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RESOLUÇÃO DA ASSEMBLÉIA GERAL DA IPIB

SOBRE “IGREJA EM CÉLULAS”

Com base na literatura produzida pelo “Ministério Igreja em Células”, em palestras


proferidas pelo pastor Robert M. Lay e em depoimentos de pastores e membros de igrejas
presbiterianas independentes, que adotaram o modelo de reuniões em “células”,
elaboramos uma breve descrição das reuniões desses pequenos grupos, destacando sua
composição e funcionamento.

De acordo com Ralph Neighbour, o papel dos pequenos grupos em uma igreja em células
é o seguinte: O bloco básico que entra na construção de uma igreja em células é uma
célula, isto é, uma comunidade de sete a quinze pessoas, realizando as suas atividades
num rodízio constante entre as casas dos membros. Por meio dessas células a igreja
existe de forma mais parecida com a do século I. Às vezes esses grupos são chamados de
comunidades cristãs de base. Pouco importa o nome; o que é mesmo de vital importância
é que os grupos sejam reconhecidos como as unidades básicas das quais é construída a
igreja! A célula é o lugar em que pessoas são evangelizadas, discipuladas, equipadas para
servir; é o lugar em que os membros se edificam mutuamente. O grupo serve como
comunidade em que os cristãos podem prestar contas uns aos outros e manter total
transparência entre si. As reuniões das “células” são semanais e são coordenadas por um
líder treinado e designado pelo pastor ou pastores da igreja. Quanto aos objetivos da
reunião em “células” são freqüentemente citados os seguintes: promoção da comunhão
entre os membros da igreja e evangelização de não-crentes. (Manual do auxiliar de célula,
1997: 35). A dinâmica da reunião do grupo, embora possa ser adaptada, segue
basicamente as seguintes etapas: saudação (quebra-gelo), adoração (cânticos, orações e
celebração da ceia do Senhor), edificação (oração e encorajamento mútuo), evangelismo
(conscientização dos membros da célula sobre a responsabilidade individual e do grupo de
alcançar os não-crentes com as boas-novas do evangelho). Sendo um dos objetivos da
“célula” sua multiplicação, ao final de alguns meses, geralmente de seis a dez meses,
deveria ocorrer a criação de um outro pequeno grupo.

Descrição dos argumentos (bíblicos, teológicos, históricos e práticos) utilizados


para fundamentar o “Ministério de Igreja em Células”

Os seguintes argumentos bíblicos são invocados para fundamentar o modelo de “igreja em


células”: O primeiro deles refere-se ao fato de Jesus ter iniciado seu ministério, preparando
um pequeno grupo, circunstância essa citada como uma aprovação tácita do modelo pelo
próprio Mestre. A fundamentação bíblica para o conceito de célula apresentado nesse
curso é baseada no modelo do Senhor Jesus Cristo. O seu relacionamento com os
apóstolos começou com o chamado individual de cada um deles (Mc 3:13-14). Os doze se
tornaram então a “célula” uns para os outros (At 1:12-14). Depois Jesus os comissionou
coletivamente (Mt 28:18-20) e nenhum deles foi excluído da grande comissão. Uma
estratégia clara lhes foi dada: Jerusalém – Judéia – Samaria e os confins da terra (At
1:4,8). Quando o Espírito Santo deu plenitude aos membros da primeira célula, eles
começaram a compartilhar sua história (At 2;1-4, 15-21). As referências feitas no Novo
Testamento às reuniões que aconteciam nas casas de cristãos (Atos 2:46-47), são
lembradas como elemento de legitimidade do modelo de reuniões em “células”. Outras
referências bíblicas bastante apreciadas são aquelas em que aparece a expressão “uns
aos outros”, pois um dos objetivos da célula é a promoção da comunhão entre os
membros da igreja. Os argumentos teológicos invocados dizem respeito à natureza
comunitária da vida cristã e ao sacerdócio universal dos santos. O cristianismo professa a
sua fé num Deus que é trino, Pai, Filho e Espírito Santo, portanto um único Deus que
subsiste em três pessoas. O Deus trino criou comunidades humanas, pois criou a família,
Israel e a Igreja. A vida em comunidade, portanto, reflete a imagem e semelhança de Deus
presente nos seres humanos.

