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PERFIL DOS TRABALHADORES HAITIANOS EM UMA AGROINDUSTRIA DO


MUNICÍPIO DE CHAPECÓ/SC

Taciane Martiori1
Niloar Bissani2

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar o perfil dos trabalhadores haitianos em uma
agroindústria do município de Chapecó/SC. Além de Conhecer como vivem identificar os
principais motivos pelos quais optaram por escolher esta cidade para trabalhar, quais as rotas
foram as mais utilizadas para chegar ao Brasil e demonstrar através de dados da empresa a
parcela significativa de mão de obra que é utilizada desses imigrantes. Foram avaliados dados,
fornecidos pela área de recursos humanos da empresa, sobre os fechamentos de contratação
de funcionários efetivados entre os dias 01 à 31 de março de 2015 e realizadas entrevistas
com cinco funcionários imigrantes de origem Haitiana. Durante o período pesquisado os
funcionários haitianos representaram 9% do total dos funcionários contratados pela empresa,
demonstrando um percentual significativo de contratações. Todos citaram ter escolhido a
cidade de Chapecó para trabalhar por indicação de amigos devido às oportunidades de
trabalho e de estudo.

Palavras chave: Imigrantes. Haitianos. Agroindústria. Perfil.

1 INTRODUÇÃO

O trabalho estrangeiro no Brasil em relação aos seus efeitos e implicações


transformou-se em um importante fator social, pois a cada ano que passa milhões de
estrangeiros se deslocam para diversas regiões brasileiras (FAUSTO, 2006).
O Brasil após a colonização acabou sendo um grande acolhedor de imigrantes, pois
foram estes que formaram o país. Os primeiros imigrantes a vir para o Brasil foram os
escravos, eles vieram atender a falta de mão de obra nas lavouras e na indústria (FAUSTO,
2006).
Diariamente chegam ao Brasil imigrantes de vários países, a maioria dos estrangeiros
regularizados, mas, existem muitos casos de imigrantes irregulares. Quando o governo
concedeu anistia a imigrantes irregulares o Ministério do Trabalho acreditava que o número
de imigrantes em situação irregular no Brasil era de 180 mil. Entretanto, outras fontes como

1
Graduada em Tecnologia de Alimentos. Cursando MBA em Gestão de Pessoas e Desenvolvimento
Organizacional pela UCEFF Faculdades. E-mail: tacimartiori@hotmail.com.
2
Especialista em Gestão de pessoas – UCDB, Especialista em Gestão de Marketing em Serviços e Varejo – UPF
e Graduado em Administração com ênfase em Recursos Humanos – CELER FACULDADES. Docente na
UCEFF Faculdades. E-mail: niloar@uceff.edu.br.
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institutos e Organizações Não Governamentais - ONGs que auxiliam imigrantes no Brasil,


afirmavam que esse número é ainda maior, e estimavam que a quantidade de imigrantes
irregulares no Brasil era de 300 mil (MILESI e ANDRADE, 2010).
Durante décadas o país recebeu grande quantidade de estrangeiros, mas, foi durante
uma grande crise nos anos 80 que o Brasil perdeu muito do seu povo brasileiro, onde os
mesmos foram em outros países buscar uma qualidade de vida melhor para suas famílias,
destacando assim o Brasil como um país de imigração (BAENINGER, 2013).
A maioria dos estrangeiros que moram no Brasil, veio para trabalhar, estudar, ou
somente para acompanhar seus cônjuges, mas, por outro lado, o número de brasileiros que
deixam o Brasil rumo ao exterior pelos mesmos motivos também é grande (BAENINGER,
2013).
Observa-se uma crescente presença da mão de obra do povo haitiano por ser barata e
flexível atuando também no mercado de trabalho brasileiro, com isso, o presente trabalho tem
como objetivo principal analisar o perfil dos trabalhadores haitianos em uma agroindústria do
município de Chapecó, Santa Catarina (COSTA, 2012).
Sendo assim, levanta-se uma questão sobre o perfil desses imigrantes, seu estilo de
vida, o que os fez optar por Chapecó/SC para trabalhar e qual é o impacto do trabalho desses
imigrantes para essa agroindústria do município. Para responder a essa questão, o trabalho
baseia-se em um referencial teórico dividido nos seguintes tópicos: imigração estrangeira; o
trabalho estrangeiro no mercado de trabalho brasileiro; Inserção dos imigrantes estrangeiros
no espaço nacional; Impactos do trabalho estrangeiro para a região oeste catarinense e Perfil
dos trabalhadores Haitianos em pesquisa realizada com os dados de contratação da empresa
entre 01 de janeiro à 31 de março de 2015 e em entrevistas realizadas com cinco desses
imigrantes haitianos.

