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EXPEDIENTE: SUMÁRIO
Ficha catalográfica e ISBN A Igreja pode ser uma referência no acolhimento e acom-
x
panhamento a mulheres em situação de violência?
x Informações úteis
x Saiba mais
x Anexos
X - Jesus e a superação da violência contra as mulheres
A missão com mulheres em situação de violência e Desenvolver e apoiar programas de capacitação e formação em
1
acompanhamento pastoral para pessoas em situação de vio-
a construção de relações justas entre as pessoas faz
lência, violência doméstica e agentes atores de agressão.
parte do trabalho missionário da IECLB.
A partir de Jesus, seu grupo de discípulos e discípulas, responsabilizada pela lei: fazer de conta que não viu, omi-
seguidores e seguidoras e demais pessoas da sociedade tir-se ou ser conivente com uma agressão aos direitos da
precisam mudar significativamente seu olhar, seu modo mulher são maneiras de praticar violência.
de pensar e sua prática sobre as mulheres em direção a
uma ação condizente com o mandamento do amor. Ao promover a paz, a justiça e o amor na sociedade, a IE-
CLB participa do testemunho do Evangelho no país e no
mundo. Isso significa tomar para si a consciência de um
projeto de missão sintonizado com a luta por relações ba-
O compromisso missionário para o enfrentamento
seadas no amor e não na violência. Portanto, não há pos-
4 da violência contra as mulheres reconhece que no
princípio do cristianismo há uma lei que proíbe a
sibilidade da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no
Brasil – IECLB silenciar diante da violência. Isso seria agir
violência contra a mulher. contra o Evangelho. O Evangelho de Jesus Cristo só auto-
riza a prática do Amor, e as relações violentas estão proibi-
das. Por essa razão, a IECLB toma para si a consciência de
O episódio com a mulher apanhada em adultério, narra- um projeto de missão sintonizado com a luta por relações
do em João 8.1-11, coloca o cristianismo como uma religião baseadas no amor e não na violência.
que proíbe a violência contra a mulher. A proibição dessa
violência passa a ser um dos princípios fundamentais da
fé cristã e orienta a missão de toda Igreja.
COMO SE PERCEBE A VIOLÊNCIA CONTRA
MULHERES EM NOSSO MEIO, E COMO AGIR?
para 35%
semanal.
A violência vai minando a saúde da mulher, sua autoes- Onde há silêncio, as mulheres não se sentem seguras o
tima, seu ânimo, sua vida social, sua criatividade, seu po- suficiente para procurar apoio na comunidade. Elas não
tencial no mundo do trabalho. É alto o índice de mulhe- procuram o ministro ou a ministra para falar das suas do-
res que faltam ao trabalho em consequência de violência res e violências sofridas.
sofrida.
A IECLB é uma Igreja com- Mundial de Igrejas e acolhi- Campanha Por um Lar sem Violências: ativa desde 2020,
prometida com a supera- da pelo Conselho Nacional a campanha reafirma que a violência contra as mulhe-
ção da violência contra a de Igrejas Cristãs no Brasil. res é um pecado, e que é missão da Igreja não deixar as
mulher. Esse compromisso mulheres sós quando mais precisam de cuidado, acolhi-
é fundamentado no teste- Publicação do documento mento, amparo, apoio e de informações necessárias para
munho bíblico que afirma As Igrejas dizem não à vio- a busca de ajuda na rede de proteção social do município
a dignidade das mulhe- lência contra a mulher, da em que vivem. São materiais da campanha cards para as
res como filhas de Deus, Federação Luterana Mun- redes sociais e spots para programas de rádio.
criadas juntamente com dial (FLM); Caderno Encon-
Acesse os materiais da campanha no link https://www.luteranos.com.
