Você está na página 1de 12

Proteção de Reatores 109

__________________________________________________________________________

MÓDULO SEIS
__________________________________________________________________________

PROTEÇÃO DE REATORES

6.1. INTRODUÇÃO

Os reatores fixos, em geral, são usados para controle de tensão em regime permanente. São
frequentemente encontrados em linhas de alta e extra-alta tensão para compensar a
reatância capacitiva da linha.

A potência desses reatores varia desde cerca de 25 Mvar, até 330 Mvar nas linhas de
765 kV. Eles podem ser monofásicos (3 x 1) ou trifásicos, imersos em óleo ou secos.

Faltas em reatores conectados à linha através de seccionadora são isoladas pelo


desligamento da linha respectiva: a proteção do reator desliga diretamente o terminal local
e, através de transferência de disparo, desliga o terminal remoto da linha.

O reator é um equipamento que apresenta um alto índice de disponibilidade. Ele está sujeito
a poucas falhas, citando-se, por exemplo, curto entre espiras, curto fase-terra (curto entre o
enrolamento e a carcaça) e circuito aberto. Este último tipo de falta não compromete o
equipamento e, portanto, não tem proteção específica. As faltas mais críticas são os curtos-
circuitos internos, que requerem uma proteção eficiente.

A proteção típica de um reator é constituída de relés diferenciais, relés de sobrecorrente,


proteção de sobretensão, relé buchholz, e todos os demais dispositivos de proteção próprios
do equipamento, encontrados também nos transformadores, inclusive os indicadores de
temperatura.

A proteção principal é semelhante à proteção diferencial de geradores. Falta entre espiras


pode ser detectada por relé de distância conectado para "olhar" para dentro do reator. A
proteção da linha pode funcionar como retaguarda para a proteção do reator. Como o
reator não está sujeito a sobrecargas, a não ser em casos de sobretensão, os dispositivos de
sobretemperatura só geram alarmes.

6.2. PROTEÇÃO CONTRA SOBRETEMPERATURA

Os relés térmicos e indicadores de temperatura são basicamente os mesmos encontrados nos


transformadores. Os critérios de ajuste levam em conta a classe de elevação de temperatura
Fundamentos de Proteção de Sistemas Elétricos 110

e a temperatura ambiente.

As considerações gerais sobre a temperatura de transformadores também se aplicam aos


reatores. Os métodos de medição de temperatura também são os mesmos vistos no
transformador.

6.3. CRITÉRIOS DE SOBRECARGA

Os reatores só ficarão submetidos a sobrecarga se houver sobretensão e, para esse caso,


existem proteções contra sobretensão e sobrecorrente, que os desligarão quando forem
atingidos valores danosos para os mesmos.

Como os reatores dificilmente ficariam submetidos a sobrecarga e as proteções acima


mencionadas os protegem para essa condição, sugere-se adotar, para os sensores de
sobretemperatura do enrolamento e do óleo, basicamente, a mesma filosofia adotada para
transformadores, mas estes sensores devem somente acionar alarmes e não promoverem o
desligamento do reator.

Considerando estes critérios, os sensores de sobretemperatura do óleo e enrolamento devem


ser ajustados conforme se mostra nas tabelas abaixo.

Dispositivo de Sobretemperatura Classe de elevação de temperatura

Temperatura do Óleo 55  C 65 C

Nível 1 – Alarme de advertência 85  C 85 C

Nível 2 – Alarme de urgência e


desligamento temporizado 95  C 95 C
(opcional)

Fig. 1 - Termômetro de óleo com dois níveis de temperatura.

Dispositivo de Sobretemperatura Classe de elevação de temperatura

Temperatura do Óleo 55  C 65 C

Nível único – Alarme de urgência 90  C 90 C

Fig. 2 - Termômetro de óleo com apenas um nível de temperatura.


Proteção de Reatores 111

Dispositivo de Sobretemperatura Classe de elevação de temperatura

Temperatura do Enrolamento 55  C 65 C

Relé externo – Alarme de advertência 95  C 105 C

Termômetro (nível único) – Alarme de 105 C 120 C


urgência

Fig. 3 - Termômetro de enrolamento com nível único e relé externo.

Dispositivo de Sobretemperatura Classe de elevação de temperatura

Temperatura do Enrolamento 55  C 65 C

Nível 1 – Alarme de advertência 95  C 105 C

Nível 2 – Alarme de urgência 105 C 120 C

Fig. 4 - Termômetro de enrolamento com dois níveis de temperatura.