2 IMIGRAÇÃO DE ESTRANGEIROS NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO

Em virtude da colonização no Brasil, a migração passou a contribuir na formação


social do país. O Brasil começou a se inserir no novo contexto das migrações internacionais a
partir das duas últimas décadas do século passado, ao presenciar o movimento de saída de
muitos brasileiros para o exterior e a entrada de um fluxo muito grande de estrangeiros no
país (BAENINGER, 2013).
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Nesse sentido, as migrações internacionais aparecem novamente no cenário brasileiro


como uma importante questão, pois, após quase um século da entrada em massa de
estrangeiros no Brasil, os movimentos populacionais contemporâneos ocorrem num contexto
de enormes transformações econômicas, sociais, políticas, culturais e ideológicas que
transcorrem desde o final dos anos 1980, e acabaram por configurar esses deslocamentos
populacionais contemporâneos (FAUSTO, 2006).
A partir da década de 90, ocorreu à entrada de coreanos e imigrantes vindos da
América Latina, fazendo com que grande parte das indústrias de confecção em São Paulo - SP
seja administrada por coreanos, esses por sua vez, acabam por contratar bolivianos, peruanos
e colombianos para trabalhar nesse setor, porém a grande maioria desses trabalhadores
encontra-se em situação irregular no país (BAENINGER, 2013).
O censo demográfico de 2014 demonstrou que existem 92.529 estrangeiros no Brasil,
sendo portugueses, bolivianos e paraguaios, ambos distribuídos em várias regiões do país. A
maioria desses estrangeiros trabalha no setor de serviços em trabalhos manuais, com baixa
qualificação e remuneração, mesmo tendo curso superior completo ou ensino médio completo
em seus países de origem (PATARRA, 2015).
A expansão do setor de petróleo e gás atraiu um número recorde de trabalhadores
filipinos ao Brasil para exercer atividades em alto-mar. Com o mercado em alta, a Petrobrás e
outras empresas petrolíferas de produção e exploração contratam prestadoras de serviço que
trazem o pacote completo, com embarcações e mão de obra estrangeiras. A maior parte das
autorizações é concedida para a realização de serviços de curto prazo, por isso, as empresas
ficam desobrigadas de contratarem operários brasileiros. A presença de mão de obra local é
exigida quando embarcações e plataformas estrangeiras operam no país por mais de 90 dias
contínuos (O ESTADÃO, 2015).
A Organização Internacional para as Migrações - OIM afirma que o processo de
reestruturação produtiva tem atraído um contingente importante de estrangeiros para trabalhar
em empresas instaladas no Brasil. Assim, em 2008, cerca de 60% das autorizações de trabalho
concedidas no Brasil contemplaram um contingente de estrangeiros com curso superior
completo, incluindo mestrado e doutorado (OIM, 2010).