os homens, à imagem e tros e Conversas – por uma br/conteudo_organizacao/missao-mulheres/campanha-por-um-lar-
semelhança de Deus (Gê- cultura de paz e superação -sem-violencias-cartoes-e-audios
nesis 1.27) e acolhidas por da violência doméstica, do
Deus no Batismo (Gálatas Fórum de Reflexão da Mu-
3.26). lher Luterana; Gibi Valenti-
na, da Associação dos Gru-
Com esse objetivo, a IECLB pos da Ordem Auxiliadora
vem assumindo voz profé- de Senhoras Evangélicas
tica diante da violência do- (OASE).
méstica e familiar contra
as mulheres, fortalecendo Apoio e articulação da ex-
parcerias com movimen- posição Nem Tão Doce Lar,
tos ecumênicos, Igrejas e coordenada pela Funda-
instituições parceiras, na ção Luterana de Diaconia
produção de materiais, (FLD).
campanhas e formação de Inclusão do tema Violên-
lideranças, tais como: cia Doméstica e Institucio-
Participação na Década nal na META 4 do Plano de
Ecumênica de Solidarie- Ação Missionária da IECLB
dade das Igrejas com a 2019-2024 e na sua Política
Mulher (1988-1998), pro- de Justiça de Gênero, apro-
mulgada pelo Conselho vada no Concílio de 2022.
Através desses recursos, a comunidade é convidada a par- Além de capacitar pessoas para atuar no trabalho de
ticipar da campanha, divulgando os conteúdos, orando e prevenção e superação da violência doméstica, as desa-
zelando pela vida das mulheres e suas famílias em situa- fiamos a criar um grupo de apoio para as mulheres que
ção de violência. Além disso, foram desenvolvidas pales- sofrem violência em suas respectivas comunidades.
tras, meditações, lives, vídeos, assessorias em celebrações Para mais informações sobre o curso, contate-nos através do e-mail
e eventos organizados por ou em parceria com a OASE, secretariageral@ieclb.org.br.
Fórum da Mulher Luterana, Juventude Evangélica Lute-
rana, comunidades, paróquias, sínodos, instituições dia-
conais, instituições de ensino e pesquisa, organizações POR QUE A IGREJA DEVE PARTICIPAR
ecumênicas e pela Coordenação de Gênero, Gerações e
Etnias da IECLB. DESSE TRABALHO SOCIAL?
Curso de extensão – Missão com mulheres em situação
de violência: criando e multiplicando grupos de apoio A Igreja oferece um campo de relações para uma pessoa
nas comunidades da IECLB: Em 2022, a IECLB ampliou – desde o batismo. No batismo ou como membro de uma
a campanha Por um Lar sem Violências com a oferta do comunidade, uma pessoa é inserida na comunhão e rece-
curso de extensão Missão com mulheres em situação de be, ou deveria receber, proteção, apoio, o “amor do próxi-
violência: criando e multiplicando grupos de apoio nas mo” para a sua vida.
comunidades da IECLB.
O curso possibilita a capacitação de pessoas das comu- A igreja faz parte da rede de relações sociais de
nidades para que sejam sensíveis e estejam preparadas uma pessoa. E como rede espiritual, se compro-
para identificar situações de violência doméstica, acom- mete com o cuidado mútuo.
panhar pastoralmente as mulheres que sofrem violência
e seus familiares, informar e orientar a comunidade sobre
Não raro, a Igreja compõe a rede primária de uma pessoa
direitos e serviços públicos de atendimento à mulher.
(família, amizade, vizinhança), onde é acolhida e inserida
Por meio dessas ações, incluindo a publicação deste ca- desde o batismo. E mais que uma rede social, os vínculos
derno de subsídios, busca-se ajudar a comunidade a de- formam uma rede emocional, afetiva e espiritual – fun-
senvolver sensibilidade e reconhecer que essa realidade, damental para a existência humana. O trabalho da Igreja
que faz parte das famílias luteranas, precisa ser transfor- precisa ser forte, atento e ativo para que essas redes sejam
mada. É importante criar abertura para discutir sobre o sadias.
tema e ajudar a comunidade a assumir compromisso e
postura de intolerância ao assédio sexual e à violência
contra a mulher. Quanto mais fragilizadas são as redes afetivas
dentro de casa, na vizinhança, de amizades, no
trabalho, mais importante é o papel da igreja na
atuação junto a uma mulher que sofre violência.
