Você está na página 1de 66

1

Revista digital

Novembro 2020
Edição 2 - Ano 1

Robôs e IA:
os novos “parceiros” da Justiça
Desenvolvimento de soluções que usam a tecnologia avança
em instituições Brasil afora, ampliando debates sobre os
avanços e desafios na utilização dessas ferramentas P. 06

“Não temos saída”, diz Segurança da informação Inovações em tribunais: juízes


ministro João Otávio de em períodos de transformações debatem sobre laboratórios,
Noronha, presidente do STJ no exige cuidados, afirma redes de inteligência e
biênio 2018-2020, sobre o uso Marcelo Gobbo Dalla Déa, integração para mudanças
de novas tecnologias P. 05 desembargador do TJPR P.14 sociais importantes P. 32
2
3 Editorial |

Inovação e
transformação:
um novo olhar
para o futuro
O que muitos tribunais, Ministérios Públi- ma similar ao cérebro humano começarão
cos e outras instituições do Ecossistema de a ganhar espaço. Por Ademir Piccoli
Justiça têm em comum? Eles compreende- Diante disso, quais são as habilidades Advogado, ativista
ram o impacto que a Inteligência Artificial que vamos precisar desenvolver? Afinal,
da inovação e CEO do
irá promover no segmento nos próximos é preciso desenhar o que vem pela frente.
anos. Do norte ao sul do Brasil, é cada vez É justamente em busca de um novo olhar
Judiciário Exponencial
maior o número de instituições que bus- para o futuro que os laboratórios de ino-
cam mais aplicações para a tecnologia. vação vêm ganhando força. O movimen-
A Inteligência Artificial não precisa to de inovação cresce e, com a pandemia,
ser matéria de ficção científica para tra- recebe novos desafios: dar continuidade
zer resultados. Sabemos que sua adoção à atividades e, ao mesmo tempo, ser um
ainda enfrenta dificuldades como falta vetor de transformação para repensar e
de confiança, baixa qualidade ou escas- prototipar novos processos.
sez de dados, de ferramentas e de pessoas Destacamos nesta edição como o uso
com conhecimento da tecnologia, mas são de Inteligência Artificial vem avançando
desafios que terão que ser superados para no Ecossistema de Justiça. Apresenta- ca (AGU). O foco sempre são temas em
que a IA chegue a novas fronteiras. mos os destaques da primeira edição do pauta na Justiça.
A pandemia de Covid-19 está pro- encontro da Advocacia-Geral da União Nesta edição, você também encontrará
movendo uma verdadeira revolução nos (AGU), que o Judiciário Exponencial o relato do ministro João Otávio de
modelos de trabalho. Embora estejamos realizou em parceria com a AGU e a Noronha, presidente do Superior Tribunal
falando sobre aceleração digital, sabemos Escola da AGU, e da terceira edição do de Justiça (STJ) no biênio 2018-2020,
que o que realmente importa são as pesso- encontro do Ministério Público, com a sobre como foi possível estruturar o
as, porém, sem o uso intensivo de tecnolo- Associação Catarinense do Ministério tribunal em três secretarias com a aplicação
gia em sua essência, as transformações não Público (ACMP) e apoio do Ministério de softwares de IA, além de destaques
poderão existir. E as mudanças não param Público de Santa Catarina (MPSC). da fala de Marcelo Gobbo Dalla Déa,
por aqui, pois tendências tecnológicas O Enastic, que completou sete anos desembargador do Tribunal de Justiça
que já estavam em andamento também em 2020, tem o objetivo de promover do Paraná (TJPR), sobre como manter
estão em pleno avanço. O Gartner prevê consistentes debates sobre inovação e a segurança da informação diante de
que, em 2025, as tecnologias de compu- tecnologia por meio de encontros que rápidas transformações. Outro destaque é
tação tradicionais se aproximarão dos já foram sediados por diferentes insti- o debate de juízes federais sobre inovações
limites de desempenho, economia e sus- tuições que integram o Ecossistema de no Sistema de Justiça, abordando de
tentabilidade, forçando a mudança para Justiça. Os encontros estão divididos laboratórios a redes de inteligência.
novos paradigmas de computação, como nas seguintes verticais: Justiça Estadu- Este momento é uma oportunidade.
a Computação Neuromórfica. Com isso, al, Justiça Federal, Justiça do Trabalho, Conte com o Judiciário Exponencial para
computadores que pensam e agem de for- Ministério Público e Advocacia Públi- ajudá-lo a se preparar para os novos tempos.
4

Sumário
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +

+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +

+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +

5 15
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Apresentação
+ + + + + + + + +

+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Durante
+ + +os +meses
+ +de +julho+ e+
agosto de 2020, dois encontros
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + muito
+ + relevantes
+ + + trataram
+ + +de+
Seção 1 Seção 2 inovação e tecnologia na Advo-
Inteligência Artificial e Inovação, comportamento cacia-Geral da União (AGU) e
+ + +outras
+ + ferramentas
+ + + + + + + + +e cultura
+ + + + + + + + + nos
+ Ministérios
+ + + Públicos
+ + +(MPs). + +
tecnológicas Esta revista foi produzida a par-

28 37
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + tir
+ da cobertura das palestras que
+ + + + + + + +
aconteceram durante esses even-
tos. O Enastic AGU ocorreu de
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + 1 +a 3+de +julho;
+ e+o Enastic
+ + MP, + +
de 19 a 21 de agosto. Ambos fo-
ram realizados 100% on-line. O
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + público
+ + pôde+ +acompanhar
+ + + uma + +
série de palestras e painéis de
+ + +Seção
+ +3 + + + + + + + + +Seção
+ +4 + + + + + + + debates
+ + ocorridos
+ + + entre + +desem-
+ +
Inovação na AGU bargadores, juízes, promotores,
Tecnologias nos MPs
advogados, CIOs de instituições,
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + representantes
+ + + + de+ empresas+ + + e+

52 61
especialistas de Tecnologia, Ino-
vação e do Direito. O conteúdo
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + completo
+ + +está+ disponível
+ + +no+ca-+
nal do Judiciário Exponencial no
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + YouTube.
+ + + + + + + + +

+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +
Seção 5 Seção 6 É possível acessar diretamente cada
+ + +Um+olhar
+ +sobre
+ +as leis
+ + + + + +Artigos
+ + + + + + + + + uma
+ das
+ apresentações
+ + + +ao +clicar+ no+
respectivo ícone do YouTube nas repor-
tagens ao longo desta revista.
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +

+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +

+ + + + Revista
+ + + +digital
Reportagem: Janaína Gimael Realização: Judiciário Exponencial
+ + + + +Projeto
+ Gráfico
+ +e Diagramação:
+ + + Cleber
+ +Machado
+ + + www.judiciarioexponencial.com
+ + + + + + + +
Edição e revisão: Gabriela Gasparin Curadoria Expojud: Ademir Piccoli
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + www.ademirpiccoli.com
+ + + + + + + +
5 Seção 1: Inteligência Artificial e outras ferramentas tecnológicas |

Não há mais como olhar para


o STJ sem investimento em
tecnologias e em IA, diz Noronha
Com aplicação de softwares de IA foi possível estruturar o STJ
em três secretarias, diz o presidente do STF no biênio 2018-2020 Redefinição de
processos com a IA
“A tecnologia que nos proporciona desen- ciais. “A tecnologia da informação permi- De acordo com Noronha, em dois anos,
volver programas de Inteligência Artifi- tiu uma revolução em termos de proces- mesmo com as aposentadorias de 250 a 300
cial (IA) tem um propósito claro. Não é só so. Nós tínhamos muitos sendo feitos de funcionários, a instituição conseguiu não
um instrumento de gestão, mas de plane- forma desnecessária como, por exemplo, contratar ninguém. “Conseguimos redefinir
jamento”, disse o presidente do Superior mais de 50 funcionários trabalhando para processos com o uso da IA. Alguns trabalhos
eram feitos porque se fazia há 30 anos.
Tribunal de Justiça (STJ) no biênio 2018- publicar aportes, algo que os próprios ga-
Pudemos rever procedimentos e processos
2020, o ministro João Otávio de Noronha, binetes poderiam fazer”, contou. de trabalho e dar celeridade”, afirmou.
em sua palestra de abertura do segundo Ele destacou que o Poder Judiciário ain- Noronha explicou que não consegue
dia do Enastic AGU (02/07). da custa caro no Brasil, como também é no mais ver o STJ sem investimento em TI,
Noronha explicou que, com planeja- mundo, mas é caro especialmente no Bra- priorização do software e equipe para IA.
mento e aplicação de softwares de IA, foi sil pela sua dimensão continental. “Com o “Nós não temos saída. Se precisamos
melhorar qualitativamente os processos
possível estruturar o STJ em três secre- congelamento de orçamento não há espaço
de trabalho, isso impõe investimento
tarias. “Conseguimos sair de 400 funcio- para ficar criando cargos públicos.” não só na inteligência humana, mas na
nários para 140 sem reduzir a qualidade Inteligência Artificial. Vamos ganhar
do trabalho desenvolvido. Pelo contrário, eficiência, reduzir mão de obra em alguns
aperfeiçoamos a celeridade e qualidade.” lugares e aumentar em outros”, avaliou.
O ministro também explicou que o tra- O presidente do STJ explicou que, com
o uso da tecnologia, foi possível reduzir
balho de IA não foi apenas relacionado a
o número de processos, o estoque de
um software de seleção e triagem, mas é processos nos gabinetes de alguns ministros
um instrumento de planejamento que e até realizar um mutirão com o uso de
trouxe velocidade aos processos judi- softwares que identificavam casos similares.
Noronha também contou que, ao visitar
cortes na Europa e dizer que no Brasil eram
julgados mais de 10 mil processos por ano,
houve indignação. “Na França, na Itália,
disseram que julgam cerca de 70 por ano. O
João Otávio de Noronha gabinete precisa de estrutura menor, o ministro
tem que dar mais sua contribuição, construir
o voto. Assim deveria ser a nossa Justiça
para que o Direito ganhe qualidade, para
que a decisão expresse realmente a
vontade do colegiado. Hoje temos
um volume tão grande que
algumas [decisões] são
escolhidas e outras
vão no repetitivo”,
disse.
ar
qu
ivo
pesso
al
6

Uso de Inteligência
Artificial avança no
Ecossistema de Justiça
Cada vez mais ferramentas
e robôs vêm sendo
desenvolvidos em movimentos Rafael Pontes
de inovação nas instituições
de Miranda
Victor, Sapiens, Athos, Sócrates. Com (ESA NACIONAL)
essas e muitas outras soluções, a inovação
tecnológica está cada vez mais presente
no dia a dia das instituições do Ecossis- Nem todo remédio para
tema de Justiça. O painel “Os avanços da excesso de massificação
Inteligência Artificial na Administração de litígio está na IA”
Pública” (Enastic AGU, 02/07) tratou de
alguns desses avanços e dos desafios no “Por enquanto temos um grau de aplicação da aprendeu questões consideradas racistas.
uso da IA nas ferramentas. Inteligência Artificial (IA) no meio do processo “O ato processual é decorrente da vontade
Participaram: Erick Muzart Fonseca judicial, tanto de análises de seleção, humana consciente, diferente de um ato
dos Santos, auditor federal de controle demandas e distribuição, que é um estágio jurídico praticado 100% por uma máquina que
externo do Tribunal de Contas da União que não me preocupa. Mas temos certeza não tem correlação plena com o que estou
(TCU); Rafael Pontes de Miranda, diretor que em algum momento teremos muito demandando”, disse.
de Inovação e Tecnologia da Escola Su- mais capacidade de uso de IA no processo e Uma preocupação demonstrada foi
perior da Advocacia Nacional (ESA NA- precisamos separar quais são os sistemas que com relação a julgamentos em lote que
CIONAL); e Daniel Piñeiro Rodriguez, estão automatizados e quais são os que estão dificilmente seriam revistos. “Uma vara da
procurador federal da Procuradoria Re- usando IA”, disse o diretor da ESA NACIONAL. fazenda fiscal do Recife está usando a Elis,
gional Federal da 4ª Região (PRF/AGU). Ele tratou do ato jurídico processual por exemplo, um robô que faz minuta da
O moderador do painel foi Marco Au- artificial em sua fala, ressaltando que a decisão da prescrição tributária. É um ato
rélio Ventura Peixoto, advogado da União preocupação agora deve estar relacionada à jurídico totalmente artificial. Ainda que você
e diretor da Escola da AGU/5ª Região. migração da IA para decisões propriamente me diga que quem protocolou a decisão
Ele ressaltou que uma das críticas feitas ditas. Miranda explicou que no caso da foi um ser humano. A consciência está no
à utilização de sistemas de IA no Judici- aplicação padrão de IA, pode haver adoção cerne”, lembrou, alertando sobre cuidados a
ário diz respeito à falta de transparência de uma rede neural desenvolvida por terceiros serem tomados.
na construção de padrões decisórios. “Não que passe a ser alimentada e adaptada para “Sou um entusiasta da tecnologia, mas
seria o caso de haver mais participação o uso. “O resultado não é 100% previsível a não podemos nos encantar demais com
da sociedade, dos entes envolvidos, e não partir daquilo que eu fiz. É uma busca de tentar ela. Nem todo remédio para excesso da
apenas do órgão que constrói o sistema repetir o raciocínio humano pela máquina.” massificação de litígio está na IA. Outros
de IA?”, indagou. Confira os destaques da Ele citou como exemplo um case da caminhos podem ser tomados, ainda que com
cada palestrante. Microsoft, em que um chatbot usando AI o uso da tecnologia.”
7

Erick Muzart
dos Santos
(TCU)

Sinapses é uma
plataforma para
desenvolvimento
colaborativo de
funcionalidades”

Entre os casos de uso de Inteligência Artificial (IA) pelo judiciário estão Daniel Piñeiro Rodriguez
ferramentas como Victor, Bem-te-vi e Sócrates, todas citadas pelo auditor
federal Erick Santos. Ele citou as funcionalidades disponíveis em sistemas e
(PRF/AGU)
ferramentas utilizados por diferentes órgãos do Poder Judiciário, citando casos de
destaque. Confira. Todos os robôs convergem para
Advocacia-Geral da União (AGU): Sapiens, gerenciador eletrônico de otimização da ação humana”
documentos com recursos de apoio à produção de conteúdo;
Controladoria-Geral da União (CGU): Malha fina de convênios tem o Diversas ferramentas desenvolvidas no ambiente da PGF Tech
histórico de todos os convênios que já passaram pela CGU e sabe quais auxiliam com triagem automatizada, leitura, peticionamento e
geraram problemas para prever, a partir das características do convênio, o que minutagem, ressaltou o procurador. Dentre alguns destaques,
provavelmente seria julgado por um analista ao final do mesmo; Rodriguez mencionou o desenvolvimento do robô Mercúrio, que
Supremo Tribunal Federal (STF): Victor, uma das ferramentas mais antigas classifica automaticamente os processos por critérios previamente
de Inteligência Artificial na Justiça, que faz reconhecimento de padrões nos determinados, seja por assunto, por ato processual, por tipo de
processos jurídicos; ato decisório, sentença, etc. “É uma tarefa simples, mas quando
Superior Tribunal de Justiça (STJ): Athos e Sócrates, que usam IA e são pensamos em um universo de 1.000 intimações diárias, isso traz
usados para a classificação de assuntos, identificação de referências normativas ganho de tempo enorme”, disse.
dentro do texto, agrupamento de processos por similaridade, indicação de O robô Mercúrio também lê decisões judiciais de acordo com
possíveis óbices formais e indicação de legislação, jurisprudência e precedência; paradigmas cadastrados. “Claro que ainda surge a necessidade de
Tribunal Superior do Trabalho (TST): Bem-te-vi, ferramenta de triagem mudar paradigmas conforme mudam as decisões e necessidades de
apoiada por análise preditiva; entendimento, mas a ferramenta tem sido muito útil especialmente
Receita Federal do Brasil (RFB): O exemplo citado foi o sistema de na pandemia. Ele permite rápida identificação de decisões que se
reconhecimento facial usado na aduana em voos internacionais; relacionam com o isolamento social”, explicou.
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS CE): Foi Rodriguez levantou a questão do temor existente com relação aos
citado o Sistema Policial de Indicativo de Abordagem (Spia), um monitoramento robôs por conta da eventual substituição dos colegas ou perda de
contínuo de diversos órgãos policiais para rastreamento de veículos e integração qualidade no trabalho, mas explicou que não é o que tem acontecido
de bases policiais, além de reconhecimento facial e identificação de pessoas na prática, pelo contrário. “Tivemos um ganho muito grande e só
procuradas; conseguimos enfrentar essa alteração rápida de cenário graças ao
Conselho Nacional de Justiça (CNJ): Sinapses, uma plataforma para uso deles. Todos os robôs convergem para otimização das atividades
desenvolvimento colaborativo de funcionalidades, aprimorada em parceria com humanas”, disse.
o TJRO; Ele também mencionou que na equipe que coordena há dois
Tribunal de Contas da União (TCU): Ferramenta Alice, um robô que procuradores, oito servidores e cinco robôs. “Dois dos robôs são o
continuamente pesquisa junto à Imprensa Nacional toda nova publicação. Ela lê Optimus e o Prime; e cada um desempenha uma função que converge
o Diário Oficial da União (DOU) e consegue toda informação relevante de novas para o refinamento das classificações das intimações. O Optimus
contratações. Depois, acessa a base do TCU e extrai dados para complementar. faz uma leitura dos sistemas processuais importados dos diferentes
O sistema conhece fraudes já cometidas no passado, faz um score de risco ao sistemas da justiça para dentro do Sapiens. O Prime lê o próprio ato
integrar, produz um relatório e envia para áreas específicas do TCU. processual e busca expressões específicas para classificar.”
8

Tecnologia RPA:
os robôs que A transformação
digital dentro do INSS
automatizam
tarefas humanas
Solução pavimenta o caminho da
transformação digital e endereça Instituto tem conseguido
problemas táticos das autarquias resolver demandas com um
Você já ouviu falar em Robot Process
menor número de servidores
Automation, ou simplesmente
RPA? Segundo o diretor de vendas Desde o final de 2017, o Instituto Nacio-
corporativas da Blueprism - Yooboot, nal do Seguro Social (INSS) vem reali-
Michel Sader (Enastic AGU 01/07), a zando ampla transformação digital com o
tecnologia permite o desenvolvimento objetivo de resolver problemas estruturais,
de aplicativos para copiar
contou Leonardo Rolim, presidente do
comportamentos humanos, levando os
robôs a automatizarem tarefas. Instituto (Enastic AGU 03/07).
Ele explicou, em sua apresentação, Disse que hoje são 36 milhões de bene- Leonardo Rollim
que o interesse pela RPA aumentou muito ficiários e 71 milhões de segurados ativos,
arquivo pessoal
desde o final de 2019 não apenas por conta um total de 107 milhões de pessoas. São
de corporações, mas também pelo governo. 6,6 milhões de ligações por mês na Cen- 3) Qualidade da informação: Dados foram
“As iniciativas mais bem sucedidas de RPA
tral 135 e 2,5 milhões de atendimentos validados e integrados para evitar erros
têm a participação de executivos e líderes
governamentais”, disse. presenciais antes da pandemia. São 122 e fraudes. O INSS quer começar a fazer
mil servidores fazendo isso. prova de vida por biometria facial;
E como funciona uma RPA? Com a transformação digital, o INSS
Sader explicou que a tecnologia RPA tem conseguido resolver demandas com 4) Automação: O objetivo é fazer com que
surgiu em 2012 fazendo uma conexão menos servidores, mas ainda está con- cada vez mais benefícios sejam concedidos
entre sistemas legados. O especialista
cluindo a primeira etapa do processo e sem interferência do servidor. Entrevistas
disse que Inteligência Artificial (IA)
não é RPA. iniciando a segunda. “Em maio de 2019, para receber o benefício devem acontecer
Segundo ele, um robô de software 81% do atendimento era na agência. Nes- só se houver inconsistência. Foi implanta-
pode ser usado para “responder” uma te ano, caiu para 4%. Em 2019, a produ- do chat que entrou em operação em maio
fila de reclamações que chegam por tividade foi 38% maior do que em 2018 de 2020, a “Helô”, que é híbrido, com par-
e-mail, por exemplo. “Eu poderia colocar no INSS. Neste ano, até maio, foi 19% te das respostas automáticas e parte res-
mais robôs para completar tarefas.
maior que a de 2019 e 65% maior que a pondida por pessoas. São entre 50 mil e
Posso escalar, dividir por departamentos,
separar por atividades”, explicou Sader, de 2018”, afirmou. 60 mil atendimentos por dia.
que completou: “Imagine que estou A transformação digital do INSS tem
fazendo um robô para ler alguma coisa e quatro pilares, disse Rolim: Para este ano, Rollim aposta em três ob-
quero que esse robô tome uma decisão jetivos principais dentro do projeto de trans-
e tenha uma ação. O que eu preciso é 1) Inovação de processos: Foram criados formação digital 2.0. O primeiro é a implan-
linkar as atividades, e tenho um diagrama
teletrabalho e trabalho semipresencial; tação de melhorias para atendimento, como
inicial pronto”. Como exemplo, citou a
conversão de moedas: o robô usa uma autoatendimento orientado em agências,
planilha, coloca as informações no site do 2) Canais: Antes, só havia um canal presen- prova de vida virtual e melhora na avaliação
Banco Central (BC) e faz a conversão. cial e o telefone servia apenas para agen- dos sistemas; o segundo, ganhar celeridade,
“O RPA pavimenta o caminho da damentos. Hoje, o atendimento começou sendo o prazo médio de resolução de no má-
transformação digital e endereça a ser feito por meio digital e se espera ximo 45 dias até o fim do ano e com redução
problemas táticos das autarquias,
ampliar as formas de contato para além de 50% das solicitações pendentes e aumen-
eliminando erros, padronizando,
substituindo pessoas que estão se do Canal 135 e do app Meu INSS. Fo- to de 30% das automatizadas; terceiro, a so-
aposentando, diminuindo custos, etc”, ram criadas redes de canais com parceiros, lução de riscos, como meta de redução das
afirmou. como OAB e sindicatos de aposentados; inconsistências em pelo menos 5%.
9

Blockchain aplicado
ao setor público:

freepik
O case da ANAC
Agência passou a ser procurada
para compartilhar lições e
desafios no uso da tecnologia

“A aviação e a tecnologia são coisas


indissociáveis”, disse Gustavo Albu-
Gustavo Albuquerque
querque, procurador-geral da Agência
Nacional da Aviação Civil (ANAC). explicou Albuquerque.
Ele explicou que a inovação é a or- Em 2017, antes mesmo das normas
dem do dia no setor aéreo e contou do Banco Central para blockchain, a
que a ANAC foi uma das primeiras ANAC começou a implantar proje-
agências 100% sem papel e uma das tos prioritários, estabelecendo normas
primeiras a fazer transmissão das para o Diário Digital e padrões e re-
diretorias on-line em tempo real. O gulamentos pelo qual regulados pode-
Gustavo Sanches
comentário foi feito durante o painel riam inserir informações nessa rede.
“Blockchain aplicado ao setor público” O Diário de Bordo virtual foi o
(Enastic AGU, 03/07). primeiro paradigma a ser quebrado,
Também participou do painel Gus- já que as pessoas eram reticentes ao
tavo Sanches, diretor de tecnologia da compartilhamento de dados na Agên- O diretor de TI também afirmou
Agência. Ele explicou que o blockchain cia. “O blockchain veio para mudar essa que a ANAC é um ente regulado e
foi visto como uma oportunidade de lógica, já que a informação é criada em precisa garantir confiança. “Toda in-
se resolver problemas de confiança na bloco e armazenada em rede, havendo formação gerada em blockchain gera
ANAC, mas ressaltou que toda trans- segurança no registro e no comparti- tokens. Você pode gerar tokens com
formação digital não é feita da noite lhamento de informações. Não se tem, informações pertinentes à manutenção
para o dia. inclusive, registros de fraudes sérias da aeronave por exemplo. Basta o fis-
O projeto de uso do blockchain na em blockchain”, explicou. cal usar um leitor de QR code para ver.
instituição surgiu em 2017, quando a Você entrega facilidade e menor custo
Agência estava na onda da revolução As 5 garantias do blockchain porque não precisa armazenar papel.”
4.0 e a forma de gerenciar informa- Sanchez, por sua vez, lembrou que, Albuquerque contou que, depois
ções começou a ser analisada, como com o uso de blockchain, a informação que a ANAC implantou o blockchain
o Diário de Bordo das aeronaves. é distribuída por vários nós. Com isso, em 2017 e acelerou o processo em
“Temos uma vasta regulamentação é praticamente impossível realizar uma 2019, a agência começou a ser pro-
internacional sobre isso. Há também alteração sem que alguém perceba. “O curada por órgãos públicos brasileiros
questões ligadas ao registro e manu- blockchain garante cinco coisas: con- e internacionais com perguntas sobre
tenção das aeronaves, que é funda- fiabilidade, imutabilidade, segurança, a implementação na aviação civil. “O
mental para evitar acidentes aéreos”, disponibilidade e rastreabilidade”. Brasil se tornou referência.”
10

