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Emilia Viotti da Costa

Coroas de Glória,
Lágrimas de Sangue

COMPANI IIA DAS LETRAS


INTRODUÇÃO

Desde o momento da chegada dos europeus, vindos do outro lado do


oceano, a Guiana tornou-se a terra dos sonhos audaciosos e das realidades
amargas. O Eldorado dos primeiros dias do "descobrimento" , a presa de pira-
tas e bucaneiros, de europeus em busca de riqueza e poder, o butim de nações
européias em competição pela supremacia sobre terras e povos do mundo, foi
transformado em produtor de gêneros tropicais para o mercado internacio-
nal , uma terra de senhores e escravos. Oficialmente incorporadas ao Império
Britânico no início do século x1x, as colônias de Demerara-Essequibo e
Berbice tornaram-se famosas pelo açúcar que produziam.
Em 1823, Demerara foi cenário de uma das maiores revoltas de escra-
vos na história do Novo Mundo. De 10 a 12 mil escravos se sublevaram em
nome de seus "direitos" . A rebelião começou na fazenda Success, que perten-
cia a John Gladstone (pai do futuro primeiro-ministro britânico), e se espa-
lhou por cerca de sessenta fazendas que ocupavam uma faixa de terra inten-
sivamente cultivada conhecida como Costa Leste, que se estendia ao longo
do mar por uns quarenta quilômetros, a leste da foz do rio Demerara. Os
rebeldes foram rápida e brutalmente reprimidos. Mais de duzentos foram
mortos de uma só vez. Muitos foram levados a julgamento e outros tantos
morreram na forca - acompanhados de toda a pompa que a colônia podia
reunir. John Smith, um missionário evangélico que partira da Grã-Bretanha
para Demerara em 1817 para pregar aos escravos, foi acusado de ser o insti-
gador da rebelião. Smith foi julgado por uma corte marcial e condenado à
morte. Este livro conta sua história.

Crises são momentos de verdade. Elas trazem à luz os conflitos que na


vida diária permanecem ocultos sob as regras e rotinas do protocolo social,
por trás de gestos que as pessoas fazem automaticamente, sem pensar em

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seus significados e finalidades. Nesses momentos expõem-se as contradi- que se haviam sublevado quer por terem sido manipulados por missionários
ções existentes por trás da retórica de hegemonia, consenso e harmonia de má-fé , quer por terem sido vítimas de fazendeiros e administradores
social. Foi exatamente o que aconteceu em 1823, em Demerara. A rebelião ímpios. Nenhuma das partes envolvidas admitia que escravos também tives-
de escravos mostrou claramente os limites da lealdade. A sublevação forçou sem sua própria história, uma história que não lhes foi permitido contar
todos a tomar partido e demonstrar seus comprometimentos. Revelou as enquanto não foram presos e levados a julgamento - e mesmo assim, ape-
noções e os sentimentos que criavam laços e identidades ou que lançavam un s nas com severas restrições. Nenhum dos dois lados foi capaz de apresentar
contra os outros. Desnudou as motivações e racionalizações que os diferen- uma narrativa que incluísse a experiência do outro. Isso não significa que tais
tes grupos· usavam na interação social. Tornou pública a vida secreta dos versões da rebelião devam ser abandonadas. As histórias contadas pelos par-
escravos. Retirou a máscara de benevolência e expôs em sua nudez toda a bru- ticipantes revelam suas experiências individuais, seus sonhos e pesadelos.
talidade do poder dos senhores, tornando visível a crescente oposição destes Suas narrativas revelam as percepções e o modo como organizaram suas
ao governo britânico. experiências. Suas histórias se articulam num marco de referência e numa
Os homens e mulheres que de uma forma ou outra participaram da rebe- linguagem ao mesmo tempo constituídos por suas experiências e delas cons-
lião e assistiram a seu desenlace somente puderam definir os acontecimentos titutivos.
em termos muito imediatos e emocionais. Para John e sua esposa Jane, para As autodefinições das pessoas, suas narrativas sobre si mesmas e sobre
seu companheiro missionário John Wray e alguns outros que se identifica- os outros, conquanto significativas, não são suficientes para caracterizá-las
vam com a missão deles, a causa da rebelião era a opressão implacável que os nem para relatar sua experiência, muito menos para explicar um aconteci-
escravos sofriam, e a responsabilidade pelos eventos trágicos cabia ao gover- mento histórico. O que as pessoas contam tem uma história que suas palavras
nador John Murray e aos fazendeiros que, como Michael McTurk, vinham e ações traem, mas que suas narrativas não revelam imediatamente; uma his-
fazendo o trabalho do diabo. Por outro lado, o governador McTurk e a maio- tória que explica por que usam as palavras que usam, dizem o que dizem e
ria dos fazendeiros viam nos evangélicos os principais culpados. Os missio- agem como agem; uma história que explica os significados específicos por
nários expressavam sua compreensão da rebelião com palavras como "peca- trás da universalidade ilusória sugerida pelas palavras- uma história de que
do", "cobiça", "tirania" e "opressão" . Os fazendeiros, as autoridades muitas vezes elas próprias não se dão conta. Suas afirmações não são sim-
coloniais e a imprensa local falavam de "traição", "trapaça" e "fanatismo". plesmente declarações sobre a "realidade", mas comentários sobre experiên-
Os dois lados usavam esses termos como se eles tivessem vida própria e cias do momento, lembranças de um passado legado por precursores e ante-
pudessem, tal espíritos malignos, fazer história. Os dois lados buscavam em cipações de um futuro que desejam criar.
sua experiência passada alguma coisa que pudesse validar suas ações e As narrativas produzidas por fazendeiros, mi ssionários e autoridades
demonstrar sua verdade. Quando tentavam ultrapassar o imediatismo de sua reais expressavam suas posições: sua classe, sua religião, sua etnia, seu sta-
experiência, os missionários falavam dos males do "sistema" escravista, tus, seu gênero e o papel que cada um desempenhava na sociedade. Essas
enquanto os fazendeiros e as autoridades culpavam os dissidentes, os aboli- categorias, entretanto, são construídas historicamente, não são essências
cionistas, a imprensa britânica e os membros do Parlamento que haviam dado imutáveis e primordiais das quais se possam deduzir as idéias e o comporta-
ouvidos àqueles que argumentavam a favor da emancipação. ' mento das pessoas. Elas significam coisas diferentes em épocas e lugares
As primeiras impressões da rebelião foram registradas nas muitas pági- diferentes. Ser um fazendeiro ou um escravo em Demerara em 1823, quando
nas escritas por alguns dos participantes e em livros, panfletos, artigos de o governo britânico, sob pressão dos abolicionistas, estava tomando medidas
revistas e documentos oficiais publicados na época. Esses textos seriam mais para "melhorar" as condições de vida dos escravos numa preparação para a
tarde cuidadosamente reunidos e preservados pelas instituições a que cada emancipação, não era o mesmo que viver lá cinqüenta anos antes, quando a
lado se ligava, criando-se assim um acervo notável que, com o tempo, cres- escrav idão parecia ser uma instituição estável. Ser ministro da Igreja na
ceria mediante a anexação de documentos gerados na Grã-Bretanha, onde os Inglaterra era uma coisa, pregar aos escravos em Demerara era outra. Pregar
eventos de Demerara tiveram forte repercussão. aos brancos e negros livres na cidade era bem diferente de pregar nas fazen-
Como era de se prever, os brancos monopolizaram o registro histórico. das e viver entre os escravos. Nascer na África e depois ser transportado para
Os dois lados em debate viam os escravos como cifras: homens e mulheres o Novo Mundo e vendido como escravo não era o mesmo que nascer escravo

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em Demerara. E ser mulher era ter problemas e oportunidades que os homens que resultaram na expulsão de numerosos trabalhadores rurais, o desenvol-
não tinham. vimento do comércio, do tráfego marítimo e das manufaturas na Grã-Bre-
Identidades, linguagem e significados são produtos da interação social tanha haviam minado a base social tradicional da autoridade dos bem-nasci-
que ocorre num sistema específico de poder e relações sociais, com protoco- dos e posto à prova a ideologia da deferência e do patronato. O desafio das
los, sanções e rituais próprios. As condições materiais da vida das pessoas, a camadas populares, o facciosismo dos governantes - divididos por razões
maneira como elas utilizam e distribuem os recursos humanos e ecológicos, de interesse, metas e convicção entre os que apoiavam a tradição e os que pre-
as maneiras concretas como se exerce o poder são tão importantes para deter- gavam as reformas - e as lutas políticas daí decorrentes, agravadas pelos
minar a formação da identidade, definir a linguagem e criar significados debates em torno da Revolução Francesa e pela guerra contra a França, abri-
quanto os códigos sociais que mediatizam a experiência ou as convenções ram as portas para noções e políticas novas. Essas tendências não só ameaça-
usadas para definir o que é real. Com efeito, as condições materiais e os sis- riam a autoridade dos senhores em Demerara (e em outros lugares do Caribe
temas simbólicos estão intimamente relacionados. britânico), como motivariam o debate sobre o sistema escravista, insuflando
As sociedades escravistas tinham muito em comum. A vida de um escra- nos escravos a esperança de emancipação precisamente num momento em
vo em Demerara era sob muitos aspectos semelhante à vida de um escravo em que os senhores intensificavam o ritmo de trabalho nas fazendas. Fora desse
Cuba, no Sul dos Estados Unidos ou no Brasil. Mas havia também diferenças contexto mais amplo, seria impossível compreender a sublevação dos escra-
significativas, conforme a natureza da plantação, o grau de desenvolvimento vos, as ações dos missionários e as reações dos colonizadores.
tecnológico, o traçado e as dimensões das fazendas, a porcentagem de escra- Mas há um outro lado na história. A sociedade de Demerara estava
vos e negros livres na população total, o perfil demográfico da população mudando internamente. Havia um confronto crescente entre senhores e
escrava, o lugar de origem e a cultura dos escravos, as características de elas- escravos. Arrancados de sociedades organizadas em função do parentesco ou
sedo proprietário (se ausente ou residente, por exemplo), e as instituições reli- do tributo, com suas regras, normas e convenções, os escravos haviam sido
giosas, políticas e administrativas criadas por eles. Todas essas condições forçados a redefinir suas identidades no regime da escravidão - embora não
mudaram com o tempo. E, mais importante, as fazendas em toda parte produ- meramente como escravos. A partir de roteiros trazidos do passado, modifi-
ziam primordialmente para um mercado internacional, e isso as expunha a cados pelas novas condições e pelo novo ambiente, os escravos teceram nar-
contatos de todo tipo com o mundo exterior. Como nos Estados Unidos, no rativas novas sobre o mundo, criaram novas formas de parentesco e inventa-
Brasil ou em quaisquer outras colônias européias, não foram apenas as con- ram novas utopias . Não tentaram simplesmente recriar o passado, mas
dições locais que deram forma às vidas dos homens e mulheres que viviam em controlar o presente e modelar o futuro. Nas interações diárias com senhores
Demerara - escravos, administradores, senhores, missionários e autorida- e missionários, os escravos se apropriaram de símbolos cujo propósito origi-
des reais. O mundo exterior os influenciava diariamente. As lutas políticas na nal era sujeitá-los, e converteram-nos em instrumentos de sua emancipação.
Grã-Bretanha tinham tanto impacto sobre suas vidas quanto as flutuações do Nesse processo, não apenas transformaram a si mesmos como transforma-
mercado, as decisões tomadas pelo governo britânico e as noções sobre reli- ram todos a sua volta e ajudaram a traçar o curso da história.
gião, riqueza e trabalho, crime e castigo, alfabetização e educação, comércio Os missionários encontraram uma situação já polarizada que só se com-
e império, cidadania e governo. Como indivíduos não são portadores passi- plicaria com sua presença. Vendo a si mesmos como instrumentos da divina
vos de ideologias, missionários, colonos, escravos e autoridades reais cria- providência, haviam chegado da Inglaterra imbuídos de forte sentimento
vam seus próprios roteiros dos discursos disponíveis e do material fornecido missionário, conduzidos por suas convicções, cheios de certezas sobre como
por seu passado e pelas experiências do presente. Entretanto, todos eram pri- a sociedade deveria ser, e determinados a mudá-la para atingir o ideal do povo
sioneiros de um processo que em grande parte escapava a seu controle. de Deus que os inspirava. Ao chegar, ignoravam as noções de propriedade, as
O desenvolvimento desigual, característico do mundo moderno, criava regras, os rituais e as sanções que regulavam as relações entre senhores e
uma contradição profunda entre a colônia e a metrópole. Enquanto uma escravos. Encontraram uma "realidade" revestida de sinais e símbolos que
tornara-se cada vez mais dependente do trabalho escravo, a outra tornara-se desconheciam, uma "realidade" que somente podiam avaliar por meio de
cada vez mais uma terra de trabalhadores "livres". Durante o século XVIII, a eus próprios códigos. Como era de esperar-se, violaram muitas regras e pro-
redefinição e a expansão do domínio imperial, as transformações no campo vocaram o ressentimento e a irritação de senhores e administradores.

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John Wray e John Smith foram enviados a Demerara para converter os punições e queixas, anteriores e posteriores à rebelião. Diversos inquéritos
"gentios", mas essa noção abstrata não os preparara para lidar com seus reba- parlamentares e os documentos oficiais publicados a mando da Câmara dos
nhos. Pensavam encontrar "criaturas" inocentes e ignorantes à espera da sal- Comuns, e que contêm estatísticas preciosas e outras informações sobre a
vação, e em vez disso se depararam com um povo cujo sistema de significados colônia, encontraram abrigo em bibliotecas espalhadas pelo mundo afora.
ignoravam - homens e mulheres de carne e osso, amadurecidos pelas lutas Embora Demerara tivesse uma pequena população de aproximadamente
entre senhores e escravos. Convencidos da superioridade de sua religião e da 2500 brancos, que viviam cercados por número idêntico de negros livres, e
cultura européia, os missionários viram-se divididos por dois impulsos con- por 77 mil escravos, a colônia tinha três jornais que,juntamente com os alma-
traditórios: um que os levava a enfatizar a alteridade dos escravos, outro que naques anuais, guias, relatos de viajantes e manuais agrícolas, fornecem um
os compelia a afirmar a universalidade dos seres humanos e a reconhecer os quadro vívido e detalhado da vida na colônia.
escravos como irmãos em Cristo. Os missionários foram para Demerara Tal variedade e abundância de fontes me permitiu adotar uma estratégia
imbuídos da idéia de que os escravos eram selvagens a serem civilizados, mas narrativa de certo modo reminiscente do "romance polifônico" e contar a his-
logo descobriram a "humanidade" nos escravos e a selvageria nas pessoas de tória da rebelião de múltiplos pontos de vista - sem, no entanto, abrir mão
"sua própria espécie". Na capela, os missionários criaram um espaço onde dos privilégios e responsabilidades do narrador. Procurei unir, nessa aborda-
escravos de diferentes fazendas podiam reunir-se legitimamente para celebrar gem, a macro e a micro-história. Minha decisão nasceu da convicção de que
o fato de serem humanos e iguais enquanto filhos de Deus. Eles se apropria- é impossível compreender uma sem a outra. Mas nem a história é o resultado
ram da linguagem e dos símbolos dos missionários e transformaram as lições de uma "ação humana" misteriosa e transcendental, como querem uns, nem
de amor e redenção que recebiam em promessas de liberdade. Inflamados por os homens e as mulheres são fantoches de "forças" históricas, como querem
rumores de emancipação e convencidos de ter aliados na Inglaterra, os escra- outros. As ações humanas constituem o ponto em que se resolve momenta-
vos aproveitaram a oportunidade para tomar a história nas próprias mãos. neamente a tensão constante entre liberdade e necessidade.
Como e por que o fizeram são questões que este livro tenta responder. Estamos tão habituados a ver a história como um produto de categorias
A rebelião dos escravos e o julgamento de John Smith tiveram repercus- reificadas, a mencionar "variáveis" e "fatores", e a usar abstrações como
sões importantes na Grã-Bretanha, onde evangélicos, abolicionistas e antia- capitalismo, abolicionismo, evangelização e similares, que muitas vezes nos
bolicionistas tomaram partido a favor ou contra os missionários em salas de esquecemos de que a história é feita por homens e mulheres, embora eles a
reuniões, na imprensa e no Parlamento. A rebelião, o julgamento e os deba- façam sob condições que não escolheram. Em última instância, o que interes-
tes suscitados geraram muitos documentos . Os diários dos missionários e sua sa é a maneira como as pessoas interagem, como pensam e agem sobre o mun-
do e como, ao transformar o mundo, transformam a si mesmas.
volumosa correspondência- registrando a vida cotidiana nas fazendas e sua
Enquanto historiadores, entendemos que a história nunca se repete -
interação com escravos, administradores e autoridades locais - foram cui-
mas transformamos os eventos históricos em metáforas e vemos a universa-
dadosamente preservados pelas sociedades missionárias. As reuniões do
lidade na unicidade. Do contrário a história seria um museu de curiosidades
conselho de diretores da London M issionary Society, as minutas das reuniões
e os historiadores meros antiquários. A rebelião de escravos de 1823 e odes-
dos comitês encarregados de selecionar os missionários e os trabalhos dos
tino trágico do reverendo Smith têm um valor universal. Fazem-nos lembrar
candidatos, a Evangelical Magazine e outros órgãos missionários - que
os muitos missionários e leigos que, imbuídos de um sentido de missão, com-
descreviam o progresso das missões - oferecem uma visão valiosa do trei-
pelidos por um compromisso profundo com a fraternidade humana e uma
namento dos missionários e de seu trabalho. Os despachos e registros do
forte paixão pela justiça, tornaram-se bodes expiatórios em outros tempos e
Colonial Office [Ministério Colonial], a correspondência dos governadores,
lugares. Também nos lembram que a luta dos escravos por liberdade e digni-
as cartas dos negociantes, fazendeiros, soldados e milicianos ·que participa-
dade continuou a ser reencenada em novos palcos, sob novas roupagens e
ram da repressão foram todos preservados no Public Record Office [Arquivo
com novos textos, muito tempo depois da "emancipação". Por isso vale a
Público]. Lá também se acham guardados os processos dos julgamentos, as
pena contar a história de John Smith e da rebelião dos escravos de Demerara.
cópias das minutas da Court of Policy [Tribunal de Políticas] e da Court of
Criminal Justice [Tribunal de Justiça Criminal] de Demerara e os livros dos
fiscais e protetores de escravos, que registravam os "delitos" cometidos, as