A rede da Igreja pode ser fundamental para que uma mu-
lher refaça a sua autoestima, seu amor-próprio, a força
pessoal. E nesse sentido, a força que vem pelo apoio espi-
ritual, da vida de fé, é um recurso que traz muita sustenta-
ção no caminho de superação da violência. Se a Igreja cria
um espaço de acolhimento, ela atuará como um contra-
ponto à destruição de outras redes e da força interna de
uma mulher.
É fundamental prestar
atenção para que aquele
espaço não seja destrutivo,
mas acolhedor. Pois, não
raro, dentro dos grupos
se repetem preconceitos
da sociedade. Muitas mu-
lheres repetem os chavões
machistas que aprende-
ram na sociedade. Sempre
é preciso, amorosamente,
ensinar como dizer melhor,
A IGREJA PODE SER UMA REFERÊNCIA NO A Igreja não está fora da sociedade. Por isso, tem os mes-
ACOLHIMENTO E ACOMPANHAMENTO A mos problemas da sociedade. E as mulheres que sofrem
violência estão na Igreja também. A palavra de Deus deve
MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA? chegar para elas, e com essa palavra, a libertação da vio-
lência como sinal concreto da atuação do Espírito Santo
Sim. A Igreja pode ser referência de lugar seguro para de Deus. Deus mostrou, por meio de Jesus Cristo, que está
as mulheres em situação de violência. É o mandamento do lado das mulheres que sofrem toda forma de exclusão,
do amor que nos exige este trabalho de cuidado: “Eu vim preconceito e violência. Os frutos da nossa fé se mostram
para que tenham vida...”, não morte (João 10.10). no nosso discipulado, quando em nosso caminho, nos es-
paços da comunidade, encontramos e identificamos mu-
Uma Igreja que acompanha não ignora a mulher que so- lheres em sofrimento, como fez Jesus Cristo, e paramos
fre violências; antes, a orienta sobre os seus direitos, enca- para olhar para elas e ouvi-las, perguntando o que lhes
minha aos serviços públicos, visita, ora por e com ela e sua acontece. Não há como professar a fé cristã e fechar os
família. ouvidos, os olhos e a boca diante da violência sofrida por
mulheres. O Evangelho não nos dá sossego, não nos per-
Uma Igreja acolhedora recebe e escuta a mulher atenta- mite mais o silêncio, a negação, a conivência.
mente, sem julgá-la, buscando compreender a situação
para melhor ajudar. O tema da violência pode ser abordado na Igreja de inú-
meras formas, em especial por meio de textos bíblicos
Uma Igreja corajosa reconhece a violência como um pro- que falem de modelos de masculinidade e de feminili-
blema social que afeta significativamente as mulheres de dade estereotipados, modelos e conceitos de família va-
suas comunidades, afeta a sua dignidade, sua vida espiri- riados. Na Bíblia, há relatos de violência sexual (como o
tual, sua vida familiar, o casamento, a educação das crian- estupro de Tamar – 2 Samuel 13, de Diná – Gênesis 34, o
ças e todo o seu entorno. feminicídio da concubina – Juízes 19, a tentativa de femi-
Uma Igreja que é referência no enfrentamento à violên- nicídio da mulher adúltera – João 8.1-10). É preciso que na
cia contra as mulheres envolve os homens nesse processo. Igreja se volte a falar da vida cotidiana, da vida real, das no-
É Igreja que cria oportunidades para os homens refleti- tícias, e que lideranças sejam hábeis em coordenar bons
rem, por exemplo, sobre os impactos que as suas atitudes diálogos, conversas saudáveis, discussões respeitosas so-
têm sobre a educação das suas crianças e de seus relacio- bre os mais diversos temas da vida ordinária.
