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44984-06 – Circuitos Elétricos B

III – Circuitos polifásicos

III.1 – Conceitos básicos

Um sistema polifásico é constituído por duas ou mais tensões iguais, com diferenças de ângulo de fase
(defasagens) fixas, conforme ilustra a Figura III.1.
100
V AN = Vφ 0 ω
+
50

0 V BN = Vφ − 90 o
+
V AN = Vφ 0
-50

N V BN = Vφ − 90 o
-100
0 90 180 270 360 450 540 630 720

(a) Sistema bifásico.

V AN = Vφ 0 V CN = Vφ 120 o
100 + ω

50 V BN = Vφ − 120 o
+
0 V AN = Vφ 0
V CN = Vφ 120 o
+
-50

-100 N V BN = Vφ − 120 o
0 120 240 360 480 600 720

(b) Sistema trifásico.

Figura III.1 – Exemplo de sistemas polifásicos.

Denomina-se fase cada um dos elementos ou dispositivos que descrevem ou pertencem a cada um dos ramos
que compreendem o circuito polifásico. Para o sistema trifásico de tensões, ilustrado na Figura III.1, tem-se 3
fases (que correspondem a cada uma das 3 fontes) e um neutro (que corresponde ao condutor de retorno das
fases).

A seqüência em que as tensões de fases atingem seu valor máximo denomina-se seqüência de fase. A Figura
III.2 ilustra as duas seqüências possíveis para um sistema trifásico.
V CN = Vφ 120 o V BN = Vφ 120 o
ω ω

V AN = Vφ 0 V AN = Vφ 0

V BN = Vφ − 120 o V CN = Vφ − 120 o

Seqüências: Seqüências:
ABC – BCA – CAB ACB –BAC – CBA

Figura III.2 – Seqüências de fase possíveis para um sistema trifásico.

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Um sistema polifásico é dito simétrico quando apresenta a mesma amplitude em todas as fases e todos os
defasamentos iguais. Exemplos de sistemas trifásicos simétricos e assimétricos encontram-se na Figura III.3.

V CN ω
V AN = V BN = V CN = Vφ
α
α
α V AN 360 o
α= = 120 o
3

V BN

(a) Sistema trifásico simétrico.

V CN ω V CN ω

α α
α
α V AN β V AN

V BN V BN

V AN ≠ V BN α≠β

(b) Sistemas trifásicos assimétricos.

Figura III.3 – Sistemas trifásicos simétricos e assimétricos.

Tensão de fase corresponde à diferença de potencial existente entre cada uma das fases (que constituem os
dispositivos polifásicos) e o neutro (ou a referência de tensão). Tensão de linha corresponde à diferença de
potencial entre os condutores das linhas que conectam a fonte à carga. A Figura III.4 ilustra as diferentes
tensões de fase e de linha de um sistema polifásico com neutro genérico.

φ1
+ + +
Sistema V 1N V 12 V 1N
φ2 –
Polifásico . + +
nφ . V 2N V 2N
.
COM
φn – –
+
Neutro
V nN
N – – –

Tensões de
Tensões de Fase Linha

Figura III.4 – Tensão de fase e de linha em um sistema polifásico.

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Quando os sistemas polifásicos são simétricos, é possível estabelecer relação (ou relações) entre a tensão de
fase e a tensão de linha (ou tensões de linha), conforme ilustrado para o sistema trifásico na Figura III.5.
( )
Observar que existem 3 tensões de fase V AN ;V BN ;V CN defasadas de 120° e seis tensões de linha (dois
conjuntos de 3 fasores defasados de 120°: V AB ;V BC ;V CA e V BA ;V CB ;V AC ).
V CN ω
V CA V CB
ω

V AN V CN V AB
V CA
V AB
V BC

V BN V AN

Tensões de Fase (φ): V AN ; V BN ; V CN


V AC
V BA
V BN
V AB ; V BC ; V CA
Tensões de Linha (L):
V BA ; V CB ; V CA
V BC
(a) Tensões de fase e de linha (seqüência ABC).
− V BN

60 o V L = V AB = 2 V AN cos 30 o = 3 V AN
V AN
30 o V L = 3Vφ
120 o

V AB = V AN − V BN

30 o

V BN
(b) Relação entre a tensão de fase e de linha.