Avanços e desafios
de mediações e
resolução de conflitos
em plataformas digitais
Mediação no início do
processo teria inúmeros
benefícios, e tecnologia
pode ajudar
Quando um acordo é realizado Ticiano Marcel
no início de um processo existe
uma série de benefícios, por isso
de Andrade
a tecnologia pode ser uma grande Rodrigues
aliada. Mas como isso tem funcio-
(PGU)
nado? O assunto foi debatido no
painel “Meios adequados de reso-
lução de conflitos em plataformas Planos Nacionais de Negociação da PGU ajudam
digitais” (Enastic AGU, 03/07), advogados a atuarem de maneira uniforme”
que contou com a moderação de
Rita Dias Nolasco, procuradora da “As plataformas on-line de negociação são Segundo ele, o cidadão pode fazer um
Fazenda Nacional Escola da AGU o futuro que está presente. É necessário que simples cadastro registrando o CPF ou o
3ª região. Participaram: Henrique a gente identifique problemas, obstáculos e Certificado Digital e entender se o processo
Ávila, conselheiro do Conselho objetivos e depois recorra a plataformas judiciais está judicializado ou não. Uma das vantagens é
Nacional de Justiça (CNJ); Paulo e Inteligência Artificial”, disse Rodrigues. que o cidadão nem precisa de advogado nesse
Sérgio Domingues, desembargador Ele afirmou que o Poder Executivo caso, tendo condições de solicitar um acordo
federal e coordenador do Programa Federal editou um decreto sobre a política de em apenas alguns cliques.
de Conciliação do Tribunal Regio- governança digital que tem como principais Com relação aos Planos Nacionais de
nal Federal da 3ª Região (TRF3); diretrizes a disponibilização de serviços Negociação da Procuradoria Geral da União,
e Ticiano Marcel de Andrade Ro- públicos pelos meios digitais ao cidadão e a Rodrigues explicou que funcionam da seguinte
drigues, coordenador da Central unificação entre sistemas e plataformas digitais forma: a PGU faz um levantamento do número
Regional de Negociação da Pro- de trabalho. “A plataforma de negociação de processos de determinadas matérias, estuda
curadoria Regional da União da 1ª on-line vem para resolvermos tanto processos teses jurídicas discutidas, as possibilidades de
Região. Confira trechos das apre- judiciais quanto extrajudiciais para evitarmos o êxito ou não da União, e diz aos advogados da
sentações a seguir. prolongamento de processos e o maior dispêndio União de todo país as diretrizes da atuação ao se
de recursos públicos”, contou. depararem com esses processos.
11

Ferramenta recupera
informações importantes
das vídeoaudiências
Clóvis de Lima, CEO da Brainy Resolution
e co-fundador Voxia, apresentou solução
inteligente para audiências gravadas
Como recuperar mais rapidamente pontos
importantes em videoaudiências se os promotores
precisam assistir horas e horas de vídeo para
identificar pontos? Segundo Clóvis Alberto Chaves

Henrique Ávila Paulo Sérgio Domingues de Lima, CEO da Brainy Resolution e co-fundador
Voxia (Enastic MP 21/08), a pergunta foi um
problema proposto pelo Ministério Público.
(CNJ) (TRF3)
“Se a gente pensar em um cenário hipotético
com 360 promotorias fazendo videoaudiência e
Quando se traz Exclusão digital e 200 por ano para cada uma, com duração de 1
hora cada, estamos falando em 60 mil horas de
um acordo para comunicação visual análise de áudio e video, que é extremamente
o início, tudo são desafios no uso da custoso. O que conseguimos construir através
fica facilitado” mediação on-line” desse desafio do Ministério Público de Pernambuco
(MPPE)?”
Foi por conta desse desafio que surgiu
“Desde a Resolução 125, em 2010, o “Temos cada vez mais mecanismos para auxiliar a o Voxia, que tem o Google como parceiro e
CNJ investe em alternativas de solução conciliação e a mediação. Com isso, nos deparamos oferece uma plataforma de segurança em cloud.
de conflitos, mas neste momento lança com desafios. O primeiro é a questão da exclusão “É uma solução inteligente para audiências
uma plataforma para disponibilizar a digital, da falta de estrutura para boa parte da gravadas. Tem um processo de edição inteligente,
mediação on-line para os magistrados”, população. E há a questão da comunicação visual, de compartilhamento entre pessoas, armazenamento,
nuvem de palavras relevantes”, explicou.
ressaltou o conselheiro Ávila. como criar empatia, perceber o olhar e a emoção para
A mediação no início do processo tem romper a barreira da tela”, disse o desembargador. Funcionamento do Voxia
inúmeros benefícios, afirmou. “Em ações Dentre os exemplos de mecanismos, Domingues Para Lima, é um problema o Poder Judiciário
civis públicas, por exemplo, o Ministério explicou que há no Código de Processo Civil (CPC) uma ainda fazer transcrições e análises de forma
Público não é o titular exclusivo das disposição ampla de práticas de atos consensuais por manual. “Com o Voxia, faço upload da mídia que
ações coletivas. Há dispersão de ações videoconferência (Artigo 236). “Em 2020, já tivemos será processada. O áudio é convertido em texto.
Depois, posso passar arquivo para uma mídia
coletivas pelo Brasil e réus até perdem normas sendo editadas para aumentar a possibilidade
local e escolher como colocar. Tenho segurança
o controle. Quando se traz para o início em razão do momento de isolamento. Entre elas, a no armazenamento e posso puxá-lo de forma
tudo fica facilitado porque é trazido para edição da Lei n˚ 13.994, que fala da conciliação não mais fácil.”
um cenário de controle, ainda que não presencial nos juizados especiais; e a Resolução 313 Além disso, segundo Lima, a solução recupera
haja acordo”, explicou. do CNJ, que suspendeu a prática de atos presenciais o máximo de informações possíveis e já separa
Ele disse que, para empresas, que são em regra, com atendimentos de partes, advogados e o conteúdo por palavras. “É uma ferramenta
que usa muita Inteligência Artificial. Também
frequentemente demandadas pelo Poder interessados como algo a ser feito remoto”, disse.
temos busca semântica. Posso procurar qualquer
Judiciário, como o próprio Instituto Nacional Segundo o desembargador, isso vem sendo feito em termo no texto e vem um termo sinônimo ou
do Seguro Social (INSS), há gastos de vários tribunais, sendo que o TRF3 disciplinou, desde neologismo. Por exemplo: busco a palavra droga e
recursos muitas vezes desnecessários para abril, a utilização de videoconferência nas audiências. também gírias relacionadas.”
fazer presencialmente o que poderia ser “Já se fazia isso com frequência há anos, mas foi O Voxia também permite o compartilhamento
feito on-line. “Há recursos com diárias, validado o mecanismo para toda espécie de mediação com outros servidores que podem ajudar a fazer
revisão do documento. “E todas as alterações
transportes. Tenho conversado muito com e audiência. Estamos fazendo conciliação on-line de
podem ser auditadas. Também contamos com
juízes pelo Brasil. Em uma conversa com outras formas, por WhatsApp, inclusive. Montamos resumo do texto transcrito ou corrigido [20% ou
juízes de Campinas, eles disseram que as grupos a partir de conversas prévias com entes públicos 30% do conteúdo], que pode ser acessado depois
partes estavam muito satisfeitas com as envolvidos. Já foram mais de 400 conciliações feitas de um tempo por exemplo. O promotor não precisa
audiências feitas por WhatsApp”, contou. desta forma até agora e 270 acordos”, contou. ler um texto enorme.”
12

Open Source: tecnologia


promove transformação
digital e engajamento
Inclusão, transparência, adaptação e colaboração estão
entre os benefícios da tecnologia, diz Robin Tate, líder Barreiras à
de portfólio de serviços digitais LATAM-RedHat transformação
Tate explicou que as principais
“Cada vez mais pessoas nascem e respi- e oportunidades de criar novos produtos barreiras à transformação digital nas
ram serviços digitais, e isso tem que ser através de programas abertos em proje- empresas são o processo, a cultura e a
feito com escalabilidade, segurança e tos com natureza colaborativa, disse Tate. tecnologia. “Olhando para as empresas
confiabilidade”, disse Robin Tate, líder “Todos os produtos têm processo de as- de liderança, surge um novo padrão de
de portfólio de serviços digitais Latam- sinatura. Se o cliente não quiser mais, ele comportamento. O open source costuma
ser a chave para a transformação digital,
-RedHat (Enastic MP 19/08). para de assinar, não fazemos licenciamen-
pois permite inclusão, transparência,
Tate afirmou que a digitalização do to. Nessa comunidade de desenvolvedo- adaptação e colaboração.”
governo tem objetivos importantes, como res, temos clientes de empresas privadas e O palestrante contou que o modelo
melhorar a produtividade, buscar eficiên- também do governo”, contou. open source ajuda a ter pessoas
cia e reduzir a burocracia. “Dentro de nos- engajadas. Ele citou, ainda, o design
sa experiência, um ecossistema digital tem thinking e o Devops, que cria uma
dinâmica que permite mudanças rápidas,
que ser desenvolvido conectado às mais
o que vai ao encontro das expectativas
importantes necessidades do cida- dos clientes digitais. “Também temos
dão, tem que transformar a sua os princípios ágeis, de melhoria de
experiência. Prova disso fo- processos e melhoria de cultura junto
ram as transações da Cai- com o open source”, completou.
xa Econômica Federal
(CEF) relacionadas ao
auxilio emergencial.”
O Google traz
mais de 38 milhões
de resultados so-
bre open source
em segundos, e
a Red Hat tem
tido desafios

freepik
13

Construindo
uma estratégia Código aberto como aliado
de cibersegurança:
nenhum tráfego é para simplificar, acelerar e
inerentemente confiável
Cinco passos devem ser seguidos na
modernizar a proximidade
construção de uma rede Zero Trust,
explica Rodolfo Mendes, engenheiro
de sistemas da Palo Alto Networks
com o cidadão
“Uma estratégia de cibersegurança
deve considerar que nenhum tráfego é Trabalho da SUSE é garantir
inerentemente confiável. Nesse caso, o a qualidade para entregar o
acesso a todos os dados ou ativos deve ser melhor serviço ao cidadão
aprovado por política”, explicou Rodolfo
Mendes, engenheiro de sistemas da Palo Alto
Networks (Enastic MP 20/08). “A tecnologia precisa ser aplica-
Ele disse que a confiança é uma da pelas pessoas e bons ser-
vulnerabilidade perigosa. “Porque o fato de vidores; e gestores estão em
confiarmos em algum acesso faz com que os busca de soluções que aju-
agentes maliciosos possam utilizá-lo para algo dem todas as instituições a
que não seja o correto”, explicou.
entregarem melhores servi-
Em cibersegurança, a estratégia utilizada é
chamada de Zero Trust, uma resposta para uma ços”, disse Cristiane Mara-
estratégia a longo prazo. Para explicar o modelo, nhão, presidente da SUSE
Mendes fez uma analogia com o serviço de (Enastic MP 20/08).
proteção a um presidente. “Quem é o presidente? Ela afirmou que atual-
Onde ele está e quem deveria ter acesso a ele?”, mente vivemos em constan-
questionou. Após fazer tais perguntas, num
te mudança, mas a diferença Três recomendações
segundo momento temos os controles permitirão
o acesso aos autorizados. Nesse caso, é preciso é a hiper velocidade. “São 29 a gestores públicos
monitorar controles, dados e acessos. bilhões de dispositivos conectados pre- Ela fez três recomendações para gestores
Numa arquitetura descentralizada com vistos até 2022, sendo 18 bilhões relacio- públicos. A primeira delas é: mais im-
diversas comarcas e data centers, ele ressaltou nados a IoTs (Internet Of Things), como portante do que a tecnologia é a visão.
que é importante ter confiança na arquitetura, carros conectados, máquinas, medidos, “Ou seja, o gestor público tem o mesmo
tendo listado cinco passos para a construção
wearables, etc.” desafio que qualquer empresário: visio-
de uma rede Zero Trust. Veja a seguir:
Segundo Cristiane, o código aberto nar”. A segunda é o uso dos parceiros
1) Definir superfície de proteção, ou seja, o que está disponível para que qualquer pes- tecnológicos como coinovadores. A ter-
se deseja proteger; soa participante possa contribuir. “Mais ceira está relacionada à capacidade de
2) Mapear fluxos de transação, conhecendo de 90% de tudo aquilo que conhecemos realização: o servidor público que tem
como acontecem os fluxos de comunicação entre em internet, servidores e modernização preparo espetacular.
usuários, colaboradores, apps e dados sensíveis; de apps é construído em comunidade. E “Todas as instituições se viram diante
3) Desenhar uma rede Zero Trust, na qual são meu trabalho como SUSE é garantir a de uma demanda nunca imaginada com
inseridos elementos capazes de identificar apps, qualidade para poder entregar o melhor a pandemia. Então, entraram nas nuvens
dados e quem está acessando através de um net serviço ao cidadão”. públicas ou privadas. A disponibilidade
generation firewall; Ela explicou que qualquer companhia, dessa arquitetura ou aplicações por servi-
4) Criar uma política Zero Trust, o que seria o seja pública ou privada, deve ter na agen- ço permitem a você subir rapidamente e
passo mais complexo porque, segundo Mendes, da da liderança o simplificar, modernizar escalar a aplicação que antes atendia mi-
as políticas são complexas de se gerenciar; e acelerar. “Hoje temos MPs que usam lhares de pessoas para milhões. Quando
5) Monitorar e manter a rede, avaliando de forma a SUSE para expandir a capacidade de vejo quão crítico é o serviço do MP pres-
contínua e usando tecnologias emergentes armazenamento e gerenciamento da in- tado ao cidadão, vejo a SUSE suportando
como machine learning e IA para responder fraestrutura”, contou. essa capacidade de escalar.”
rapidamente às ameaças.
14

Como manter a segurança


da informação diante de
rápidas transformações
Marcelo Gobbo Dalla Déa,
desembargador do TJPR,
fala sobre como diminuir
os riscos em uma realidade
totalmente diferente como a
da pandemia
“Não estávamos preparados para enten-
der que não temos o domínio do mundo
como gostávamos de pensar”, disse Mar-
celo Gobbo Dalla Déa, desembargador
do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR)
e presidente do Comitê de Governança
de Tecnologia da Informação e Comu-
Marcelo Gobbo
nicação, ao tratar de segurança da infor-
mação em tempos de pandemia (Enastic
arquivo pessoal
MP 19/08).
“Temos que ver o que aconteceu no da estrutura no país inteiro. Essa é pri- tivas de invasão externa por dia. Mas com
país e no mundo de novembro para cá, meira questão relacionada à segurança”. 17 mil funcionários em home office dentro
quando começou-se a suspeitar que havia de VPN, como vamos organizar isso na
algo errado na China. A partir de mar- Cuidados com usuários externos conduta diária dos usuários? Posso ter 17
ço, fevereiro na Europa, o mundo mudou e internos mil falhas de segurança criadas da forma
por completo. Como trabalhar em um De acordo com Dalla Déa, a segurança da mais inocente possível, desde spam, que é
ambiente absolutamente digital em re- informação sob qualquer ótica tem dois o carro-chefe, porque as pessoas clicam.”
alidades diferentes? Em 48 horas foram problemas: outside wall e inside wall, ou Dalla Déa explicou que é preciso defi-
colocados 17 mil servidores e magistrados seja, o usuários externo e interno. “Com nir o que cada um pode acessar. “TI é cál-
em home office. Temos tribunais totalmen- relação ao externo, há a questão dos ata- culo, é matemática pura. Isso exponencia
te digitais como os do Paraná, mas outros ques, que dependem de infraestrutura e nossa capacidade de segurança e rastreio
estados não estavam preparados”, disse. firewall parruda, capaz de deter ataques. de log. E poder rastrear todos que acessa-
Ele citou que o Tribunal Regional É um equipamento bem caro. O que se ram também é uma política de segurança.”
Federal da 1ª Região (TRF1) estava em gastava em papel se gasta em TI e não O desembargador acredita, porém, que
processo de digitalização do acervo; en- adianta querer ter um sistema de geren- é preciso ter em mente que a tecnologia
quanto o TRF4 já estava preparado. En- ciamento de processo de última geração avança mais rápido do que a nossa capa-
quanto isso, o TRF3 ainda contava com sem infraestrutura que o suporte.” cidade de entender seu avanço; e é preciso
parte em meio físico. “Os Ministérios Já o inside wall, o usuário interno, é que o usuário também aprenda a explorar
Públicos seguiram na mesma toada. Não bastante preocupante, segundo o desem- as ferramentas, o que também ajudaria
existia uniformização da infraestrutura e bargador. “Temos na média 1.200 tenta- com relação à segurança.
15 Seção 2 - Inovação, comportamento e cultura |

De sessões de
conciliação a
depoimentos por
Videoconferência como
libras, Paulo Cardoso,
head de video
collaboration da
nova plataforma de
colaboração pública
Logitech no Brasil,
apresenta aplicações
da ferramenta

A pandemia fez com que tecnologias dis-


poníveis fossem implantadas rapidamen-
te e a videoconferência já está envolven-
do todos os órgãos públicos, disse Paulo
Cardoso, head de video collaboration da
Logitech no Brasil (Enastic MP 21/08).
Segundo ele, essa tecnologia já estava dis-
ponível, mas não era utilizada porque era
preciso convencer o topo da pirâmide, a
parte mais alta da Justiça.
“De repente todas as sessões judiciais Cardoso
começaram a ser feitas por videoconferên-
destacou
cia”, ressaltou. No dia 14 de abril de 2020,
por exemplo, houve a primeira sessão de
movimentos
videoconferência no Supremo Tribunal observados
Federal (STF). na pandemia
A videoconferência tem muitas apli-
cações, afirmou, como: sessões de con- Teleaudiência: “Sempre
participamos muito de
ciliação, especializações e seminários;
conferências e reuniões sobre
audiências de instrução; depoimentos e isso. A questão da economia
audiências em presídios; credenciamento de custos para o estado
de advogados da OAB; depoimentos por é um fator relevante e o
libras; júri virtual, depoimentos de crian- deslocamento de escolta não
ças, etc. “Estamos vendo também uma é mais necessário”;
‘nova toga’ digital. Com home office judi- Coworking: “Acredito que
ciário será difícil considerar que esse pro- quando a pandemia acabar,
cesso não será híbrido”, disse. teremos que compartilhar
Cardoso explicou que a pandemia exi- “O que fazemos é oferecer solução a espaços do governo”;
giu um volume intenso de equipamentos qualquer lugar e hora. Temos, por exem- Homeoffice.gov: “Também
para as instituições, e que a Logitech con- plo, a solução de sala de audiência portá- já é uma realidade do
seguiu prestar atendimento por conta de til, que permite mais flexibilidade porque governo. Tenho um número
dois fatores: o primeiro, por ter estoque no pode ser levada para ao juiz participar da de R$ 500 milhões em
Brasil e um profissional em Brasília aju- sessão em um sua casa por exemplo. Outra economia governamental com
deslocamento, café, almoço,
dando e já atendendo algumas demandas; coisa é a IA aplicadas às soluções, onde dá
etc. Vemos que faz sentido
e o segundo, porque investiram em equi- para fazer enquadramento, melhorar a luz, continuar e a videoconferência
pamentos plug and play USB, que os pró- ganhar áudio sem ter que ter microfones resolve esse problema.”
prios usuários conseguiam instalar. posicionados”, detalhou.
16

Revolução das criptomoedas e fintechs:


Impactos na regulação
e segurança jurídica
Cenário complexo
de rápidas mudanças
Danilo Takasaki Carvalho
elpídio junior

exige criatividade e
inovação do poder (BC)
público
É necessário cooperação
“Cresce em todo mundo o
investimento na área de tec-
entre autoridades
nologia financeira, com a reguladoras”
febre das criptomoedas, em
especial os bitcoins, e com “Vamos imaginar um jovem investidor com uma houve profusão de iniciativas, como aplicativos de
o surgimento das fintechs”, ideia simples para revolucionar as finanças. empresas de pagamento que permitem contas de
contextualizou a procuradora Ele precisa usar muita tecnologia e contar com pagamento digital, cartões gratuitos, etc.
Rita Nolasco (PFN) na aber- alguns amigos para dar sequência à ideia. Eles “Hoje estamos falando de open banking
tura do painel “Criptomoedas ganham rápida notoriedade e as pessoas começam por exemplo, que é quando seus dados e seu
e fintechs: regulação e segu- a aderir. Mas, com a notoriedade, recebem a comportamento com o dinheiro – que hoje estão
rança jurídica” (Enastic AGU, visita do poder público pedindo explicações. Essa sob controle da instituição – passam para o
03/07). Ela lembrou que o situação hipotética pode ser a realidade de muitos seu controle se você autorizar. Dessa forma,
setor financeiro tem passado empreendimentos dedicados ao sistema financeiro”, outros prestadores de serviço podem te ajudar
por grandes transformações disse o procurador. a administrar melhor as finanças e há mais
e é foco de muitas discussões Ele explicou que, em todos os países, os competição no sistema”, explicou.
necessárias. sistemas financeiros costumam ser muito regulados, O procurador também citou o sandbox
O painel contou com a mas disse que os avanços tecnológicos têm regulatório, que é quando a autoridade concede
participação de Danilo Taka- provocado mudanças às quais esses sistemas autorização temporária específica para o
saki Carvalho, procurador do não ficaram imunes. “Como o poder público e as empreendedor colocar uma ideia para funcionar. “É
Banco Central; e Ana Paula autoridades regulatórias podem trabalhar nesse necessário muita cooperação entre as autoridades
Bez Batti, procuradora da Fa- cenário complexo de transformações tão rápidas? A reguladoras. Temos o exemplo interessante do
zenda Nacional. Ambos trou- resposta não é simples, mas envolve flexibilidade, Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco
xeram para o evento reflexões criatividade e muita operação”. Central (BC) unindo forças para baixar em resolução
sobre mudanças no mercado Carvalho lembrou que, entre 2005 e 2010, as conjunta regras básicas para o open banking
financeiro nos últimos anos e grandes bandeiras de cartões criavam maquininhas funcionar no país. Essa experiência tem que ser
também informações e ques- de pagamento exclusivas. Após pressão do BC, reproduzida e poderia envolver todos os órgãos
tionamentos relacionados às elas passaram a ser interoperáveis. Em 2013, foram do sistema financeiro no momento apropriado e
criptomoedas nas áreas de se- estabelecidas as bases regulatórias para arranjos necessário. Isso é necessário para sermos capazes
gurança, liquidez e regulação. e instituições de pagamento. E, de lá para cá, de enfrentar os desafios da modernidade”, disse.
17

Palavras
do amanhã:
arquivo pessoal

Você sabe
quais são?
Ana Paula Bez Batti “A palavra Selfie foi usada
em 2002 na Austrália, mas
(Fazenda Nacional)
só em 2013 começou a
crescer. Cresceu 17.000%
naquele ano. Antes
Novas tecnologias aumentam usávamos autorretrato. E
agora falamos tanto essa
inclusão, mas podem abrir palavra que até mudou
caminho para atividades ilícitas” nosso fator de escolha. O
primeiro iPhone, por exemplo,
nem tinha câmera frontal”,
De agosto a dezembro de 2019 foi reportado à da sua conta está com a exchange, não com contou o head de inovação
Receita Federal o montante aproximado de R$ você. Então o que você tem na conta é um e novas tecnologias da
10 bilhões envolvendo bitcoins e criptoativos, direito creditório.” No caso da exchange Positivo Tecnologia, Roger
Antonio Finger (Enastic AGU,
segundo a procuradora Ana Paula Batti. Ela descentralizada, Ana Paula lembrou que a
02/07). Sua palestra sobre
apontou que, apesar das novas tecnologias plataforma permite negociação direta entre techwords tratou de palavras
aumentarem a inclusão financeira, elas também quem quer comprar e vender. do futuro. O conteúdo
podem abrir caminho para o financiamento de pode ser encontrado na 1˚
atividades ilícitas. E com mitigar essa questão? No contexto nacional, Ana Paulo explicou que edição da Revista Expojud
“Um dos conceitos é fazer uma abordagem o que se tem hoje em termos regulatórios são: ou diretamente no vídeo do
evento disponível no canal
baseada em risco para garantir que medidas
do Judiciário Exponencial no
de mitigação e prevenção de risco de lavagem • Nomenclatura do IBGE (CONCLA 6619 3-99), Youtube.
de dinheiro e financiamento de terrorismo um mapeamento para saber risco;
com esses novos ativos sejam adequados”,
explicou. • COAF (artigo 11 da Lei n˚ 9.613/1998), que
No caso dos ativos virtuais, como bitcoins trata do reporte de transações suspeitas, mas o
ou criptomoedas, que estão dentro das novas problema envolvido é que a exchange pode ser
tecnologias, Ana Paulo explicou que são notificada ou ser notificante;
transacionados eletronicamente e utilizam
criptografia e tecnologia de registro distribuído. • RF (IN n˚ 1888/2019), que traz vários
“Podem ser usados como transferência de valor, conceitos mais tributários;
investimento ou acesso a produtos e serviços.
Embora existam boas práticas, não havendo • Comunicado do BC, que é um alerta de
definição de um órgão que faz a supervisão, investimento apenas (31.379/2017);
não temos como aplicar medidas efetivas”.
Ana Paula explicou a diferença entre as • CVM, que tem instruções regulativas,
exchanges centralizadas e descentralizadas como o sandbox regulatório, além de instrução
usadas nas operações com criptomoedas. “A que fala que fundos brasileiros podem aplicar
centralizada é mais arriscada porque o valor indiretamente em fundos de criptoativos no
fica concentrado na carteira da exchange, exterior. Fora isso, há instruções do GAFI para
que não é regulamentada. A chave privada aplicações em exchanges.
18

