho.
— Não foi bem assim que imaginei meu fim de noite, sendo babá de um beberrão! — digo,
segurando um dos seus braços sobre meu ombro, enquanto Fabrizio faz o mesmo com o outro. Nós o
arrastamos para sua cabana. — E quem vai o colocar debaixo do chuveiro? — pergunto, ainda o
segurando.
— Ah não, cara! Eu é que não vou fazer isso! — Fabrizio larga Bryan, e eu seguro todo o seu
peso. — Boa noite! — diz e sai.
Eu levo Bryan até o banheiro e ligo o chuveiro.

— Essa eu vou cobrar! Ah, se vou! — falo sozinho.

Depois de alguns minutos debaixo do chuveiro, ele recobra a consciência.

— Ainda bem que você acordou! Não estava nem um pouco a fim de tirar a sua roupa!

— Eu, hein! Cara, por que você queria tirar a minha roupa? Só para avisar, eu curto mulheres,
ok? — fala e se levanta cambaleando um pouco.
— Primeiro: eu também gosto de mulheres. Segundo: se eu gostasse de homens, você seria o
último da fila. Estou saindo. Vê se não demora, porque também preciso de um banho depois de ter
que me jogar no lago para não deixar você se afogar.

Saio batendo a porta do banheiro.


No dia seguinte, estou fazendo minha corrida matinal quando passo em frente à casa principal e
ouço gritos. Corro para lá e subo as escadas, dando de cara com Fabrizio e Nicolas se embolando no
chão, e seu Rodrigo tentando separá-los. Vendo que ele não vai conseguir sozinho, vou até lá e seguro
Nicolas, enquanto seu Rodrigo segura Fabrizio, que está transtornado, gritando que viu Nick saindo
quarto da Manu.
Todos olhamos para Manuela, que tem o rosto vermelho e não consegue nem olhar para o pai.
Nicolas se acalma e vai até ela, ficando ao seu lado. Então, começa uma nova discussão, mas fico
alheio a tudo isso, pois vejo Amanda parada perto da porta, usando apenas uma camisola. Ela está
linda com seus cabelos desgrenhados, como se tivesse passado a noite fazendo amor.
Não consigo tirar meus olhos dela, porque ela é simplesmente a mulher mais linda que já vi.
As marcas em suas pernas e rosto não fazem diferença para mim, o que me importa é o que ela é por
dentro. Apesar de que por fora ela continua linda.

Tenho que me afastar de Amanda, que é tão pura. Não posso manchá-la com minha escuridão.
Ela é muito inocente perto de alguém tão sujo e sombrio quanto eu. Sim, o certo é me afastar, isso é o
lógico, mas quem disse que meu coração aceita? Ele a quer. Ele a escolheu. Apesar de não a
merecer, ele a escolheu.
Tudo nela me atrai. Os olhos cor de chocolate, a boca perfeita, os cabelos pretos e lisos, as
covinhas meigas quando ela sorri, até mesmo as cicatrizes, porque elas me mostram o quanto é forte
e destemida.

Droga de coração! Por que você não podia continuar adormecido? Por que despertar logo
agora? Logo por ela? Ela que nunca poderemos ter.
Sou tirado dos meus devaneios quando seu Rodrigo diz que Nick tem sair da casa dele e Manu
se joga na frente dele, dizendo que se ele sair, ela também vai. Aí vejo os olhos do pai dela
mudarem, sei que ele vê o mesmo que eu. Manu está apaixonada por Nick, não tem mais como voltar
atrás.
Seu Rodrigo desce as escadas dizendo para Nicolas ir até o escritório falar com ele. Fabrizio
também recebe a ordem. As garotas são chamadas para irem para o quarto com dona Ruth.
— Mas, tia, eu não fiz nada! — Amanda reclama.

— Não fez ainda, mas só jeito que você está olhando o bonitão ali, isso não vai demorar! —
dona Ruth fala, e Amanda fica vermelha. E ainda mais bonita.
Eu não posso deixar de sorrir ao vê-la assim. Definitivamente, percebo que ela já entrou em
meu coração e fez morada aqui. Não deixou lugar para mais ninguém. Isso é péssimo! Não posso!
Nunca, jamais, poderemos ficar juntos. Digo a mim mesmo novamente. Ela não merece alguém como
eu. Eu não mereço alguém como ela, tão linda, limpa e inocente.
Em seus olhos, posso ver sua alma, tão brilhante e reluzente, enquanto a minha é escura e feia.
Desço a escada e saio porta afora para terminar a minha corrida, mas o treinador me pede para
esperar por Nick. Depois de um tempo, ele sai, preparado para a corrida. Após fazer os
alongamentos, nós saímos para uma corrida de cinco quilômetros.
— E aí, já resolveu tudo com o sogrão?

— Sim, tudo resolvido. Você acha que tio Rodrigo é linha dura? Espera até conhecer o tio
Caleb. Ele é maior que eu. Pronto para enfrentar a fera?
— Por que você está falando isso? — pergunto, parando de correr.

— Ei! Não mandei parar, Nick! — grita o treinador.

— Cara, acha que não percebi a maneira que você olha para Mandy?

— Ah, cara! Não inventa! Você conhece minha história, sabe que eu não posso amar ninguém.

— Você também sabe o que eu acho disso. Você não é ele. Já conversamos sobre isso — fala,
parando com as duas mãos apoiadas nos joelhos, ofegante, e toma um pouco de isotônico.
— Eu também já te disse o que acho. — Volto a correr. — Vamos nos exercitar que é o melhor
que temos a fazer.
Após a corrida, ainda vamos para a academia. Pouco tempo depois, Manu aparece por aqui.
Quando ela entra, todos os homens olham para ela, e vejo faíscas saírem dos olhos de Nick. Ele
sempre foi muito ciumento e, pelo jeito, com Manu, será ainda mais possessivo.

Continuo com minha série, e ela sai.

— Ei, Baker, onde está o Bryan? — Nicolas me pergunta.

— Deve estar dormindo ainda. Depois de ontem, ele não acorda tão cedo.

— Ótimo! Manu nos convidou para ir até uma cachoeira, mas confesso que estou um pouco
receoso, por causa de Brizio.
— Também vou, assim evitamos qualquer confusão.

— Sim. E certa mulher de cabelos pretos não tem nada a ver com isso?

— Isso nem me passou pela cabeça! — minto, pois a primeira coisa que me passou pela
cabeça foi Amanda andando no meio da mata cheia de obstáculos. Quero estar ao seu lado para
protegê-la.
— Não quero ser intrometido, mas a Mandy é como uma irmã para mim. Não quero que ela
sofra. Ela é muito frágil, sempre foi, mas agora depois do acidente, ficou pior. E você é um cara
complicado.
— Nick, podemos ser amigos, mas isso não te dá o direito de me dizer como devo agir — falo,
retirando as luvas.
— Você tem razão, me desculpe. Só estou agindo como um irmão mais velho. Estou morrendo
de fome, vamos almoçar?
— Nick, não vá sair da dieta! Baker, fica de olho! — o treinador fala.

Durante o almoço, eu, mais uma vez, não consigo tirar meus olhos de Mandy, que está sem jeito
com isso. Tenho que estar o tempo todo me policiando para não a constranger. Ela é muito tímida, e
eu ficar olhando para ela assim não ajuda. Com certeza Amanda acha que estou olhando-a por causa
das suas marcas. Mal sabe ela que isso não me importa nem um pouco.
Tenho que sair dessa fazenda antes de fazer alguma coisa que eu me arrependa para sempre.
Depois
um desse passeio, eu vou passar uns dias com meus pais. Talvez, quem sabe, se eu me afastar
pouco, esqueça dessa cisma com ela.

Sim, ficar longe será o melhor para mim e para ela.


Depois que David me deixou em casa, achei que não conseguiria dormir devido ao acontecido,
mas a presença dele me tranquilizou. Só de pensar que ele estava preocupado comigo, meu coração
fica aos pulos dentro do peito. Apesar do que havia acontecido, eu estou tranquila. Só de saber que
David me defendeu e foi tão carinhoso comigo, me encho de esperança.
Vou até o armário e pego uma camisola. Depois de um banho demorado, me deitei e demorei
um pouco para pegar no sono, porque as lembranças do que aconteceu ainda estavam na minha mente
Acordo com Samantha entrando furiosa no quarto.

— Quem aquele idiota pensa que é? Acha que pode me tratar daquele jeito? Está enganado! —
ela exclama, enquanto anda de um lado para outro no cômodo, usando apenas uma camisa masculina.
— Eu não acredito! Você transou com ele, não foi? — pergunto, jogando as cobertas para o
lado para me levantar.
— Sim! E foi a melhor noite da minha vida! Ele é tão gostoso e…

— Ah, me poupe dos detalhes sórdidos! — interrompo.

— Por que, maninha? Essa é a melhor parte! — Samantha me puxa para a cama e, quando vai
começar a falar, ouvimos os gritos. — Eles ainda estão discutindo?
— Eles quem? — pergunto.

— Brizio está fazendo um escândalo só porque viu Nick saindo do quarto da Manu agora de
manhã.
— O quê? — Ouvimos Manu gritando e saímos do quarto. Damos de cara com Nick e Brizio
se rolando no chão, enquanto se socam.
É claro que Nick está se controlando para não machucar Brizio, mas ele também é muito forte
e insiste em bater em Nicolas. Então, tio Rodrigo aparece e tenta separá-los, mas só consegue quando
David aparece para ajudar.

Nicolas está mais calmo, já Brizio parece um touro bravo. Até David tem dificuldades para
segurá-lo.

— Parem com isso agora! — minha tia grita. — Por que estão brigando?

— Esse folgado estava saindo de fininho do quarto da Manu agora de manhã! — Brizio grita, e
todos olhamos para Manu, que está com o rosto vermelho. Se eu estivesse em seu lugar, também
estaria assim.

— Por que não diz para o tio Rodrigo que você viu isso quando eu estava saindo do seu quarto
pela manhã, Brizio? — Samantha o acusa. Agora todos olhamos para ele, que também fica vermelho
feito um pimentão.

— Tio, eu ia falar com o senhor …

— Cale-se! — tio Rodrigo vocifera, interrompendo Nick. Olha duro para todos nós. — Quero
que arrume todas as suas coisas e saia da minha casa! — grita, e posso ver o quanto ele está furioso.
— Pai, não! Não mande Nick embora, eu o amo! Se ele for, eu também vou! — Manu fala
desesperada.
Tia Ruth começa a chorar e chama meu tio para um canto, mas fala com ele alto o suficiente
para que todos nós escutemos.
— Rodrigo, Renan e Sabrina estão para chegar entre hoje e amanhã. Como vai explicar que
expulsou o filho deles daqui? — Tio Rodrigo olha para Manu, que está segurando o braço de Nick e
ainda chora. — É de Nick que estamos falando. Quem seria melhor para nossa filha? Se lembra de
que ele a salvou?
Sei que tia Ruth tocou no ponto fraco dele, pois tio Rodrigo fica pensativo.

— Quero você no meu escritório agora! — fala para Nick. — E você… — Aponta para Brizio
em seguida. — Assim que eu acabar de conversar com ele, quero falar com você — fala e sai.
Ficamos todos aqui com cara de tacho, olhando uns para os outros. David está me encarando, e
seus olhos passeiam por todo meu corpo. Só então me lembro de que estou usando uma camisola
minúscula, e todas as cicatrizes das minhas pernas estão visíveis. Mas em seus olhos não tem nada
repulsa ou pena. Posso ver que ele olha para mim com… desejo? Hã? Desejo?
Minha tia chama as meninas para irem até seu quarto, com certeza para lhes dar um sermão. Eu
estou saindo de fininho quando a ouço dizer:
— Na-na-ni-na-não! Aonde pensa que vai? — pergunta para mim.

— Mas, tia, eu não fiz nada! — argumento.


— Não fez ainda, mas só jeito que você está olhando o bonitão ali, isso não vai demorar! —
Ela aponta para David, e sinto meu rosto esquentar. Aposto que está vermelho. Arrisco a dar uma
olhada para ele, que está com aquele sorriso torto, achando graça de tudo.
Vou para o quarto de tia Ruth e, ao contrário do que eu pensava, ela está abraçando Samantha e
rindo com ela.
— Não acredito! Você conseguiu domar o cavalo chucro do meu filho! — exclama, e as duas
dão aqueles gritinhos de comemoração.
Manu entra depois, e começamos uma longa conversa. Vejo os olhos de Samantha saltarem
quando tia Ruth começa a falar em netos.
— Tia, espera um pouco! Brizio e eu passamos uma noite juntos, ok? Foi a melhor e mais
quente, mas eu não disse que a gente ia se casar, muito menos ter filhos!
Sam vai até a janela.

— Só tenho algo a dizer para você — tia Ruth fala. — Sei que você está acostumada a uma
vida de festas e baladas. Sei também que ainda é muito jovem, mas meu filho não sai por aí
dormindo
com qualquer garota. Se isso aconteceu entre vocês dois, é porque ele quer algo sério com você,
então acho bom ir se acostumando com a vida aqui na fazenda, porque Brizio não vai te deixar ir.
— Não parece que ele esteja assim tão interessado, do jeito como foi grosseiro comigo hoje
— Sam continua falando. Eu acho super estranho, porque ela nem sequer se negou a ficar aqui na
fazenda. Achei que ela fosse dizer um “Nem pensar em morar neste lugar! Casada? Jamais. Filhos?
Não são para mim!”. Mas não. Pelo brilho que vejo em seus olhos, Sam realmente está cogitando
essa possibilidade.

— Filha, Brizio tem todo aquele jeitão e aquela cara de mau, mas é um bom menino. Espere e
verá como daqui a pouco vem te pedir desculpas. E quanto a você… — Ela se vira para falar com
Manu. — Não fique assim. Seu pai agiu daquele jeito só porque ficou surpreso. Ele ainda não tinha
percebido que a princesinha dele cresceu e se tornou uma bela mulher. Tudo vai ficar bem. Rodrigo
adora o Nicolas.

— Sim, mas a forma como ele me olhou pouco tempo atrás… Nunca vou me esquecer da
decepção que vi em seus olhos — Manu fala chorando.
— Seu pai vai se esquecer disso logo, logo. Sabe por quê? Porque no fundo isso é o que ele
queria,
será que você encontrasse alguém como Nick. Agora eles devem estar conversando e tudo
esclarecido, portanto pare de chorar. — Enquanto acalma Manu, tia Ruth não tira os olhos de mim.
Logo em seguida, vem falar comigo. — E você, minha querida, sabe que te amo como a uma filha,
não sabe?
É claro que sei. Tia Ruth foi quem cuidou de mim no período em que minha mãe ficou
desaparecida. Por quatro anos, ela foi minha mãe. Sempre me amou e me deu o carinho que eu
precisava. Eu tinha apenas três anos quando tudo aconteceu. Até os sete anos, tia Ruth foi uma mãe
maravilhosa para mim.
— Eu sei, tia.

— Vi o jeito que o David olhava para você.

— Com certeza olhava para essas cicatrizes horrorosas — digo, gesticulando em direção às
minhas pernas e rosto.
— Não foi o que eu vi. E depois, por que acha que ele não se interessaria por você?

— Tia, olhe para mim! Sou sem dúvida a mulher mais sem graça deste quarto. Samantha é
linda, exuberante, cheia de curvas. Manu é maravilhosa, com seus belos olhos cor de violeta e os
seios perfeitos. Você tem toda essa altura, um corpo perfeito, com tudo no lugar, e belos olhos azuis.
E eu, o que tenho? Sou uma magrela sem graça, tímida, e ainda tenho essas marcas horríveis nas
minhas pernas. Sem contar nessa cicatriz horrível em meu rosto! Deve ser por isso que nunca
namorei ninguém.
— O quê? — todas perguntam juntas.

— Mas você tem vinte e seis anos… — tia Ruth fala incrédula.

— E aquele cara? Aquele que era seu amigo na companhia de dança. Se bem me lembro, vocês
namoraram durante seis meses! — Samantha observa.
— Nosso namoro foi uma farsa. Ele não queria que os pais soubessem que era gay e me pediu
para ajudá-lo. E a nossa mãe estava pegando no meu pé dizendo o tempo todo que eu deveria ter um
namorado, então um ajudou o outro — falo, sentando-me na cama.

As três ficam me olhando de boca aberta.

— Então… Você ainda é virgem? — Sam me pergunta.

Fico morrendo de vergonha, mas as encaro e digo:

— Sim. Até ontem nunca tinha sequer beijado de verdade. Tudo o que tive foram alguns beijos
sem graça com meu amigo homossexual. Viram como eu sou patética?
— Você não é patética! Só não chegou seu momento ainda, querida — fala tia Ruth.

— Temos que dar um jeito nisso. Vamos aproveitar que David está por aqui! — Samantha fala,
e meu sangue gela na hora. — Eu já tenho um plano.

— Não! — Eu grito. — Sam, me prometa. Ou melhor, jure! Jure que você não vai se intrometer
nesse assunto!
— Eu, hein! Só quero ajudar.

— Sam!

— Tudo bem. Não vou me intrometer. Mas meu plano era infalível…

Graças a Deus tirei da cabeça de Samantha que ela precisa me ajudar.

Na hora do almoço, todos estamos reunidos à mesa. Eu me sinto aliviada que ninguém tocou no
assunto da noite passada, assim não preciso passar por mais esse constrangimento.
— Mãe, tudo está pronto para irmos à cachoeira? — Manu pergunta.

— Sim, querida!

Tudo está muito gostoso. Agora que não danço mais, posso comer um pouco a mais. Antes era
cada dieta louca para manter o peso. Se bem que não engordei, acho que essa é mesmo a minha
estrutura.

Estou divagando quando percebo David me olhando, só então percebo que minha cicatriz está
aparente. Imediatamente, deixo os cabelos caírem por cima para escondê-la. Ele me olha, juntando a
sobrancelhas em uma interrogação, e depois balança a cabeça negativamente.

Quando terminamos, vamos logo em direção à cachoeira. Estamos andando há mais de meia
hora pelo meio do mato. São muitos obstáculos para passar, e minha perna começa a doer um pouco.
Paro para descansar e vejo os outros se distanciarem. Escoro-me em uma árvore e fecho meus olhos,
tomando fôlego.
— Está tudo bem? — David pergunta, dando-me o maior susto.

— Você me assustou! — grito, colocando a mão sobre meu coração.

— Desculpe! Está tudo bem? — questiona novamente.

— Só está muito quente.

— Me dê sua mochila — pede.

— Por quê? Sou perfeitamente capaz de levar minha mochila! — falo irritada.
Mais um que acha que sou feita de cristal. Ando e o deixo para trás, até tropeçar em sei lá o
que e quase cair de cara no chão. A sorte é David me segurou antes que acontecesse.
— De nada! — fala e segue andando.

Essa cachoeira fica onde? No fim do mundo? Estamos andando há mais de uma hora, e está
cada vez mais difícil para mim. Se não fosse por David, eu já teria caído umas cinquenta vezes.
Canso de me fazer de forte e deixo que ele leve minha mochila.

— Isso aqui é demais! — Samantha grita ao finalmente encontrarmos a cachoeira.

A esta altura, todo meu entusiasmo já era. Deve ter ficado para trás há meia hora, quando
tropecei pela milésima vez. Deixamos as coisas mais afastadas e todos tiram suas roupas para cair na
água.

Quando David tira a camisa, fico sem fôlego. Ele é lindo! Como posso almejar que ele sequer
olhe para mim? Fico superconstrangida. Como ficar de biquíni na frente dele com todas as cicatrizes
do meu corpo?

Além das marcas do acidente, ainda tenho em minhas pernas as das operações. Uma cirurgia
plástica não é recomendada para mim devido às minhas cicatrizes serem queloides. Essa é a maneira
do meu corpo se recuperar, então eu terei que conviver com as marcas para sempre.

— Você não vai entrar na água, Mandy? — Sam me pergunta.

— Acho melhor não.

Sam percebe que estou com vergonha e vem falar comigo mais de perto. Manu vem junto.

— Você está com vergonha por causa de David, não é?

— Sim — admito. — Sam, você já olhou para ele? Veja como é lindo! E eu tenho esse meu
corpo horroroso!
— Mandy, você é linda! Para com isso! — Manu fala. — Vem, está muito quente. Andamos
todo esse tempo para você não entrar na água?
— Por que não quer entrar? — David pergunta. Eu nem tinha percebido que ele estava tão
pe r to.
Sam e Manu saem e me deixam ali com ele.

— Prefiro ficar aqui! — digo, sentando-me nas pedras.


— Você não sabe nadar?

— É claro que sei! Só não estou a fim! — respondo mais alto do que realmente é necessário.

— Tudo bem! Vou ficar aqui também.

David se senta comigo sobre as pedras, ainda sem camisa, e é impossível não olhar para ele e
seu abdômen perfeito.
— O quê? Não! Está muito quente. Você deve aproveitar e cair na água!

— Só se você for comigo.

— Já falei que não quero ir!

— Então vamos ficar por aqui mesmo — ele diz.

Minha perna esquerda começa a me incomodar, e começo a massageá-la.

— Está doendo? — David pergunta preocupado. Aparentemente nada escapa aos seus olhos.

— Sim, se eu pudesse, voltaria agora mesmo para casa.

— Então vamos. Eu vou com você.

— Sério?

— Sim, só vim até aqui por sua causa. Se você quer ir, eu também vou. Espere aqui.

Estou sonhando ou ele disse que só veio até aqui por minha causa?

Ele grita para Nick, que está no meio da lagoa, e avisa que estamos indo. Pega nossas mochilas
e me levanta com apenas um braço depois de colocar a camiseta e calçar seus tênis.
— Pronta? — Eu aceno com a cabeça, e nós vamos.
Estamos andando em silêncio pela mata. Amanda é uma mulher tímida e quase não fala. Tenho
que ficar por perto para que ela não caia. Vejo o quanto a perna esquerda a incomoda.
— Vamos parar um pouco. Estou cansado.

Sento-me sobre uma pedra. Amanda encontra um tronco caído e se senta também.

— Eu queria te agradecer por ter me ajudado ontem — fala.

— Você já fez isso — respondo secamente.

— Eu sei, só queria agradecer outra vez.

— Olha, quero que uma coisa fique bem clara, Amanda. Não sou seu cavaleiro de armadura
brilhante nem um príncipe no cavalo branco. Não crie uma imagem de mim que não é verdadeira.
— Por que está me dizendo essas coisas?

Ela fica em pé, claramente constrangida.

— Só quero que saiba, que não fique imaginando nenhum tipo de final feliz comigo.

— Como você é pretensioso! Eu estava apenas agradecendo, nada mais. Quero ir logo para
casa!
Amanda começa a andar e pega sua mochila que estava no chão perto de mim. Encara-me com
os olhos lindos cheios de mágoa e sai andando apressada. Um pouco à frente, tropeça e cai. Tento
socorrê-la, mas ela põe a mão entre nós, impedindo-me de chegar perto.

— Não, não me toque! Vamos evitar o aborrecimento de você me ajudar e eu me sentir


agradecida — Amanda fala amarga.
Amanda se esforça para ficar em pé, e percebo que realmente sua perna está doendo. Não me
importo se quer ou não minha ajuda. Vou até ela e a levanto do chão, andando com ela em meus
braços.
— Me põe no chão, por favor! — grita, mexendo-se e tentando sair.

— Fique parada, ou caímos os dois.

Aperto-a mais em meus braços, e Amanda para. Aproveito para sentir o cheiro dos seus
cabelos, que é muito bom. Sou mesmo um bastardo. Sei que não posso tê-la, só que não consigo para
de desejá-la. Devo me afastar, mas tudo o que faço é me aproximar mais.

— Sério, estou bem! Pode me soltar.

Faço o que ela me pede, mas assim que coloca o pé no chão, se desequilibra e cai sobre mim.
Eu não esperava por isso, então caio de costas, com Amanda sobre mim. Seu rosto está tão próximo
do meu que não resisto e a beijo. Ela me corresponde e me aperta mais ao seu corpo. Aprofundo o
beijo e sinto sua entrega. Sento-me ainda abraçando-a e a beijando, de modo que fique sentada no
meu colo.

Seguro em seus cabelos, colando-nos ainda mais, se é que isso é realmente possível. Mudo
minha posição e a deito sobre o chão, ficando sobre ela. Começo a abrir sua blusa e sinto-a tensionar
sob mim. Paro de beijá-la para olhar em seus olhos.

Amanda é a imagem da beleza, com seus lábios inchados pelos meus beijos, os cabelos
desgrenhados cheios de folhas. Ela me olha assustada, com os olhos escuros arregalados e ainda com
a respiração ofegante.

— Você não vai se desculpar dessa vez, vai? — pergunta e agarra meus cabelos, puxando-me
para ela novamente em um beijo apaixonado, ficando sobre mim. — Porque eu não me arrependo de
nada. Isso é tudo o que eu queria.

Volto a beijá-la e, desta vez, Amanda quem começa a abrir sua blusa, tirando-a em seguida.
Fica somente com a parte de cima do biquíni, e então vejo as marcas em seu corpo. Começo a trilhar
as cicatrizes com a ponta dos dedos, desde sua têmpora até seu pescoço, onde tem a maior delas
Depois, deslizo pelo seu lado esquerdo, no braço e nas costelas.
— São horríveis, não são? — pergunta, tentando se esconder de mim.

— Para mim, elas não importam — respondo, dando beijos em cada uma.

Passo minhas mãos por suas costas e percebo que as cicatrizes são mais profundas ali, e em
grande quantidade. Ela me beija novamente, e me perco em seus lábios. Nunca pensei que um dia
sentiria isso por alguém. E ainda mais por alguém tão pura, tão inocente. Mas aconteceu comigo.

Estou perdidamente apaixonado por Amanda Sullivan. Ela, com seu jeito tímido e sua
inocência, pegou meu coração escuro e gelado e me deu um pouco de esperança. Plantou sua luz em
mim e me aqueceu com seu calor.
Mas isso nunca vai dar certo! Não posso manchá-la com minha podridão. Não posso colocá-la
na minha vida escura e vergonhosa. Quando me dou conta do que está prestes a acontecer, eu a
empurro.
— Não! — digo e a afasto. — Não posso ficar com você!

— Por quê? São minhas marcas? Você me acha repugnante? — pergunta com lágrimas nos
olhos.
Droga! Já começou. Já estou fazendo-a sofrer. Isso é o que acontece quando se está perto de
alguém como eu. Mas eu a quero tanto! Eu a quero mais que tudo no mundo. Meu corpo a deseja
acima de tudo. Essa luta dentro de mim vai acabar me enlouquecendo.

— Amanda, isso não é sobre você! É sobre mim!

— Ah, David, essa é velha! “Não é você, sou eu!”. — Amanda começa a abotoar a sua blusa.
— Não chegue perto de mim novamente! — exclama furiosa, apontando o dedo para mim. Eu seguro
sua mão e a puxo para mim, beijando-a novamente. Ela resiste e me afasta, acertando-me um tapa
na
cara. — Você é algum tipo de louco? Não me toque novamente! — Amanda pega mochila e começa a
andar pelo meio da mata. — Vamos logo. Quanto menos tempo eu passar perto de você, melhor.

Sigo-a de longe, vendo que ela ainda está tendo dificuldade para andar.

— Amanda! — Ela faz de conta que não me ouve. — Amanda, pare! — Seguro em seu braço.
— Acho que estamos perdidos — falo, olhando em volta. Estamos em uma mata densa, não dá nem
mesmo para ver o sol.

— Como assim?

— Eu desconfiei que estávamos andando em círculos e marquei. — Vou até a árvore que está
ao lado dela. — Esta arvore aqui. — Mostro a marca que fiz.
— O que vamos fazer? Vou ligar para Manu. — Ela pega o celular.

— Não tem sinal aqui, eu já verifiquei.

Ela se senta no chão, desanimada.

— Ah, droga! Perdida no meio do mato, cheio de mosquitos, com um calor insuportável e
ainda na sua companhia! Como eu sou sortuda! — exaspera.
— Há pouco tempo atrás, você não reclamava da minha companhia! — exclamo, aproximando-
me dela.
— Por que há pouco tempo atrás, eu não sabia que você era um babaca! — Ela pega uma
garrafa de água da mochila. — O que vamos fazer agora?
— Vamos andar até encontrar uma clareira ou conseguir sinal do celular.

— E se isso demorar? Vamos passar a noite aqui? — Ela começa a ficar apavorada. — Eu
nunca passei uma noite fora, nem mesmo em um acampamento. Deve ter muitos bichos aqui! Cobras,
aranhas e sei lá mais o quê!

— Calma, não vamos passar a noite aqui. Eu prometo — digo, abraçando-a.

— Ok, não precisa me agarrar! — Tenta se desvencilhar de mim. Não a solto, pois mesmo
sabendo que não posso tê-la, não consigo evitar de tocá-la o tempo todo. — Me solta!
Amanda pisa no meu pé e depois me acerta uma cotovelada.

— Ai! Essa doeu, sabia? — Esfrego minhas costelas.

— Era para doer mesmo. Você se aproveita de qualquer coisa para ficar me agarrando.

— Diga que você não gosta. Diga que não gosta quando estou perto de você, quando toco em
você, quando beijo você.
Eu a agarro e a beijo. No começo, ela resiste, mas depois se entrega totalmente ao meu beijo.
Isso para mim é o paraíso. Sinto que Amanda também está gostando ao ouvir um gemido que ela dá.
Desta vez, se ela não me afastar, vou até o fim. Ainda que seja apenas uma vez, eu a terei em meus
braços. Começo a abrir sua blusa, mas Amanda me afasta e me acerta um tapa na cara novamente.
— Seu idiota! Acha que sou seu brinquedinho, David?

— Não, só não consigo ficar longe de você. — Enlaço-a novamente pela cintura, mas Amanda
resiste. — Desde que pus os olhos em você, aquele dia na varanda, tudo o que consigo pensar são
nesses olhos escuros, nessa sua boca. — Passo a ponta do meu polegar por seus lábios. — Eu não
podia, mas quero você. Só penso em você, Amanda Sullivan. — Beijo-a novamente. Nesse beijo,
quero que ela saiba o quanto a desejo. — Seja minha agora.

— Sim, eu sou sua, David. — Ela se rende a mim e começa a tirar minha camiseta. — Você é
tão bonito.
Passa as mãos pelo meu tórax e depois me beija por ali mesmo. Ela já está sem sua blusa. Nós
nos livramos rapidamente das nossas outras peças de roupa. Estamos os dois ofegantes, como se
tivéssemos corrido uma maratona.

— Você tem certeza? — pergunto a ela.


— Absoluta! — Ela me abraça e a deito com todo o cuidado no chão onde eu entendi uma
toalha. Vejo o quanto está nervosa e começo a beijá-la ternamente até que relaxe sob mim. Beijo sua
cicatriz que começa na têmpora e vai até o pescoço, onde sigo com uma trilha de beijos. — Eu sabia
que você seria o meu primeiro.
As palavras me atingem como um balde de água fria e, no mesmo instante, eu me afasto.

— Você é virgem? — pergunto, ainda sem acreditar. Ela tem o quê? Vinte e cinco, vinte e seis
anos?
— Por favor, não faz isso outra vez! Não me rejeite! — pede carente.

— Amanda, eu não sabia… Sinto muito, mas não vai dar.

Entrego suas roupas e depois me visto. Não posso fazer isso! Ela merece alguém especial. Eu
sou a última pessoa para isso. Sabia que ela era pura, mas não a esse ponto. Não sou digno de tê-la
em meus braços.

— Você me odeia? — pergunta, chorando.

— Não, é claro que não!

— Então por que faz isso? Me provoca, me enche de desejo e depois foge. Você quer me
enlouquecer, David? Ou você só me odeia?
Sinto-me um bastardo por ter feito isso com ela, mas não posso.

— Vista-se, Amanda, por favor.

— O que foi? De repente não sou mais atraente? Sou horrível demais?

— Isso não tem nada a ver com suas marcas. Amanda, não sirvo para você! Entenda de uma
vez!
Amanda parte para cima de mim com socos e tapas, e eu a abraço para contê-la.

— Me solta! Eu odeio você!

Solto-a, e ela se afasta, limpando as lágrimas. Amanda começa a se vestir, de costas para mim.
Sei que ainda está chorando, e isso me rasga por dentro, mas é o melhor. Assim que conseguirmos
sair daqui, vou sair desta fazenda para passar as festas com meus pais. Será o melhor. Talvez, se eu
estiver longe, Amanda acabe me esquecendo. Ou até mesmo conhecendo alguém que não seja tão
complicado.
— Está escurecendo — digo, mas ela sequer olha para mim. — Temos que voltar a andar. Não
podemos ficar aqui.
Andamos por mais duas horas e nada de acharmos uma saída. Já escureceu faz tempo. As
únicas luzes que temos são as das lanternas dos nossos celulares.
— Tome cuidado onde pisa, cobras são noturnas — digo, e Amanda estremece.

Sei que ela está apavorada, mas não quer dar o braço a torcer, pois está furiosa comigo. E com
razão.
Já passam da dez da noite quando avisto luzes à nossa frente e ouço Brizio chamando por
Amanda.
— Nos encontraram! Eu nem acredito! — diz, indo em direção às luzes e gritando de volta. —
Estamos aqui! Brizio! Aqui! — Quando Fabrizio a encontra, imediatamente a abraça. — Graças a
Deus!

— Você está bem? Vocês estão bem? — pergunta.

— Estou bem. Só muito cansada e com sede.

— Só você, Mandy, para se perder em um dia que era para ser diversão. — Brizio olha para
mim. — Ei, Baker! E todo o seu treinamento?
— Não conheço a região, e aqui é mata fechada!

— Só porque vocês saíram da trilha. Deixa para lá, o importante é que estão bem. Nick e
papai estão logo ali em frente. Vamos voltar logo para casa.
Vou para a cabana, tomo um banho e começo a arrumar minhas malas, quando Nick e Bryan
entram.
— O que você está fazendo? — Bryan pergunta.

— Vou passar uns dias com meus pais.

— Mas você disse que iria ficar por aqui.

— Nick, eu disse, mas mudei de ideia. Minha mãe vive reclamando que quase não os vejo. Já
que estou no Brasil, por que não aproveitar?
— Você é quem sabe — Bryan diz e sai.
— Isso tem algo a ver com minha prima? — Nick questiona. Ele me conhece bem e não posso
mentir para ele. Se bem que Nicolas já sabe a resposta.
— Não posso mentir para você, cara. Eu preciso me afastar dela antes que acabe fazendo algo
que vou me arrepender pelo resto da vida. — Sento-me na cama. — Amanda é tão pura e ingênua.
Não posso a manchar com minha podridão.

— Já disse para você várias vezes, David! Você não é como ele!

— E se eu for? Se isso for uma doença genética? Não posso correr esse risco. Não posso fazer
Amanda passar por isso.
— Se ela perguntar por você, o que digo?

— Diga a ela que me esqueça, que sou complicado demais. Que nunca daria certo entre nós.

— Você volta? — Nick pergunta preocupado.

— Não sei.

Sei que o melhor é me afastar, só que quem disse que eu quero? Tudo o que mais desejo é estar
ao lado dela, amá-la, senti-la, tê-la em meus braços para sempre. Mas isso para mim é proibido.
Impossível. Não sou merecedor do amor dela. A maldade está dentro de mim, corre por minhas
veias.
Sou um monstro que nasceu de uma monstruosidade, que nem merecia estar neste mundo.

— O melhor é ir embora. Talvez eu volte a treinar com você quando voltar para a Califórnia.
Voltar para cá é um erro, e você sabe disso tanto quanto eu.
Após finalmente sair daquela mata, não vi mais David. Ele foi direto para a cabana. Tia Ruth
não me deixou sozinha nem por um minuto, sempre preocupada comigo. Samantha então… Quis
verificar cada parte do meu corpo.
— Você está bem? Deus, fiquei tão preocupada! — Sama fala, abraçando-me apertado.

— Está me sufocando! — digo, e ela me larga. Só então vejo que está chorando. — Sam, para
de chorar! Não vê? Estou bem!
— Eu pensei que perderia você. Me senti como naquele dia do acidente, quando mamãe me
contou. Foi como se algo dentro de mim tivesse quebrado. Não sei o que faria sem você. — Continua
chorando.

— Como pode ver, não aconteceu nada comigo. Estou igualzinha a quando saí de casa hoje à
tarde — falo, e Sam se senta na cama, expirando pesadamente. — O que foi?
— Se você continua igual a quando saiu hoje à tarde, continua virgem. Aquele David é mesmo
um tapado.
— Samantha! — repreende tia Ruth.

— Ué, mas não é verdade? Todo esse tempo no meio do mato e ele me devolve Amanda
intacta. Será que ele é gay? — pergunta, olhando em meus olhos. — Ei, irmãzinha, você tem dedo
podre para homem!

— Não, Samantha, ele não é gay! Nós quase transamos no meio do mato! — eu grito. — Mas
acho que David viu todas as minhas cicatrizes e reconsiderou. O problema não está nele, está em
mim! Satisfeita? — Olho para minha irmã, que fica sem palavras. Não há mesmo argumentos em
relação ao que eu disse. — Vocês podem me deixar sozinha?
— Mas, Mandy…

— Samantha, por favor — peço.

— Tudo bem. Não se esqueça de que sempre estarei aqui. Pode contar comigo.
Ela me dá um beijo e sai acompanhada por tia Ruth. Tomo um banho e, por estar muito quente,
não consigo ficar na cama, então vou até a varanda. Fico lá o resto da noite, aproveitando a brisa
morna e observando as estrelas. Já são quase seis da manhã quando volto para cama, mas é
claro que não consigo dormir.
Visto minha roupa de balé e começo a fazer alguns alongamentos. Saio-me bem no começo,
mas, como sempre, minha perna não aguenta por muito tempo e as terríveis dores vêm.
Sentada no chão do quarto, eu me pergunto o que fiz para merecer tudo isso. Sempre fui uma
boa filha, nunca fiz nada que magoasse as pessoas.
Dançar era minha vida. Lembro-me das minhas apresentações, da sensação de liberdade que
eu tinha ao realizar minhas coreografias, de quando ia dormir exausta depois de um longo dia de
ensaios.

Vou até a mesinha de cabeceira, pego os anti-inflamatórios e os tomo. Essa é a droga da minha
vida agora.
Olho-me no espelho e só o que vejo é a merda de uma ratinha, tímida, que nem mesmo quando
era
meubonita conseguia que os caras se aproximassem. Imagina agora, com todas essas marcas no
corpo. Ergo meus cabelos e observo a cicatriz. Passo a ponta dos dedos sobre ela, traçando o
desenho na minha face.
Lembro-me de David fazendo esse mesmo movimento com a ponta dos seus dedos
delicadamente. Se eu não soubesse que é impossível, diria que ele sente algo por mim. Como fui
tola! O máximo que ele pode sentir por mim é pena. Um cara tão bonito como ele deve ter uma legião
de
de mulheres enlouquecidas correndo atrás. Alguém como eu nunca será digna dele. Nem dele nem
ni ngué m.

Depois de muito pensar, decido que depois das festas, passarei algum tempo com meus pais.
Isso é o certo. Preciso me afastar de David. Ficar por aqui só me fará sofrer sonhando com um futuro
que jamais acontecerá.

David não é para mim. Nunca será. No ritmo que as coisas estão, com certeza meu irmão
Renato se casará primeiro do que eu. Se é que algum dia me casarei.
Vou à sala de jantar, onde todos tomam café da manhã. Sento-me à mesa e percebo um clima
estranho.
— O que foi? Por que estão olhando assim para mim? — pergunto, servindo-me de café.

— Amanda, David foi embora ontem — Nicolas diz, e isso me atinge como uma flecha no
peito. Mesmo assim, mas não demonstro o quanto isso me afeta.
— Isso não faz diferença para mim.

Continuo a tomar o meu café da manhã, mostrando a todos que David é indiferente para mim.
Por dentro, estou despedaçando. Sou a única que ouve o som dos cacos do meu coração caindo no
chão. Engulo o pedaço de pão com muito esforço, pois um nó se forma na minha garganta e fica
difícil até mesmo respirar.
Sei que todos esperam que a Amanda feita de cristal comece a chorar a qualquer momento,
porém isso não vai acontecer. Não aqui nem agora. Estou cansada de ser essa pessoa passível de
pena. De hoje em diante, serei uma mulher forte e decidida. Vou assumir as rédeas da minha vida.

— Quando passarem as festas, vou com nossos pais para Porto Alegre. Começarei a
fisioterapia que tia Sabrina me recomendou — falo para Samantha, alto o suficiente para que todos
ouçam.

Depois do café, Nick, Manu, Brizio e Sam decidem fazer um passeio pela cidade, onde meu
pai encontrou nossa mãe após quatro anos de desaparecimento. A cidade de Lages fica bem perto de
onde estamos, inclusive é onde Manu cursa a universidade. Eles até me convidaram, mas eu preferi
não ir. Ia fazer o que lá? Ficar de vela? Obrigada, mas não. Ainda me resta um pouco de amor-
pr ópr i o.

Vou até a academia improvisada e observo que há um espaço ótimo para que eu pratique alguns
movimentos de dança. Pego meu celular, coloco na minha playlist favorita e me entrego à dança.
Neste momento, esqueço-me de tudo. Esqueço-me do meu acidente, das minhas marcas e de
David. Aqui, somos somente a música e eu. Tudo se transforma quando meu corpo se movimenta no
ritmo da canção, e eu aproveito cada momento sem dor, pois os medicamentos ainda estão agindo no
meu organismo.
Duas horas depois, estou exausta e totalmente realizada. Isso é o que nasci para fazer. Eu me
esforçarei muito para voltar. Médico nenhum dirá como devo viver minha vida.
Tia Sabrina conseguiu recuperar os movimentos da mão do tio Renan mesmo depois de
prognósticos tão pessimistas. Ela me ajudará a voltar para a dança, nem que seja para dar aulas ou
somente para mim.

As festas chegam e, como sempre, é aquele tumulto.

Meus pais, superprotetores como sempre, quiseram saber tudo sobre o dia em que me perdi na
mata com David. Papai quis matar Brizio por estar com Samantha, e tia Ruth até ameaçou bater nele
se encostasse um dedo no seu filho. Mas tudo acabou bem. Samantha e Brizio estão cada vez mais
apaixonados. Confesso que senti um pouco de inveja da minha irmã e de Nicolas. Os dois
encontraram seus amores aqui na fazenda, enquanto eu encontrei apenas decepção.
Se não bastassem as cicatrizes do meu corpo, David também deixou uma cicatriz profunda no
meu coração. Eu temo nunca o esquecer.
Assim que o ano novo passar, volto com meus pais para Porto Alegre. Preciso mesmo começar
a fisioterapia na clínica da tia Sabrina.
O tempo passa.

O tratamento é muito doloroso. Por várias vezes, pensei em desistir, mas mamãe e tia Sabrina
não deixaram. Já estou nisso há dois meses e, por incrível que pareça, está dando resultado. Eu já
consigo levantar minha perna sem dor, mas ainda não posso me apoiar por muito tempo nela.

— De acordo com sua ressonância, isso é o máximo de progresso que vamos conseguir,
querida. Sinto muito!
Tia Sabrina me mostra os exames.

— Só em saber que já posso andar sem mancar e até dançar sem sentir tanta dor já é o
suficiente para mim, tia. Muito obrigada.
— Isso foi graças ao seu esforço, meu amor. Eu apenas incentivei. Se lembre de continuar com
sua rotina de exercícios.
— Vocês não vão acreditar! Nicolas e Manuela vão casar! — Minha mãe entra no consultório
feito um furacão. — Sua prima exige que você vá! — Ela aponta para mim.
— Ele me ligou ontem dizendo que ia fazer o pedido. Está perdidamente apaixonado pela
Manu — fala tia Sabrina.
— É claro que vou para a cerimônia! — digo.

— Não, ela quer que você vá hoje mesmo. Ela falou algo como “minha mãe está me deixando
louca!”.
— Isso é bem a cara da Ruth — responde tia Sabrina.

— Ok, eu volto hoje para a fazenda.

Em casa, enquanto arrumo minhas malas, penso em como devo agir se vir David novamente.
Samantha sempre me liga e me deixa a par das novidades. Ela me disse que ele voltou para a fazenda
dez dias depois que parti. Nem sequer perguntou por mim.
Eu terei que ser muito forte para ignorá-lo também. Vou conseguir, porque prometi a mim
mesma que nunca mais as pessoas me olharão com pena. Assim que o casamento de Nick e Manu
acontecer, voltarei para Londres. Vou passar uma temporada lá e depois voltarei para o Brasil, onde
abrirei um estúdio de dança. Dar aulas é um sonho para mim. Ensinar meninas a viver neste mundo
de magia que é a dança será uma realização.

Estou no aeroporto de Florianópolis, esperando alguém da fazenda vir me buscar. Nick falou
que ia tentar vir com Manu, mas não deu certeza. Já faz meia hora que estou aqui esperando. Sento-
me e começo a ler um livro que comprei há dois meses, mas por causa das intensas sessões de
fisioterapia, não tive tempo de ler.
Estou distraída quando sinto uma mão tocando no meu ombro. Olho para trás e vejo David
parado ali usando óculos escuros. Por Deus, ele está lindo! Meu coração acelera.
Meu plano de ignorá-lo totalmente cai por terra neste mesmo instante. Como conseguir isso se
bastou vê-lo para que meu coração estivesse aos saltos dentro do peito? Por que David tem que ser
tão bonito? Esse rosto, essa boca, esse corpo perfeitos? Isso é covardia!

Mas eu não darei o gostinho a ele de perceber o quanto me afeta.

— O que está fazendo aqui? — pergunto seca.

— Nick me pediu que viesse te buscar. Ele teve um compromisso — David fala, tirando os
óculos escuros e me encarando. Seus olhos hoje estão mais verdes do que azuis.
— E não tinha mais ninguém para vir me buscar?

David levanta uma sobrancelha, como se fosse um absurdo eu preferir qualquer outra pessoa a
ele vindo até aqui.
— Não, todos estavam ocupados demais — diz, colocando novamente seus óculos escuros. —
Vamos? Temos um longo trecho pela frente.
Pega minhas malas, e sigo-o até a caminhonete. Ele deixa as malas na caçamba e vem para
abrir a porta para mim, mas, antes que faça isso, eu abro a porta e entro. David apenas sorri. Do que
ele está achando graça?

— Do que está rindo? Por acaso tenho cara de palhaça? — pergunto quando ele se ajeita no
banco da frente.
— Não, você não tem cara de palhaça. Pelo contrário, é a mulher mais bonita que já conheci
— David fala com sua voz de veludo. Sei que o que ele sente por mim é pena. E isso não quero dele.

— Mentiroso. Quero que pare de falar essas coisas para mim.

— Que coisas? Que você é linda, doce, delicada? Tão delicada quanto uma frágil flor de
estufa?
— Não sou nenhuma flor de estufa. Sou mais forte do que pareço e não preciso das pessoas
sentindo pena de mim! — digo e me viro para frente.
Ele liga o carro, e partimos em seguida. Pego meu livro e começo a ler. Quem sabe assim
consigo me distrair da presença de David tão perto de mim? O que não é fácil, pois ele é um cara
grande. Sem falar que seu cheiro é tão bom.

— O que tem feito lá na capital gaúcha? — pergunta depois de um longo período de silêncio, e
eu o ignoro. — Vai ficar me ignorando agora?
Ergo meu livro e mostro a ele, para que entenda que não quero conversar. De canto de olho,
vejo que David sorri e balança a cabeça. Continuo lendo, ou fingindo que estou lendo, porque não
consigo me concentrar para ler um só parágrafo que seja. Pego meu celular e coloco os fones de
ouvido, quem sabe com música eu consiga me distrair.
Durante todo o trajeto, David me olha pelo canto do olho. Finjo que não estou vendo. Isso é o
que merece por ter me desprezado e me humilhado. Eu ia me entregar de corpo e alma a ele, que não
aceitou o que lhe ofereci. Agora fica aí se fazendo de bonzinho.
Chegamos à fazenda três horas e meia depois que saímos do aeroporto. Já está escuro, e todos
estamos sentados à mesa de jantar.
— Irmã querida! — Samantha vem correndo me abraçar. — Quanta saudade!

— Também estava com saudade de todos.

Olho para todo mundo na mesa.

— Quem é essa bela jovem? — pergunta um rapaz muito bonito que está ao lado de Nick.

— Essa é minha prima Amanda. Amanda, esse é Charles. Ele é o novo fisioterapeuta da
equi pe.
Charles se levanta e vem me cumprimentar.

— É um grande prazer conhecer uma mulher tão bonita quanto você — fala, beijando minha
mão.
Fico encabulada com o jeito que ele me olha. Seus olhos verdes são tão intensos que me dão
até um calor. Olho para Samantha, que está com um sorriso no rosto e faz um sinal com os olhos para
que eu olhe para o lado. Discretamente, olho na direção onde ela me aponta e vejo David nos
encarando. Noto o quanto ele está furioso, pois cruza os braços em frente ao corpo e aperta sua
mandíbula.

— Imagina, o prazer é todo meu! — digo, somente para provocar David.

— Vem, se senta aqui do meu lado — Charles me convida.

— Vou apenas lavar minhas mãos.

Estou secando minhas mãos quando David entra e fecha a porta atrás de si.

— O que… — Nem tenho tempo de terminar a frase, porque ele me agarra e me arrebata em
um beijo quente e apaixonado.

Joga-me contra a parede e cola seu corpo ao meu, sem parar de me beijar. Suas mãos passeiam
por minhas costas e seguram meus cabelos perto da nuca. Meu corpo inteiro responde a ele na mesma
hora.

Estou completamente molhada com esse beijo, e não é da minha boca que estou falando. Sua
língua passeia pela minha, fazendo-me imaginar coisas muito, muito prazerosas que ela seria capaz
de fazer em outra parte do meu corpo.

Estou sem fôlego quando ele enfim me solta e encosta sua testa na minha.

