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SANTOS

Nove dias de combate


◗Maior incêndio industrial do Brasil atinge tanques de combustíveis
no Porto Alemoa e desafia órgãos de emergência
ALBERTO TAKAOKA

U ma série de explosões, no dia


2 de abril, deu início ao que se
tornaria o maior incêndio indus-
trial do Brasil. O acidente atingiu um dos
terminais da Ultracargo, uma das maio-
Durante toda a ocorrência, o fogo
consumiu seis imensos tanques que ar-
mazenavam combustíveis como gaso-
lina e álcool. Cerca de 120 bombeiros
militares participaram da operação que
de Resgate, um veículo de Comando de
Operações e um navio do CB. “Além
disto, pudemos contar com o apoio fun-
damental das empresas como a Petro-
bras, Transpetro e Basf que também for-
res empresas brasileiras de armazena- envolveu diversos órgãos públicos e pri- neceram recursos materiais e humanos
mento de combustíveis, localizado em vados, entre eles CBPMESP (Corpo de para auxiliar nesta ocorrência”, exalta o
uma área industrial no Porto Alemoa, Bombeiros da Polícia Militar do Esta- coronel Marco Aurélio Alves Pinto, co-
em Santos/SP. Considerado como um do de São Paulo), Defesa Civil, PAMs mandante-geral do CBPMESP.
dos maiores desafios para os órgãos de (Plano de Auxílio Mútuo) de Cubatão e O trabalho dos bombeiros e brigadis-
emergência, o incêndio durou nove dias, de Santos, Marinha, Exército Brasileiro, tas foi intenso durante toda a operação,
sendo totalmente controlado no dia 10. FAB (Força Aérea Brasileira), Infraero com revezamento de equipe a cada 30
De acordo com informações da asses- (Empresa Brasileira de Infraestrutura minutos. Nos primeiros dias, a tempe-
soria de imprensa da Ultracargo, no Aeroportuária), Grupamento Aéreo da ratura no local chegava a marcar 800°C.
momento do acidente 15 funcionários Polícia Militar – Águia, Codesp (Com- Para combater o fogo, os profissionais
estavam na empresa. Após a primeira panhia Docas do Estado de São Paulo), tinham que ficar a cem metros de dis-
explosão, foi chamada a Brigada de In- SAMU Santos, GRAU (Grupo de Res- tância do local das chamas. Devido à
cêndio que evacuou a área, acionando gate e Atenção às Urgências), Petrobras, dimensão do incêndio e aos riscos de
um plano de ajuda mútua. Segundo o Transpetro e Basf, entre outros, além de explosões, o SAMU Santos manteve no
SAMU Santos, três pessoas foram en- diversos brigadistas e especialistas na local uma equipe formada por um mé-
caminhadas ao Pronto-Socorro Central área. Segundo o Corpo de Bombeiros, dico, dois enfermeiros, um técnico de
por crise nervosa e inalação de fumaça e para combater as chamas, a corporação enfermagem, dois condutores socor-
12 foram atendidas e liberadas no local. contou com 35 viaturas (auto-bomba e ristas, uma ambulância de suporte bá-
auto-tanques), três auto-escadas, um au- sico e uma de suporte avançado. “No
Por Luana Cunha to salvamento especial, quatro Unidades quarto dia do evento, tivemos a presen-
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ça do GRAU, da Secretaria de Saúde do de os tanques estavam. Ou seja, o fogo

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Estado de SP, que assumiu o comando que estava contido avançou pelas ruas
médico e, em parceria com as demais internas do terminal. Este evento oca-
equipes, traçou estratégias conforme o sionou uma ampliação do cenário, e foi
desenrolar das intervenções do corpo preciso retirar as equipes do Corpo de
de bombeiros e os riscos produzidos às Bombeiros e demais brigadistas, reali-
equipes de combate ao incêndio”, diz zando o combate por meio da área ex-
a enfermeira Maria Del Pilar Bezerra, terna”, ressalta.
chefe do SAMU Santos. Segundo ela, Segundo especialistas, em incêndios
durante os nove dias foram realizados envolvendo líquidos combustíveis o
90 atendimentos, entre eles hipertensão, correto é resfriar a parte inferior do re- Técnica de resfriamento dos tanques
hipotensão, dores musculares, pareste- cipiente e aplicar o LGE (Líquido Ge-
sia de extremidades, pequenos traumas rador de Espuma) ou agente químico

