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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS APLICADAS E

EDUCAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE


PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA

SENTAR À MESA DO REINO: UMA NETNOGRAFIA SOBRE AS SAFICRENTES,


MULHERES QUE SÃO SÁFICAS E CRENTES.
Projeto relacionado à seguinte linha de pesquisa do PPGA: Corpo, Saúde, Gênero e
Geração. João Pessoa, 2022

Disciplina: Seminários de pesquisa

Docentes: Ednalva Maciel Neves e Maria Elena Martinez Torres


Louise Tavares Oliveira do Nascimento1

1. A caixa quebrada: uma relfexão sobre as dissidências de sexo/gênero


eloboradas pelas saficrentes.

Em mais um dia de troca nas conversas que acontecem por meio da plataforma
WhastApp ouço a Luciana e Paula comentarem sobre o “ranço” com a bolha
crente. Isso porque em uma discussão levantada pela bolha, no twitter, sobre
virgindade feminina, estavam falando que mulheres assim seriam contaminadas e
não dignas do casamento. Por isso era clara a indignição do Vale das Bençãos com
a misoginia da bolha crente. Não é primeira vez que isso acontece e o grupo, desde
o surgimento está sendo um espaço para discutir essas temáticas relacionadas
tanto a misoginia, a lgbtfobia, o machismo e fundamentalismo religioso, mais
precisamente: o cristão.

O Vale das Bençãos é um grupo online, que está na plataforma WhastApp,


composto por mulheres lésbicas, bissexuais e pansexuais cristãs as quais se
reúnem para trocar vivências e promoverem cultos online (na plataforma Google
Meet). Esse grupo surgiu em meados do ano de 2020 durante o ínicio do período
pandêmico. E em sua descrição na rede social referida se apresenta como um
grupo antifascista, onde pode falar mal de crente e flertar, além de ser um local
seguro para trocas e desabafos. O termo saficrente surgiu por meio de uma
brincadeira no grupo e se tornou uma expressão para se reconhecer as mulheres
que fazem parte do grupo, no caso mulheres sáficas que amam a Deus e outras
mulheres sobre todas as coisas2.

Durante esses quases dois anos de existência, o Vale das Bênçãos está sensível e
reativo as questões sempre colocadas pela instuição Igreja, já que como um grupo
dissidente existe entre essas mulheres um longo histórico de insastifação com uma
certa moral cristã que pradoniza e segrega. Como dito por Luciana, líder do grupo, o
fundamentalismo seria algo a ser combatido. E portanto uma das razões de
existência do Vale das Bênçãos é a defesa de uma fé plural.

1
Mestranda do programa de Pós-graduação em Antropologia da UFPB
2
Referência dada pelo grupo.
Um grupo de mulheres cristãs! Mas os evangélicos quem são?

