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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CAMPUS SÃO MATEUS


CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

JULIANA GOBETI CALENZANI

MODELAGEM TERMODINÂMICA COMPUTACIONAL DE TURBINAS A GÁS DE


EIXO SIMPLES: INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS OPERACIONAIS NA
POTÊNCIA FINAL DO EQUIPAMENTO

SÃO MATEUS-ES
2017
JULIANA GOBETI CALENZANI

MODELAGEM TERMODINÂMICA COMPUTACIONAL DE TURBINAS A GÁS DE


EIXO SIMPLES: INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS OPERACIONAIS NA
POTÊNCIA FINAL DO EQUIPAMENTO

Monografia apresentada à Coordenadoria do Curso


de Engenharia Mecânica do Instituto Federal do
Espírito Santo, Campus São Mateus, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Engenharia Mecânica.

Orientador: Prof. Me. Filipe Arthur Firmino Monhol.

SÃO MATEUS-ES
2017
Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)
Bibliotecária responsável Rossanna dos Santos Santana Rubim CRB6/ES 403
C149m Calenzani, Juliana Gobeti, 1995-
2017
Modelagem termodinâmica computacional de turbinas a gás de eixo
simples : influência dos parâmetros operacionais na potência final do
equipamento / Juliana Gobeti Calenzani.-- 2017.
51 f. : il. ; 30 cm.

Orientador : Filipe Arthur Firmino Monhol.

Monografia (graduação) - Instituto Federal do Espírito Santo, Campus


São Mateus, Coordenadoria de Curso Superior de Engenharia Mecânica,
2017.

1. Turbina à gás - Desempenho 2. Termodinâmica – Simulação


(Computadores). I. Monhol, Filipe Arthur Firmino. II. Instituto Federal do
Espírito Santo. Campus São Mateus. III. Título.

CDD 22 – 621.4021
À minha família, que sempre me apoiou
e sem a qual eu não chegaria até aqui.
AGRADECIMENTOS

À minha família por sempre acreditar em mim e nunca me deixar desistir. Ao meu pai,
Paulo Augusto Calenzani, por ser um exemplo de superação. À minha mãe, Maria das
Graças Gobeti Calenzani, por todos os conselhos e por me ensinar sempre a estar
disposta a ajudar. Aos meus irmãos, João Felipe e Paulo Henrique, por toda ajuda e
carinho compartilhado.

Ao meu orientador, Filipe Arthur Firmino Monhol, por todo auxílio prestado e pela
disposição em sanar minhas dúvidas.

A todos os amigos que fiz ao longo do curso, em especial às minhas grandes amigas
Carolina, Karoliny, Monique e Williana, por todo apoio e ajuda nos momentos difíceis
e também por toda diversão.

A todos aqueles que embora não tenham sido mencionados sei o quanto contribuíram
para que eu enfrentasse minhas dificuldades e chegasse até aqui.
“Há uma força motriz mais poderosa que o vapor,
a eletricidade e a energia atômica: a vontade.”
(Albert Einstein)
RESUMO

O presente trabalho objetiva analisar e interpretar a influência dos parâmetros de


operação das turbinas a gás de eixo simples em sua potência final. Este equipamento,
que tem como força motriz a energia dos gases liberados na combustão, é
amplamente aplicado no setor energético e como propulsor de aeronaves.
Atualmente, produções acadêmicas que estudem a influência dos parâmetros de
operação no desempenho da turbina a gás através de uma modelagem computacional
são escassas, principalmente em âmbito nacional. Além disso há uma dificuldade de
encontrar trabalhos que reúnam todos esses parâmetros. Dessa forma, levando em
consideração ainda o aumento da demanda dos setores energético e de transporte
aéreo, torna-se necessário investir esforços em pesquisas nesse assunto. Nesse
sentido, para entender o comportamento da potência final com a variação dos
parâmetros de entrada da turbina realizou-se uma modelagem computacional através
do software Microsoft Office Excel®. Os parâmetros estudados estão subdivididos em:
condições do ar de admissão do compressor, combustível utilizado, razões de pressão
e eficiência dos componentes. Os resultados encontrados foram comparados com o
da literatura visando avaliar o quão próximo o modelo adotado está da realidade.
Percebeu-se que os gráficos encontrados assemelham-se aos literatura mostrando a
confiabilidade da modelagem adotada. A temperatura do ar de admissão, a eficiência
dos componentes e a vazão mássica de combustível estão entre os parâmetros que
mais influenciaram na potência líquida.

Palavras-chave: Energia. Turbina a gás. Modelagem computacional. Potência final.


ABSTRACT

The present work aims to analyze the influence of a single axis gas turbine operation
parameters on its final power. Gas turbines, which is fed by combustion gases energy,
are widely applied in the energy sector and as an aircraft propeller. Currently, national
academic researches that study the influence of operating parameters on gas turbine
performance through computational modeling are scarce. In addition, it is difficult to
find works that associate all these parameters. Therefore, there is a increasing need
for investment in researches on this subject since the energy and air transport sectors
demand has risen. In order to understand the effect of the behavior input parameters
variation on the turbine final power, a computational model was developed using
Microsoft Office Excel® software. The parameters studied are subdivided into:
compressor air intake conditions, the fuel used, pressure ratios and components
efficiency. The results were compared the literature in order to evaluate how close the
adopted model is from reality. It was noticed that the graphs found a good agreement
with literature, which prooves the accuracy of the method. The air intake temperature,
components efficiency, and the fuel mass flow are among the parameters that most
influenced net power.

Keywords: Energy. Gas turbine. Computational modeling. Final power.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Turbina a gás operando em ciclo aberto....................................................12


Figura 2: Configurações de turbinas a gás................................................................17
Figura 3: Reator em regime permanente..................................................................20
Figura 4: Influência da temperatura do ar no rendimento e na potência de uma
turbina a gás simples..................................................................................22
Figura 5: Influência da umidade relativa do ar no rendimento e na potência de uma
turbina a gás simples para as temperaturas de admissão de 15 °C e 40°C
....................................................................................................................23
Figura 6: Influência da pressão atmosférica no rendimento e na potência de uma
turbina a gás simples.................................................................................23
Figura 7: Vazão de ar em função da potência de uma turbina a gás de ciclo simples
operando com gás natural..........................................................................25
Figura 8: Vazão de combustível em função da potência no GateCycle, TurboCycle e
na turbina Capstone operando com: (a) biodiesel e (b) gás natural.......... 26
Figura 9: Vazão de combustível em função da potência no GateCycle e TurboCycle
para uma turbina de ciclo simples operando com: (a) gás natural e (b)
biogás........................................................................................................27
Figura 10: Diagrama T-s para o ciclo real..................................................................28
Figura 11: Trabalho do compressor em função da razão de compressão para
diferentes TIT............................................................................................29
Figura 12: Potência total em função da razão de compressão para diferentes TIT...30
Figura 13: Eficiência do ciclo em função da razão de compressão para diferentes
valores de eficiência isentrópica (a) do compressor e (b) da turbina.......31
Figura 14: Tela de apresentação do programa..........................................................32
Figura 15: Potência líquida em função da temperatura e da pressão do ar..............39
Figura 16: Potência Líquida em função da umidade relativa do ar para diferentes
temperaturas de admissão com (a) 100% e (b) 300% de ar em
excesso ....................................................................................................40
Figura 17: Potência Líquida em função da vazão mássica de combustível para
diferentes combustíveis............................................................................41
Figura 18: Potência líquida em função das temperaturas do ar e do combustível para
uma razão de expansão de (a) 5,6 e (b) 9...............................................42
Figura 19: Potência líquida em função da razão de compressão para diferentes
TIT.............................................................................................................44
Figura 20: Potência líquida em função da razão de expansão para diferentes TIT...44
Figura 21: Mapa da potência líquida em função das razões de pressão...................45
Figura 22: Potência líquida em função da razão de pressão e eficiência do
compressor................................................................................................46
Figura 23: Potência líquida em função da razão de pressão e eficiência da turbina.47
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Composição do ar atmosférico seco.........................................................33