— Nunca mais sorria daquele jeito para outra pessoa. Aquele sorriso é meu, entendeu? — diz
e sai do lavabo.
Ele me deixa aqui com as pernas bambas, uma calcinha destruída e um coração acelerado.

Olho-me no espelho, vendo que meu rosto está todo vermelho e meus lábios estão inchados
dos beijos de David. O que foi que deu nele para vir me agarrando assim? Lavo meu rosto e volto
para a sala de jantar, onde David já está sentado ao lado de Charles. Ele olha para mim e dá um
sorrisinho. Sei que só se sentou ali para que eu não ficasse ao lado dele.
Samantha aponta um lugar ao lado dela à mesa, onde me sento. Fico bem de frente para o
David, que fica me provocando por baixo da mesa durante todo o jantar. Eu não sei o que pensar. Ele
não parece o mesmo de três meses atrás. Está mais sorridente, e até mesmo mais atrevido do que
antes.
Charles também fica me lançando olhares furtivos, e isso começa a me incomodar um pouco.
Dou graças a Deus quando o jantar termina.
— Boa noite a todos! Foi uma longa viagem, e estou exausta!

— Prima, amanhã vão instalar as barras na academia para que você possa fazer seus
exercícios — Nick me fala.
— Do que você está falando? — questiono, sem entender o que ele diz.

— Sabrina nos ligou hoje e pediu isso. Ela disse que você deve continuar com os exercícios
que ela passou para você. — É tia Ruth quem responde. — Amanhã mesmo os rapazes vão instalar.
Nós até arrumamos um espaço bem legal, com espelho e tudo!

— Isso é demais. Obrigada, tia! — comemoro e a abraço.

— Não sabe o quanto ficávamos felizes quando Sabrina nos contava seus progressos. Saber
que você até consegue dançar me deixa muito feliz — tia Ruth fala com lágrimas nos olhos.

— Posso te ajudar em alguns dos exercícios — Charles fala, sorridente, e David o fuzila com
os olhos.
— Veremos isso depois. Agora preciso mesmo dormir. Estou muito cansada.

— Boa noite, querida. — Tia Ruth me dá um beijo na testa. — Seu quarto é o mesmo de antes,
mas mudamos algumas coisas, pois agora Samantha dorme no quarto de Brizio — completa.
Chego ao quarto e vejo que tia Ruth o redecorou completamente. Está mais parecido com um
quarto de casal. Tem um armário enorme, uma cama king size e uma linda penteadeira com um
espelho enorme, tudo na cor branca com detalhes em preto. Sem dúvida minha tia tem bom gosto. Até
as cortinas e roupas de cama estão combinando.
Depois de um banho bem demorado, caio no colchão e literalmente apago, acordando somente
no dia seguinte. Durante o café da manhã, Samantha não está se sentindo bem.
— Sam, o que você tem? — pergunto, notando o quanto está pálida.

— Sei lá, me sinto enjoada e também um pouco tonta. Acho que vou voltar para o quarto —
diz, e Brizio chega bem nessa hora.
— Você não vai tomar o café da manhã? O que você tem?

— Não sei, eu…

Samantha desmaia e só não cai no chão porque Brizio é mais rápido e a segura, levando-a nos
braços até um sofá logo em seguida.
— Mãe! — ele grita. — Mãe!

— Por que toda essa gritaria? Oh, meu Deus, o que ela tem?

Tia Ruth se preocupa ao ver minha irmã tão pálida e sem consciência, deitada no sofá.

— Ela disse que estava com enjoos e tonturas — eu respondo.

— Vá até meu quarto e pegue minha maleta — ela diz para Brizio, que sai correndo.

— O que será que ela tem? Nunca vi Samantha ficar doente.

— Não fique preocupada, Mandy. Ela não está doente. Se minhas suspeitas estiverem corretas,
vou ter um netinho! — fala, batendo palmas e sorrindo.
— Não acredito. Samantha está grávida?

— Aqui está, mãe. O que será que ela tem?

Brizio se senta no sofá e descansa a cabeça de Samantha no seu colo. Tia Ruth a examina
enquanto ele afaga seus cabelos. É um pouco estranho ver um cara tão bruto quanto Fabrizio ser tão
delicado com alguém. Neste momento, percebo o quanto está apaixonado por minha irmã, pois o
amor está estampado em seus olhos.
— Ela teve uma queda de pressão, mas se minhas suspeitas estiverem corretas, você será
papai em breve, meu filho.
Então, é a vez de Brizio ficar branco que nem papel. Tia Ruth e eu apenas sorrimos diante da
sua reação. Pouco tempo depois, Samantha acorda.
— O que… O que aconteceu?

Ela se levanta e, em questão de segundos, sai correndo para o banheiro mais próximo.

— Gravidez, sem sombra de dúvidas! — exclama tia Ruth.

Após uma manhã cheia de novidades, Samantha não sabe se ri ou se chora com a notícia da
gravidez, o que é normal, porque ela tem apenas vinte e dois anos. Já Brizio está em êxtase com a
notícia, pois tudo o que ele mais queria era ser pai.

Saio e deixo os dois discutindo sobre casar ou não casar. Essa eu quero ver! Será que Brizio a
convencerá a aceitar seu pedido?
Vou até a academia, onde a equipe de Nick está reunida em um treinamento pesado. Do lado
oposto, um espelho enorme está sendo colocado, barras de ferro também. Emociona-me tanta
consideração. Todos pensam no meu bem. Assim é nossa família, sempre unida.

— Olha se não é a moça bonita! — Charles vem falar comigo, jogando todo seu charme. —
Bom dia!
— Bom dia! — respondo.

— Calma aí, Baker! — Nick fala para David. Os dois estão treinando no tatame. — Pega leve
que o dia está só começando!
Vejo que os olhos de David estão escuros, e ele tem uma expressão fechada no rosto. Eles
continuam o treinamento, enquanto Charles e eu ficamos olhando enquanto os trabalhadores instalam
as barras.
— Quer sair daqui? Que tal dar um passeio? — Charles me convida.

Antes que eu responda, ouvimos os gritos de Nicolas.

— Cara, o que deu em você? Quase quebrou meu braço! — Ele está esfregando seu braço
esquerdo. — Charles, dá um pulo aqui, cara!
— Vamos deixar o passeio para depois. O dever me chama.

Ele me dá um beijo na bochecha e sai. Verifica o braço de Nick, e eu apenas observo. David
anda de um lado para outro feito um leão enjaulado. De repente, ele para e fica me encarando. Seu
olhar intenso me causa arrepios por todo o corpo.

Não fico ali na mira dos seus olhos por mais tempo e saio. O ar quente de fora me atinge em
cheio, e ando até a sombra de uma árvore. Recosto-me nela e fico observando os patos que estão no
lago. Não devem ter se passado nem dois minutos quando ouço David falar no meu ouvido.

— Da próxima vez que aquele babaca te tocar, ele morre.

Minha pele inteira se arrepia com a proximidade da sua boca no meu pescoço. Viro-me
bruscamente, e David me aperta em seus braços. Em suas mãos, ainda estão as ataduras que usa sob a
luva.

Estou presa em seus olhos, com nossas respirações ofegantes. Nada mais acontece a não ser
esse olhar. É como se o tempo tivesse parado. David se aproxima, e sinto seu hálito no meu rosto.
Então, diz:

— Você é minha, entenda de uma vez!

Ao ouvir isso, fico furiosa com ele. Quem ele pensa que é? Uma hora me despreza, outra me
quer!
— Me solta! O que você quer de mim, David? Hoje você me quer, mas há pouco tempo, disse
que não era homem para mim. Você tem algum problema mental? — pergunto, apontando meu dedo
indicador para ele. — Lembro da última vez que estivemos sozinhos. Eu me senti tão humilhada
quando me rejeitou. Não quero sentir aquilo nunca mais! Então, se afaste de mim, por favor!
Saio, sem olhar para trás.

Os dias vão se passando. Charles e eu nos tornamos amigos. Ele é um cara muito agradável e
sempre me ajuda com os exercícios. Com ele, é tão fácil conversar. Além de tudo, sempre me faz rir.
Isso sem contar o quanto é bonito.

— Não vai fazer seus exercícios hoje? — Samantha pergunta, mas conheço muito bem quando
ela fala nesse tom de voz.

— O que você quer saber, Samantha?

— Você e o fisioterapeuta gatinho estão tendo alguma coisa?

— Não, somos apenas amigos. Por quê?

— Ah, sei lá! Vocês não se largam e vivem de risinhos para lá e para cá. David é que não está
gostando nadinha disso.
Ela se senta na cama, lixando as unhas.

— Irmã, David não me interessa! Ele não é nada meu para gostar ou não do que faço! — digo,
arrumando-me.
— Para onde você vai?

— Quantas perguntas! A irmã mais velha aqui sou eu — falo, encarando-a pelo espelho.

— Eu só queria saber. Se não pode contar, tudo bem.

Samantha levanta as mãos.

— Charles me convidou para ir ao cinema — respondo finalmente, passando batom e ajeitando


meu cabelo de forma que esconda minha cicatriz.
— E você se arrumou toda assim só para sair com um amigo?

— Sam, por favor, não começa! Só quero sair e me divertir um pouco.

— Tudo bem, irmã. Você está certa. Divirta-se.

Ela me dá um abraço e sai. Olho-me no espelho mais uma vez e vejo o quanto estou bonita.
Estou tentando não ser mais aquela garota insegura de meses atrás. Quem me olha de volta no espelho
é uma mulher forte e decidida. A única coisa que não mudou foi meu coração estúpido! Ainda bate
incontrolável dentro do meu peito quando vê David, que nunca mais se atreveu a se aproximar de
mim. De vez em quando, eu o vejo me observando de longe.

O passeio está sendo maravilhoso. Assistimos a um filme ótimo. Charles, sem duvida, é uma
ótima companhia. Depois do cinema, ele me convida para jantar.
— Adorei passar o dia de hoje com você — fala, pegando minha mão sobre a mesa.

— Eu também — digo e me surpreendo ao perceber que é verdade.


O garçom pega nossos pedidos e volta com uma garrafa de vinho minutos depois. Temos um
jantar agradável. Conversamos sobre tudo mesmo, desde música, artes plásticas, filmes até culinária.
— Quer dançar? — pergunta, e aceito.

O restaurante tem música ao vivo, e alguns casais dançam na pequena pista de dança. Ele
aperta meu corpo contra o seu delicadamente, e balançamos nossos corpos no ritmo da música
romântica.

— Você é a mulher mais bonita que conheço, sabia? — fala, olhando-me bem nos olhos.

— Para! Sei que isso não é verdade! — Levo tudo na brincadeira.

— Amanda, por que sempre faz isso? Sempre se diminui. Você é uma mulher muito atraente, e
não vejo motivo nenhum para mentir. — Do nada, Charles me beija e… Nada. Não sinto nada. Vendo
que não o correspondo, ele se afasta.

— Você não gostou, não foi?

— Não é isso, só que…

— Você só gosta de mim como um amigo — fala decepcionado

Dói meu coração ter que dizer isso, mas ele é um cara tão legal e merece ouvir a verdade.

— Sim, desculpa.

— É por causa de David, não é? — Não falo nada. — Nem precisa me responder. Eu vejo o
jeito como vocês se olham. Ele é um cara de sorte por ter seu amor.
— Me desculpe! Se eu pudesse escolher…

— Ei! Não se sinta assim! Isso só me faz te admirar mais. Você é uma daquelas mulheres que
só amam uma vez. Pena que quando cheguei, seu coração já tinha dono. — Ele me dá um beijo na
testa. — Vamos para casa? Já está ficando tarde.

Quando chegamos, Charles sorri fraco para mim.

— Boa noite — diz após me deixar na porta de casa.

Segue até as cabanas perto do lago, e entro em casa. Graças a Deus todos já estão dormindo,
mas também já passa de meia-noite. A vida na fazenda começa bem cedinho.
Ando pé ante pé, para não acordar ninguém, e entro no meu quarto. Ainda com as luzes
apagadas, retiro minhas sandálias e as jogo em um canto. Acendo a luz e tomo o maior susto ao ver
David sentado na minha cama.
— O que você está fazendo aqui?
Durante duas semanas, fico observando Amanda andar de um lado para outro com esse
Charles. O cara é tudo o que eu não sou. Alegre, gentil, simpático, sempre com um sorriso estampado
na cara. Ele a faz sorrir.
Estou morrendo de ciúmes dele. Na verdade, neste momento, quero ser ele, para ser o motivo
da alegria de Amanda.
Todos os dias, ela vem até a academia para praticar um pouco de dança. Vejo os caras
babando por ela, mas o que me deixa irado é aquele Charles jogando charme para cima dela. E o
pior, parece que ele está conseguindo conquistá-la.

Ela é tão bonita e nem se dá conta disso.

Está mais do que na cara que Charles se apaixonou por ela.

Por uns dias, eu até deixei para lá. Pensei que talvez ele fosse o melhor para ela. Um cara que
a faz sorrir tanto não poderia lhe fazer mal. Mas os dias foram passando e o meu ciúme aumentando.
Cada vez que eu os vejo juntos, é como se um ferro em brasa estivesse queimando meu coração. Dói
demais, e não estou mais aguentando.
Todas as noites, saio para correr para tentar tirar Amanda dos meus pensamentos. Em uma
dessas noites, descobri um dos seus segredos. Já passava da meia-noite quando a vi saindo de
fininho de casa. Eu me escondi atrás de uma árvore, até que ela passasse por mim e depois a segui.
Ela entrou na academia, e fiquei lá fora, decidindo se entrava ou não. Então, ouvi uma música, abri a
porta vagarosamente e a vi.

Ela parecia flutuar. Foi como ver um anjo dançando na minha frente.

Eu me escondi atrás de um dos equipamentos de musculação e fiquei ali a contemplando


enquanto dançava. E isso se repetiu todas as noites. Esse era um dos melhores momentos do meu dia,
porque eu fazia de conta que ela dançava para mim.

Estou chegando à academia, quando ouço Charles conversando com Nick. Estão falando sobre
Amanda.
— Tudo bem para você então?

— Só quero que uma coisa fique bem clara: Amanda é como uma irmã para mim. Se você a
fizer sofrer, é um cara morto.
— Não se preocupe, isso nem passa por minha cabeça — Charles fala e vem em direção à
saída. Ele passa por mim com aquele sorriso na cara. Tenho vontade de socá-lo e quebrar todos os
seus dentes.

— Baker… — cumprimenta com um aceno de cabeça e sai assoviando.

— O que ele queria? — pergunto a Nick.

— Ele vai sair com a Amanda hoje e queria saber se eu não me incomodo, afinal ele é meu
funcionário.
Quando ouço isso, sinto como se tivesse levado um chute no estômago. Tenho vontade de matá-

lo.

— Desgraçado! — grito, dando um soco no saco de pancadas.

— Cara, se você ainda sente alguma coisa por minha prima, é melhor se apressar, ou outro
cara vai ocupar seu lugar no coração dela — Nick diz, ajeitando as luvas para começar o
treinamento.

Hoje não consigo me concentrar direito, então acho melhor sair dali. Vou para meu quarto e lá
começo a pensar. Será que devo lutar por Amanda? Ou desistir seria o melhor para ela? Eu só
poderia trazer dor e sofrimento para sua vida, enquanto Charles é perfeito. Mas só de imaginar ele
tocando nela, cheirando seus cabelos, beijando-a, meu sangue ferve.
Não! Amanda é minha! Sou egoísta demais para vê-la com outro cara.

Vejo-a saindo de casa com aquele mané, completamente linda, usando uma calça jeans que
marca suas curvas e uma blusa vermelha de seda. Os dois saem, e eu fico no meu quarto, andando de
um lado para outro. Até que vejo que já são dez horas, e nada de eles voltarem. A cada dez minutos
vou até a janela.
Quando dá onze e meia, não aguento esperar mais e vou para a frente da casa. Olho para cima,
onde fica a varanda do seu quarto, e escalo até chegar lá. A janela está destrancada, então entro.
Ando pelo quarto, observando suas coisas. Tem uma blusa sobre a cama, pego-a e sinto seu cheiro.

Lembro-me das palavras da minha mãe quando conversamos a última vez em que estive em sua
casa.
— Eu tinha todos os motivos para não acreditar no amor, mas quando vi os olhos do seu pai
pela primeira vez, soube que ele entrou na minha vida para me tirar da escuridão em que eu me
encontrava. Em seus olhos, encontrei a luz que precisava para iluminar meu caminho. Sei que o que
você descobriu te deixou muito triste, mas ele já está morto. Não o deixe te matar também. Você não
é como ele! Eu amei você desde o primeiro momento que te vi. Ele não teve amor, você teve. Não só o
meu, porque Alessandro sempre te amou como a um filho. Nunca tratou você e seu irmão de forma
diferente. Pelo contrário, acho que você e ele são mais parecidos do que Jake. Tem o mesmo jeito, a
mesma personalidade. Alessandro sim é seu pai! Não permita que aquele monstro te destrua, assim
como tentou fazer comigo. Viva sua vida e o deixe enterrado onde está. Não o traga novamente para
nossas vidas, porque cada vez que vejo essa escuridão em seus olhos, sinto que ele ainda está aqui. E
isso me machuca demais.
Lembro-me de várias vezes acordar durante a madrugada com os gritos da minha mãe,
desesperada,
sonhos com seus pesadelos. Meu pai sempre me acalmava, dizendo que eram apenas
ruins, até que completei dezesseis anos e descobri toda a verdade sobre minha origem.

Sou tirado dos meus pensamentos quando ouço o barulho do carro estacionando em frente à
casa. Espio pela janela e os vejo chegando. Ele tem o atrevimento de beijá-la na testa.
Tenho que me acalmar, pois quero que ela me ouça e, para isso, tenho que estar tranquilo.
Sento-me na cama e espero-a entrar no quarto. Assim que Amanda entra, sou invadido por uma
ansiedade e insegurança que nunca senti.

Amanda anda pelo quarto no escuro, retira as sandálias e as joga em um canto. Só então acende
a luz e me vê.
— O que você está fazendo aqui? — pergunta um pouco assustada.

— Quero falar com você — digo, levantando-me.

— Não temos mais nada para falar, David. Saia, por favor.

Ela aponta para a porta. Eu estou adorando essa sua nova personalidade, mais forte e segura.
Deixa-a ainda mais bonita e atraente para mim.
— E se eu não sair? — questiono, cruzando os braços em frente ao corpo.

— Se você não sair? — Ela está ficando nervosa. — Se você não sair, eu grito!

— Duvido.

— Não duvide de mim! — Ela eleva um pouco o tom de voz.

— Duvido — desafio-a, aproximando-me dela.


— Socor… — Antes que ela consiga gritar, eu a arrebato em um beijo ardente, um que estive
esperando por dias. Beijo esse que eu quis dar a cada vez que ela sorria, a cada vez que a espionei
enquanto dançava.
Percebo que ela me corresponde quando abre mais a boca, em um convite para aprofundar o
beijo. E eu, é claro, aceito na mesma hora. Enquanto a beijo, andamos em direção à cama. Nesta
noite, Amanda será minha. Nada neste mundo me fará recuar.

Caímos os dois sobre a cama, e eu olho para ela, que está maravilhosa com os cabelos
desarrumados e a respiração ofegante. Retiro uma mecha que esconde sua cicatriz e a vejo se
encolher.

— Não se esconda de mim.

Aquilo ao qual ela tem vergonha é o que a torna mais atraente para mim.

Traço a linha da sua cicatriz com meus beijos, até que Amanda relaxa sob mim. Ela começa a
desabotoar sua blusa, mas eu a interrompo, pois quero eu mesmo despi-la. Aproveitarei cada
momento para contemplar seu corpo.

— David, você não vai me rejeitar dessa vez, não é? — Amanda pergunta com seus olhos
suplicantes.
— Não, meu amor, tudo o que mais quero é estar aqui com você esta noite.

Ela me puxa pelos cabelos e me beija. Meu corpo todo a deseja, queima por ela. Não posso
esperar mais para estar dentro dela. Meu pau ganha vida, e Amanda sente o quanto estou excitado.
Tiro minha camiseta, e ela passa suas mãos delicadas sobre meu peito.

— Você é tão bonito.

Retiro sua camisa e depois desabotoo sua calça, retirando-a do seu corpo. Amanda está
deitada na cama somente de lingerie, parecendo uma deusa com seus cabelos pretos espalhados
pelos lençóis. Ela abre seu sutiã, que tem o fecho na parte frontal, e deixa seus seios à mostra.

Eles são perfeitos com suas aréolas rosadas e do tamanho exato para minhas mãos.

É estranho, mas me sinto nervoso. Não quero decepcioná-la. Quero que tudo seja perfeito. De
onde tirei esses pensamentos de mulherzinha? Ou seriam assim os pensamentos dos homens
apaixonados? Porque sim, estou completamente apaixonado por Amanda Sullivan. Ela entrou na
minha vida sem pedir licença, e tenho a impressão de que nunca mais vai sair.
Retiro o resto das minhas roupas, e ela olha para mim com desejo. Eu estou pronto para ela.
Deito-me sobre seu corpo, sentindo cada pedacinho da sua pele branca e macia.

— Você tem certeza?

— David, quero isso desde aquele dia na mata — fala, e seu tom de voz me passa a segurança
que preciso para ir em frente.
Começo a plantar beijos sobre seu pescoço, descendo por sua clavícula, seguindo em direção
aos seus seios. Tomo um dos seus mamilos na boca, enquanto seguro o outro entre os dedos. Ouvir
seus gemidos é como um afrodisíaco para mim. Em seguida, tomo o outro mamilo entre meus lábios e
sinto-a se contorcer sob meu corpo.
Sigo com minha trilha de beijos por seu estômago e barriga, até beijá-la sobre a calcinha, que
retiro em seguida. Fico em pé para admirar seu corpo perfeito e totalmente vulnerável a mim.
Amanda está se entregando a mim. O que ela não sabe é que, neste momento, eu também estou
me entregando a ela por inteiro, de uma forma que jamais pensei ser possível. Ela me tem em suas
mãos, e eu farei qualquer coisa por ela.

— O que foi? — pergunta, aparentemente com medo de que eu a deixe novamente, mas isso
não vai acontecer desta vez.
— Só estou admirando seu corpo e constatando o quanto é linda.

Ela sorri, e esse sorriso é a minha perdição. Amanda levanta e me abraça, colando seu corpo
ao meu. Não resisto mais. Ergo-a em meus braços, e ela enlaça meu corpo com as pernas. Levo-a
para a cama, onde a deito delicadamente e me deito sobre ela.

Beijo-a, lambo-a e, com pequenas mordidas, sigo até onde quero estar. Sua boceta molhada é a
minha perdição. Passo a língua lentamente, sentindo a textura aveludada e o sabor ácido. Começo a
chupar bem devagar, deixando-a à vontade com a carícia lenta. Estimulo seu clitóris e a ouço gemer
mais intensamente. Uso meus dedos para lhe dar mais prazer.
Amanda se contorce e aperta as coxas. Ela já está chegando ao orgasmo. Quando explode em
prazer, segura meus cabelos com força.
— Oh, meu Deus!

— David! David é o nome que você vai falar cada vez que gozar… — Beijo-a. — E isso vai
se repetir muito…
Amanda segura meu rosto entre as mãos e me beija ousadamente, sentindo seu sabor em meus
lábios.
— Preciso de você dentro de mim agora.

Visto uma camisinha e acomodo-me sobre ela, colocando a ponta do meu pau na entrada da sua
boceta que está toda molhada devido ao orgasmo que Amanda teve há pouco tempo. Nós nos
encaixamos perfeitamente.

Ansioso, entro no seu corpo bem devagar, tendo que usar todo meu autocontrole para ser gentil
e cuidadoso. Não quero machucá-la. Sei que essa é a sua primeira vez. Apesar de ser inevitável que
sinta um pouco de dor, quero minimizar ao máximo isso.

— Ai… — geme, e eu sei que é de dor, então paro. — Não! Não para, eu aguento — pede,
mas não consigo me mover. Ela me aperta com suas pernas e me empurra logo de uma vez. Vejo uma
lágrima escorrer por seu rosto.

— Doeu muito?

— Sim, mas já está passando.

Começo a beijá-la e sinto seu corpo relaxar sob o meu novamente. Amanda mesmo começa a
se mover, encorajando-me a fazer o mesmo. Neste momento, sinto que estou no céu enquanto nos
movimentamos juntos. Percebo que ela está na borda e a estimulo até que encontre seu prazer.
Amanda estremece em meus braços e depois sorri para mim.
— Isso foi incrível.

— Ainda não acabou — digo, e ela arregala os olhos antes de me beijar logo em seguida.

Continuamos a nos amar até que encontro meu prazer. Ela me encara com os olhos castanhos
lindos, e só agora me dou conta do quanto estou perdido. Amanda Sullivan se tornou uma parte muito
importante da minha vida, e estou completa e perdidamente apaixonado por essa mulher.

Depois que descarto o preservativo, nós nos deitamos abraçados, e ela se aconchega em meu
pei to.
— Eu te amo. Te amo desde que eu era uma menina — fala, encarando-me com os olhos
brilhantes.
— Eu lembro daquela menina com grandes olhos cor de chocolate, cabelos pretos muito
longos com cheiro de baunilha e morango.
— Você se lembra do cheiro do meu cabelo?

— Lembro sim. E também me lembro de que adorei quando, uma vez, você me deu um sorriso
tímido, que me mostrou aquelas duas covinhas lindas nas suas bochechas. Lembro que pensei:
“Quando ela crescer, vai casar comigo”. Mas aí você foi embora para a Europa e só agora, quinze
anos depois, nos reencontramos.
— E agora estamos aqui. Você e eu, juntos e apaixonados — Amanda fala e se aconchega mais
em meu peito.
Beijo-a, e ficamos em silêncio. Palavras não são mais necessárias. Tudo o que me importa é
tê-la em meus braços. Nunca mais vou permitir que ela saia daqui.
Sinto sua respiração suavizar, até que ela adormece. Este é, sem dúvida, o melhor momento da
minha vida. Percebo que quero viver isso para sempre. Quero dormir com Amanda em meus braços,
exausta depois de uma noite de amor. Quero sentir o cheiro maravilhoso dos seus cabelos para
sempre.
Acordo e ainda está escuro. Estou deitada sobre o corpo de David. Seu peitoral é perfeito.
Ouço as batidas do seu coração, que agora estão calmas, assim como sua respiração. Enquanto ele
dorme, aproveito para observar seu rosto. Ele é lindo. Descendo o olhar um pouco mais, passo
minhas mãos por seu peito musculoso e por seu abdômen marcado e cheio de gominhos.
Ele é mesmo muito bonito. Como pode se sentir atraído por alguém como eu? Sua pele é lisa e
sem nenhuma marca. Já eu, tenho todas essas imperfeições. Mas David não se importou com nada
disso e me amou apaixonadamente. Pude ver em seu olhar o quanto ele me desejava. E não somente
em seu olhar. Ele demonstrou me adorando com seu corpo. Senti a cada toque, a cada carícia, a cada
beijo que trocamos. Foi maravilhoso.

Ele se mexe e abre seus olhos, que agora estão mais azuis do que verdes. Eu me perco na
profundidade deles.
— Que horas são? — pergunta, esfregando os olhos.

— Ainda são três e meia — respondo. Ele me puxa para perto e me beija ternamente, tão
delicado e cuidadoso.
— Tudo bem? Não machuquei você?

Afasta uma mecha de cabelos que cai sobre minha testa.

— Você foi perfeito. Foi tudo perfeito — digo, subindo sobre seu corpo, e o beijo.

Ele apenas se deixa levar e segura em minha cintura. Em seguida, desliza as mãos para o meu
bumbum, onde dá um apertão em cada nádega. Isso me deixa superexcitada e ouso um pouco mais
no
beijo, explorando sua boca com minha língua. Ele gosta, porque me aperta sobre seu corpo,
moldando-me a ele.
Quando toma as rédeas da situação, me assalta em um beijo possessivo e quente. Eu me
derreto em seus braços. Ele se levanta, ainda me segurando, e pega um preservativo na carteira.
Depois, volta a se sentar na cama, comigo na mesma posição. Após se proteger, ele me penetra, tão
viril e tão potente. Estou arfante em seus braços, sentindo gotículas de suor se formando entre
nossos
corpos, que estão ardendo de desejo neste momento.

— Isso é muito bom — gemo enquanto cavalgo em seu corpo, perdendo-me nas sensações que
David provoca em mim.
Ele inverte nossas posições, ainda sem sair de dentro de mim, e se movimenta vigorosamente,
fazendo-me chegar a um clímax tão intenso que lágrimas caem dos meus olhos. Quase desfaleço,
tamanho prazer que sinto neste momento. Seus movimentos não param até ele próprio chegar ao seu
clímax. Estou exausta, mas completamente feliz.
— Quer tomar um banho? — pergunto logo depois de ele descartar o preservativo.

— Só se for agora.

David me levanta nos braços e vai até o banheiro, onde me deixa somente para ligar o
chuveiro. Testa a temperatura da água e depois me coloca debaixo dos jatos quentes, pegando a
esponja, despejando o sabonete e passando por meu corpo delicadamente.

Isso não é um banho, é uma tortura erótica. Meu Deus, esse homem é insaciável! Depois que
meu corpo todo é ensaboado, David me deixa sob a água para que toda a espuma saia de mim. Ele
observa as pequenas bolhas de sabão deslizando por minha pele com um olhar ardente e faminto.
Sinto-me a mulher mais bonita do mundo com isso.
Pego a esponja das suas mãos e faço o mesmo com ele, ensaboando seu corpo todo. E que
corpo! Quando termino, David fica sob o chuveiro e tira todo o sabão. Depois fecha a água, pega as
toalhas e primeiro seca meu corpo, passando a toalha com muito cuidado por minha pele. Seca-se
também e me leva em seus braços novamente para a cama.
— Agora vamos dormir. Você deve estar exausta — diz, aconchegando-se atrás de mim com
um abraço.
— David?

— Sim?

— Diz que isso não é um sonho, que realmente nos amamos e que, quando eu acordar, você
ainda estará aqui.
— Amanda… — fala no meu ouvido. — Descanse. Quando você acordar, ainda estarei aqui.
Agora durma.
Ele me beija, e eu deixo o sono me levar.

O sol já está alto no céu quando acordo pela manhã. David não está ao meu lado na cama.
— Eu sabia! Sabia que tinha sido só um sonho! — falo para mim mesma.

— Não foi, não. — Ouço David falando e me viro, vendo-o sentado na poltrona que fica perto
da varanda. Usa apenas calças, mantendo o dorso nu e hipnotizante que me tira de órbita na hora.
— Há quanto tempo está acordado? — pergunto e me levanto, mais à vontade do que imaginei
com minha nudez. Vou até ele e me sento no seu colo, abraçando-o pelo pescoço.
— Faz pouco tempo. Dormiu bem? — pergunta, depositando um beijo na minha testa.

— Como nunca antes. Obrigada pela noite de ontem. Você foi maravilhoso.

— Não tem que me agradecer, Amanda, não te fiz nenhum favor. Foi muito bom para mim
também. Você me atrai e muito.
Ele segura meu rosto entre as mãos e encara meus olhos.

— Eu sei, é que…

— Mais uma vez vou dizer: você é linda, seu corpo é lindo. Ontem não estive com você por
pena, Amanda, e sim porque desejo você. Bem mais do que gostaria, confesso, mas não consigo mais
ficar longe. Estou apaixonado por você! — Neste momento, lágrimas inundam os meus olhos e
escorrem por meu rosto. David as seca com a ponta dos dedos e me beija afetuosamente. — E você,
o que sente por mim?

— David, amo você. Sempre amei. Desde que eu era apenas uma menina. Nunca me esqueci
desses olhos desde que olharam para mim pela primeira vez através das lentes dos óculos. Lembro
que você tinha os cabelos um pouco mais claros e usava aparelho ortodôntico, um típico nerd. Era o
cara mais lindo que já tinha visto, e eu só tinha doze anos. Sabe, você foi o meu primeiro beijo de
verdade.

— Você nunca namorou ninguém antes? — pergunta curioso.

— Eu namorei um amigo, mas era de mentira. Ele tinha medo de se assumir para a família. Isso
durou uns seis meses. Sempre o aconselhei a contar a verdade, e então finalmente ele assumiu o
namoro de verdade para os pais. Era um colega da equipe de dança. Eu trabalhava muito, não tinha
tempo para relacionamentos. Minha mãe sempre me cobrou, mas a minha timidez não ajudava muito
— conto a ele, passando os dedos pelo contorno do seu rosto.

— Foi esse seu jeito tímido e recatado o que me atraiu em você. De vez em quando, eu via
Samantha em Los Angeles, e ela é toda…
— Espalhafatosa? — completo.
— Sim. — Ele ri. — Como vocês podem ser tão diferentes?

— Meu pai diz que, quando minha mãe desapareceu, eu me fechei. Quase não interagia. Tia
Ruth cuidou de mim esse tempo, mas eu sentia muita falta da minha mãe e, mesmo depois que ela
reapareceu, continuei tímida e introvertida.

— Eu gosto do seu jeito meigo, doce e delicado. Desperta algo dentro de mim que nem sabia
que existia. É intenso e profundo.
Ele me aperta em seus braços e inala meu perfume. Depois agarra meus cabelos na parte de
trás da minha cabeça e me leva até ele para me beijar possessivamente. Ajeito-me em seu colo e fico
de frente para David, com minhas pernas colocadas uma de cada lado do seu corpo. Ele se protege
antes de nos amarmos mais uma vez ali mesmo na poltrona. Novamente sou levada ao paraíso
enquanto meu amor me ama apaixonadamente.

David e eu saímos do quarto por volta de nove da manhã. Todos já haviam tomado café.
Somente tia Ruth está em casa agora, pois Samantha e Manu tinham ido até a cidade para fazer
compras. Como elas sabem que eu não gosto muito dessas coisas, não me convidaram.

Nick está treinando na academia, e tio Rodrigo e Brizio estão no campo.

David se despede de mim com um beijo daqueles que faz minhas pernas ficarem bambas, e
ainda na frente da minha tia.
— A gente se fala depois. Nick vai comer meu fígado por ter me atrasado.

Ele me dá mais um beijo e sai, deixando-me tonta e fora de mim com tanta paixão. Quando me
viro, tia Ruth está olhando para mim com um sorriso no rosto.
— Não vou nem perguntar o que aconteceu, porque está estampado no seu rosto.

— Tia, foi maravilhoso! — Eu a abraço.

— Quando a gente se entrega a quem se ama, sempre é, minha querida.

— Estou tão feliz! David foi tão gentil e carinhoso, mas ao mesmo tempo tão apaixonado.

— Querida, fico feliz por você. Finalmente encontrou o amor.

Depois de abraçá-la mais uma vez, decido andar pela fazenda. Vou até o pomar, pois adoro
este lugar. Pego uma ameixa e sinto seu cheiro gostoso. É minha fruta favorita, e aqui tem em
abundância. Mordo um pedaço e saboreio o doce e o ácido misturados na minha língua.

— Bom dia! — Ouço Charles falando atrás de mim. Ele anda em minha direção e se senta ao
meu lado, no banco de madeira, posicionado logo abaixo da ameixeira.

— Bom dia! — respondo sorrindo.

— Dormiu bem? — questiona, e flashes da noite passada vêm à minha mente, quando David e
eu fizemos amor. Mas depois me lembro de que Charles se declarou para mim e fico meio
desconfortável perto dele.

Ele é um cara legal, só chegou tarde demais na minha vida. Uns quinze anos atrasado.

— Sim, dormi. E você?

— Para falar a verdade, não. Pensei em você a noite toda.

Afasto-me um pouco dele.

— Charles, por favor, eu…

— Espera! Me deixa terminar — diz, segurando minhas mãos. — Sei que ontem fui muito
rápido com você. Foi a primeira vez que saímos e eu já te beijei, mas quero que saiba que posso
esperar. Sei que você não está apaixonada por mim, mas se me der uma chance…

— Charles, eu estou apaixonada por David — digo logo de uma vez. — Eu o amo desde que
era uma garotinha. — Ontem passamos a noite juntos. — Ele solta minhas mãos na mesma hora. —
Não quero te magoar, mas não posso mentir. O que sinto por você é só amizade. Sinto muito se dei a
entender outra coisa, não foi minha intenção. Só percebi isso ontem e pensei ter deixado claro.
Levanto-me do banco, e Charles repete meu gesto.

— Não precisa se desculpar, sei que está sendo sincera. Aliás, isto é uma das coisas que mais
gosto em você, a sua transparência. — Ele se aproxima e pega minhas mãos novamente. — Que pena
que cheguei tarde. — Passa a ponta dos dedos pelo meu rosto. — Espero que Baker saiba dar o valor
que você merece. Ele sim é um cara de sorte. — Nós nos abraçamos. — Ainda podemos ser amigos,
não é?

— Sim, é claro! — respondo, mas não tenho certeza se isso é uma boa ideia.

Depois dessa conversa, não vi mais Charles durante o dia, nem mesmo na hora do jantar.
Parece que ele preferiu ficar com a equipe para jantar com eles. David não para de olhar para mim.
E não é qualquer olhar, é aqueles quentes que causam expectativas. Um de fome e desejo. Como se
fosse me devorar a qualquer momento.
Isso está me deixando com um pouco de vergonha, pois me causa um calor, e meu corpo todo
arde por ele. Tenho certeza de que meu rosto está vermelho. David está adorando isso, pois tem na
face aquele sorriso de canto de boca, o que o deixa ainda mais bonito.

Depois do jantar, vamos para a varanda que fica na frente da casa. Sam e Brizio, Manu e Nick,
e David e eu.
— Então, quando vão comprar o vestido de noiva? — Nick pergunta.

— Amanhã vamos para a cidade para escolher o modelo. Estou tão ansiosa! — Manu fala
empolgada. Nunca imaginei que, em tão pouco tempo, ela e Nick se casariam. Foi tudo tão de
repente.

— Sim, finalmente vou sair um pouco dessa fazenda! — Samantha diz.

— Que é isso, mulher? Te levei para a cidade não tem dois dias. E ainda hoje você saiu com
Manu! — Brizio protesta.
— Eu sei, mas estou entediada aqui — Sam reclama toda manhosa e exagerada como sempre.
— E esses enjoos que não passam nunca. Acho que já emagreci uns dez quilos.
— Vem, está na hora de ir para cama — Brizio diz, puxando-a pela mão. — Boa noite para
vocês.
— Boa noite! — Sam fala também e segue abraçada a Brizio para dentro de casa.

É incrível o quanto ela mudou desde que o conheceu. Nunca imaginei minha irmã praticamente
casada com um cowboy durão e bruto. E ainda grávida!
— Eu também vou entrar. Amanhã tenho treino bem cedo. E você, Baker, vê se não se atrasa
como hoje. — Nick dá um tapa no ombro de David. — Boa noite!
— Boa noite! — Manu também se despede e entra, acompanhando Nicolas.

David e eu ficamos sozinhos na varanda. Sentados na namoradeira, descanso minha cabeça no


seu ombro. Acho um pouco estranho que as meninas não tenham falado nada sobre David e eu, mas
elas me conhecem bem e sabem que não gosto de falar sobre mim. Ainda mais algo tão íntimo. David
está acariciando meu braço, totalmente distraído olhando as estrelas.
— No que você está pensando? — pergunto, olhando para o seu rosto de perfil.

— Pensando em como eu sou um cara de sorte por ter alguém como você na minha vida. Você é
como um anjo que veio trazer luz para a escuridão da minha alma — David diz sem olhar para mim.
— Por que você sempre diz essas coisas? O que tem de tão terrível na sua vida? — Ele me
olha profundamente. — Fico com medo quando o ouço dizer isso.
David me abraça e me dá um beijo na cabeça. Aninhada ao seu peito, ouvindo as batidas de
seu coração, fico tentando entender o que faz com que ele ache que não me merece. O que ele
esconde que pode ser tão ruim?
— Você vai saber na hora certa. Agora, só quero ficar assim com você, sentindo seu corpo
delicado. Só quero pensar na paz e na calma que sinto quando estamos juntos.
Depois que Amanda vai para o quarto, fico esperando para ver se ela, como todas as noites,
vai até a academia para dançar. E, como imaginei, quando todos estão dormindo, vejo-a sair, usando
sua roupa de balé.
Espero Amanda entrar e vou ate lá. Entro escondido e me esgueiro entre os equipamentos. Fico
lá esperando-a se aquecer. Meu coração palpita com a expectativa de vê-la flutuar com seus passos
de dança, leve como um cisne.

Ela escolhe uma música no celular e se senta no chão. Só fica parada, ouvindo a música. Por
que não está dançando?
— Já pode sair daí! — exclama com os olhos fechados. — David, sei que está aí me
espionando!
Saio detrás dos equipamentos, meio sem jeito por ter sido descoberto.

— Como sabia? — pergunto, e ela se levanta, ficando na ponta dos pés que calçam sapatilhas
de balé.
— Para quem você acha que danço todas as noites? — Ela me enlaça pelo pescoço. — Vi
você entrando aqui em uma noite. Seu reflexo apareceu no espelho. Você ficava ali. — Ela aponta
para o equipamento onde eu me escondia. — Você é um cara grande, sabia? É difícil passar
despercebido.
— Por que não falou nada?

— E estragar a minha diversão? Eu adorava dançar para você. Todos os dias, eu ficava
pensando em uma coreografia sensual, pois queria que você ficasse caidinho por mim. Funcionou?
Ela me beija timidamente.

— Sim, cada vez que eu via você movimentando seu corpo no ritmo da música, tinha vontade
de te jogar no chão da academia e rasgar suas roupas.
Beijo-a de um jeito possessivo e quente. Ela me corresponde com a mesma paixão,
entregando-se totalmente ao momento. Colo nossos corpos e sei que Amanda sente o quanto a
desejo, pois a ouço gemer. Isso acaba com o resto de sanidade que ainda me restava. Deito-a no
chão e fico sobre seu corpo, sem parar de beijá-la. Quando começo a tirar sua roupa, Amanda me
detém.
— Espere! — diz, e fico sem entender. — Preparei uma dança especial para esta noite. Sente-
se aqui.
Ela puxa uma cadeira, e eu me sento. Amanda coloca uma música sensual e começa a balançar
seu corpo sensualmente no ritmo.
Como ela é atraente e charmosa. E mal se dá conta disso. Dançando na minha frente, rebola e
mexe seus quadris para me provocar. Vem até a cadeira onde eu estou sentado e começa a dançar
sobre mim, deixando-me louco com seus movimentos. Tento segurá-la, mas ela me impede, fazendo
um gesto com seu indicador.
— Pode olhar, mas não pode tocar. Somente quando a música acabar.

Ela se curva sobre mim, com sua boca quase colada à minha, mas não me beija. Só continua
dançando.
Isso não é uma dança, é uma tortura! Amanda quer me matar de tesão, é isso. Será que serei o
primeiro homem a morrer por tesão acumulado? Porque se isso continuar por mais um minuto, meu
coração vai explodir de tanto que está acelerado.

Amanda continua dançando sobre meu colo, e eu tenho que juntar todas as minhas forças para
não a agarrar e a jogar no chão. Ela vai pagar muito caro por isso. Em minha mente, se passam várias
coisas que posso fazer com ela para cobrar isso. Não aguento quando se senta no meu colo e lambe
meu rosto. Estou adorando essa Amanda sexy, ainda mais por saber que só é assim comigo.
Puxo-a pelos cabelos e tomo-a em um beijo ardente, explorando todos os cantos da sua boca
com minha língua, sentindo seu sabor, despindo-a ao mesmo tempo.
Outra música sensual começa a tocar e se torna a trilha sonora do momento.

Estamos os dois despidos. Amanda estende um lençol sobre o tatame e se deita sobre ele.
Parece que ela tinha tudo planejado. Vislumbro como seu corpo alvo contrasta com o lençol azul-
marinho onde ela se oferece para mim.

Agora é a minha vez de torturá-la.

Começo beijando seu pé e sigo por sua perna, traçando suas cicatrizes com a língua, ouvindo-a
gemer sob meu toque. Continuo com mais beijos por suas coxas firmes e torneadas devido aos anos
de dança.
— Você é linda — digo entre os beijos. — Vou lamber seu corpo inteiro.

Chegando ao seu clitóris, sinto-a ofegar e se contorcer enquanto chupo com vontade, sentindo
seu gosto ácido e gostoso. Seguro suas pernas abertas, impedindo-a de fechá-las. Sei que ainda deve
estar receosa, pois há pouco tempo ainda era virgem, e sou seu primeiro homem. Sinto-me orgulhoso,
porque serei eu a mostrar a Amanda tudo sobre o prazer. Nunca nenhum outro conhecerá seu corpo
além de mim.

Beijo-a e sinto seu sabor inebriante. Estou em êxtase tanto por seu gosto, quanto por seus
gemidos de satisfação. Sei que ela está gostando, e não demora para eu senti-la estremecer,
encontrando seu clímax, derramando seu mel na minha boca. Sigo com meus beijos por seu abdômen,
estômago, e chego aos seus seios, onde me deleito mais uma vez neles, beijando, lambendo,
mordendo e chupando. Amanda se contorce embaixo de mim.

— David, por favor! — implora, e eu atendo seu pedido, mas antes a beijo na boca mais uma
vez. Ela sente seu sabor nos meus lábios, e isso me excita ainda mais.
Não consigo me segurar mais. Pego um preservativo, encaixo no meu pau e a penetro de uma
vez. Ela geme alto. Movimento-me vigorosamente, entrando e saindo do seu corpo quente e macio.
Amanda mais uma vez tem um orgasmo e, vendo seu rosto com uma expressão de completa
satisfação, gozo somente por saber que ela se satisfaz comigo. É o gozo mais poderoso que já tive.
Estou completamente esgotado quando rolo para o lado e a puxo por cima de mim.

— Uau! Nunca imaginei que poderia ser ainda melhor — fala ofegante. — Eu te amo —
completa, e aperto-a nos meus braços.
— Também te amo. — Só quando digo isso em voz alta que me dou conta do quanto amo
Amanda, de que faria qualquer coisa por ela, até protegê-la de mim mesmo se fosse preciso.
Ficamos ali na academia até a madrugada. Nós nos amamos mais uma vez antes de ela voltar
para casa. Vou para a cabana e demoro para pegar no sono, pensando no quanto meus sentimentos po
Amanda são profundos. Estou assustado com o quanto a mulher meiga e doce se tornou importante
para mim.
Deito-me na cama com esses pensamentos na minha cabeça e fico esperando pelo sono, que
demora a chegar.

Estou andando por um lugar sujo e escuro que não reconheço. Parece um túnel. Está escuro,
mas tenho uma lanterna nas mãos. É com ela que vou iluminando o caminho. O lugar parece não
ter fim, pois ando muitos metros.
Finalmente chego a uma porta. Tento abri-la, mas está trancada. É o único lugar para onde
posso ir. Mexo mais uma vez na fechadura e nada. Então, encontro uma chave no meu bolso. Não
sei como ela veio parar aqui. Encaixo-a no miolo e dá certinho. Giro-a para destrancar, abro-a e
vejo uma escada que vai para baixo. Desço por ela, até encontrar outra porta, mas essa tem uma
tranca de madeira. Retiro-a e abro.
O lugar é um porão escuro, úmido e frio. Tem apenas um colchão velho no chão com um
cobertor gasto e um travesseiro muito sujo.
Entro e observo mais o local. Minha lanterna começa a piscar. Acho que as baterias estão
acabando. Ao meu lado direito, encontro um pequeno banheiro com um vaso sanitário e uma pia.
Não tem nenhum espelho, apenas um chuveiro que não é ligado à energia elétrica, então deve sair
somente água gelada dele.
Ouço um gemido.

— Quem está aqui? — pergunto alto, mas não obtenho resposta. Ouço novamente, mas não
um gemido e sim um choramingo. Escuto a pessoa fungar. — Apareça quem quer que seja!
Só ouço um soluço. Aponto a luz da lanterna para um canto muito escuro do lugar e noto
que tem uma mulher toda encolhida ali. Ela esconde o rosto com seus cabelos pretos muito
compridos. Sua roupa está toda suja, e ela está tremendo muito.

— Fique calma! Não se preocupe, vim aqui ajudar! — digo, aproximando-me bem devagar.

— Não! Não me toque! — grita apavorada. Eu reconheço a voz. — Amanda? Meu amor, sou
eu, o David. Vou te ajudar. — Chego mais perto, então ela olha em meus olhos. Vejo ali muito
medo. — O que aconteceu?

— Você me trancou aqui, David! Você é um monstro igual a ele!

Ela aponta para minhas costas e me viro, vendo aquele maldito rindo de mim.

— Não adianta lutar, meu filho. A maldade está no seu sangue. Você é como eu! Você é um
monstro como eu! — diz e começa a gargalhar.
— Não! Eu não sou como você. Não sou!

Acordo e estou completamente encharcado de suor. Outra vez tive aquele pesadelo, só que
desta vez eu vi o rosto da mulher que estava no porão e era Amanda. Das outras vezes, nunca
conseguia ver sua face. Agora foi tão real! Isso só serviu para me mostrar que não posso ter ilusões
em relação ao amor.
Ficar com Amanda é um risco muito grande. E se eu for como ele? E se tiver um surto e a
machucar? Eu nunca me perdoaria se algo de ruim acontecesse com ela. Amanda é importante
demais
para mim. Não posso permitir que sofra, ainda mais por minha causa.
Que loucura fui cometer quando a tive em meus braços! Quando na verdade deveria ter
mantido distância. Mas como resistir à sua meiguice, doçura e pureza, quando tudo na minha vida é
escuro, sujo e podre?
Tenho que me afastar dela. Um coração partido é melhor que a destruição da sua vida, porque
é isso que vai acontecer se eu continuar com isso. Perco o controle quando estamos juntos e não
posso correr o risco de perder o equilíbrio.

Mas como? Se basta olhar para ela para que meu corpo a deseje? Se meu coração bate
descompassado cada vez que sorri? Depois de tê-la em meus braços, como vou ficar sem o sabor dos
seus beijos, sem a maciez da sua pele?