Transformação digital pós-pandemia:


TI trabalha para o
“novo normal” há anos
Ronan Damasco, diretor nacional de Tecnologia da Microsoft no Brasil, diz que
para a área de Tecnologia da Informação esse “normal” não é tão “novo” assim

Experimentamos, durante a pandemia de


Covid-19, aspectos que ajudam a determi-
nar o futuro, afirmou Ronan Damasco, di-
retor nacional de Tecnologia da Microsoft
no Brasil. “Muita gente diz que avançamos
cinco anos em três meses com relação à tec-
nologia (...). Em TI a gente diz que esse nor-
mal não é tão novo e já é muito normal, pois
vínhamos trabalhando nisso há alguns anos”,
ressaltou, referindo-se ao que podemos es-
perar do “novo normal” no pós-pandemia
(Enastic AGU 02/07).
O que mais foi visto nesse período pan-
dêmico foram negócios que se fecharam,
observou Damasco, mas também muitas em-
presas se adaptaram rapidamente e respon- Ações da Microsoft
deram aos desafios. “Vimos sessões plenárias A Microsoft não foi tão afetada pela pandemia, ressaltou o diretor, mas aprendeu
no TCU on-line, aulas virtuais; e um estudo bastante no período. Ele explicou que a empresa deu poder para o usuário criar
soluções. Já na área da Justiça, explicou que a organização tem uma visão em
da Aneel que mostrou aumento da produti-
três fases e diferentes níveis de maturidade.
vidade, o que derruba mitos sobre trabalho
remoto.” Ele afirmou ter ficado claro que as 1. Sistemas de 2. Sistemas 3. Sistemas de
empresas que já estavam mais avançadas com gravação e captura de engajamento, inteligência para
relação à transformação digital puderam mi- voltados à integrando transformar dados
digitalização soluções em insights
tigar melhor os efeitos da pandemia.
O diretor citou uma pesquisa da revista
Fortune publicada recentemente, feita com O palestrante também citou quatro Damasco ressaltou, ainda, a
presidentes das 500 maiores empresas do grandes frentes na área da Justiça: necessidade do uso responsável e
ético quando se trata de tecnologia,
ranking da publicação. Segundo o estudo, dis- citando a Inteligência Artificial, por
1. Plataforma digital de justica
se Damasco, 25% dos CEOs acreditam que exemplo. “Não podemos abrir mão
2. Sistema de audiência virtual dessa tecnologia [a IA] porque
sua força de trabalho não vai mais voltar para
3. Sistemas de recomendações eventualmente vamos usá-la mal.
o escritório, e mais da metade dos presidentes
(sentenças, pareceres) Por isso a Microsoft apoia o uso
acredita que as viagens de negócios não serão responsável e iniciativas que visam
4. Sistemas correcionais
retomadas em nível de antes da pandemia. à regulação.”
19

Tecnologias verdes:
a inclusão da sustentabilidade
na lógica do Direito
Parar procurador federal Marcelo Kokke, processos judiciais cartesianos precisam ser repensados

Para o procurador federal Marcelo Kokke, O custo de recuperações ambientais recuperação. “Nosso padrão de reparação
a tecnologia não é a resposta para tudo e Ele citou, como exemplo, uma situação ambiental não pode ser validado com um
tem seus limites. Segundo ele, teremos que em que o custo de uma descontaminação caso restrito, mas com todo o benefício
repensá-la em uma lógica de tecnologia gere um prejuízo ambiental maior ainda. gerado”, sugeriu.
verde, não como algo que pretenda superar Seria o caso de uma pequena cidade que, Esse desafio se soma a outros, disse. “A
os bens ambientais, mas que se agregue a após sofrer o dano ambiental, necessite de mineração, por exemplo, deve ser repara-
eles. “Para isso é preciso romper com me- um fluxo de grandes caminhões passan- da porque causa dano ambiental. Mas, em
andros do cartesianismo”, disse (Enastic do 100 vezes por dia para que seja feita a lógica de tecnologia verde, os carros elétri-
AGU 01/07). cos vão depender de lítio e, para isso, pre-
Ele fez menção aos “Os Jetsons”, a fa- cisaremos de mineração de lítio. Às vezes,
mília dos desenhos animados que vivia no ações judiciais olham para o impacto da
espaço, para explicar como que, na década mineração de lítio pensando só na mine-
de 1980, havia uma perspectiva de futuro ração e não no produto que permitirá um
centrada na tecnologia, um cientificismo impacto futuro menor”, complementou.
a partir do qual a tecnologia superaria a Para Kokke é preciso romper a imagem
necessidade de meio ambiente e os pro- de que o Direito pode tudo. “Nos EUA,
blemas ambientais seriam superados com a Doutrina Chevron diz que não cabe ao
ela. “Alguém se lembra de alguma árvore Poder Judiciário interferir, invadir searas
ou rio em ‘Os Jetsons’?”, indagou. Marcelo Kokke
científicas e regulatórias próprias dos ór-
Segundo Kokke, os processos judi- gãos de gestão”, ressaltou.
arquivo pessoal
ciais são cartesianos, delimitam o campo
de análise e recortam empreendimento e
atividade no mundo. “O Direito é capaz
de criar um ‘mundo próprio’ e uma lógica
cartesiana que rompe com a análise ho-
lística e compromete a tecnologia verde e
a lógica ambiental. O Direito ignora pa-
drões científicos de nossos técnicos e passa
a analisar os casos com base em suporte
próprio”, afirmou.
freepik
20

Abertura à inovação: Passos para se


tornar exponencial,
segundo Piccoli:

Comece revendo
1. Não faça parte do sistema
imunológico que barra a
inovação
2. Seja protagonista e

seu mindset
intraempreendedor
3. Experimente a melhor
forma de aprender
4. Questione o tipo de
experiência que quer deixar às
pessoas
5. Conecte-se e esteja aberto
Ademir Piccoli fala sobre tendências e destaca a trocar conhecimento
as 7 premissas para acelerar a inovação e a 6. Procure novos caminhos
transformação digital no Ecossistema de Justiça e métodos para resolver
problemas
7. Considere que sozinhos
andamos rápido, mas juntos
vamos mais longe

Não é possível inovar com o mesmo pensamento, por


isso, o primeiro passo para a inovação é mudar mindset
(modelo mental) tradicional dominante, disse Ademir
Piccoli, advogado, ativista de inovação e CEO do Ju-
diciário Exponencial (Enastic, AGU 01/07). Ele citou
a frequente abordagem de Salim Ismail, autor do livro
Organizações Exponenciais, sobre a existência de um sis-
tema imunológico que barra a inovação. Piccoli abor-
dou as sete premissas para acelerar a inovação e a trans-
formação digital do Ecossistema de Justiça, que são
citadas em seu livro Judiciário Exponencial. Veja abaixo:
21

Inovação multidisciplinar:
Cultura digital:
“É preciso saber e contemplar várias habilidades e
“Não existe transformação
características complementares. Há maiores chances
sem que se comece a trabalhar Cidadão no de se chegar a soluções inovadoras quando as pessoas
a cultura da instituição” centro: “O cidadão têm múltiplos conhecimentos e habilidades”
precisa ser o foco,
já que é a razão do
Liderança: ecossistema existir” Atuação como
“É preciso plataforma:
o patrocínio “Deve-se
da liderança, estimular a
assim como sua competição e a
participação e bonificação para
acompanhamento a sociedade
no processo” participar e
contribuir com
criatividade e
inovação”
Judiciário 4.0: “Não há solução pronta e Ecossistema: “Checar o que
as instituições precisam ouvir empresas e outras instituições estão fazendo é
trabalhar a quatro mãos para pensar em essencial para começar a acelerar
como podem construir algo para trazer a partir do que foi feito. Ou seja,
tecnologias e resolver problemas” não precisamos reinventar a roda”

Para inovar, é
preciso estarmos Tendências
preparados a Piccoli também tratou de tendências, explicando que há mais de dez anos elabora
aprender a um relatório e compartilha com sua rede. Neste ano, foram acompanhados os
desaprender principais movimentos e tendências apresentados pelos institutos Gartner, IDC,
Forrester, Deloitte, Singularity University e Fórum Econômico Mundial e cruzado o
Ademir Piccoli
que há de comum no que eles apresentaram. São eles:

1 4
A inovação será um É necessário o
acelerador para o processo aprimoramento digital do
da transformação digital. principal ativo de uma
Ela se impõe e é preciso instituição: as pessoas
criar estratégias

2 5
É importante alinhar a As experiências digitais
estratégia digital com a devem ser desenhadas sem
estratégia de negócios perder a conexão humana

3 6
As tecnologias são É inevitável a adesão à
ferramentas para Inteligência Artificial, que
enfrentar desafios da é considerada a tecnologia
sustentabilidade das oportunidades

Piccoli salientou que, para inovar, é preciso estarmos preparados a


aprender a desaprender. Ele citou um estudo da Harvard Business
Review que mostrou que, para desaprender, é preciso reconhecer que
o modelo atual não é mais eficiente, encontrar um modelo novo que
possa gerar melhor resultado; e criar novos hábitos mentais.
22

Covid-19:
Segurança da
informação: do
ambiente corporativo

Como repensar a resiliência


ao home office
Ameaças podem ficar ocultas por

nas organizações?
meses sem que analistas percebam,
diz Arley Brogiato, diretor para
América Latina da SonicWall

Em tecnologia, resiliência está relacionada ao uso de Como manter a segurança se agora o


ambiente de trabalho não é mais o da
mecanismos escaláveis que possam se adaptar a falhas e empresa? A exposição maior ao risco de
incidentes, diz Rodrigo Uchôa, diretor da Cisco do Brasil funcionários em home office foi foco da
apresentação de Arley Brogiato, diretor
para América Latina da SonicWall (Enastic
A pandemia de coronavírus trouxe mu-
danças gigantescas relacionadas à inova- 5 passos para trabalhar AGU 03/07).
“No passado não muito distante estava
ção, por isso é preciso moldar o novo nor- dentro do “novo tudo centralizado. Você tinha controle,
mal no lugar de simplesmente aguardar o normal”, segundo Uchôa conseguia proteger os dados de qualquer
pessoa dentro de algo confinado.

1 Pessoas e cultura digital


que acontece. “O pior que pode acontecer
além das vidas perdidas é não aproveitar- Quando passamos as pessoas para home
office, perdemos o controle. Muitas
mos o momento para dar um salto”, afir-

2 distribuído e conectado
empresas tiveram que fazer com que
mou Rodrigo Cardoso Uchôa, diretor de Novo modelo de trabalho
usuários passassem a usar os próprios
digitalização e desenvolvimento de negó- dispositivos para acessar aplicações

3 Sistemas
cios da Cisco do Brasil, em sua apresenta- resilientes corporativas. Tudo é remoto, móvel,
ção (Enastic AGU 03/07). e seguros menos seguro. Isso gerou preocupação
Uchôa explicou que a Cisco foi pratica- grande para equipes de TI e segurança da

4 virtualizada e na nuvem
Infraestrutura de TI flexível, informação”, explicou.
mente convocada para atuar e ajudar os par-
Brogiato acredita que o custo da segurança
ceiros a formularem um plano para a crise. da informação tende a aumentar pela

5 Operações
Segundo ele, a questão era: “Como continu- de TI oferta. “Temos exposição maior ao risco
ar meu negócio em um momento de com- automatizadas dos funcionários e um orçamento limitado
pleta mudança, desestabilização e crise?”. porque ninguém previu o que ia acontecer.
A Cisco ajudou os clientes a usarem Há um gap grande. A quantidade de
pessoas que têm que oferecer suporte
ferramentas e também a educar pessoas empresa, do judiciário, da saúde, da edu-
aos remotos continua a mesma. E como
para um novo modelo de trabalho, mos- cação, etc., muito pouco foi feito ainda, fazer?”, questionou.
trando aos executivos que era possível principalmente na resposta aos incidentes. O diretor da SonicWall ressaltou que
manter os negócios de um novo jeito, Empresas e organizações ainda estão pou- em breve teremos o recurso 5G disponível.
explicou Uchôa. “Percebemos pessoas re- co estruturadas para responder a ataques “Estamos falando de mais poder de fogo
silientes que conseguiam se adaptar rapi- cibernéticos, por exemplo.” para quem quiser fazer qualquer tipo de
ataque ou ameaça. Em alguns casos, a
damente. Existem níveis diferentes de re- E para entender melhor a questão da
ameaça fica oculta em rede de dados por
siliência. Em tecnologia, está relacionada a resiliência no Brasil, a Cisco vem traba- oito meses sem que analistas percebam.
uso da nuvem, mecanismos escaláveis que lhando em um estudo com a Deloitte, dis- Se você não tem tecnologia adequada
possam se adaptar a falhas e incidentes e se ele. “Estamos avaliando alguns setores pode ter problemas”, alertou.
conseguir manter serviços inalterados na da economia, principalmente o governo, Ele afirmou que muitos pensam que
perspectiva do cliente.” para entender como foi isso durante a cri- segurança da informação e proteção de
dados são a mesma coisa, mas não é
Ele ressaltou que é preciso pensar em se e definir diretrizes de um plano de re-
bem assim. “A proteção de dados são
como construir daqui para frente uma cuperação numa fase que deve durar de 12 as garantias legais; e a segurança da
nova TI, sistemas escaláveis, resilientes a 24 meses. Depois disso, entramos numa informação é o que garante o ambiente
e seguros. “Para manter as operações da fase de transformação”, afirmou. seguro para o uso dos dados.”
23

Design para soluções de problemas:


pequenos entraves

freepik
podem parar
grandes
processos
Precisamos encarar a inovação com curiosidade e
abertura, diz Caroline Bucker, mestre em Educação
e diretora da Idealiza Tools & Methods

“Algumas coisas precisam dar errado para laboração com a gestão do conhecimento e
depois dar certo; e a gente precisa falar de atitude empreendedora para gerar inovação.
solução de problemas”, explicou a mestre em “Também devemos listar todos os proble-
Educação e diretora da Idealiza Tools & Me- mas, desde a falta de conexão à falta de pes-
thods, Caroline Bucker (Enastic MP 19/08). soas. Os problemas pequenos podem travar
Para ela, a questão é saber qual é o pro- processos. Depois é preciso definir priori-
blema que queremos resolver de fato, numa dades, registrar e compartilhar para gerar
tentativa de sermos mais felizes e não de feedbacks. Em seguida, deve-se envolver a
ter razão. “Precisamos encarar a inovação emoção para resolver problemas; e usar os
com curiosidade e abertura. Qual modelo problemas para exercitar a inovação.”
mental estamos usando? É um modelo em Em resposta à pergunta feita por Ade-
que tudo tem que ser igual ou é como um mir Piccoli, curador do evento e ativista
ecossistema diverso? A Inteligência Artifi- de inovação, sobre a adesão das empresas
cial (IA) vai dar solução para o que é pa- à metodologia, Caroline explicou que per-
drão. Precisamos encontrar um novo lugar, cebe adesão, mas ainda existe resistência
o da intuição, para fazer diferente.” por não acreditarem que a questão emo-
Caroline explicou que algumas orga- cional é importante em inovação.
nizações conseguem ativar mais a colabo- “Como agora há uma demanda brusca
ração. “Como gerar mais sinapses? Temos e geral, as organizações percebem o quanto
três cérebros. Na mente geramos insights não conhecem dos clientes, dos colabora-
e aprendizados; o intestino pode travar ou dores. Precisamos de empatia e também
desdobrar o que precisamos; e no coração, olhar para os problemas, que são novos,
nosso terceiro cérebro, estão as emoções.” para ter novas soluções. Precisamos co-
laborar, envolver mais áreas e competên-
Emoção para resolver problemas cias num mesmo momento. Aí o design Caroline Bucker

Ela acredita que é necessário conectar co- thinking e os métodos ágeis ajudam muito”.
arquivo pessoal
24

Empatia para a inovação:


Tornamos o outro invisível
quando não o observamos
Para Gabriel Carneiro
Costa, especialista em Como gerar empatia?
comportamento humano, Para Costa, para gerar empatia é importante
ter empatia é desenvolver perceber e acolher o sentimento do outro, dar
a habilidade de olhar permissão para a sua emoção. “Se alguém diz
que tem medo e eu digo “não tenha medo”
não adianta nada. Não estou entendendo o
“Somente nós podemos fazer uma que a pessoa diz, pois ela já está com medo.
Se eu digo isso, a pessoa continuará tendo
reflexão sobre quem somos nós.
medo, mas parará de me falar isso”. Também
Qualquer outro ser vivo não está em é necessário abrir espaço para o diálogo,
momento de pandemia, de mudan- conversas e perguntar como a pessoa se sente
ças. Animais estão sendo o que têm e o que gostaria que fosse feito para melhorar.
que ser, mas nós temos capacidade
de reflexão e podemos ser pessoas
diferentes se quisermos, isso tal-
vez nos colocou como dominantes
Obstáculos para a empatia, segundo Costa
no planeta”, afirmou Gabriel Car- • Competir pelo sofrimento Gabriel Costa Costa sugere o “amor sem
neiro Costa, especialista em com- legenda”, que seria o ato de
• Tentar ser mentor do outro e ensinar
dizer abertamente o que se
portamento humano e palestrante o outro a resolver o problema
sente para qualificar a emoção.
internacional em sua apresentação • Sentir pena do outro no lugar de Sugere cultura com mais elogios,
(Enastic MP 19/08). abrir espaço para o diálogo reconhecimentos e comemorações
Costa pediu para as pessoas que • Ser salvador, ser protagonista no ambiente de trabalho, o que é
assistiam à palestra pensarem na ida- • Desqualificar, ou seja, não raro. “A cultura ainda é do esforço,
de que têm. “Se você pudesse fazer conhecer os processos para criar do cansaço. Gostaria de propor
um diálogo melhor uma semente para o valor estar no
um contrato com Deus, que idade
resultado e não no cansaço”.
escolheria para morrer? Agora tire arquivo pessoal

desse valor a sua idade atual. Esse


número em anos é o que lhe resta 1) O processo de robótica deve alterar tia. O resultado é que o Brasil está entre
da vida desejada. Alguém conseguiu relações; os piores do mundo. “Ser empático, pelo
um número menor que dez? Nin- 2) O processo de IA estará entre nós; menos no Brasil, é inovar.”
guém costuma dizer que sim, o que 3) A sensibilidade e a educação emocional “Ao não observar o outro, tornamos ele
significa que temos muitos anos para devem crescer e precisamos aprender a ob- invisível. Essa é a pior coisa que podemos
melhorar. Quem eu quero ser diante servar mais uns aos outros: “Isso é empatia: entregar: fazer alguém se sentir invisível.
do que me acontece?”, indagou. é desenvolver a habilidade de olhar”, disse. Podemos perceber colegas que costumavam
O palestrante citou algumas falar, por exemplo, e não falam mais nas reu-
questões que já eram foco de debates Costa citou um estudo publicado no niões on-line. O senso de indiferença den-
antes da pandemia, mas que foram fim de 2018, no qual foram pesquisados tro de um grupo é o que adoece muita gente
intensificadas a partir dela: 62 países com relação à cultura de empa- em um ambiente de trabalho”, exemplificou.
25

Fernando Palácios Assim como o


petróleo, dados
precisam ser
refinados para
terem validade
A diferença é que o petróleo
é um recurso natural, finito;
os dados não, diz César
Ripari, diretor de Pré-Vendas
da Qlik para América Latina

“Assim como o petróleo precisa


ser refinado e transformado para
ter validade, os dados também
arquivo pessoal precisam. A diferença é que o
petróleo é um recurso natural,

Como instituições
finito. Os dados não.” A frase é de
César Ripari, diretor de Pré-Vendas
da Qlik para América Latina

de justiça podem se
(Enastic MP 21/08).
Ripari explicou que estamos
vivendo um período de
explosão dos dados; e eles são

beneficiar do storytelling
considerados o novo petróleo. “A
gente já começa sendo orientado
por dados desde o momento que
acorda. Um estudo do IDC prevê
que sejam quase 5.000 interações
triângulos na obra, por exemplo. “No caso
Enxergar estrutura invisível orientadas por dados por dia em
de livros, filmes e seriados também há es- 2025 [The Global Datasphere].
permite antever movimentos trutura invisível, assim como nos quadros. Somos orientados por dados a
do outro lado, afirma Os diálogos entre personagens nos filmes cada 20 segundos”, ressaltou.
Fernando Palácios, fundador são pensados para ser ação e reação, como Ele também citou pesquisa da
da Storytellers Brand ‘n’ Fiction uma luta de boxe. Quem vive em tribu- Qlik com a Accenture e o IDC, que
mostrou que 10% dos dados são
nal já sabe disso. É um ambiente propício
utilizados. A maioria permanece
“O que é um tribunal senão um duelo para contar histórias”, afirmou. intocada, já que a maior parte
narrativo?”. A questão, que fez menção ao Para o storyteller, quando conseguimos das organizações enfrenta
livro O Estrangeiro, de Albert Camus, foi enxergar essa estrutura invisível, é possível dificuldades para disponibilizar
colocada por Fernando Palácios, funda- antever movimentos do outro lado, enxer- dados acionáveis e transformá-
dor da Storytellers Brand ‘n’ Fiction eleito gar como a história está sendo montada. los em valor de negócios. “Um
terço dos executivos acreditam
duas vezes como World´s Best Storyteller “Quando um casal se divorcia, se a histó-
que poderiam tirar mais valor dos
(Enastic MP 20/08). Para ele, os tribunais ria tivesse só uma versão seria fácil, mas dados e não conseguem. Só 25%
e instituições de justiça são ambientes são duas narrativas, cada uma com seu deles conseguem tomar decisão
propícios para a contação de histórias. ponto de vista”, exemplificou. única com base em dados”,
Como exercício interativo, durante sua Nesse cenário, Palácios disse que está contou.
apresentação ele mostrou o quadro da sendo adaptada para o setor jurídico uma Dentro dessa jornada de
integração de dados, segundo
Santa Ceia, de Da Vinci, e pediu às pesso- ferramenta narrativa usada por roteiristas
Ripari, é preciso olhar para três
as que falassem a respeito de suas visões. O na composição de filmes e feriados. O ob- pilares: um de integração de
resultado foram olhares bastante variados. jetivo é levar o storytelling para os Minis- dados, outro de analytics e outro
Palácios afirmou que enxergava círculos e térios Públicos. de data literacy.
26

Cultura digital pós-coronavírus: Sociedade


deve ser

relação humana educada para


o digital
Niche afirmou que educar a

antecede o algoritmo
sociedade para viver neste
tempo de cultura digital
é tão importante quanto
a expansão digital. Para
o doutor em educação,
o Brasil terá que pensar
e repensar instituições
a partir da linguagem
da cultura digital. “É
fundamental que sejamos
mas pedagógicos, que
eduquemos não só os
colaboradores, mas os
gestores do sistema para o
uso da tecnologia”. Disse
ser importante se pensar
num processo de educação
ampla, que trate de ato de
cidadania inclusive para
a população, o que é um
trabalho árduo e denso,
porque são mais de 200
Brasil terá que pensar e repensar instituições a partir da milhões de brasileiros que
precisam não só usar, mas
linguagem da cultura digital, afirma Augusto Niche, doutor e ter acesso ao digital.
mestre em Educação e gerente de DHO da Summit - Tris & Artools “Teremos que ter
contato constante com
“A grande questão não é quão amigá- quem traz a vida instagramável ao Insta- pessoas, algumas ações
veis são as tecnologias, mas a finalidade gram, quem traz o discurso absolutista ao síncronas, on-line. Gostaria
de ver procuradores,
aplicada a elas”, disse Augusto Niche, Facebook são as pessoas. As tecnologias
juízes, advogados,
doutor e mestre em Educação e geren- são pontes. (...) Minha maior preocupa- desembargadores,
te de DHO da Summit - Tris & Artools ção em cultura digital continuará sendo conversando ao vivo
(Enastic MP 20/08). Ele afirmou que a pessoa que está no uso da tecnologia muitas vezes por
não estamos vivendo propriamente um aplicada”, afirmou. semana com cidadãos,
distanciamento social, mas físico, pois Com relação ao Poder Judiciário, Ni- escolas, universidades,
pais, famílias, para que
“o isolamento social já existia antes do che explicou que tende a haver cada vez
tenhamos uma sociedade
corona, marcado por desigualdade, por mais tecnologias fantásticas e fundamen- pedagogicamente mais
diferenças”. tais, mas é necessário que a ética esteja preparada, que é o que
Para Niche, a tecnologia, o hardware e presente nessa usabilidade. Para ele, se o chamamos de ética.
o software nada mais são do que pontes, Estado brasileiro focar no bem-estar so- O Judiciário ganha
sendo mais importante avaliar a usabili- cial, não há dúvidas de que não faltarão possibilidades de fazer
isso depois do coronavírus.
dade de cada um. “Queria lembrar que o “letramento e melhores condições para
Todas as empresas que
WhatsApp não trai; o Facebook não é colaboradores estabelecerem as pontes estão dando certo em
totalitário; o Instagram não quer a espe- necessárias para que pessoas possam vi- tecnologia entenderam que
tacularização da vida. Quem traz a usabi- ver melhor a partir dos serviços e produ- a relação humana antecede
lidade do WhatsApp para o bem ou mal, tos que o Judiciário tem a oferecer.” o algoritmo.”
27