namentos. É importante que o tema da violência seja abordado nos
Uma Igreja engajada na missão de restauração dos vín- grupos de casais, de jovens, de homens, de estudos bí-
culos familiares, de casamento e de relações humanas em blicos, no culto infantil, no ensino confirmatório, enfim,
geral é uma Igreja atualizada com o Evangelho. Aprender em todos os espaços. A fala sobre o tema fará com que a
a conviver de modo sadio, respeitoso, em relações não realidade venha à tona. Será nesses momentos que crian-
violentas é o objetivo da missão de Jesus Cristo e é a Boa ças, jovens, adultos e idosos se manifestarão sobre a vida
Nova do Evangelho. cotidiana, seus conflitos e problemas.
O trabalho com homens é fundamental e está previsto A máxima “Em briga de marido e mulher, ninguém mete
na Lei Maria da Penha. A Igreja também deve se encorajar a colher” é coisa do passado. Qualquer pessoa pode fazer
para o trabalho com homens, para educar homens e dia- uma denúncia pelo serviço que tem o objetivo de auxi-
logar sobre os temas diversos da vida deles no âmbito do- liar mulheres em situação de violência em todo o país. A
méstico. Todo o ministério de Jesus foi de enfrentamento denúncia de pessoas conhecidas e vizinhas, por exemplo,
de conflitos. Para que o Reino de Deus chegue, a boa nova pode fazer toda a diferença entre uma agressão e um fe-
precisa ser anunciada, e esse anúncio somente virá se efe- minicídio. A denúncia, mesmo que anônima, pode salvar
tivamente enfrentarmos as dificuldades. vidas.
Chame a polícia, ou procure qualquer socorro possível.
Ligue 193, 190, 197 – e denuncie de imediato a agressão.
Se o agressor for capturado, será preso em flagrante, nos
moldes da Lei Maria da Penha.
INFORMAÇÕES ÚTEIS:
Colabore com a polícia: dê detalhes do caso, faça exame
Central de Atendimento à mulher: O Ligue 180 é um de corpo de delito se necessário.
serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamen- Se possível, tenha imagens que comprovem o que acon-
to à violência contra a mulher. Além de receber denúncias teceu, e/ou testemunhas.
de violações contra as mulheres, a central encaminha o
conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora
a colh
eta
o andamento dos processos.
e
O serviço também
r!
tem a atribuição de orientar mulheres em
situação de violência, direcionando-as
para os serviços especializados da rede
de atendimento. No Ligue 180, ainda é
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possível se informar sobre os direitos elegac
a té uma d tre a ie
da mulher, a legislação vigente sobre o vá
cia e re
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tema e a rede de atendimento e aco- de polí ia; en
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lhimento de mulheres em situação odem
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de vulnerabilidade. algum er rápido;
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desapa agir,
O Ligue 180 funciona diariamente is rápido em
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durante 24h, incluindo sábados, do- quant e s a políc
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mingos e feriados. mais o tegê-la!