Eu estou perdido. Só não tinha me dado conta ainda. Ela me manteve cativo desde aquele dia
que ficou me espionando, muito tímida para falar comigo. Eu não sabia, mas Amanda capturou meu
coração e ainda o tem nas mãos.

Ando pela cabana e vou até a geladeira para pegar um pouco de água gelada. Encontro Bryan
parado me olhando com raiva.
— O que foi? — pergunto, bebendo minha água.

— Sabe que horas são? Seis da manhã! Seis.da.manhã! Você me acordou com aqueles gritos!
— diz furioso.
— Me desculpe, cara. Mas veja pelo lado bom, pela primeira vez, há muito tempo, você verá
o nascer do sol — debocho e volto para o meu quarto.
Sento-me na cama, pensando em uma maneira de me afastar de Amanda. Isso será a coisa mais
difícil que eu terei que fazer na minha vida, porque a mulher se tornou parte de mim. A parte mais
importante do meu coração. Deixá-la será como abandonar meu coração.

Como viver sem um? Isso eu vou ter que aprender. Nem que seja na marra.
Estou sentada na varanda. Todos já foram dormir. Não vi David o dia todo e tenho a leve
impressão de que ele está me evitando. Mas não sei o porquê. Depois do que aconteceu entre nós,
quando me amou com loucura e paixão, tudo ficou tão lindo. Deve ser coisa da minha cabeça.
Pego minhas coisas e vou para a academia. Dançar sempre me ajuda a pensar. Chego lá, e
David está sentado em uma cadeira com o olhar distante e uma expressão de preocupação no rosto.
— Oi! — digo, aproximando-me devagar. — Não te vi o dia todo. Está tudo bem? — pergunto
com o coração apertado, com o pressentimento de que algo ruim está para acontecer.
— Senta aqui. — Ele aponta para a cadeira que fica posicionada à sua frente, e faço o que
pede. — Tenho algo para falar para você.
— Está me assustando! O que é?

Meu coração está acelerado dentro do peito. Eu sabia que estava bom demais para ser
verdade. David deve ter se arrependido. Só pode ser isso!
Ele olha para o chão e junta as duas mãos, mexendo-as nervosamente. Tenho medo de
perguntar o que quer me dizer. Meu Deus, que não seja o que estou pensando, porque se ele me
deixar agora, acho que vou morrer.

— Em primeiro lugar, quero que me prometa que vai me escutar até o fim.

Não digo nada, apenas faço um gesto com a cabeça, até porque não consigo falar graças ao nó
que se formou na minha garganta.
— Amanda, você é linda. É a melhor pessoa que já conheci, mas não temos um futuro juntos.
— Oh, meu Deus, é isso mesmo! Ele vai acabar com tudo! — Você merece alguém melhor, que possa
te dar uma família, coisa que eu nunca vou poder. Não quero filhos. Não poderia tê-los, e você
merece isso. Merece ter uma família. Um filho meu seria inconcebível. Eu não poderia permitir mais
um monstro no mundo.

— Por que sempre diz essas coisas? Não entendo. Você é tão bom e gentil, mas sempre diz que
tem uma escuridão na alma, que é um monstro. Me diz, David, por quê? — pergunto.
Estou cansada de ouvir essa desculpa dele. Quero saber o motivo que o torna tão indigno
assim.
— Hoje vou contar a você algo muito doloroso para mim. Aí você vai me entender. — Ele
respira fundo e fica em silêncio por um tempo, como se estivesse juntando coragem para me contar.
— Minha mãe era uma jovem de dezesseis anos, uma menina que vivia da escola para casa, de casa
para a igreja. Ela só tinha a mãe e o irmão, pois o pai havia falecido em um acidente de caminhão.
Um dia, enquanto voltava para casa, depois de ter ido à igreja para pedir uma oração, pois era o dia
da sua formatura, um estranho veio lhe pedir uma informação. Ela, muito gentil, foi ajudá-lo. O que
ela não sabia é que aquilo era uma armadilha. Ele a esteve observando por dias, planejando tudo em
segredo. O monstro a sequestrou após dopá-la com clorofórmio. Ela acordou em um porão úmido e
frio, deitada sobre um colchão velho, gritou pedindo por ajuda, mas a única pessoa que apareceu foi
aquele homem… Ele a violentou.
— Meu Deus, que coisa horrível! — exclamo com meus olhos cheios de lágrimas. David tem
uma expressão de dor no rosto. Estou perplexa com o que ouço.
— Ela só tinha dezesseis anos! Esse dia foi só o começo do seu sofrimento, pois esse inferno
continuou por anos. Anos trancada naquele porão, sendo violentada dia após dia por aquele maníaco.
E o pior ainda estava por vir, porque ela ficou grávida dele. Teve o filho completamente sozinha
naquele porão, sem ninguém para ajudá-la.
Vejo lágrimas escorrendo por seu rosto. Quero secá-las, mas quero que ele termine de contar
tudo. Temo que se eu me mexer, David desista de contar sua história.
— David…

— Aquele bebezinho, fruto do seu maior horror, se tornou sua força para aguentar os horrores
que sofria, para ter coragem para fugir daquela prisão. Ela disse que o amou assim que pôs os olhos
nele e lhe deu o nome de David, pois ele a ajudaria a vencer o gigante da dor e do sofrimento.

Lágrimas escorrem abundantemente dos seus olhos, assim como pelos meus. Que história mais
triste.
— Então você não é filho do Alessandro? — pergunto.

— Eu só descobri quando já tinha dezessete anos. — Ele seca as lágrimas e dá um suspiro


pesado. — Quando era criança, sempre acordava com os gritos de desespero da minha mãe na
madrugada. Meu pai, Alessandro, tentava contornar a situação e me dizia que era para eu voltar a
dormir, que a mamãe só tinha tido um pesadelo. Mas fui ficando maior e não estava mais dando para
esconder. Ela sempre fazia terapia. Meu pai a amava muito e sempre cuidava dela, era carinhoso. Só
que nem o seu amor foi capaz de fazer com que ela se esquecesse de todo o horror que passou. Então,
em uma noite, ouvi minha mãe mais uma vez tendo pesadelos. Eles tinham parado de acontecer
quando eu completei dez anos. Mas, nesta noite, ela o teve novamente.
— O que aconteceu?

— Desta vez, ela gritava desesperada o nome de um homem. Jorge era o nome que ela dizia.
Eu já tinha dezessete anos, e meu pai não podia mais me enganar. Foi quando ele me contou tudo. —
David passa as mãos entre os cabelos. — Fiquei revoltado ao saber da minha origem, passei a
conviver com pessoas ruins, fui preso. Até meu tio Johnny me levar para os Estados Unidos e me
treinar. Com minhas habilidades como hacker, fui contratado pela CIA. Por três anos, trabalhei como
agente infiltrado, disfarçado entre os narcotraficantes, caras barra pesada mesmo. Em uma dessas
missões, eu e um colega fomos descobertos, e ele foi torturado até a morte pela máfia russa. Eu não
estava presente. O cara tinha família, uma filha de dois anos. Aquilo me revoltou, então procurei os
responsáveis e matei todos. Eram quatro no total. O pior é que gostei. Eu me senti bem matando um
por um.
David não olha nos meus olhos quando me conta aquilo.

— David, você estava com raiva. Isso não quer dizer que é como ele. Só o fato de se
preocupar em não ser como ele já te faz diferente! — digo, ajoelhando-me à sua frente. Ele, ainda
sentado na cadeira, olha para mim desolado.

— Amanda, não pense o que não existe. Não sou bom. Tenho o sangue dele nas minhas veias.
Nada de bom pode vir de mim. Como alguém gerado do horror pode ter algo de bom? Meu pai
biológico era um serial killer. Eu investiguei tudo sobre ele. Mais de vinte mulheres foram
assassinadas por ele. Minha mãe só ficou viva porque conseguiu fugir. Vê agora por que não
podemos ficar juntos? Por que não posso ter filhos? E se eles herdarem o instinto assassino daquele
homem? Uma vida comigo seria uma pela metade. Eu nunca estaria tranquilo. Sempre correria o
risco de eu ter um surto, assim como ele.

David se levanta.

— Então você vai me deixar? — questiono, ainda de joelhos no chão.

— Amanda, é para o seu próprio bem! Eu não nasci para amar ninguém. Não mereço seu amor!
— David fala de costas para mim. Aquilo me deixa com muita raiva. Levanto-me e vou até ele,
posicionando-me bem na sua frente.

— Sabe o que eu acho? Que você é um covarde! Sim, você sempre se escondeu atrás dessa
desculpa para não se arriscar. Ele não é você, assim como meu pai não sou eu! — Seguro em sua
mão. — Se isso fosse verdade, os genes dele não são os únicos que fazem de você quem é. Ou sua
mãe também é um monstro? — pergunto, apertando sua mão entre as minhas.
— Não! Claro que não! — responde, olhando para mim.

— Você me vê jogando futebol? Não, sabe por quê? Porque odeio futebol. Meu pai é
apaixonado por esse esporte. Ele acorda e dorme pensando nisso. Você me vê pintando algum
quadro? Não, eu não sei desenhar nem mesmo uma florzinha. Já minha mãe é uma pintora muito
talentosa e famosa. Então não, isso não me convence!
— Amanda! Não posso ficar com você, simplesmente não posso! Me entenda, por favor!
Nunca mais haverá nada entre nós. Preciso proteger você de mim. Logo iremos embora da fazenda. O
casamento de Nick está chegando, e então partiremos. Você vai me esquecer e conhecer um cara que
te dará tudo aquilo que não posso dar.
— Sim, e você sabe tudo, não é? — Solto sua mão e aponto meu dedo para ele, cutucando-o no
seu peito. — Sabe dos meus sentimentos e já decretou que vou te esquecer e me apaixonar por outro!
É tudo muito fácil, não é? É só estalar os dedos e esquecer, como num passe de mágica. Vai, vai
logo! — Aponto para a porta. — Foge como um covarde. Um homem medroso não serve mesmo para
mim! — digo e lhe empurro para a porta da academia. — Vai logo! Me deixa! — grito com ele, que
sai e me deixa aqui aos prantos, com meu coração totalmente despedaçado.
Não sei que horas são. Não sei se passou muito ou pouco tempo. Fico aqui sentada no chão
chorando por alguém que não tem fé no amor. Sou azarada mesmo. De todos os homens no mundo,
fui
me apaixonar por alguém tão complicado.

Ouço alguém entrar. Meu coração se acelera com a expectativa de que David tenha voltado
atrás e queira ficar comigo. Viro-me para a porta secando minhas lágrimas e sorrindo.
— David, meu amor! Eu sabia que você voltaria e… — O sorriso que havia em meu rosto
morre na hora que vejo que quem entrou foi Charles e não David.
— Desculpe, eu vi as luzes acesas, achei que não tinha ninguém aqui. — Ele percebe que
estive chorando. — O que houve? Por que está chorando? Foi ele, não foi?
Quando Charles me abraça, não resisto e choro copiosamente abraçada a ele, que nada diz,
apenas fica me acalentando enquanto soluço em seus braços.
— Perdão! Molhei sua camisa com minhas lágrimas — falo quando consigo me acalmar, um
pouco constrangida.
— É só uma camisa. E depois, é para isso que servem os amigos! — diz, secando minhas
lágrimas com a ponta dos dedos. — O que aconteceu? Vocês brigaram?
— É complicado… — Eu me afasto. — Não quero falar sobre isso.

— Tudo bem. Mas sabe que pode contar comigo, não sabe?

— Eu sei! Obrigada!

Charles me acompanha até em casa, e subo correndo para meu quarto. A única coisa que
consigo fazer é chorar. Mas nem todas as lágrimas me tiram a dor, o desespero.

Por que David fez isso? Ele me fez amá-lo e depois me deixou. Estou com tanta raiva dele! E,
ao mesmo tempo, me dói saber que acha aquilo de si mesmo. Quanto tempo carregando aquele fardo
que não é seu.

Não sei o que fazer. Se luto por ele ou se o deixo de vez. Tenho tanto medo de me machucar
ainda mais. Porque sei que se insistir nessa história, vou acabar com meu coração partido, talvez até
destruído. Mas ele é o homem da minha vida. Sei que nunca mais irei amar outro, e esquecê-lo
também será impossível.
Não consigo dormir, incomodada com o misto de sentimentos. Raiva, pena, amor, dor. Tudo de
uma vez só. É claro que a história dele é trágica. Quem gostaria de ter sido gerado em um ato de
violência tão horrível quanto um estupro? Mas Diana, sua mãe, o amou acima de tudo isso. Será que
ele não consegue ver? É tão difícil perceber o quanto o amo? Que essas coisas não me importam?
Não quero saber de onde ele vem, o que fez, só me importa o quanto eu o amo.

Eu serei uma covarde se desistir dele. Tão covarde quanto ele. E essa não sou mais eu. A
Amanda medrosa e frágil ficou no passado. A do presente é diferente e luta por aquilo que quer. E
quero David. Não vou desistir dele assim tão fácil.

Tenho essa viagem para Los Angeles com minha irmã. Eu já tinha prometido a ela. É um
trabalho de modelo que ela já havia sido contratada meses atrás. Depois disso, estaremos de volta
para o casamento de Nick e Manu. Aí eu farei de tudo para que David se dê conta de que sou a
mulher da sua vida e que é possível construir uma família comigo. Não o esperei a vida inteira para
agora deixar que esse complexo que ele tem nos separe.

Dois dias depois, sigo viagem com Samantha e Brizio. É lógico que ele não deixou que ela
fosse sozinha. Tem muito medo de que minha irmã não volte para ele. Medo infundado, já que ela
está completamente apaixonada por ele.

Durante os dias em que estivemos por lá, fui as compras com Sam e mudei meu visual. Apesar
das minhas marcas, tenho que admitir que sou bonita, então preciso destacar o melhor da minha
aparência física, pois dessa forma David não resistirá a mim.

— Irmã, tem dias que quero falar com você, mas não quis me intrometer. O que aconteceu entre
David e você? — Samantha está no meu quarto, na casa de Nick. Nós estamos hospedados aqui
enquanto ela faz o trabalho. — Está me doendo muito te ver sofrer. Acha que não escuto você
chorando baixinho à noite? Confie em mim! Somos irmãs e te amo muito!
— Eu sei. Só não quero ninguém sentindo pena de mim.

— Pena? Mandy, você ainda não se deu conta do quanto você é forte? Depois daquele
acidente, você levantou a cabeça e continuou com sua vida. Olhe para si mesma, está linda! Não
tenho pena de você, ninguém tem! Apenas a amamos e nos preocupamos.

Então, decido contar a ela.

— David e eu fizemos amor. Ele foi o meu primeiro. Foi tão mágico, tão especial.

— Isso é maravilhoso! — Bate palmas em comemoração, e então percebe que não estou
sorrindo. — E por que não estão juntos?
— Ele é muito complicado.

— E você vai desistir? Logo você, que sempre correu atrás do que quis. Você que conseguiu
aquela vaga disputadíssima na escola de dança dos seus sonhos, foi a primeira bailarina por anos
seguidos, apesar de muitas vezes terem tentado puxar o seu tapete.

— Quem disse que desisti? Assim que voltarmos, David será meu.

E, desta vez, será para sempre.

— Assim que se fala! Essa é a Amanda que conheço! — comemora e me abraça. — Mas
espera! Temos que ter um plano.
— Eu já tenho. Por que acha que mudei meu visual? Até já sei quem vai me ajudar.
Amanda e Samantha voltaram de viagem faltando alguns dias para o casamento de Nicolas.
Amanda está bem diferente, mais segura e dona de si. Isso só me fez ficar mais atraído por ela, mas
mantive distância. Ela mudou o visual. Seu cabelo, antes liso e comprido até a cintura, tem um corte
na altura dos ombros e está mais claro, dando um ar de mulher fatal. Agora ela não esconde mais
suas cicatrizes, pelo contrário, ostenta-as com orgulho.
Usando vestidos provocantes, blusas com decotes sensuais, maquiagem bem marcada, em nada
se parece com a garota ingênua que saiu daqui há vinte dias. E o pior, ela e Charles não se largam.
Ficam de conversinha e risinho o tempo todo.

Enfiei-me de cara no trabalho e tentei ver Amanda o mínimo possível.

Ela ainda vai dançar na academia quando ninguém está vendo. Por várias vezes tive vontade
de ir até lá, mas resisti. Ontem, estava em frente à cabana e vi quando ela entrou. Logo depois
Charles entrou também. Tive vontade de ir até lá e quebrar a cara dele, entretanto achei melhor
deixar Amanda seguir em frente. Não sirvo para ela.
Charles é um cara legal, tem estabilidade emocional para ficar ao lado dela e apoiá-la em tudo
o que precise. Eu seria apenas um peso. Mas que gostaria de estar com ela, isso eu gostaria.
Nesses dias em que estivemos separados, todas as noites sonhei com aquela dança que ela fez
para mim. Quando acordava, me lamentava por ter sido apenas um sonho.
O dia do casamento se aproxima e, para infelicidade de todos, Lily, a irmã de Bryan, veio para
a cerimônia. Nunca gostei dela. A mulher é uma vadia interesseira. Na verdade, eu também não
confio muito em Bryan. Sei lá, ele tem algo nos olhos… Eu conheço gente desonesta. Tenho a certeza
de que ele se encaixa na categoria. Até já dei uma investigada nas contas de Nick, mas não encontrei
nada. Seja lá o que ele está fazendo, está conseguindo esconder muito bem. Mas eu ainda vou
investigar melhor. Sei que tem algo errado e vou descobrir.
Estou novamente aqui fora esperando que Amanda vá para a academia. O casamento é amanhã,
então não sei se ela vai dançar. Já passa da meia-noite, e acho que hoje ela não vem. Como não
consigo dormir, vou para lá. Talvez dar uns socos no saco de pancadas me ajude um pouco. Entro e
começo a calçar as luvas, quando Amanda entra.
— Ah, não sabia que tinha alguém aqui. — Ela dá meia-volta para sair, mas a impeço
segurando em seu braço. Sentir a maciez da sua pele é demais para mim. — David, por favor, me
deixe ir.
— Quero falar com você. — Ela se vira lentamente para mim.

— Não me interessa nada do que você tenha a me dizer. O que de bom pode vir de você? —
Solto-a. — O que você quer? Me dizer que não pode ficar comigo? Não perca seu tempo, pois já
estou cansada de saber, e nem estou te cobrando nada. Até porque, segundo você, nós nunca daríamo
certo — fala claramente magoada. — Agora, se me permite, vou dormir. Tenho um casamento amanhã
e devo estar descansada.

— Mas você não veio dançar?

— Sim, mas quando te vi aqui, perdi a inspiração.

— Você está muito bonita com esse novo visual — falo enquanto ela recolhe suas sapatilhas
que caíram no chão.
— Obrigada.

Ela não olha para mim, e confesso que está doendo saber que está me ignorando.

— Você e Charles estão juntos? — pergunto e me arrependo na hora. — Me desculpe, isso não
me diz respeito.
— Realmente, isso não te diz respeito. Mas posso matar a sua curiosidade. Decidi dar uma
chance a ele. Ao menos ele não tem medo de me amar. Quando me beija, ele é sincero. Quando me
toca, sinto o quanto me deseja. Charles não tem medo de arriscar.

— Vocês já… Hum… Já…

— Você quer saber se já fizemos amor? — pergunta, encarando-me. — E se eu disser que sim,
David? E se eu disser que fiz amor com ele e gostei? Gostei do corpo dele sobre o meu, do seu toque
na minha pele, dos seus beijos quentes e apaixonados. Sabe, quero agradecer a você por me mostrar
o quanto isso é bom. Pena que agora não sou mais sua. Tenho alguém que me satisfaz plenamente. Ele
me leva às alturas quando estou em seus braços — fala isso com seu rosto tão próximo ao meu que
sinto seu hálito quente. — David, você pode ter sido o primeiro, mas sem duvida não foi o melhor…
Quando ela diz isso, sinto meu sangue ferver e a agarro, apertando-a bem ao meu corpo.

— Acho que você tem um pequeno problema de memória, Amanda. Se me lembro bem, você
estremeceu de prazer nos meus braços mais de uma vez.
— Já nem me lembro mais.

Ela me desafia.

— Talvez eu deva refrescar a sua memória então.

Tomo sua boca em um beijo ardente, sedento, pois isso é o que eu quero desde que ela chegou
depois da viagem a Los Angeles. Ela resiste no início, mas acaba cedendo e me abraça, aninhando-se
mais nos meus braços.

Então, somos uma confusão de lábios, línguas e dentes em um beijo desesperado. Em


segundos, temos peças de roupas espalhadas por todo o chão.
Seguro-a em meus braços, e ela enlaça meu corpo com as pernas e braços. Sem parar de nos
beijar, deito no chão, onde admiro seu corpo nu e não consigo pensar em outra coisa se não em a
foder para que ela nunca mais pense estar com outro homem. Amanda abre as pernas e me mostra o
objeto do meu desejo para me provocar.
— Amanda, está brincando com fogo — advirto.

— David, talvez eu queira me queimar. Me queime, por favor.

Ajoelho-me em frente a ela e adoro seu corpo com beijos, que guardei durante todo esse tempo
separados.
Sentir sua pele macia sob minha boca é como afrodisíaco para os meus sentidos, que ficam
aguçados com seus gemidos de paixão. Loucos de paixão. Essa é a melhor classificação para este
momento.

Seguro meu pau e pincelo na entrada de sua boceta, sentindo sua umidade e o quanto está
pronta para mim. Estimulo seu clitóris, vendo Amanda se contorcer, pedindo que eu a penetre.
— David, por favor… — implora ofegante.

— O que você quer? Diga em voz alta, Amanda.

— Quero você dentro de mim.

— Seu pedido é uma ordem, amor.

Encaixo meu pau e deslizo lentamente para dentro dela. Sinto sua maciez e seu calor apertado.
Nós nos perdemos um no outro, nesse ato de amor louco e alucinante. Amo-a com saudade, paixão e
desejo reprimido durante esses dias. Nossos corpos suados, nossos movimentos intensos e vigorosos
demonstram o quanto precisamos um do outro.
— David! — Amanda fala meu nome no ápice do prazer, e esse som vindo de seus lábios é
tudo o que preciso para chegar ao meu clímax.
Um gozo poderoso acaba com todas as minhas energias. Estamos exaustos e ofegantes, e
ficamos enroscados um no outro, deitados sobre o tatame, com nossas peles molhadas do nosso suor.
— Por que mentiu para mim? — pergunto a ela, que se apoia nos cotovelos e me olha.

— Como assim?

— Você nunca esteve com ele ou não teria se derretido em meus braços agora.

Ela passa a ponta dos dedos pela minha boca.

— Ops! Pega na mentira! Bem que você ficou morrendo de ciúme, não foi?

— Não posso negar que só de imaginar outro te tocando, te amando como eu, me deixa louco
— digo e mordo a ponta do seu dedo. Ela sobe em mim e começa a me provocar.
— Ah, é? Então tome conta do que é seu. É como diz o ditado, quem não dá assistência, abre
concorrência. David, esperei por você durante quinze anos. Não me faça esperar mais quinze, não sei
se posso.

Amanda me dá um beijo provocante e se levanta para vestir suas roupas.

— O que você está fazendo? — Seguro-a para impedir que consiga colocar as roupas.

— Tenho que ir. — Agarro-a e a jogo no chão, deitando-me sobre ela. — David, eu tenho que
dormir. Não quero estar com olheiras amanhã no casamento.
— Depois. Ainda não terminei com você.

Beijo-a e, como sempre, Amanda se entrega completamente a mim. Passo as mãos por seu
corpo e a sinto estremecer sob meu toque. A forma como se entrega por inteiro para mim me excita.
Novamente nos encaixamos perfeitamente, e me esqueço de tudo. Só o que me importa é o
toque da nossa pele, o suor que cobre nossos corpos, nossas respirações ofegantes e os nossos
gemidos de prazer.

Nunca mais a deixarei ir. Disso eu tenho certeza. Quero me perder em seu corpo todas as
noites. Após nos amarmos mais uma vez, acabamos adormecendo ali mesmo, sobre o tatame da
academia.

— Que horas são? — Amanda acorda agitada, procurando pelo celular. — Quatro da manhã!
Droga! — Ela começa a vestir suas roupas. — Eu não podia ter dormido aqui!

— Ei! Calma! — falo, vestindo-me também. — Você ainda vai estar linda para o casamento,
mesmo com olheiras.
Abraço-a por trás, e ela me afasta.

— Nem vem, David! Eu tenho que ir.

— O que eu estou fazendo?

— É assim que começa! Primeiro um abraço, depois um beijo e, daqui a pouco, estamos
rolando pelo chão novamente.
— E você não gosta? — pergunto, cheirando seu pescoço, vendo sua pele arrepiar.

— Aham, mas não posso. — Ela me beija rapidamente. — Tchau! Nos vemos no casamento.

Amanda sai correndo e para na porta. Olha para mim mais uma vez e me joga um beijo antes
de ir. Deito-me novamente e tenho a certeza de que estou perdido. Amanda se tornou parte de mim.
Fugir não é uma opção. Eu a amo e não posso mais viver sem ela.

Com Amanda, me sinto completo, vivo. Até me esqueço dos meus problemas. Seria possível
uma vida ao seu lado? Um lar, uma família? Jamais almejei algo assim para mim. Seria eu merecedor
de tanta felicidade? De Amanda?

Com esse pensamento em minha cabeça, acabo me lembrando que desta vez não usamos
proteção. E se… Não! Isso não pode acontecer. Afinal, foi apenas uma vez. Mas e se acontecer? Que
merda! O que foi que eu fiz?

Volto para cabana, e é claro que não consigo dormir. Levanto-me e fico andando de um lado
para outro. O que eu faria se Amanda esperasse um filho meu? Não, isso é inconcebível. Como lidar
com isso? Não estou preparado para ser pai. Nunca estarei.

Essa possibilidade me assombra e me deixa aflito. Preciso falar com ela. Mas o que dizer?
“Olha, Amanda, ontem fizemos amor sem prevenção. Pode tomar a pílula do dia seguinte?”. Nem sei
quando a verei novamente, com todos os preparativos para o casamento. E amanhã é domingo,
encontrar uma farmácia aberta só na cidade vizinha. E nem terei tempo para isso. Agora está nas
mãos do destino.
Chega a hora do casamento.

Amanda, Samantha e Manuela estão naquele quarto há horas. Sinto-me ansioso. Tenho que falar
com Amanda, mas não consegui um só minuto a sós com ela. E ainda tem esse Charles, cercando-a o
tempo todo. E ainda teve a confusão que Lily fez jogando vinho no vestido de Manuela. Eu sabia que
ela só viria para perturbar. Bem que avisei Nick.
A cerimônia foi muito bonita. Manuela estava linda em seu vestido de noiva, mas eu só tenho
olhos para Amanda, que está me deixando louco com essa roupa de madrinha. Eu sou seu par, como
padrinho de Nicolas e Manuela, ao lado de Brizio e Samantha. Renan, pai do Nicolas, cantou uma
música para a entrada da noiva.
Ainda não consegui ficar sozinho para falar com Amanda.

Depois de milhares de fotos e de cumprimentar os noivos, vejo-a sozinha e finalmente vou até
ela. Mas antes que eu chegue, Samantha a puxa pelo braço, e as duas saem.
Que droga! Será que não vou conseguir falar com ela? Amanda sobe no pequeno palco, onde a
banda que foi contratada para cantar na festa está. Renan se senta e se ajeita com um violão, mas o
que Amanda e Samantha estão fazendo lá?

— Boa noite! — Samantha fala um pouco rouca. — Amanda e eu preparamos um presente para
nossos amados primos, mas acabei ficando rouca, então tio Renan e Mandy farão as honras.
Ela passa o microfone para Amanda, que está um pouco nervosa.

— Eu não sabia o que dar de presente para vocês, então Samantha teve a ideia. Esse é meu
presente. Para sua primeira dança, vou cantar a música que vai embalar este momento.
O quê? Eu nem sabia que ela cantava. Renan começa a tocar o violão, e o pessoal da banda o
acompanha.
Eles vão fazer um dueto. Renan inicia a canção, mas todos já o conhecemos e sabemos que ele
canta muito bem, mas quando Amanda começa a cantar, me surpreende. Sua voz é perfeita e super
afinada. Com certeza ela poderia fazer carreira nessa profissão.

Nick e Manu vão para a pista e começam a dançar. Amanda me vê, e sei que cada palavra da
canção que canta é para mim. Em cada palavra, diz o quanto me ama e que quer ficar comigo. Não
consigo tirar meus olhos dela. Em meu íntimo, estou adorando aquilo.
Sua voz me fascina, assim como seu olhar me hipnotiza. Amanda simplesmente está
derrubando todos os muros que levantei em volta do meu coração e se infiltrando dentro dele, de
maneira que não sobra espaço para mais nada a não ser ela.
Quando a música acaba, anda lentamente em minha direção, para na minha frente e pergunta:

— Gostou?

— Não sabia que você cantava tão bem.

Enlaça meu pescoço e fala olhando em meus olhos.

— Existem muitas coisas que não sabe sobre mim. Quer descobrir? — Ela me beija.

— Isso é um desafio?

Quando sorri, me desarma totalmente.

— E se for, você aceita?

A minha resposta está no beijo que trocamos em seguida, apaixonado e quente. Amanda me
leva para falar com seu pai. Confesso que tremo na base. Ele é um cara grande e intimidador.
Somente sua presença assusta.

— Pai, quero que o senhor conheça David. Na verdade, o senhor já o conhece, mas…

— Então esse é o David — diz, enquanto me analisa. — O que tem a me dizer? Quais suas
intenções com minha filha?
— Pai, por favor! Mãe, o faz parar! — Amanda diz para dona Helena, que apenas sorri.
Consigo ver a semelhança entre as duas. As mesmas covinhas nas bochechas quando sorriem, os
mesmos olhos cor de chocolate.

— Estou brincando! — Caleb diz. — A única coisa que me interessa é a felicidade da minha
filha. — Ele aperta minha mão e me puxa para um abraço. — Se a fizer sofrer, te mato — fala no meu
ouvido. Depois me solta e sorri como se não tivesse dito nada. — Vão e aproveitem a festa!

Amanda me leva até a pista de dança, e olho para o pai dela, que faz um sinal com os dedos,
dizendo que está de olho em mim.
— Ele falou que se me fizesse sofrer, iria te matar, não falou? — Amanda pergunta.

— Sim, ele falou — confesso.


— Não liga. Ele falou isso para todos os namorados da Samantha, mas nunca fez nada. Se bem
que quem sempre terminava tudo era minha irmã. Sorte que ninguém a fez sofrer, então não
sabemos se ele realmente cumpriria a promessa.
— Bom saber!

Ela ri, e sua risada me aquece por dentro. Neste momento, é tudo o que me interessa. Seu
sorriso, sua alegria contagiante. E talvez, só talvez, eu possa sonhar com um futuro ao seu lado e
almejar construir uma família com ela.

Chega a hora de a noiva jogar o buquê, e todas as mulheres solteiras vão para a pista. É um
alvoroço só. Um tal de empurra-empurra e aqueles gritinhos que elas dão quando estão eufóricas.
Manuela joga e cai justamente nas mãos de Amanda. E olha que ela nem se aproximou para pegá-lo.
Vi quando se afastou, enquanto as outras se acotovelavam para pegar o buquê.
Quando Amanda pega e sorri, percebo que ela tem expectativas diferentes das minhas. Não sei
se serei capaz de correspondê-la como ela deseja. E isso me assusta muito. Apavoro-me somente
com a possibilidade de machucá-la.

Afasto-me um pouco da festa e vou para a varanda da casa principal. Eu preciso de um pouco
de silêncio para pensar.
— Ficou assustado porque peguei o buquê? — Amanda pergunta, sentando-se ao meu lado na
namoradeira. Abraço-a, e ela descansa a cabeça no meu ombro.
— Não acredito nessas crendices. Mas de uma coisa eu sei: a única mulher com quem eu quero
estar é com você. Eu te amo, Amanda Sullivan — confesso e fico surpreso com a facilidade com que
as palavras saem.

Lentamente, Amanda levanta a cabeça e olha para mim com seus olhos arregalados e com a
boca aberta. Aproveito isso para arrebatá-la em um beijo ardente, invadindo-a com minha língua,
provando mais uma vez do seu sabor. Isso só me faz ter certeza de que ela é a mulher da minha vida.

Quem diria que aquela garota de olhos cor de chocolate que ficava me espiando, sem coragem
para falar comigo, seria a minha redenção.
Meu coração vai explodir de tanta felicidade! Não posso acreditar! Finalmente ele admitiu que
me ama! David me ama!
— Repete só para eu ter certeza de que não estou sonhando?

Sento-me sobre suas pernas e o encaro. Quero estar olhando bem nos olhos cor de safira
quando ouvir novamente.
— Amanda Sullivan, você é a mulher da minha vida. Eu te amo.

Não consigo evitar as lágrimas que caem dos meus olhos. Meu coração bate acelerado e muito
forte. Tenho certeza de que David pode ouvir o som que ele faz.
— Esperei tanto por isso. Tem muito tempo que amo você. De alguma forma, eu sabia que
seria sua. Esperei inconscientemente para estar aqui vivendo este momento. Eu te amo demais.
Nós nos beijamos e, com esse beijo, selamos nosso amor, mas, desta vez, com a promessa de
que um amanhã existirá para nós.
— E eu que pensei que o amor não era para mim, que não merecia a felicidade. Então, o
destino nos coloca frente a frente, e meu coração encontra em você a redenção que precisava. — Ele
tira uma mecha de cabelos que está sobre meu rosto para descobrir minha marca e passa a ponta dos
dedos por ela delicadamente. — Você é perfeita, foi feita para mim. Quero que me prometa uma
coisa, que aconteça o que acontecer, você não vai desistir de mim.

— Nunca! Agora você não vai se livrar de mim!

Nós nos beijamos novamente.

— Eca! Vão para um quarto! — Minha querida irmã Samantha nos interrompe. Olho para ela e
me assusto um pouco com sua aparência.
— O que você tem? — Fico preocupada.

— São esses malditos enjoos. Parece que nunca vão passar. Amor, me leva para a cama? Estou
um pouco tonta. — Ela se aconchega em Brizio, que está segurando em sua cintura. — Espera até ser
sua vez, maninha. Quando engravidar, aí você vai saber o que estou passando.
Sinto David ficar tenso ao ouvir Samantha falar sobre filhos. Eles entram, e David está
estranho. Ficou distante de repente.
— O que foi? Por que está assim? — pergunto, morrendo de medo da sua resposta.

David é muito inconstante. Muda de ideia de uma hora para outra. Essa característica de sua
personalidade ainda me assusta.
— Amanda… — fala todo sério. — Tem uma coisa que não te falei! Eu te amo, te amo muito,
mas não quero ser pai. Ao menos não de um filho biológico meu. — Saio de cima dele. Eu sabia!
Nada é perfeito. Ando até o parapeito da varanda e fico olhando para o chão. — Me entenda. Não
posso correr esse risco.
David me abraça por trás.

— Então para ficar com você, eu terei que abrir mão da maternidade?

— Nós podemos adotar. Quantas crianças neste mundo estão precisando de um lar? Veja o
exemplo da sua tia Ruth. Ela ama Manuela e Brizio como se fossem dela.
— Minha tia é estéril, eu não. Quero carregar um filho no meu ventre.

Ele me vira, e ficamos cara a cara.

— Não quero filhos, você é tudo o que quero — diz e me abraça.

Estar com ele também é o que mais quero. Decido viver intensamente esse amor, sem pensar
no amanhã. Filhos ainda não estão nos meus planos mesmo. Mas essa conversa ainda não acabou,
David Baker. Penso.

No dia seguinte, nos despedimos de Manu e de Nick, que estão indo para Los Angeles. Em
poucos dias, David também irá, pois Nicolas tem os treinamentos e a luta para defender o título.
David, além de ser seu segurança, treina com ele.

A equipe está se preparando para ir embora. Todos os equipamentos já estão sendo


desmontados na academia improvisada, somente minhas barras e meus espelhos ficarão aqui.
David e eu estamos sentados sob o salgueiro que fica perto do lago.

Esses dias têm sido tão românticos. Estamos juntos a maior parte do tempo e fizemos muitos
planos. Um deles foi que ele vai parar de trabalhar para Nick e vai voltar para o Brasil.
— Já conversou com seu pai sobre trabalhar com ele? — pergunto.

— Ainda não. Na verdade, não sei ainda se é o que quero. Jake já trabalha com ele, e eu não
gosto disso. Investigar assassinos, estupradores e covardes que espancam mulheres. Quero algo em
que eu possa usar minhas habilidades com os computadores, mas que não tenha a ver com crimes.

Sei o que ele quer dizer. Esse assunto lhe traz lembranças dolorosas.

— Entendo você, meu amor. Assim que a luta de Nick acontecer, a gente decide o que fazer.

— Você não vem mesmo para Los Angeles comigo?

— Não, quero passar mais um tempo com meus pais e avós. Agora que Samantha vai ficar
morando aqui, não quero deixá-los também.
— Mas vamos nos casar, será inevitável que os deixe.

Olho para ele com um sorriso estampado no rosto.

— Isso foi um pedido, David Baker?

— Por quê, Amanda? Se fosse, você aceitaria?

— Talvez, mas ainda não tenho certeza do pedido — zombo dele.

— Não seja por isso! — David fica de joelhos. Ah, meu Deus! Ele vai mesmo fazer isso! —
Amanda Sullivan, aceita se casar comigo e me fazer o homem mais feliz do mundo? — David tira
uma caixinha vermelha do bolso e abre, mostrando-me um anel maravilhoso. Um solitário com o
diamante maior e mais brilhante que já vi. Como sou uma manteiga derretida, já estou chorando. —
Então, não vai me responder?

— Sim! É claro que quero me casar com você!

David coloca o anel no meu dedo e me jogo sobre ele, enchendo-o de beijos. Ficamos ali
namorando sob o salgueiro o resto da tarde. Estamos voltando para casa quando o celular dele toca.
— É meu pai — diz antes de atender a ligação. — Pai? Bem, bem, e você? Como está a mãe?
Fico feliz. Sim, ela aceitou. Eu mais do que ninguém. Sim, creio que sim. Vou perguntar para ela e
confirmo depois, ok? Outro. Tchau. — Ele desliga.

— O que ele disse? — pergunto curiosa.

— Ficou feliz por nós. Eles estão nos esperando para jantar em dois dias. Tudo bem? —
David parece inseguro.
— Sim, eu adoraria!

— Ótimo. Depois ligo para confirmar.

Ele me abraça, e seguimos assim para casa. Ao entrar, Samantha, com seus olhos de águia, já
vê o anel no meu dedo.
— Oh, meu Deus! Finalmente David criou coragem e fez o pedido!

Tia Ruth e tio Rodrigo vêm nos cumprimentar. Meu tio até abre um champanhe para brindarmos

— Que vocês sejam muito felizes! — Tia Ruth levanta sua taça

— Tanto quanto você e eu, não é, amor? — tio Rodrigo diz, dando um beijo nela.

— Agora só falta certo casal tomar juízo e casar logo. Meu neto vai nascer e vocês ainda não
estarão casados — reclama tia Ruth.
— Ah, nem começa, tia. Não preciso de um papel para saber que amo Brizio.

— Mas bem que eu gostaria que você assinasse esse papel — Brizio diz e a beija.

— Tudo bem, mas não quero nada daquelas coisas cheias de frescuras. Basta uma cerimônia
pequena no civil. Assinamos os papéis e pronto.
— Viva! Teremos dois casamentos! — fala tia Ruth, levantando sua taça em mais um brinde.

— Manu não deu notícias? — pergunto logo que os brindes terminam. Já estou com saudades
dela.
— Sim, ela ligou hoje. Está muito feliz e entusiasmada com a cidade.

— Fico feliz com isso. Eles merecem, tia.

Depois de me maquiar e escolher um vestido bem bonito, desço para a sala, onde David me
espera ansioso. Assim que me vê, ele se levanta, e vejo o quanto me acha bonita, pois está escrito
nos seus olhos.

— Você está linda! — Ele beija minha mão.

— Obrigada! Você também está muito bonito!

David está usando uma calça preta, camisa e um blazer da mesma cor. Isso realça o azul dos
seus olhos, porque essa é a cor deles neste momento.
Após quase três horas de viagem de carro, finalmente chegamos ao apartamento dos pais de
David. É um edifício que fica em um condomínio perto da Beira Mar, em Florianópolis.
— Tudo bem? Não está cansada? — pergunta enquanto estamos no elevador.

— Estou ótima, não se preocupe! — Ele me beija.

— Meus pais vão adorar você. Quem não adora? Você é linda, meiga, delicada, gentil, muito
simpática e com esse sorriso lindo. Ganha qualquer um.
— Exagerado!

Confesso que estou um pouco nervosa. A última vez que vi Alessandro, o pai de David, eu não
passava de uma garotinha. Ainda não tinha essas marcas. Em um gesto involuntário, coloco uma
mecha de cabelos para frente, com intuito de esconder minha cicatriz, mas David percebe e a afasta.

— Nunca se envergonhe de quem você é, Amanda. Você é linda, meu amor. Eu te amo. — Ele
cola sua testa na minha. — Você é tudo para mim. Isso é o que importa.
Meu coração se enche de amor e ternura ao ouvi-lo dizer isso, e me sinto mais confiante. O
amor dele me deixa assim. David toca a campainha e quem abre a porta é Diana, sua mãe. Sei que é
ela, porque ele me mostrou uma fotografia dela.

— Sejam bem-vindos! — ela nos convida a entrar.

— Mãe, deixa eu te apresentar. Essa é Amanda, a mulher da minha vida.

— É um prazer conhecer a mulher que ganhou o coração desse meu filho tão teimoso! Você é
linda.
Dona Diana me abraça. Em seguida, o Alessandro, o pai dele, vem me cumprimentar, e é
incrível que não seja pai biológico de David, porque eles têm os mesmos olhos.
— Olá, Amanda, é um prazer ver você de novo. Da última vez que te vi, era apenas uma
garotinha. Não deve nem se lembrar direito.
— Lembro sim. Lembro muito bem! — digo, olhando para David, e ele entende o que digo.

Somos interrompidos pela campainha.

— Devem ser Jake e Bela! Eu os convidei, fiz bem? — Diana pergunta.

— É claro! Estou louca para conhecer o meu cunhado — respondo, sorrindo.


Ela abre a porta, e Jake e sua esposa entram. Ele é alto, com seus cabelos castanhos quase
loiros, de olhos verdes ou azuis. Não consigo me acostumar com isso de não saber a cor das íris
deles. Sua esposa é linda. Seus cabelos castanhos deixam seus belos olhos azuis destacados.
— Você deve ser a Amanda! A mulher incrível que finalmente ganhou o coração desse turrão!

Jacob me abraça bem apertado, quase me sufocando.

— Ei, Jake! Você vai acabar sufocando a Amanda! — Isabela o separa de mim. — Não liga,
não. Ele é assim mesmo, expansivo demais. Eu sou Isabela. Seja bem- vinda à família!
Ela também me abraça.

— Onde estão meus sobrinhos? — David pergunta.

— Seus sobrinhos estão dormindo uma hora dessas! — Isabela diz.

— Eu espero! — Jake completa.

O jantar foi muito agradável. A comida estava deliciosa, e a conversa fluiu naturalmente.
Fiquei sabendo sobre o trabalho que Alessandro e David realizavam para ajudar a casa de apoio a
mulheres e crianças vítimas de violência. Eles investigavam os casos em que as mulheres eram
agredidas e o companheiro conseguia fugir. Também trabalhavam para pessoas com muito dinheiro,
fazendo sua segurança, como empresários, artistas e até alguns políticos.

Diana é uma das donas de uma franquia de casas de chá, uma das mais famosas do país.
Isabela é médica obstetra.
Fiquei curiosa para conhecer os sobrinhos de David de tanto que falaram deles.

— Vocês vão dormir aqui hoje, não vão? — Diana pergunta. — Não é seguro viajar esta hora
da noite.
— Tudo bem para você, amor? — David me pergunta.

— Sim! Sem problemas!

Nós damos boa-noite para todos depois de mais um pouco de conversa agradável.

— Gostei muito da sua família. Vocês parecem ser bem unidos — falo enquanto tiro minhas
sandálias.
— Sim, nós somos. Assim como a sua.
— Tivemos muita sorte, não é?

Ele me coloca em pé, já que eu estava sentada na beirada da cama.

— Sei o quanto sou sortudo por ter você em minha vida.

David me beija e começa a abrir o zíper do meu vestido.

— David, não! Estamos na casa dos seus pais. O quarto deles fica aqui ao lado.

— Você acha que eles não fazem isso?

— Eu não precisava dessa imagem na minha cabeça.

Ele me aperta mais ao seu corpo.

— É só você gemer baixinho — sussurra, mordendo o lóbulo da minha orelha.

— David! — Acerto um tapa de leve nele, que pega minha mão e morde. — Seu tarado.

— Só por você.

Então, antes que eu me dê conta, meu vestido desliza até meus pés e David está abrindo o
fecho do meu sutiã.
— David, amor… Sério, eu não vou conseguir. Não com seus pais no quarto ao lado.

— Hum… Tudo bem. Hoje a gente só dorme, mas amanhã…


Amanda está dormindo toda enroscada em mim, linda como sempre. Seus cabelos cobrindo o
rosto, meio espalhados por meu peito, e sua respiração calma e suave me dizem que dorme
profundamente. Fico observando-a e pensando em como a amo. Ela se tornou minha prioridade.
Tudo o que faço é pensando nela.
Por Amanda, sou capaz de qualquer coisa. Faço tudo o que me pedir.

Eu nunca entendi quando meu pai falava o quanto ele amava minha mãe. Não compreendia o
que queria dizer, pois para mim, o amor era apenas uma palavra que as pessoas falavam por falar. Só
agora entendo o significado grandioso dela.

O amor nos torna melhores, nos redime e faz com que nos sintamos completos. Nós pensarmos
menos em nós, pois o ser amado vem sempre em primeiro lugar. Deixamos de lado nossos desejos
para realizar tudo aquilo o que o nosso amor deseja.

Ela se mexe e se aconchega mais ao meu corpo. Envolvo-a em meus braços, notando como
parece tão natural e perfeito. Em pensar que eu achei que isso não era para mim. Por minha teimosia,
quase perdi isso. Por medo de ser feliz.

— Por que está acordado?

Amanda abre os olhos e me encara. Perco-me na intensidade dos seus olhos cor de chocolate
antes de beijá-la.
— Só estou admirando sua beleza e pensando no quanto sou sortudo por ter você na minha
vida, meu amor.
— Eu também amo você.

Beija-me novamente, e a aperto bem em meus braços. Como sempre, apenas um beijo é o que
basta para que nossos corpos ardam de desejo. Desta vez, ela não resistirá a mim mesmo estando na
casa dos meus pais.

Deito-a de costas na cama e a cubro com meu corpo, sem parar com meus beijos. Amanda
corresponde com a mesma paixão. Sei que ela também me quer. Desço minhas mãos por sua cintura
e
encontro sua calcinha. Engancho-a em meus dedos e começo a tirá-la bem devagar. Abro seu sutiã e
a deixo nua sob meu olhar. Não resisto a esse desejo que me queima por dentro e a arrebato em um
beijo quente e sensual. Pego um preservativo e o coloco, pois não quero mais correr riscos.
— David… — Calo-a com um beijo.

— Shiii! Não pense em nada. Só se entregue — digo, penetrando-a lentamente. Sua maciez e
calor me abraçam de uma maneira tão gostosa que quase perco os sentidos.
Amá-la é como ir para outra dimensão, uma onde somos os únicos que importam.

Nossos corpos se movimentam em um ritmo lento e constante. Nós nos amamos com paciência,
carinho e, ao mesmo tempo, com intensidade e paixão. Sinto-a estremecer sob mim, dizendo-me que
havia chegado ao seu clímax. Vejo algumas lágrimas caírem dos seus olhos e descerem por sua face.
Beijo-a, e ela diz ofegante:
— Obrigada por me fazer tão feliz. — Segura meu rosto entre as mãos e me beija. Com essa
carícia, eu gozo.
Sou o cara mais feliz do mundo por tê-la aqui em meus braços.

— Tenho que ir a uma loja para comprar algumas coisas já que decidimos ficar alguns dias por
aqui — Amanda diz enquanto seca seu corpo após o banho.
— Depois do café da manhã, quero levar você para conhecer meus lugares preferidos aqui. Os
lugares que ia quando era criança.
Envolvo-a em meus braços, abraçando-a pelas costas, e beijo seu pescoço. Eu nunca estou
satisfeito com ela. Sempre a quero mais e mais.
Nós ainda no amamos novamente no chuveiro, onde Amanda se entregou com volúpia a mim.
Ela despertou um lado meu que eu não conhecia, um apaixonado, carinhoso e protetor. Quero que se
sinta bem ao meu lado. Vê-la sorrir é o maior prêmio que eu posso receber. Um sorriso dela e já
ganho meu dia.
— Bom dia! — Minha mãe nos recebe com um farto café da manhã, com a mesa cheia de
doces que ela mesma faz. — O café está servido.
A campainha toca.
— Deixa que eu abro!

Meu pai vai até a porta e quem está lá é meu irmão, Jacob, sua esposa e meus sobrinhos, Dudu
e Ana. Os dois vêm correndo para meus braços assim que me veem.
— Tio David!

— Ei, como cresceram!

