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Tchalaï Unger
Optamos nesta tradução por ilustrar o texto com as próprias cartas a que se referem,
mas para um compreensão mais profunda do método exposto por Tchalai o ideal é ter
em mãos um Tarot de Marselha. O mesmo pode ser facilmente adquirido <
https://www.amazon.com.br/s?k=tarot+marselha> ou impresso pelo link
abaixo.
Introdução
Você está interessado no Tarô. Você não sabe muito claramente o porquê. Você está
vagamente ciente de que ele contém elementos que podem ajudá-lo a compreender
uma série de verdades sobre você mesmo, sobre suas orientações e seu futuro, ou
sobre coisas que desde tempos imemoriais permaneceram de difícil acesso, sobre a
natureza do mundo e o destino dos seres humanos e sobre o que as pessoas
misteriosamente chamam de “conhecimento”.
Mas você não sabe como lidar com o Tarô. Você fica perturbado com o aparecimento
de algumas cartas. Possivelmente, você reconhece formas, imagens ou ideias que
parecem familiares ou significativas, mas o que fazer com, digamos, o VI de Copa?
Você leu livros que tratam do Tarô, percebeu que há uma quantidade considerável de
grandes palavras e muita moralização. Você notou que os autores demonstram muita
confiança sobre o que professam enquanto permanecem um tanto nebulosos; você se
pergunta de quem é a autoridade que eles devem por tal assertividade, enquanto, no
que lhe diz respeito, você apenas consegue deslizar sobre a superfície do Tarô; você se
pergunta quão verdadeiras são suas afirmações: pois, para sustentar sua própria
explicação do Tarô, eles continuam se referindo a outros sistemas, ou a suas próprias
convicções internas, que, reconhecidamente, não são necessariamente errôneas.
É você, é o Universo. Você só precisa é de um meio para vê-lo. Aqui está um método.
Sim, um método – mesmo que a palavra soe desagradável com esse toque escolar e
racional. Esteja ciente disso imediatamente: o Tarot é de fato uma escola. Uma escola
simples para crianças (e para quem sabe voltar a ser criança). E, de fato, o acesso ao
que se chama de irracional só é possível por meio de um método racional. Um
método que a ciência poderia aceitar e que permitiria substanciar uma série de provas
objetivas da validade do Tarô e não mais subjetivas, baseadas em uma escala de valores
muito pessoais. [[[No limiar do ano 2000, ou do que os astrólogos chamam de “Era de
Aquário”, o estudo do Tarô pertence aos campos que fazem fronteira com a ciência
avançada, tocando a borda entre dois domínios claramente definidos, embora muitas
vezes se fundindo: o inconsciente coletivo por um lado, no sentido que lhe foi dado
por CG Jung – e as leis holonômicas do Universo, por outro lado. O Tarô compõe um
conjunto de 78 cartas, mas também séries e ciclos infinitamente mais numerosos, cada
elemento dos quais é inseparável dos outros, ligados a eles em um estado de
interconexão* que não pode ser separado. Seria então um modelo, um “design” do
Universo? Você tem a sorte de ter em suas mãos o Tarô de Marselha, o mais cheio de
experiência, portanto o mais confiável que já foi produzido: conforme a tradição em
seus mínimos detalhes, com cores que devem sua qualidade duradoura à arte da
química de 1981 e impressão precisa e muito bonita. Vamos agora considerar como
abordá-lo.
Com método!
Nosso fio de Ariadne consistirá nisto: POR QUE o Tarô existe? POR QUE se pode
dizer que vem do Futuro? etc. COMO você poderá encontrar seus próprios esquemas
internos no Tarô, e aqueles comuns ao todos Universo conhecido, sem se desprender
da realidade do dia-a-dia? etc. ATÉ ONDE você pode ir, evitando adivinhações
aproximadas e perigosas, enquanto a substitui por algo muito superior, ou muito mais
bonito, tornando-se um caminho mais bonito, ou seja, tornando-se um co-criador do
Futuro: seu e o do mundo.
I – Por que?
Vamos começar esclarecendo nosso vocabulário. Sigamos para isso a da Doutrina de
Albarracín, exposta por Rodrigo de Azagra, porque é precisa. E ainda não está
contaminado pelos comentários. Já que a ideia do Universo foi mencionada, vamos
examiná-la mais de perto, de forma racional! e progressiva.
I. PREÂMBULO
Quando o homem observa o cosmos, isto é, tudo o que está nele e ao seu redor,
percebe que o Cosmos é composto de:
algumas partes tangíveis: que podem ser tocadas, medidas, embora sejam invisíveis.
A Física Contemporânea assume e, em parte, demonstra que todas essas partes se
apoiam mutuamente*,
algumas partes intangíveis, que não são tangíveis ou mensuráveis: seus limites ou
seu conteúdo exato não são conhecidos; eles estão misturados com as partes
tangíveis como o oceano com as pedras que ele submerge, e isso em todos os
níveis.
A natureza está completamente sujeita às suas próprias leis. Não encontramos nele a
causa do homem.
A natureza, uma força bruta e mecânica, parece perseguir uma ideia fixa: perseguir a
perfeição. Destrói sem parar (por exemplo, os indivíduos mais fracos, as espécies mais
inaptas) para reconstruir cada vez melhor, é progresso, evolução. A natureza nunca
para.
Se procuramos a causa da Natureza, encontramos obstáculos, a causa da Natureza não
está na natureza, não há nada mais do que uma cadeia de consequências e efeitos. A
causa da chuva está na nuvem, a causa da nuvem está na evaporação da água, etc. Em
geral, uma combinação de vários efeitos é necessária para produzir um determinado
evento.
A natureza contém, por definição, toda a matéria existente. Este material é
absolutamente governado – poderíamos dizer que é um escravo – por dois códigos
muito rígidos. Vamos chamá-los de “códigos” no sentido de que a legislação rege a
sociedade com códigos: o que vai contra eles é eliminado, o que tenta estar fora deles
também é eliminado.
ORDEM: cada coisa, qualquer que seja seu estado material, sólido, líquido, gasoso
ou outro, ocupa um lugar no espaço mesmo que o ser humano não possa vê-lo ou
controlá-lo: uma galáxia, um elétron, o ar, ocupam um lugar no espaço.Essa ordem
implica um ciclo quando uma coisa toma o lugar de outra: o boi, comendo a grama,
toma seu lugar; o homem que come o boi, toma seu lugar; os vermes, comendo o
homem, tomam seu lugar. É assim que aparece:
A DURAÇÃO: uma coisa toma o lugar de outra dependendo da duração que lhe é
atribuída: tudo o que nasce morre. Para coisa há um período de vida. A própria
natureza não é presente nem passado nem futuro; é apenas duração. Espaço e
tempo são conceituações do homem para expressar que ele percebe a ordem e a
duração que a natureza lhe impõe incessantemente e sem exceção.
Isto é algo muito mais difícil. Como observar o que não pode ser tocado ou medido?
Não há base; a escala de valores tangíveis não pode ser usada. Por isso, a busca pelo
Universo Intangível causou o maior número de fantasias desde o início da história
humana. Com isso não quero dizer que essas fantasias sejam inúteis e desprovidas de
sentido. Você pode abraçar uma religião ou uma filosofia que são hipóteses às vezes
construídas sobre fatos, mas também pode também tentar observar esse Universo
Intangível.
Temos um meio: observar a consequência nos permite abordar a causa. Não podemos
ver a causa, mas podemos construir um modelo dessa causa.
Na Natureza nada é misterioso: tudo o que é tangível obedece a ordem e duração. Mas
para entrar no Universo Intangível, começaremos muito devagar, para não cair na
fantasia, e só abordando a causa pela consequência.
As consequências desta mudança cíclica são vistas sobretudo nos seres animados (por
exemplo, infância, adolescência, maturidade, velhice), mas também se manifestam no
resto da natureza, incluindo os minerais.
As antigas tradições falam das batalhas entre o céu e a terra “Yang” e “Yin”, ou seja,
Intangível e Tangível, mas onde elas acontecem?
Comparemos o homem ao Cosmos. Como ele, é composto por um Universo Tangível
e um Universo Intangível. É um microcosmo. Seu corpo tangível obedece apenas às
leis da natureza. Seu corpo intangível obedece apenas às leis do Universo intangível.
Portanto, o Homem tem dois mestres: a Natureza, mestre implacável, e o Fortuna,
mestre sublime.
Qualquer vibração pode ser “ativa”, “passiva” ou “normal”. Esta é uma sinusóide,
uma combinação de vibração ativa, causada, por exemplo, por um estado de alerta, e
vibração passiva causada por relaxamento profundo. Uma vibração externa é excelente
se for momentânea e ruim se for contínua; neste ponto ocorre a morte do corpo
tangível.
Este grupo de fenômenos mensuráveis g raças ao osciloscópio ou outros instrumentos
semelhantes pertence ao intangível. Não existe vibração boa ou ruim, mas apenas a
interação de dois conjuntos vibratórios. Essas vibrações permanecem invisíveis apenas
porque o olho não cobre toda a extensão do espectro.
O CÉREBRO
Ele se manifesta como o Mestre do Tangível, mas obedece a algo muito mais
poderoso do que ele.
Sem o cérebro nada funciona no homem, por isso pode ser comparado a uma
máquina da IBM: sem programador e sem eletricidade não funcionará.
O cérebro nada mais é do que tangível: poderíamos comê-lo. Os exercícios podem ser
realizados para desenvolver o funcionamento do hemisfério direito ou esquerdo. É
muito interessante, mas é apenas ginástica cerebral. Se você adora o cérebro, está
adorando uma máquina.
O EGO
Ele tem a possibilidade de se comunicar com a máquina por meio de três linguagens
ou comportamentos: um comportamento “físico” ou “motor” — um comportamento
“sensível” e — um comportamento “mental”, dependendo da escala de valores do
indivíduo. Ela fabrica reflexos condicionados acompanhados de reações químicas
dessa escala de valores (por exemplo, fico com raiva toda vez que alguém me chama
de pobre diabo, e se me elogiam eu não fico com raiva. Na minha escala de valores, a
sublimação está no alto e o desprezo abaixo).
A ESCALA DE VALORES
Sem cessar, o homem oferece reações aos estímulos que recebe. Tudo é uma reação a
uma reação. A escala de valores gera um comportamento que orienta a vida: fazemos
coisas agradáveis — de acordo com o comportamento sensato — para os outros e
para nós mesmos, porque são “os que são convenientes”. Não há nada de sublime
aqui! Lá tudo é feito para satisfazer o interesse e a conveniência. Mas às vezes fazemos
algo que descrevemos como espontâneo (“Eu tinha uma força”), um ego que
funciona diferente (por exemplo, ao salvar alguém que está se afogando, ao se
apaixonar…), porque com sua lógica, seu senso de conveniência e interesse, o cérebro
inibiria a resposta espontânea.