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OCEANO
t
ATIÀNI'ICO

GUIANA
FRANCESA /,i

o
BRASIL

Mar do Caribe

OCEANO
ATLÂNTICO
]

BRASIL
]
OCEANO
PACÍFICO

GUIANA
E PAÍSES VIZINHOS
1
MUNDOS CONTRADITÓR IOS:
COLONOS E MISSIONÁRIO S

Todo tempo é tempo de mudança - mas alguns são mais do que outros.
Todo tempo é tempo de conflito - mas há momentos hi stóricos em que as
h.: n. ões e os conflitos isolados que caracterizam a experiê ncia cotidiana subi-
lamente se aglutinam num fen ô meno mai s amplo e abrangente, que ameaça
11 "ordem social". Nesses momentos as queixas individuai s havia muito exis-
1 ·nte se tran sformam numa crítica global ao sistema de poder. Desafi am-se
as pressuposições das elites acerca do mundo. O que foi moral torna-se imo-
ral; o que foi certo torna-se errado; o que foi justo torna-se injusto. Novos di s-
·11rsos sobre a soc iedade dão consistência e organização a noções "revolucio-
11 6ri a ", reivindi ca ndo o statu s de verdade. Esses são tempos perigosos e
·., 1imul antes: tempos de herói s e mártires, heresias e ortodoxias, revolução e
1L'pr s ão . Algun s arriscam suas vidas em nome do mundo nascente, outros,
·111 defesa do mundo que está morrendo. Te mpos como esses são tempos de
1 ·volução. Mas quando os grupos no poder se apropriam dos di scursos radi-
1·11i s, ex purgando-os de sua radicalidade, e tentam reduzir as pressões vindas
1k· baixo por meio de reformas, cooptação e repressão - enquanto formam
11 0 os blocos de poder ou coalizões - , as revoluções soc iais são por vezes
r i1adas . Se há um preço a pagar pelas revoluções, também há um preço a
p11l'a r pelas reformas e pela acomodação. Entre os governantes, aqueles que
11 110 sabem aceitar as inovações serão deixados para trás; entre os governados,
1111 :- pouco serão beneficiados , mas muitos outros não verão nenhuma
11111dança fundamental. Para estes, o que muda e m tai s momentos hi stóricos
1' 11 :-isl ma de exploração e repressão. Foi num tempo como esse que John
' 111i1h · s ·us companheiros mi ssionários viveram.
1 11rante todo o século xv111 falou-se em reforma na Grã-Bretanha. Mas
P p1 i111 ·iro go lpe significativo recebido pela ordem social tradicional foi a
l11d1·pc 11<.P ncia das co lônias americanas, que originou amplo debate sobre a
111 li1'11o d · ·idadani a e sobre o is tema de monopólios e privilégios que carac-

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teri zara as relações entre as nações européias e as colônias. O segundo foi a j a e do rei , turbas bem orquestradas confrontavam radicais e di ssidentes.
Revolução Francesa, que pôs em questão as relações entre Estado e socieda- Espiões se infiltravam nas associações radicais. E, para rebater os argumen-
de, governantes e governados. Os acontecimentos na França funcionaram tos dos reformistas, os conservadores fabricavam folhetos populares. O tex-
como um catalisador. Na Inglaterra, revigoraram uma tradição retórica liber- to de Hannah More, Vil/age Politics: A Dialogue Between Jack Anvill the
tária e igualitári a que vinha desde os Levellers, Dissenters e Common- Blacksmith and TomHod the Mason [A política da vila: um diálogo entre Jack
wealthmen .* Velhas aspirações, velhos debates, receios e tensões encontra- Anvill, o ferreiro, e Tom Hod, o pedreiro] , foi um grande sucesso, e seus pan-
ram uma nova linguagem, argumentos novos e um equilíbrio de forças fletos venderam até mai s do que os de Paine.6
modificado. 1 A sociedade inglesa viu-se repentinamente polarizada, dividi- Por toda a Inglaterra homens e mulheres do povo reuniam-se para dis-
da entre os que aclamavam a Revolução Francesa como o fim de toda tirania cutir questões políticas e sociais e fazer ouvir suas vozes. Entre as questões
e corrupção e os que a viam como o início da anarquia e do caos. Por fim , a proeminentes estava a abolição do tráfico de escravos. A moção de William
Revolução Haitiana, ao desafiaro poder dos senhores sobre os escravos, trou- Wilberforce, visando acabar com o tráfico , submetida à Câmara dos Comuns
xe à baila a questão da escravidão. O significado simbólico das três revolu- em 1789, despertou grande atenção do público. A proposta foi postergada por
ções só pode ser compreendido plenamente se levarmos em conta não só as manobras parlamentares dos oponentes e acabou não sendo aprovada. Em
profundas transformações sociais e econômicas que ocorriam na Grã-Bre- 1791 , ao tentar apresentar uma nova moção nesse sentido, Wilberforce foi
tanha como também a redefinição e expansão do império britânico.2 novamente derrotado. Um ano após, apoi ado por mais de quinhentas peti ções
Poucas pessoas que vivessem na Inglaterra entre 1780 e 1830 poderiam vindas de todo o país, e le conseguiu ter sua moção aprovada na Câmara dos
ter permanecido indiferentes ao debate político. Por todos os recantos da Comuns, mas a proposta foi derrotada na Câmara dos Lordes.7 Os abolicio-
nação di sc utiam-se temas como igualdade, representação, liberdade, tirania, ni stas voltaram-se então para uma nova estratégia, ressaltaram os horrores do
monopólios, privilégios corporativos e corrupção. As novas idéi as desafia- trabalho escravo e advogaram o boicote ao consumo do açúcar e do rum das
vam uma ordem baseada na deferência, na hierarquia e no patronato. Agravos Antilh as. O s apelos aboli c ioni stas ao público tiveram grande impacto.ij
e ressentimentos de longa data encontravam expressão numa grande quanti- Quando Smith e seus companheiros missionários atingiram a idade em que
dade de livros, panfletos e volantes, sendo talvez o mai s notável o panfleto de as crianças começam a olhar para além dos limites de suas casas, a campanha
Tom Paine, Os direitos do homem. Publicada em 1792, rapidamente a obra pela abolição hav ia conquistado o coração do "homem comum". Criaram-se
ganhou enorme popularidade, vendendo 200 mil exemplares em seis meses. 3 comitês abolicionistas em vilas e cidades como Birmingham, York, Worces-
Associações radicais de classe média que lutavam por reformas e pelos direi- ter, Sheffield, Leeds, Norwich, Northampton, Exeter e Falmouth. Seus mem-
tos do homem surgiam por toda parte. As idéias radicais encontravam solo bros eram donos de manufaturas, negociantes, médicos, clérigos, advogados,
fértil entre as populações urbanas, particularmente em centros indu stri ais funcionários e artesãos. 9 Operários e operárias vinham também sendo recru-
como Manchester, Sheffield e Birmingham . Tentando atrair o número cres- tados em números crescentes para os qu adros abolicionistas. 1º De L788 a
cente de alfabe ti zados entre as ca madas mai s pobres, a imprensa radical 179 1, o número de assinaturas nas petições pel a abolição do tráfico de escra-
publicava grande número de panfletos criticando as in stituições políticas e vos subiu de 60 mil para 400 mil. Em Manchester, numa população total de
estimulando o debate. 4 A campanha para a rejeição dos Test and Corporations 60 mil habitantes, 20 mil pessoas (virtualmente todos os adultos da cidade)
Acts** levou os di ssidentes a assumir a liderança da mobilização popul ar.5 ass inaram uma petição, evidenciando tanto a capacidade de mobilização dos
Não tardou , porém, que os conservadores cerrassem fileiras em defesa do abolicionistas quanto a compreensão, pelos peticionários, do caráter univer-
establishment. Reflexões sobre a Revolução Francesa ( 1790), de Edmund sa l da mensagem revolucionária de liberdade e igualdade. 11 Como afirmou
Burke, foi a fonte de inspiração desse grupo. Por toda parte, em nome da lgre- Thomas Hardy, um dos líderes radicais, os direitos do homem não se confi-
navam à Inglaterra, mas "se estendiam a toda a raça humana, pretos e bran-
(*) Nomes de grupos políticos radicais outrora existentes na In glaterra. Os Leve ll ers ·os, poderosos e humildes, ricos ou pobres" . 12 A abolição estava firmemente
atuaram no século xv11. Advogavam o sufrágio masculino uni versal, a democracia parlamentar vin cul ada à questão da reforma na metrópole. Na mente de muitas pessoas
e a tolerância religiosa. Dissenters era o nome atribuído a grupos protestantes dissidentes. Os ''d povo" , a aboli ção do tráfico de escravos estava li gada aos princípios
Commonwealthmen eram republicanos partidários de Oliver Cromwell .
d mocráticos, e a liberdade dos escravos aos direitos dos homens livres.
(**) Leis sobre Fé e Corporação. (N. T.)

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Uma onda de radicalismo que parecia encontrar grande receptividade ção do tráfico de escravos foi reaberta. O Comitê Abolicionista foi reativado
entre artesãos e operários fatalmente alarmaria os conservadores. Para estes, em 1804 e em 1806 promoveu uma campanha voltada tanto para os eleitores
tudo parecia - como diria Charles Dickens mais tarde - uma "obliteração como para os legisladores. A questão foi novamente debatida no Parlamento
de marcos e um abrir de comportas e fendas na estrutura da sociedade". Na e na imprensa. Em 1805 o governo britânico decretou a proibição do tráfico
opinião dos conservadores, "o país se desmantelava". 13 Para eles, a mobiliza- de escravos para as colônias recentemente conquistadas. Finalmente, em
ção popular era uma ameaça à qual responderam rapidamente com uma série 1807, foi aprovado pela Câmara dos Comuns um projeto de lei considerando
de medidas repressoras destinadas a controlar a opinião pública e restringir ilegal todo navio britânico que se envolvesse no tráfico de escravos a partir de
as organizações populares. Em 1792, William Pitt, que cinco anos antes Iº de janeiro de 1808. Três semanas depois de o rei ter aprovado a abolição do
apoiara uma moção a favor da abolição do tráfico de escravos, já negociava tráfico, um grupo de altas personalidades, sob os auspícios do duque de
com Robert Dundas no sentido de refrear os radicais. Até mesmo Wilber- Gloucester, e incluindo o bispo de Londres, George Canning, Henry
force, que inicialmente recorrera ao apoio popular, passou a preocupar-se, ao Brougham, Thomas Clarkson, Thomas Babington Macaulay, William Pitt,
ver esse apoio acompanhado de entusiasmo tão vigoroso. 14 William Wilberforce, Granville Sharp, James Stephen e outros, fundou a
Já em maio de 1792, o governo encorajava os magi strados a controlar African lnstitution -com o propósito explícito de fiscalizar a medida e pro-
com mais rigor as reuniões "sediciosas". Não tardou muito para que o cami- mover a "civilização" na África. '5 Todavia, embora as vozes partidárias das
nho trágico tomado pela Revolução Francesa desse novos argumentos aos reformas fossem novamente ouvidas, os radicais continuaram a ser mantidos
conservadores e pusesse muitos radicais na defensiva. A execução de Luís sob controle severo.
xv1 e os Massacres de Setembro pareceram confirmar as piores previsões dos A repressão enfraqueceu o movimento radical, mas não solucionou a
inimigos da Revolução. E quando a Inglaterra declarou guerra à França, em questão que lhe dera origem. Cerceado em suas manifestações públicas, o
1793, a crítica à ordem política e social pôde ser rotulada de traição e os adep- radicalismo britânico continuou a percorrer um caminho subterrâneo nos
tos da Revolução Francesa passaram a ser vistos como traidores. trinta anos subseqüentes, emergindo aqui e ali sob diferentes formas, ora em
A repressão foi a arma principal usada pelos conservadores para conter levantes provocados pela fome, ora nas campanhas por abaixo-assinados em
a onda de radicalismo. Em 1794 o Parlamento suspendeu o habeas-corpus favor das reformas. O fluxo foi contínuo desde os Luddites* de 1811, passan-
para que os "sediciosos" pudessem ser julgados sem dificuldades. E em do por Peterloo, ** em 1819, até os Chartists*** de 1830. '6 Os gastos com a
1795, depoi s que a multidão que saiu às ruas pedindo pão e paz apupou o rei guerra, o bloqueio napoleónico e a crise econômica decorrente,juntamente
na abertura do Parlamento, duas novas leis foram aprovadas: o Seditious com o declínio do comércio britânico, a inflação, a depreciação da libra, as
Meetings Act, * que proibia reuniões de mais de cinqüenta pessoas, assim falências e paralisações, as sucessivas colheitas ruins - tudo isso mantinha
como palestras fora das paredes acadêmicas sem a devida autorização e o vivo o radicalismo. Em Londres e nos novos centros industriais, o povo saiu
Treasonable Practices Act, ** que definia a lei da traição em termos mais muitas vezes às ruas para protestar contra as privações que lhe haviam sido
estritos. A essas medidas repressivas seguiu-se maior rigor na censura. Um impostas - primeiro pela guerra, depoi s pela rápida mudança econômica e
após outro, líderes radicais, editores e autores foram levados a julgamento. social. E essa associação de privações, repressão e protestos deu nova força
Como era previsível, diante de tamanha repressão houve um recuo do movi- ao movimento evangélico.
mento abolicionista. As moções favoráveis à reforma apresentadas ao Parla-
mento foram sucessivamente derrotadas. Aos olhos de muitos, não havia (*) Membros de um grupo de operários ingleses ativo entre 1811 e 1816, organizado para
diferença entre reforma e revolução. destruir a nova maqui naria poupadora de mão-de-obra com o fito de impedir seu uso.
Para os opositores da escravidão, a situação tornou-se mais auspiciosa (**) No massacre de Peterloo (a lusão sarcástica a Waterloo) a cavalaria investiu contra
quando Napoleão tentou restaurar a escravatura no Haiti. O abolicionismo 60 mil pessoas reunidas no St. Peter's Fields, em Manchester, em 16 de agosto de 1819, para
exig ir a abolição das corn-laws e a reforma eleitoral. Onze pessoas morreram e centenas fica-
voltou a ser uma posição "aceitável" na Grã-Bretanha e a questão da aboli-
ram feridas. (N. T.)
(***) O Chartism foi um movimento em prol da reforma parlamentar. Seu nome deriva
(*) Lei sobre Reuniões Sediciosas. (N. T. ) da People's Charter, publicada em 1838, exigindo o sufrágio universal, o voto secreto e a inde-
(**) Lei sobre Práticas de Traição. (N . T.) ni Jade parlamentar (N. T.)

