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1.

Introdução
Bem-vindos ao Workshop de Pandeiro. É com uma alegria enorme que compartilho com vocês um
material que preparei com muito carinho. São 18 anos de pesquisas, estudos e entrega absoluta a este
instrumento tão maravilhoso que é o Pandeiro.

Sempre senti que através do Pandeiro consigo enxergar mais longe e me conectar com um Brasil que
antes eu desconhecia. Um Brasil que não está nas grandes mídias, mas que é infinitamente mais rico,
diverso e plural. Através do Pandeiro conheci a embolada, me atentei as loas, musiquei os cordéis e
conheci os caboclos. Entendi os cortejos, dancei com os brincantes e me emocionei com nossa cultura.
Cultura de danças sagradas, conexões profundas e de uma alegria e riqueza sem fim. Esse é o Brasil que
vivo e esse é o Brasil que quero mostrar a vocês.

Ao fim do nosso Workshop você vai ter algumas páginas para formar uma Apostila, para você guardar
com carinho. Espero que possa ser de grande ajuda no estudo do Pandeiro pois por séculos nossa cultura
foi transmitida pela oralidade e com novos meios e caminhos, podemos propaga-la de maneira mais
eficiente. Também podemos ter um papel fundamental na preservação dos toques, ritmos e levadas deste
nosso universo musical.

Espero esse nosso encontro plante em cada um, a semente da curiosidade. Que possamos ser capazes de
ir atrás do auto-conhecimento como sociedade e país. Que estejamos abertos para os maracatus, côcos,
forrós, frevos, caboclinhos, cirandas e todo esse vasto e infinito universo da cultura popular. Um brinde a
todos os mestres e mestras e bora pandeirar!!!!
2. Técnica
Penso que se tratando de um instrumento muito complexo e rico em possibilidades e maneiras de ser
tocado, não é prudente usar termos como “certo” ou “errado” para designar ou julgar as diversas
maneiras de tocar. O mais importante, é entendermos que tem jeitos que vão facilitar nossa velocidade
e técnica e jeitos que vão dificultar.

E mais do que isso, jeitos que mesmo parecendo “errados” vão produzir efeitos sonoros mais
interessantes e ricos musicalmente. Aqui podemos concluir que o jeito certo, é o jeito que estiver saindo
música do seu instrumento. Mais do que técnica e velocidade, nosso instrumento precisa ser agradável
na maneira de soar e agregar ao som que ele está inserido. De fato, ele precisa produzir música. O
Pandeiro não foi criado no Brasil, mas sua maneira de tocar, como conhecemos hoje, foi inventada e
adaptada aqui.

Então é natural que em cada parte do país, as pessoas se adaptam de um jeito diferente e mesmo sem
pensar, acabam criando maneiras diferentes de tocar. Vejo que é uma perda de tempo tentar julgar essas
maneiras e também taxar quais são melhores ou piores. Para realmente nos tornarmos o Pandeiro, é
interessante estar aberto a todas as técnicas e entender e apreciar a beleza de cada uma delas. Vou
abordar algumas maneiras de se pensar o instrumento, mas é de extrema importância que você tenha
sempre esse conceito na cabeça.

Lembrem-se que a técnica e o jeito de pensar o instrumento é uma escolha individual. Eu na minha
caminhada escolhi alguns caminhos mas sinto que o que mais me fascina é tentar aprender e executar
todos os modos existentes. Dependendo do contexto eu me porto de um jeito ou de outro. Então exploro
a técnica do choro quando estou numa roda de choro e também exploro as técnicas mais modernas
quando estou num contexto que me permite isso. Também uso pandeiros em afinações diferentes em
cada trabalho. Então vocês vão descobrir que ninguém pode te passar a verdade absoluta sobre como
tocar pandeiro. Deixe a mente aberta pois o pandeiro se mostra cada vez mais um instrumento de
possibilidades infinitas.
3. Sons
É muito comum nós cantarmos os sons que tocamos e ouvimos. Isso facilita decorar qualquer ritmo que
escutamos e também faz com que saibamos exatamente o que estamos fazendo. A sonoridade dos golpes
do pandeiro são basicamente TUM, TU, TI e TÁ. Com o tempo de estudo é importante nós percebemos a
relação do que cantamos com o som que o instrumento produz. Sendo assim é importante aos poucos se
apoderar do entendimento de onde vem cada som do seu instrumento e como ele é produzido.
Importante ressaltar que no Pandeiro eu consigo executar qualquer um desses sons tanto com a parte de
baixo da mão, como com a parte de cima.