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e ferimentos, fadiga, estresse físico-e- seco no foco do incêndio. Paralelamen-
mocional, desidratação, intoxicação por te a isto, as válvulas do tanque devem
inalação de gases e irritação de mucosa ser fechadas para que não ocorra um
de vias aéreas e conjuntiva. vazamento e o fogo não se espalhe. “O
problema na ocorrência no Porto Ale-
COMBATE moa é que, com o impacto da explosão,
A primeira técnica aplicada pelo Cor- os sistemas de proteção contra incêndio
po de Bombeiros ao chegar no local foi colapsaram, provocando vazamentos. A
de resfriamento dos recipientes. “Diante tubulação foi totalmente destruída com
do cenário encontrado, a estratégia foi a explosão e as válvulas não podiam ser Bombeiros e brigadistas tiveram trabalho intenso
resfriar os diversos tanques adjacentes fechadas. Ao mesmo tempo que tínha-
com grande quantidade de líquido in- mos que controlar os vazamentos, tínha-

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flamável e efetuar o combate a incên- mos que fazer o resfriamento dos tan-
dio com espuma, nas áreas em que havia ques que estavam próximos para evitar
gasolina e álcool em chamas. O resfria- que não fossem atingidos”, reforça Os-
mento era essencial para evitar a propa- valdo Cren, consultor técnico de pre-
gação do fogo, principalmente pelo fa- venção e combate a incêndio.
to de haver outros produtos perigosos Conforme Rubens Perez, o cenário
armazenados”, explica o coronel Cassio possuía dois tipos de incêndio: os estáti-
Roberto Armani, uns dos coordenado- cos (bidimensionais) e os dinâmicos (tri-
res da operação. Segundo ele, para ame- dimensionais). “Os estáticos são aque-
nizar as chamas, os militares utilizaram les em que o fogo se concentra em uma Defesa Civil auxiliou no sinistro
o LGE (Líquido Gerador de Espuma), área estática, consumindo o combustível
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porém o fogo não diminuía. “O Corpo diretamente de uma superfície exposta.


de Bombeiros empregou espuma mecâ- O maior complicador nesta ocorrência
nica desde o primeiro dia. Ocorre que, foram os chamados incêndios dinâmicos
além dos incêndios em tanques havia que ocorrem pelo fornecimento contí-
incêndios em válvulas e tubulações sub- nuo de materiais combustíveis, por meio
mersas no dique principal, o que dificul- de válvulas, tubulações, etc., que estavam
tou o combate”. ocorrendo no interior do dique, devido
Diante da complexidade do cenário, a vazamentos constantes em função dos
a Ultracargo solicitou a ajuda de equi- colapsos que as estruturas e tubulações
pes especializadas como, por exemplo, sofreram e do aumento da temperatura”.
a Task Services que atuou com dez pro- De acordo com especialistas, existem Gabinete de Crise foi criado durante operação
fissionais capacitados em incêndios in- diversas técnicas de aplicação de espuma
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dustriais, instrutores da Escola de Bom- em incêndios Petrolíferos e Petroquími-