26 27
Foi nessa atmosfera de revolução e repressão, intensa polarização de subserviência, mas pode também justificar a rebeldia. As contradições e
classes e mudança social e econômica - característica dos estágios iniciais ambigüidades nos textos bíblicos, e seu caráter profundamente metafórico,
da Revolução Industrial-, que John Smith atingiu a maioridade. Como mui- dão lugar a interpretações e usos múltiplos. Como qualquer outra mensagem
tos outros de sua geração, ele encontrou no cristianismo evangélico um antí- - talvez até mais do que outras - , a mensagem religiosa é eminentemente
doto para as ansiedades e confusões desencadeadas por tais processos. O dis- simbólica. Seus símbolos serão decodificados com referência à experiência
curso evangélico, de fraternidade universal, prometia eliminar o fosso entre individual. Quando homens e mulheres oprimidos se reúnem-imbuídos de
ricos e pobres, poderosos e despossuídos, sem as dores e os custos de uma noções que os levam a ver o mundo como um campo de batalha onde os sol-
revolução violenta. 11 dados de Deus lutam contra Satanás e seus seguidores-, ninguém pode di-
Durante a guerra contra a França, o número de adeptos do metodismo zer onde essa luta terminará. Eles talvez queiram voltar ao passado (tal como
aumentou drasticamente. Esse fato coincidiu com o declínio do fervor revo- o imaginam) ou apegar-se ao que têm no presente, ou mesmo tentar saltar
lucionário em todas as seitas não conformistas. 18 É possível argumentar, para um futuro utópico. Podem seguir todo aquele que se proclame salvador
como E. P. Thompson, que esse novo movimento religioso era uma tentativa -como muitas vezes acontece em movimentos milenari stas - , mas podem
de seus líderes de domar o impulso radical; que, ao promover a lealdade entre também vir a questionar a legitimidade de seus governantes. 22
as classes médias e a subordinação e o trabalho nas camadas mais baixas da A fantasia e o desejo do povo poderiam facilmente derrotar os propósi-
soc iedade, eles pretendiam lutar contra os inimigos da ordem estabelecida e tos hegemônicos dos dirigentes metodistas - ainda mai s porque havia uma
melhorar os padrões da " moralidade" pública. Esse talvez tenha sido o pro- contradição fundamental entre a mensagem de fraternidade humana que
pósito de grande parte da hierarquia metodi sta na época. É provável que ela transmitiam e a confrontação social crescente provocad a pela mudança eco-
desaprovasse os tumultos populares e esperasse fomentar em suas igrejas nômica e social. No final, é possível que as classes dirigentes britânicas
noções que pudessem propiciar o que Thompson chama "componente psí- tenham se beneficiado da ética pregada pelos dissidentes e evangélicos. Mas
quico da disciplina de trabalho do qual a manufatura mai s necessitava". De os artesãos e operários que afluíram às igrejas metodi stas tinham seus pró-
fato, são muitas as evidências nesse sentido. prios motivos, particularmente aqueles que aderiram aos grupos mais radi-
Mas há outro lado a con iderar. O desejo dos dirigentes da Igreja de cais-Nova Conexão e Metodistas Primitivos-e aqueles, como Smith, que
impor uma ortodoxia é às vezes derrotado pel a diversidade da experiência em números crescentes se afiliaram a outras seitas evangélicas não confor-
das camadas subalternas. Isso talvez explique as cisões entre os metodi stas mistas. Os conceitos de vocação, liberdade, autodisciplina, autoconfiança,
- o aparecimento, em primeiro lugar, da Nova Conexão, em 1797, e, alguns frugalidade e sobriedade, valores que os metodi stas e outros grupos sectários
anos depoi s, do s Metodi stas Primitivos, que organizaram suas igrejas de e evangélicos pregavam, exerciam grande atração sobre amplos setores das
maneira mais democrática. 19 "À medida que os diferente grupos se afastavam classes operárias. E a submissão e o conformismo aparentes dos pobres -
da Conexão Wesleyana (q ue rapidamente se tornava uma instituição rígida), que Thompson atribui à disseminação do metodismo- podem ter sido mai s
apareciam formas mai s populares de religião [.... ] uma alternativa da classe um produto da sensação de desamparo e medo que os aco mpanhava do que
operária à religião da igreja."2t1 Desse modo surgiram interpretações novas e da religião que professavam.23
mai s radicais da Bíblia - interpretações que foram levadas a todos os cantos Os artesãos, operários ou comerciantes desco ntentes com a ordem
da Grã-Bretanha por um número crescente de pregadores itinerantes recruta- social tinham duas opções: podiam seguir os radicais ou aderir aos evangéli-
dos entre as cl asses populares. 21 cos não conformistas. Os radicais levantavam a questão da cidadania, atri-
As pessoas sempre traduzem as men sagens culturais em termos de sua buíam todo o mal à ordem social e exortavam homens e mulheres a lutar para
própria experiência. Um sermão pode significar uma coisa para o pregador e reformar a sociedade. Eles falavam às mentes dos trabalhadores. Os dissiden-
outra muito diferente para a congregação. E é possíve l também que nem tes evangé licos invertiam as relações entre a opressão e o mal. Faziam do mal
todos os membros da congregação ouçam o mesmo sermão da mesma manei- a fonte de toda opressão. Exortavam as pessoas a reformar suas almas, pro-
ra. O significado talvez seja um para os ricos e outro para os pobres. Dois pre- metendo-lhes que essa reforma traria uma nova ordem social. Os evangélicos
gadores da mesma seita podem extrair da mesma passagem da Bíblia duas fa lavam aos corações. É fácil imaginar que para muitos a tarefa de reformar
li ções diferentes. Além disso, a mensagem bíblica é ambígua. Pode ensinar a sociedade deva ter parecido naquele momento mais esmagadora e menos

28 29
compensadora do que a tarefa de reformar as próprias almas, particularmen- ~·: o que contêm. Queixava-se ele de que os trabalhadores do campo conver-
te porque acreditavam que nesse esforço teriam Deus a seu lado. Os di scur- 1idos ao metodi smo espalhavam a idéia de que "O milho e todos os outros fru-
sos dos radicai s e dos evangélicos dissidentes sobre o mundo eram apresen- ios da terra crescem pela vontade da Providência e são por Ela destinados aos
tados como visões e práti cas alternativas. Às vezes, contudo, havi a pobres tanto quanto aos ricos" . Os trabalhadores estavam menos sati sfeitos
convergências surpreendentes. 24 Quando os evangéli cos identificavam a pie- ·0 111 seus salários, meno s di spostos "a trabalhar as horas suplementares
dade e a virtude com um grupo social e o pecado com outro, podiam facil- r ·q ueridas pelos seus patrões". Pior, em vez de "recuperarem- se" para o tra-
mente se assemelhar aos radicais. Não foi por acaso que muitos abolicionis- balho do dia seguinte, os trabalhadores se exauriam aos domingos andando
tas e líderes sindicais foram evangélicos e di ssidentes. muitos quilômetros para ouvir um pregador. Durante a semana, à noite, em
É fácil compreender o apelo exercido por metodi stas e outras seitas vez de ir diretamente para a cama, gastavam fogo e velas cantando hinos -
evangé licas não conformistas sobre a popul ação de trabalhadores na algo que o pastor vira horrori zado "em alguns dos casebres mais pobres mes-
Ingl aterra durante os anos de guerra, repressão e mudanças econômicas. 25 mo à hora tardia de nove da noite". 27
Eles deve m ter aj udado os operários a afastar suas ansiedades, preservar o Esses receios e essa irritação não eram infundados. Num período de pro-
radicalismo sob formas "aceitáveis" e defender-se das forças destrutivas do funda pol arização de classes, a linguagem da fraternidade universal, traída
mercado. Devem ter aj udado os operários a proteger-se e a proteger suas pela experiência cotidiana, era potencialmente subversiva (ainda mai s numa
famílias - por intermédio de educação, autodisciplina, economia e sobrie- sociedade escravista). A fraternidade que ela postulava, mesmo estando vol-
dade-do desemprego, da fome, da embriaguez e da prostituição. Às mulhe- tada para a redução das tensões sociais, podia de fato agravá-las. Dependen-
res, os evangéli cos ofereciam um meio de manter suas famílias unidas, com do da " práxis" política como um todo, o que começara como um processo de
maridos e filhos longe da taberna e das muitas "seduções" da cidade. Os evan- alienação poderia, a longo prazo, levar à emancipação. A mensagem evangé-
gélicos devem ter ajudado as pessoas a preservar o senso de dignidade eva- lica deu aos oprimidos um código para julgar seus opressores. Suas preten-
lor num mundo onde a humilhação era a experiência cotidiana. Devem ter sões à universal idade minavam as premissas que sustentavam as diferenças
dado aos que se sentiam impotentes um sentido de força pessoal e aos que se sociais e forneciam uma utopia pela qual julgar o mundo . Não por acaso, mui-
desesperavam, esperança. Para os trabalhadores migrantes - numerosos na tos mi ssionários evangélicos, parti c ul armente os di ss identes, que davam
In g laterra naqu e le momento - as igrejas evangélicas não co nformi stas grande autonomia a suas congregações - como os congregacionist as, por
devem ter oferecido uma comunidade e apoio num mundo estranho e hostil. 2" exemplo-, eram vistos por setores das classes dirigentes como uma amea-
Os não conformistas desafiaram a Igreja Anglicana e (implícita ou ex plicita- ça. Os colonos de Demerara não eram os únicos a suspeitar que o Evangelho
mente) o poder e a autoridade por ela representados. Assim, quando homens pregado pelos missionários poderia ser usado contra os senhores.
como Smith iam para outras partes do mundo, levavam consigo um a men sa- O ponto de vista da maioria dos colonos foi brilhantemente definido
gem de liberd ade , ig ualdade e fraternidade e um se ntido de justiça que num artigo da The Essequebo and Demerary Royal Gazette 28 un s poucos
podiam facilmente voltar-se contra a ordem estabelecida . Isso seria particu- meses depois da chegada a Demerara de doi s missionários da London Mis-
larmente verdadeiro nas sociedades escravistas, onde a ética implícita nesse sionary Society. O autor condenava "os pregadores precários de uma doutri-
novo cristianismo evangélico pareci a não só deslocada, mas profundamente na pretensamente esclarecedora, que anunciavam direitos iguais, liberdade
subversiva. Não admira que a maiori a dos proprietários de terras se opusesse universal" , e tencionavam fazer de todos os homens urna única família feliz.
aos mi ssionários evangélicos e os considerasse mais uma ameaça que um Esses pregadores talvez tivessem as melhores intenções e "falavam como
in strumento de controle social. Mas até mesmo na Ing laterra, para muitas filósofos", mas não antecipavam as possíveis e " infelizmente fatais conse-
pessoas habituadas aos instrumentos tradicionais de controle social e a uma qüências de seus princípios belos, porém prematuros". A esses princípios -
ética de hierarquias e patronato, os di ssidentes evangélicos estavam subver- que todos os homens por serem iguais tinham direitos iguais; que a distinção
tendo a "ordem" social. de hierarquia se extinguira; que apenas o conhecimento, a virtude e o mérito
As diatribes de um irado pastor campesino de lpswich - citado por podiam justificar um lugar eminente na sociedade - se seguiriam a confu-
Thompson - têm notável semelhança com as dos colonos de Demerara con- são, o parricídio, a perseguição e até mesmo a destruição do equilíbrio das
tra os mi ssionários e desvendam a natureza de classe do medo e da indigna- nações, além da "carnificina de milhões de homens". Tão "sombrias e tão ter-

30 31
ríveis" pareciam ser as conseqüências dessas doutrinas que o autor do artigo
nai de Demerara reproduziam constantemente artigos da Jamaica, de Bar-
- que se intitulava "um colono honesto" - sentiu necessidade de afumar
bados, Trinidad ou outras ilhas, denegrindo os missionários. Os jornais os
que havia uma incompatibilidade fundamental entre o cristianismo e a escra-
rolulavam indiscriminada mente como "metodistas" e denunciavam suas
vidão. "Aquele que decide fazer dos negros cristãos, que lhes dê liberdade,
1igações com os abolicionistas e com aAfrican Institut.ion. 34 Por toda parte, o
que não os faça mais infelizes, que não exponha a Sociedade da qual faz parte
l rabalho dos missionários era combatido pelos colonos, 35 mas estes tinham de
às ilusões do seu cérebro exaltado." Se os "negros" que haviam chegado à
·n frentar o governo britânico, que parecia inclinado a apoiar os missionários.
colônia fossem imaculados filhos da natureza, então seria possível instruí-los
Na Jamaica foi aprovado um Consolidated Slave Act* que chegou a propor
nas nobres verdades do Evangelho. Mas quem eram esses "negros" importa-
que a instrução religiosa para os escravos se restringisse às doutrinas da Igre-
dos? "Um bando de criminosos que, culpados de roubo, assassinato e outros
1a Anglicana, proibindo metodistas e outros "sectários" de instruir escravos.
crimes em seu país ... ou prisioneiros de guerra, tendo vivido uma vida de
e) onselho Privado, entretanto, desautorizou o dispositivo por considerá-lo
guerras, de forma cruel e dissoluta, não [estavam] preparados para um gover-
rnn trário aos princípios de tolerância reinantes na Grã-Bretanha. 36 Numa cir-
no regular baseado na persuasão moral" e tinham de ser guiados pelo castigo
rn lar de 1811, Lord Liverpool, ministro da Guerra e das Colônias, deixou
corporal .29 O artigo expunha vividamente os vieses e preocupações da maio-
l' laro o apoio do governo à "instrução" religiosa dos escravos.
ria dos colonos e sua apreensão com a chegada à colônia dos missionários da
Os colonos ressentiram-se dessas pressões e, em várias ocasiões, as
London Missionary Society.
assembléias legislativas de Bermudas, Anguilla, Jamaica, Tobago e Saint
Vinha de tão longe a tradição de desconfiança em relação aos dissiden-
Vincent aprovaram leis restringindo as atividades dos missionários, mas os
tes na hi stória britânica que nem mesmo o Toleration Act* de 1689, revisto
governadores tinham de obedecer às instruções em contrário vindas de Lon-
em 171 1 e em 1812-13, conseguira eliminá-la completamente. 30
dr-.. As visões conflitantes dos colonos e do governo britânico punham os
Nas colônias, a hosti lidade contra os dissidentes protestantes ecoava as
iovernadores em posição difícil, especialmente quando estes se tornavam
queixas de alguns grupos conservadores da Igreja Anglicana e do Parlamen-
proprietários de escravos. Em 1816 o governador Woodford, de Trinidad,
to ,31 que continuavam a ver os dissidentes como elementos "subversivos",
1111ma carta a Lord Bathurst, admitiu que não fosse a pressão vinda da
cujas atividades ainda tentavam restringir no ano de 181 J. 32 Tai s grupos,
In glaterra teria expulsado os missionários da colônia: "Há muito eu teria
porém, vinham perdendo terreno no Parlamento. Lord Sidmouth tentara
111andado embora da ilha o missionário e o pregador metodista, não fosse o
diminuir os "abusos" do TolerationAct, particularmente o recrutamento para
amplo apoio a favor dos mesmos na Inglaterra ter-me induzido a permitir a
o ministério da Igreja de pessoas " impróprias", como "ferreiros, limpadores
rnntinuidade de sua residência aqui. Pelas intimidades que eles estabelecem
de chaminés, tropeiros de porcos, mascates, sapateiros e outros da mesma
n11n os negros, sua presença e, sempre uma fante d e ma l-es t ar " .37
espécie", mas foi derrotado em 1811 depois de uma implacável batalha polí-
Por todo o Caribe, o que mais parecia desagradar os colonos eram as
tica. Embora os dissidentes protestantes continuassem a sofrer diversas limi-
111aneiras "democráticas" dos missionários evangélicos, sua retórica de
tações legais até 1828, a tendência, tanto no governo como na Igreja Angl i-
1•ualdade e o grau de autonomia litúrgica que concediam aos escravos. 38 Para
cana, era favorável aos missionários evangélicos e a sua ação entre os
11:-. <.:olonos, as idéias trazidas pelos missionários constituíam ameaça à ordem
escravos. Nas colônias, contudo, os missionários evangélicos não conformis-
'social". Foi por causa de idéias como aquelas - pensavam eles - que os
tas encontrariam uma resistência crescente por parte de colonos e autorida-
,·s<.:ravos haviam se rebelado no Haiti. 39 Os colonos estavam convencidos
des locais. 33
( 11ao em razão) de que os missionários tinham ligações com os abolicionis-
Os colonos de Demerara não recorreram apenas às tradições britânicas
lil S e faziam parte do lobby cada vez mais poderoso em favor da abolição da
para justificar sua oposição à presença dos dissidentes evangélicos entre eles,
1·s<.:ravatura. Joseph Marryat, talvez o mais eloqüente porta-voz das Índias
mas também encontraram apoio em outras colônias caribenhas onde existia
<kidentais no Parlamento, expressou freqüente e livremente a suspeita de
a mesma hostilidade. Em todo o Caribe, os missionários evangélicos não con-
que os mis ionários constituíam urna rede política poderosa, disposta a mani-
formistas foram alvo de ataques nas primeiras décadas do século x1x. Os jor-
pular a política para alcançar suas rnetas.•0

