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Trabalho Prático de Viticultura

Influência da casta na fenologia, vigor,


fertilidade e produção da videira

Marco Neves
Índice

Introdução 2
Objetivos 2
Material 2
Métodos 2
Caracterização ecológica do local 3
1. Clima 3
2. Solo 5
3. Índices bioclimáticos 5
4. Potencial de maturação da uva 6
Tecnologia vitícola 6
Descrição das técnicas culturais e respectivas datas de execução 6
Comparação das 2 castas quanto a 8
1. Evolução da fenologia (escala de Baggiolini e escala numérica BBCH); 8
2. % de abrolhamento e fertilidade 9
Conclusão 14
Anexos 16

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Introdução
As variedades ou castas apresentam uma identidade morfológica única das mesmas, que se
define pela sua morfologia (p.e. morfologia das folhas), comportamento, resposta ao stress entre
outros critérios de variabilidade.

Neste trabalho, queremos avaliar o ciclo biológico/fenologia da videira, nível de


abrolhamento, fertilidade, vigor e produção nas castas Macabeu e Moscatel Galego, comparando
estes valores com os do semestre passado, com o objetivo de avaliar a evolução das videiras. Para
tal, vamos caracterizar ecologicamente o local, a tecnologia vitícola utilizada e as decisões tomadas
ao longo da manutenção e gestão das vinhas.

Toda a análise destas castas é realizada na Vinha dos Brancos ou Vinha da Meia Encosta,
na Tapada da Ajuda. Esta vinha apresenta um compasso de 2,5 m: 1 m, uma densidade de 4000
pl/ha, com uma orientação das linhas na direção Norte-Sul e um sistema de condução em poda
curta, 4 a 7 talões por videira.

Objetivos
Este trabalho prático de viticultura complementa o trabalho feito em 2022, no primeiro
semestre, na unidade curricular em Sistemas de Produção Hortícola Frutícola e Vitícola I, SPHFV I.

- Contacto directo com uma vinha de castas brancas instalada na Tapada da Ajuda conduzida
em monoplano vertical ascendente e podada em cordão Royat unilateral.

- Acompanhamento do ciclo biológico/fenologia da videira (desde o abrolhamento à floração).

- Observação da estrutura das cepas, morfologia dos órgãos e análise do efeito da casta nas
respostas anuais ao nível do abrolhamento, fertilidade, produção e vigor.

- Aprofundar o conhecimento das principais técnicas de condução e manutenção da vinha,


com várias operações culturais, sobretudo nas intervenções em verde (gestão de arames,
esladroamento, desponta, etc), que serão efetuadas nas duas castas brancas escolhidas em
função do seu estádio fenológico.

Material
- Fichas de registo;

- Lápis/caneta/computador ou tablet;

- Planta da vinha;

- Tesoura para desponta;

Métodos
Foram feitas várias visitas à vinha de castas brancas conduzidas em monoplano vertical
ascendente, tendo continuado a analisar as mesmas 4 linhas do semestre passado correspondentes

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a 2 castas, as linhas 4 e 5 da casta Macabeu e as linhas 6 e 7 da casta Moscatel Galego, todas com
porta enxertos 110 R. Em cada linha selecionamos 5 videiras que foram sujeitas aos seguintes
registos:

a) Identificação do estado fenológico em que se encontravam, semanalmente;

b) Determinação da carga (nº de olhos) deixada à poda no ano anterior;

c) Contagem do número de sarmentos de acordo a sua classificação em normal ou ladrão e


registo da base para a extremidade da ordem do olho de origem dos sarmentos normais no
talão;

d) Estimativa da produção de uva.

Caracterização ecológica do local


1. Clima
No Instituto Superior de Agronomia, na vinha de castas brancas, há uma estação
meteorológica que fornece dados diários sobre a precipitação, a velocidade do vento, a humidade
relativa do ar e da temperatura e a intensidade da radiação solar. Com estas observações
conseguimos caracterizar os aspectos climáticos da área em estudo.

Fig. 1 - Desenho esquemático dos elementos da estação meteorológica.

