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COMANDO DA AERONÁUTICA

COMANDO GERAL DE APOIO


INSTITUTO DE LOGÍSTICA DA AERONÁUTICA

CONTRAINCÊNDIO

Aptl 92-00

TEORIA CONTRAINCÊNDIO

2020

Av.Monteiro Lobato 6365, Cumbica - Guarulhos SP -CEP 07184000


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O presente trabalho foi desenvolvido para uso didático, em cursos que são oferecidos pelo Insti-
tuto de Logística da Aeronáutica (ILA). O seu conteúdo é fruto de pesquisa em fontes citadas na
referência bibliográfica, e que o(s) autor(es)/revisor(es) acreditam ser confiáveis. No entanto,
nem o ILA, nem o(s) autor(es)/revisor(es) garantem a exatidão e a atualização das informações
aqui apresentadas, rejeitando a responsabilidade por quaisquer erros e/ou omissões, ou por
danos e prejuízos que possam advir do uso dessas informações. Esse trabalho é publicado com
o objetivo de suprir informações acerca dos temas nele abordados, não devendo ser entendido
como um substituto dos serviços prestados por profissionais da área, ou das publicações técni-
cas específicas que tratam de assuntos correlatos.
Aptl 92-00/2020

OBJETIVOS
(Cn) - Identificar o conceito de fogo, os elementos que o compõe e suas carac-
terísticas;
(Cn) - Identificar o conceito de incêndio, suas características, fases, classifica-
ção e formas de extinção;
(Cn) - Identificar o fenômeno de reação em cadeia;
(Cn) - Identificar os diversos tipos de combustíveis e suas características;
(Cn) - Identificar as fontes de calor, formas de propagação e seus efeitos;
(Cn) - Identificar o processo de combustão e suas consequências;
(Cn) - Identificar os fatores que ocasionam incêndio;
(Cn) - Enumerar as situações que contribuem para que ocorra o incêndio;
(Ap) - Praticar as ações de prevenção de contraincêndio;
(Cn) - Identificar os agentes extintores principais e complementares;
(Cn) - Identificar as características dos agentes extintores;
(An) - Distinguir as maneiras de aplicação dos agentes extintores; e
(Cp) - Discutir as desvantagens dos agentes extintores.
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SUMÁRIO
1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE CONTRAINCÊNDIO .............................................6
1.1 FOGO ...................................................................................................................................6
1.1.1 FOGO E INCÊNDIO .......................................................................................................7
1.1.2 COMPOSIÇÃO DO FOGO ............................................................................................8
1.1.3 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO FOGO ......................................................................9
1.2 COMBUSTÃO ..................................................................................................................24
1.2.1 QUANTO A VELOCIDADE ........................................................................................24
1.2.2 QUANTO A FORMA.....................................................................................................26
1.2.3 INTENSIDADE DA COMBUSTÃO ...........................................................................27
1.2.4 GASES PERIGOSOS ORIUNDOS DA COMBUSTÃO ...........................................29
1.3 INCÊNDIO ........................................................................................................................31
1.3.1 FASE INICIAL ...............................................................................................................31
1.3.2 MÉTODOS DE EXTINÇÃO DO FOGO .....................................................................35
1.3.3 CLASSIFICAÇÃO DOS INCÊNDIOS .......................................................................37
1.3.4 TÉCNICAS DE EXTINÇÃO AO FOGO POR CLASSES DE INCÊNDIO ............40
1.3.5 TÉCNICAS DE EXTINÇÃO AO FOGO COMPLEMENTARES ............................49
1.4 GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO (GLP 13 KG) ......................................................59
1.4.1 RESERVATÓRIOS DE GLP .........................................................................................59
1.4.2 SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA ...............................................................................61
1.4.3 INSTALAÇÃO DO BOTIJÃO .....................................................................................62
1.4.4 CUIDADOS OPERACIONAIS ....................................................................................64
1.4.5 CUIDADOS NA COMPRA DO BOTIJÃO .................................................................65

2 ESTUDO DOS AGENTES EXTINTORES ...................................................................66


2.1 AGENTES PRINCIPAIS..................................................................................................66
2.1.1 AGENTE PRINCIPAL EM EDIFICAÇÕES - ÁGUA ...............................................66
2.1.2 AGENTE PRINCIPAL DE USO AERONÁUTICO - LGE .......................................68
2.2 AGENTES COMPLEMENTARES .................................................................................73
2.2.1 PÓS QUÍMICOS (PQ) ...................................................................................................73
2.2.2 AGENTES COMPLEMENTARES - AGENTES EXTINTORES GASOSOS ........75
2.3 TABELA DE APLICAÇÃO DE AGENTES EXTINTORES .......................................81
2.4 DESVANTAGEM DOS AGENTES EXTINTORES .....................................................81
2.5 TÉCNICAS DE APLICAÇÃO DOS AGENTES EXTINTORES ................................82
2.5.1 APLICAÇÃO DE ÁGUA EM JATO COMPACTO OU PLENO ..............................82
2.5.2 APLICAÇÃO DE ÁGUA EM JATO CHUVEIRO .....................................................83
2.5.3 APLICAÇÃO DE ÁGUA EM JATO NEBLINA ........................................................84
2.5.4 TÉCNICAS DE EMPREGO DE ESPUMA.................................................................85

3 DISPOSIÇÕES FINAIS ....................................................................................................89

REFERÊNCIAS .................................................................................................................90

Anexo A - Tabela de Materia Perigosos..............................................................................91


Anexo B - GLOSSÁRIO .....................................................................................................92
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1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE CONTRAINCÊNDIO


1.1 FOGO
A história do fogo está intimamente ligada a história da evolução do homem.
A história contemporânea nos assegura que o fogo provavelmente foi descoberto
pelo homem primitivo que o conhecia como força misteriosa, servindo apenas como ilumina-
ção e meio de aquecimento da caverna.
A partir da Idade da Pedra, passando pela Era dos Metais, pelas Guerras Me-
dievais, a Era das Conquistas e a Revolução Industrial, notamos a presença do fogo na trans-
formação da matéria bruta em produtos manufaturados, como armas de guerra, ou preparo de
alimentos, utensílios, etc.
Obviamente, para bem empregá-lo, sempre houve uma nítida preocupação em
controlar seus efeitos, visando empregá-lo da melhor maneira possível.

Figura 01
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1.1.1 FOGO E INCÊNDIO


Inicialmente é preciso entender a diferença entre fogo e incêndio que para al-
guns parecem palavras sinônimas, mas tecnicamente não tem o mesmo significado.
Sendo assim, fogo é uma reação química denominada combustão (oxidação),
que se caracteriza pela liberação de luz, calor, fumaça e gases.
Na concepção da palavra, o fogo é um elemento de grande utilidade na vida mo-
derna como também foi aos nossos antepassados. Sua aplicação é mais intensificada à medida
que caminhamos em direção ao progresso. Ele acompanha, passo a passo, o desenvolvimento
de uma nação, figurando como um dos principais fatores de propulsão da mesma.
O fogo para ser útil e amigo, deverá estar sob o controle do homem (Fig. 02);
entretanto, quando o homem perde seu controle, ele se transforma em verdadeiro monstro, com
ilimitada capacidade de destruição.
Incêndio é, portanto, um fogo descontrolado, um fogo nocivo, um fogo destruidor (Fig. 03).

Figura 02 Figura 03

O que caracteriza o incêndio, não é a intensidade ou o estágio de desenvolvimen-


to e sim o objetivo da sua ação. O fogo, mesmo pequeno, mas nocivo, caracteriza um princípio
de incêndio.
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1.1.2 COMPOSIÇÃO DO FOGO


Vimos que o fogo é uma reação química, e para se viabilizar uma reação quí-
mica, torna-se necessária à existência de, no mínimo, dois elementos que reajam entre si e em
circunstâncias favoráveis.
1.1.2.1 Triângulo do Fogo
O fogo é composto por três elementos essenciais, o combustível, o oxigênio
(comburente) e o calor (agente ígneo). Para efeito didático estes elementos formam um triân-
gulo equilátero (Triângulo do Fogo), sendo que cada um deles ocupa um lado deste triângulo
(Fig. 04).

Figura 04

1.1.2.2 Tetraedro do Fogo


Alguns autores consideram que o fogo é composto por quatro elementos essen-
ciais: o combustível, o oxigênio (comburente), o calor (agente ígneo) e a reação em cadeia,
representados geometricamente pelo “Tetraedro do Fogo”. Eles chegaram a esta conclusão,
pois, a combustão sendo um fenômeno químico, processa-se no sistema de reação em cadeia
que, após a partida inicial, é mantida pelo próprio calor produzido durante o processamento da
reação (Fig. 05).

calor

Figura 05
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1.1.2.3 Reação em Cadeia


Como a reação em cadeia ainda não foi muito bem explicada como sendo um
elemento essencial ao fogo, não a trataremos como um quarto elemento, e sim como uma con-
sequência de toda e qualquer reação química. Assim, sendo a combustão uma reação química,
ela se processa no sistema de reação em cadeia (Fig. 06).

Figura 06
A reação em cadeia torna a queima auto-sustentável. O calor originado da de-
composição das moléculas do combustível atinge outras moléculas que são decompostas em
partículas menores, que se combinam com o oxigênio e queimam, gerando mais calor para
decompor outras moléculas do combustível, formando um ciclo constante (reação em cadeia).
1.1.3 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO FOGO
Para uma melhor compreensão dos elementos que compõem o fogo, vamos es-
tudar, separadamente, cada um deles.
1.1.3.1 Combustível (Agente Redutor)
Compreende toda substância capaz de se queimar (oxidar-se). É o elemento que
serve de campo de propagação e alimenta a combustão. A velocidade da queima de um com-
bustível depende de sua capacidade de combinar com oxigênio sob a ação do calor e da sua
fragmentação (área de contato com o oxigênio).
1.1.3.1.1 Estado Físico dos Combustíveis
Os combustíveis podem ser encontrados nos estados sólidos, líquidos e gasosos
e a grande maioria precisa passar para o estado gasoso para, então, combinar com o oxigênio
(queimar-se).
a) Combustível sólido
São aqueles que queimam em superfície e profundidade, deixando resíduos.
Para a extinção do incêndio, o agente extintor mais indicado é a água.
A maioria dos combustíveis sólidos transforma-se em vapores e então, rea-
gem com o oxigênio. Outros sólidos, como ferro, parafina, cobre e bronze, primeiro transfor-
mam-se em líquidos, e posteriormente em gases, para então se queimarem.
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Figura 07: A madeira, o papel e o tecido são exemplos de combustíveis sólidos comuns.

Quanto maior a superfície do sólido exposta ao calor, mais rápido será o


aquecimento do material e, consequentemente, o processo de combustão. Por exemplo: uma
barra de aço exigirá muito calor para queimar mas, se transformada em palha de aço, queimará
com facilidade. Assim sendo, quanto maior a fragmentação do material, maior será a velocidade
da combustão.
b) Combustível líquido
Os combustíveis líquidos queimam
somente em superfície e, de uma maneira geral, não
deixam resíduos. Eles assumem a forma do recipiente
que os contém. Se derramados, os líquidos tomam a
forma do piso, fluem e se acumulam nas partes baixas
(Fig. 08).
Os combustíveis líquidos apresen-
tam densidade, solubilidade e volatilidade.
Densidade de um líquido: Toman-
do como base o peso da água, cujo litro pesa 1 (um)
quilograma, classificamos os demais líquidos como
mais leve (menos denso) ou mais pesado (mais denso) Figura 08
que a água.
É importante salientar que a maioria dos combustíveis líquidos são mais
leves que a água e, portanto, flutuam sobre esta (Fig. 09).

Figura 09
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Solubilidade de um líquido - É a capacidade do combustível líquido de


misturar-se com a água ou não. Os líquidos derivados do petróleo, conhecidos como hidrocar-
bonetos, (gasolina, querosene (Fig. 10), óleo diesel, xileno, tolueno, etc.) têm pouca solubili-
dade, ao passo que líquidos como o álcool, acetona e éter (conhecidos como solventes polares)
tem grande solubilidade, isto é, podem ser diluídos até um ponto em que a mistura (solvente
polar + água) não seja inflamável.

Figura 10
Volatilidade de um líquido - É a facilidade com que os líquidos liberam
vapores inflamáveis. Também é de grande importância, porque quanto mais volátil for o líqui-
do, maior a possibilidade de haver fogo, ou mesmo explosão. Chamamos de voláteis os líqui-
dos que liberam vapores inflamáveis a temperaturas menores que 20ºC (temperatura ambiente)
(Fig. 11).

Figura 11
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c) Combustível gasoso
Correspondem aos gases inflamá-
veis. Eles não possuem volume definido, tendendo,
rapidamente, a ocupar todo o recipiente em que estão
contidos (Fig. 12).
Quando tratamos do peso de um
gás, tratamos de sua densidade: Se o peso do gás é
menor que o do ar (menos denso), o gás tende a subir
e dissipar-se. Mas se o peso do gás é maior que o do
ar (mais denso), o gás permanece próximo ao solo e
caminha na direção do vento, obedecendo ao contorno
do terreno.
1.1.3.1.2 Limite de Inflamabilidade
É uma faixa de concentração de mistura
de gases ou vapores inflamáveis na atmosfera dentro Figura 12
da qual ocorre a queima.
Para um gás ou vapores de combustíveis líquidos queimarem, há necessidade de
que estejam em uma mistura ideal com o comburente, e, portanto, se estiver numa concentração
fora de determinados limites, não queimarão. Cada gás ou vapor possui seu limite próprio. Por
exemplo, se num ambiente há menos de 1,4% ou mais de 7,6% de vapor de gasolina, não haverá
combustão, pois a concentração de vapor de gasolina neste local está fora do que se chama de
mistura ideal, ou limites de inflamabilidade.

Figura 13

Tabela de inflamabilidade de alguns combustíveis:

Concentração no Combustível
Ambiente Metano Propano Hidrogênio Acetileno
Limite Inferior 1,4% 5% 4% 2%
Limite Superior 7,6% 17% 75% 100%
Tabela 1
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1.1.3.2 Comburente (Agente Oxidante)


É o elemento que possibilita vida às chamas
e intensifica a combustão. Em ambientes pobres de oxigê-
nio o fogo apresenta chamas fracas ou não as possui e, nos
locais ricos em oxigênio, as chamas são fortes, brilhantes
e com elevada temperatura, como no caso dos maçaricos
de oxiacetileno utilizados para corte de metais e soldagem
(Fig. 14).
A composição do ar atmosférico, em núme-
ros aproximados, é de 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio
e 1% de outros gases.
Em ambientes com 21% de oxigênio, a quei-
ma se desenvolve com boa velocidade e de maneira com-
pleta, apresentando formação de chamas. Contudo, a com-
bustão consome o oxigênio do ar num processo contínuo.
Quando a porcentagem de oxigênio do ambiente passa para
uma faixa compreendida entre 16% e 8%, a queima torna-se
mais lenta, apresentando brasas e não mais chamas. Quan-
do o oxigênio do ambiente atinge a concentração menor de
8%, não há combustão (Fig. 15). Figura 14

Normalmente o que atua como comburente numa combustão é o oxigênio exis-


tente no ar atmosférico. Porém existem substâncias e materiais que possuem oxigênio em sua
estrutura molecular que, ao entrarem em combustão, utilizam esse oxigênio, ficando indepen-
dente do oxigênio do ar atmosférico. É o caso das pólvoras dos cartuchos de arma de fogo.

Figura 15

As substâncias da classe 5 (Fig. 16) de produtos perigosos (substâncias oxidan-


tes e peróxidos orgânicos), além de possuírem o oxigênio em sua estrutura química, são capazes
de liberá-lo para alimentar a combustão de outros materiais que estejam em chamas nas suas
proximidades. São produtos oxidantes: peróxidos, permanganatos, cloratos, percloratos, persul-
fatos, nitritos, iodatos, bromatos, cromatos e percromatos.
As substâncias oxidantes podem se apresentar como sólidos, líquidos ou gases.
• O perclorato de amônia - é utilizado como comburente sólido em foguetes;
• O peróxido de nitrogênio - é um gás utilizado na composição dos combustí-
veis de foguete;
• Peróxido de hidrogênio - líquido.

Figura 16: Tabela de Materiais Perigosos (ANEXO A)


na página 60.
PERVÓXIDO
ORGÂNICO

6.2
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Em alguns casos particulares, outros gases diferentes do oxigênio atuam como


comburente, como por exemplo:
• A queima de antimônio e de vapores enxofre em atmosfera de cloro.
• A queima espontânea do fósforo em atmosfera de cloro.
• A queima do ferro e do cobre na presença de vapores de enxofre.
• A queima do zircônio em atmosfera de anidrido carbônico.
1.1.3.3 Calor (Agente Ígneo)
O calor é o elemento que inicia a combustão, a mantém, e incentiva a sua pro-
pagação. É a forma de energia que eleva a temperatura. O calor é gerado da transformação de
outra energia, obtida através de processo físico ou químico. Quando um corpo é aquecido, a
velocidade de vibração das moléculas aumenta e o calor (demonstrado pela variação de tempe-
ratura) também aumenta (Fig. 17).

Figura 17
1.1.3.3.1 Fontes de Calor
O calor é gerado pela transformação de outras formas de energia:
• Energia química: O calor gerado pelo processo de combustão (Fig. 18);

Figura 18
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• Energia elétrica: O calor gerado pela passagem de eletricidade através de


um condutor, como um fio elétrico ou um aparelho eletrodoméstico (Fig. 19);

Figura 19

• Energia mecânica: O calor gerado pelo atrito de dois corpos (Fig. 20); e

Figura 20

• Energia nuclear: O calor gerado pela quebra ou fusão de átomos (Fig. 21).

Figura 21
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1.1.3.3.2 Efeito do Calor


O calor é uma forma de energia e provocará a mudança de temperatura no am-
biente e nos corpos.
O aumento da temperatura produz efeitos físicos e químicos nos corpos e efeitos
fisiológicos nos seres vivos.

Figura 22

Assim, por exemplo, ao aquecermos um pedaço de ferro, este, inicialmente au-


menta sua temperatura e, a seguir, o seu volume (Fig. 22). Mantido o processo de aquecimento,
o ferro muda de cor, perde a forma, até atingir o seu ponto de fusão, quando se transforma de
sólido para líquido. Continuando ainda o aquecimento, gaseifica-se e queima em contato com o
oxigênio, transformando-se em outra substância.
Elevação da temperatura
Este fenômeno se desenvolve
com maior rapidez nos corpos considerados
bons condutores de calor, como os metais;
mais vagarosamente, nos corpos tidos como
maus condutores de calor, como por exem-
plo, o amianto (Fig. 23).
Por ser mau condutor de ca-
lor, o amianto era utilizado na confecção
de materiais de combate a incêndios, como
roupas, capas e luvas de proteção ao calor.
Atualmente estes foram substituídos por
outros materiais maus condutores de calor
(exemplos: nomex, kevlar, etc.).
O conhecimento sobre a con-
dutibilidade de calor dos diversos materiais
é de grande valia na prevenção de incêndios.
Aprendemos que materiais combustíveis Figura 23
nunca devem permanecer em contato com
corpos bons condutores, sujeitos a uma fonte de aquecimento.
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Efeitos da Elevação de Temperatura


a) Aumento de volume
Todas as substâncias (sólidas, líquidas ou gasosas) se dilatam quando aumen-
ta a temperatura e se contraem com sua diminuição. A única exceção é a água, que aumenta seu
volume quando congela.
A atuação do calor não se faz de maneira igual sobre todos os materiais.
Alguns problemas podem decorrer dessa diferença. Imaginemos por exemplo uma viga de con-
creto de 10 metros exposta a uma variação de temperatura de 7000°C. A esta variação, o ferro,
dentro da viga, aumentará seu comprimento cerca de 84 milímetros, e o concreto, 42 milíme-
tros. Com isso, o ferro tende a se deslocar no concreto, que perde a capacidade de sustentação,
enquanto que a viga “empurra” toda a estrutura que sustenta em, pelo menos, 42 milímetros
(Fig. 24).