beiros do Texas/EUA. Segundo o dire- cos. “Uma delas, utilizada em Santos, é
tor da empresa e engenheiro Químico, a do Dilúvio, onde o jato de espuma é
Rubens César Perez, um dos problemas direcionado para cima até atingir sua al-
foi que, no final da tarde do primeiro dia tura máxima e desfazer-se em várias go-
houve um rompimento nos diques de tas, sobrenadando, desta forma, o líqui-
contenção, ocasionando um vazamen- do inflamável. Esta técnica é capaz de
to no local. “No momento em que a extinguir o incêndio mais rápido que as
nossa equipe chegou havia ocorrido um outras. Ela é muito utilizada em incêndios
grande derramamento, causado por um em tanques de armazenagem. Porém, as
rompimento do dique de contenção on- equipes de emergência devem atentar Tanques danificados após incêndio
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desde de que ele não seja misturado a
REFERÊNCIAS NORMATIVAS outros, devido a possíveis incompatibi-
lidades. Porém, vale a pena destacar que
Algumas questões como sistemas de pro-  NBR 17.505 – Armazenamento de líquidos
teção contra incêndio, armazenamento de lí- inflamáveis e combustíveis durante a ocorrência, utilizamos o esto-
quidos inflamáveis, distanciamento entre os  NBR IEC 60.079-1 – Equipamentos elétri- que de fornecedores de todo o Brasil.
tanques e técnicas de combate ao incêndio cos para atmosferas explosivas Analisando o evento depois, acredita-
foram levantadas no decorrer da ocorrência.  Norma Petrobras N-1203 D/97 – Projeto mos que pode sim ter ocorrido alguma
Para esclarecer algumas dúvidas referentes a de sistemas fixos de proteção contra incêndio incompatibilidade entre produtos, mas
estes assuntos, segue uma relação de normas em instalações terrestres com Hidrocarbonetos não tínhamos o que fazer”.
nacionais e internacionais disponíveis hoje:  NFPA 11 - Standard for low Expansion Fo- Outro obstáculo relatado pelos profis-
 NR 20 – Líquidos Combustíveis e Infla- am (Padrão para ponto baixo para espuma de sionais foi o fato de um dos tanques per-
máveis alta expansão) manecer com a estrutura do teto intacta,
 NBR 7820 – Segurança nas instalações  NFPA 13 - Standard for the Installation of mesmo havendo a queima do combus-
de produção, armazenamento, manuseio e Sprinkler Systems (Padrão para instalação de
tível no interior. “Em um dos tanques
transporte de etanol (álcool) sistemas de Sprinklers)
 NBR 7821 – Tanques soldados para ar-  NFPA 15 - Standard for Water Spray Fixed
de gasolina, o teto não cedeu com as
mazenamento de petróleo e derivados Systems for Fire Protection (Padrão para siste- chamas. Desta forma, o corpo de bom-
 NBR 12.615 – Sistemas de combate a in- mas fixos de Proteção contra Incêndios) beiros e as equipes de brigadistas, não
cêndio por espuma  NFPA 16 - Standard for the Installation of tinham uma abertura no teto para in-
 NBR 13.792 – Proteção contra incêndio, Foam-Water Sprinkler and Foam-Water Spray troduzir a espuma dentro do tanque. Ti-
por sistemas de chuveiros automáticos, para Systems (Padrão para instalações de sistemas vemos que aguardar que houvesse uma
áreas de armazenamento em geral de Sprinklers e sistemas de spray de água) área suficiente para aplicar o produto e
 NBR 15.511 - Líquido Gerador de Espu-  NFPA 30 - Flammable and Combustible apagar o fogo”, relata Perez.
ma (LGE), de baixa expansão, para combate a Liquids Code (Líquidos Inflamáveis e Com-
incêndios em combustíveis líquidos bustíveis) LGE
para dificuldades referentes a tempo de meira dificuldade era a proximidade dos De acordo com Rocha, a espuma é o
queima (formação de coluna térmica) e tanques. Tínhamos uma diversidade de produto ideal para combate a incêndios
condições climáticas desfavoráveis (ven- produtos químicos muito próximos, o desta natureza. “Ela exclui o ar dos va-
tos fortes e correntes de ar) que possam que exigiu muito cuidado por parte das pores inflamáveis, elimina estes vapores
estar presentes durante a aplicação”, ex- equipes de emergência”. da superfície do combustível e separa as
plica Marco Aurélio Rocha, especialista A vazão de água necessária para se chamas da superfície. Em alguns casos,
em Gerenciamento de Emergências e apagar chamas daquela magnitude, tam- a espuma também pode ser utilizada pa-
Desastres, capacitado em Incêndio Pe- bém foi uma das dificuldades encon- ra resfriar a superfície combustível bem
troquímico e em Emergências com GLP tradas pelas equipes que estavam no como de superfícies em volta. Podemos
e Instrutor de Incêndio certificado pela local. “Havia vários navios e reboca- dizer que este produto é resistente ao
Universidade do Texas. dores bombeando água, porém só dis- calor irradiado e ao combustível de tal
púnhamos de linhas de mangueiras de forma que não sature, nem queime, além
DIFICULDADES seis polegadas quando, pela distância do de ser capaz de produzir uma cobertura,
Segundo o coronel Armani, ao lon- manancial, o ideal seria de 12 polegadas. conseguindo conter os gases e vapores
go da operação uma série de fatores Com isto, nosso canhão utilizado com inflamáveis emanados, bem como mini-
modificativos contribuíram para que o capacidade para até 6.000 gpm (22.710 mizar os riscos de resignação”. Porém,
evento aumentasse. “Podemos citar inú- litros por minuto), foi operado na vazão Rocha alerta para o uso deste produto no
meras dificuldades como, por exemplo, de 3.000 gpm (11.355 litros por minu- que diz respeito à origem, características,
o controle de múltiplos incêndios em to), dificultando o lançamento de espu- indicações e taxas de aplicação, lembran-