Tabela 2: Coeficientes utilizados para o cálculo de 𝑐̅𝑝 em kJ/kmol∙K.......................35
Tabela 3: Entalpias de formação...............................................................................36
Tabela 4: Valores de entrada para o ponto de projeto..............................................38
LISTA DE SÍMBOLOS

ℎ̅𝑓0 : entalpia de formação em base molar


Ẇ𝐶 : potência do compressor
𝑊̇𝑇 : potência da turbina
𝑊̇𝑙𝑖𝑞 : potência final ou líquida da turbina a gás
𝑐̅𝑝 : calor específico à pressão constante em base molar
A⁄C: razão ar/combustível
ℎ̅: entalpia em base molar
ƞ𝐶𝐶 : eficiência na câmara de combustão
ƞ𝐼𝑆𝑂
𝑇 : eficiência isentrópica da turbina

ƞ𝐼𝑆𝑂
𝑐 : eficiência isentrópica no compressor

𝑅̅ : constante universal dos gases


𝑚̇: vazão mássica
𝑟𝐶 : razão de pressão no compressor ou razão de compressão
𝑟𝑇 : razão de pressão na turbina ou razão de expansão
n: número de moles
Ø: umidade relativa do ar
p: pr ℎ essão
s: entropia
T: temperatura
TIT: temperatura de entrada na turbina
U: energia interna
V: volume
α: excesso de ar
𝛿𝑄: transferência de calor.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14
2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 17
2.1 TURBINAS A GÁS E SUAS CLASSIFICAÇÕES ............................................. 17
2.2 CONCEITOS TERMODINÂMICOS .................................................................. 18
2.2.1 Variação de entalpia e entropia de um gás ideal .............................................. 18
2.2.2 Temperatura adiabática de chama ................................................................... 19
3 REVISÃO DE BIBLIOGRAFIA ........................................................................ 22
3.1 INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES DO AR DE ADMISSÃO DO
COMPRESSOR ................................................................................................ 22
3.2 INFLUÊNCIA DO COMBUSTÍVEL UTILIZADO ............................................... 25
3.3 INFLUÊNCIA DAS RAZÕES DE PRESSÃO .................................................... 28
3.4 INFLUÊNCIA DAS EFICIÊNCIAS DOS COMPONENTES............................... 30
4 METODOLOGIA .............................................................................................. 32
4.1 MODELAGEM DO PROBLEMA ....................................................................... 32
4.2 VALORES ADOTADOS COMO PONTO DE PROJETO .................................. 38
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................... 39
5.1 POTÊNCIA FINAL EM FUNÇÃO DAS CONDIÇÕES DO AR DE ADMISSÃO 39
5.2 POTÊNCIA FINAL EM FUNÇÃO DO COMBUSTÍVEL UTILIZADO ................. 41
5.3 POTÊNCIA FINAL EM FUNÇÃO DAS RAZÕES DE PRESSÃO ..................... 43
5.4 POTÊNCIA FINAL EM FUNÇÃO DAS EFICIÊNCIAS DOS COMPONENTES 45
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 48
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 49
14

1 INTRODUÇÃO

A energia é essencial para o desenvolvimento, que é uma aspiração fundamental de


todos os países (BARROS, 2007). Segundo Goldemberg (2000) o seu consumo
cresce 2% ao ano e as perspectivas no ano de seu estudo eram que este valor
dobraria em 2030.

A maior parte da energia gerada no mundo é produzida em usinas termelétricas que,


segundo Tolmasquim (2005, p. 53), tem seu processo de funcionamento baseado na
conversão de energia térmica em mecânica e desta em elétrica. Este processo pode
ser realizado através de um ciclo de potência a vapor, de potência a gás ou ainda de
um ciclo combinado, que é uma combinação dos dois.

Neste cenário encontram-se as turbinas a gás, motores rotativos compostos por três
principais equipamentos: compressor, câmara de combustão e turbina. Produzem
potência ao operarem em ciclo aberto ou fechado, sendo a primeira forma,
representada na Figura 1, a mais comum. Parte dessa potência é utilizada para
acionar o compressor enquanto o restante, chamado de potência útil ou final, fica
disponível para diversos fins (MORAN et al., 2013, p. 402).

Figura 1 – Turbina a gás operando em ciclo aberto.

Fonte: Nascimento e outros (2004, p. 323).

No ciclo aberto o ar atmosférico é admitido no compressor onde é comprimido, em


seguida é direcionado à câmara de combustão onde é misturado ao combustível. A
mistura então sofre combustão gerando gases a altas temperaturas que são
encaminhados à turbina e, ao se expandirem até a pressão atmosférica, produzem
potência. Os gases de exaustão são jogados na vizinhança sem que haja uma
15

recirculação, motivo pelo qual o ciclo é denominado de aberto (ÇENGEL; BOLES,


2013, p. 507).

Plantas de potência a gás ainda possuem uma pequena contribuição na matriz


energética nacional, porém projeções indicam que haverá uma mudança neste
cenário. Segundo Tolmasquim e outros (2007) o gás natural, o combustível mais
utilizado em turbinas a gás, que em 2005 representava pouco mais de 9% desta matriz
passará a representar mais de 15% em 2030.

Soares (2011) afirma que um dos obstáculos à expansão do uso de turbinas a gás no
Brasil é que toda tecnologia e os equipamentos são importados a um custo alto. Seu
trabalho destaca, ainda, as vantagens competitivas das turbinas a gás, como a partida
rápida, a estrutura compacta, a alta eficiência térmica e baixo consumo de água.

Apesar de sua pequena participação na geração de energia no país, o gás natural é


amplamente aplicado no exterior, representando 21% da oferta de energia mundial
em 2007 (VICHI; MANSOR, 2009). Por serem mais leves e compactas do que as
instalações de potência a vapor, as turbinas a gás permitem sua aplicação em
transportes, como na propulsão de aeronaves ou ainda em instalações de potências
marítimas (MORAN et al., 2013, p. 402).

Segundo Barros (2007), frente ao crescimento acelerado do consumo mundial de


energia somado às incertezas quanto ao suprimento de necessidades futuras,
pesquisas por novas fontes energéticas e pelo melhoramento das atuais podem adiar
as previsões de crises energéticas.

De acordo com Bicalho e Almeida (2001) as turbinas a gás têm desempenhado um


papel importante na evolução tecnológica recente da indústria de eletricidade.
Segundo eles, plantas que utilizam essa tecnologia de geração são mais eficientes e
apresentam um tempo de construção menor, além de serem economicamente
competitivas.

Tendo em vista a escassez de pesquisas, principalmente no Brasil, que estudem a


influência dos parâmetros de operação das turbinas a gás em sua potência final,
16

somada a dificuldade de encontrar um trabalho que reúna a análise de todos esses


parâmetros nas mesmas condições de operação, percebe-se a necessidade da
realização de estudos nessa área. Neste contexto, o presente trabalho tem como
objetivo analisar e interpretar a influência dos parâmetros de operação de turbinas a
gás de eixo simples em sua potência final por meio de uma modelagem
computacional.

Os parâmetros de operação a serem estudados são: a temperatura de entrada (TIT),


a vazão mássica e a composição do combustível a base de hidrocarbonetos; a
temperatura, pressão, umidade e ar em excesso do ar de entrada; e as eficiências e
condições dos equipamentos que compõem a turbina.
17

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Para a realização dos estudos propostos, compreender o funcionamento das turbinas


a gás, sua forma construtiva, bem como os conceitos termodinâmicos necessários
para sua modelagem é de suma importância, portanto estes assuntos são abordados
pela presente sessão.