Dudu está com quatro anos, e Ana com três. Eles são muito parecidos com meu irmão. Ambos
têm os olhos verdes como os dele. Ele, Isabela e eu nos conhecemos desde meninos. Ela é quatro
anos mais velha do que eu e seis, quase sete anos, anos mais velha que Jacob. Essa diferença de
idade causa muita insegurança nela.
No início, ela não quis aceitar os galanteios do meu irmão, achando que tudo não passava de
uma brincadeira, pois meu irmão tinha vinte anos e estava cursando a universidade, enquanto ela,
com vinte e seis, já era uma médica formada. Mas Jacob foi insistente e conseguiu convencê-la de
que estava realmente apaixonado por ela. Os dois começaram a namorar e se casaram seis meses
depois. Jake disse que eles já se conheciam há muito tempo para ficarem adiando o casamento, então,
em dois meses, Bela já estava grávida. Para a alegria dos meus pais, que viviam me cobrando um
neto. Depois do casamento de Jacob, eles se esqueceram um pouco de mim, e pude viver minha vida
sem ser cobrado.
— E aí, cunhadinha? Preparada para conhecer a Ilha da Magia? — Jacob pergunta, e Mandy
fica boiando.
— Ilha da Magia é como a cidade de Florianópolis é conhecida — explico a ela.

— Dizem que aqui tem praias lindas! — Amanda comenta enquanto todos se sentam à mesa
para o café da manhã.
— Vai levar a Amanda lá na Praia Mole, não vai? — Jacob pergunta.

— Jacob, não vamos surfar, é apenas um passeio. E a Praia da Joaquina está só nos meus
planos — digo.
— Você surfa? — ela pergunta surpresa.

— Ele toma uns caldos, isso sim! — Jacob responde, rindo. — O único que surfa aqui sou eu!

— Falou o exibido! — Isabela lhe acerta um tapa no braço. — David também surfa muito bem,
Amanda. Esses dois viviam em cima de uma prancha quando eram mais jovens — fala com seu
sotaque engraçado. Eu não tenho sotaque nenhum, mas os outros têm um bem carregado.
— Você nunca me contou!

— Deve ser porque faz muito tempo desde a última vez que ele subiu em uma prancha. Aposto
que agora David não fica muito tempo em pé sobre uma — Jacob zomba.
— Pois saiba que pego muitas ondas em Los Angeles, mas não posso aceitar sua aposta. Tenho
muitos lugares para mostrar à Amanda.
— Vão na Lagoa da Conceição! É lindo lá. Essa época do ano não tem muito movimento —
aconselha minha mãe.
— Vamos? — convido Amanda para que se levante.

— Sim! O café da manhã estava ótimo! Obrigada! — ela agradece.

— Por nada, querida, se divirtam! — minha mãe diz antes de nós sairmos.

Estamos no elevador quando ela não aguenta sua curiosidade e pergunta:

— Por que você não tem esse sotaque tão legal?

— O de Manezinho da Ilha?

— Sim!

— Fiquei fora muito tempo, mas acredite, eu também falava assim.

— Eu também perdi meu sotaque gaúcho quando fui morar na Inglaterra. Papai ainda tem e é
bem carregado. Mamãe, de vez em quando, fala com seu sotaque carioca, mas raramente isso
acontece.

Dirijo em direção à Lagoa da Conceição. Quero mostrar um dos meus lugares favoritos aqui,
pois tem uma vista espetacular. Esse lugar fica em terceiro lugar no meu ranking. O trânsito está um
pouco intenso para essa hora da manhã. Parece que um acidente deixou o fluxo lento.

Chegamos por volta das dez, e Amanda já está encantada com tudo.

— Isso aqui é lindo! Você vinha muito aqui? — pergunta, olhando para mim.

— Sim, quando criança. Quero que conheça tudo de mim. Os meus lugares favoritos, comidas
favoritas, posições favoritas. — Seguro em sua cintura e a puxo para bem perto, colando nossos
corpos. — De agora em diante, serei seu para sempre, Amanda Sullivan. Nunca mais sairá do meu
lado.
Nós nos beijamos.

— E quem disse que quero sair do seu lado, David Baker?

Amanda rodeia meu pescoço com os braços e fica na ponta dos pés para me beijar.

Almoçamos por aqui mesmo, em um restaurante na Lagoa. Depois, levo-a para o meu segundo
lugar favorito: a praia da Joaquina, onde fiquei sobre uma prancha pela primeira vez, onde passei
momentos felizes da minha adolescência junto ao meu irmão.

Andamos de mãos dadas na areia fofa. Amanda só soltou para pegar algumas conchas, porque
quis levá-las como lembrança. Em seguida, vamos até as dunas, onde nos divertimos bastante.
Já está escurecendo quando a levo para o meu lugar preferido de toda a cidade: a praia da
Daniela. É um lugar de águas calmas e transparentes, onde aprendi a nadar, acompanhado do meu pai.
— Aqui é o paraíso! — exclama, andando pela areia, e depois rodopia com os braços abertos.

— Este lugar é especial para mim. Lembra muito da minha infância. Aprendi a nadar nessas
águas e minhas melhores recordações, enquanto criança, são daqui dessas areias.
Ela me abraça, e ficamos ali, olhando para as águas tranquilas, observando o pôr do sol. De
repente, Amanda começa a tirar a roupa.
— Amanda, o que está fazendo? — pergunto espantado.

— Vou entrar no mar!

Tira as calças e fica só de lingerie.

— Você está maluca? Deve estar fazendo uns quatorze graus!

Ela me provoca, usando o dedo indicador para me chamar, instigando para que eu a
acompanhe.
— Não sabia que era um covarde, David Baker.

Corre em direção ao mar e entra mesmo, a maluca. Tiro meus sapatos, minhas roupas, e corro
para água. Essa mulher é mesmo doida. Está muito gelado!
— Você é maluca! — grito, segurando-a pela cintura.

— E eu viria a uma praia de Santa Catarina e não entraria na água?

Nós beijamos, e ela começa a tremer.


— Vamos sair logo daqui antes que você tenha uma hipotermia.

Levo-a nos braços até a areia.

— Quero fazer amor com você aqui na areia da praia — sussurra para mim.

— O que foi que você tomou hoje, chá de maluquice? Pode aparecer alguém.

— Eu sei. E isso não te excita?

Amanda começa a me beijar.

— Na verdade, não. Só de pensar que alguém pode ver você nua, fico muito irritado. Aliás, já
estou começando a ficar irritado só por você estar de lingerie aqui na praia. Vista-se, Amanda.
Ela solta meu pescoço e cata suas roupas do chão.

— Desmancha prazeres! — Começa a se vestir. — Eu queria muito isso.

Já passam das oito da noite e está escuro. Amanda está vestindo a blusa com um bico enorme
na boca. Eu quero que ela seja feliz ao meu lado. A praia está deserta, e estamos em uma parte onde
não há casas, então, tomo coragem e a deito na areia. Amanda se assusta.

— David!

— É o que você quer? É o que você vai ter.

Cubro seu corpo com o meu e dispo o resto das roupas que ela ainda tem. Não temos tempo
para preliminares. Quero seu corpo de maneira selvagem. Ainda que eu tentasse ser suave, meu
desejo não deixaria. Vê-la deitada na areia com seu rosto corado e a respiração ofegante me faz
querer tomá-la de maneira rude e afoita.
Penetro seu corpo e a ouço gemer. Estoco com força e potência, intercalando entre beijos,
lambidas e mordidas. Desejo-a de tantas maneiras que, quanto mais a tenho, mais a quero.
Seu calor suave e úmido me abraçando por inteiro me deixa à beira da loucura.

— Amanda, meu amor…

— David, por favor… — suplica, e sei o que ela quer. Estoco com mais força, atingindo seu
ponto sensível, e sei que ela está quase gozando.
Ela me enlaça e arranha minhas costas. Não demora para senti-la estremecer, e sei que
consegui o que queria.
Seu prazer é meu prazer. Gozo satisfeito por satisfazer minha mulher.

Estamos de volta para o apartamento dos meus pais.

— Tem areia em lugares inimagináveis do meu corpo — Amanda fala, passando as mãos por
seus braços para tentar tirar os grãos de areia que estão grudados.
— Não perca seu tempo tentando tirar a areia, só um banho vai resolver isso.

A porta do elevador se abre e Silvana, uma vizinha e ex-namorada, entra.

— David, há quanto tempo! — diz, abraçando-me, e beija meu rosto.

— É, já tem um tempo — falo meio sem graça, e Amanda não está gostando disso. Ela
pigarreia.
— Amor, essa é Silvana, uma velha amiga.

— Na verdade, David e eu fomos namorados! — responde só para provocar Amanda.

— Que bom. Nós somos noivos.

Amanda segura no meu braço, e Silvana a olha com desdém. Isso me revolta. Seguro a cintura
de Amanda e a beijo, mas não qualquer beijo, é um quente e apaixonado. Quero que Silvana veja o
quanto a amo.

— Noivos e apaixonados — completo. Aa portas se abrem, e Silvana sai, deixando somente


Amanda e eu no elevador. Assim que as portas se fecham, nós caímos na gargalhada. — Amor,
vamos logo para um banho. Estou me sentindo um bife empanado, pronto para ser frito.

Ela agora gargalha, e tenho certeza de que esse é o som mais bonito do mundo para mim.
Passamos dois dias perfeitos em Florianópolis, mas chegou a hora de voltar para a vida real.
David tem que voltar a Los Angeles para ajudar Nick com os treinamentos. Estamos no aeroporto
Internacional Hercílio Luz, na capital de Santa Catarina. O voo sai em quarenta minutos.
Por que as despedidas têm que ser tão dolorosas?

— Vou sentir muito a sua falta!

Abraço-o tão apertado que meus braços doem, mas não tanto quanto meu coração.

— Ei! Até parece que não vamos mais nos ver! Serão apenas dois meses. Em agosto você vai
para lá também! — fala ainda me abraçando.
Não quero soltá-lo. Tenho a impressão de que se soltá-lo, não o terei mais assim em meus
braços.
estamosPor que sinto que nossa despedida é para sempre? Sinto que esta é a última vez que
nos vendo. Meu coração está tão apertado.

— Promete que vai falar comigo todos os dias, três vezes no mínimo?

Encaro seus olhos, que hoje estão mais verdes que azuis.

— Três vezes ao dia, hein?

— Sim! E tem que atender ao telefone sempre que eu ligar. Vou morrer de saudades.

Aconchego minha cabeça em seu peito. Sei que estou fazendo uma cena, mas nem ligo. Quero
ficar com o cheiro dele na minha pele, com seu gosto na minha boca. David me beija e, com esse
beijo, vem a promessa de que nos veremos outra vez.

— Tenho que ir — fala, ainda abraçado a mim.

— Não! Ainda não. Fica só mais um pouquinho. Me deixa sentir seu cheiro mais um minuto. Só
mais um minuto.
Ele me aperta bem ao seu corpo e beija minha cabeça.
— Amor, vou perder o voo.

— Por que sinto que essa é uma despedida para sempre?

— Nunca! Nunca vou deixar você, entendeu? Te amo demais para te deixar ir. — Ele me beija
novamente. — Em breve, estaremos juntos. Você vai ver. Até breve, amor.
David me dá mais um beijo e segue para a área de embarque. Fico no saguão com meu coração
aos pedaços, sentindo que disse adeus ao meu amor. Por que me sinto assim? Com meu coração tão
pesado?

Samantha e Brizio nos deixaram a sós para nos despedirmos, mas agora estão de volta. Minha
irmã me abraça.
— Serão apenas dois meses, querida.

— Sam, não sei por que, mas acho que essa foi a última vez que vi David. Sinto que não
voltaremos a ficar juntos.
— Vire essa boca para lá! Você e David vão se casar e serão muito felizes. — Ela me abraça.
— Vamos, a viagem até a fazenda é longa.

Fiquei apenas dois dias na fazenda, pois voltei para Porto Alegre. Passar esse tempo com
meus pais é o melhor a se fazer agora.
David me liga todos os dias. Fazemos chamadas de vídeo, e dá para matar um pouco da
saudade, mas ainda é pouco. Ele fala de seus planos para trabalhar em uma empresa, usando suas
habilidades com o computador, enquanto eu faço planos para abrir um estúdio de dança.

Ainda não sabemos onde iremos morar, mas eu já imagino a casa.

Eu quero algo pequeno e aconchegante, tipo um chalé. Para que eu possa esperar David chegar
do trabalho, com o jantar pronto. Depois, ele irá me ajudar a lavar a louça, nós subiremos para o
nosso quarto para tomarmos um banho relaxante e, em seguida, faremos amor.

Minha vida imaginária é perfeita, a não ser por um detalhe: eu não terei filhos. Sempre que eu
toco no assunto, David desconversa ou fica irritado. Com o tempo, achei melhor parar de falar sobre
isso.
A luta de Nick finalmente chegou. Nós assistimos tudo pela TV, inclusive a pesagem, em que
aconteceu uma confusão. Manu ligou e disse que o outro lutador a ofendeu. Nick ficou furioso.
Mais uma vez, meu primo venceu. Papai, tio Renan e o vovô comemoraram muito. Eu também
fiquei muito feliz por ele.
Em uma semana, finalmente embarco para Los Angeles. A ansiedade me consome. Estou com
tanta saudade. Acho que isso tem me tirado o apetite. Quando como algo, logo passo mal.
Quero que chegue logo o dia da viagem, pois estou louca para ver David. Quero sentir seu
cheiro, tocar sua pele, sentir o sabor dos seus beijos.
— Amanda, o almoço está servido — minha mãe me avisa.

Desço até a sala de jantar, e o cheiro de frango me revira o estômago.

— Mãe, que tempero a senhora usou? Esse frango está com cheiro estranho.

Não suporto mais ficar ali, então saio correndo para o lavabo e vomito.

— Filha, está tudo bem?

Minha mãe fica batendo na porta até eu sair.

— Acho que estou muito ansiosa com a viagem. Sabe como fico quando estou ansiosa — digo
a ela.
E é verdade. Sempre fico mal do estômago quando estou ansiosa.

— Sim, isso é verdade. Vá se deitar, vou preparar um chá.

— Obrigada, mãe!

Mal deito na cama e o telefone toca. No identificador de chamadas, está a foto de Luisa, minha
melhor amiga, bailarina da companhia de dança.
— Alô, Luisa! Como vai? Há quanto tempo não nos falamos?

— Amanda! — Ela está chorando. — É o Will… Ele faleceu esta noite!

Fico em choque. William também era meu melhor amigo. Ele ficou tetraplégico depois do
acidente.
— Oh, meu Deus.
— Os pais dele me pediram para te avisar. O funeral será em cinco dias. Eles querem muito
você aqui.

— É claro que vou. Sinto muito.

Eu também. Eu o amava tanto. — — Minha amiga chora muito, e sinto a mesma dor que ela.
Antes, Will era alegre e cheio de vida. Depois do acidente, tudo o que ele queria era morrer. — É
muito triste ver o que aconteceu com ele. Éramos todos tão felizes, por que isso tinha que
acontecer? Espero por você.

Conversamos um tempo, então ela desliga, e começo a chorar. Mamãe entra com o chá e me
encontra assim.
— Filha, por que está chorando? Brigou com David?

— Mãe, o Will morreu — digo e choro ainda mais. Minha mãe me abraça.

— Sinto muito, meu amor. Sei o quanto você gostava dele.

— Sei que ele estava sofrendo por ter que ficar naquela cadeira. Ele sempre dizia que preferia
a morte, mas agora que ele se foi, dói tanto.
Fico ali abraçada à minha mãe. Esse abraço é tão reconfortante, como só um abraço de mãe
pode ser.
Comprei uma passagem pela internet. Eu morei por anos por lá, por isso ir até a Inglaterra não
foi um problema. Hospedei-me em um hotel e fui até a casa dos pais de Will, que estão desolados.
Eu o conheço desde os quatorze anos, quando entramos para a mesma escola de dança. Lá
conhecemos a maioria dos nossos amigos. Ele era o meu melhor amigo. Will me entendia como
ninguém e sabia interpretar cada olhar meu. Sabia quando eu queria ficar sozinha e sempre respeitava
isso.
Eu também o conhecia como a palma da minha mão, tanto que me dei conta de que Will se
apaixonou por Lauren antes que ele mesmo percebesse. Fui o cupido que os uniu, pois ela era como
eu, tímida demais para falar com ele. E Will era medroso demais para falar com ela.

Abraço os pais dele, e choramos juntos.

— Agora ele está descansando ao lado de sua amada Lauren — a mãe dele diz.

Durante o funeral, encontrei muitos colegas da companhia de dança. Luisa vem falar comigo
assim que me vê.
— Amiga! — Nós nos abraçamos e choramos juntas. — Eu sei que ele estava sofrendo, mas
dói tanto.
— Amanda, ele só falava em se encontrar com Lauren. Ele queria ter morrido com ela.
Naquela cama, inválido, desejava a morte todos os dias. Era tão triste ver alguém que sempre foi
alegre e cheio de vida daquele jeito, amargurado como ele estava. Agora ele descansou — ela diz.

Luisa tem razão. Will sempre estava brigando e maltratando qualquer um que se aproximasse,
agora ele finalmente irá encontrar Lauren.
Depois do funeral, voltei para o meu hotel. Luisa me convidou para tomar um café no dia
seguinte. Sentamos em um café desses que tem as mesinhas na calçada e conversamos muito.
— Sabe, depois que saí da companhia, abri meu próprio negócio — fala, bebericando um
pouco de café em seguida. — É uma casa de shows.
— É mesmo? Gostaria de conhecer.

— Bem, não sei se você, com esse seu jeito certinho, vai gostar.

— Por quê?

— Fazemos shows sensuais, sabe? Strip.

— Sério? Sempre achei que você fosse abrir um estúdio de balé!

— Isso é para você. Eu gosto que os homens me olhem e me desejem, que sintam tesão por
mim. — Ela suspira. — Mas confesso que preciso de ajuda. Algumas garotas ainda são cruas. Você
bem que podia me ajudar com isso.

— Eu? Como?

— Você é a melhor coreógrafa que conheço. Vai, só hoje!

Ela junta as mãos em forma de oração, implorando.

— Tudo bem. Vamos conhecer essa casa de shows.

— Obrigada, amiga. — Ela se levanta da sua cadeira e me abraça. O seu perfume me causa
náuseas. — O que foi? Você está pálida como papel!
— Não sei, me sinto enjoada e tonta.

— Você está grávida, Amanda? — pergunta, e aquilo me pega de surpresa. Essa possibilidade
nem me passou pela cabeça.

— Será? — pergunto, levando as mãos para meu ventre institivamente. — Grávida…

— Vem, vamos lá para casa. No caminho, passamos em uma farmácia e compramos um teste.

Mesmo com medo, faço o que ela diz.

— Anda logo, Amanda. Quanto tempo pode levar para fazer esse teste? — Luisa fala do outro
lado da porta.
A verdade é que estou criando coragem para fazer o teste.

Oh, meu Deus. Um filho… Um filho meu e de David. E se for verdade? O que eu farei? Ele
falou inúmeras vezes que não quer ter filhos.
— Amanda, vai logo!

Finalmente tomo coragem e faço o teste. São os três minutos mais demorados da minha vida.
Pego o teste que deixei sobre a pia do banheiro e vejo o resultado.
Pos i ti vo.

Eu vou ser mãe. Estou esperando um filho de David.

Saio do banheiro, atônita, e me sento no sofá. Começo a chorar.

— Amiga, calma.

— Você não entende… Esse filho vai ser o fim do meu relacionamento.

— Eu não entendo. O pai do seu filho não é seu noivo?

— É complicado.

Pego minha bolsa.

— Aonde você vai? Não pode sair assim.

Não a ouço e saio do apartamento dela, andando sem rumo pelas ruas de Londres. Ainda
atordoada, me vem à mente todas as vezes que tentei falar com ele sobre isso. David sempre foi
enfático ao dizer que não quer filhos.

Mas eu já amo esse serzinho que cresce no meu ventre. Um pedacinho meu e dele, fruto do
nosso amor tão grande. O que fazer? Devo contar a David? Como ele vai reagir?
Ah, meu Deus, me ajuda!

Sento-me em um banco qualquer. Não sei nem onde estou. Andei tanto que não sei onde vim
parar. E, para ajudar, começa a chover. Fico na chuva e choro muito. Nesse choro, quero que saia
toda essa dúvida que me destrói por dentro.

Eu tenho uma escolha a fazer. Se ficar com David, fico sem meu filho. Se ficar com meu filho,
fico sem David.
Amo David, ele é o amor da minha vida, mas um filho é o tesouro mais precioso que uma
mulher pode receber. É uma bênção que eu não poderia renegar. Creio que já fiz minha escolha. Sei
também que meu coração ficará destruído com isso, mas é o melhor a fazer.

Assim que chego ao meu quarto no hotel, meu telefone toca. É David. Chegou a hora da
verdade.
— Oi, amor — digo, olhando para a tela.

— Oi! Estou te esperando aqui em Los Angeles. Não aguento mais de tanta saudade — ele
fala. Como está bonito. Olho bastante para ele, pois quero gravar bem sua fala na minha mente, pois
essa será nossa última conversa.

— Estou ajudando uma amiga por aqui e vou ficar mais uma semana, mas, assim que terminar,
vou direto para Los Angeles — minto. É agora. Dependendo da sua resposta, será o fim de tudo. —
Amor, sobre aquele assunto de eu querer ter um filho…

— Amanda, já conversamos sobre isso Não sei por que insiste. Eu nunca vou querer um filho
e não vou mudar de ideia com o tempo, entenda de uma vez! — Suas palavras me cortam co
punhal e destroem meu coração. Não tem jeito. Está tudo acabado entre David e eu. Não vou abrir
mão do meu filho. Mesmo que para isso eu tenha que desistir do único homem que amei, que sempre
vou amar. — Amor, me desculpa. Eu não quis ser ríspido com você.

— Tudo bem. Agora tenho que desligar, aquela minha amiga está me esperando.

— Tudo bem. Eu te amo — fala e me joga um beijo.

— Também te amo.

Desligo. Caio sobre a cama, onde derramo todas as lágrimas que sou capaz. Nem assim essa
dor imensa que sinto em meu peito tem fim. Sinto como se alguém estivesse segurando meu coração e
apertando com toda a força, tentando esmagá-lo de uma vez.

Por que não posso ser feliz? Tudo tem que acontecer comigo. Sempre que tenho algo que me
deixa feliz, algo de ruim acontece.
Descobri o amor nos braços de David e sei que nunca mais vou conseguir amar como o amo.
Mas é claro que eu não poderia ficar com ele. Como tudo o que amo é tirado de mim, David também
não pode ser meu.
Ai, essa dor vai me matar. Dói muito. Será que algum dia vai passar ou vou ficar assim para
sempre?
Com meu coração em frangalhos e minha alma aos pedaços, levanto-me da cama e vou falar
com Luisa. Ela é a única amiga de verdade que tenho aqui. Vou me abrir com ela. Talvez falar me
ajude a aliviar um pouco dessa dor lancinante que atravessa meu coração.
Esses meses aqui têm sido muito difíceis para mim. Estou muito ansioso para ter Amanda
novamente em meus braços, para sentir sua pele macia e o seu cheiro gostoso.
Falei com ela há uma semana, mas depois não consegui mais contato. Combinamos de nos falar
três vezes ao dia, e estou preocupado. Não tenho notícias dela há muito tempo. Já liguei para seus
pais, e eles também não sabem nada dela. Samantha também não.

Vou esperar apenas até amanhã, que é o dia que ela chega. Se não obtiver notícias, vou
comunicar as autoridades.
Depois que Nick venceu a luta, encerrei meus trabalhos com ele. Só estou aqui como um
amigo. Há algo meio estranho acontecendo, porque ele me pediu para levantar a ficha de um tal Alan
Walker. Colhi o maior número de informações e entregarei o relatório a ele amanhã. Não sei o que
está acontecendo, mas tenho algumas suspeitas. Só que agora não tenho tempo para investigar isso.
Tenho que descobrir o que aconteceu com Amanda primeiro.

Vou para meu apartamento, tomo um banho e ligo para o meu pai.

— Pai! Tudo bem por aí?

— Sim, meu filho, e com você?

— Não estou bem. Estou preocupado com Amanda. Não falo com ela há uma semana. Tenho
medo de que tenha acontecido algo de ruim — desabafo.
— Não pense isso. Ela não ficou de encontrar com você aí amanhã?

— Sim, mas não é normal que ela fique tanto tempo sem falar comigo.

— Quer que eu investigue?

— Não, tudo bem. Vou esperar até amanhã. Se ela não aparecer, eu falo com você.

— Você é quem sabe!

— Ok. Preciso ir.


— Tchau, meu filho.

São três da tarde. Visto minha roupa e pego a prancha, porque talvez pegar uma onda me faça
relaxar. Na praia, sento-me na areia, e tudo me lembra de Amanda. A praia e o mar me trazem
lembranças daquele dia em que a amei.

Não estou mais suportando essa saudade. Se algo acontecer a ela, acho que morro.

Nunca pensei amar alguém tão intensamente quanto amo Amanda. A mulher se infiltrou no meu
coração e ficou aqui gravada feito tatuagem. Acordo pensando nela, penso nela o dia todo e durmo
pensando nela. Não consigo me concentrar para pegar as ondas, então decido voltar para casa.
Chegando lá, o porteiro me entrega um envelope.
— Senhor Baker, isso chegou assim que o senhor saiu.

— Obrigado, Bob.

Pego o envelope e entro no elevador. Reconheço a letra de Amanda. Entro em casa e deixo a
prancha jogada de qualquer jeito. Abro o papel e vejo cair de dentro dele o anel de noivado que dei
a ela.

Sinto meu coração parar de bater. Minhas mãos suam frio, e minhas pernas tremem. Sento-me
em um lugar qualquer. Retiro uma folha de papel que está dobrada dentro do envelope.
Minhas mãos tremem ainda mais. Não pode ser. Não quero acreditar que Amanda fez isso
comigo.
Desdobro o papel com cuidado para não rasgar, porque estou muito nervoso. Começo a ler.

David, infelizmente não estarei com você como havia combinado. Escrevo essa carta, porque
não tenho coragem de olhar nos seus olhos para dizer o que preciso. O que aconteceu entre
nós foi um erro. Nunca daria certo. Quero algo a mais, algo que você não é capaz de me dar.
Agora tenho alguém que amo de verdade, que me completa de uma maneira que você

jamais
será capaz de fazer. O amor que sinto por ele é incondicional, sem medidas. Eu seria capaz
de
tudo por ele. Então, é por ele que estou pondo um ponto final no nosso relacionamento.

Vou viver esse amor sem restrições, sem medidas. Seremos muito felizes. Desejo do fundo do
meu coração que você encontre alguém que te ame, tanto quanto eu encontrei. Não me
procure
mais.

Adeus.
PS: Guarde esse anel e o entregue a alguém que você realmente ame sem limites, a alguém
que você será capaz de tudo, porque essa não sou eu.

Leio e releio a carta mais de cem vezes e ainda não consigo acreditar. Ela encontrou alguém?
Como assim encontrou alguém?
Levanto-me e dou um chute na cadeira onde estava sentado. Por que Amanda fez isso? Não
entendo! Como quer algo a mais? Quem é esse cara de que ela está falando? Como ela o conheceu?
Ela já o amava? Mas se o amava, por que estar comigo e dizer que me amava?

Minha cabeça está cheia de dúvidas. Meu coração está destroçado.

Eu nem sabia que era capaz de sentir isso. É uma dor tão grande que me impede até mesmo de
respirar. Rasga-me por dentro como garras afiadas, perfurando a carne e indo direto para o coração.
Sento-me no sofá, segurando a maldita carta. Leio mais uma vez, mas agora as letras estão
embaralhadas e turvas. Quando o primeiro pingo cai sobre a folha, manchando uma palavra, é que
percebo que estou chorando. Lágrimas rolam por meu rosto sem nem que ao menos que eu perceba.

Amasso o papel e o jogo no chão. Faço de conta que é meu coração, porque ele está
exatamente assim: amassado e destruído. Olho para a aliança que comprei para simbolizar o amor
que sentimos, que agora não tem significado nenhum.

Ando feito um zumbi pela casa. Vou até meu quarto e vejo a decoração que fiz para recebê-la,
para tomá-la em meus braços na cama. Agora Amanda não virá. E por quê? Porque não me ama.
Amanda não me ama.

Deve ser por causa monstro que tem dentro de mim. Quem em sã consciência amaria alguém
como eu? Eu sabia! O amor não foi feito para pessoas como eu. Alguém com a minha origem não
deve criar ilusões. E eu, idiota, as criei. Criei muitas ilusões tolas. Meu castelo de areia agora se
desmorona no chão.
Como fui burro por acreditar que poderia ser feliz, que a felicidade bateu à minha porta.

Jogo o anel contra a parede e depois tudo o que encontro pela frente. Estou com tanta raiva por
ter me iludido.
Eu sempre evitei me envolver demais, mas Amanda derrubou todas as barreiras e muros que
levantei. Ela entrou com tudo na minha vida, tomou conta do meu coração e levou minha alma junto.
A armadura que eu tinha sobre mim foi destroçada com apenas um toque dela.

E agora, como respirar sabendo que nunca mais a terei em meus braços, estremecendo de
prazer? Sem seu sorriso lindo, sem o som da sua risada contagiante?
Estou dormindo, é isso. Só pode ser um pesadelo. A qualquer momento vou acordar. Espero
um tempo, mas não acordo. Tudo é real. Amanda me deixou de verdade.
Estou morto. Acabei de morrer, pois entreguei meu coração, e ela o matou. Agora estou aqui
com meu peito vazio. No lugar onde existia um coração há somente um buraco vazio, que sangra sem
parar.

Procuro algo para beber. Talvez se entorpecer meu corpo essa dor passe. Encontro uma garrafa
de vodca que não sei de onde surgiu, mas já que está aqui, vou beber. Sento-me no chão e começo a
encher a cara. Bebo no gargalo mesmo, porque não preciso de copo.

Pego novamente a carta e a desamasso para reler. A cada vez que leio, um pouco a mais de
realidade vai me bombardeando.
Bebo toda a garrafa, mas ela não é o suficiente para aplacar essa dor que sinto. O que fazer?
Será que existe algum remédio que cure essa agonia? Essa dor pungente que aflige meu peito? Busco
por mais bebida pela casa e consumo tudo o que encontro; vinho, cerveja, tequila. Eu nem sabia que
tinha tantas guardadas aqui em casa.
Acordo deitado no tapete da sala, sentindo um gosto tão amargo quanto minha vida na boca.

Amanda foi tão covarde que não conseguiu sequer me olhar nos olhos para terminar tudo. É
claro ela não queria estar por perto para ver o estrago, para ver como me destruiu.
Por trinta anos, vivi bem minha vida solitária. Aí bastou que ela me encarasse com aqueles
olhos cor de chocolate para me derrubar. Por que não fiz como sempre? Por que não me afastei assim
que percebi que estava me apaixonando? Não! Eu tinha que pagar para ver! Idiota! Caí na armadilha
de me apaixonar e agora estou aqui com essa dor pulsante que me dilacera o peito.
Levanto-me e sou atingido pela pior dor de cabeça do mundo.

— Ótimo! Só a dor de ter meu coração esmagado e triturado não é o suficiente. Uma bomba
também tem que atingir meu cérebro — resmungo.
Vou até o armário do banheiro e pego dois analgésicos. Engulo-os de uma vez só, sem tomar
água.
Tenho que entregar esse relatório para Nick. Depois disso, vou para o Brasil. Preciso saber de
Samantha o que está acontecendo. Tenho certeza de que ela sabe. As duas não têm segredos uma com
a outra.

Vou até meu notebook e compro uma passagem para o Brasil. Viajo amanhã pela manhã.
Preciso tirar tudo isso a limpo.
Após entregar o relatório a Nick, volto para meu apartamento para fazer as malas. Ligo para
minha mãe avisando que estou voltando.
Seguro a carta de Amanda nas mãos. Está amassada e manchada de tanto que manuseei. Guardo
na mala junto com o anel que encontrei hoje pela manhã caído debaixo da mesa.
Vou para o aeroporto. Embarcar para o Brasil é a solução. Preciso tentar obter mais
informações. Preciso entender o que aconteceu. Não me conformo com isso. Pensar com a cabeça
fria vai me fazer enxergar alguma coisa que não vi ainda.

Amanda me abandonou por outro. Achei que ela me amava tanto quanto eu a amo. Sim, eu a
amo e não sei como vou viver sem ela.
Esses meses sem ela têm sido uma tortura angustiante, mas eu tinha a esperança de que nos
encontraríamos novamente, e agora nem isso tenho.
O voo para o Brasil foi tranquilo. Só meu coração que está vivendo uma turbulência. Quem
diria que a nossa despedida no Brasil acabaria sendo definitiva? Que aquela seria a última vez que
eu beijaria seus lábios, que olharia em seus olhos?

Amanda, por que você fez isso?

Por que me matar assim? Porque é assim que me sinto, morto, vazio, seco por dentro. Esse
vazio não é um qualquer. É um vazio que dói, que me machuca por dentro e me faz sangrar.
Como posso viver assim? Com esse buraco em meu peito?

Ela levou meu coração e deixou no lugar somente esse buraco cheio de dor sem fim.

Chego ao apartamento dos meus pais depois de longas doze horas de viagem. Jacob e meu pai
estão no escritório e vêm me receber assim que chego.
— Filho, que bom que chegou! — Meu pai me abraça.

— Aí, irmão, onde está Amanda? Ela não veio com você?

Sento-me no sofá, segurando minha cabeça entre as mãos, e me permito chorar. Eu não sabia
mais o que era isso. Desde menino, nunca mais tinha derramado uma lágrima, e agora é tudo o que
quero fazer.

— Ela me deixou! Não sei o que fazer com essa dor que está me matando! — Jake me abraça.
Nem ele nem meu pai dizem uma única palavra, só me deixam chorar e desabafar. — Nunca pensei
que um dia estaria chorando feito um menino por uma mulher. Essa dor é insuportável e me rasga de
dentro para fora. Sinto que vou morrer a qualquer momento.
— Cara, eu sinto muito. Desta vez achei que você fosse desencalhar — Jake diz.

— O que foi que você fez? — pergunta meu pai.

— Não sei! Estávamos planejando nosso futuro juntos! Ela foi no funeral desse amigo e
começou a ficar estranha. Não atendeu mais meus telefonemas, e então me mandou uma carta
terminando tudo! Juro que não entendo!

— E o que vai fazer? — questiona meu pai.

— Vou até a fazenda falar com a irmã dela. Quem sabe ela esclareça alguma coisa para mim.
Estou perdido.
Chegando na estrada para a fazenda, meu coração acelera de expectativa. Na verdade, meu
coração idiota tem a esperança de encontrá-la por aqui, de convencê-la a voltar comigo. Porque sem
Amanda está difícil até mesmo respirar.

Estaciono o carro em frente à casa e sou recepcionado por Samantha e sua barriga enorme.

— David? O que faz aqui? Amanda não veio com você?

Lá se foram minhas esperanças de encontrar Amanda por aqui.

— Achei que você poderia me informar o paradeiro dela.

— Como assim? Minha irmã está desaparecida?

Samantha fica branca feito cera e quase desmaia. Seguro-a para impedir que caia e a levo para
dentro da casa.
— Ruth! Samantha não está bem! — chamo, e a mulher chega correndo.

— O que ela tem? — indaga, verificando o pulso dela.

— Não sei! Ela ficou branca de repente e quase caiu ali na varanda.

— O que faz aqui? Onde está Amanda?

— Tia, minha irmã desapareceu! — Samantha fala. — O que você fez para ela? Tenho certeza
de que você a magoou! Mandy nunca faria isso!
— Samantha, eu juro que não sei o motivo disso tudo. Estou tão perdido quanto você. Amanda
escreveu uma carta terminando tudo entre nós, sem motivo aparente. Parece que ela está com outro —
digo.
— David, não seja idiota! Minha irmã é louca por você! — Sam diz gesticulando.

— Não de acordo com essa carta! — respondo, entregando o papel a ela, que lê atentamente.

— Eu não posso acreditar… É verdade. — Sam olha para mim. — David, eu sinto muito.
Minha irmã ficou maluca.
Volto para casa, desolado. Só confirmei que Amanda não me queria mais, que pôs um ponto
final no nosso amor. Mas não posso culpá-la. Ela merece uma vida normal, uma que eu jamais
poderia lhe proporcionar. Sou complicado demais. Tenho muitos complexos e uma origem horrível.

Não a culpo por não segurar a barra. É um fardo pesado demais até para mim.

Amanda merece ser feliz, ainda que não seja ao meu lado. Só não sei como vou conseguir
viver daqui para frente. Sem meu amor, meu anjo lindo, sem a luz que iluminava minha escuridão.
Escrever aquela carta foi a coisa mais difícil que já fiz na vida. A cada palavra escrita era um
pedaço do meu coração que se quebrava. Uma dor imensa, latejante e insuportável se formou no meu
peito, causando-me, inclusive, dificuldade para respirar.
Só tive forças para continuar com aquilo porque a recompensa pela dor que eu estava sentindo
seria grandiosa. Um pedacinho de David, que já tem o coração batendo dentro de mim. Sei que é um
menino. Já pensou se nascer com os belos olhos do pai?

Meu filho é o maior presente que David poderia ter me dado, mesmo sem nem fazer ideia
disso. Abrir mão do amor dele me causou uma dor tão profunda que, durante uma semana, só fiquei
na cama, sentindo meu coração partir mais a cada respiração. Abrir os olhos doía, porque me dava
conta de que nunca mais veria o sorriso torto que eu amava, ou os olhos que não têm cor definida.
Vou sentir falta de adivinhar que cor estariam.

Mas minha decisão já foi tomada. E a escolha me custou o meu amor, só que me dará a
oportunidade de sentir um sentimento muito maior e incondicional: o amor de mãe.
Luisa vem me visitar no hotel.

— Menina, você está horrível! — fala, deixando sua bolsa em uma poltrona e se sentando na
cama. — Não falou com seu gato ainda?
— Já disse que é complicado.

— Ele vai ser pai, Amanda. Você tem que dizer a ele.

— Luisa, esse filho é só meu e de mais ninguém. David não o quer. Não o desejou, nem
planejou. Um filho nunca esteve em seus planos ou projetos. Me entende? Ele sempre disse que não
queria ter filhos.

Choro, e Luisa me abraça.

— O que vai fazer? Vai ficar com ele? Ter um bebê sozinha não é nada fácil.

— É claro que terei meu bebê. Abri mão do amor da minha vida por ele, porque agora nada
mais me importa a não ser o filho que trago no meu ventre. Ele será minha prioridade a partir de
agora. Nada é mais valioso do que ele.
Passo a mão sobre meu ventre, que ainda não dá sinais de que aqui dentro cresce uma vida.
Esse pequeno ser se tornará minha razão de viver.
— Então, futura mamãe, levante dessa cama e pare de se lamentar! Sua decisão está tomada,
então vá à luta. Você tem um filho para criar e precisa de um emprego. Apesar de que seus pais têm
dinheiro…

— Não, não quero que eles saibam. Pelo menos não ainda. Também não posso usar meu cartão
de crédito. Vou retirar um bom dinheiro da minha conta, não é muito, mas posso me virar por um
tempo. Vou arranjar um trabalho, assim posso economizar para cuidar do meu filho.

— Por mim, você já tem um emprego. Te falei outro dia que preciso de uma coreógrafa. Você é
aemprego
melhor que conheço, e eu pago bem. E, depois, somos amigas, quem melhor para te dar um
além de mim?

— Não sei, Luisa… Eu nunca estive em um lugar que fazem danças eróticas e…

— Escute aqui, não é um prostíbulo. Lá realmente é uma casa de shows. As meninas são
proibidas de manterem relacionamentos com os frequentadores. E você vai trabalhar nos bastidores,
ensaiando as danças, ajudando com as roupas, escolhas de músicas, essas coisas. Vai, aceita! Não
me
faça implorar!
— Tudo bem.

— Arrume suas coisas. Você vai ficar lá em casa. Tenho um quarto vago, até você arrumar o
seu próprio lugar.
O lugar é bem diferente do que imaginei. Tem um palco enorme e várias mesas à frente. Um
poste de pole dance está instalado bem no centro do palco, que é todo decorado em vermelho com
cortinas de veludo na mesma cor. Tudo aqui tem essa coloração. Não é à toa que o nome do lugar é
Red Velvet, ou seja, veludo vermelho. Aqui tem um bar muito bem abastecido e organizado.
Sete garotas muito bonitas estão se alongando no palco quando Luisa chama a atenção delas.

— Meninas, quero apresentar a vocês a nova coreógrafa. Essa é Amanda Sullivan. Ela vai
cuidar dos ensaios a partir de agora. — Todas olham para mim e sorriem, menos uma. Ela me olha
com desdém, mas não ligo, pois já estou acostumada a isso. — Essas são Beth, Lucy, Ágata, Suzie,
Julia, Nathalia e aquela ali no canto emburrada é a Natasha. Não liga, ela vive de mau humor, mas
dança muito bem. Ela você não precisa ensaiar. Natasha é o show principal das noites de quinta,
sexta e sábado e faz suas próprias coreografias.
A mulher é linda. Alta, corpo curvilíneo, loira, cabelos tão compridos que alcançam as coxas e
olhos muito azuis.
— Seja bem-vinda. Espero que consiga ensinar alguma coisa a essas aí — diz com um sotaque
carregado.
— Obrigada! — Apertamos as mãos, e rapidamente ela vai para o camarim.

— Ficamos muito felizes por Luisa ter contratado você. Ela disse que você é a melhor
bailarina que já conheceu — fala Julia, uma ruiva baixinha e muito bonita, com um sorriso no rosto.
— É muita gentileza dela. Fiquei muito feliz também!

— Amanda, quero que comece agora. Até à noite consegue me mostrar alguma coisa?

— Creio que sim!

— Qualquer coisa estou no escritório. É logo ali. — Luisa aponta para uma sala que fica
acima das mesas.
— Tudo bem.

O dia foi muito produtivo. Até Natasha veio ensaiar conosco e tirou aquela primeira impressão
que tive dela. A mulher se mostrou muito prestativa e simpática. Descobri que ela é da Rússia e que
está em Londres há um ano. Percebi que aqui farei novas amigas e não me sentirei tão sozinha.

Eu tenho falar com meus pais para dizer que estou bem. Samantha também deve estar
preocupada. Hoje, quando eu chegar, enviarei um e-mail a eles.
No apartamento de Luisa, me instalo no quarto que ela me ofereceu.

— Amanda, temos que comer, tomar um banho e sair. A casa abre todos os dias às nove e meia
e fecha às quatro, tudo bem para você? — pergunta.
— Tudo bem. Com os ensaios à tarde e os shows à noite, vou me manter ocupada. Assim não
terei tempo para pensar.
— Você tem certeza de que não quer contar a ele sobre o filho? Isso é um direito dele.

— Tenho. Meu filho será só meu. David nunca vai saber sobre sua existência.

— Você quem sabe…


Minha barriga está enorme. Estou no oitavo mês de gestação. Acertei que vou ter um menino.

Mandei e-mails para minha família uma vez por mês e liguei duas vezes para Samantha e para
minha mãe. Dona Helena está furiosa por eu ter ficado tanto tempo sem falar com ela. Expliquei que
estava bem e que não queria que ninguém soubesse onde estou. Ela relutou um pouco, mas acabou
aceitando minha decisão. Meu pai foi um pouco mais difícil de convencer. Ficou o tempo todo
perguntando se David fez algo que me machucou e já queria até matá-lo, o que seria bem difícil com
todo o treinamento que David tem. Só expliquei que eu terminei e que não ia dar certo por sermos
muito diferentes.

Samantha já teve seu menininho e me convidou para ir ao Brasil para conhecê-lo, mas eu não
podia, senão eles iriam descobrir sobre meu filho. Fiquei triste, pois soube que Manu e Nick se
separaram. Manu foi embora para Portugal. Talvez eu possa visitá-la em breve.

Estou ajudando as meninas com a coreografia nova. Como eu havia previsto, nos tornamos
ótimas amigas.
Natasha acabou me contando sua triste história.

Ela estudava balé na Rússia. Sua mãe sempre a acompanhava, mas ficou doente, e o pai
começou a levá-la. Ela tinha apenas treze anos, então o pai começou a mudar com ela. Primeiro,
Natasha notou um olhar diferente sobre seu corpo. Depois, ele começou com os toques. A mãe ainda
estava lá deitada na cama, enferma. Até que um dia estava nevando muito. O pai mudou o percurso de
casa e foi por uma estrada completamente deserta. O homem parou o carro, dizendo que tinha que
esperar um pouco, pois a tempestade de neve estava muito forte. Ela não desconfiou de nada, até ele
a pegar pelos braços e a jogar no banco de trás, onde a violentou.

Seu próprio pai!

Ela disse que essa foi só a primeira vez. Ela nem podia recorrer à mãe, que morreu poucos
dias depois. Natasha ficou nas mãos daquele monstro que chamava de pai.
Um dia, a professora de balé, percebendo a mudança de comportamento dela, a chamou para
conversar em uma sala reservada. Natasha criou coragem e contou tudo. O pai dela foi preso, e Nat
foi morar com uma tia, irmã mais velha da sua mãe. Nunca mais soube nada do pai.

Há pouco mais de um ano, veio para Londres com essa tia. Luisa lhe deu um emprego de
dançarina para que as duas pudessem se manter. Natasha ainda é muito jovem, acabou de completar
dezenove anos. Fugiu para a Inglaterra, porque o pai foi posto em liberdade. Elas ficaram com muito
medo. Ela ainda tinha dezessete anos quando isso aconteceu e, desde então, elas vivem se
escondendo. O nome dela nem é Natasha Volkov, e sim Svetlana Plotnikov.
— Eu adorava meu nome. É uma tradição de família dar esse nome à primeira neta. Minha mãe
sentia muito orgulho disso, mas agora nem isso mais eu tenho! — ela me disse no dia em que se abriu
comigo. — Meu pai é um monstro, é obcecado por mim. Se não fosse por esse emprego, estaríamos
na rua agora. Tenho muito o que agradecer à Luisa. Ela é muito boa. Eu apenas danço, não tenho que
tirar a roupa ou me prostituir.

Ela tem razão, todas as garotas que estão aqui têm sua história e nenhuma é inglesa. Somos
todas imigrantes. Menos Luisa, que é uma autêntica londrina. Eu a conheci na escola de dança aos
quinze anos e nos tornamos amigas. Eu, ela e Will éramos inseparáveis, só depois Loren se juntou ao
grupo. Ela também estava conosco no dia do acidente, apenas porque derrubou um brinco não foi
atropelada também. Luisa sofreu muito, como todos nós, com a morte de Lauren, e agora com o
falecimento de Will.
— Você dança muito bem. Se aceitasse minha ajuda, eu te indicaria para a companhia de dança
onde eu trabalhei, mas você não quer ser reconhecida por usar seu nome verdadeiro.
— Obrigada, Amanda, mas não posso correr esse risco. Por que acha que danço usando uma
máscara? Não quero ser reconhecida. Ele pode até matar a tia Ekaterina. Não vou permitir. — Ela
me abraça. — Estou feliz aqui. Além de dançar, ainda recebo um bom salário e consigo guardar um
dinheirinho.
Sinto uma pontada na barriga.

— Ai!

A dor aumenta. Parece que algo está se rasgando dentro de mim. Curvo meu corpo para a
frente, e Natasha me ajuda a me sentar.
— Luisa! Meninas! — grita.

— O que foi? — Luisa desce as escadas correndo.

— Ela está com muita dor! — Natasha explica.

— Vejam! Amanda está sangrando! — Julia diz, apontando para o chão. Olho para baixo e
vejo que abaixo de mim está tudo sujo.
— Meu Deus! Eu vou perder meu bebê! — falo chorando, tanto de medo quanto de dor.

— Peça para o Fred pegar o carro, vamos agora mesmo para o hospital! — Luisa manda, e
Julia sai correndo.
— Está doendo muito!

Essas dores são insuportáveis. Algo está se desfazendo dentro de mim, tenho certeza.

— Calma, querida — Beth diz.

— Não quero perder meu filho!

Choro segurando minha barriga, como se esse meu gesto fosse mantê-lo seguro dentro de mim.

— Isso não vai acontecer — Luisa diz, tentando me acalmar.

Tenho outra contração, que me pega de surpresa, e grito. É muita dor. Fred entra. Ele é um cara
bem grande e lembra meu pai. Só agora me dou conta de queria meus pais ao meu lado neste
momento, e David também. Mas não tenho ninguém da minha família, somente minhas amigas.

Fred me leva em seus braços para o carro, e depois vamos para o hospital, onde sou levada
imediatamente para a sala de parto. As enfermeiras me preparam. Estou com tanto medo. Ainda falta
um mês para o nascimento do meu bebê. E se alguma coisa der errado?

Luisa entra usando roupas especiais.

— Achou que eu te deixaria passar por este momento sozinha? Quero ser a primeira a ver esse
príncipe nascer — fala, segurando minha mão.
— Obrigada. — Aperto a mão dela de volta.

— Não teremos tempo para uma cesariana, porque o bebê está coroando. Vamos de parto
natural — diz o médico. As contrações estão muito fortes e cada vez menos espaçadas. — Ok,
Amanda. Chegou a hora. Você não está ansiosa para conhecer seu filho? — pergunta, posicionando-
se à minha frente, enquanto a enfermeira me posiciona direito na maca. — Agora, quando a contração
vier, você vai empurrar até que eu diga que pare.

Ela vem forte, e eu faço o que o doutor pede. Quando acho que não vou mais conseguir, ele me
pede para parar.
— Estamos quase lá, já posso ver os cabelos dele. E são muitos! Pronta para mais uma?

Preparada não estou, mas meu filho depende de mim agora. Empurro novamente e, desta vez,
sinto quando desliza para fora do meu corpo. Em questão de segundos, ouço seu choro. Sinto uma
emoção tão grande que não consigo segurar as lágrimas.

Luisa, que ainda está ao meu lado, também chora.


O médico o coloca em meus braços e, neste momento, vejo que tudo valeu a pena. Valeu a pena
desistir do amor de David para viver esse amor maior e incondicional. É um sentimento tão grande
que não cabe dentro do meu peito, que transborda através das lágrimas que rolam por meu rosto.
— Oi, meu amor! Como você é lindo!