diferentes tanques, além dos vários di- ma dentro dos tanques nas ocasiões em do que a espuma utilizada para gasolina
ques intermediários, o rompimento do que o vento soprava no sentido lateral”, não serve para apagar álcool.
dique principal com extravasamento de ressalta Aparecido Daniel Baldória, su- Diversos agentes alternativos foram
água e hidrocarbonetos sobrenadantes pervisor de Segurança Industrial. Segun- utilizados para combater as chamas co-
em chamas, a influência das condições do ele, o uso de LGE de diversos fabri- mo, por exemplo, o Cold Fire, importado
meteorológicas (vento, chuva e tábua de cantes também pode ter prejudicado dos Estados Unidos e o pó químico seco,
maré), a proximidade entre os costados no combate ao incêndio. “Recebemos cedido pela Infraero. Porém, segundo o
dos tanques, o rompimento de diver- Líquido Gerador de Espuma de vários comandante-geral do CBPMESP, estes
sas tubulações e a falência da central de fornecedores. A mistura destes não só produtos apenas auxiliaram no comba-
transferência de líquidos armazenados, prejudicou a eficiência da espuma como te ao fogo, sendo o LGE (Líquido Ge-
entre outros”. O gerente interino da re- também obstruiu por diversas vezes o rador de Espuma) determinante para a
finaria Presidente Bernardes Cubatão filtro de viaturas”, conclui. extinção do incêndio. Ao todo, foram
Petrobras, Orlando Carvalho de Jesus, O engenheiro Perez também acredi- utilizados 4.500 litros de Cold Fire, 400
também ressalta a proximidade dos tan- ta que esta mistura pode ter dificultado kg de pó químico e cerca de um milhão
ques envolvidos no incêndio. “Em ter- no combate às chamas. “Cada fornece- de litros de LGE, além de bilhões de li-
mos de parque de armazenamento, a pri- dor garante a eficiência do seu produto tros de água do mar.
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Gabinete de Crise
o Corpo de Bombeiros e as equipes de
brigadistas que atuam diretamente no
combate, com os demais órgãos exter-
Sistema reuniu órgãos envolvidos, auxiliando nos, conseguindo reforços, materiais e
nas ações de combate ao incêndio equipamentos necessários para a opera-
ção”, explica.
Para acompanhar as operações e to- chamas causadas pelo incêndio deixaram
mar providências adicionais no combate a população amedrontada. Para tranqui- MEIO AMBIENTE
ao incêndio, o Governo do Estado de lizar a comunidade do entorno do local Desde o primeiro momento, o incên-
São Paulo instalou na Prefeitura de San- do acidente, a Defesa Civil do Estado dio gerou uma densa fumaça preta que,
tos um Gabinete de Crise, comandado de São Paulo, em parceria com a Defe- em poucos minutos, tomou conta do
pelo prefeito e integrado por diversos sa Civil Municipal, atuou de forma ati- céu da Baixada Santista. A grande pre-
representantes dos órgãos envolvidos. va, esclarecendo dúvidas da população. ocupação das autoridades e dos órgãos
“Numa ocorrência desta magnitude as “Como tínhamos produtos químicos responsáveis pelo meio ambiente, era
coisas ficam muito dissipadas, com in- envolvidos no cenário da ocorrência, os possíveis impactos ambientais que o
formações contraditórias. O objetivo elaboramos um Plano de Contingên- evento poderia causar. A Cetesb (Com-
do gabinete é centralizar e estudar as cia, caso fosse necessária a evacuação panhia de Tecnologia de Saneamento
operações junto com os agentes envol- dos moradores. Criamos círculos con- Ambiental) acompanhou a ocorrência
vidos na ocorrência e decidir o melhor cêntricos em um raio de 500 metros, desde o começo, monitorando a qualida-
caminho a seguir, levando em conside- para retirada de 700 pessoas, e mil me- de do ar, água e vegetação. “O principal
ração a segurança dos profissionais e tros para 7.000. Além disto, promove- aspecto que foi monitorado desde o iní-
da comunidade, além de permitir que o mos reuniões diárias com a população cio foi o que chamamos de PM10, ou se-
desastre seja mitigado”, explica o coro- para esclarecimento dos fatos”, ressalta ja, partículas menores que dez micrôme-
nel José Roberto Rodrigues de Oliveira, o coronel Oliveira. tros, presentes na fumaça. Para esta ope-
Secretário-Chefe da Casa Militar e Coor- Segundo o coordenador, em eventos ração, contamos com um equipamento
denador Estadual de Defesa Civil de SP. como este, o órgão está presente desde especializado, alugado pela Ultracargo e
No quinto dia do incêndio o Gover- o início, auxiliando nas operações e co- instalado em uma escola perto do local
no Federal determinou que a Infraero, a ordenando questões de logística. “Neste do incêndio, além das estações móveis
FAB e o Exército Brasileiro disponibili- tipo de ocorrência, a Defesa Civil age no de monitoramento de ar da Cetesb”,
zassem equipamentos e pessoal para au- todo. Além de auxiliar a população nós diz Carlos Ferreira Lopes, biólogo do
xiliar no combate ao incêndio, ajudando também fizemos os contatos necessá- setor de Atendimento de Emergências
no transporte e locação de equipamen- rios com fornecedores de produtos de do órgão. Segundo ele, a fumaça gerada
tos e produtos. combate a incêndio, falamos com auto- pela queima dos combustíveis em ques-
ridades responsáveis, solicitamos pedi- tão, é tóxica. Porém, traz mais danos
DEFESA CIVIL do de reforços profissionais, entre ou- quando está em confinamento. “Agora
As grandes explosões e as imensas tras ações. Ou seja, somos a ponte entre temos que levar em consideração que a
população não estava em contato com
a fumaça que subia para a atmosfera e
ALBERTO TAKAOKA