Figura 24
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Os materiais sólidos não resistem a variações bruscas de temperatura. Por


exemplo, ao jogarmos água de maneira localizada em apenas uma pequena parte de um corpo
superaquecido, este se contrai de forma rápida e desigual, o que lhe causa rompimentos, fissu-
ras e danos. Pode ocorrer um enfraquecimento deste corpo, chegando até a um colapso, isto é,
podem surgir grandes rupturas internas ou alteração em suas propriedades que fazem com que
o material não mais se sustente.

Figura 25

ATENÇÃO!
Mudanças bruscas de temperatura em sólidos, como as relatadas acima,
são causas comuns de desabamentos de estruturas (Fig. 25).
A dilatação dos líquidos também pode produzir situações perigosas, pro-
vocando transbordamento de vasilhas, rupturas de recipientes contendo produtos perigosos ou
inflamáveis, etc.
O aquecimento dos gases proporciona a sua dilatação volumétrica, acarre-
tando o risco de explosões físicas recipientes que os contém, pois, de um modo geral, ao serem
aquecidos até 2730°C os gases duplicam de volume; a 5460°C o seu volume é triplicado, e
assim sucessivamente. Com o aumento da temperatura ocorre o aumento do volume dos gases
no interior de um recipiente e, consequentemente, a pressão interna também aumenta. Caso o
recipiente não possua dispositivo de segurança ou, se existir, o dispositivo não seja suficiente
para dar vazão ao gás em expansão, ocorrerá uma explosão, provocada pela ruptura das paredes
do recipiente e pela violenta expansão dos gases.
Atenção! Os vapores líquidos (inflamáveis ou não) se comportam como os
gases.
b) Mudança no estado físico da matéria
Com o aumento da temperatura, os corpos tendem a mudar seu estado físico:
os sólidos, ao alcançarem a temperatura de fusão (ou ponto de fusão), transformam-se em líqui-
dos (Fig. 26). Os líquidos, ao alcançarem a temperatura de vaporização (ou ponto de vapori-
zação), transformam-se em gases. Existem alguns sólidos que se transformam diretamente em
gases (sublimação). Isso se deve ao fato de que a elevação de temperatura faz com que aumente
o espaço entre as moléculas e estas, separando-se, mudam o estado físico da matéria.

Figura 26
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Quando a água está congelada (gelo), suas moléculas vibram pouco e estão
bem juntas; com o aumento da temperatura elas adquirem maior velocidade de vibração e maior
espaçamento, transformando-se em líquido (água).
c) Alteração química da matéria
Mudança química é aquela em que ocorre a transformação de uma substância
em outra diferente (Fig. 27).
A madeira, quando aquecida, não libera moléculas de madeira em forma de
gases, e sim outros gases, diferentes, em sua composição, das moléculas originais da madeira.
Essas moléculas são mais instáveis, por isso tem grande capacidade de reagir quimicamente
com outras moléculas, as de oxigênio, por exemplo. Podem produzir também gases venenosos
ou atmosferas explosivas.

Mudança Química pelo Calor

Moléculas de Madeira

Moléculas de Vapor Com-


bustível

Calor

Figura 27

d) Efeitos fisiológicos
O aumento da temperatura é a causa direta de vários problemas para o ser
humano. Dentre eles destacamos a desidratação, a insolação, a fadiga e problemas para o apa-
relho respiratório, além de queimaduras (1°, 2° e 3° graus), que nos casos mais graves, podem
levar a morte (Fig. 28).
Queimaduras

Pele Normal Queimadura de 1º Grau


Figura 28

Queimadura Queimadura
de 2º Grau de 3º Grau
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1.1.3.3.3 Propagação do Calor


O calor pode se propagar de três diferentes maneiras: condução, convecção e
radiação. Como tudo na natureza tende ao equilíbrio, assim o calor é transferido de objetos
com temperatura mais alta para aqueles com temperatura mais baixa, ou ainda, o mais frio dos
dois objetos absorverá calor até que esteja com a mesma quantidade de energia do outro.
a) Condução
Condução é a transferência de calor de molécula para molécula, ou seja, para
que haja transmissão por condução é necessário que os corpos estejam juntos. Se colocarmos
a extremidade de uma barra de ferro próxima a uma fonte de calor, as moléculas desta extre-
midade absorverão calor, vibrarão mais rigorosamente e se chocarão com as moléculas vizi-
nhas, transferindo-lhes calor. Esses moléculas vizinhas, por sua vez, passarão adiante a energia
calorífica, de modo que o calor será conduzido ao longo da barra para a extremidade fria. Na
condução, o calor passa de molécula para molécula, mas nenhuma molécula é transportada pelo
calor (Fig. 29).
Quando dois ou mais corpos estão em contato, o calor é conduzido através
deles como fossem um só corpo.
A transmissão de calor por condução ocorre principalmente nos combustí-
veis sólidos.

Viga metálica

Coluna metálica

Figura 29
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b) Radiação
É a transmissão de calor por ondas de energia calorífica que se deslocam atra-
vés do ar e do vácuo, atravessam superfícies transparentes e refletem nas polidas. Por exemplo,
o calor do Sol é transmitido através do vácuo celeste até alcançar a Terra, quando é absorvido.
Um corpo aquecido emite ondas de energia calorífica em linha reta e em todas as direções, que
são absorvidas pelos corpos que estão expostos. A intensidade com que os corpos são atingidos
aumenta ou diminui à medida que estão mais próximos ou mais afastados da fonte de calor (Fig.
30).

Figura 30

O bombeiro deve estar atento aos materiais ao redor de uma fonte que irradie
calor, devendo protegê-los, evitando novos focos de incêndios.
Para se proteger do calor irradiado, o bombeiro deve utilizar roupas apropria-
das e água em forma de chuveiro (como escudo, Fig. 31).

Figura 31
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Compreendendo o efeito da radiação e da condução do calor através das


estruturas metálicas, poderemos entender o porquê da necessidade de preservar a fuselagem
das aeronaves, realizando a sua proteção e resfriamento antes do combate ao incêndio numa
extremidade de asa, pois uma vez aquecido, o metal continuará a conduzir o calor, mesmo após
o fogo ter sido extinto (Fig. 32).

Figura 32

c) Convecção
É o processo de transferência de calor que se faz através da circulação do
meio transmissor: gás ou líquido.
Quando a água é aquecida num reci-
piente de vidro, pode-se observar um movimento, dentro
do próprio líquido, de baixo para cima. À medida que a
água é aquecida, ela se expande e fica menos densa (mais
leve) provocando um movimento para cima, deixando es-
paço para que outro volume de água mais denso ocupe o
seu lugar para ser aquecido e, assim, sucessivamente (Fig.
33).
Da mesma forma, o ar aquecido se ex-
pande e tende a subir para as partes mais altas do ambien- Figura 33
te, enquanto o ar frio toma lugar nos níveis mais baixos. Em incêndios de edifícios, essa é a
principal forma de propagação de calor para andares superiores, quando os gases aquecidos
encontram caminho através de escadas, corredores de circulação de elevadores, etc. (Fig. 34).

Figura 34
Aptl 92-00/2020 23/93

1.1.3.3.4 Pontos de Temperatura


Temperaturas específicas a cada combustível, nas quais são observadas determi-
nadas características (Fig. 35):
a) Ponto de fulgor
Ponto de fulgor é a temperatura na qual os corpos combustíveis começam a
desprender vapores que se incendeiam com uma fonte de calor, entretanto a chama não se man-
tém, devido à insuficiência nas quantidades de vapores.
b) Ponto de combustão
Ponto de combustão é a temperatura na qual os vapores desprendidos dos
corpos combustíveis, ao entrarem em contato com uma fonte de calor, inflamam-se e mantém
a combustão.
c) Ponto de ignição
Ponto de ignição é a temperatura na qual os vapores desprendidos dos com-
bustíveis, ao entrarem em contato com o oxigênio do ar, se inflamam, independente de qualquer
fonte de calor (chama ou centelha) e mantém a combustão.

Figura 35

Observe na tabela a seguir os pontos notáveis de temperatura de alguns combus-


tíveis:
Ponto de Ful- Ponto de Combus- Ponto de Igni-
Combustível gor (ºC) tão (ºC) ção (ºC)
Álcool 12,8 15,8 a 16,8 371
Éter - 40 - 37 a -36 160
Gasolina de Aviação - 45,5 - 42,5 a -41,5 440
Glicerina 160 163 a 164 365
Naftalina 79 82 a 83 524,5
Óleo de soja 282 285 a 286 445
Parafina 199 202 a 203 245
Querosene 38 41 a 42 210
Tabela 2
24/93 Aptl 92-00/2020

1.2 COMBUSTÃO
Diversos autores têm apresentado diferentes conceituações sobre os tipos de
combustão. No nosso estudo, que é especificamente relacionado com os incêndios, classificare-
mos as combustões da seguinte forma:
1.2.1 QUANTO A VELOCIDADE
Dois elementos são preponderantes na velocidade da combustão: o comburen-
te e o combustível. O calor entra no processo para decompor o combustível. A velocidade da
combustão variará de acordo com a porcentagem do oxigênio no ambiente e as características
físicas e químicas do combustível.
De acordo com a velocidade da reação as combustões podem ser:
• Lenta - Quando o processo da reação ocorre de maneira lenta e não há produ-
ção de chamas, ou qualquer fenômeno luminoso. A liberação de calor é muito fraca, baixíssima.
Ocorre, geralmente, em ambientes pobres em oxigênio. Como exemplo podemos citar a oxida-
ção lenta de materiais combustíveis (ferrugem, Fig. 36);

Figura 36

• Viva - Quando ocorre a produção de muitas chamas, ou qualquer fenômeno


luminoso. Como exemplo citamos qualquer atividade de queima em ambiente aberto (Fig. 37);

Figura 37

• Muito viva - É um tipo de explosão (deflagração) caracterizada por apresentar


velocidade de reação muito rápida, mas inferior à velocidade do som (340 m/s) e pela elevação
da pressão até 1 atmosfera por metro quadrado. Por exemplo: explosão de granadas ou minas e
armas de fogo (Fig. 38);

Figura 38
Aptl 92-00/2020 25/93

• Instantânea - É um tipo de explosão (detonação, Fig. 39) caracterizada por


apresentar velocidade de reação superior à velocidade do som (340 m/s) e pela elevação da
pressão numa faixa compreendida entre 5 a 30 atmosferas. A combustão se processa de forma
súbita e atinge de imediato o combustível por completo.

Figura 39

ATENÇÃO!
Há ainda as reações de combustíveis “pseudoexplosivos”. A combustão ins-
tantânea de “pseudoexplosivos” merece especial atenção, pois quando ocorrem em am-
bientes confinados, se comportam como verdadeiras explosões. Isso ocorre com materiais
combustíveis sólidos finamente divididos em suspensão no ar, ou com líquidos inflamáveis
pulverizados no ar ou em ambientes gasados (saturados por gases inflamáveis), quando a
mistura do combustível com o ar está dentro da faixa de explosividade, formando assim,
uma atmosfera explosiva (explosões de gases, poeiras, etc.).
Limites de explosividade de alguns combustíveis quando em mistura com o ar:

Combustível Mínimo (%) Máximo (%)

Acetona 2,15 13,00


Acetileno 2,50 80,00
Butano 1,60 8,50
Monóxido de Carbono 12,50 74,20
Álcool Etílico 3,28 19,00
Óleo Diesel 6,60 13,50
Gás Encanado 5,30 31,00
Gasolina 1,30 6,00
Querosene 1,16 6,00
Metano 5,30 13,90
Hidrogênio 4,10 74,20
Tabela 3
26/93 Aptl 92-00/2020

1.2.2 QUANTO A FORMA


Quanto a forma, a combustão pode ser classi-
ficada em:

• Combustão completa - É aquela em que


a queima se processa em ambiente rico em oxigênio, tendo
como resultante a predominância de CO2 (dióxido de carbo-
no), dentre outros gases (Fig. 40);

Figura 40

• Combustão incompleta - É aquela em que


a queima se processa em ambiente pobre em oxigênio, tendo
como resultante a predominância de CO (monóxido de carbo-
no), dentre outros gases. Este gás é tóxico e explosivo (Fig.
41);

Figura 41

• Combustão espontânea - Processo em que um


material combustível, armazenado em condições favoráveis (lo-
cais com umidade, mal ventilado, com presença de catalisadores),
reage com o oxigênio do ar ou de um outro portador, gerando calor
e iniciando o seu aquecimento. Caso esse calor não se dissipe, o
material combustível continuará se aquecendo até pegar fogo sozi-
nho (sem o concurso de uma fonte de ignição).
O processo da combustão espontânea geralmente é
lento (através da combustão lenta), e o fogo pode ocorrer após
dias, semanas ou mesmo meses, durante os quais a temperatura se
elevou lentamente. É o que ocorre, por exemplo, quando do arma- Figura 42
zenamento de certos cereais que, pela ação de bactérias, fermen-
tam (Fig. 42). A fermentação concorre para a aceleração da oxidação e consequente produção
de calor e liberação de gases que podem se incendiar.

Entre as substâncias mais suscetíveis de combustão espontânea, destacam-se: al-


fafa, carvão, óleos (de linhaça, de milho, de semente de algodão, de pinho, de mostarda) tecidos
impregnados com óleo, o amendoim, os vernizes, certos fertilizantes orgânicos e inorgânicos,
as misturas contendo nitratos e material orgânico, estrume, os pós metálicos, o feno, serragem
e outros (Fig. 43).

Figura 43
Aptl 92-00/2020 27/93

ATENÇÃO!
Para evitar a combustão espontânea, as substâncias a ela sujeitas devem ser
arrumadas em estrados e armazenadas em locais secos e ventilados.
Alguns combustíveis entram em combustão sem a ação de uma fonte de calor
(materiais com baixo ponto de ignição), como o fósforo branco (Fig. 44) que entra em combus-
tão à temperatura ambiente (20°C).
Esse processo ocorre também na mistura de determinadas substâncias químicas,
quando a combinação gera calor e libera gases em quantidade suficiente para iniciar a combus-
tão. Por exemplo, água + sódio metálico (Fig. 45).
Fósforo Branco Sódio Metálico

Figura 44 Figura 45
1.2.3 INTENSIDADE DA COMBUSTÃO
É o volume de chamas desprendido do material que está sendo consumido pelo
incêndio. A intensidade da combustão varia em função dos seguintes fatores:
a) Da superfície de contato com o ar
Quanto maior for a superfície do combustível em contato com o ar, maior
será o volume de chamas (Fig. 46).

Figura 46
28/93 Aptl 92-00/2020

b) Do volume do combustível em chamas


Quanto maior o volume ou a quantidade do combustível envolvido no incên-
dio, maior será o volume de chamas (Fig. 47).

Figura 47

Do tipo de combustível
Alguns tipos de combustí-
veis possuem a característica de não produzir
muitas chamas quando em combustão (Fig. 48).

Figura 48

Obs.: A Turbina Principal do


Ônibus Espacial queima hidrogênio líquido
com oxigênio puro, produzindo uma chama
quase invisível (Fig. 49).

Figura 49
Aptl 92-00/2020 29/93

c) Da quantidade de oxigênio existente na atmosfera


A quantidade de oxigênio na atmosfera é diretamente proporcional ao volu-
me de chamas desprendido de um incêndio, ou seja, quanto maior é a quantidade de oxigênio
no ambiente, maior será o volume das chamas (Fig. 50).

Figura 50
1.2.4 GASES PERIGOSOS ORIUNDOS DA COMBUSTÃO
A fumaça emanada de um incêndio é formada por uma mistura de gases, substân-
cias e partículas de carbono finamente divididas, tudo liberado pelos materiais em combustão.
O bombeiro deve se lembrar de que um incêndio produz substâncias tóxicas e
irritantes. No entanto, não podemos prever, antecipadamente, quais serão essas substâncias. A
inalação de uma mistura de substâncias, sejam tóxicas ou irritantes, pode ter efeitos mais graves
do que quando inaladas separadamente.
A inalação de gases tóxicos pode determinar vários efeitos no corpo humano.
Alguns dos gases causam danos diretamente aos tecidos dos pulmões e perda de suas funções.
Outros gases não produzem efeito direto nos pulmões, mas quando entram na corrente sanguí-
nea, inibem a capacidade dos glóbulos vermelhos transportarem o oxigênio.
Alguns gases tóxicos que podem estar presentes na fumaça, não são produtos da
combustão, mas são liberados de equipamentos ou materiais armazenados quando expostos ao
calor excessivo de um incêndio (Fig. 51).
Se a substância não for gás em condições normais, o calor excessivo do fogo
pode convertê-la para o estado gasoso.
Alguns gases, quando inalados, reagem com a umidade das vias aéreas e dos
pulmões produzindo ácidos e álcalis fortes (cloro, fosgênio, bióxido de enxofre e a amônia).
Luminárias Acrílicas
Paredes revesti-
- Acroleína (IP*) Televisores em Caixa de das de papel e de
Polipropileno laqueados
- Monóxido de Carbono (T**) -Acetaldeído (IP)
Poliuretanos nos Revesti- - Formaldeídos (IP)
mentos - Óxidos de Nitrogê-
- Isocianetos (IP) nio (IP)
- Cloreto de Hidrogênio (T) - Ácido Acético (T)

Pisos Emborrachados.
Espuma de Poliestireno Revestimentos de Vinil e
- Estireno (T) Cabos Elétricos
- Monóxido de Carbono Carpetes de Nylon
Carpetes Acrílicos (T) - Amônia (IP) - Cloreto de Hidrogênio
- Acroleína (IP) - Cianeto de Hidrogênio (T) (IP)
- Cianeto de Hidro- - Monóxido de Carbo-
gênio (T) no (T)
- Fosgênio (IP)

Figura 51
30/93 Aptl 92-00/2020

Dentre os vários gases oriundos de uma combustão destacamos:


a) Gás carbônico (anidrido carbônico, bióxido de carbono ou dióxido de
carbono) – CO2.
Gás asfixiante, incolor e inodoro, produzido em praticamente todas as com-
bustões. Concentrações de 3 a 4% provocam o aumento do ritmo da respiração e dores de
cabeça (Fig. 52), concentrações de 9% provocam desorientação, distúrbios visuais, zumbido
nos ouvidos, tremores e perda da consciência, e concentrações de 20% ou mais pode matar por
asfixia em 20 a 30 minutos de exposição.
b) Monóxido de carbono – CO
Em uma combustão completa, com suficiência de oxigênio, a combinação
entre o carbono e o oxigênio, formará um composto estável, o gás carbônico (CO2); mas, em
ambientes fechados ou mal ventilados, quando houver carência de oxigênio, ocorrerá a com-
bustão incompleta com formação de um composto instável, o monóxido de carbono (CO), além
de outros compostos.
O monóxido de carbono (CO), também chamado de óxido de carbono, óxido
carbônico e protóxido de carbono; é um gás incolor, inodoro e insípido. Ele é tóxico e explo-
sivo.
Na proporção de 12,5 a 74% na atmosfera ambiente, torna-se altamente peri-
goso, formando uma atmosfera explosiva.
Quando absorvido pelo sangue, forma um composto estável denominado car-
boxihemoglobina, que impede a chegada do oxigênio nas células do corpo, e impede que elas
eliminem o CO2. Normalmente a fumaça contém menos de 0,5% deste gás, entretanto 0,1% é
suficiente para privar o homem de suas faculdades locomotoras, 0,5% produz a inconsciência,
2% matam em uma hora e 10% imediatamente. Duas respirações profundas, em concentrações
de 2% de CO, podem matar uma pessoa em três minutos. Por este motivo quando o operador
sentir a mais leve dor de cabeça em um ambiente enfumaçado, deve abandoná-lo imediatamen-
te procurando respirar ar fresco, antes que o monóxido de carbono o impeça. Daí a importância
de usar equipamentos autônomos de respiração (Fig. 53).
A combustão incompleta provoca a formação de fumaça tão densa que im-
possibilita a visão, mesmo com a luz do dia. Por isso, quando o bombeiro tiver que penetrar em
locais enfumaçados, além de um equipamento autônomo de respiração, deverá também usar
de uma corda-espia amarrada à cintura, a qual lhe servirá como cabo guia (Fig. 54). Quando
possível, executa-se um trabalho de ventilação do ambiente, facilitando a atuação do bombeiro.