(*) Ato de Tolerância. (N. T.)


(*) Alo da Escravidão Consolidada. (N. T.)

32
33
· Com a abolição do tráfico de escravos, os colonos sofreram um golpe , ,11 , 1tidos à nova luz e apresentaram-se voluntariamente para ensinar o Evan-
sério - tanto em seu orgulho quanto em seus bolsoS. 41 Durante a campanha ' 1111, ,cm capacidade para pronunciar nem seq ue rum único de seus versículos.
pela abolição na Inglaterra, a escravidão fora retratada como fonte de todos , , , li pois da descoberta de um a conspi ração de amp litudeco nsiderável, que em
os male e os colonos como tiranos ateus prestes a cometer toda sorte de atro- 11111111 tempo daria um rei negro à Jamaica, a Assembléia dessa ilha houve por
cidades. Os colonos se indignaram tanto com os abolicionistas como com os 1 111 111vestigar a causa da aparente insubordinação entre os negros. Na sempre
orupos evangélicos que os apoiavam. Os colonos de Demerara sentiam par- 111111I I capela metodista de Kingston é muito com um ouvir-se um suj eito falar
ticular aversão pelos missionários da London Missionary Society. Achavam 1111 1111 · duas horas para uma congregação de negros e gente de cor, num jargão
11 1,, d,• todo ininteligível para sua audiência, que todos nós so mos irmãos, e em
que essa sociedade tinha ligações com Wilberforce, com aAfrican Institution
J, 111111 de perfeita igualdade. Seus ágapes, nos quais ad miti a-se que 8/acky
e com outros orupos abolicionistas na Inglaterra. (Na verdade, Joseph Hard-
"'"' ,e o pão com Massa Parson, * imediatamente perturbavam toda a disci-
castle, tesour:iro da London Mi ssionary Society, era amigo íntimo de aboli-
l'1111.i 11> lonial e destruíam aquele respeito pelos brancos que era a única manei-
cionistas famoso s, como Thomas Clarkson , Granville Sharp e William , 1 ,1, .,~segurar o rdem e tranqüilidade à ilha. A pretexto de pregar e orar, os
Wilberforce, e "um resoluto colaborador destes em todos os movimento 111 111l11 os se ju ntavam em reuniões que iam das três ou quatro da manhã até o
pela melhoria da condição dos escravos". A LMS de fato recorria a Wilber- 1 l 11 1 cer, e outra vez depois do pôr-do-sol. Nessas ocasiões, um negro ou um
force sempre que os missionários encontravam oposição nas colônias e rece- 11111I 1111, que não conhecia um a letra seq ue r do alfabeto, subia numa cadeira e

bia O apoio deste.) 42 Não surpreende que a maioria dos colonos visse os mis- l11111 1 ,1, com precisão tolerável , os gestos e caretas do pregador branco, para
sionários como espiões, sempre prontos a mandar para a Inglaterra histórias , 111 1, edificação e entretenimento de sua aud iê ncia.

que reforçavam os piores preconceitos contra os propriet~ios de_escr~v~s. 111il11 isso parecia profundamente errado e ameaçador ao autor - que
A maioria dos colonos estava convencida de que dar mstruçao rehg10sa
t 1111,•conceito racial e de c lasse comum à maioria dos colonos. 4 '
aos escravos, ensiná-los a ler, tratá-los como iguais, chamá-los " irmãos" -
, 111, 1odismo - que no co ntexto in glês, co nforme afirmou E. P.
abolindo assim as distinções e protocolos sociais que na experiência diária
, 111 , era uma ideologia conservadora que visava alienar os operários
reafirmavam o poder que os senhores tinham sobre ele -cedo ou tarde leva-
111 ir-lhes o trabalho- era visto pelos colonos como profundamen-
ria os escravos a rebelar-se. Nem me mo as dec larações constantes dos mis-
11 1 1 o. Aquil o que para os rnis ionários era meio de controle social,
sionários asseourando seu zelo em ensinar aos escravos a submissão aos
1111 111,riados co lonos era fermento revolucionário. Na Inglaterra talvez
senhore cons:guiram persuadir os colonos a ver os religiosos como aliados
1 , 1o1vel, do ponto de vista de algun s setores das elas e dominante ,
confiáveis. Administradores e senhores queriam ter poder total sobre seu
11 1, d,.dhadores livres na ética da autoco nfia nça e da autod iscip lin a
escravos e desconfiavam de tudo o que pudesse enfraquecer o controle que
11 , 1·s pudessem tornar-se "seus próprios fe itores", como escreveu
exerciam. Não gostavam da proibição do trabalho aos sábados imposta pelo
1111 1111 ·om propriedade. 44 Numa co lôn ia onde hav ia escravos de fato,
missionários, que interferia na di sciplina de trabalho nas fazendas, e eram
11,11,, o1 única forma possível de disciplina era a do próprio feitor. Quan-
ainda mai hosti s à livre locomoção dos escravos à noite, para assi tira ser-
'I 11 ,·ram a Smith e aos demais mi sionário seus compan heiros, os
viços religiosos que podiam acontecer a quilômetros de distância. Também
1111 1, 1)emerara estavam reagindo não só ao que os missionários prega-
se exasperavam sempre que os missionários se pronunciavam a favor dos
i 1 111 que eles representavam. E os colonos não e enganavam quan-
escravo ou contra os administradores e senhores. Os colonos se incomoda-
' ,li I iam que os missionários estavam pregando uma nova maneira de
vam com as origens sociais modestas dos missionários e a atmosfera de inti-
111 111, I, ,, uma maneira mai adequada a uma sociedade de trabalhadores
midade que eles tentavam criar nas congregações, desconsiderando as fron -
1111 1 maneira que poderia minar os fundamentos morais da soc iedade
teiras raciais e soc iais. Isso ficou claro num artigo de 1813 publicado na
f 1
Royal Gazette, sob o título " Metodi stas das Índias Ocidentais" :
1 ,, , 1 to, nem a London Missionary Society nem seus missionários
Nossas colônias inundaram-se de alfaiates, carpinteiros, funileiros, re mendões 11 , 111l l'nção consciente de instigar à su bversão. Na verdade, a LMS exi-
etc. , lamurie ntos e hipócritas, preguiçosos demai s para trabalh ar por sua obre
vivência honesta na Metrópo le e, encantados com a idé ia de viver à vontade e 1•1, 1duçõcs da linguagem popularquecorresponderi am, aproximadamente, a Nego
luxuosamente no estrangeiro, ac haram muito conveniente tran sformar-se cm , !N , T.)

34 35
gia explicitamente dos homens e mulheres que enviava para diversas partes colonos queriam livrar-se dos missionários, enquanto os missionários que-
do mundo que não se imiscuíssem nos assuntos políticos e que ensinassem os riam livrar-se da escravidão. Não havia, no entanto, contradição intrínseca
escravos a obedecer aos senhores. Recomendava aos missionários que se entre cristianismo e escravidão. Conforme a experiência das colônias portu-
empenhassem ao máximo em não ameaçar a "paz" e a "segurança" públicas. guesas e espanholas havia mostrado, o cristianismo em sua versão católica
Eles não deveriam dizer uma só palavra, quer em público quer privadamen- pôde facilmente acomodar a escravidão. O mesmo também se pode dizer das
te, que pudesse irritar os escravos contra os senhores ou deixá-los insatisfei- colônias protestantes onde os morávios tiveram algum sucesso. Mas nesses
tos com a situação. Nada poderia ser mais claro do que as instruções dadas a casos o cristianismo ainda estava associado a uma visão tradicional do mun-
John Smith quando ele saiu da Inglaterra para Demerara: do, que conceituava as relações de classe de forma hierárquica, enfatizava as
Sua missão não é livrá-los da condição servil em que se encontram, mas propi- obrigações recíprocas e santificava as desigualdades sociais. 49
ciar-lhes o consolo da religião, e adverti-los da necessidade de "serem submis- Somente quando as noções de liberdade pessoal e direitos individuais
sos, não somente pelo temor do castigo, mas também por obrigação de cons- - que se fundiram ao cristianismo para produzir o que veio a chamar-se Éti-
ciência" (Rom. 13 .5, l Pd. 2.19). A pregação do santo Evangelho Lomará os ca Protestante - se impregnaram de uma visão democrática do mundo, as
escravos que o ouvirem os servos mais diligentes, fiéis, pacientes e úteis da con- pessoas começaram a achar que havia uma contradição fundamental entre
gregação; tornará desnecessária a disciplina severa, e fará deles os escravos cristianismo e escravidão.50 Especificamente, somente quando começaram a
mais valiosos das propriedades: e assim, você e seu ministério tornar-se-ão questionar as instituições tradicionais e as estruturas de poder, e quando desa-
recomendáveis até para aqueles cavalheiros que talvez tenham tido aversão à fiaram um sistema social e político baseado em estamentos, monopólios e
instrução religiosa dos negros.•• privilégios, as pessoas estabeleceram uma correlação entre servidão espiri-
Os outros missionários enviados para Demerara pela London Missio- LuaJ e servidão física, escravidão e pecado, redenção pessoal e libertação dos
nary Society-John Davies, Richard Elliote John W ray- receberam ordens negros. Só então, apoiar a abolição da escravatura passou a ser uma tarefa dos
análogas. 47 Avisaram-nos de que não se imiscuíssem nas disputas seculares. protestantes militantes. 5 ' Só então, os cristãos encontraram, na mesma Bíblia
Disseram-lhes que deveriam tentar obter a proteção dos governos locais e, usada para justificar a escravidão, argumentos igualmente convincentes para
por meio do bom comportamento e do respeito a todos os que estivessem apoiar uma atitude antiescravista. 52 Foi precisamente dentro dessa nova ética
investidos de autoridade, assegurar o gozo da liberdade necessária para ins- que John Smith havia sido criado. 53
truir os escravos e promover sua salvação. Os missionários foram instados a
não interferir na "condição civil" dos escravos, em público ou privadamente,
e a incutir-lhes noções de obediência e respeito aos senhores. Sua única mis- A meta da London Missionary Society era sem dúvida resgatar almas e
são era salvar as almas dos escravos. Não deveriam de modo algum engajar- não corpos. Se uma coisa era possível sem a outra foi algo, porém, que ficou
se nas disputas civis e na política local, nem comprometer-se, quer verbal- por ser visto. A sociedade havia sido fundada em 1795 com a finalidade de
mente, quer por correspondência, com pessoa alguma na metrópole ou nas salvar as almas dos milhares de "pagãos" do mundo. A idéia não era nova.
colônias.•8 Os wesleyanos* também enviaram instruções muito semelhantes Outras sociedades missionárias haviam sido fundadas antes, e algumas deno-
a seus missionários, particularmente àqueles a caminho das Índias Ociden- minações - presbiterianos, irmãos morávios, wesleyanos, batistas - já
tais. Tais instruções, evidentemente, eram mais fáceis de dar do que de seguir. tinham missões em diferentes partes do mundo. 54 O que havia de novo era a
A maioria dos colonos de Demerara percebia uma profunda contradição tentativa de criar uma organização não sectária que congregasse missionários
entre cristianismo (particularmente em sua versão evangélica não conformis- c.le diferentes seitas- tanto dissidentes quanto membros da Igreja Anglicana
ta) e escravidão. E não é de espantar que a maioria dos missionários - caso - numa cruzada universal. De certa forma, a idéia nascera como resposta à
não o tivesse aprendido com os discursos de homens como Thomas Clarkson Revolução Francesa. Nas palavras do primeiro historiador da London Mis-
e Wilberforce - tivesse chegado à mesma conclusão. A diferença era que os sionary Society, "o próprio cristianismo foi desafiado, a nova política missio-
nária foi uma aceitação ousada e proclamada desse desafio". 55
(*) Seguidores de John Wesley ( 1703-91 ), fundador do metodismo e editor de sua pró- A linguagem do Iluminismo, no entanto, atraiu particularmente os dis-
pria versão da Bíblia. (N. T.) sidentes que ainda lutavam pela remoção das restrições que lhes haviam sido

36 37
impostas no passado. 56 No dia da fundação da London Missionary Society, o diversos, não eram incompatíveis, o que talvez ajude a explicar o sucesso da
reverendo de Gosport, sr. Bogue, comemorou o "funeral da intolerância", I.MS no recrutamento de missionários.