se dissipava. Dizer que não é tóxica está


errado, porém as condições na atmos-
fera já representavam uma diminuição,
dissipação e com isto não se alterou a
qualidade do ar na região.”
Outra questão ambiental que preocu-
pou as autoridades e a comunidade do
entorno foi a poluição da água no Canal
do Estuário, perto do local do incêndio.
Um dia após o início do evento, sete to-
neladas de peixes mortos apareceram na
região. “Fizemos uma análise laborato-
rial da água utilizada no combate e que
chegava ao Estuário. Esta análise indi-
cou uma grande quantidade de BTEX
(Benzeno, Tolueno, Etilbenzeno e Xile-
no) que são os hidrocarbonetos aromá-
ticos dissolvidos em água, este é um
aspecto. Outro aspecto é que também
tinha uma quantidade considerável de
Especialistas ajudaram no combate às chamas HPA, que são os Hidrocarbonetos Po-
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CRONOLOGIA DO INCÊNDIO

1º dia Explosões atingem quatro tanques de combustível, no Terminal


da Ultracargo, às 10h. Bombeiros e brigadistas trabalharam com
técnica de resfriamento dos tanques adjacentes e combate a incêndio com
5º dia Exército Brasileiro, Infraero e FAB disponibilizam equipamentos e
pessoal para auxiliar na operação.