O Vale das Bençãos está organizado em diversas vertentes cristãs, da católica a


protestante, assim como de denominações diferentes, tem membras de igrejas
tradicionais como as batistas e adventistas, mas também de denominações
inclusivas e afirmativas, e as irmãs que são desigrejadas(me incluo nesse bojo).
Diante disso, é importante compreender o que se diz sobre ser cristão, pois como
pode se ver é algo extremamente multifacetado. Assim, dentre as muitas vertentes,
quando se usa o termo evangélico pode se ter um efeito genérico. E como o grupo
é constituído em sua maioria por evangélicas, me deterei a compreender essa
categoria. Colocar isso é primordial tanto diante da diversidade do campo religioso,
no contexto brasileiro, face ao crescimento do segmento evangélico, como para
situar o grupo que pesquiso diante da atual onda conservadora3. Onda essa puxada
pela bancada evangélica, ou seja, dos que tem se associado ao poder legislativo e
executivo, e que fizeram coro à última eleição presidencial defendendo uma moral
conservadora e fundamentalista. Segundo Almeida(2017), esses fatores tem feito
do evangélico uma categotoria bastante acirrada, pois se de um lado há esse
mainstream fundamentalista, de outro há grupos outsiders ligados as atividades em
ongs, aos movimentos sociais, em Igrejas afirmativas e inclusivas, e em partidos à
esquerda. São, também fruto da teologia da Libertação 4, das teologias Feministas e
Queer, e portanto buscam se posicionar de outra forma, e diria até de maneira bem
antagônica. Logo, coloco que o Vale das Bênçãos está em aproximação a esse
sentido e em oposição ao modo conservador, já que há uma posição bem definida
contra esse mainstream. Além disso, as ideias do grupo se enquadram numa
concepção progressista, não só em relação a união homoafetiva, mas também, em
assuntos como a liberalização das dorgas, a temática do aborto e a não-
monogamia. Diante disso, é claro o incomodo das saficrentes com a ideia de
cristianismo difundida pelos fundamentalistas. Principalmente, quanto aos corpos e
vida das mulheres, dos pobres, dos pretos, dos indigénas e dos lgbt’s, o grupo bebe
de influências promovidas pelas teologias feministas e queer. Como assegurado por
Musskopf e Ester(2020), ao defender uma teologia indecente:
3
Discussão levantada por Ronaldo Almeida no artigo a Onda Quebrada, e que traz alguns elementos
para se descrever o conservadorismo.
4
Em termos gerais, a Teologia da Libertação é um movimento político e social na igreja que
tenta interpretar o evangelho de Jesus Cristo através das experiências vividas pelo povo
oprimido
Qualquer teologia da libertação e a teologia queer ou indecente em particular
precisa dialogar, por exemplo, com os movimentos de juventude contemporâneos
reunidos em coletivos e ocupações e sua subversão das normas de amar, que
misturam a discussão sobre gênero e sexualidade com pautas pendentes, como o
aborto, o genocídio da juventude negra, a exploração do capitalismo neoliberal e a
instrumentalização da política pela religião – ou da religião pela política. Precisa,
também, ser capaz de articular todas essas questões com a exploração da terra, o
uso indiscriminado de agrotóxicos, o extermínio de povos originários, comunidades
quilombolas, povos ribeirinhos e das florestas (MUSSKOPF e ESTER, 2020, p. 5).

Dentre as muitas caixas, existe a da mulher virtuosa...

Assim, o que se propõe nesse trabalho parte dessas experiências trocadas com a
mulheres do Vale das Bençãos, algo que seria resultado desse desconforto com a
ideia deveras circulada no meio cristão de que a mulher ideal é a descrita como a
“virtuosa”, ou seja, a mulher do lar, ‘pura’, hétero, virgem, doce, que perfoma
feminilidade, para casar e com opiniões que obedeçam à essa lógica
primordialmente heteronromativa. Rosas(2018) confirma isso ao demonstrar a
atuação de uma pastora batista 5, a Ana Paula Valadão, embora sua forte atuação e
protagonismo, está ali no sentido de vinvular essas ideias e ser o modelo de
feminilidade.

Mas como dito por Luciana, durante o projeto Redomas 6 criaram uma caxinha, e
essa é apenas uma noção de feminilidade que dever pensada e problematizada.
Pois tem como resultado um conjunto de violências e sileciamentos para quem não
se adequa. Essas estratégias, como colocado por Foucault (1997), se constituem
no âmbito da sexualidade como um dispositivo de poder. Existem inúmenras
tecnologias elaboradas para que o sexo/gênero sejam pensados e colocados,
sobretudo pelo padrão hétero e monogâmico. Contudo as mulheres que venho
dividido experiências em campo não correspondem a esse perfil, e é bem provável
que nem mesmo as mulheres que fazem parte do meio institucional caibam
exatamente nessa caixinha da mulher virtuosa. Mas como esse tipo de discurso
ainda reverbera, e tem amplitude dentro da sociedade e do meio evangélico, busco
problematizar essa questão por meio das dissidências defendidas pelo Vale das
Bençãos.
5
Igreja Batista da Lagoinha
6
O Projeto Redomas é um podcast produzido por mulheres cristãs que tem como intuito difundir
ideias, promover discussões a respeito do emporaderamento feminino, teologias inclusivas,
feminismos. A Luciana faz parte do podcast e é líder do grupo Vale das Bençãos, foi através dela
que conheci o podcast, essa fala foi retirada do episódio: feminilidade bíblica, em que a ideia de
mulher virtuosa é problematizada.
Quebrando a caixa