2.1 IMIGRAÇÃO HAITIANA NO BRASIL


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O mundo nunca teve tanta gente morando fora do país de origem. A Organização das
Nações Unidas - ONU avalia que existem atualmente 160 milhões de migrantes, pessoas
vivendo fora do seu país pelas mais variadas razões - da mudança temporária por exigência do
trabalho à tentativa de uma vida melhor no exterior fugindo de guerras (EBC, 2015).
Movimentos de imigração para o Brasil se intensificaram em 2012, especialmente de
haitianos, bolivianos, espanhóis, franceses e americanos. Segundo dados do Ministério da
Justiça, em seis meses, a imigração cresceu 50%, em comparação com o total de entradas
verificado no final do ano de 2010. Atualmente, o país conta com 1,5 milhão de imigrantes
legalizados (EBC, 2015).
Devastado por um terremoto no dia 12 de janeiro de 2010, o Haiti ainda está à espera
da reconstrução. A situação crítica em que está o país – sem coleta de lixo, com esgoto a céu
aberto e fome. A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti - MINUSTAH,
comandada pelo Brasil, atua não só no restabelecimento da paz, mas sobretudo em ações
humanitárias. As tropas trabalham, por exemplo, na perfuração de poços artesianos na
tentativa de amenizar um dos principais problemas do Haiti: a falta d'água. A ajuda
humanitária é feita também por freis franciscanos brasileiros, na Casa de Francisco. Lá, a
população haitiana tem acesso a cursos profissionalizantes, serviços de saúde, alimentação e
ensino infantil. Para tentar retomar o desenvolvimento econômico, o país aposta no turismo.
No litoral, as belas praias atraem famílias de estrangeiros e haitianos (CHAPECÓ MAIS,
2015).
Os milhares de imigrantes haitianos que deixaram o país após o terremoto são
responsáveis por uma das maiores diásporas modernas na América Latina. O terremoto no
país, há cinco anos, não apenas prejudicou a infraestrutura básica do Haiti, mas comprometeu
o mercado de trabalho. Atualmente, ter um emprego com carteira assinada e demais
benefícios é quase um luxo, o que explica a busca de condição de vida digna a milhares de
quilômetros da ilha caribenha (CHAPECÓ MAIS, 2015).
Foi no ano de 2010 que intensificaram os primeiros movimentos de imigração no
Brasil, especialmente de haitianos, em seis meses a imigração cresceu 50%. Atualmente, o
Brasil conta com 1,5 milhões de imigrantes legalizados. De acordo com o Conselho Nacional
de Imigração - CNI, entre os fatores para o aumento da presença de estrangeiros no país está
a crise internacional que atingiu a zona do euro e levou imigrantes europeus para países da
América Latina e Caribe. O Haiti, atingido nos últimos anos por desastres naturais que
agravaram problemas já crônicos do país, viu milhares de cidadãos deixarem sua terra natal
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em busca de melhores condições no exterior. Muitos chegaram ao Brasil de maneira ilegal,


por meio de “coiotes”, à procura de oportunidades e postos de trabalho. A chegada, no
entanto, também se deu em condições difíceis. Muitos imigrantes acabaram submetidos
a trabalho semiescravo e ainda aguardam regularização de sua situação junto à Polícia
Federal, (CNI, 2014).
Entre 50 e 100 haitianos entram por dia no Brasil ilegalmente, pelo estado do Acre.
Segundo o governo do Acre, desde dezembro de 2010, cerca de 130 mil haitianos entraram
pela fronteira do Peru com o Estado e se instalaram de forma precária nos estados do
Pará, Acre, Amazonas, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Entre janeiro e setembro do ano
de 2011, foram 6 mil e, em 2012, foram 2.318 haitianos que entraram ilegalmente no Brasil
(COSTA, 2012).
Os haitianos chegam ao estado do Acre, de ônibus e são orientados a procurar a
delegacia da Policia Federal - PF solicitando refúgio para poder obter os mesmos direitos que
cidadãos brasileiros, como saúde e ensino, também podem tirar carteira de
trabalho, passaporte e CPF, sendo registrados oficialmente no país. Após o registro na PF, a
documentação segue para o Comitê Nacional de Refugiados - CONARE e para o Conselho
Nacional de Imigração - CNIG, que abrem um processo para avaliar a concessão de residência
permanente em caráter humanitário, com validade de até 5 anos (RIBEIRO, 2015).
Atingido nos últimos anos por desastres naturais que agravaram problemas já
crônicos do país, o Haiti viu milhares de cidadãos deixarem sua terra natal em busca de
melhores condições no exterior. Muitos chegaram ao Brasil de maneira ilegal, por meio de
“coiotes”, à procura de oportunidades e postos de trabalho. A chegada, no entanto, também se
deu em condições difíceis. Muitos imigrantes acabaram submetidos a trabalho semiescravo e
ainda aguardam regularização de sua situação junto à Polícia Federal. Em janeiro de 2015, o
secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, pediu ajuda federal para
atender os haitianos refugiados no município de Brasiléia (EBC, 2015).
Os haitianos não são considerados refugiados no Brasil. Segundo a lei brasileira, o
refúgio só pode ser concedido a quem provar estar sofrendo perseguição em seu país, por
motivos étnicos, religiosos ou políticas. Porém, em razão da crise humanitária provocada pela
catástrofe de 2010, o governo brasileiro abriu uma exceção, concedendo-lhes um visto
diferenciado (BAENINGER, 2013).
Sabe-se que ainda á muitos haitianos em condições ilegais por fatores burocráticos e
exigências feitas pelo Ministério das Relações Exteriores para a entrada de estrangeiros no
220