água e espuma.
6º dia Chegada do “Cold Fire” e do Pó Químico para auxiliar no combate.
Oito linhas defensivas fazem o resfriamento dos tanques em volta,

2º dia Canhão-monitor joga oito mil litros de água com espuma por minuto. e três linhas ofensivas atacam os tanques que estão pegando fogo.
Vento forte ameaça operação e quinto tanque é atingido pelo fogo.

7º dia
Peixes aparecem mortos no Canal do Estuário. Novo vazamento aumenta as chamas e incêndio continua.

3º dia Equipes conseguem fechar uma das válvulas de proteção, caindo


para três o número de tanques atingidos. Governo de SP instala
Gabinete de Crise. 9º dia Equipes anunciam fim do incêndio.
CORPO DE BOMBEIROS DA PMESP

licíclicos Aromáticos. Sendo assim, o um aprendizado enorme. Este trabalho na área, a mudança também deve ocor-
ensaio de ecotoxicidade indicou que a harmônico foi a grande chave para que, rer na legislação brasileira. “É necessário
água estava bastante tóxica, o que pro- apesar das adversidades vividas durante que haja uma revisão nas leis existentes
vavelmente resultou na morte dos pei- o incêndio, as equipes permanecessem no país, no que diz respeito ao tipo de
xes”, ressalta Lopes. Ele explica que isto motivadas até o último dia”. estocagem, dimensionamento de esto-
ocorre porque o sistema de escoamento Segundo especialistas, o Brasil ainda cagem, infraestrutura destes terminais,
da água usada para conter as chamas es- não está preparado para enfrentar este entre outras questões. O Porto Alemoa
tá no Canal do Estuário. tipo de ocorrência. “Não estamos pre- é uma das principais instalações portu-
De acordo com o biólogo, a Cetesb parados por diversos motivos, inclusive árias da América Latina, iniciou há de-
está monitorando a qualidade do ar e da por não ser um tipo de emergência que zenas de anos e hoje está envolvida com
água. Além disto, devido à pluma (nu- ocorra de forma habitual, além da espe- uma comunidade do entorno. Isto é um
vem de produto na atmosfera) gerada cificidade do tipo de ocorrência. Preci- problema público, que deve envolver to-
pela fumaça, o órgão também está rea- samos de recursos materiais adequados do o Brasil” conclui.
lizando o monitoramento da vegetação. disponíveis, caso ocorra uma emergên- Segundo a assessoria de imprensa da
cia desta natureza. Além disto, os ór- Ultracargo, a empresa possui todas as li-
ENSINAMENTO gãos e instituições devem investir em cenças e autorizações necessárias e que
Conforme o Corpo de Bombeiros da prevenção, capacitação e integração de suas operações obedecem todas as le-
Polícia Militar do Estado de SP, o incên- profissionais, principalmente no que diz gislações, regulações e normas técnicas
dio no Porto Alemoa deixou grandes respeito a incêndios industriais”, exalta aplicáveis.
lições. “O trabalho integrado do CBP- Marco Aurélio Rocha, especialista em Os Ministérios Públicos Estadual e Fe-
MESP com os bombeiros industriais e Gerenciamento de Emergências e De- deral instauraram um inquérito para apu-
brigadistas que participaram da opera- sastres, capacitado em Incêndio Petro- rar as causas do acidente. Com objetivo
ção, além da Defesa Civil, todos sob um químico e em Emergências com GLP. de agilizar o processo de investigação, a
Sistema de Comando Integrado com- Para o engenheiro Rubens César Pe- Ultracargo criou um comitê para detec-
posto pelos líderes de cada instituição, é rez, diretor da Task Service e especialista tar a origem do incêndio.
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