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Raimundo Nonato
Raimundo Nonato – Mestre das Plantas Espirituais e Medicinais da Serra do Espinhaço Mineiro
Mestre das Plantas Espirituais e Medicinais
da Serra do Espinhaço Mineiro
R
aimundo Nonato Lúcio, ou “Seu” Raimundo, é
uma lenda viva de Conceição do Mato Dentro e
das montanhas do Espinhaço, em Minas Gerais.
É conhecido em toda a região pelo seu dom de cura e
vidência, e sua fama chegou a ultrapassar fronteiras
regionais e nacionais. Dentre os dons que possui, está a
capacidade de “sentir” as doenças potenciais antes de se
manifestarem, percebendo o pensar, o sentir e o querer dos
seus visitantes. Com amplo conhecimento das virtudes
curativas das plantas e das árvores do cerrado, aplica
este saber com singular praticidade e intuição, nos mais
diversos casos que vão aparecendo no seu dia a dia, sendo
a água e suas propriedades radiestésicas o elemento basilar
de todo o seu processo curador. A necessidade de valorizar
o saber popular, e preservar este patrimônio cultural e
imaterial vivente no Espinhaço, foi o que nos motivou a
escrever o presente livro, e contribuir para a perpetuação
deste tradicional modus operandi de curar e transformar
vidas. Assim sendo, nestas páginas intentaremos mostrar
o legado de Seu Raimundo Nonato e da sua esposa, Dona
Antônia, a Benzedeira. Ensinamentos, Curas, Remédios e Encantos
A apresentação do livro foi elaborada pelo Filósofo Loryel
Rocha. O Prefácio é obra do Ambientalista e Conferencista
Kaka Werá Jecupé. Já o Posfácio foi escrito pela Bióloga e
Terapeuta Valéria A. Tavares.
F.J. Mariano & Ivana Bretas
Apresentação
A Via Noética e a Via Pneumática de Acesso ao Conhecimento
Transcendental - Loryel Rocha ................................................................................................ 7
Prefácio
Uma sabedoria que vem da Serra – Kaka Werá Jecupé................................................. 19
Introdução ...................................................................................................................................... 25
Posfácio
A Cura e os Curandeiros - Valéria A. Tavares..................................................................115
5
Apresentação
7
A Via Noética e a Via Pneumática de Acesso ao
Conhecimento Transcendental.
9
construído na base da tentativa e erro, mas, sim, por revelação divina
direta: “para cada coisa que eu vejo vem um pensamento na cabeça e, eu sei
o que deve ser feito”.
O início da irrupção do Sagrado na vida de Seu Raimundo assemelha-
se à de muitos outros mestres da medicina rústica no Brasil, ou seja, por
revelação direta, tal como aconteceu com João de Almeida2, Eurípedes
Barsanulfo3, Irineu Serra4, João Berbel5, Zé Marião6, Valentim Ribeiro7,
D. Lenita8, etc. Em todos estes casos, podemos notar a existência de um
sistema de diferentes crenças religiosas nos seus métodos de cura,
utilizando diferentes elementos mágico-religiosos. No entanto, concerne
considerar que não são todos os casos em que mestres de medicina rústica
iniciam suas práticas em decorrência da revelação direta [de Deus]. Há
inúmeros casos cuja prática de cura é passada de pai para filho, ou de
mestre para discípulo, dentro de uma cadeia de tradição “oral”, sendo este
mestre, portanto, depositário de uma tradição de saber humano, isto é,
transmitido de boca a ouvido de um ser humano para outro ser humano.
Evidentemente tais diferenciações não representam, necessariamente,
uma degenerescência na aquisição do conhecimento nem, tampouco, no
2 Tio de Eurípedes Barsanulfo por parte de mãe, em cuja Fazenda Três Marias, foi curar-se
de uma grave obsessão. Em sua fazenda, João de Almeida recebia e curava, com ervas e plantas
medicinais, doentes, loucos, leprosos, e toda espécie de pessoas enfermos do corpo e do espírito.
Os mestres espirituais lhe mostravam a pessoa que estava vindo buscar cura, a doença que tinha, e
o medicamento apropriado, que era preparado, individualmente, antes mesmo da pessoa chegar à
fazenda. Casos mais graves ficavam com ele na fazenda, sempre tratados como membro da família.
3 Médium espírita de Sacramento/MG fundador da primeira escola de ecologia do século XX que
fazia curas prodigiosas.
4 Fundador do Santo Daime, religião cuja bebida correlata é preparada a partir do cipó Jagube e da
folha da Rainha, plantas masculina e feminina, respectivamente.
5 Médium espírita fundador do IMA/Franca-SP (Instituto de Medicina do Além) que atende
milhares de pessoas com fitoterapia do além.
6 Famoso benzedeiro e curandeiro de gente simples e famosa de São Miguel do Gostoso, Maceió.
7 Atua como médico espiritual no Recinto de Caridade Bezerra de Menezes, em Brasília.
8 DA SILVA, Dayana Dar C, FRANÇA, Ednara Crismyne Oliveira. Plantas que curam: eficácia
simbólica na religiosidade popular. Disponível em: <http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/
anais/article/viewFile/396/433>. Acesso em 4 de novembro de 2015.
10
trato com ele. No entanto, devem ser consideradas como distintas. Explico.
11
das realidades maiores: uma é a que se chama propriamente [de]
a inteligência, Aristóteles a chamava de noús, e, por outro lado,
aquilo se chamaria [de] espírito ou pneúma. Então, a famosa
distinção já clássica entre a via noética e a via pneumática de acesso
ao conhecimento transcendente. A noética é aquela que aparece
no nível das intelecções, no nível do conhecimento dos primeiros
princípios, e o acesso pneumático é aquele que aparece sob a forma
de experiência existencial como, por exemplo, quando São Paulo
Apóstolo, no caminho de Damasco, perseguindo os cristãos, de
repente é fulminado pela compreensão de que ele estava perseguindo
a coisa errada e de que o Deus daqueles camaradas era o verdadeiro
Deus e no fundo o mesmo Deus dele10. Ele não compreende isto como
intuição, no sentido intelectual da coisa, é algo que lhe acontece, ele
é existencialmente fulminado pela visão daquilo. Você vai ver que a
diferença que existe entre a tradição filosófica e as tradições religiosas
é essa, quer dizer, de apreensão intuitiva ou noética ou da apreensão
existencial ou pneumática. Mas acontece que essas duas não são
historicamente sucessivas, a apreensão pneumática, naturalmente,
como ela não é intelectualmente diferenciada, elas se expressam em
símbolos narrativos, símbolos poéticos - toda narrativa no fim das
contas é poética; e a apreensão noética, ao contrário, se expressa
em símbolos e numa linguagem analítica. Mas acontece que essas
não são historicamente sucessivas, elas são simultâneas. Quer
dizer, alguns dos antigos filósofos gregos estavam tendo as suas
intelecções noéticas ao mesmo tempo em que os profetas hebraicos
tinham as suas vivências pneumáticas. Então, como é que você vai
falar de uma vivência, de um conhecimento mítico que antecede o
conhecimento racional, intelectual? Eles vieram ao mesmo tempo,
só que aí depende das circunstâncias, não há evolução histórica,
há apenas uma diferente modalidade de compreensão das coisas.
10 Atos 9.
12
Passados, então, 2404 anos desse negócio, ainda continua havendo
a possibilidade de conhecimento pelas duas vias. Ainda acontece, é
igualzinho.11
13
muitas delas não é exatamente coincidente nem com o princípio ativo nem
com as funções terapêuticas clássicas conhecidas do receituário popular.
Entendemos que essa “diferença” reforça ainda mais o conhecimento
pneumático recebido por revelação direta dos mestres espirituais dele.
Fig.1. Pintura Rupestre mostrando “a adoração da árvore”, do Sitio Toca da Extrema II, Parque
Nacional Serra da Canastra, São Raimundo Nonato, Piauí. As pinturas correspondem a Tradição
denominada Nordeste, e possuem entre 6000 a 12.000 anos de antiguidade. Extraídos de Prous
(2007), e do site do Historiador Orides Maurer Junior (http://oridesmjr.blogspot.com.br/ 2013/09/
arte-rupestre-do-brasil-tradicao.html).
14
A originalidade é um valor do conhecimento pneumático e uma benção
divina reatualizada para um mundo que carece de saúde do corpo e do
espírito. Sua eficácia consiste não somente em curar, mas, sobretudo, em
comprovar que o mundo celeste e terrestre não permanecem à margem
e em oposição polar, antes, movem-se numa tensão entre a atividade
mais modesta e um projeto de amor ao próximo de difícil compreensão
ou classificação. É essa oscilação que lhe confere a sua originalidade,
impedindo a sua integração definitiva numa época qualquer, porque, sua
natureza metafísica estende-se para além do tempo-espaço. Através dela
vemos a linguagem e o poder de Deus.
Reconhecer que o conhecimento pode ser acessado por duas vias que
caminham de modo independente e paralelo será um dos grandes desafios
do século XXI. Promover esse entendimento será retirar da marginalidade
todos aqueles mestres orais do obscurantismo elegante que a sociedade
dita escolarizada lhe impôs. É chegada a hora de prestar reverência a todos
aqueles que, silenciosa e gratuitamente, trabalham para que a história
individual caminhe em direção à epifania mais perfeita.
Constitui um Dever e uma Honra apresentar ao público a pessoa
e a obra de Raimundo Nonato Lúcio e Antônia Lúcio, sua esposa, casal
exemplar, que recebe diariamente em sua casa aqueles que estão em busca
de Amor e de Deus.