Elementos da Estação Meteorológica:


- Termohigrómetro mede a humidade relativa do ar e temperaturas maximas e minimas;
- Psicrómetro é um instrumento constituído por um termómetro seco e outro húmido, destinado
a determinar a humidade relativa da atmosfera;

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- Piranômetro um instrumento que mede a intensidade da radiação solar global incidente numa
superfície;
- Pluviómetro também conhecido por udómetro, que mede a a precipitação;
- Anemómetro, instrumento que mede a velocidade do vento ou de outros fluídos em
movimento;

De acordo com a classificação climática de Thornthwaite, o clima da Tapada da Ajuda


(coordenadas geográficas 38°42'27.6"N 9° 10' 56.3"W) caracteriza-se como temperado húmido, com
verão quente e seco e um inverno fresco e chuvoso, como podemos ver na Fig.2 onde nos meses de
verão (Junho, Julho, Agosto e Setembro) temos temperaturas médias altas e precepitações médias
baixas, enquanto nos meses de inverno (Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março) observamos o
oposto. Assim, podemos classificá-lo como Csa (Anexo 1). A altitude varia entre os 20 a 140 m acima
do nível do mar.

Fig. 2 - Temperatura Média e Precipitação Média observadas durante os meses de Janeiro a Maio de
2023. Fonte: www.meteoagri.com

Para um clima ser classificado como Csa tem que seguir os seguintes requisitos: para ser
considerado do tipo C a temperatura média do mês mais quente tem de ser superior ou igual a 10 °C,
e a temperatura média do mês mais frio tem de ser inferior a 18 °C, mas superior a -3 °C, como
observamos na Fig. 2 para o mês de Janeiro; para ser considerado do tipo s a precipitação do mês
mais seco do verão, tem de ser inferior a 30 mm e menor que um terço da precipitação do mês mais
húmido do inverno e para ser considerado do tipo a temperatura média do mês mais quente tem de
ser 22 °C ou superior.

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2. Solo
De acordo com as classificações World Reference Base for Soil Resources (WRB) e dos
Solos de Portugal, os solos da Tapada da Ajuda são classificados como vertissolos, que apresentam
4 tipos de horizontes: Ap, B, BC e C.
Segundo Cardoso, os solos da vinha do Pavilhão pertencem à família dos barros
castanho-avermelhados não calcários originária de basaltos ou doleritos ou outras rochas eruptivas
básicas (Cb). São solos evoluídos, com teor de colóides de montemorilonite, o que lhes permite ter
características especiais, elevada plasticidade (enquanto húmido) e rijeza enquanto seco, podendo
apresentar fendilhamento quando o teor de humidade é muito baixo.
De acordo com Medina, esta família de solos é caracterizada por um perfil do tipo Ap Bw C,
de espessura entre 80 a 114 cm. É composta por poucos elementos grosseiros (pedras e calhaus -
Anexo 3). A origem destes solos é a rocha basaltica, com teores de argila superiores a 30%, com
presença de calcário fino na parte inferior de Bw ou só em C, podendo ou não conter calcário
grosseiro.

3. Índices bioclimáticos
Considerando a importância da temperatura no crescimento da videira e composição do
bago, foram desenvolvidos diversos índices bioclimáticos. Estes índices são ferramentas de
zonagem vitícula com o objetivo de classificar e comparar a aptidão das diferentes zonas para a
produção de uva, identificando e caracterizando novas áreas para a plantação e selecionando as
melhores castas a plantar nas devidas regiões. Também são usados para estimar o potencial de
maturação e compreender a variabilidade na composição dos bagos à vindima. Assim, temos:

- Índice de Winkler (IW), que foi um dos primeiros a ser desenvolvido e é bastante simples. É
calculado com base nos graus-dia acumulados (somatório das temperaturas ativas, ou seja,
temperatura média subtraída pela temperatura base da videira) e calcula-se entre 1 de Abril e
31 de Outubro. A nossa região tem cerca de 1700 graus-dia (Anexo 2a) e é caracterizada por
favorecer a produção de uvas com alto teor de açúcar, mas pouca acidez.