A RESPOSTA ESPONTÂNEA
Isso é mais forte do que qualquer outra coisa: vem do intangível. É sublime, mas gera
sofrimento porque não leva em conta a escala de valores. Pode ser perigoso, pode até
provocar sua própria destruição, mas existe.
Por exemplo, o amor, de acordo com o Ego, pode ser físico (atração motora,
vibração), sensível (prazer), mental (conveniência), ou tudo de uma vez, no melhor dos
casos. O amor que vem do Intangível é diferente. Essa força espontânea nos levará a
fazer coisas que serão julgadas como impossível de acordo com o Ego. O Universo
sublime, nesse exato momento, está se manifestando.
Em sua evolução, o ser humano busca o sublime: o contato com o Intangível; tente
examinar o ALEATÓRIO. Isso não é possível se não se aceitar primeiro que se está
sujeito aos constrangimentos do Tangível, olhando como são produzidos, sem
antecipar o Intangível de início, sem contar “fofocas”. Mas por que esse longo
preâmbulo?
Primeiro, para que o vocabulário que vamos usar nas próximas páginas esteja bem
claro.
CIÊNCIA E REVELAÇÃO
Este notável atalho delineia a situação que o homem considera sua hoje. Há cinquenta
ou mesmo trinta anos, definir intuição ou “revelação”, não passaria das tentativas de
ligá-la à telepatia, à magia, a um fluido condutor ou algo semelhante, que é ainda pior
que a intuição. Atuemos “cientificamente”, ou seja, sem a intervenção de uma
hipótese antes de uma observação. O conteúdo da intuição é analisado antes de se
propor uma teoria sobre a natureza da intuição.
Percebe-se que reduzir a intuição ao seu essencial, deixando de lado temporariamente
os meios ou as circunstâncias aparentes que a acompanham ou a manifestam, trata-se
de informação e, então, nada se opõe à construção de um modelo sobre a origem da
informação cientificamente.
Mas antes de se tornar, por apenas alguns anos (e, infelizmente, não foi para todos os
cientistas), um instrumento muito fino, com um campo ilimitado e que respeita a
matéria sobre a qual se inclina, sem reduzi-la, a ciência evocou uma materialidade
estupidificante e bestializante e uma visão estreita que marcou uma longa etapa em
que feriram as suas consciências.
Se você quisesse esquadrinhar o intangível, e este é o caso mais frequente, você não
teria revelações ou elas seriam muito vagas e pouco confiáveis, você só poderia tentar
entrar em uma sociedade iniciática na qual se é ensinado a conta-gotas sobre o que se
é ou ou o que se propõe fazer. Não estou tentando com isso questionar novamente a
dignidade ou a validade das sociedades iniciáticas e seus processos, pelo contrário, seu
papel, em essência, consiste em tornar o ser humano maduro através do contato
adequado com todos aqueles que são mais maduros do que ele e, claro, transmitir
certas verdades que estão além dos critérios científicos. Várias correntes baseadas em
revelações, aparentemente diferentes, constituem o esoterismo, transmissor do que
está oculto para a grande maioria.
Quanto mais recuamos no tempo, mais se acentua que a dicotomia entre revelação e
ciência (oficial) ainda não existia. Então as “revelações” não poderiam ser transmitidas
de uma forma muito disfarçada, muito autoritária, e apenas para homens que não a
distorcessem, ou seja, aqueles que decidiram seguir uma determinada formação. As
“revelações”, tão diferentes do contexto banal da vida quotidiana, podiam ferir
mortalmente seres que não estavam preparados, daí o ditado que São Mateus
retomava “Non Margaritas ante porcos” (não dê pérolas aos porcos). Colocar ao
alcance de alguém uma verdade que não está à altura da tarefa de compreender e/ou
viver, engendra uma verdade que pode ser muito grave (um suicídio). Portanto,
aproximar-se do Tarô causa irritações ou desordens quando faltam os meios para
progredir. O interesse dessas irritações é manter a curiosidade alerta o suficiente para
você seguir em frente: isto é, enquanto a batalha do Tangível e do Intangível se trava
dentro de você, e assim, através de você, toda a raça humana evolui.
CODIFICAÇÃO E CODIFICAÇÃO
Era preciso expressá-las – em uma linguagem que não era acessível a todos: uma
linguagem codificada. A codificação é uma condição essencial para a transmissão.
Recordemos que essas “revelações” eram informações sobre o cosmos, sua natureza
ou a do homem, ou melhor, sobre o Tangível e o Intangível, e seu encontro, algo
explosivo!, aterrorizante!, principalmente para os regimes políticos e religiões vigentes.
É por isso que o Tarô tem a ver sobretudo com a criptografia, ou seja, a arte de
encontrar o significado de uma mensagem sem conhecer o código ou mais
precisamente, a chave. A criptografia tornou-se recentemente uma ciência exata (em
parte graças à uso do computador, extensão do cérebro humano para fora do corpo),
da arte da decodificação. Jacques Bergier observou que a criptografia se desenvolveu
paralelamente à Alquimia e ao esoterismo.
Basta olhar o Tarô para descobrir o código; observá-lo sem hipótese e sem a priori. O
único a priori será que, por enquanto, você não vai retificar o Tarô, e que, por
enquanto, você vai tomá-lo tal com é.
Temos que usar um sistema de espelhos: o Tarô nos mostra uma imagem que o
sistema nervoso nos permite reconhecer na parte intangível do ser humano. O sistema
nervoso – veja acima – é programado para estabelecer permutações e combinações de
estímulos. O Universo, em sua feroz marcha para a frente, permuta e combina
infinitamente. Não se deve esquecer, então, que o Tarô também se baseia em
permutações e combinações.
Por outro lado temos ainda 56 cartas que recebem a denominação – também de
origem desconhecida! – Dos «Arcanos Menores» destacam-se quatro, cada um
representando uma imagem diferente, sem nome nem número, nem espaço para a
mesma.
O Tarot, como a Alquimia, o Zodíaco, o I-Ching, etc., não é um livro. Livro e livre
vêm da mesma palavra latina Liber: o livro foi criado para que a memória seja livre.
Vamos seguir essa corrente.
Todas as pessoas que querem te dar liberdade te oferecem um livro, por exemplo, O
Capital, de Marx; o Livro Vermelho de Mao; o Livro Verde de Kadafi; a “Chamada de
18 de junho de 1940″do General de Gaulle. Todos aqueles que sejam batizados
“companheiros” agrupados em torno da chama do 18 de junho (companheiro, do
latim, cum e panix, que dividem o pão), aqueles que são agrupados em torno de um
livro, fazem parte de Frentes e são chamados “camaradas”(de câmara, sala).
Uma câmara, segundo o dicionário Larousse, é um lugar onde você dorme. Assim, os
camaradas compartilham o sonho. Eles não estão juntos na câmara?
Por outro lado, é considerada libertação, quando um preso é solto, a prisão continua
existindo, o preso não tem certeza de que não voltará para lá um dia. No entanto, após
o nascimento de um filho, a mãe tem a certeza de que nunca mais entrará nela. O
nascimento marca uma ação definitiva, uma libertação, uma ação momentânea. Nos
Arcanos Maiores do Tarô, a Papisa (II) tem um livro à sua frente, e o Mundo (XXI)
tem um livro atrás dela; saiu do livro, o nascimento ocorreu. A Alta Sacerdotisa nada
mais é do que libertação; Talvez seja um bom começo, mas não é um final bonito. O
Tarot mostra o caminho do parto, da saída do livro.
Se você quer ir de Paris a Pequim, você não deve olhar em um livro para encontrar o
caminho, mas em um mapa. Claro que o mapa não é o território, mas o representa
diretamente de forma imediata. Por esta razão o Tarot é um conjunto cartográfico.
De qualquer forma, é errado querer funcionar apenas com o lado direito do cérebro,
ou seja, apenas com informações de natureza intuitiva ou “reveladora”; o que também
é uma miragem! seu cérebro funciona independentemente de sua vontade (e sem o
programa e a eletricidade, esta máquina IBM não funciona, vamos lembrar). Isso seria
errado, porque se a intuição não for aplicada a uma estrutura construída — graças aos
mecanismos do hemisfério esquerdo — ela não pode ser aplicada ou usada. Assim,
esta é a razão de iniciarmos nossa abordagem do Tarô por uma observação racional
do Cosmos.
¹neuropsicofisiologista e neurocirurgião americano. Professor da Universidade de
Stanford da Califórnia, Autor de Languages o f the Brain e um dos descobridores da
tese holonômica (de que trataremos mais adiante).
Segundo Larousse, metodologia é “a parte de uma ciência que estuda os métodos aos
quais recorre”. Para nós será mais especificamente, a arte de discernir o método que é
conveniente para alcançar o resultado desejado.
LER E DESLER
Você tem que descobrir antes de esquecer, saber ler antes de desler, apoderar-se antes
de “jogar fora” as cartas, é o conteúdo desse modelo do Universo. Nós faremos isso
usando os mecanismos da leitura.
O objetivo deste guia metodológico está em sua liberdade (não liberação). Ele permite
que você trabalhe sozinho sem confrontar uma escola de pensamento, ou uma pessoa,
ou prescrições autoritárias.
Aqui está um exemplo de prescrições oficiais:
“O Tarô deve ser embrulhado em um lenço de seda. Você tem que expor o Tarot sob
os raios da lua nova”²
Claro que é melhor embrulhar o Tarô em seda do que deixá-lo deitado em um pote e
expô-lo aos raios invisíveis da lua nova, do que fumar ópio. Mas estas são questões de
bom senso e autogoverno, o conselho em si nada tem a ver com o Tarô; aspiram a
despertar no amador do Tarô um ritual que dê peso ao que ele está fazendo e, nesse
sentido, não são ruins; mas você não “tem” que fazer nada disso.
O Tarô está no Tarô, e nada mais; tudo o que você precisa fazer é encorajar-se,
quando tiver assimilado a metodologia e entrado no Tarô (dentro de você e dentro do
Universo), para nunca mais precisar abrir este guia. Porque nesse momento você terá
integrado o Tarô, e ele terá se tornado um agente da “Consciência”, como diz Tim
Leary.