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Fig. 2. A floresta de cerrado do Espinhaço Meridional, Serra do Elefante.
17
Prefácio
19
UMA SABEDORIA QUE VEM DA SERRA
21
e do Céu e se organizam no verde fulgor das plantas e na sua luz líquida
chamada clorofila.
Durante décadas, tem cuidado de inúmeras pessoas com as folhas e
as seivas curativas das plantas, sem causar efeitos colaterais nos pacientes
e nenhum desequilíbrio na natureza.
Tem prestado um imenso serviço, não somente à comunidade da
Serra do Espinhaço, mas também, à manutenção de um saber sagrado
que vem dos mistérios do céu, e também vem das memórias das culturas
ancestrais do Brasil. Este livro é a oportunidade de prestar um serviço
para a humanidade, pois com certeza irá inspirar, reconsiderar e reavivar a
sabedoria, o dom divino que está na memória da humanidade e que precisa
ser acordado.
Que o Grande Mistério, a Mãe Terra e todos os seres sagrados abençoem
este homem que tem dedicado sua vida ao bem comum.
Kaka Werá
22
Para M.K.F.R.
23
Introdução
25
Nas últimas décadas, vem crescendo o interesse e a publicação de
livros e revistas especializadas por inúmeras abordagens etnobiológicas
e de etno-medicina, descrevendo atividades de curandeiros, raizeiros e
rezadeiras do meio rural e urbano, suas relações com o uso das plantas
medicinais de poder e cura, resgatando antigos horizontes do conhecimento
a partir da essência do ser (1). Essa tradicional “medicina popular” nos
remete
“à época onde os gregos experimentam o ente como as coisas
presentes e não presentes que se presentam no desvelamento, nos
primórdios do destino no ser a partir do ser.”
(Anaximandro de Mileto, Século VI a.C.).
27
Parte 1
Sobre a Vida e o Conhecimento de Seu Raimundo
29
“Bem-aventurado sejas peregrino
se descobres que o caminho te abre os olhos
ao que não se vê”
Portal do Mosteiro da N. S. da Peña de Francia,
Sul de Castela, Espanha
31
identificamos uma visão encantada pela natureza sustentada por um
Todo unificado e cosmológico, que vai muito além da ecologia planetária.
A necessidade de valorizar o saber popular, e preservar este patrimônio
cultural e imaterial vivente no Espinhaço, foi o que nos motivou a escrever
o presente livro e contribuir para a perpetuação deste tradicional modus
operandi de curar e transformar vidas.
32
1.1 O Começo da História
33
madeira e os carros tivessem maior vida útil. Assim, ficou conhecido em
toda a região pela qualidade e o refino no acabamento dos carros que
construía, sempre, artesanalmente. Porém, o segredo da durabilidade
destes carros não conta para ninguém.
Fig. 5. Mapa do Espinhaço Meridional com as localidades mencionadas no texto. Imagem extraída
do Google Earth.
34
1.2 Eventos curiosos que começaram na juventude
Seu Raimundo é restrito quando diz que “seus mestres são espirituais
e que, através deles, o conhecimento lhe é revelado”. Enxerga a natureza
como “Sagrada Natureza” contida num vasto laboratório de energias sutis.
Católico e com uma fé inabalável, transcendeu os limites da religião e
ultrapassou fronteiras.
Por volta dos seus de 10 anos de idade, vivenciou um fenômeno
inusitado que o marcou por toda a vida, quando pegou uma febre muito
alta que o prostrou profundamente. Sentiu que o “seu espírito saía do
corpo e estava sendo levado para um outro mundo”. Era de fato, um “lugar
estranho”, onde “as pessoas se vestiam de branco, ficavam quietas, em
silêncio, e a sensação era muito boa”.
Esse foi o início dos episódios de manifestação do Sagrado, que o
acompanhariam a vida toda.
Poucos anos depois, quando estava com 18 anos de idade,
acontecimentos estranhos começaram a acontecer na roça da família. O
mais interessante ocorreu por volta de 1967, quando a água da principal
nascente, que abastecia as casas e os animais da roça da família vizinha,
começou a ficar “estranha e ruim”. “Além do odor forte, começou a ter muitas
larvas na água”. Por causa da contaminação, “os bois começaram a ficar
doentes, ou com dor de barriga, e as pessoas que teimavam em tomar desta
água, passavam mal”. Após várias tentativas infrutíferas, o problema da
água parecia não ter solução. Assim, permaneceu insalubre por longos dias
até a chegada de um misterioso personagem vindo da Vila do Tabuleiro.
Trazia com ele “um estranho aparelho parecendo uma caixa de rádio antigo”.
Quando ligado, “era possível enxergar imagens extraordinárias através do
espelho que havia dentro”.
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A pedido do Seu Raimundo, o visitante levou o artefato até a nascente
e todos os que se encontravam presentes ficaram perplexos, e também
muito assustados em descobrir e ver o que realmente tinha acontecido
com aquela água. O tal aparelho “tinha a capacidade de refletir a memória
daquela água, no seu passado recente, e a imagem que aparecia no espelho
do equipamento era de alguém enterrando várias caveiras, retiradas do
cemitério de um povoado próximo”.
Todos ficaram estupefatos porque parecia algo inacreditável. De onde
vinha aquele aparelho? Por que motivo alguém colocaria caveiras naquela
água? Quem poderia ter feito isso, e para quê? Como era possível ver o
passado e o futuro numa máquina que parecia um rádio? Enfim, que ser era
aquele, com aquela caixa?
Seu Raimundo, ao contrário do receio e medo de todos, ficou
maravilhado com o que viu e assistiu, pois o estranho dono do aparelho
mostrou outras aplicações que resultam inacreditáveis para nosso
cepticismo cartesiano. Bastava imaginar ou mencionar o nome de qualquer
pessoa, “que aparecia o indivíduo na tela do aparelho e o lugar onde ele se
encontrava”. Este misterioso equipamento “permitia observar até o interior
da pessoa”, como se fosse uma máquina de Raio-X, “podendo detectar o que
estava saudável ou não dentro dela”. Localizava gado perdido, e também
identificava as doenças que estavam por vir. Uma verdadeira maravilha!
O aparelho possuía o tamanho daqueles rádios Philips antigos, que se
assemelhavam com uma caixinha. Na lateral do aparelho “apareciam
rodinhas que giravam, permitindo abrir uma tampa que continha um espelho
dentro”. Então, o usuário olhava pelo outro extremo e conseguia ver o que
for que estivesse sendo procurado. A condição para quem fosse manipular
o equipamento era o jejum, “caso contrário, o condutor poderia se sentir
muito mal”.
36
O homem que trouxe o aparelho chamava-se Geraldo Lima, e contou
que somente quatro equipamentos desse tipo tinham sido construídos
até então. Explicou que existia na região um outro aparelho similar, mas
com formato bem diferente, que era propriedade do Sr. Zezico, vizinho
da comarca do Serro. A engenhoca dele “parecia mais com uma pedra
arredondada, possuía um cristal no meio, que também detinha o poder de
captar informação e memória”.
Quem poderia ter fabricado esses equipamentos? Haveria tecnologia
na época para esta invenção? Seu Raimundo nunca havia visto nada
semelhante. A descrição e o funcionamento destes equipamentos, nos
levou a supor que o Sr. Geraldo Lima fosse uma pessoa muito hábil no
dom da hipnose, a ponto de conseguir atingir o inconsciente das pessoas.
Uma outra possibilidade, é que fossem aparelhos de radiônica (2),
onde o testemunho não é uma fotografia, como ocorre com os sistemas
conhecidos, senão um espelho ou um cristal. Na teoria, a consciência
conectada a um determinado padrão de ondas vibratórias permite captar
informações ressonantes, entretanto, surge a pergunta: será que qualquer
um conseguiria utilizar esse sistema de informação?
Enfim, voltemos para nossa história. O homem da máquina percebeu
o interesse do Seu Raimundo pelo equipamento, e “lhe fez uma proposta de
venda muito além das suas possibilidades: quase o valor de um carro novo”.
E, para a nossa surpresa, Seu Raimundo juntou suas economias, vendeu
alguns animais, e comprou a máquina que tanto lhe impressionara.
Rapidamente, percebeu que a manipulação do equipamento não
era coisa fácil e que a engenhoca de origem desconhecida não era para
qualquer um. Segundo o esperto vendedor, somente para acendê-lo e
colocá-lo em funcionamento, era necessário fazer um “longo curso”.
Surpreendentemente, Seu Raimundo aprendeu a manusear o aparelho
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em muito pouco tempo e de forma intuitiva, como se ele conhecesse de
antemão seu funcionamento. Ele lembra também, que estranhamente, o
aparelho “precisava ser registrado, e pagar imposto pelo seu uso”. Uma das
sugestões do vendedor foi que, para recuperar o investimento, ele cobrasse
pelas futuras consultas, e tentasse ter um lucro. Seu Raimundo consultou
a família e constatou que o ambiente não era favorável para esse tipo de
empreendimento. Havia um forte receio de que os tempos de bonança, e as
boas colheitas, poderiam acabar. E a intuição familiar tinha lá suas razões,
como veremos mais adiante.