O sacerdócio universal de todos os crentes é bastante enfatizado pelo “Ministério Igreja


em Células”. Trata-se do ensinamento bíblico (I Pedro 2:9) resgatado na reforma
protestante. Na visão do “Ministério Igreja em Células” o sacerdócio de todos os crentes
tem sido mais uma afirmação teórica do que uma prática nas igrejas de tradição
reformada. Segundo essa visão, a estrutura de pequenos grupos possibilitaria que cada
crente pudesse exercitar seus dons, viabilizando, portanto, o sacerdócio de todos os
crentes. Em sua fundamentação histórica o “Ministério Igreja em Células” faz referência à
experiência da igreja dos primeiros tempos, que se reunia de “casa em casa”, como já foi
dito acima. O processo gradual de oficialização do cristianismo como religião do império
romano, sob os imperadores Galério (311 d.C.), Constantino (325 d.C.) e Teodósio (392
d.C.), é visto como triunfo da burocratização e corrupção da Igreja cristã. A reforma
protestante, embora tenha feito soprar os ventos do Espírito, logo a seguir, com a
ortodoxia protestante, tornou suas estruturas eclesiásticas e doutrinárias demasiadamente
inflexíveis e pesadas. A institucionalização da reforma estaria na base dos movimentos de
reação, tais como os moravianos, que viviam em comunidades que formavam a “eclesiola
in eclesia”; João Wesley, com seu “clube dos santos”. Estes movimentos, especialmente
João Wesley com suas “reuniões de classe”, são vistos como precursores do moderno
movimento de pequenos grupos.

Outro argumento utilizado na divulgação do modelo de pequenos grupos diz respeito à sua
praticidade. As seguintes vantagens são mencionadas: a) facilita a mobilização de todos
os membros da igreja para a missão da igreja; b) facilita o desenvolvimento da comunhão
entre os membros da igreja; c) a evangelização é feita através de relacionamentos; d)
produz crescimento quantitativo e qualitativo da igreja; e) descentraliza o trabalho pastoral,
possibilitando que todos os membros da igreja recebam cuidados pastorais.

Avaliação de aspectos socio-teológicos do modelo proposto pelo “Ministério Igreja


em Células”

É preciso tomar cuidado com a visão teológico-sociológica simplista exposta na idéia de


um cristianismo do “princípio” ou de uma “igreja primitiva”, que seria um cristianismo mais
puro do que o praticado posteriormente, devido ao processo de institucionalização da
religião cristã. Ora, a institucionalização é a coisa mais natural de todas as organizações, e
é exatamente esse processo que dá continuidade no tempo a qualquer movimento surgido
entre os seres humanos. A institucionalização estava presente desde o primeiro século da
igreja cristã e não teve seu início apenas no século IV, como freqüentemente afirmam os
proponentes do modelo de pequenos grupos. Para se evitar esse simplismo precisamos
das contribuições da sociologia da religião. Isto porque, as ciências sociais permitem uma
visão do fenômeno religioso, que vai além de se imaginar que os cristãos possam fazer
uma volta, graças a práticas anti-institucionais, a um período anterior ao processo de
institucionalização do cristianismo. Todavia, o conceito de Igreja, para alguns defensores
da “Igreja em Células”, somente inclui aquele período inicial do cristianismo, que é visto
como uma época em que “não havia prédios bonitos; não havia hierarquia; não havia
seminários teológicos; não havia escolas cristãs; não havia corais – havia somente grupos
pequenos de crentes (...) pequenas comunidades”. Segundo essa perspectiva, várias
mudanças ocorreram na Igreja, com o passar do tempo, fazendo com que a situação
posterior se tornasse muito negativa, pois tudo não passaria de uma deturpação da pureza
do cristianismo. Ora essa não é a visão de Jesus, de Paulo ou de Calvino, pois segundo
Mateus 18:17, Jesus já fazia, durante o seu ministério terreno, referência à Igreja
organizada, a qual prometeu que iria estabelecer (Mt. 16.18) na terra. Nas Epístolas
paulinas emerge uma Igreja em fase de organização, na qual a autoridade dos presbíteros
era recomendada, numa comunidade que não estava necessariamente em casa, mas em
um outro ambiente (1 Co 11.22). É claro que havia também comunidades, que se reuniam
em casas de família e até em catacumbas, em Roma.