Pego seus dedinhos minúsculos e os beijo, sentindo seu cheirinho.

— Ele tem tanto cabelo — Luisa diz, passando a mão por sua cabecinha. — São como os seus.
Não sei como o pai dele é, mas os cabelos são como os seus.
— Sim, são escuros como os meus. O pai dele é loiro.

Olho para seu rostinho, tentando definir se ele se parece comigo ou com David. Quando ele
abre os olhos, meu coração para dentro do peito. São iguais aos olhos do pai. Eu pedi tanto por isso.
— Que olhos lindos — Luisa diz.

— Iguais aos do pai!

Já estou chorando novamente.

— Como vamos chamá-lo? Você disse que só saberia quando o visse pela primeira vez.

— Ele se chamará Marcos, que significa guerreiro. — Olho mais uma vez para meu anjinho e,
com lágrimas nos olhos, digo: — Seja bem-vindo, meu Marcos.
Um ano já se passou. Um ano longe de Amanda. Ela entrou em contato com a família, mas
comigo nada, nenhum e-mail, uma mensagem, um telefonema. Nada. Ela me excluiu completamente d
sua vida. E eu também tentei fazer o mesmo, o que foi impossível, pois todas as noites, eu viro de um
lado para outro pensando nela.
Finalmente meu pai conseguiu me convencer a trabalhar com ele e Jake na agência. Agora
investigo casos de perseguidores, de maridos que batem nas esposas, e ajudo na segurança de alguns
ricaços.

Odeio isso. Não devo ficar muito tempo trabalhando aqui. Só vou continuar mais um tempo,
porque meu pai me pediu.
Jake e Bela ainda estão daquele jeito, aos trancos e barrancos. Sei que meu irmão é
apaixonado por minha cunhada, mas sua insegurança está minando o relacionamento deles. Minha
mãe já conversou com ela, só que não adiantou. Agora Jacob está dormindo aqui no seu antigo
quarto, assim como eu estou no meu.
— Quem diria que a essa altura da nossa vida estaríamos de volta à casa dos nossos pais?

Jake se senta e me entrega uma garrafa de cerveja.

— A mãe sabe que você trouxe cerveja para a casa dela? — pergunto a ele, já que sabe que a
regra número um da mamãe. Nunca, em hipótese alguma, trazer bebidas alcoólicas para casa. Nosso
pai era alcoólatra. Tudo bem que isso foi quando ele tinha vinte e dois anos e perdeu a primeira
esposa assassinada, mas alcoolismo não tem cura e meu pai nunca mais colocou uma gota de álcool
na boca.

— Ela não está em casa. Sabe que quando eles saem para esses encontros, só vêm tarde da
noite.
— Acho melhor você tirar o lixo antes que ela chegue.

— Desencana! Bebe essa cerveja logo! — Ele toma um gole. — Cara, não vejo a hora de a
Bela voltar ao normal. Não sei o que aconteceu com ela. Agora briga por tudo, chora por tudo.
Reclama de tudo.
— Isso se chama casamento, irmão!

— Outro dia, estávamos assistindo a um filme no cinema, e ela cismou que eu estava olhando
para uma garota ao nosso lado. A menina não deveria ter nem quatorze anos! Quatorze anos, cara! —
Jake passa as mãos por seus cabelos. — Às vezes eu queria que ela pudesse ler meus pensamentos,
assim ela saberia o quanto a amo. Ela é tudo para mim. Eu a amo desde que tinha uns dez anos, e ela
já tinha dezessete. Eu queria matar aquele nerd babaca que Bela namorava, lembra dele?

— É claro. O babaca a traiu com a melhor amiga. Depois dele, ela não saiu com mais ninguém
até você chegar e implorar para ela sair com você.
— Eu só tenho olhos para ela. Já falei milhares de vezes que esse negócio de idade não faz
diferença para mim, mas Bela não me ouve.
A campainha toca, e Jacob vai atender.

— Bela? O quê…? — Ela o agarra na porta e o beija.

— Vamos para o seu quarto.

Sua esposa o segura pela camisa e o arrasta até o quarto. Eu é que não vou ficar aqui ouvindo
os barulhos que eles vão fazer. Pego as minhas chaves e vou dar uma volta de carro.
Chego na Lagoa da Conceição na hora do pôr do sol e me sento em um banco para apreciar a
vista. Inevitavelmente, lembranças do meu último dia com Amanda me vêm à mente. Foi o melhor dia
da minha vida, em que meus medos e complexos foram deixados para trás, em que a única coisa que
importava eram ela e eu.
Penso nos nossos corpos rolando na areia quando ela me instigou a cometer aquela loucura de
fazer amor na praia. Meu Deus, vou acabar enlouquecendo.
Duas horas depois, decido voltar para casa. Acho que aqueles dois já devem ter se entendido.

Abro a porta e dou de cara com eles se agarrando no sofá da sala.

— Ah, cara, vão para a casa de vocês! Não sou obrigado a ver isso!

Cubro meus olhos com as mãos.

— Pronto! Pode olhar! — Ouço Jake dizer. Tiro minhas mãos dos olhos e vejo Bela usando
uma camisa dele.
— Temos uma novidade! — minha cunhada fala, dando pulinhos. — Vamos ter um bebê! Não é
maravilhoso?
— Parabéns! Fico feliz por vocês. — Eu os abraço. — Agora se me dão licença, vou para o
meu quarto. — Saio dali rapidamente. — E não esquece de tirar o lixo! — Paro no corredor e grito
para Jake.
Volto para o meu mundo de solidão e dor que é meu quarto. Estou pensando seriamente em
alugar, ou até mesmo comprar, uma casa. Um cara com trinta e um anos morando com os pais não
pega bem. Sinto que estou atrapalhando os dois. Eles ficam tristes ao me verem assim, cabisbaixo.

Nas semanas seguintes, faço o que tanto planejei. Alugo uma casa ótima perto da praia. Todos
os dias pela manhã, corro na areia até a exaustão e depois vou para o meu trabalho chato e monótono
com meu pai e Jacob.

Tio Scott também trabalha na agência, mas agora está com uns casos internacionais. Até me
convidou para trabalhar com ele. Estou pensando seriamente em aceitar, pois me parece bem mais
interessante do que ficar por aqui.

Fiquei sabendo do que aconteceu com Nick e Manuela há alguns meses, quase um ano para ser
mais exato. Parece que meu amigo também não teve muita sorte no amor, assim como eu.
Meu coração está fechado para sempre. A única que conseguiu entrar nele foi Amanda, mas ela
o trancou e levou a chave.
— Filho, não aguento mais ver você assim, jogado pelos cantos! Você tem todas as ferramentas
para encontrar Amanda, por que não as usa? — meu pai pergunta depois de passarmos a tarde toda
em frente ao computador, tentando encontrar pistas de um caso.

— Pai, ela me pediu para não a procurar mais. Ela tem outro.

Levanto-me da minha cadeira e vou até a janela. O escritório do meu pai tem uma vista
maravilhosa. Lembro que, quando menino, eu vinha até aqui só para ficar olhando para o mar.
— As mulheres às vezes fazem coisas que realmente não querem fazer. Tem uma coisa que
nunca te contei. — Ele abre uma gaveta e pega uma fotografia. — Veja. — Ele me entrega uma foto
da minha mãe. Ela está bem diferente, mais sofisticada, usando maquiagem pesada e com os cabelos
mais claros.
— Por que me deu essa foto da mãe?

— Não é sua mãe — diz, e olho novamente a pessoa da foto.

— É, sim. Pai, eu conheço muito bem minha mãe para saber que… — Então, noto a diferença.
A mulher tem olhos azuis, enquanto os da minha mãe são castanhos. — Meu Deus! Quem é ela, pai?
— Essa é Rebeca, minha primeira esposa.
— Mas ela é igual à mãe! — exclamo, assombrado com tanta semelhança.

— Sim. E isso quase nos separou. Quando conheci sua mãe, pensei que estivesse ficando
louco. Ela estava deitada em uma cama de hospital. Meu coração parou por um segundo dentro do
meu peito. De repente, toda aquela dor que lutei tanto para esquecer estava ali escancarada na minha
frente. Foi muito difícil. Bruno, seu tio, me pediu um favor e hospedei sua mãe e você na minha casa.
Aqui mesmo neste apartamento.

— E depois?

— No início, eu evitava ficar por perto, mas sua mãe, com seu jeito meigo e doce, foi me
conquistando aos poucos. Quando dei por mim, já estava apaixonado por ela. Acabamos nos
envolvendo e nos casamos, só que nunca lhe contei sobre a semelhança com Rebeca. Ela descobriu
da pior maneira, por uma prima que era apaixonada por mim. Aquilo a magoou muito, e nos
separamos. Sua mãe achava que eu só estava com ela pela semelhança entre ela e Rebeca, mas não
era verdade. Eu amava sua mãe pelo que ela era. Diana sempre foi meiga, doce, carinhosa, amorosa
e tantas outras coisas. Sabe o que fiz?

— Não. O quê?

— Eu insisti com ela. Diana é o meu coração. Como viver sem um? Insisti até ela voltar para
mim e nunca mais escondi nada dela.
— O que quer que eu faça? Que eu vá atrás da Amanda? Que me humilhe?

— Filho, quando sua mãe me deixou, não me importei em me humilhar. Sabe por quê? No
amor, isso não existe. A única coisa que importa é estarmos juntos.
— Mas ela está com outro.

Somente a menção disso me deixa furioso. Pensar que outro cara a abraça, a beija e faz amor
com ela é insuportável para mim.
— Será? Será mesmo que Amanda tem outro? Você desistiu muito fácil do seu amor. Talvez
você nem tenha percebido que isso tenha sido conveniente e por isso não foi atrás dela. — Ele dá uns
tapinhas no meu ombro. — Pense nisso.

Chego em casa por volta das oito da noite. As palavras que meu pai disse estão ecoando na
minha mente. Será que ele está certo? Que me conformei cedo demais? Que desisti da Amanda fácil
demais? Não!

Ela me mandou aquela carta e disse que tinha um amor maior, incondicional, que eu nunca
poderia dar a ela o que queria.
Li tantas vezes aquela carta que até decorei o que ela dizia, palavra por palavra.

Não, meu pai está enganado. De que adiantaria ir atrás de Amanda, se ela mesma disse para
que eu não a procurasse? Meu pai está errado. Minha mãe o amava, por isso voltou para ele. Já
Amanda não me ama mais.

No dia seguinte, vou para o escritório, e Jake está aqui falando com meu pai.

— Pai, ela é uma amiga, tenho que ajudá-la! Isso é um favor pessoal. Vou ficar duas semanas
no máximo.
— O que foi? — pergunto, entrando e me sentando à minha mesa.

— Seu irmão está indo para Londres — meu pai diz.

— Londres? — pergunto curioso.

— Sim, uma amiga da Bela pediu um favor e vou para lá. É um caso muito grave. — Jacob se
senta na cadeira que fica em frente à minha mesa. — Você poderia vir comigo, assim se distrai um
pouco.

— Não sei… Sobre o que vai ser a investigação?

Quero algo desafiador. Nada desses casinhos que tenho resolvido por aqui.

— É uma garota russa. Ela está sendo perseguida e ameaçada pelo próprio pai, que está ligado
à máfia russa.
— A Bratva? — Levanto-me na hora da cadeira.

— Sabia que ia te interessar! Essa amiga da Bela tem uma casa de shows em Londres. Uma
das dançarinas é filha de um ex-chefão da Bratva. Ele foi preso, escute bem, por estuprar a própria
filha por um ano. A garota tinha apenas treze anos quando os abusos começaram e o denunciou a uma
professora, que chamou a polícia. E adivinha só? A mulher está morta! Ela foi assassinada há duas
semanas, agora a filha dele, que hoje tem dezenove anos, está apavorada.

— E o que vamos fazer?

— Tio Johnny já está em Londres, esperando por nós. Vamos em dois dias. Esse cara tem
informações que o governo americano quer. Ele pediu a nossa ajuda. Ele e o nosso primo Carl já
estão lá cuidando da garota e da tia dela. Ele precisa das suas habilidades como hacker e das minhas
como rastreador. Vamos encontrar o cara antes que ele chegue até a garota.
Meu irmão está muito empolgado com esse caso. Ele adora trabalhos assim. É o melhor
rastreador que conheço. Jake encontra pistas onde ninguém percebe.

— Tudo bem. Partimos para Londres em dois dias — concordo, pois isso me manterá
ocupado. E tudo o que eu preciso agora é ocupar minha mente.
Chegamos ao aeroporto e vamos direto para o hotel onde tio Johnny e nosso primo Carl estão
hospedados. Assim que nos instalamos, eles marcam uma reunião na suíte do tio Johnny.
— Ah, meus sobrinhos! — Ele nos abraça. — Me contem, como anda aquele turrão do meu
irmão?
— Ele está bem, tio. Onde está Carl? — Jake pergunta.

— Está cuidando da segurança da garota, mas não está gostando muito disso! — ele responde.

Observo-o, e é incrível como ele não tem nada a ver com nosso pai. Enquanto tio Johnny tem
cabelos escuros com alguns fios grisalhos, os olhos também escuros, nosso pai tem cabelos e olhos
claros.

— Por que, tio? A garota é difícil? — meu irmão pergunta.

— Não, é bonita!

Entendi na hora. Carl sempre foi um conquistador, mas leva o trabalho muito a sério. Ter uma
mulher bonita ao seu alcance, mas não poder tocá-la, deve ser muito difícil para ele.
— Mas vamos falar de trabalho. Sei que devem estar cansados da viagem, mas esse assunto é
urgente.
Nós nos sentamos, e nosso tio nos mostra um dossiê sobre o nosso investigado Dimitri
Plotnikov, ex-membro da máfia russa. O cara é um assassino sanguinário. Matou muitas pessoas;
homens, mulheres e até crianças.

— A ficha dele é extensa! O cara é mau — Jacob diz.

— Hoje vamos à casa de shows. Tenho que falar com a garota, ela se apresenta hoje lá. Temos
que falar com a dona também. Descansem, porque à noite vamos até lá.
Mais tarde, chegamos ao Red Velvet. É uma casa de shows sensuais, mas muito sofisticada.
Duas garotas dançam no palco. O lugar está lotado, homens em sua maioria, mas tem mulheres
também.

— Sentem aí, vou procurar por Luisa, a dona. Ela deve estar no escritório.
Tio Johnny sai. Jake e eu nos sentamos e ficamos observando tudo. O lugar é bem protegido.
Tem vários seguranças, e os caras são grandes. Garçonetes muito bonitas servem as mesas, e tudo é
muito limpo.
— Se Bela sabe que estamos aqui, assistindo a um show dessas garotas, ela te mata! — falo
para Jake.
— Nem fala isso, cara. Ela não pode nem sonhar que estou aqui. — O telefone dele toca. — E
por falar nela… — Aponta para o telefone e sai.
De repente, as luzes se apagam, e ouço uma voz nos alto-falantes.

— Infelizmente, esta noite, nossa bela dama de cabelos de sol, Natasha Volkov, não poderá se
apresentar.
Ouço muitas vaias.

— Mas ela nos mandou uma amiga. Ela veio direto do Brasil! Com vocês, Scar, a dama dos
cabelos de ébano.
Um holofote é aceso e, no centro do palco, há uma mulher. Ela usa botas enormes que passam
dos
seu seus joelhos, uma roupa provocante e sensual, uma cartola sobre a cabeça e uma máscara no
r os to.

A música começa a tocar, e ela faz movimentos sensuais. Eles são estranhamente familiares. O
modo como ela posiciona as mãos nos quadris e os mexe me lembra muito de Amanda.
Meu coração acelera. Estou hipnotizado por essa mulher misteriosa. Ela joga seu chapéu, e
uma vasta cabeleira negra cai em cascata por suas costas. Não consigo ver seu rosto, mas tenho a
impressão de conhecê-la.

Encontro um lugar mais perto do palco e me sento. Então, ela fica de frente, e nossos olhos se
encontram. Meu coração congela no meu peito. Não posso acreditar no que vejo.
— Amanda?
— Amanda! Amanda! — Ouço as meninas me chamando e corro para ver o que é. Natasha está
sentada em uma cadeira, com o pé apoiado em outra.
— O que houve? — pergunto preocupada.

— Ela torceu o pé! — Julia fala.

— Está doendo muito! — Natasha chora.

— Será que foi algo sério? — Beth pergunta.

— Alguém vá avisar a Luisa, por favor. E outra pegue gelo. Está inchado. Hoje não tem como
dançar.
— Mas a casa está lotada! Meu show é o principal! — reclama.

— O que aconteceu? — Carl entra e se ajoelha em frente à Natasha. Ele está cuidando da sua
segurança, já que a vida dela corre perigo. O próprio pai planeja matá-la.
— Eu torci o pé. Está doendo muito! — Natasha choraminga.

— Vamos agora para um hospital.

Ele a ergue nos braços e sai porta afora a carregando. Luisa chega logo depois e pergunta
sobre Natasha.
— Onde ela está?

— Carl a levou para o hospital — respondo.

— O que vamos fazer? A casa está cheia!

Luisa anda de um lado para outro, para e olha para mim dos pés à cabeça.

— Ah, não! Nem vem! Você ficou maluca? — digo, esquivando-me.


— Amiga! Por favor! É só por hoje! O que tem de mais?

— Olhe para mim, Luisa! Sou cheia de cicatrizes. Onde você enxerga beleza para uma dança
sensual? — falo a ela, mostrando minhas marcas.
— Escute, vou te dizer pela milésima vez. Você é linda! As marcas não tiraram sua beleza! E é
a melhor bailarina que conheço! É só uma dança! — implora.
— Amiga, meus seios estão cheios de leite! Como quer que eu dance? — Seguro-os para
enfatizar o que estou falando.
— Eles estão lindos! E com a roupa certa… Espere!

Ela vai até o armário e volta com uma roupa toda preta, de couro. Um short muito curto, um
top, um par de botas cano longo que passa dos meus joelhos e uma cartola.
— Não posso usar isso!

— Não só pode, como vai. Eu preciso de você hoje. Não me deixe na mão, por favor, amiga!
Eu imploro! Você quer que eu me ajoelhe?
Luisa começa a se abaixar.

— Ok, eu vou! Só não se ajoelhe! Me dê essas roupas!

Pego-as das suas mãos e começo a tirar as minhas.

— Como quer ser chamada?

— Hã?

— Vai querer se apresentar com seu nome? — pergunta enquanto termino de me vestir.

— Scar. Quero que me chame se Scar. E peça para colocar a música Ego da Beyoncé.

— Oportuno. Gostei! Você tem cinco minutos… — Ela sai e volta alguns minutos depois. —
Use isso. Ficará mais interessante.
É uma máscara. Termino de vestir as roupas e passo um batom vermelho. Confiro meus olhos,
que ainda estão bons, porque me maquiei antes de sair de casa. Ajeito os cabelos, enquanto ouço
Dante falando no microfone. Essa é a minha deixa.

Subo no palco, que está totalmente às escuras. Uma cadeira foi posicionada bem no centro. A
música Ego da Beyoncé começa a tocar, e um holofote é direcionado a mim.
Estou tão nervosa. Meu coração bate muito acelerado. Não vou conseguir.

Mas minha amiga precisa de mim… Então, começo a mexer meu corpo ao ritmo da música.
Para melhorar meu desempenho, imagino que estou dançando para David, como naquele dia na
fazenda. Imagino seu olhar faminto em mim. Abro meus olhos e o imagino sentado em uma cadeira lá
no fundo. Começo a dançar para ele.
Vejo-o se levantar e se sentar em um lugar mais perto do palco. Ele me encara com aqueles
olhos perfeitos. Faço um movimento de modo que fico próxima à borda do palco e o encaro, olhando
fundo em seus olhos. Ele fica em pé e, pelo movimento dos seus lábios, vejo que ele diz meu nome.

Minha imaginação caprichou hoje. Até parece que ele está realmente aqui. Continuo a dança,
então ele sai do seu lugar e começa a andar em direção ao palco. Fred o segura e diz algo para ele.
Espera… Como Fred está falando com minha imaginação?

Não!

David está realmente aqui.

Oh, meu Deus! Tenho que deixar o palco agora mesmo, mas a música ainda não acabou.
Continuo dançando, e David me olha intensamente. Em seu rosto, se forma uma carranca. Ele está
furioso. Agora começo a ficar nervosa. E a música não acaba logo!

David continua me lançando seu olhar fulminante. Meu coração vai saltar pela boca. Estou
suando frio, e minhas pernas começam a tremer.
Quando finalmente a música acaba e as luzes se apagam, saio correndo para o camarim e me
sento no primeiro lugar que encontro.
— O que David faz aqui? Como ele me achou?

Tiro a máscara e encaro o espelho. Vejo David refletido ali, encarando-me atônito. Viro-me
imediatamente e o olho nos olhos.
— David? — É a única coisa que consigo dizer, pois minha respiração está presa na garganta.
Meu coração está pesado.
— Amanda — ele diz. — Então foi aqui que você veio se esconder de mim?

— Não estou me escondendo de ninguém. Não viu hoje à noite? Todos podiam me ver
claramente — provoco.
— Não gostei nem um pouco de ver aqueles homens olhando para você. — David vai se
aproximando. — Dançando daquele jeito que dançou para mim…

— Aquilo é passado. Agora é isso o que faço.

Por que estou mentindo? Essa foi a única vez que dancei aqui! David me encara. Seu rosto está
muito próximo do meu, e sinto seu hálito quente na minha pele.
— Scar? Que original.

Sua boca está muito, muito perto.

— Sim. Muito.

Estamos tão próximos. Então, ele me beija, e é como nitroglicerina. É explosivo e avassalador.
Somos uma confusão de dentes, bocas, línguas e mãos. David me esmaga contra seu corpo, tirando
todo meu fôlego.

Como aguentei ficar tanto tempo longe dele? Sem sentir seus beijos, suas mãos enormes
passeando por meu corpo. Então, lembro do meu bebê em casa. O bebê que ele não quis.
Rapidamente, minha sanidade volta.

— Me solta! — Empurro-o. — Não podemos! — Afasto-me e vejo que David está com sua
boca toda suja do meu batom. Olho meu reflexo no espelho e estou uma bagunça, com os cabelos
desgrenhados e a maquiagem borrada. — Como entrou aqui? Fred não deixa homens entrarem no
camarim.
— Ele não conseguiu me impedir — David fala, olhando para o corredor. Vou até a porta, e
Fred está caído no chão.
— O que fez com ele?

Abaixo-me para ver se ainda respira.

— Digamos que ele terá uma dor de cabeça quando acordar. — Ele pega em meu braço e me
leva para dentro do camarim novamente. — Agora, exijo que me explique por que terminou tudo
comigo através de uma carta.

— Acho que fui bem clara. Tenho outra pessoa em minha vida.

David solta meu braço e passa as mãos por seus cabelos.

— Você o ama? — pergunta.

— Mais do que qualquer coisa no mundo. Ele é tudo para mim.


Vejo David ficar nervoso e seus olhos marejarem.

— Onde ele está? Como ele permite que você dance para outros homens?

— David, isso não é da sua conta. Minha vida não é mais da sua conta.

Ele ergue uma sobrancelha e me dá aquele sorriso torto que amo.

— Você tem razão.

— Amanda, telefone para vo… — Julia entra apressada. — O que está acontecendo aqui? Por
que Fred está caído no corredor? O que esse cara faz aqui no camarim? — Ela olha para mim e
depois para David. — Deixa para lá, não quero saber! É sobre Marcos.

Julia me entrega o celular, que eu havia deixado no bar com Tomas, o barman. Lá é mais
calmo e ele ouve quando toca.
— Alô?

— Dona Amanda, já passa das uma da manhã. A senhora disse que estaria em casa às onze.
Não posso ficar até tão tarde — reclama a babá do meu filho. E com toda razão. Eu já devia ter ido
embora, mas com essa confusão da Natasha tive que ficar.

— Espere, já estou indo. Chego em vinte minutos! Julia, chama um táxi para mim, por favor?
Vou tirar essa roupa. Preciso ir para casa — digo, abrindo o botão do top.
— Ei! Você tem que sair! — ela fala para David.

— Já estou de saída.

Ele me dá uma última olhada e sai. Finalmente me permito desabar. As lágrimas rolam por meu
r os to.
— É ele, não é? Esse cara é o pai do Marcos? — Julia pergunta.

— Sim…

— Amiga, a semelhança é incrível! Basta olhar para os dois para saber que são pai e filho.

— Eu sei! Acredite, eu sei!

Quando me despeço das meninas, vou de táxi até meu apartamento. Assim que abro a porta, a
babá sai.
— Olha, dona Amanda, procure outra babá! Meus pais vão me dar uma bronca!
— Me desculpe, Ashley, isso nunca aconteceu antes. Foi apenas um imprevisto — falo para
ela. Não posso perdê-la como babá, pois a garota é tão carinhosa e cuidadosa com meu filho.
Pago o combinado pela noite e mais um bônus por ter ficado até mais tarde.

— Vou conversar com meus pais. Se eles concordarem, continuo cuidando do Marcos — diz
após pegar o dinheiro.
Tive muita sorte de encontrar Ashley. Ela mora no andar abaixo do meu. É muito responsável
apesar de ter só dezessete anos. Não posso perdê-la de jeito nenhum.
Entro e tranco a porta. Meu apartamento é bem pequeno, só tem dois quartos, sala, cozinha e
um banheiro, mas é bem aconchegante. Sem falar que o prédio é familiar e seguro.
Lavo as mãos e vou até o quarto do meu filho. Ele dorme feito um anjinho. Aproveito para
tomar um banho após deixar a porta do banheiro aberta para ouvi-lo se chorar.
Meu banho é rápido. É assim desde que ele nasceu. Não tenho hora para comer, tomar banho
ou dormir. Tudo tem que ser feito quando ele permite. Marcos se tornou o centro da minha vida.
Minhas atividades giram em torno dele.

Saio do banheiro enrolada em uma toalha e o escuto choramingar. Olho no relógio e vejo que
são duas da madrugada. É a hora de ele mamar. Vou até lá e o seguro em meus braços.
— Shiii! A mamãe já chegou, meu amor.

Posiciono-o no meu colo, e ele suga meu seio. Está realmente com muita fome. Enquanto
Marcos mama, olho como sempre para ele, com um choque ao pensar em como se parece com David.
É como se fosse a miniatura dele.

Eu adoro estes momentos, quando estamos próximos e sinto seu cheirinho. Passo as mãos por
sua pele macia, e sei que ele se sente seguro. O ato de amamentar é mágico. Saber que tudo o que seu
filho precisa está em você. Isso nos aproxima, e ele pode me reconhecer.

O amor que sinto por ele é tão grande. Eu seria capaz de tudo por Marcos. Qualquer coisa
mesmo. Meu peito transborda por ele. Esse sentimento é sublime e nada é capaz de superar.
Quando ele nasceu, liguei para os meus pais, que vieram do Brasil imediatamente. Meu pai
nunca se conformou por eu ter vindo para cá. Ele quis a todo custo me levar de volta para o Brasil,
mas não aceitei. Tinha chegado a hora de andar com minhas próprias pernas.

Quando estava na companhia de dança, eu ficava meses sem vê-los, apenas nos falando por
telefone, então estou acostumada a viver sozinha. Mas depois do acidente, meu pai ficou muito
apegado a mim, sempre me querendo por perto. Ele ficou no Brasil, contrariado com minha decisão,
mas teve que a acatar, afinal eu já sou uma mulher de vinte e seis anos.
Quando Marcos nasceu, ele fez questão de vir com mamãe. Novamente insistiu que eu fosse
para casa com eles, mas expliquei que tinha um emprego, uma vida aqui, que gosto de trabalhar com
Luisa e as garotas. Implorei para que não contassem nada a David sobre meu bebê. Ele é só meu.

Depois de trocar sua fralda, Marcos dormiu. Eu coloco uma camisola e vou me deitar, mas
nem me deito na cama direito e ouço alguém bater na porta. São mais de três da manhã. Quem será?
Levanto-me, vou até a porta e olho através do olho mágico.

— David? Que merda — falo baixinho.

O que eu faço?

— Amanda, sei que está aí. Abra ou vou ficar batendo. Seus vizinhos não vão gostar.

Merda! Merda! Merda! Tenho que abrir.

Abro.

— O que faz aqui, David? — pergunto, bloqueando sua passagem.

— Quero conversar com você.

— Não temos mais nada a dizer, não insista. — Tento fechar a porta, mas David a segura e
entra. — Ei, você não pode entrar na minha casa sem minha permissão — falo baixinho.
— Por que está sussurrando? — pergunta e, bem na hora, Marcos começa a chorar. — Tem um
bebê aqui?
Ele segue o choro e encontra Marcos chorando no berço. David se senta na poltrona em estado
de choque, e seguro meu filho em meus braços, embalando-o para que volte a dormir.
David não diz nada, só fica ali parado olhando para mim. Começo a me assustar, pois ele não
faz movimento algum. Só fica sentado, parecendo uma estátua.
— David, você está bem? — pergunto.

— De quem é esse bebê? — questiona irritado.

— Fala baixo. Ele vai se assustar. — Deito Marcos com cuidado no berço depois que ele
dorme. — Vamos para a sala.
Ele me segue.

— Você ainda não me respondeu.

Encara-me com seu olhar penetrante.

— Ele é meu — digo.

— Qual é a idade dele?

— Ele tem três meses…

David se afasta, e vejo uma expressão de assombro em seu rosto.

— Esse menino é… meu filho? — Não respondo. Tenho medo da sua reação ao saber que
escondi minha gravidez, que ainda o fiz acreditar que tinha outro. Ele fica me encarando. — Ele é
meu filho? — David pergunta novamente.

— Sim — respondo em um fio de voz.

— Você não podia ter feito isso, Amanda! Por que fez isso?

— Fala baixo — repreendo. — E pelo que eu saiba, você contribuiu cinquenta por cento na
geração dele. — Aponto o dedo na cara de David.
— Não acredito que isso está acontecendo.

Ele anda de um lado para outro na sala, muito nervoso.

— Você o viu. Ele não é lindo? Não quer segurá-lo nos braços?

David olha para mim, mas não diz nada, só fica ali com aquela cara de raiva e desgosto.

— Você não podia ter feito isso! — diz mais uma vez.

— E o que eu deveria ter feito, David? Me livrado dele? Ele é um pedaço de mim! Sangue do
meu sangue! Eu o amo mais que tudo no mundo, mais que a mim mesma.
— Aquele menino tem sangue maldito nas suas veias! — grita, e acerto-o um tapa na cara.

— Eu odeio você! — exclamo. — Nem meu filho nem eu precisamos de você. Vá embora,
David!
Abro a porta, e ele sai sem olhar para trás, deixando-me aqui com o coração partido. Ele o
rejeitou, eu sabia! Foi por isso que não disse nada. David não aceita nosso filho. E agora, como vai
ser? Ele sabe, mas não o quer.

Vou até o berço e seguro meu bebê, apertando-o contra mim.

— Não se preocupe, filho. Você sempre terá a mim. Sempre.


Amanda fecha a porta e fico ali escorado nela, atordoado, sem saber o que fazer. Meu pior
pesadelo havia se concretizado. Tenho um filho. Mais um descendente daquele monstro. Sua linha
deveria acabar comigo, mas não! Agora, o sangue daquele maldito ainda deu mais um fruto.
Amanda não podia ter feito isso. Ela levou a gravidez adiante e ainda escondeu de mim,
porque sabia que eu jamais iria aceitar. Agora o menino está lá dentro, recebendo o amor dela. Amor
que deveria ser meu.

Dou um soco na parede. Ando até o final do corredor e depois volto. Fico parado, olhando
para a porta de madeira. Encosto minha testa nela, tentando colocar meus pensamentos em ordem.
Ouço Amanda chorando dentro do apartamento e isso me corta por dentro. Nunca pensei que um dia
eu seria a causa da dor dela.
Ela é minha luz, o meu coração. Saber que está sofrendo me quebra e me desmonta por
completo. Penso em bater novamente e pedir para entrar, mas o que eu diria? “Amanda, eu te amo,
mas não podemos ficar com o menino!”.

Ela jamais aceitaria isso. Vi como ela se tornou uma leoa para proteger o garoto de mim. Eu,
que sou o pai! Não posso evitar sentir isso. Ele tem o sangue daquele maníaco correndo em suas
veias. E se ele crescer e se tornar um monstro? E se o que aquele maldito tinha fosse genético? Não,
isso não podia estar acontecendo!
Foi por essa criança que Amanda me abandonou e me deixou sem nenhuma explicação. Então
esse era o amor incondicional do qual ela falou na carta. Não era outro homem, e sim esse menino.
Encostado na porta, continuo ouvindo-a chorar. Não quero que ela sofra, mas o que fazer?

— Amanda! — Bato na porta.

— Vá embora, David! — diz com a voz embargada.

— Abra. Temos que conversar.

— Vá embora! Se não for, vou chamar a polícia. Me deixe em paz com meu filho. Não procure
mais a gente! Vá embora!
Desisto. Ela não vai falar comigo mesmo. Volto para o hotel. Chegando lá, encontro Jake
dormindo profundamente. Ele até ronca. Tomo um banho e começo a mexer no meu computador.
Procuro pelos registros do nascimento do garoto. Depois de duas horas, consigo todas as
informações de que preciso. O menino nasceu no dia nove de fevereiro, dois dias antes do meu
aniversário. A última vez que Amanda e eu fizemos amor sem prevenção foi naquele dia na areia da
praia, no mês de junho do ano passado. Ele está prestes a completar quatro meses.
Marcos… Meu filho.

Não sei o que estou sentindo. O menino é muito bonito. Tem cabelos escuros como os de
Amanda. Não pude ver muito bem, mas tive a impressão de que seus olhos são iguais aos meus.
Inevitavelmente, imagens do garoto jogando futebol comigo vem à minha mente. Eu segurando-o nos
braços, jogando-o para cima, fazendo-o cócegas.
Não! Isso é loucura! Nunca esteve em meus planos ser pai. E não estará jamais.

Fecho o computador e deito-me na cama, mas como eu já estou acostumado, o sono não vem.
Imagens do pequeno garotinho nos braços de Amanda ficam passeando pela minha mente.

Entro em casa e deixo as chaves sobre a mesinha.

— Amor! Cheguei! Onde você está?

Nenhuma resposta.

Ando pela casa e procuro por Amanda na cozinha, depois na sala. Subo para o nosso quarto,
e nada dela. Então, vou para o quarto do nosso filho e abro a porta. A cena que está à m
frente é macabra.

Amanda está caída no chão com sua garganta cortada, e um menino de dez anos segura uma
faca ensanguentada. O cabo está todo sujo com o sangue de Amanda. Meu coração para de
no peito devido ao horror daquela cena. Olho para o garoto, e seus olhos me dizem que é
filho.
— Papai, eu matei a mamãe!

Acordo todo suado.

— Ei, cara! Teve um pesadelo? — Jake pergunta e, na mesma hora, as imagens grotescas vêm
à minha mente.
— E dos pesados! — respondo, indo até o banheiro.

— O que aconteceu ontem? Saí para falar com a Bela e, quando voltei, você não estava mais
lá. Disseram que você apagou um dos seguranças! — meu irmão pergunta do quarto.

— Encontrei Amanda — falo, secando as mãos na toalha. — Ela estava dançando ontem lá.

— Não! Ela toda certinha?

— Sim… Quando a vi lá dançando e todos aqueles caras babando por ela, tive vontade de
sacar minha arma e matar um por um! — exclamo, socando a parede.
— Calma, cara! O que você fez?

— Eu queria a tirar de cima daquele palco, mas o segurança me impediu. Tive que esperar a
porra daquela música acabar. Aquilo parecia interminável. Eu não estava mais aguentando a ver
fazendo aqueles movimentos sensuais, cara. Estava quase subindo lá, mas a música acabou, então fui
até o camarim. O idiota do segurança achou que podia me impedir.
Rimos.

— Esses caras… Sempre achando que os músculos são tudo. O que você fez? — Jake pergunta
curioso.
Ele sabe que, com o treinamento que tivemos, seria difícil alguém me impedir de entrar no
camarim. Desde muito novos, fomos inseridos em treinamentos de artes marciais e autodefesa. Com
dezesseis anos, já éramos faixa preta em sete estilos. Com dezoito, aprendemos a manusear várias
armas e, em pouco tempo, eu estava trabalhando para a CIA. Assim como meus tios e primos
americanos. Nosso pai foi um SEAL americano, e nosso avô trabalhou no FBI. Nosso tio Willian é
senador nos Estados Unidos. Toda a família trabalha nesse ramo de segurança nacional americana.
Jake foi convidado pelo tio Johnny para trabalhar com ele, mas gosta de morar no Brasil. Só
ajuda de vez em quando, assim como eu, nos casos realmente difíceis.
— Foi fácil dominá-lo. Eu o apaguei com um mata-leão.

— É, mas o cara era grande! Ele parecia o Dwayne Johnson! — fala ainda rindo.

— Eu deixei caído e entrei. Ela estava lá, tão linda. Não aguentei e fui logo a agarrando.

Passo as mãos pelos cabelos.

— Espera, mas ela não tem outro cara?

— Não, era mentira. — Sento-me na beirada da cama. — Ela tem um filho! — Jacob me olha
com os olhos arregalados e a boca aberta. — Um filho meu!
— Cara… — É a única coisa que ele diz.

— O menino tem quase quatro meses. Eu o vi ontem quando fui até o apartamento dela.

— E você não está feliz? — pergunta sério. Não é segredo para ninguém o fato de que eu
nunca quis ser pai. Eles sabem meus motivos. Não concordam, mas respeitam. — Um filho é o
melhor presente que um homem pode receber. É a nossa continuidade. Sem contar no amor
incondicional que eles nos despertam.
— Mas eu não quero isso! Nunca quis!

Levanto-me e começo a andar de um lado para outro.

— Amanda sabia disso, não é?

— Sim.

— Então está explicado! Ela deve ter ficado apavorada quando descobriu a gravidez.

— Ela não podia ter feito isso — digo revoltado.

— E o que queria que ela fizesse, David? Que, para ficar com você, Amanda abrisse mão do
filho? — Ele está muito alterado. — Você é mesmo a porra de um covarde imbecil! Como pode ser
tão insensível? Um filho é mais importante que qualquer coisa! Eles vêm antes de tudo em nossa
vida! São prioridade! Achou que o amor dela por você seria maior que o amor de mãe? — Aponta o
dedo na minha cara. — Como você é tolo! Não entende nada da vida. Nem parece que é o irmão mais
velho.
Jake me segura pelo colarinho. Ele é mais alto que eu, e mais forte também. Não estou a fim de
enfrentá-lo.
— Me solta! — digo, empurrando-o.

— Cara, como você pode ser tão imbecil? O que você disse quando viu o menino?

— Marcos. Marcos é o nome dele — respondo com lágrimas nos olhos ao me lembrar do que
eu disse para ela. — Eu fiquei irritado e gritei com ela. Falei que o menino tem sangue maldito…
Jake me acerta um soco e me joga no chão. Não reajo, pois sei que mereci.

— O que você é? Você não tem coração?

Tio Johnny entra e nos encontra rolando no chão. Carl e ele nos separam.
— O que está acontecendo aqui? — meu tio pergunta.

— Nada. Só meu irmão sendo um babaca! — Jake diz, e fico em silêncio. Limpo minha boca,
que está sangrando. — Quero o endereço. Vou falar com ela.
— Não! — exclamo, e Jacob parte para cima de mim novamente. Só não me acerta porque
Carl o segura.
— Parem com isso! Temos algo mais importante para tratar! — briga tio Johnny. — O russo
apareceu. A coisa é mais grave do que pensávamos.
— Por quê? — pergunto.

— Ele não é ex-Bratva. Ele é o segundo no comando. Hoje ele mandou um recado. Uma das
garotas da casa de shows está hospitalizada. Foi violentada e espancada!
Meu coração quase para.

— Quem? — pergunto apavorado.

E se fosse a Amanda? Meu Deus… Não.

— Elizabeth Palhares, uma garota mexicana. — Apesar de sentir um alívio, também fico com
pena da garota. — Ela foi atacada ontem quando chegava em casa — tio Johnny diz.
— Como sabem que foi coisa da Bratva? — Jake pergunta.

— Eles disseram a ela que isso era apenas um recado, que eles pegariam uma a uma das
garotas. A última seria a Natasha — Carl fala furioso.
Seus olhos verdes estão faiscantes. Carl é o único ruivo de toda nossa família. Ele é filho do
tio Johnny e da tia Alana, que antes se chamava Esmeralda. Ela foi resgatada pelos meus tios, Johnny
e Michel, e pelo meu pai, em uma missão para prender um grande traficante de droga chamado
Gabriel Farina, filho de Vitor Farina, um mafioso italiano. Eles também eram acusados de tráfico de
mulheres para que trabalhassem em suas casas de prostituição. Alana foi resgatada nessa missão. Ela
era escrava sexual de Gabriel, que era obcecado por ela. O homem a mantinha trancada em um
pequeno quarto. Tio Johnny a ajudou, e ela conseguiu mudar seu nome, até fez algumas cirurgias
plásticas, mas continuou com seus cabelos ruivos. Meu primo herdou isso dela.
— Amanda corre perigo? — pergunto.

— Todas correm. Por que essa mulher em especial te preocupa? — pergunta tio Johnny.

— Ela é a mãe do filho dele — Jacob responde por mim.


— Cara, não acredito! Aquela gata? — Carl fala abismado.

— A garota das cicatrizes? — meu tio questiona.

— Sim.

— Agora entendi por que ela me deu um fora!

— Carl, você deu em cima dela? — pergunto já partindo para cima dele, mas Jake me segura.

— Segura a onda! Carl dá em cima de qualquer coisa que tenha uma vagina e peitos!

— E como eu ia saber que aquela gostosa era tua mulher? Ela não usa aliança, e você nunca
nos contou nada!
— Cala a boca, Carl! — Jake diz. — Você quer morrer?

— Mas a mulher é a maior gostosa mesmo! — ele diz, e vou para cima dele com tudo. Desta
vez, Jake não me segura. Acerto um soco na sua boca.
— Jake! Segura seu irmão! — tio Johnny diz.

— Eu falei para ele não provocar. — Jake me segura, e tio Johnny segura Carl. — O cara é
louco pela mulher, e ele fica provocando.
— Carl, você não está de olho na garota russa? — meu tio pergunta.

— Me solta! Eu estava só brincando. Ei, David, você está muito estressado.

Jake me solta.

— Temos que nos concentrar no problema que realmente interessa: Dimitri Plotnikov. Ele
agora tem poder e é perigoso! O pai de vocês, Michel e os filhos dele estão vindo para cá. Vamos
alugar um apartamento e montar um Q.G. lá. Teremos uma equipe de apoio com cinco agentes. A
operação agora é oficial. David, se você ama essa mulher, te aconselho a ficar de olho, porque
Dimitri não está para brincadeira! — Ele segura em meu ombro. — Vamos, temos que encontrar um
apartamento. O resto do pessoal chega em dois dias. Carl, você terá que ficar vinte e quatro horas de
olho na Natasha. E David, conversa com a tua mulher. Isso é muito importante. Ela corre risco de
morte. Os homens de Dimitri estão de olho em cada uma das garotas.
— Viu só, David? Se você não quiser, eu fico com a segurança da Amanda e do meu sobrinho
— Jake diz.
— Não, eu cuido disso!
— Se você magoá-la novamente, vai se entender comigo! Ele é seu filho, é apenas um
bebezinho inocente. E está em perigo. Quem melhor que você que é o pai para defendê-lo?
Dá um tapa em meu ombro e depois sai com tio Johnny e Carl.

Agora eu tenho que arrumar um jeito de me aproximar novamente de Amanda e do menino. Ela
tem que entender que sua vida está em perigo.
Começo a arrumar minhas coisas. Se eu vou protegê-la, farei isso bem de perto. Para isso,
ficarei com ela no apartamento. Só não sei qual será sua reação ao me ver chegando de mudança para
lá.
Hoje, o dia vai ser corrido. Acabei de receber um telefonema com uma notícia horrível. Beth
foi atacada quando chegava em casa. Dois homens a estupraram em sua própria casa e a
espancaram, deixando um recado para Natasha. O pai dela foi o mandante e ameaçou todas nós.
Tenho que ir até o hospital. Quero ver como ela está. Mas Ashley não pode ser minha babá
pela manhã, só no horário da noite, então não posso ir.
Aproveito que Marcos está dormindo e preparo meu café da manhã. Olho no relógio e vejo que
ainda são oito horas. Geralmente, estou dormindo essa hora, mas depois que David foi embora
ontem, não consegui pregar os olhos. Fiquei andando pela casa feito um zumbi depois de secar todas
as lágrimas que meu corpo foi capaz de produzir.
Como ele foi capaz de falar aquilo para o meu anjinho tão frágil e inocente? Eu nunca vou
perdoá-lo por isso. Não quero vê-lo nunca mais! Ele foi muito cruel e insensível, de uma maneira
que jamais imaginei que seria. Como pôde? Se eu o vir outra vez, eu o expulsarei para sempre da
minha vida.
Despejo o café em uma xícara e me sento no sofá, assistindo ao noticiário da manhã. Ouço
baterem na porta. Deve ser a Luisa, porque ela ficou de passar aqui. Abro a porta sem nem mesmo
ver quem é e dou de cara com David, segurando duas malas, parado. Ele vai entrando e deixa a
bagagem no chão.
— David? O que significa isso? — digo, apontando para suas malas.

— Vou ficar aqui com você. Como abriu a porta sem ver quem era? Não soube o que aconteceu
com sua amiga? — diz.
— E por acaso você me perguntou se pode ficar aqui comigo? — indago com as mãos na
cintura.
— Não me ouviu? Em relação à sua pergunta, não preciso. Tenho que ficar aqui justamente
pelo que aconteceu com sua amiga — fala, causando-me arrepios. — O cara que mandou fazer aquilo
está ameaçando todas vocês, portanto, de agora em diante, tenho que ficar colado em você vinte e
quatro horas por dia. A melhor maneira de fazer isso é me mudando para cá.
— Você só pode estar ficando maluco se acha que vou ficar com você neste apartamento
minúsculo. Não quero você aqui, David. Por que não mandam o Jake? — pergunto, aproximando-me
e apontando o dedo para ele. — O que te leva a crer que vou aceitar isso?
— O simples fato de que você ama aquele garoto que está lá dentro.

David aponta para o quarto sem tirar os olhos de mim.

— Não entendi. — O pavor percorre minhas veias. — O que tem o meu filho?

— Amanda, de todas as garotas da Red Velvet, você é a única que tem um filho. Quem você
acha que está mais vulnerável? — pergunta, e sinto uma pontinha de preocupação com nosso filho na
voz de David.

— E não tem outra pessoa para ficar aqui?

— Até tem, mas não quero outro homem aqui perto de você — responde e segura em meu
braço, puxando-me para si, colando nossos corpos um no outro. Ele me encara e começa a descer sua
cabeça na minha direção. Sei que vai me beijar, mas viro o meu rosto. Não vou permitir que isso
aconteça.
— Me solta, David! — Ele afrouxa seu aperto, e me desvencilho dos seus braços, afastando-
me. — Só vou aceitar você aqui por causa do meu filho — digo sem olhar para ele. — Você vai
dormir no sofá. Sorte sua que é muito confortável. Não me toque nunca mais!

Vou para o quarto de Marcos, pois está na hora de ele mamar. Ele já está acordando, pontual
como um relógio.
— Shiii! Calma, meu amor. Eu sei o que você quer.

Seguro-o em meus braços e me sento na poltrona que sempre uso para amamentá-lo. Assim que
percebe que estou lhe oferecendo meu seio, ele começa a sugar. Como sempre faço, canto uma
canção de ninar.

— Você é assim, um sonho pra mim…

Enquanto canto, passo as mãos pela sua cabecinha cheia de cabelos. Ele é tão lindo. E como
diz a canção, é tudo para mim. Por ele, tomei uma decisão. Farei de tudo para que David o aceite. Já
que ele tem que ficar aqui conosco, mostrarei todos os dias o que ele está perdendo.

Uma vez, estávamos conversando, e David me fez prometer que nunca desistiria dele. Chegou
a hora de cumprir a promessa.
Canto a música com todo meu coração, e sei que ele ouve lá da sala.
Eu tenho que trocar a fralda de Marcos. Ele está todo molhado. Depois que o faço arrotar, levo
toda a parafernália lá para a sala. Deito-o no sofá e começo a trocá-lo. David está trabalhando em
seu computador, todo concentrado.
Falo com meu bebê o tempo todo. De vez em quando, pego David olhando para ele
furtivamente por cima do computador. Deixo meu filho na cadeirinha e vou arrumar seu quartinho,
que está uma bagunça. Marcos fica na sala com o pai. Assim que termino, ando bem devagar pelo
corredor e flagro David olhando fixamente para nosso menino, que brinca com seus pezinhos.
Encostada na parede, observo a cena. David se aproxima e, quando vai tocá-lo, o telefone dele
toca. O gesto acaba assustando Marcos, que começa a chorar. David atende o celular, e corro para
pegar meu filho nos braços. Embalo-o até que ele durma e o coloco no berço. Quando volto para a
sala, David ainda fala no telefone.
Já são quase onze da manhã, então começo a preparar o almoço. David fica ali no sofá
trabalhando o tempo todo.
— O almoço está pronto. Vem. — Ele me olha e levanta uma sobrancelha. Merda, eu amo
quando ele faz isso. — Vem logo, vai esfriar.
David vem até a bancada.

— Não vai lavar as mãos? — pergunto, e ele vem até a pia. Minha cozinha é muito pequena e
apertada, então acabamos nos esbarrando.
— Desculpa — dizemos juntos.

David seca as mãos no pano de prato e se senta ao meu lado na bancada.

— É macarrão. É bem simples. Tenho que ir ao mercado ainda hoje.