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r ve a v
Entre os órgãos que podem ser SAIBA MAIS:
buscados pelas mulheres em
Campanha da IECLB Por um Lar sem Violências: https://
situação de violência estão: www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/missao-
-mulheres/campanha-por-um-lar-sem-violencias-carto-
es-e-audios
Diante do desespero de Jairo, Jesus abandona a tarefa, ocupa- Como Igreja, a prática de uma escuta ativa precisa estar em
ção, que exercia no momento e se dirige para a casa desse pai. pauta. Ou seja, não é possível, diante de fatos de violência, prati-
Jesus pratica a escuta mesmo em meio da multidão, do alvoro- car uma escuta passiva, sem encaminhamento, ou uma postura
ço. Escuta, acolhe, compreende e encaminha situações de mu- passiva. A negligência diante de abusos e violências hoje não
lheres e de homens, crianças e jovens. Assim, é com a mulher são mais justificáveis perante a lei. Precisamos de uma Igreja de
encurvada (Lucas 13) e a mulher hemorrágica (Marcos 5). Jesus Cristo que escuta, que acolhe, que trata e que encaminha
as mulheres e qualquer pessoa em situação de violência para ór-
Jesus intervém, se posiciona claramente contra a violência pres- gãos competentes que sabem dar melhor seguimento às con-
tes a acontecer com a mulher flagrada em adultério. Nesse con- sequências que a violência já causou na vida daquela pessoa e
texto, Jesus confronta as pessoas que acusam e cria uma nova família. Aliás, é muito importante falar mais claramente sobre
moral religiosa – autocrítica e responsável, uma nova forma de os impactos destrutivos da violência na vida das famílias. Uma
se posicionar diante do próximo e uma nova lei. Aquela lei an- Igreja que preza a vida em família deve atentar para a violência
tiga não serve mais, porque está pautada no uso da violência praticada nas famílias, e que boa parte dos modelos familiares
contra a mulher. A autoridade e a firmeza com que Jesus se po- estão assentados sobre silêncios em torno de violências sexuais,
siciona deve inspirar as nossas ações na Igreja, quando se trata físicas, morais, psicológicas e patrimoniais. Essa passividade his-
de pautar a violência contra a mulher e quando se trata de de- tórica diante da realidade deve envergonhar uma Igreja e deve
fender as mulheres e qualquer pessoa vítima de violência. fazê-la agir.
Jesus age mesmo diante do princípio do “falatório”, da “fofoca”, E falando em passividade, em Jesus nos convertemos à ação
das maledicências e acusações que estavam sendo ensaiadas diante da violência, e toda a passividade está ultrapassada. Mui-
por vários homens quando uma mulher (“de má fama”) vem to já se falou da passividade feminina por causa da aparente
com um vaso de alabastro para ungir os pés de Jesus. A atitude aceitação ou não reação diante da violência sofrida. A passivi-
de Jesus é imediata no sentido de interromper, coibir aquela dade não é uma característica feminina, mas um sintoma ou
prática de crítica sobre as atitudes daquela mulher. forma de ser, que pode afetar tanto um homem quanto uma
mulher, ou uma instituição. Mas o estudo dos muitos fatores
A crítica contra a violência precisa ser feita sem medo e desde o
que dificultam a reação das mulheres diante da violência nos
Evangelho de Jesus. O maior mandamento é o do Amor, a práti-
ajudou a compreender os inúmeros fatores e causas que com-
ca do evangelho de Jesus tem como caminho central o amor. O
põem a dificuldade de enfrentar a violência doméstica. Entre
esses, está que as meninas aprendem desde cedo que devem O modelo do homem que cuida, que se responsabiliza está
ser queridas, obedientes, cuidadoras da casa, das crianças e dos no evangelho. Um belo exemplo é o Bom Samaritano (Lucas
maridos. Depois de adultas, quando algo nas relações não dá 10). Neste texto há não apenas um, mas vários tipos e modelos
certo, a sociedade as culpa, e diante dessa culpa muitas mulhe- de masculinidade e é uma boa referência para valorizar com-
res se calam, fingem e silenciam que tudo vai bem. portamentos masculinos alternativos àquele violento, ou àque-
le que passa ao longe (do serviço doméstico e do cuidado das
A passividade masculina no mundo doméstico é muito clara. crianças).