Dispositivo de Sobretemperatura Classe de elevação de temperatura

Termômetro do Enrolamento 55  C 65 C

Nível 1 – Alarme de advertência 95  C 105 C

Nível 2 – Alarme de urgência 105 C 120 C

Relé externo – Alarme de advertência 95  C 105 C

Fig. 5 - Termômetro do enrolamento com dois níveis de temperatura e relé externo.


Fundamentos de Proteção de Sistemas Elétricos 112

Dispositivo de Sobretemperatura Classe de elevação de temperatura

Termômetro do Enrolamento 55  C 65 C

Nível 1 – Partida de ventiladores (1o estágio) 80  C 80 C

Nível 2 – Partida de ventiladores (2o estágio) 85  C 85 C

Nível 3 – Alarme de advertência 95  C 105 C

Nível 4 – Alarme de urgência e


desligamento (opcional) 105 C 120 C
após 20 minutos

Fig. 6 - Termômetro de enrolamento com quatro níveis de temperatura.

A figura 7 mostra o arranjo da proteção para desligamento opcional do reator.

Fig. 7- Esquema para alarme e disparo (opcional) por sobretemperatura.

6.4. ALARME DE SOBRETEMPERATURA – PROCEDIMENTOS

Adotando-se a política de não promover o desligamento automático dos reatores quando


ocorrer a operação dos sensores de sobretemperatura, passando apenas a acionar os
alarmes, devem ser elaborados procedimentos para retirada dos reatores quando esses
alarmes forem acionados, os quais são exemplificados a seguir:
Proteção de Reatores 113

1. Quando ocorrer um alarme de advertência de sobretemperatura, caso a retirada desse


reator não comprometa a operação do sistema, ele deverá ser retirado imediatamente de
funcionamento e o órgão de manutenção notificado, para as providências necessárias.

2. Quando ocorrer um alarme de advertência de sobretemperatura do reator e sua retirada


comprometer a operação do sistema, o Centro de Operação deverá providenciar a redução
da tensão na área onde se encontra o reator, caso a tensão esteja acima da nominal,
notificando imediatamente o órgão de manutenção e providenciando a retirada do
equipamento tão logo as condições do sistema o permitam, mantendo nesse período uma
estreita observação do comportamento do reator.

3. Devido a eventuais falhas no sistema de refrigeração dos reatores, pode ocorrer


sobreaquecimento independentemente da tensão estar acima da nominal. Assim deverá ser
feita uma inspeção local no reator com respeito ao funcionamento das válvulas dos
radiadores.

4. Quando ocorrer um alarme de urgência de sobretemperatura do reator, o mesmo deverá


ser imediatamente retirado de operação, sendo o órgão de manutenção responsável
informado para tomar urgentemente as medidas necessárias.

6.5. PRESSÃO DE ÓLEO, DETECTOR DE GÁS, FALTA DE ÓLEO E ALÍVIO DE


PRESSÃO

O emprego de relé de pressão de óleo (Relé J), detector de gás ou relé Buchholz para
proteção contra faltas internas segue os mesmos princípios vistos no caso de
transformadores.

Analogamente, a proteção contra falta de óleo e válvula de alívio de pressão descritas no


módulo de transformadores, são igualmente aplicáveis aos reatores.
Fundamentos de Proteção de Sistemas Elétricos 114

6.6. PROTEÇÃO CONTRA SOBRECORRENTE

A proteção contra sobrecorrente dos reatores é feita normalmente por relés de


sobrecorrente de tempo inverso e ajustados para valores entre 1,2 e 1,3 vezes a corrente
nominal. A figura 8 mostra o arranjo da proteção.

Fig. 8 - Proteção contra sobrecorrente.


Proteção de Reatores 115

A figura 9 mostra o diagrama funcional da proteção de sobrecorrente.

Fig. 9 - Diagrama funcional da proteção de sobrecorrente.

6.7. PROTEÇÃO CONTRA SOBRETENSÃO

Essa proteção é normalmente alimentada pelos transformadores de potencial dos


barramentos ou das linhas. O seu ajuste é função da capacidade dos equipamentos ou de
outras características do sistema elétrico.

O valor médio usual dos ajustes é de cerca de 1,2 vezes a tensão nominal.