2.1 TURBINAS A GÁS E SUAS CLASSIFICAÇÕES

Como mencionado anteriormente as turbinas a gás podem operar em circuitos abertos


ou fechados, sendo a primeira configuração a mais comum e, portanto, a adotada
neste trabalho. Segundo Nascimento e outros (2004, p. 322) os principais fatores que
afetam o desempenho desta configuração são a eficiência dos componentes e a
temperatura de entrada na turbina.

Nascimento e outros (2004, p. 324) apresentam as configurações que as turbinas a


gás industriais podem adotar considerando-se apenas a adição de turbinas e
compressores, ilustradas na Figura 2.

Figura 2 – Configurações de turbinas a gás.

Fonte: Nascimento e outros (2004, p. 324).


18

As Figuras 2 (a), (b) e (c) representam as configurações sem turbina livre. O primeiro
caso é o mesmo da Figura 1 e é muito aplicado a operações que exigem velocidade
e carregamento constante. Esta configuração é muito aplicada na geração elétrica,
onde é chamada de Heavy duty Gas Turbine. As configurações (d), (e) e (f),
apresentam turbinas livres e gerador de gás de um, dois ou três eixos. Estas
configurações possuem aplicações industriais e aeronáuticas – no último caso a
turbina livre é substituída por um bocal de propulsão. As turbinas a gás que
apresentam mais de um eixo, no gerador de gás, possuem maior aplicação na
aeronáutica (NASCIMENTO et al., 2004, p. 323-324).

Por ser amplamente aplicada na indústria de geração termelétrica, este trabalho adota
como modelo a configuração de um eixo, sem turbina livre.

2.2 CONCEITOS TERMODINÂMICOS

Para que seja possível estabelecer o modelo do problema estudado é necessário


inicialmente definir alguns conceitos termodinâmicos.

2.2.1 Variação de entalpia e entropia de um gás ideal

Ao analisarmos um processo termodinâmico frequentemente encontramos a soma da


energia interna U com o produto da pressão p pelo volume V (𝑈 + 𝑝𝑉). Essa
combinação é definida como uma propriedade chamada de entalpia e é representada
por h (ÇENGEL; BOLES, 2013, p. 124).

Para o caso específico de gases ideais a variação desta propriedade pode ser obtida
em base molar por meio da Equação (1) (VAN WYLEN et. al., 1995, p. 89):

𝑇2
ℎ̅(𝑇2 ) − ℎ̅(𝑇1 ) = ∫ 𝑐̅𝑝 (𝑇) 𝑑𝑇 (1)
𝑇1

onde 𝑐̅𝑝 é o calor específico à pressão constante em base molar e T é a temperatura.


19

Outro conceito importante é a entropia que segundo Moran et. al. (2013, p. 220) é uma
propriedade do sistema que mensura suas irreversibilidades. Sua variação é
independente do processo, desde que seja internamente irreversível, dependendo
apenas dos estados inicial e final e sendo dada pela Equação (2):

2
𝛿𝑄
𝑆2 − 𝑆1 = (∫ ) (2)
1 𝑇 𝑖𝑛𝑡
𝑟𝑒𝑣

onde 𝛿𝑄 representa a transferência de calor.

Para gases ideais esta variação pode ser calculada, em base molar, por meio da
seguinte equação (VAN WYLEN et. al., 1995, p. 176):

𝑇2
𝑑𝑇 𝑝2
𝑠̅(𝑇2 , 𝑝2 ) − 𝑠̅(𝑇1 , 𝑝1 ) = ∫ 𝑐̅𝑝 (𝑇) − 𝑅̅ 𝑙𝑛 (3)
𝑇 𝑝1
𝑇1

onde 𝑅̅ é a constante universal dos gases e p a pressão.

A integração do primeiro termo das Equações (1) e (3) não pode ser resolvida de
forma trivial, uma vez que o calor específico à pressão constante 𝑐̅𝑝 é função da
temperatura. Apesar de em alguns casos este valor ser admitido como constante, tal
procedimento deve ser realizado somente para pequenos intervalos de temperatura,
tornando inviável sua aplicação em turbinas a gás.

Um método para a resolução desta integral é a aproximação dos valores de 𝑐̅𝑝 para
os de uma equação cujo valor das constantes é tabelado para diferentes gases.
Diversas equações podem ser encontradas na literatura, Çengel e Boles (2013, p.
911) fornecem uma tabela com os valores A, B, C e D para cada substância a ser
analisada pela equação polinomial de ordem três apresentada na Equação (4):

𝑐̅𝑝 = 𝐴 + 𝐵𝑇 + 𝐶𝑇 2 + 𝐷𝑇 3 (4)
20

2.2.2 Temperatura adiabática de chama

A Figura 3 é um esquema de um reator em regime permanente onde ocorre a queima


completa do combustível e não há geração de trabalho. Sob essas condições
podemos considerar que a energia liberada na combustão é transferida do reator
somente através da transferência de calor para a vizinhança e pela energia associada
aos produtos de combustão (MORAN et. al., 2013, p. 637).

Figura 3 – Reator em regime permanente.

Fonte: autora.

Essa energia associada aos produtos será maior, e consequentemente sua


temperatura Tp também será, quanto menor for a transferência de calor. Ou seja, a
maior temperatura alcançada teoricamente seria quando o reator operasse num
processo adiabático, esta temperatura é denominada temperatura adiabática de
chama e pode ser encontrada através dos princípios de conservação de massa e
energia (MORAN et. al., 2013, p. 637).

∑ 𝑛𝑒 ℎ̅𝑒 = ∑ 𝑛𝑖 ℎ̅𝑖 (5)


𝑃 𝑅

Na Equação (5) o subscrito i refere-se ao fluxo de entrada do ar e do combustível


enquanto e refere-se aos produtos de combustão, P e R representam respectivamente
os produtos e os reagentes. Os números de moles n podem ser encontrados a partir
da equação da reação química.

O lado direito da equação pode ser calculado uma vez que os estados dos reagentes
sejam conhecidos. Como os termos do lado esquerdo estão em função da
temperatura adiabática de chama e o somatório deles deve ser igual ao valor
21

calculado no lado direito, esta temperatura pode ser encontrada através de iterações
até que a igualdade torne-se verdadeira (MORAN et. al., 2013, p. 638).

Como a combustão real não é adiabática, existe uma eficiência da câmara de


combustão, a energia associada aos produtos (representada pelo lado esquerdo da
equação) deve ser multiplicada por este valor.

Segundo Van Wylen e outros (1995, p. 414) a temperatura adiabática de chama pode
ser controlada pela quantidade de excesso de ar utilizada. Os autores afirmam que no
caso de turbinas a gás, realizar um rigoroso controle da temperatura dos produtos de
combustão é essencial, uma vez que a temperatura máxima admissível é limitada por
questões metalúrgicas.
22

3 REVISÃO DE BIBLIOGRAFIA

Para que os resultados encontrados por este trabalho possam ser comparados com
outros, a presente seção faz um apanhado bibliográfico de publicações acadêmicas
que tratam da influência dos parâmetros de operação de turbinas a gás em sua
potência final. O primeiro tópico trata da influência das condições do ar de admissão
do compressor, abordando a temperatura de entrada, umidade relativa, pressão e
vazão do ar. Em seguida é discutida a influência da composição, vazão e temperatura
do combustível utilizado. O terceiro tópico discute como as razões de pressão do
compressor e turbina afetam a potência final da turbina a gás. Por último é
apresentada a influência das eficiências dos componentes que compõem a turbina.