Figura 53 Figura 54
Aptl 92-00/2020 31/93

1.3 INCÊNDIO
Se o fogo ocorrer em área ocupada por pessoas, há grandes chances de que o
fogo seja descoberto no início e apagado com rapidez; mas se ocorrer quando a edificação esti-
ver deserta e fechada, o fogo continuará crescendo até ganhar grandes proporções.
Podemos entender melhor os incêndios se compreendermos suas fases de desen-
volvimento (fase inicial, fase da queima livre e fase da queima lenta).
1.3.1 FASE INICIAL
Nesta primeira fase, o oxigênio contido no ar não está significativamente redu-
zido e o fogo está produzindo vapor d’água (H2O), dióxido de carbono (CO2) e outros gases.
Grande parte do calor está sendo consumido no aquecimento dos combustíveis, e a temperatura
do ambiente, neste estágio, está ainda pouco acima do normal. O calor está sendo gerado e evo-
luirá com o aumento do fogo (Fig. 55).

Figura 55

1.3.1.1 Fase da Queima Livre


Durante esta fase, o ar, rico em oxigênio, é arrastado para dentro do ambiente
pelo efeito da convecção, isto é, o ar quente “sobe” e sai do ambiente, forçando a entrada de ar
fresco pelas aberturas nos pontos mais baixos do ambiente (Fig. 56).

Figura 56
32/93 Aptl 92-00/2020

Os gases aquecidos espalham-se preenchendo o ambiente e, de cima para baixo,


forçam o ar menos aquecido a permanecer junto ao solo; eventualmente, causam a ignição dos
combustíveis nos níveis mais altos do ambiente. Estes gases aquecidos é uma das razões pelas
quais os bombeiros devem se manter abaixados e usar equipamentos de proteção respiratória,
evitando queimar os pulmões. Neste momento a temperatura nas regiões superiores do ambien-
te pode exceder 700°C.
Na fase da queima livre, o fogo aquece gradualmente todos os combustíveis
do ambiente fazendo-os liberarem gases. Quando esses gases atingirem seu ponto de ignição
haverá uma queima instantânea e concomitante desses produtos, o que provocará uma ignição
generalizada de todo ambiente, ficando toda a área envolvida pelas chamas. Este fenômeno é
conhecido como flashover (Fig. 57).

Figura 57
Aptl 92-00/2020 33/93

1.3.1.2 Fase da Queima Lenta


Com a redução da quantidade de oxigênio, o monóxido de carbono (CO) começa
a ser produzido. Nesta fase, as chamas podem deixar de existir se não houver ar suficiente para
mantê-las (Fig. 58).

Figura 58
O fogo é normalmente reduzido a brasas, o ambiente torna-se completamente
ocupado por fumaça densa e os gases se expandem. Devido à pressão interna ser maior que a
externa, os gases saem por todas as fendas em forma de golfadas, que podem ser observadas em
todos os pontos do ambiente (Figs. 59 e 60).

Figura 59

Figura 60
34/93 Aptl 92-00/2020

Na fase da queima lenta, a combustão é incompleta porque não há oxigênio sufi-


ciente para sustentar o fogo. Contudo, o calor da queima livre permanece, e o combustível (par-
tículas de carbono não queimadas bem como outros gases inflamáveis, produtos da combustão)
está pronto para incendiar-se rapidamente, assim que o oxigênio for suficiente. Na presença de
oxigênio, esse ambiente explodirá. A essa explosão chamamos backdraft (Figs. 61 e 62).

Figura 61

Uma ventilação adequada (ventilação pelo ponto mais alto do ambiente) permite
que os gases combustíveis superaquecidos sejam retirados do ambiente.

Figura 62
Aptl 92-00/2020 35/93

São condições que podem indicar uma situação de backdraft (Fig. 63):

Figura 63

• Fumaça sob pressão, num ambiente fechado;


• Fumaça escura, tornando-se densa, mudando de cor (cinza e amarelada) e
saindo do ambiente em formas de golfadas;
• Calor excessivo (nota-se pela temperatura da porta);
• Pequenas chamas ou inexistência destas;
• Resíduos da fumaça impregnando o vidro das janelas;
• Pouco ruído;
• Movimento de ar para o interior do ambiente quando alguma abertura é feita
(em alguns casos ouve-se o ar assobiando ao passar pelas frestas).
1.3.2 MÉTODOS DE EXTINÇÃO DO FOGO
Os métodos de extinção do fogo baseiam-se na eliminação de um ou mais dos
elementos essenciais que provocam o fogo.
1.3.2.1 Retirada do Material
A retirada de material ou con-
trole do combustível é o método de extinção
mais simples, porém trabalhoso na sua rea-
lização, pois é executado com a força física,
não exige aparelhos especializados; consiste
na retirada ou interrupção do campo de propa-
gação do fogo, no material ainda não atingido
pelo incêndio.
Como exemplo do empre-
go deste tipo de extinção, citamos o aceiro
praticado nos casos de incêndios em matas,
florestas e campos, que interrompem a conti-
nuidade do fogo, facilitando o seu domínio. O
fechamento da válvula ou interrupção de va- Figura 64
zamento de combustível líquido ou gasoso é
outro exemplo do método de extinção através da retirada de material (Fig. 64). Este método é
também denominado como corte ou remoção do suprimento do combustível.
36/93 Aptl 92-00/2020

1.3.2.2 Resfriamento
O resfriamento ou controle do calor é o método de extinção mais usado. Consiste
em abaixar a temperatura do material incendiado até o ponto que ele não libere mais gases e
vapores inflamáveis.
A água é o agente extintor mais usado, devido ao fato de possuir grande capaci-
dade de absorver calor e ser facilmente encontrada na natureza. Por causa das suas característi-
cas e propriedades torna-se fácil a sua utilização pelos bombeiros (Fig. 65).
A redução da temperatura está ligada à quantidade e à forma de aplicação da
água num incêndio. O objetivo é que a água absorva mais calor que o incêndio é capaz de pro-
duzir. Jatos d’água em forma de chuveiro e neblina possuem grande capacidade de absorção de
calor e consequente poder de redução de temperatura.

Figura 65

1.3.2.3 Abafamento
O abafamento ou controle do comburente é o método de extinção mais difícil,
pois a não ser em pequenos incêndios que podem ser abafados com tampas de vasilhas, panos,
cobertores etc., necessita-se de aparelhamento e produtos específicos para sua obtenção.
Consiste em diminuir ou impedir o contato do comburente com o material com-
bustível. Não havendo comburente para reagir com o combustível, não haverá fogo. Como ex-
ceção, citamos os materiais que possuem o oxigênio em sua composição química, ou geram
oxigênio, e queimam sem a necessidade do oxigênio do ar, como os peróxidos orgânicos, os
conhecidos palitos de fósforo, etc.
Conforme já vimos anteriormente, a diminuição do oxigênio em contato com o
combustível vai tornando a combustão mais lenta, até a concentração de oxigênio chegar abaixo
de 8%, onde não haverá mais combustão.
Aptl 92-00/2020 37/93

As espumas, pós químicos, gases especiais são os agentes extintores mais indi-
cados. Pode-se, também, abafar o fogo com uso de materiais diversos, como areia, terra, cober-
tores, vapor d’água, etc.
Colocar uma tampa sobre um recipiente contendo álcool em chamas, ou colocar
um copo voltado de boca para baixo sobre uma vela acesa, são duas experiências práticas que
mostram que o fogo se apagará tão logo se esgote o oxigênio em contato com o combustível
(Fig. 66).

Figura 66

Observação
Determinados agentes
extintores, como os pós químicos, ao
entrarem na área de combustão, intera-
gem quimicamente com alguns radicais
livres oriundos da própria combustão e
formam gás carbônico (agente extintor)
e vapor d’água (gás inerte) que poten-
cializam o efeito do abafamento (Fig.
67).

Figura 67

1.3.3 CLASSIFICAÇÃO DOS INCÊNDIOS


A classificação adotada pelo Comando da
Aeronáutica é a mesma adotada pelos Corpos de Bombei-
ros brasileiros.
Os incêndios são classificados de acordo
com os materiais neles envolvidos, bem como pelos riscos
que eles oferecem. A classificação foi feita de modo que
seja possível determinar o agente extintor adequado para o
tipo de incêndio específico. As classes de incêndio são em
número de quatro: A, B, C e D (Fig. 68).

Figura 68
38/93 Aptl 92-00/2020

1.3.3.1 Incêndio Classe A


São incêndios envolvendo combustíveis sólidos comuns como papel, madeira,
tecido, borracha, etc. (Fig. 69). É caracterizado pelas cinzas e brasas que deixam como resíduos
e por queimar em razão do seu volume, isto é, a queima se dá na superfície e em profundidade.

Figura 69

Necessitam de resfriamento para sua extinção (Fig. 70), isto é, do uso de água ou
soluções que a contenham em grande porcentagem, a fim de reduzir a temperatura do material
em combustão.

Figura 70

1.3.3.2 Incêndio Classe B


São os incêndios em líquidos
combustíveis, graxas e gases combustíveis.
Exemplos: gasolina, óleo, tintas,
gases inflamáveis, álcool, graxas (Fig. 71).
Esta classe de incêndio é carac-
terizada pelo fato do fogo queimar unicamente
à razão da superfície e não deixar resíduos.
Os líquidos inflamáveis pegam
fogo com grande facilidade, pois em tempera-
tura ambiente já estão produzindo gases ou va-
pores (ponto de combustão). Figura 71
Aptl 92-00/2020 39/93

Esta classe de incêndio necessita para sua extinção o método do abafamento. No


caso de líquidos muito aquecidos, que já atingiram o ponto de ignição, é necessário também o
resfriamento (Fig. 72).

Figura 72

1.3.3.3 Incêndio Classe C


Incêndios envolvendo equipa-
mentos energizados (Fig. 73), tais como con-
dutores e motores elétricos, transformadores de
voltagem, disjuntores e outros aparelhos elé-
tricos energizados. Caracteriza-se pelos riscos
que oferecem aos operadores.
Para sua extinção necessita
de agente extintor que não conduza a corren-
te elétrica e utilize o princípio de abafamento
(Exemplo: Agentes extintores gasosos como o
CO2 e outros, Fig. 74). Figura 73
Algumas pessoas dizem que esta classe de incêndio pode ser mudada para “Clas-
se A”, se for interrompido o fluxo elétrico. Porém, deve-se ter cuidado com equipamentos que
possuem capacitores (televisores, por exemplo) que acumulam energia elétrica, pois estes con-
tinuam energizados mesmo após a interrupção da corrente elétrica por vários dias.

Figura 74
40/93 Aptl 92-00/2020

1.3.3.4 Incêndio Classe D


São incêndios em metais pirofóricos como lítio, po-
tássio, bário, estrôncio, cálcio, sódio, magnésio, etc., que possuem
alto poder de oxidação (Fig. 75). Esses metais, quando puros, rea-
gem violentamente com a água, liberando gás hidrogênio e grande
quantidade de calor. E é esse calor gerado que faz com que o gás
hidrogênio queime em forma de explosão.
Felizmente, os metais pirofóricos não são utilizados
na forma pura, e sim em ligas compostas com outros metais, o que
lhes confere uma maior estabilidade, tornando a sua queima mais
difícil. Porém, caso uma liga de magnésio, por exemplo, entre em
combustão, nenhum extintor à base de água deve ser utilizado, pois
ocorrerá a liberação de hidrogênio e posterior explosão.
Para sua extinção, necessitam de agentes extintores Figura 75: Aparas de magnésio
especiais que reagem endotermicamente com o fogo abaixando a
temperatura. Aliado a isso, em contato com o metal combustível superaquecido, eles se fun-
dem, formando uma espécie de capa que isola o metal do ar atmosférico, agindo por abafamen-
to (Fig. 76).
Atualmente, os pós químicos a base de cloreto de sódio, cloreto de bário, mo-
nofosfato de amônia ou grafite seco são os agentes extintores mais utilizados. Estes produtos
deverão cumprir as especificações da norma 7202 da ISO - International Organization for Stan-
dardization (Organização Internacional de Normatização), chamada de ISO 7202.

Figura 76

1.3.4 TÉCNICAS DE EXTINÇÃO AO FOGO POR CLASSES DE INCÊNDIO


Bem, agora que já vimos com se trabalha com as montagens de linhas, aprende-
remos como utilizar a melhor técnica para o combate a incêndio em uma edificação.
1.3.4.1 Introdução
Técnica de extinção de incêndio é a utilização correta dos meios disponíveis
para extinguir incêndios com maior segurança e com um mínimo de danos durante o combate.
A Equipe deve trabalhar como uma equipe, onde cada bombeiro tem sua mis-
são definida:
O Chefe de Equipe toma as decisões para o desenvolvimento tático, assiste e
supervisiona os integrantes da guarnição quanto aos procedimentos técnicos (técnica aplicada).
Aptl 92-00/2020 41/93

O motorista conduz o veículo em segurança com equipe e equipamento, e opera


a bomba.
Os chefes de linha e auxiliares armam as linhas determinadas, operam os esgui-
chos e realizam outras missões, conforme determinação do Chefe de Equipe.
As técnicas de extinção são determinadas pelas peculiaridades de cada classe e
tipo de incêndio e suas características.
Antes de se iniciar o capítulo propriamente dito, cabe esclarecer que as linhas
d’água ou de ataque devem ser usadas prioritariamente em ataques internos, isto é, por dentro
da edificação.
A penetração numa edificação somente deve ser evitada quando houver risco
para a equipe (possibilidade de desabamento, excesso de calor, falta de visibilidade, perigo de
explosão, presença de produtos perigosos, possibilidade de radiação atômica). Outras situações
de ataque externo constituirão, quase invariavelmente, erros grosseiros.
1.3.4.2 Combate a Incêndio “Classe A”
a) Uso de Linha de Água para Ataque Direto
Os incêndios classe “A”, isto é, incêndios em combustíveis comuns (papel,
madeira, tecidos) que deixam resíduos característicos (brasa, carvão, cinza), em geral, são ex-
tintos por resfriamento, podendo se utilizar também o abafamento, retirada do material e quebra
da reação em cadeia.
A água é o agente extintor mais eficaz para o resfriamento. A aplicação de
água será bem sucedida se a quantidade utilizada for suficiente para resfriar o combustível que
está queimando para temperaturas que o conduzam abaixo do ponto de combustão.
O mais eficiente uso de água em incêndio em queima livre é o ataque direto.
O bombeiro deve estar próximo ao incêndio, utilizando jato contínuo ou
chuveiro (esguicho a 30º ou menos), sempre concentrando o ataque para a base do fogo, até
extingui-lo.

Figura 77
Não jogar mais água que o necessário para a extinção, isto é, quando não
mais houver chamas.
Em locais com pouca ou nenhuma ventilação, o bombeiro deve usar jatos
intermitentes e curtos até a extinção. Os jatos não devem ser empregados por muito tempo, sob
pena de perturbar o balanço térmico.
O balanço térmico é o movimento dos gases aquecidos em direção ao teto e
a expansão de vapor d’água em todas as áreas, após a aplicação dos jatos d’água. Se o jato for
aplicado por muito tempo, além do necessário, o vapor começará a se condensar, causando a
precipitação de fumaça ao piso e, por sua vagarosa movimentação, haverá perda da visibilidade,
ou seja, os gases aquecidos que deveriam ficar ao nível do teto tomarão o lugar do ar fresco que
deveria ficar ao nível do chão e vice-versa.
b) Uso de Linha de Água para Ataque Indireto
Este método é chamado de ataque indireto porque o bombeiro faz a estabi-
lização do ambiente, usando a propriedade de vaporização da água, sem entrar no ambiente.
Deve ser executado quando o ambiente está confinado e com alta temperatura, com ou sem
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fogo. É preciso cuidado porque esta pode ser uma situação propícia para o surgimento de uma
explosão ambiental (backdraft ou flashover).
Este ataque não deve ser feito enquanto não houver certeza da retirada das
vítimas do local, porque a grande geração de vapor poderia matá-las. Realiza-se dirigindo o jato
d’água para o teto superaquecido, tendo como resultado a produção de aproximadamente 1.700
litros de vapor, à pressão normal e temperatura superior a 100 oC.
No ataque indireto, o esguicho será acionado por um período de 20 a 30 se-
gundos, no máximo. Não poderá haver excesso de água, o que causaria distúrbios no balanço
térmico.
Após a aplicação de água, o bombeiro aguarda a estabilização do ambiente, isto
é, que as labaredas baixem e se reduzam a focos isolados. Isso poderá ser constatado através
dos seguintes sinais:
• Não mais se vê a luminosidade das labaredas;
• Não mais se ouve o som característico de materiais em combustão.
O processo de estabilização do ambiente será muito rápido e o bombeiro perce-
berá os sinais logo após a aplicação de água.
O bombeiro, após estabilizado o ambiente, deve entrar no local com o esguicho
fechado e extinguir os focos remanescentes através de jatos intermitentes de pequena duração,
dirigidos diretamente à base do fogo. Quando estiver desenvolvendo esta fase, o bombeiro deve
fazer com que o volume de água utilizado seja o menor possível.
Quando do término da utilização do esguicho, deve-se fechá-lo lentamente, para
evitar o *golpe de aríete.
*GOLPE DE ARÍETE - força ocasionada quando o fluxo da água, através de
uma tubulação ou mangueira, é interrompido de súbito. A súbita interrupção do fluxo determina
a mudança de sentido da pressão, sendo instantaneamente duplicada, acarretando sérios danos
aos equipamentos hidráulicos e à bomba de incêndio. Tal acidente pode ser evitado com o uso
da válvula de retenção.
Quando da aplicação da água por qualquer abertura da edificação, os homens
devem se manter fora da linha da abertura para se protegerem da expulsão de gases quentes e
vapor que sairão através das aberturas.