- Índice de Frescura Noturna à Maturação (IF), que é calculado pela média das temperaturas
mínimas do mês de maturação das uvas, Setembro. Este índice tem como objetivo aperfeiçoar
a avaliação dos potenciais qualitativos das regiões vitícolas, em relação aos aromas devido
aos metabolitos secundários presentes nas uvas, os polifenóis, assim como na cor, pois as
amplitudes térmicas significativas com noites amenas durante a fase de maturação tendem a
ser favoráveis para a produção de vinhos de qualidade. A região em estudo pertence à classe
IF 2.1 (Anexo 2b) que descreve noites temperadas quentes (>16 e ≤18ºC).

- Índice Heliotérmico de Huglin (IH). O índice heliotérmico de Huglin difere do índice de Winkler
por integrar a duração do dia e a temperatura máxima do ar, variáveis que têm uma forte
intervenção sobre o desenvolvimento e qualidade da uva. No cálculo considera o período entre

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1 de Abril e 30 de Setembro. Permite uma boa discriminação do clima da região, combinado
com o IF, no que respeita às condições heliotérmicas globais durante o ciclo vegetativo da uva
e as condições de noite fria durante o período de maturação. A região em estudo pertence à
classe IH 4 (Anexo 2c) que descreve um clima temperado quente (>2100 e ≤2400).

4. Potencial de maturação da uva


Os elementos climáticos influenciam todas as fases do ciclo biológico da videira,
determinando a distribuição geográfica da cultura. Dentro dos vários elementos climáticos, a
temperatura é um dos elementos principais na influência do ciclo vegetativo e reprodutivo, na
composição da uva e no estilo e qualidade do vinho. A grande influência da temperatura levou ao
desenvolvimento dos diversos índices climáticos baseados neste parâmetro climático,anteriormente
explicados. Estes índices são usados principalmente como ferramenta de zonagem vitícola, para
podermos classificar e comparar a aptidão das regiões para produção de uva, identificar e
caracterizar novas áreas de plantação e determinar as melhores castas a plantar em cada uma das
regiões.
Ao longo deste trabalho, os índices vão ser utilizados para estimar o potencial de maturação
da uva, mas teremos baixa proporção da variabilidade devido a considerarmos apenas um
parâmetro: a temperatura e não considerarmos todas as fases. Os dados utilizados dos três índices
são baseados no período de 1971-2000, fornecidos pelo IPMA, pelo que é relevante indicar que tem
havido alterações desses dados até ao momento atual, principalmente no aumento da temperatura
global, devido às alterações climáticas.
Estes índices são definidos para o período vegetativo da videira, considerado de 1 de abril a
30 de setembro, em que utilizam uma temperatura base de 10ºC, como referência para o
desenvolvimento da videira.

Tecnologia vitícola
Descrição das técnicas culturais e respectivas datas de execução

Quadro 1 - Técnicas culturais e as respectivas datas de execução.

Data (2023) Técnica

31/01 Desinfeção de feridas de poda e formas hibernantes com Sulfato de


cobre e promanal

01/02 Controlo de infestantes com os herbicidas Roundup (ação sistémica -


flazassulfurão) e Chikara pois têm um espectro grande de controlo
matando assim várias infestantes

03/03 Tratamento fitossanitário com o pulverizador Thiovit Jet (Enxofre


molhável - 5 kg/ha) para combater a doença fúngica escoriose pois

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este tem uma boa aderência e retenção, prevenindo e controlando a
doença.

08/03 e 11/03 Controlo de infestantes na entre-linha com o corta-mato para diminuir a


competição por nutrientes, controlar as pragas e doenças que se
podem alojar nas infestantes e o acesso e operações culturais da
vinha.

20/03 Tratamento fitossanitário com o pulverizador de Rhodax Flash (3


kg/ha) composto por 2 agentes ativos (Folpete + Fosetil de alumínio),
tem uma ação complementar aumentando assim a eficácia do
tratamento da escoriose.

03/04 Tratamento fitossanitário com o pulverizador de Maestro M (4kg/ha -


com modo de ação complementar - 2 substâncias ativas : Mancozebe
(ação fúngica direta) + Fosetil-Alumínio (estimula produção de
defesas)) foi utilizado para controle de míldio e escoriose.