3.1 INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES DO AR DE ADMISSÃO DO COMPRESSOR

Guirardi (2008) estudou a influência do resfriamento do ar de entrada no desempenho


de turbinas a gás. O autor faz uma comparação entre dois métodos de resfriamento
do ar de entrada, o resfriamento evaporativo e o resfriamento por ciclo de absorção
com aproveitamento da energia dos gases. Guirardi (2008) conclui que esta técnica
gera um aumento da potência e que apesar do método de absorção promover maiores
ganhos, o método evaporativo é o mais econômico.

Figura 4 – Influência da temperatura do ar no rendimento e na potência de uma


turbina a gás simples.

Fonte: Guirardi (2008, p. 76).


23

Entre os resultados de seu estudo Guirardi (2008) obteve os gráficos apresentados


nas Figuras 4, 5 e 6. Na Figura 4 constata-se a influência negativa do aumento da
temperatura tanto no rendimento quanto na potência das turbinas a gás.

A Figura 5 mostra que a umidade relativa possui maior influência no rendimento e na


potência da turbina em temperaturas mais elevadas do ar de admissão. Por fim, na
Figura 6 percebe-se que apesar de sua grande influência na potência, a pressão
atmosférica pouco influencia no rendimento da turbina.

Figura 5 – Influência da umidade relativa do ar no rendimento e na potência de uma


turbina a gás simples para as temperaturas de admissão de 15 °C e 40°C.

Fonte: Guirardi (2008, p. 78).

Figura 6 – Influência da pressão atmosférica no rendimento e na potência de uma


turbina a gás simples.

Fonte: Guirardi (2008, p. 78).


24

Bédécarrats e Strub (2009) também estudaram sobre o resfriamento do ar de entrada


na turbina a gás. Porém o método analisado por eles utiliza da tecnologia dos
materiais de mudança de fase, ou PCM (do inglês Phase Change Materials). Este tipo
de material, mais comumente empregado na engenharia civil, ao mudar de fase em
determinada faixa de temperatura se liquefaz ou solidifica absorvendo ou liberando
energia (OLIVEIRA; AZAMBUJA, 2015). Os autores também relacionaram a potência
final da turbina com a temperatura e umidade do ar admitido.

De acordo com Popli e outros (2012), em climas quentes, a eficiência de indústrias


energéticas de grande porte que utilizam turbinas a gás para a geração de energia,
como por exemplo usinas de processamento de gás natural ou refinarias de petróleo,
pode ser aumentada através da redução da temperatura de entrada do ar no
compressor da turbina. Nesse contexto, os autores realizaram um estudo, com ênfase
nas instalações localizadas no Golfo Pérsico ou expostas a climas quentes, sobre o
uso de um sistema de refrigeração por absorção de calor que utiliza o calor residual
dos gases de escape da turbina a gás. Como resultados da modelagem
termodinâmica, os autores obtiveram dados gráficos similares aos de Guirardi (2008)
e aos de Bédécarrats e Strub (2009).

Sa e Zubaidy (2011) também estudaram a influência da temperatura ambiente no


desempenho de turbinas a gás, porém os autores utilizaram medições de
temperaturas reais na cidade de Dubai e compararam os resultados entre dois
modelos de turbinas da SIEMENS®. Os gráficos obtidos por eles condizem com os
dos outros autores.

Outro parâmetro que possui influência na potência útil da turbina a gás é a vazão
mássica de ar na entrada do compressor. Carvalho (2006), cujo trabalho será
discutido na sessão posterior, obteve o gráfico da Figura 7 que mostra essa relação
para uma turbina a gás de ciclo simples operando com gás natural. Observa-se que
um decréscimo de aproximadamente 1 kg/s de vazão do ar, provoca um aumento de
cerca de 45 MW de potência.
25

Figura 7 – Vazão de ar em função da potência de uma turbina a gás de ciclo simples


operando com gás natural.

Fonte: Carvalho (2006, p. 84).

3.2 INFLUÊNCIA DO COMBUSTÍVEL UTILIZADO

Carvalho (2006) desenvolveu um programa computacional, que denominou de


TurboCycle, visando simular e analisar o comportamento e desempenho térmico de
turbinas a gás de eixo simples. Seu programa permite simular a turbina operando com
qualquer combustível líquido ou gasoso, exigindo apenas que o usuário entre com a
composição química e os parâmetros de operação desejados. Em sua dissertação,
Carvalho (2006) simulou a turbina a gás operando em ciclo simples com gás natural
e com biogás e comparou os resultados obtidos com o do programa GateCycle a fim
de avaliar seu programa computacional. Realizou ainda outra simulação para
comparar os dados obtidos pelos dois programas com os dados reais da micro turbina
Capstone, desta vez o ciclo adotado foi o regenerativo operando com gás natural,
diesel e biodiesel.

As Figuras 8 (a) e (b) mostram a potência da turbina em função da vazão mássica de


combustível comparando os resultados obtidos pelo autor, no TurboCycle, com os do
programa GateCycle e com a turbina Capstone. Em (a) a turbina opera com biodiesel
enquanto em (b) com gás natural.
26

Figura 8 – Vazão de combustível em função da potência no GateCycle, TurboCycle


e na turbina Capstone operando com: (a) biodiesel e (b) gás natural.

(a)

(b)
Fonte: Carvalho (2006, p. 92 e 98).

O autor comenta que na Figura 8 (a) os resultados de seu programa apresentam o


mesmo comportamento dos resultados experimentais e que a diferença encontrada
deve-se ao fato dos mapas dos compressores e da turbina não serem os mesmos.
Destaca ainda que em (b) ambos os programas tiveram comportamento semelhantes
ao real, entretanto o TurboCycle apresentou melhor aproximação ao valor
experimental.
27

Ao analisar os gráficos percebe-se ainda que para uma mesma potência o gás natural
exige uma menor vazão mássica do que o biodiesel, mostrando-se mais eficiente.
O autor compara ainda os resultados da influência da vazão mássica de combustível
na potência da turbina a gás de eixo simples operando com gás natural e com biogás,
apresentados na Figura 9 (a) e (b). Observa-se que o gás natural também é mais
eficiente que o biogás.

Figura 9 – Vazão de combustível em função da potência no GateCycle e TurboCycle


para uma turbina de ciclo simples operando com: (a) gás natural e (b) biogás.

(a)

(b)
Fonte: Carvalho (2006, p. 85 e 88).
28

3.3 INFLUÊNCIA DAS RAZÕES DE PRESSÃO

Segundo Carvalho (2006, p. 34-36) um parâmetro muito utilizado na análise de


desempenho dos compressores e turbinas de uma turbina a gás é a razão de pressão.
Para os compressores esta também é chamada de razão de compressão, e é dada
pela razão entre a pressão após o compressor e em sua entrada (𝑝2 ⁄𝑝1 ). No caso das
turbinas (componente da turbina a gás) esta razão pode ser chamada de razão de
expansão e é dada pela razão entre a pressão na entrada da turbina e na sua saída
(𝑝3 ⁄𝑝4 ).

Na Figura 10 Nascimento e outros (2004, p. 332) apresentam um diagrama T-s de um


ciclo real. O diagrama mostra as perdas de carga que ocorrem no ciclo, ocasionando
numa diminuição da razão de expansão em relação à de compressão. Desta forma a
razão de pressão na turbina, para um ciclo real, sempre será menor que a no
compressor.

Figura 10 – Diagrama T-s para o ciclo real.

Fonte: Nascimento e outros (2004, p. 332).