país. Acredita-se que diálogos com governantes do Peru e equador sobre os vistos dos
imigrantes resolveria grande parte dos problemas da imigração ilegal (RIBEIRO, 2015).
Em abril de 2013, os órgãos governamentais do Acre decretaram situação de
emergência social em alguns municípios em consequência da chegada descontrolada de
imigrantes nestes locais, em sua maioria haitianos. Mas, alguns abrigos em várias cidades
foram montados para instalar esses imigrantes. No mês de abril de 2014, em razão das
enchentes do rio Madeira, alguns abrigos, já então superlotados, tiveram que ser fechado,
deixando a grande maioria desses haitianos desabrigados (PORTES, 2012).
Dos mais de 30 mil haitianos que cruzaram a fronteira brasileira nos últimos anos,
segundo o governo do Acre, principal acesso ao Brasil, a maior parte foi acolhida em São
Paulo ou nos estados do Sul, principalmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. No
município catarinense de Chapecó/SC, no oeste do estado, os imigrantes trabalham em
frigoríficos e moram nos bairros da periferia (CHAPECÓ MAIS, 2015).
Em consequência do fechamento dos abrigos em várias cidades que costeavam o rio
Madeira, o governo do Acre despachou os migrantes para Rio Branco, de onde seguiram
viagem para outros estados. Desde os dias 8 e 9 de abril de 2014, a chegada massiva de
haitianos à cidade de São Paulo sem aviso prévio, em ônibus fretados pelo governo do Acre
chamou a atenção da imprensa, da sociedade civil e de diversas organizações humanitárias (O
ESTADÃO, 2015).
Ao chegar à capital paulista, muitos deles procuram a Missão Paz, que é
uma Organização não Governamental - ONG ligada à Pastoral dos Migrantes. Fundada por
religiosos scalabrinianos, funciona na paróquia de Nossa Senhora da Paz, no bairro do
Glicério. Desde 1939 em atividade, a Missão acolhe diariamente 110 imigrantes e de 60 a 70
nacionalidades por ano. 11 650 haitianos passaram pela Missão Paz entre 7 de abril e 11 de
maio de 2014. A entidade atende imigrantes e refugiados de todo o mundo desde sua
fundação, em 1939. O padre Paolo Parise, coordenador da Missão, destaca a necessidade de
que o Brasil disponha de uma lei de migração humanista e clara, em substituição à Lei nº
6.815, de 19 de agosto de 1980 (Estatuto do Estrangeiro), uma "herança do tempo
da ditadura". Segundo ele, o país carece de uma política de migração de fato, e o Estado - não
as organizações da sociedade civil - é que deve ser o protagonista nas ações em favor dos
migrantes (RIBEIRO, 2015).
O Brasil emite mais de 100 vistos por mês para cidadãos do Haiti, conforme o
Ministério da Justiça. Segundo a pasta, a emissão dos documentos a quem busca entrar
221

legalmente no país visa evitar que os haitianos migrem irregularmente, com a ajuda de
organizações criminosas (GLOBO, 2015).
Os haitianos deixam seu país e suas famílias principalmente em busca de trabalho.
Acreditam que no Brasil seja mais fácil, por ser o único pais que os recebe com humanidade.
Os imigrantes precisam trabalhar no Brasil, pois precisam se manter e enviar dinheiro para
suas famílias que ainda residem no Haiti (CNI, 2014).

