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Introdução (PREVENÇÃO E GESTÃO DE RISCOS NO TRANSPORTES DE MERCADORIAS

PERIGOSAS NO SETOR RODOVIÁRIO)

O transporte de mercadorias perigosas apresenta desafios significativos devido


à natureza potencialmente prejudicial dessas substâncias. Produtos inflamáveis,
tóxicos, corrosivos ou radioativos têm o potencial de causar danos graves ao
homem e ao meio ambiente em caso de vazamentos, emissões, incêndios ou
explosões.

Dada a importância da segurança diante das possíveis consequências dessas


mercadorias, é necessário adotar medidas especiais. O transporte de
mercadorias perigosas requer atenção e cuidados especiais para garantir a
proteção adequada de todos os envolvidos.

Devido às particularidades dessas mercadorias, uma regulamentação específica foi


estabelecida para o seu transporte internacional por estrada, conhecida como Acordo
Europeu de Transporte Internacional de Mercadorias Perigosas por Estrada (ADR). Esse
acordo define diretrizes e requisitos rigorosos que devem ser seguidos para garantir a
segurança durante o transporte dessas mercadorias.

Rótulos de riscos e classes

No transporte de produtos perigosos, é essencial ter uma identificação clara


dos materiais transportados. Os veículos que transportam esses produtos são
obrigados a exibir símbolos e documentos de acordo com as normas
estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Uma forma comum de identificação é a utilização de placas em formato de


losango. Essas placas exibem o número da classe de risco do produto
transportado, juntamente com o símbolo que representa essa classe. Essa
identificação visual permite a rápida identificação do principal risco associado
ao produto, mesmo a distância.

Figura 1 - Rótulo de risco - Classe 8 - Corrosivos

A Figura 1, que segue apresenta, como exemplo, o rótulo de risco utilizado


para os produtos de Classe 8 - Corrosivos.

O número situado abaixo do símbolo, no rótulo de risco, indica a classe ou


subclasse da substância, de acordo com a classificação da ONU, que segue:
1.Explosivos:

1.1 Substâncias e artigos com risco de explosão em massa;

1.2 Substâncias e artigos com risco de projeção, mas sem risco de


explosão em massa;

1.3 Substâncias e artigos com risco de fogo e com pequeno risco de


explosão, de projeção mas sem risco de explosão em massa;

1.4 Substâncias e artigos que não apresentam risco significativo;

1.5 Substâncias muito insensíveis, com um risco de explosão em


massa, mas que são tão insensíveis que a probabilidade de iniciação ou
de transição de queima para a detonação, em condições normais de
transporte, é muito pequena;

1.6 Artigos extremamente insensíveis, sem risco de explosão em


massa.

2.Gases:
2.1 Gases inflamáveis;
2.2 Gases não-inflamáveis, não-tóxicos;

2.3 Gases tóxicos.

3.Líquidos inflamáveis.

4.Sólidos inflamáveis; substâncias sujeitas a combustão espontânea e


substâncias que, em contato com a água, emitem gases inflamáveis:
4.1 Sólidos inflamáveis;
4.2 Substâncias sujeitas a combustão espontânea;

4.3 Substâncias que, em contato com a água, emitem gases inflamáveis.

5.Substâncias oxidantes e peróxidos orgânicos:

5.1 Substâncias oxidantes;


5.2 Peróxidos orgânicos.
6.Substâncias tóxicas (venenosas) e substâncias infectantes:

6.1 Substâncias tóxicas (venenosas);


6.2 Substâncias infectantes.

7.Materiais radioativos.

8.Corrosivos.

9.Substâncias perigosas diversas.

As cores dos rótulos de risco também estão relacionadas com as


características de periculosidade das substâncias; assim, tem-se:

AMARELO = OXIDANTE

BRANCO = TÓXICO

VERDE = GÁS NÃO INFLAMÁVEL

VERMELHO= INFLAMÁVEL

LARANJA = EXPLOSIVO

3. Requisitos para o Transporte de Mercadorias Perigosas

O transporte de mercadorias perigosas requer atenção especial e cumprimento


de requisitos específicos para garantir a segurança e o cumprimento da
legislação. É necessário ter uma equipe de transporte treinada e qualificada,
documentação adequada, equipamentos de segurança no veículo e sinalização
apropriada. Esses requisitos visam prevenir acidentes, proteger as pessoas e o
meio ambiente durante o transporte de mercadorias perigosas.