Muitos homens pouco participam do cuidado das crianças, de
pessoas idosas, da limpeza da casa, da cozinha, mas agem de O bom samaritano (Lucas 10.25-37) é um texto para
modo tão ativo na violência. Ainda rege uma antiga convenção fazer pequenos grupos com cada perfil de masculi-
de que um homem deve ter iniciativa como chefe da casa – tal- nidade. Pode ter cinco pessoas no papel de cada ho-
vez falando alto, mandando, se impondo de forma autoritária mem do texto, por exemplo (sacerdotes, levitas, sama-
pela voz e pelo gesto que quer garantir um poder de domínio e ritanos, hospedeiros, assaltantes). Podem responder a
obediência, mas muito pouco de colaboração no cuidado e nas seguinte questão: que perfil de homens representam
atividades domésticas. estes e como se apresentam hoje na sociedade, e que
outros tipos de homens – com que comportamentos
Ou seja, ajudar os homens a compreender que a casa é um e pensamentos identificamos hoje (como se portam,
mundo onde eles podem viver bem, participar de forma ativa, que discursos fazem...)? É interessante que Jesus des-
que podem amar o mundo doméstico ainda que esse lhes exi- taca o homem que cuida do homem ferido como
ja responsabilidade e participação dedicada e gratuita é uma aquele que é um “homem próximo”, aquele cujo com-
tarefa. portamento deve ser imitado. Que tipo de homem é
“o próximo” na sociedade atual – para as mulheres e
Um dos maiores sofrimentos da humanidade no tempo atual é para outros homens? Essa pergunta pode ser respon-
o sentimento de indiferença, vazio, tédio – sensação de falta de dida em diálogo no grande grupo.
utilidade. Essas sensações têm como fundamento uma carên-
cia de responsabilidade, ou seja, de sentir-se participante, ativo,
O enfrentamento da violência doméstica também passa pelo
pelo mundo e no mundo. Ajudar o ser humano a novamente
ensaio e o aprendizado de novos papéis no campo da mascu-
se tornar responsável – essa é uma tarefa árdua que temos pela
linidade. E a Igreja tem muito campo para estes testemunhos,
frente. Recuperar o sentimento de responsabilidade, o com-
nos grupos mais variados, entre eles o de jovens. Veja:
promisso pela sua vida, pela vida da pessoa próxima, seus filhos
e filhas e de exercer o cuidado é fundamental para resgatar a José, diante da gravidez de Maria, poderia ter optado
dignidade e a razão de estar e de pertencer ao mundo. Ou seja, pelo caminho de deixá-la sozinha, sem assumir a pa-
o resgate da humanidade do homem – de sua masculinidade ternidade, como fazem muitos homens. Em José, no
– passa pelo resgate de seu senso de pertencimento ao mundo entanto, encontramos um interessante caminho de
da casa, pelo resgate do seu respeito e zelo pelas relações com desconstrução de um modelo de masculinidade tóxi-
as mulheres, meninos e meninas e também pelos outros ho- ca e a mudança, por meio de crise, sonho e desafio, de
mens – talvez aqueles diferentes dele mesmo. Eis um grande um padrão de masculinidade convencional – pauta-
desafio para os homens e para os grupos de homens. do no preconceito, violência moral e psicológica, para
uma nova forma de ser homem. O modo como José
faz a transição de um homem confrontado com uma
noiva grávida, para compreender e assumir um proje-
to novo não deveria ser visto com tanta simplicidade.
ANEXO 2
Nesse sentido, é fundamental fortalecer as mulheres em sua A vida inteira, quase 30 anos fiz pasto para os bichos,
autoestima, devolvendo-lhes o amor esquecido, ignorado, o agora ele se meteu numa fria, num golpe de nudes, e a
amor a si, o amor-próprio – do qual o evangelho também fala culpada sou eu – aí começou a me acusar que eu não
como um amor fundamental. faço as coisas direito. Diz até que nem pasto para os bi-
chos sei fazer. Só que faço pasto há mais de 20 anos
A autoestima da mulher começa a ser desenvolvida na infância.