que, esperava ele, seria enterrada tão profundamente que jamais se levanta- A Evangelical Magazine, revista fundada dois anos antes da LMS com a
ria. 57 Os sermões pregados na ocasião contrastavam - sob formas reminis- linalidade explícita de contrapor-se às "influências perniciosas de doutrinas
centes do Iluminismo - os tempos de "ignorância" e os novos tempos "das ·1Tôneas" (como as idéias de Tom Paine e da Revolução Francesa), tornou-se
luzes".58 Os pregadores falavam dos tempos do erro, da superstição e da per- u partir de 1795 a voz da London Mssionary Society. A revista publicava bio-
seguição e da nova "plenitude dos tempos" , da "refulgência da verdade grafias de missionários, memórias, diários, história eclesiástica, resenhas de
social". Eles se regozijavam com a idéia de que "as trevas da superstição, do li vros, "anedotas autênticas", "providências notáveis", as últimas palavras
erro e do pecado" seriam "para sempre banidas da face da Terra" e expressa- de cristãos à morte - tudo para impressionar os leitores com exemplos da
vam a esperança de que a dissensão seria superada e que "os habitantes dos graça de Deus e instruí-los acerca das doutrinas fundamentais do Evangelho.
diferentes climas, costumes, cores, hábitos e ocupações" estariam "unidos Foi nas páginas dessa revista que rapazes e moças como John Smith e sua
numa única e grande sociedade, sob a influência benéfica do Evangelho e da ·sposa Jane encontraram orientação e inspiração. Foi aí que as suas cartas
Graça". Sua mensagem era profética e ecumênica. A London Missionary sobre a missão, bem como as cartas de outros missionários mundo afora,
Society definia como meta "promover a felicidade do homem e a honra de !'oram publicadas. Ali tomavam conhecimento da glória do trabalho missio-
Deus". 59 E, mais importante, essa mensagem e dirigia a todas as classes nário, do dever de devotar o Dia do Senhor à pregação e ao auto-exame, de
sociais, sem distinção. sua natureza pecaminosa e de sua dependência da graça divina.
Em poucos anos a LMS criou mjssões nos Mares do Sul, na África do Sul, Como muitos outros periódicos da época, o Evangelical Magazine visa-
na Índia e nas Índias Ocidentajs. Trabalhou em cooperação estreita com va atingir um número cada vez maior de homens e mulheres pobres alfabeti-
outras sociedades missionárias e com a Religiou s Tract Society e a British 1ados. A alfabetização tornava-se tão difundida na Inglaterra que, na visão
and Foreign Bible Society. E, como batistas, wesleyanos, irmãos morávios e 1>1imista do editor da revista, em poucos anos seria difícil "encontrar um men-
presbiterianos já tinham suas missões, a London Missiona.ry Society- fun- di go [... ] que não tenha aprendido a ler". 61 A meta explícita da Evangelical
dada com a intenção de reunir ministros de persuasões diferentes - termi- Magazine era fornecer informações adequadas à "capacidade de todos, e
nou por contar cada vez mais com os congregacionalistas. apropriadas ao tempo e às circunstâncias de todo mundo".
Um artigo publicado no periódico francês Journal des Débats sobre as Um princípio igualitário inspirava a convocação de novos missionários
sociedades missionárias inglesas comentou que sua finalidade ptincipal não 1 ·itas pela LMS. Os diretores enfatizavam que ninguém deveria deixar de can-
era tanto ampliar o Reino de Cristo como consolidar o "Império do Leopar- didatar-se levado "pela opinião errônea de que apenas homens instruídos
do Britânico", o qual procurava unir todas as suas forças morais e físicas para l'Stavam qualificados para esse emprego". Argumentavam que a.-, "missões
melhor manter a posse de suas conquistas remotas.6(1 De fato, ao enviar os li ·m-sucedidas, naqueles países pagãos que fizeram pouco ou nenhum pro-
mi ss ionários britânicos, com sua cultura e seus valores, para diferentes par- prcsso nas artes e nas ciências", deveriam compor-se principalmente de
tes do mundo com o objetivo de ensinar os nativos a viver como ingleses, as "mecânicos sérios".
sociedades missionárias serviam a essa finalidade. Mas quaisquer que fos- "Ferreiros, funileiros, carpinteiros, jardineiros, cordoeiros, fabricantes
sem as outras funções que possam ter exercido como braço do império, a LMS d barcos, pessoas hábeis em ola.ria e cerâmica", bem como os que entendiam
e a maioria dos missionários que ela mandou para terras distantes e muitas d ·fundição ou fusão do ferro, poderiam, portanto, desde que tivessem o dom
vezes perigosas tinham uma única missão consciente: salvar as almas de d • comunicar o conhecimento religioso por meio de sua boa conversa, ser
milhões que estavam perecendo em pecado. Todavia, nem os propósitos do L'mi nentemente úteis. 62 Dessa forma, a LMS acolheu homens de "habilidades
Leopardo imperial, nem uma zelosa determinação de salvar os pagãos esgo- naturais[ ... ], familiarizados com a verdade divina e experientes", embora não
taram os sig nificados e finalidades da experiência missionária. Para alguns letrados, e prometeu encarregar-se de sua educação-abrindo a carreira mis-
dos jovens que foram viver entre os pagãos, o que talvez importasse tanto sionária para homens de origen modestas.63
quanto qualquer outra coisa era a determinação de ter uma carreira que os A política de recrutamento foi bem-sucedida. Apenas um a.no depois da
tirasse da obscuridade e da pobreza. Tais propósitos, aparentemente tão fundação da LMS, a Evangelical Magazine anunciava orgulhosamente que,

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em Coventry, um ministro, um fabricante de fivelas e arreios, um tecelão e a lt ,viam associado ao pecado. 69 A oposição que os missionários viriam a
esposa e um jardineiro e a esposa, haviam todos sido recomendados aos dire- 1 11 ·11nlrar nas colônias somente poderia reforçar a convicção de que o "inte-
tores pelo subcomitê de exame, responsável pela escolha dos candidatos à 11 1-1c pe oal" dos colonos era um obstáculo no caminho dos homens que ver-
vida missionária. Todos foram aceitos. Em breve a sociedade estava mandan- 1lrn 1·iramente amavam a Deus e O temiam. Nessas condições, não é de espan-
do esses artesãos convertidos em missionários para diversas partes do mun- 1 11 que, ao chegarem os missionários da London Missionary Society a
do. 64 Eles eram pessoas que se sentiam felizes por devotar-se a uma carTeira l h• m rara, os colonos os vissem como inimigos.
missionária em países distfiljtes e inóspitos. Estudantes de classes média e
alta graduados em Oxford ou Cambridge tinham melhores perspectivas em
sua terra, e não estavam propensos a dar ouvidos ao chamado para pregar a t >S COLONOS EA METRÓPOLE
pagãos de além-mar. Em 1814 a Evangelical Magazine noticiou que "poucos
estudantes de nossas academias se candidataram a missionários"; em seus A história parecia avançar em oposição às elites de Demerara. Como
primeiros dezoito anos, a London Missionary Society recebeu inscrições de 1 ontcceu com os proprietários de escravos em toda parte, as elites foram
apenas três ou quatro estudantes com estudos acadêmicos.65 qu111hadas num processo que aparentemente condenava ao esquecimento a
Desse modo, a salvação de "milhares de pecadores que pereciam nas 1 ·rnvidão e o sistema de valores e sanções a ela associado. Para os proprie-
terras pagãs", particularmente entre "hotentotes e negros e numa grande 11110s de escravos, os missionários representavam tendências históricas
quantidade de outras tribos rudes da humanidade",66 foi confiada a homens 1111 as, poderosas e ameaçadoras que estavam solapando seu modo de vida.
de origens modestas, propensos a ver o mundo de sua própria perspectiva de l 1111 s não era apenas a escravidão que estava sendo questionada, mas o senso
classe. Suas origens sociais e a experiência na Inglaterra num período de 1li , lalu dos colonos, suas noções de disciplina e castigo, seu modo de con-

debate político intenso, de polarização social e de repressão, num momento 1 1lwr as relações entre senhores e escravos, negros e brancos, ricos e pobres,

em que o cristiani mo evangélico progredia entre as classes trabalhadoras, , 1il 1nia e metrópole. Não apenas seu direito de propriedade estava sendo
talvez explicasse as propensões abolicionistas de alguns deles, a simpatia 11111·açado, mas também os monopólios e privilégios de que sempre haviam
pelos escravos e a hostilidade contra os senhores. De certo modo, para eles ,,1111do na metrópole. Os debates no Parlamento e na imprensa britânica eram
-como para milhões de pessoas da classe operária que assinaram petições, 1 1d11 vez mais ameaçadores. E os colonos estavam prontos a resistir.

primeiro a favor da abolição do tráfico de escravos e depois pela emancipa- raro que a mudança histórica atinja repentinamente as pessoas. Na
ção total- a crítica à escravidão funcionava como metáfora. 67 111111oria das vezes é difícil, se não impossível, dizer precisamente quando as
O debate em torno da abolição do tráfico de escravos começara pouco 1111 s11s começaram a mudar. Mas há alguns períodos históricos em que as pes-
antes, quando John Wray, o primeiro missionário da LMS a ir para Demerara, 111" de repente se dão conta de que o mundo não é mais o que costumava ser.
deixou a Inglaterra. Até mesmo a Evangelical Magazine- geralmente indi- l 111 ·sse o sentimento que muitos colonos em Demerara tiveram durante os
ferente a questões políticas, a menos que envolvessem a liberdade dos dissi- 111w. que intermediaram a chegada do primeiro missionário da LMS, em 1808,
dentes - rompera vez ou outra seu silêncio para condenar o tráfico de e cra- 1 11 1ulgamento de Smith, em 1823. E eles reagiram como as pessoas geral-
vos. Em 1805, um artigo sobre o tema lembrou aos cristãos que o Senhor 1111•111 reagem nessas circunstâncias: com desconfiança, medo e raiva.
viera ao mundo para dar vida e salvá-lo, e "para proclamar a libertação dos Demerara fora originalmente colônia holandesa e, embora sua incorpo-
oprimidos". Outro artigo sugeriu que dissidentes protestantes e ministros da 111\; o definitiva ao império britânico tivesse ocorrido relativamente tarde
Igreja Anglicana liderassem uma campanha de petições apoiando a abolição t I HO 1), a maioria das fazendas pertencia a cidadãos britânicos. Por volta de
do tráfico de escravos. Outro ainda observou que a "abolição do tráfico de 1HO , sete de cada c,ito fazendas em Demerara pertenciam a ingleses. O
escravos é tão vantajosa para os homens que verdadeiramente amam a Deus 111111 •nt da população britânica na colônia relacionava-se, em parte, ao
e O temem que seria motivo de espanto para mim o fato de ela ainda não ter 111 , iod de guerra e efervescência política iniciado com a Revolução Ameri-
70
sido realizada se eu não soubesse o quanto é extremamente forte e poderoso ' 11111 • concluído somente depois da derrota final de Napoleão, em 1815.
o argumento do amor de si e do interesse pessoal junto à maioria da humani- l lt11 unl aquele ano os colonos haviam sido arrnstados para as guerras da
dade" . 68 Para muitos evangélicos, a escravidão e o tráfico de escravos se 11wtr p le. ofreram bloqueio navais, ocupações e diversos tipos de retalia-

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no Caribe, atraídos pela fertilidade do solo de Demerara e pela ausência dos
ção. Entre 1780 e 1803, Demerara mudou de mãos seis vezes. Inicialmente,
furacões que com tanta freqüência assolavam as ilhas. Muitas propriedades
depois da independência norte-americana, a Holanda tentou permanecer
ho landesas foram vendidas para os ingleses,7 ' cujos modos, costumes e lín-
neutra. Os colonos, ainda que proibidos de negociar com as colônias norte-
gua foram então adotados. 72
americanas, continuaram a receber os navios da América do Norte. Em 1780,
A importância dos laços entre os colonos e a Inglaterra ficou óbvia em
a Inglaten-a declarou guerra à Holanda, e o almirante George Rodney captu-
1802, quando foi novamente interrompido o domínio britânico e Essequibo e
rou a colônia. A ocupação britânica durou apenas um ano. Em 1782, a colô-
Demerara voltaram a fazer parte da República Batava. Mais uma vez a Ho-
nia ficou sob o domínio dos france es, e dois anos depois Demerara foi devol-
landa proibiu o envio de mercadorias para a Inglaterra e cometeu o erro de
vida aos holandeses.
d 'Cretar o banimento dos cidadãos britânicos que não jurassem fidelidade ao
Desde a primeira invasão britânica o comércio fora relativamente livre
•overno holandês. Nada poderia ser mais prejudicial à maioria dos colonos,
e, apesar do tumulto político, a região continuou a desenvolver-se. Assim ,
ll •m irritá-los mais, e não demorou muito para que eles começassem a cons-
quando a companhia holandesa tentou recuperar o poder e o controle sobre a
pirar para restaurar o governo britânico. Os colonos receberam o apoio dos
colônia, os colonos resistiram, forçando seu recuo. Em l 791 a companhia
11 ·gociantes de Londres, Liverpool e Glasgow, que temiam pelo capital
perdeu ua licença especial e, desse momento em diante, a colônia ficou dire-
l' tnprestado aos colonos. Em 1803 os holandeses foram substituídos pelos bri-
~ame~te subordinada aos Estados Gerais Holandeses. Em 1794-95 a França
111nicos - desta vez para sempre. 73
111vad1u a Holanda e o príncipe de Orange fugiu para a Inglaterra. Quando a
O resultado de todas as mudanças durante as duas últimas décadas do
Repúbli~a Batava se instaurou, os colonos estavam divididos. Monarquistas
l' ·ulo xvrn foi a aquisição, pelos colonos, de uma relativa autonomia na
e repubhcanos marchavam nas ruas de Stabroek, os monarquistas usando
,1d111inistração de seus negócios. Assim, embora a volta dos britânicos tives-
rosetas cor-de-laranja e dando vivas ao príncipe de Orange, os republicanos
l' :-. ido saudada e até desejada por muitos dele , os colonos tentaram manter
portando rosetas tricolores e gritando liberdade, igualdade e autonomia -
,1 maior independência possível ao assinar os termos formais da rendição. 74
desatentos à contradição entre seus slogans e a realidade da escravidão a sua
l •xi 'iram que as leis e os usos tradicionais da colônia fossem mantidos, que
volta. Da Holanda chegaram ordens determinando que se fechassem os por-
11 \ ÍSLema de impostos não fosse alterado, e que a religião que professavam
tos a_tod~s as nações exceto Holanda e França. O apoio à república desapare-
lm,' re peitada. Exigiram também que os funcionários públicos (com exce-
ceu 111teiramente quando os brancos souberam que Victor Hughes - 0
,111 do governador) continuassem em seus postos e que as pessoas e proprie-
"comissário negro" para as Índias Ocidentais, de nacionalidade francesa -
tl.id 'S de todos os habitantes fossem protegidas. Recusaram-se a pegar em
falava em armar os escravos e lhes prometia emancipação. O espectro do
.1111ws contra os inimigos externos e estipularam que os custos com a cons-
Haiti continuava a ameaçar os colonos, confirmando seus temores e esfrian-
t 1111i t1) ele acampamentos novos, a formação de baterias militares e o forneci-
do o fervor republicano .
1111·1110 de soldados e funcionários civis fossem pagos pelo Tesouro do sobe-
Diante da perspectiva de perder não só a liberdade de comércio com a
1,11111 ou do Governo. Também se opuseram à criação de um "Regimento
Inglaterra mas também o direito à propriedade de escravos, alouns colonos
~1 •rn". Todas essas condições foram aceitas pelos britânicos como parte do
decidiram recorrer à intervenção britânica. Esses esforços coi1;cidiram com
1 ,qululation Act* da colônia. Mas era mais fácil insistir em prol dessas coi-
p~essões semelha_ntes existentes na Inglaterra, vindas dos partidários do prín-
" do 4u praticá-las.
c'.pe de Orange. E possível também que parte dessa pressão viesse de nego-
medida que o tempo passava, os colonos se viram lutando sem suces-
ciantes e grupos têxteis britânicos interessados no algodão da colônia. Seja
11, 11111ra as autoridades britânicas que transgrediam o que os colonos consi-
qual for a razão, os britânicos ocuparam novamente a região em l 796, ali per-
1'1 1.1 nm direitos . Quando o governador quis construir uma alfândega, os
manece~do até o Tratado de Amiens, em 1802. Esses foram anos de grande
• 111, u,11, s' opuseram - com o argumento de que, conforme o Capitulation
prospendade para as colônias de Essequibo, Demerara e Berbice. A inteora-
, 1, 11:10 s ' poderia autorizar a instalação de nenhum novo estabelecimento.
ção ao mercado britânico, combinada com a desorganização da econo1ni: no
1 , 111w11do l 'nlou impor uma taxa de exportação de 4,5 %, o governo encon-
Haiti e em outras colônias francesas do Caribe, criou condições particular-
mente favoráveis . Houve um fluxo crescente de capital britânico e de colo-
t l lu d · apitulação. (N . T.)
nos, alguns dos quais procedentes de Barbados e outra colônias britânicas