Falta, evidentemente, aos seguidores de Witness Lee, um embasamento bíblico-teológico


mais sério do que é a Igreja de Cristo em sua dupla dimensão “Igreja-movimento-evento” e
“Igreja-organização-instituição”, cuja tensão dialética já se mostrava claramente
estabelecida no período neotestamentário. Daí a superficialidade de afirmações do tipo:
“Quando a Igreja mudou das casas para os prédios coisas ruins aconteceram”. Por
exemplo: - A Ceia do Senhor mudou do “simbolismo para o ritualismo”; - A Adoração, da
“participação para observação”; - O Testemunho, do “relacionamento para o negócio”; - O
Ministério, do “pessoal para o social”;- O Discipulado, do “aprendizado na prática para o
treinamento na sala de aula”; - A Comunhão, da “profundidade para a superficialidade”; - O
Uso dos Dons, da “edificação para causar impacto”; - A Mordomia, mudou da “entrega de
coração para o cumprimento de tarefas”. Essa visão de uma “Igreja em Célula” viva,
somente por estar localizada em uma casa, em oposição a uma “igreja morta”, somente
porque se reúne em templos, pode ser identificada por alguns com a noção da “Igreja em
casa ou da “Igreja Local”, mensagem pregada em várias partes do mundo pelos
seguidores de Witness Lee, mas fortemente criticada pelos defensores das igrejas e
denominações tradicionais, inclusive até por pentecostais sérios, entre eles os apologistas
Natanael Rinaldi e Paulo Romero (Desmascarando as seitas, Rio de Janeiro, Casa
Publicadora das Assembléias de Deus, 1996), ambos então pertencentes ao Instituto
Cristão de Pesquisas.
Sociologicamente, portanto, nenhum grupo continua intacto ao longo da história humana,
se não for continuamente reproduzido e se não for portador de uma memória a ser
transmitida as novas gerações. Essa transmissão da memória se dá por meio de Sistemas
Educacionais (o sistema escolar religioso da Escola Dominical é apenas uma das boas
invenções da Igreja ao longo de sua história), assim como também os ritos públicos, o
culto comunitário, realizado em assembléias, nas quais publicamente se reúnem os fiéis
para o culto a Deus, utilizando-se para isso dogmas e doutrinas. Esses e outros
elementos, presentes no processo de institucionalização, são elementos que garantem a
perpetuidade dos agrupamentos humanos. Em outras palavras, as estruturas são um mal
necessário e indispensável, as quais dão unidade ao corpo. Não se pode usar tão somente
a imagem de um corpo formado por células. São as estruturas corporais que dão unidade
ao corpo, colocam-no em pé e fazem com que se unam a outros corpos para as batalhas
da vida.