Ao mesmo tempo em que aconteciam esses fatos estranhos, Seu
Raimundo percebeu que, aos poucos, e por algum motivo inexplicável,
ele começou a adquirir uma sensibilidade extra com tudo e todos a sua
volta e, surpreendentemente, “começou a sentir os mesmos resultados que a
máquina misteriosa transmitia, só que desta vez a resposta aparecia na sua
própria tela mental”. O que parecia surreal começou a tornar-se realidade,
e já não havia necessidade de ligar o aparelho para acessar qualquer
informação de um sistema no tempo passado, presente ou futuro. Ao tocar
nas pessoas, ele sentia a cor, a vibração, a saúde e o espírito delas. Este
dom da vidência paranormal despertou das profundezas do seu ser, e o
aparelho acabou funcionando como um catalisador deste campo de força.
Ao mesmo tempo, para um jovem que estava começando a descobrir
a vida, a transformação foi profunda, a ponto de abrir mão da “máquina
milagrosa”, e devolvê-la ao Sr. Geraldo Lima. Procurou-o na Vila do
Tabuleiro, devolveu-lhe o equipamento e teve a promessa de ter o dinheiro
investido de volta. Mas isto foi em vão, Seu Raimundo nunca foi ressarcido.
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Fig. 6. O contato com as águas durante as tarefas diárias de S. Raimundo, no seu sítio
39
Eventos curiosos continuaram a acontecer na vida dele. Um dos
últimos está relacionado com um fato que virou história corriqueira na
região do Espinhaço de Conceição: a aparição de luzes e misteriosos objetos
voadores. O setor de maior concentração desses fenômenos, de acordo
com os moradores do lugar, é o entorno do Parque do Tabuleiro, embora os
avistamentos ocorram em toda a região circundante. São muito conhecidas
em todo o Espinhaço Meridional histórias como a de José Joaquim Eloi,
morador do Tabuleiro, que teria ficado cego por causa da intensidade do
brilho dessas luzes (3). Seu Raimundo Nonato teve contatos desse tipo, e
dois deles ocorreram recentemente, chamando nossa atenção. O primeiro
correu em seu sítio, em 2014, logo no início da manhã, por volta das seis
horas. Quando estava caminhando em direção ao gado, “viu se aproximar
um estranho objeto voador, pequeno e de brilho metálico chamativo”. Ele
nunca tinha visto nada parecido antes. O objeto passou por cima de sua
cabeça, e perdeu-se na distância. Não sentiu medo, e tomou o fato como um
evento corriqueiro.
Outro fato interessante aconteceu durante uma caminhada noturna
que fizemos juntos, no Parque do Tabuleiro, em noite de lua nova,
guiados pelo amigo Samuel Taets Junior, dono da Pousada Gameleira, e
defensor ativo dos ecossistemas do lugar. Após minutos de caminhada,
sentamos para descansar de frente para a cachoeira. Não era possível vê-
la pela escuridão que permeava tudo, porém, era fortemente perceptível
o estrondo das suas águas logo à nossa frente. O céu era um manto de
estrelas, sem lua. Nesse lugar, onde pela distância já não enxergávamos
as luzes da vila, fizemos uma meditação, fechando os olhos e nos
concentrando no canto das águas. Durante esse processo, Seu Raimundo
avistou uma luz grande e intensa, estacionada bem acima de todos nós.
Possivelmente, pelo fato de estarmos em meditação, não chegamos a
40
perceber as luzes. Entretanto, lembramos perfeitamente da sensação de
profundo silêncio e paz que envolvia o lugar.
Fig. 9. Foto da Serra do Intendente, e o Morro da Pirâmide, setor oeste do Município de Conceição
de Mato Dentro.
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1.3 O início das curas
Passaram-se, ainda, alguns anos, e somente após a mudança para
Conceição do Mato Dentro é que Seu Raimundo começou a utilizar seu Dom
para a cura de pessoas. Como mencionado anteriormente, ele nunca teve um
mestre vivo que o ensinasse a reconhecer os tipos e qualidades das plantas
medicinais. Seu aprendizado foi intuitivo, desenvolvendo a sensibilidade,
o diálogo com a natureza, ampliando os sentidos e transformando o olhar,
“guiado por mestres espirituais, ao tempo que desenvolvia outras atividades”.
Foi forçado a descobrir a si mesmo e, dessa forma, “quando ele enxergava
uma planta, imediatamente reconhecia suas propriedades medicinais”. Não
foi um aprendizado baseado na tentativa e erro; ele define o processo da
seguinte forma: “para cada coisa que eu vejo vem um pensamento na cabeça,
e eu sei o que deve ser feito”.
Não lembra quem foi o primeiro “paciente”, entretanto, após esse
longínquo começo, nunca mais parou. No acompanhamento do seu dia a dia,
percebemos que, na sua metodologia de trabalho, ele capta a intenção do
interlocutor, quando procurado por qualquer motivo, e é em função dessa
intenção que surge a resposta. Da mesma forma que percebe intuitivamente
que alguém está a caminho, reconhece, por um simples olhar, ou um toque,
a natureza do indivíduo que chega para fazer uma consulta.
Resulta interessante estabelecer aqui uma comparação com a forma de
agir dos médicos indígenas, conhecidos como Pajés. Um dos mais renomados,
Agostinho Ika Muru, do povo Kaxinawa, ensinava que o médico indígena
pergunta o que é que o paciente está sonhando. E é a partir da descrição do
sonho que o Pajé dá o diagnóstico, parte para a floresta, conversa com as
ervas, retira a planta apropriada para tratamentos com banhos, líquidos
ou massagens, e realiza a cura da doença. Os Pajés são taxativos ao afirmar
que “os mais antigos sabemos mais ou menos o significado de cada uma das
42
espécies: esse ouro na mão que nunca destruímos” (Tadeu Siã Huni Kuin ;
2105).
Seu Raimundo não pergunta sobre os sonhos, mas, na busca de uma
planta para determinadas curas, utiliza uma metodologia de procura
similar àquela utilizada pelo Pajé Agostinho Ika Muru.
Resultam até engraçadas algumas anedotas relacionadas com esse
dom de captar o mapa mental. Uma das mais conhecidas foi protagonizada
por um renomado professor que estava pesquisando as atividades dos
curandeiros, tendo escolhido S. Raimundo como “exemplo” para seu
trabalho. Escutamos essa história de três pessoas diferentes, e todas elas
são coincidentes, portanto, deve ter sido assim mesmo que ocorreu. Aquele
doutor, PhD, daqueles que se consideram “PhDeuses”, chegou até a casa do
S. Raimundo e, sem rodeios, e nenhuma humildade, apresentou-se como
especialista em inúmeros temas. Sem parar de falar, expôs aquele velho
discurso acadêmico que diz que a ciência demonstra de forma rotunda que
as atividades dos curandeiros não passam de crendices. Tentou convencê-
lo de que seus efeitos somente podem ser atribuídos a um componente
subjetivo, etc., etc.. S. Raimundo olhou para o sujeito, encostou o indicador
na mão dele, enxergou automaticamente seu mapa mental, e imediatamente
começou a desvendar todos os detalhes inconfessáveis da personalidade
do ilustre professor. Contam que o homem ficou mudo, suando, sem saber
o que fazer, e até balbuciou que era coisa do diabo. S. Raimundo não deixou
passar essa, e lhe disse com firmeza: “você quer conhecê-lo mesmo?”. Não
deu tempo. O “PhD” soltou a mão, e saiu correndo... com o rabo entre as
pernas.
43
Fig. 10. S. Raimundo embrenhado na mata, a procura de variedades medicinais. Na foto, coletando
galhos de Cipó Caboclo.
É claro que são raros os casos desse tipo, já que a maioria das pessoas
chega ao sítio à procura de cura e bênçãos. Todos os dias são muitos os que
vêm em busca de conforto, cura, ou algum tipo de orientação. É gente de
Conceição, cidades vizinhas de Belo Horizonte e de outras partes do Brasil,
e até do exterior.
Ajudou, curou e orientou inúmeras pessoas ao longo desses últimos
quarenta anos, sem esperar nada em troca. Embora vivendo numa
condição muito simples, quase espartana, não aceita pagamentos pelo que
faz. Anos atrás, um empresário tentou retribuí-lo com um apartamento e
Seu Raimundo não aceitou. Sabia que, intimamente, isso poderia “fechá-lo e
torná-lo escravo de si mesmo, pois, se o fizesse, não saberia mais nada”.
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Fig.11. Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, e praça do coreto, em Conceição do Mato
Dentro.
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1.4 Dona Antônia, a Benzedeira
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A tradição das benzedeiras é tão antiga quanto a história do homem,
daí o respeito que elas provocam. Seus conhecimentos são transmitidos
oralmente, independentemente da cultura que representam, seja indígena,
ocidental, oriental ou africana.
Seus principais instrumentos de trabalho são a palavra, “o verbo, que
em virtude da ressonância universal, tem a propriedade de despertar o que
está latente no nosso ser e que, uma vez emitido, certos sons ponham em
vibração, também por ressonância, os poderes ocultos no âmago do nosso
subconsciente” (Adoum, 1985), além de imagens de santos, oratórios, ervas
medicinais, água benta, crucifixos, objetos simbólicos e livros de rezas.
Eis os trabalhos das benzedeiras. Seus rituais nas regiões mais
afastadas e ignotas apresentam desinências de base católica, embora nos
centros urbanos variam segundo a diversidade religiosa local, podendo
ser também de base espírita, adventista, umbandista, do candomblé ou
esotérica. Assim, mesmo baseados em cultos ou religiões diferentes, as
rezadeiras e benzedeiras seguem os mesmos princípios de humildade,
solidariedade, justiça, e contato diário com o Divino. (Araújo, 1977).