Figura III.4 – Tensão de fase e de linha em um sistema trifásico simétrico (seqüência ABC).

A relação entre os valores de fase e de linha depende do número de fases que compreende o sistema. Para um
sistema trifásico simétrico, ilustrado na Figura III.4(b), a relação entre qualquer tensão de linha VL e de fase
Vφ é dada por:

VL = 3Vφ

Exemplo III.1: Para um sistema trifásico com as seguintes tensões de fase, determinar:
v AN (t ) = Vmax cos(ωt )
(
v BN (t ) = Vmax cos ωt − 120o)
vCN (t ) = Vmax cos(ωt + 120 )
o

a) O valor eficaz das tensões de fase v AN (t ), v BN (t ), vCN (t ) .


b) A expressão das tensões de linha v AB (t ) = v AN (t ) − v BN (t ) , v BC (t ) = v BN (t ) − vCN (t ) e
vCA (t ) = vCN (t ) − v AN (t ) .

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c) O valor eficaz das tensões de linha v AB (t ), v BC (t ), vCA (t ) .


d) O diagrama fasorial contendo V AN , VBN , VCN , V AB , VBC , VCA .
e) A seqüência de fase.

Solução:

a) Considerando a velocidade angular das tensões dadas, o período é igual a T = . Desta forma, o valor
ω
eficaz pode ser obtido através de1:
2π 2π
1 ω ω
∫0 [v AN (t )] dt = ∫0 [Vmax cos(ωt )] dt =
T
∫ωV cos 2 (ωt )dt =
eficaz 2 2 2
V AN = ω
max
T 2π 2π 0

1 + cos(2ωt )  sen (2ωt )  ω
2π 2π
ωVmax ωVmax
[1 + cos(2ωt )]dt = ωVmax
2 2 2
=
2π ∫ω
0 2
dt =
4π ∫ω 0 4π t + 2ω 
 0
=

=
ωVmax
2  2π sen 2ω
 +
( 2π
ω
) −  0 + sen(2ω 0)  = ωVmax
2
 2π sen (4π ) 
+ =
ωVmax
2
 2π 
=
4π  ω 2ω  2ω  4π  ω 2ω  4π  ω 
2
Vmax V
= = max
2 2
Como as formas de onda são idênticas, tem-se:
eficaz eficaz eficaz V
V AN = VBN = VCN = max
2
b) Para a tensão de linha v AB (t ) = v AN (t ) − v BN (t ) , tem-se2:
v AB (t ) = Vmáx cos(ωt ) − Vmáx cos(ωt − 120°) = Vmáx {cos(ωt ) − [cos(ωt )cos(− 120°) − sen (ωt )sen (− 120°)]}
  1 3  3 3 
= Vmáx cos(ωt ) −  − cos(ωt ) + sen (ωt ) = Vmáx  cos(ωt ) − sen (ωt ) =
  2 2  2 2 
 3 1 
= 3Vmáx  cos(ωt ) − sen (ωt ) = 3Vmáx cos(ωt + 30°)
 2 2 
v AB (t ) = 3Vmáx cos(ωt + 30°)
Analogamente
v BC (t ) = 3Vmáx cos(ωt − 90°)
vCA (t ) = 3Vmáx cos(ωt + 150°)
c) Determinar o valor eficaz de vAB, vBC e vCA.