2.2 HAITIANOS NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO

Os movimentos migratórios se inserem como um processo inerente às grandes


mudanças internacionais, fazendo com que países caracterizados pela imigração se
transformem, em pouco tempo, em países exportadores de mão de obra ou vice-versa. Além
disso, alguns países observam o crescimento, nas suas cidades e estados, da chamada cultura
de emigração e, em alguns casos, passam a ter seu Produto Interno Bruto - PIB diretamente
dependentes das remessas dos emigrantes. Outras áreas do planeta se tornaram lugares de
trânsito ou países de acolhida para populações migrantes. Assim, o fenômeno migratório
contemporâneo possui uma complexidade sem precedentes na história recente das migrações
(PORTES, 2012).
O Observatório das Migrações Internacionais - OBMigra relata que os imigrantes
haitianos são considerados a maior nacionalidade no mercado de trabalho brasileiro o número
de imigrantes no mercado de trabalho formal cresceu 50,9%, entre os anos 2011 e 2013. A
população de haitianos no Brasil cresceu aproximadamente 18 vezes, passando de pouco mais
de 814 imigrantes, em 2011, para 14.579 empregados no mercado de trabalho formal em
2013, superando os portugueses. A entrada dos haitianos no Brasil se dá pelo Acre, onde, é a
principal porta de entrada deles no país. Se for somado os imigrantes sem vínculo formal de
trabalho, o coletivo de haitianos possui uma presença significativa no Brasil, sendo possível
conjeturar que, dada as características do fenômeno migratório atual e a lógica das redes
migratórias, esse coletivo terá um lugar permanente no cenário da imigração no país, tanto em
termos numéricos, quanto simbólicos, culturais, econômicos e sociais (OBMigra, 2014).
Sabe-se que os estrangeiros que vem para o Brasil, são componentes importantes para
a questão social, pois, cada etnia cria seu próprio grupo e cada um com suas origens. Portanto,
o fluxo de estrangeiros haitianos mostra-se associado às mudanças ocorridas nos setores da
indústria e de serviços do Brasil, acompanhando o desenvolvimento destes, o que fez gerar
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grandes demandas por força de trabalho, especialmente por aquela de perfil menos qualificado
(OBMigra, 2014).
Por serem trabalhadores “indocumentados”, sem conhecimento do idioma nacional e
da proteção legal a que têm direito, ansiosos para começar a trabalhar e reconstruir suas vidas,
os imigrantes haitianos se tornam bastante vulneráveis à ação de redes de “coiotagem” e
tráfico de pessoas, que os orientam durante a trajetória até o Brasil, e também de eventuais
empregadores no lugar de destino, pois chegam com a necessidade imperiosa de trabalhar
para quitar as dívidas contraídas com a viagem e para ajudar os familiares que permanecem na
terra natal (CARVALHO, 2015).
Com isso, muitos estrangeiros se sujeitam a ficar em condições que os deixam
expostos a exploração do trabalho com jornadas de trabalhos exaustivas e forçadas, ficando
para ele ofícios perigosos, pesados e com baixa remuneração. Muitas empresas brasileiras se
deslocam até o Acre para selecionar estrangeiros para trabalhar nas suas empresas, pois, nota-
se uma grande disposição física para o trabalho, vontade e interesse em aprender (RIBEIRO,
2015).
Apesar do trabalho árduo, que inclui horas de atividade física repetitiva sem desviar o
foco do manuseio de facas e serras elétricas os haitianos se dizem conformados com o
emprego. O salário líquido, por volta de R$ 1 mil, não tem atraído muitos brasileiros. Por
isso, a mão de obra estrangeira é mais do que bem-vinda para as empresas. Para os haitianos,
a quantia também é considerada baixa, principalmente com a atual depreciação do real em
relação ao dólar, o que diminui o valor que eles podem enviar às famílias no Haiti, ao
converterem para a moeda americana (CHAPECÓ MAIS, 2015).