Assim é com toda pessoa, menina ou menino. Acontece que
a autoestima de meninos e homens é muito mais reforçada A repetição e a exposição constante de um padrão, mesmo ne-
positivamente na nossa cultura. Isso acontece porque as coisas gativo, criam uma sensação de verdade. A economia pautada
que meninos fazem recebem mais valor – seja a força, a inteli- no padrão masculino, que historicamente privilegiou os ho-
gência..., porque estão mais evidentes – seja pelo esporte, pela mens, ensina para a mulher e cria nela um sentimento de in-
política, pela presença na mídia, na religião. A liderança mascu- ferioridade, de inadaptação, uma sensação de que há algo de
lina é muito mais reconhecida que a liderança feminina. Os ho- errado com ela. E ainda dá para as mulheres a certeza de que
mens têm mais bens, mais poder, mais dinheiro, mais trabalho elas precisam se adaptar, de que elas precisam mudar, de que
etc. Quando se trata de homens brancos e mulheres brancas, erradas estão elas. Um ponto central da Economia, no caso das
isso é mais evidente ainda. A beleza branca é mais reforçada e mulheres, é o trabalho gratuito em casa e no cuidado de pesso-
isso impacta muito negativamente a autoestima de mulheres as (1/3 do PIB mundial advém do trabalho gratuito de mulheres).
e meninas negras, como de meninos e homens negros. O tipo Assim, os reforços positivos fazem o contrário. Um elogio é um
de corpo feminino altamente divulgado na mídia reforça um reforço positivo. Elogiar as mulheres, irmãs, amigas, mães, com-
padrão de corpo que passa a ser esperado da mulher no coti- panheiras é uma tarefa importante para a recuperação da au-
diano. Assim, os homens (mesmo aqueles com corpos “fora da- toestima. E precisamos falar com autoridade, força, certeza da-
quele padrão”) exigem da mulher um corpo padrão ou criticam quilo que está errado. Porque as mulheres custam a acreditar.
o corpo da mulher, sentindo-se no direito de fazer tal exigência Isso é um processo. Ajudar a mulher a acreditar na sua força,
porque eles aprenderam algo como “eu tenho o direito de exigir na sua beleza, na sua inteligência é “um processo” rumo ao
tal corpo da mulher”. seu amor-próprio. O amor-próprio é um direito evangélico.
Reforço negativo é quando diariamente algo negativo é repeti- A arte de amar tem sido exaustiva para as mulheres. Elas se es-
do. Isso vai destruindo o amor-próprio que deve existir em cada vaziam de tanto amar o mundo, as outras pessoas, a Deus, sem
pessoa. Uma menina que escuta todos os dias sua mãe sendo que reste amor a si. Quando a mulher ama a si ela impede que
criticada tem grande chance de formar uma baixa autoestima, homem abuse dela.
afinal sua imagem de mulher ficará fragilizada. Dinâmica da autoestima. Cadê ela – a autoestima, cadê o
amor-próprio?
A repetição e a exposição constante de um padrão, mesmo ne- sua autoestima, quando e como foi, me conte? Oi vizinha, cadê
gativo, criam uma sensação de verdade. A economia pautada a sua autoestima?
no padrão masculino, que historicamente privilegiou os ho-
mens, ensina para a mulher e cria nela um sentimento de in- Cada mulher é convidada a pensar sobre esta perda (dê algu-
ferioridade, de inadaptação, uma sensação de que há algo de mas ideias de onde e como foi, usando o contexto das violên-
errado com ela. E ainda dá para as mulheres a certeza de que cias). E cada mulher deve fazer/criar um pequeno lugar onde ela
elas precisam se adaptar, de que elas precisam mudar, de que coloca elementos ou símbolos (na sala ou ao ar livre) de onde foi
erradas estão elas. Um ponto central da Economia, no caso das que perdeu sua autoestima em algum momento da vida.
mulheres, é o trabalho gratuito em casa e no cuidado de pesso-
Passo 2. Revelar e mostrar
as (1/3 do PIB mundial advém do trabalho gratuito de mulheres).
Depois, fazer duplas, e uma mulher mostra o lugar com seus
Assim, os reforços positivos fazem o contrário. Um elogio é um
símbolos e conta para a outra onde foi que perdeu a sua auto-
reforço positivo. Elogiar as mulheres, irmãs, amigas, mães, com-
estima.
panheiras é uma tarefa importante para a recuperação da au-
toestima. E precisamos falar com autoridade, força, certeza da- Passo 3. Partilhar na roda de mulheres
quilo que está errado. Porque as mulheres custam a acreditar.