ESOTERISMO VIVO
II – COMO
Quando tivermos estudado o Taro!, quando tivermos passado com ele tempo o
bastante, então e só então nos aventuraremos fora do tempo, nos deixaremos levar
pelo delírio³, dos profetas e adivinhos, ainda que mais modestamente. No capítulo
“Até onde” a resposta é ilimitada!
I. MÉTODOS SUBJETIVOS
Estas são reações do EGO baseadas em critérios quase sempre incomunicáveis, mas
você as sente tão intensamente suas. Essas reações constituem um obstáculo caro à
observação fria e objetiva. Alguns deles te assustam (você não conhecia essa faceta da
sua personalidade) e além disso você não conhece todas elas. Você não discerne as
razões que as causam.
Então começaremos com uma observação subjetiva, baseada em sua escala de valores,
nas reações de seu Ego, e todas as associações de ideias, todas as memórias que
surgem, sem discriminar ou rejeitar nenhuma.
No entanto, você sentirá uma resistência interna: o EGO que conhece os perigos da
reflexão espontânea, erguerá um muro assim que correr o risco de se manifestar.
UM TESTE PROJETIVO
O EGO defende sua escala de valores com todas as suas forças e todos os seus meios
⁴, caso contrário a base sobre a qual se apoia será quebrada; é atitude defensiva natural
e lógica. O homem gosta de viver em um sonho. Ele não quer ser realmente
responsável por si mesmo (estamos em uma civilização dos assistidos, embora por um
lado isso represente um progresso). Cuidado! o Tarot é um instrumento que corta,
não se escapa ao conselho que lhe é pedido.
⁴ Por exemplo, você vai adormecer ou terá que resolver muitos detalhes urgentes assim
que se dispor a olhar o Tarô.
O mais difícil, sem dúvida, é reconhecer que se enganou a si mesmo, com “fofocas”
Esta base deve ser suavemente destruída e gradualmente substituída pela realidade.
Quando você não gostar de um carta, não a rejeite. Dê a si mesmo a chance de falar,
de lhe ensinar algo. O que você menos gosta? Suas roupas? Sua fisionomia? Sua
paisagem? As intenções que ela parece ter? O que parece escondê-lo? … deixe-se
enojar, aceite isso. Anote suas observações (é muito importante), colocando uma data
nelas, porque suas sensações mudarão quando as cartas forem familiares para você,
quando você as reconhecer em cada um de seus detalhes.
SIMBOLISMO E SISTEMAS
Vários autores de boa fé acreditaram que o Tarô se confundia com alguns desses
caminhos. Refira-se aqui aa suas inúmeras obras, por exemplo: “O Tarot” de André
Petitbon, “A trilogia da Rota” de Enel, “Tarot Gestalt” de Eduard Finn, “Manual
Completo da Interpretação do Tarô” de Hades, “O Tarô dos Boêmios” de Papus, etc.
Outros que não são tão conhecidos também fizeram estudos interessantes; assim, o
pintor e poeta místico Pierre Le Rumeir justifica sem falta o paralelismo entre os
Arcanos Maiores e o Apocalipse de São João.
Esses autores explicaram o Tarô recorrendo a outros sistemas; Vamos rever alguns
elementos menos conhecidos.
É assim que uma escola gnóstica de pensamento que se apresenta como junguiana (ver
nota anterior), e que se revela como uma autoridade na Austrália, nos traz uma
“revelação extraordinária” sobre o Tarô, embora infelizmente se concentre nos
Arcanos Maiores: quando o Cristianismo invadiu o mundo, os possuidores do
Verdadeiro conhecimento se reuniram para deixar para as gerações futuras, o retrato
dos verdadeiros antigos Deuses rejeitados diante do Novo.
Vemos Ísis no arcano II, Saturno no VIIII, Vênus no XVII, Eros no VI, Ártemis no
VII. Divirta-se descobrindo outros, mas não se preocupe se eles não corresponderem
em todas as cartas. Este é só o Tarot justificado pelo paganismo, ou melhor, pelo
neopaganismo.
Nos Arcanos Maiores você também pode ver a história da humanidade; aparecimento
do homo sapiens, I; Idades do Xamanismo, II; da Matriarca, III; Patriarcado, IV;
aparecimento da Grande Tradição, V; até o Arcano XVII (contato com os demais
corpos celestes); XVII (andamos na lua); XVIIII, encontramos outra humanidade…, e
não me atrevo a continuar, tenho medo de dizer muitas bobagens. No entanto, nesse
sentido, acaba de sair nos EUA “The Game Of Life”, de Timothy Leary, em que traça
a política do DNA até a fusão galáctica, um trabalho ousado e brilhante de I a XXI
(veja abaixo).
Você estabelecerá ainda vínculos entre o Tarô e qualquer filosofia (como representar o
mundo para sofrer o mínimo possível e/ou se comportar-se o melhor possível neste
mundo visto sob nossa forma atual) ou ainda com alguma religião (como se
comportar no mundo tangível para obter efeitos do mundo intangível, principalmente
após a morte, eventualmente no curso da vida em nossa forma atual).
ARQUEOLOGIA E HERÁLDICA
Esquecido hoje, dada a sua intimidade com uma estrutura social desaparecida, a
Heráldica era composta por imagens familiares e significativas para os tempos que
antecederam a gestação da Tarot de Marselha, desenhadas por Nicolás Conven no
reinado de Luís XV.
Seu parentesco está ainda mais próximo dos símbolos cristãos. Não encontramos por
acaso um Papa (V), um Eremita (VIII) (mas note, com H, como Hermes). Um Anjo,
que tem o nome de uma Virtude (XIIII), um Serafim (XX), um Diablo (XV), um
Juizo Final (final?, XX), o símbolo do Graal (Copa) e do Martírio (Espada).
Mas. Que escândalo! Encontramos também uma Papisa, uma Estrela despida, uma
Rainha de Bastão que arregaça as saias e um Andrógino; o Tarô usa linguagens que as
ultrapassam sem levar em conta seus limites usuais.
Essas tradições secretas não podiam ser ensinadas oficialmente porque a Igreja as
perseguia como suspeitas. É por isso que esses documentos e sua sabedoria
tradicional, separados do mundo consciente da coletividade, permaneceram na posse
da Anima.
Tudo isso foi rejeitado ou desprezado, não recebeu atenção, mas deve ser mantido
vivo e levado em consideração.
Onde está a verdade quando tantas interpretações plausíveis (ver Tarot Art de
Alejandro Jodorowsky) foram dadas e continuam a ser descobertas por exegetas ou
amantes do Tarô, por que se contradizem, e – o que é uma contradição ainda mais
grave – o próprio desenho das cartas se confundem?
Cada comentador está um pouco certo, eles usaram o Tarô como uma projeção de seu
próprio estado de evolução, de suas próprias preocupações, experiências, convicções
e/ou conhecimento de seu EGO como um resumo. Cada um escolheu um nível
interpretativo que era único para ele, pensando que era a única interpretação justa e
possível. (como os da “da taberna espanhola”). E aí eles estão errados. Da mesma
forma que o cosmos não se limita ao modelo mais ou menos justo que lhe é dado, o
Tarô não se limita a uma interpretação que lhe é dada.
Os comentadores incluíram o Tarot, no vocabulário que conheciam. A maioria deles
publicou suas interpretações, com vontade de compartilhar, e pelo interesse de
pessoas que não sabem nada sobre nós, e assim puderam aprender muito. Outros o
fizeram para colocar seu EGO em posição de dominação.
OS MÉTODOS OBJETIVOS
As regras que a investigação deve impor são muito rígidas: deve-se supor a priori que
“nós podemos”,- que o nosso conhecimento é suficiente para compreender este
modelo do Cosmos, e que todos eles são necessários. E modificar esse modelo só nos
levará a dar uma dimensão muito grande à arbitrariedade. Em vez de mudar os signos,
aquele que deseja entrar na realidade completa (= iniciado) os compreende, os aprova,
neles desliza de maneira prudente, os habita e não tenta melhorá-los, pois isso não
passa de uma ilusão do EGO.
Para o observador do Tarô, como para todos os observadores científicos, uma lei ou
outra teoria é aplicada ao maior conjunto possível de fenômenos, e só é abandonada
em favor de uma lei ou teoria que leve em conta um número maior de fenômenos. Ao
descrever uma carta, seu melhor palpite quanto ao seu significado aparente levará em
consideração o maior número possível de “pequenos detalhes” da mesma.
Exemplo: Se sua hipótese sobre o Arcano IV não leva em conta os pés descalços do
personagem central, ou o braço direito e a mão esquerda que são comuns aos dois dos
personagens, ou o arco sem corda do personagem no topo da carta, descarte a
hipótese. Procure outro que leve em consideração os três dados e todos os outros.
(Um conselho: estude os combinações da palavra AMOV-REVX. Contém uma
equação em algarismos romanos que lhe dará a chave).
Trabalho semelhante com o Tarô é aquele que satisfaz o método científico, pois leva
em conta o maior número de elementos, mais do que qualquer outro procedimento
conhecido até hoje. É então o melhor até que outro seja encontrado, se existir. Sua
vantagem é que não elimina o significado dado pela entrada em ação da outra fonte de
informação, que é a intuição. É um trabalho que evita ter que recorrer ao arbitrário.
No trabalho, o arbitrário aparece quando a intuição não é imediata e justa, algo que o
EGO não aceita bem; por isso traz uma centena de explicações engenhosas, para
substituir naquele momento a intuição, cujas características são uma certeza
deslumbrante; é preciso suavizar o EGO com os métodos de autoanálise ou
observação subjetiva, caso contrário dará explicações submetidas à escala de valores,
ou seja, com grande possibilidade de erros em termos de observação objetiva.
VER E ENXERGAR
Você olha para o Tarô, você o contempla, você o vive, você o experimenta. Primeiro
com o olho (Os personagens do Tarô têm todos os ouvidos tapados, exceto o Anjo ou
XX, que tem orelhas-asas. Mas todos têm olhos — até os cegos..) Veja como são. Não
como você pensa que são. Não como eles dizem que são, como você gostaria que
fosse. Não dê nenhum nome ao Arcano XIII ou qualquer número a Mat, não o chame
de Louco, chame Temperança pelo nome dela, porque não é Temperança e a Roda da
Fortuna (o mesmo que seja uma roda sobressalente), não é a Roda da Fortuna (nem da
glória.) Leia!… mais tarde você deixará de ler e o delírio virá.