2.3 IMPACTOS DOS HAITIANOS PARA O MERCADO DE TRABALHO NA REGIÃO


OESTE CATARINENSE

Apenas este ano, Santa Catarina emitiu mais de duas mil carteiras de trabalhos para
haitianos, que chegam ao estado cada vem em maior número. De acordo com Ministério do
Trabalho - MT (2015, p. 01): “nos cinco primeiros meses de 2015, a Superintendência
Regional de Trabalho e Emprego - SRTE emitiu 2.259 carteiras de trabalho mais do que o
dobro dos 986 documentos expedidos em todo o ano passado”.
Em 2013, os haitianos se tornaram o grupo de imigrantes com maior presença no
mercado brasileiro de trabalho formal. A mão de obra haitiana é muito importante para o
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mercado de trabalho catarinense, pois nos abrigos instalados em Florianópolis empresários de


várias cidades buscam informações dos haitianos que chegam ao estado (CARVALHO,
2015).
A maioria dos haitianos sai pronto para o mercado de trabalho, carteiras de trabalhos
registradas nos órgãos competentes, e o fato que chama atenção é que as carteiras de trabalho
dos haitianos têm sido expedidas de um dia para o outro, somente demora para os haitianos
caso eles não tenham CPF, enquanto que para os catarinenses demora em torno de 10 a 15
dias (CARVALHO, 2015).
Em algumas cidades catarinenses os haitianos têm moradia paga pelas empresas e
estão dividindo casas. Alguns casais decidem morar sozinhos e arcam com os custos. Dados
do Conselho Nacional de Imigração - CNI órgão vinculado ao Ministério do Trabalho
indicam que o Sul é a região que mais abriga haitianos com carteira de trabalho assinada,
quando analisados os dados de 1º de janeiro de 2010 até 30 de setembro de 2013, os mais
recentes disponíveis. De 12.352 haitianos que tiveram carteiras de trabalho emitidas, 5.670
estão de fato trabalhando, sendo 1.275 no Paraná, 1.020 no Rio Grande do Sul e 971 em Santa
Catarina. As estimativas não oficiais indicam a presença de 20 mil haitianos trabalhando no
país, (CNI, 2015).
O impacto da presença dos Haitianos está preocupando muito a população catarinense,
pois, os Haitianos contavam 0 (zero) indivíduos empregados em Santa Catarina no ano de
2011, passando para 75 em 2012 e saltando para 1.281 em 2013. Em apenas dois anos,
deixaram de ser desconhecidos para virar o grupo mais numeroso. Os Haitianos representam
no estado de Santa Catarina, 29,3% dos estrangeiros com vínculo formal de trabalho em 2013
(CARVALHO, 2015).
Os haitianos estão inseridos no mercado de trabalho formal brasileiro,
majoritariamente, no segmento de trabalhos de produção de bens e serviços industriais e
trabalhos de vendedores do comércio em lojas e mercados (CNI, 2015).

3 METODOLOGIA

O presente estudo utiliza o método analítico descritivo com objetivo de analisar o


perfil dos imigrantes haitianos que atuam em uma agroindústria no município de Chapecó/SC
e o impacto que essa mão de obra representa para empresa. Uma pesquisa descritiva tem
como objetivo primordial a descrição das características de uma determinada população ou
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fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis envolve técnicas padronizadas


de coleta de dados como observação sistemática. Para tal foi utilizada a técnica de
levantamento ou survey: coleta de dados junto a número significativo de pessoas sobre
determinado problema (GIL, 2010).
Como instrumento de coleta de dados foi realizado entrevistas com cinco pessoas de
nacionalidade haitiana através de amostra não probabilística intencional, no período de 01 à
31 de março de 2015.
A amostra não probabilística intencional tem menos uso em pesquisas cientificas, é
construída sem cálculos probabilísticos, o pesquisador ou um conhecedor da população
orienta a escolha dos elementos que participaram da amostra (FIGUEIREDO, 2012).
A interpretação dos dados foi realizada por meio qualitativo. Levando-se em
consideração seu conteúdo, a forma de apresentação adotada na maioria dos casos é a
elaboração de textos; o pesquisador tem maior trabalho intelectual para tratar e analisar os
dados (GIL, 2010).
Após a elaboração de todo o referencial teórico, entrevistas e pesquisa nos dados de
contratação da empresa foi feito a conclusão de toda a pesquisa baseando-se nos objetivos e
no problema proposto.