19/04 Levantamento dos arames nas castas Mosc. Galego e desladroamento


de ambas as castas para melhorar a qualidade da uva, a maturação da
uva e facilitar as operações culturais. Análise de Fenologia

21/04 Tratamento fitossanitário com o pulverizador de Armetil (2 kg/ha - com


modo de ação complementar - 2 substâncias ativas : Folpete +
Metalaxil) para o controlo de míldio.

27/04 Desladroamento de ambas as castas; Análise da fenologia

03/05 Colocação de varas dentro dos arames; Desladroamento; Subida dos


arames na casta macabeu para prosseguir com o sistema de
condução e facilitar as operações culturais; Análise da fenologia

10/05 Despampanação na casta Mosc. Galego; Desladroamento; colocação


das varas dentro dos arames; Análise da fenologia.

15/05 Análise da fenologia; Desladroamento; Colocação das varas dentro


dos arames de condução.

23/05 Tratamento fitossanitário com o pulverizador de Stulln (Enxofre


Molhável 10 kg./ha - fungicida), Prosper (Espiroxamina 600 ml./ha. -
fungicida sistémico) e Movento (Espirotetramato 500 ml./ha. -
inseticida/acaricida sistémico) para controle de ácaros, oidio e
cochonilhas.

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Comparação das 2 castas quanto a
1. Evolução da fenologia (escala de Baggiolini e escala numérica BBCH);

Fig. 3 - Escala numérica BBCH e


correspondência com a escala de
Baggiolini

A escala fenológica corresponde a uma escala de desenvolvimento das culturas,


traduzindo por meio de letras (escala de Baggiolini) ou de números (escala numérica BBCH)
o estado fenológico em que a cultura se encontra. Esta avaliação, independentemente da
escala usada (ambas representadas na figura 2) está dependente da observação visual do
utilizador.
Ao longo do tempo, e da avaliação realizada dos estados fenológicos de ambas as
castas, por meio da escala BBCH essencialmente (registada nos anexos 6 e 7), foi possível
verificar um atraso no desenvolvimento da casta Macabeu em comparação com a casta
Moscatel Galego. Este atraso por parte da casta Macabeu já seria de esperar, uma vez que,
esta casta trata-se de uma casta mais tardia, relativamente à casta Moscatel-Galego.

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Fig. 4 - Saídas das folhas Fig. 5 - Cachos visíveis

Fig. 6 - Cachos visíveis Fig. 7 - Grão de ervilha

2. % de abrolhamento e fertilidade
Após o registo dos valores em excel, decidimos utilizar diversas fórmulas, como podemos ver
de seguida, para obter alguns dos resultados pretendidos.

Percentagem de abrolhamento = Nº olhos abrolhados (independentemente de terem originado um


ou mais sarmentos) / Carga à poda x 100

Percentagem de abrolhamento múltiplos = Nº de abrolhamentos múltiplos (olhos que originam 2 ou


mais sarmentos) / Carga à poda x 100

Índice de fertilidade potencial = Nº cachos / Nº olhos abrolhados

Índice de fertilidade prático = Nº cachos / carga à poda

Estimativa da produção de uvas (Kg) = número de cachos totais * peso médio dos cachos (kg)

É de realçar que os valores do peso médio dos cachos por casta nos foram fornecidos pelo docente.

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Quadro 2 - Valores médios e desvios padrão respetivos da carga deixada à podo, do número de
olhos abrolhados por cepa, do número de sarmentos normais e de ladrões por cepa, da percentagem
de abrolhamento e de abrolhamentos múltiplos.

Carga à Nº de olhos Nº de Nº de % de
% de
Castas poda por abrolhados sarmentos ladrões abrolhamentos
abrolhamento
videira por videira normais por videira múltiplos

Macabeu 12,4 10,9 12,7 ± 2,28 11,3 ± 4,9 87,32 ± 12,17 19,66 ± 17,14

Moscatel
12,6 10,7 12,7 ± 2,24 6,3 ± 4,0 86,81 ± 10,86 2,89 ± 4,84
Galego

Quadro 3 - Valores médios e desvios padrão respectivos e da percentagem de abrolhamento da


coroa, do peso médio dos cachos e da lenha da poda, estimativa da produção de uvas, dos índices
de fertilidade potencial e prático.