Segundo Nascimento e outros (2004, p. 324) para razões de pressão acima de 8:1 é
recomendável o uso de vários eixos, contudo existem turbinas a gás de um eixo com
razão de pressão 15:1.
29

Percebendo a baixa eficiência térmica nos ciclos simples de turbinas a gás,


principalmente em ambientes com temperaturas extremamente altas, Bouam e outros
(2008) propuseram um estudo sobre a injeção de vapor em turbinas a gás que operam
nas condições climáticas do Sahara. Este método, de acordo com Nascimento e
outros (2004, p. 339) tem sido a solução para problemas de poluição, aumento de
potência e eficiência.

Para avaliar a melhoria proposta, os autores realizaram primeiramente a análise de


uma turbina a gás simples. A Figura 11 mostra a relação entre a razão de compressão,
para diferentes temperaturas de entrada na turbina (TIT), e o trabalho do compressor,
ou seja, o trabalho consumido pelo ciclo. Percebe-se um grande aumento na potência
do compressor conforme aumenta-se a relação de pressão.

Figura 11 – Trabalho do compressor em função da razão de compressão para


diferentes TIT.

Fonte: Bouam e outros (2008).

Ibrahim e Rahman (2012) também estudaram a influência da razão de compressão


no desempenho de turbinas a gás, porém o ciclo adotado por eles é o combinado.
Para realizar a modelagem do problema os autores utilizaram o software MATLAB ®.
A Figura 12, obtida por eles, relaciona a razão de compressão, para diferentes TIT,
com a potência total. Os resultados mostraram que apesar da eficiência aumentar, a
potência total diminuiu com o aumento da taxa de compressão. Isso ocorre pelo fato
30

da potência do compressor aumentar, conforme demonstrado por Bouam e outros.


(2008), consumindo maior energia do sistema.

Em 2014, os autores realizaram outro estudo sobre a razão de compressão, porém


desta vez Ibrahim e Rahman (2014) avaliaram oito diferentes configurações de ciclos
de potência a gás.

Figura 12 – Potência total em função da razão de compressão para diferentes TIT.

Fonte: Ibrahim e Rahman (2012).

3.4 INFLUÊNCIA DAS EFICIÊNCIAS DOS COMPONENTES

Braga (2013) realizou o levantamento de dados operacionais de turbinas a gás que


operam em plataformas de petróleo offshore na Bacia de Campos. Por meio de uma
modelagem termodinâmica a autora calculou os parâmetros de desempenho não
fornecidos pelos fabricantes. Dentre estes, encontram-se as eficiências isentrópicas
do compressor e da turbina e a eficiência de combustão, que apresentaram os valores
de 86%, 89% e 99% respectivamente.

Ibrahim e Rahman (2012), citados na sessão anterior, obtiveram ainda em seus


resultados a influência das eficiências isentrópicas do compressor e da turbina na
eficiência do sistema. Tal resultado pode ser observado nas Figuras 13 (a) e (b) que
mostra que um acréscimo nas duas eficiências isentrópicas gera um aumento na
eficiência do ciclo.
31

Figura 13 – Eficiência do ciclo em função da razão de compressão para diferentes


valores de eficiência isentrópica (a) do compressor e (b) da turbina.

(a)

(b)
Fonte: Ibrahim e Rahman (2012).

Conhecer a influência dos parâmetros apresentados nesta sessão sobre a potência


líquida de uma turbina a gás, bem como seus valores tipicamente utilizados, auxiliará
na construção da metodologia apresentada na sessão posterior e na análise dos
resultados.
32

4 METODOLOGIA

4.1 MODELAGEM DO PROBLEMA

Para calcular a potência útil da turbina inicialmente realizou-se a modelagem


termodinâmica do problema, o algoritmo obtido foi implementado no software
Microsoft Office Excel® afim de se construir um programa computacional. Para isso o
modelo computacional foi escrito na linguagem da plataforma Visual Basic for
Applications (VBA) do próprio pacote Microsoft Office®.

A Figura 14 mostra a tela de apresentação do programa, na qual o usuário deve inserir


os parâmetros de operação da turbina enfatizados no Quadro 1.

Figura 14 – Tela de apresentação do programa.

Fonte: autora.

O primeiro passo da modelagem é montar a reação química da combustão.


Inicialmente considerou-se a queima do combustível como completa, utilizando ar
atmosférico úmido e em excesso. De posse da composição do ar atmosférico seco e
da umidade relativa do ar, é possível encontrar as quantidades de mol de cada
molécula que compõe o ar admitido na entrada do compressor.
33

Quadro 1 – Parâmetros de entrada para o cálculo da potência final da turbina.


UNIDADE DE
PARÃMETRO SÍMBOLO
MEDIDA
Combustível

Átomos de carbono x Unid.


Átomos de hidrogênio y Unid.
Vazão mássica 𝑚̇𝑐𝑜𝑚𝑏 kg/s
Temperatura do
Tcomb °C
combustível
Ar de entrada
Umidade relativa do ar Ø %
Temperatura do ar Tar °C
Pressão do ar Par bar
Excesso de ar α %
Eficiência dos Componentes
Eficiência do
ƞ𝐼𝑆𝑂
𝑐 %
compressor
Eficiência na câmara de
ƞ𝐶𝐶 %
combustão
Eficiência na turbina ƞ𝐼𝑆𝑂
𝑇 %

Razões de pressão
Razão de pressão no
𝑟𝐶 -
compressor
Razão de pressão na
𝑟𝑇 -
turbina a gás
Fonte: autora.

Para tanto considerou-se o ar atmosférico seco com a composição informada na


Tabela 1.

Tabela 1 – Composição do ar atmosférico seco.

CONSTITUINTE COMPOSIÇÃO (%)


Gás oxigênio (O2) 20,95
Gás nitrogênio (N2) 79,01
Gás carbônico (CO2) 0,04
Fonte: autora.

Porém o ar atmosférico possui uma umidade relativa Ø, fornecida pelo usuário, a partir
da qual a composição do ar é recalculada. A fração molar do vapor d’água yv pode ser
encontrada pela Equação (6):

Ø ∙ 𝑃𝑠𝑎𝑡 (𝑇𝑎𝑟 )
𝑦𝑣 = (6)
𝑃𝑎𝑟
34

onde 𝑃𝑠𝑎𝑡 (𝑇𝑎𝑟 ) é a pressão de saturação da água na temperatura do ar informada pelo


usuário. Através dos valores de pressão de saturação da água para diferentes
temperaturas, obtidos na Tabela A-2 apresentada por Moran e outros (2013, p. 710-
711), encontrou-se a função que relaciona estas propriedades que foi inserida no
programa.

Em seguida é feito o balanceamento da reação para 1 kmol de combustível. O


combustível utilizado deve ser um dos hidrocarbonetos presentes na Tabela 2, cuja
composição química é informada pelo usuário. Assim é possível encontrar os
coeficientes estequiométricos n de cada elemento, gerando a seguinte reação química
de combustão:

𝐶𝑥 𝐻𝑦 + 𝑎 ∙ (1 + 𝛼) ∙ (𝑛𝑂2 𝑂2 + 𝑛𝑁2 𝑁2 + 𝑛𝐶𝑂2 𝐶𝑂2 + 𝑛𝐻2 𝑂 𝐻2 𝑂)


→ 𝑏𝐶𝑂2 + 𝑐𝐻2 𝑂 + 𝑑𝑁2 + (𝛼 ∙ 𝑎 ∙ 𝑛𝑂2 ) ∙ 𝑂2

em que α representa o ar em excesso. Em seguida deve-se encontrar os números de


mols a, b, c e d. Este procedimento é realizado por meio da resolução de um sistema
de equações.

Para encontrar a potência líquida fornecida no ciclo, precisa-se encontrar os valores


de 𝑇2𝑠 , 𝑇2 , 𝑇3 , 𝑇4𝑠 e 𝑇4 , referentes aos pontos indicados nas Figuras 1 e 10, onde o
subscrito s indica uma temperatura ideal, a de um processo isentrópico.