[ )]
2π 2π
eficaz
V AB =
1
T
2 ω ω
∫0 [v AB (t )] dt =
T

2π ∫ 0
2
3Vmax cos ωt + 30o dt =
ω ω
2π ∫ 0
(2
3Vmax cos 2 ωt + 30o dt = ( )

ω ω 1 + cos 2ωt + 60o ( ω ω )

[ ( )]
2π ∫ 0 4π ∫ 0
= 2
3Vmax dt = 3V 2
max 1 + cos 2ωt + 60o dt =
2
( ) ( ) =

= 2 (
ω  sen 2ωt + 60o  ω 2

)
ω  2π sen 2ω ω + 3 
2π π
sen 2ω 0 + π3
3Vmax t +  = 3Vmax + − 0+
 
4π  2ω 0 4π  ω 2ω 2ω
  

= 2
3Vmax
ω  2π sen 4π + π
 + 3
(

sen π3 ) ( ) = 2
3Vmax
ω  2π 
=
2
3Vmax
=
3Vmax
4π ω 
 ω 2ω 2ω  4π   2 2

1
Lembrar que cos 2 a = 1 + cos 2a .
2
2 cos(a + b) = cos a cos b − sen a sen b
Lembrar que
3 1
cos(a + 30°) = cos a − sen a
2 2

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Solução (continuação):
Como as formas de onda são idênticas, tem-se:
eficaz eficaz eficaz 3Vmax eficaz
V AB = VBC = VCA = = 3 V AN
2
d) O diagrama fasorial das tensões é dado pela figura.

e) A seqüência de fase é ABC (direta).

Exemplo III.2: Verificar a(s) relação(ões) entre a(s) tensão(ões) de linha e a tensão de fase para os sistemas
tetrafásico.
Solução: Para a seqüência de fase ABCD (direta), tem-se o seguinte diagrama fasorial das tensões de fase e
de linha. Neste caso, observar que existem dois valores distintos para a relação entre a tensão de fase e de
linha: para as fases adjacentes a tensão de linha é igual a VL = 2Vφ (diagonal de um quadrado cujo lado é
igual a Vφ ) ; para as fases opostas a tensão de linha é igual a VL = 2Vφ .
V DB
ω ω

V DN V DN
V DA V AB V CB V DC
V DN
V DA ω

V CD
V AN V AC V CA V CN
V CN V AN V CN V AN
V AC
V BD V AB

V BC V BN V BN
V BC V AD
V BN V CD V BA

V BD
V AB ; V BC ; V CD ; V DA
Tensões de Linha Adjacentes (L):
V BA ; V CB ; V DC ; V AD
Tensões de Fase (φ): V AN ; V BN ; V CN ; V DN

V AC ; V BD
Tensões de Linha Opostas:
V CA ; V DB
Como o sistema é constituído por 4 tensões de fase, existem 12 tensões de linha possíveis, oriundas das 12
formas de arranjar tais tensões dois a dois, pois A4, 2 = 4! (4 − 2)! = 4 ⋅ 3 = 12 . Utilizando-se parte destas tensões
de linha é possível constituir dois sistemas simétricos formados por quatro tensões de linha. O mais natural
deles é dado por V AB ; V BC ; V CD ; V DA (as primeiras letras do índice correspondem à seqüência das tensões de
fase, ou seja, ABCD; as segundas letras do índice iniciam pela segunda letra da seqüência de fase, ou seja,
BCDA).

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Exercício III.1: Verificar a(s) relação(ões) entre a(s) tensão(ões) de linha e a tensão de fase para os sistemas
pentafásico e hexafásico. Utilizar representações gráficas, como as mostradas na Figura III.4.

Simulação MATLAB: Os gráficos da tensão instantânea e o respectivo diagrama fasorial do sistema


hexafásico podem ser produzidos em simulação no MATLAB/SIMULINK utilizando-se os arquivos
III_1.mdl e III_1m.m3. As tensões de fase têm amplitude de 100 Vpico e o ângulo entre tensões de fases
adjacentes é de 60°. Utiliza-se como referência a tensão da Fase 1 (assume-se que seu ângulo de fase é zero),
representada em ciano. Em vermelho, está a tensão de linha entre as Fases 1 e 2, cuja amplitude é a mesma
da referência, porém com um atraso de 60° (que é igual a 60/360=1/6 do período, correspondendo a 0,00278 s)
com relação à referência. Em verde, está a tensão de linha entre as Fases 1 e 3, que tem amplitude igual a
100 3 Vpico e defasagem de 30° atrasada (correspondendo a 0,00139 s). Por último, em azul, está a tensão
de linha entre as Fases 1 4, cuja amplitude é o dobro da referência (200 Vpico), pois essas fases são opostas.