Figura 78
Aptl 92-00/2020 43/93

c) Uso de Linha de Água para Ataque Combinado


Quando o bombeiro se depara com um
incêndio que está em local confinado, sem risco de explo-
são ambiental, mas com superaquecimento do ambiente,
que permite a produção de vapor para auxiliar a extinção
(abafamento e resfriamento), usa-se o ataque combinado.
O ataque combinado consiste na téc-
nica da geração de vapor combinada com ataque direto
à base dos materiais em chamas. O esguicho, regulado
de 30 a 60 graus, deve ser movimentado de forma a des-
crever um círculo, atingindo o teto, a parede, o piso, a
parede oposta e novamente o teto.
No ataque combinado, os bombeiros
devem ficar abaixados com a mangueira sobre o ombro,
o que facilitará a movimentação circular que caracteriza
este ataque. Quando não houver mais geração de vapor, Figura 79
utiliza-se o ataque direto para a extinção dos focos rema-
nescentes.
Lembrar que:
• Nunca se deve aplicar água na fumaça.
• A aplicação de água na fumaça não extingue o incêndio, somente causa danos,
distúrbios no balanço térmico, desperdício de água e perda de tempo.
1.3.4.3 Combate a Incêndio “Classe B”
São incêndios em líquidos e gases inflamáveis que, por terem características
próprias, possuem métodos de extinção distintos.
1.3.4.3.1 Combate a Incêndios em Líquidos Inflamantes
O melhor método de extinção para a maioria dos incêndios em líquidos infla-
máveis é o abafamento, podendo ser utilizado também a quebra da reação em cadeia, a retirada
do material e o resfriamento.
O controle de incêndios em líquidos inflamáveis pode ser efetuado “com
água”, que atuará por abafamento e resfriamento. Na extinção por abafamento, a água deverá
ser aplicada como neblina, de forma a ocupar o lugar do oxigênio, que está suprindo a combus-
tão nos líquidos.
A técnica de resfriamento somente resultará em sucesso se o combustível
tiver ponto de combustão acima da temperatura normal da água (20 ºC). Ao se optar pelo uso
de água deve-se, sempre, usar o jato chuveiro ou jato neblina. O jato contínuo não deve ser uti-
lizado, pois não permitirá o abafamento e poderá esparramar o líquido em chamas, aumentando
o incêndio.
Para se combater este tipo de incêndio em segurança, deve-se conhecer as pro-
priedades e características dos líquidos inflamáveis, que, em sua maioria:
• Geram vapores inflamáveis à temperatura ambiente (voláteis);
• Flutuam na água;
• Geram eletricidade estática quando fluindo;
• Queimam rapidamente por sobre a superfície exposta ao calor; e
• Liberam durante a queima grande quantidade de calor.
Bleve - Um fenômeno que pode ocorrer em recipiente com líquidos inflamáveis,
trazendo conseqüências danosas, é o bleve. (Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion).
Quando um recipiente contendo líquido sob pressão tem suas paredes expostas
diretamente às chamas, a pressão interna aumenta (em virtude da expansão do gás exposto à
ação do calor), tendo como resultado a queda de resistência das paredes do recipiente. Isto pode
resultar no rompimento ou no surgimento de fissura. Em ambos os casos, todo o conteúdo irá
44/93 Aptl 92-00/2020

vaporizar-se e sair instantaneamente. Essa súbita expansão é uma explosão. No caso de líquidos
inflamáveis, formar-se-á uma grande “bola de fogo”, com enorme irradiação de calor.

Figura 80

O maior perigo do “bleve” é o


arremesso de pedaços do recipiente em todas as
direções, com grande deslocamento de ar. Para
se evitar o bleve é necessário resfriar exaustiva-
mente os recipientes que estejam sendo aqueci-
dos por exposição direta ao fogo, ou por calor
irradiado. Este resfriamento deve ser preferen-
cialmente com jato d’água em forma de neblina.
- Resfriando com água
Enquanto a água sem ex-
tratos de espuma é pouco eficaz em líquidos vo-
láteis (como gasolina ou diesel), incêndios em Figura 81
óleos mais pesados (não voláteis) podem ser ex-
tintos pela aplicação de água em forma de neblina, em quantidades suficientes para absorver o
calor produzido. Deve-se estar atento para que não haja transbordamento do líquido e para que
não ocorra o fenômeno conhecido como boil over.
Como já abordamos anteriormente outro fenômeno que ocorre nos incên-
dio da Classe B é o Boil over - ESTE FENÔMENO QUE ACONTECE NOS INCÊNDIOS DA
CLASSE “B” FOI ABORDADO NO CAPÍTULO SOBRE TÉCNICAS DE EMPREGO DA
ESPUMA.

Figura 82

- Varredura com água


A água pode ser utilizada para deslocar combustíveis, que estejam quei-
mando ou não, para locais onde possam queimar com segurança, ou onde as causas da ignição
possam ser mais facilmente controladas. Evitar que combustíveis possam ir para esgotos, dre-
nos ou locais onde não seja possível a contenção dos mesmos.
O jato contínuo será projetado de um lado a outro (varredura), empurrando
o combustível para onde se deseja.
Aptl 92-00/2020 45/93

Derramamento de líquidos combustíveis em via pública também pode


causar desastres, inclusive acidentes de trânsito. O líquido combustível poderá ser removido
através de varredura, adicionando-se um agente emulsificador (LGE sintético ou detergente
comum, por exemplo) à água e evitando, ao mesmo tempo, que o líquido se dirija para o esgo-
to ou rede pluvial. Pode-se também utilizar areia e cal. Essas substâncias absorvem o líquido
combustível, removendo-o da via pública e impedindo que alcance a rede de esgoto ou pluvial.
- Substituindo combustíveis por água
A água pode ser empregada para remover combustíveis de encanamentos
ou tanques com vazamentos. Incêndios que são alimentados por vazamentos podem ser extintos
pelo bombeamento de água no próprio encanamento ou por enchimento do tanque com água a
um ponto acima do nível do vazamento. Este deslocamento faz com que o produto combustível
flutue sobre a água (enquanto a aplicação de água for igual ou superior ao vazamento do pro-
duto). O emprego desta técnica se restringe aos líquidos que não se misturam com água e que
flutuam sobre ela.

Figura 83
1.3.4.3.2 Atendimento a Vazamentos de Gases Inflamáveis
O único método seguro de se solucionar a ocorrência de vazamento de gás ou
líquido sob pressão, com ou sem fogo, é a retirada do material.
Como quase todas as edificações utilizam o glp ou gás natural, é importante que
todo o bombeiro conheça os riscos e as técnicas no atendimento de ocorrências envolvendo
estes gases.

Figura 84
46/93 Aptl 92-00/2020

- Gás natural
O gás natural (gás encanado) é formado principalmente por metano, com
pequenas quantidades de etano, propano, butano e pentano. Este gás é mais leve do que o ar. As-
sim, tende a subir e difundir-se na atmosfera; não é tóxico mas é classificado como asfixiante,
porque em ambientes fechados pode tomar o lugar do ar atmosférico, conduzindo assim à as-
fixia. A companhia concessionária local deve ser acionada quando alguma emergência ocorrer.
Incidentes envolvendo o sistema de distribuição de gás natural são fre-
qüentemente causados por escavação nas proximidades da canalização subterrânea. Neste caso,
as viaturas não devem estacionar próximas ao local, por causa da possibilidade de ignição. A
equipe deve estar preparada para o evento de uma explosão e incêndio subseqüente. A primeira
preocupação deve ser a evacuação da área vizinha e eliminação de possíveis fontes de ignição
no local.
- GLP engarrafado
O gás liquefeito de petróleo (GLP) ou gás engarrafado, como é um com-
bustível armazenado sob pressão, é usado principalmente em residências, em botijões de 13
kgs. Sua utilização comercial e industrial é feita com cilindros de maior capacidade, de 20, 45
e 90 kg.
Este gás é composto principalmente de propano, com pequenas quanti-
dades de butano, etano propileno e iso-butano. O GLP não tem cheiro natural. Por isso, uma
substância odorífica, denominada mergaptana, lhe é adicionada. O gás não é tóxico, mas é clas-
sificado como asfixiante porque pode deslocar o ar, tomando seu lugar no ambiente, e conduzir
à asfixia.
O GLP é cerca de 1,5 vezes mais pesado que o ar, de forma que, normal-
mente, ocupa os níveis mais baixos. Todos os recipientes de GLP estão sujeitos à bleve quando
expostos a chamas diretas. O GLP é freqüentemente armazenado em um ou mais cilindros (ba-
teria). O suprimento de gás para uma estrutura pode ser interrompido pelo fechamento de uma
válvula de canalização. Se a válvula estiver inoperante, o fluxo pode ser interrompido retirando-
-se a válvula acoplada ao cilindro.
Ao se deparar com fogo em gás inflamável, e não podendo conter o fluxo,
o bombeiro não deverá extinguir o incêndio. Um vazamento será mais grave que a situação an-
terior, por reunir condições propícias para uma explosão. Neste caso, o bombeiro deverá apenas
controlar o incêndio.
O gás que vazou e está depositado no ambiente pode ser dissipado por
ventilação, ou por um jato d’água em chuveiro, de no mínimo 360 lpm (esguicho de 38mm com
aproximadamente 5,5 kg/cm2 de pressão), com 60º de abertura, da mesma maneira com que se
realiza a ventilação de um ambiente, usando esguicho.
1.3.4.4 Combate a Incêndio “Classe C”
A dificuldade na identificação de materiais energizados é um dos grandes peri-
gos enfrentados pela equipe no atendimento de ocorrência.
Este tipo de incêndio pode ser extinto, com maior facilidade após o corte da
energia elétrica. Assim, o incêndio deixa de ser classe “C”, tornando-se classe “A” ou “B”,
podendo ainda extinguir-se.
Para sua extinção, deve-se utilizar agentes extintores não condutores de eletri-
cidade, como PQS, e HALON. Não se deve utilizar aparelhos extintores de água ou espuma
(química ou mecânica), devido ao perigo de choque elétrico para o operador, que pode causar-
-lhe a morte. Pode-se utilizar linhas de mangueiras, desde que se conheça a técnica e se tomem
as precauções necessárias.
Em emergência envolvendo eletricidade, alguns procedimentos devem ser se-
guidos para manter um ambiente seguro ao serviço de bombeiros:
• Quando forem encontrados fios caídos, a área ao redor deve ser isolada;
• Deve-se tratar todos os fios como energizados e de alta voltagem;
• Quando existir o risco de choque elétrico, deve-se usar epi adequado e ferra-
mentas isoladas;
Aptl 92-00/2020 47/93

• Deve-se tomar cuidado ao manusear escadas, mangueiras ou equipamentos


próximos a fios elétricos.
• Não se deve tocar em qualquer veículo ou viatura que esteja com fios elétri-
cos, pois esse procedimento pode resultar em choque elétrico.
No combate (com água) ao fogo em materiais eletrificados, usa-se uma regra
simples, exposta na figura abaixo.

Figura 85

A água contém impurezas que a tornam condutora; daí, na sua aplicação em in-
cêndios em materiais energizados, deve-se considerar todos os riscos de o bombeiro levar um
choque elétrico.
• O Chefe de equipe determinará o uso de água, considerando os fatores:
• Voltagem da corrente;
• Distância entre o esguicho e o equipamento energizado;
• Isolamento elétrico oferecido ao bombeiro, entre os quais luvas de isolamento
e botas de borracha isolante.
Outro problema é a presença de produtos químicos perigosos em instalações e
equipamentos elétricos, o que pode acarretar sérios riscos à saúde e ao meio ambiente. Neste
caso, deve-se tomar as cautelas necessárias para sua extinção, tais como: isolar a área, conhecer
as características e os efeitos do produto e usar EPI (roupas, luvas, proteção respiratória, capa-
cetes e capa ou roupa apropriada). Incêndio em transformador elétrico que utiliza como líquido
refrigerante o “ASKAREL” (cancerígeno) é exemplo típico. Como medida de segurança,
linhas energizadas não devem ser cortadas; apenas técnicos especializados deverão fazê-lo. Os
Bombeiros somente desligarão a eletricidade pela abertura de chave, remoção de fusível ou
desacionamento de disjuntor quando necessário.
Contatos e cooperação com as companhias de energia elétrica são vitais no com-
bate a incêndios classe “C”, para reduzir o risco à vida e à propriedade.
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- Instalações Elétricas
Nas residências, a instalação elétrica é normalmente de baixa tensão (110 e
220 volts). O método mais simples de interromper o fornecimento da energia é desligar a chave
geral da instalação.

Figura 86
Deve-se ter cuidado com o fornecimento de energia à edificação através de ins-
talação clandestina, pois, mesmo após desligar os dispositivos de entrada de eletricidade, pode
haver energia no local.
Muitas indústrias, edificações comerciais, prédios elevados e complexos de
apartamentos têm equipamentos elétricos que utilizam mais de 600 volts.
Nas portas dos compartimentos que abrigam estes equipamentos (como trans-
formadores e grandes motores), deve haver uma placa de identificação com a inscrição “alta
voltagem”.
Pode-se ainda encontrar instalações elétricas subterrâneas, isto é, galerias com
cabos elétricos abaixo da superfície. Os riscos mais freqüentes são as explosões, que podem
arremessar tampas de bueiros a grandes distâncias, devido ao acúmulo de gases inflamáveis de
centelha de fusíveis, relês ou curto circuito. Não se deve entrar em bueiros, exceto para efetuar
um salvamento. O combate deve ser efetuado desde a superfície, com o uso de gás carbônico
ou PQS.
A água não deve ser aplicada em galerias, em razão da proximidade com o equi-
pamento elétrico.
1.3.4.5 Combate em Incêndio “Classe D”
Incêndios em metais combustíveis (magnésio, selênio, antimônio, lítio, cádmio,
potássio, alumínio, zinco, titânio, sódio, zircônio) exigem, para a sua extinção, agentes que se
fundam em contato com o material ou que retirem o calor destes. Metais combustíveis queimam
em temperaturas extremamente altas e reagem com a água, arremessando partículas.
A reação será tanto maior quanto mais fragmentado estiver o metal.
Estes incêndios podem ser reconhecidos pela cor branca das chamas. Uma cama-
da cinza poderá cobrir o material, dando a impressão de que não há fogo.
Quando o material estiver em forma de limalha (fragmentado), deve-se isolar
a parte que está queimando do resto por processo mecânico (retirada do material) e utilizar o
agente extintor próprio, cobrindo todo o material em chama.
O maior problema do bombeiro numa emergência com combustíveis classe
“D” é a obtenção de agentes extintores adequados à situação específica. Isso porque os metais
combustíveis não apresentam um comportamento padrão para um determinado agente extintor.
Portanto, deve-se agir com extrema cautela nestes casos. O melhor método de extinção é o
abafamento.
Aptl 92-00/2020 49/93

Este tipo de incêndio será extinto com o emprego de agentes especiais, tais como
grafite seco, cloreto de sódio, areia seca e nitrogênio.
Em certas circunstâncias, a água pode ser usada como agente extintor (nas situ-
ações específicas de ligas de magnésio usadas em indústria). Neste caso, a água deve ser utili-
zada em grandes quantidades, pois a temperatura deste tipo de fogo é muito alta e a técnica de
extinção utilizada é o resfriamento.
É importante que se obtenha o máximo de informação sobre o produto em cha-
mas, bem como se há no local o agente extintor apropriado.
1.3.5 TÉCNICAS DE EXTINÇÃO AO FOGO COMPLEMENTARES
1.3.5.1 Incêndio e Emergências em Ambientes Fechados
Operações de combate a incêndio e salvamento podem ocorrer em locais com
pouca ou nenhuma ventilação, tais como: subsolos, depósitos, garagens, residências, escritórios
ou outras dependências. Por isso, é importante saber quais os riscos inerentes a estes ambientes,
quando em chamas:
• Insuficiência de oxigênio, excesso de vapores e gases tóxicos e/ou inflamá-
veis. Para evitar estes riscos, é necessário utilizar aparelho autônomo de
respiração, mantendo o controle da quantidade do ar do cilindro. Numa
atmosfera com vapores explosivos, não se deve utilizar equipamentos que
produzam faíscas ou superaquecimento.
• Espaço limitado para entrada e saída. Quando o bombeiro estiver equipado
com aparelho de respiração autônoma e, ao entrar ou sair por aberturas
pequenas, tiver que retirar o suporte com cilindro das costas, deverá ter
cuidado para que a máscara não saia da sua face.
• Colapso estrutural e instabilidade de estoques de material.
• Estruturas metálicas aquecidas pelo fogo, tais como vigas e colunas metálicas
devem ser resfriadas, pois cedem rapidamente quando superaquecidas.
• Presença de eletricidade. Antes de o bombeiro entrar num ambiente confinado,
deve-se desligar a energia elétrica.
Um cabo-guia deve ser usado na comunicação entre o bombeiro do lado de fora
da edificação e os bombeiros no interior da mesma. Este cabo deve estar sempre tenso a fim de
que haja, efetivamente, comunicação. Para cada equipe de bombeiros que adentrar à estrutura,
deve haver um outro do lado de fora, responsável pela sua segurança.
A comunicação entre os bombeiros pode ser feita tanto do interior do ambiente
para o exterior do ambiente, como do exterior para o interior.
É importante que os bombeiros no interior não fiquem com seus movimentos li-
mitados pelo cabo. Portanto o bombeiro do exterior não deve prender ou tentar puxar o compa-
nheiro de dentro da edificação, mesmo quando em situação de emergência. Os códigos a serem
usados nestas ocasiões são:
SINAL SIGNIFICADO
1 puxão Tudo bem
2 puxões Solte cabo
3 puxões Retese cabo
4 puxões Achei vítima

Toda comunicação deve ter resposta, portanto, o bombeiro deve acusar, sempre,
o recebimento da mensagem com um puxão, o que quer dizer que entendeu o comunicado. No
caso de não receber resposta, usar o código novamente e, persistindo a falta de resposta, deve
repetir o procedimento mais uma vez. Se, mesmo assim, não obtiver resposta, deve providen-
ciar socorro imediato ao colega.
Do lado de fora, deve haver uma equipe de segurança pré-determinada, para
socorrer a equipe de salvamento em uma emergência. Esta equipe de segurança deve ser com-
50/93 Aptl 92-00/2020

posta de dois bombeiros com EPI e EPR (máscara autônoma), que acompanharão os trabalhos
da equipe de salvamento sob a supervisão do Comandante da Operação. Um bombeiro deve
controlar toda a operação no interior da edificação, supervisionando o equipamento e o pessoal,
anotando missão, nome do bombeiro e tempo de trabalho de cada elemento. Este procedimento
reduz a possibilidade de um homem ficar esquecido no interior da estrutura ou trabalhar fora da
margem de segurança estabelecida.
Os bombeiros não devem hesitar em sair da edificação se as condições internas
indicarem a possibilidade de um iminente colapso da estrutura. Ao avançar no interior da estru-
tura, devem ter pleno conhecimento da quantidade de ar necessária para o retorno.
1.3.5.2 Segurança na Extinção
Durante o serviço, a própria segurança e a dos companheiros deve ser uma preo-
cupação constante do bombeiro. Uma vez que o bombeiro trabalha em situações de risco, deve
tratar de superá-las com atos seguros (prudência).
Jogar água em fumaça, entrar em locais em chamas, deixando fogo atrás de si,
trabalhar isoladamente e não utilizar o EPI necessário são erros que podem trazer conseqüên-
cias gravíssimas para o bombeiro e para a guarnição.
O uso de EPI é necessário para reduzir a incidência de ferimentos em operações
e também para permitir maior aproximação do fogo, visando sua extinção.
O bombeiro não deve permanecer em poças de líquidos inflamáveis ou de água
com resíduos de líquidos inflamáveis.
Ao se deparar com fogo em válvulas de alívio ou canalização e não puder con-
ter o fluxo do combustível, o bombeiro não deverá extinguir o incêndio, sob pena de criar o
problema do vazamento, mais que o anterior. No vazamento, os vapores são normalmente mais
pesados que o ar e formam “poças” ou “bolsas” de gases em pontos baixos, onde podem se in-
cendiar. Os bombeiros devem controlar todas as possíveis fontes de ignição nas proximidades
dos vazamentos de líquidos inflamáveis. Veículos, fósforos, isqueiros, componentes elétricos
e fagulhas de ferramentas poderão prover uma fonte de ignição suficiente para incendiar os
vapores.
O local de ocorrência deve ser isolado e sinalizado adequadamente. Somente os
bombeiros devem ter acesso ao local sinistrado. A entrada de quaisquer outras pessoas, inclu-
sive policiais, somente será permitida com a autorização do Comandante da Operação. Mesmo
após a autorização, tais pessoas devem ser acompanhadas por um bombeiro.
Quando trabalhando em vias públicas, o bombeiro deve interditar somente as
faixas de rolamento necessárias para a execução do serviço com segurança, mantendo, se pos-
sível, o fluxo de veículos em outras faixas.
A sinalização durante a noite deve ser feita com objetos luminosos. Sinalização
com fogo (latas com óleo, ou outro combustível queimando) deve ser evitada, uma vez que
pode ocasionar incêndio, se houver líquido combustível vazando. A sinalização deve ser feita
bem antes do local sinistrado. Existindo curvas ou declives nas proximidades, posicionar a si-
nalização antes deles.
A guarnição deverá desembarcar da viatura pelo lado da calçada e trabalhar fora
das faixas com tráfego. Um bombeiro deve fazer a sinalização até a chegada do policiamento
de trânsito. Quando em via pública, se necessário e viável, para garantir a segurança dos bom-
beiros, as viaturas devem estacionar de modo que protejam as equipes de bombeiros do fluxo
de veículos nas proximidades da ocorrência.
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O bombeiro, em serviço, está exposto aos seguintes riscos:


• Cair durante um desabamento de estruturas;
• Inalar gases tóxicos;
• Cortar-se;
• Receber choque elétrico;
• Torcer o pé ou joelho;
• Escorregar e cair;
• Tropeçar e cair;
• Queimar-se;
• Ficar preso sob objetos pesados, esmagando partes do
corpo;
• Contaminar-se com produtos químicos perigosos;
• Ser atingido por objetos que caem; e
• Ser atropelado.
Figura 87
1.3.5.3 Ventilação e entradas forçadas
Olá alunos! Imaginem-se chegando para atender uma ocorrência de incêndio em
uma casa. O local está coberto por fumaça e um familiar da suposta vítima relata que tem al-
guém dentro da edificação por exemplo. Você coloca o Equipamento de Proteção Respiratória,
entra no ambiente e se depara com uma cortina de fumaça que não deixa você avançar. O am-
biente está inseguro para você, mas você não quer sair sem a suposta vítima. É nesta hora que
uma equipe treinada está agindo, realizando aberturas para que a fumaça saia e você consiga
realizar seu trabalho com segurança. Estas são chamadas de Técnicas de ventilação e Entradas
Forçadas.
1.3.5.3.1 Introdução
A ventilação aplicada no combate a incêndios é a remoção e dispersão sistemá-
tica de fumaça, gases e vapores quentes de um local confinado, proporcionando a troca dos
produtos da combustão por ar fresco, facilitando, assim, a ação dos bombeiros no ambiente
sinistrado. Chamaremos de produto da combustão a fumaça, os gases e os vapores quentes. A
decisão de ventilar e a escolha do tipo de ventilação a ser feita no local do sinistro compete ao
Chefe de Equipe, cabendo ao pessoal a execução correta.
São tipos de ventilação:
Ventilação natural x Ventilação forçada
1.3.5.3.2 Ventilação Natural
Ventilação natural é o emprego do fluxo normal do ar com o fim de ventilar
o ambiente, sendo também empregado o princípio da convecção com o objetivo de ventilar.
Como exemplo, citam-se a abertura de portas, janelas, paredes, bem como a abertura de cla-
rabóias e telhados. Na ventilação natural, apenas se retiram as obstruções que não permitem o
fluxo normal dos produtos da combustão.