A temperatura 𝑇2𝑠 é calculada a partir da variação de entropia definida na sessão 2.2.1.


Para um compressor ideal a variação de entropia entre os pontos 1 e 2s é nula, desta
forma pode ser obtida pela Equação (7):

∆𝑠̅1−2𝑠 = 𝑛𝑂2 ∙ ∆𝑠̅𝑂2 + 𝑛𝑁2 ∙ ∆𝑠̅𝑁2 + 𝑛𝐶𝑂2 ∙ ∆𝑠̅𝐶𝑂2 + 𝑛𝐻2 𝑂 ∙ ∆𝑠̅𝐻2 𝑂 = 0 (7)

A variação de entropia para cada gás é calculada por meio da Equação 3 entre os
pontos 1 e 2s, onde os valores de 𝑐̅𝑝 são obtidos através da Equação 4 e a temperatura
em 1 é a do ar de entrada. Os coeficientes A, B, C e D, fornecidos por Çengel e Boles
(2013, p. 911), estão dispostos na Tabela 2.
35

Tabela 2 – Coeficientes utilizados para o cálculo de 𝑐̅𝑝 em kJ/kmol∙K.

Substância Fórmula A B C D

Oxigênio 𝑂2 25,48 1,520 x 10−2 -0,7155 x 10−5 1,312 x 10−9

Nitrogênio 𝑁2 28,9 -0,1571 x 10−2 0,8081 x 10−5 -2,873 x 10−9

Vapor de água 𝐻2 𝑂 32,24 0,1923 x 10−2 1,055 x 10−5 -3,595 x 10−9

Dióxido de carbono 𝐶𝑂2 22,26 5,981 x 10−2 -3,501 x 10−5 7,469 x 10−9

Metano 𝐶𝐻4 19,89 5,024 x 10−2 1,269 x 10−5 -11,01 x 10−9

Acetileno 𝐶2 𝐻2 21,8 9,2143 x 10−2 -6,527 x 10−5 18,21 x 10−9

Etano 𝐶2 𝐻6 6,900 17,27 x 10−2 -6,406 x 10−5 7,285 x 10−9

Propileno 𝐶3 𝐻6 3,15 23,83 x 10−2 -12,18 x 10−5 24,62 x 10−9

Propano 𝐶3 𝐻8 -4,04 30,48 x 10−2 -15,72 x 10−5 31,74 x 10−9

n-Butano 𝐶4 𝐻10 3,96 37,15 x 10−2 -18,34 x 10−5 35,00 x 10−9

n-Pentano 𝐶5 𝐻12 6,774 45,43 x 10−2 -22,46 x 10−5 42,29 x 10−9

Benzeno 𝐶6 𝐻6 -36,22 48,475 x 10−2 -31,57 x 10−5 77,62 x 10−9


Fonte: adaptado de Çengel e Boles (2013).

Na Equação (7) todos os termos estão em função de 𝑇2𝑠 , seu valor é obtido através
de cálculos iterativos até que o valor da expressão convirja para zero.

Porém o compressor não é ideal e portanto possui uma eficiência isentrópica,


fornecida pelo usuário. Esta eficiência é a razão entre a variação de entalpia ideal pela
real (MORAN et al., 2013, p. 256):

∆ℎ̅1−2𝑠 ∆ℎ̅1−2𝑠
𝜂𝐶𝐼𝑆𝑂 = → ∆ℎ̅1−2 = (8)
∆ℎ̅1−2 𝜂𝐶𝐼𝑆𝑂

A variação de entalpia ideal ∆ℎ̅𝑠 é obtida pela Equação 1 entre os pontos 1 e 2s. A
variação de entalpia real, entre 1 e 2, é função de 𝑇2 e deve convergir para a razão
entre a variação de entalpia ideal e a eficiência isentrópica do compressor, conforme
a Equação (8). Dessa forma a temperatura na saída do compressor 𝑇2 é encontrada.
36

A próxima etapa é calcular a temperatura após a câmara de combustão 𝑇3 , este


cálculo é realizado por meio da Equação (5). A entalpia de cada componente ℎ̅ é a
soma da entalpia de formação no estado de referência padrão ̅̅̅
ℎ𝑓𝑜 com a entalpia

associada à variação do estado em relação a referência padrão Δh̅ (MORAN et. al.,
2013, p. 628-629). Considerando que a câmara de combustão possui uma eficiência,
a queima do combustível não é completa, a Equação (5) pode ser reescrita como:

ƞ𝐶𝐶 ∙ ∑ 𝑛𝑒 (ℎ̅𝑓0 + ∆ℎ̅)𝑒 = ∑ 𝑛𝑖 (ℎ̅𝑓0 + ∆ℎ̅)𝑖 (9)


𝑃 𝑅

Os valores de ∆ℎ̅ mais uma vez são obtidos através da Equação 1, já as entalpias de
formação ℎ𝑓𝑜 foram fornecidas por Çengel e Boles (2013, p. 948) e estão
representados na Tabela 3.

Tabela 3 – Entalpias de formação.


Substância Fórmula ℎ𝑓𝑜 [kJ/kmol]
Vapor de água 𝐻2 𝑂 -285.830
Dióxido de carbono 𝐶𝑂2 -393.520

Metano 𝐶𝐻4 -74.850

Acetileno 𝐶2 𝐻2 226.730

Etano 𝐶2 𝐻6 -84.680

Propileno 𝐶3 𝐻6 20.410

Propano 𝐶3 𝐻8 -103.850

n-Butano 𝐶4 𝐻10 -126.150

n-Pentano 𝐶5 𝐻12 -146.440

Benzeno 𝐶6 𝐻6 82.930

Fonte: adaptado de Çengel e Boles (2013).

O lado direito da Equação (9) pode ser calculado uma vez que 𝑇2 já é conhecido,
novamente de forma iterativa faz-se que o lado esquerdo convirja para o valor
encontrado, desta vez variando 𝑇3 . É importante destacar que não foram consideradas
possíveis alterações nas propriedades do fluido relativas à velocidades de
escoamento superiores a Mach 1.
37

O cálculo de 𝑇4𝑠 seguido do de 𝑇4 é feito de forma semelhante ao de 𝑇2𝑠 e 𝑇2 .


Entretanto desta vez a eficiência isentrópica a ser considerada é a da turbina, dada
pela Equação (10) (MORAN et al., 2013, p. 252):

∆ℎ̅3−4
𝜂𝐼𝑆𝑂
𝑇 = → ∆ℎ̅3−4 = 𝜂𝐼𝑆𝑂 ̅
𝑇 ∙ ∆ℎ3−4𝑠 (10)
∆ℎ̅3−4𝑠

A potência líquida Ẇliq é definida como a diferença entre a potência gerada na turbina
ẆT e a potência consumida pelo compressor Ẇ𝐶 , como mostra a Equação (11):

𝑊̇𝑙𝑖𝑞 = 𝑊̇𝑇 − Ẇ𝐶 (11)

A potência da turbina é dada pela multiplicação entre a vazão mássica do gás e a


variação da entalpia. Da mesma forma, a potência consumida pelo compressor é dada
pela multiplicação da vazão mássica de ar e a variação da entalpia no compressor
(MORAN et al., 2013, p. 140). Estas relações são mostradas na Equação (12):

Ẇlíq = ṁgás ∙ Δh3−4 − ṁar ∙ ∆h1−2 (12)

Utilizando as Equações (13) e (14), onde A/C é a razão ar combustível e Mar e Mcomb
representam as massas molares do ar e do combustível respectivamente, a Ẇlíq pode
ser reescrita como a Equação (15).