Ao pensar a segurança no
trabalho remoto, primeira
linha de defesa está no usuário
Nycholas Szucko, diretor de cybersecurity para o sul da América Latina na
Microsoft, citou soluções como biometria, Zero Trust e regras de controle

Para tornar o trabalho remoto


mais seguro, é preciso não apenas Sugestões de Nycholas Szucko para minimização dos riscos
considerar que o usuário é o elo
• Ter cuidado com e-mails: • Entender que o ambiente é • Ter regras de controle:
mais fraco dessa dinâmica, como Ainda são o maior vetor de ataque. híbrido: Não teremos todas as Um exemplo é uma instituição que
se costuma falar, mas que a pri- Informações nas redes ou que pessoas em home office nem todas não tem colaboradores fora do
meira linha de defesa está no usu- estão em alta na mídia são usadas dentro da empresa. A segurança Brasil. Ela pode colocar regra de
ário, explicou Nycholas Szucko, para induzir o usuário a clicar. “Se deve permitir as duas possibili- acesso apenas dentro do território
diretor de cybersecurity para o sul a esmola for demais, desconfie. dades; nacional. Quem tentar acessar de
Coisas urgentes não vão por e- • Usar o Zero Trust: O modelo de fora, será bloqueado;
da América Latina na Microsoft
-mail”, disse; segurança de TI é uma abordagem • Considerar a biometria: É o
(Enastic MP, 21/08). Segundo
• Usar a criptografia: Quando um atual, disse. É preciso que se des- caminho e a maneira mais segura
ele, é preciso ter melhor postura e dispositivo é furtado, por meio da confie de tudo e de todos a todo de conseguir checar quem é
consciência para dificultar a vida criptografia o usuário consegue momento: “Tudo vai sendo checa- quem, desde a catraca que usa
dos cibercriminosos. expirar a chave; do a todo instante”, explicou. biometria facial a sistemas.
“Hoje, na Microsoft, visualiza-
mos que os usuários estão tendo
bilhões de reuniões por dia. Todo
controle que tínhamos nos data
centers, catracas e crachás não existe
mais. Você está expandindo a sua
superfície de ataque hoje”, afirmou.
De acordo com Szucko, são
precisos novos investimentos para
gerar nível de segurança. “Temos
o desafio grande de apagão de
profissionais e muitos profissio-
nais de segurança da informação
estão indo para proteção de dados
também”, explicou. Ele disse que
apenas usuário e senha não são
mais suficientes para garantir a
segurança. Uma das alternativas
é o uso de duplo fator de auten-
ticação. Além disso, a Microsoft
também lançou o Windows para
uso com biometria.
28| Seção 3 - Inovação na AGU

Por dentro da
Revolução Digital
A tecnologia pode ser o único
caminho possível para lidar com
um volume gigantesco de mais de
na AGU Caio Castelliano

um milhão de intimações por mês

arquivo pessoal
“Como lidar com o volume de um mi- sam acessar vários sites e sistemas.”
lhão de intimações por mês?”. Com essa Castelliano aproveitou para detalhar
pergunta, Caio Castelliano, advogado da as fases do fluxo judicial, explicando que
União e diretor de gestão estratégica da na fase 1, de intimação, existe uma meta Acesso a
Advocacia Geral da União (AGU) ini- ligada à transformação digital, que é a in-
ciou sua apresentação no primeiro dia do tegração com temas do Poder Judiciário. processos
Enastic AGU (dia 01/07). “Hoje é de pouco mais de 75%, na qual os administrativos
Para Castelliano, existiriam algumas
respostas para essa pergunta. Um dos ca-
volume dos tribunais e o nível da integra-
ção são considerados. A ideia é chegar em
judiciários
minhos seria contratar mais pessoas, outro 99% em 2022, com toda AGU integrada O advogado ressaltou que o próximo passo
seria tentar diminuir a demanda. Mas, se- ao Poder Judiciário. Talvez apenas não em é o acesso aos processos administrativos
judiciários, que ainda requerem
gundo ele, o único caminho realmente pos- Tribunais Regionais Eleitorais até lá.”
solicitação. “Da mesma forma que
sível para lidar com a questão do volume, Um exemplo de integração citado por encartamos o dossiê, a ideia é encartar o
que só aumenta, é o uso da tecnologia. E a ele, e que estava sendo colocada no ar no processo para advogado ver rapidamente.
AGU vem investindo na revolução digital mês do evento (julho/2020), foi com o E estamos trabalhando para juntar a ficha
desde 2012, quando o Sapiens, o Sistema Superior Tribunal de Justiça (STF). “Foi funcional do servidor público no nosso
AGU de Inteligência Jurídica, foi criado. publicado um Extrato de Cooperação dossiê administrativo também.”
Com relação à fase da produção da
“Bill Gates e Steve Jobs fizeram revo- Técnica entre os sistemas recentemente
peça. Castelliano explicou que também é
luções cada um à sua maneira. Na AGU, para viabilizar a integração”, contou. feita no Sapiens, que conta com um editor
esses dois são Mauro Baioneta e Eduar- Castelliano explicou que na fase 2 toda de texto e até ajuda com sugestões, tendo
do Lang, procuradores que são progra- distribuição é feita de forma automática por base o uso de Inteligência Artificial.
madores também. Eles conseguiram de- para os advogados da União através do Ele finalizou esclarecendo que o
senvolver um sistema que tem lastro de Sapiens. E, na sequência, as informações Sapiens já tem oito anos e que a ideia é
lançar, na virada do ano, o SUP, o Sistema
arquitetura tecnológica apropriado, mas que antes eram pedidas em papel, agora
Único de Procuradorias Públicas, que será
foi pensado no usuário desde o primeiro podem chegar de forma rápida até os ad- a versão 2.0 do Sapiens: 70% mais rápido,
momento. O sistema se chama Sapiens e vogados. “No caso do INSS, temos mais com nova arquitetura e visualmente mais
é ele que coordena todo fluxo de trabalho de dois mil acessos diários ao sistema para bonito. “O SUP (Sapiens 2.0) trará novas
da casa”, explicou. busca de informações dos beneficiários. ferramentas de gestão do conhecimento.
O palestrante destacou o fluxo judicial, Perdia-se muito tempo acessando os sis- A maioria das peças da AGU será feita
com auxílio de robôs. Vão sugerir para
no qual o Tribunal intima a AGU, que temas antigos do Instituto. Agora, o advo-
advogados, que farão checagem”, disse.
manda a intimação para o advogado que, gado não precisa mais fazer um procedi- Segundo ele, o sistema é tão avançado
por sua vez, busca informações, produz a mento para ter na sua instrução o relatório que as procuradorias procuraram a AGU
peça e junta no Tribunal. “Esse ciclo é co- ou dossiê. Isso economizou muitas horas para usar o sistema. “Muitos acordos
ordenado pelo Sapiens, que é uma solução de trabalho deles. São horas que sobram de cooperação são assinados para uso
ponta a ponta. Os advogados não preci- para nossa defesa judicial.” do SUP. É o uso muito mais racional dos
recursos públicos, inclusive.”
29

Um olhar sobre o Sapiens 2.0


Em nova versão, o projeto, que está
em constante aperfeiçoamento, é 4 pilares de apoio para o oferecimento
70% mais rápido e tem interface do Sapiens 2.0, segundo Lang:

1 3
focada em simplicidade Performance: Gestão do conhecimento:
O Sapiens 2.0 é Há um trabalho de construção
Um projeto em constante processo de aperfeiçoa- 70% mais rápido colaborativa do conhecimento,
mento. Assim o procurador federal Eduardo Lang que o sistema taxonomia por teses, de baixo para
falou sobre o sistema Sapiens 2.0 (Enastic AGU antigo; cima. “Produzimos conhecimento
01/07). O sistema já havia sido abordado na pa- a partir de modelos individuais que

2
lestra de Caio Castelliano, advogado da União e Experiência possam ser identificados pelas
diretor de gestão estratégica da Advocacia Geral do usuário: chances maiores de terem sucesso
da União (AGU). A interface foi de forma a serem elevados na
Lang atua como gerente do Sapiens e falou criada de acordo hierarquia”, explicou;
com conceitos de

4
mais sobre a nova plataforma que vem sendo
material de design Produtividade e eficiência:
construída. “Entre os desafios que se impõem à Uso de IA, robotização e gestão
do Google, focada
AGU no dia a dia, existem 30 milhões de proces- estratégica.
em simplicidade;
sos cadastrados e todos os dias acrescentamos 10
mil novos em nossa base. Com eles, são 500 mil
documentos para compor a massa documental que De acordo com Lang, as diretrizes do Sapiens 2.0 vão desembocar em
fica dentro do sistema Sapiens. A gestão de ar- entregas concretas, que são demandas de cerca de 20 mil usuários.
“Em 2020, os usuários querem um sistema com total suporte mobile,
quivos desses documentos impõe desafios e induz
que seja acessível em qualquer plataforma e device. Também
a produção documental mais eficiente”, explicou. precisamos dar praticidade ao usuário.”
“Nosso desafio é organizar a distribuição de traba- Em sua apresentação, o procurador ressaltou a busca de soluções
lho e dotar usuários de ferramentas para produzir para simplificar a vida do usuário com o uso de simples assinatura
mais e melhor. O sistema Sapiens 2.0 está sendo digital com usuário e senha; e suporte aos certificados em nuvem para
pensado em cima do sapiens 1.0.” assinar com celular via biometria. Ele também contou que o Sapiens
1.0 já vem desenvolvendo mecanismos de aprendizado de máquina; e
no Sapiens 2.0 está sendo usada uma tecnologia mais robusta, que é o
tensor flow, motor de Inteligência Artificial do Google.
Segundo Lang, foi arrecadado um volume de meta-dados muito
grande e criados conjuntos de painéis dos indicadores para mapear
e ter radiografia do desempenho da AGU em suas atuações no
contencioso, consultivo ou na cobrança de recuperação de crédito.
Outra inovação é o ecossistema que habita em volta do sapiens
2.0 em âmbito nacional. Hoje são 40 pessoas dedicadas ao projeto
no lugar de 5 ou 6 do Sapiens 1.0. “Demos um passo importante
além das fronteiras com o Acordo de Cooperação Técnica assinada
com 25 estados. Está sendo criada uma comunidade que vai usar um
sistema único. Estamos focando em conceito de APIs, que facilitam a
comunicação; e o sistema já nasce capaz de se comunicar com outros
Eduardo Lang 80 sistemas, como o do INSS, sistemas da economia, Correios, Justiça
Federal e do Poder Judiciário e muito mais”, explicou.
arquivo pessoal

Lang também tratou da cooperação efetiva com o Arquivo Nacional,


que tem dado apoio na verificação da segurança do sistema. “Mais
recentemente, o Ministério da Economia também abraçou o sistema e
tem disponibilizado recursos para expandi-lo além da esfera jurídica.”
30

Tecnologias para solucionar


conflitos, redes de
colaboração e gestão com IA
Procuradoras e especialista compartilham experiências com o uso de plataformas e ferramentas

Conflitos sempre existiram, as-


sim como ferramentas que ten-
tam ajudar a solucioná-los. Mas,
Liza Michelle de
arquivo pessoal

se esses mecanismos são antigos,


o uso da tecnologia não é; es- Andrade Tavares
pecialmente quando se trata do
Ecossistema de Justiça. E como
(AGU)
fica esse uso no momento atual?
O painel “Tecnologia na solução Revolucionário
de conflitos, rede de colaboração mesmo é trabalhar
e gestão com Inteligência Artifi- em colaboração”
cial” (Enastic, AGU 01/07), bus-
cou trazer luz a respostas para
essas e outras questões. “Vivemos em um mundo em que há sede e abrir convite à colaboração. Isso foi feito em
Participaram: Fernanda Su- de progresso e inovação. Essas tecnologias 2019”, contou, citando que recentemente foi
riani, procuradora federal da colaborativas trazem em sua essência um divulgada a PGF Conecta, que resolveu a falta de
AGU, mestre em Direito pela convite aberto para quem quiser colaborar”, concentração de informações importantes.
Universidade de Edimburgo e disse a procuradora federal e coordenadora de “Nesse momento, percebemos que a rede
doutoranda em Direito Proces- planejamento e gestão da Procuradoria-Geral de colaboração com metas e objetivos era o
sual Civil pela Universidade de Federal. caminho. Foi assim que surgiu também a PGF
São Paulo (USP); Liza Michelle Liza explicou que trabalhar de forma Labs, onde uma equipe vai desenvolver soluções
de Andrade Tavares, procurado- colaborativa não significa trabalhar sem tecnológicas e receber projetos novos.”
ra federal e coordenadora-geral objetivos. “O objetivo tem que ser o mesmo Liza ressaltou que a capacidade de se
de planejamento e gestão da para ser trabalhado em conjunto, senão a trabalhar em conjunto é uma das lições mais
AGU; e Demétrio Giannakos, evolução acaba sendo prejudicada”, ressaltou. importantes que a instituição vem aprendendo.
advogado especialista em Direi- E foi assim, segundo ela, que surgiu a PGF “Enxergamos também que a competição
to Internacional pela Universi- Tech, uma rede de colaboração para fomentar o sem foco não traz resultado. A competição
dade Federal do Rio Grande do desenvolvimento de tecnologias na instituição. gera retrabalho no meio público. Quando há
Sul (UFRGS) e mestre e douto- “Em 2017, quem tinha o conhecimento competição no sentido de quem consegue
rando em Direito pela Unisinos. de programação e um projeto de solução entregar algo antes, isso prejudica a instituição.
A moderação foi de Cristiane tecnológica se apresentava e esse projeto Revolucionário mesmo é trabalhar em
Iwakura, diretora da Escola da poderia ser selecionado ou não. Pensaram que colaboração, compartilhar, cocriar, englobar”,
AGU na 2ª região. Confira os a instituição poderia definir os projetos primeiro finalizou.
destaques de cada apresentação:
31
arquivo pessoal

arquivo pessoal
Mecanismos de
resolução de
disputa são antigos,
mas atualidade tem
Big Data”

Demétrio Giannakos Fernanda Suriani


(UFRGS) (AGU)
A Inteligência Artificial tem como conceito um jogo de
imitação que necessita da maior quantidade de dados Os mecanismos de resolução de disputa são antigos, mas a principal diferença entre
possíveis e repetições para funcionar, explicou o advogado a década de 50 e o momento atual é o poder de processamento e Big Data. Ou
especialista em Direito Internacional. “Toda vez que o ser seja, o uso da matemática e estatística para a execução de probabilidades, disse a
humano não conseguir diferenciar se está interagindo com procuradora. Fernanda também tratou do sistema Sapiens, explicando que ele gera
uma máquina ou uma pessoa, é porque a Inteligência Artificial
milhares de informações sobre o contencioso. “Temos uma série de sistemas sendo
conseguiu cumprir seu papel”, disse.
Dentro do contexto atual do panorama do Poder Judiciário, feita para facilitar o trabalho repetitivo que temos no contencioso de massa. Já é um
a IA teria papel relevante. “São mais de 80 milhões de passo além da automação.”
processos. Temos um Poder Judiciário inflado que não Com relação aos mecanismos de resolução de disputa existentes na história, ela contou
consegue dar respostas necessárias. Também temos um que o advento da internet trouxe as primeiras disputas por meio de listas de e-mails.
custo superior a R$ 90 bilhões e a União gasta em média Os conflitos dessa fase, que durou até 1995, eram resolvidos pontualmente.“Depois
2,6% do seu faturamento na manutenção do Poder Judiciário.
vem a fase experimental, de 1995 a 1998, quando universidades começam a pensar em
A Justiça Estadual gasta mais de R$ 50 bilhões por ano e
um processo dura em torno de 8,5 anos no Brasil”, contou mecanismos para essa resolução. E a partir daí, fala-se na indústria verdadeira de ODRs
Giannakos. Ele também citou uma pesquisa da Fundação (On-line Dispute Resolution), quando o comércio eletrônico ganha força e as empresas
Getúlio Vargas (FGV) sobre a confiabilidade do Poder percebem que precisam de mecanismos mais eficientes.”
Judiciário. “Somente 24% dos entrevistados consideram o A partir de 2002, segundo Fernanda, começa uma fase institucional, com a
poder como confiável”. incorporação de mecanismos privados pelo governo. E desde 2012 teria início uma fase
Nesse contexto, segundo Giannakos, a Inteligência
jurisdicional, quando governos começam a incorporar tecnologias em resolução de
Artificial tem sido direcionada a dois pontos importantes:
O primeiro, como auxílio na tomada de decisão do juiz; conflitos dentro do Poder Judiciário. “Passou-se a ver a tecnologia como uma quarta
e o segundo, na utilização nos processos de execução, parte, que vai ajudar a resolver o conflito. Discute-se se podemos falar de ODRs para
especialmente nos processos de execução fiscal, como o Poti algo apenas fora dos tribunais ou qual é o estado da arte hoje”, disse, lembrando que
no Rio Grande do Norte. o movimento surgiu da necessidade do comércio eletrônico.
O advogado também contou que, no final do ano passado, “O Ebay é um caso de sucesso de ODR. Foi um dos primeiros a desenvolver um
o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) já veiculou
sistema para resolver os conflitos que tinha. O Ebay faz procedimento escalonado e
uma plataforma, um algoritmo a ser implementado na
comarca de Tramandaí, que funcionará nas execuções fiscais, 80% não tem intervenção humana. Só tem se não se chega a acordo. O Modria está
sugerindo decisões ao magistrado quando for verificado que o sendo incorporado em vários tribunais ao redor do mundo e foi criado pelo criador do
título executivo já estiver prescrito ou houver problema formal sistema do Ebay.”
a ser sanado. “O algoritmo conseguiria reduzir imediatamente Fernanda ressaltou que a mudança da intervenção humana para a máquina nesses
20% da demanda dessa natureza”, afirmou. casos gera escalabilidade e redução de custo. “Sai da ênfase da confidencialidade
Giannakos também disse que se for possível constituir
e tem ênfase na coleta e análise de dados para prevenir e conter novos conflitos.
precedentes para o uso da IA, como no caso do Sistema
Radar, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), será Como o advogado entra neste contexto? Na AGU, ainda temos uma atuação tática no
possível conceder mais segurança jurídica. “A ausência desta contencioso de massa. Estamos incorporando essas ferramentas para sair do tático e
segurança é um grande incentivo para a massificação de ir para o estratégico. A função do advogado público vai mudar com essa adoção de
ações que temos hoje em dia”, opinou. tecnologia”, afirmou.
32

Inovações no Sistema de Justiça:


dos laboratórios às
redes de inteligência
Juízes ressaltam
importância da
Marco Bruno Miranda
elpídio junior

integração para a
realização de mudanças (JFRN)
sociais importantes
Habilidades colaborativas serão
O painel “Inovações no sistema essenciais para pessoas cumprirem
de Justiça: LIODS e redes de in- princípios da inovação judicial”
teligência no Judiciário” (Enastic
AGU, 03/07) recebeu quatro
“Falar de princípios da inovação judicial é falar • Cooperação judicial: “Extraído do próprio CPC ou
juízes federais para tratar do la-
de determinadas competências e habilidades que princípio da colaboração”;
boratório da Rede de Inovação e precisam ser verificadas dentro do Judiciário, em seus • Cocriação ou construção coletiva: “É o
Inteligência e também de outros juízes e servidores; e também entre os que trabalham princípio da norma jurídica cocriada”;
pontos. Participaram: Luciana junto ao Poder Judiciário, como advogados, advogados
• Experimentação: “É aprender a lidar com erro e
Ortiz ( JFSP); Daniela Tocheto públicos e membros do MP”, afirmou o juiz.
saber que existe racionalidade nisso”;
( JFRS); Caroline Tauk, (STF); e Para Miranda, é preciso construir soluções com foco
nas pessoas e não nos processos e na burocracia que • Cultura de simplicidade: “Deve ser o princípio
Marco Bruno Miranda ( JFRN). dos Juizados Especiais Federais”;
está entranhada em um ambiente de acumulação. “A
A seguir você confere alguns gente sabe o que precisa fazer, mas a gente não sabe • Centralidade no jurisdicionado: “O cidadão
pontos apresentados por eles em como fazer. E é daí que vem todo esse debate. Estamos deve estar no centro”;
suas participações. trabalhando nos princípios da inovação; e colaboração • Cultura digital: “É a ideia de Judiciário em
e cooperação são princípios próximos. É do surgimento nuvem, das cortes eletrônicas”;
de habilidades colaborativas que a gente vai precisar • Ética e validade digital;
para que as pessoas cumpram princípios que já estão
no próprio Código de Processo Civil”, afirmou. • Forma presencial versus forma digital: “A
pandemia está trazendo um novo momento e a Justiça
O magistrado apresentou os seguintes precisa ser acessível onde quer que o cidadão esteja”;
princípios da inovação judicial: • Comunicação judicial empática e inclusiva:
“A sexta vara tem desenvolvido trabalhos em visual
• Horizontalidade: “É a chamada hierarquia law que mostram como éramos distantes do cidadão”;
dialogada, que substitui cadeiras suntuosas dos • Diversidade e polifonia de ideias;
ambientes judiciais. O design deve estimular a • Sustentabilidade;
colaboração pela horizontalidade e a capacidade de
enxergar o próximo”; • Flexibilidade a adaptabilidade;
• Gestão judicial democrática: “É trabalhar • Independência judicial compartilhada:
realmente a construção de soluções de modo que “São criadas paredes de castelos feudais entre
todos possam ser ouvidos”; os tribunais e não trabalhamos em conjunto. Falo
aqui de Judiciário em rede e governança judicial
• Desburocratização; compartilhada”.
33
arquivo pessoal

Victor realiza em 5 segundos


o que um humano faria em
44 minutos”

“Por que o Judiciário brasileiro é um ambiente tão “O Victor pega processos de 92 tribunais, utiliza
favorável ao uso de novas tecnologias? Porque OCR (reconhecimento ótico de caracteres), converte
temos a maior quantidade de processos em em arquivo de Word, cataloga processo do início ao
tramitação do mundo: 80 milhões. A Índia, que fim, aprende caminho e, com base em tudo isso,
está em segundo lugar, tem 30 milhões. Desde analisando em conjunto com dados que já tem, indica
Caroline Tauk causas simples até crimes complexos, tudo se se aquele processo teria ou não repercussão geral”.
judicializa no Brasil”, salientou a juíza. O trabalho da ferramenta de IA é feito em 5 segundos,
(STF) O desafio, segundo Caroline, é mudar a ideia algo que, para um humano, levaria 44 minutos.
de que o Judiciário é a única porta de acesso à Caroline ressaltou que a indicação de Victor
Justiça. Um exemplo disso, segunda ela, seria sempre requer a aprovação de um ministro. “Essa
a plataforma on-line de resolução de conflitos supervisão humana é fundamental para auxiliar na
que vem sendo criada pelo Conselho Nacional de ética. Os sistemas auxiliam, mas nunca decidem em
Justiça (CNJ) em parceria com a Fundação Getúlio nome dos juízes”, disse.
Vargas (FGV). Nesse contexto, levantou a questão dos vieses
A juíza acredita que a Inteligência Artificial dos algoritmos, que é quando uma máquina se
pode ajudar muito o espaço judicial. Ela falou comporta de modo que reflete valores humanos
sobre a ferramenta Victor, criação do STF em implícitos nos dados, como considerar negros e
conjunto com a Universidade de Brasília (UnB). latinos mais perigosos. “Isso aconteceu nos EUA
“Ele tem um algoritmo e aprende a partir de porque uma máquina foi alimentada com dados
milhares de decisões judiciais já proferidas pelo que mostravam mais condenações de negros e
STF. Ao ler processos, aprende como ministros latinos. É importante não culpar os algoritmos,
e servidores decidiram e sugere com base mas controlar os dados que alimentam esses
nisso”, explicou. algoritmos”, ressaltou.