% de Índice de Índice de Peso médio Estimativa da


Castas abrolhamento do fertilidade fertilidade dos cachos produção de
olho da coroa potencial prático (kg) uvas

Macabeu 4,73 ± 6,05 1,56 ± 0,24 1,36 ± 0,22 0,447 8,77 ± 3,02

Moscatel
3,59 ± 6,01 1,54 ± 0,64 1,29 ± 0,51 0,186 3,78 ± 1,71
Galego

Iremos então analisar os valores obtidos e comparar os seus resultados e também com os
resultados do semestre passado (anexo 4 e 5).

O tratamento de dados referentes às 20 cepas, 5 de cada 2 linhas de cada casta das uvas
brancas, castas Macabeu e Moscatel Galego, que foram selecionadas de forma a ter um número
semelhante de talões foram submetidos à análise de variância (ANOVA).

O número de sarmentos normais, sarmentos de unidade de frutificação, ou seja, que


sustentam a produção de cachos e por isso da uva, verificamos que é igual nas duas castas, visto
terem um número aproximado de olhos abrolhados, pelo quadro 2. Este parâmetro em relação aos
dados do semestre passado o número de sarmentos normais é maior, principalmente na casta
Macabeu.

No que toca ao número de sarmentos ladrões, sarmentos que abrolham fora da unidade de
frutificação, tendo uma fertilidade bastante inferior, são importantes serem contabilizados, visto
consumirem os nutrientes destinados às unidades de frutificação. Esta percentagem é indicador do
potencial vigor da cepa, pois quanto maior o número de sarmentos ladrões significa que a cepa tem
força para crescer e engrossar. Deste modo, pode-se reduzir os ladrões ao aumentar o número de

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olhos a preservar por talão aquando da poda, pois cargas à poda reduzidas reforçam o crescimento
de rebentos de olhos adventícios, os ladrões. Assim, o número de sarmentos ladrões depende da
poda dos anos anteriores e da complexidade dos talões. Deste modo, pelo quadro 2, e comparando
com os dados do semestre passado, continuamos a observar que a casta Macabeu apresenta um
maior número de ladrões comparativamente à casta Moscatel Galego. Concluímos que há um maior
desequilíbrio nas videiras da casta Macabeu devendo aumentar o número de olhos a preservar por
talão aquando da poda, com o objetivo de maximizar a produção de uva.

A percentagem de abrolhamento consiste num indicador de crescimento vegetativo potencial


da planta sendo dado com base no número de olhos, de 1º, 2º e de 3º ordem deixados à poda que
abrolham, não incluindo os olhos da coroa, dependendo assim da carga à poda e do vigor da videira.
Assim, ao observarmos o quadro 2 vemos que a casta Moscatel Galego e a casta Macabeu
apresentam uma carga à poda semelhante, em média, 12 olhos por videira, apesar de ser
ligeiramente superior na casta Moscatel Galego. A mesma relação bem como o mesmo número de
olhos por cepa é igual aos dados de 2022. Em relação ao número de olhos abrolhados, as duas
castas têm, aproximadamente, o mesmo número, em média 11 olhos que abrolharam, apesar de ser
ligeiramente superior na casta Macabeu, traduzindo-se, assim, numa maior percentagem de
abrolhamento para esta mesma casta. Nos dados do semestre passado verificou-se que o número
de olhos abrolhos era diferente para as duas castas, tendo sido a Moscatel Galego a ter um maior
número de olhos abrolhados e, por isso, maior percentagem de abrolhamento. O desvio-padrão
deste parâmetro é elevado, principalmente para a casta Macabeu, havendo grande dispersão de
dados.

Fig. 8 - Talão com 3 olhos em que apenas 2 abrolharam

A percentagem de abrolhamentos múltiplos consiste no facto de num olho haver pelo menos
2 abrolhamentos, e esta é maior na casta Macabeu, apesar do elevado grau de dispersão entre
dados, o que juntamente com o número de sarmentos de ladrões, reforça que esta casta tem um
maior desequilíbrio. Perante isto, podemos já concluir que a casta Macabeu apresenta maior vigor
devendo aumentar, mais uma vez, no número de olhos a preservar por talão aquando da poda. A
mesma relação presenciou-se nos dados do trabalho do semestre passado.