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42
trou a mesma resistência. Por fim - temendo que não se autorizassem os 11t1vu política de anglicização da colônia, o governador seguinte - Lyle
navios britânicos a entrar em Demerara por falta de alfândega-, negocian- < '111 michael - mudou o nome da cidade de Stabroek para Georgetown, para
tes e colonos recuaram. A luta entre colonos e autoridades reais ainda persis- llllmenagear George 111. Passo a passo, o governo britânico expandia suas
tia quando John Wray, o primeiro missionário da LMS enviado para Deme- pt ·rrogativas à custa dos antigos governantes.
rara, desembarcou. Contra esse pano de fundo de conflitos, não teria sido Ao tentar restringir o poder de alguns colonos importantes, membros do
difícil prever que o ressentimento dos colonos em relação à interferência bri- 1 '11lcgio de Kiezers- um corpo administrativo eleito e vitalício-, o gover-
tânica nos negócios coloniais poderia facilmente transferir-se para Wray ou 11 ,dor Carmichael estendeu o direito de voto a todas as pessoas que pagassem
qualquer outro missionário britânico, particularmente se ele mostrasse a 1() mil florins de imposto de renda. (Previamente esse direito fora concedido
menor simpatia pela causa da emancipação. 1pl·nas àqueles que possuíssem pelo menos 25 escravos.) Ele também fundiu
Um ano antes da chegada de Wray, os colonos haviam protestado vee- , , <'oi gio de Kiezers com os Representantes Financeiros, nomeados a cada
mentemente contra a abolição do tráfico de escravos. A Royal Gazette repro- d111, anos. Como estes também faziam parte da Court of Policy, o outro cor-
duzira uma petição assinada pelos fazendeiros e comerciantes das Índias p11 adm inistrativo importante da colônia, Carmichael conseguiu com esses
Ocidentais publicada em jornais de Londres. 75 Os peticionários expressavam 1 pt•dientes ampliar a influência britânica no governo local. Todas essas
seu desapontamento e temor, e afirmavam a legitimidade do tráfico de escra- 11111danças administrativas provocaram protestos, particularmente dos holan-
vos. Argumentavam que a agricultura nas colônias era impossível sem o tra- 77
tl, •, ·s, que as consideravam transgressões do Capitulation Act. Embora três
balho africano, e falavam das conseqüências funestas em caso de abolição do q11.111os da propriedade de Demerara estivessem nas mãos de fazendeiros ou
tráfico, não só para os colonos como também para o império. O fim do tráfi- .11li11inistradores britânicos, os holandeses detinham algum poder na Court of
co de escravos destruiria o grande capital investido nas Índias Ocidentais. l '11lrcy e no Colégio de Kiezers. Eles só podiam irritar-se com as medidas de
Faria definhar um negócio que pagava quase 3 milhões de libras de impostos 1 ,11 michael, que aumentariam a influência dos negociantes ricos (em sua
anuais à Grã-Bretanha, empregava mais de 16 mil marítimos e era responsá- 111111oria ingleses) e de alguns profissionais e burocratas da classe média, em
vel por um terço das exportações e importações britânicas. Se o tráfico de ,h-1 11111ento dos fazendeiros holandeses.
escravos fosse abolido, os brancos deixariam as colônias, criando uma situa- Quando, em 1812, o general John Murray, então governador de
ção perigosa. Os peticionários concluíam dizendo que a proposta de acabar llrr hice, foi nomeado em substituição a Carmichael, o ministro das Colô-
com o tráfico de escravos violava as leis da propriedade, o bem-estar das 11 "" nlertou-o para o fato de que as animosidades entre os colonos poderiam
fanúlias e a segurança dos credores. E advertiam: "Os políticos devem enca- I'' 1•1utlicá-lo, mas disse que a Coroa contava com sua permanência no cargo
rar com particular temor uma nova discussão dessa questão, num período em p.11 .i exercer "aquele espírito de paciência e aquela firmeza de caráter" que
que a existência de um poder negro [o Haiti] nas proximidades da mais lr,1v111m tornado sua administração de Berbice tão popular.
importante das ilhas britânicas nas Índias Ocidentais" já propiciou uma parte as tensões entre a velha elite holandesa e os ingleses, havia
" lição memorável e terrível" . Apesar dos protestos, o Parlamento aprovou a 11111, :" entre os próprios colonos britânicos. Ingleses, escoceses e irlandeses
temida legislação. 76 1 111vam em constante desavença. Seus facciosismos às vezes se traduziam

Além das tensões entre os colonos e o governo imperial, Demerara tam- , 111 111tolc:râncias religiosas. Os ingleses assistiam aos cultos na igreja de St.
bém estava dilacerada por conflitos internos. A luta primordial, sem dúvida, 1 u-m •e, o escoceses na igreja presbiteriana escocesa. Também havia os
era entre senhores e escravos (que será examinada no próximo capítulo). Mas 1111·1mlistas e os católicos. E quase todos-escoceses, irlandeses ou ingleses
existiam outras, nascidas das diferenças de nacionalidade, classe, etnia e reli- lllhavam com suspeita os missionários evangélicos. Esses conflitos entre
gião entre os colonos. Embora os colonos holandeses e ingleses tendessem a 11 1111l ân icos podiam, no entanto, ser suplantados pela percepção que eles
concordar de modo geral com as questões relacionadas a política econômica, 1111ham do interesse comum, e pelo sentimento crescente de compartilhar
muitas vezes havia rixas entre eles. A decisão tomada pelo governador 1111111 identidade. Uma notícia num número da Royal Gazette de 1802 descre-
Bentinck, de não permitir que nenhuma petição fosse escrita em holandês, a , 1,1 a, ~'slividade do dia de São Patrício, data em que "a comunidade maior
menos que acompanhada da tradução inglesa, evidenciou essas tensões. Em pr 1·val •ccu. Esqueceram-se todos os preconceitos nacionais e distinções par-
1812 o inglês substituía o holandês nos processos locais e, corno parte da 1111 ,11 ,as. A Ro. a, o Cardo e o Trevo foram aiegrementeentreIaça dos .
" 7g

44 45
Na colônia, os europeus sentiam-se como exilados. E, como exilados de 1111111·1 11d ·dor e diligente, de sua habilidade para gerar lucros - e freqüen-
qualquer tempo e lugar, tendiam a idealizar o mundo que haviam deixado 1 111, 1111· opunham o tratamento "justo" e " benigno" dado aos escravos pelos
para trás e, às vezes, assumir suas representações ideológica como descri- 11111 11111 o, a maneira "selvagem" e "brutal" dos holandeses. Gabavam-se de
ções adequadas da vida diária. 79 Cercavam-se de coisas européias, símbolos 1 , d.11111 lim às torturas e abolido o uso da roda, substituindo-a por métodos
de sua cultura, marcas de afiliação: móveis de mogno, mesas de bilhar e de d , 11 1•11 mais " humanos". 81
carteado feitas em Londres.jarras para servir bebidas, copos, cálices, lustres, \ l llllS<.:iência dos colonos britânicos estava dividida. Apesar de suas
serviços de chá chineses, serviços de café e jantar, facas e garfos de prata, q11 , '" rnnlra o governo de Londres, compartilhavam da ideologia imperial
facas e garfos de cabo de marfim lavrado, espelhos, relógios, pianos e estan- p,, 111 ,i1dn pelos colonos britânicos em todo o império e reiterada constante-
tes . Penduravam nas paredes vistas de Edinburgh, Londres, Greenwich, 111 1111 111\ Parlamento e na imprensa. A melhor prova da hegemonia dessa
Dublin. Colecionavam livros de Walter Scott, poemas de Byron ou Milton, 1,I, 11l111'1:i ·ra o fato de ela ser compartilhada pelos colonos deDemerarae por
livros sobre a história da Inglaterra, obras sobre ciência e natureza. Liam avi- 1111 d1• \L' U S inimigos mais notórios , o abolicionista Thomas Babington
damente (com um atraso de quarenta ou sessenta dias) as notícias da Inglater- 1 11 11ili1y. Embora os colonos repudiassem vigorosamente a condenação da
ra. Seguiam com interesse os debates no Parlamento, as intrigas da corte, os . , ,, 11l:10 de Macaulay, subscreviam suas palavras quando ele celebrava a
julgamentos dos políticos radicais. Contra esse pano de fundo, a vida na colô- 111,· l.111•11 a o império. 82 Poucos documentos poderiam expressar melhor essa
nia parecia monótona. E, quando um editor londrino queixou-se certa vez de 1 1, 1ili 'f 111 do que um discurso de Macaulay feito em 1824 na Society for the
que os jornais coloniais não traziam notícias locais, reproduzindo apenas l111 r,111on and Gradual Abolition of Slavery Throughout the British D0-
extratos dos jornais ingleses, o editor da Royal Gazette justificou-se respon- 11111111111 1 Associação pela Mitigação e Abolição Gradual da Escravidão em
dendo que "nessas pequenas comunidades, como em geral é o caso nas colô- 1,11l1111 Domínio Britânico]. Macaulay afirmava que a Inglaterra não podia
nias, raramente sucedem ocorrências domésticas dignas de menção" .80 111 11 111I •ra ra escravidão sem renunciar a sua pretensão à mais alta e singular
Os colonos acompanhavam com ansiedade as altas e baixas dos preços tl1 1111~ ao. O país tinha muito do que se gabar, podia vangloriar-se de suas leis
do açúcar, do algodão e do café no mercado de Londres. Deliciavam-se com 111111•.i,. da magnífica literatura, da longa li sta de triunfos marítimos e milita-
as descrições minuciosas das últimas modas londrinas. Importavam toda i d,l l' ten são e segurança de eu império, mas era digno de um louvor ain-
sorte de comida e bebida: vinho Madeira, do Porto, clarete, champanhe, quei- 111 111,1" alto. "É sua glória peculiar", di sse ele, " não a de ter governado tão
jos, presuntos, e até miudezas como velas, sabonetes, botas, sapatos, sombri- 1111pli1lll ·nte, não a de ter feito conquistas admiráveis, mas a de ter governa-
nhas, roupas, meias, artigos de papelaria - tudo o que lembrasse suas ori- li 1,qw11a" para favorecer, e ter conquistado apenas para proteger!"
gens. Vivendo longe dos conflitos cotidianos da "terra natal", idealizavam a
'-il'u império mais poderoso é o de s ua moral, sua líng ua e suas leis ;-suas vitó-
sociedade e os hábitos britânicos e ansiavam pelo que não podiam obter. Até
1l i l\mais orgulhosas, aquelas que obteve sobre a ferocidade e a ignorância; -
o clima da Grã-Bretanha parecia-lhes ter poderes curativos. Assim, quando
,1·u, 1roféus mais duradouros, aqueles que erigiu no coração das nações civili-
tinham meios, viajavam para lá para tomarum banho de civilização-e recu- 1adas e libertas. O forte sentimento moral do povo inglês - seu ódio à injusti-
perar-se das mazelas físicas. \ª sua disposição de fazer todos os sacrifícios em vez de participar do crime;
Mas , acima de tudo, os colonos queriam ser tratados pela metrópole ,·"es têm sido há muito sua glória, sua força, sua segurança. Confio que assim
como iguai . Nos últimos anos, no entanto, tinham sofrido ataques constan- rnntinuarão sendo por muito tempo. Confio que os ing leses perceberão nesta
tes, especialmente dos abolicionistas britânicos, que insistiam em retratá-los llca, ião, como perceberam em muitas outras, que a política recomendada pela
como brutos e retrógrados. Os colonos ingleses eram particularmente vulne- 111,1iça e pela misericórdia é a única que assegura a felicidade das nações e a
ráveis às críticas. Embora dependessem do trabalho escravo, consideravam- 1·,1ahi lidade dos tronos.8'
se herdeiros de uma tradição ideológica libertária, com raízes profundas em ():-.aplausos com que o discurso foi recebido testemunharam o apelo da
sua história passada. Desde o início da história imperial, os ingleses haviam 1drnl11~1 ia imperial, que nem a escravidão nas colônias, nem todas as atroci-
contraposto a "liberdade" de seu governo à "tirania" dos inimigos. Na Guiana d,1111·, ·om •tidas pelas tropas britânicas, nem todos os protestos dos povos
não fora diferente. Os ingleses gostavam de enfatizar sua superioridade sobre llll 111 pmados p •la força ao império britânico no mundo inteiro poderiam aba-
os holandeses na administração das fazendas. Vangloriavam-se de seu estilo 1111 d111u111 • muitos anos ainda. E sa fé li gava-se de forma inextricável à cren-

46 47
ça na superioridade das instituições britânicas, e na excelência da prática da q111• llS hrancos exerciam sobre os negros tendesse a facilitar as relações entre
liberdade cívica e política dos britânicos. 84 O que explica a popularidade des- 111111 ll' ll S brancos e mulheres negras ou mulatas, e a despeito de em George-
sas noções é que elas foram (e continuaram a ser), consciente ou inconscien- 11 1\ 11 11 üo haver uma segregação residencial significativa, 88 os limites que

temente, manipuladas por diferentes grupos: pelas classes dirigentes em suas r purnvam brancos, mulatos e negros eram ciosamente mantidos nos
lutas pelo poder e nas tentativas de impor limites à Coroa, de um lado, e aos 1111111 ·ntcs públicos. A discriminação era conspícua no espaço social, onde a
"revoltosos", do outro; pela Coroa, para consolidar sua legitimidade; e pelo 1 111 ,l.·parava as pessoas em grupos diferentes, com privilégios diferentes. O

povo, para se proteger da arbitrariedade dos governantes. Do outro lado do , 1111i1 riodaigrejainglesadividia-seem três áreas, uma para os brancos, uma
oceano, a ideologia imperial serviu como arma do impé1io. Foi compartilha- p.i1 11 os " libertos de cor" e uma para os escravos. 89 No teatro local, as pessoas
da pelos britânicos disseminados pelo mundo todo, a quem ajudava a demar- , li • or livres tinham de sentar-se nas fileiras de trás. 90 Mesmo entre os negros
car fronteiras e enfatizar sua superioridade sobre os demais. Mas também foi '1 11vw l'ormas sutis de discriminação. Na igreja, os mulatos freqüentemente se
usada pelos súditos do império que lutavam contra a discriminação e a exclu- 11'l usavam a sentar-se perto dos negros.
são e reivindicavam um lugar ao sol em nome da liberdade, da justiça e das Numa sociedade extremamente fluida, onde se faziam e perdiam fortu-
leis britânicas. 1111 , num ritmo febril e as fronteiras da elite eram freqüentemente cruzadas