Daniela Tocheto As juízas federais Luciana Ortiz (JFSP) e Daniela


Tocheto (JFRS) também falaram de suas experiências
no mundo do Direito para tornar os serviços e sistemas
jurídicos mais centrados no ser humano, utilizáveis e
(JFRS) nos laboratórios de inovações em suas instituições, satisfatórios”, explicou Luciana, citando que desde 2016
o iJuspLab e o Inovatchê, respectivamente. Ambas é utilizado design thinking no iJuspLab.
também participaram da primeira edição do Expojud Segundo juíza Daniela Tocheto, um laboratório deve
Online (jun/2020) e seus relatos podem ser ter como pressupostos a diversidade de pessoas, o foco
encontrados na primeira edição da Revista Expojud. no ser humano e ser um ambiente dentro da instituição,
Luciana Ortiz O uso do design tem sido muito importante no mas deslocado da estrutura de gestão organizacional
contexto de transformação porque legitima o processo dela. Ela falou sobre a questão da horizontalização, que
(JFSP) democratico, disse a juíza Luciana Ortiz. O ponto central proporciona a democracia necessária. “Quando você
de sua fala foi sobre o uso da inovação para a construção entra no laboratório e conta com gente de pensamento
de um futuro sustentável. “Colocamos o cidadão no diverso, todos se sentem iguais, sem hierarquia, com
centro, fazemos processos cocriados e usamos para oportunidade de falar e exercendo escuta ativa. Isso é a
isso o design. O design jurídico é a aplicação do design legitimidade democrática”.
34

O potencial impacto no sistema de


precedentes com a virada tecnológica
O advogado Dierle Nunes mais visibilidade. Esse conjunto de dados
alerta sobre riscos de massivos pode ser usado para ensinar má-
um modelo de IA não quinas a aprender. É como se faz com uma
devidamente treinado criança. Se você treina a máquina com da-
dos equivocados ou não cria um modelo
decisor adequado, a máquina pode come-
“Vivenciamos um sistema de precedentes, ter um erro”, explicou.
em especial a partir do Código de Proces- Nesse cenário, o advogado alertou que
so Civil (CPC) de 2015, no qual temos a IA resolve problemas específicos, mas
busca de oferta, de racionalidade argu- não sabe o problema que está resolvendo.
mentativa, no qual se procura permitir “Ela trabalha com dados estatísticos, pa-
gerenciamento de litigiosidade repetitiva, rametriza e dá respostas. Esse resultado
garantir técnicas processuais na aplicação pode ser enviesado, como já acontece com
dos precedentes e uniformidade jurispru- Dierle Nunes um algoritmo que auxilia a justiça crimi-
dencial, além de busca de sistemas para nal nos EUA a fazer análise de risco para
arquivo pessoal
alcançar estabilidade, coerência e integri- saber se o criminoso pode ser libertado
dade”, salientou Dierle Nunes, advoga- gicos para resolução de conflitos (ODR) ou não. Um trabalho jornalístico realiza-
do, professor da Pontifícia Universidade devem ser inspirados pelo modelo que do nos anos de 2015 e 2016 mostrou que
Católica de Minas Gerais (PUC-MG) vem da iniciativa privada. “Não é sim- o algoritmo aumentava o grau de peri-
e doutor em Direito Processual (Enastic plesmente transferir a forma tradicional culosidade se estivesse diante de pessoas
AGU 01/07). de mediação, mas criar uma nova forma negras ou latinas, por isso os programas
Nunes explicou que nos tribunais on- de promover cognição. Mediante o uso têm que levar em conta desigualdades da
-line, a tecnologia começa a ser imposta, da tecnologia auxiliamos o cidadão a co- sociedade para não gerar vieses”.
seja para promover a virtualização dos nhecer os riscos do seu litígio. Depois, Ele também afirmou que uma das
processos ou para automação de ativida- mediante robôs auxiliando na resolução grandes críticas que se faz aos tribunais é o
des processuais, quando são usadas ferra- de conflitos, depois por profissionais e, em de não saber com muita clareza como de-
mentas que usam muito limitadamente a seguida, a etapa decisória. A própria tec- cidem. “E esse tipo de tecnologia, treinada
Inteligência Artificial, como o Victor do nologia pode ajudar o cidadão a conhecer com modelo adequado, pode oferecer pu-
Supremo e o Sócrates do STJ, que são seus direitos.” blicidade para estruturar efetivamente o
classificadores e permitem automatiza- Ele lembrou que a pandemia trouxe sistema de precedentes. Esse tipo de tec-
ção de um trabalho em segundos. aceleração de virtualização e também nologia pode permitir tanto transparência
“Mas começamos a trabalhar de outra envolveu os tribunais em etapas de au- do tribunal quanto uma análise preditiva
forma com tribunais on-line e Justiça Di- tomação. “Há o Sinapses em Rondônia, de como ele julga. Pode auxiliar também
gital. Primeiro, a pensar em formas de au- projetos no Tribunal de Roraima, do no juízo de admissibilidade, que de algu-
xiliar problemas envolvendo um conjunto Rio de Janeiro, Poti no Tribunal de Rio ma maneira é o que se tenta com emprego
de disputas que nós temos no sistema ju- Grande do Norte. Todos cumprem etapa do Victor, Sócrates e outras ferramentas.
rídico brasileiro, um conjunto de litígios de automação”. Pode permitir a pesquisa jurisprudencial
fruto de inoperância do executivo que vai Nunes também ressaltou a importância para além de uma análise booleana me-
exigir a busca de novos modos de resolu- da IA, que começa a ganhar força. “Com o diante análise semântica. Mas temos ris-
ção dos conflitos”. surgimento do Big Data, na primeira dé- cos grandes se o modelo de que vou me
Nunes afirmou que os meios tecnoló- cada dos anos 2000, a IA passou a ganhar valer não for devidamente treinado.”
35

Os desafios da
modernização
da infraestrutura
tecnológica no TRF1
Processos de outros sistemas vernanças de TI; atendimento ao usuário Ele também contou que o
estão sendo migrados para o de TI; e infraestrutura tecnológica. TRF1 abrange 90 unidades na
PJe; projeto estratégico está Silva ressaltou a necessidade de inves- Justiça Federal, e cada uma das
sendo revisto timento para tornar as ações reais e citou seções e subseções conta com
alguns projetos desenvolvidos pelo TRF infraestrutura. “Como modernizar?
O Tribunal Regional Federal da 1ª Re- nos últimos anos que permitiu que esti- Foram eleitas quatro ações
gião (TRF1) abrange 14 estados e 40% vessem na situação atual. Entre os proje- estruturantes:
da população brasileira. Não é à toa que tos citados por ele estão: 1. Expansão do PJe para todos os
existe um desafio grande relacionado à A descentralização da rede Wan: processos judiciais da 1a região;
territorialidade. “Somos uma única uni- “Tinha um custo de R$ 18 milhões por
dade de TI que desenvolve e provê ges- ano e descentralizamos essa rede. Hou-
2. Digitalização do acervo físico de
processos judiciais do 1a e 2a graus;
tão dos sistemas de serviços de TI para ve uma economia de mais de 50% e um
toda essa região”, explicou o diretor da incremento de 20 vezes em termos de 3. Migração para o PJe de todos
Secretaria de Tecnologia da Informação velocidade; os processos em tramitação dos
do TRF1, Lúcio Melre da Silva (Enastic Hiper Convergência com desativação sistemas legados;
AGU 02/07). de 73 storages e 146 servidores: “O ob- 4. Centralização de todas as
Além da questão da territorialidade, jetivo era tirar a infraestrutura local de bases judiciais e administrativas
ele contou que a 1ª região tem seis sis- subseções judiciárias, modernizando e no TRF da 1a região.
temas processuais. “Temos um foco no migrando diversos serviços. Foi finalizada
PJe, tanto é que estamos digitalizando e em 2019 e fizemos um trabalho intenso
migrando processos, mas existe um nú- para fazer recebimento e instalação dos
mero grande, 2,3 milhões de processos, equipamentos já em período de recesso;
tramitando em outros sistemas. Nosso Virtualização de servidores em parale-
desafio é migrar esses processos de ou- lo com a solução de Hiper Convergência:
tros sistemas processuais para o PJe. Já “Houve economia direta de energia elé-
são cerca de 310 mil processos que fo- trica. Os dados ainda estão sendo codi-
ram migrados e mais de 1,1 milhão de ficados.
arquivo pessoal

processos que já foram distribuídos no O diretor também mencionou o pro-


PJe”, explicou. jeto de Inteligência Artificial que está
Silva afirmou que foi elaborado um sendo desenvolvido em parceria com a
projeto estratégico que está sendo revisto. Universidade de Brasília. “Pretendemos
Lúcio Melre da Silva
“Temos quatro vertentes na Secretaria de utilizar de forma integrada ao sistema
Tecnologia: sistemas de informação; go- PJe”, disse.
36

A aplicação da inteligência
analítica e mineração de
dados na PGFN
São usadas desde ferramentas Quando lidamos com recuperação de crédi- devedores A e B, mostrando grau de pre-
tos, a primeira coisa é conseguir estabelecer cisão bom”, disse.
internas e proprietárias até
um grau de recuperabilidade, ou seja, iden- Saboia contou que, dependendo do per-
modelos open source, explica tificar o perfil desses créditos, de forma que fil, é possível aplicar uma estratégia dife-
o procurador da Fazenda consiga direcionar esforços a ele”, explicou. rente e mais adequada, inclusive primando
Nacional Daniel Saboia Saboia disse que o desenvolvimento ma- por estratégias consensuais. “Com os con-
temático se concentra na recuperação de tribuintes que têm histórico bom de adim-
O risco versus o retorno é o que pauta as risco, em relação à dívida ativa da União, de plemento, as estratégias de recuperação
ações da Procuradoria-Geral da Fazenda forma que a partir dessa classificação seja são amigáveis. Para contribuintes que têm
Nacional (PGFN) em políticas públicas, possível segmentar a carteira para concentrar histórico de tentativas de furtar-se ao pa-
disse o procurador da Fazenda Nacio- esforços naquilo que efetivamente interessa. gamento, as estratégias são mais gravosas.”
nal Daniel Saboia (Enastic AGU, 02/07). “Temos quatro classes de devedores, da Para aplicar inteligência analítica e técni-
“Dentro disso, as demandas dos serviços alta propensão ao pagamento à baixa pro- cas de mineração de dados, existem as ferra-
públicos são infinitas e os recursos finitos. pensão ou não propensão ao pagamento. mentas usadas na PGFN, que incluem desde
Com isso, 90% de tudo que recuperamos modelos open source, como linguagem Python
arquivo pessoal

com pessoas físicas, por exemplo, está nos e R, e ferramentas proprietárias e internas.

“Temos a PGFN Data, que é o ambiente de armazenamento e processamento distribuído que nos permite
armazenamento de grandes volumes de dados, o chamado Big Data.” O procurador citou em sua palestra
Daniel Saboia
técnicas e ferramentas que utilizam para lidar com os desafios apontados. Confira:
Visualização de dados: “Montamos painéis análise de informações em nossas bases de dados. que não cometem. Isso permite aos algoritmos
que permitem aos procuradores tomar melhores É assim que conseguimos enxergar quando há encontrar padrões. Também conseguimos
decisões em relação ao comportamento dos descompasso”; estabelecer correlações entre as variáveis. Assim
contribuintes. Dependendo do perfil, temos uma conseguimos aplicar algoritmos de mineração de
Estudo sobre o impacto da pandemia na
atuação específica”; dados, de aprendizagem não supervisionada e
atividade econômica por setor: “Verificamos
separar contribuintes por grupo. Ou usar algoritmos
Análise em redes sociais: “Também temos que alguns setores foram muito impactados, mas
de aprendizagem supervisionada para separar
possibilidade de aplicar técnicas de análise de também há os que foram beneficiados. A análise
padrões encontrados nos dados”;
redes sociais para entender relações e contextos de dados permite estabelecer políticas fiscais mais
das relações com outros contribuintes. A ideia adequadas; Inteligência Artificial: “Usamos algoritmos de
é ter processamento de dados grande para ter IA, as redes neurais, para tentar potencializar a
Mineração de dados: “Trazemos todo
condições de tomar decisões e aplicar técnicas de identificação de tipologias de fraude ou de risco.
processo de mineração para a PGFN, desde o
recuperação de crédito”; A partir daí, desse arcabouço que construí com
entendimento do negócio das nossas necessidades
uso de modelagens preditivas, consegui detectar
Estatística especial: “São técnicas até a implantação de modelos de mineração
padrões. No PGFN analytics, encaminhamos alertas
georeferenciadas para fazer análises e previsão do que permitam detectar padrões de fraude e
e padrões aos procuradores. Ou seja, existe uma
comportamento de contribuintes”; de comportamento. Conseguindo ver, a partir
inteligência que roda nos bastidores do sistema.
das análises das variáveis, que é diferente o
Análise setorial: “É a análise do comportamento Uma vez detectadas anomalias, gera trabalho dos
comportamento dos que cometem fraude e dos
do contribuinte frente ao seu setor a partir da procuradores, entrando em postura proativa”.
37 Seção 4 - Tecnologias nos MPs |

Sobreviver nos
Promotor de justiça do
MPSC e presidente da
ACMP, Marcelo Gomes Silva

tempos atuais é
ressalta que a inovação
deve ter o ser humano
como objetivo final

impossível sem É impossível falar em inovação sem


dizer que a pandemia acelerou esse

inovação
processo, fazendo com que empresas
e instituições tivessem que se adap-
tar aos novos tempos para sobreviver,
ressaltou o promotor de Justiça do
Ministério Público de Santa Catarina
(MPSC) e presidente da Associação
Catarinense do Ministério Públi-
co (ACMP), Marcelo Gomes Silva
(Enastic MP, 19/08). “E sobreviver é
impossível nos tempos atuais sem ino-
vação, sem tecnologia”, acrescentou.
Segundo o promotor, a inovação
não deve ser considerada algo com-
plexo e oneroso, que cria resistência.
“É simples se a encararmos como
uma mudança de rumo e de proce-
dimentos para atingirmos objetivos”,
disse, afirmando que, para inovar, é
preciso mudanças de paradigma e de
cultura. “A inovação não deve ser uma
reação, ainda que tenha sido durante
a pandemia. Ela deve vir como uma
Marcelo Gomes Silva mentalidade da empresa e da institui-
ção para que se encontre novos cami-
nhos de produtividade.”
Silva também lembrou que toda
inovação deve ter o ser humano como
objetivo final. “Estamos adaptando
procedimentos para prestar bom ser-
viço às pessoas. É nesse público que
precisamos pensar. São duas visões:
melhorar todo processo de trabalho
A transformação para gerar produtividade para quem
passa pela união está na ponta, mas também olhar para
da tecnologia com servidores e colaboradores para que a
inovação seja natural e não traga pre-
a cultura. Elas
arquivo pessoal

juízo a ninguém.”
caminham juntas
38

Movimento de
inovação ganha força
em MPs Brasil afora
Ministérios Públicos de PE, SC e RJ compartilham experiências e desafios ao inovar

Muitos Ministérios Públicos (MPs) brasi-


leiros já contam com experiências importan-
tes do ponto de vista da inovação e da cria-
ção de laboratórios para estimulá-la ainda
Roberto Arteiro
mais. Eles também já enfrentaram ou ainda (MPPE)
enfrentam diversos desafios relacionados à
quebra de paradigmas e mudança de cultu-
ra. No primeiro dia do Enastic MP (19/08), Pense grande, comece
essas instituições compartilharam suas his- pequeno e ande rápido.
tórias, aprendizados e cases de inovação em Esse é meu lema no
um painel. MPLabs”
Participaram: Roberto Arteiro, gerente de
inovação do Ministério Público de Pernam- O idealizador e cofundador do MPLabs, uma das produz ideias, soluções, inovação”, acrescentou
buco (MPPE) e idealizador e co-fundador referências entre os laboratórios de inovação Arteiro afirmou que a grande contribuição
do MPLabs; Guilherme Zattar, promotor de do Poder Judiciário, disse acreditar que fazer de laboratórios de inovação é discutir como
Justiça do Ministério Público de Santa Ca- inovação a partir de um laboratório de inovação fazer essa conexão. “Existem hubs de inovação,
tarina (MPSC) e coordenador do Núcleo de é pensar em como dotar instituições públicas da como os de PE, SC, SP, RS. Eles conectam
Inovação; e Daniel Lima Ribeiro, promotor capacidade exponencial de resultados. naturalmente organizações voltadas para
de Justiça do Ministério Público do Rio de “Como fazer a transformação digital? Como a inovação, sejam startups, universidades,
Janeiro (MPRJ) e coordenador do Inova_ fazer com que o MP saia da produtividade atual empresas de pesquisa, etc.”
MPRJ. A moderadora foi Juliana Marques, para um patamar exponencialmente diferente? Ele ressaltou o contrato com o parque
do Ministério Público do Rio Grande do Sul Não enxergo essa transformação sem o uso da tecnológico Porto Digital, que tem sido um
(MPRS). tecnologia intensiva”, disse. “Pense grande, conector de hubs para o MPPE. Por meio
“Qual é o papel do laboratório de inova- comece pequeno e ande rápido. Esse é meu disso, a instituição já promoveu três ciclos
ção dentro de um MP e como um promotor lema no processo de inovação”, acrescentou de inovação e segue rumo ao quarto. Cada
de justiça pode usar novas técnicas para me- Segundo ele, fazer inovação é conectar ciclo tem uma lógica, sendo que os desafios
lhorar a sua atuação?”, perguntou Juliana, em insights. “Entendemos que papel do laboratório são apresentados e as empresas submetem
meio às questões no início de sua moderação. de inovação é fazer conexão. Temos muita suas ideias. “É um processo de funil, seleção
Ela também estimulou os participantes a re- competência interna em nossos órgãos e de protótipos, MVPs e, se eles se mostram
fletirem sobre o quanto as organizações es- quando engajamos essas pessoas com capazes de resolver problemas, colocamos
tão preparadas para uma cultura de inovação. pessoas que não vivenciam os problemas, mas um investimento maior para transformar em
Confira os destaques: conhecem tecnologia, a gente efetivamente produto de inovação”, contou.
39

Inovação em sistema ‘sisudo’ não


se trata apenas de uma sala colorida.
É um processo de melhoria contínua”

“Olhando para trás, vemos que concluímos protótipos relacionada ao design, algo que precisa ser usado e
importantes. Também estamos felizes em ver o deveria ser matéria de todas as faculdades, em sua
movimento crescente de laboratórios de inovação no opinião. “É uma reinvenção de métodos tradicionais
Brasil”, afirmou o promotor de justiça e coordenador de pesquisa com técnicas de extração de boas ideias
do Inova_MPRJ. Ribeiro falou sobre a inovação em grupos de pessoas.”
Daniel Lima calcada na diversidade de conhecimento que é a Acrescentou, ainda, que a posição de trabalhar
aposta do laboratório da instituição. Lembrou que em um laboratório e buscar mudar a cultura da
Ribeiro o Inova fez um ano e agora passa por mudança de instituição não é fácil. “É saber que você vai ter que
(MPRJ) gestão, o que traz uma “insegurança positiva”. abraçar o erro e, muitas vezes, vão achar ridículo, vão
Sobre os aprendizados obtidos, disse que a criticar, não vão se envolver. Tem um crescimento
inovação, num Sistema de Justiça “sisudo”, não se pessoal nisso de se esfolar e contribuir para o
trata apenas de ter uma sala colorida. “Ela é um desenvolvimento da sua instituição”, brincou. Ele
processo, uma estratégia de ideação para um objetivo acredita que a linguagem é uma barreira importante,
específico, que é a melhoria contínua”. Além disso, por isso, com o objetivo de simplificar, o Inova aboliu
ressaltou que a técnica de inovação está muito o uso do inglês nos termos.

Movimento iMPulso visa estimular


cultura da inovação no MPSC”
“A Inovação está no DNA do MPSC antes mesmo diferente para fazer melhor.
da Constituição de 1988, quando já havia um “Temos tido sucesso na montagem de
núcleo de direitos difusos. O que fizemos hoje esquadrões para projetos inovadores. Um exemplo
foi dar nome para o que sempre foi feito”, disse é a Catarina, que teve desenvolvimento próprio a
Zattar. Ele explicou que, em 2019, foi iniciado na custo zero de investimento, somente o custo de
instituição o movimento iMPulso e, em 2020, o mão de obra dos servidores da casa. Esse projeto
laboratório. saiu do zero a 100% da primeira fase de entrega
Guilherme Zattar Segundo ele, foram definidas duas estruturas em 60 dias. Não existia antes da pandemia”,
de inovação. Uma multisetorial e difusa, que é o revelou.
(MPSC) Movimento de inovação (iMPulso); a outra, um Ele também afirmou que o MPSC está
braço operacional, um laboratório que atua como realizando inovações na área de TI e em evolução
impulsionador de projetos de outras áreas. constante, com vistas a aprimorar a integração
Zattar afirmou que existe um entendimento de dados, potencializar a alfabetização de dados,
de que o tempo, a velocidade e a cultura são escalar a disponibilização das ferramentas para
pensados de forma diferente entre quem trabalha 100% do MP. Falou, também, sobre a importância
e quem não trabalha com inovação. Nesse cenário, de se criar uma rede entre Ministérios Públicos e
o desafio é como trazer novas formas de fazer outras instituições.
40

Precisamos nos valer de


uma nova cultura através
da coleta de dados
Procurador-Geral do MPRS

arquivo pessoal
MP. Quanto se economizou de tempo e
e presidente do CNPG, deslocamento?”, indagou.
Fabiano Dallazen acredita O procurador também lembrou que as
que a pandemia funcionou sessões do Conselho Superior do MP, que
eram 100% presenciais, estão realizadas
como uma “pisada no virtualmente, assim como o Colégio de
acelerador” da inovação Procuradores que realiza sessões de for-
ma virtual e está se inserindo na inovação.
Fabiano Dallazen
“A demanda da sociedade hoje é interco- “E o pós-pandemia não vai permitir um
nectada, digital, rápida e precisamos nos retrocesso. Essa realidade já caminhava,
valer de uma nova cultura através da cole- mas tínhamos resistências culturais para
ta de dados. Esse processo às vezes é lento a adesão.”
porque o próprio desenho do Sistema de Ele ressaltou a importância do com-
Justiça é muito solene”, disse o procurador partilhamento, troca e divisão de soluções
geral de Justiça do Ministério Público do entre os MPs. “No Rio Grande do Sul es-
Estado do Rio Grande do Sul (MPRS) tamos adquirindo nosso Data Lake. Além Adaptação
e presidente do Conselho Nacional de
Procuradores-Gerais (CNPG), Fabiano
da infraestrutura necessária, estamos
avançando em nosso laboratório de dados.
na pandemia
Dallazen (Enastic MP, 21/08). Temos um sistema de processo eletrônico Em resposta à pergunta de Ademir Piccoli,
Dallazen argumentou que o momen- que compartilhamos com outros MPs”, curador do evento e ativista de inovação,
sobre a tecnologia ter se aproximado das
to atual, de pandemia, acabou sendo uma contou.
pessoas na pandemia, Dallazen afirmou
“pisada no acelerador”. “Alguns MPs já es- “Antes crescíamos com o aumento do que o momento foi a porta de entrada para
tavam na vanguarda, a inovação já estava orçamento, aumentando pessoal e estru- os mais resistentes se adaptarem.
acontecendo, mas a cultura que nós preci- tura física. Se continuarmos dessa forma, “Nossa unidade de apoio ao usuário
sávamos superar com a pandemia trouxe não há gente que chegue, nem orçamento. fez mais de 11.500 atendimentos a
uma lição: a de que podemos fazer quase Deve haver novas formas de responder à membros e servidores. Boa parte era para
ensinar a usar ferramenta. E a partir do
tudo que fazíamos presencialmente virtu- demanda. O MP tem que atuar no cole-
momento em que usa, a pessoa passa a
almente, com mais eficiência. Vencemos tivo e se valer das novas tecnologias e das gostar. É a porta de entrada que derruba
uma resistência cultural porque ou você ferramentas de investigação e fiscalização, barreira e resistência.” Em projeto piloto,
aderia a uma nova forma ou não trabalha- de tomadas de decisão. A instituição pre- Dallazen afirmou que o aumento médio de
va durante a pandemia.” cisa ter, na palma da mão, informações produtividade em alguns meses superou
Ele explicou que o MPRS já havia re- acessíveis, mas compiladas e tratadas para 90%. “Às vezes, onde havia três pessoas
fazendo, agora duas pessoas fazem e no
alizado 157 eventos durante a pandemia a atividade fim. Isso permite que possa-
remoto. São culturas das quais ainda não
em plataformas digitais. “Foram 3.300 mos reorganizar trabalho e economizar conhecemos bem a dimensão do quanto
certificações de membros e servidores pessoal. Nós perdemos o medo e a maioria vão impactar na gestão, mas sabemos que
pelo nosso centro de apoio funcional do está vendo vantagens na inovação”. é caminho a ser trilhado.”
41

freepik

arquivo pessoal
Jorge Eduardo Tasca

Digitalização do
O governo de Santa Catarina tem um
modelo de gestão guiado por objetivos,
metas e indicadores de desempenho. São
264 indicadores atualmente, monitorados

serviço público
mensalmente, de acordo com Jorge Edu-
ardo Tasca, tenente coronel da Polícia Mi-
litar de SC e secretário de Estado da Ad-
ministração de SC (Enastic MP, 21/08).

