Você está na página 1de 2

Autovalores, Autovetores e o

Teorema de Cayley-Hamilton

Primeiramente, recordemos que um espaço vetorial E é constituı́do de elementos nos


quais são denominados vetores, definidos como segmentos orientados. Evidentemente que,
para vetores com componentes acima de três, não é possı́vel esboçar sua forma geométrica,
no entanto a definição ainda é válida. Se escolhermos arbitrariamente um vetor u ∈ E, de
um operador linear T : E → E, não significa que T (u) possua a mesma direção de u, mas
existem vetores u tais que T (u) = λu (λ é um escalar pertencente a um corpo K que pode
ser real ou não), isto é, têm a mesma direção, diferenciado apenas no módulo e no sentido.

Definição 0.1. Sejam E um espaço vetorial e T : E → E um operador linear sobre um


corpo K = R ou C. Um escalar λ é um autovalor de T se existir um vetor u ∈ E,
não nulo, tal que T (u) = λu. Nestas condições, o vetor u é denominado autovetor de T
correspondente a λ.

Consideremos, por exemplo, uma matriz A, quadrada, de um operador linear T :


R → Rn . Um escalar λ ∈ R é um autovalor de A se existe uma matriz coluna u de ordem
n

n × 1, não nula, tal que Au = λu. O vetor coluna u é o autovetor de A correspondente a


λ. Assim temos que Au = λu ⇔ (λI − A)u = 0, onde I representa a matriz identidade.
Esta equação possui solução não trivial se det(λI − A) = 0. Se det(λI − A) for um po-
linômio de grau n em λ, então a equação polinomial det(tI − A) = 0 possui pelo menos
uma raı́z λ. Mais ainda, dados u1 e u2 autovetores de A correspondentes ao mesmo au-
tovalor e α1 , α2 são escalares,então α1 u1 +α2 u2 será um autovetor de A correspondente a λ.

O conjunto {u ∈ E; Au − λu} de um subespaço vetorial de E é chamada de auto-


espaço ou subespaço próprio de A correspondente a λ. À matriz (tI − A) denominamos de
matriz caracterı́stica; ao det(tI − A) chamamos de polinômio caracterı́stico.

Como resultados importantes sobre os polinômios caracterı́sticos temos que, dadas


matrizes semelhantes, todas elas possuem o mesmo polinômio caracterı́stico e, considerando
o operador linear T : E → E, definimos seu polinômio caracterı́stico como sendo o po-
linômio de uma matriz T sobre qualquer uma de suas bases, assim tem´se que os autovalores
de T são, exatamente, as raı́zes de seu polinômio caracterı́stico sobre um corpo K qualquer.

1
Como as matrizes de uma transformação linear T , em bases diferentes são seme-
lhantes, o polinômio caracterı́stico e os autovetores não dependem da base escolhida logo,
os autovetores de T correspondentes a autovalores distintos, são linearmente independentes.

Definamos agora p(A) como sendo o valor do polinômio p(t) = a0 + a1 t + · · · + ak tk


na matriz A. Então p(A) = A0 I + A1 t + · · · + Ak tk , onde I é a matriz identidade com
a mesma ordem de A. Se p(A) = 0, então dizemos que a matriz A é o zero do po-
linômio p(t). Quando Ak , k = 0, 1, . . . , r, são matrizes quadradas, os elementos da matriz
A(t) = A) + A1 t + · · · + Ar tr são polonômios de grau ≤ r.

Provaremos agora uma propriedade sobre o zero de um polinômio caracterı́stico e sua


matriz, o Teorema de Cayley-Hamilton, que leva o nome de dois grandes matemáticos do
século XIX, o irlandês William Rowan Hamilton e o inglês Arthur Cayley.

Teorema 0.1. Toda matriz é um zero de seu polinômio caracterı́stico.

Demonstração. Sejam A a matriz quadrada de ordem n e B = tI −A sua matriz caracterı́stica.


Seu polinômio caracterı́stico pode ser escrito como

detB = det(tI − A) = tn + an−1 tn−1 + · · · + a1 t + a0

de grau n. Cada elemento da sua adjunta clássica de B, denotada por adjB, é um polinômio
adjB
de grau n − 1 ou inferior. Sabemos que B −1 = . Então
detB
detB · I = adjB · B

Como
detB · I = Itn + an−1 tI n − 1 + · · · + a1 It + a0 I (1)
e

adjB = (Bn−1 tn−1 + · · · + B1 t + B0 )(tI − A) (2)


= Bn−1 tn + (Bn−1 − Bn−1 A)tn−1 + · · · + (B0 − B1 A)t + B0 A
temos que, igualando (1) e (2) um a um seus coeficientes, obtemos I = Bn−1 ; an−1 I =
Bn−2 − Bn−1 ; . . . ; a1 I = B0 − B1 A; a0 I = B0 A. Multiplicando as igualdades, da primeira
até a última por An , An−1 , . . . , A e I, respectivamente pela direita e, adicionando os resultados
obtemos zero do lado direito e o polinômio caracterı́stico An + an−1 An−1 + · · · + a1 A + a0 I
do lado esquerdo, calculado na matriz A. Desta maneira provamos o teorema.
O resultado acima é muito usado para o cálculo de potências de uma matriz e também
no processo de diagonalização das mesmas.

UEPA 2 Prof. Osmar Borges

Você também pode gostar