— Está ótimo para mim. Não sabia que você cozinhava.

— Tem muitas coisas que não sabe sobre mim.

Começo a comer.

— Por que está comendo tão rápido? — questiona.

— Tenho que aproveitar que noss… meu filho está dormindo. Daqui a pouco, ele acorda para
mamar — digo e continuo a comer. — Eu preciso ir ao mercado. Já que a Red não abre hoje, vou
aproveitar. Quero visitar Beth no hospital.

— Nem pensar. Não pode ir ao hospital. Hoje não, amanhã talvez. E quanto ao supermercado,
eu levo você.

— David, quero saber como Beth está. O que aconteceu com ela foi horrível! — Tento
argumentar, mas pelo jeito que ele me olha, já vejo que perdi essa batalha. — Ok, amanhã eu vou. —
Limpo minha boca com o guardanapo e, quando vou dar outra garfada, Marcos começa a chorar. —
Pontual como sempre!
Eu me levanto rapidamente.

— Você não acabou de comer.

— Agora ele vai comer. Depois eu termino.

Vou rápido até o quarto e pego meu menino no berço. Tenho uma ideia. Vou amamentá-lo lá na
sala, assim David vai nos ver. Que homem não se comoveria com essa cena?
Sento-me no sofá, e David continua comendo. Marcos está mamando, faminto. Enquanto mama,
começo a cantar uma canção para ele. David observa a cena e parece nem perceber que segura seu
garfo no ar. Eu sei que vou conseguir. Aos poucos, vou amolecer seu coração. Ele vai se apaixonar
por nosso filho.
Depois que Marcos se alimenta, vou para o quarto para trocá-lo.

— David! — chamo do quarto. Ele vem correndo e segura uma arma, apontando por todos os
lados. — Guarde isso, pelo amor de Deus!
— Você gritou! Achei que estivessem em perigo!

— E veio nos proteger?

— Sim, é para isso que estou aqui. — Ele guarda a arma no cós da calça. — Por que me
chamou?
— Tem que instalar a cadeirinha no seu carro. Ela está ali.

Aponto para a cadeirinha. David a pega e vai até o carro. Pego minha bolsa e seguro meu
amorzinho nos braços, fechando a porta do apartamento. Desço e encontro David todo atrapalhado
tentando fixar a cadeirinha no banco de trás do seu SUV.

— Algum problema aí? — pergunto, achando graça do seu embaraço.

— Isso precisa de um técnico da NASA para ser fixado — responde, e não consigo evitar dar
uma gargalhada.
— Tome, segura o Marcos.

Entrego meu filho rapidamente, sem dar tempo de David negar. Ele o segura desajeitadamente,
ainda surpreso com minha atitude. Demoro mais do que deveria para fixar a cadeirinha e, de vez em
quando, dou uma espiada só para ver a reação dele ao segurar o filho.

David nem percebe que estou vendo. Ele olha fixamente para Marcos, que agita suas perninhas
e braços. De repente, meu bebê encosta sua mão no rosto do pai, que fica estático, sem reação,
enquanto nosso filho balbucia.

Não dá mais para enrolar, então termino de fixar a cadeirinha e pego Marcos.

— Obrigada.

Ele não diz nada, mas sei que sentiu algo diferente. Só que não posso exagerar, porque tudo
tem que ser aos poucos.
No mercado, ajeito meu pequeno na cadeirinha do carrinho de compras. David está atento a
qualquer movimento estranho. Sei que ele vai nos proteger, por isso fico tranquila fazendo minhas
compras. Já que ele vai ficar lá em casa, compro coisas que ele gosta, além de muita carne, porque
David come bastante proteína. Pego as fraldas de Marcos e alguns itens de higiene pessoal.
— Precisa de algo? — pergunto a ele.

— Não, estou bem.

Um homem gordo e com cara de poucos amigos passa pela gente e esbarra no carrinho onde
Marcos está. Na mesma hora, David vai até ele e o segura pelo colarinho.
— Ei, cara, não viu o menino? — pergunta furioso.

— David, calma, foi sem querer! Solta! Estão olhando para gente! — digo, e ele olha ao redor,
soltando o homem em seguida.
— Desculpa, cara!

O homem sai rapidamente.

— O que deu em você? Essas coisas acontecem! — falo para ele. David está olhando para
Marcos, que está chorando.
— Será que ele se machucou?

Emociono-me quando percebo preocupação em sua voz, mas me seguro para não chorar.
— Ele só está assustado.

Seguro-o nos braços e o embalo para que se acalme.

— Vamos pagar logo essas compras e levar o menino para casa.

Ele começa a empurrar o carrinho.

— Vamos.

Meu plano para que David perceba que pode ser feliz com uma família está só no início. Vou
aproveitar esses dias que a Red Velvet vai ficar fechada e usar todas as minhas armas.
Marcos está dormindo, e David foi tomar um banho. Como meu banheiro está com a
tranca emperrada e a porta não fecha direito, vou me aproveitar. Tiro minhas roupas ali mesmo no
corredor e entro. David abre a cortina e, quando percebe que sou eu, vejo sua expressão relaxar.

— Tenho que aproveitar que Marcos está dormindo. Preciso de um banho também, você se
importa? — Ele me dá aquele sorriso torto e abre toda a cortina. — David, é só um banho, não me
venha com ideias! — aviso a ele.

— Tudo bem, não vou fazer nada que você não queira — diz, olhando para mim dos pés à
cabeça. Enquanto ele percorre meu corpo com os olhos, sinto um calor em meu ventre de repente.
Meu Deus… Ele é muito gostoso! Mas tenho que resistir se quiser que meu plano dê certo. Já
vejo toda a sua animação bem aparente, e ele nem faz questão de esconder a sua ereção.
Entro sob o jato de água e começo a lavar meus cabelos. David agarra minha cintura e cola
meu corpo ao dele. Sinto o quanto ele me quer, mas não posso ceder. Ele começa a beijar meu
pescoço e subir suas mãos enormes para meus seios, acariciando-os.

Droga! Assim fica difícil! Ele me vira bruscamente e me prende contra a parede fria, beijando-
me em seguida. Vou me aproveitar só um pouquinho. Correspondo ao seu beijo, faminta. Por tanto
tempo desejei isso e agora ele está bem aqui, enlouquecendo-me novamente com suas carícias.

David me levanta segurando na parte de trás das minhas coxas, e rodeio sua cintura com
minhas pernas. Sinto seu pau já na minha entrada. É tão bom.
Tenho que parar com isso. Ainda não posso me entregar. Mas quem disse que consigo? David
sempre me teve atada a ele e sabe como me deixar louquinha de desejo.
Ai! Eu não vou conseguir me segurar mais! Seus beijos ardentes estão me deixando louca. São
tão arrebatadores e invasivos que sinto meus lábios inchados, devido à voracidade com que ele me
beija.
— Não sabe o quanto senti sua falta — diz no meu ouvido e continua a beijar meu pescoço.

Acho que vai ficar uma marca aqui. Ele segura o pau bem na minha entrada. É agora! Tenho
que juntar todas as minhas forças para isso, mas o empurro.
— David, pare! Pare!

Ele me olha confuso.

— O quê? Por quê?

— Não posso ficar com você. — Ele afrouxa seu aperto em meu corpo e, na mesma hora, meu
corpo reclama. — Eu agora só vivo para o meu filho. Marcos é tudo para mim. O próximo homem
com quem eu me envolver será o pai dele e vai construir uma família comigo. Já deixou bem claro
que você não quer isso.
Ele me solta. Pego a toalha e enrolo no meu corpo, saindo do banheiro. Antes de sair, dou uma
espiadinha nele. David passa as mãos pelos cabelos e dá um soco na parede.
Ótimo! Consegui. Pena que para isso eu pude aproveitar tão pouquinho daquele corpo
maravilhoso.
Depois que Amanda sai do banheiro, deixando-me completamente frustrado, é que a ficha cai.
Ela disse que quer outro homem para ser pai do menino? Para construir uma família?
Saio imediatamente do banheiro, enrolado em uma toalha. Amanda ainda está no corredor.
Seguro-a pela cintura e colo meu corpo ao dela.
— Nenhum outro homem vai tocar em você!

Pressiono-a contra a parede, e Amanda me empurra.

— David! Então você acha que devo ficar sozinha pelo resto da vida? Não mereço ter uma
família? Meu filho não merece ter um pai? — Ela me encara. — Acho que até já encontrei o
candidato! Ele é bonito, gentil e adora meu filho! — provoca. — Sabe, ele deve ser muito bom de
cama também, com aquele corpo…
Aperto meus braços em volta dela, e a simples menção dela nos braços de outro homem me
cega. Ergo-a nos ombros e a levo para o seu quarto, onde a jogo sobre a cama. Amanda me olha com
a boca aberta. Arranco a toalha do seu corpo e começo a beijá-la feito um louco.

— Amanda, você é minha, entendeu?

Ela apenas confirma com a cabeça. Não deixo que diga nada, pois a arrebato em um beijo
faminto. Desço por seu pescoço, desfrutando dos seus seios maravilhosos, que agora estão maiores e
muito mais gostosos. Mas não fico muito tempo ali, porque agora eles são a praça de alimentação do
menino.
Continuo com minha trilha de beijos por seu estômago. Passo por seu ventre e percebo marcas
que ela não tinha antes. Chego à sua boceta e a ouço arfar em antecipação ao que vou fazer. Beijo-a
bem ali, e Amanda se contorce conforme a chupo com vontade como se ela fosse uma fruta doce e
madura.
Ouço-a gemer um pouco mais alto, então ela pega um travesseiro e coloca no rosto para abafar
os sons. Continuo com minhas carícias até que estremeça. Vejo-a gozar, derramando o líquido do seu
prazer na minha boca.
Ela está ofegante. Posiciono-me sobre ela e retiro o travesseiro do seu rosto corado.

— Depois de hoje, você nunca mais vai pensar em ficar com outro homem.

Beijo-a e a penetro de uma vez só. Amanda me agarra e me prende sobre ela. Seu calor me
envolve, sua maciez me deixa louco. Não sei quanto tempo mais eu vou aguentar ficar sentindo seu
corpo sob o meu e ouvir seus gemidos de prazer.

— Você. É. Minha — falo pausadamente enquanto a estoco com rudeza e força.

Acelero meus movimentos, deixando-os mais potentes. Somente quando ela chega ao clímax
mais uma vez que me permito chegar ao orgasmo também. E é como em todas outras vezes, explosivo
e ardente.

Amanda está arfante sob meu corpo. Deito-me ao seu lado para que meu peso não a machuque,
mas a puxo em meus braços para que ela fique sobre mim.
— Amanda, tudo bem? — pergunto ao perceber que ela está chorando.

— É que fico me perguntando por que não posso ter tudo. Por que não posso ter você e meu
filho? Eu te amo tanto, David. Me sinto tão bem em seus braços, mas aí me lembro que você não
aceita nosso filho e isso me destrói, então te odeio! Te odeio por não o amar! — Ela se levanta e se
enrola novamente na toalha. — Isso não vai mais acontecer entre a gente! Não posso! Não quero mais
ficar com você! Não quando o amor que sinto me machuca tanto!

Amanda sai do quarto e me deito na cama, pensando em como as coisas podem mudar de uma
hora para outra. Um minuto atrás estávamos nos amando ardentemente, e agora impera esse clima
ruim e pesado.

Levanto-me, enrolo a toalha na minha cintura e saio do quarto, passando pelo quarto do
menino. A porta está fechada, mas consigo ouvir os soluços de Amanda ali. Isso me quebra. Encosto
a testa na porta e fico ali com o coração aos pedaços. A cada soluço dela é um pedaço do meu
coração que se parte, pois a amo. Amo mais que tudo no mundo. Começo a ver o que estou perdendo
por minha teimosia.

Visto minhas roupas e volto para a sala. Abro meu computador e vejo que tem alguns e-mails
que tenho que responder. Preciso rastrear algumas pistas sobre Dimitri Plotnikov.
Tempos depois, Amanda aparece na sala segurando o menino nos braços, que está chorando
muito. Observo a cena. É um quadro tão bonito. A minha mulher segurando meu filho nos braços. De
repente, sinto um calor preenchendo meu peito ao vê-la brincar com o bebê. Ela é tão amorosa e
atenciosa. O menino é saudável e bem-cuidado.
Amanda o deixa na cadeirinha, novamente perto de onde estou trabalhando, e vai para a
cozinha, de onde fica de olho. Ele brinca com seus pezinhos e balbucia sem parar. Só me dou conta
tarde demais que, enquanto olho para ele, estou sorrindo. Quero tocá-lo, mas não tenho coragem.
Ele é tão bonito. Seus olhos são iguais aos meus, e suas bochechas gordinhas são rosadas.
Levo minha mão lentamente até seus cabelos e os toco delicadamente. São tão macios. O
garoto me olha com seus olhinhos brilhantes, e meu peito incha. Não sei o que estou sentindo. Será
amor? Não, isso não pode ser! Eu não o quis, não o planejei. Como posso amá-lo?

Olho para Amanda, que está escorada na bancada da cozinha com lágrimas rolando por seu
rosto. Afasto-me.
— Não se afaste! — ela diz. — Olhe para ele! Olhe como é bonito e inocente! Veja, David, ele
é fruto do nosso amor! É o nosso filho, não sente nada? — Amanda agora está ao meu lado. Ela pega
o menino nos braços e beija sua bochecha. — Olhe, David, olhe para ele!

Afasto-me e vou até a janela.

— Esse menino tem o sangue dele! Não posso aceitá-lo! Me desculpe, Amanda — digo sem
encará-la.
— David, ele tem o seu sangue! O seu! Aquele homem nada tem a ver com nosso filho. E se
quando você nasceu sua mãe pensasse assim? David, Diana amou você desde o primeiro instante.
Sabe por quê? Porque você era parte dela também! E era inocente dos crimes que aquele monstro
cometeu. Ou você matou aquelas mulheres? E Alessandro? Ele te amou como se fosse seu próprio
sangue. Ele não se importou com sua origem. E você nem era filho biológico dele. Marcos é seu
filho. Como pode não sentir nada por ele?
Ela ainda está chorando com nosso filho nos braços. Não tenho tempo de responder, pois
alguém bate na porta.
— Fique aqui, vou ver quem é — digo e vou até a porta com a arma em punho. Olho através do
olho mágico e vejo meu irmão parado. — É Jake — digo a ela, que limpa o rosto. Abro a porta, e ele
entra.

— Vim conhecer meu sobrinho! Amanda, como está?

Ele vai até ela e a abraça. Meu irmão sempre foi muito simpático, alegre e sorridente.

— Estou bem, Jake.

Mas é perceptível que ela esteve chorando. Meu irmão me dá seu olhar de reprovação, e sei
que isso me renderá um sermão mais tarde.
— Me dê esse garotão! Como ele é bonito! — fala, segurando Marcos. — É claro que puxou
ao titio!

Ele se senta no sofá e fica brincando com Marcos. Parece tão natural.

— Você fica para jantar? — Amanda pergunta.

— O quê? Você sabe cozinhar?

— Dá para o gasto! — responde.

— Meu irmão, você é um cara de sorte. Tem esse filho lindo, uma mulher maravilhosa que
ainda sabe cozinhar! Você está no paraíso! — Jake fala com seu jeito naturalmente simpático. Ele se
parece muito com a mamãe, que consegue conquistar as pessoas facilmente.

Jake e eu aproveitamos para pôr o trabalho em dia enquanto Amanda cozinha. O cheiro está
maravilhoso. Nem tinha percebido que estava com fome até sentir o aroma da comida.
— Cara, o que você fez para ela? Quando cheguei aqui, vi que Amanda esteve chorando —
Jake sussurra para que ela não nos ouça.
— Não se meta na minha vida, Jake. Deixa que eu resolvo meus problemas.

— Eu até deixaria se você os resolvesse e não complicasse tudo ainda mais. Não está vendo o
quanto você é abençoado? Olhe para aquela mulher cozinhando. Está estampado no seu rosto o
quanto ela te ama. Os olhos dela brilham ao olhar para você. Me diz quantos caras têm essa mesma
sorte?
As palavras de Jake são como uma espada, cortando meu coração ao meio.

— Já chega! — falo mais alto que deveria, e Marcos começa a chorar. — Viu o que você fez?
— digo a ele, agora em um tom mais baixo.
— Isso se resolve fácil, é só pegar o menino e o ninar. — Jake se recosta no sofá com os
braços atrás da cabeça. Amanda apenas observa. — Coragem, irmão! É apenas um bebezinho. Tudo
o que precisa fazer é o pegar nos braços — desafia.

Olho para o menino e me aproximo da cadeirinha. Fico lá olhando para ele e depois olho para
Jake, que me encoraja. Pego o menino desajeitadamente, mas ele continua chorando. Não sei o que
fazer! Aproximo-o do meu peito e começo a embalar seu corpinho, então Marcos para de chorar.

— Viu, meu irmão? É mais fácil do que pensa! — Jake fala sorrindo. Olho para Amanda, que
também sorri e chora ao mesmo tempo.
Olho para meu filho, que me encara com seus olhinhos brilhantes.
— Meu filho… — digo em voz baixa.

— Sim, meu irmão. Seu filho. O maior tesouro que um homem pode ter.

Seguro sua mão, e aqueles dedinhos minúsculos e gorduchos agarram meu dedo. Ele é forte! E
é meu filho! Foi preciso que meu irmão e Amanda me dessem um choque de realidade para que eu
visse que meu bebê não tem culpa de nada que aconteceu antes de ele nascer. Marcos é um pedaço
meu e de Amanda. Nossos genes misturados. Ele tem meus olhos, os cabelos dela, os dedos são
iguais aos meus. Em seu braço direito, há a mesma marca de nascença, herança da minha mãe, que
herdou da minha avó. O que significa que ele tem o sangue dela, a pessoa mais forte, nobre e
corajosa que já conheci.

— Veja, Jake! Ele tem a marca!

Meu irmão se levanta e observa.

— Sim! Ao menos a dele é no braço! A do Dudu saiu na nádega direita!

— Do que vocês estão falando? — Amanda pergunta se aproximando.

— Marcos tem a marca de nascença da nossa família! — digo orgulhoso.

— Então é isso! — ela diz.

— É um traço genético, assim como a cor dos olhos. Minha mãe disse que a marca vem em
todos os que têm o sangue dela e da vovó, mas a cor dos olhos só os meninos herdam. O irmão dela,
eu, Jake e Dudu temos olhos nesta cor, assim como Marcos, mas as meninas não.

— Que interessante — ela diz. — Mas agora que ele se acalmou, devemos o deixar novamente
na cadeirinha ou Marcos vai ficar manhoso.
— Quero o segurar um pouco mais — falo.

— Depois, agora vamos jantar!

Amanda o pega dos meus braços.

— Vamos conversar depois — digo a ela, segurando em seu queixo. Seus olhos brilham em
expectativa.
Ela deixa nosso filho na cadeirinha e vai arrumar a mesa. Jake e eu a ajudamos.

— Fiz um cozido de carne! Espero que gostem! — diz, deixando uma travessa na mesa.
— O cheiro está ótimo! — Jake diz.

Comemos, e Jake conta a ela sobre a gravidez de Bela. Também fala que nosso pai está
chegando em dois dias com nosso tio Michel e nossos primos, Andrew e Thomas.
— Provavelmente virão todos para conhecer o mais novo Baker! — ele diz. — E já
começarão a fazer planos para o seu futuro como agente.
Após o jantar, Jake ficou mais um pouco. Tínhamos ainda assuntos pendentes sobre a
investigação. Amanda foi dar banho em nosso filho e amamentá-lo.
Jacob me falou que a garota da Red, a que foi atacada, está melhor, na medida do possível.
Carl está cuidando de Natasha. A casa só abrirá novamente depois que os agentes chegarem. Eu farei
o possível para que Amanda não volte para lá, mas já prevejo uma batalha pela frente.

Jake foi embora. Novamente estamos só eu, Amanda e nosso filho no apartamento. Chegou a
hora de pedir perdão.
Ela vem até a sala, e fecho o computador.

— Vem cá — chamo-a, e Amanda vem relutante. — Ele dormiu?

— Sim. Mamou e dormiu.

— Quero conversar com você.

Ela se levanta.

— Se vai começar outra vez…

— Me ouça, meu amor. — Amanda fica de costas para mim, e eu a abraço. — O que tenho
para te dizer é muito importante.
— Só não me machuque mais, David. — Vira para mim e me olha nos olhos. — Meu coração
não suporta mais tanta dor.
Ela chora, e seco suas lágrimas com a ponta dos dedos.

— Me perdoe. Sei que o que fiz foi muito grave e horrível, mas realmente estou arrependido.
Só quando você me disse que ele era um pedaço seu e meu, depois que vi a marca de nascença em
seu braço, a marca da minha mãe, tão amorosa, bondosa, gentil e forte, foi que percebi que ele tem o
meu sangue e o dela. Me perdoe por todo esse tempo que te deixei sozinha, por toda a dor que te
causei. Eu te amo! Você sempre foi a luz que ilumina meu caminho. Obrigado por não desistir de
mim.
— David, você é o meu amor. É o único homem que tocou em mim. Nunca vou amar alguém
como te amo.
Nós nos beijamos. Nesse beijo, selamos o início de uma vida nova. Agora eu só tenho que
prender esse cara que ameaça minha mulher e filho. Aí tudo ficará bem.
David me pedindo perdão me desarmou completamente. Neste fim de tarde, nos amamos com
tanta paixão e entrega. Eu soube que, para mim, só haveria ele. David será o único para sempre.
Ele foi tão intenso e apaixonado. Eu sentia tanta falta de ter seu corpo pesado sobre o meu, da
sua boca ávida pela minha percorrendo meu corpo de forma a me deixar arfante com tudo o que
provocava em mim.

Tentei resistir, mas quando ele veio todo possessivo para cima de mim, com aquele olhar
faminto, não deu. Fui logo me entregando. Mas depois me bateu uma tristeza por saber que eu o
amava tanto, mas não podia ficar com ele. Doeu muito. Eu me tranquei no quarto com meu filho e
chorei tanto. Ainda assim, não foi o suficiente para aplacar minha dor.
Entretanto, ainda era cedo para desistir. Peguei meu filho e fui para a sala. Eu o deixei lá e,
mais uma vez, David o observou. Eu sabia que ele sentia algo pelo menino, que só não entendia ainda
que era amor.

Depois tivemos aquela conversa, em que ele foi novamente um babaca. Então Jake chegou. Ele
foi quem ajudou David a perceber que Marcos é uma parte sua também.
E agora estou aqui, com ele me abraçando e pedindo perdão. Mal posso acreditar que isso está
realmente acontecendo. Estou em seus braços fortes, e ele me beija apaixonadamente.
Como sempre, meu corpo reage a ele.

David começa a tirar meu vestido, abrindo botão por botão, sem tirar os olhos dos meus. Eu
mergulho na profundidade deles.
Nós nos amamos ali mesmo no tapete da sala. Desta vez, a minha entrega é total, pois não vejo
mais empecilhos para que fiquemos juntos. Estamos ambos nus no chão da sala, com nossos corpos
suados e exaustos.

— Senti tanto sua falta — digo, traçando o contorno do seu rosto, que agora tem uma barba por
fazer.
— Eu também, meu amor. Um ano longe de você foi demais para mim. E o pior eram os
pensamentos de que você estava nos braços de outro. Por vezes, pensei que enlouqueceria! — Ele me
aperta forte contra seu corpo, aspirando o cheiro dos meus cabelos. — Mas isso agora é passado.
Estamos juntos novamente e nunca mais vamos nos separar.
— Promete?

— Prometo! — David me dá novamente um daqueles beijos que me faz derreter por inteiro.
Ele deita sobre mim, mas antes que qualquer coisa aconteça, nosso menino acorda. — Ah! — Ele se
joga de costas no tapete, respirando fundo.

— Bem-vindo à vida em família! — falo, vestindo minhas roupas.

Vou até o quarto e pego Marcos nos braços. David vem em seguida.

— Ele está molhado e com fome. Vou trocar sua fralda e o amamentar. Depois ele dorme outra
vez.
David fica por perto e observa tudo atentamente. Sento-me na poltrona para amamentar.

— Veja como ele está faminto!

Em seguida, eu o entrego ao pai para que ele o faça arrotar. David está todo atrapalhado com
nosso filho. Acho graça de como ele ainda não consegue segurá-lo direito.
— Me dá uma mão aqui, mulher! Tenho medo de o machucar.

— Você está indo bem! Não se preocupe!

— Minha mãe vai amar quando souber que tem outro neto! — David fala enquanto nina
Marcos para que ele durma. — Jake já deve ter aberto aquela boca grande e espalhado a notícia.
— E isso é ruim?

— Não, mas eu queria dar a notícia! Em breve, vamos voltar ao Brasil. Quero que minha mãe
o conheça logo, porque meu pai virá em dois dias e o conhecerá primeiro.
— Vocês disseram que um tio e mais dois primos estão vindo para cá. O que vocês são? A
família dos superagentes? — pergunto curiosa.
— Mais ou menos isso. Fomos treinados desde a infância. É meio que uma tradição de família.

— Uau! Os Bakers fodões!

Ele coloca Marcos delicadamente no berço.


— Eles eu não sei, mas eu posso te mostrar o quanto sou foda ali naquele colchão.

Ele me segura e me beija, levando-me para minha cama.

Dois dias foi o tempo que tivemos para aproveitar antes que as coisas ficassem agitadas
novamente.
— Olá! Eu sou Jonathan Baker, tio de David. Sou irmão do pai dele! — fala o homem sério,
estendendo a mão para mim.
— Eu sou Michel Baker. Esses são meus filhos, Andrew e Thomas.

O outro tio de David se apresenta formalmente. Cumprimento também seus primos. De onde
saiu tanto homem bonito, meu Deus? As garotas da Red vão ficar enlouquecidas com eles. Se quando
Carl apareceu por lá, elas já ficaram, imagina com todos esses?

Os primos de David não se parecem com ele nem com Jake. São igualmente grandes e
musculosos, mas têm seus cabelos escuros e olhos azuis. David e Jake são loiros, e Carl, o babaca, é
ruivo dos olhos verdes. Bonito, mas imbecil. O cara se acha a última Coca-Cola do deserto. Fiquei
com pena da Natasha que tem que aturá-lo.
Alessandro, o avô do meu filho, está em um canto da sala, junto com David. Os dois estão
babando por Marcos. Jake está no telefone. Minha casa está cheia de homens Baker, e todos ficaram
para almoçar.

Eu tenho uma mesa pequena de quatro lugares, mas eles se ajeitam no sofá e na bancada. Já
estamos jantando quando Carl chega com Natasha e a tia dela. Andrew, o mais velho dos primos, vai
logo falar com ele assim que vê Natasha entrar.

Não sei o que ele está dizendo, mas parece ser uma bronca daquelas. Carl e ele estão
discutindo. Em alguns momentos, eles olham para Natasha, que também está observando a conversa.
Ela vem até a mim.

— Do que eles tanto falam? Parece que o assunto sou eu — fala em inglês com seu sotaque
carregado.
— Acho que Carl está encrencado. Andrew parece ser bem durão. Viu como todos o
respeitam? — comento. — Mas me conta, como está sendo a convivência com o Carl?
— Ele é um idiota egocêntrico, mas sabe manusear uma arma. Isso é o que importa! — fala,
balançando os ombros.
— Natasha, seja sincera. Ele faltou com respeito a você? Qualquer coisa falo para o David e
ele resolve isso!
— Amanda, não se preocupe. Sei lidar com homens como ele. Faço isso há dois anos, desde
que entrei na Red Velvet. Fique tranquila. Ele tem um jeito arrogante, mas me parece inofensivo.
— Eu não diria isso! O jeito como ele te olha me diz que quer te devorar. David olha assim
para mim!
Ela olha para Carl.

— Você acha?

Parece-me que ela fica bem mais animada do que deveria com o que eu disse. Isso ainda irá
acabar em confusão. Sei que Natasha tem quase vinte anos, mas ela já sofreu muito. Não creio que
Carl seja o cara mais indicado para ela entregar seu coração.

— Natasha, sei que você já é adulta, mas tome cuidado. Homens como Carl não se apaixonam,
eles querem uma aventura e nada mais. Não se apaixone por ele!
Ela fica vermelha.

— Obrigada pelo conselho, mas creio já ser tarde para mim. Sei muito bem que ele não se
apaixona, só que eu não tenho essa mesma sorte. Não se preocupe, pois guardarei meus sentimentos
bem guardados. Ele nunca vai saber!

Vejo tristeza em seus olhos.

— Infelizmente não é assim que as coisas funcionam, Natasha. Apenas tome cuidado para não
acabar com o coração aos pedaços. Dói muito!
— E você e o seu bonitão já se entenderam?

Natasha e as garotas conhecem minha história. Durante esse ano, elas foram minhas confidentes
por tantas vezes que eu achei que ia desmoronar. Elas estavam lá, apoiando-me e me ajudando a
levantar.

— Sim… Estou tão feliz! Eu o amo tanto! E agora sei que ele também me ama. Esses dois dias
foram tão bons. Fizemos amor muitas vezes, sabe? Para tirar o atraso de um ano!
Cutuco-a com o cotovelo.

— Fico muito feliz por você.

Ela entristece.

— O que foi? Eu disse algo errado?


— Amanda, será que algum dia eu vou conseguir isso? Amar um homem a ponto de me
entregar por inteiro? Tenho medo de que, quando chegue a hora, eu não consiga. Às vezes ainda tenho
pesadelos com aquele monstro!
Eu a abraço.

— Natasha, você não deve ficar se preocupando com isso! Está indo para a terapia?

— Sim, está me ajudando muito!

— Então, aquiete teu coração, as coisas vão acontecer naturalmente. Você me disse que não
tem aversão aos homens e até se sente atraída por Carl. Tudo vai acontecer na hora certa, quando
você estiver pronta.

Afago seus cabelos.

— E se ele me encontrar?

— Eu o mato — Carl diz se aproximando. Natasha e eu olhamos assustadas para ele. — Se ele
encostar um dedo em você, ele é um cara morto. — Ele puxa sua arma e gesticula com ela. — Na
verdade, ele já está morto. Só não sabe ainda!

Deixa a arma sobre a bancada e se senta em uma das banquetas.

— Carl, você sabe que temos que capturar Dimitri com vida. Não vá fazer besteira! —
Andrew chama sua atenção. — O que acabamos de conversar?
— Eu sei, mas não me culpem se ele vir para cima de mim ou da Natasha. Eu o mato se isso
acontecer. Não ligo para porra de missão nenhuma!
Marcos chora, mas, antes que eu vá, três homens enormes já estão ao seu redor. Alessandro,
Jake e David brigam para ver quem vai segurá-lo. Em segundos, os primos estão lá também para
paparicar meu filho, inclusive Carl. É tão engraçado ver esses homens durões mimando meu filho.

— Você tem sorte. Seu filho tem muita gente para protegê-lo! — diz dona Ekaterina. Ela está
tão quieta e pensativa desde que chegou.
— Sim. Tenho muita sorte!
Uma semana depois, a Red Velvet abrirá as portas novamente. Beth está melhor, mas ainda no
hospital. David me levou para visitá-la. Jake e Alessandro ficaram com Marcos.
Hoje, ele ficará com o avô novamente. Ashley ficará também para que eu vá trabalhar. David e
eu discutimos por dois dias por causa disso. Ele quer a todo custo me dissuadir da ideia de ir até a
Red, mas fui incisiva e firme. David não pode chegar novamente em minha vida e decidir tudo por
mim.
— Amanda, reconsidere! Nosso filho precisa de você aqui!

— Eu hein, David! Que discurso retrógrado e machista! Sempre trabalhei, e meu filho sempre
ficou bem! E depois, seu pai e Ashley vão ficar com ele. Qualquer coisa eles nos ligam e viemos
correndo!

Vendo que não adiantava mais argumentar, David acabou aceitando.

Deixo as mamadeiras de Marcos prontas, dou-lhe um beijinho e fico na porta, esperando


David, que tem milhares de recomendações para Ashley, que masca um chiclete e revira os olhos
para ele.

— Pare de revirar os olhos para mim. Preste atenção…

— Filho, vai tranquilo. Eu ajudei sua mãe a criar você e seu irmão, posso muito bem ficar com
meu neto por algumas horas! — Alessandro diz, e finalmente vamos para a Red Velvet.
Chegando lá, vejo as meninas em polvorosa e vou até elas.

— O que há? — pergunto.

— O que há? Já deu uma boa olhada nesses deuses? Eu nunca vi tanto homem lindo de terno!
De onde saiu tanta beleza? — Ágata fala, olhando para os rapazes que estão conversando,
provavelmente sobre o trabalho, pois a cara de Andrew e David não é das melhores.

— E são todos da mesma família! — Julia diz se abanando.

— São casados? — Nathalia pergunta com os olhos brilhando.

— Bem, David vocês sabem que já é meu! — Deixo bem claro. — Jake, meu cunhado, é
casado, pai de dois filhos e com mais um a caminho. — Elas desanimam. — Carl, o babaca, é
solteiro. Andrew acabou de desfazer um noivado. O casamento estava marcado e tinham até enviado
os convites. Não me perguntem o porquê, pois eles não tocam no assunto.
— Chifre com certeza! — Lucy comenta.
— E Thomas também é solteiro.

— Uau! Dois ainda estão livres! — Suzie fala, esfregando as mãos.

— Pelo que eu observei, apenas um está disponível — Lucy diz, e todas olhamos para ela. —
Vocês não notaram? O Carl está caidinho pela Natasha e o grandão ali, o tal de Andrew, não tira os
olhos de Luisa desde que pôs os pés aqui.

Observo com atenção, e ela tem razão. O pior é que ele faz o tipo de Luisa. É grande, forte e
sisudo. Sabe aquele cara que você tem que se esforçar muito para conseguir arrancar um sorriso? Ele
é bem isso. Além de ser muito bonito!

Olho para Luísa, que está praticamente babando por ele. Quando percebe que estamos olhando
para ela, vem até o palco onde estamos.
— Ei, meninas, já definiram o que vamos apresentar hoje? — pergunta.

— Sim, mesmo com todas apresentando um número, ainda vai sobrar muito tempo com o palco
vazio — Ágata diz.
— Lucy e eu podemos fazer um número juntas! — Nathalia diz.

— Ainda assim não dá!

— Eu posso dançar! — digo, e todas olham para mim.

— Está maluca, Amanda? O bonitão não vai deixar — Lucy fala.

— Ele não manda em mim! Vou dançar e pronto!

— Ótimo, você vai depois da Ágata. Agora vão para o camarim se vestir e fiquem lindas. Já
vou abrir as portas.
Procuro uma roupa para usar durante a apresentação, mas creio que esta noite vai ser muito
diferente. Não sei o motivo, só estou sentindo um frio no estômago. Algo me diz que David vai surtar
quando me vir no palco. Não sei por que fui dizer que quero dançar. Eu amo isso, amo o palco. É
onde me sinto viva, completa. Não posso desperdiçar essa chance, mesmo que David não goste.
Amanda é mesmo uma teimosa! Não consegui convencê-la a ficar no apartamento com meu pai
e nosso filho. Só aceitei que ela fosse até a Red Velvet porque eu viria junto.
Andrew está passando os detalhes da missão, enquanto as garotas conversam no palco.

— Bem, acho que ficou tudo muito bem explicado. David, você, Jake e eu ficamos aqui para
observar os frequentadores. Meu pai e os outros agentes ficam cuidando de todas as saídas. Tio
Johnny vai ficar no escritório verificando os caras que trabalham aqui — Andrew fala.

— Acha que pode ter alguém infiltrado? — Jake pergunta.

— Cautela nunca é demais!

— E esses caras, os seguranças, não podem nos ajudar em caso de algum confronto? — Carl
pergunta.
— Não, eles não têm treinamento nenhum. Derrubei aquele grandão com facilidade outro dia
— explico. — Seria mais fácil eles nos atrapalharem.
— E Thomas, onde está? — Carl questiona, procurando-o pelo salão.

— Ele vai levar a tia de Natasha para o apartamento onde montamos o Q.G. para fazer umas
perguntas a ela. Sabe o quanto ele é bom com isso. Depois ele vem para cá junto com ela — Andrew
nos informa.

As garotas vão para o camarim, e Luisa vem falar conosco.

— Senhores, podemos abrir as portas! — exclama, encarando Andrew.

— Todos em suas posições. Lembrem: somos clientes.

Nós nos espalhamos pela casa, cada um em um lugar estratégico. Com certeza Dimitri mandará
homens aqui para espionar. Se pegarmos um, conseguiremos descobrir onde ele se esconde. Ao
deixar nas mãos de Thomas, ele irá tirar todas as informações que precisamos.

A casa está cheia. Alguns suspeitos estão sendo monitorados. O primeiro show da noite já
começou.

— David — Andrew fala pelo comunicador.

— Sim?

— Fique de olho no cara grande e cheio de tatuagens perto do bar. Meu pai o reconheceu
como um dos homens de Dimitri.

Olho na direção do bar e avisto o cara. Ele é grande e se destaca entre os outros.

— Já vi.

— O nome dele é Petrus Marakov, ele é o braço direito de Dimitri. Está aqui com dois
comparsas. Ivan Belikov e Yuri Zoubkov. Os caras são perigosos. Fiquem atentos.

Assim que ele diz isso, vou para o bar. Disfarço um pouco e peço uma bebida. O cara está
armado, posso ver. Afasto-me um pouco para poder falar de forma mais discreta.
— Jake, os caras estão armados. Vocês não fizeram a revista? — pergunto pelo comunicador.

— A Luisa disse que nunca fizeram revista, que ia causar suspeitas se fizéssemos hoje.

— Merda! Fiquem atentos!

Já estamos no final do quarto show da noite. Agora está tendo um intervalo de vinte minutos, e
as músicas estão tocando alto. Aqui tem mulheres e homens. O lugar é agradável para se trazer uma
namorada ou esposa. Os shows das garotas são sensuais, mas não vulgares. O ambiente é divertido
com um DJ tocando músicas atuais.
— Agora, com vocês, ela que está na sua segunda apresentação com sua dança sensual. Já
arrebatou vários corações. A bela e misteriosa Scar!
Quando as luzes se acendem, meu coração congela. Amanda está no palco. Uma música
sensual começa a tocar. Eu não acredito que ela fez isso. Quero furar os olhos de todos os homens
que ousam olhar para ela.

— David, é a Amanda? — Jake pergunta.

— Cara, eu sabia que ela era gostosa!

— Cala a boca, Carl! — Andrew diz. — David, não vai fazer nenhuma besteira e pôr tudo a
perder!
Não vejo mais nada a não ser Amanda rebolando naquele palco para todos os homens. O
ciúme está me corroendo.
— Essa Scar é muito gostosa, cara! — Ouço um cliente dizendo.

— Eu treparia a noite toda com ela e nem me importaria com as marcas!

Isso é a gota d’água.

Vou até o palco. Fred, o cara que eu derrubei no outro dia, nem tenta me impedir dessa vez.
Subo no palco e levo Amanda nos meus ombros dali.
— David! Me solta! Para com isso! — ela grita e esperneia, socando minhas costas. Acerto um
tapa na sua bunda para que fique quieta. — Ai! Isso doeu!
Saímos dali sob uma chuva de vaias e reclamações. Vamos para o camarim. Algumas garotas
estão ali.
— Saiam!

Elas saem correndo. Meu sangue está fervendo. Tranco a porta.

— David, por que está trancando a porta? — pergunta com medo.

— Por que fez isso, Amanda? Por que estava lá em cima se exibindo? Sabe que aquela dança
deve ser só para mim!
Bato em meu peito e ando em sua direção. Ela dá passos para trás até ficar encurralada contra
a parede.
— David!

— Isso! É o meu nome que você vai gritar quando estiver gozando em meus braços.

Começo a arrancar as roupas do seu corpo. Ela não resiste. Ao contrário, começa a abrir
minha camisa. Assim que a deixo nua na minha frente, seguro-a pela parte de trás das coxas. Amanda
rodeia minha cintura com as pernas, e eu a penetro. Ela grita. Sei que estou sendo rude, mas não
posso controlar. Quero vê-la gozar e ouvi-la gritar meu nome.
— David… — diz quando chega lá.

— Você é minha, Amanda! Entendeu? — pergunto, segurando seu cabelo, fazendo-a me


encarar. Seu rosto está rubro, e ela apenas confirma com a cabeça. — Quero que fale!
— Eu sou sua, David. Só sua — diz, e explodo. Gozo tão intensamente que acabo
desmoronando.
Ficamos os dois ali contra a parede, ofegantes e suados, esperando que nossos corações
retornem ao ritmo normal.
— Amor, não faz mais isso. Sei que você ama a dança, mas ver aqueles caras te comendo com
olhos, imaginando coisas obscenas contigo, é demais para mim! Sempre soube que sou possessivo.
Não suporto que outro homem te olhe com desejo!

Aperto-a em meus braços.

— David, para mim é só uma dança! Só tenho olhos para você, amor — fala, beijando-me. —
Eles podem olhar, mas só você pode tocar.
— Tudo bem aí dentro? — Escuto Carl perguntar do outro lado da porta. — Olha só, sei que a
foda deve estar boa, mas Andrew está te chamando.
— Idiota! Estamos saindo! — digo alto.

— Acho bom, porque essa brincadeira gerou uma pequena confusão! Daquelas onde cadeiras
voam por todos os lados, sabe?
— Meu Deus! — Amanda diz, e nos vestimos o mais rápido possível.

Abrimos a porta, e Carl está com um sorriso idiota na cara.

— Vocês não perderam tempo mesmo, hein! — zomba, coçando o queixo.

— Cale a boca, Carl!

Ouvimos o barulho da confusão e saímos correndo em direção ao salão. Encontramos um


verdadeiro caos instaurado. De fato, cadeiras e garrafas estão voando.
— Fique atrás de mim! — falo para Amanda.

Seguro minha arma, e Carl faz o mesmo.

— Onde estão as garotas? — Jake vem correndo.

— O pai e tio Johnny já as levaram para o Q.G. — Andrew fala, também com arma em punho.
— Tire a Amanda daqui! Conseguimos capturar Ivan, e ele vai começar a contar em breve. Thomas
já está com ele. Vamos colocar ordem neste lugar! Tira sua mulher daqui!
— Amanda, vem comigo!

Passamos pelo meio da confusão. Tive que socar uns três caras para poder passar. Chegamos
na porta de saída, e vejo Petrus saindo em SUV preto. Ele olha para mim e dá um sorriso antes de
partir, mas Yuri não está com ele. Olho para todos os lados e não o vejo em lugar nenhum. Pego o
carro, e Amanda entra, mas antes que eu consiga abrir a porta, sinto alguém me acertar um soco no
r os to.

Fico atordoado, mas consigo me recuperar a tempo de reagir. Minha arma cai no chão.

— Olá, Baker! Parece que estamos novamente frente a frente.

Ele está parado e fica me encarando, mas desarmado.

— Yuri, você ainda não aprendeu a lição na última vez?

Eu o encontrei em uma missão, justamente aquela em que meu companheiro de equipe faleceu.
Yuri tentou me matar, e consegui escapar, mas não antes de arrancar um olho dele.
— Hoje vim cobrar o que você tirou de mim! Só que, ao invés de um, vou arrancar seus dois
olhos! E por que não seu coração? — fala, olhando para Amanda que está no carro.
Um calafrio percorre minha espinha com a mera possibilidade de ele machucando-a. Ele parte
para cima de mim, e entramos em luta corporal, com chutes e socos. Yuri luta bem, mas eu sou
melhor. Apesar de ele ser maior, também é mais lento. Quando vem novamente para cima de mim,
acerto um chute no seu estômago. Cai, e vou para cima dele.
Acerto-o vários socos. Ele está quase sem consciência quando ouço o grito de Amanda. Pego
minha arma que estava caída no chão. Um dos homens de Dimitri está segurando minha mulher com
uma arma apontada para sua cabeça.

— David! — ela grita desesperada.

— Solte-a ou te mato! — grito, engatilhando a arma.

— Baker, Baker… Mesmo vendo que está em desvantagem não cede — Yuri fala, tossindo e
cuspindo sangue. — Mate a cadela! — ordena.
Antes que o cara atire, Jake o acerta com um tiro na nuca, e ele cai morto. Miro minha arma
para Yuri.
— Você não pode me matar, pois precisa de mim vivo! — Ele ri.

— David, Ivan já contou tudo o que precisamos saber! — Ouço Andrew falar no
comunicador.

— Aí é que você se engana, Zoubkov! — Ele arregala o olho, e aponto a arma para sua
cabeça. — Ninguém ameaça minha mulher — digo e atiro no seu outro olho, fazendo um buraco. Ele
morre na hora.

Amanda vem correndo e me abraça.

— Você está bem? — pergunto a ela, que está tremendo.

— Sim! E você? — Passa a mão pelo meu rosto.

— Vou ficar bem. Agora vamos para casa.

— Andrew, Carl e eu vamos ficar aqui para limpar essa bagunça e dar uma explicação a
polícia — Jake diz.
— Qualquer coisa me ligue — falo, levando Amanda para o carro. Ela se senta e coloca o
cinto. Entro no carro e vejo-a chorando. Abraço-a, e ela começa a chorar copiosamente.
— Eu fiquei com tanto medo! E se acontecesse alguma coisa? Nosso filho é tão pequenino.

— Fique tranquila. Eu nunca vou deixar nada de ruim acontecer nem com você nem com nosso
filho! Se acalme!
Amanda limpa as lágrimas, e eu giro a chave, dando partida no carro.

— Eu não sabia que você era o Bruce Lee — fala, passando uma mão no meu braço. Com a
outra, limpa suas lágrimas. Sei que está muito assustada, mas está tentando se controlar. Amanda
sempre foi assim. Não gosta de demonstrar fraqueza. Apesar de todos a acharem frágil, eu sempre
soube que é uma mulher forte e corajosa.
— Fui treinado desde os oito anos. O que veio a calhar hoje — falo sem desviar os olhos da
estrada. — Na verdade, não gosto disso, de estar em meio a tantas mortes.
— Sim, te entendo. Isso não é vida para um pai de família.

Chegamos em casa, e apenas meu pai está com Marcos.

— Estou a par de tudo! Vocês estão bem?

— Sim, onde está meu filho? — pergunto.

— Dormindo feito um anjinho.


— Vou até lá! — Amanda corre para o quarto de Marcos, e eu a sigo. Ela fica lá parada, só
olhando nosso menino dormir.
— Obrigada, amor. Obrigada por proteger nós dois.

Ficamos assim, abraçados. Os dois observando nosso menino dormir o sono dos inocentes.

— Tenho que tomar um banho. Daqui a pouco ele vai acordar para mamar.

Amanda vai até o banheiro, e vou à sala. Meu pai está em frente ao computador. Sento-me e
seguro minha cabeça entre as mãos, apoiando meus cotovelos nas minhas pernas. Começo a chorar.
— Meu filho, o que foi?

— Eu nunca senti tanto medo quanto hoje. Quando aquele cara apontou a arma para Amanda,
foi como se ele tivesse a apontando para o meu coração. Se ela tivesse…
— Não diga isso, filho. Não aconteceu nada! Amanda está bem! — Ele tenta me acalmar.

— Sim, mas até quando? Essa vida que nós levamos, sempre em constante perigo. Pai, não
quero mais isso.
— Eu te entendo. Já te contei da vez que sua mãe e eu fomos sequestrados, não é? Nunca senti
tanto medo! Medo de que a machucassem ou a matassem. Tudo acabou bem. Ela foi tão corajosa. Até
salvou minha vida. Às vezes, ficamos tão preocupados em protegê-las que nos esquecemos do quanto
elas são fortes. — Meu pai me contou essa história por várias vezes desde que me tornei um
adolescente. Jake e eu já sabemos de cor cada palavra desse dia. Realmente, minha mãe foi muito
corajosa. Meu pai foi torturado e ficou muito ferido. Se não fosse por ela, seu Alessandro teria
morrido. — Vai lá. Fica com ela.

Limpo meu rosto com as costas das mãos e vou até o banheiro, onde ela toma banho. Tiro
minhas roupas e entro no boxe com Amanda. Abraço-a pelas costas, e ela se aconchega ao meu
corpo. Depois se vira para mim.

— Está doendo? — pergunta, passando a ponta dos dedos pelos meus ferimentos.

— Só um pouco. Vai sarar logo.

Amanda me beija. Tomamos o banho e saímos. Meu pai já está com Marcos nos braços.

— Ele acabou de acordar!

Amanda o pega e vai com ele até o quarto, onde começa a amamentá-lo. Encosto-me no batente
da porta, assistindo enquanto ela acaricia seu rostinho. Quero guardar essa cena para sempre na
minha memória. Minha mulher e meu filho, o meu maior tesouro. Eles são o que tenho de mais
precioso.
Eu os defenderei com minha própria vida se for necessário. Matarei quem for preciso para
mantê-los em segurança. Depois que Dimitri for preso, ou morto, sairei dessa vida. Vou para algum
lugar pacato, onde eles não corram mais perigo.

Amanda sempre será a luz que me guia e me tira da escuridão.


As garotas estão todas aqui em casa. Meu apartamento minúsculo ficou menor ainda. Tio
Michel está tentando conseguir uma casa. Parece que teremos que ir para o interior e vamos ficar
todos em uma mesma residência.
Beth já saiu do hospital. Ela ainda tem os hematomas, mas está sendo bem cuidada por todas
nós.

Estou arrumando minhas coisas, porque pelo que parece, este lugar não é seguro.

Dona Ekaterina assumiu a cozinha e está preparando a refeição para todos, apesar de eu não
ter utensílios grandes o bastante para preparar comida para tanta gente. Meu sogro e cunhado estão
bajulando Marcos, enquanto Andrew e Thomas desmontam o berço do meu filho. Será o único móvel
que levarei para onde quer que estejamos indo.
David está aqui no quarto comigo, ajudando-me a guardar as coisas mais importantes.
Lágrimas caem dos meus olhos por me despedir deste lugar que foi meu lar por quase um ano. E
também por medo do que está por vir.