A contabilização do número de abrolhamentos verificados nos olhos da coroa é importante,


visto ser um indicador de desequilíbrio na videira que quando abrolha condiciona o vigor dos

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restantes sarmentos, sendo a sua fertilidade baixa. Os olhos da coroa raramente abrolham, uma vez
que a videira promove o abrolhamento dos olhos de acordo com a dominância apical, no entanto se
tiver nutrientes suficientes e uma carga à poda reduzida pode promover abrolhamento do olho da
coroa, bem como dos olhos adventícios, os ladrões. Assim, este parâmetro depende do número de
olhos deixados aquando da poda, ou seja, da poda dos anos anteriores. Deste modo, deve-se intervir
com uma poda corretiva e com a correção do número de lançamentos normais e ladrões, de maneira
a controlar a resposta da planta, de forma a promover a máxima produção de uva com qualidade. Ao
analisar o quadro 3 apuramos que ambas as castas em estudo a Macabeu revela uma maior
percentagem de abrolhamento do olho da coroa, mas com um algum grau de dispersão referente a
dados com valores muito heterogéneos, visto ser raro o abrolhamento de um olho da coroa. Nos
dados do ano passado para este parâmetro, ambas as castas apresentavam a mesma percentagem
do abrolhamento do olho da coroa.

O índice de fertilidade reflete o número de cachos que foram originados por olho abrolhado,
assim, confirmamos claramente que se a videira produzir um maior número de cachos em relação
aos olhos abrolhados traduz-se numa maior produção de uva reduzindo o crescimento vegetativo.
Analisando o quadro 3 referente ao índice de fertilidade potencial e ao índice de fertilidade prático os
valores são, aproximadamente, iguais para as duas casta, sendo, para os dois parâmetros,
ligeiramente superior na Macabeu, traduzindo-se, assim, numa maior relação cachos/número de
olhos abrolhados e cachos/carga à poda, respetivamente. Assim, a casta Macabeu revela maior
produtividade, por estar a direcionar os seus nutrientes para maximizar a produção de uva, reduzindo
no crescimento vegetativo, a um ritmo superior ao da Moscatel Galego.Salienta-se, ainda, que para
estes dois parâmetros verifica-se alguma homogeneidade nos dados, visto o valor do desvio-padrão
ser relativamente pequeno. Referente aos dados do semestre passado, Macabeu apresentava maior
índice de fertilidade potencial, mas a Moscatel Galego é a que tinha um maior índice de fertilidade
prático.

A respeito da estimativa da produção de uvas fornecido pelo número


e o peso médio do cacho, a casta Macabeu apresenta uma maior estimativa
de produção de uva, como era de esperar, pois apesar de estar em maior
desequilíbrio, apresenta uma maior índice de fertilidade potencial e prático,
bem como um maior peso médio dos cachos. Para este parâmetro consta-se
alguma homogeneidade nos dados, visto o valor do desvio-padrão não ser
muito alto.

Fig. 9 - Macabeu

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3. Data, intensidade e facilidade/dificuldade de execução das intervenções em verde.

​As intervenções em verde correspondem às operações realizadas na videira, quando esta se


encontra no processo vegetativo. É útil para continuar a assegurar as melhores condições de
desenvolvimento da planta e de amadurecimento dos cachos. Mas também é essencial para facilitar
a aplicação dos produtos fitossanitários e facilitar a passagem das máquinas. Nas intervenções em
verde importa destacar: o desladroamento, orientação e despoda, uma vez que foram as
intervenções que efetuamos.

A data de execução das intervenções em verde, em geral, em ambas as castas será entre
Março e Julho, nós efetuamos primeiramente a subida dos arames e o esladroamento a meados de
Abril da casta Moscatel Galego, e só no início de Maio é que procedemos à subida dos arames e
esladroamento nas linhas da casta Macabeu, quanto à despoda, realizamos esta intervenção em
ambas as castas no final do Maio.

Em relação à intensidade, durante o desladroamento reparamos que a casta Moscatel


Galego apresentava maior número de ladrões no tronco da cepa em comparação com a casta
Macabeu.