Por outro lado, a metáfora organicista, embora usada por Paulo ao se referir a Igreja como
“corpo de Cristo” (1 Co 12.12-14), tem a sua riqueza teológica, mas como toda figura de
linguagem, esta também tem os seus limites. Isto porque, a visão organicista privilegia as
relações entre as partes do corpo, mas pouco ou nada afirma sobre as relações do corpo
com o meio ambiente (a cultura). Essa imagem não considera devidamente a existência do
conflito entre pessoas ou entre o ideal e o real. Porém, o panorama que aparece no Novo
Testamento, especialmente em Atos dos Apóstolos, é de uma Igreja marcada por conflitos,
muitos deles inevitáveis – entre cristãos e judeus, cristãos e pagãos e até mesmo entre
cristãos. Ora, somente há conflito quando há comunidades maiores e até com uma certa
estruturação interna. É impossível, portanto, imaginar que o conflito instalado antes e
durante o concílio de Jerusalém (At 15.5-21) tivesse ocorrido em uma Igreja cujo modelo
era predominantemente em células espalhadas pelos lares. Não se pode negar, no
entanto, que atualmente há muitos cristãos ligados a organismos eclesiásticos, quer sejam
na forma de Igrejas, seitas ou denominações, que perderam desde há muito aquele
dinamismo e flexibilidade dados pela presença do Espírito Santo na comunidade cristã.
Em muitos casos, infelizmente, triunfou a inflexibilidade, o “fundamentalismo morfológico”,
que é muito mais um endeusamento da forma do que a colocação da forma a serviço da
ação missionária do povo de Deus. Também não se pode negar que os “novos
movimentos religiosos”, sejam eles quais forem, possuem muito mais flexibilidade do que
as instituições e organizações seculares. Mas, é preciso reconhecer, entretanto, que esses
movimentos conseguem, somente em seu início, manter um distanciamento da estrutura e
da tradição. Porém, mais cedo ou mais tarde, eles também passam a enfrentar o desafio
da institucionalização.

Ainda do ponto de vista sócio-teológico, o modelo de Igreja em células pode subestimar a


presença do pecado e de seus efeitos na vida social. Não é por que um grupo é grande ou
pequeno que o pecado está ou não presente. É preciso levar a sério os efeitos contínuos
do pecado sobre os agrupamentos humanos – seja qual for o tamanho deles. Porque onde
estiver o ser humano, bastam dois ou três reunidos, ali também está presente a
possibilidade do pecado em todas as suas dimensões. Por exemplo, o egoísmo, a busca
da dominação e da supremacia de uns sobre outros, como forma de se garantir prestígio,
isso ocorre sempre, independente do tamanho do grupo que se reúne para a adoração e
compartilhamento. Também não se pode esquecer o risco, por exemplo, que uma
confissão honesta, pública e sincera de pecados, de uns para os outros, e não em oculto
para Deus, no quarto (Mt 6.6) como recomenda Jesus, pode representar para uma
comunidade (em célula ou não). Há pecados que a sua confissão pública causa inúmeros
males, tanto em pequenos como em grandes grupos. Todavia, convém também enfatizar
que a confissão mútua de pecados, dentro de critérios de bom senso e equilíbrio (Tiago
5:16), pode provocar um processo terapêutico na vida individual e coletiva.
Observa-se ainda no modelo de “Igreja em células” o risco do reforço do autoritarismo do
líder da célula sobre os participantes, o orgulho do “super-crente” sobre o novato, do
pastor e do líder sobre os líderes das partes menores.

Funcionamento do modelo de “igrejas em células” em algumas igrejas da IPIB

A “Comissão Igreja em Células” não pôde acompanhar detalhadamente as igrejas que


estão se valendo desse modelo dentro da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
Entendemos que isto teria sido bastante proveitoso, todavia estava fora das possibilidades
de um grupo que realizou seu trabalho no escasso intervalo entre uma tarefa e outra.
Porém, para avaliar a implantação do modelo de pequenos grupos em nossas igrejas
contamos com relatos de membros da Comissão, que estão envolvidos com esse
ministério, e com conversas informais com membros de igrejas que estão desenvolvendo o
referido modelo. A julgar pela literatura do “Ministério Igrejas em Células” o modelo de
pequenos grupos seria completamente incompatível com o sistema presbiteriano.