47
contribuem para a credibilidade da rezadeira, como a cura do mau-
olhado, quebranto, espinhela caída, cobreiro, febre, tristeza, míngua,
ar na cabeça, erisipela, dores em geral e outras doenças que muitas
vezes variam de nome de acordo com a cultura local.”
“Todo o trabalho da rezadeira, seus gestos, jaculatórias, palavras
e expressão corporal dão um clima de misticismo ao ambiente e
acabam proporcionando um grande poder de sugestão sobre os
presentes”
Araújo (1977), Medicina Rústica
De acordo com Oliveira & Costa Junior (2011), “a busca pela rezadeira
é a tentativa do paciente de esclarecer melhor as razões que desencadearam
aquele estado doente, aquele corpo carregado, algo que possa dar significado
a sua doença e favoreça sua cura”. Assim, o ato de benzer constitui-se no
ponto de união que permite não somente a ideia de domínio incontrolável:
“poder-se-ia dizer que todo o trabalho da benzedeira consiste na recuperação
de um elo perdido” (Quintana, 1999).
Dona Antônia é uma pessoa extremamente simples, sempre que
possível procura passar despercebida. Durante a elaboração do material
deste livro, ela fez questão, repetidas vezes, de deixar bem claro que nada
tinha para dizer, tamanho o desapego que manifesta.
Pouco se sabe do seu passado. Apenas que sua família é proveniente
do lendário Distrito do Tabuleiro, certamente a região mais mística de
Conceição de Mato Dentro, na Serra do Espinhaço. Pois bem, Dona Antônia
nasceu e foi criada nessa região, numa fazenda localizada embaixo do
Tabuleiro, no Rio Preto, de onde eram os avós paternos. Segundo contam
velhos moradores, essa fazenda ocupava, até inícios do século XX, boa parte
do distrito do Tabuleiro. Já a família materna era da região da Cachoeira da
48
Fumaça, também localizada nos arredores.
Mais isso foi há muito tempo. D. Antônia, hoje com mais de 70 anos,
confessa que desde que era criança ela não volta àquela cachoeira, e
raramente visita o Tabuleiro. Conta que naquela época as pessoas eram
cuidadas exclusivamente com plantas do mato, já que o médico mais
próximo estava a quase um dia em lombo de cavalo. As pessoas sabiam
reconhecer as propriedades de folhas e raízes, e na falta de médicos,
constituía uma alternativa vital para se proteger das doenças.
Entretanto, esse conhecimento foi se perdendo, aos poucos. A memória
ancestral de rezas vem desde aqueles tempos idos. Assim, como conta
Araújo (1977), “o ofício das rezadeiras costuma ser uma herança familiar,
onde as palavras eram mantidas em segredo e atravessaram décadas, com
frases repetidas mentalmente, com folhas de arbustos, velas e copos com
água, e uma energia fluindo para garantir a cura”. É exatamente assim
que trabalha Dona Antônia. Benzendo, ela cura o mau-olhado, as dores de
cabeça e até os males da alma, inspirando respeito e confiança naqueles
que a procuram. Seu método de cura consiste em colocar a mão sobre a
cabeça recitando palavras mágicas ou maravilhosas, orações misteriosas
de Nossa Senhora, dentre outras.
49
Jesus Cristo serei batizado, na arca de Noé serei arrecadado; com as
chaves de São Pedro serei fechado onde não me possam ver, nem
ferir, nem matar, nem sangue do meu corpo possam tirar!
Também vos peço, Senhor, por aqueles Três Cálices Bentos,
por aqueles Três Padres Revestidos, por aquelas Três Hóstias
Consagradas que consagrastes ao terceiro dia, me deis aquela doce
companhia que destes à Virgem, desde as portas de Belém até
Jerusalém, que com prazer e alegria eu seja tão bem guardado, assim
como andou Jesus Cristo no ventre da Virgem Maria. Deus diante,
paz na guia, Deus me dê a companhia que deu à Virgem Maria, desde
a casa santa de Belém até Jerusalém. Deus é meu Pai, a Virgem Maria
é minha Mãe, com as armas de São Jorge serei armado, com a espada
de São Thiago serei guardado para sempre. Amém.”
ORAÇÃO DO JUSTO JUIZ, Cruz de Caravaca. Uma das rezas utilizadas por Seu
Raimundo e Dona Antônia durante os trabalhos de cura.
50
1.5 Os Métodos e as Plantas
(...) E eu tomarei da medula do elevado cedro
e a porei à parte;
Cortarei do mais alto dos seus ramos um tenro garfo
e plantá-lo-ei sobre um alto e elevado monte.
Eu o plantarei no alto do Monte de Israel
e ele deitará arrebento, e dará frutos
e far-se-á um grande cedro,
e todas as aves habitarão debaixo dele,
e todas as espécies de voláteis
farão seu ninho debaixo da sombra das suas folhas (...).
EZEQUIEL 17 (22-24)
51
Fig. 13. Foto de S. Raimundo utilizando a técnica do copo d` água
53
Nos dias que acompanhamos seus trabalhos, muito chamou a nossa
atenção a ligação direta das rezas com a Cruz de Caravaca. Pesquisamos
a origem desta Cruz e para nossa grande surpresa descobrirmos tratar-
se de uma história medieval, registrada pelo Padre Franciscano Giles di
Zamorra, e relacionada com dois milagres, um deles vinculado diretamente
aos Cavaleiros Templários.
“ Corria o ano de 1232 e Dom Ginés Pérez Chirinos, sacerdote, era
prisioneiro do Príncipe Mouro Ceyt Abuceyt no castelo de Alcazar
de Caravaca (ou Fortaleza de Caravaca), na atual Murcia (sul da
Espanha, os mouros dominavam a região na época), por pretender
levar a sua fé, aos “infiéis”. Dom Ginés, havia anos que morava
entre os islâmicos, com a intenção de pregar o Evangelho. Curioso
o Príncipe pretendeu que seu prisioneiro lhe mostrasse como
desempenhava o seu ofício. Ginés disse-lhe que era sacerdote e o
Príncipe quis que, perante ele e os seus vassalos, demonstrasse
como difundia a sua fé. O sacerdote, então, pediu-lhe as vestes
cerimoniais para celebrar a missa. O Príncipe mandou que alguns
dos seus homens os trouxessem de Cuenca, povoado vizinho e
território cristão, onde tinha morado o Padre Ginés. Entretanto,
eles se esqueceram de trazer a Cruz. Ao começar a rezar a missa,
Ginés alterou-se e não conseguia dizer nenhuma palavra. Quando
lhe perguntou o Rei o que se passava, respondeu-lhe que lhe faltava
a Cruz e que, sem ela, não poderia continuar a oficiar. Para espanto
de todos, quando o Rei levanta os olhos, vê baixar dois anjos que
transportam nas mãos um objeto e pergunta-lhe se era esse objeto,
a Cruz que lhe fazia falta. Ao ver o milagre, o sacerdote ajoelhou-se
em sinal de respeito e continuou a rezar a missa.
Este episódio marcou a vida do mouro, que pouco tempo depois se
converteu ao cristianismo, com toda a sua família. Diz também a
lenda que a cruz é feita com o madeiro em que Jesus foi crucificado.
54
O significado esotérico da Cruz é: a cruz do espírito (a linha vertical)
e o plano material (linha horizontal), tendo como resultado o
Homem, que é um ser que se move no plano material com opção
para ascender ou descender espiritualmente. Isto implica que, em
muitas ocasiões, necessite proteção, e uma das melhores formas é
levando a cruz, que lhe recordará a sua posição na escala evolutiva
e, desta maneira faz com que se centre no cruzamento do espírito
com a matéria.’’
Antônio Paiva Rodrigues, Revista Planeta
Edição 443 de agosto de 2009
55
Fig. 17. Pintura que retrata o momento do Milagre da aparição da Cruz (Ballester Lorca, 2006)
56
tornou pura (Villanueva Fernandez, 1989; Rodr igues Llopis, 2004).
A lenda desse milagre é rememorada todos os anos em Caravaca
(Murcia), no dia 2 de maio, na “Festa da Cruz dos Mouros, Cristãos e Cavalos
do Vinho”, importante festa de peregrinação que consiste em onze rituais,
quase todos envolvendo diretamente a Cruz de Caravaca (5).
A peregrinação à Cruz de Caravaca começou na mesma época em que
os Cavaleiros da Ordem do Templo se estabeleceram no lugar e construíram
uma hospedaria junto à Igreja que guardava a relíquia. Isso aconteceu após
o ano de 1243, quando a Coroa de Castela recuperou dos Mouros as terras
de Caravaca, constituindo um enclave cristão de fronteira posicionado
de frente às terras dominadas pelos povos islâmicos do El Andaluz. Essa
hospedaria foi rapidamente adotada pelos ex-cativos que escapavam aos
muçulmanos, e que vinham à cidade agradecer a sua libertação à Santa
Cruz (Villanueva Fernandez, 1989; Rodrigues Llopis, 2004; Ballester Lorca,
2006).