Ele me abraça, e então choro tudo o que estava segurando. Não sou forte. Eu quero mostrar a
todos que sou, mas não sou. Tenho medo, por meu filho, por mim. Tenho medo de perder David para
sempre.

— Calma, meu amor… Tudo vai se resolver — diz, afagando minhas costas. Estou com a
cabeça encostada em seu peito, sentindo o seu cheiro bom que me acalma e me faz sentir segura.
— Estou com tanto medo! — falo com a voz embargada. — Aquilo que aconteceu na Red me
deixou bastante assustada. Aqueles homens estavam dispostos a nos matar.
— Amor, eu nunca vou deixar que eles encostem em você. Faço o que for preciso, mato quem
for preciso para te proteger. — David me aperta mais em seus braços e me beija. — Daqui para
frente, passaremos por momentos bem difíceis. Não estaremos juntos o tempo todo, pois estarei
muito ocupado com a missão. Ela é oficial agora. O governo americano vai nos dar respaldo em
todos os aspectos. Agora estou trabalhando para os Estados Unidos, sou novamente um agente. Não
queria isso, mas é necessário para proteger você e nosso filho.
Ao ouvi-lo dizer “nosso filho”, meu coração se enche de ternura. Eu o beijo, sentindo-o me
prender bem forte junto ao seu corpo. Quero aproveitar nosso último momento de intimidade e
privacidade antes de sairmos. Privacidade entre aspas, pois a sala está cheia de pessoas.
Vou até a porta e giro a chave, trancando-a. David olha para mim, entendendo bem o que quero,
e tira a camiseta que está usando, mostrando seu tórax perfeito. Andando na minha direção, ele abre
meu vestido, que tem botões frontais, com apenas um puxão. Os botões saltam para todos os lados.
Olho para David com meus olhos arregalados e boca aberta. Ele aproveita e me arrebata em um
beijo ardente, jogando-me sobre a cama.

— David!

— Não podemos perder tempo. Tenho certeza de que daqui a pouco alguém vem bater na porta.
— Ele tira suas calças e cueca, arranca meu sutiã e calcinha com uma destreza incrível e se deita
sobre mim em seguida. — Pronta? — pergunta e me beija.

— Sim… — Minha respiração ofegante quase não me permite falar.

David me penetra, e gememos juntos.

— Shiii! Estão todos na sala.

Ele me beija para abafar os nossos gemidos, e seus movimentos viris e potentes me levam à
loucura. Como sempre, sinto meu corpo inteiro arder por ele, e sei que este é o meu lugar, nos braços
dele. David é o meu lar.

Abraço seu corpo com os braços e pernas, prendendo-o a mim. Gotas de suor se formam sobre
nossa pele, misturando nossos cheiros. Beijo seu pescoço, e ele também me beija. Com certeza vou
ficar com uma marca. Estamos totalmente envoltos nessa nuvem de luxúria que nos cerca que nada
mais importa, nem as pessoas lá fora ou os sons que fazemos. Tudo o que nos interessa é o prazer que
sentimos um nos braços do outro.

Ele segura meu rosto entre as mãos e me olha intensamente.

— Eu te amo… — Beija-me.

Neste momento, sinto uma explosão tão intensa que minha visão escurece por alguns segundos.
Meu coração está batendo tão rápido e forte que tenho certeza de que David pode sentir e ouvir.
— Tudo bem? — pergunta, relaxando sobre mim.

— Aham… — É a única coisa que consigo dizer.

Ouvimos alguém bater na porta.


— Casal? — É Carl.

— O que você quer, Carl? — David pergunta irritado.

— Só para avisar que a gente ouviu tudinho daqui da sala! — fala com seu jeito debochado.

— David, que vergonha! — falo, escondendo meu rosto com as mãos.

— Vergonha do quê? Eu te amo, e você me ama. Temos um filho, então eles já sabiam o que ia
acontecer aqui quando quisemos ficar sozinhos. Carl é um babaca. — Ele tira uma mecha que está em
meu rosto e passa a ponta dos dedos pela minha cicatriz, como tantas vezes já fez. — Você é tudo
para mim, Amanda. Saiba que eu faria qualquer coisa por você.
— A única coisa que quero é que me ame. Isso é o suficiente para mim — respondo, olhando
para aqueles belos olhos que hoje estão verdes cristalinos. Ele me beija e depois me aperta em seu
abraço quente e aconchegante.

Vamos para a sala, onde Carl nos olha com aquele sorrisinho cínico na cara. David olha feio
para ele, que vira paro o outro lado. Meu homem me beija e vai falar com Andrew.
Alessandro me entrega Marcos, que está feliz da vida, brincando com seus pezinhos. Sua
boquinha está toda suja de baba, então pego a toalhinha e o limpo. Preciso trocar as fraldas dele. No
quartinho, o bercinho já está desmontado, mas o trocador ainda está ali.

Luisa e Natasha entram, olhando estranho para mim.

— O que foi? — pergunto. Luisa vem para perto.

— O que aconteceu naquele quarto foi tão bom quanto pareceu?

— Do jeito que a cabeceira batia na parede, deve ter sido ótimo! — Natasha completa.

— Meninas, eu o amo tanto. Tenho muito medo de perder o David. Hoje foi tudo tão intenso,
que tenho medo de dizer em voz alta o que estou pensando.
— Como se fosse uma despedida? — Natasha pergunta.

— Sim… — Começo a chorar. — Estou com meu coração apertado. Sinto que alguma coisa
ruim vai acontecer.
— Para com isso, Amanda! — Luisa me repreende. — Depois dos barulhos que ouvimos da
sala, sabemos que aquele quarto pegou fogo. Você deveria estar suspirando e vendo estrelas! Para de
imaginar coisas ruins. — Ela me abraça. — Com todos aqueles homens lindos na sala, creio que
estamos mais que protegidas.
— Você tem razão, deve ser o medo. Aqueles caras são muito perigosos.

Sento-me para amamentar meu bebê.

— Sabe, tem uma coisa que eu nunca contei — Luisa começa. — Como vocês sabem, minha
mãe morreu no meu parto, então fui criada por meus avós, que são daqui mesmo de Londres. Mas o
meu pai é russo. Ele é um ricaço aí, dono de muitas empresas.

— Ele sabe sobre você? — pergunto.

— Não sei. Mas, antes de morrer, minha avó me fez prometer que nunca o procuraria. Ela
vivia dizendo que ele era mau, um monstro. Vovó repetia isso sempre, que ele era o mais cruel dos
homens.

— Nossa! Que coisa!

— Você sabe o nome dele? — pergunta Natasha.

— Mikhail Novak.

Ouvimos o barulho de louças caindo e todas olhamos para a porta. Dona Ekaterina está lá
parada, branca como papel, com uma bandeja e algumas xícaras de chá caídas aos seus pés.
— Tia, você está bem? — Natasha vai ao auxílio dela.

— Como você disse que seu pai se chama? — a senhora pergunta, muito séria. Ela está muito
nervosa.
— Mikhail Novak — Luisa repete.

— Não pode ser!

— O quê, tia? Por que está assim? — Natasha está preocupada com a tia.

— Vamos para a sala. Tenho algo muito importante para contar, mas os rapazes têm que saber.

Ela cata todas as xícaras do chão, que por sorte não se quebraram. Vamos todas para a sala, e
dona Ekaterina está lá, andando de um lado para outro.
— O que eu vou contar explica o motivo de Dimitri querer Svetlana. E a situação vai piorar
quando eles descobrirem de quem Luisa é filha! — Ela começa. Todos ficam em silêncio absoluto
para ouvir. — Svetlana, você e Luisa são irmãs — ela fala, e todos ficamos perplexos.

— Tia, a senhora está enganada! Luisa disse que o pai dela é Mikhail Novak. Infelizmente, eu
sou filha de Dimitri Plotnikov.

— Svetlana, você não é filha do Dimitri — Ekaterina fala.

— Espera… Dimitri sabe disso? — Carl pergunta.

— Sim. Minha irmã estava grávida quando se casou com ele, por isso o monstro fez aquilo
com você. Depois contou à sua mãe, para que ela sofresse. Em seguida, ela morreu. Eu sabia que ele
não era seu pai, mas sua mãe me fez prometer que nunca contaria. Mas agora, não tenho mais por que
esconder. Você é filha de Mikhail Novak.
— Tia, por que não me contou antes? Esse tempo todo eu pensei que meu pai era um monstro!

Natasha, ou Svetlana, já não sei mais como chamá-la, começa a chorar.

— Mas ele é! Sua mãe não queria que seu pai soubesse da sua existência. Ela me fez jurar que
você nunca saberia sobre ele, mas ela mesma acabou confessando. Por ironia do destino, você foi
trabalhar justamente com sua irmã!

Natasha olha para Luisa, que também está chorando. As duas se abraçam.

— Minha irmã… Pensei que eu fosse sozinha no mundo e agora tenho você! — Luisa diz,
encarando Natasha, que é mais alta que ela.
— Na verdade, tem mais uma irmã — Ekaterina fala. — Ela está com dezessete anos e vive
em um colégio interno. Mikhail não permite que ninguém saiba quem ela é, muito menos onde ela
está.

— David, descubra tudo o que puder sobre Mikhail Novak — Andrew fala. — Thomas, quero
que tire o que puder do Ivan. Ele tem que dizer o que Dimitri pretende. Com certeza ele já sabia
sobre o parentesco das duas.

Thomas estala os dedos e dá um sorriso sinistro antes de falar:

— Pode deixar comigo. Hoje Ivan vai me dizer o que eu quiser saber. Até agora peguei leve
com ele.
— Cara, às vezes você me dá medo, sabia? — Carl fala, e eu sinto o mesmo.

Thomas é um cara sombrio. Vejo algo em seus olhos que não sei explicar, é como se ele não
sentisse remorso. Seus olhos azuis são tão frios, bem diferentes dos olhos de Andrew, que tem um
olhar mais doce. Ele está sério na maioria das vezes, mas já o vi olhando com amor para Marcos, vi
o seu olhar de desejo para Luisa, mas Thomas tem um olhar vazio. Não tem nada em seus olhos.
Amor, ódio, alegria ou tristeza. Nada. É como se ele não tivesse sentimentos, e isso me causa
arrepios.

David me abraça.

— Por que está com esse olhar para meu primo? Ele não gosta que fiquem o encarando.

— Não é nada! Só estava divagando.

Ele me segura pela cintura e me aperta contra seu corpo antes de me beijar.

— Ei, vão dar esse showzinho lá no quarto! Ouvir até tolero, agora assistir… — Carl diz com
sua boca grande.
— Não liga, amor, ele está com inveja, porque tudo o que queria agora era estar entre as
pernas de uma bela mulher. A inveja está o matando! — David fala e me beija ardentemente na frente
de todos.

Tio Michel chega com notícias sobre o lugar onde iremos ficar.

— Consegui uma casa em Manchester. Amanda, é a casa dos seus pais — ele diz. — Seu pai
ainda não conseguiu vender. Eu falei com ele, disse que estávamos passando férias com Alessandro e
a família, então ele nos cedeu a casa.

— Mas fica tão longe! — Lucy reclama.

— Sim, mas já verifiquei a casa por fotos que estão na internet. Ela é segura e cabe todos nós
com conforto — tio Michel fala. — Já estão com as malas prontas? Partimos em vinte minutos
Lá vamos nós em comboio para minha antiga casa em Manchester. O lugar que foi meu lar por
duas vezes. Na primeira, eu não tive minha mãe, pois foi quando ela desapareceu e tia Ruth cuidava
de mim enquanto meu pai trabalhava. Ele jogava no Manchester City como goleiro.

Na segunda vez, estávamos reunidos em uma família completa, eu, meu pai, minha mãe e meus
irmãos, Samantha e Renato. Lembrei que tenho que falar com eles. Meu pai ainda não sabe que David
e eu voltamos. Com tudo isso que está acontecendo, nem tive tempo de falar com ele.

David está dirigindo. Em nosso carro, estão Lucy e Beth. Marcos está entre elas, dormindo em
sua cadeirinha. Teremos que parar daqui a pouco, pois ele vai precisar mamar. A viagem até
Manchester é de quase quatro horas, então meu filho não aguentará ficar tanto tempo sem se
alimentar.
Como previ, ele começa a chorar uma hora depois que saímos.

— Ele está com fome — digo, e David para o carro no acostamento.


Todos os outros carros param também. É até bonito de ver… Dez SUVs parados na beira da
estrada. Quem passar, vai achar que estamos em comitiva com algum presidente ou artista muito
importante.
Paro o carro no acostamento, e todos os outros param também.

— O que houve? — pergunta tio Michel pelo comunicador.

— Meu filho está com fome. Vamos esperar — respondo.

— Ok.

Amanda pega nosso filho e o ajeita no colo para que ele comece a mamar. Nunca pensei que
me sentiria tão feliz ao ver essa cena. Meu filho é um menino forte e robusto. Sinto-me orgulhoso ao
vê-lo sugar com força para que o leite saia. Fico ali observando a cena com o coração aquecido pelo
amor que sinto pelos dois.
— O que foi? — Amanda pergunta, olhando para mim.

— Só olhando essa cena para gravar para sempre na minha memória.

Beijo-a. As amigas de Amanda saem do carro, e tio Michel vem falar comigo.

— Thomas está vindo. A agência vai ficar responsável por Ivan. Ou pelo que sobrou dele.
Creio que Thomas exagerou desta vez — diz tio Michel, passando as mãos pelos cabelos. Ele não é
o único preocupado com Thomas. Ele está cada vez mais estranho. — David, estou preocupado com
ele. Já tem quase seis anos que tudo aconteceu, e ele não melhora. Na verdade, só piora.
— Vou conversar com ele quando chegarmos em Manchester — falo.

— Obrigado, filho. Vocês sempre se deram bem, talvez ele te ouça. Juliet está tão preocupada.
Ele não aparece lá em casa tem mais de um ano. Fica enfurnado naquele rancho, convivendo apenas
com os cavalos.

— Eu prometo que vou conversar com ele, mas não garanto nada. Depois do que aconteceu,
ele não gosta de falar muito.
— Agradeço mesmo assim.

Tio Michel me dá um abraço e volta para o seu carro.


— Que negócio de frutinha foi esse? — Carl chega perguntando.

— Nada, o que você quer?

— Só vim esticar um poucos as pernas! — fala, e percebo que não está olhando para mim.

— Tire os olhos dos peitos da minha mulher, cara!

Dou um soco em seu braço, empurrando-o.

— Seu tarado!

Natasha lhe acerta um tapa na cara.

— O quê? O que foi que eu fiz? Natasha! Natasha, volte aqui! — Ele sai atrás dela.

— David, o seu primo deve ter algum problema.

— Amor, às vezes eu acho que lhe falta um filtro entre o cérebro e a boca. — Aproximo deles
e passo as mãos nos cabelos macios do nosso filho. — Ele tem muito cabelo.
— Sim! Os cabelos dele são iguais aos do meu pai — diz, acariciando os fios de cabelo de
Marcos também. — Acho que ele está satisfeito.
Eu o pego para colocá-lo para arrotar.

Chegamos na casa. Se é que isso poderia ser chamado de casa, pois o local deveria ter o
próprio CEP.
— Amanda! Tem certeza de que estamos no lugar certo? — pergunto a ela.

— Sim, o papai sempre foi exagerado. Ele adora casas enormes.

— E eu que achava que a casa de Nick grande — falo, observando a propriedade rodeada por
um enorme muro feito de pedras.
Um portão de ferro enorme se abre, dando a visão de uma alameda de cedros. Estacionamos os
carros em frente ao casarão.
— Quantos quartos tem aqui? — pergunto.

— Dezesseis, mais as dependências dos empregados — fala naturalmente.

— Você morou em uma casa com dezesseis quartos?


— David, é só uma casa! — responde, abrindo a porta do carro.

Ao sair, percebo que não sou o único que está perplexo com a imponência do lugar. Quando
entramos, vejo que por dentro não deixa a desejar.
— Amanda, eu não sabia que você era milionária! — Suzie comenta.

— Meus pais são milionários, Suzie — Amanda corrige

— E não é a mesma coisa? — É a vez de Lucy comentar.

— Escolham seus quartos. David, vem, quero te mostrar o meu. — Subimos os degraus da
enorme escadaria toda em mármore. Amanda entra em um dos quartos. — Este era o meu quarto!
Ainda tem a mobília que mamãe escolheu. — Ela começa a passar as mãos sobre a penteadeira. —
Sinto tanta falta dos meus pais, de Samantha, de Renato.
Eu a abraço.

— Assim que tudo isso acabar, vamos para o Brasil. Quero me casar com você lá. E por falar
nisso…
Pego a caixinha que venho carregando por todos os lados. Nela, está o anel que comprei para
ela quando a pedi em casamento.
— David! — Ela está com os olhos marejados.

— Ele vai voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído. — Encaixo o anel em seu dedo
e deposito um beijo ali. — Assim que isso tudo terminar, vamos nos casar.
Amanda me enlaça pelo pescoço e fica na ponta dos pés.

— Eu não vejo a hora!

Nós nos beijamos.

— Ei, vocês dois! — É o idiota do Carl. — Temos muito trabalho, não temos tempo para
esperar vocês darem uma rapidinha.
— Ele é muito babaca — Amanda fala.

Pego nosso filho da cadeirinha e o deito na cama.

— Tenho que descer. Descanse com nosso filho. Daqui a pouco ele vai acordar e você tem que
estar disposta.
Dou um beijo na sua testa e saio. Lá embaixo, estão meu pai, tios, primos e mais os cinco
agentes que a agência mandou para nos auxiliar. Só falta Thomas.
— Onde estão as mulheres? — pergunto.

— Foram para os quartos, porque estão exaustas. Há dias não dormem direito. Aqui estão
seguras — Andrew diz. — Temos que planejar como vamos agir para entrar no esconderijo de
Dimitri e Petrus. Pelas imagens que conseguimos com a ajuda de um drone, vimos que o lugar é uma
fortaleza. Fica a pelo menos duas horas daqui.
Analiso as fotos da casa e estudo um ponto fraco, procurando uma falha na segurança. Thomas
chega. Ele está com a roupa completamente suja de sangue.
— Cara, de onde está vindo? De um açougue? — Carl pergunta.

Thomas sorri. Ele está com aquela expressão vazia no rosto. Não gosto de vê-lo assim.

— Mais ou menos — responde. — Tenho boas notícias. Ivan abriu o bico. Entregou tudinho.
Depois de tomar um banho, eu conto o que tirei dele.
— Eu vou com você. Quero pegar meu notebook que deixei no quarto com Amanda.

— Vê se não demora muito! — Carl zomba, e faço sinal com o dedo do meio para ele, que dá
uma gargalhada.
Estamos chegando no quarto de Amanda quando ela aparece na porta e olha espantada para
Thomas.
— Oi, Amanda — ele diz.

— Oi, Thomas — ela responde com uma expressão de pavor no rosto.

Thomas não se importa e continua andando até encontrar um quarto para ele, o que só acontece
depois de abrir duas portas e perceber que já estão ocupados. Entro no quarto e pego meu note, mas
ao ver a expressão de medo no rosto de Amanda, deixo o aparelho sobre a penteadeira e vou até ela.

— O que foi?

— David, eu não sei se posso suportar tudo isso! Toda essa pressão, sangue e morte rodeando
nosso bebê. — Ela começa a chorar. Entendo-a perfeitamente. Amanda deve estar com os nervos à
flor da pele. Se eu que sou treinado às vezes tenho medo, imagine ela. — Seu primo me dá medo.

— Amor, não tenha medo de Thomas. Ele é apenas alguém que sofreu muito.
— Como assim?

Ela enxuga as lágrimas e se senta na beirada da cama. Sento-me ao seu lado.

— Vou te contar, mas me prometa que não vai ficar olhando para ele com olhos de pena. Ele
odeia isso.
— Eu prometo.

— Thomas, de todos os Bakers, sempre foi o mais bondoso. Ele tinha o sonho de trabalhar
para os Médicos Sem Fronteiras. Temos a mesma idade. Quando fiz dezoito anos, fui passar uns
tempos com meus avós em Washington. Ele tinha sido aceito para a universidade de Georgetown, no
curso de medicina. Estava muito feliz. Eu entrei para a marinha, e ele foi estudar. Sempre
conversávamos. Ele me contou que conheceu uma garota, Molly. Ela era uma garota gordinha, e
ninguém entendia o que ele viu nela. Thomas sempre dizia que, além de ela ser linda por fora, era
linda por dentro. Carl pegava no pé dele por ele ser tão romântico.

— Carl é um idiota.

— É, mas Thomas nem ligava. Ele e Molly namoravam há três anos quando ele se envolveu em
uma briga na universidade. Tinham alguns valentões por lá. Eles eram da máfia russa e organizavam
lutas clandestinas. Thomas nunca se intrometeu nisso. Até que um dia o provocaram, falando mal de
Molly. Os caras achavam que dariam uma surra nele, mas nós somos treinados desde meninos e
sabemos lutar no mínimo cinco artes marciais, e também como manusear vários tipos de armas.
Thomas os enfrentou e deu uma surra nos cinco, os humilhando na frente de todos. — Amanda ouve
tudo atentamente. — Mas eles não deixaram isso barato e resolveram se vingar onde mais lhe doía,
em Molly. Eles a pegaram um dia quando ela estava na universidade, a violentaram por três dias e a
mataram depois, jogando seu corpo no rio. Filmaram tudo e mandaram para ele.

Amanda está com os olhos cheios de lágrimas.

— Isso é horrível!

— Thomas ficou completamente transtornado. Teve que ser internado em uma clínica. Por seis
meses, ele não falou com ninguém. Meus tios iam visitá-lo e era como se fossem estranhos. Eu
também fui. Fiquei impressionado ao vê-lo naquele estado. Aos poucos, ele foi melhorando e foi
liberado pelo médico. Tio Michel tinha um rancho que estava praticamente abandonado e ficava
isolado no Texas. Thomas foi para lá. Por um ano, ficou criando cavalos e vivendo sozinho, até que
começamos a receber notícias dos caras. Um a um, começaram a ser encontrados mortos. Todos
estavam sem seus corações. Tio Michel desconfiou e foi até o rancho. Encontrou Thomas retirando o
coração do líder da gangue, que foi o cabeça de todo o horror que Molly passou. Tio Michel pensou
em interná-lo novamente, mas ele disse que, daquele dia em diante, iria trabalhar na agência.

— David, o que aconteceu com ele foi horrível! De certa forma, eu o entendo.
— Querida, não tenha medo dele. Ele jamais te faria mal — digo, secando suas lágrimas.
Marcos começa a se mexer. — Pontual como sempre. — Ela o segura nos braços. — Vou te deixar
amamentando nosso filho. Tenho muito trabalho a fazer. Nos encontramos lá embaixo daqui a pouco.
Amanda me joga um beijo e fica ali dando de mamar.

— Temos que montar a estratégia para invadir aquela fortaleza — meu pai fala.

— Já tenho tudo planejado. Você e meu pai ficam nos dando apoio dos carros, enquanto tio
Johnny, David, Jake, Carl, Thomas e eu invadimos o local. Vai ser igual aquela missão de cinco anos
atrás. Sei que Jake não participou, mas ele é bom e vai ser bem útil — Andrew fala.

Depois de duas horas planejando tudo nos mínimos detalhes, ele finaliza.

— Amanhã partimos pela manhã. David fique com sua esposa e filho, aproveite esses
momentos, pois como você sabe, essa missão é perigosa. Cada momento pode ser o último.
E é o que faço. Depois do jantar, fico com Amanda e nosso filho no quarto. Ela percebe meu
olhar de preocupação e vem me abraçar.
— Promete que vai voltar para mim?

— E você acha que eu deixaria você e nosso filho sozinhos? Meu amor, não se preocupe, já
trabalhei em muitas missões. Algumas mais perigosas que essa, inclusive. Eu vou voltar, prometo.
Ela me abraça bem apertado e me beija.

Nesta noite, nós nos amamos como se fosse a última vez. Eu queria sentir seu corpo sob o meu
e ouvir seus gemidos de prazer para levar essa lembrança onde quer que eu fosse.
Essa missão é diferente de todas as outras, pois agora eu tenho motivos para voltar. Farei o
possível e o impossível para que isso aconteça.
Depois daquela reunião enfadonha, vou para o meu quarto. Eu preciso de um banho e dormir
muito. Não sei o que esperar dessa missão. Assim como em todos as outras, a incerteza é a única
certeza. Pode durar horas ou dias, e eu não sei quando dormirei novamente.
Andrew planejou tudo nos mínimos detalhes, mas o inimigo é imprevisível. Às vezes, um
plano assim não funciona na prática. Na hora do “vamos ver”, tudo depende do instinto de
sobrevivência. Isso eu tenho de sobra. Sou jovem demais para morrer. Com trinta e três anos, tenho
algumas bocetas para foder ainda.
Se bem que ultimamente só consigo pensar em uma. Natasha ficou na minha cabeça desde a
primeira vez que a vi. Ela estava fazendo uma performance de pole dance na Red Velvet, e aqueles
enormes cabelos loiros me chamaram a atenção na hora. Sem falar naquele corpo bem torneado,
com
tudo no lugar. Eu a observei enquanto dançava e confesso que fiquei hipnotizado por seus
movimentos sensuais e perfeitos.

Depois que ela terminou a dança, meu pai e eu fomos até os bastidores para falar com ela
sobre Dimitri. Foi ali que ela me pegou de jeito. Quando me encarou com aqueles olhos azuis, foi
como se seu olhar me atingisse em cheio no coração. Eu não pude pensar em mais nada a não ser
que
ela tinha que ser minha.
Não como as vagabundas que eu fodi por aí, eu a quero de verdade. Quero que seja minha. O
simples pensamento de outro homem tocando-a me deixa enlouquecido. Mas como sou um idiota,
Desde que a ouvi falando com aquele sotaque sexy, não consigo pensar em mais nada, a não
ser me afundar em seu corpo e passar a noite inteira com ela embaixo de mim, em cima de mim, ao
meu lado. Isso sem contar que tenho que me conformar com essa ereção eterna.
Já tentei passar a noite com uma vagabunda qualquer, mas não deu. Eu quero Natasha, aquela
russa feiticeira que me estragou para as outras mulheres somente com seus beijos.
Sim, nós já demos uns amassos, mas sempre que eu avançava mais um pouco, ela travava. Eu
entendo
de que o que Natasha passou, nenhuma mulher jamais deve passar, quanto mais uma menina
treze anos, por isso estou indo devagar. Tenho muita paciência com ela. O que surpreende até
mesmo
a mim, que sou muito afoito. Detesto esperar.
Natasha entrou em minha vida para bagunçar tudo. Agora vou esperar por ela o tempo que for
preciso, porque ela é a única que eu quero. Sei que é jovem demais para mim, afinal nem completou
vinte anos. Sou treze anos mais velho, mas essas coisas a gente não escolhe.

Depois do banho, vou até minha cama. Como sempre, deixo a arma engatilhada sob o
travesseiro e tento dormir, mas, por instinto, tenho sono leve e o menor dos ruídos me acorda.
Já deve ser madrugada quando ouço a porta do quarto se abrir. Meu reflexo me faz levar a mão
na arma sob o travesseiro, segurando-a já com o dedo no gatilho. Sinto o colchão abaixar como se
alguém estivesse de joelhos ali e rapidamente retiro a arma, apontando para a cabeça do meu
invasor.
— Carl? — Relaxo ao ver que Natasha está ali.

— Está a fim de morrer, mulher? — pergunto, deixando a arma sobre o pequeno balcão ao
lado da cama. — Nunca mais faça isso! O que quer a uma hora dessas? — questiono para ela.
— Sei que vão sair hoje bem cedo — fala com aquele sotaque que adoro.

Meu pau fica duro na hora. Por sorte, estou usando uma cueca. Costumo dormir peladão
mesmo, mas com essa ameaça dos russos, fiquei de boxer, pois não quero ser surpreendido nu por
um
deles.

— Sim, e daí? — Sou durão com ela. Sei que ela gosta.

— Não quero que vá sem se despedir de mim.

Natasha chega mais perto e me beija. Como sempre, seus beijos são tímidos e suaves, mas eu
domino a situação, fazendo-a abrir mais a boca e invadindo-a com minha língua. Intensifico mais o
beijo, e ela me corresponde, desta vez com beijos mais ousados. Sinto que ela está diferente das
outras vezes, mais solta e mais decidida.
Cola seu corpo ao meu, como se estivesse oferecendo-o a mim. Paro o beijo e olho bem em
seus olhos, que estão escuros. Sua boca inchada dos meus beijos e seu rosto corado de desejo a
deixam ainda mais bonita. Estamos ofegantes.
Natasha passa as mãos por meu corpo, descendo até meu pau ereto, e o segura firme. Não
consigo conter o gemido que sai de minha boca. Então, percebo o que ela veio fazer aqui, mas
preciso ter certeza.

— Natasha …

— Shiiii. — Ela ergue o dedo indicador para selar meus lábios. — Não diga nada, apenas me
ame.
— Você tem certeza?

Em resposta, ela tira a camisola e fica apenas de calcinha na minha frente. Seus belos seios
sobem e descem com sua respiração ofegante. Eu já os tinha visto uma vez, quando nossos amassos
foram um pouco mais longe. Cheguei a senti-los na minha boca. Agora ela está oferecendo-os a mim
novamente. Seguro um em cada mão, sentindo seu coração bater acelerado, e passo o polegar por
seus mamilos, que enrijecem na hora. Minha boca saliva em expectativa para saboreá-los, e é o que
faço.
Coloco um em minha boca, sugando, mordendo levemente, enquanto Natasha arfa de prazer e
geme como uma louca. Vou para o outro e faço o mesmo. Com uma de minhas mãos livres, desço até
sua boceta e vejo que ela está pronta para me receber, mas eu quero explorar seu corpo um pouco
mais.
Passo a acariciá-la intimamente, enquanto exploro seus seios com a boca e com a outra mão.
Natasha se contorce e geme alto com minhas carícias. Quando ela goza na minha mão, deito-a na
cama e fico sobre ela.

— Isso foi incrível — diz sorrindo, ainda ofegante.

— Tem mais de onde veio esse, mas antes quero deixar uma coisa bem clara… — Ela arregala
seus olhos azuis e ouve atentamente. — A partir do momento em que você for minha, será só minha.
Entendeu? Nenhum outro homem vai te tocar. Eu serei dono do seu corpo. Isso aqui será meu. —
Beijo-a possessivamente. — Isso aqui será meu. — Vou para seus seios e, mais uma vez, abocanho
um de cada vez. — E isso aqui será meu — falo com a mão espalmada sobre sua boceta, penetrando-
a com dois dedos. Ela ofega. — Entendeu, Natasha?
— Svetlana. Me chame pelo meu nome verdadeiro.

— Entendeu, Svetlana? — repito, movimentando meus dedos para dentro e para fora. Ela
arqueja seu corpo em resposta.
— Sim, Carl, eu já sou sua.

Desço por seu corpo, sigo até onde minha mão trabalhava e deposito beijos delicados ali,
sentindo seu sabor. Aprofundo meus movimentos com a língua em seu broto sensível. Só sossego
quando sinto o sabor do seu prazer. Ela choraminga quando paro para tirar minha cueca.

Svetlana arregala os olhos ao ver o meu tamanho. Sei que sou um cara grande, mas vou caber
direitinho dentro dela. Encaixo-me sobre seu corpo, beijando-a ardentemente, até sentir que ela está
relaxando sob mim. Posiciono-me em sua entrada molhada e melada e a penetro lentamente, sentindo
cada centímetro do seu calor me abraçando apertado.
Ela geme, e seus gemidos quase me fazem perder o controle. Svetlana me segura com seus
braços e crava as unhas nas minhas costas.
— Tudo bem? — pergunto ao notar que ela está rígida sob mim.

— Sim! Pode continuar — fala, e começo a me movimentar devagar, esperando-a relaxar


novamente.
Beijo-a carinhosamente, o que é um pouco estranho para mim, pois não sou carinhoso. Mas
para Svetlana quero ser carinho, amoroso, suave e gentil. Quero que seja perfeito para ela.
Sempre me preocupei em dar prazer às mulheres que estiveram comigo, mas de uma forma
mais rude. Com ela, não é apenas sexo. Estamos fazendo amor, o que para mim é novidade. Fazer
amor nunca esteve nos meus planos, mas agora, aqui com ela, tudo parece natural e perfeito.

Ela se entrega totalmente a mim, e intensifico meus movimentos. Neste quarto, os sons que
prevalecem são os de nossos corpos se chocando um contra o outro e o das nossas respirações
ofegantes, misturadas com nossos gemidos de prazer.

Sinto que ela está quase lá, pois me aperta com seus braços e pernas.

— Abra os olhos — mando, e ela obedece, então vejo suas pupilas dilatarem. Quando chega
ao clímax, lágrimas rolam dos seus olhos. Arrebato sua boca em um beijo ardente e faminto quando
finalmente gozo de forma intensa. Nunca senti isso antes.

É ela. A minha escolhida. Meu pai sempre dizia que quando eu encontrasse a mulher certa, eu
não teria olhos para mais ninguém. Sempre ria quando ele dizia isso, mas agora sei que chegou a
minha vez. Assim como Jake e David, eu estou completamente apaixonado, e essa garota russa me
tem totalmente em suas mãos. Dou-me conta do quanto estou ferrado.
Saio de cima dela, ainda ofegante, com meu coração batendo a mil por hora.

— Eu te amo, Carl — diz, aconchegando-se em meu peito. Pela primeira vez na vida, essas
palavras me parecem reais.

— Também te amo, Svetlana.

Puxo-a para mais perto e sei que finalmente encontrei meu lugar no mundo.

O dia está amanhecendo. Chega a hora de ir. Vamos atacar o esconderijo de Dimitri só mais
tarde, mas temos que vigiar a casa desde cedo e achar alguma falha na segurança. Isso só será
possível se vigiarmos bem de perto.

Svetlana ainda dorme agarrada em mim. Fizemos amor ainda mais duas vezes até cairmos no
sono exaustos. Passo as mãos entre seus cabelos, que estão emaranhados e espalhados sobre o
travesseiro. Tento me desvencilhar dos seus braços sem que ela acorde, mas não consigo.

— Bom dia, meu amor — fala, ainda rouca pelo sono.

— Bom dia… — Beijo-a. Como uma flecha, sou atingido em cheio ao me lembrar de que não
usamos proteção na noite passada. — Amor, você toma algum tipo de contraceptivo? — pergunto.
Pela sua expressão, vejo que não. — Sabe que o que aconteceu aqui ontem pode resultar em uma
gravidez, não sabe?
Ela está com os olhos cheios de lágrimas.

— Só me diz que eu não fui como as outras, que não fui o caso de apenas uma noite, Carl.

Lágrimas rolam por seu rosto. Vê-la chorando me rasga por dentro.

— Svetlana, não prestou atenção quando eu disse que você é minha? — pergunto, segurando
seu rosto entre as mãos.
— Sim, mas em nenhum momento você disse que era meu.

— Ah, eu disse… Quando eu falei que te amo. Eu nunca disse isso a ninguém. Só disse para
você, e não foi só por dizer. Eu realmente amo você. Assim como você é minha, eu também sou seu.
— Vai deixar de ser um mulherengo tarado? — pergunta com seus olhos cheios de dúvidas.

Não posso criticá-la, pois tenho sido um babaca insensível com ela.

— Para mim agora só existe você.

Nós nos beijamos e nos entregamos à paixão novamente, amando-nos com intensidade. Pela
primeira vez na minha vida, estou cogitando a hipótese de formar uma família.
Estou exausto. Depois daquela reunião, tudo o que penso é em cair na minha cama e dormir.
Escolhi um quarto que fica bem afastado dos quartos das mulheres, porque elas falam alto demais.
Ao passar pelo quarto de Luisa, ouço-a conversando com uma das garotas. É Nathalia, a
japonesa.
— Ele é um gatão! Todo sério com aquele ar de bom moço, todo certinho. Deve ser um vulcão
na cama — ela diz.
— Você fala como se tivesse tido muitos homens na sua vida. Luisa, conheço você desde que
montou a Red. Pelo que sei, depois daquele seu namorado idiota que quase te violentou, você não
saiu com mais ninguém! — Nathalia diz. Sei que estou bisbilhotando, mas essa mulher mexeu comigo
com seu jeito moderno e inocente ao mesmo tempo. Senti uma atração inexplicável desde que ela me
encarou com seus enormes olhos verdes. Tive vontade de beijar aquela boca carnuda assim que ela
sorriu para mim pela primeira vez. — Se duvidar, ainda é virgem! Não… Não acredito! Você ainda é
virgem mesmo?

— Para! Fala baixo. Quer que todos saibam? — Luisa diz, e eu não posso acreditar.

Ela tem o quê? Vinte e seis, vinte e sete anos? Virgem? Agora minhas fantasias com ela não me
deixarão em dormir em paz. Nunca tive uma virgem em meus braços, com certeza jamais me passou
pela cabeça que Luisa ainda fosse. Ela é toda sem pudor e provocante.
Isso é incrível.

— Você sabe o que houve com o John. Depois que ele ficou me pressionando para a gente
transar e depois praticamente me forçou, não consigo ficar à vontade com cara nenhum.
— Eu sei. Se eu não tivesse chegado na hora, ele teria te estuprado. Por sorte, voltei porque
esqueci minha carteira. E agora ele está mofando há alguns anos na cadeia.
— Então, eu até saio com os caras, mas na hora H, travo!

Fico ouvindo a conversa. Observo para ver se não vem ninguém. Pareço uma criança curiosa
ouvindo a conversa dos adultos. E olha que já tenho trinta e oito anos.
— Eu sei como você pode resolver isso! — Nathalia diz.

— Como?

— Você não disse que está caidinha pelo “Senhor Certinho”?

Quem será esse “Senhor Certinho”? Quando eu descobrir, vou matá-lo! Luisa será minha. Eu
serei o seu primeiro e o seu último. Ela não vai conhecer outro homem em sua vida. Já a escolhi para
mim, e ninguém vai se intrometer no meu caminho.

— Sim, ele é tão gostoso! Fico toda molhada só de olhar para aquela cara séria que ele faz. E
aquele corpo… Ele é tão mandão! Diga quem não se sentiria atraída por ele?
Ao ouvi-la falando assim de outro homem, meu sangue ferve. Esta noite vou tirar esse cara da
cabeça dela depois que a foder de todas as maneiras possíveis.
— Então, na madrugada, você vai até o quarto dele. Como quem não quer nada, tasca um
beijão e vê no que vai dar.
Ouço passos e saio dali transtornado. Ela quer dormir com outro cara! Não posso permitir
isso. Tomo um banho e fico espionando, esperando que Nathalia saia do quarto de Luisa.
Que loucura é essa que estou pensando em fazer? Eu que sempre fui um cara centrado, sensato.
Mas aquela mulher me faz perder o prumo.
Eu me senti atraído desde o primeiro momento que olhei em seus olhos. Eles são de um verde
transparente. Quando ela sorriu para mim… Ah, aquela boca linda. Tenho que fazer alguma coisa.
Luisa sempre passa por mim se esfregando e me provocando, e agora quer dar para outro
aquilo que é meu. Não, isso eu não posso permitir. Não posso deixá-la cometer essa loucura. O cara
certo para ela sou eu! Fico andando de um lado para outro em meu quarto. Finalmente tomo a decisão
de ir até o dela. Vou dizer como me sinto, e vamos ver no que vai dar.

Abro a porta do meu quarto e verifico se não há ninguém no corredor. Caminho livre! Sigo até
a porta de Luísa, sentindo-me nervoso. Até pareço um adolescente indo para o seu primeiro encontro.
Bato, mas ela não abre. Droga! Será que ela já foi para o quarto do “Senhor Certinho”?

Giro a maçaneta e a porta está destrancada. Entro e encontro o quarto vazio, mas ouço o
barulho do chuveiro. Provavelmente ela está tomando banhando para ele. Sinto o ciúme me corroer
por dentro. Não vou permitir que outro cara fique com o que é meu! Nunca me senti assim com
ninguém. Não sei o que ela fez, só que pretendo descobrir e então a fazer minha de uma vez por
todas.

Aqueles grandes olhos verdes só irão brilhar por mim. Verei suas pupilas se dilatando quando
estiver gozando sob mim. Luisa será minha e de mais ninguém. Vou fazer isso de uma forma que ela
me deseje também, claro. Pelo que ouvi, um antigo namorado tentou forçá-la. Isso é a pior covardia
que um homem pode fazer contra uma mulher. Eu jamais seria capaz disso. Sou um cara ciumento e
possessivo? Sou, mas nunca manteria uma mulher ao meu lado contra a sua vontade.

Tanto que, ao perceber que Abigail, minha ex-noiva, só estava se casando comigo por
conveniência, para agradar seus pais, não pensei duas vezes em desmanchar o noivado duas semanas
antes do casamento.

Eu também já não sentia mais nada por ela, a não ser carinho. Conversamos, e ela me
confessou estar apaixonada por um colega de trabalho. Jurou que nunca teve nada com ele. Eu
acreditei. Aby era de família religiosa. Eu não fui o seu primeiro, e ela sempre foi franca comigo.
Ainda somos amigos, mas realmente não teria dado certo.
Hoje, ela está casada com o cara que disse ser apaixonada e espera seu segundo filho.

A maioria das pessoas não entendeu por que desmanchei meu noivado de cinco anos, porque
eu não falava o motivo. O que gerou especulações. Muitos disseram que Aby me traiu, então eu falei
que quem a traiu fui eu para que parassem os comentários e ela pudesse ser feliz. Nós nos
conhecemos desde crianças, e eu nunca desejaria o mal a ela.
Ouço o chuveiro ser desligado e me sento na cama. Luisa sai do banheiro enrolada em uma
toalha e com outra na cabeça. Ela se assusta quando me vê. Estou sem camisa, somente com uma
calça de pijama.

— Andrew, o que faz aqui no meu quarto? — pergunta, com a mão sobre o seu coração.

— Quero falar com você — digo, ficando em pé e me aproximando.

O cheiro de sabonete que exala dela está mexendo com meus sentidos.
— O que você teria para falar comigo que não poderia esperar até amanhã? — questiona,
andando para trás à medida que me aproximo.
— Como sabe, amanhã vou sair bem cedo. Quero saber uma coisa antes de ir. — Agora ela
está encostada contra a parede. Coloco minhas mãos espalmadas, uma de cada lado da sua cabeça, e
chego meu rosto bem perto do seu. Cheiro seu pescoço e sinto sua pele arrepiar com esse meu gesto.
É um bom sinal. — Você me acha atraente? — Luisa está ofegante, e sinto que de alguma maneira
mexi com ela também. O “Senhor Certinho” irá perder essa batalha. — Você ainda não respondeu a
minha pergunta.
Ela passa as mãos por meu peito e me olha fundo nos olhos.

— Sim, Andrew, você é muito atraente.

Os olhos verdes me hipnotizam. Não resisto mais e a beijo, quente e faminto, prensando-a
entre a parede e meu corpo. Faço-a sentir o quanto a quero, mostrando meu pau ereto, e ela arfa em
meus braços.

— Eu quero você, aqui, agora — digo, afastando meu rosto só o suficiente para olhar em seus
olhos. Luisa está com o rosto vermelho e ofegante. — Você me quer?
Ela não diz nada, apenas desliza a toalha que cobria seu corpo e fica nua na minha frente.
Afasto-me para admirar a sua beleza, mas ainda falta uma coisa. Aproximo-me e retiro com cuidado
a toalha que estava envolvendo seus longos cabelos. O cheiro do seu shampoo me deixa inebriado, é
tão feminino e delicado, como só ela sabe ser.
Seguro-a pela cintura e a aperto bem contra meu corpo, sentindo o cheiro do seu pescoço.

— Andrew… — fala arfante.

Pego-a nos braços e a deito na cama, onde fico admirando-a. Ela é tão linda, toda minha. Subo
no colchão e sinto que Luisa está tremendo sob meu corpo.
— Tudo bem? — pergunto, acariciando seus cabelos.

— Só estou um pouco nervosa. Mas eu quero isso, Andrew, quero muito.

Quando ela diz isso, tomo sua boca em um beijo faminto. Exploro seu corpo com as mãos,
sentindo a maciez da sua pele sob meus dedos. Desço com meus beijos pela sua curva do pescoço,
indo até seus seios lindos e enormes, que mal cabem nas minhas mãos. Desde a primeira vez que a
vi, eu a imaginei assim, nua sob meu corpo. Continuo acariciando seus seios com as mãos, fazendo-a
se contorcer embaixo de mim, gemendo meu nome.

— Isso… Esse é o nome que sairá de sua boca quando estiver gozando — falo e volto a
explorar seu corpo com a boca. Lambo e mordo até chegar em sua boceta.

Luisa se retrai ao sentir que estou em um contato tão íntimo, mas quando começo a acariciá-la
em seu ponto mais sensível, ela começa a gemer incontrolavelmente até gozar gritando meu nome.
Com ela ainda arfante, fico em pé e retiro minha calça, posicionando-me sobre ela em seguida. Sei
que essa será a sua primeira vez, então tenho que ser gentil e delicado. Está bem difícil me controlar.
Quis isso desde que a vi e, agora que ela está aqui, é quase impossível manter a calma.

Gotas de suor se formam sobre minha testa, tamanho meu nervosismo. Percebo que ela está
receosa.
— Andrew, tenho que te falar uma coisa… — Sei o que ela quer me contar, mas deixo-a
acreditar que não sei. — Eu ainda sou virgem. Você será o meu primeiro.
— E pode ter certeza de que serei o último. Relaxe e se entregue. Será mais fácil assim. —
Beijo-a mais uma vez e entro em seu corpo bem devagar, esperando-a se acostumar com meu
tamanho. Ela geme. Infelizmente, neste momento, a dor é inevitável. — Amor, me perdoe, mas não há
outro jeito — falo a ela e a penetro de uma vez só. Ela grita devido à dor. — Perdão.
Fico paralisado e espero-a relaxar sob mim. Lágrimas escorrem dos seus olhos, e eu as seco
com a ponta dos dedos.
— Tudo bem, está passando — fala e me beija.

Começo a me movimentar lentamente. Ela segura forte em meus braços, cravando as unhas
neles. Neste gesto, entendo o que ela quer. Intensifico minhas estocadas, até sentir que ela estremece
de prazer. Gozo também, desabando sobre ela, completamente exausto.

— Ah, eu sabia que seria incrível, mas você superou minhas expectativas, “Senhor Certinho”
— fala, e só então me dou conta de que o cara de quem elas estavam falando era eu. Apoio-me nos
meus cotovelos e a encaro.

— Senhor Certinho?

— Sim. Eu te dei esse apelido ao ver o quão centrado e pragmático você é. E eu adoro isso!

Ela segura meu rosto entre as mãos e me olha intensamente com seus grandes olhos verdes.

— E eu, vendo esse seu jeito arrojado, jamais imaginei que fosse virgem.

Deito-me ao seu lado, e ela vira de frente para mim.

— Digamos que nunca tive muita sorte com o sexo oposto. Estava quase desistindo, mas aí te
vi entrar na Red, usando aquele terno preto, com aquela expressão tão séria. Naquele momento, eu
pensei “Esse cara vai tirar minha virgindade!”. Se você não tivesse entrado aqui, eu teria ido até o
seu quarto e dado para você na sua cama! — exclama, deitando-se sobre mim com uma perna de
cada lado do meu corpo.
— Eu ouvi uma conversa sua com a Nathalia. Foi sem querer, eu juro! Ouvi quando você disse
que era virgem e que iria até o quarto do “Senhor Certinho”. Fiquei morrendo de ciúmes. Você era
minha, e eu não podia te perder para esse cara. Entrei aqui decidido a te fazer minha, só agora me dei
conta que era de mim que estavam falando. E eu que me julgo tão inteligente!
Luisa se deita sobre mim, esmagando seus seios em meu corpo, e me beija em seguida.

— Você agora é meu, Senhor Certinho!

Seguro-a pela cintura e inverto nossas posições.

— Pode ter certeza, Senhorita Arrojada!

Beijo-a ardentemente, e nos amamos novamente.

O dia está amanhecendo, e Luisa continua dormindo. Levanto-me e começo a me preparar para
a missão. Primeiro, vou até o banheiro e, enquanto tomo um banho, sinto duas mãos delicadas
deslizando por minhas costas. Viro-me e encontro Luisa nua, provocando-me.

— Nem me esperou! — diz, esfregando seus seios em mim.

— Não quis te acordar, afinal quase não dormiu essa noite.

— E a culpa foi de quem?

Ela enlaça meu pescoço com os braços e me beija em seguida. Mais uma vez estou pronto para
ela. Envolvo meu corpo com suas pernas e a empurro até a parede. Sinto-a arfar devido ao contato
com os azulejos gelados.

— Está tudo bem? Não está dolorida? — pergunto preocupado, já que estivemos juntos por
três vezes à noite e ela era virgem.
— Estou, mas por sentir falta de você em mim!

Ela mesma me posiciona em sua boceta e força seu corpo sobre o meu. Sem dúvida essa
mulher ardente foi feita para mim. Sei que nunca mais Luisa sairá da minha vida. Assim que a missão
acabar, eu resolverei minha situação com ela. Será minha esposa o mais rápido possível.

Estou pronto, usando minhas roupas de agente em campo, com minhas armas, munições em seus
devidos lugares e também o colete à prova de balas.
— Promete que vai voltar para mim? Não seja um canalha que me desvirginou e vai me
abandonar!
Ela me aperta bem ao seu corpo.

— Luisa, agora que te encontrei, não se verá livre de mim assim tão fácil.

Ela me beija. Saio para essa missão com o gosto dela em minha boca e uma vontade enorme de
voltar para tê-la em meus braços novamente.
David está terminando de vestir seu colete. A penteadeira está lotada de todos os tipos de
armas e munições. Meu coração está apertado. Não quero que ele vá. Estou morrendo de medo.
Lágrimas caem dos meus olhos sem que eu consiga segurá-las.
— Amor, não fique assim. Eu estarei aqui antes do que você imagina.