Figura 88
52/93 Aptl 92-00/2020

Ainda com relação à edificação e à ação do bombeiro, pode-se dividir a ventila-


ção em horizontal e vertical:
a) Ventilação Natural Horizontal
A ventilação horizontal é aquela em que os
produtos da combustão caminham horizontalmente pelo am-
biente. Este tipo de ventilação se processa pelo deslocamento
dos produtos da combustão através de corredores, janelas,
portas e aberturas em paredes no mesmo plano.
Técnicas de Ventilação Natural Hori-
zontal
Deve-se, sempre que possível, utilizar o fluxo
natural de ar, ou seja, deve-se observar o princípio da con- Figura 89
vecção e a direção do vento.

Figura 90

A maneira correta de se fazer ventilação natural horizontal em uma edificação é


usar duas aberturas em desnível, em paredes opostas, isto é, uma, o mais alto possível (para a
saída dos produtos da combustão), e a outra, o mais baixo possível (para a entrada de ar fresco
e limpo).
Procede-se à ventilação natural horizontal da seguinte maneira:
1) Abre-se o ponto mais alto da parede para saída dos produtos de combustão
(janelas, por exemplo);
2) Abre-se, lentamente, o ponto mais baixo para entrada do ar fresco.
3) Observa-se o ambiente, até a visualização das chamas.
b) Ventilação Natural Vertical
A ventilação vertical é aque-
la em que os produtos da combustão caminham
verticalmente pelo ambiente, através de aberturas
verticais existentes (poços de elevadores, caixas
de escadas), ou aberturas feitas pelo bombeiro
(retirada de telhas).
Devemos aproveitar as abertu-
ras existentes na edificação, como as portas, jane-
las, *clarabóias e alçapões, só efetuando abertu-
ras em paredes e telhados se inexistirem aberturas
ou se as existentes não puderem ser usadas para
a ventilação natural ou forçada. Efetuar entrada
forçada em paredes e telhados, quando já exis- Figura 91
tem aberturas no ambiente, acarreta prejuízos
ao proprietário, além de significar perda de
tempo.
*CLARABOIA - Abertura envidraçada, com caixilhos, feita no teto ou na pare-
de externa de prédios ou casas, a fim de permitir a passagem da luz; olho-de-boi.
Aptl 92-00/2020 53/93

- Técnicas de Ventilação Natural Vertical


Este tipo de ventilação está baseado no princípio da convecção. Procede-se
à ventilação natural vertical da seguinte maneira:

Figura 92

1. Realizar abertura no teto, para permitir que os produtos da combustão si-


gam seu caminho natural, subindo perpendicularmente ao foco de incêndio.
2. Outra abertura deve ser feita para permitir a entrada do ar fresco no am-
biente. Uma porta é a abertura ideal, pois pode ser aberta parcialmente, permitindo que o ar
fresco entre no ambiente, porém, não em quantidade suficiente para provocar uma explosão
ambiental. A entrada do ar poderá ser controlada conforme a necessidade.
Bem, agora que você já entendeu como realizar esta técnica, vamos dar umas
dicas de qual é o melhor local para realizarmos as aberturas no teto e quais os principais cui-
dados que temos que observar:
• Ponto mais alto do telhado - Os produtos da combustão, por estarem
quentes, tendem a tomar as camadas mais elevadas do teto. Portanto, é
nesses locais que o bombeiro deve fazer as aberturas.
• Local do fogo - A abertura deve ser feita sobre o fogo, para melhorar o
fluxo dos produtos da combustão e aquecer o mínimo possível prováveis
combustíveis.
Outros cuidados que devemos observar:
Edificações próximas - Devemos atentar para instalações que serão atingidas
pelo fluxo dos produtos da combustão, o qual é uma fonte de calor e poderá originar novos
incêndios;
Extensão do fogo - O volume do fogo e a quantidade dos produtos da combus-
tão determinarão as dimensões da abertura a ser realizada. Ela, porém, nunca deve ter menos
que 1m²;
Obstrução - Devemos analisar as dificuldades que teremos para retirar os obs-
táculos ao fluxo natural dos produtos da combustão. Muitas vezes fica inviável fazer a abertura.
Nestes casos, deve-se efetuar ventilação forçada;
Direção do vento - O bombeiro deve estar alerta à direção do vento. Para tanto,
deve trabalhar com o vento pelas costas.
54/93 Aptl 92-00/2020

- Procedimentos para Abertura em telhado:


• Verificar a estabilidade do telhado;
• Escolher as ferramentas de acordo com o
material de que o telhado é confeccionado;
• Utilizar um cabo guia, ancorando-se a um
ponto firme;
• Utilizar EPI de combate a incêndio comple-
to;
• Utilizar escada de segurança. Conduzir a
escada de gancho para o telhado, encaixando o gancho na
cumeeira (se for o caso). Todo o deslocamento do bombeiro
deve ser feito sobre os degraus e banzos da escada; Figura 93
• Verificar direção do vento;
• Armar uma linha d’água de proteção para segurança
• Jogar pouca água através de jatos sobre o telhado a fim de verificar onde ocor-
re maior evaporação e neste local efetuar a abertura de ventilação.;
• Efetuar uma abertura larga e retangular ou quadrada, o que simplifica futuros
reparos. Uma abertura larga é melhor que várias pequenas. O tamanho da abertura é determina-
do pelo Comandante da Operação. (nunca menor que 1m²);
• Retirar as telhas com as mãos ou com o croque. Se não for possível, cortá-las
com o moto-abrasivo (telhas de metal ou de amianto) ou com o machado.
- Para executar o corte com o machado o bombeiro deve proceder da se-
guinte forma:
• Localizar os suportes das telhas, batendo nelas com o machado. O som oco
significa ausência do suporte.
• Marcar as dimensões da abertura, riscando o telhado com a ponta do machado.
• Cortar as telhas a partir do suporte, em direção ao vazio. Nunca cortar os su-
portes, pois isto pode comprometer a segurança do telhado.
• Cortar com batidas curtas, se necessitar erguer mais o machado para golpe
mais potente tomar cuidado para que o machado não atinja colegas, obstáculos ou, especial-
mente, a rede elétrica.

Figura 94 Figura 95
Aptl 92-00/2020 55/93

1.3.5.3.3 Ventilação Forçada


A ventilação forçada é utilizada para retirar produtos da combustão de ambientes
em que não é possível estabelecer o fluxo natural de ar. Neste caso, força-se a renovação do ar
através da utilização de equipamentos e outros métodos.
Uso De Equipamento Para Auxílio Na Ventilação Forçada
Veremos agora como utilizar o auxílio dos ventiladores para realizar a ventilação
forçada, bem como suas características e também como mantê-los em boas condições de uso.
a) Moto-Ventiladores
- Ventilador de Pressão Positiva -
VPP
• Utilizado para atuar como fonte
portátil de ar fresco;
• Controle eficaz de gases, calor, fu-
maça e tóxicos;
• Temperaturas mais baixas do local
da ocorrência;
• Melhorar a visibilidade do local;
• Facilita a busca do foco do incên-
dio;
• Facilita a localização e remoção Figura 96
das vítimas;
• Alimentado por uma turbina de
água, solução segura, na presen-
ça de gases ou líquidos inflamá-
veis.
- Performance do ventilador
Devemos lembrar que os ventilado-
res usados pelos Bombeiros podem diferir grandemente
seu desempenho. A quantidade de ar que um ventilador
pode gerar varia em função da potência disponível e o
formato das hélices (palhetas). O formato do cone de ar
que é produzido depende do formato da hélice e duto
fixado ao redor do mesmo.
Quando um ventilador é usado
para pressurizar um compartimento, o tempo de uso é
condicionado ao tamanho do compartimento que poderá
requerer maior ou menor vazão de ar.
Figura 97

Figura 98

Se um moto-ventilador é colocado em uma porta sendo utilizada como abertura


de entrada de ar, onde não é possível o ar escapar por porta, a taxa de vazão do ventilador len-
tamente reduzirá a medida que a pressão interna no compartimento aumenta. A taxa de vazão
que pode ser atingida dependerá do tamanho da abertura de saída.
56/93 Aptl 92-00/2020

Se a abertura de saída for muito grande, com-


parada com a abertura de entrada, a máxima taxa de vazão
que poderá ser alcançada pelo ventilador provavelmente será
6 m/s. O aumento de pressão no compartimento, neste caso,
será muito pequeno.
Se a abertura de saída é do mesmo tamanho
que a de entrada, a máxima taxa de vazão será reduzida para
provavelmente a 4 m³/s, mas a pressão interna poderá aumen-
tar a 15Pa.
Se a abertura de saída é a metade do tamanho
da de entrada a taxa máxima de vazão será provavelmente 3
m³/s, mas a pressão interna poderá aumentar para 30 Pa.
Figura 99

O tamanho relativo das aberturas de saída e de entrada podem ser utilizados para
definir a vazão de ar contra a pressão interna.
Se a abertura de entrada é também usada como passagem, o ventilador pode cau-
sar obstrução. A não ser que isto possa ser colocado de outra forma para não impedir o acesso.
De qualquer forma isto reduzirá a proporção da produção de ar que entra na edificação. Se o
ventilador estiver colocado a dois metros da porta, provavelmente a vazão de ar naquela porta
será reduzida de 20% e a pressão interna de 10%.

Figura 100
O mais efetivo uso de um ventilador portátil de VPP será em compartimentos
limpos, pequenos e em corredores. Eles podem ser particularmente eficazes em residências e
pequenas edificações comerciais ou em caixas de escadas pressurizadas e protegidas.
Em grandes edificações, uma abordagem de compartimento a compartimento
será mais bem usada para a retirada de fumaça, tendo em vista a limitada quantidade de ar ven-
tilado disponível.
Se a abertura de entrada for muito grande para ser coberta por apenas um venti-
lador ou se um maior volume de ar for necessária é possível fazer uso de mais de um ventilador
em paralelo.
Caso uma maior velocidade de extração de fumaça é requerida, dois ventiladores
podem ser utilizados em série, um será colocado na porta e o segundo atrás deste para selar ao
redor da porta. Isto provavelmente restringirá o acesso pela porta.

Figura 101 Figura 102


Aptl 92-00/2020 57/93

Onde a arquitetura da edificação permitir, mais de uma abertura de ventilação


pode ser usada, mas, nesse caso, outros cuidados devem ser tomados para que a abertura de
entrada não se transforme em de saída por causa das adversidades das condições do vento ou
porque os ventiladores não tenham sido acionados simultaneamente.
- Posicionamento dos ventiladores
• Uma vez que as aberturas das
entradas de ar tenham sido selecionadas, alguns fatores
determinaram a localização dos ventiladores.
• A consideração principal sobre o
acesso deve ser se os bombeiros ou ocupantes em fuga
precisam usar a porta, neste caso o ventilador deve ser
recuado para evitar a obstrução do acesso.
• A segunda consideração será se
o ventilador está ventilando diretamente no comparti-
mento com fogo. Se este for o caso, haverá uma mis-
tura turbulenta de gases quentes e fumaça indesejada, Figura 103
talvez seja melhor colocar o ventilador atrás da porta.
Isto direcionará ar em toda a abertura da porta ao invés
de parte dela e proverá uma ventilação mais uniforme
no compartimento.
• Igualmente, se houver fumaça
sem fogo no compartimento do lado de dentro da por-
ta, talvez seja preferível direcionar toda a fumaça para
dentro da edificação. Colocando o ventilador afastado
da porta direcionará ar em toda a sua abertura ao invés
de parte dela e proverá uma ventilação mais uniforme
no compartimento.
• Se o ventilador estiver afastado Figura 104
da porta, haverá um estágio onde o cone de ar englobará
toda a abertura da porta. Isto reduzirá a quantidade de ar
que estiver entrando na edificação, mas fará o mais efi-
ciente uso do ar que é jogado para dentro. Isto objetiva
produzir uma parede de ar para varrer toda fumaça e ga-
ses quentes antes de ir na direção da abertura de saída.
• Não havendo a necessidade de
manter acesso pela abertura de entrada, o uso mais efi-
ciente do ventilador é colocando-o na porta e bloquean-
do o resto do espaço da porta.
- Manutenção dos ventiladores
Após cada utilização:
• Remover os detritos Figura 105
das grades de proteção
da tela;
• Verificar se não existem
obstruções na admissão;
• Drenar a turbina;
• Fechar a válvula de con-
trole;
• Bloqueie o ventilador na
sua posição ereta (no seu
máximo ajuste);
• Limpar a poeira e detritos
do ventilador. Figura 106
58/93 Aptl 92-00/2020

Mensal:
• Inspeção Visual;
• Verificar se não existem rachaduras na carcaça de proteção do ventila-
dor e das hélices;
• Verificar os apertos dos parafusos;
• Reparar ou substituir as peças quando necessário, utilizando sempre
peças originais. Utilize parafusos auto-travantes. Parafusos comuns se
soltam com facilidade após a operação.
Semestral:
• O ventilador possui rolamentos selados e lubrificados para toda sua vida
útil, não tente lubrificá-los;
• Lubrifique a válvula de contro-
le da seguinte forma:
• Abra totalmente a válvula
• Remova os parafusos da flange
e remova a válvula
• Aplique graxa à base de lítio
na rosca da haste e no seu eixo,
movimentar a fim de distribuir
a graxa;
• Remontar a válvula na posição
aberto.
Figura 107

OBS: Vazamentos poderão ocorrer com o tempo, por desgaste natural dos
anéis, juntas, selos mecânicos ou pelo assento da válvula de pulverização. Quando isso ocor-
rer, substitua as peças danificadas.
Viram como é importante conhecermos as técnicas de uso do moto-ventilador
para realizar uma ventilação forçada? Agora é hora de aprendermos outra técnica, a técnica de
ventilação forçada utilizando linhas d’água.
b) Linhas de Mangueira no auxílio à ventilação forçada
Uso do Jato d’água como exaustor - Para que se obtenha o máximo em efe-
tividade na ventilação e o mínimo em danos e gasto desnecessário de água, a utilização do
jato chuveiro como exaustor depende de avaliação de como,
onde e quando o jato será aplicado.
Um jato chuveiro dirigido através de
abertura de portas ou janelas arrasta consigo grandes quanti-
dades de calor e fumaça. Comparado com exaustores elétri-
cos, este método tem provado ser duas a quatro vezes mais
eficiente, dependendo do tipo, tamanho, ângulo de abertura
e da localização do esguicho. Com um esguicho regulável na
posição 60º, cobrindo de 85 a 90% da abertura, são obtidos
resultados excelentes na ventilação.
Figura 108

O esguicho deve estar afastado cerca de


50 cm da abertura, no caso, uma janela de 1,2m x 1,2m.
Aberturas maiores permitem maior ventilação, sendo assim,
uma porta (por ser maior) será mais benéfica que uma janela.