e programa de
De acordo com Tasca, a inovação é um
somatório de benchmarking, ou seja, copiar
o que dá certo, e criatividade, acrescida de
parceria. Na PM de SC, por exemplo, to-

inovação em SC
dos os projetos de inovação foram feitos
com parcerias e o Ministério Público de
SC foi um deles, disse.
“Serviços digitais e inovação são aspec-
tos fundamentais para entregarmos resul-
Estado tem modelo de gestão guiado tados no governo”, disse Tasca. Segundo
por objetivos, metas e indicadores ele, o governo de SC tem marcos impor-
tantes na digitalização:

1. Governo sem papel: “Entre 2017 e 2018 já


havia essa ideia, mas por falta de decisão,
éramos um governo com papel, faltava a virada
2. Adesão à plataforma gov.br:
“Vimos que o Governo Federal
tem um projeto muito consistente,
3. Digitalização de 100% dos
serviços que podem ser
ofertados nesse formato: “A meta
Tasca disse que o
decreto do governo
do estado para
de chave. Quando assumimos, em 2019, em então aderimos à lógica de é ofertar 460 serviços até 2022. compra de soluções
fevereiro o governador decretou que em todos planejamento dele e trabalhamos no Hoje 139 já são digitais, ou 30%. inovadoras, em
os processos administrativos seriam digitais. Já mesmo movimento de estabelecer Vamos trabalhar por esteiras, formulação,
são mais de 1,5 milhão de processos digitais até uma plataforma unica que é sc.gov. desde serviços mais simples, seria um marco
agora. Mais de 42 milhões economizados. Isso br. Aderimos ao acesso unificado do implementados rapidamente, até os importante para
viabiliza a digitalização de outros serviços que Governo Federal. O cidadão acessa mais complexos. Faremos entregas se dar sequência
demandam processos administrativos.” com mesmo login e senha.” rápidas e constantes até 2022.” à parceria com
startups.
42

Governo e entidades
impulsionam ecossistema de
inovação em Santa Catarina
Estado tem 14 pólos tecnológicos, sendo que setor responde por mais de 5,8% de seu PIB

O estado de Santa Catarina é conhe-


cido por seus pólos de inovação. Em
painel no segundo dia do Enastic MP
(20/08), entidades e representantes do
Iomani Engelmann
governo debateram soluções e iniciati- (ACATE)
vas desenvolvidas.
Participaram: Iomani Engelmann,
presidente da Associação Catarinense É preciso buscar o
de Empresas de Tecnologia (ACATE); sistema de inovação
Pedro Pirajá, advogado, assessor jurí- para gerar soluções”
dico do Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas de Santa
Catarina (Sebrae/SC) e presidente da O ecossistema de inovação catarinense estado de SC dobrou, havendo mais de
comissão de inovação da Ordem dos tem 14 polos tecnológicos, mais de 1.400 12 mil em 2019. Isso seria fruto de várias
Advogados do Brasil em Santa Cata- empresas associadas e mais de R$ 17 bilhões escolhas estratégicas que o estado fez ao
rina (OAB/SC); e Luana Bayestorff, de receita. Ele gera mais de 56 mil empregos longo dos anos.
gerente de inovação em governo da diretos e a tecnologia responde por mais de Um dos programas da ACATE é o
Secretaria de Estado da Administração 5,8% do PIB de do estado, bem acima da MIDITEC, realizado em parceria com
de Santa Catarina. O moderador foi média nacional, que é de 3,3%. Os dados Sebrae. A incubadora, que começou as
Rodrigo Brelinger, gerente de ciência foram divulgados por Engelmann, ao ressaltar atividades em 1998, foi premiada entre as
de dados e inovação do Ministério Pú- a importância do setor para o estado. cinco melhores do mundo em 2018 e 2019,
blico de Santa Catarina (MPSC). Ro- Uma das iniciativas em SC, segundo promovendo a cultura do empreendedorismo
drigo começou a moderação dizendo ele, são as verticais de negócios, que inovador.
que o momento atual é de sinergia en- trabalham de forma estruturada. “Temos “O recado que deixo é que o dinheiro
tre os poderes e que é preciso, portanto, muitas iniciativas em empreendedorismo bem empregado pode gerar valor à
aproveitar a oportunidade de inovação. e inovação e também alguns grupos sociedade. As empresas que passaram pela
Confira trechos das apresentações: temáticos que reúnem temas transversais incubadora já faturaram mais de
nas empresas, como a inserção das R$ 1 bilhão, geram mais dois mil empregos
mulheres no ecossistema, que tem diretos, R$ 200 milhões em impostos, etc.
predominância masculina.” E, nesse cenário, revolucionar o processo
Engelmann contou que, em cinco anos, de compra também é uma maneira de
o número de empresas de tecnologia no melhorar a eficiência do governo.”
43

É preciso flexibilizar normas e criar


modelos inovadores de gestão”
“O Sebrae/SC não é uma entidade da 1) As corporates entidades que precisam identificar
administração pública, mas recebe recursos dores e desafios tecnológicos. No Sistema de
públicos. Ele vem passando por transformações Justiça, seriam MPs, tribunais (TJs e TCU) e a OAB;
digitais e dificuldade de realizar uma aproximação 2) Pessoas que geram consultoria e identificam
com o ecossistema de inovação”, disse Pirajá. as dores naquela trilha de atendimento, como
Segundo ele, há dificuldade em se entidades como ACATE e Sebrae;
estabelecer uma relação com o ecossistema se 3) Trabalho em verticais, que é o caso do governo
Pedro Pirajá considerada a proposta de contratação da Lei de SC hoje, disse. Entram, nesse caso, startups de
n˚ 8.666/1993. Recomendou, nesse sentido, a nichos para atender às demandas das entidades.
(SEBRAE/SC) realização de Encomenda Tecnologia prevista
no Marco Legal de Ciência, Tecnologia e O palestrante afirmou que as startups têm
Inovação. muito a ensinar. “O modelo enxuto é o modelo
Pirajá acredita que é preciso flexibilizar normas que as empresas querem adotar para si. E quando
e criar modelos inovadores de contratação. olhamos o sistema de inovação internacional,
Apresentou modelos de ecossistema de fora, fazemos uma análise legal de como conseguimos
como o de Israel, o Vale do Silício, nos EUA, e buscar flexibilização das normas em prol do
Singapura. Segundo ele, é importante perceber desenvolvimento governamental. A inovação, a
que neles há três grandes atores: meu ver, quanto mais regulamentada, pior.”

Inauguramos o Nidus em dezembro de 2019.


É pouco para um órgão governamental, mas
muito para uma startup”
O Nidus, laboratório de inovação do Governo de SC, a realidade aumentada nas ocorrências policiais,
foi inaugurado em dezembro de 2019, disse Luana. considerando que o policial precisa estar com
“Estava na hora de a gente olhar para dentro do as mãos livres para fazer a ocorrência. Foram
estado para melhorar os processos (...). Resolvemos recebidas diversas soluções que já estão sendo
nos inserir dentro do LinkLab, o hub voltado à inovação trabalhadas. Entre os outros desafios estão o de
da ACATE, para viver aquele ecossistema”, disse. blockchain na gestão financeira do estado, chatbot
Luana Bayestorff Segundo Luana, a ideia inicial era realizar um ciclo e reconhecimento facial para recadastramento de
de inovação a cada seis meses, sendo que, a cada inativos e pensionistas (Iprev).
(Nidus) vez, dois órgãos participariam para entender os Disse, ainda, que a ideia é ganhar agilidade e
desafios a ser usados pelas startups. “Mas veio economia para o estado. Um decreto está sendo
a pandemia em março e precisamos rever esse preparado nesse sentido. “A gente vai escrever o
cronograma. Criamos, então, um ciclo curto, que é desafio e podem vir inúmeras soluções impensáveis
uma demanda específica, e eu saio atrás das startups até então”, explicou. Segundo Luana, a contratação,
junto com o LinkLab”, explicou. por sua vez, viria em duas modalidades: uma para
Em sete meses, foram nove desafios propostos e produtos já prontos e outra para o produto que o
cada gerência definiu o seu. O primeiro deles foi estado fomentará dentro de um valor limite.
44

Transformação
digital não
é escolha
Procurador-geral de Justiça
do MPSC, Fernando da Silva
Comin, acredita que quem
não estiver preparado para
inovar perderá o sentido
de sua utilidade social
Para Fernando da Silva Comin, procura- Fernando da Silva Comin
dor-geral de Justiça do MPSC, “transfor-
mação digital não é escolha. Quem esti-
arquivo pessoal
ver preparado para surfar nessa onda vai
seguir” (Enastic MP 19/08). Ele explicou WhatsApp e Facebook da Catarina, além
que, há pouco mais de um ano, quando co- Mas a grande verdade de versão para intranet. O atendimento
meçava a caminhada pelo estado de Santa é que a transformação presencial continuará existindo, mas temos
Catarina com a apresentação de um pro- que intensificar os canais de aproximação
digital pode aproximar
jeto de gestão institucional, dizia-se que o digital com sociedade.” Também é prevista
MP teria que se acostumar a ser platafor-
as pessoas e penetrar a entrega do aplicativo do MP voltado ao
ma para o cidadão exercer o protagonismo na descoberta de cidadão para o mês de outubro. Será o
na cidadania. “Esse é o princípio que rege fenômenos “MP na palma da sua mão”, afirmou.
nossa plataforma em SC, o MP 4.0”. “O MP não pode deixar de estar em
Comin contou que o incremento da institucional, especialmente no MP, onde sintonia com as tecnologias. Muita gente
transformação digital foi antecipado com a utilização dos processos disruptivos de associa a transformação digital a um pro-
a pandemia. “Um ano atrás falávamos em inovação deve permitir com que esteja cesso racional, frio e distante das pessoas.
atos por videoconferência. De fato, a pan- mais alinhado com a sociedade, numa via Mas a grande verdade é que a transfor-
demia fez com que instituições, poderes, de mão dupla com o cidadão. Nesse cená- mação digital pode aproximar as pessoas
órgãos e sociedade tivessem que se adaptar rio, Comin destacou a atuação protagonis- e penetrar na descoberta de fenômenos,
rapidamente para não perderem o sentido ta de alguns MPs, como o de Pernambuco, sejam familiares, sociais, políticos e eco-
da existência, da missão. Hoje se fala em do Rio de Janeiro e o de Santa Catarina. nômicos, que não temos condições de
sessões de tribunal do júri por videocon- “Estamos investindo em novas acompanhar com instrumentos e meca-
ferência. Já é uma realidade que se impôs.” tecnologias pelo nosso núcleo de inovação. nismos institucionais. O próprio combate
Já fizemos algumas entregas”. Destacou ao coronavírus é um exemplo. O MPSC
Via de mão dupla com cidadão a Catarina, atendente virtual, que deve foi parceiro de vários órgãos na elaboração
O procurador acredita que quem não esti- facilitar experiência do cidadão quando de painéis e indicadores de acompanha-
ver preparado, vai parar no tempo e perder procura serviços no site do MP. Também mento da pandemia que hoje estão dispo-
o sentido da sua utilidade social e missão está sendo desenvolvida uma versão para níveis à sociedade”, contou.
45

Case prático: o roadmap da


implementação da LGPD no TJSC
Desembargadora Denise Francoski explica que
o roadmap é uma verdadeira bússola e sua
confecção deve atender à dinâmica da organização
A desembargadora Denise Francoski, que é também
coordenadora do Comitê Gestor de Proteção de Da-
dos e primeira encarregada de tratamento de dados
pessoais, contou sobre a experiência do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina (TJSC) com a implemen-
tação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). Ela também participou do Webinar sobre
a LGPD (E-book LGPD). Confira os principais tre-
chos de sua apresentação (Enastic MP, 21/08):

• O roadmap foi criado no começo de 2020 assuntos. Foi adicionado o assunto “Proteção
pelo Comitê Gestor de Proteção de Dados de Dados” para todas as competências de
e um pequeno grupo de trabalho para ações.
implementar a LGPD no TJSC. O roadmap • Tribunal trabalhava para colher a
é uma verdadeira bússola e a confecção aceitação de política para qualquer página de
não é fácil porque deve atender à dinâmica entrada do tribunal. Confeccionava, também,
da organização e ser construído de acordo a política de privacidade e proteção de dados
com ela; para TJs6; além do fluxo de trabalho junto à
• Primeiro foi preciso conhecer as ouvidoria, parceira no projeto, pois através
necessidades da organização para depois dela entrarão requisições dos titulares de
arqu traçar as frentes. Foi feita uma grande dados;
ivo p
tabela, dividida em duas frentes: jurídica e • Cronograma de conscientização da LGPD
ess
oal

administrativa. Depois, foi acrescentada a de por departamento específico era formatado.


tecnologia e segurança da informação. Isso Segundo a desembargadora, outras
no sentido vertical; fases verificadas nas frentes jurídica e
• No sentido horizontal, dividimos em tecnológica eram:
três fases: preparação, implementação e • Na implementação, desenvolver projeto
gerenciamento das fases anteriores. Essa piloto de adequação e publicação de
composição em fases é dinâmica e revisada acórdãos e decisões monocráticas de
dia a dia; um gabinete de desembargador do TJ. Se
• A primeira providência tomada foi instalar funcionar, será espalhado para os demais
um grande. Um dos principais links, além gabinetes do TJ;
Denise Francoski
de dizer o que é a LGPD, trata-se da página • Fazer desenvolvimento de controle sobre
do encarregado, que é prevista na lei (com compartilhamento de dados pessoais do TJs6
endereço do encarregado, telefone, e-mail, com terceiros.
etc.);
E, na terceira fase, mais um exemplo é
• Tabelas processuais foram alteradas. sempre fazer auditoria das fases anteriores,
Elas possuem três vertentes: cuidam do firmar convênios e renovar políticas,
procedimento, da classe das ações e dos acrescentou Denise Francoski.
46

Cibercrime e os
desafios da Justiça
De cyberbullying a crimes contra a honra e o patrimônio, lidar com o que acontece
no mundo virtual requer coragem e o uso de novas tecnologias

Crimes virtuais são cada vez mais comuns


nos dias atuais e soluções tecnológicas au-
xiliam a combatê-los. Painel no terceiro Alessandro
e último dia do Enastic MP (21/08) de-
bateu os desafios da justiça criminal com
Gonçalves Barreto
cibercrimes e maneiras de solucioná-los
com o uso da tecnologia.
Primeira regra para
Para falar sobre o tema, participaram
superar desafios dos
Alessandro Gonçalves Barreto, delegado;
crimes cibernéticos
e Guilherme Caselli, delegado e professor
é não ter medo”
em cibercrimes. O moderador foi Marce-
lo Gomes Silva, promotor de Justiça do
MPSC e presidente da Associação Cata- De acordo com o delegado Barreto, a capacitação tem que ser constante”,
rinense do Ministério Público. primeira regra para superar desafios afirmou.
Em sua introdução, Marcelo contextu- de crimes cibernéticos é não ter Para Barreto, o desenvolvimento
alizou o cenário atual e propôs integração medo ou ficar inibido pela busca de de laboratórios de operações
para o enfrentamento dos desafios. “Hoje evidências no ambiente virtual. Ele cibernéticas auxilia os estados e dá
em dia entramos na era da internet, onde alertou que, anteriormente, quando suporte. “Auxiliamos com pacotes
a possibilidade de infrações criminais via só se trabalhava com evidências acionáveis, relatórios técnicos com
rede mundial de computadores levou os em espaço físico, o investigador indícios de autoria. O que vem sendo
desafios da justiça criminal ao extremo. se preparava para ir para a rua feito é um trabalho de inteligência,
São crimes contra o patrimônio, a honra, investigar, mas hoje o cenário é onde damos uma metodologia de
cyberbullying, cyber espionagem, uma sé- outro. como o investigador busca evidências
rie de exemplos que demonstram dificul- Ele lembrou que são mais de 150 no ambiente cibernético”.
dade ainda maior por conta da transna- milhões de usuários da internet e 420 Com a aproximação das eleições,
cionalidade, além dos desafios da deep web milhões de dispositivos. Disse que os ele alertou que será complicado
e dark web”, disse. Confira os destaques do diversos golpes do ambiente virtual identifcar o que é verdade ou
painel. têm agilizado a demanda no apoio mentira, por isso haverá ainda
dado aos estados. “Há uma falta mais necessidade de integração.
de estrutura nos estados. Trabalha- “É importante trabalhar em rede
se muito com colete, viatura e no enfrentamento da criminalidade
munição, mas é preciso que se cibernética. Temos que construir
invista em tecnologia, em pessoas e, pontes e não muros. Antecipem os
principalmente, em conhecimento. A cenários”, alertou.
47

Pandemia teve três cenários e fases


diferentes com relação aos crimes virtuais”
Corrida desenfreada em busca de álcool em e que o anúncio vai sair do ar. Diz, então,
gel, sites irregulares e fraudes via WhatsApp. que vai encaminhar um PIN de confirmação”,
Segundo o delegado e professor em cibercrimes, exemplificou Caselli.
esses cenários podem resumir a pandemia do
ponto de vista dos crimes virtuais. Ele explicou Segundo fator de autenticação: de acordo
mais detalhadamente as diferentes fases dos com Caselli, ele dificulta a atividade dos
crimes cibernéticos. criminosos em ter acesso à conta, mas por meio
Guilherme Caselli Segundo Caselli, o primeiro cenário é de engenharia social os criminosos entram em
referente à corrida pela compra de álcool em contato com a vítima contando alguma “história”
gel, quando diversas fábricas irregulares foram e pedindo para ela clicar em um e-mail.
proibidas de atuar. “A grande maioria delas nós “Esse link é a permissão que estou dando
rastreamos através do conceito de fonte aberta.” para o WhatsApp fazer a migração de conta”,
Depois, segundo Caselli, aconteceu o esclareceu.
momento de sites irregulares, que tinham por
escopo subtrair informações dos usuários, ou Uso de imagem (avatar): a forma mais
seja, realizar fraudes. “Teve, por exemplo, a utilizada pelos criminosos. “Eles previamente
corrente da Ambev, que fazia menção a uma têm acesso ao número de pessoas próximas
distribuição gratuita de álcool em gel. Nesse à vítima e criam uma conta com um número
cenário, também conseguimos derrubar vários diferente. Então colocam uma foto da vítima e
sites falsos, nos quais o domínio não era mandam mensagem para as pessoas próximas
registrado nem no Brasil”, explicou. falando que é um número novo, que acabou
O terceiro cenário – e mais atual – são as a bateria, etc., e pedem uma transferência
fraudes relacionadas ao WhatsApp, disse, cujos bancaria.
crimes podem implicar estelionato, violação do
dispositivo informático, falsidade ideológica, Caselli também detalhou como a polícia vem
lavagem de dinheiro e organização criminosa. atuando através de cautelar nesses casos. Com
relação à cautelar de quebra de sigilo simples
Caselli destacou como funcionam quatro destinada a operadoras de telefonia, a requisição
crimes recorrentes: é relacionada ao número que estabeleceu
contato com a vítima, como dados cadastrais,
SIM SWAP: quando o criminoso tem acesso a conta reversa, Imei, histórico de chamadas e
uma operadora de telefonia e é gerado outro histórico ERB, que possibilita rastreabilidade para
SIM GSM da vítima. “Com isso nas mãos, ele busca e apreensão.
ingressa no celular dela e a vítima perde acesso Com relação à conta de WhatsApp que
ao número telefônico”, explicou, contando que, estabeleceu contato com a vítima, são pedidos
inclusive, pode ser possível acessar aplicativos dados cadastrais, histórico de IPs, agenda de
bancários em alguns casos; contatos, grupos e extratos de mensagens.
“Daqui para a frente, pelo menos em São Paulo,
PIN: quando o criminoso verifica que a vítima como a vítima indica algumas contas para
colocou um anúncio em um site de e-commerce realizar o depósito, a gente levanta o CPF do
e entra em contato se passando pelo site. favorecido e representa via sistema BacenJud a
“Ele diz que a pessoa não confirmou a conta quebra de sigilo bancário”, disse.
48

Procuradores-gerais de
Justiça valorizam inovação
nos Ministérios Públicos
Eduardo Gussem, do MPRJ,
e Francisco Dirceu Barros, do
MPPE, trataram da quebra de
paradigmas e necessidade de
aprendizado constante

Para os procuradores-gerais de justiça


Eduardo Gussem, do MPRJ, e Francisco
Dirceu Barros, do MPPE, o uso da tecno-
logia e da inovação é essencial para a me- Eduardo Gussem Francisco Dirceu Barros

lhora da prestação dos serviços ao cidadão.


Ambos debateram a importância da ino-
arquivo pessoal arquivo pessoal
vação nos Ministérios pùblicos na abertura
do segundo dia do Enastic MP (20/08) o judiciário não for capaz de inverter esse Revolução tecnológica
De acordo com Francisco Dirceu, é pre- fórmula. “A sensação é que todos os dias e compartilhamento
ciso quebrar velhos paradigmas, entender o aumenta a demanda dos MPs brasileiros Com relação ao MPPE, Dirceu citou
futuro e trazer esse futuro para o presen- e todos os dias diminui a capacidade de o MPLabs, cujo objetivo é promover
te. “O urgente é entendermos que nosso atendimento. Acredito que há duas for- revolução tecnológica dentro do MP.
Sistema Jurídico está falido. É um sistema mas de salvar o sistema de justiça brasi- Ele explicou que se a pandemia tivesse
formatado com a linha principiológica de leiro: o primeiro, adotar um modelo diver- acontecido cinco anos atrás, o MPPE
1940 e que não tem a mesma condição de sionista e investir nas obras consensuais, estaria paralisado. “Com as ferramentas
atender à demanda de uma sociedade mui- controversas; e o segundo, investir pesado digitais, aumentamos a produtividade
to célere, que é a do século 21.” em tecnologia avançada. É o que fazemos com gabinetes itinerantes e a capaci-
Eduardo Gussem, por sua vez, explicou em Pernambuco há quatro anos.” dade multiplicou por 1 milhão. Se abs-
que o que mais tem feito nos últimos tem- Gussem afirmou ser preciso criar cami- trairmos a doença e os óbitos, a Covid
pos é aprender. “Temos que usar a tecno- nhos novos e modernos para tratar o teci- tem o lado positivo que é ser um acele-
logia, a inovação, a ciência para humanizar do social doente que clama por melhores rador do futuro.”
nossa instituição, nos aproximar do cidadão soluções. “A dignidade da pessoa humana Gussem contou que no MPRJ há mui-
que atendemos. A inovação no MP requer está cada vez mais afastada e cabe a nós to investimento em georreferenciamento,
digressão a 1988, o momento mais inova- tratar essa situação. Isso vai exigir uma estatísticas e inovações. Ele acredita que
dor do MP brasileiro, que foi a Carta de nova forma de trabalhar e interpretar as o momento não é de competição, mas de
1988. Tudo leva tempo para ser construído, leis. Temos que agir com ética, princípios, compartilhamento, troca, intercâmbio.
cada um vai colocando seu tijolo”, disse. valores e dar ao membro do MP condi- “Vejo isso no nosso Conselho Nacional
Para Dirceu, não adianta a Constitui- ções de interpretar melhor a legislação e de Procuradores-Gerais de forma inten-
ção dizer que é direito constitucional do não perder tempo folheando obras jurídi- sa. Caminhamos e aprendemos juntos,
cidadão a prestação jurisdicional célere se cas para chegar a uma solução.” abertos a troca de aprendizados.”
49

Observatório Legislativo:
IA ajuda Tesouro na análise
de proposições legislativas
Software inteligente foi desenvolvido para observar e analisar a atividade
legislativa no Congresso, explica Marcelo Pita, cientista de dados do Serpro