Vejamos o que diz Ralph W. Neighbour: “Já cheguei a uma conclusão: não se pode
guardar vinho novo em odres velhos! Espero que você entenda isso e não procure
misturar este óleo com a água morna das estruturas eclesiásticas tradicionais. Não escrevi
este manual a fim de transformar estruturas eclesiásticas já existentes. Escrevi-o, isto sim,
para aquelas milhares de comunidades cristãs que finalmente chegaram à seguinte
conclusão: ‘Fora com a vida tradicional de igreja! Não queremos transformar nada;
queremos ser novas, assim como era nova a igreja do século I”. Entendemos que são
afirmações, como a que foi citada acima, caracterizadas por uma estranha mistura de
ingenuidade e furor propagandístico, que têm gerado confusão e perturbação,
especialmente nos líderes de nossas igrejas, que tiveram contato com este tipo de
literatura. Embora R. W. Neighbour mostre-se bastante intolerante na afirmação citada
acima, transmitindo uma imagem de impossibilidade de adaptação do modelo de “igreja
em células” à realidade das igrejas tradicionais, um pouco mais adiante, o mesmo autor,
por incrível que pareça, afirma: “Se houver possibilidade de trazer uma só alma para o
Reino pelo fato de você ter adaptado estas páginas à sua situação, então faça-o”.

Ainda, sobre a possibilidade de adaptação do modelo de pequenos grupos à vida de


igrejas organizadas em modelos tradicionais, vale a pena citarmos a opinião de Howard
Snyder, autor bastante apreciado entre os proponentes do modelo de pequenos grupos:
“O grupo pequeno não requer a derrubada da igreja organizada. É possível introduzir
grupos pequenos sem se descartar ou abalar a igreja. Porém, se a incorporação dos
grupos nos lares e dos grupos-célula ao ministério global da igreja for realizada com
seriedade, alguns ajustes serão necessários e, mais cedo ou mais tarde, haverá
discussões sobre prioridades. O grupo pequeno deve ser visto como um componente
essencial da estrutura e do ministério da igreja e não como seu substituto.”

O desenvolvimento do modelo de “igrejas em células” em nossas igrejas tem caminhado


na direção de uma adaptação ao sistema de governo presbiteriano. Citamos o exemplo da
experiência da 1ª IPI de Curitiba, relatado pelo presbítero Paulo E. Annunciação: “As
células como tais são oportunas, especialmente por resgatarem a prática da ‘koinonia’ e
garantir a consolidação dos novos convertidos no seio da igreja. Os cuidados que a nosso
ver devem ser tomados: a) respeitar todos os membros da igreja que não queiram
participar dessa novidade; b) Não permitir que este ministério interfira negativamente nos
demais; c) Fazer os devidos ajustes para que não provoque conflito com a atual estrutura
de nosso sistema presbiteriano, pois é possível conviver com células, principalmente se
soubermos utilizar com muita sabedoria a liderança dos presbíteros na estrutura de
gerenciamento das células.” O Rev. Mathias Quintela, a partir de sua experiência na
implantação de pequenos grupos na 1ª IPI de Londrina, afirma que “o modelo é flexível e
não exige mudanças de doutrina nem da ordem de governo adotados pela IPIB”. Lembra
ainda, que “o modelo não deve ser simplesmente transplantado, mas adaptado à realidade
da igreja local e da IPIB”.

Desta forma, concluímos que, a utilização do modelo de pequenos grupos em nossas


igrejas caminha na direção de uma adaptação à realidade institucional da IPIB. Desejamos
que o trabalho desta Comissão possa ajudar a apontar diretrizes para que isto ocorra de
forma proveitosa para toda a Igreja.

Considerações finais e propostas

Portanto, levando-se em consideração os pontos acima salientados da discussão sobre o


“Ministério de Igrejas em Células”, a Comissão nomeada vem por meio deste texto
apresentar as seguintes considerações finais e propostas:

Considerando que a estratégia de reuniões em pequenos grupos contribui para mobilizar


os membros de nossas igrejas para a evangelização - missão primordial da igreja;

Considerando que a estratégia de reuniões em pequenos grupos contribui para a


comunhão e integração de novos membros à vida da igreja;

Considerando que algumas igrejas, ao adotarem tal estratégia, demonstraram cuidado em


não ferir o sistema de governo presbiteriano;