O diagrama fasorial do circuito está mostrado na figura a seguir (observar que as cores não têm
correspondência com o gráfico anterior).

3
Disponível em http://www.ee.pucrs.br/~haffner/circuitosb/matlab/

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Em um sistema polifásico, os dispositivos podem ser conectados de diversas formas distintas, em função da
diversidade de fases disponíveis. Dois tipos básicos de ligações se destacam: em estrela (quando cada uma
das fases é conectada entre uma linha e um ponto comum O) e em malha (quando cada uma das fases é
conectada entre duas linhas). A ilustração das ligações estrela e malha para uma carga polifásica está
mostrada na Figura III.5.

I1 Z1
φ1

Sistema I2 Z2
φ2
Polifásico O
.

.
. In Zn
com ou
φn
sem
Neutro
N

(a) Ligação estrela.

I1
φ1

I2 Z 12
Sistema φ2

Polifásico I3 Z 23
φ3 Z n1

com ou .
.
sem
. Z (n −1)n
Neutro In
φn

(b) Ligação malha.

Figura III.5 – Tipos de ligações possíveis para uma carga polifásica.

Uma carga polifásica é dita equilibrada quando for constituído por fases idênticas. Neste caso, quando o
sistema de alimentação é simétrico é fácil obter uma expressão de equivalência para os dois tipos de ligação
(estrela e malha) como será mostrado a seguir. Sejam:

Z Y = Z 1 = Z 2 = K = Z n a impedância correspondente à ligação estrela;


Z ∆ = Z 12 = Z 23 = K = Z n1 a impedância correspondente à triângulo.

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Para a ligação em malha, a corrente da linha φ1 é dada por:

I 1∆ =
V 12 V 1n
+
Z∆ Z∆ Z∆
=
1
(
V 1N − V 2 N + V 1N − V nN )
I 1∆ =
1
Z∆
(
2V 1N − V 2 N − V nN ) (1)

360 o
Considerando θ = , onde n é o número de fases do sistema, tem-se:
n

V 1N = Vφ 0 (2.a)
V 2 N = Vφ − θ (2.b)

V nN = Vφ θ (2.c)

Aplicando (2) em (1),

I 1∆ = =
1
Z∆
(
2 ⋅ Vφ 0 − Vφ − θ − Vφ θ = )

Z∆
(
2 −1 −θ −1 θ = )
Vφ V
= [2 − (cosθ − j sen θ ) − (cosθ + j sen θ )] = φ [2 − 2 cosθ ]
Z∆ Z∆
2Vφ
I 1∆ = [1 − cosθ ] (3)
Z∆

Para a ligação em estrela, a corrente da linha φ1 é dada por:

V 1N Vφ 0 Vφ
I 1Y = = = (4)
ZY ZY ZY

As cargas serão equivalentes se I 1∆ = I 1Y . De (3) e (4), tem-se:

2Vφ Vφ 2
[1 − cosθ ] = ⇒ [1 − cosθ ] = 1
Z∆ ZY Z∆ ZY

Z ∆ = 2Z Y [1 − cosθ ] (5)

Observar que a expressão (5) pode ser aplicada para qualquer sistema polifásico. Em particular, para o
sistema trifásico, no qual n = 3 , tem-se:

  360 
Z ∆ = 2Z Y 1 − cos
3
[ ]
 = 2Z Y 1 − cos120 = 2 Z Y [1 − (−1 2 )]
o

   

Z ∆ = 3Z Y (6)

Freqüentemente, os sistemas polifásicos podem ser resolvidos com a utilização de circuitos equivalentes
monofásicos, independentemente do número de fases existentes. Isto pode ser observado no exemplo da
Figura III.6, no qual dois sistemas trifásicos diferentes (ligação estrela com neutro e malha ou triângulo) são
subdivididos nos seus circuitos equivalentes.