Adriana Piscitelli (2009) coloca por meio da análise das lutas feministas que “o
pessoal é político”, nessa mesma direção Gayle Rubin(1984) propõe que o “Sexo é
político”. Essas falas constituem perspectivas em que o estudo do sexo e do gênero
se contrapõe a uma noção biológica, portanto tida como dada, a-histórica para além
da cultura. Assim, faz-se aqui uma crítica ao sistema sexo/gênero, tal como fez
Rubin (1975) em notá-los como uma categoria construído pelo modelo
heteronormativo. Logo, neste momento busca-se dialogar com o pensamento de
Gayle Rubin(1975) , Judith Butler(2018) e Paul Breatice Preciado (2016) em relação
às questões de dissidências de gênero e sexualidade que tem emergido no meu
campo. Portanto, neste artigo busca-se notar o modo como gênero é pensado e
repensado por meio desses estudos, já que esse será o norte teórico no qual busco
imergir.

Desse modo, a metófara da caixa auxilia a problematizar a reprodução desses


padrões, ser mulher de acordo com a caixinha seria ser atravessado por uma
concepção conformada. Sob o aspecto do que se veste, com quem se relaciona, o
que se faz com o corpo, como se goza, as escolhas, as amizades, o estilo de vida é
condicionado pela moral, pela ideia de santidade e pecado. É comum ouvir das
mulheres do grupo que se passou uma boa parte da vida se sentido culpada e suja
por ser como é, mas aprenderam a conhecer o amor de Deus de outra forma, que
se afastar da instituição em certos momentos foi importante, outras buscaram
alternativas em teologias inclusivas, no femnismo e numa experiência pessoal
deslocada da instituição.

Por isso busco notar a importância do feminismo para o grupo Vale das Bênçãos,
em contraponto a realidade marjoritária cristã, já que a grande maioria do grupo se
identifica como feminista. Isso porque os feminismos, historicamente, foram
responsáveis, como movimento político, por avanços e conquistas das mulheres,
como o voto, a indepedência financeira, maior escolarização, a entrada no mercado
de trabalho, e com o uso dos contraceptivos a defesa de uma maior liberdade
sexual, e desvinculação do sentido reprodutivo, e além do héteronormativo.
O feminismo tem também, uma grande contribuição para para a construção de uma
análise sobre o gênero, e a desvinculação da noção biológica ligada ao sexo. Como
colocado por Piscitelli (2004) é com essas perspectivas que a histórias das
mulheres produz viradas dentro do que se entende por gênero. Contudo, é
importante, também, colocar que no curso dessas conquistas houve viradas
ontológicas as quais foram capazes de apontar a problemática que é tratar a
questão do gênero por meio de uma base universal, ou seja, sob a ideia de um
único campo comum entre as mulheres explicará a questão da dominação. Isso no
que se concebe como “ser mulher” pelo feminismo radical para se lutar contra isso.

Oyěwùmí(2004) aponta o limite de tal coisa ao revelar o caráter construído do


gênero, pois demonstra por meio das epistemoligias africanas que as concepções
feministas euroamericanas se limitam a uma noção nuclear de família. Ou seja, o
sujeito do feminismo euroamericano seria a esposa branca que guia a vida em torno
da família, em contraposição, em outras culturas, como a iourubá a categoria
esposa não se limititaria a um corpo feminimo, por exemplo.

Gayle Rubin e Judith Butler, embora parte do contexto euroamericano, também


corroboram para essa crítica ao universalismo. De forma simplificada pode-se
argumentar que a construção do o sexo e do gênero, em relação a famosa oposição
homem/mulher, feminino/masculino seria reflexo do sistema hegemônico
heterossexual. E por isso não dá conta da multiplicidade da vida, ou seja, seria um
sistema de regulação binarista que “suprime a multiplicidade subversiva de uma
sexualidade que rompe hegemoniais heterossexual reprodutiva e médico-jurídica”
(BUTLER, 2018, p. 41).