As guerras imperiais do século XVIII, a Independência americana e p111 arrivistas, onde os proprietários das fazendas conviviam com procurado-

depois a Revolução Francesa, a guerra com a França, as mudanças econômi- 11 , • administradores, onde alguns mulatos conseguiram tornar-se proprietá-
cas, os deslocamentos sociais e o turbilhão político daqueles anos apenas for- 111 ,, de fazendas, e onde os protocolos raciais eram freqüentemente descon-
taleceram essa ideologia. Ela foi ritualizada e enaltecida, criou uma imagem 11 I ·rados por brancos que viviam com negras, as tensões raciais e de classe

do passado e a projetou no futuro. Foi celebrada em livros escolares, em ver- 11111wvam muitas vezes a forma de ansiedade em relação ao status, a que se
111 n:scentavam implicações raciais. O resultado era que as pessoas sentiam
so e prosa, em romances e livros de história, em sermões e discursos políti-
cos, no Parlamento e na imprensa. Foi celebrada em incontáveis canções lll'l-'Cssidade constante de demarcar fronteiras, exibindo agressivamente sua
populares, que podiam ser ouvidas nos lugares mais remotos do mundo. A 1111loridade com gestos petulantes e aferrando-se aos símbolos tradicionais de
ideologia imperial teve um poder irresistível. Tornou-se algo que não se 111 n,tígio. Apesar do tom humorístico, uma carta de 1807 à Royal Gazette
podia ignorar, uma bandeira em torno da qual as elites da Grã-Bretanha ou l I i lÍU essa preocupação. O autor, sob o pseudônimo "Couro de Vaca," comen-
11va o uso indiscriminado de "Esquire", * um termo, segundo ele, "mal apli-
das colônias puderam cerrar fileiras e que até os oprimidos, em suas lutas
1 ado e prostituído" na colônia. O rnissivista se queixava de que bastava pos-
contra os abusos da dominação imperial, puderam invocar. 85
, 11ir alguns cachos de banana-da-terra para habilitar ao título de Esquire.
A ideologia imperial dava aos colonos um sentido de identidade mas
não os cegava para o crescente conflito de interesses que os separava da Há algumas noites eu estava à porta de minha casa quando um menino me
metrópole. Quando havia recessão econômica e os preços declinavam e os entregou uma carta. Olhei para o endereço e vi que era para meu feitor, B. W.
colonos não podiam pagar suas hipotecas, suas relações com os negociantes Esquire. Eu não ficaria nada surpreso se um dia desses visse uma carta ende-
britânicos e as autoridades reais azedavam. O sistema de patronato político reçada a meu capataz "Quaco, Esq." , ou, na ausência deste, a Nelson, Esq.,
Segundo Capataz.
também gerou inimizades pessoais, rivalidades e conflitos. Devido à prática
de beneficiar amigos e perseguir inimigos, o governador Murray recebeu ( 'ouro de Vaca perguntou ao tipógrafo se ele transcrevia as notificações tex-
muitas advertências do governo britânico. Diversos recursos contendo sérias 111almente como chegavam ao escritório, ou se acrescentavaEsquire, "à guisa
acusações à administração de Murray e levantando suspeitas sobre seu cará- de cumprimento". 9 1 Tantos eram os conflitos na colônia que ninguém teria
ter foram apresentados ao Conselho Real. 86 di lkuldade para endossar uma observação feita numa carta enviada à Royal
Em Demerara, as questões raciais complicavam os conflitos inter e <;ozette em agosto de 1822: "Em nenhum país na face da Terra as classes são
intraclasses. Havia tensões entre brancos e mulatos, alguns dos quais - mais numerosas e o espírito de partido está mais firmemente enraiza.lo do
como John Hopkinson, o proprietário da John e da Cave, e a farru1ia Rogers,
proprietária de diversas fazendas, incluindo a Bacbelor's Adventure e a (*) Esquire, ou sua abreviação Esq., é um título formal que pode ser acrescentado ao nome
Enterprise - conseguiram tornar-se relativamente ricos. 87 Embora o poder d • um homem, caso ele não tenha outro título, eé geralmente usado em correspondências. (N. T.)

48 49
1111 ·nelas se expandiam, os colonos encontravam crédito fácil e faziam-se for-
que neste". 92 Numa sociedade com tantas divisões e tantos protocolos, seria
1111ias. e essa prosperidade durava muito tempo, os que tinham acumulado
impossível os missionários não cometerem algum erro.
r11 pital muitas vezes voltavam para a metrópole, deixando as fazendas nas
A imprensa colonial contribuía para exacerbar os conflitos eo mal-estar
111110s de administradores e procuradores. Em tempos de crise, quando os pre-
geral na colônia. Não obstante o número reduzido de leitores, circulavam em
~w, despencavam, muitos colonos não podiam pagar as hipotecas e perdiam
Demerara diversos jornais - o Colonist, a Royal Gazette, o Guiana Chro-
nicle. Todos sujeitos à censura. Os ataques contra o governo britânico esta- '" propriedades para os negociantes a quem deviam. A maioria desses credo-
11•, vivia na Inglaterr a. Como conseqüê ncia, por uma
ou outra razão, em
vam proibidos , mas a imprensa local sempre consegui a insinuar alguns porcentagem
1> •111 ·rara, assim como em muitas outras colônias caribenhas, a
comentários críticos sobre as políticas coloniais em debate na Inglaterra. A
111· 1;11,cndeiros residente s não era grande.
Royal Gazette era mais comedida do que o Guiana Chronicle, que parecia
final do século XVIII foi um período de extraordinária prosperidade. O
estar sempre pronto a satisfazer o gosto do público pelo escândalo e a fofoca.
Isso era um sinal dos tempos, pois o patrocínio do governo estava sendo subs- 11111n ·rode fazendas cresceu rapidamente e a colônia recebeu muitos escra-
tituído pelo patrocínio do público. Uma carta mandada para a Gazette em vm.'" Entre 1789 e 1802, as exportações de açúcar cresceram 433%, as de
1,111\ 233 %, e as de algodão, 862%. Fizeram-se fortunas fabulosas do dia
96
1819, criticando o Chronicle, satirizava es. a tendência:
p,11 a a noite. 97 Dizia-se, em 1799, que um plantador de algodão podia ter um
Pode-se dizer que a Imprensa, como o Palco, para ter sucesso quando o tesouro l11no de 6 mil libras esterlinas numa colheita de 60 mil libras. Por um curto
está vazio, deve ser, em larga medida, aquilo que a cidade pede! De modo que
p1•1iodo, as colônias de Demerara, Essequibo e Berbice foram os maiores
se a bufonaria em um e o escândalo na outra, por um lado dão prazer e por ou-
11111dutores de algodão do mundo. Mas logo surgiu a competição norte-ame-
tro enriquecem , então tudo está bem quando acaba bem! "' a bonança já havia
11 1 ,111a e, quando John Wray chegou à colônia, em 1808,
Três anos depois, o Guiana Chronicle foi novamente acusado de faccio- p,1" ado. Não só a produção de algodão declinara como também a produção
so, pró-whig * e mercenário, de cortejar o escândalo e a difamação para satis- ,h I af'i.:. O bloqueio napoleônico e a recusa do governo britânico de dar aos
fazer fins privados, e de mostrar ua dispo ição "para sacrificar a harmonia , 1111,nos das Índias Ocidentais acesso aos Estados Unidos estreitaram o mer-
da sociedade e os sentimentos dos indivíduos à sordidez egoísta e à manuten- ' ,1dn Ass im, os colonos voltaram-se para o açúcar. Mas esse também foi afe-
ção de uma popularidade culpo a". Em sua defesa, o Chronicle argumentou 111do p ·las oscilações no mercado internacional; e seus preços, bem como os
que estava aberto a todos os partidos, sem se inclinar por nenhum, e que a prá- ,li, ,t 1 •odão e os do café, declinaram depois de 1816-17, quando o mercado
tica de publicar convocações ou comunicações "à maneira de anúncios " era 11111p ·u começou a ser inundado de açúcar do Brasil, das Índias Orientais e
tão antiga quanto a imprensa. Todos o jornais da Inglaterra, "pró-ministério d, 1111tras colônias do Caribe. Os preços atingiram o índice mais baixo em
e de oposição ", cobravam regularmente para inserir até mesmo artigos que 1k 1 ' .. l '1H Enquanto os preços dos produtos primários exportados pela colô-
contivessem "assuntos importante de informação pública". O jornal con- 111 l la iam , o preços dos produtos vendidos na colônia subiam. Tudo ficou
cluía dizendo que não havia necessidade de defender-se numa hora em que 111111111 car .
"atingira uma circulação que nada, a não ser possuir alguns direitos ao patro- W ray se queixou dos preços alto que tinha de pagar por tudo o que com-
cínio do público, poderia ter-lhe granjeado". 9-1 Com efeito, a política agressi- i'' ,1v,1 , l' comentou sobre os problemas que oprimiam os colonos. 99 Os preços
vamente sensacionalista do Guiana Chronicle traria mai virulência aos con- , h , ,ido~ e a escassez de alimento tomaram a vidas dos escravos cada vez
flitos e problemas que minavam a sociedade de Demerara. n111 , dilk ·is. Devido à guerra com os Estados Unidos, não havia peixe sai-
Tal como outras colônias, Demerara foi afetada não só pelas guerras do r 1110 pani os e cravos, que tinham de contenta r-se com banana-d a-terra.
império, como também pelas violentas flutuações de preços no mercado N.10 pml mo dar cinco ou seis libras por meio barril de carne salgada, e
internacional. Quando subiam os preços do algodão, do café ou do açúcar, as 1 11111· 1, ·sca está fora de cogitação . A sra. Wray
e eu comemos carne fresca
q,1 "·" 111m1 vez de de que nos casamos .[ ... ] Um pedaço de carne de carnei-
(*) No século xvII1 e início do xIx, o grupo político dos Whigs se caracterizava por
pre-
1111 11,1 ,1aqui tanto quanto um carneiro no Oriente [... ]." 11)()
religiosas, ter apre- de
< h 1:olonos estavam vivendo um problema sério. Durante os anos
tender limitar o poder da Coroa e aumentar o do Parlamento e, em questões
estes ainda hoje
ferência dos Dissemers. (N . T.) Em oposição a Tories, os conservadores, como
l11111,1111, a haviam tomado emprestado grandes somas de dinheiro na Inglater-
são chamados. (N. R.)

51
50
ra, mas quando os preços declinaram, não tiveram como pagar suas dívidas. 1, 11 111 l' t qu alquer quantidade de farinha de mandioca e de milho, disse ele,
Os colonos de Essequibo expressaram sua aflição numa petição dirigida ao , l11 l' lll )ferecidos incentivos suficientes". O arroz também se desenvol-
governador Bentinck em 1811: 1 111111110 b •m, mas o nível da demanda não era suficiente para que se provi-
d, 111 1i1,, ·m debulhadoras, celeiros e outros equipamentos necessários. Todo
Esses seus requerentes vêm lutando já há algum tempo sob condições muito
. 1, .q11111I •mpre tado, "cujos juros agora pressionam o fazendeiro", estava
desfavoráveis - devido ao estado precário do mercado europeu para todos os
11 1111 ido ·m hipotecas sobre os escravos, a terra e as construções, onde pre-
tipos de produtos das Índias Ocidentais-, que pioraram de forma a tornar
1 1 1p ·rmanecer até que a dívida fosse saldada ou a propriedade mudasse
. impossível para muitos dos colonos mais respeitáveis pagar suas dívidas. [.. .]
Muitas propriedades foram então vendidas. [... ] Caso se permita que o proces- ti, 11 1 \11s. omo conseqüência, as transferências de capital e trabalho para os
so cominue [... ] a grande maioria das propriedades será confiscada.[ ... ] Muitos 111 , 11, ·unai. da indústria eram difíceis e só podiam ocorrer caso os credores
fazendeiros têm armazenados produtos suficientes para pagar duas vezes mais 11111tl,1',l' ll1 sua percepção. Mas isso, reconhecia o governador, não era fácil.
do que devem , se esses produtos tivessem o preço usual , mas, nas circun tân- 1 1 1 11•dorcs que viviam na colônia logo se convenceriam, mas os credores
cias atuais, fossem a ações contra eles até mesmo de mi I florins, não poderiam 11111pl' II S p deriam levantar objeções sérias. Ele explicou que o "credor mer-
pagar em dinheiro e, por quantias comparativamente tão insignificantes quan- 1111 ti l'SIipulava que as safras deveriam ser-lhe remetidas para que ele as ven-
to essa, seriam obrigados a penhorar suas propriedades ou ir para a cadeia.'º' 1 , 1 l' ·ntão ganhasse uma comi são além dos juros; a produção atual de
il 1. n~· ucar e algodão é portanto vantajosa para o credor mercantil europeu,
A essa petição logo se seguiu uma outra, assinada conjuntamente pelos
111.1 , v ·nda de madeira, arroz e milho, encontrando um mercado à porta ou
fazendeiros e habitantes de Demerara e Essequibo. Mais uma vez eles disse-
111,1 11110, não teria vantagem nenhuma para ele além da mera remuneração
ram que, embora seus depósitos estivessem cheios de produtos, os credores
d11 1111 os". 1111
não estavam propensos a aceitá-los como pagamento, a não ser a preços
punhados na armadilha da lógica do capitalismo mercantilista, os
muito abaixo do necessário ao padrão de subsistência de um fazendeiro. , ,li 11w:,, •ncontravam-se de fato numa situação desesperadora. 104 Não tinham
Aqueles que já haviam embarcado sua produção e emitido letras de câmbio 11 I11 1du 1· para comerciar com outras nações, os preços de seus produtos esta-
- como geralmente se fazia-, não tinham conseguido vendê-la e tiveram 1111 uind no mercado inglês, as dívidas cresciam e os lucros diminuíam.
suas letras protestadas, aumentando assim suas dívidas. A experiência já lhes I', \\' 11 lo e tado da colônia em 1812, um plantador disse à Court of Policy
mo trara que "alguns credores, mais insaciáveis do que humanos", iriam pro- 11111 , 'lll 1799-1800, o rendimento em três propriedades sob sua responsabi-
cessá-los.102 1111,ull· havia chegado a 40 mil libras, enquanto as despesas haviam sido de
O governador Bentinck compreendeu o aperto dos colonos e encami- 1111 11us doi s terços em relação a 1812. Nos últimos três anos, entretanto, o ren-
nhou as petições ao conde de Liverpool, ministro da Guerra e das Colônias. d11111· 1110 f ra apenas suficiente para cobrir as despesas. Os proprietários não
O governador explicou que a situação se tornara tão angustiante que ele acha- 1 11 um s quer obtendo lucro sobre o seu capital. 1º1
ra necessário submeter a petição dos colonos ao príncipe regente para que Os fazendeiros viram-se enredados numa terrível contradição. O mes-
uma compensação lhes fosse concedida. O governador sugeriu que fossem 11111 p1 < e ·sso hi tórico que na Inglaterra estava levando ao abolicionismo e ao
suspensas todas as execuções das vendas das propriedades - desde que o l1 1 · rnmercio, criara novas oportunidades de investimento na Grã-Bretanha
governador e o Tribunal de Justiça se incumbissem de não deixar as proprie- , 1 1111h me ·tava impelindo os investidores para as Índias Orientais e outras
dades se deteriorarem. Alguma coisa tinha de ser feita com rapidez, disse ele, p.1111• -. do mundo, fazendo com que estes ficassem cada vez mais indiferentes
pois dentro de alguns meses muitas propriedades seriam levadas a leilão e, a 111 dl·,tino da colônia. Enquanto isso, os colonos de Demerara, embora lutan-
menos que se concedesse algum auxílio, ficariam arruinados não só aqueles d11 11111 a i n rementar o comércio com outros países, procuravam defender
cujas propriedades haviam sido vendidas, mas também seus credores. 1 m privil égio no mercado britânico e agarravam-se à escravidão. A crise
Os fazendeiros tinham suas opções limitadas pelos credores . Estes 111111 11ni a tornou os fazendeiros de Demerar& particularmente hostis àque-
determinavam não só o que deveria ser plantado, como também o local onde h- q11 • inicialmente haviam abolido o tráfico e que agora falavam de uma
o produto deveria ser comercializado. Essa limitação ao desenvolvimento da lt 'l , laçao para melhorar as condições dos escravos. Para piorar a situação,
colônia ficou clara numa carta enviada dois anos mais tarde pelo governador 1q1wl •s qu na Inglaterra faziam campanha em favor dos escravos pintavam
ao conde Bathurst, então ministro da Guerra e das Colônias. Demerara podia 11111 p •s:,,im quadro do colono , chegando mesmo a dar a impressão de estar