Ele me abraça.

— Estou apavorada! Acha que não sei o quão perigoso é para onde você vai? Eu vi do que
aqueles homens são capazes.
— E você também viu do que eu sou capaz. Estou acostumado com isso.

— Eu não quero me acostumar com isso. David, me promete que aconteça o que acontecer,
essa será a última vez que você se junta com sua família para isso. Quero meu homem vivo ao meu
lado! — Seguro seu colete e o puxo mais perto. — Pense em nosso filho, em mim. Não vou suportar
viver sem você!
David passa o polegar por meu rosto e me encara.

— Você não vai viver sem mim! Sou egoísta demais para isso! — Então, ele me beija, mas
logo ouvimos alguém bater na porta. — Preciso ir. Quero que use isto. — David me entrega um colar,
que tem um coração como pingente. — É um sinalizador. Este pequeno botão na parte de trás aciona
o sinal, e eu vou receber uma mensagem. Se alguma coisa acontecer, se estiver em perigo, aperte e
virei na mesma hora. — Ele fecha o colar em meu pescoço. — Nunca, em hipótese alguma, tire do
pescoço. Nem mesmo para tomar banho.
Ele me beija e sai, mas não sem olhar para mim uma última vez antes de fechar a porta. Sento-
me na beirada da cama e choro muito. Nem todas as minhas lágrimas conseguem aliviar o peso em
meu coração.

Uma hora depois, vendo que eu não saio do quarto, Luisa bate na porta e entra.

— Amiga, você tem que se animar! As garotas estão lá embaixo. Vamos, você tem que tomar
café da manhã. Pense no seu menino!
Ela segura Marcos nos braços, e ele solta gargalhadas quando minha amiga o beija na
barriguinha.
— Você tem razão.

Dona Ekaterina preparou o café da manhã. Ela é uma senhora muito bonita. Tem
aproximadamente uns quarenta anos, mas parece ser mais jovem. É linda como Natasha, que se
parece muito com ela. Os mesmo cabelos loiros, olhos azuis, a mesma elegância. E notando bem,
Luisa até se parece um pouco com a irmã. Depois que as duas descobriram que são irmãs, não se
largam.

Passamos a manhã toda assistindo a filmes de dança. Como boas dançarinas, adoramos.
Depois do almoço, estamos todas reunidas na sala para uma segunda rodada de filmes, quando
ouvimos tiros lá fora e ficamos apavoradas.

Os agentes que ficaram responsáveis por nossa segurança foram mortos um a um. O último bem
na nossa frente. Todas as garotas, inclusive eu, gritam apavoradas.
A casa foi invadida por um bando de homens armados até os dentes. O último a entrar é um
cara de cabelos grisalhos, usando óculos escuros e um terno preto.
— Dimitri — Ekaterina fala em um sussurro de puro pavor.

— Olá, Ekaterina, há quanto tempo? — fala com seu forte sotaque russo. Retira os óculos de
sol, mostrando um par de olhos cinzentos cheios de ódio por ela.
Os homens apontam suas armas para nós e gritam em russo. Nós nos sentamos no sofá, sob a
mira das armas. Marcos começa a chorar assustado. Aperto meu bebezinho contra meu corpo no
intuito de protegê-lo. Vejo quando Dimitri vai até Ekaterina.

— Sentiu saudade, meu amor? — Ele a segura pelo braço, e ela treme muito. — Svetlana,
minha querida, venha dar um abraço no seu velho pai!
— Você não é meu pai! Você é um monstro! — ela grita.

— Ora, ora, então já te contaram a verdade? Mas será que sua querida tia contou tudo? Ela te
contou que sua mãe morreu por culpa dela? — Natasha olha para tia, que tem sua cabeça baixa e
chora muito. — Você não contou, não foi, meu amor? Mas pode deixar que faço isso por você.

Ele empurra Ekaterina, que cai de joelhos no chão. Puxa uma poltrona e se senta, cruzando as
pernas elegantemente e acendendo um charuto em seguida. Marcos está agitado em meus braços.
Embalo-o para que ele se acalme, o que está sendo bem difícil.

— Dê o peito para ele — Suzie fala, entregando-me o lenço que estava em seu pescoço para
que eu cubra meu seio. Assim que começa a mamar, Marcos finalmente se acalma.

— Sua tia tinha sido prometida a mim em casamento — começa. — Eu era completamente
louco por ela. O avô de vocês me devia muito dinheiro e, em troca do pagamento da dívida, exigi que
ele me desse a mão de Ekaterina em casamento. Ela era linda, uma mulher cobiçada por várias casas.
Muitos primogênitos a queriam, mas eu fui mais esperto e usei de chantagem para me casar com ela.
Deixei um dos meus homens cuidando dela para que não fizesse nada de errado até o dia do nosso
casamento, que aconteceria dois meses depois. Não é que sua tia se apaixonou pelo homem que
deveria cuidar de sua castidade? O idiota também se apaixonou por ela.

Dimitri é amedrontador. Todas nós mal respiramos de medo.

— Os dois fugiram juntos nas vésperas do casamento. Sua mãe, que era mais velha, foi
oferecida a mim. Só tinha um pequeno problema: ela tinha sido enganada por um cara, um bilionário
acostumado a deflorar mocinhas virgens. Sabendo do quanto Ekaterina amava a irmã, aceitei me
casar com ela só para me vingar. — Natasha está ouvindo tudo atentamente com lágrimas rolando por
seus olhos. Ekaterina também chora muito. — Ela sofreu muito nas minhas mãos, mas nada podia
fazer contra mim. Ela era uma fraca. Ivana era uma mulher sem fibra. Ao contrário da irmã, que
enfrentou a tudo e a todos por um mero soldadinho. Não é, Ekaterina? — O homem pede que a levem
até ele, e os homens a jogam aos seus pés. — Você ainda continua muito bonita! — Ele passa as mãos
por seus cabelos. — Quando sua mãe ficou doente, eu finalmente encontrei sua querida tia. Ela
estava vivendo na América com o seu soldadinho e tinha um belo garotinho. — Natasha olha
incrédula para a tia. — Mas eu não poderia permitir tanta felicidade, então ordenei que matassem o
pai e o garoto e a trouxessem de volta para mim.
— Eu te odeio! Seu maldito! — Ekaterina grita e parte para cima de Dimitri, mas os seus
capangas a seguram antes que ela encoste nele.
— É assim que eu gosto! Valente como sempre! Sabe que adoro te dobrar. Lembra da nossa
última vez juntos?
— Eu odeio você! Não é capaz de ter uma mulher a não ser à força! — Ekaterina grita.

— Cale-se! — ele grita de volta. — Quando sua tia foi trazida até a mim, ela estava muito
triste pela perda do seu adorado filho. — Ekaterina chora desesperada. — Mas ao ver sua sobrinha
sem mãe, já que minha adorada esposa havia falecido, ela não hesitou em cuidar dela. Para que ela
continuasse a desfrutar da companhia da sua querida menina, ela teria que me servir todas as noites
no meu quarto. E como me servia bem, meu amor. Não sabe quanta falta me fez durante esses anos.
— Ele segura em seu queixo e a beija. Ekaterina cospe em sua cara depois que ele a solta. Dimitri
lhe acerta um tapa e continua a falar como se nada tivesse acontecido. — Então, um dia, você
resolveu me enfrentar, não é? Veja essa marca em meu rosto!
Ele tem uma cicatriz que vai da maçã do rosto até o queixo.
— Seu maldito!

— Para me vingar, eu machuquei o seu maior tesouro. Aquela garotinha cuja vida Ekaterina
seria capaz de dar em troca. Eu sabia que você não era minha filha. Sempre soube. Então, foi tão
fácil. Eu já havia feito aquilo antes, quando a mãe dela ainda era viva. Mais uma vez não teria
problema. E você, Svetlana, se parecia tanto com sua tia. É tão bonita quanto ela. Eu a tranquei em
um quarto, enquanto abusava de você. Ela, sabendo o que aconteceu, decidiu ceder novamente às
minhas vontades, mas você tinha que abrir a sua maldita boca! — Ele aponta o dedo para Natasha. —
Fiquei preso por três anos! Sabem o que são três anos naquele chiqueiro? — Dimitri se levanta. —
Agora vocês vão pagar. E você, Ekaterina, será a primeira! — Ele a segura pelos braços e a aperta
contra seu corpo. — Vamos nos divertir um pouco lá em cima só para relembrar os velhos tempos.

Ekaterina se debate e grita, mas Dimitri é mais forte.

— Deixa a minha tia! — Natasha grita, mas um dos homens a segura.

— Isso mesmo! Continue lutando. Sabe que é assim que gosto de você! Vou domar você. —
Ele a beija, e ela morde sua boca. Dimitri lhe acerta outro tapa com as costas da mão, causando um
corte. — Levem Ekaterina para um dos quartos!

Dois homens a levam.

— Não! Não! Me soltem!

Eles a arrastam escada acima.

— Seu monstro! — Natasha grita.

— Calma, Svetlana, vamos nos divertir também!

Ele passa os dedos no rosto de Natasha, que cospe em seu rosto. Dimitri também bate em seu
rosto, ferindo-a da mesma forma que à sua tia. Em seguida, sobe a escada atrás de Ekaterina.
Só de pensar no horror que ela vai passar nas mãos daquele monstro, sinto um calafrio. De
repente, me lembro do dispositivo que David me deu e aperto o botão, torcendo para que ele volte o
mais rápido possível.

Marcos dorme em meus braços, e as garotas continuam chorando amedrontadas. Estou também
estou apavorada, mas tenho que me manter firme, pois meu filho precisa de mim lúcida para protegê-
lo. Pelo que ouvi de Dimitri, ele não tem coração. É capaz até mesmo de matar crianças inocentes.

— Amanda, fique atenta — Natasha fala para mim. — Aquele cara ali se chama Petrus
Marakov. Ele é cruel, é o braço direito de Dimitri. É capaz das piores atrocidades e ele não tira os
olhos de você.
Olho para o homem, e ele me joga um beijo. Que nojo! Ele deve ter uns quarenta anos, tem os
cabelos pretos e uma barba da mesma cor. Os olhos são escuros, e a pele é muito branca. Não é feio,
mas me causa arrepios. Seus olhos me lembram os dos tubarões. É como olhar para o vazio, pois
nada se vê neles a não ser a escuridão.
Uma hora depois, Ekaterina é trazida para a sala, toda machucada, com suas roupas rasgadas.
Os dois homens a jogam no chão, e Natasha corre até ela.
— Tia! Tia! Oh, meu Deus! O que aquele monstro fez com você?

Ela chora muito junto à tia, que está quase desfalecida no chão da sala. Dimitri surge em
seguida, abotoando sua camisa. Que nojo! Ele tem um sorriso de satisfação no rosto, causando-me
asco.

— Agora que já me diverti, vamos aos negócios! Tenho algumas coisas para esclarecer. — Ele
se senta novamente na poltrona. — Você e você! — Ele aponta para Natasha e Luisa. — As duas são
muito valiosas. Ganharei muito dinheiro com vocês. Seu pai me pagará muito bem por ter encontrado
suas filhas. Ekaterina, eu quero para mim! E você… — Ele aponta para mim. — Parece que Petrus
está encantado por suas cicatrizes. Ele me pediu você de presente, então ele a terá.

— Não! Não vou com ninguém! — grito desesperada.

— Você irá! Sabe por quê? Porque você ama muito seu garotinho e fará qualquer coisa para
protegê-lo — Petrus fala no meu ouvido e aperta meu braço. Ele tem razão. Eu farei qualquer coisa
para salvar a vida do meu filho.

— E quanto às outras, senhor? — pergunta um dos capangas.

— Tranque todas em um dos quartos. Não aguento mais ouvir seu chororô! Aqui só ficarão as
quatro e o menino.
Um frio percorre minha espinha cada vez que eu sinto os olhos de Petrus em mim. Quanto mais
as horas se passam, mais eu tenho medo de que David não consiga nos resgatar.
Troco as fraldas do meu filho no escritório, com Petrus me vigiando de perto. Quando digo de
perto, não estou falando de estar somente na mesma sala que eu. Ele praticamente tem o corpo colado
ao meu e fica me cheirando o tempo todo. Assim que deixo Marcos deitado no sofá dormindo, o
homem me agarra e prensa meu corpo contra a mesa. Luto contra ele, que é bem maior e me prende
ali.

Estou desesperada. Sinto seu membro rígido pressionando contra mim.

Não… Isso não está acontecendo novamente. O pior é que desta vez David não está aqui para
me salvar.
— Quero você desde que te vi dançando lá na boate — diz, lambendo meu pescoço. Quero
vomitar.
Começa a levantar meu vestido, e novamente luto contra ele, tentando impedi-lo de tocar em
mim. Ele pega uma arma, e realmente prefiro que atire na minha cabeça a tê-lo tocando em meu
corpo. Mas ao invés de apontar a arma para mim, Petrus aponta para meu anjinho, que está dormindo
no sofá.
— Você vai ser minha, de bom grado ou o seu bebezinho vai pagar! — Meu coração erra a
batida por um segundo. — Sabe quem foi que matou o garotinho da Ekaterina? — Fico paralisada
diante do horror que sinto. — Isso mesmo, fui eu! Fiz isso rápido. Um tiro na cabeça, pois o garoto
não precisava sofrer — diz com seu sotaque carregado, seu rosto colado ao meu. — Agora comece a
desabotoar seu vestido lentamente para mim.

O desgraçado continua apontando a arma para Marcos. Minhas mãos estão tremendo, e estou
suando em bicas, mas faço qualquer coisa por meu filho. Esses desgraçados sabem usar o que temos
de mais precioso contra nós. Usam o amor que sentimos para nos coagir.

Assim como Dimitri usou o amor que Ekaterina sentia por Svetlana, esse nojento usa meu amor
por Marcos contra mim.
Começo a abrir os botões do meu vestido. Petrus fica me olhando vidrado, esperando, e
começa a acariciar seu membro por cima da calça. Meu Deus, eu vou vomitar! A bile já está subindo
para minha garganta, não vou suportar. E então, vomito no chão.

— Sua vagabunda!

Ele me acerta um tapa tão forte que me joga no chão. Estou assim caída quando ouço tiros na
parte de fora da casa.
— Agora você vai pagar por isso, seu monstro! — digo e corro até meu filho, protegendo-o
com meu corpo. Petrus aponta a arma para mim, mas antes que ele atire, a porta é destruída e cai no
chão.

David está ali.

Vejo fúria em seus olhos ao ver meu rosto machucado. Ele olha para mim antes de lançar um
olhar fulminante para Petrus.
Estamos em frente à casa que descobrimos ser o esconderijo de Dimitri. Não vemos muito
movimento daqui, somente alguns soldados patrulhando o perímetro.
— As últimas imagens dos drones mostram que têm mais guardas guardando o perímetro —
Jake diz. Ele está certo.
— Sinto o cheiro de emboscada — falo.

— Eu também! — Carl vem para o nosso lado. — Vamos invadir logo para ver no que vai dar!

Ele gira as armas nas mãos, com uma goma de mascar entre os dentes.

— Vamos, está na hora de ver do que esses russos são feitos!

Andrew engatilha a arma, e Thomas pega suas facas. Invadimos e rendemos aquela meia dúzia
de homens que estavam ali.
— Eu falei que estava estranho! Não tem ninguém aqui, porra! — falo, socando a parede.
Então, recebo uma mensagem no celular. É do sinalizador que dei a Amanda. — Desgraçados! Eles
estão com as mulheres! — Meu coração falha uma batida, e sei que minha mulher e filho estão
correndo perigo. — Temos que voltar!
Todos me seguem, e entramos em nossos carros. Mesmo em alta velocidade, levaremos no
mínimo uma hora e meia para chegar. Durante todo o trajeto, faço uma prece em silêncio, pedindo
que nada de mau aconteça à minha mulher e filho.

— David, tenha calma, vamos conseguir salvá-los — Jake diz, tentando me acalmar.

Mas neste momento, nada nem ninguém vai conseguir me fazer ficar tranquilo. Não enquanto
não vir Amanda e Marcos salvos. Paramos os carros a uma boa distância da casa. Temos que pegá-
los desprevenidos.

— Vamos traçar uma estratégia! — Andrew fala, e Carl, muito nervoso, o interrompe.

— Cara, sem essa! Nossas mulheres estão lá dentro, vamos invadir logo! — Todos olhamos
para ele. — Ah, vai dizer que vocês não perceberam? Andrew passou a noite com a Luisa, e eu com a
Svetlana. Eu amo aquela mulher! Nenhum maldito mafioso vai a tirar de mim!
— Ok! Somos treinados para lidar com essas situações, então vamos lá — Andrew diz.

Andamos nos camuflando entre a vegetação que rodeia a parte de trás da casa. Aqui a
segurança está bem escassa, então entramos com facilidade, usando apenas as facas para não
chamarmos atenção.

Jake sinaliza para mim e entra na casa pela cozinha. Ele mata dois homens que estavam ali.
Espiono para ver quantos homens estão na sala, que é onde está Dimitri, sentado em uma poltrona.
Observo Natasha e Luisa sentadas no sofá em frente a ele. As garotas não estão ali, e Ekaterina está
deitada no outro sofá, muito ferida.
Quatro homens estão com ele, mas não vejo Amanda nem Marcos. Sinalizo para Jake, que
entende o que quero dizer. Andrew, Carl e Thomas invadem a sala. Todos apontam as armas uns para
os outros. Os capangas de Dimitri de um lado, e nossa família de outro, com as mulheres no meio.
Jake e eu continuamos escondidos, pois somos o elemento surpresa.
— Olá, Andrew. Quem diria que nos encontraríamos de novo? Onde está aquele seu primo que
matou o Yuri? David, não é? — Dimitri fala debochado.
— Cale-se, Dimitri! Se entregue de uma vez! — Andrew fala.

Meu pai e tios sobem a escada pela parte da cozinha. Volto minha atenção para a sala onde o
embate continua. Dimitri é traiçoeiro. Ele deve ter alguma carta na manga para estar tão tranquilo,
mas percebo que estou redondamente enganado quando ele aponta uma arma para Luisa.

— Qual é a sua, Andrew? É essa? Sim, é essa! Ela vai ser a primeira a morrer por sua
insolência.
Ele engatilha a arma.

— O que você quer? — Andrew pergunta.

— Larguem suas armas e chamem os outros!

— Não tem mais ninguém aqui!

— Pensa que sou idiota? Chame o seu pai, seus tios e aqueles seus primos ou você vai ver os
miolos dela espalhados pelo chão da sala!
— Tudo bem!
Andrew e os outros soltam as armas. Luisa chora muito. Natasha e dona Ekaterina também.
Estou muito ansioso, pois não vejo Amanda em lugar algum. Meu pai e meus tios descem com as
garotas. Não vejo minha mulher entre elas.
— Onde está Amanda? — pergunto à Nathalia.

— Aquele grandão, o tal de Petrus, a levou com Marcos para o escritório. David, acho bom
você se apressar. O cara olhava para ela como se quisesse a devorar!
Isso é o que basta para me tirar do sério. Engatilho a arma e saio atirando em todos os
capangas que estão na sala. Jake me segue, e eles revidam. Andrew, Carl e Thomas pegam suas
armas

— Se abaixem! — Carl grita para as mulheres, que se jogam no chão.

Deixo-os ali e sigo atrás de Amanda. Chuto a porta do escritório, que se parte em duas. O que
vejo lá dentro me deixa cego de ódio. O maldito está apontando uma arma para Amanda e Marcos. O
vestido dela está aberto, e ela tem o lado direito da face machucado. O desgraçado ousou bater nela!
É por isso que vai morrer.
— Amanda, vá até o banheiro — falo para ela, que segue até lá com meu filho nos braços e
fecha a porta.
— Então, Baker, seja homem e me enfrente desarmado! — ele fala, e aceito o desafio, pois
uma morte rápida não seria justa. Quero que ele sofra.
Largamos as armas ao mesmo tempo e corremos um na direção do outro. Começamos a lutar.
Ele, assim como Yuri, é bem maior que eu, mas ao mesmo tempo mais lento. Uso minhas técnicas de
kung fu e o acerto vários chutes e socos. Petrus tenta me acertar, mas sou mais rápido. Aplico
também alguns golpes de muay thai e o deixo no chão com todos os chutes que lhe acerto.
— Parece que não foi um bom negócio me enfrentar mano a mano, não é, Petrus? — pergunto,
acertando
ousado mais um chute nas suas costelas. Quero quebrar cada osso do seu corpo por ter
tocar na minha mulher. — Você vai morrer por ter colocado os olhos no que é meu! — grito,
acertando outro chute.
— Baker, seu idiota, fiz a sua mulher gemer e gozar enquanto a comia por trás. Aposto que ela
gostou, pois ela me pedia mais!
Pego a minha arma e miro em sua cabeça.

— O teu pau não é grande o suficiente para fazer uma mulher gemer! — Abaixo a arma
devagar e atiro nas suas bolas. Ele grita com a dor. — Pensou que a morte viria tão fácil assim? —
Atiro em seu joelho esquerdo. — Você vai implorar para que eu te mate! O que você fez com a minha
mul he r ?

— Já falei! Eu a fodi como um louco! E ela gostou!

Outro tiro, agora no joelho direito.

— É mentira! Só vou perguntar mais uma vez. Se a resposta não for a que eu espero, tem
alguém que vai adorar passar umas horas com você!
Thomas aparece na porta segurando suas facas, com aquele sorriso maléfico no rosto. Todos já
ouviram falar dele, e ninguém quer passar por suas mãos.
— Ei, Thomas! Esse não é o cara que você está procurando?

Petrus foi quem planejou a tortura de Molly. Ele foi o primeiro a violentá-la. Thomas daria
qualquer coisa para encontrá-lo.
— Baker, não toquei na sua mulher! Cara, ela vomitou somente por eu estar perto dela, eu juro!
Não me deixa aqui com ele! Me mata! Me mata! — ele implora.
— Eu falei que você iria implorar para que eu o matasse, mas não vai ser assim tão fácil. —
Olho para meu primo. Ele merece essa vingança. Foram seis anos esperando por isso, e agora Petrus
vai pagar por tudo o que fez Molly sofrer. — Thomy, ele é todo seu — digo e vou ver Amanda.

— Não! Não! Me mata logo! — Petrus continua a gritar.

Vou até o banheiro e bato na porta.

— Amor, está tudo bem agora! Pode abrir a porta! — Ouço o barulho da chave sendo girada.
Amanda abre a porta e se joga nos meus braços, chorando copiosamente. — Shiii! Está tudo bem!
Aperto-a bem em mim e tento acalmá-la, já que seu corpo inteiro treme. Pego meu filho dos
seus braços, e saímos. Na sala, a cena é de uma zona de guerra, com corpos espalhados por todos os
lados. O de Dimitri está lá com um tiro bem no meio dos olhos.

— Quem o matou? — pergunto. Amanda pega Marcos novamente.

— Ekaterina! — Carl fala.

Olho para a mulher, que está sorrindo. Sim, sorrindo em meio a esse horror. Ela percebe o meu
olhar e diz:
— Esse porco desgraçado nunca mais vai tocar em mim — fala com seu sotaque carregado e
cospe no corpo de Dimitri.
Amanda está indo para o nosso quarto, e eu a sigo. Quando fecho a porta atrás de mim, ela
deixa nosso filho na cama, para na minha frente e me acerta um tapa na cara.
— Isso é por ter me deixado aqui sem você! — Em seguida, me acerta outro tapa. — E isso é
por ter deixado aquele cara nojento ter tocado em mim. Eu vomitei, David! — Agora, ela me agarra e
me beija. — E isso é por ter chegado novamente na hora certa. Eu te amo!

A porta é aberta repentinamente, e um cara segurando uma arma aponta para Amanda e atira.
Não penso em nada a não ser me jogar na frente dela e protegê-la acima de tudo.
Sinto uma queimação em meu peito e ouço tiros, mas não consigo ver mais nada, pois minha
visão escurece. A última coisa que ouço é Amanda gritando meu nome e meu filho chorando. Não
conseguindo mais me segurar, deixo a escuridão me levar.

Acordo ouvindo muitas vozes.

— Conseguimos estabilizá-lo. Ele está consciente, mas o estado dele é grave!

Meu corpo balança, como se estivesse em um veículo em movimento, e ouço o barulho


constante de um bipe. Olho para a minha direita e vejo Amanda sentada ao meu lado chorando.
— Amor, por favor, não morre! — Ela segura minha mão, e tento falar para ela não se
preocupar, mas não consigo. — Como você se joga em frente de uma bala depois de tirar o colete?
David Baker, nem pense em me deixar sozinha, me ouviu? Eu não vou aceitar isso!

Não consigo manter meus olhos abertos. Ainda ouço Amanda gritando por mim, mas não posso
me manter acordado. Novamente tudo fica escuro.
Abro os olhos. Estou em um quarto totalmente branco, tão branco que chega a ofuscar minha
visão. Olho por todos os lados, e Amanda está dormindo toda torta em uma cadeira. Em meu peito,
tem um curativo. Estou coberto por vários fios. Tento me mexer, mas a dor é aguda. Solto um gemido
que acorda Amanda.
— Amor! Finalmente! Eu fiquei com tanto medo!

Ela me abraça, e sinto a dor novamente.

— Achou que se livraria de mim assim tão fácil? Eu te amo, olhos de chocolate. Vamos ficar
juntos para sempre. Isso é uma promessa.
— Saiba que eu vou cobrar.

Meus primos entram no quarto.


— Vejam só! A Bela Adormecida acordou! — Carl fala.

— Quanto tempo fiquei apagado? — pergunto.

— Duas semanas — Andrew responde.

— Duas semanas? Foi tão grave assim?

— A bala passou a um centímetro do seu coração — Amanda responde. — Eu quase perdi


você.
Ela começa a chorar.

— Da próxima vez, vê se fica com o colete! — Carl fala.

— Obrigado! Vou me lembrar disso da próxima vez.

Rimos.

— Como vocês podem estar rindo? O que aconteceu foi muito grave! David quase morreu!

Amanda chora compulsivamente. Meus primos ficam constrangidos, sem saber o que fazer
quando uma mulher está chorando. É um mal de família. Eles saem do quarto e me deixam com a
bomba nas mãos.

— Amor, me desculpa! Eu não quis brincar com isso.

Tento fazê-la se acalmar.

— Você tem que me prometer que vai deixar isso tudo para trás. David, eu não posso passar
por isso novamente. Não vou suportar te ver ferido. Foi horrível ver você desfalecido na minha
frente. Eu pensei que tinha te perdido para sempre! — Ela chora mais. — Um centímetro! Essa foi a
distância da bala que quase o matou. Um centímetro, David!
— Amor, o que queria que eu fizesse? Ele iria atirar em você! Entenda de uma vez, eu daria
minha vida por você sem pestanejar. Você é tudo para mim. Se eu tivesse que morrer para salvar sua
vida, eu morreria feliz. — Ela me abraça. — Eu te amo, Amanda, mais que a mim mesmo. Você
entrou em meu coração e ficou lá, como uma cicatriz que não pode ser apagada.
— Mas isso tudo ficou para trás, não ficou?

Amanda se afasta para me encarar.

— Eu já disse que iremos para o Brasil para nos casarmos, depois vamos encontrar um lugar
pacato para morar.

— Você promete?

Limpa as lágrimas com as costas da mão.

— Vem cá. — Ela vem. — Vamos morar onde você quiser.

— Obrigada, amor.

— Eu levei um tiro por você, mulher. Morar em uma cidadezinha pequena é moleza — falo,
beijando-a. — E agora também tenho minha cicatriz para combinar com você.
Nós nos beijamos.

— Eu falei com a Manu, e ela está precisando de alguém para ajudá-la na vinícola. Eu disse a
ela que você era ótimo com computadores e negociava como ninguém.
— Já está me arrumando um emprego? Você é rápida!

Ela sorri.

— Foi você quem disse que faria qualquer coisa por mim.

— Você é minha vida. Nada é mais importante para mim do que você.

E é a mais pura verdade. Nada mais tem sentido sem ela na minha vida. Amanda se tornou o ar
que eu respiro. Meu mundo, meu tudo. Ela é a dona de mim. Nunca pensei que isso fosse possível.
Amar tanto alguém a ponto de colocar minha vida em suas mãos.

A garota com olhos de chocolate roubou meu coração para sempre com seu jeito meigo,
sorriso franco e covinhas nas bochechas.
Olho para meu reflexo no espelho, vendo que estou linda. Mas não é a maquiagem ou meu
cabelo, muito menos o vestido de noiva que cobre meu corpo, e sim a alegria plena de estar me
casando com o amor da minha vida.
David, o garoto que vi quando eu tinha apenas doze anos, e ele dezesseis. O menino que usava
aparelhos ortodônticos e óculos de grau, mas que, ainda assim, roubou meu coração com seus olhos
de safira.

Esperei por ele sem nem ao menos saber que o esperava. Eu me guardei para ele sem saber
por que me guardava.
Quando nos reencontramos, eu o amei sem saber que ele também me amava. Então, a garota
tímida, a mulher sofrida e cheia de cicatrizes pelo corpo ganhou o coração do homem de alma
marcada pelo medo de amar. David finalmente se rendeu aos seus sentimentos. Ele provou que me
ama tanto que seria capaz de, literalmente, dar a vida por mim.
E ele é todinho meu.

Olho mais uma vez para o espelho e dou um sorriso. Mamãe, Samantha, tia Ruth e Manuela
entram no quarto.
— Oh, meu Deus! Você está maravilhosa! — Samantha fala, usando seu belo vestido vermelho.

Manu também está linda com um vestido da mesma cor, segurando sua menina nos braços.
Fiquei tão triste quando ela me contou o que houve entre Nick e ela, mas ainda torço por uma
reconciliação entre eles. Os vestidos das minhas damas de honra são da mesma com, em veludo, em
homenagem ao Red Velvet.
As meninas estão todas aqui, assim como os Baker. Andrew e Luisa estão juntos. E quando eu
digo juntos, quero dizer casados.
Assim que tudo aquilo acabou e David se recuperou, ele a levou para Las Vegas e os dois
casaram. O “Senhor Certinho” cometeu uma loucura. Em breve, Carl e Svetlana, pois minha amiga
não gosta que a chamem mais de Natasha, irão se casar. Sim, ela domou o garanhão mulherengo, que
agora dança pianinho em suas mãos e faz todas as suas vontades desde que descobriu que ela está
grávida.

Tia Ekaterina — é assim que todas as garotas da Red a chamam — está ajudando Luisa com a
administração da casa. Não sei, mas senti um clima entre ela e Fred, o nosso segurança, que também
está aqui.

Os tios de David, Michel e Johnny, também vieram com suas respectivas esposas, Juliet e
Alana. Pude ver de onde os primos herdaram as cores dos seus olhos. Thomas e Andrew têm os
olhos azuis da mãe, apesar de serem muito parecidos com o pai. Já Carl é a versão masculina da
mãe, ruivo e com olhos verdes como os dela.
Jake e Bela também vieram com os meus sobrinhos, Ana e Dudu. Isabela ostenta uma barriga
enorme de seis meses. Eles esperam um menino. Alessandro e Diana, meus sogros, também estão
aqui.

Meus tios, Sabrina e Renan, Ruth e Rodrigo, meus avós, Giovanna e Júlio, também estão aqui,
é lógico. Além da minha família materna, vovó Laura e vovô Carlos, mamãe e papai, meu irmão
Renato e meus primos Francesco e Valentina. O pai da tia Sabrina que celebrará a cerimônia. As
filhas, Deborah e Sarah, não vieram porque estão na Síria ajudando os refugiados. Aquelas duas
vivem assim, de um lugar destruído a outro.

Brizio está com o filho em seus braços e vem chamar Samantha.

— Mulher, o menino está com fome!

Ela o pega e expulsa Brizio do quarto. Senta-se em uma poltrona e começa a amamentá-lo.

— Ele ainda mama? — Manu pergunta.

— Sim, pretendo fazer isso até que ele complete dois anos — responde.

— Nicole não mamou mais que seis meses e meu leite secou — Manu comenta.

— Marcos mamou até os quatro meses. Com todas as emoções que vivemos, meu leite também
secou. David ficou muito triste, mas fazer o quê? Agora ele já está com quase um ano, e é forte e
saudável — digo.

— Além de ter aqueles olhos maravilhosos… — mamãe fala, ajeitando meu vestido. — Mas
agora vamos que a noiva já se atrasou demais.
Todas me dão um beijo e saem. Meu pai entra, tão lindo e imponente como sempre. Ele é o
homem que mais amo depois de David e do meu bebê. Sempre foi meu alicerce, meu apoio.
Eu sei que, quando mamãe desapareceu, ele se forçou a continuar vivendo somente por mim.
Sei que seria capaz de qualquer coisa por mim. Seus olhos já estão cheios de lágrimas ao olhar para
mim. Ele é grande e às vezes dá medo, mas eu sei o quão amoroso é. Sempre tem tempo para a
família, que é sua prioridade. Nada nunca é mais importante que Samantha, mamãe e eu. Depois
veio Renato, que também é tudo para ele.
Eu amo meu pai, porque ele sempre me amou em primeiro lugar.

— Você está linda! — diz, dando-me um beijo na testa.

— Você também está lindo! Mamãe deve estar babando por você hoje! — digo, sabendo o
quanto eles são apaixonados um pelo outro.
Sempre foi assim. O amor deles é incondicional. Tanto que mamãe perdeu a memória depois
de um acidente e se apaixonou por ele novamente assim que o viu. Ela nos conta que, quando viu
aquele homem lindo entrando no restaurante de beira de estrada que ela trabalhava — sem nem
saber
o próprio nome, pois não tinha lembrança nenhuma —, se apaixonou imediatamente por ele. Como
ela sempre dizia: “O cérebro não se lembrava, mas o coração jamais esqueceu”.

— Pronta? — pergunta, e engancho meu braço no dele.

— Mais que pronta!

Descemos a escada da casa deles.

Papai tem uma coisa com casarões. Essa não é tão grande quanto a casa de Manchester, mas
ainda assim é enorme. Tem um jardim maravilhoso, então não tinha como não realizar a cerimônia
aqui. O jardim foi todo enfeitado com frésias e rosas vermelhas. Um altar foi montado com um tapete
vermelho à frente, que se estende entre as cadeiras que foram posicionadas sob as árvores. Tudo
ficou muito lindo!

Papai e eu estamos no início do tapete. Eu tremo devido à emoção, e ele me segura firme, não
me deixando cair. A música Hallelujah começa a tocar, e ando lentamente sobre o tapete. Meu olhar
se prende em uma só pessoa. No homem lindo que está lá no altar me esperando. Não vejo mais
ninguém. Mais ninguém me interessa. Só ele.
É por ele que meu coração bate acelerado. É por causa dele que minhas mãos estão geladas e
suando frio. É por causa dele que sinto um frio nas minhas entranhas. Também é por ele que meu
ventre se aquece somente por olhar em seus olhos.

Hoje, seus olhos são como duas safiras e estão cheios de lágrimas, que me dizem que ele está
tão emocionado quanto eu.
Como David é lindo. Eu jamais pensei ser amada assim por alguém, quanto mais por ele, que
foi meu primeiro amor. Primeiro e único.
À medida que nos aproximamos, meu coração acelera, e meus olhos inundam, tamanha a
emoção que sinto. A cada passo dado em direção a ele, lembro-me do quanto foi difícil chegar até
aqui.
Tivemos que lutar contra nossos medos, nossas limitações, superar nossos complexos. Depois
que tudo isso ficou para trás, tivemos que lutar contra bandidos cruéis e sanguinários. David
demonstrou que daria a vida por mim quando levou um tiro em meu lugar e quase morreu.

Eu sei o quanto sou amada e agradeço todos os dias por isso.

Estamos frente a frente, e meu pai entrega minha mão a ele.

— Estou entregando a você meu tesouro.

— Agora ela será o meu tesouro também — David responde.

Estamos em frente ao pastor, que começa a cerimônia. Nunca duas frases fizeram tanto sentido.

“Eu sou do meu amado e meu amado é meu. Eu sou de minha amada e minha. amada é minha!”.

Essas foram as palavras que dissemos ao colocar as alianças um no dedo do outro, selando
nosso amor. Depois das milhares de fotos e de cumprimentarmos todos os convidados, vou para o
palco. Eu combinei com o tio Renan de fazer um dueto. Queria fazer uma surpresa para David, já que
ele adora me ouvir cantar.
— Boa noite! — começo a falar. — Nesta que é uma das noites mais felizes da minha vida,
quero cantar uma canção para o meu amor. Ela tem tudo a ver conosco, porque temos que aproveitar
cada instante ao lado de quem se ama. Hoje estamos aqui, mas o amanhã não é uma promessa. Por
isso, vou te amar intensamente como se fosse te perder a qualquer momento, porque o futuro é
incerto, mas o presente é real. A cada dia em que abrir meus olhos e você estiver ao meu lado, para
mim será como o último. Eu te amo, David.
Tio Renan e a banda começam a tocar os acordes da música Like I’m Gonna Lose You, da
Meghan Trainor e do John Legend. Eu começo a cantar a primeira parte, e David sobe no palco.
Termino minha parte e acho que tio Renan vai cantar a parte dele quando sou surpreendida com
David cantando a segunda parte. Poxa! Como ele canta bem! Será que existe alguma coisa que ele
não saiba fazer?

Fico ali, babando por ele, enquanto canta tão lindo para mim. Ao término da canção, meu
marido me abraça, e nós nos beijamos. Depois descemos para a pista de dança.
— Eu não sabia que você cantava! — digo a ele enquanto dançamos ao som de I Won’t Give
Up, do Jason Mraz, cantada pelo tio Renan.
— Não canto. Hoje foi só por você. Queria te fazer uma surpresa.

— É, e você conseguiu.

David me aperta bem ao seu corpo e diz, olhando em meus olhos:

— Eu te amo, Amanda Sullivan Baker. Você sempre será o farol que me guiará na escuridão.
Obrigado por entrar na minha vida e iluminar minha alma com sua luz.
Então, me beija apaixonadamente.

Eu sei que fomos feitos um para o outro, no mesmo peso e na mesma medida. Cada um com
suas cicatrizes, mas um sendo a cura do outro. O nosso amor curou todas as nossas dores e angústias,
tirando o peso dos nossos corações, preenchendo o vazio com o sentimento mais forte, puro e
verdadeiro que pode existir.
— Também te amo, David Baker. Obrigada por entrar na minha vida e me tornar mais forte
com sua força, me tornar mais confiante com sua confiança e, com seu amor, me fazer a mulher mais
feliz do mundo.
Estamos aqui na vinícola de Manuela. Três anos já se passaram desde o nosso casamento.
Trabalhar aqui tem me realizado mais do que eu imaginava. Ter uma vida pacata e tranquila tem sido
muito bom para nós.

Amanda é o meu verdadeiro amor. O meu único amor. Quando tomei aquele tiro por ela, não
foi só por ela que fiz isso. Foi por mim. Não aguentaria viver uma vida onde minha esposa não
estivesse presente. Ela é o meu farol, a luz que me guia. Sem Amanda, eu não sou nada. Sou apenas
uma casca seca e vazia, pois ela é o meu coração.
Ela me deu uma família, algo com que jamais sonhei. Ela me fez ver que sou alguém,
independente de minha origem. Não sou o que o meu sangue diz que sou, mas sim aquilo que quero
ser.

Por ela, me tornei um homem melhor, vivo, feliz, completo, porque Amanda é o que faltava em
mim. É a parte que me faz ser feliz. Ela é parte fundamental na minha vida.
Eu não pensaria duas vezes em tomar mil tiros por ela. Que ela não me ouça! Da última vez,
tomei a maior bronca.
Estou no hospital, vestindo as roupas para acompanhar o parto das minhas filhas, Angélica e
Amália, em homenagem às minhas avós, já que Manu terá uma menina e dará o nome de Giovanna.
Então, minhas avós terão duas bisnetas com seus nomes. Entro na sala de parto e encontro minha
esposa gemendo de dor. Ela não quis uma cesariana, e a médica falou que estava bem para um parto
normal.

— Amor! Que bom que chegou! — fala ofegante e grita com outra contração.

— Achou que eu não estaria aqui?

Seguro firme em sua mão, e ela aperta a minha quando outra contração a acomete.

— Está na hora! Vamos trazer essas meninas para este mundo. Preparada? — pergunta a
médica, posicionando-se em frente à Amanda.
— Sim! — Amanda responde.
— Então, quando a vontade de forçar vier, não se retraia, force com tudo o que puder.

Amanda força, e vejo as veias do seu pescoço saltarem devido ao esforço. Ela está muito
cansada e respira rapidamente, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Ela força mais uma
vez.

— Isso, já estamos vendo sua cabecinha. É cheia de cabelos! — a médica comenta. — Mais
uma vez e ela vai sair. Força!
Minha esposa empurra mais uma vez, e uma das nossas filhas sai nos braços da doutora, que
faz o procedimento para nossa menina começar a chorar. Não consigo conter a emoção. Minha
filha… Angélica.

— É a Angélica, amor! — Amanda fala e geme de dor novamente.

— Vamos que a irmãzinha não quer ficar para trás — a doutora fala, incentivando Amanda, que
empurra até que Amália também esteja nos braços da doutora.
— Amor, você foi muito corajosa! Eu te amo — digo, beijando-a.

— Que é isso! Foi moleza! Já estou pronta para outra — ela brinca. Depois segura em minha
roupa e me puxa para perto. — Se me engravidar novamente, eu te mato. — Em seguida, me beija de
novo.

— Agora, senhor Baker, pode esperar lá fora. Temos que terminar os procedimentos. Sua
esposa irá para o quarto em uma hora, mas as suas filhas estarão em breve no berçário.
Vou até a sala de espera, onde Manu, Nick e dona Lucinda me esperam.

— Nasceram! Elas são lindas! — falo, e Nicolas vem me abraçar.

— Parabéns. Em breve, seremos nós aqui, não é, meu bem? — ele fala para Manu, que já tem
sua barriga aparente, apesar de estar no quinto mês.
— Sim, em breve, Giovanna estará em nossos braços.

Estamos todos em frente ao berçário admirando minhas princesas.

— Você já se deu conta de que acaba de ser pai de duas meninas, e que meninas vão crescer e
arrumar namorados? — Nicolas pergunta, e sinto um calafrio só em pensar nisso.
— Nicolas! As garotas ainda nem têm um dia de vida e você já está pensando em garotos! —
Manu o repreende.
— Manuela, eu nem durmo direito só pensando em quando Nicole for adolescente! E ainda
teremos Giovanna! Eu mato os garotos que chegarem perto delas.
— Nicolas!

— Cara, eu não tinha pensado nisso.

Agora quem não vai conseguir dormir sou eu. Só de pensar em um moleque chulezento e
espinhento perto das minhas princesas, meu sangue ferve.
— Coitadas dessas meninas quando crescerem — Manu diz.

Vamos para o quarto de Amanda, que está super abatida, mas ainda continua linda.

— Prima, parabéns! — Manu a abraça.

— Meus parabéns! As meninas são lindas! — Nick fala. — Aquele buquê de flores fui eu
quem trouxe para você.
— Obrigada, Nick, você é muito gentil. Sabe que você é como um irmão para mim, não é? Eu
te amo.
Ela o abraça.

— Parabéns, Amanda! Suas filhas são lindas! — dona Lucinda fala e entrega duas caixinhas à
Amanda. — Esses são meus presentes para as meninas. São dois pares de brincos de ouro. É
tradição visitar um recém-nascido e trazer presentes, pois, assim como o menino Jesus foi
presenteado pelos Reis Magos, suas meninas serão presenteadas. — Amanda pega as caixinhas e
abre. Os brincos são lindos. Eles têm o formato de coração e, bem no centro, uma pedra safira. No
outro par, tem uma pedra escura que não consigo identificar. Topázio, talvez? — Tive um sonho em
que eu via a cor dos olhos das suas meninas. Quando vocês os virem, vão entender o porquê das
pedras — ela completa.
Dona Lucinda é uma mulher muito sábia. Eu acho que ela é um tipo de vidente, pois às vezes
ela fala umas coisas que acontecem realmente. Ela volta para casa, junto com Manu e Nick. Ficamos
apenas os dois no quarto.

— Como está se sentindo? — pergunto, sentando-me na beirada da cama.

— Exausta, mas louca para segurar nossas filhas nos braços.

Amanda nem termina a frase e a enfermeira já vem empurrando o carrinho onde minhas
meninas estão.
— Hora de alimentá-las.

A mulher ajuda Amanda a amamentar as meninas, o que não é uma tarefa fácil, mas minha
esposa persiste até conseguir. Depois de bem alimentadas, eu consigo segurar uma delas nos braços,
um pouco desajeitado porque ela é muito pequena. Tenho medo de machucá-la.

Estou observando seu rostinho rosado. Ela boceja, querendo dormir. Passo a ponta dos dedos
sobre sua bochecha macia, e minha princesa abre os olhos. Sou pego de surpresa com o que vejo.
Minha filha tem olhos de cor diferente, um castanho e o outro azul.

Olho para Amanda, que está olhando para nossa outra filha incrédula. Ela olha para mim, e
entendemos o que dona Lucinda quis dizer. Falamos com a médica, que nos explica que isso é uma
anomalia genética raríssima, que menos de um por cento da população mundial tem. Chama-se
heterocromia. Não tem perigo nenhum para as meninas, apenas as cores dos olhos são diferentes.
— Elas vieram com uma parte minha e outra sua! — Amanda diz.

— Bem, assim não vamos brigar para dizer com quem elas se parecem mais — falo.

Flora chega com o nosso menino.

— Tive que trazê-lo. Ele estava muito inquieto, querendo conhecer suas irmãzinhas.

Marcos solta das mãos da babá e vem correndo ver as irmãs.

— Veja como elas são lindas, filho — Amanda diz.

— Elas são nosso tesouro. Temos que cuidar delas com muito amor e carinho. Você, como
irmão mais velho, deve ajudar a protegê-las.
— Sim, papai!

Marcos passa a mão na cabecinha e dá um beijo em cada uma delas. Meu coração está inchado
dentro do peito, parecendo que vai explodir de tanta felicidade. Em pensar que quase perdi tudo isso
por medo e teimosia.

Que vida eu teria se Amanda não tivesse aparecido? Como eu estaria agora? Infeliz e
amargurado com certeza.
Amanda veio e me tirou daquele abismo escuro e frio em que eu me encontrava, levando-me
para o paraíso que é viver ao seu lado.
No final, aquilo que eu mais temia foi o que me salvou: minha família.
Perdoa-me, livro 5 da série Reaprendendo a Amar.

No quinto livro da série, irei contar a improvável história de amor entre Nicolas e Manuela.

Após receber de herança a fazenda de seu avô, Ruth e Rodrigo se mudam para lá. Enquanto
Nicolas cresce e se torna um campeão do octógono, Manuela cresce no interior da fazenda junto aos
seus pais. Seus caminhos se separam. Nicolas fica famoso, e sua vida é agitada, regada de festas,
bebidas e mulheres.
Os anos se passam e a luta da sua vida é marcada. Decidido a vencer, ele vai para a fazenda da
sua tia, onde pretende se preparar o grande confronto. Chegando lá, o que Nick não esperava é que
uma certa loira de olhos cor de violeta fosse roubar seu coração para sempre. Mas seu temperamento
forte e ciúme exagerado vão pôr tudo a perder. Nicolas vai ter de correr atrás para conseguir o
perdão da sua amada.

Acompanhe comigo mais essa emocionante história de amor, em que as intrigas e a inveja
podem pôr a perder um amor verdadeiro.

OS LIVROS DA SÉRIE:

Livro 1 – Almas Feridas Livro

2 – Maktub

Livro 3 – O Som do Coração

Livro 4 – Cicatrizes

Livro 5 – Perdoa-me

Spin-off – Único Amor

Até breve!
Almas Feridas: Livro 1 da Série Reaprendendo a Amar (adquira aqui)

Sinopse

Ela teve que viver seu pior horror, para encontrar seu grande amor.

Diana é uma jovem que conheceu o pior do ser humano. Ela viveu em um cativeiro por três
anos e foi resgatada por duas mulheres, que se transformaram em suas melhores amigas, ajudando-a a
recuperar sua autoestima. Mas ambas também ficaram em perigo graças ao sequestrador, que não se
conformou em ficar sem ela.
Decidida a superar as dificuldades e o sofrimento, a mulher conhece Alessandro, um homem
amargurado e vazio, que perdeu a esposa grávida em uma emboscada articulada pela máfia. Ao
conhecer Diana, ele fica completamente perdido, pois ela é idêntica à sua falecida esposa, deixando-
o muito confuso.
Será que ele está apaixonado por Diana ou é um encantamento pela memória de sua esposa
assassinada? Como se entregar ao amor tendo a alma tão ferida? É o que vamos descobrir nesta bela
história.

Maktub: Livro 2 da Série Reaprendendo a amar (Adquira aqui)


Sinopse

AINDA QUE EU PERDESSE A MEMÓRIA, MEU CORAÇÃO SEMPRE LEMBRARIA DE


VOCÊ
Eles se apaixonaram à primeira vista e viveram intensamente esse amor.

Até a inveja e a obsessão de uma mulher maldosa separá-los.

Após um sequestro, Helena sofre um grave acidente e perde a memória.

Ajudada por um casal de idosos ela se descobre grávida sem lembrar ao menos o seu nome.

Anos depois trabalhando em uma lanchonete de beira de estrada, ela encontra um homem lindo
que faz seu coração bater mais forte.
O que ela não sabe é que ele é seu esposo e pai de sua filha.

Ela se sente atraída por ele de uma maneira inexplicável.

E agora Caleb tem o desafio de fazê-la lembrar de tudo o que viveram.

Uma história de amor intensa.

Que se repete para Helena ao se apaixonar duas vezes á primeira vista pelo mesmo homem.
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