Isso é um processo. Ajudar a mulher a acreditar na sua força, Momento de socializar e ver as semelhanças e diferenças de
na sua beleza, na sua inteligência é “um processo” rumo ao onde a autoestima foi perdida. Podem ser pequenos grupos de
seu amor-próprio. O amor-próprio é um direito evangélico. quatro mulheres para garantir tempo de partilha.
A arte de amar tem sido exaustiva para as mulheres. Elas se es-
Passo 4. Reencontrar a autoestima
vaziam de tanto amar o mundo, as outras pessoas, a Deus, sem
que reste amor a si. Quando a mulher ama a si ela impede que Onde ela está? Onde procurar, por onde começar? É preciso
homem abuse dela. criar espaços para que as mulheres falem e sejam ouvidas, acei-
tas e valorizadas em suas habilidades (é preciso dar valor a si –
Dinâmica da autoestima. Cadê ela – a autoestima, cadê o
aqui é possível resgatar a autoestima desafiando as mulheres a
amor-próprio?
identificar, reconhecer o que cada uma sabe fazer, o que gosta
Procurando a autoestima segundo o texto da moeda perdida de fazer, quais são seus dons e habilidades).
(Lucas 18). Antes de mais nada, é indicado fazer duas ou três lei-
É preciso fazer processos, precisa ser real. Então, vale propor: dar
turas diferentes do texto no grupo. Em seguida, motivar o grupo
uma volta em duplas e uma conta para a outra tudo o que sabe
com a pergunta sobre a autoestima de cada uma – como vai a
fazer, desde trabalhar fora de casa, como em casa – cozinhar,
sua autoestima? Vai bem ou perdeu, já perdeu alguma vez e
limpar, cuidar –, formação profissional, cursos e habilidades. É
recuperou, como foi, quando foi, por que perdeu?
bom que as mulheres sejam instruídas para que instiguem a
Passo 1. Dar-se conta e procurar companheira com a pergunta: o que mais você sabe fazer? O
que você já fez na vida? Também é preciso compartilhar coisas
A autoestima se perdeu: como? Onde? É preciso começar por que ela gosta nela, e a companheira pode dizer: também acho
aí. Onde ficou? E criar cenas e cenários com essa pergunta. O legal isso em você.
grupo pode caminhar pelo espaço, e as mulheres vão pergun-
tando uma para a outra... Oi, amiga, perdi a minha autoestima, Passo 5. Como você recuperou a sua autoestima?
onde será que ficou? Minha irmã, eu soube que você perdeu a
É importante que no grande grupo, em roda, algumas mulhe-
res possam partilhar como elas, em algum momento, recupe-
raram a sua autoestima. Contar o processo, o que fizeram. O ca-
minho de recuperação é o caminho de busca, de procura, de
tentativas. Esse é o caminho da mulher da dracma perdida – ela
procura até encontrar, e depois celebra. Celebrar com amigas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e vizinhas parece fazer parte do processo de se sentir bem, re-
cuperar amizades, relações de vizinhança – uma rede de con-
fiança. Esse último passo – criar ou recriar uma rede de relações 1. https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/violencias/vio-
– é fundamental para o bem-estar, a saúde, a recuperação da lencia-domestica-e-familiar-contra-as-mulheres/
autoestima.
2. https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/denuncie-violencia-contra-
-a-mulher/violencia-contra-a-mulher
3. https://www.assufrgs.org.br/2020/11/25/25-de-novembro-dia-inter-
nacional-da-nao-violencia-contra-a-mulher/
4. https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/1694-pbes-
tuprofinal.pdf
7. https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/denuncie-violencia-contra-
-a-mulher/violencia-contra-a-mulher