TUM

O som mais grave do Pandeiro. Posso fazer esse som com o Polegar na lateral inferior ou com os Dedos
juntos na lateral superior do pandeiro.

TU

Também é um grave mas que não se prolonga. Um grave abafado. Posso fazer com o Polegar ou com os
Dedos, igual o Grave citado acima, mas desta vez abafando a pele com a mão que segura o instrumento,
geralmente com o dedo do meio encostando na pele. Um som opaco.

TI

Este é o som que usamos para conduzir os ritmos. Parece o som do ganzá. Posso fazer tanto repousando
o Punho na lateral do pandeiro como repousando a ponta dos dedos. Tem a mesma função de um chimbal
na bateria ou de um chocalho: conduzir.

Este é um som bem agudo e estalado. Posso fazer tanto com um tapa no centro do Pandeiro, como posso
fazer usando o Polegar também no centro do Pandeiro. É um som bem característico do Pandeiro.

TRI

Este é o efeito produzido pela pressão na pele, seja dos Dedos ou até do Punho. Uma clássica firúla. Um
efeito muito famoso e utilizado no pandeiro que dá todo um charme as batidas e solos.
4. Legenda

Pulso
O pulso, parte inferior da mão, encosta bem na borda do instrumento e destaca mais o som das
platinelas do que da pele. Ele volta ao lugar de origem logo depois do toque. O resultado é um
som curto e ritmicamente bem definido

Dedos
O bloco de dedos repousa rapidamente na pele. Não é tão rápido quanto o pulso. O som é
parecido, porém um pouco menos estalado. É produzido pelos 2º, 3º, 4º e 5º dedos da mão que
faz o movimento (direita para os destros).

Polegar
O som produzido pelo polegar é a nota fundamental e tem como função tocar as notas de
marcação. O polegar precisa estar relaxado e fazer soar um som grave da pele. Lembre-se que
nada tem a ver com força e sim com jeito.

Polegar Abafado
O polegar abafado é executado da mesma maneira que o Polegar solto. A única diferença é que
o dedo médio da outra mão irá pressionar a pele por baixo do pandeiro, fazendo com que a
ressonância da pele seja interrompida. Som preso.

Rulo
Pressione levemente o dedo médio contra a pele e escorregue a ponta dos dedos para
conseguir um som contínuo das platinelas. Este é um efeito muito famoso e muito executado no
pandeiro. Lembre que não é força e sim jeito.
Grave nos Dedos
Este som pode ser produzido de várias maneiras. O mais importante é o resultado sonoro ser
similar ao obtido pelo Polegar. O contato com a pele deve acontecer no menor tempo possível.
É um dos sons mais difíceis de tirar.

Grave nos Dedos Abafado


A execução é a mesma do som anterior. A diferença é que o dedo médio da outra mão vai
pressionar a pele por baixo do pandeiro, fazendo soar um som grave, porém abafado e preso.

Tapa
O Tapa é o resultado da mão espalmada no centro do pandeiro. Não pode haver rebote e o som
deve ser seco e agudo. Deixe a mão na pele depois do toque, não tem necessidade de tirar
rapidamente. Treine muito para executar um Tapa bem definido.

Tapa com Polegar


Batemos o Polegar bem no centro do pandeiro, procurando um som agudo e estalado, bem
diferente do Polegar grave. Tem que ser bem no centro e pode-se deixar ele na pele depois do
golpe.

Rulo Pulso
Pressione o pulso do centro para a borda do pandeiro. Ele se desloca levemente para baixo. O
resultado é igual do Rulo com os dedos, porém com menos continuidade, pois ele cessa mais
rápido.

Acento
É quando tocamos mais forte. Onde estiver o sinal de acento devemos enfatizar o som. Ele pode
aparecer em cima de qualquer figura que represente qualquer som possível no pandeiro. Muito
importante em alguns ritmos.
WORKSHOP DE PANDEIRO | AULA 1

Forró, côco e embolada (levadas e variações)

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Léo Rodrigues | Todos os Direitos Reservados | 2021

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