4 PERFIL DOS TRABALHADORES HAITIANOS EM UMA AGROINDUSTRIA DE


CHAPECÓ/SC

Em 2011, quando começou a forte imigração para o Brasil, os haitianos já tinham em


mente morar no país. Vários dos entrevistados em Brasileia e Assis Brasil, no Acre, disseram
que pretendiam juntar dinheiro para trazer o restante da família. Boa parte dos haitianos que
fizeram do Brasil sua segunda nação é constituída por profissionais qualificados com
formação em medicina, enfermagem, engenharia e letras, principalmente. Também falavam
com fluência o inglês, francês, espanhol e a língua nativa, o crioulo. Muitos, mesmo com
dificuldade, já conversavam em português (CHAPECÓ MAIS, 2015).
Esses dados são demonstrados no fechamento das contratações do mês de março de
2015 que totalizam na unidade 711 funcionários, destes 64 são de nacionalidade haitiana, 27
mulheres e 37 homens, cerca de 9% do total de funcionários. A idade está entre 19 e 60 anos,
sendo mais expressiva de 25 a 39 anos.
225

O presidente da associação de haitianos de Chapecó/SC, Jean Innocent Monfiston,


estima que entre 1,8 mil e 1,9 mil trabalhem nos frigoríficos de Chapecó, Xaxim e Nova
Erechim. Somente a Aurora Alimentos conta com 800 haitianos. O vice-presidente da
empresa, Neivor Canton, disse, que no início a agroindústria bancou a viagem do Acre até
Chapecó e também alojamentos por mais de um ano até que os imigrantes pudessem se
estabelecer (CLIC RBS, 2015).
Dentre os 64 funcionários haitianos pesquisados, foram entrevistados cinco, duas
mulheres e três homens com idade entre 21 e 43 anos. Quatro deles tem filhos sendo que, 3
deles os filhos nasceram em Chapecó e dois deles deixaram filhos no Haiti vivendo com
familiares. Destes cinco também três deles possuem familiares morando em Chapecó e um
com familiares em São Paulo/SP.
Entre os 64 funcionários haitianos pesquisados, 14 apresentaram documentos de
dependentes menores de 18 anos que vivem em seu país de origem.
Segundo a pesquisa realizada com relação aos índices de escolaridade são 53
analfabetos, sendo 28 homens e 25 mulheres. Um homem com ensino fundamental
incompleto e um com ensino fundamental completo. Com ensino médio incompleto são 4, 2
homens e 2 mulheres e 5 homens com ensino superior incompleto.
Para chegar ao Brasil dois utilizaram a rota Haiti - República Dominicana – Equador –
Peru - Brasil chegando ao estado do Acre através de pagamento de atravessadores. Após
chegar ao Acre os mesmos aguardaram cerca de quatro meses no abrigo para receber todos os
documentos e depois seguiram para Chapecó/SC com ônibus de outra empresa que estava
recrutando funcionários. Os outros três utilizaram a rota Haiti-Equador onde fizeram o visto
na embaixada com custo de duzentos dólares depois seguiram para São Paulo/SP e de lá para
Chapecó/SC de ônibus.
Para todos os entrevistados as maiores dificuldades encontradas para chegar ao Brasil
foram os custos (cerca de mil dólares) e idioma diferente, ambos os cinco falam espanhol,
francês, creole e inglês.
Conforme registros no Ministério do Trabalho e Emprego (2011), a maioria dos
migrantes haitianos para o Brasil são homens, com idade entre 20 e 30 anos e possuem
escolaridade de ensino médio e/ou fundamental incompletos. No entanto, há registros da
vinda de advogados, engenheiros e enfermeiros, que, apesar de serem profissionais com
formação de nível superior, buscam oportunidades de trabalho mesmo que em outro setor da
economia, tais como a indústria e a construção civil. Muitos deles falam de 3 a 4 idiomas
226