Figura 109
Aptl 92-00/2020 59/93

Qualquer que seja o tamanho da abertura, ângulos maiores que 60º não devem
ser utilizados, porque aumentando o ângulo do jato, aumentará a perda de energia. Portanto,
não deve ser efetuada a cobertura pela regulagem do esguicho, mas, sim, manter a regulagem e
variar a distância do esguicho para abertura, cuidando para que o jato sempre cubra 85 a 90%
da área.
Existem duas pequenas desvantagens no uso do jato chuveiro na ventilação:
• Pode haver aumento nos danos produzidos pela água, na edificação e
• Há um gasto adicional de água na operação.
1.4 GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO (GLP 13 Kg)
O GLP é a fração mais leve extraída do petróleo no processo de refino, for-
mado pela mistura de hidrocarbonetos com três átomos de carbono (propano) ou quatro átomos
(butano), podendo apresentar-se em mistura entre si (propano 50% e butano 50%) ou com
pequenas frações de outros hidrocarbonetos. É empregado, principalmente, como gás combus-
tível doméstico, comercial, agrícola e industrial. Como gás combustível doméstico é chamado
de gás de cozinha.
Atenção!
O GLP não pode ser utilizado como combustível em veículos automotivos,
conforme a atual legislação brasileira. O gás permitido para uso automotivo é o gás na-
tural.
O GLP possui as seguintes características:
• É um gás combustível com alto poder calorífico;
• Quando sob pressão se liquefaz;
• É incolor, inodoro* e asfixiante;
• Não é tóxico, não é corrosivo, não é poluente;
• A temperatura de ebulição do GLP, à pressão de uma atmosfera, é de -30 ºC;
• O vapor de GLP é, normalmente,
de 1 ½ a 2 vezes mais pesado que o ar, e o que eva-
pora do líquido, à temperatura de ebulição normal, é
ainda mais pesado. Por isso, o gás vazante tende a se
manter no nível do solo, dificultando a ventilação do
ambiente e sua dispersão. No estado líquido, o GLP é
mais leve que a água.
*Pelo fato de ser inodoro, por mo-
tivo de segurança, uma substância do grupo
MERCAPTAN é adicionada ainda nas refina-
rias. Ela produz o cheiro característico per-
cebido quando há algum vazamento de gás.
Apesar de não ser tóxico, se inalado em grande Figura 110
quantidade produz efeito anestésico.
1.4.1 RESERVATÓRIOS DE GLP
Os reservatórios para GLP são construídos de acordo com normas específicas e
rígidas, que estabelecem os testes periódicos a que devem ser submetidos, bem como os dispo-
sitivos de segurança.
Dentre os recipientes ou cilindros padronizados para acondicionar o GLP (P-2,
P-5, P-8, P-13, P-20, P-45 e P-90), o de 13 kg (P-13) é o mais utilizado para acondicionar o gás
de cozinha (Fig. 111).
A pressão do GLP, dentro de um botijão, depende da proporção da composição
química da mistura de propano e butano, além da temperatura ambiente na qual o botijão se en-
contra. Normalmente, em misturas médias na temperatura ambiente de 20ºC, a pressão interna
do GLP, dentro do botijão, é de aproximadamente 5 bar*.
60/93 Aptl 92-00/2020

Figura 111
*O bar é uma unidade de pressão (símbolo: bar) e equivale a exatamente a
0,99 atmosferas.
A pressão interna dos reservatórios de gás sobe com o aumento da temperatura
ambiente, logo, se ele estiver exposto à temperatura de 100ºC já existiria o risco de explosão.
Porém, os botijões de 13 kg possuem um plug fusível cons-
tituído de bismuto (Fig. 112), que derrete e libera todo o gás
contido no botijão quando a temperatura ambiente chega em
torno de 78ºC (Fig. 113). Já os cilindros (a partir de 20 kg) são
equipados com válvulas de segurança do tipo mola (Fig.114 e
115), regulada de modo a permitir o escape de pequenas quan-
tidades de gás, aliviando o excesso de pressão. Essa válvula se
abre automaticamente quando a pressão do cilindro se eleva, e
fecha-se quando a pressão do cilindro volta ao normal.
Figura 112

Figura 113 Figura 114 Figura 115


Aptl 92-00/2020 61/93

Devido a esses fatores, em condições normais, não se pode admitir que um bo-
tijão de GLP exploda. Quando se tem notícia de explosões
envolvendo GLP, a grande maioria se refere a explosões
ambientais ocorridas devido ao vazamento de gás no am-
biente que formou uma mistura explosiva ou à ruptura da
válvula de segurança do botijão. Daí basta uma fonte de
calor para que a mistura exploda (a faísca de um interrup-
tor de luz, ou de um motor de um eletrodoméstico, uma
vela acesa, a chama de um fósforo, etc.).
Já os botijões de 2 kg (Fig. 116) utilizados
em lampiões ou fogareiros simples (um queimador), são
usados em ocasiões que requerem baixo consumo, como
em acampamentos. Tem aplicação restrita por não possuir
válvula de segurança. Estes podem explodir quando ex-
postos à altas temperaturas.
Figura 116
1.4.2 SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA
Agir de maneira rápida e consciente em situação de emergência quando do va-
zamento de gás inflamável é muito importante e exige que a pessoa mantenha a calma e não se
impressione com o vazamento de gás.
O ato de aproximar-se do botijão para removê-lo do local ou para fechar o regis-
tro não causa risco à saúde, o gás de botijão só é perigoso à saúde quando toma todo o ambiente,
expulsando dali o oxigênio, o que pode causar asfixia. Deve-se tomar extremo cuidado para
evitar o risco de um incêndio.
1.4.2.1 Medidas de segurança nos casos de vazamento de GLP sem fogo:
• Ao sentir cheiro de gás, NÃO acione interruptores elétricos (NÃO ligue e
NÃO desligue);
• Abra as portas e janelas para arejar o ambiente, diminuindo a concentração
de gás;
• Procure imediatamente a localização do vazamento (utilize espuma de sabão,
Fig. 117);
• Nunca use fósforo ou qualquer outro tipo de chama para verificar se há vaza-
mento de GLP (Fig. 118);
• Após localizar o vazamento, feche o registro ou retire-o do local para que
seja interrompido o vazamento e providencie o conserto;
• Não tente eliminar o vazamento com cera ou sabão em barra. Isso não elimina
o vazamento;
• Não sendo possível parar o vazamento, transporte o botijão, sem arrastar, para
um local isolado, aberto e ventilado, evitando contato com chama exposta ou
objetos que possam produzir faíscas. Em seguida isole o local e chame a as-
sistência técnica da empresa fornecedora ou os bombeiros.
62/93 Aptl 92-00/2020

Eventual vazamento
na solda

Figura 117 Figura 118


1.4.2.2 Medidas de segurança nos casos de vazamento de GLP com fogo:
O fogo em um vazamento de GLP é uma situação controlada. Ele só deve ser
apagado se houver condições do vazamento ser sanado.
• No caso de fogo na mangueira, se possível feche o registro ou retire a válvula
reguladora do local, com isso o fogo deverá apagar;
• No caso das chamas não se apagarem ou o fogo estiver localizado no plug-
-fusível ou no corpo do botijão, transporte-o com cuidado para um local isolado e ventilado para
que o gás queime até acabar;
• Se não tiver condições de retirá-lo do local, afaste todos os móveis próximos
ao botijão e acione os bombeiros.
1.4.3 INSTALAÇÃO DO BOTIJÃO
• Os botijões devem ficar em locais arejados, nunca dentro de armários ou
gabinetes (Fig. 119);
• Só instale o botijão dentro de casa se a situação não permitir que ele fique
do lado de fora;
• O botijão deve ficar longe de tomadas, interruptores, instalações elétricas
e ralos, para onde o gás pode escoar e causar acidentes;

Figura 119
Aptl 92-00/2020 63/93

• Use sempre a mangueira correta, com comprimento recomendado (entre


0,80 e 1,25 m), diâmetro de 3/8’’, confeccionada em PVC transparente com uma tarja amarela,
com a inscrição NBR 8613, prazo de validade (5 anos) e número do lote, ou tubulações metá-
licas apropriadas;
• A mangueira deve ser fixada no regulador com braçadeiras apropriadas
(Fig. 120). Nunca com arames ou fitas;
• Nunca instale qualquer acessório no botijão, além do regulador de pressão
e da mangueira;
• Use sempre o regulador de pressão com a inscrição NBR 8473 em relevo;
Abraçadeira
Mangueira

Abraçadeira
Regulador de
pressão

Botijão

Figura 120

• Nunca passe a mangueira por trás do fogão


(Fig. 121). Se a entrada do fogão precisa ser modificada, chame a
assistência técnica do fabricante ou pessoa credenciada para o ser-
viço;
• Troque o regulador a cada 5 anos ou quando
apresentar defeito. Observar a validade do regulador tomando o cui-
dado de utilizá-lo dentro do prazo;
• Instalar o regulador, girando a “borboleta” para
a direita com as mãos, até ficar firme. Nunca utilize ferramentas Figura 121
(Fig. 122);
• Verificar vazamento com espuma de sabão (Fig. 123);

Figura 122 Figura 123


64/93 Aptl 92-00/2020

• Se houver vazamento pela rosca, desatarraxar a borboleta e repetir a ope-


ração. Se persistir o vazamento, retire o regulador novamente e verifique se existe sujeira no
bocal onde ele é atarraxado. Providencie a limpeza e em seguida tente atarraxar novamente.
Persistindo o vazamento, não coloque o botijão em operação e chame a assistência técnica do
fornecedor.
1.4.4 CUIDADOS OPERACIONAIS
Para acender o fogo, primeiro arrume a fonte de ignição, depois libere o gás
(Figs. 124 e 125);

Figura 124 Figura 125


Nunca deite e nem vire o botijão para saber se todo o gás foi usado. Se
houver ainda algum resíduo de gás, ele poderá escoar na fase líquida, o que anula a função do
regulador de pressão, podendo provocar graves acidentes (Fig. 126);

Figura 126
Não aqueça o botijão. Esse procedimento pode causar acidentes (Fig. 127);

Figura 127
Jamais instale queimador ou lampião diretamente no botijão. A proximidade
da chama pode aquecer e derreter o plug-fusível, causando acidentes graves (Fig. 128);
Não transporte o botijão na posição horizontal e em veículos fechados;
Ao se ausentar por longos períodos, deixar o registro de gás fechado.
Aptl 92-00/2020 65/93

Figura 128

1.4.5 CUIDADOS NA COMPRA DO BOTIJÃO


• Somente compre botijões de empresas fornecedoras idôneas. Desse modo fica
garantida a procedência e a qualidade do seu botijão;
• Não aceite botijão enferrujado, com amassados acentuados, alça solta ou a
base danificada;
• Verifique a existência da identificação da companhia de gás no botijão e no
caminhão (Fig. 129);
• Observe se há vazamento na válvula;
• Veja a existência do rótulo de instruções e o lacre (Fig. 130) sobre a válvula
com a marca da companhia de gás;
• Nunca compre botijões de gás distribuídos por caminhões de venda clandes-
tina.

Figura 130

Figura 129
66/93 Aptl 92-00/2020

2 ESTUDO DOS AGENTES EXTINTORES


São denominados agentes extin-
tores as substâncias capazes de interromper uma
combustão, quer por resfriamento, quer por aba-
famento ou simultaneamente por esses proces-
sos.
A água, a espuma, os pós quími-
cos e os agentes gasosos são os agentes extin-
tores, normalmente utilizados para combate de
incêndio.
Eles são normalmente utilizados
através de equipamentos portáteis (Fig. 131) ou Figura 131
sistemas fixos adequados e destinados a propor-
cionar a proteção e a extinção do fogo. E são divididos basicamente em Agentes Principais e
Agentes Complementares.

Para Combate a Agente Extintor


Incêndio em
Aeronaves Espuma
Edi cações Água
Pós Químicos
Complementares
Agentes Gasosos
Tabela 03

À seguir falaremos um pouco sobre as especificidades de cada agente extintor.


2.1 AGENTES PRINCIPAIS
São assim chamados pela capacidade de extinguir grandes incêndios sem a ne-
cessidade de um agente complementar.
2.1.1 AGENTE PRINCIPAL EM EDIFI-
CAÇÕES - ÁGUA
A água é o agente extintor mais
empregado, em virtude do seu baixo custo e
da facilidade de obtenção. Age principalmen-
te por resfriamento, devido a sua propriedade
de absorver grande quantidade de calor, se
transformando em vapor. E quanto maior a
sua fragmentação, maior e mais rápida a sua
capacidade de se vaporizar e, consequente-
mente, de absorver calor. Figura 132
A transformação da água em vapor faz com que seu volume aumente cerca de
1.700 vezes. Este grande volume de vapor d’água desloca um volume igual da atmosfera am-
biente ao redor do fogo, reduzindo deste modo, a quantidade de oxigênio e de gases disponíveis
para sustentar a combustão. Esse é um fator de considerável influência na extinção de incêndios
em ambientes fechados, onde o vapor gerado expulsa o oxigênio e os gases inflamáveis do am-
biente, promovendo o abafamento, além de reduzir a temperatura (resfriamento) e melhorar a
visibilidade.
Em razão da existência de sais minerais em sua composição química, a água
conduz eletricidade e, se aplicada de maneira inadequada em equipamentos energizados, pode
conduzir uma descarga elétrica ao bombeiro.
Aptl 92-00/2020 67/93

Quando utilizada em combate ao fogo em reservatórios contendo combustíveis


líquidos de baixa viscosidade, há o risco dela se concentrar no fundo do reservatório e provocar
transbordamento do líquido que está queimando, espalhando o fogo.

In amação do tanque com líquido A água aplicada no tanque se O nível da água no fundo do tanque
de baixa viscosidade acumula no fundo se eleva, provocando o transborda-
mento do líquido combustível em
chamas

Figura 133
Se tratando de combustíveis líquidos de alta viscosidade (óleos, piche, petróleo,
etc.), existe o risco do calor, que está sendo transmitido pela parede do reservatório e através do
próprio combustível, fazer com que a temperatura da água que se acumulou no fundo, chegue
aos 100 ºC, provocando sua ebulição, transformando-a em vapor. Isso faz com que seu volume
seja rapidamente aumentado (cerca de 1700 vezes). Essa rápida expansão tem como consequ-
ência o fenômeno denominado “boil over” (Fig. 134), que é uma erupção (extravazamento
muito violento) do combustível em chamas, aumentando rapidamente a área do incêndio e
pondo em risco todo o pessoal que está trabalhando no local da emergência.
A água pode ser utilizada a partir de viaturas de combate a incêndio ou a partir
dos dispositivos de sistemas fixos de extinção (mangueiras, canhões, chuveiros de segurança).
No estado líquido pode ser aplicada através de jato compacto ou pleno (erradamente chamado
de sólido), jato chuveiro e jato neblina ou pulverizado.

In amação do tanque com Calor transmitido pelo líquido em A água atinge 100°C e começa a vapori- Os vapores da água não conseguem passar
líquido de alta viscosidade direção ao fundo do tanque, onde zar, expandindo seu volume em cerca de através do líquido de alta viscosidade e
está a água 1700 vezes o empurra violentamente para fora do
tanque, espalhando o fogo

Figura 134
68/93 Aptl 92-00/2020

2.1.2 AGENTE PRINCIPAL DE USO AERONÁUTICO - LGE


ESPUMA
Agente extintor cuja ação principal de extinção é o abafamento e secundaria-
mente, o resfriamento, por utilizar água na
sua formação.
Quanto ao processo de for-
mação, a espuma pode ser química ou me-
cânica.
A química, que continha
CO2 em suas bolhas, entrou em desuso e,
atualmente, não é mais fabricada.
Figura 135
Já as espumas mecânicas,
que possuem ação superior às espumas químicas, possuem bolhas de ar.
A rigor a espuma é mais uma das formas de aplicação da água, pois se constitui
de um aglomerado de bolhas de ar (ou CO2) envoltas em películas de água.
ATENÇÃO!
A espuma conduz corrente elétrica
2.1.2.1 Espuma Mecânica
A espuma mecânica é obtida através da mistura de água com um líquido gerador
de espuma (LGE) e a aspiração simultânea de ar atmosférico através de um esguicho próprio.

Esguicho

Proporcionador
e Dosador Ar

Espuma
LGE

Água
Figura 136

O líquido gerador de espuma deve ser utilizado na dosagem especificada pelo


seu fabricante. Para a utilização em combate a incêndio em aeronaves, segundo a ICAO, podem
ser utilizados LGE a 1%, 3% ou 6%, desde que devidamente aprovados. No COMAER, segun-
do a ICA 92-1 de dezembro de 2011, que trata sobre os níveis de Proteção em Aeródromos do
COMAER, deve ser utilizado LGE a 6%, aprovado pela NBR 9695 e 15.511 da ABNT.

Figura 137
Aptl 92-00/2020 69/93

A mistura a 3% é obtida utilizando 97 partes de água com 3 partes de LGE.

Figura 138
A mistura a 6% é obtida utilizando 94 partes de água com 6 partes de LGE.

Figura 139
2.1.2.1.1 Classificação das Espumas Mecânicas
a) Quanto a Razão de Expansão
Quanto a razão de expansão, as espumas mecânicas podem ser classificadas
em:
• Baixa expansão - Razão de expansão até 20 para 1 (um litro de mistura
forma 20 litros de espuma);
• Média expansão - Razão de expansão entre 20 e 200 para 1 (um litro de
mistura forma de 20 a 200 litros de espuma);
• Alta expansão - Razão de expansão entre 200 e 1000 para 1 (um litro de
mistura forma de 200 a 1000 litros de espuma).

Baixa Média Alta


expansão expansão expansão
1:20 1:200 1:1000

Figura 140

Para a formação destas espumas é necessária a utilização de equipamento


próprio denominado Esguicho Formador. Veja alguns exemplos:

Figs.141. Esguicho Formador Figs.142. Esguicho Formador de


de Espuma de Baixa Expansão Espuma de Média Expansão
70/93 Aptl 92-00/2020

Figs. 143. Esguicho Formador de Espuma de Alta Expansão

b) Quanto a Formação de Camada Isoladora


Quanto a formação de camada isoladora, as espumas podem ser classificadas
em:
• Formadora de Camada Isoladora - Espuma que forma uma camada de
isolamento que aumenta a velocidade de extinção e previne a reignição;
• Não Formadora - Espuma que não forma a camada de isolamento.

Oxigênio

Espuma

Camada Vapores
Isoladora

Combustível

Figura 144

c) Quanto ao Nível de Eficiência Segundo a ICAO*


A ICAO, no Manual de Serviços de Aeroportos – DOC 9137-AN/897 Parte
1, estabelece os critérios para a realização dos testes para que a espuma possa ser aprovada
como nível A ou B.
Nível A - Basicamente, a espu-
ma, aplicada na razão de descarga de 11,4 l/min,
com taxa de aplicação de 4,1 l/m²/min, deve ser
capaz de apagar uma área de 2,8 m² com querose-
ne em chamas;
Nível B - Basicamente, a espu-
ma, aplicada na razão de descarga de 11,4 l/min,
com taxa de aplicação de 2,5 l/m²/min, deve ser
capaz de apagar uma área de 4,5 m² com querose-
ne em chamas.
A Organização da Aviação
Civil Internacional ou OACI, também conheci-
da por sua sigla em inglês, ICAO (International Figura 145
Civil Aviation Organization), é uma agência es-
Aptl 92-00/2020 71/93

pecializada das Nações Unidas criada em 1944 com 191 países-membros. Seus principais ob-
jetivos são o desenvolvimento dos princípios e técnicas de navegação aérea internacional e a
organização e o progresso dos transportes aéreos, de modo a favorecer a segurança, a eficiência,
a economia e o desenvolvimento dos serviços aéreos.
No teste de aprovação, são avaliadas a velocidade de extinção e a resistência a
reignição. A extinção total deve ser conseguida em menos de 1 minuto, porém a espuma é apli-
cada por um total de 2 minutos. Esta aplicação continuada fixa o cobertor de espuma e simula
as circunstâncias que provavelmente ocorreriam em um acidente de avião, onde os bombeiros
continuariam a aplicar a espuma após a extinção das chamas. Em seguida é realizado o teste de
reignição, onde a chama é acesa novamente para verificação de sua propagação.
Além disso, as características físicas (viscosidade, pH, sedimentação e outras)
são parâmetros avaliados para limitar a corrosão e evitar obstrução no equipamento formador
de espuma.
2.1.2.1.2 Composição Química
Quanto à sua composição química, a espuma mecânica é classificada em orgâ-
nica e sintética.
a) Espumas Orgânicas
Basicamente existem 2 tipos de espumas orgânicas: a espuma proteica e a
fluorproteica.
1º - Espuma proteica
A espuma proteica é formada através
de LGE de origem orgânica obtido pela hidrólise de proteí-
nas orgânicas (chifre e casco de boi, feijão de soja, etc. Figs.
146 e 147). Esses LGE continham produtos para estabilizar a
espuma, inibir a corrosão e o crescimento bacterial, e reduzir
o ponto de congelamento.
2º - Espuma fluorproteica
A espuma fluorproteica tem a mesma
composição da proteica, acrescida de flúor.
Observação: Ambas caíram em desuso devi-
do ao fato de serem altamente corrosivas, chegando a for-
mar crostas (cristalização) nas tubulações dos caminhões de
bombeiro de aeródromo, possuírem baixo tempo de vida útil
em estoque, além de possuírem cheiro extremamente desa-
gradável. Figuras 146 e 147
b) Espumas Sintéticas
As espumas sintéticas são as que oferecem as melhores vantagens e versati-
lidade:
• Velocidade de extinção altíssima;
• Formação de uma camada isoladora (filme ou película e membrana) sobre
a superfície do líquido, impedindo a reignição;
• Tempo de vida em estoque su-
perior a 20 (vinte) anos;
• Total compatibilidade com os
pós químicos;
• Podem ser utilizados com equi-
pamentos sem aspiração de ar
(embora a sua melhor expansão
é verificada quando utilizada
nos equipamentos com aspira-
ção de ar); e
• Não apresentam sedimentação.
Basicamente existem dois tipos de Figura 148
espumas sintéticas: a espuma para hidrocarbone-
tos e a espuma para solventes polares.
72/93 Aptl 92-00/2020

1º - Espumas para hidrocarbonetos


As espumas para hidrocarbonetos, conhecidas como AFFF (Aqueous
Film Forming Foam – Espuma Formadora de Filme Aquoso), são destinadas ao uso em de-
rivados de petróleo (gasolina, óleos, querosene, benzeno, tolueno, xileno, etc.), formando um
filme ou película aquosa. Elas não podem ser utilizadas em solventes polares porque estes
destroem o filme aquoso e a espuma, impedindo a extinção do fogo.