3.1. Painel de Segurança

Trata-se de uma placa de cor laranja que possibilita identificar o nome da substância
transportada, bem como os seus principais riscos.
Figura 2 - Painel de segurança

O número situado na parte superior do painel representa o número de risco e serve para
identificar os riscos principais e subsidiários da substância transportada. O
número de risco pode ser composto por dois ou três algarismos, sendo que a
importância do risco é registrada da esquerda para a direita. Os algarismos que
compõem os números de risco têm o seguinte significado:

2 - Emissão de gás devido à pressão ou reação química;

3 - Inflamabilidade de líquidos (vapores) e gases, ou líquidos sujeitos a auto-


aquecimento;

4 - Inflamabilidade de sólidos, ou sólidos sujeitos a combustão espontânea; Efeito


oxidante (favorece incêndio);

5 - Efeito oxidante (favorece incêndio);

6 - Toxicidade;

7 - Radioatividade;

8 - Corrosividade;

9 - Risco de violenta reação espontânea.

X Substância que reage perigosamente com água (utilizado como prefixo do código
numérico).

Observações:

 a letra “X” antes dos algarismos, significa que a substância reage


perigosamente
com água;
 a repeticção de um número indica, em geral, aumento da intensidade
daquele risco específico;
 quando o risco associado a uma substância puder ser adequadamente
indicado por
um único número, este será seguido pelo algarismo 0 (zero).

 O número situado na parte inferior do painel de segurança representa o registro


da substância na classificação da ONU; assim, através do painel e com esse
número é possível identificar o nome específico do produto transportado;
para tanto, há a necessidade de se consultar a lista de produtos perigosos
constante da legislação pertinente.

 A Figura 3, apresenta um exemplo de utilização do rótulo de risco e do painel de


segurança num veículo transportador de produtos perigosos.

 Figura 3 - Utilização do painel de segurança e do rótulo de risco em veículos


transportadores de produtos perigosos

3.2. Documentação de porte obrigatório no transporte


Além dos símbolos de risco no veículo, os documentos relacionados à
carga transportada fornecem informações importantes. A Ficha de
Emergência, em particular, é um documento obrigatório que contém
informações sobre o expedidor da carga, incluindo nome, endereço e
telefone, juntamente com instruções básicas sobre como lidar com o
produto em situações de emergência. No caso do transporte de
produtos perigosos embalados em frações, o motorista deve portar uma
ficha para cada produto. Esses documentos são essenciais para fornecer
orientações específicas em caso de emergência durante o transporte de
mercadorias perigosas.

Figura 4 - Exemplo de Ficha de Emergência

A Ficha de Emergência deverá estar guardada num envelope especial, confeccionado


em papel pardo impermeável (KRAFT). Neste envelope, além da ficha, deverão estar
guardados os demais documentos relativos à carga transportada.
Figura 6 - Exemplo de envelope para transporte (Área D)

Além disto, é necessário um documento de identificação com fotografia de cada


membro da tripulação e os certificados de formação do condutor. No caso do transporte
em cisternas e transporte de matérias e objetos explosivos, é também necessário um
certificado de aprovação por veículo da unidade de transporte.
3.3 Equipamento

3.3.1 Extintores de Incêndio

De acordo com o ADR (Tratado Europeu do transporte internacional de


mercadorias perigosas por rodovia), cada unidade de transporte de mercadorias
perigosas deve estar equipada com extintores de incêndio, cujas capacidades
são determinadas com base na massa máxima admissível da unidade. É
importante que os extintores sejam instalados de forma acessível à tripulação e
protegidos dos elementos climáticos, a fim de preservar suas capacidades
operacionais. Essa medida visa garantir a prontidão para combater incêndios e
proteger a segurança durante o transporte dessas mercadorias perigosas.