𝑚̇𝑎𝑟 𝑛𝑎𝑟 ∙ 𝑀𝑎𝑟 a ∙ (1 + α) ∙ (∑𝑖 ƞ𝑖 ). 𝑀𝐴𝑟


A⁄C = = = (13)
𝑚̇𝑐𝑜𝑚𝑏 𝑛𝑐𝑜𝑚𝑏 ∙ 𝑀𝑐𝑜𝑚𝑏 𝑀𝑐𝑜𝑚𝑏

𝑚̇𝑔á𝑠 = 𝑚̇𝑎𝑟 + 𝑚̇𝑐𝑜𝑚𝑏 (14)

𝑚̇𝑐𝑜𝑚𝑏
Ẇliq = ∙ [(1 + A⁄C). Δh̅3−4 − (A⁄C). Δh̅1−2 ] (15)
𝑀𝑐𝑜𝑚𝑏
38

4.2 VALORES ADOTADOS COMO PONTO DE PROJETO

Para verificar o comportamento da potência líquida com a variação dos parâmetros


estudados, os valores fixados como ponto de projeto foram definidos de acordo com
os estudos de caso de Pereira (2014, p. 37-46) e de Braga (2013) e são apresentados
na Tabela 4.

O combustível utilizado pelos autores é o gás natural, que segundo a Agência


Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (acesso em 8 jun. 2017a) possui
em sua composição teores acima de 70% de CH4. Desta forma, para efeitos de
simplificação o combustível adotado foi o metano. As razões de pressão, o excesso e
a temperatura do ar utilizados foram extraídos do trabalho de Pereira (2014). As
eficiências dos componentes foram tomadas do estudo de Braga (2013). Considerou-
se ainda a pressão atmosférica como de 1 bar, a umidade relativa do ar como 70% e
a temperatura de entrada do combustível sendo igual ao do ar.

Tabela 4 – Valores de entrada para o ponto de projeto.


Parâmetro Símbolo Valor de entrada
Combustível
Átomos de carbono X 1
Átomos de hidrogênio y 4
Vazão mássica 𝑚̇𝑐𝑜𝑚𝑏 0,5 kg/s
Temperatura do combustível Tcomb 21,5 °C
Ar de entrada
Umidade relativa Ø 70%
Temperatura do ar Tar 21,5 ºC
Pressão do ar Par 1 bar
Excess de ar α 100 %
Eficiências
Eficiência isentrópica do compressor ƞ𝐼𝑆𝑂
𝑐 86%
Eficiência da câmara de combustão ƞ𝐼𝑆𝑂
𝐶𝐶 99%
Eficiência isentrópica da turbina ƞ𝐼𝑆𝑂
𝑇𝐺 89%
Razões de pressão
Razão de compressão do compressor 𝑟𝐶 16
Razão de expansão da turbina 𝑟𝑇𝐺 5,6

Fonte: autora.

Após a confecção do programa obtido através dessa metodologia, tornou-se possível


encontrar os resultados expressos na sessão seguinte.
39

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para a obtenção dos resultados apresentados a seguir, os valores definidos como


ponto de projeto na Tabela 4 foram mantidos fixos, variando-se apenas o parâmetro
a ser analisado.

5.1 POTÊNCIA FINAL EM FUNÇÃO DAS CONDIÇÕES DO AR DE ADMISSÃO

Para a análise da influência da temperatura na potência útil da turbina, fez-se a


temperatura variar de 0 °C a 40 °C, valores extremos tipicamente encontrados no
Brasil (INSTITUTO NACIONAL DE METEREOLOGIA, acesso em 12 jun. 2017). O
resultado obtido está apresentado na Figura 15 e indica um comportamento similar ao
da Figura 4 encontrado por Guirardi (2008). O comportamento encontrado também
vai de encontro aos observados por Bédécarrats e Strub (2009) e Ibrahim e Rahman
(2012).

Figura 15 – Potência líquida em função da temperatura e da pressão do ar.

Pressão Ambiente [bar]


0,9 0,92 0,94 0,96 0,98 1 1,02
185

180
Potência Líquida [MW]

175
Temperatura
170
Pressão
165

160

155
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Temperatura ambiente [°C]

Fonte: autora.

Para a temperatura ambiente de 10 °C a potência líquida encontrada é de 178,3 MW,


com o acréscimo de 5 °C a potência líquida apresenta um decréscimo de 1,82 MW.

A pressão atmosférica foi variada na mesma faixa de valores adotada por Guirardi
(2008), de 0,9 bar a 1,02 bar, para que os resultados pudessem ser comparados.
40

Percebeu-se que o aumento da pressão também influi de forma negativa na potência,


porém se comparada à temperatura do ar apresenta baixa influência.

Figura 16 – Potência Líquida em função da umidade relativa do ar para diferentes


temperaturas de admissão com (a) 100% e (b) 300% de ar em excesso.
184
182
180 Tar °C
Potência Líquida [MW]

178
0
176
8
174
16
172
24
170
168 32

166 40
164
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Umidade relativa do ar

(a)

200
190

180 Tar °C
Potência Líquida [MW]

170
0
160
8
150
16
140
24
130
32
120
40
110
100
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Umidade relativa do ar

(b)
Fonte: autora.

As Figuras 16 (a) e (b) relacionam as influências da umidade relativa e da temperatura


do ar sob a potência líquida da turbina. Em (a) o comportamento da potência difere do
apresentado na Figura 5, porém ao aumentar o excesso de ar na entrada da turbina
41

de 100% para 300% seu comportamento mudou, mostrando que a influência da


umidade depende do excesso de ar. Observa-se que, para um maior grau de excesso
de ar, a temperatura do ar tem uma maior influência na potência para regiões mais
úmidas.

Dessa forma, percebe-se que a temperatura e a umidade do ar de admissão possuem


forte influência na potência líquida da turbina de forma quantitativa, enquanto o
excesso de ar define como a umidade influirá nesta potência, de forma positiva ou
negativa.

5.2 POTÊNCIA FINAL EM FUNÇÃO DO COMBUSTÍVEL UTILIZADO

A Figura 17 mostra a grande influência do combustível na potência útil, tanto pela sua
vazão mássica quanto pela sua composição. O hidrocarboneto que apresentou o
melhor resultado foi o metano, seguido pelo etano e o propano. Estes hidrocarbonetos
são os três principais componentes do gás natural, o que justifica sua grande utilização
como combustível de turbinas a gás. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (acesso em 8 jun. 2017b) o propano também é, juntamente
com o butano, um dos principais compostos do gás liquefeito de petróleo (GLP), outro
combustível amplamente utilizado em turbinas a gás.

Figura 17 – Potência Líquida em função da vazão mássica de combustível para


diferentes combustíveis.
1400

1200
Potência Líquida [MW]

1000 Metano
Acetileno
800
Etano
600
Propileno
400 Propano

200 Pentano
Benzeno
0
1 1,5 2 2,5 3 3,5
Vazão mássica de combustível [kg/s]

Fonte: autora.
42

Figura 18 – Potência líquida em função das temperaturas do ar e do combustível


para uma razão de expansão de (a) 5,6 e (b) 9.
184

182

180 Temperatura do
Potência Liquida [MW]

178 combustível

176 0°C
174 15°C

172 30°C
45°C
170

168

166
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Temperatura do ar [°C]

(a)

271

270
Potência Liquida [MW]

269 Temperatura do
combustível
268 0°C

267 15°C
30°C
266
45°C

265

264
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Temperatura do ar [°C]

(b)
Fonte: autora.

A Figura 18 mostra a influência das temperaturas do ar e do combustível. Em (a), para


uma razão de expansão de 5,6, percebe-se que a temperatura do combustível pouco
influi na potência líquida da turbina, possivelmente por esse motivo este parâmetro é
pouco discutido na literatura. Contudo observou-se que para razões de expansão mais
próximas da de compressão, 9 e 16 respectivamente, esta influência apresenta um
43

aumento, evidenciado em (b). Nota-se também que a potência deixa de comportar-se


de forma linear em função da temperatura do ar.