Foi, muito provavelmente, a Ordem Templária quem difundiu os
mistérios da Cruz de Caravaca no mundo afora, e na Ilha da Vera Cruz,
primeira denominação que os portugueses deram ao Brasil. Prova disso é
que, aqui no nosso país, a história e o culto da Cruz foram introduzidos pelo
Donatário da Capitania do Rio de Janeiro e São Vicente (São Paulo), Dom
Martim Afonso de Souza, Cavaleiro da Ordem de Cristo, em 1532. A Ordem
de Cristo é a sucessora, em Portugal, da Ordem do Templo, e responsável
pela planificação e execução inicial da expansão marítima portuguesa em
tempos dos Descobrimentos (Rocha, 2012; Gandra, 2013) (6) e (7).
57
Fig. 18. Foto da Basílica de la Vera Cruz, Caravaca, España. Fonte: https://es.wikipedia.org/
wiki/Caravaca_de_la_Cruz# /media/ File:Caravaca-castillo-santuario-Vera-Cruz.jpg
58
Dessa vez, acompanhamos uma paciente, amiga nossa, que nitidamente
sentiu sinais de melhora, mesmo estando a centenas de quilômetros de
distância do curador.
A cura à distância é utilizada, com frequência, nos meios espíritas,
geralmente, com o auxílio de médiuns e espíritos incorporados. Entretanto,
Seu Raimundo não é espírita e nem utiliza a mediunidade para desenvolver
suas tarefas. Nesse ponto, seu método de trabalho se aproxima com aquele
utilizado pelo Frei Ugolino Beck, amplamente reconhecido pela sua
paranormalidade, no sul do Brasil. Para a efetuação das curas, “a retidão, o
silêncio e a não ingestão de álcool horas antes dos procedimentos são os pré-
requisitos necessários para as operações espirituais obterem bons resultados,
sem interferências energéticas”.
Ao mesmo tempo, como mencionado anteriormente, Seu Raimundo
utiliza grande variedade de plantas para as curas. Na sua horta, cultiva
mudas medicinais, mormente aquelas que considera suas preferidas.
Indica a utilização de uma grande variedade de espécies, como veremos
na segunda parte, na forma de infusões, decocções (8), cataplasmas,
compressas e inalações. Para quem tiver interesse nesse tema, não é
difícil encontrar nas livrarias, ou na internet, textos com abordagens
sobre plantas medicinais. Todavia, cruzando dados, a forma de trabalho
com que Seu Raimundo utiliza as plantas medicinais, nem sempre coincide
com as aplicações recomendadas por outros especialistas para as mesmas
espécies medicinais. E o que resulta mais interessante: algumas das espécies
utilizadas por Seu Raimundo não são mencionadas em outros trabalhos, ou
são quase desconhecidas.
Provavelmente, o exemplo mais claro disto seja a “Gota Milagreira”,
ou “Cola Nota”, uma das plantas medicinais mais utilizadas por ele para
casos extremos de difícil solução, a exemplo de pessoas com câncer. Não
59
é mencionada em nenhum dos mais importantes tratados fitoterápicos e
de plantas medicinais, a exemplo dos elaborados por Tresque & Trentini
(1995), Drecher (2001), e Huibers (2001). Nem sequer é mencionada no
fantástico Plantas medicinais do Brasil, de Harry Lorenzi e Francisco Abreu
Matos, de 2008, provavelmente o compêndio científico mais aprofundado
sobre variedades medicinais nativas e exóticas. Somente encontramos a
“Gota Milagreira” numa obra pouco conhecida, a Medicina Popular do Centro
Oeste, de 1997, do historiador Bariani Ortencio. Esse autor observa que essa
planta fora classificada taxonomicamente recentemente, por um Professor
da Universidade de Goiás (José Ângelo Rizzo), o que comprova o porquê de
ser virtualmente desconhecida para o resto do Brasil. No entanto, a partir
da intuição, “e da orientação dos seus Mestres”, ela também foi “catalogada”
por Seu Raimundo, para aplicações similares às mencionadas por Bariani
Ortencio, embora com dosagens e períodos de uso totalmente diferentes.
Na segunda parte do livro veremos a aplicação medicinal dessas e outras
variedades.
Outras plantas que Seu Raimundo utiliza são diferentes tipos de
cipós. Alguns, como a Cavalinha, são facilmente encontrados na literatura,
e bastante conhecidos. Outros, a exemplo do ignoto “Cipó São Caetano”,
ou “Cipó Caboclo”, possuem raras referências. E são raros mesmo. Para
encontrá-los é necessário embrenhar-se no mato. Aliás, entrar no mato
acompanhando o Seu Raimundo à procura de variedades medicinais
é certeza de aula de fitoterapia autêntica. Caminhadas desse tipo são
imperdíveis. É simplesmente inacreditável o conhecimento prático que
possui, sendo difícil que ele não consiga reconhecer uma variedade, e a sua
utilização.
60
Fig. 19. S Raimundo Nonato colhendo plantas medicinais.
61
1.6 O repasse do Conhecimento
Não há nada
que você deva fazer ou mudar
para ser o que você é.
No entanto, existe algo
que você deve reconhecer
para deixar de ser
aquilo que você não é:
Investigue quem você é.
Anthony Paul Moo-Young (Mooji)
62
Com o tempo, descobrimos que é fácil chegar até o Seu Raimundo,
difícil, é saber qual a porta certa abrir, e mais difícil ainda, é mantê-la aberta.
Receber visitantes para consultas de cura é assumido por ele como
uma missão. Muitas vezes é uma tarefa desgastante, pois os visitantes,
geralmente, não respeitam horários nem feriados. Ainda assim, é comum
que sejam recebidos com a tradicional hospitalidade mineira, onde o café é
sinônimo de boas-vindas.
Quando a seguinte porta se abre, o visitante é convidado para conhecer
melhor as variedades medicinais que ele utiliza. Alguns, ainda recebem o
raro privilégio de acompanhá-lo nas trilhas do mato, à procura de espécies
raras.
É ali que se estabelece, ou não, um elo entre os seres presentes e a
natureza, pois se estabelece uma dinâmica de inter-relação e objetivos afins.
Seu Raimundo percebe o potencial a ser explorado, a possibilidade de
troca de conhecimentos e o despertar de novos (adormecidos) sentidos. A
partir dessa fase, descobrimentos internos, às vezes inesperados, começam a
acontecer. E se sucedem um após outro.
Um dos setores preferidos para explorar as trilhas do mato está
localizado perto das terras do Sr. João Batista Lage, primo do Seu
Raimundo. Foi ali, caminhando mato adentro, que participamos de um
evento de cura raro, no meio das árvores, num lugar onde a natureza ainda
permanece virgem. Após essa maravilhosa experiência, fomos recebidos
pelo Sr. João Batista e sua esposa, Dona Inês, na sua casa centenária, que
foi primorosamente restaurada recentemente. Foi lá que apreciamos um
delicioso café mineiro.
Contudo, para quem consegue trilhar com ele na mata, “e entender
de fato o que está acontecendo”, o que vem a seguir é muito mais difícil.
Principalmente se o caminhante tiver real interesse de ir adiante, e correr o
63
risco. Nesse estágio é que as provas aparecem. E os caminhos, antes claros
e cheios de “sincronicidade” (9), começam a se mostrar contraditórios e
desafiadores. De certa forma, somos colocados defronte a uma “barreira”
que, ao mesmo tempo, tem alguma coisa de inexplicável e forte realismo,
algo difícil de definir.
O que acontece ao ultrapassar essa “barreira” desafia abertamente
nossos conceitos, ou pré-conceitos, cartesianos. De certa forma dispara-
se um processo fortemente realista, pois o caminhante passa a enxergar-
se como ele é, incluindo as misérias e ressentimentos que estão ocultos
nas profundezas do inconsciente, ou dissimulados nas próprias culpas
conscientes ou inconscientes (10). Não é simplesmente um processo
psicanalítico interno, embora o pareça, pois, outro componente (que o
Cristianismo definiria como espiritual) também está presente. É verdade
que os desafios variam de pessoa para pessoa. Também é verdade que
se o caminhante não estiver atento, ou se tiver medo, deixará passar essa
magnífica oportunidade de crescimento. Ou, muito provavelmente, nem
perceberá que teve essa chance! É, certamente, uma etapa onde deve
prevalecer a paciência, o inquérito e o bem pensar, devendo-se manter,
o tempo todo, uma atitude coerente e ética, pois a luz no final do túnel
aparecerá para quem é perseverante.
Foi durante esse processo que conhecemos o Matheus, que vem
seguindo os passos do Seu Raimundo e possui notáveis qualidades
radiestésicas (11), além do conhecimento de agronomia. As sessões de
cura para as quais fomos convidados a acompanhar, junto ao Matheus e
Dona Antônia, foram inesquecíveis e surpreendentes.
64
Fig. 20. A presença constante de água, moldando as pedras do Espinhaço.
65
Fig. 21 e 22. Fotos da Fazenda do Sr João Batista, (na Foto 21 aparece junto com S. Raimundo)
em Itacolomi, Distrito de Conceição do Mato Dentro. Ao fundo pode-se ver a floresta onde Seu
Raimundo procura espécies raras.
Fig. 23. Foto da horta experimental de Seu Raimundo no amanhecer. No detalhe, ampliação de
curioso efeito com formato angelical (que aparece no centro da foto), provocado pelos raios do sol
(foi girado em 180° e ressaltado com filtro violeta).
66
As técnicas de cura do Seu Raimundo costumam ser muito intensas,
independentemente da sua duração. Foi maravilhoso constatar que
pequenas variações de algumas técnicas, notadamente aquela do copo
d’água, produzem resultados surpreendentes. Em alguns dos pacientes,
observamos que se atingia um estado de relaxamento muito profundo,
quase que um estado alterado de consciência, sem o uso de nenhum
processo de hipnose. Duas das pessoas que acompanhamos sofreram um
processo de regressão quase instantâneo, sem perder a consciência em
nenhum momento, o que os ajudou bastante na elucidação do problema
que estavam enfrentando.