Leve em conta todos os detalhes. Exemplo: o chapéu, o fio, ou coque, (procure estas
palavras no dicionário) da Rainha de Copas tem uma coroa adornada com um
semicírculo vermelho que marca o meio do boné, mas não o meio da coroa. Este
semicírculo vermelho parece determinar uma zona luminosa na fita amarela da coroa.
Esta área revela seis grandes pontos mais ou menos regulares e à esquerda um
losango. O losango lembra-nos a Heráldica. Na saia ela tem uma espécie de V
maiúsculo (parte vermelha) e um sinal azul idêntico ao encontrado na legging de Matt,
em forma de chama (parte vermelha da saia).
Mais tarde, todos esses detalhes serão reunidos para dar o “modelo base” ou “pegada
de energia” do gráfico. Essa noção será de fundamental importância em nosso
trabalho.
Enquanto isso, registre-o; Mostre-se o cartão com os olhos fechados. Jogue o jogo
Kim⁶ com ela.
⁶Segundo Rudyard Kipling, esse jogo servia de treinamento para os agentes secretos
ingleses: recapitular o número e a posição exata de dez a vinte objetos espalhados em
uma sala, ou em uma mesa, após observá-los por dez segundos.
Veja tudo onde está. Se isso perturba suas ideias preconcebidas (“O Heremita é um
sábio que encontra seu caminho prudentemente no escuro”) mude suas ideias, porque
o Tarot não mudará (O H-Hermit é um homem pensativo com uma lanterna surda,
que não se apóia no em uma bengala e, no entanto, uma boa olhada em sua mão
direita em todos os sentidos revela que o personagem está de pé por causa de um
“álibi” que ele se mostra).
Outros grupos de detalhes; Examine cada personagem “em” seus pés. Onde eles são
colocados? (a força os tem acima do solo, e todos os cavalos deslizam, exceto o cavalo
de Ouros). Quantos você vê? Eles são simétricos? (Rei de Bastão), eles estão inteiros?
(Rei de Espadas), Que posição você tem? (Reveja os Valetes de Espadas e Ouros, você
notará que não pode dizer se as pernas e os pés dele são vistos de frente ou de trás.)
“Qual o tamanho dos pés?”, “A cor dos sapatos? A relação pé/solo? (bem colocado
ou não) “Está descalço?” Considere os pés dos Cavaleiros e as paisagens em
movimento em que são encontrados; As sapatilhas “bailarina” dos Cavaleiros são
adequadas para desembarcar nessas condições? (eles não podem descer até o chão de
sua montaria…) e os pés do Imperador que parecem estar em uma “catapula” pronta
para o lançamento.
Onde está o fulcro do corpo? Onde está a força do corpo? Imite o movimento do
personagem, valorize-o: sente-se como a Suma Sacerdotisa, a Imperatriz, a Justiça, os
Reis (o que os diferencia?). Sinta onde estão as energias do corpo e como elas se
movem. (Os braços da Temperança são movimentos parabólicos ou movimento
sanfonados? Em um caso o fluido branco ficaria guardado dentro dos vasos, e não
seria derramado no outro). Olhe para a cabeça de Mat. parece ser colocado no corpo
sem pescoço. Sua mão direita parece estar acima das costas direitas, e ele segura uma
bengala (que termina em uma colher) que corre diagonalmente da parte superior das
costas, alcançando os ombros à esquerda deslocado? Ele está certo?) . Admire a mão
direita da Justiça, obra-prima do equilíbrio, o polegar só mantém a espada reta porque
o pomo é segurado de um lado por uma espécie de pomo dourado. Como a espada
cairia se o polegar se movesse? Que nome tem essa posição ao praticar esgrima de
sabre? Descobra.
Preste especial atenção à paisagem. Está cheia ou não? Qual é a ecologia da paisagem?
Qual é a sua vegetação? (O poço verde do Arcano XX, é natural, ou é obra manual?)
SEJA “VOYEUR”
Presta especial atenção à maneira como os personagens são generificados, ou seja, sua
polaridade externa, manifesta. (Os atributos do Diabo não são muito avassaladores?
Órgãos masculinos estão escondidos sob seu short azul e, por outro lado, tem um seio
feminino, mas que parece estar preso por um espartilho ou por um complicado
aparato que aperta o busto: ele está tentando ser tomado por um andrógino?
Compare-a com a “sexualidade aproximada de indivíduos que sorriem bestialmente e
alegremente sob sua dominação. Aproveite, para olhar os pés dele como raízes
enterradas na terra negra e a sua corda de carne que os une separando-os, mas que
não os sufoca… Suas mãos não podem ser vistas; então eles não podem manipular a
situação. O enforcado também não; ele também está amarrado a uma corda…).
Sim, como dizem, é um jovem (o mesmo de San Juan de Santa Ana), aquele que posou
para La Gioconda, de Vinci; divirta-se procurando os homens de verdade, as mulheres
de verdade e as indecisas. Quantas surpresas!
Vigie a mão esquerda de reis e rainhas: eles traem seus segredos; alguns são
minúsculos (Rei dos Ouros), outros, desproporcionalmente desenvolvidos (Reyna de
Oros), outros grandes como mãos de animais – ou demoníacos? – (Rei de Espadas,
Rainha de Copas).
Seria o ideal para os do arcano XV serem pequenos? mas a Suma Sacerdotisa preenche
a carta, e até sai dela. Vá para edifícios. Meça a Casa-Deus, então a parede do Sol;
Compare as da Lua. Olhe para o céu, quando eles aparecem nos Arcanos Maiores? ou
melhor, quando aparece o “sinal cósmico”? (Arcano XVI), mas não foi anunciado
com as asas de morcego do XV e as asas de carne graffiti do XIV? Após o XVI, o
“signo cósmico” invade cada vez mais as cartas até ocupar completamente o espaço
no XXI.
AS CORES DO TANGÍVEL
Tentar interpretar o Tarô pelo simbolismo das cores leva a um beco sem saída porque
as analogias fundamentais já foram enganadas pelas interpretações orientadas por
numerosos EGO.
As cores do tarô são violentas. Atuam no metabolismo do corpo a longo prazo e cada
vez mais intensamente.
Como um todo, provoca um profundo reequilíbrio interno, mas para entender seu
significado, para valorizá-lo dentro de nosso estudo objetivo, só teremos uma certeza:
o mundo tangível.
Tome, por exemplo, várias coisas amarelas na natureza e procure seu denominador
comum. O ouro trabalhado, alguns frutos maduros, o mel, o sol, são tão amarelos.
Também tojo (que tem o mesmo cheiro do coco). O ouro mostra uma obra, o
resultado do trabalho de um homem; na natureza, as frutas mostram o trabalho de
maturação, o mel o trabalho misto de flores e abelhas, e o sol atravessa muitas
camadas de elementos gasosos e quilômetros para chegar até nós. O denominador
comum será então a ideia de trabalho, de tempo ou espaço, de metamorfose
(transmutação da forma pela transformação de elementos) que leva algo a amadurecer,
ou seja, tornar-se útil para o homem. Veja as moedas, os sóis, os cetros, o animal (está
escondendo outro animal?) do Arcano XI.
No entanto, se você pegar um centímetro cúbico de água no fundo do mar que está
vendo aquele azul, perceberá que (ao contrário do sangue cuja menor partícula é
vermelha), a parte pequena da cor não tem cor nenhuma. Este azul é feito com uma
superposição infinita de transparências, se for fragmentado; desaparece. Esse azul, tão
pouco material, resulta de uma quantidade, de um estado coletivo, externo ao homem,
como o sangue lhe é interno. nós nos oporemos facilmente o vermelho (íntimo,
quente, pulsante, viscoso). Os movimentos do azul, se os tiver são muito leves e quase
imperceptíveis. O azul do Tarô manifesta uma certa impessoalidade, uma certa
estagnação, uma certa permanência, mas na natureza ele clareia e escurece lentamente
com a luz, não é estático. Sua matéria é suave e tênue ao mesmo tempo. Para os
junguianos parecerá mais ou menos análogo aos personagens do Inconsciente
Coletivo, por que se encontra em alguns cabelos, folhas, relâmpagos e nuvens?
O verde escuro do Tarô é a cor do vegetal, mas não qualquer; não é o da alfafa, nem o
do alburno; é o verde sombrio das árvores perenes, ou das árvores que vencem a
batalha da luz na selva. Isso manifesta uma tremenda vitalidade no tempo (sempre
verde) ou no espaço (selva). É a força da seiva vegetal – não é aquela que retorna a
cada primavera, mas é animada pela natureza irresistivelmente e incessantemente e
verde ao longo do ciclo das estações. Podemos então estabelecer uma analogia com a
energia da natureza bruta. Por que você o vê na grama (e nas árvores exuberantes da
Estrela), e também em alguns moveis e lugares?
O preto, na natureza, é atribuído ao que é ao mesmo tempo soterrado e rico, do qual
se pode obter luz e alimento: carvão, por exemplo, que alimenta o fogo; tchernoziom,
a famosa “terra negra” russa, é a mais fértil para o trigo. Hulla e Al Khemya —a terra
negra egípcia que deu origem à palavra Alquimia, designando sua matéria-prima—
pertence ao mundo ochtoniano, o que está abaixo da realidade visível, o ventre do
mundo. É a cor que reina num lugar (gruta, subterrânea, daí a sua importância em
alguns ritos de iniciação) onde a luz ainda não penetrou, nada se vê, não se sabe o que
há dentro; é o negro da caverna de Ali Baba quando não está carregando uma
lanterna.
Você pode ter medo. Não é a profundidade, de algum modo externa, da água e do céu
que fascina e faz sonhar. É a profundidade enterrada, ainda desconhecida, cheia de
promessas se houver valor e ação e o que fascina dando medo, ou, pelo menos,
provoca, em princípio, uma repugnância. Veja o XII, o XV, o XVII.
O branco de neve específico de algumas flores também: o lis —estão todas no Tarot
—, yaro, edelweiss e seringa, parecem ter como denominador comum o brilho,
raridade, fragilidade. A neve, uma vez marcada por uma pegada ou aquecida pelo sol,
derrete, degrada e perde o que consideramos sua beleza, não é à prova de podridão
(com o tempo, nada na natureza é). As pétalas de flores brancas, uma vez tocadas,
ficam marcadas e estragadas com muita facilidade, e a brancura também desaparece
quando murcham. Sem dúvida, é daí que vem sua analogia com a pureza brilhante,
rara e frágil em nossos climas. Mas o branco lembra-nos o velho bom senso, e
também a cor comum do papel, com um tom marfim, mais ou menos tal como era
nos tempos em que Nicolás Convert desenhou o Tarot de Marselha. O branco então
nos deixa no Tarô, uma visão; é a parte que foi mantida intocada.