6.8. PROTEÇÃO CONTRA SURTOS DE TENSÃO

Além da proteção contra sobretensão convencional, o reator normalmente é protegido


contra surtos de sobretensão, através de pára-raios, como se mostra na figura 10.
Fundamentos de Proteção de Sistemas Elétricos 116

Fig. 10 - Arranjo da proteção contra surtos de tensão.

6.9. PROTEÇÃO DIFERENCIAL

A proteção diferencial é usada em reatores para protegê-los contra curtos-circuitos


internos. Esse tipo de proteção compara as correntes nos dois lados do reator, através de
transformadores de corrente, cujas relações e conexões tornam as correntes secundárias
iguais ou próximas entre si. A figura 11 mostra a circulação das correntes, quando o reator
está em funcionamento normal ou mesmo para uma falta externa em F.

Fig. 11 - Circulação de correntes para funcionamento normal e falta externa.

Para um curto-circuito fora do trecho protegido, as correntes permanecerão iguais nos


secundários dos TCs e o relé não irá operar. Entretanto, se ocorrer um curto-circuito entre
os dois TCs, teremos a operação do relé diferencial, como se mostra na figura 12.
Proteção de Reatores 117

Fig. 12 - Circulação de corrente para falta interna.

Devido aos desequilíbrios na malha diferencial, causados por erros e diferenças entre os
TCs, a forma mais usada de relé diferencial é a do tipo diferencial percentual, que a figura
13 nos mostra.

Fig. 13 - Relé diferencial percentual.

A corrente diferencial requerida para operar este relé é uma quantidade variável, devido ao
efeito da bobina de restrição. A corrente diferencial, na bobina de operação, é proporcional
I  I2
a I 1  I 2 e a corrente equivalente, na bobina de restrição, é proporcional a 1 .
2

A característica de operação do relé diferencial percentual é mostrada na figura 14. Os


ajustes típicos de slope situam-se na faixa de 5% a 20%.
Fundamentos de Proteção de Sistemas Elétricos 118

Fig. 14 - Característica de operação do relé diferencial percentual.

Podemos ver que, exceto para o pequeno efeito de mola de controle em correntes baixas, a
relação entre a corrente diferencial de operação e a corrente média de restrição representa
uma percentagem fixa, o que explica o nome deste relé.

A figura 15 mostra a conexão dos TCs e do relé diferencial percentual protegendo um


reator.

Fig. 15 - Conexão do relé diferencial percentual de reator.


Proteção de Reatores 119

6.10. PROTEÇÃO DIGITAL

A figura 16 abaixo mostra um exemplo de relé digital para proteção de reatores.

Fig. 16 – Hardware do relé diferencial de reatores.

O relé mostrado pode ser aplicado como proteção diferencial de corrente para reatores ou
outros dispositivos de dois terminais. O elemento diferencial deve incluir um pickup de
corrente de operação ajustável e uma característica de restrição percentual igualmente
ajustável.

Fig. 17 - Princípio de funcionamento do relé diferencial de reatores.


Fundamentos de Proteção de Sistemas Elétricos 120

O relé deve incluir também um elemento diferencial sem restrição para isolar rapidamente
faltas internas com altas correntes, como se mostra na figura 17.

A característica de restrição percentual pode ser ajustada com rampa única ou com rampa
dupla (slope variável), embora, no caso de reatores, não haja preocupação com faltas
externas com correntes elevadas. A operação do elemento diferencial é determinada pelas
grandezas de operação (IOP) e restrição (IRT), as quais são calculadas a partir das
correntes de entrada. O disparo ocorre se IOP for maior que o ajuste de pickup mínimo e,
simultaneamente, maior que o valor dado pela curva, para uma IRT particular.

6.11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMINHA, Amadeu C., Introdução à Proteção dos Sistemas Elétricos, São Paulo, Editora
Edgard Blücher Ltda, 1977.

TEODORO, Wanderley de Castro, apostila Proteção de Sistemas Elétricos, Módulo 9


(Proteção de Transformadores), Furnas, CTFU.

PEREIRA, José Henrique, Proteção Contra Sobrecargas em Transformadores de Força,


Furnas, DAPR.O.

PHADKE, Arun G., e THORP, James S., Computer Relaying for Power Systems, John Wiley
& Sons Inc., EUA, 1993.

SCHWEITZER, Engineering Laboratories, SEL-387 Relay Instruction Manual, USA, 2004.

BARBOSA, Ivan Júlio, notas de aulas.

Você também pode gostar