Em cada situação, Seu Raimundo observa a forma de reagir “daquele
que está no caminho”, e o acompanha. Observa, e faz com que observemos
quando o paciente “acha que quer fazer o bem”, porém por detrás da
intenção o intuito é fazer o mal. Quando percebe essa “intenção por detrás
da intenção”, manda a pessoa embora, sem medo de “dar o castigo”. E,
sobre isso reflete: “existem aquelas pessoas das quais vocês podem ter dó,
entretanto, existem outras que vocês têm que deixar ter dó”.
Pontua a forma de evitar uma sobrecarga negativa, especialmente em
situações de pessoas que “vampirizam energeticamente os outros”, com as
mais diversas técnicas de captação de atenção. Para isso, deixa uma dica:
“Se você escutar o insulto do outro, a provocação, ou a palavra ruim, e não
responder nada, já está cortando o efeito: isso não passará para a gente”
(12). “Não se chateie com as coisas desse tipo, é só não ligar”. Em situações
assim o vimos afirmar: “Não duvide de você mesmo, se você não cuidar de
você mesmo, quem vai cuidar?” Ao mesmo tempo, para os que se apoiam
exageradamente na religião como forma de proteção, ou para fazer pedidos
(13), S. Raimundo deixa no caminho expressões que nos fazem parar e
pensar, a exemplo de: “quem reza exageradamente está sem Fé em Deus,
entretanto, lembre-se que tudo que se faz com amor dá resultado”.
67
A interação com Seu Raimundo e Dona Antônia, inevitavelmente, nos
abriu caminhos e percepções, que tornaram-se mais profundos, fazendo-
nos mais conscientes de onde devemos estar, e de nós mesmos. Agora,
entendemos claramente o significado do trabalho que eles desenvolvem,
que deve ser reconhecido, pois está voltado, acima de tudo, para a cultura da
verdade e do bem, à construção de valores solidários, onde a razão, emoção
e intuição trabalham em perfeita harmonia para uma nova percepção das
nossas vidas e nosso planeta.
Só temos que agradecer estes dias no Espinhaço de Conceição do
Mato Dentro (14) e as intensas experiências sobre utilidades, práticas e
fórmulas de manejo das diferentes espécies existentes na região, e que
serão apresentadas na segunda parte deste texto.
Fig. 24. Samambaia variedade “sabenca”, encontrada nos córregos do Distrito de Tabuleiro
68
1. 7 Notas da Primeira Parte
(1) Para a Pesquisadora Maria das Graças Lins Brandão, do Centro Especializado
em Plantas Aromáticas, Medicinais e Tóxicas da UFMG, é importante tornar vivo
o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais, já que os raizeiros estão
morrendo e o conhecimento não está sendo repassado para as novas gerações. O
resultado é o desconhecimento da vegetação brasileira, situação que faz com
que a fitoterapia nacional seja baseada em plantas exóticas (trazidas de outros
continentes e introduzidas no Brasil) como hortelã, babosa, manjericão, erva
doce, etc. Segundo a Professora, o Brasil não valoriza o conhecimento tradicional
e a biodiversidade que tem, faltando incentivo para pesquisa que transforme a
nossa biodiversidade em produtos. Na origem do problema está a prioridade
dada aos medicamentos industrializados, que vem dos anos 1950, mesmo
diante da recomendação da OMS incentivando o estudo de plantas medicinais.
A Professora participa do projeto Ervanaria Móvel, que procura criar um diálogo
entre a ciência e a arte, a partir da pesquisa sobre raízes e seu uso medicinal. O
projeto está baseado na pesquisa do cientista italiano Stefano Mancuso, na área
de neurobiologia vegetal, que, investigando a comunicação entre as plantas, como
elas interagem com as florestas onde estão inseridas, quer saber o que os vegetais
dizem sobre a situação do planeta (Sebastião, 2015).
(2) De acordo com Gerula (2011) a radiônica e a radiestesia são matérias afins,
resultando difícil estabelecer os limites entre uma e outra. Ribault (1997)
esclarece que com a mente preparada, e tendo a radiestesia como instrumento,
podemos partir para a radiônica. A definição de Radiestesia (capacidade de sentir
as radiações energéticas), será abordada com detalhe mais adiante. Já a radiônica
sintoniza, canaliza, potencializa e emite energia e, segundo Gerula (2011),
opera como receptora e como emissora (Obs: a Radiestesia somente opera
como receptiva). Para atingir esses objetivos, a radiônica utiliza instrumentos
radiônicos, que possuem diais, potenciômetros, placas detectoras, e recipientes
para testemunhos (Ribault, 1997; Gerula, 2011). Ribault (op cit) observa que
esses aparelhos não usam eletricidade para trabalhar, e têm um magneto que
trabalha como acumulador, transdutor e irradiador, captando e enviando o padrão
de energia fixado pelos diais. Assim sendo, com um aparelho radiônico temos
a vantagem de poder entrar em contato com a energia primordial, o que quer
dizer que temos a energia à nossa disposição para informá-la como queiramos
(Ribault, op. Cit). Com o aparelho radiônico ainda podemos criar o programa que
precisamos para cada caso particular, tendo desta forma possibilidades ilimitadas.
Um dos aparelhos de radiônica mais evoluído que conhecemos é o Psicogerador
69
Ribaut, desenvolvido pelo Instituto Biosegredo.
(3) O grande número de aparições de luzes registrado no Distrito do Tabuleiro
atraiu grupos que chegaram até a região para estudar esses fenômenos. Segundo
Lacerda (2011) o mais destacado foi o Projeto Alvorada, na década de 1980,
“cujos membros acreditavam que a região seria sede de um grande acontecimento
planetário, por ocasião de uma imensa transformação, a exemplo do que ocorrera
durante o dilúvio retratado na Bíblia”. O certo é que muitos moradores da área
rural de Conceição não gostam de ficar à noite no descampado, por causa das
aparições. Conhecemos algumas pessoas que relataram terem vivenciado esse
tipo de situação. Pouco antes do início do nosso trabalho, dois óvnis foram vistos,
por inúmeros moradores, atravessando a região, desde Itacolomi, passando por
Conceição, e se perdendo no sul do Espinhaço Meridional.
(4) Segundo Carolyne Myss, “chacras são centros de acumulação de energia
espiritual distribuídos pelo corpo. Os sete principais estão situados ao longo
de um eixo vertical que perpassa o centro do corpo. Cada um desses centros de
energia guarda uma lição de vida espiritual que devemos aprender, à medida que
evoluímos para uma consciência mais elevada. O sétimo chacra, ou coronário,
é o ponto de entrada para a força vital humana, e representa a conexão com
nossa natureza espiritual, estando diretamente alinhado para procurar um
relacionamento direto com o Divino. A verdade espiritual desse chacra é viver no
momento presente” (Myss, 2000).
(5) Recentemente, o Vaticano concedeu o Ano Jubilar a Caravaca de La Cruz, o
que significa ser ela a quinta cidade do mundo a celebrar o Jubileu Perpétuo no
Santuário onde a Vera Cruz é custodiada (Ballester Lorca, 2006).
[6] Segundo Gandra (2013) a expansão portuguesa não foi, nem fruto do acaso,
nem um feito político da Coroa ou de cortesões esforçados, antes a missão de
uma Ordem iniciática, a Ordem do Templo e de sua sucedânea, a Ordem de Cristo.
Ainda segundo esse autor, “motivada por expectativas milenaristas e messiânicas
colectivas, sincreticamente compendiadas no Auto do Império, a gesta marítima
lusa resolve-se na demanda do Paraíso perdido, esse Centro Espiritual supremo só
alcançável, garantem-no escritos espirituais medievos como o Conto do Amaro, a
Navegação de São Brandão, o Livro de José de Arimateia e o Orto do Esposo, pelo
nauta audaz que, em demanda do seu destino, embarque nas naus da iniciação e
empreenda a travessia do Oceano da Alma, modelo dos oceanos do mundo, para
dilatar Fé e Império”.
[7] Em sendo assim, a missão da ordem do Templo (e, portanto, da Ordem de
70
Cristo) está relacionada com o Mito da Ilha Brasil, presente no imaginário Celta e
na historiografia portuguesa, amplamente utilizado pela coroa portuguesa como
mito de conquista e ampliação de fronteiras territoriais do Brasil, em uma reação
estratégica ao Tratado de Tordesilhas. É, por intermédio da Ordem do Templo
de Portugal, que as literaturas das Matérias da Bretanha e do ciclo do Graal têm
forte penetração em solo português. Portanto, é significativo o fato de o Mito da
Ilha Brasil, um tema caro à literatura celta, “aparecer” em contexto português,
identificando o Brasil como sendo o Paraíso Perdido, estando o Espinhaço
inserido nessa abordagem. É da cartografia universal que o conceito geográfico
da Ilha Brasil toma forma e expressão nas cartas quinhentistas e “uma série de
testemunhos coevos coincidem em afirmar que a ilha dos cartógrafos se filia em
informações indígenas” (Gandra, 2013). Além do livro de M.J. Gandra (Op. Cit),
outras abordagens sobre o mito da Ilha Brasil e sua relação com o Espinhaço,
podem ser encontradas em: a) “O mito da Ilha Brasil” de Loryel Rocha (2011,vide
em Referências Bibliográficas); e b) “Ilha Brasil, entre o mito a e a geologia
histórica” e de F.J. Mariano e Loryel Rocha (Cadernos da Tradição, série 2, vol. 6,
2014, Instituto Mukharajj / CESDIES Edições).