Você pode pensar que sabe de cor, especialmente as figuras. Você se infiltrou nos
personagens, lutou contra eles (A Rainha de Bastão, que lutadora!). Você começou a
conviver com eles, você se identifica com um ou vários personagens e aí você se
desidentifica! Você “acertou contas antigas”, especialmente contas sentimentais, e se
ainda há alguma ternura por alguma carta, você assume sem angústia ou excitação.
Além disso, uma técnica de forças cotidianas nesse universo de cores passou a operar
uma regulação hormonal; seu amor e seu sono devem ser agradáveis. Aumentou sua
compaixão por eventos e comportamento humano. Um sorriso conhecedor ou
indulgente substitui suas reações negativas. Você começa a sentir que uma organização
de incrível complexidade se manifesta no Universo, com uma coerência da qual você
quer se aproximar. Essa autoanálise pode e deve continuar, mas agora que você notou
e comparou um bom número de elementos, ou seja, analisou seu material, é hora da
síntese.
Essa delicada frase forma seu discernimento e, por analogia, permite que você
descubra as escrituras. Depois de colocar as peças na mesa, é preciso descobrir como
elas se encaixam, repetir, preceder, anunciar e complementar umas às outras para
reconstituir o modelo.
Sua atenção se concentrará nas palavras, nas formas, nos grupos de detalhes.
O sem nome também pode existir fora da percepção do homem, ou mesmo sem ser
percebido. Mas sem conceitos: a instrumentalidade não progride: por exemplo, é o
conceito de “visão” que permitiu melhorar as possibilidades do aparelho ocular
humano através de dispositivos externos (vidro, óculos, lentes de contacto), ou com
exercícios adequados.
Se você se entreter com essa imagem dizendo que o Arcano XIII é a morte, você está
se fechando, está cortando as asas, nunca entenderá o que é a transformação – o
processo natural de eliminação que permite a construção das outras partes vivas.
Assim olhe para a coluna, você vê raízes, um bulbo, uma espiga, uma flor com quatro
pétalas.
Chamar a carta que leva o nome de Mat “o Louco” é privar-se de uma fonte muito
rica de informações (contar as letras que aparecem com mais frequência no nomes,
que palavras eles formam, etc.)
Existem outros elementos da carta que te lembram essa ideia de criação e/ou
diversão? Sim é sim; haverá um vínculo de união; não rejeita a hipótese até um exame
mais aprofundado. Dessa forma, você aprenderá a agrupar os detalhes significativos.
Não tente encontrar uma explicação para isso. Simplesmente agrupe-os, veja se eles
coexistem.
Ao nível do sentido das palavras, veja-se, por exemplo, como a Justiça anuncia o Juízo.
(A linguagem popular fala da Justiça humana e do Juízo Divino, como se o Juízo
escapasse à competência humana. Faz-se justiça, e pronuncia-se o Juízo; há uma
relação com a expressão.)
Justiça, Arcano VIII, é uma figura simples, rígida e pesada que preenche a carta.
Julgamento, penúltima carta, mostra uma imagem muito complexa, que reúne ações
muito diferentes. O signo cósmico é muito importante nele, a paisagem desértica tem
alguma relação com o personagem de seis asas – três pares de duas -, característico na
angelologia, do serafim, cujo atributo é, por outro lado, o fogo purificador, pois a
palavra vem do hebraico “saraph”, queimar.
Parece que da Justiça ao Julgamento passamos de uma imagem pesada, premente,
tribal, para uma imagem rica em símbolos de imanência.
FORMAS E METAMORFOSES
Viemos trabalhar com formas. Por exemplo, a mandorla que envolve o personagem
do Arcano XXI e que você pode ver no tímpano de algumas catedrais, é anunciada
nos Arcanos anteriores. O que você acha? É no Arcano XII onde o personagem
também está preso uma perna dobrada atrás da outra como a do Arcano XXI? Mas
que perna é? Ou é no Arcano XV, no qual os dois personagens com pernas de
mandrágora estão ligados por uma corda que puxa… o quê? Mas você acha que essas
três cartas têm relacionamentos ainda mais incríveis? Já vimos que no Arcano XII,
como no Arcano XV, os personagens não têm mãos —visíveis—, e estão atados (ou
unidos). Apenas acompanhe este trabalho.
Procure o intangível. Vimos que a segunda lei do Universo Intangível mostra um ciclo
de quatro elementos ou períodos. Você vai me dizer, por que não sete? Não há sete
cores, sete planetas para a astrologia judicial, sete gênios para a Teogonia egípcia, sete
pecados capitais, sete sacramentos, sete pragas do Egito, sete braços do candelabro do
templo de Jerusalém, sete dias da semana, sete selos no Apocalipse de São João, sete
notas de música, sete portas para o rosto do homem? Se você olhar para essas séries
de sete, perceberá que, além das portas do rosto, todas essas séries são obras humanas;
é como se para o ser humano essa divisão em sete elementos fosse algo natural,
espontâneo. Existe “em algum lugar” uma forma chamada sete. Podemos chamá-lo de
“esquema de energia” ou melhor, de “pegada energética”, pois a palavra “footprint”
lembra a palavra inglesa “imprint”, usada por cientistas americanos para qualificar uma
carga de informação qualquer que seja a matéria em que se manifesta. Assim,
chegamos por outro caminho à noção de ‘codificação’.
Na série, veremos em ação os quatro materiais diferentes que são as taças, as espadas,
as moedas e os bastões, a impressão energética de sete, mas também as de II a X.
Determinaremos essa impressão com bastante precisão, comparando sua encarnação,
sua materialização, nos quatro materiais, instrumentos disponíveis para evoluir.
BUSCANDO QUATERNIDADES
Esse elenco não faz sentido. Vamos a uma nova hipótese. Para isso, vamos recomeçar
o exame de cada um dos Arcanos Maiores para que entrem na linha da conta, detalhes
que ignoramos antes. Notamos que apenas duas cartas apresentam a peculiaridade de
que a imagem sai da linha superior e entra no espaço reservado: a Papisa II e o Mundo
XXI.
Suponhamos que essas duas extensões do mundo da imagem no mundo do nome (do
arquétipo? — sem compromisso!) marcam limites como os de uma pista de corrida. O
dia 11 seria então a largada e o dia 21 o objetivo… Mas em uma corrida o corredor
existe antes da corrida. Também podemos dizer que o I mostra a Unidade, mas
nenhum movimento é possível se não houver separação de um elemento dessa
unidade (ou vice-versa). Porém, por definição, a Unidade marca sua totalidade, nada
pode ser extraído dela sem que sua essência desapareça. Vejamos a carta; Você
confirma essa ideia?
Isso não resolve o problema do Mat. Onde colocá-lo? Vamos começar nosso exame
novamente.
Vamos usar detalhes que não foram considerados. Assim, uma carta não tem nome (a
XIII). Vamos compará-los. Oh! Já estão? Você já percebeu que os dois personagens
quase podem se sobrepor? Que eles têm a mesma postura, muito bom! E se nos
encontramos não diante de dois Arcanos, mas antes de dois aspectos ou duas etapas
da mesma operação que poderíamos chamar no momento, e por um propósito
puramente utilitário, chegar e partir, o que você acha? Não estamos diante de um dos
fundamentos de nossa abordagem do universo tangível; a natureza destrói sem parar
para reconstruir cada vez melhor, para lançar um impulso cada vez mais longe. A cada
momento, conta-se a eliminação de células e o aparecimento de novas células a partir
de matrizes celulares às quais não temos acesso. Mantenhamos esta hipótese: temos
um Arcano com um nome e um número (o que não significa que o Mat seja
indecifrável, e o Arcano
XIII inominável), um Arcano em duas pessoas, por assim dizer.
Agora nosso sistema quaternário é aplicado maravilhosamente. Colocamos o I como
conteúdo de tudo o que vai acontecer, como potencial absoluto, tendo consigo taças,
moedas, espadas, bastões, mais dados de azar e uma cesta amarela, a primeira
quaternidade, Papisa, Imperatriz, Imperador e Papa. A segunda agrupa o Amante, o
Carro, a Justiça, o Eremita; a terceira, a do meio, a Roda da Fortuna, a Força, o
Enforcado, o arcano em duas pessoas. A quarta; Temperança, o Diabo, o Deus-Casa, a
Estrela e o quinto, a Lua, o Sol, o Julgamento, o Mundo. Assim a corrida acabou.
Adotemos nossa hipótese (até que algo novo nos leve a rejeitá-la).
Note-se que esta ordem dos Arcanos Maiores também permite um estudo mais
frutífero da periodicidade; cada ciclo de quatro contém sua própria evolução, e o
primeiro, segundo, terceiro e quarto estágios podem ser comparados.
O esquema puramente geométrico que anexamos o e que você reproduzirá com papel
vegetal, nos fornecerá algumas indicações interessantes sobre as estruturas internas de
cada arcano quando sobrepostas.
Você verificará assim que cada imagem é cuidadosamente descentrada em termos das
fundações arquitetônicas ideais; esse desequilíbrio cuidadoso nos lembra que a vida
ajusta continuamente seus elementos. Não há, na natureza, muita simetria; há também
todo um estudo a ser feito sobre as relações entre o esquema corporal e o esquema de
cada Arcano, inclusive os menores, você já o fez? Bravo!
Quando você fizer o trabalho de síntese, não se esqueça de nada do seu conhecimento
escolar. Por exemplo, ao olhar para o Arcano XVI: lembre-se que a gravitação é a
principal causa da estabilidade dos corpos celestes. Isso permite separar no gráfico os
elementos sujeitos à gravidade (a Torre, a vegetação) e os que não estão (o que está
sujeito à gravidade cai, não flutua). Aproveitando a ocasião, compare o XVI, o XVII e
o XVIII, onde está a atração gravitacional?, que elementos sobem, descem, ficam em
suspensão?, que movimentos se manifestam através dessas letras?.
O Tarô está estruturado no mesmo modelo do cérebro com suas relações de ordem,
de seleções, de induções e projeções, de encaminhamento, de equivalências relativas,
de séries finitas (II a X), conjunto que expressa as situações de qualquer ciclo e,
especialmente aqueles que nos interessam mais de perto, qualquer ciclo evolutivo.