Considerando que, por amor à expansão do reino, devemos buscar sempre o


aperfeiçoamento de nossas estratégias de comunhão e evangelização, evitando-se a
sacralização de formas que já foram eficientes no passado, mas que no momento não
correspondem aos novos desafios;

Considerando que o modelo de reuniões em pequenos grupos denominado de “igreja em


células”, tal como é proposto na literatura de divulgação e nos cursos proferidos pelo
“Ministério Igrejas em Células”, preconiza que cada pequeno grupo (célula) funcione como
uma igreja local, inclusive com a celebração dos sacramentos;

Considerando que a propaganda do modelo de reuniões em pequenos grupos vale-se, em


grande parte, de ataques gratuitos e simplistas às estruturas eclesiásticas históricas. Tais
ataques, no contexto de nossa igreja, não contribuem em nada para que o
aperfeiçoamento do funcionamento das estruturas eclesiásticas seja feito pelos caminhos
legais e pacíficos de nosso regime, antes fomentam a ilusão de que há uma “igreja
desinstitucionalizada”;

Considerando que as igrejas neo-testamentárias, presentes em diferentes cidades,


percebiam-se como parte de uma mesma Igreja formando uma “rede” ou “federação” de
igrejas. Desta compreensão decorre a autoridade do concílio de Jerusalém (Atos 15), a
supervisão de Paulo sobre diversas igrejas da gentilidade, bem como o socorro mútuo
entre as igrejas. No entanto, a proposta do modelo de pequenos grupos, em sua visão
eclesiológica, não consegue ir além da igreja local formada pela reunião da “células” num
mesmo local;

Considerando que o modelo de pequenos grupos, caso seja implantado com o radicalismo
proposto em sua literatura de divulgação, tornar-se-á em motivo de discórdia entre
membros da igreja contribuindo significativamente para divisões;
Considerando que a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, como uma igreja herdeira
da reforma protestante, de forma alguma fechou-se para mudanças, sejam doutrinárias ou
estruturais, tendo para isso os mecanismos institucionais para discussão e implementação
de reformas necessários para o cumprimento de sua missão, esta Assembléia Geral

RESOLVE:

1) Levar ao conhecimento dos concílios e membros das igrejas que o modelo de reuniões
em pequenos grupos denominados de “células” é uma estratégia de comunhão e
crescimento de igreja e não um modelo de governo alternativo ao sistema
presbiteriano;

2) Recomendar aos presbitérios que possuam igrejas em sua jurisdição que já estão
valendo-se do modelo de peque-nos grupos, que as acompanhem cuidadosamente e
envidem esforços para o bom funcionamento do modelo federativo;

3) Determinar que o início de qualquer programa de implantação do modelo de pequenos


grupos denominado “igreja em células” ocorra apenas após entrevista do conselho da
igreja com o presbitério, ou com uma comissão especial designada pelo presbitério
para este fim, o qual deverá esclarecê-los, com base em decisões da Assembléia
Geral, quanto aos possíveis benefícios e riscos na adoção de tal modelo;

4) Recomendar às igrejas que estão interessadas em implantar o modelo de pequenos


grupos que procurem conhecer a experiência de pastores e igrejas da IPIB que
conseguiram adequar o modelo à estrutura e funcionamento de nossa denominação;
5) Esclarecer que a participação nas reuniões de pequenos grupos não será obrigatória
para nenhum membro não devendo haver qualquer espécie de discriminação entre
participantes e não participantes dos pequenos grupos;

6) Proibir expressamente aos líderes leigos de pequenos grupos a celebração dos


sacramentos no âmbito das reuniões denominadas “células”; uma vez que tal
celebração é prerrogativa exclusiva do ministro ordenado, devendo este, na medida do
possível, celebrá-los no culto público, conforme a Constituição da IPIB, art. 52 alínea d;

7) Criar uma comissão de doutrina, que funcione em caráter permanente, com o objetivo
de subsidiar, com agilidade, os concílios com orientações sobre os novos movimentos
religiosos e suas implicações teológicas para a IPIB.

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