(8) Decocções: é um método empregado para tratar as partes mais duras dos
vegetais (raízes, cascas, rizomas e sementes). Depois de lavadas, as ervas devem
ser colocadas em água ainda fria. Leva-se ao fogo até a fervura, deixando ferver
por dez minutos, ou mais, deixando repousar por dez minutos, e coando (Condé,
2012).
(9) Sincronicidade é a experiência de ocorrerem dois (ou mais) eventos que
coincidem de uma maneira que seja significativa para a pessoa (ou pessoas)
que vivenciaram essa “coincidência significativa”, onde esse significado sugere
um padrão subjacente, uma sincronia. A sincronicidade difere da coincidência,
pois não implica somente na aleatoriedade das circunstâncias, mas sim num
padrão subjacente ou dinâmico que é expresso através de eventos ou relações
significativos. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sincronicidade. Consultado
em 08/08/2015.
(10) O Filósofo Olavo de Carvalho aborda magistralmente a origem das culpas
no Livro “ A formula para enlouquecer o mundo” (Carvalho, 2014). Segundo ele
“nas civilizações anteriores, um certo equilíbrio entre custo e benefício, entre
direitos e deveres, entre prazeres e sacrifícios, era reconhecido como o princípio
central da sanidade humana”. Assim “a liberação (atual) de massas imensas da
população para o desfrute de prazeres e requintes gratuitos é uma das situações
psicológicas mais ameaçadoras já vividas pela humanidade”, pois “para cada
71
individuo engolfado nesse processo o efeito é um sentimento de culpa tanto mais
profundo e avassalador quando menos conscientizado”. O individuo que esta
nesse processo “é corroído por um profundo ódio a si mesmo, mas esta proibido,
pela cultura vigente, de perceber a verdadeira natureza de suas culpas, e mais
ainda de alivia-las (...)”. Portanto, “a culpa mal conscientizada (...) acaba sempre
se exteriorizando como fantasia persecutória e acusatória, projetada sobre os
outros, sobre o mundo e sobre o sistema (...). Dessa forma, o individuo finge “para
si mesmo que esta revoltado pelo que ele nega aos pobres, quando na realidade
o odeia por aquilo que esse sistema lhe dá, sem exigir nada em troca”. Assim a
origem atual das neuroses nesse tipo de “homens medianamente instruídos do
nosso tempo” esta na “rejeição aos apelos da consciência moral”. E, ao mesmo
tempo, o “abandono da consciência de culpa não pode trazer outro resultado
senão a proliferação de culpas inconscientes (...) que necessitam de novos e
novos bodes expiatórios, cujo sacrifício só as torna ainda mais angustiantes e
intoleráveis”.
(11) Segundo o Padre Ricardo Gerula (2011), Radiestesia significa sentir as
radiações energéticas sutis que emite a Terra, qualquer ser vivo, etc. A palavra
provém do latim radius (radiação) e do grego aisthesis (sensibilidade). Em
resumo é um código com o qual se coloca em contato o consciente (a mente da
superfície), com o subconsciente (a mente da profundidade), e permite detectar,
qualificar, e medir todo o espectro das radiações correspondentes ao cosmos:
minerais, vegetais, animais e “preparados vibracionais” (Gerula, op.cit). Dessa
forma, praticando a radiestesia podemos integrar as duas partes, consciente e
inconsciente, e não ficarmos submetidos ao vaivém de duas mentes que a formam
segundo as circunstâncias. Assim sendo, é uma ciência receptiva que permite
o contato com a interioridade, e nos ensina um novo modo de utilizar nossas
mentes. Em resumo, a radiestesia nos permite discernir entre aquilo que favorece
a vida, daquilo que a prejudica. S. Raimundo utiliza radiestesia de forma intuitiva.
Dentre as aplicações mais difundidas da radiestesia podemos citar: (a) detecção
de radiações telúricas, que podem incidir positiva ou negativamente sobre o ser
humano. Um exemplo disso é a identificação de zonas geopatogênicas dentro das
casas, que podem produzir doenças aos habitantes; (b) identificação de veios
d’água que estão em profundidade; (c) identificar posição dos chacras e verificar
seu funcionamento correto; (d) identificar e medir a qualidade energética (e a
positividade ou negatividade) de seres vivos, comidas, remédios, água, lugares,
objetos, etc.; (d) melhorar notavelmente a intuição das pessoas.
(12) A Cabala explica que a palavra negativa gera uma energia carregada de
mortificação, e está relacionada com o sexto mandamento (Mecler, 2013).
72
Segundo esse autor, “depois de pronunciada, a palavra se espalha pelo mundo e
não retorna mais. Assim, é necessário mudar a qualidade das palavras que falamos
e ouvimos, para que a vida se transforme por completo”.
(13) Mecler (2013) chama a atenção para os riscos envolvidos com a quebra de um
pacto, e relacionados com o sétimo mandamento. O significado é mais profundo
do que a interpretação usual, associada à culpa.
[14] Definir a Serra do Espinhaço como, simplesmente, um lugar com belas
paisagens de montanhas e vales, cachoeiras imponentes e outros atrativos,
constituiria uma heresia imperdoável. O Espinhaço é muito mais do que isso, para
conhecê-lo ele deve ser experienciado. Quem de fato o conhece poderia defini-
lo como sendo um conjunto de sentimentos que afloram a cada passo nessa
imensidão de morros de quartzito e florestas maravilhosas de cerrado, trilhados
há milênios pelos primeiros habitantes do Brasil, que deixaram suas marcas
nos paredões de pinturas rupestres. Para quem quiser redescobri-lo, o Brasil
primordial ainda esta presente nessas montanhas, caminhos e povoados perdidos
no tempo. O Espinhaço se estende desde as proximidades de Belo Horizonte até
os confins do norte da Bahia. Segundo especialistas em geologia, está formado por
rochas consideradas como sendo das mais antigas do Brasil, que já foram fundo
de mar e palco de intrussões magmáticas provenientes das capas mais profundas
do planeta, e até glaciações quando a serra era uma cordilheira muito mais alta
do que na atualidade. O Espinhaço é um raro remanescente de retalhos de um
continente antiquíssimo, já desaparecido, e migrou por diferentes latitudes do
nosso planeta, até anexar-se ao que mais tarde foi denominado placa da América
do Sul. A serra vem sendo estudada desde inícios do século XIX, quando o cientista
alemão Barão Von Eschwege foi enviado pelo Príncipe regente Dom João VI, até
os dias atuais. Para conhecer mais sobre o Espinhaço, e a região de Conceição
do Mato Dentro, recomendamos a leitura dois livros imperdíveis. Um deles
é “Serra do Espinhaço Meridional: paisagens e ambientes”, editado por Pedro
Angelo Almeida Abreu, Alexandre C. Silva e Léa C. V. S. Fortes Pedreira. O outro é
“História Viva de Conceição do Mato Dentro”, livro idealizado e coordenado pelo
Instituto Espinhaço e pelo Instituto Mukharajj Brasilan. É necessário destacar que
o firme trabalho desenvolvido por renomados defensores do meio-ambiente, a
exemplo de Luiz Cláudio Ferreira de Oliveira, Kaka Werá Jecupé, do Embaixador
José Aparecido de Oliveira e seus filhos, Fernando e Maria Cecília, de Danielle
Mitterrand e José Carlos Carvalho, dentre muitos outros, conseguiu da UNESCO
o reconhecimento da Serra do Espinhaço, incluindo o Parque do Tabuleiro, como
Reserva da Biosfera, em 2005.
73
Parte 2
Ervas, plantas e raízes medicinais utilizadas por
Seu Raimundo Nonato e Dona Antônia
75
Sem dúvida, o misticismo popular também aparece desde o Brasil
colonial, quando o povo se valia das crendices e fórmulas naturais
em busca de melhorias na luta contra as enfermidades, diante da
precária assistência à saúde. Assim, de acordo com os costumes e
levado pelo limitado conhecimento científico disponível na época, o
homem une os recursos da natureza à própria fé, dando início a uma
variada farmacopéia composta de mezinhas, garrafadas, infusões,
chás, amuletos e oferendas aos santos para tratamento médico. A
essas crendices se misturaram os traços culturais e religiosos das
três raças que formaram a etnia brasileira, resultando em receitas,
habilidades e saberes que se perpetuaram oralmente, passando de pai
para filhos, de geração a geração.
ARAÚJO, Alceu Maynard (1977)
78
Lembramos que o tratamento de doenças sempre deve ter um
acompanhamento médico. A utilização de plantas medicinais deve
constituir-se num complemento, ou alternativa, ao tratamento
alopático. O profissional da saúde deve ser consultado antes de iniciar
qualquer utilização das variedades medicinais naturais.
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22. Barba Timão
23. Cedro
24. Capim Meloso
25. Seno
26. Pinhão Roxo
27. Erva de Bicho
80
2.1 Gota Milagreira, ou Cola Nota
82
2.2 Erva Tiú
83
mato, guaçatonga, erva do teiú, pau de lagarto, etc. (Sanches et al, 2013;
Lorenzi & Matos, 2008; Panizza, S. 1998). Segundo Moreira et al (2006)
também é conhecida como “Sangue de Cristo”, recentemente classificada
como Sabicea Brasiliensis, angiosperma oriundo do cerrado goiano e
espalhada pelo sudeste do Brasil. Pertence à família do café (gênero Coffea),
e até dez anos atrás, ainda não possuía nenhum estudo fitoquímico.