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φA IA
Sistema

φA ZA
1
mais N 1 IN
IA ZA Neutro
φA
Sistema IB
IB ZB φB
φB Sistema
Trifásico

IC ZC φB ZB
COM
φC mais 2 IN
2
N
Neutro
Neutro IN
N
φC IC
Sistema

1 2 3
φC ZC
3
I N = −I A − I B − I C = I N + I N + I N mais 3 IN
N
Neutro

(a) Ligação estrela.

1
φ 1A IA
Sistema

φA Z AB
1
mais φ 1 IB
B
IA φB
φA
Sistema 2
φ B2 IB
IB Z AB
Trifásico φB Z CA
Sistema

IC Z BC φB Z BC
2
com ou φC mais φ 2 IC
C
sem φC
Neutro IN
N 3
φ C3 IC
Sistema
1 3
IA = IA + IA φC Z CA
1 2 3
IB = IB +I B mais φ 3 IA
A
2 3 φA
IC = IC + IC

(b) Ligação malha ou triângulo.

Figura III.6 – Subdivisão em circuitos equivalentes de um sistema trifásico.

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Para a conexão em estrela com neutro (Figura III.6a), o sistema polifásico é dividido em três sistemas
monofásicos nos quais as impedâncias das cargas são submetidas à tensão de fase do sistema de
alimentação. Observar que a corrente que circula nas fases do circuito é igual à corrente que circula nas fases
dos circuitos equivalentes (vide Figura III.6a). Por outro lado, a corrente que circula no condutor neutro (N)
é igual à soma das correntes que circulam nos condutores neutros dos três circuitos equivalentes, ou seja,
1 2 2
I N = I N + I N + I N = −I A − I B − I C .

Para a conexão em malha ou triângulo (Figura III.6b), o sistema polifásico é dividido em três sistemas
monofásicos nos quais as impedâncias das cargas são submetidas à tensão de linha do sistema de
alimentação. Observar que a corrente que circula nas fases do circuito é igual à soma da corrente que circula
1 3
nas respectivas fases dos circuitos equivalentes (por exemplo, I A = I A + I A ).

Define-se como corrente de fase (cujo módulo é notada por I φ ) como a corrente que percorre as fases que
constituem os dispositivos polifásicos de geração ou as cargas. Define-se como corrente de linha (cujo
módulo é notada por I L ) como a corrente que percorre as linhas que conectam os dispositivos polifásicos ao
restante do circuito. A Figura III.7 ilustra as correntes de fase e de linha para as ligações estrela e malha.

I L1 I φ1 Z1
φ1
I L1 = I φ1
Sistema I L2 I φ2 Z2 I L2 = I φ2
φ2 M
Polifásico O
. =
nφ I Ln I φn
.
I Ln . I φn Zn
com ou
φn
sem
Neutro
IN IL = Iφ
N

(a) Ligação estrela.

I L1
φ1

I L2 I φ 12 Z 12
Sistema φ2 I L1 = I φ 12 − I φn1
I L2 = I φ 23 − I φ 12
Polifásico I L3 I φ 23 Z 23
φ3 Z n1 I L3 = I φ 34 − I φ 23

. M
com ou
. I Ln = I φn1 − I φ (n −1)n
sem
. I φ (n −1)n Z (n −1)n I φn1
Neutro I Ln
φn

(b) Ligação malha.

Figura III.7 – Correntes de linha e de fase em sistemas polifásicos.

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Exercício III.2: Para a carga desequilibrada conectada em triângulo, determinar o equivalente em estrela4.