Filme Aquoso
Hidrocarboneto

Água Separada do Combustível


Figura 149

2º - Espumas para solventes polares


As espumas para solventes polares são destinadas ao uso em álcool, ace-
tona, éter, etc. E também pode ser usada em hidrocarbonetos. Ela forma uma Membrana Poli-
mérica, cuja consistência resiste ao ataque dos solventes polares.
As espumas sintéticas podem ser utilizadas a partir de viaturas de combate a
incêndio ou a partir dos dispositivos de sistemas fixos de extinção (mangueiras, canhões, câma-
ras de aplicação em reservatórios de combustível e hangares, Figs. 150 e 151).
O líquido gerador de espuma utilizado para o combate a incêndio em aerona-
ves é o de nível “B” de baixa expansão, de acordo com a ICA 92-1.
Apesar dos fabricantes informarem que os LGE sintéticos podem ser aplica-
dos através de esguichos não aerados, a sua melhor performance é conseguida com esguichos
aerados (providos de dispositivos para aspiração de ar). Assim, aplicando 1 litro de mistura
através de um esguicho aerado, obteremos uma expansão para 8 litros (1:8), enquanto que, se
aplicarmos a mesma quantidade de mistura através de um esguicho não aerado, obteremos, no
máximo, 5 litros de espuma (1:5).

Figura 150 Figura 151


Aptl 92-00/2020 73/93

2.2 AGENTES COMPLEMENTARES


São denominados complementares porque, ao mesmo tempo que permitem a
dominação rápida de um incêndio (quando aplicados em regime suficiente), requerem, geral-
mente, a aplicação simultânea de um agente principal, a fim de obter o controle permanente e
extinção total do incêndio.
Os agentes complementares são, particularmente, efetivos em casos de fogo em
lugares confinados, onde é difícil a aplicação do agente principal, como é o caso do comparti-
mento de cargas das aeronaves, do compartimento do trem de pouso e do porão eletrônico das
aeronaves de grande porte.
Geralmente os agentes complementares não possuem ação apreciável de resfria-
mento sobre os combustíveis que estão queimando e, em incêndios de grandes proporções, seu
efeito extintor é de caráter passageiro.
2.2.1 PÓS QUÍMICOS (PQ)
Os Pós Químicos são constituídos por uma mistura de produtos inibidores do
fogo com substâncias que proporcionam fluidez e repelem a umidade, diminuindo a tendência
à aglomeração (empedramento). E segundo as legislações específicas, essa mistura não deve
conter substâncias que originem produtos tóxicos por ocasião de seu uso.
Quando aplicados em regime adequado e em quantidade suficiente, possuem
uma atuação muito eficiente na extinção do fogo.
O efeito de extinção está diretamente relacionado com a técnica de aplicação, e
poderá ser afetado pelas condições atmosféricas, especialmente pela direção e velocidade do
vento.
Eles não são condutores de eletricidade e deixam resíduos de difícil remoção.
Os componentes de equipamentos eletrônicos que forem expostos aos pós quí-
micos, devem ser muito bem limpos.Caso contrário, as partículas de PQ que permanecerem em
contato com esses componentes, irão provocar corrosão, danificando os equipamentos.
Atualmente, os pós químicos mais utilizados são:

A base de Aplicação na classe


Fosfato de mono-amônio e sulfato de amônia A, B e C
Bicarbonato de sódio BeC
Bicarbonato de potássio BeC
Sal de sódio D
Gra te D
Tabela 04
74/93 Aptl 92-00/2020

2.2.1.1 Pós Químicos para Classes A, B e C (PQ ABC)


Os PQ ABC são compostos de monofosfato de amônia siliconizado. A caracte-
rística de repelir a umidade é conferida mediante a adição de estearato de zinco, de cálcio ou
magnésio.
Eles devem ser aplicados de modo a formar uma nuvem de pó que envolve todo
o material em chamas. Dessa forma, além de atuarem por abafamento, quando entram em con-
tato com o combustível aquecido, reagem formando uma espécie de crosta (fusão vítrea) sobre
sua superfície, isolando o combustível do comburente (oxigênio do ar). Essa crosta penetra nas
camadas porosas do combustível. O processo de formação da crosta é uma reação química en-
dotérmica, que provoca a liberação de sulfato e fosfato de amônia, além de vapor d´água, que
roubam calor do combustível (resfriamento).
Na classe A, os PQ ABC não chegam
a superar o poder de extinção da água, pois ele tem
um efeito mais superficial, enquanto a água atua em
superfície e numa profundidade maior, penetrando e
encharcando o combustível.
Seus resíduos possuem um poder de
corrosão maior do que os PQ BC.

Figura 152

2.2.1.2 Pós Químicos para Classes B e C (PQ BC)


São aplicados no incêndio de modo a formar uma nuvem de pó que envolve a su-
perfície do combustível, deslocando o oxigênio (abafando) e reagindo quimicamente, formando
CO2, vapor d’água e outros gases que potencializam a extinção.
2.2.1.3 Pós Químicos para Classe D
Dos muitos agentes extintores empregados no combate a incêndio em metais
combustíveis, podemos destacar 2:
2.2.1.3.1 G - 1
É um produto inerte composto de grafite granulada, ao qual são adicionadas
substâncias fosfóricas, que aumentam a sua eficiência no combate ao fogo. Devido a sua con-
sistência, ele não pode ser usado em aparelhos extintores. São aplicados nos incêndios com
auxílio de pá.
Os compostos de fósforo, em contato com o calor do fogo, geram vapores que
cobrem o fogo, abafando-o. A grafite, excelente condutora de calor, absorve o calor do combus-
tível, resfriando-o abaixo de sua temperatura de ignição, extinguindo o fogo.
2.2.1.3.2 Met - L - X
O Met-L-X foi o primeiro pó
químico destinado ao uso na classe D utiliza-
do em aparelhos extintores (Fig. 154). Com-
põe-se basicamente de cloreto de sódio com
fosfato tricálcio aditivado, que o torna sufi-
cientemente fluido para utilização em apare-
lhos extintores. Outros 2 tipos de substâncias
também são aditivadas: Os estearatos metáli-
cos, que conferem a característica de repelir a
água, e substâncias termo-plásticas que, sob
ação do calor, proporcionam a união das par-
tículas do cloreto de sódio transformando-as
numa massa sólida.
Figura 153
Aptl 92-00/2020 75/93

Esse pó químico deve ser aplicado de modo a cobrir o combustível em chamas


de maneira uniforme. Dessa forma, o Met-L-X, em contato com a superfície aquecida do com-
bustível, formará uma crosta isolando o combustível do ar atmosférico, permitindo a extinção
do fogo.
2.2.2 AGENTES COMPLEMENTARES - AGENTES EXTINTORES GASOSOS
Os agentes extintores gasosos possuem a característica de não deixarem resídu-
os, por isso são chamados também, de agentes limpos.
Eles podem ser aplicados
nos incêndios por 3 métodos:
1º - Inundação total
Consiste na apli-
cação de uma grande quantidade de gás
extintor num ambiente fechado vedado,
de modo que o gás fique retido, com a fi-
nalidade de constituir uma atmosfera que
não seja capaz de sustentar o fogo.
Os sistemas fixos
de extinção por gases extintores propor-
cionam este tipo de aplicação (Fig. 154).
Figura 154

2º - Aplicação local
Consiste na aplicação direta
de pouca quantidade de gás extintor sobre o material
em chamas, de modo que ele possa apagar o fogo,
porém, sem ficar retido no ambiente. Os extintores
portáteis proporcionam este tipo de aplicação (Fig.
155).
3º - Descarga prolongada
Consiste na aplicação inicial Figura 155
de uma grande quantidade de gás extintor em am-
biente em que
ele não fique retido (ambiente aberto ou fechado não vedado), seguida da aplicação de quan-
tidade de gás suficiente para compensar a dissipação
do gás extintor já aplicado, de modo a extinguir o
fogo e evitar a reignição.
Os sistemas fixos de extinção por
gases extintores utilizados em ambientes fechados
não vedados utilizam esse tipo de aplicação. Também
podemos conseguir este tipo de aplicação utilizando
vários extintores portáteis em continuidade (acaba
um, inicia outro, Fig. 156).
Basicamente, os agentes extintores ga-
sosos eram classificados apenas quanto à sua reativi-
dade. Assim, tínhamos:
Figura 156
• Gases inertes – Agentes extintores
que não reagem quimicamente com os produtos da combustão.
• Gases reativos – Mais conhecidos como gases halogenados, ou hidrocar-
bonetos halogenados, ou simplesmente halon (abreviatura da denominação inglesa de halo-
genated hydrocarbon). São agentes extintores que reagem quimicamente com os produtos da
combustão.
76/93 Aptl 92-00/2020

Com a descoberta de que os gases halogenados que possuíam bromo (Fig. 157)
em sua composição química destruíam a camada de ozônio da atmosfera terrestre, a partir de
1994 passamos a ter uma outra maneira de abordar os agentes extintores gasosos:
• Gases que atacam a camada de ozônio, e
• Gases que não atacam a camada de ozônio.

Figura 157
Cerca de 2g de bromo, de pureza 99,8%, armazenado numa ampola, por sua vez dentro de um cubo acrílico, de
aresta 5cm.

2.2.2.1 Gases Inertes


Os gases inertes não atacam a camada de ozônio, em virtude de serem compos-
tos por gases oriundos da própria atmosfera. Os mais comuns são:
• Dióxido de carbono –
Usado em extintores portáteis e em sistemas
fixos de extinção.
• Inergen (mistura de ni-
trogênio, dióxido de carbono e argônio) –
Usado em sistemas fixos de extinção.
• Argonite (mistura de ni-
trogênio e argônio, Fig. 158) – Usado em
sistemas fixos de extinção.
O princípio de extinção dos
gases inertes é o de ocupar o lugar do ar no
ambiente em chamas, reduzindo sua concen-
tração a níveis tão baixos que a combustão
não poderá se sustentar e o fogo apagará. Em Figura 158
ambientes fechados, isso criará uma atmosfera potencialmente perigosa para os seres humanos,
podendo causar hipóxia.
A hipóxia é a insuficiência de oxigênio nos tecidos e órgãos do corpo, poden-
do ser causada pela respiração de ar com baixa quantidade de oxigênio. O grau de dano à
saúde está relacionado à concentração de oxigênio no ambiente e ao tempo em que uma pessoa
fica exposta, respirando essa atmosfera. Em concentrações de oxigênio abaixo de 8%, a expo-
sição é potencialmente fatal.
Aptl 92-00/2020 77/93

2.2.2.1.1 Dióxido de Carbono (CO2)


O dióxido de carbono, ou anidrido carbônico, ou gás carbônico, é um gás inerte
muito utilizado. É mais denso (mais pesado) que o ar, sem cor, sem cheiro, não condutor de
eletricidade e não venenoso. Por não deixar resíduos nem ser corrosivo é um agente extintor
apropriado para combater incêndios em equipamentos elétricos e eletrônicos (centrais telefô-
nicas, computadores, etc.).
O dióxido de carbono extingue o fogo por abafamento e, secundariamente, de-
vido ao fato de atingir a temperatura de – 79 ºC quando liberado da pressão, provoca um res-
friamento na superfície do material em chamas. Porém, devido ao fato de ser um gás e se
dissipar rapidamente na atmosfera, para que sua ação de resfriamento seja eficaz, mesmo após
a extinção do fogo, é necessário que sua aplicação seja mantida por um certo tempo (descarga
prolongada). Para isso, pode ser necessário a utilização de vários extintores.
O longo período de aplicação do dióxido de carbono para se obter um resfria-
mento eficaz, pode provocar choque térmico e causar danos a equipamentos superaquecidos.
Outro problema é que a condensação da umidade do ar em componentes elétricos dos equipa-
mentos, quando energizados, pode gerar curto circuitos.
m estiver exposto, como mostra a tabela abaixo:

Figura 159

Atenção!
O CO2 não deve ser utilizado em metais, hidretos metálicos e materiais oxi-
dantes, devido ao fato de ocorrerem reações perigosas.
O CO2 não deve ser aplicado diretamente sobre uma pessoa, pois pode pro-
vocar queimaduras na pele e irritar os olhos. Em determinadas concentrações ambientais,
pode causar problemas a que

Concentração de CO² Problemas Apresentados


no ar
3 a 4% Aumento do ritmo da respiração e dores de cabeça
9% Desorientação, distúrbios visuais, zumbido nos ouvidos,
tremores e perda da consciência

20% ou mais Pode matar por as xia em 20 a 30 minutos de exposição


Tabela 05
78/93 Aptl 92-00/2020

O excesso de dióxido de carbono liberado na atmosfera contribui para o efeito


estufa (aquecimento da atmosfera terrestre). Porém, esse excesso é proveniente da queima de
combustíveis fósseis, realizada pelos setores industrial e de transporte. Esse fato já tem mobi-
lizado diversos segmentos da sociedade em diversos países, com o intuito de realizar esforços
objetivando a redução de emanações desse gás. Entretanto, até então o seu uso em equipamen-
tos de extinção de incêndio não sofreu limitações.
2.2.2.2 Gases Halogenados (Halon)
Os gases halogenados são hidrocarbonetos gasosos, como o etano e o metano,
que sofreram a incorporação de elementos químicos da família dos halogênios (flúor, cloro e
bromo) em sua estrutura molecular.
Eles podem ser utilizados nos incêndios das classes “A”, “B” e “C”, sendo indi-
cados para uso em equipamentos elétricos e eletrônicos.
As principais características que tornam os gases halogenados excelentes agen-
tes extintores, são:
a) Reagem quimicamente, de maneira endotérmica (absorvendo o calor), com
os produtos da combustão, fazendo com que o calor gerado pela decomposição química do
combustível, abaixe a ponto de impedir que ele mantenha a combustão;
b) São mais eficientes que o CO2;
c) Não são eletrocondutores;
d) Não provocam danos a equipamentos eletrônicos; e
e) Não deixam resíduos.
Assim como o CO2, os compostos halogenados se dissipam com facilidade em
locais abertos, perdendo seu poder de extinção.

Figura 160
Aptl 92-00/2020 79/93

Esses agentes extintores têm nomes químicos muito complicados. Assim, para
facilitar sua identificação, uma equipe de engenheiros dos Estados Unidos, adotou um sistema
de código numérico, onde os números, da esquerda para a direita, representam os números de
átomos de carbono, flúor, cloro e bromo.
Por exemplo:
• Um composto que tem o nome químico “bromoclorodifluormetano” (Fig.
162) e cuja fórmula química é “CF2BrCl”, é conhecido como “halon 1211” e é utilizado em
extintores de incêndio.

Figura 161

• Um composto que tem o nome químico “bromotrifluormetano” (Fig. 163)


e cuja fórmula química é “CBrF3”, é conhecido como “halon 1301” e é utilizado nos sistemas
fixos de extinção.

Figura 162

Didaticamente, podemos dividir os gases halogenados em:


a) Gases que afetam a camada de ozônio, e
b) Gases que não afetam a camada de ozônio.
2.2.2.2.1 Gases que Afetam a Camada de Ozônio
É o caso dos primeiros compostos halogenados, difundidos no mercado como
gases halons. A existência do elemento bromo na composição química desses gases lhes confe-
ria um excelente poder de extinção, mas também um alto grau de toxidez, o que restringia o uso
em ambientes com ocupação humana.
A partir de 1994, eles começaram a ser retirados do mercado em virtude do fato
de o bromo ser o elemento responsável pela de-
gradação da camada de ozônio.
Apesar de sua proibição, o uso dos
halons 1211 e 1301 ainda é admitido como agente
extintor nas aeronaves (motores, compartimentos
de carga e cabine de tripulantes) e em alguns se-
tores, como por exemplo, os militares e petroquí-
micos, até a sua completa substituição por agentes
extintores que não degradam a camada de ozônio.
Figura 163
2.2.2.2.2 Gases que Não Afetam a Camada de Ozônio
Com a progressiva retirada de uso dos antigos gases halogenados, novos agentes
halogenados, sem o elemento bromo, começaram a ser formulados. Esses novos agentes, além
de não destruírem a camada de ozônio, possuem, segundo os fabricantes, “nível de toxidez
muito baixo, permitindo, inclusive, a utilização em sistemas fixos nos ambientes com ocupação
humana”.
Como já é de nosso conhecimento, para que um agente extintor gasoso consiga
apagar um fogo, é necessário que ele atinja sua concentração ideal e específica no ambiente,
80/93 Aptl 92-00/2020

tornando-o impróprio para sustentar a combustão. Só que, muitas vezes, essa


concentração ideal é imprópria para a saúde do ser humano, seja por provocar asfixia, como
ocorre com os gases inertes, ou intoxicação como pode ocorrer com os gases halogenados.
A problemática da intoxicação provocada pelos gases halogenados reside na
possibilidade da quantidade de gás que é absorvida pelo sangue através dos pulmões, poder pro-
vocar danos à saúde ou não. E essa concentração do agente halogenado na corrente sanguínea
é diretamente proporcional à concentração de gás existente no ambiente, exalado por sistemas
fixos ou extintores portáteis, e ao tempo de exposição.
Nos parâmetros estabe-
lecidos para os dias atuais, com base no
que era conhecido pelos pesquisadores
da Agência Americana de Proteção ao
Meio Ambiente (EPA), no ano de 2004,
os novos agentes extintores halogenados
possuem suas respectivas concentrações
para extinção abaixo das concentrações
nas quais foram observados efeitos fisio-
lógicos ou toxicológicos adversos no ser
humano, podendo ser utilizados em am-
bientes ocupados pelo homem, desde que
através de sistemas muito bem dimensio-
nados.
Figura 164
Portanto, segundo os pró-
prios fabricantes, os novos agentes halogenados continuam tóxicos. Não importa se muito ou
pouco, continuam tóxicos. E a intoxicação é em função das variáveis:
a) Grau de tolerância que cada indivíduo possui para cada substância agressiva;
b) Concentração da substância agressiva no ambiente;
c) Tempo de exposição do indivíduo à substância agressiva;
d) Se a calibragem dos equipamentos fixos manterá no ambiente, as corretas
concentrações de gases dimensionadas no projeto; e
e) Dos parâmetros de toxicologia de substâncias, que sofrem alterações com
frequência.
É prudente, então, que sejam estipulados procedimentos operacionais de segu-
rança nos locais onde existam sistemas fixos de extinção que utilizem gases halogenados. Al-
guns desses gases contribuem ligeiramente para o efeito estufa, mas de momento, são consi-
derados como uma alternativa segura e eficaz, tendo impacto mínimo sobre o meio ambiente,
levando em consideração os efeitos do próprio incêndio. Como exemplo desses novos agentes
extintores halogenados, podemos citar:
Nome Comer-
Formula Química Nome Químico Aplicação
cial
Extintores de incêndio em substituição
FE-36 CF3CH2CF3 hexa uorpropano
ao halon 1211

dodeca uor-2-metil- Extintores de incêndio em substituição


Halotron HFC-134a + 2 comp.
pentan-3-ona ao halon 1211
Sistemas xos de extinção em substitui-
FM-200 CF3CHFCF3 hepta uorpropano
ção ao halon 1301
Sistemas xos de extinção em substitui-
FE-25 CHF2CF3 penta uoretano
ção ao halon 1301

Tabela 06
Aptl 92-00/2020 81/93

2.3 TABELA DE APLICAÇÃO DE AGENTES EXTINTORES


Agente x Classe A B (líq) B (gás) C D
Água Ideal Pode** Pode Não Não
Espuma Pode Ideal Pode Não Não

Agentes Gasosos Pode* Ideal*+ Ideal Ideal* Não


PQ BC Pode* Ideal*+ Ideal Pode*# Pode*
PQ ABC Ideal Ideal*+ Ideal Pode*# Pode*
PQ D Pode* Pode* Pode Pode*# Ideal

Tabela 07
* Reignição
+ Em pequenos focos
** Somente em forma de chuveiro
# Resíduos prejudiciais

2.4 DESVANTAGEM DOS AGENTES EXTINTORES


Água – Conduz eletricidade.
Espuma – Conduz eletricidade.
PQ – Reignição e resíduos prejudiciais aos equipamentos eletrônicos.
Gases Extintores – Reignição.
82/93 Aptl 92-00/2020

2.5 TÉCNICAS DE APLICAÇÃO DOS AGENTES EXTINTORES


2.5.1 APLICAÇÃO DE ÁGUA EM JATO COMPACTO OU PLENO
Como o próprio nome diz, é o jato em que a água toma uma forma contínua,
não ocorrendo sua fragmentação na saída do esguicho (Fig. 165). É utilizado quando se deseja
maior alcance e maior penetração da água no combustível.
O alcance do jato é a distância máxima que um jato pode atingir sem perder sua
eficiência. Essa eficiência é prejudicada por duas forças: a gravidade e o atrito com o ar. Estas
forças produzem no jato um efeito denominado “ponto de quebra”.
O “ponto de quebra” é o ponto a partir do qual o jato perde a configuração de
jato contínuo e passa a se fragmentar em grandes gotas que cairão ao solo, não penetrando no
material como se desejava e, muitas vezes, nem chegando até ele.
Para se eliminar o efeito nocivo destas forças, o bombeiro deve alterar a veloci-
dade e o volume do jato ou se aproximar do objetivo, se possível.
Por não estar fragmentado, o jato contínuo chegará ao ponto desejado com maior
impacto, atingindo camadas mais profundas do material em chamas, o que pode ser observado
em materiais fibrosos (classe A).