As facilidades na execução das intervenções em verde na casta Macabeu, são um sinal da


sua boa adaptação a diferentes condições climáticas. A poda em verde é facilitada pela boa
visibilidade das folhas. No caso da casta Moscatel Galego, a sua adaptabilidade não só a diferentes
condições climáticas mas também a diferentes tipos de solo facilitam as intervenções em verde, pois
conferem à videira resistência e uma boa capacidade de resposta às intervenções nela efetuadas. As
uvas desta casta têm geralmente uma maturação precoce o que nos facilita a tomada de decisão
sobre intervenções em verde, como o desbaste de cachos.

As dificuldades à execução destas intervenções, na casta Macabeu é uma possível alta


produção de cachos e densa área foliar, enquanto que na casta Moscatel Galego, o excessivo
crescimento vegetativo e a suscetibilidade a doenças como o oídio e o míldio são algumas das
dificuldades que podemos encontrar ao executar as intervenções em verde.

4. Componentes do rendimento e potencial produtivo para o ano em curso.

A produção esperada para este ano varia entre as duas castas. Pelas nossas contas, para a
casta Macabeu, contámos um total de 196 cachos nas 10 videiras, incluindo os cachos dos ladrões e
dos olhos da coroa. Com um peso por cacho de cerca de 447.2 gramas, obtivemos uma
produtividade de 87,65 kg nas videiras em estudo, sendo então, em média, 8.77 kg por videira nesta
casta. Já em relação à casta Moscatel Galego, foram contados 203 cachos, um valor relativamente
parecido ao da casta Macabeu. Contudo, a produtividade vai ser diferente, visto que o peso médio
dos cachos, neste caso, é de 186.0 gramas. Logo, vamos ter uma produção total esperada de cerca
de 37.76 kg nas 10 videiras de onde tirámos a amostra, o que equivale a um valor de 3.776
kg/videira.

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Esta vinha apresenta uma densidade de plantação de 4000 plantas/ha. Fazendo as contas,
ficaríamos com uma produção total de 35 toneladas/ha no Macabeu e de 15 toneladas/ha no
Moscatel Galego. Confrontando a realidade, e em relação aos valores de 2022, a produção no
Macabeu está excessivamente elevada. Isto deve-se ao facto de uma má contagem de cachos nessa
casta, visto que os valores de 2022 dizem cerca de 89 cachos, e nós contámos 196. No Moscatel
Galego, as contas batem certo com os valores do ano de 2022.

Como sabemos, as castas apresentam valores diferentes de produtividade, devido à


influência de fatores como o clima, solo, cultivar, tipo de porta-enxerto… No nosso caso, e pelo facto
das nossas linhas estudadas serem lado a lado, estes fatores, tirando a cultivar, não vão diferenciar a
produtividade entre as castas, visto que as características são semelhantes. Um outro fator que
influencia o crescimento e a produtividade é a capacidade fotossintética das folhas, e
consequentemente a produção de fotoassimilados. Estes fotoassimilados servem de reservas para
as uvas, o que altera e beneficia a produção e o peso dos cachos. Porém, se o crescimento das
plantas for elevado, significa que muitas reservas foram utilizadas no crescimento da planta e não no
fruto.

O que pode influenciar a produtividade é o abrolhamento e se são múltiplos ou não, e o


índice de fertilidade, relativo ao nº cachos/nº olhos abrolhados. Ambas as castas possuem valores
semelhantes de abrolhamento, contudo, o Macabeu apresenta maior percentagem de abrolhamento
múltiplos, quando comparado com o Moscatel de Setúbal. Em relação ao índice de fertilidade, os
valores também são semelhantes, apenas variando 0.05 entre as castas, sendo o Macabeu o mais
elevado. Como é de esperar, a fertilidade aumenta se aumentar o número de cachos. Contudo, se a
fertilidade for muito elevada, o vigor dos cachos e o peso deles vai diminuir, visto que estes fatores
são inversos, se aumenta o número de cachos, diminui o seu peso. Este assunto pode ser
comprovado com os valores do ano passado, onde na casta Macabeu temos um número reduzido de
cachos em relação ao Moscatel Galego, mas apresenta valores de peso do cacho muito superiores.