Simulação MATLAB: Utilizando os arquivos de simulação é possível verificar os resultados obtidos. Para a
simulação deste circuito foi utilizado o arquivo III_9.mdl. Observa-se que quando as duas cargas
equivalentes são conectadas a uma mesma fonte trifásica as correntes são idênticas, razão pela qual as
potências fornecidas pelas fontes individualmente são as mesmas para ambas conexões. Embora a potência
desenvolvida em cada uma das impedâncias seja diferente, as fontes “enxergam” o conjunto como uma coisa
só, estando a carga ligada em triângulo ou em estrela. Por isso, o somatório das potências na carga é igual
nas duas situações.

Exercício III.3: Um sistema ABC trifásico equilibrado a três condutores, V AB = 110 120o V, alimenta uma
carga em triângulo, constituída por três impedâncias iguais de Z ∆ = 5 45o Ω. Determinar as correntes de
linha I A , I B e I C 5.
Simulação MATLAB: Utilizando os arquivos de simulação é possível reproduzir os resultados. Para a
simulação deste circuito foi utilizado o arquivo III_2a.mdl do qual obtém-se os valores de regime
permanente (“Steady state”) por intermédio do bloco “powergui”.

Observar que no arquivo de simulação foi utilizada uma fonte em estrela, razão pela qual as magnitudes das
tensões das fontes correspondem aos valores de fase e os ângulos de fase foram ajustados (90o para a fase A).
Além disto, todos os valores das tensões e das correntes correspondem aos valores de pico ( 110 2 = 89,81 V e
3

38,1 2 = 53,88 A). Um equivalente por fase (para a fase A) encontra-se no arquivo III_2b.mdl.

Exercício III.4: Um sistema CBA trifásico equilibrado a quatro condutores, V AB = 208 − 120o V, alimenta
uma carga em estrela, constituída por impedâncias de Z Y = 20 − 30o Ω. Calcular as correntes de linha e a
corrente de neutro I A , I B , I C e I N 6.

4
Respostas: Z 1 = 5 0 o Ω, Z 2 = 10 90 o Ω, Z 3 = 10 0 o Ω.
5
Respostas: I A = 38,1 45o A, I B = 38,1 − 75o A e I C = 38,1 165o A.
6
Respostas: I A = 6 − 60o A, I B = 6 60o A, I C = 6 180o A e I N = 0

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Simulação MATLAB: Utilizando os arquivos de simulação é possível reproduzir os resultados. Para a


simulação deste circuito foi utilizado o arquivo III_3.mdl do qual obtém-se os valores de regime
permanente (“Steady state”) por intermédio do bloco “powergui”.

Exercício III.5: Um sistema CBA trifásico equilibrado a quatro fios, V AB = 208 − 120o V, alimenta uma
carga em estrela com Z A = 6 0o Ω, Z B = 6 30o Ω e Z C = 5 45o Ω. Determinar as correntes de linha e a
corrente no neutro I A , I B , I C e I N 7.

Simulação MATLAB: Utilizando os arquivos de simulação é possível reproduzir os resultados. Para a


simulação deste circuito foi utilizado o arquivo III_4.mdl do qual obtém-se os valores de regime
permanente (“Steady state”) por intermédio do bloco “powergui”.

III.2 – Técnicas de resolução de circuitos

O equacionamento de um circuito polifásico, tendo em vista determinar correntes e tensões, depende da


determinação das relações tensão/corrente das fases que o constitui. Tais relações dependem do modo pelo
qual os componentes estão conectados. Caso a ligação seja em estrela com neutro, o circuito polifásico
pode, facilmente, ser dividido em n circuitos monofásicos, conforme descrito na Figura III.6a.

7
Respostas: I A = 20 − 90 o A, I B = 20 0o A, I C = 24 105o A e I N = 14,1 − 167o A.

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Quando a ligação é realizada em estrela sem neutro, a relação tensão/corrente vai depender do fasor tensão
do ponto O com relação ao neutro, V ON , conforme ilustra a Figura III.8.

V 1N φ1 I1 Z1
+ V 1N − V ON
I1 =
Z1
V 2N I2 Z2 V 2 N − V ON
φ2 I2 =
+ Z2
O
N M
.
. V nN − V ON
V nN In Zn In =
φn . Zn
+

Figura III.8 – Circuito polifásico conectado em estrela sem neutro.