Figura 165
Aptl 92-00/2020 83/93

Os esguichos agulheta, os reguláveis e o universal (Fig. 166), bem como os ca-


nhões dos CCI (Fig. 167), permitem a formação de jato compacto.

Esguicho Regu- Esguicho Uni- Esguicho Agu-


lável versal lheta

Figura 166

Figura 167

2.5.2 APLICAÇÃO DE ÁGUA EM JATO CHUVEIRO


Quando aplicada em forma de chuveiro, a água fragmenta-se em grandes gotas.
Esse tipo de jato atinge uma área maior do incêndio, possibilitando um controle eficaz. É usado
quando se pretende uma maior e mais rápida absorção de calor. A fragmentação da água permite
absorver maior quantidade de calor que o jato contínuo. Porém, esse tipo de jato possui pouco
alcance, necessitando que os bombeiros atuem próximos do material em chamas.
A amplitude do jato em forma de chuveiro pode ser regulada de acordo com a
necessidade de operação. Essa regulagem pode chegar ao ponto de formar uma cortina d’água,
que permite proteção dos bombeiros e materiais não incendiados contra o calor radiado (Figs.
168 e 169). Os esguichos reguláveis e o universal permitem a formação de jato em forma de
chuveiro.

Esguicho regulável

Esguicho regulável

Figura 168 Figura 169

Esguicho universal
84/93 Aptl 92-00/2020

Existem dois tipos de canhões em uso nos CCI. Um que possui regulagem idên-
tica aos esguichos reguláveis (Fig. 170), formando um jato chuveiro completo (Fig. 171), e
outro que possui um defletor em sua extremidade, vulgarmente chamado de “bico de pato” (Fig.
172), que proporciona um jato em forma de leque (Fig. 173), com características semelhantes
ao jato chuveiro, porém, não tão eficiente quanto este.

Figura 170 Figura 171

Figura 172 Figura 173

2.5.3 APLICAÇÃO DE ÁGUA EM JATO NEBLINA


Os jatos em forma de neblina ou pulverizado, são gerados por fragmentação da
água em partículas finamente divididas, através de mecanismos do esguicho. O ar ficará satura-
do como uma fina névoa, e as partículas de água parecerão estar em suspensão. Este tipo de jato
deve ser aplicado a pequenas distâncias, caso contrário, as partículas serão levadas para longe
do fogo por correntes de ar (vento e convecção).
Em virtude desta fragmentação, a água se vaporiza mais rapidamente que nos
jatos contínuo e chuveiro, absorvendo o calor com maior rapidez.
Na forma de neblina, a água protege com mais eficiência os bombeiros e o ma-
terial não incendiado do calor radiado.
O jato em forma de neblina somente é conseguido com a utilização da extensão
apropriada do esguicho universal e em determinados tipos de chuveiro de segurança utilizados
para proteger equipamentos energizados (Fig. 174).

Figura 174
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2.5.4 TÉCNICAS DE EMPREGO DE ESPUMA


O emprego de espuma deve ser feito de maneira mais suave possível, o que pos-
sibilitará maior rapidez na extinção.

Figura 175

Para evitar sua saturação e conseqüente destruição, a espuma não deverá ser
mergulhada no líquido incendiado. O jato de espuma deve ser dirigido, preferencialmente, con-
tra a parede interna do reservatório ou contra um anteparo ou, no caso de um vazamento, à
frente deste e contra o solo.
a) Usando um anteparo
A espuma é direcionada a um anteparo para ser aplicada de forma suave, o
que reduzirá sua velocidade, proporcionado um combate mais eficiente.

Figura 176

b) Combate em espiral ou caracol


Consiste na aplicação da espuma em forma espiral, iniciando-se na parte
externa do incêndio até atingir o centro. Isso faz com que a espuma se acumule extinguindo o
incêndio.

Figura 177
Início do combate em espiral
Fonte: 16º Grupamento de Bombeiros
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c) Recomendações
Quando da montagem da linha de espuma para o combate a incêndio deve
ser observado que: Entre o proporcionador de linha e o esguicho lançador não é recomendado
que se coloque mais de 30 m de mangueiras, devido à grande perda de carga do proporciona-
dor; e Linhas de espuma montadas com esguichos proporcionadores limitam a mobilidade da
equipe de bombeiros, visto que a bombona de EFE (Extrato Formador de Espuma) fica junto ao
esguicho, o que não acontece com as linhas montadas com proporcionadores de linha e propor-
cionadores “around the pump”.
2.5.4.1 Incêndio em Tanques
Antes de iniciar o combate ao incêndio, verificar a direção do vento, pois o
combate deve ser feito no mesmo sentido, de forma a não reduzir a eficiência e o alcance do
jato de espuma a ser aplicado. A pressão do esguicho deve ser suficiente para que o alcance do
jato possa combater o incêndio, lembrando que a qualidade da espuma é prejudicada quando
submetida a altas pressões, porém o seu alcance diminui, tornando-se ineficiente se a pressão
de trabalho for muito baixa.
Identificar os meios existentes no local, como: reserva de água, disponibilidade
de canhões monitores e quantidade de EFE.
Deve-se verificar a existência de hidrantes públicos e particulares mais próximos
e solicitar o apoio de água necessária.
Com as informações disponíveis e após identificar os principais riscos, iniciar o
combate ao incêndio, utilizando, sempre que possível, os sistemas de combate da empresa sinis-
trada. Ao mesmo tempo em que se combate o incêndio no tanque em chamas, deve-se proceder
ao resfriamento dos tanques vizinhos.
a) Equipamento recomendado
TANQUE

CARACTERÍSTICAS DO TANQUE EQUIPAMENTO RECOMENDADO

DIÂMETRO ATÉ 9m E ALTURA ATÉ 6m LINHA MANUAL DE ESPUMA

DIÂMETRO ACIMA DE 9m OU ALTURA LINHA DE ESPUMA EM CANHÃO


ACIMA DE 6 m MONITOR

Tabela 08: Equipamento recomendado para combate a incêndio em tanques.

Tal critério é utilizado levando-se em conta o alcance do jato de espuma e a va-


zão proporcionada pelo equipamento. A linha de espuma montada em canhão monitor produz
um jato de grande vazão e com alcance maior.
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b) Câmaras de espuma
São equipamentos fixos de proteção contra incêndio, instalados no topo do
tanque, destinadas a injetar a espuma na superfície do combustível. Em edificações regulariza-
das no Corpo de Bombeiro Militar, tanques com diâmetro acima de 18 m possuem câmaras de
espuma.
As instalações fixas compreendem os elementos produ-
tores de espuma, dosadores de EFE, tubulação de condução de água, EFE e
solução de espuma. Possuem também depósito de EFE, ligado permanen-
temente as redes de abastecimento de água.
As instalações fixas mais simples podem funcionar com
apenas a abertura da válvula alimentadora de água. Nas mais complexas,
poderá haver necessidade de ações complementares, como por exemplo a
abertura de válvulas direcionais para encaminhar a espuma para o local de
emergência, controle manual de dosagem, etc. Em razão destes detalhes, a
brigada de incêndio da empresa é a mais indicada para operar esse sistema.
2.5.4.1.1 Incidentes
Durante o combate a incêndio em líquidos nos tanques
abertos, existe a possibilidade da ocorrência de dois fenômenos importan-
tes: o “boil over” e o “slopover”. Figura 178

Vejamos agora como estes dois fenômenos acontecem!


1º - “Boil Over”
O boil over pode ser explicado da seguinte maneira:
• Quando se joga água em líquidos de pequena densidade, a água tende
a depositar-se no fundo do recipiente.
• Se a água no fundo do recipiente for submetida a altas temperaturas
, pode vaporizar-se. Na vaporização da água há grande aumento de
volume (1 litro de água transforma-se em 1.700 litros de vapor).
• Com o aumento de volume, a água age como êmbolo na seringa,
empurrando o combustível
quente para cima, espa-
lhando-o e arremessando-o
a grandes distâncias.
Antes de ocorrer o boil over, pode-se
identificar alguns sinais característicos:
• Através da constatação da onda
de calor: dirigindo um jato d’água na lateral do tan-
que incendiado, abaixo do nível do líquido, pode-se
localizar a extensão da onda de calor, observando-se Figura 179
onde a água vaporiza-se imediatamente;
• Através do som (chiado) peculiar: pouco antes de ocorrer a “explosão”,
pode-se ouvir um “chiado” semelhante ao de um vazamento de vapor de uma chaleira fervendo.
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Ao identificar esses sinais, o bombeiro deve se comunicar imediatamente com o


Chefe de Equipe. Recebendo ordem de abandonar o local, todos devem se afastar rapidamente.

Fig. 180: Boil over


Fonte: 16º Grupamento de Bombeiros

2º - “Slop Over”
É o extravasamento do combustível do tanque caracterizado por uma
ebulição e espumação ao nível da superfície do líquido inflamável. Pode ocorrer após um perío-
do de queima relativamente curto de produtos como petróleo, óleo cru, asfalto, e outros líquidos
que tenham ponto de ebulição acima do da água. A espuma pode contribuir para o resfriamento
de tais inflamáveis, mas também pode causar a efervescência violenta dos mesmos, com grande
espumação do líquido que poderá causar seu derramamento para fora dos tanques que os con-
tém.
Para evitar o extravasamento, recomenda-se manter o nível do líquido em
chamas cerca de 3 metros abaixo do topo do tanque.
2.5.4.1.2 Incêndio em bacias de contenção
Bacia de contenção é uma região delimitada por uma depressão do terreno ou
diques destinada a conter o vazamento de produtos líquidos dos tanques.
Um transbordamento ou um vazamento de registro ou de uma junta na base de
um reservatório, pode fazer com que o líquido combustível vaze para a bacia de contenção.
Se o líquido que vazou não está incendiado, é necessário removê-lo. Por medida
de segurança deve ser aplicada uma camada de espuma na superfície para evitar o risco de ig-
nição durante o decorrer da operação de remoção.
Caso o líquido esteja incendiado, é necessário aplicar espuma rapidamente para
evitar que o incêndio se estenda aos outros reservatórios atendidos pela bacia de contenção.
Nestes casos a espuma deve ser projetada contra as paredes dos reservatórios.

Figura 181
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Policia Militar do Estado de São Paulo. Corpo de Bombeiros. Manual de Fundamentos
de Bombeiros - 2ª Edição: [São Paulo], 2006.
BRASIL. Policia Militar do Estado de Minas Gerais. Corpo de Bombeiros. Manual de Atividades
de Bombeiros.
BRASIL. Centro de Instrução de Adestramento Aeronaval. Combate a Incêndio.
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Escola de Especialistas de Aeronáutica. Apostila Teoria
Contraincêndio - Módulo II. Guaratinguetá, 2000.
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Base Aérea de São Paulo - Companhia Contraincêndio.
Manual de Fundamentos dos Bombeiros da BASP.
REVISTA BOMBEIROS EM EMERGÊNCIAS. Edições nº 5 e nº 8 - São Paulo.
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Anexo A - Tabela de Materia Perigosos


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Anexo B - GLOSSÁRIO
ACROLEÍNA (ALDEÍDO ACRÍLICO) – CH2=CH—CHO: É um gás (ou líquido muito
volátil) irritante incolor ou ligeiramente amarelado, com cheiro característico, muito irritante,
tóxico e congestionante das mucosas. A acroleína é resultante da combustão de derivados de
petróleo, graxas, óleos, etc. [carpetes de acrílico, paredes revestidas de papel e laqueadas, lumi-
nárias acrílicas]. Na concentração de 0,0001 % a acroleína já se torna incômoda ao ser humano
e, nas concentrações superiores a 0,001 % se torna mortal em breve espaço de tempo.
ANIDRIDO SULFUROSO (DIÓXIDO OU BIÓXIDO DE ENXOFRE, GÁS SULFU-
ROSO) - SO2: Gás tóxico e incolor com cheiro irritante e desagradável, resultante da com-
bustão de madeiras, lãs, substâncias orgânicas que contenham enxofre. É altamente irritante
aos olhos e às vias respiratórias, constituindo perigosa a inalação durante poucos minutos, em
concentrações de 0,05 %.
AMONÍACO – NH3: Gás irritante, incolor, de odor irritante, produzido na combustão de ma-
teriais plásticos acrílicos, plásticos fenólicos, seda, resinas, lãs, carpetes de nylon etc. É muito
utilizado nos sistemas de refrigeração e tinturaria. O amoníaco é extremamente irritante à pele,
às mucosas e, particularmente, aos pulmões, olhos e garganta. A concentração de 0,25 a 0,65 %
de amoníaco no ar é o bastante para causar lesões graves ou mesmo a morte à pessoa exposta
durante 20 a 30 minutos.
CATALIZADOR: Substâncias que interferem aumentando a velocidade da reação sem, con-
tudo, tomar parte na reação. Como exemplo podemos citar a interferência de certas substâncias
que provocam fermentação de combustíveis, acelerando uma combustão lenta.
CIANETO DE HIDROGÊNIO (CIANURETO DE HIDROGÊNIO, ÁCIDO CIANÍ-
DRICO, ÁCIDO PRÚSSICO, ÁCIDO HIDROCIÂNICO) – HCN: Gás altamente tóxi-
co, de odor característico (amêndoas amargas); forma-se com a combustão incompleta de certas
substâncias que contém nitrogênio (acrílico, lãs, seda, couro, uretana, etc.) – [carpete de nylon
e acrílico, revestimentos de poliuretano]; a exposição a uma concentração de 0,3 % é suficiente
para causar a morte. É muito usado na composição de inseticidas.
CLORETO DE HIDROGÊNIO (GÁS CLORÍDRICO) – HCL: Gás irritante, incolor,
corrosivo e altamente tóxico que possui um odor forte, liberado da combustão de materiais
plásticos que possuem cloro em sua composição, empregado comumente nos isolantes de con-
dutores elétricos, pisos emborrachados e revestimentos de vinil. Corrói metais quando em com-
bustão. A inalação na concentração de 0,15 % no ar, durante alguns minutos é fatal.
DIÓXIDO DE NITROGÊNIO (BIÓXIDO DE NITROGÊNIO OU AZOTO, PERÓ-
XIDO DE NITROGÊNIO OU AZOTO) – NO2: Gás marrom altamente tóxico, inodoro,
anestésico e hilariante (produz risos), produzido nas combustões onde está presente o nitrato de
amônia, nitratos inorgânicos, nitrato de celulose e quando há contato de materiais combustíveis
(inclusive metais) com ácido nítrico. Pode ser absorvido por via cutânea e, portanto, seu limite
de tolerância não deve ser ultrapassado. A concentração de 0,0025 %, após alguns minutos, já
pode oferecer risco. A pessoa não sente, de início, a intoxicação, pois seus efeitos aparecem
posteriormente, o que dificulta a recuperação do intoxicado. A exposição rápida em concentra-
ções de 0,002 a 0,007% pode ser mortal.
FÓSFORO BRANCO: É uma forma alotrópica do fósforo, muito venenosa, que deve ser
mantida sob a água devido à sua propriedade de inflamar-se espontaneamente em contato com
o ar. É usado regularmente para a fabricação de fogos de artifício e bombas de fumaça para
camuflar movimentos de tropas, em operações militares.
FOSGÊNIO (CLORETO DE CARBONILA) – COCL2: Gás altamente tóxico formado
a partir da aplicação de compostos clorados (gás halogenado tetracloreto de carbono) em com-
bustões ou superfícies quentes. Origina-se também da decomposição de pisos emborrachados,
revestimentos de vinil, cabos elétricos pelo fogo.
PALITO DE FÓSFORO: A cabeça do palito de fósforo é formada por clorato de potássio
(parte vermelha), revestida por parafina. A parte abrasiva da caixinha, destinada a produzir calor
por atrito, é composta por areia, pó de vidro e fósforo (o fósforo fica na caixa e não no palito!).
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Quando o palito é riscado na caixinha, ocorre a produção de uma pequena faísca que provoca o
início da combustão do clorato de potássio, que libera uma grande quantidade de oxigênio para
alimentar a queima inicial, e da parafina. Em seguida a chama irá se propagar pelo palito de
madeira ou papelão, sendo alimentada pelo oxigênio contido no ar ambiente.
SÓDIO METÁLICO (NA): É um elemento bastante reativo, nunca encontrado livre na na-
tureza. É um metal macio, brilhante que, em contato com a água, a decompõe com a forma-
ção de hidróxido e liberação de hidrogênio em uma violenta reação. Deve ser conservado em
atmosfera inerte ou imerso em um líquido protetor como querosene. É considerado venenoso
e reage violentamente com a água conforme já comentado. Se pulverizado, inflama-se espon-
taneamente em contato com o oxigênio do ar. É usado na manufatura de ésteres e no preparo
de compostos orgânicos. Também é usado em certas ligas, para decapar metais e para purificar
metais fundidos.
SULFETO DE HIDROGÊNIO (GÁS SULFÍDRICO, SULFIDRETO, ÁCIDO SUL-
FÍDRICO) – H2S: Gás irritante, incolor, inflamável que possui um odor idêntico ao de ovos
podres. É resultante da combustão incompleta de substâncias orgânicas (lãs, couro, cabelos,
pêlos, etc.). É irritante aos olhos e ao aparelho respiratório. Em concentrações de 0,04 a 0,07 %
durante mais de 30 minutos é perigoso e pode produzir sintomas como vômito, desarranjos in-
testinais, assim como sequelas e moléstia no sistema respiratório. Em concentrações superiores
a 0,07 %, o gás sulfídrico afeta o sistema nervoso, causando uma respiração acelerada, seguida
de parada respiratória.

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