“Muitas proposições administrativas po-


dem ter impacto fiscal. Podem gerar eco- Dentre as atividades realizadas
nomia ou gasto para o governo. Mas como
a Secretaria do Tesouro Nacional (STN)
pelo Observatório Legislativo estão:
toma conhecimento sobre o que acontece • Identificar assuntos gerais em proposições;
no Congresso em relação a proposições • Classificar proposições quanto ao interesse da STN;
diárias? O Ministério da Economia (ME) • Indicar proposições similares as já analisadas pela STN e também os assuntos
faz uma triagem e distribuiu para as várias específicos que interessem;
secretarias, entre elas, a do Tesouro Nacio- • Direcionar proposições de interesse para áreas internas da STN;
nal. Nesse caso, são proposições que cos-
tumam ter impacto fiscal”, disse Marcelo
Pita, cientista de dados do Serpro (Enas-
tic MP 20/08). “Na fonte estão o Senado Federal e a
Nesse cenário, Pita explicou que há al- Câmara. E como destino está o Tesouro
gumas limitações na abordagem, como o Nacional. Temos interfaces com serviços
volume variável de novas proposições ao web tanto na Câmara quanto no Senado
longo dos meses e anos; e a tarefa huma- e na STN. No meio do caminho temos o
na repetitiva com a quantidade de falsos processamento de linguagem natural, que
positivos e falsos negativos que podem é um conjunto de modelos analiticos que
aumentar bastante em razão das limita- desenvolvemos para descobrir os assuntos
ções naturais das pessoas. “Podemos ter e direcionar”, disse Pita, ressaltando que,
indicação de proposições que não são de além das tarefas de IA desenvolvidas, tam-
interesse ou deixar de indicar ao Tesouro bém são gerados vários paineis analiticos.
proposições que deveriam estar sendo tra- Para o futuro, além do que já foi de-
tadas por ele porque têm impacto fiscal.” senvolvido para o Observatório, a propos-
Diante disso, Pita explicou que a STN ta é conseguir estimar o valor do impacto
procurou o Serpro para saber como auto- fiscal nas proposições e inferir chances de
matizar esses processos no ME. “Foi daí aprovação de proposição nas casas legisla-
que surgiu o Observatório Legislativo, um tivas. “O Observatório pode ser aplicado
software inteligente que foi desenvolvido em outros contextos de análise incorpo-
para observar e analisar a atividade legisla- rando conhecimentos de outras organiza-
tiva no Congresso para ajudar o Tesouro.” ções em modelos de IA”, explicou.
50

Como o MPRJ promove


a quebra de paradigma
no uso de tecnologias
Sidney Rosa da Silva Junior, promotor de justiça e coordenador de análises, diagnóstico e
geoprocessamento do MPRJ conta os desafios relacionados aos processos de inovação na instituição

“A revolução tecnológica não funciona construído ferramentas de análise de da-


se não trouxer quebra de paradigma. Es- dos em mapas, que salto de qualidade pre-
tamos trabalhando muito isso no Rio de cisávamos dar para reinventar o MP? Ti-
Janeiro e conseguimos ganhar certa ma- vemos algumas crises porque não víamos
turidade. Faço reuniões virtuais, assino uma internalização de tudo isso na atuação
digitalmente, peticiono de forma eletrô- finalística. Alguns falavam que faltava uma
nica, etc., mas o que pergunto é se isso cultura de dados na instituição”.
realmente transformou a instituição. Essa
transformação digital reinventou o MP?”, Parquet Digital
questionou o promotor de justiça e coor- Então foi criada uma plataforma chama-
denador de análises, diagnóstico e geo- da Parquet Digital, um painel multitare-
processamento do MPRJ Sidney Rosa da fas criado para auxiliar a gestão. “Criamos
Silva Junior (Enastic MP, 20/08). ferramentas capazes de alertar o promotor,
Ele explicou que há muitos MPs que informar e facilitar. Utilizamos equipes de
iniciaram os processos de inovação há matemática e estatística para construir al-
quatro ou cinco anos. No RJ, disse, a ins- goritmos que encontram irregularidades.
tituição passou a trabalhar muitos dos É muito importante trabalhar com dados,
dados que estavam espalhados, tanto do mas eles precisam reinventar atividades fi-
ponto de vista interno quanto do externo, nalísticas do MP. As ferramentas passivas
para que a sociedade pudesse compreen- e exploratórias não têm mais espaço hoje.
der e questionar. Essas ferramentas foram forçadas nesse
O promotor explicou que o MPRJ período de pandemia. Mas só geram re-
chamou muita atenção anos atrás quando sultado se conseguirmos modificar a for-
passou a usar algoritmos e ter ferramen- ma de analisar as coisas para gerar eficiên-
tas que mostravam desde o índice de sa- cia”, explicou.
neamento básico à localização de escolas O promotor acredita que a próxima
no mapa. etapa de transformação do MPRJ é o uso
Ele explicou que foram feitas ferramen- de Inteligência Artificial. “Temos muitas
Sidney Rosa da Silva Junior
tas que liam e analisavam os dados, mas a ideias rodando, mas precisamos adequar
instituição percebeu que havia obstáculos ferramentas. Entendemos que a IA bem
para que isso representasse uma real mu- aplicada ao negócio do MP é uma revolu-
dança de paradigma. “Apesar de termos ção para a instituição.”
arquivo pessoal
51

Integração é fundamental, Projeto


Justiça
mas se não é simples, não há Presente

cenário propício à inovação


Zeni explicou que, em
2019, o CNJ lançou o
Projeto Justiça Presente,
voltado ao aprimoramento
da execução penal no
Paulo Zeni, promotor de Brasil, e uma das linhas
era a implantação do
justiça do MPMS, apresenta Sistema Eletrônico de
case de integração com o Execução Penal (SEEU).
SEEU do CNJ com o SAJ Porém, o SEEU foi focado
na atuação dos juízes,
cartórios, no Sistema
O Estado de Mato Grosso do Sul, embora Judiciário, não havendo
tenha vocação agrícola e abranja o Pantanal, Paulo Zeni muitas ferramentas para
é palco de um cenário pujante de tecnologia promotores de justiça,
aplicada à Justiça, disse Paulo César Zeni, que passaram a ter suíte
promotor de justiça e coordenador do labo- básica de funcionalidades,
explicou Zeni. Com isso,
ratório de inovação do Ministério Público do
a maior parte das rotinas
Mato Grosso do Sul (Enastic MP 20/08). teve que voltar a ser feita
Zeni explicou que o TJMS implantou de forma manual, o que era
arquivo pessoal
sua primeira “vara virtual” em agosto de impossível dado o volume
2005, o que foi uma antecipação em mais Essas etapas deram chance ao MPMS de trabalho.
de um ano à Lei do Processo Judicial Ele- de concentrar na inovação, afirmou. Zeni Desse modo, um projeto
foi iniciado em novembro
trônico (Lei nº 11.419), que é de dezem- ressaltou a liberdade que foi concedida na
de 2019 para resgatar
bro de 2006. implantação do painel da integração, que promotores que estavam
Ele salientou que o Conselho Nacional consiste no uso de uma ferramenta de Bu- fora do nosso sistema
de Justiça (CNJ) criou o sistema PJe em siness Intelligence (BI) para fazer o monito- e trazer de volta para o
2013 (Resolução 185), visando a unificar ramento de todo fluxo de processo judicial ambiente, valendo-se das
sistemas de processo eletrônico. Na ocasião, entre MP e Poder Judiciário. “Criamos outras ferramentas que
desenvolvemos na área
muitos sistemas, porém, já estavam bem mapa do crime georreferenciando delitos
de inovação”, explicou.
avançados e, diante desse cenário, o MPMS cadastrados nos inquéritos e ações penais Para o projeto ser bem
optou por iniciar o Projeto Guaicuru em do MP. Fizemos Sistema de Única Instân- sucedido, Zeni afirmou
agosto de 2014 e conseguiu implantar o cia que aumentou a comunicação entre pro- que foram muitos os
SAJ, um sistema já conhecido pois era usa- motores e procuradores de justiça e, em um envolvidos, como o CNJ;
do pelo Tribunal de Justiça do Mato Grosso ano, mais que dobramos a produtividade na o Ministério Público do
Distrito Federal e territórios
do Sul (TJMS). O projeto durou cerca de 18 área de recursos extraordinários”, ressaltou.
(MPDFT); a Softplan e o
meses de implantação e, segundo ele, houve: Ele explicou que o uso da IA já permi- Ministério Público do Ceará
te aplicações em produção para analisar e (MPCE). Com relação ao
1) Integração total com o TJMS; classificar processos da Lei Maria da Penha aprendizado obtido, ele
2) Automação da distribuição de processos, e identificar entidades nomeadas em pro- ressaltou a importância
com a configuração do robô para receber cessos de tráfico de drogas a partir da análi- da integração e da
simplicidade. “A integração
intimações e distribuir automaticamente se de documentos. “Também vamos entre-
é fundamental, mas se ela
para todas as Promotorias de Justiça; gar Robô da Ficha Limpa aos promotores não é simples, não é boa,
3) Domínio dos dados processuais, do- eleitorais para identificação dos candidatos não há cenário propício à
cumentos produzidos, acesso e utilização inelegíveis, fazer gravação de audiências e inovação.”
da ferramenta. monitoramento de recursos.”
52 | Seção 5 - Um olhar sobre as leis

Impacto da

LGPD
no Sistema
de Justiça:
proteção e
mineração O uso da base de dados nos tribunais
e a aplicação geral da Lei Geral de
Proteção de Dados (LGPD) fo-
ram os dois pontos tratados pelo

de dados
ministro do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) Ricardo Villas Bôas Cueva (Enas-
tic AGU, 01/07). Ele explicou que, no
Brasil, há um contexto de hiper judicia-
lização, com gargalos estruturais grandes,
mas há, ao mesmo tempo, um manancial
de dados de informação que serão insumo
para a nova economia digital e o desen-
“Tendência hoje é entender volvimento de ferramentas de Inteligência
que é necessário normatizar a Artificial.
mineração”, diz o ministro do STJ Segundo o ministro, existe um acesso
Ricardo Villas Bôas Cueva indiscriminado durante sete dias por se-
mana, o ano inteiro, às bases de dados do
Judiciário. “Isso é uma política pública que
tem implicações. É caro manter o sistema
em funcionamento”, alertou.
Cueva explicou que a tendência é en-
tender que é necessário normatizar a
mineração de dados como ferramenta de
53

Incidência da LGPD impõe deveres


Outra vertente de preocupação apontada pelo ministro é a incidência da LGPD, que
impõe alguns deveres, entre eles a criação da Autoridade Nacional de Proteção
de Dados. “Com a LGPD, o Brasil se insere dentre os países que adotam leis de
proteção de dados, sobretudo na Europa, mas também nos Estados Unidos. O Estado
da Califórnia tem lei inspirada nesses vetores e tendo como pilares essenciais o
consentimento do titular para uso dos dados pessoais ou expressa permissão da lei.”

LGPD no Judiciário
Com relação ao Judiciário, Cueva apontou
que há várias discussões sobre o uso da
LGPD. “O Judiciário exige autonomia e
independência e não poderia ter o mesmo
tipo de regulação de outros setores.”
O ministro apontou alguns vetores de
preocupação:

E, se possível, que
1. O uso para atividades administrativas no
que tange, por exemplo, às licitações e
contratos aos servidores do Judiciário. Nessa
haja contrapartida atividade se aplica inteiramente a LGPD e há
contando com a diálogo com a Lei de Acesso à informação,
participação de para isso existem ouvidorias e tribunais;
startups nesse
estímulo ao desenvolvimento de soluções
que façam essa normatização segura e em
desenvolvimento.”
Ricardo Villas
2. Preocupações específicas que já
aparecem em exemplos internacionais.
“A transparência será um elemento
parceria, se possível, com o Judiciário. “E,
Bôas Cueva importante e cada tribunal terá que indicar
se possível, que haja contrapartida con-
em seu sítio o uso e a aplicação da LGPD.
tando com a participação de startups nesse Provavelmente, terá que realizar um registro
desenvolvimento.” de tratamento de dados bem mais detalhado
As contrapartidas, segundo Cueva, di- que o atual”, disse.
videm os debatedores. “Cobrar pelo uso
do recurso talvez crie barreiras de entrada.
O caminho mais fácil pode ser credenciar
quem quer fazer a mineração e permitir
que seja feita de forma mais eficiente, em
horários pré definidos”, sugeriu.

Ricardo Villas Bôas Cueva

arquivo pessoal
54

“Quem estiver preparado es-


tará. Quem não estiver, terá
que assumir consequências”,
sugere Fabricio da Mota Al-

Os desafios
ves, advogado e professor,
com relação ao cumprimen-
Advogado Fabrício da to da LGPD (Enastic MP
Mota Alves acredita 20/08). Alves também é re-

da LGPD no
que é preciso presentante do Senado Fede-
preencher o vazio ral no Conselho Nacional de
Proteção de Dados Pessoais e

setor
da lei em relação da Privacidade (ANPD).
ao hiato normativo “O que percebo no Con-
regulatório que gresso é uma falta de visão
ela não está consequencial do que signifi-
preenchendo ca cumprir ou descumprir essa
legislação. Uma das poucas

público
consequências que se visuali-
za são os justos de responsa-
bilidade administrativa e civil
para agentes públicos, políti-
cos, em relação à desconfor-
midade da LGPD”, explicou.
55

direitos fundamentais como


com relação ao funcionamen-
arquivo pessoal
to da máquina pública”, disse.
O representante do Senado
Federal afirmou que o dado
pessoal deverá ser tratado
com critérios dimensionados
por adequação, necessidade,
segurança e responsabiliza-
Fabrício da Mota Alves
ção que decorre da prestação
E quem serão esses agentes de contas. “Vejo vários órgãos
no setor público? Alves afir- públicos designando encar-
ma que os conceitos de con- regados, mas a lei não apre-
LGPD:
trolador e operador não são senta critério nem requisito Controlador
suficientemente claros. Tam- para definição dessa função. e operador e
bém disse que, caso se adote Aliás, não sabemos se é fun- questões de
leitura literal da lei, acaba-se ção, se é cargo, se é profissão. responsabilidade
correndo o risco de reduzir o Não sabemos os requisitos. É
escopo de sua aplicação. experiência? Confiabilidade? “O controlador e o operador de
Segundo Alves, o argu- Tempo no órgão?”, indagou. dados podem ser pessoa física ou
mento de setores que pedem Para Alves, se a ANPD jurídica. Até o feirante que vende
a prorrogação da LGPD por- espelhar a importância que o pelo whatsapp e tem uma lista
que a Autoridade Nacional de encarregado tem no General de dados pessoais está sujeito
à LGPD porque é considerado
Proteção de Dados (ANPD) Data Protection Regulation
controlador”, explicou a advogada
deveria ser criada antes é vá- (GDPR), a lei europeia, e a e PHD em Direito Internacional,
lido. “A primeira fase já está trouxer para a LGPD, prova- Patrícia Peck (Enastic MP 19/08).
implementada desde 2018. velmente o Brasil terá um de- Ela afirmou que o operador
Os dispositivos restantes vão safio grande pela frente. “No é quem está vinculado ao
depender da MP que estava GDPR, o indivíduo é dotado controlador, pois age de acordo
com a instrução documental. “É
sendo discutida.” de altíssima qualificação e
parecido com o terceirizado, como
experiência em proteção de um motoboy que leva um exame
Limbo jurídico dados. O encarregado tam- ou uma empresa de cloud que
Ele ressaltou que é preciso bém precisa ter algum grau de armazena, mas não pode usar a
preencher o vazio da LGPD autonomia e garantia para o informação porque não é dela”.
em relação ao hiato norma- exercício de suas atribuições. O tema já havia sido abordado
por Patrícia no webinar sobre a
tivo regulatório que ela não Não pode ser demitido, por
LGPD realizado pelo Judiciário
está preenchendo. “Cria-se exemplo, por cumprir atribui- Exponencial (28/07/2020). Mais
um limbo jurídico arriscado ções. Lá existem facilidades detalhes podem ser encontradas
tanto por conta da violação de que não existem aqui.” no e-book do webinar.
56

A importância do Marco
Legal de Ciência, Tecnologia
e Inovação e como aplicá-lo
Especialistas falam
sobre inspiração
para criação do
Marco e aplicação de
instrumentos legais elpídio junior

Um dos impactos da pandemia


foi colocar em evidência a impor-
Rafael
tância da pesquisa científica. “É Dubeux
importante que a gente faça uma
(AGU)
análise dos institutos normativos
que estabelecem o Marco Legal
de Ciência, Tecnologia e Inova-
ção”, disse o procurador federal e
Contratação da vacina de Oxford
diretor da escola da AGU na 4ª exemplifica uso do Marco Legal”
região Eugênio Battesini, modera-
dor do painel que tratou dessa le- O desenvolvimento de uma potencial vacina para mil artigos científicos por ano, um pouco abaixo
gislação no Enastic AGU (01/07). combate ao coronavírus exemplifica a importância do número da Coreia do Sul. Porém, nosso desafio
Os participantes apresentaram in- da criação do Marco Legal, segundo Dubeux. é passar da fase de publicação científica para
formações e levantaram questões “A vacina desenvolvida pela universidade de colocar os produtos no mercado. “Dados do
sobre problemas que inspiraram Oxford junto com a AstraZeneca é aguardada com escritório de patentes dos Estados Unidos mostram
a criação do Marco, a aplicação ansiedade e muitos devem ter visto o anúncio que, enquanto conseguimos converter 381 patentes
de alguns instrumentos legais, e a da contratação para que o Brasil tenha acesso. por ano, a Coreia registra mais de 20 mil.”
importância da interveniência das O que isso tem a ver com o Marco Legal de O advogado também disse que o Marco Legal foi
fundações de apoio para a concre- Ciência, Tecnologia e Inovação? Tudo. Já que endereçado para atacar esse desnível na capacidade
tização desses instrumentos. essa contratação só se mostrou viável porque de conversão, buscando inspiração em boas práticas
Participaram Rafael Dubeux, houve alterações na legislação. Nesse caso, está de países que tiveram sucesso em converter ciência
advogado da União (AGU); se fazendo uso da encomenda tecnológica. Se e inovação, integrar academia, governo e setor
Saulo Queiroz, procurador-geral não fosse isso, o modelo tradicional de compras privado; ou seja, usar o modelo da hélice tríplice.
da Universidade Federal do Rio públicas inviabilizaria”, explicou. Um dos exemplos de mudança na lei e na
Grande do Sul (UFRGS); e Ju- Dubeux afirmou que a encomenda prática citados por Dubeux foram as prestações
liana Crepalde, professora e coor- tecnológica permite o trabalho com reembolso de de contas em projetos de pesquisa. “O relevante
denadora executiva do Núcleo de custos quando se trata de uma tecnologia sobre agora é a entrega do relatório de execução do
Inovação Tecnológica (NIT) da a qual não se tem certeza do resultado. “No objeto. Ou seja, houve empoderamento do gestor
Universidade Federal de Minas caso da vacina, a gente contrata o esforço. Se se de boa fé, que pode escolher qual é a melhor
Gerais (UFMG). Confira a seguir revelar eficaz, contratamos em larga escala.” solução para um caso em vez de ficar amarrado
os destaques de cada apresentação: Ele lembrou que o Brasil publica cerca de 70 como na Lei n˚ 8.666/1993.”
57

Concretizar a ciência na iniciativa privada é uma repassados diretamente por elas.


ideia que reflete a importância da interveniência Queiroz também explicou que as fundações de
das fundações de apoio para a concretização do apoio são privadas e possuem dois traços distintivos:
Marco Legal, explicou Queiroz. Ele citou os atores 1) Seus estatutos devem prever observância
que participam da concretização dos instrumentos de vários princípios constitucionais ligados à
e estão previstos na legislação. Seriam eles: 1) o boa gestão de recursos públicos, moralidade,
governo, com agências de fomento, atividades de economicidade etc;
financiamento da pesquisa, as próprias instituições 2) Devem ser credenciadas junto ao Ministério
científicas de tecnologia e inovação (Instituições de da Educação (MEC) e ao Ministério de Ciência e
Pesquisa Científica e Tecnológica - ICTs públicas e Tecnologia (MCTI).
privadas); 2) as empresas, o braço privado da hélice Sobre a base dogmática jurídica que permite a
Saulo Queiroz tripla; e 3) as fundações de apoio. atuação das fundações de apoio como intervenientes
Ele explicou que a lei prevê que as fundações dos instrumentos do Marco Legal de CTI, ele
(UFRGS) façam a gestão de recursos destinados a projetos explicou que são consideradas intervenientes porque
de inovação de forma extra orçamentária, sem a participam de um instrumento do qual não deveriam
necessidade de circularem pela conta única do fazer parte, sendo incluídas, por exemplo, em um
Tesouro Nacional e pelo orçamento público. Segundo acordo de parceria entre uma ICT e uma empresa
ele, existe uma previsão legal no artigo 1˚, parágrafo privada para exercer atividade acessória e permitir a
7˚, da Lei n˚ 8.958 que diz que recursos poderão ser boa execução do projeto.

Problema de limitação orçamentária pode ser


minimizado pela atuação das fundações”

O papel do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da ritmos diferentes para as soluções.”


UFMG é prestar suporte à execução do Marco Legal No eixo técnico, a professora explicou que se
e observar a política institucional da Instituição de buscam respostas para algumas questões como:
Pesquisa Científica e Tecnológica (ICT) em que atua, Qual é o objeto? É patente? Será uma combinação
explicou a professora Juliana Crepalde. Ela disse que de vários ativos?
o Marco criou uma matriz abrangente que permite que No eixo jurídico, deve-se condicionar o sigilo
Juliana Crepalde ICTs façam mais que uma colaboração linear pontual. durante a negociação, avaliar se a tecnologia tem
Segundo Juliana, o NIT precisa estar conectado cotitular, se o contrato já está celebrado e estão
(NIT da UFMG) com o desejo do legislador, que foi criar essa definidos percentuais de copropriedade. Também
matriz tecnológica no Brasil. Ela explicou que as deve-se checar quem é a instituição que vai
fundações apoiam a execução do NIT fazendo liderar e quais as instâncias da ICT que precisarão
interveniências e acordos. ser consultadas.
Juliana afirmou que são avaliados três eixos No eixo comercial, algumas das perguntas são:
nos projetos: técnico, comercial e jurídico. “Cada Qual é a exploração possível? É produto, serviço ou
negociação de licenciamento é única. Vai ter uma combinação? Será a empresa licenciada a explorar
cláusulas contratuais pétreas e de orientação, ou vai sublicenciar? Segundo Juliana, essa resposta
mas as relacionadas à propriedade intelectual e interfere nas cláusulas de remuneração. “Há alguns
exploração comercial são modificadas a depender modelos possíveis, como taxa de acesso, participação
do caso concreto porque são lógicas, têm prazos e em ações, royalties, valor fixo, etc”, detalhou.
58

LGPD: desafios para a


aplicação e adequação da lei
Especialistas debatem
questões como bases
legais, critérios para uso
dos dados e aplicação
em processos
Saber quem é o natural dos dados
Leonardo
e quais são os critérios para o uso,
além de entender as bases legais
Parentoni
da Lei Geral de Proteção de Da- (AGU)
dos (LGPD) e a aplicação dela
nos processos judiciais são pon-
tos que vêm sendo colocados em
debate cada vez mais frequente-
Uma calota de carro pode ser dado
mente. Em painel sobre a LGPD pessoal se gerar consequência jurídica”
(Enastic AGU, 02/07), os partici-
pantes procuraram trazer respos- O artigo 5˚ da LGPD (Lei n˚ 13.709/2018) aquilo que gerasse efeito jurídico para uma
tas a essas e outras questões, além é de interpretação autêntica e existem pessoa natural”, explicou.
de apontar os desafios existentes três formas de se fazer isso, segundo o O procurador citou exemplos
na adequação. procurador federal. A primeira delas é para mostrar que é preciso analisar
Participaram: Leonardo Pa- entender quem é o natural dos dados individualmente, como no caso de uma
rentoni, procurador federal da (nome, RG, CPF, biometria, etc.); a calota de carro. “Nos Estados Unidos, uma
AGU; Oscar Valente, juiz federal segunda, entender se é pessoa identificada pessoa colocou uma calota personalizada
responsável por ações estratégicas ou identificável (para isso é preciso analisar em seu carro. Uma calota normalmente
na Presidência do TRF4; Mar- critérios contextuais e consequenciais); e a não é considerada dado pessoal; mas sua
cos Untura, head de proteção de terceira são as consequências jurídicas do mulher observou no Google Maps que o
dados no RSI; e Gileno Gurjão uso dos dados. carro com a tal calota estava na mansão de
Barreto, diretor jurídico e de Go- Parentoni explicou que a lei brasileira se uma amiga e isso foi usado provavelmente
vernança e Gestão no Serviço Fe- baseia na lei europeia, cujo conceito está em seu processo de divórcio”, contou.
deral de Processamento de Dados contido na opinião 04/2007 do World Forum Com relação à análise consequencial,
(SERPRO). A moderação ficou for Harmonization of Vehicle Regulations Parentoni levantou o contexto relacionado
por conta de Rodrigo Araújo Ri- (WP29), que pode ajudar a entender a à pandemia de coronavírus. “Se existe
beiro, procurador federal e coor- questão da pessoa identificável. “Em 2007 uma câmera na porta que libera a entrada
denador da Escola da AGU-MG foi emitida a opinião 04 definindo como das pessoas automaticamente de acordo
1ª região. identificar na prática se estamos lidando com a temperatura, esse é um dado
com um dado pessoal. A sugestão foi de anônimo. Mas, se a porta não abrir porque a
dois critérios: o primeiro contextual, quando temperatura estiver alta, essa temperatura
só dá para saber analisando-se o caso pode ser considerada dado pessoal porque a
concreto; e o segundo consequencial; temperatura do corpo gerou consequências
quando só seria considerado dado pessoal jurídicas”, explicou.
59

Uma jornada de adequação à LGPD deve partir


da instalação de um comitê específico”
“Com relação à LGPD, há 10 bases legais e tratados nesses processos e identificar bases legais
saltam aos olhos quatro principais ao falarmos que suportam esses tratamentos; e, finalmente, a
sobre adequação”, explicou Untura. Os destaques camada de pessoas, que precisam entender seu
mencionados foram: processo Judicial; obrigação papel, ser treinadas.
legal ou regulatória; política pública; e execução de Uma jornada de adequação à LGPD teria quatro
contratos. fases a partir da instalação e existência de um
O debatedor destacou dois direitos do titular: comitê LGPD nos órgãos. São elas:
o primeiro é o direito de acesso, ou seja, de saber

Marcos Untura se existem dados pessoais seus tratados pela


instituição, como são tratados e até o direito de
Análise e investigação: vem depois de definido
o comitê, do mapeamento de dados, relatórios de
obter cópia desses dados. O segundo é o direito à progresso, etc;
(RSI) explicação, que não é explícito na LGPD. “Muitas Diagnóstico e recomendações: quando é emitido
vezes o titular não quer que esses tratamentos relatório com ações prioritárias, processos que
de dados cessem, quer apenas uma explicação, precisam ser olhados e adequações;
entender o que a instituição faz com os dados e Implementação: quando se produz um roadmap
como funciona”, disse. de implementação, com checkpoints e estratégia de
Segundo Untura, a jornada de adequação comunicação;
tem três camadas: uma jurídico regulatória, em Sustentação: é importante sustentar um programa
que é necessário pensar bases legais e mapear de privacidade ao longo do tempo com ações de
processos de negócios; outra de tecnologia, em que governança de dados e alterações no framework
é necessário entender os dados pessoais que são regulatório, entre outras.