Para determinar o fasor V ON , utiliza-se o circuito equivalente de Norton, conforme mostrado na Figura III.9.
O
+ O Z TH O
Z1 Z2 Zn
+ +

. . . V ON I SC Z NORTON V TH
I1 I2 In V ON V ON

+ + + –
V 1N V 2N V nN
– N N
N

Figura III.9 – Circuito equivalente para a determinação de V ON .

Para o circuito da Figura III.9 tem-se:


V ON = V TH = I SC Z NORTON (7)
onde:
V 1N V 2 N V nN
I SC = + +K+ (8.a)
Z1 Z2 Zn
Z NORTON = Z TH = Z 1 // Z 2 // L // Z n (8.b)

Observar que este resultado poderia, também, ser obtido aplicando-se a LKC no ponto O,
I1 + I 2 +K+ I n = 0
Substituindo as expressões das correntes (vide Figura III.8), tem-se:
V 1N − V ON V 2 N − V ON V nN − V ON
+ +K+ =0
Z1 Z2 Zn
V 1N V 2 N V nN  1 1 1 
+ +K+ − V ON  + +K+ =0
Z1 Z2 Zn  Z1 Z 2 Zn 
Isolando V ON , chega-se a mesma expressão anterior, ou seja:
Z4 I SC
644 74448 64444744448
NORTON

1  V 1N V 2 N V nN 
V ON =  + +K+ 
1 1 
1  Z1 Z Z 
n 
+ +K+ 2
Z1 Z 2 Zn

Circuitos Polifásicos – Sérgio Haffner Versão 31/8/2005 Página 13 de 25


44984-06 – Circuitos Elétricos B

Quando a ligação é realizada em malha, a relação tensão/corrente pode ser obtida diretamente, conforme
ilustra a Figura III.10.

V 1N I1
+ φ1
V 12 V n1
I 12 I1 = I 12 − I n1 = −
V 2N I2 Z 12 Z 12 Z n1
+ φ2
V 23 V 12
I2 = I 23 − I 12 = −
Z 23 Z 12
N V 3N I 23 Z 23 V 34 V 23
I3 Z n1
+
φ3 I3 = I 34 − I 23 = −
Z 34 Z 23
I n1 M
.
. V 1n V (n −1)n
. I (n −1)n Z (n −1)n In = I n1 − I (n −1)n = −
V nN In Z 1n Z (n −1)n
+ φn

Figura III.10 – Circuito polifásico conectado em malha.

III.2.1 – Relação tensão/corrente em sistemas trifásicos

A partir das expressões mostradas anteriormente, é possível particularizar para o caso mais freqüente de
sistemas polifásicos que corresponde aos sistemas trifásicos compostos por cargas equilibradas ou não e
alimentado por fontes simétricas.

Para a ligação estrela com neutro, cada fase estará submetida à tensão de fase, conforme mostra a Figura
III.11.
I L1 I φ1 Z1
φ1
V 1N V φ1
I L1 = I φ1 = =
Sistema Z1 Z1
I L2 I φ2 Z2
φ2 V 2N V φ2
I L2 = I φ2 = =
Trifásico Z2 Z2
3φ I L3 I φ3 Z3 V 3N V φ3
I L3 = I φ3 = =
φ3 Z3 Z3
COM
IN = − I φ1 − I φ2 − I φ3 =
Neutro IN = − I L1 − I L 2 − I L 3
N

Figura III.11 – Carga trifásica em ligação estrela com neutro.

Observar que independentemente da carga ser equilibrada tem-se:


I L = Iφ
Supondo que as tensões de alimentação são simétricas, tem-se, para uma carga equilibrada,
Z1 = Z 2 = Z 3 = Z :
Vφ V
Iφ = I φ = I L = I L = = L
Z 3Z
e
I N = − I φ1 − I φ 2 − I φ 3 = 0
pois as correntes possuem o mesmo módulo e estão defasadas de 120°.

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