Assim, percebe-se a relevância da composição do combustível utilizado na geração


de potência na turbina, evidenciando a importância do desenvolvimento de
combustíveis cada vez mais eficientes. Por outro lado a temperatura de entrada do
combustível pouco influi nos resultados alcançados, mostrando-se quase desprezível.

5.3 POTÊNCIA FINAL EM FUNÇÃO DAS RAZÕES DE PRESSÃO

A Figura 19 mostra os resultados da influência da razão de compressão para


diferentes temperaturas de entrada na turbina (TIT) na potência útil. Neste caso a
razão de expansão foi fixada em 12, enquanto a de compressão foi variada de 12 a
24. Observa-se que quanto maiores forem os valores da temperatura de entrada na
turbina e da razão de compressão, menor será a potência final da turbina. Isso pode
causar uma certa confusão, uma vez que num ciclo Brayton espera-se que para
maiores valores de temperatura na entrada da turbina obtenha-se uma maior potência
e eficiência do equipamento. Isso é verdadeiro quando a mesma vazão de ar/gás pela
turbina é mantida. Entretanto na análise realizada no presente trabalho, o aumento da
temperatura de entrada na turbina foi obtido a partir da diminuição do ar que entra no
equipamento, o que resulta em uma mistura rica em combustível, porém numa vazão
de gás bem menor, o que acaba contribuindo para uma diminuição da potência útil
que, no equacionamento, depende tanto da vazão de gás que passa pela turbina,
quanto das temperaturas de entrada e saída (entalpias de estado).

Em geral as linhas de TIT se comportaram de forma semelhante às de Ibrahim e


Rahman (2012), apresentadas na Figura 12, porém a linha de 1150 K mostrou-se mais
sensível ao aumento da razão de pressão que as demais.

A Figura 20 mostra a influência da razão de expansão da turbina na potência útil,


neste gráfico a razão de compressão foi fixada em 24, enquanto a de expansão foi
variada de 12 a 24. Desta vez percebe-se que quanto maior forem os valores da razão
de pressão, maiores serão as potências. Isso se deve ao fato de que quanto mais
44

próximos um do outro estiverem os valores das razões de pressão, mais próximo do


ideal o ciclo estará, pois menores serão as perdas de carga.

Figura 19 – Potência líquida em função da razão de compressão para diferentes TIT.


745
695
645
Potência Útil [MW]

595
1150 k
545
1300 K
495
1450 K
445
1600 K
395
1750 K
345
295
12 14 16 18 20 22 24
Razão de Pressão no Compressor

Fonte: autora.

Figura 20 – Potência líquida em função da razão de expansão para diferentes TIT.


900

800
Potência Útil [MW]

700
1200 K
600
1300 K
500
1550 K
400 1400 K
1750 K
300

200
12 14 16 18 20 22 24
Razão de Pressão na Turbina

Fonte: autora.

A Figura 21 propõe um mapa da potência final em função das razões de pressão. Esta
forma de apresentação facilita a visualização do comportamento da potência para
diferentes combinações de razões de pressão. Para obter-se uma potência entre 100
e 200 MW, por exemplo, qualquer ponto da área apresentada em vermelho poderia
45

ser adotado. O mapa possui formato triangular pois qualquer ponto acima de sua
hipotenusa apresentaria uma razão de expansão superior à de compressão, o que é
impossível de obter-se fisicamente.

Figura 21 – Mapa da potência líquida em função das razões de pressão.

Fonte: autora.

Constata-se que as razões de pressão influem significativamente na potência útil


produzida pela turbina a gás, e que na análise realizada isso ocorre com mais
intensidade para menores temperaturas de entrada na turbina. Quanto menores forem
as razões de compressão e maiores as de expansão, lembrando-se que a segunda
nunca é superior a primeira, maior potência útil será produzida.

5.4 POTÊNCIA FINAL EM FUNÇÃO DAS EFICIÊNCIAS DOS COMPONENTES

Na Figura 22 observa-se o comportamento da potência líquida em função da razão de


pressão do compressor para diferentes valores de eficiência deste componente. A
razão de pressão na turbina foi fixada em 6 enquanto a do compressor variou de 6 a
24. Por isso, nota-se uma queda na potência, uma vez que para maiores valores de
46

razão de pressão no compressor, e a razão de pressão na turbina se mantendo fixa,


resultaria em maior potência gasta para comprimir sem um aproveitamento adequado
da maior pressão na entrada da turbina.

A Figura 23 mostra a potência útil em função da razão de expansão e da eficiência da


turbina, neste caso observa-se que a potência aumenta com o aumento desta razão
de pressão. Como a razão de pressão na turbina sempre é inferior à do compressor,
a última foi fixada em 24 enquanto a primeira variou de 6 a 24. Portanto, à medida que
se aumenta a razão de pressão na turbina observa-se um melhor aproveitamento da
energia de pressão adicionada ao ar no compressor.

Figura 22 – Potência líquida em função da razão de pressão e eficiência do


compressor.
300

250

200 0,75
Potência Líquida (MW)

0,8
150 0,85
0,9
100
0,95

50
6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Razão de Pressão do Compressor

Fonte: autora.

A eficiência dos componentes mostraram ter forte influência na potência líquida


produzida. Nas análises realizadas para as razões de compressão e expansão de 24
e 6, respectivamente, quando a eficiência do compressor aumentou de 0,75 para 0,95,
enquanto a da turbina foi mantida em 0,89, houve um aumento de 45,42% na potência.
Para as mesmas razões de pressão, quando a eficiência da turbina aumentou de 0,75
para 0,95, enquanto a do compressor manteve-se 0,86, houve um aumento de 135,7%
da potência líquida.
47

Figura 23 – Potência líquida em função da razão de pressão e eficiência da turbina.

500 Eficiência
450 na turbina
Potência Líquida (MW)

400
350 0,75
300 0,8
250 0,85
200
0,9
150
100 0,95
50
0
6 11 16 21
Razão de pressão da turbina

Fonte: autora.
48

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho avaliou a influência de diversos parâmetros de entrada na


potência final de uma turbina a gás de eixo simples, reunindo-os em um único estudo
com o intuito de contribuir com a literatura. Observou-se que como citado na revisão
bibliográfica, a temperatura do ar de entrada e as eficiências dos componentes
apresentaram grande influência no trabalho líquido, o mesmo ocorre para as razões
de pressão e a vazão de combustível.

Para um acréscimo de 5°C na temperatura do ar a potência líquida apresentou um


decréscimo de 1,82 MW, a eficiência da turbina quando aumentada em 20% provocou
um crescimento de 135,7 % na potência líquida. No caso das razões de pressão
percebeu-se que quanto maior for a de expansão e menor a de compressão, desde
que a primeira não seja superior a segunda, maior será a potência útil. As vazões
mássicas de combustível mostraram sua influência positiva na potência, sendo o
metano o hidrocarboneto mais eficiente. Por outro lado, a temperatura de entrada do
combustível e a pressão atmosférica mostraram ter pouca influência, se comparadas
aos parâmetros anteriores.

Os resultados encontrados apresentam comportamento semelhantes aos da


literatura, mostrando que a modelagem adotada pode ser aplicada para avaliar a
influência destes parâmetros na potência líquida de turbinas a gás de eixo simples.
No entanto, como sugestão para trabalhos futuros, para aumentar a precisão dos
resultados ainda pode-se levar em consideração as perdas de carga nos
componentes, considerar a queima do combustível como incompleta e sua
composição como uma mistura de hidrocarbonetos.
49

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