Conclusão

Ao longo deste trabalho, não só deste semestre mas como o do primeiro semestre, tivemos
oportunidade de acompanhar a evolução duma vinha de castas brancas, nomeadamente Macabeu e
Moscatel Galego. Acompanhámos o seu desenvolvimento fenológico, percebemos que fatores
podem afetar o crescimento e a produção duma videira, tanto climáticos e de solo, como a nível
morfológico e fisiológico da planta. Com a identificação dos estados fenológicos, conseguimos
perceber que ações tomar, como por exemplo a poda em verde,incluindo o esladroamento ou a
desfolha, ou mesmo subir os arames e colocar os sarmentos dentro destes, ajudando a passagem
dos tratores.

Por fim, após muitas contagens e muitos cálculos que influenciam a produtividade das
videiras, como a percentagem de abrolhamento ou o índice de fertilidade, chegámos à conclusão que
os valores da produtividade de ambas as castas não varia muito. Apesar dos pesos médios dos

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cachos da casta Macabeu rondar 447,2 gramas e os do Moscatel Galego rondar as 186,0 gramas, os
valores de Kg/ha são semelhantes, visto que o número de cachos do Macabeu é muito inferior que o
Moscatel Galego. No nosso caso, estas contagens apresentam números semelhantes entre si, mas
como referido anteriormente, devemos ter feito mal estas contagens no Macabeu, pois está
excessivamente elevado.

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Anexos
Anexo 1 – Clima de Portugal Continental, segundo a classificação climática de Koppen. Fonte: IPMA

Anexo 2 – Índices em Portugal Continental: a) Índice de Winkler (IW); b) Índice de Frescura Noturna
à Maturação (IF) c) Índice Heliotérmico de Huglin (IH). Fonte: IPMA

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Anexo 3 - Dados analíticos do perfil do solo Fonte: Victorino G. Adaptado: Medina.

Anexo 4 - Valores médios e desvios padrão respetivos do número de olhos abrolhados por cepa, da
carga deixada à poda, do número de ladrões por cepa, da percentagem de abrolhamento, do número
de sarmentos normais, da percentagem de abrolhamentos múltiplos e de abrolhamento da coroa.
Fonte:Trabalho feito em 2022, no primeiro semestre, na unidade curricular SPHFV I

Nº de
Carga à Nº de % de
olhos Nº de % de
poda ladrões % de abrolhamento
Castas abrolhado sarmento abrolhamento
por por abrolhamento do olho da
s por s normais s múltiplos
videira videira coroa
videira

Macabeu 8,9 11,6 12,2 ± 3,6 76,2 ± 9,9 9,8 ± 2,3 8,4 ± 9,9 10 ± 30

Moscatel
11,8 12,3 12 ±1,3 96,3 ± 6,4 12,1 ± 1,2 2,4 ±3,8 10 ± 30
Galego

Anexo 5 - Valores médios e desvios padrão respectivos do peso médio dos cachos e da lenha da
poda, estimativa da produção de uvas, dos índices de fertilidade potencial e prático, do índice de
ravaz e dos diâmetros do tronco a 10 e 20 cm da enxertia. Fonte:Trabalho feito em 2022, no primeiro
semestre, na unidade curricular SPHFV I

Peso Média Ø Média Ø


Estimativ
médio Peso da Índice de Índice de Índice 10 cm 20 cm
a da
Castas dos lenha de fertilidade fertilidade de acima acima
produção
cachos poda (kg) potencial prático Ravaz enxertia enxertia
de uvas
(kg) (cm) (cm)

0,52 ± 0,42 ±
Macabeu 0,447 0,64 ± 0,2 2,9 ± 0,8 5 ± 2,2 14,04 ± 1,2 13,09 ± 1,2
0,19 0,17

Moscatel 0,46 ± 0,50 ± 0,50 ± 3,3 ±


0,186 1,5 ± .0,3 14,66 ± 0,8 14,02 ± 0,7
Galego 0,02 0,14 0,16 0,6

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Anexo 6 - Evolução fenológica da linhas 4 e 5 ao longo dos meses de março a maio, referentes à
casta Macabeu, segundo a escala numérica BBCH

Anexo 7 - Evolução fenológica da linhas 6 e 7 ao longo dos meses de março a maio, referentes à
casta Moscatel Galego, segundo a escala numérica BBCH

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