3.3.2 Equipamento de Segurança

Para cada veículo da unidade de transporte devem existir calços apropriados ao seu peso
e ao diâmetro das rodas, dois sinais de aviso portáteis (por exemplo cones cor-de-laranja
refletores), líquido de lavagem para os olhos. Para cada membro da tripulação: um
colete ou fato retrorrefletor, um aparelho de iluminação portátil, um par de luvas de
proteção e proteção para os olhos (por exemplo óculos de proteção).

3.3.3 Equipamento Suplementar

Para determinadas classes pode ser prescrito equipamento suplementar, como uma
máscara de proteção antigás para transporte mercadorias com as etiquetas de perigo 2.3
ou 6.1 para cada membro da tripulação, ou a bordo do veículo uma pá, uma proteção
para grelhas de esgotos e um recipiente coletor.

3.3.4 Equipamento para mercadorias perigosas de alto risco

Quando uma empresa transporta mercadorias perigosas de alto risco, que


possuem potencial para uso indevido em atos terroristas, em quantidades que
excedem os limites estabelecidos pelo ADR, é necessário implementar e aplicar
um plano de proteção física com requisitos e conteúdos mínimos exigidos. Além
disso, o veículo ou equipamento de transporte utilizado deve ser equipado com
dispositivos, equipamentos ou sistemas de proteção que impeçam o roubo tanto
da carga quanto do próprio veículo. Medidas também devem ser tomadas para
garantir a operacionalidade e eficácia contínua desses dispositivos de proteção.
Essas medidas visam garantir a segurança e a prevenção de qualquer uso
indevido ou acesso não autorizado a essas mercadorias perigosas de alto risco
durante o transporte.

4. Emergências

Os acidentes envolvendo produtos químicos podem requerer ações específicas,


adaptadas a cada situação. No entanto, de maneira geral, o atendimento a
esses acidentes pode ser dividido em etapas básicas:
1. Sinalização e isolamento da área: é importante garantir a segurança das
pessoas ao redor, sinalizando e isolando a área afetada, permitindo o
acesso das equipes de resposta de emergência.
2. Avaliação inicial: as equipes de resposta devem realizar uma avaliação
inicial da situação para determinar os riscos envolvidos, identificar as
substâncias químicas envolvidas, avaliar os possíveis impactos à saúde
humana e ao meio ambiente, e estabelecer estratégias de resposta
adequadas.
3. Acionamento: é necessário acionar as equipes de intervenção
especializadas, como bombeiros, serviços de emergência médica,
órgãos ambientais e outros profissionais capacitados, para auxiliar no
gerenciamento da situação.
4. Medidas de controle: devem ser implementadas medidas para controlar
o vazamento ou derramamento de produtos químicos, minimizando os
riscos de propagação e mitigando os impactos na saúde e no ambiente.
Isso pode envolver a contenção do produto, diluição, neutralização ou
outras ações apropriadas.
5. Ações de rescaldo: após a contenção do acidente, são realizadas
atividades para limpar e descontaminar a área afetada, visando a
redução de riscos residuais e a restauração do ambiente.

No estágio inicial no local, as ações são focadas principalmente na identificação,


sinalização, isolamento e acionamento das equipes de intervenção. A partir daí,
as etapas subsequentes são implementadas de acordo com a natureza e a
gravidade do acidente, visando garantir a segurança das pessoas e a
minimização dos danos causados pelo acidente com produtos químicos.

4.1. Sinalização e isolamento da área

A primeira etapa de um atendimento emergencial referente a um acidente envolvendo


produtos perigosos diz respeito à sinalização do local e isolamento da área de forma a
garantir que todas as pessoas não envolvidas com a operação de emergência
mantenham-se afastadas da área de risco.

Essa ação deve ser realizada sempre mantendo-se o vento pelas costas, de modo a evitar
a inalação de eventuais vapores emanados do produto vazado. A sinalização e o
isolamento são as primeiras tarefas que devem ser realizadas para se manter o controle
da situação. Para tanto, deve-se utilizar os recursos necessários para essa operação,
como cones de sinalização e faixas de isolamento, entre outros.