(francês, espanhol, inglês e creole, língua nativa do Haiti) o que tem impressionado aos
empregadores, além da determinação para o trabalho que eles têm demonstrado desde a sua
chegada a Chapecó/SC.
Dos cinco entrevistados nessa empresa dois estão concluindo o ensino médio e dois
não estão estudando e possuem o ensino primário e um está fazendo graduação em instituição
particular com mensalidade custeada pelo pai que atua no Haiti e em outros países como
técnico agrícola, o mesmo trabalha para custear suas despesas com alimentação, moradia e
outros, quando terminar a graduação pretende voltar para o Haiti e fazer pós-graduação em
outro país.
Todos citaram ter escolhido Chapecó/SC para trabalhar por indicação de amigos
devido às oportunidades de trabalho e de estudos.
Conforme os dados da pesquisa quatro deles pretende voltar para seu país de origem,
gostam do Haiti, mas dizem preferir o Brasil, só pretendem voltar para passeio e buscar seus
familiares para viver aqui. Citaram trabalhar para comprar a casa própria no Brasil e trazer os
familiares que estão no Haiti e continuar os estudos para conseguir uma oportunidade melhor
no mercado de trabalho.

5 CONCLUSÃO

De acordo com o objetivo do trabalho que consiste em analisar o perfil dos haitianos e
os impactos da mão-de-obra haitiana em uma agroindústria do município de Chapecó/SC,
concluiu-se com as entrevistas que a faixa etária de idade predominante está entre 25 e 39
anos, de sexo masculino com escolaridade fundamental e ensino médio, algumas exceções
com graduação incompleta.
A grande maioria deles escolheu Chapecó/SC para trabalhar devido as oportunidades
de emprego e de estudos, com intuito de trabalhar para comprar a casa própria no Brasil e
trazer os familiares que estão no Haiti e continuar os estudos para conseguir uma
oportunidade melhor no mercado de trabalho. Nenhum deles pretende voltar para seu pais de
origem, gostam do Haiti mas dizem preferir o Brasil, só pretendem voltar para passeio e
buscar seus familiares para viver aqui.
Muitas empresas catarinenses estão interessadas na mão-de-obra haitiana em virtude
da escassez de brasileiros interessados em trabalhar em atividades braçais.
227

Nessa agroindústria a parcela de imigrantes até o mês de março de 2015 representava


9% do total do funcionário, um percentual significativo. Percebeu-se no decorrer do trabalho
que os haitianos têm muita força de vontade e não faltam ao trabalho, não reclamam, porém, a
produtividade e rendimento deles é inferior aos brasileiros. A grande maioria dos haitianos
que trabalha nessa agroindústria tem em seu trabalho sustendo das famílias aqui no Brasil e
envia parte de seu salário para sustentar familiares, filhos no Haiti.
Observou-se ainda que os haitianos presentes no oeste catarinense, estão amparados
legalmente pela Policia Federal, mas, após, conseguirem seu próprio sustento ficam
dependentes das empresas que os contratam e da assistência social dos municípios onde estão
instalados.
Acredita-se que para as empresas do oeste catarinense essa diversidade de cultura faz
com que o Estado seja bem visto internacionalmente, demonstrando que não existe
preconceito entre os colaboradores, e que existe uma cooperação entre todos, estimulando
muitos haitianos a lutarem para trazer suas famílias e continuarem suas vidas no Brasil.
Este trabalho abre um leque para o surgimento de novos trabalhos com objetivo de
analisar o perfil dos trabalhadores haitianos nas agroindústrias, conhecer como eles vivem,
quais as rotas foram as mais utilizadas para chegar ao Brasil e demonstrar através de dados
das empresas a parcela significativa de mão de obra que é utilizada desses imigrantes. Serve
também de embasamento teórico para a capacitação de muitos profissionais que atuam na área
de Recursos Humanos e Desenvolvimento Organizacional.

REFERÊNCIAS

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