Expõe os critérios funcionais da estrutura considerada como condição sine qua non
de qualquer evolução, sem o reconhecimento do modelo, e sem o conhecimento do
método de uso, o Tarô não passaria de um vago agregado de ideias entrevistadas. É
assim que se educa a inteligência, do latim Inter-lego “Escolho-Entre”.
“As 22 letras do hebraico são aqui estudadas, no molde que lhes dá forma: no oco da
matéria cortical, no cérebro inclinado à linguagem e submetido aos seus factos.
Aprender este alfabeto é ao mesmo tempo descobrir o funcionamento do espírito”.
E isso também:
“Um saber necessário para conscientizar não pode passar despercebido, mesmo que
interesses criados queiram reduzi-lo ao silêncio. Sem ela, o humanismo é silenciado e o
futuro intelectual e espiritual do mundo fica paralisado, vituperado e enfraquecido.
Nada governa o pensamento: em vão aqui e ali é lançado um apelo à linguagem. Mal
convocado, responde mal. Mas com o jogo cabra cega, uma criança poderia encontrar.
Então, quando você dá uma olhada ao vivo no Tarô, você descobre as mesmas
estruturas ou esquemas ou traços energéticos que existem nos outros códigos de
conhecimento – ou das informações do Universo.
Vamos um pouco mais longe, entrando na teoria holonômica, que já esboçamos de
forma aberta e implícita. O que seria isso?
Até agora, a atitude do ser humano, em relação a um mundo que tanto o ultrapassa,
não poderia ser mais do que tentar “quebrá-lo” em seus diferentes constituintes. Hoje,
a pressão do mundo intangível que se manifesta também em movimentos coletivos
conscientes e sobretudo inconscientes, parece levar o homem a integrar, reconciliar e
reunir, os diferentes constituintes do Universo. Os modelos do macrocosmo e do
microcosmo são assim cada vez mais relacionados e o universo deixa perceber sua
coesão e coerência.
Seguindo esse impulso, para aproveitar de alguma forma esses movimentos, não
vamos tentar explicar o Tarô, mas vamos descrevê-lo com a maior precisão possível.
Essa descrição por si só, que adere à Realidade, nos coloca em contato com a matriz.
O Universo não pode ser explicado, mas pode ser observado. Isso nos traz de volta ao
nosso ponto de partida, é claro que o Tarô pertence à “ordem desenvolvida”, mas está
muito próximo da “ordem emaranhada”, se posso usar a expressão. Vamos nos
envolver no Tarô!
Todo o trabalho que fizemos até agora não teve como objetivo explicar o Tarô, mas
sim vê-lo como ele é, abrir caminhos para você que são relativamente difíceis – ou
impossíveis – de descobrir por conta própria.
Sua ambição não é dirigir este fabuloso protótipo para você, mas sugerir como
contorná-lo e subir para dentro, lembrando-lhe princípios básicos de conduta, por
exemplo: não tente ir da primeira marcha diretamente para a 5ª (ou 10ª) velocidade de
adivinhação. Tenha um pouco mais de paciência, vamos nos aproximar dos arcanos
menores em suas estruturas internas e gerais. Então poderemos “ver, com os olhos do
futuro. Mas até onde…?
Para começar, tenhamos em mente que estamos perscrutando o Intangível e, para isso,
buscamos obter respostas espontâneas de nós mesmos, ou mais exatamente, deixá-las
ocorrer sem impedi-las com reflexos condicionados baseados em nossaescala de
valores incuravelmente limitada ou os frutos de um EGO ainda muito poderoso. Para
que as respostas espontâneas ocorram, nosso EGO, por outro lado valioso e
insubstituível para nossa sobrevivência na sociedade, deve ser capaz de se desconectar
temporariamente. O contato direto com o Tarô, que é “calculado” para isso (assim
como para diversos fins), nos permite essa desconexão.
Mas não queremos fazer disso uma comédia. Assim, brincar de guru pode divertir o
jogador, mas rapidamente o envolve inadvertidamente em todas as suas atividades. Ele
rapidamente se comporta, se veste, fala, dorme, come como um guru; sua própria
substância, sua relação com o intangível estão bloqueadas por trás desse EGO-Guru.
A resposta espontânea só ocorre fora da escala de valores: estamos então dispostos,
heroicamente, a repensá-la infinitamente.
O ARCANO MENOR
Repensar nossa escala de valores será uma operação dolorosa, ou a sentiremos muito
desagradavelmente ao estudar os arcanos menores que geralmente são deixados de
lado, ou interpretados com uma arbitrariedade que nem tenta se justificar.
Por outro lado, um livro muito interessante de J. L. Bourgeat lhe dará um exemplo
como lição. Publicado em 1906 (Ed. Chacornac), também cita um “método dos
ciganos” do qual ninguém da Kompania⁷ do povo cigano jamais ouviu falar.
⁷ O povo de Rom «Romané Tchané», assim são conhecidos entre si aqueles que se
chamam Zíngaros, Ciganos, Ciganos, Boêmios, etc.
Se olharmos um pouco para os arcanos menores, observaremos o desenvolvimento
ou variações de quatro objetos que não possuem nomes ou números; Convém,
portanto, nomeá-los apenas como hipótese e não considerar que eles constituem o
início ou o I de cada série, que além disso, são cuidadosamente numerados de II a X.
É verdade que cada uma dessas cartas tem a imagem de um objeto, mas logo vemos
que o objeto tem apenas um desenho muito diferente da série numerada, exceto a
chamada série de ouros que não é numerada.
Tanto por referência à nossa escala simbólica de valores, oriundos de nossa civilização
ocidental extremamente marcada pelo judaísmo-cristianismo e pelo comportamento
da Igreja Romana, quanto por séculos de realeza e culto ao elitismo (possivelmente
justificável, mesmo nas Sociedades Iniciáticas, muito semelhante entre si, como
Maçonaria, Rosacrucianismo, etc…). Assim vamos dar uma interpretação imediata
desses quatro objetos:
Sem pretender fazer a crítica que seria fácil e destrutiva a essa interpretação em voga
nas arenas do esoterismo exotérico⁸, observemos apenas cada carta. Vamos corrigir os
detalhes em sua própria estrutura.
Por exemplo: a mão que segura a espada surge (sim ou não?) de um sistema de
estratos, ou seja, fixo, inerte; a mão que segura a vareta sai de dentro de um sistema
giratório, cujo exterior tem a aparência de uma roda dentada e, portanto, é capaz de
gerar outros movimentos. A mão e a varinha constituem um sistema autônomo (não
tocam as bordas da carta), e a mão e a espada um sistema relacionado ao que a cerca.
Ou também: a construção que fica em cima da Copa está fechada. Existem, com
efeito, três fechaduras — ou detalhes que podem ser interpretados dessa maneira —
mas essas fechaduras não estão integradas em elementos que parecem ser capazes de
se mover. O pé da Taça, que está no cartão, está deformado – compare com dez de
copas, ou melhor, com a décima taça do X de copas – é como se fosse esmagado. O
que te esmaga? E os três elementos azuis em forma de asa, folha, mão, que papel
podem ter? Serão os Cavaleiros que nos permitirão aproximar-nos do trabalho com os
objetos de sua verdadeira natureza. Antes de nos aproximarmos das Cartas da Corte
(Fogiras) há este quadrado perfeito de quatro vezes quatro figuras.
Enquanto cada carta dos Arcanos Maiores carrega quatro tipos de expressão;
forma/cor: 1; número, 2 nome, 3 e 4 a estrutura codificada e a relação ao conjunto, as
cartas da corte são desprovidas de número. Sem dúvida para que não surja a tentação
de conceder arbitrariamente uma ordem no seio da família que constituem. Assim, em
uma família humana, pode-se dizer que o pai é um, a mãe é dois e a criança é três?
Claro que não, e ainda assim há algo nesse arranjo que se adapta à nossa escala de
valores. Isso se confunde mais com a figura do Cavaleiro. Ele está “depois” do Valetes
ou “Amas” da Rainha? Ou “depois” da Rainha. Não podemos afirmar nada.
Abandonemos então uma classificação de que gostamos, pois o Tarô não a dita isso.
Não classifiquemos e não numeremos estas Figuras. Vamos apenas verificar sua
individualidade. Vamos procurar as características comuns a cada Rei sentado (num
trono? numa poltrona? ao ar livre?). Ele usa um manto? uma coroa ou um chapéu?
Como cada um resolve seu conflito coroa-chapéu?) Estão vestidos e/ou blindados,
etc…
Vamos comparar sistematicamente cada uma das cartas com cada uma das rainhas.
Quais são os detalhes que aparecem em cada uma das figuras da mesma família?
A palavra Valete vem do latim “vassus” e tem uma raiz celta que implica uma relação
de dependência: mas ao invés do significado primitivo de “jovem que ainda não foi
armado cavaleiro” parece ser mais correto apontar para o significado de “servo ” que
apareceu no século XVII. Em alguns jogos anteriores ao Tarô de Marselha, essas
figuras eram anunciadas como Escravos, e qual é o papel de um servo?).
(Voltamos a insistir que a palavra Ouros está sempre no plural⁹, pelo que podemos
antecipar que representa um grupo, ou melhor, que a sua “pegada energética” está
relacionada com um grupo).
⁹ Ressaltamos que em francês Oros é o único naipe que está no plural; em vez de
Bastos, diríamos Basto, em vez de Copas, Copa, etc.
De forma semelhante, todos os personagens de Copas têm uma peculiaridade ao nível
da testa. O Cavaleiro de Copas é o único Cavaleiro que está sem chapéu, tem a testa
caída e parece cansado. O Valete usa uma coroa de flores logo acima das sobrancelhas.
O Rei também, logo acima das sobrancelhas, usa a coroa do chapéu, que parece se
transformar em um coque (estará usando uma coroa pesada demais?).
Ambos também têm uma fisionomia cansada e estranha — mas esse ainda é um
sentimento difícil de traduzir objetivamente! A Rainha usa uma coroa (de lado)
empoleirada em cima de um coque (que ela separou de sua testa).
O JOGO DO CASAMENTO
Quando você conhece bem os Reis e Rainhas visualmente, divirta-se com uma
experiência emocionante. Observe primeiro que em cada família há um personagem
que carrega dois utensílios, são eles a Rainha de Copas, e o Rei de Espadas, o
Cavaleiro de Ouros. Mas em Bastão, os quatro têm apenas um utensílio e nas Espadas,
o Valete, assim como o Rei, parece carregar dois utensílios, o que isso indica?