O isolamento da área deve ser realizado da seguinte forma:

1. identificar o produto;
2. obter as informações básicas sobre o produto
3. observar se o vazamento é de pequeno ou grande porte; deve-se utilizar como
recursos para o isolamento da área cordas, fitas sinalizadoras, cones e viaturas;
4. determinar as distâncias adequadas para o isolamento:

4.2. Planos de emergência


4.2.1 Planos de emergência externo
O plano de emergência externo é elaborado pela autoridade territorialmente
competente de proteção civil. Este plano tem por objetivo garantir o
planeamento e resposta adequadas para fazer face a uma potencial situação de
emergência radiológica, de forma a mitigar e a limitar as consequências para o
exterior do perímetro da instalação onde são realizadas atividades envolvendo
materiais radioativos ou fontes de radiação.

4.2.2 Plano de emergência para transporte de materiais radioativos


O transporte de materiais perigosos, incluindo material radioativo, deve estar
em conformidade com a regulamentação aplicável. No caso do transporte de
material radioativo (classe 7), as normas e regulamentos internacionais, como os
da IAEA, ICAO e IMO, devem ser seguidos, além da legislação nacional e
tratados internacionais aos quais Portugal esteja vinculado.

Um plano de emergência específico para o transporte de materiais radioativos


deve ser desenvolvido, cumprindo os requisitos da legislação aplicável, levando
em consideração o tipo de transporte e o material radioativo ou fonte de
radiação envolvida.

No transporte rodoviário, o ADR estabelece que as tripulações devem receber


um conjunto de instruções escritas, em idioma compreensível por cada membro
da equipe, para lidar com situações de emergência. Essas instruções devem
refletir os riscos potenciais e as medidas apropriadas a serem tomadas em caso
de acidente. O ADR também contém disposições gerais para o transporte de
material radioativo.

Em resumo, o transporte de materiais perigosos, incluindo material radioativo,


está sujeito a regulamentações específicas que visam garantir a segurança
durante o transporte. Isso inclui o cumprimento das normas internacionais, a
elaboração de planos de emergência adequados e o fornecimento de instruções
claras para a equipe de transporte.
4.2.3 Plano de emergência interno
O plano de emergência interno é um documento que estabelece os recursos
humanos, materiais e os procedimentos necessários para lidar com situações de
emergência previsíveis em uma instalação ou atividade. Seu objetivo é garantir
a proteção dos trabalhadores e do meio ambiente. Além de abordar cenários de
emergência com origem em fatores internos, como incêndios, explosões e
acidentes graves com substâncias perigosas, o plano também inclui cenários de
emergência radiológica, bem como eventos externos, como terremotos.

A elaboração desse plano é uma condição prévia para obter o licenciamento da


atividade, e sua aprovação é realizada pela autoridade competente, a Agência
Portuguesa do Ambiente (APA).

Os requisitos mínimos obrigatórios para as informações contidas no plano de


emergência interno estão definidos no Anexo VI do Decreto-Lei 108/2018. Esses
requisitos abrangem várias áreas, e detalhes específicos podem ser encontrados
na tabela correspondente.

Em resumo, o plano de emergência interno é um documento essencial para


garantir a preparação e a resposta eficaz a situações de emergência em uma
instalação ou atividade, abrangendo diversos cenários e sendo sujeito a
requisitos específicos definidos pela legislação.

Figura 7 - Exemplo de Requisitos mínimos do Plano de Emergência Interno

Em conclusão, ao analisar o transporte de mercadorias perigosas, fica evidente


que esse tipo de transporte apresenta desafios significativos em termos de
segurança. A ocorrência de acidentes pode ter consequências graves, tornando
crucial a adoção de medidas de segurança adequadas.
Infelizmente, ainda existem muitos acidentes relacionados ao transporte de
mercadorias perigosas devido a condições de segurança inadequadas. É
fundamental respeitar as normas e regulamentações estabelecidas, além de
garantir o uso adequado dos equipamentos de segurança disponíveis nos
veículos de transporte.

A conscientização sobre a importância da segurança e o cumprimento rigoroso


das medidas preventivas são essenciais para reduzir os riscos e proteger tanto
as pessoas envolvidas no transporte quanto o meio ambiente.

Agradeceço pela atenção e reforço a importância de promover práticas seguras


no transporte de mercadorias perigosas. Juntos, podemos contribuir para
minimizar os riscos e garantir a segurança em todas as etapas desse processo.
Obrigado.

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