De acordo com Rosas (2018) a igreja cristã, como parte desse arranjo
héteronormativo, sempre teve um papel regulador na vida e nos corpos, sobretudo
no das mulheres, e foi responsável por uma visão pecaminosa do sexo, tido apenas
como bom, se dentro do casamento e obedecendo a certos padrões. Já ouvi em
uma discussões no grupo que isso seria resultado da difusão de uma cultura
pureza7. Isso pode ser notado da mesma forma em como o sexo anal é condenado
e o sexo oral visto sob ressalvas, como a masturbação é condenada ou como as
pessoas trans são rechaçadas do meio, como gays e lésbicas são silenciados e
7
Na minha dissertação busco fazer uma descrição mais densa sobre essa concepção
condenados ao discurso do celibato, como bissexuais são tratados como
promíscuos. E isso é difundido nos cursos ofertados para noivos e casais, nas
reuniões só para mulheres. Portanto, dentro da Igreja, ser mulher e experenciar a
sexualidade se coloca por essas estrategéias discursivas de controle, e de
circulação de valores e perfomaces héteros, no sentido apontado por Butler(2018)
como uma ordem compulsória do sexo/gênero. Por isso corpos desviantes como o
de lésbicas, bissexuais e não-bináries seriam ameaças para essa instituição.

Diante disso, o sentido de existência do grupo Vale das Bênçãos é a possibilidade


de experenciar a sexualidade e uma fé diversa, em que corpos como esses possam
experimentar toda potência inscritiva do gênero e do sexo. Como dito em um dos
cultos que participei: goza a vida com a mulher que amas 8. Seria um modo de
resistir ao controle, a culpa, a alienação e ao medo imposto. Por isso, Monique
Witting coloca que as mulheres lésbicas são as principais responsáveis por
questionar o sistema sexo/gênero heteronormativo (BUTLER APUD WITING, 2018)

Assim, pode-se dizer que as formas como as mulheres experiementaram a si


mesmas, o mundo, o sexo e o amor diverge da caixinha da mulher virtuosa, e isso
não só em relação ao gênero, sexualidade e a fé mas também por meio da
consciência sobre aspectos de raça e classe. Logo, mais uma vez coloco, que o
gênero e por conseguinte a categoria mulher que se constituiu ao longo do tempo
através de uma construção, num processo de inscrição em corpos, seja
discursivamente seja por mecanismos de poder tem se ser repensada por meio
dessa pesquisa.

É possível colocar, também, que o debate sobre interseccionalidade pode ajudar


nesse sentido. Como posto por Curriel (2020) o feminismo negro tem papel
primordial para o debate interseccional e decolonial, porque as experiências
racializadas ampliam a lupa e o sentido da análise feminista. Já que se baseam
numa interpretação da vivências das mulheres negras, e no quanto a
posicionalidade pode se constituir como um objeto crítico e de transformação da
realidade.

8
Trecho do livro de Eclesiastes da Bíblia utilizado pelas saficrentes para afirmar o seu amor por
mulheres.
Por outro lado, a concepção clássica de Beauvoir “de que não se nasce mulher
torna-se” ao mesmo tempo que coloca a dimensão construída do gênero pode servir
para apontar para tensão limitadora de se tratar o feminino pela ideia implícita de
masculino. Butler (2018) propõe um caminho que seria tratar gênero como
performance, que identidades se fazem por meio de um processo criativo e
discursivo, não binário, que isso seria fluído. A maneira como me identifico não está
necessariamente ligado ao órgão sexual que nasci, por exemplo.

E ao que parece já rolou muita tinta de Beauvoir a Preciado, e dentre as muitas


mudanças e viradas teóricas, hoje sequer é possível se falar em feminismo no
singular. E a noção de gênero está sempre sendo posta em questão, entre a
fronteira entre natureza e cultura. Assim, ao marcar essa posição, busco evidenciar
que iniciei meu trabalho de campo levando em conta esse fator: embora o recorte
de gênero seja algo evidente do meu campo, afinal o grupo que estudo é constituído
em grande parte por mulheres cis e em menor número por não-bináries, isso já é o
suficiente pra seguir o campo e compreender as questões de sexo/gênero pela a
ideia provocativa de performance, elobarada por Butler (2018). Assim como, pela
perspectiva decolonial de Curiel (2020) e interseccional de Colins(2017). Portanto
fluída, plural e criativa. Coloco isso também porque diante do antagonismo implícito
entre moral cristã e a diversidade sexual, há um processo de reinvenção tanto do
gênero como da religião que grupo parece fazer que deve ser investigado. A
Luciana demonstra isso ao falar que para alguns ela é herege para outros crente
demais. Assim, diante dessa diversidade, essas mulheres se reúnem em torno de
algo em comum: experienciar a fé cristã de forma afirmativa e progressista.