Então escolha entre seus amigos um relativamente dotado de intuição ou faça você
mesmo. Peça-lhe para casar os quatro Reis junto com as quatro Rainhas, mas
obviamente não entre aqueles com o mesmo nome. (Este jogo vai te ensinar que os
Reis e Rainhas de uma mesma família são mais irmãos¹⁰ do que maridos).
¹⁰Ou clones, ou seja, que surgem artificialmente da mesma célula, sem serem duplos
genéticos.
Com uma margem de erro mínima, ele vai “casar”; Sr. de Ouros com a Sra. de Bastão;
o Sr. de Copa com a Sra. de Espada; o Sr. de Bastão com Sra. Ouros e o Sr. de Espada
com Sra. de Copa.
E ele não saberá explicar por quê; você não poderá avançar para nada além de
impressões e todas elas são subjetivas. Ele captou a marca energética dos casamentos
mas não pode justificá-la em detalhes objetivos. Você deve ter notado que dois tipos
de associações são mantidos: Ouros-Bastão e Copa-Espada. Qualquer outra
associação não terá em conta o modelo que conduz a manifestação e não será o
melhor possível. Onde estão os detalhes que confirmam esses “casamentos”
intuitivos? Tal trabalho, assim delineado, dificilmente pode ser descrito em um
método.
Um Rei e uma Rainha fazem um gesto muito óbvio e são os únicos que o fazem em
todo o Tarô: enrolam parte de suas roupas. Para que? Nenhuma explicação é
necessária. Outro tem uma ferramenta — quais? Uma seringa? Uma caneta? — que
aponta para o calcanhar. Ele vai se machucar a menos que a ponta de seu implemento
possa colocar em movimento um implemento da Rainha, que até então era estático.
Você já viu um “top spin” em ação? Outro Rei mantém juntas as duas partes
(quebradas?) de seu utensílio; mas o utensílio de uma Rainha (perigoso por outro lado)
pode dar armadura a quem a tem quebrada e ao mesmo tempo servir de abrigo.
E, finalmente, dê uma boa olhada nas mãos esquerdas do Rei e da Rainha que
restarem, de onde elas vêm? Que surpresa…
Esses detalhes não são suficientes, embora sejam mantidos como evidência para
revelar plenamente os casamentos que fizemos. Mas não esqueçamos que o Tarot é o
professor, estamos aprendendo constantemente. Cada Rei e Rainha, por exemplo,
manifesta ao mesmo tempo um tipo psicológico, um herói histórico e outras
encarnações/representações da mesma marca energética. Observemos as alianças que
o Tarô nos mostra; Vejamos as associações, os tipos de casamento que nos cercam. As
alianças eficazes nada mais são do que aquelas que nos permitem combinar as
vantagens e as insuficiências de dois companheiros. Com qual personagem você se
identifica? Com qual você gostaria de se parecer? Seja junguiano: qual é o seu animus
ou anima? Qual é o parceiro que vai trazer o que está faltando ou vice-versa? O Tarot
está mostrando isso para você. E através deste jogo temos acesso mais profundo à
marca de energia… sem esquecer que as marcas de energia podem ser combinadas.
Você pode ser um pequeno Rei de Ouro, um pequeno Rei de Bastão e também às
vezes Rainha de Copas e às vezes Rainha de Espadas. Admiremos aqui as
combinações e permutações de nosso modelo do universo, o Tarô de Marselha.
OS QUATRO CAVALHEIROS
Você já os conhece bem. Você já reparou que um dos Cavalos tem uma cabeça de
gato, outro uma cabeça de vaca, outro uma cabeça de cachorro e o outro uma cabeça
de unicórnio (Por quê? Bem, porque eles têm um chifre no meio da cabeça). Você
registrou todos os detalhes. Classificá-los em um conjunto significativo nos dá a chave
para os arcanos menores.
Qual é o procedimento?
Qual é o menor cavalo? É aquele com menos couraças, mais rígido, mas no qual o
cavalheiro está melhor sentado. Qual é o maior cavalo? Ele também é o mais vestido
(uma túnica de pele? Como quem na Bíblia?), o mais móvel, aquele que parece formar
um centauro com seu cavaleiro. Vamos colocar desta forma, com os dois
intermediários que vão do menor para o maior, do menos para o mais protegido e
assim por diante.
Então nós temos: Cavaleiro de Copa, então Ouros, então Espada, então Bastão. Essa
hipótese é confirmada por seus detalhes? De fato: o Cavaleiro de Copas, em sua mão
esquerda segura as rédeas de sua montaria de carne. O Cavaleiro de Ouros parece
guiá-lo livremente, apesar do fato de o animal ter freio e rédea. O Espadachim não
guia mais nada, embora a rédea de seu cavalo pareçam terminar no fio da Espada. Por
fim, o Cavaleiro de Bastão nem consegue guiá-lo, seu cavalo não tem freio nem rédea:
no início da série, o cavaleiro domina seu cavalo, que se assemelha a um cavalinho de
brinquedo. No final, ele parece ser um com sua montaria. Por outro lado, o Cavaleiro
de Copas tem dois braços, o Cavaleiro dos Ouros um braço e meio, o Cavaleiro de
Espadas um braço e um quarto e o Cavaleiro de Bastão um braço. O Cavaleiro de
Copas carrega uma carga estranha (uma cesta ou um cobertor?) atrás dele, algo muito
pesado e vai de cabeça descoberta.
O Ouros fica melhor assentado, mais equilibrado, é coberto com capuz? Há então
uma ordem entre os Cavaleiros. O Espada está bem sentado em seu animal de patas
erguidas e coberto com um capacete, embora esteja um pouco pesado. O de Bastão
dança com o seu cavalo, ambos giram num movimento gracioso, e o seu chapéu
lembra a Lemniscata do Bateleur.
Há então uma ordem entre os Cavaleiros, indicada por detalhes objetivos. No entanto,
esta pesquisa é feita aqui apenas a título de exemplo, dentro do estudo de estruturas e
combinações, e se você prefere pensar que o Cavaleiro da Copa é o mais realizado,
isso é problema seu.
Vamos nos debruçar um pouco sobre o(s) Ouro(s). Representa moeda? Naturalmente,
uma parte de sua pegada energética é feita nesse nível. No entanto, se compararmos o
tamanho relativo dos utensílios com o dos personagens, perceberemos que as Copas,
as Espadas, as Varinhas são sensivelmente adequadas. Portanto, se o(s) ouro(s)
representa uma moeda, seu tamanho é muito desproporcional. Talvez devesse ser
visto de outra forma. Ouro(s) indica objetivamente uma organização circular
começando (ou terminando em) um centro. Na imagem do Valete você pode ver 2
Discos diferentes (o de cima tem uma parte preta maior). A da Rainha tem um ponto
no meio (que indica onde a ponta do utensílio do Rei pode ser colocada no jogo do
casamento). O Rei é semelhante ao Valete, exceto que a segunda linha de elementos
amarelos conta 12 (ou 11) e não 10. O Cavaleiro nos dá uma revelação.
O seu elemento central mais ou menos redondo é rodeado por um motivo (4 folhas
ou pétalas) cujo eixo não é vertical como o dos outros Discos. Com a vertical deste
eixo forma um ângulo… O que isso te lembra? Sim, o eixo de rotação da Terra mede
um ângulo de 23° 27′: o movimento de precessão dos equinócios. Esta determinação
está ligada à elipticidade da Terra e à distribuição da matéria dentro dela… A Terra é
um núcleo fluido dentro de um envelope elástico. Recordemos: se o Sol é uma toranja
gorda, a Terra é uma cabeça de alfinete a 2’8 metros e Júpiter uma uva a 61,4 metros.
O que a ligação entre o Cavaleiro e este(s) Ouro(s) sugere? É o olhar que colocamos
nele que atrai a terra? A estrutura não é dada por outra coisa que não o olhar? Decida
por si mesmo, com a condição de reconhecer no(s) Ouro(s) a forma como
organizamos o Universo ao nosso redor e do qual somos o centro: cada um de nós é o
centro do mundo, pois só pode percebê-lo a partir de seu sistema nervoso.
Vemos um homem preocupado sem apreensão de seu item mal carregado, dominar
seu cavalo rígido. Observe como o(s) Cavalo(s) Dourado(s) (o único cavalo
naturalmente angulado na Terra) se expressa em seu corpo e rosto – há, no entanto,
aquele tipo de tripa de boi ou papo de carne que pende de ambos os lados como uma
peruca, talvez para proteção – e então, quando o Cavalo da Espada se levanta alerta,
seu olho é vivo e sua boca aberta. Finalmente, o Unicórnio-Cavaleiro de Bastão fala e
vê abertamente em sua brancura e em sua estreita cumplicidade com o cavaleiro. Da
dominação à livre cumplicidade, eis o caminho do corpo tangível. Dominar é
certamente o sonho de muitos homens em seu caminho de evolução… É o que faz o
Cavaleiro de Copas. Entre o cavalo e o Cavaleiro de Bastão, há uma aliança
maravilhosa. Descobrí-la é uma das maiores recompensas do Tarô, deve ser possível
realizá-la… O monte de carne, do qual nunca podemos sair nesta vida, revela sua
verdadeira natureza, pura e inspirada e alada (você notou o pássaro de sua cabeça
quando trabalhamos na decodificação das imagens).
A AUSTERIDADE DA SÉRIE
Desçamos um pouco mais para as séries geralmente deixadas de lado pelos adeptos do
Tarô ou cobertas de atribuições autoritárias que deixam qualquer um pasmo¹¹ e
representam uma verdadeira lição em etapas para o manuseio de cada utensílio. Leia,
porém, a valiosa obra de Paul Marteau¹².
Apenas uma espada é vista em III, V, VIII, VIIII e de repente duas espadas em X, no
meio de uma espécie de mandoria (que naturalmente tem sido comparada com a do
arcano XXI… e o que você vê aqui?). Esta mandoria composta por tipos de faixas,
forma um tecido nas duas extremidades da mandorla. Esta trama é reforçada segundo
o seguinte ritmo: II e III, um único cruzamento; IV e V entrelaçando duas vezes dois
elementos; VI e VII, entrelaçamento de três elementos; VIII e VIIII entrelaçamento
de quatro elementos.
O que essa estrutura nos mostra? Comparada com a estrutura da série de Bastão, que
reforça o centro, esta reforça a polaridade. Isto é confirmado em um nível trivial: o
trabalho com o Bastão (Kendo, etc…) fortalece o centro do corpo, a barriga,
enquanto o trabalho com a espada (esgrima) desenvolve a atenção ao nível dos olhos e
dos pés.
