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De acordo com Ralph Neighbour, o papel dos pequenos grupos em uma igreja em células
é o seguinte: O bloco básico que entra na construção de uma igreja em células é uma
célula, isto é, uma comunidade de sete a quinze pessoas, realizando as suas atividades
num rodízio constante entre as casas dos membros. Por meio dessas células a igreja
existe de forma mais parecida com a do século I. Às vezes esses grupos são chamados de
comunidades cristãs de base. Pouco importa o nome; o que é mesmo de vital importância
é que os grupos sejam reconhecidos como as unidades básicas das quais é construída a
igreja! A célula é o lugar em que pessoas são evangelizadas, discipuladas, equipadas para
servir; é o lugar em que os membros se edificam mutuamente. O grupo serve como
comunidade em que os cristãos podem prestar contas uns aos outros e manter total
transparência entre si. As reuniões das “células” são semanais e são coordenadas por um
líder treinado e designado pelo pastor ou pastores da igreja. Quanto aos objetivos da
reunião em “células” são freqüentemente citados os seguintes: promoção da comunhão
entre os membros da igreja e evangelização de não-crentes. (Manual do auxiliar de célula,
1997: 35). A dinâmica da reunião do grupo, embora possa ser adaptada, segue
basicamente as seguintes etapas: saudação (quebra-gelo), adoração (cânticos, orações e
celebração da ceia do Senhor), edificação (oração e encorajamento mútuo), evangelismo
(conscientização dos membros da célula sobre a responsabilidade individual e do grupo de
alcançar os não-crentes com as boas-novas do evangelho). Sendo um dos objetivos da
“célula” sua multiplicação, ao final de alguns meses, geralmente de seis a dez meses,
deveria ocorrer a criação de um outro pequeno grupo.
Outro argumento utilizado na divulgação do modelo de pequenos grupos diz respeito à sua
praticidade. As seguintes vantagens são mencionadas: a) facilita a mobilização de todos
os membros da igreja para a missão da igreja; b) facilita o desenvolvimento da comunhão
entre os membros da igreja; c) a evangelização é feita através de relacionamentos; d)
produz crescimento quantitativo e qualitativo da igreja; e) descentraliza o trabalho pastoral,
possibilitando que todos os membros da igreja recebam cuidados pastorais.
Por outro lado, a metáfora organicista, embora usada por Paulo ao se referir a Igreja como
“corpo de Cristo” (1 Co 12.12-14), tem a sua riqueza teológica, mas como toda figura de
linguagem, esta também tem os seus limites. Isto porque, a visão organicista privilegia as
relações entre as partes do corpo, mas pouco ou nada afirma sobre as relações do corpo
com o meio ambiente (a cultura). Essa imagem não considera devidamente a existência do
conflito entre pessoas ou entre o ideal e o real. Porém, o panorama que aparece no Novo
Testamento, especialmente em Atos dos Apóstolos, é de uma Igreja marcada por conflitos,
muitos deles inevitáveis – entre cristãos e judeus, cristãos e pagãos e até mesmo entre
cristãos. Ora, somente há conflito quando há comunidades maiores e até com uma certa
estruturação interna. É impossível, portanto, imaginar que o conflito instalado antes e
durante o concílio de Jerusalém (At 15.5-21) tivesse ocorrido em uma Igreja cujo modelo
era predominantemente em células espalhadas pelos lares. Não se pode negar, no
entanto, que atualmente há muitos cristãos ligados a organismos eclesiásticos, quer sejam
na forma de Igrejas, seitas ou denominações, que perderam desde há muito aquele
dinamismo e flexibilidade dados pela presença do Espírito Santo na comunidade cristã.
Em muitos casos, infelizmente, triunfou a inflexibilidade, o “fundamentalismo morfológico”,
que é muito mais um endeusamento da forma do que a colocação da forma a serviço da
ação missionária do povo de Deus. Também não se pode negar que os “novos
movimentos religiosos”, sejam eles quais forem, possuem muito mais flexibilidade do que
as instituições e organizações seculares. Mas, é preciso reconhecer, entretanto, que esses
movimentos conseguem, somente em seu início, manter um distanciamento da estrutura e
da tradição. Porém, mais cedo ou mais tarde, eles também passam a enfrentar o desafio
da institucionalização.
Vejamos o que diz Ralph W. Neighbour: “Já cheguei a uma conclusão: não se pode
guardar vinho novo em odres velhos! Espero que você entenda isso e não procure
misturar este óleo com a água morna das estruturas eclesiásticas tradicionais. Não escrevi
este manual a fim de transformar estruturas eclesiásticas já existentes. Escrevi-o, isto sim,
para aquelas milhares de comunidades cristãs que finalmente chegaram à seguinte
conclusão: ‘Fora com a vida tradicional de igreja! Não queremos transformar nada;
queremos ser novas, assim como era nova a igreja do século I”. Entendemos que são
afirmações, como a que foi citada acima, caracterizadas por uma estranha mistura de
ingenuidade e furor propagandístico, que têm gerado confusão e perturbação,
especialmente nos líderes de nossas igrejas, que tiveram contato com este tipo de
literatura. Embora R. W. Neighbour mostre-se bastante intolerante na afirmação citada
acima, transmitindo uma imagem de impossibilidade de adaptação do modelo de “igreja
em células” à realidade das igrejas tradicionais, um pouco mais adiante, o mesmo autor,
por incrível que pareça, afirma: “Se houver possibilidade de trazer uma só alma para o
Reino pelo fato de você ter adaptado estas páginas à sua situação, então faça-o”.
Considerando que o modelo de pequenos grupos, caso seja implantado com o radicalismo
proposto em sua literatura de divulgação, tornar-se-á em motivo de discórdia entre
membros da igreja contribuindo significativamente para divisões;
Considerando que a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, como uma igreja herdeira
da reforma protestante, de forma alguma fechou-se para mudanças, sejam doutrinárias ou
estruturais, tendo para isso os mecanismos institucionais para discussão e implementação
de reformas necessários para o cumprimento de sua missão, esta Assembléia Geral
RESOLVE:
1) Levar ao conhecimento dos concílios e membros das igrejas que o modelo de reuniões
em pequenos grupos denominados de “células” é uma estratégia de comunhão e
crescimento de igreja e não um modelo de governo alternativo ao sistema
presbiteriano;
2) Recomendar aos presbitérios que possuam igrejas em sua jurisdição que já estão
valendo-se do modelo de peque-nos grupos, que as acompanhem cuidadosamente e
envidem esforços para o bom funcionamento do modelo federativo;
7) Criar uma comissão de doutrina, que funcione em caráter permanente, com o objetivo
de subsidiar, com agilidade, os concílios com orientações sobre os novos movimentos
religiosos e suas implicações teológicas para a IPIB.