Os impactos práticos da Regulamento Geral sobre a fecharam na União Européia em 2018, o que significa
Proteção de Dados (RGPD) foram muito observados redução do acesso à informação;
na Europa e devem ser considerados por aqui
• Com relação à pesquisa científica, será que hoje
também, segundo Barreto. Ele mencionou os grandes
seria possível fazer pesquisa com liberdade?,
desafios do Serpro atualmente, como desenvolver e questionou;
processar todas as notas eletrônicas, transferências
bancárias do Governo Federal, transações de • As ferramentas de Inteligência Artificial (IA)
importação e exportação, declarações de IR, etc., precisam do uso massivo de dados, ao passo que a
somando mais de 100 bilhões de transações por ano. LGPD tem muitos mecanismos que regulam isso, mas
Barreto apontou alguns pontos e questionamentos o uso é cada vez maior;
para reflexão, que destacamos a seguir: • Deve-se pensar como o marketing e uso das redes
sociais mudarão;
Gileno Gurjão • A LGPD pode fortalecer grandes players do
mercado, que têm muito mais poder para se • É importante observar como ficam as situações
Barreto adaptar e gerenciar os riscos. Os menores devem de pandemia e os limites da utilização de dados
nesse caso;
sofrer mais, inclusive por conta dos investimentos.
(Serpro) “As 500 maiores empresas globais gastaram • Por conta de riscos de segurança cibernética os
US$ 7,8 bilhões em adequação ao RGPD na investimentos terão que ser muito maiores, porque
Europa. As empresas brasileiras com operações dados passarão a ser cada dia mais valiosos;
transnacionais terão que se adaptar não só à LGPD
• Finalmente, as relações entre cidadão e Poder
mas ao RGPD”, disse; Judiciário mudarão bastante, assim como já têm
• Em tese, a LGPD não pode influenciar a liberdade mudado com a pandemia. O conceito de sigilo será
de expressão, mas mais de 1.000 sites de notícias redefinido.
60

Direito Digital e cibercrime


arquivo pessoal

O presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes da


ABRACRIM cita leis importantes no combate aos crimes digitais
“Quando a tecnologia é usada a favor do ho-
mem ela é maravilhosa, mas tem um preço
caro que pagamos na sua utilização diária”,
Oscar Valente disse Luiz Augusto Fillizola D´Urso, advo-
gado, professor e presidente da Comissão
(TRF4) Nacional de Cibercrimes da Associação
Brasileira dos Advogados Criminalistas
“A discussão sobre a aplicação da LGPD
(Abracrim) em sua apresentação (Enastic
não tem posições diferentes, mas tem fases
diferentes de entendimento e aplicação da MP 21/08).
lei”, disse Valente. A primeira é uma fase D´Urso explicou que as empresas inves-
de negação, quando se pensa que a lei foi tem muito em TI internamente, mas, com Luiz Augusto Fillizola D´Urso
criada para resolver problemas comerciais, de a pandemia, seus funcionários estavam em
vazamento de dados. E a segunda é quando se casa, trazendo vulnerabilidade ao sistema.
arquivo pessoal

passa para a aceitação. “É quando devemos


Uma das consequências seria o controle das a levar meses por causa disso. Precisamos
observar a LGPD para fins judiciais”, disse.
Valente apontou quatro fundamentos empresas em relação às nossas vidas. desse sigilo do número de IP?”, indagou.
principais para a aplicação da LGPD. São eles: “Nos Estados Unidos, mais de 50% das Em sua participação, D´Urso também
casas têm uma assistente pessoal por voz. citou outras leis relacionadas ao combate
- Artigo 3˚, inciso I da LGPD, que traz o
princípio da territorialidade. Ou seja, quaisquer Mas paga-se um preço caro em relação à dos crimes digitais que considera impor-
dados tratados em territórios brasileiros se privacidade. Para ativar o ‘Oi, Alexia’, ela tantes. São elas:
submetem; tem que ouvir tudo. E o que é feito com essa
- Artigo 4˚, que prevê situações de exceção informação? Era enviado para os servidores. 1) Lei Carolina Dieckmann (Lei nº
nas quais a LGPD não se aplica. “A LGPD A Amazon estava ouvindo. Imagina se um 12.737/2012): “Pela primeira vez trouxemos
não se aplica, por exemplo, na investigação golpista conhece seu perfil de uso? Fica fácil criminalização de invasão de dispositivo”;
e repreensão penal, ou seja, em inquéritos aplicar golpes.” 2) Lei de importunação sexual (Lei nº
policiais e processos penais. Qualquer processo D´Urso citou o Marco Civil da Internet 13.718/2018): “Incluiu o artigo 218-C no
cível, por sua vez, deve observar as regras”;
(12.965 de 2014), que trouxe alguns arti- Código Penal. Nesta lei, a pena é de 1 a 5
- Artigo 7˚, inciso VI, que traz as bases legais gos na investigação de crimes cometidos anos. Um parágrafo primeiro enquadra o
e trata dos processos administrativos judiciais pela internet e situações que acontecem pornô de vingança”;
e arbitrais, quando há permissão de captação
no Direito Digital. “Primeiro, trouxe dois 3) Deep fake em campanhas - “Foi incluído
de dados;
artigos que falam sobre responsabilidade o artigo 216-B, dez/2018, no Código Pe-
- O 4˚ fundamento aponta que ainda que
de plataforma, o 19 e o 21. O problema é nal. No parágrafo único veio a criminaliza-
não existe tratamento comercial dos dados
pelo poder judiciário, havendo como regra a que, na regra geral, o legislador colocou que ção da Deep Fake”;
publicidade dos atos processuais; a corresponsabilidade só será da plataforma 4) Induzimento/Indução ao suicídio na in-
após descumprir ordem judicial específica. ternet: “O jogo da Baleia Azul gerou um
O juiz também tratou sobre sobre publicidade
e segredo de justiça em sua apresentação. A A exceção é se houver nudez, pornografia. debate jurídico. Se a pessoa não cometesse
divisão do princípio da publicidade, segundo Pode ser muito preocupante eximir tanto a suicídio, só automutilação, não teria enqua-
Valente, pode ser dividida em interna e externa, responsabilidade das plataformas”, explicou. dramento. Veio, então, a Lei nº 13.968/2019,
sendo interna a que permite a qualquer sujeito Ele também citou o artigo 10º, parágra- que mudou o artigo 122 do induzimento ao
do processo ter acesso aos atos, ainda que seja fo. 1º, que mudou a quebra de sigilo de IP. suicídio, incluindo no caput que automutila-
decretado segredo de justiça. “A publicidade
“A única forma de se conseguir é com or- ção é crime, com 6 meses a 2 anos. No pará-
interna é a que está na Constituição. Nesse caso,
não há segredo de justiça. Mas a publicidade dem judicial. Ou seja, burocratizou. O que grafo 7, diz que aquele que induz menor de
externa admite sigilo.” poderia ser resolvido em um mês passou 14 anos vai responder por homicídio.”
61 Artigo |

O papel do juiz
como facilitador do
acesso à jurisdição
O acesso à jurisdição, garantia consti- havia mais petição em papel para des-
tucional traduzida no Artigo 5º, inciso pachar, não havia sentido em se exigir
XXXV, da Constituição Federal, não se o deslocamento até o prédio do Fórum Por Frederico dos
esgota com o acesso ao Judiciário, mas se apenas para essa finalidade. Era um des- Santos Messias, juiz de
traduz de modo concreto na resposta efe- perdício de tempo e dinheiro para todos!
Direito Titular da 4a Vara
tiva da jurisdição à pretensão reconhecida. Assim, a partir da versão para disposi-
No caminho a ser percorrido entre o tivos móveis do Skype, instalada no tele-
Cível de Santos (SP),
acesso ao Judiciário e a efetiva entrega fone celular do magistrado, é viável des- especialista em Direito
do bem da vida, o juiz desenvolve pa- pachar direto com o juiz, no horário de Público pela Escola
pel essencial que vai muito além da sua expediente regular – em São Paulo entre Paulista da Magistratura e
atividade-fim, pois se está a exigir dele a 9h e 19h –, por mensagem escrita, de áu- professor universitário
gestão e implementação de meios efica- dio ou videochamada, sem a necessidade
zes tendentes a facilitar a vida das partes de qualquer agendamento.
e dos seus advogados. Com a implantação da ferramenta do
Forte nessa premissa, estando à frente atendimento à distância, é possível oti-
da equipe da 4ª Vara Cível de Santos, im- mizar o tempo de atendimento e resposta
plementamos um modelo sustentado em – ganho de eficiência –, bem como re-
dois pilares, a saber: transparência e efici- gistrar todos os atendimentos realizados
ência. O modelo visa, no final, garantir a – ganho de transparência.
melhora da prestação jurisdicional. Quando antes se exigia do juiz ape-
Para isso, algumas soluções foram nas bons julgamentos, hoje a cobrança
adotadas, como por exemplo, o contro- também está em uma gestão eficiente da
le diário das filas de movimentação dos equipe de trabalho. O juiz que sentencia
processos, observância rigorosa dos pra- é o mesmo que deve zelar para que a efe-
zos de movimentação processual – inclu- tividade do seu comando atenda ao prin-
sive conclusão –; reunião semanal com cípio constitucional da razoável duração
os chefes da unidade (reunião de pauta); do processo.
criação do Canal de Atendimento direto A sociedade, em constante e rápida
com o juiz para sugestões, reclamações e evolução, está a exigir que o Poder Ju-
elogios (SAC); divulgação via rede social diciário caminhe ao seu lado. O juiz de
de decisões e comunicações da Vara e, a antes, não pode ser o mesmo juiz de hoje.
mais conhecida, atendimento de advoga- Incorporar modernas técnicas de gestão
dos via Skype. e ferramentas tecnológicas não é mais
O atendimento de advogados via uma opção. O Poder Judiciário precisar
Skype surgiu a partir da implementação responder à sociedade com eficiência e
do processo chamado “digital”. Se não transparência.
62 | Artigo

O processo
eletrônico na Corte
Constitucional
Com a consolidação do Processo Judicial tegridade (que não permite a alteração do
eletrônico (PJe) nos Tribunais brasileiros, seu conteúdo). É bem verdade que a Re-
o Supremo Tribunal Federal (STF) revi- solução impõe responsabilidade ao titular
sitou seus sistemas judiciais, bem como de certificação digital e seu respectivo sigilo Por Tiago Carneiro
suas resoluções internas e publicou a Re- da chave privada, não sendo oponível o seu Rabelo, analista do
solução n. 693, de 17 de julho de 2020, que uso indevido.
TJDFT, professor da ESA/
regulamenta o processo judicial eletrônico A transformação digital do processo
naquela Corte, tornando-a mais efetiva na impõe relativas restrições no que tange à
DF (OAB/DF) e autor da
consolidação do microssistema regulatório proteção dos dados constantes em petições obra Manual do Processo
do tema. O Código de Processo Civil diz a e documentos. Logo, a consulta dos autos Judicial Eletrônico
respeito da prática de atos processuais ele- digitais é livre para as certidões e os atos (Ed. Verbo Jurídico, 2019)
trônicos também por videoconferência (art. decisórios, ao passo que a consulta à íntegra
236, §3º), além de sustentações orais (art. dos autos se dará via pessoa credenciada nos
937, §4º) e depoimentos remotos (art. 385, sistemas de processamento, com o apoio lo-
§3º) e inserção de documentos em áudio gístico do STF, se o caso. Toda e qualquer Já o Recurso Extraordinário – RE e o RE
e vídeo (art. 441). Coube, ainda, ao Con- consulta processual, por partes ou terceiros, com Agravo devem ser encaminhados via
selho Nacional de Justiça (CNJ) velar pela ficará registrada no sistema, considerando-se sistemas de processamento eletrônico, após
compatibilidade dos sistemas judiciários e a “versão original” o arquivo digital deposi- o regular processamento nos Tribunais,
disciplinar a incorporação progressiva das tado no servidor da Corte Maior, ainda que incluindo o Superior Tribunal de Justiça
novas tecnologias (art. 196). Relembre-se, remetido por outro Tribunal, enquanto os (STJ), caso haja o processamento do Re-
ainda, que a Lei n. 11.419/2006 e diver- autos digitais estiverem sob a guarda do STF. curso Especial – REsp, com espeque no art.
sos dispositivos aludidos como inconstitu- Os Tribunais e as Turmas Recursais 1031, §1°, do CPC1.
cionais tiveram sua integralidade mantida, têm o lapso de seis meses para a devida Por fim, a transformação digital que
conforme julgamento em sede da Ação Di- adaptação aos ditames da Resolução STF ocorre no Poder Judiciário via recursos tec-
reta de Inconstitucionalidade (ADI 3880). n. 693/2020, que também prevê casos de nológicos pode ofertar maior transparência
Dessa maneira – conforme Resolução ajuizamento em meio físico. Nesse ínterim, de dados, ações e resultados. A exemplo,
do STF – a assinatura digital confere ga- é possível notar, em larga medida, que o tem-se um painel dedicado às ações rela-
rantia de origem e autoria nos documentos Direito Penal e o Processo Penal têm des- cionadas à Covid-19 (Corona Virus Disease
inseridos nos processos digitais, havendo pertado cautelas para a total implementa- 19)2, que tramitaram em meio eletrônico,
ainda uma novidade: a permissão de uma ção do processo em meio eletrônico, pois se devido às restrições sanitárias dos processos
dupla assinatura no documento, conforme tem aí as exceções perante os demais ramos. físicos, que permitem julgamento remoto e
predisposto no art. 4°, §3°, que vemos com O pedido de Habeas Corpus – HC, em ra- acessível a quem de interesse, caso de ob-
ressalvas e cautelas necessárias, ante a ne- zão da sua natureza, pode ser encaminhado servação e análise para a pós-pandemia. De
cessidade de preservação do não-repúdio por meio físico, devendo o STF digitalizar, fato, o STF caminha a passos largos para se
(que garante a autoria da operação) e a in- autuar e convertê-lo para o meio eletrônico. tornar uma Corte Online3.

1. BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 07 ago. 2020.
2. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Painel COVID https://transparencia.stf.jus.br/extensions/app_processo_covid19/index.html Acesso em 11/08/2020.
3. Termo adotado pelo advogado e professor Richard Susskind na obra intitulada Online Courts and the future of Justice. Cf. SUSSKIND, Richard. Online Courts and the future of Justice. Oxford: Oxford University Press, 2019.
63 | Artigo CONTEÚDO PATROCINADO

Inovação para a Justiça


e para a sociedade
Por Alessandra Karine, vice-presidente de Vendas do Setor Público da Microsoft Brasil
O objetivo de todo sistema judiciário é
assegurar aos cidadãos que seus direi-
tos possam ser resguardados. Seja na
esfera estadual ou federal, os órgãos
se organizam de forma a atender as
demandas da sociedade sob sua juris-
dição, da forma mais produtiva e eficaz
possível. Sob essa premissa, o sistema
já vinha caminhando para a renovação
por meio da digitalização de alguns
processos e com o uso da nuvem, seja
com a migração completa ou por meio
da integração aos sistemas legados.
Essa caminhada foi acelerada desde
o começo de 2020, devido à pandemia
causada pelo novo coronavírus (Co- a realizar audiências por meio de video- com relação à continuidade dos proces-
vid-19). E, dessa forma, o papel da tec- conferência com o apoio da plataforma sos, ter uma IA integrada permite que
nologia na viabilização da continuidade de colaboração e comunicação Micro- respostas certas e objetivas cheguem
do trabalho no sistema de justiça nacio- soft Teams. O formato virtual permite ao público de maneira mais rápida sem
nal, ficou ainda mais evidente. Pude- não só que a população não se coloque sobrecarregar os colaboradores.
mos enxergar nos últimos meses como em risco de contaminação da Covid-19 Com a IA, a busca por históricos, in-
diferentes órgãos se organizaram para e elimine custos de deslocamento, formações ou por processos similares
atingir a maturidade digital necessária e como também a acessibilidade. A pla- que possam elucidar os juízes e de-
continuar a atender a população, o que taforma de colaboração e comunicação sembargadores fica mais ágil. Por fim,
foi um marco tanto pela agilidade das conta com recursos nativos, tais como outro benefício esperado pela imple-
equipes em disponibilizar seus serviços legendas e transcrições automáticas, mentação da nuvem é a possibilidade
novamente, quanto por abrir espaço que são de extrema importância para de integração entre os órgãos de justi-
para outras inovações. a inclusão de pessoas com deficiência. ça governamentais, uma inovação que
Um dos exemplos recentes é o Já em termos de privacidade de da- está ganhando espaço nas discussões
do Tribunal de Justiça de São Paulo dos e segurança cibernética, temos entre os tribunais, defensorias e secre-
(TJSP), que até março realizava todo atuado lado a lado com nossos clientes tarias que atuam neste sistema.
o seu atendimento presencialmente. na jornada de adequação à Lei Geral Com base em todos esses desa-
Após cerca de três meses com as por- de Proteção de Dados (LGPD), tirando fios, a Microsoft vem apoiando a esfe-
tas fechadas, o TJSP reabriu unidades proveito sobretudo dos aprendizados e ra judiciária a adotar tecnologias que
judiciais no estado com o apoio da fer- adequações que fizemos globalmente melhor se adequem ao seu momento
ramenta de agendamento Bookings. em virtude da GDPR – regulação euro- na transformação digital e à demanda
Nesse caso, a ferramenta, que é peia para a proteção de dados pessoais. mais vigente entre as pessoas que são
integrada ao pacote de colaboração atendidas na ponta. Além disso, busca-
Microsoft 365, já era utilizada interna- Novas oportunidades mos criar uma comunidade no judiciário
mente pelo órgão e apresentou uma Os órgãos começaram a fazer a imple- brasileiro para incentivar a troca de ex-
nova oportunidade de implementação mentação de IA com assistentes virtuais periências. Acreditamos que assim po-
em um momento crucial. Assim, o ór- ou com chatbots internos para auxiliar demos acelerar ainda mais a inovação
gão pôde controlar o número de aten- em tarefas operacionais, liberando as para os colaboradores e para a socie-
dimentos diários em cada uma das equipes para a atuação em processos dade, estimulando o conhecimento de
unidades com a finalidade de evitar mais específicos. Ainda, a tecnologia novas ferramentas e processos para
aglomerações, eliminar filas de espera também é usada em alguns casos para que eles sejam adotados em outros es-
e facilitar o gerenciamento da própria aprimorar a comunicação entre a po- tados e municípios, levando o sistema
equipe de colaboradores. pulação e a unidade judicial. Tendo em judiciário em todo o país a um novo pa-
Além da disponibilização do trabalho vista que muitas pessoas atendidas por tamar em qualidade de serviços como
remoto, os órgãos começaram também esse sistema têm pouco conhecimento um todo.
64 | Artigo CONTEÚDO PATROCINADO

Transformação digital Sobre a Red Hat


A Red Hat é líder mundial no
fornecimento de soluções open source

e modernização da Tl
para TI corporativa. Por meio de
um modelo de subscrição acessível
e previsível, nossos clientes têm
acesso a tecnologias confiáveis e de

no Poder Judiciário
alta performance em cloud, Linux,
gerenciamento, middleware, mobile,
armazenamento e virtualização.
Oferecemos também premiados serviços
de suporte, treinamento e consultoria.

Por Red Hat


O Poder Judiciário em todo o mundo
está atualizando os seus sistemas le-
gados e fluxos de trabalho baseados
em papel, incorporando tecnologias di-
gitais, principalmente a partir da mobili-
zação global em torno da Covid-19. O
Sistema de Justiça do futuro necessita
ser mais eficaz, transparente e com me-
nor custo.
Este é o momento de os órgãos que
compõe o Poder Judiciário avaliarem
as novas tecnologias para entender
como elas podem contribuir no cumpri-
mento da missão: prestação jurisdicio- De acordo com as metas nacionais e sem perder a compatibilidade e pa-
nal eficaz, em tempo razoável e aces- as metas específicas por segmento da drões de mercado;
sível a todos. Justiça para o ano de 2020, bem como
A tecnologia atual é baseada em os macro desafios do setor no período Gerenciamento de APIs e ferra-
arquiteturas híbridas que dependem de 2021 a 2026, divulgadas pela As- mentas de integração: para arquitetu-
da entrega contínua de microsservi- sociação dos Magistrados Brasileiros ras modernas baseadas em nuvem ou
ços para acompanhar as demandas (AMB), a Red Hat compreende os de- mesmo tradicionais funcionando como
em constante transformação. Nesse safios e apresenta algumas soluções transição para uma futura infraestrutu-
ambiente acelerado, a habilidade de que podem contribuir para o cenário ra ter ferramentas para integração de
alinhar a Tl às estratégias de negócios desejado: componentes de software que vão des-
requer soluções tecnológicas que con- de módulos de aplicação até conectores
sigam acompanhar o mesmo ritmo. As Transformação Digital Open Source: de integração para vários tipos de sis-
soluções open source são baseadas engaje os times em uma nova cultura temas e tecnologias (APIs - Application
nas melhores ideias, que surgem em para elaborar a estratégia, adoção rá- Program Interface, mensageria, Inteli-
um ecossistema saudável da comuni- pida das tecnologias e escale o modelo gência Artificial e Internet das coisas).
dade de desenvolvedores. A Red Hat de transformação;
usa os melhores conceitos e padrões Arquitetura orientada a eventos e
de código aberto para fornecer solu- Armazenamento: recursos avan- virtualização em contêineres: um
ções estáveis e seguras. çados de software. Tenha flexibilidade dos maiores desafios atuais é a capa-
A transformação começa quando de implementação desde a capacidade cidade de lidar com grande quantida-
as organizações adotam uma aborda- de armazenamento até o desempenho de de informação sem que os serviços
gem aberta em três áreas importantes: a ser alcançado sem dependência de computacionais sejam onerados e,
cultura, processos e tecnologia. A cul- hardware específico, reduzindo signifi- consequentemente, haja elevação dos
tura aberta aprimora a colaboração e cativamente os custos dos dados arma- custos. Por isso, uma arquitetura que
a comunicação entre as equipes, ga- zenados por Gigabyte ou Terabyte; responda eventos e abstrai recursos
rantindo a expansão das funções e a computacionais sob demanda tem se
alteração dos cenários tecnológicos. Modernização de aplicações: fer- tornado cada vez mais popular;
Os processos abertos melhoram a qua- ramentas que aumentam a produtivi-
lidade e o time to market ao eliminar dade dos desenvolvedores, como Co- Estabilidade e segurança: queremos
divisões e gerar eficiência em todos os deReady Workspaces para aplicações que você tenha certeza ao adotar uma
aspectos dos negócios. A tecnologia cloud-native baseados em contêineres estratégia de segurança contínua. Nos-
aberta fornece ferramentas modernas e integração DevOps e modernização sa meta é ajudar as empresas a perma-
e seguras para que as equipes possam das aplicações Java tradicionais para necerem competitivas, flexíveis e adap-
inovar mais rapidamente e manter o ambiente de nuvem, mas com baixís- táveis, sem descuidar da segurança
fluxo dos negócios. simo uso de recursos computacionais, nem da conformidade regulatória.
65

Participe do primeiro evento


do Google Cloud exclusivo
para Setor Público
Public Sector Summit

8-9 de dezembro

Descubra estratégias do mundo real para aumentar a eficiência operacional,


reduzir custos e adotar a inovação para você criar experiências melhores e
ter sucesso na sua missão.

Inscreva-se hoje
66

Você também pode gostar