O IIII de repente vê duas dessas folhas e uma dessas frutinhas crescendo em cima de
uma flor que parece uma flor, embora suas sépalas amarelas sejam um pouco rebeldes
e o botão vermelho esteja um pouco sombreado. É resultado do trabalho da Espada
de III? Você transplantou essas folhas e nozes para a flor artificial da II, tornando-a
viva, como mostra o caule cor de carne e seu corte vermelho.
Vá em frente a partir daqui. A cor da carne e a forma mais pesada da borda em forma
de V sugerem alguma reflexão sobre o papel desta espada. Em VI a flor é reforçada na
base, é mais reta e equilibrada que a de IIII. A velha folha amarela desapareceu, no
entanto, o pequeno fruto enrugado aproximou-se da flor. As sépalas são muito
naturais e a flor aberta é de um vermelho muito brilhante e vivo. Se você fosse a flor,
que efeito a espada teria sobre você? E como se justifica esse transplante de elementos
desvitalizados?
Uma espada azul em VII: O que o azul te lembra? E a flor azul em VIII, a flor
definitiva, recolhida, verdadeira, cor do universal. O que ela tem em comum com a
flor bagunçada de II?
Este trabalho com a série de Espadas é dado apenas como exemplo e ilustração do
método. Se você preferir ver a paz (a flor) e a guerra (a espada) nesta série, você é livre
para fazê-lo. Se você identificou o processo que consiste em se transplantar. Bravo!
Você acaba de redescobrir o significado místico da espada na tradição do ciclo
arturiano: a espada, ferramenta da vida, indispensável ao Rei, mediadora entre o
homem e a natureza. É a lenda de Escalibur que infelizmente está doravante nas mãos
da senhora do lago (Anima) no fundo das águas (regeneradoras do inconsciente
coletivo). Você está louco para ir buscá-la.
E agora, sinta-se feliz, você trabalhou bem, conhece perfeitamente a troca de marchas
do protótipo, passou as marchas? Vamos lá e vamos para a marcha divinatória.
ADIVINHAÇÃO
Você ouviu corretamente: continue somente depois de ter usado métodos subjetivos e
objetivos – se não houver confusão entre as informações sutis, provenientes do
Intangível e as informações hábeis provenientes do EGO.
Marie-Louise Von Franz também explica que “a harmonia instintiva que cada um tem
que fazer e cujas circunstâncias é um estado ideal, aquela cujo arquétipo sustenta o
indivíduo ou o grupo, de tal forma que suas faculdades e seus membros cooperem
naturalmente, o ser humano sempre conheceu, perdeu e procurou redescobrir este
estado”.
A falsa adivinhação não consiste em fazer o consulente jogar as cartas viradas para
baixo, mas em fazê-lo escolher e depois descrevê-las. Você será perguntado onde está
—uma ou duas cartas—, onde está sua mãe, seu pai, sua esposa, seu filho, etc. E/ou
onde está a Mãe ideal, o Pai ideal, a mulher da sua vida, o filho que ele quer. A maneira
como você coloca as cartas é uma fonte de informação. Perto ou longe entre si? Qual
a dependência entre um e outro? É bom deixar um campo bem amplo para essa
operação: uma mesa grande ou uma sala inteira no chão. Então observe (se for um
ocidental, então terá um conceito linear de tempo, o passado à esquerda e o futuro à
direita) onde estão localizados em sua própria duração.
A escolha, a projeção que o consultor realiza nas cartas, à qual atribui um poder de
representação (ou seja, de sua escala de valores), permite que ele tenha uma ideia de
suas estruturas internas, de sua infância ou , talvez, o tempo, até mesmo dos limites
que ele atribui ao seu futuro.
Em seguida, peça-lhe que descreva as cartas — com as quais, é claro, você terá
percorrido um caminho completo. A diferença entre a impressão energética que você
tem e o nível de interpretação que este consultor escolheu, permite que você conheça
as qualidades, englobe os problemas, compreenda os padrões repetitivos de
comportamento que modulam sua vida.
Para você é um JOGO —ainda que sério, já que confiam em você— usar esses fatores
deduzindo rigorosamente as consequências desses fatos. É o retrato de alguém, de um
ser humano com suas fraquezas e suas belezas. Diga olá, seja sensível, seja humilde.
Não exercite nenhuma dominação. Mostre-lhe este retrato, aja como um espelho
consciente.
Quais são as bases que não devemos perder de vista? As cartas do Tarô apresentam o
território, uma imagem dos arquétipos que são os modelos —as pegadas energéticas—
segundo os quais, gostemos ou não, todas as situações possíveis são formadas,
agregadas, determinadas. A totalidade dos Arcanos abrange a totalidade da experiência
humana. Podemos antecipar, contando notavelmente com a observação da
esquizofrenia das escolas antipsiquiátricas, que o conjunto das situações psicológicas
humanas corta o caminho da humanidade, ou seja, que o homem revive mais ou
menos completamente, ou vive à sua maneira, a aventura da raça humana ao que Tim
Leary chama de Fusão Galáctica, (cf. “Neurologics”, Exo-Psychohg. ed. Starssed
Press).
As cartas que atraem o consulente são as que o atraem, as que ele reconhece, as que
lhe dão segurança, os traços que se integram. As que ele recusa são as marcas
energéticas de situações que ainda não experimentou; a violência de suas reações
simplesmente manifesta a proximidade dessa situação em seu futuro: aí ele também
reconhece um modelo que ainda não foi integrado, aceito: é um conflito atual. Ou está
no curso da experimentação, por algumas horas ou alguns anos: ou o consultor
rejeitou sistematicamente esse modelo cada vez que eçe apareceu, com base em uma
sensibilização particular ligada à sua herança cromossômica ou a um evento mal vivido
no passado , a um “bloqueio”, ou simplesmente é um modelo com o qual o
consulente ainda não encontrou.
Assim, os Arcanos que ele escolher indicam o que ele sabe sobre si. As que recusar
indicam o que não pode/ainda aceitar. Situações que você ainda não conhece, mas
estão tão distantes que não despertam nenhuma defesa subconsciente, nenhuma
reação, mas uma vaga e moderada falta de “afinidade” com a carta.
Este trabalho também permite que quem faz a consulta (como você, anteriormente na
primeira fase de seus estudos taróticos) assimile a marca energética fora da crise —
antes ou depois de uma crise mal vivida— e, por outro lado, coloque o outro
arquétipo das experiências já vividas dentro da estrutura geral cujo reflexo é o Tarô.
Seu papel deve se limitar a fazer com que o consulente descreva a carta com a maior
precisão possível, registrando suas reações e permitindo a objetificação. Cuidado com
a palavra “consciência”: freqüentemente surge uma confusão entre os termos
consciência e espírito. A consciência, privilégio do Ego não é tão Intangível nem o
Espírito, embora nosso EGO queira que acreditemos nisso. O Tarot opera tal
aquisição, tal compreensão, tal encontro com a Realidade, que o consulente adquire
desde o início uma overdose de vitalidade e uma regulação de espetacular energia.
É um chamado ao Intangível, um ato mágico, sério, excepcional, que exige não apenas
um descondicionamento da pessoa, mas também uma completa desconexão do EGO.
Isso implica um ritual de preparação e purificação: abluções, descanso físico, jejum,
silêncio, vigilância e prática de outras técnicas de desconexão do EGO baseadas na
ação direta sobre os centros energéticos do ser humano. Os chamados métodos de
“nível alfa” ou “ativação mental”, “controle mental” etc… são bons, mas existem
outros mais eficazes.
A essência das conexões acausais, pouco exploradas até agora, é simples: as situações
que se encontram sincronisticamente (na mesma unidade de tempo) têm todas a
mesma marca energética, mas ela se encarna em diferentes níveis (incluindo diferentes
níveis de tempo ou duração).
Tal evento é criado em um determinado contexto, que vai evoluir, que varia até o
exato momento em que o evento ocorre, mas que varia de acordo com certas linhas
de forças. A verdadeiro a adivinhação aspira a encontrar aquelas linhas de força que
podem permitir prever o futuro, mas NÃO ANUNCIAR O FUTURO.
Até certo ponto, algumas das linhas de força podem ser curvadas muito levemente
com uma aderência imediata ou uma virada, uma metanóia.
E é uma ilusão acreditar que o futuro pode ser modificado, pois depende mais das
linhas de força. No entanto, a verdadeira adivinhação pode levar à modificação de si
mesmo com base em linhas de força percebidas.
A adivinhação, cujo objetivo é a identificação das linhas de força que são a fonte dos
eventos no Universo (pode-se dizer também: combinações: permutações/ativações
das diferentes marcas energéticas) não pode prever um futuro trivial, um evento de
pouca importância . Precisa do acionamento de energias poderosas em que o
indivíduo que lança o chamado à adivinhação é apenas um dos vetores.
Não sei exatamente como é feita a escolha involuntária, a saída da imagem ou imagens
que analogicamente nos mostram, em ação nos diferentes traços de energia: é a
articulação entre o Tangível e o Intangível mas, como acontece sem o recurso do
EGO, não pode registrar o que lhe vem; só pode construir um modelo a posteriori…
conhecemos esse processo.
Suponha que algo (alguém? Anjos? Acaso? em suma, o Intangível) atinja os controles
do nosso computador/sistema nervoso. Faz-se uma ligação com o gesto que escolhe
uma das cartas de que só se vê o verso (daí a importância de um verso de tarot
opticamente neutro e que não cristalize nenhum efeito do Ego). Você não pode ir
mais longe.
Mas as condições a serem cumpridas para um resultado puro são conhecidas, é o
próprio ritual (veja acima).
Não é uma obra de cultura, moralidade ou história SOBRE o Tarô, é nada mais é do
que uma nota metodológica DO Tarô e para você. Antes de segui-la e depois jogá-la
fora, admire novamente a lição que o Cavaleiro de Bastão nos dá. Preso a sua montaria
(de carne?) e triunfante e livre, ele dança, em sua plenitude e leveza definitiva; a energia
manifestada por Bastão que ele recebe e transmite, passa pela mão e, sem dúvida, todo
o corpo até os cascos… Veja como ele estremece sob as saias de carne. E o monte
glorificado que revela, em seu rosto de unicórnio alado, as duas letras G e F. Traduza
você mesmo se desejo-lhe Graça e Fé e/ou Força e Gratidão.
O Tetragrama -
Dogma e Ritual
da Alta Magia
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Meios e medidas
do Alquimista
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A Taumaturgia -
Dogma e Ritual
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