Dessa forma, coloco o desafio de compreender e fazer um estudo sobre as


saficrentes9. Já que busco desenvolver esta pesquisa por meio da perspectiva de
que a categoria mulher é uma invenção, portanto, parte de contextos e construções,
por isso em meio a propósitos em comum e diante das múltiplas vozes do grupo o
que se busca é compreender essas mulheres por meio das dissidências. Assim, em
face a isso e como apontado por Rubin(1974) de que o sistema sexo/gênero não se
dá por uma unidade, ou seja, em contraponto a noção heteronormativa e binária
homem/mulher essa autora fórmula uma noção de gênero mais fluida e diversa.
9
categoria elaborada pelas mulheres do grupo para designar a existência de mulheres que são
sáficas e crentes, possíveis sinônimos seria a palavra lesbicrente
Algo que busco notar no campo diante das narrativas da lésbica crente e
caminhoneira, da crente não-binária e bi, ou da lésbica Barbie, ou da mulher bi cis
em relação hétero ou a em relação homo, da lésbica preta e gorda, da lésbica
criada no fogo e no manto10, das sapatão não-monogamicas.

Butler (2018) defende que a oposição a noção essencialista de gênero é capaz de


notar outras posições de mundo, ou seja não apenas um tipo de sujeito político.
Dessa maneira, isso seria importante também para pensar que as dissidências
elaboradas pelo grupo desloca essa ideia de mulher cristã "pura", "feminina" e
"para casar". Nesse mesmo sentido a noção de contrasexualiade defendida por
Preciado(2016) vai um pouco mais longe que do que Butler coloca. Para elx seria o
ponto a ser pensado é sexo/gênero “seria puremente construído e ao mesmo tempo
inteiramente orgonânico” (PRECIADO, 2016, p. 29). O sexo seria uma tecnologia
biopolítica, é possível encontrar nelx uma discussão pós-gênero, crítica que pode
ser utilizada ao buscar compreender formas de resistência.

Conclusão

Não obstante, o que se pode concluir dessas reflexões é notar como as formas
alternitivas de saber-prazer como defendido por Preciado no seu Manifesto
contrasexual são tecnologias de resistência a esse modelo disciplinador dos
discursos religiosos majoritários. Será possível investigar por meio desse grupo
possibilidades criativas para a vida de mulheres dessidentes? Elas falam em ter um
lugar à mesa no reino de Deus, mas o que isso quer dizer em relação aos aspectos
políticos e sociais do contexto brasileiro? Em que política e relgião estão sendo
colocados no debate público constatemente. Como se colocam diante do
maisntream, da instituição Igreja, da família? É possível contornar a tensão entre a
moral paralisante da relgião e a possibilidade revoluncionária de se viver a
sexualidade. Ou o que fazem ao reivindicarem a fé plural se constitui apenas como
uma aborsorção do discurso do dominador? Como se alinham em relação a
percepção de diversidade sexual, da defesa dos direitos humanos e o
posicionamento antifascista, como disse anteriormente elas se colocam como
progressistas mas quais os efeitos práticos dessa defesa? E como isso reverbera?

10
Expressão muito utilizada no meio neopentecostal para se referir as manifestações do espírito
santo
Tenho muitas questões sobre o se comenta e prega durante os cultos, mas também
me sinto bastante acolhida, em pela primeira vez vislumbrar uma possibilidade de
exercer minha fé de uma forma plena e tranquila, confesso. Mas como dito por
Musskopf e Ester (2020) ainda é destinado um quarto separado e não dá para
celebrar armários e cristaleiras.

Termino esse trabalho com o print do saqueerlégio, que foi retirado do instagaram
da reverenda Ana Ester, umas das referências do grupo Vale das Bençãos.

Referências
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