Estudos recentes confirmam um importante potencial antioxidante
para essa variedade. O “Cafezeiro do Mato” é popularmente utilizado
para tratar queimaduras, ferimentos, herpes, úlcera gástrica, eczemas e
picadas de insetos. Segundo contam Sanches et al. “De acordo com a crença
popular, o lagarto-tiú (Tupinamba sp.) só enfrenta uma cobra se houver
um pé de cafezeiro-do-mato por perto, tamanho é o poder cicatrizante da
planta. Estudos farmacológicos com ratos utilizando o extrato de sua casca,
mostraram atividade anti-inflamatória, protegendo-os contra o veneno da
cobra jararaca. Por isso ela é usada também contra mordida de cobra”.
84
2.3 Os Cipós
As trepadeiras denominadas cipós merecem uma abordagem particular.
O nome cipó provém do TupiGuaraní ici-pó (fila / fileira). No dicionário
também significa demarcador de uma fronteira, e, também, pedra tumular.
São plantas que crescem sobre outras árvores, sem roubar micronutrientes,
e espalham ramificações até o solo. Segundo Gustavo Guedes isso tem um
forte significado simbólico pois pode ser interpretado como uma primitiva
ligação céu-terra, ao tempo que o enroscamento helicoide expressaria um
símbolo de amor representado por esse movimento espiral ao envolver
uma árvore. Os Cipós também recebem o nome de lianas, termo que
provém do latim ligare, novamente relacionado com a conexão entre céu
e terra.
Estas plantas apresentam fortes, e comprovadas, propriedades
medicinais, sendo muito utilizadas na medicina caseira ancestral. Mais de
cinquenta variedades de cipós estão catalogados para uso medicinal. No
Brasil, suas propriedades ficaram conhecidas cientificamente desde a época
de Carlos Chagas, quando o célebre sanitarista utilizou uma variedade de
cipó para cuidar de milhares de operários afetados pela malária. Deve-se
destacar que os cipós apresentam óleos essenciais e flavonoides na sua
constituição, o que os torna especiais. Os flavonoides são metabólitos
do reino vegetal terrestre, não existem em organismos marinhos, e sua
propriedade mais importante é o caráter antioxidante, favorecendo a ação
anti-inflamatória, anti-hemorrágica, antialérgica e hormonal.
Os Cipós são indicados para inúmeras aplicações medicinais, como será
apresentado adiante. O número de contraindicações, que depende de variedade
para variedade, também deve ser levado em conta. É por isso que resulta vital
ter o acompanhamento de pessoas com experiência nessas plantas, antes de
fazer o bom uso delas. Considerando a questão, Seu Raimundo somente
85
recomenda três variedades, que serão apresentadas a seguir.
Ele chama a atenção para o papel espiritual que o cipó tem nas matas
e nas florestas. Afirma, a partir da sua experiência, que o fato de o cipó
envolver, ou encobrir, outras plantas tem um forte significado: cobre tudo
que é ruim, para que não saia do lugar. Se você cortar o cipó “fica tudo
solto, para tudo acontecer”. De fato, do ponto de vista simbólico, também
significaria cortar a conexão céu-terra. Entretanto, o cipó pode ser guiado
para outro lugar. Assim sendo, meus amigos, é bom pensar duas vezes
antes de cortar um cipó.
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2.3.1 Cipó São Caetano
88
2.3.3 Cipó Orelha de Cachorro
O nome científico é Mikania Sp. É uma variedade rara de cipó, que não
foi encontrada em nenhum dos principais tratados de plantas medicinais
consultados. O gênero Mikania envolve diferentes variedades de cipós,
a exemplo do Guaco, Coração de Jesus, Cipó cabeludo e Erva de cobra.
Somente encontramos referências sobre o cipó “Orelha de Cachorro”
no trabalho de Grandi et al (1989), que menciona, em duas linhas, a
utilização medicinal dessa variedade, salientando sua aplicação para tratar
inflamações e frieiras. Para isso é utilizado o decocto das folhas e raízes, ao
tempo que o sumo da folha é usado para luxações.
Seu Raimundo utiliza a “Orelha de Cachorro” para curar infecções e
feridas, em pós-operatórios e processos de cicatrização. Para isso cozinha
as folhas, dilui o concentrado em um garrafão de dois litros de água mineral,
antes de dar um banho no lugar afetado.
89
2.4 Pacarí
90
2.5 Camará do Reino
Fig. 32. Foto de Camará do Reino (Lantana Camara L.) em época de floração
92
2.7 Cansansão
93
2.8 Cinco Chagas
94
2.9 Assa Peixe e Carrapicho
96
2.10 Braúna
97
2.11 Sucupira
98
2.12 Manjericão Dourado
99
2.13 Capim São José
100
2.14 Língua de Vaca
101
2.15 Vassourinha
102
2.16 Tanchagem, Tansagem ou Transai
103
2.17 Cavalinha
104
2.18 Moringa Oleifera
105
2.19 Pau Santo
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2.20 Barba-timão
107
Seu Raimundo tem utilizado com sucesso o “Barba-timão” para tratar
acidez estomacal, diarreias, úlceras estomacais e inflamações da garganta.
Para estes sintomas, prepara um chá com as cascas. A infusão, quando
muito concentrada, fica adstringente, devido ao tanino, daí o incômodo ao
ingeri-la deste modo. Assim, é preferível preparar chás mais diluídos, que
podem ser ingeridos duas vezes por dia.
Entretanto, para tratar feridas, o chá é preparado de forma mais
concentrada, e colocado com gazes sobre a pele. O preparado de “Barba-
-timão” limpa e cicatriza feridas com rapidez surpreendente.
Para situações extremas, Seu Raimundo recomenda utilizar a mistura
de Barba-timão com Calunga e Dom Bernardo. A Calunga é utilizada na
região do Poconé, interior do Mato Grosso, para tratamento de úlceras,
e não foi encontrada em nenhum tratado de plantas medicinais. É
mencionada num estudo em andamento, que está sendo desenvolvido pela
UFMT, aguardando registro de patente.
Segundo o site plantasquecuram.com.br, a “Dom Bernardo” (Psychotria
tetraphyla) é uma planta conhecida no cerrado brasileiro, utilizada para
combater gripes, defluxos catarrais e desobstruente das vias urinárias.
108
2.21 Cedro
109
2.22 Seno
110
2.23 Capim Meloso
111
2.24 Pinhão Roxo
112
2.25 Erva de bicho
Bióloga e Terapeuta
115
As Curas e os Curandeiros
117
Onde é que aprendemos que os antidepressivos conseguiriam anular
nossas depressões diárias? E por que a tristeza e a depressão não deveriam
mais ser sentidas?
118
Questiono-me o porquê desta desproporção no uso de antibióticos,
antidepressivos e antiácidos nos dias de hoje, como se fossemos uma
manada. Quem é que ganha com esta larga propagação de vendas destas
drogas lícitas?
E se a nossa comunidade científica se alinhasse aos curandeiros? E se
nossos “eruditos” estudassem integralmente as plantas que curam? E se
nossa prática diária fosse o NÓS e não só o EU ? O simples, o óbvio, com o
custo mais acessível destas substâncias, significaria um grande benefício
para todos.
Seres como Sr. Raimundo e sua nobre esposa Dona Antônia, como
também, Marcus Guião, Carlos Gallo, e vários outros curadores, são seres
que fazem jus ao significado da palavra HALO DE LUZ .
Valéria A. Tavares
119
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Raimundo Nonato
Raimundo Nonato – Mestre das Plantas Espirituais e Medicinais da Serra do Espinhaço Mineiro
Mestre das Plantas Espirituais e Medicinais
da Serra do Espinhaço Mineiro
R
aimundo Nonato Lúcio, ou “Seu” Raimundo, é
uma lenda viva de Conceição do Mato Dentro e
das montanhas do Espinhaço, em Minas Gerais.
É conhecido em toda a região pelo seu dom de cura e
vidência, e sua fama chegou a ultrapassar fronteiras
regionais e nacionais. Dentre os dons que possui, está a
capacidade de “sentir” as doenças potenciais antes de se
manifestarem, percebendo o pensar, o sentir e o querer dos
seus visitantes. Com amplo conhecimento das virtudes
curativas das plantas e das árvores do cerrado, aplica
este saber com singular praticidade e intuição, nos mais
diversos casos que vão aparecendo no seu dia a dia, sendo
a água e suas propriedades radiestésicas o elemento basilar
de todo o seu processo curador. A necessidade de valorizar
o saber popular, e preservar este patrimônio cultural e
imaterial vivente no Espinhaço, foi o que nos motivou a
escrever o presente livro, e contribuir para a perpetuação
deste tradicional modus operandi de curar e transformar
vidas. Assim sendo, nestas páginas intentaremos mostrar
o legado de Seu Raimundo Nonato e da sua esposa, Dona
Antônia, a Benzedeira. Ensinamentos, Curas, Remédios e Encantos
A apresentação do livro foi elaborada pelo Filósofo Loryel
Rocha. O Prefácio é obra do Ambientalista e Conferencista
Kaka Werá Jecupé. Já o Posfácio foi escrito pela Bióloga e
Terapeuta Valéria A. Tavares.