52 53
do lado dos negros contra os próprios conterrâneos . E, pior ainda, depois de
ter abolido o tráfico de escravos nas colônias britânicas, o governo continuou 11 1h•hal ' sobre o livre comércio ocuparia a atenção dos colonos nos anos
a permitir que se importasse açúcar de países como o Brasil, onde o tráfico 1 ,1·1 •uirum. Joseph Marryat, o incansável porta-voz das Índias Ociden-
ainda ocorria. ' 111\ 111•ou brilhantemen te o ponto de vista da região, enfatizando os inte-
Tal como colonos de qualquer outra parte do mundo, o colonos de , 111111uns da colônia e da metrópole. Num de seus discursos (transcrito
Demerara estavam à mercê das política arbitrárias do governo da metrópole. 1111111 , 11, •), di sseque o colono britânico tinha de adquirirtodo s os seus supri-
Seus lucros dependiam do apoio político dos grupos metropolitan os. Da 1111111 11 1111 (;rã- Bretanha:
metrópole recebiam o capital e importavam a maior parte do que necessita- l 11,111 a volta dele e tudo o que lhe pertence é britânico, as lãs, os fios e as cordas,
vam. Para a metrópole exportavam seus produtos. Desde o início os colonos " 111,1 hado. [... ] Ele assa sua carne numa grelha britânica, num espeto britâni-
tinham se beneficiado de uma posição privilegiada no mercado metropolita- ' " •1111 a co:rinha numa panela britânica, serve-sede la em travessas ou pratos bri-
no, mas, para sua aflição, na Inglaten-a havia muita gente falando sobre livre 1.11111 '"· com facas e garfos britânicos, bebe em canecas ou copos britânicos, e
comércio. No período entre 1820 e 1830, um grande número de petições, vin- i1, ~p11l' sua refeição sobre uma toalha britânica. Ele gasta todos os seus meios
das de diferentes grupos de interesse favoráveis ao livre comércio, inundou o 1 1 l'dL·ntcs nos produtos naturais e manufaturados britânicos, e esse gasto dá
Parlamento. O Jobby das Índias Ocidentais estava tendo dificuldade para , 1d 11 l' L'stímulo à indústria britânica.

defender seus privilégios coloniais dos ataques dos reformistas, originários t,111 yat afirmava que tudo isso beneficiava os donos de manufaturas, os
não só dos grupos de interes es das Índias Orientais, como também de comer- 1 , , 'I'' wl ,11 ios de terras e os trabalhadore s e que, no final, a Grã-Bretanh a e as
ciantes envolvidos no comércio internaciona l e de donos de manufaturas e ,111111.i , ,L' beneficiavam mutuamente . Num debate parlamentar a respeito
grupos de consumidore s. 10<> A posição privilegiada que a colônia desfrutava no I , 11 ,,, , obre a madeira, Marryat argumentava contra a retirada das taxas
mercado britânico estava ameaçada. O declínio dos preços do açúcar, do algo-
1 11111 v.1, como uma questão de princípio. "Os princípios", di se ele, "são
dão e do café irritou os colonos e os pôs numa posição até mais defensiva. Eles
111111.i, l' " '111 sua natureza e não podem ser esquecidos e lembrados ao bel-
começaram novamente a reclamar dos baixos rendimento , atribuindo a que-
11' ,, , , Hdntado, numa instância e abandonado s numa outra. Se abolimos
da aos "encargos onerosos", "regulament os opressivos" e vantagens logradas
l11tl , '" , ·~trições à importação de madeira do exterior, como podemos no
por seu competidore s, "livres das restrições do sistema colonial britânico".
1 11 ,11 n uholi -las ao se tratar da importação do milho estrangeiro? " Marryat
Os colonos acompanhav am ansiosament e os debates muitas vezes acer-
1 1111 ,, qllL' uma medida levasse a outra e mais cedo ou mais tarde todas as pro-
bos no Parlamento e na imprensa britânica. Em J 820 a Royal Gazette trans-
l , 11 , dl·saparecess em, inclusive aquelas que serviam de escudo aos colonos
creveu de jornais londrinos diversos artigos pró e contra o livre comércio,
l I l11cl1,, , Ocidentais. 1119
entre os quais uma petição dirigida à Câmara dos Comuns em prol do livre
< ·111110 Marryat, os colonos de Demerara estavam preocupados em man-
comércio assinada por negociantes da City de Londres. Os requerentes con-
1 1 ,, 111111l.'1; ao de que sempre tinham desfrutado no mercado britânico. Eles
denavam as políticas restritivas e protecionista s adotadas pelo governo e
, 11l1dn111avam com seus vizinhos das Índias Ocidentais, que também viam
argumentava m que todas elas funcionavam como um imposto pesado para a
, ,, 111110, diminuírem. Em 1821, a Ga zette reproduziu uma petição da
comunidade em geral. Solicitavam à Câmara dos Comuns que adotasse
l'llthl ·ia daJamaicafa zendo ver o estado de "aflição extrema" a que aque-
medidas que tivessem como meta "dar maior liberdade ao comércio externo
l 11 hui,"ª" demais colônias britânicas das Índias Ocidentais estavam redu-
e desse modo aumentar os recursos do Estado". 1º1 Alguns dias depois, a
1111.1 , dvvido aos rendimentos inadequados obtidos pelo produtos básicos
Gazette publicava uma petição dos armadores contra o livre comércio. Eles
, 1111h•rn111: ncia dos impostos onerosos, da regulamenta ção opressiva e das
alertavam que, caso as restrições à importação de cereais e os impostos sobre
a lã estrangeira fossem eliminadas, os campos ficariam sem cultivo, os traba- .111!.t/'l' t1, que as colônias e possessões rivais desfrutavam. Um mês depois
lhadores sem emprego e o resultado seria a desgraça nacional. Os navios apo- " p11tti11s publicaram outra petição da Jamaica. Des a vez os requerentes
dreceriam nos porto , os marinheiros iriam servir no estrangeiro e "não res- l111 .1111 cl11 ·lo uo ponto. Pediram que a situação fosse aliviada, argumentand o
taria nenhum viveiro para suprir as frotas em tempo de guerra". Os q111 11 pr L'~·o do açúcar havia diminuído tanto desde 1799 e os custos da pro-
requerentes afirmavam que os juros daqueles cujo capital havia sido investi- 1111 ,111 w l'I ·vado de tal maneira, que o valor das safras mal compensava os
do nos "negócios tradicionais" deveria ser protegido. 108 , 11 111, dt• produção, "não deixando renda nenhuma pelo valor da terra, nem
111,111 ,11 11 11111 p ·lo grande capital nela empregado".

54
55
Pouco depois, os jornais de Demerara reproduziam os debates a respei- 1111hltrou uma série de panfletos ilustrando os males da escravidão no
e II d,· O grande número de panfletos produzidos pelos dois lados exacer-
to dos impostos adicionais sobre o açúcar das Índias Orientais para proteger
os produtores das Índias Ocidentais. Inevitavelmente , o tema da escravidão 11111111 untagoni mo entre eles. 111 Os jornais das Índias Ocidentais também se
foi novamente discutido. Na Câmara dos Comuns, um membro que se·opu- 111,1111k-.taram contra a medida proposta. A Royal Gazette expressou o pon-
nha a essas taxas usou a oportunidade para atacar o tráfico de escravos, argu- 1 1 dt ista dos colonos numa série de editoriais raivosos publicado entre
11 1\ o e julho de 1816, atacando o governo britânico e a African Institution
mentando que não havia razão para que o consumidor fosse obrigado a pagar
,, 11111u medida que consideravam uma interferência indevida nos negócios
pelo açúcar do Ocidente um xelim amai do que o que pagaria pelo açúcar
1 l.11 11lonia.
11 2
A proposta foi finalmente derrotada e a decisão de implemen-
das Índias Orientais. "Era intolerável que o povo da Inglaterra fosse obriga-
1 11 111 l·gistro dos escravos foi deixada às colônias. Mas as pressões abolicio-
do a pagar preços altos para enriquecer pessoas que haviam optado por
111 1,1, ·ontinuaram.
empregar seu capital naquele comércio de carne humana." Os que falaram em
( )1, colonos observavam o movimento em direção à emancipação com
defesa dos colonos das Índias Ocidentais afirmavam que estes eram obriga-
1p11·1·11são crescente. Também seguiam atentamente os debate sobre o
dos a levar seus produtos em navios britânicos para um mercado britânico. Se
tais restrições fossem abolidas eles de bom grado mandariam o açúcar que 111111·1 ·io colonial. De 1821 a 1823 não se passou um mês sequer sem que os
produziam para onde lhes dessem o melhor preço.
110 111 111,11, de Demerara discutissem essas questões portentosas. O ano de 1823
Os colonos, por sua vez, queriam liberdade para comerciar com qual- 1111, l omeçou de forma muito auspiciosa para os colonos. Os preços de seus
quer país, mas ao mesmo tempo desejavam manter privilégios monopolistas 11111dutos de exportação alcançaram o índice mais baixo. Os abolicionistas
no mercado britânico. Muitas vezes eles haviam desrespeitado as restrições 1111111,1 íicaram a campanha na Inglaterra. Em janeiro, um grupo significativo
ao comércio. Haviam mandado seus navios para as ilhas do Caribe e negocia- 1 1111t{iveis fundou em Londre a Associação pela Mitigação e Abolição
e 11 ,ui uai da Escravidão em todo o Domínio Britânico. Em março, Wilber-
do com as colônias espanholas e americanas sempre que necessitaram. As
11 111 t' introduziu na Câmara dos Comuns uma petição dos quakers pela abo-
políticas coloniai sempre haviam sido o resultado de uma negociação com-
plexa entre o governo metropolitano, diversos grupos de interesse na metró- li lo da e cravatura . E dois me es depois publicouAnApp eal to the Religion,
pole e os colonos. Mas desde a abolição do tráfico de escravo , os colonos l111tir ·eand Humaniry ofthe Inhabitants ofthe British Empire in Behalf ofthe
começaram a entir que estavam perdendo o controle. ', •m Slaves in the West lndies [Um apelo à religião, justiça e humanidade
A eliminação das tarifas protecionista que garantiam a posição prefe- ilm habitantes do império britânico em favor do e cravos negros nas Índias
1 11 td ntai ], que teve repercussão profunda nos doi lados do Atlântico. Para
rencial da colônias no mercado britânico foi um proce so gradual que por
fim iria desmantelar todo o sistema mercantilista da Grã-Bretanha. O mes- 111111 ,11 a situação, um grupo de acionistas da Companhia das Índia Orientai
mo sucedeu com a emancipação dos escravos. Mas a perspectiva de que tais 11 1111 ·r-i::u a equiparação dos impostos do açúcar, desafiando o tratamento pre-
coisas pudessem vir a acontecer deixava os colonos de Demerara na defen- 11 11•11cial dado às Índias Ocidentais. 113 Nessas circunstâncias, não urpreende
siva. Ironicamente, eles tinham se tornado membros do império britânico 11111 as discussões do Parlamento sobre a medidas destinadas a melhorar as
exatamente no momento em que os debates sobre o livre comércio e a abo- 11111drções de vida dos escravos enfurece em os colonos.
lição se intensificavam e que o movimento abolicionista na Grã-Bretanha m li vro publicado por Alexander McDonnell em 1824, Considera-
ganhava impulso. Em 1815 , as discussões do "Registry Bill"* no Parlamen- ,,,,,,, 011 Negro Slavery, withAuthentic Reports lllustrative oftheActual Con-
to suscitaram fortes protestos tanto na Inglaterra quanto nas Índias Ociden- ,l,111111.1 of the Negroes in Demerara [Considerações sobre a escravidão dos
tais. A Society of Planters and Merchants [Associação de Colonos e Nego- 111 •rns, com relatos autênticos ilustrativos das condições atuais dos negros
1 111 1>·merara], deixou muito claro o ponto de vista dos colonos. • O curioso
11
ciantes], representando as Índias Ocidentais, queixou-se de que o registro de
escravos imposto pelo ato do Parlamento infringiria os direitos constitucio- 1 qu • em defe a do regime escravista e do sistema colonial tradicional, o
nais, os interesses das legislaturas coloniais e os indivíduos e seria um golpe 1111m udotou muita das idéias usadas por seus oponentes. Tanto a defesa
contra a propriedade nas colônias. Em defesa da propo ta, James Stephen q11,111to a crítica pertenciam ao mesmo universo ideológico. Ambas estavam
10111pr metida com a ideologia do trabalho e da autodisciplina. Ambas
(*) Projeto de lei sobre Registros . (N. T.)
1111ham a me ma fé na qualidades redentoras da educação. Ambas acredita-

56 57
vam no "progresso" e na "civilização". Ambas confiavam no poder das idéias t 111 11 111111111 a realidade complexa da classe dos fazendeiros , dividida entre
para mudar o mundo . Ambas compartilhavam um profundo respeito pela
1. 1111 li , qu • viviam nas colônias e os que viviam na metrópole, e cujas opor-
razão humana. Por fim , ambas afirmavam defender os interesses do império 1111 1111 1dl'' de investimento aumentavam constantemente e se diversificavam,
britânico. 1111 111111, lucros ainda continuavam em grande parte dependentes da escra-
Porém, apesar de todas essas semelhanças, os colonos, cujos pontos de 1il 1i , ,. do, privi légios do comércio, isso num tempo em que na Grã-Breta-
vista McDonnell representava, e os críticos da escravidão e/ou advogados do 11 11 111.i, 111um número crescente de pessoas di spostas a apoiar medidas a favor
1ivre comércio tinham visões opostas da escravidão e das relações entre colô-
ti 11111111l' ipaçãoedo livrecomércio. 115
nias e metrópole. A posição dos colonos de Demerara era repleta de ambigüi- \ , mudanças que ocorriam na Grã- Bretanha aprofundavam o fosso que
dades . Embora em princípio eles pudessem estar propen sos a reconhecer a I'"' 11, 11 m, comerciantes e proprietários das Índias Ocidentais que viviam na
superioridade do trabalho livre sobre o trabalho escravo, defendiam a escra- 111 1111·11·11 daqueles que viviam nas colônias. Os primeiros - reunidos na
vidão não só porque naquela época não viam nenhuma alternativa viável ao 1 11 1 111' West India Planters and Merchants - formavam um grupo rico e
problema da mão-de-obra, como também porque a emancipação era um ata- p1 "1, 11 1, 11 com uma representação efetiva no Parlamento, onde constituíam
que direto à sua propriedade. As elites metropolitanas não eram mais consis-
11111 l,1111· lobby em defesa das Índias Ocidentai . 116 Mas, enquanto os colonos
tentes , como McDonnell salientou. Opunham-se à escravidão, mas tratavam t , 11 111tll ilVam a depender exclusivamente da escravidão e_ da comercialização
os "trabalhadores livres" pior do que tratavam os escravos. E, embora estives- 1,111111.d , os interesses dos que integravam o lobby da lndias Ocidentais se
sem dispostas a desafiar o direito à propriedade, reivindicado pelos colonos p,1111l1.1111 e se direcionavam para outras atividades, como seguros, bancos,
em relação ao escravos, as elites metropolitanas que apoiavam a emancipa- 1, , 11\11I vimento urbano, manufaturas e comércio internacional. 11 7
ção defendiam zelosamente seu próprio direito à prop1iedade. 1, li vro de McDonnell revelou a situação difícil e as arnbigüidades dos
Os contendores tinham diferenças sérias. Provavelmente, contudo, foi n l,1 11 11, de Demerara. Argumentava que a escravidão era uma instituição
porque eles compartilhavam muitas crenças que sua luta se caracterizou por 1 111111a, sancionada pela lei e pela hi stória. A posse de escravos deveria ser
tanta hostilidade e ressentimento. Foi devido a seu apego aos direitos de pro- 1, 11 11 1.1 l 01110 qualquer outra propriedade que se tivesse na metrópole. Por
priedade que os co lonos reagiram com tanto rancor contra aqueles que no , 111011 vo, McDonnell rec usava ao Parlamento o direito de retirar dos colo-
Parlamento se manifestaram a favor da emancipação. Foi por partilharem 1· 111 uma indenização, o privilégio de obter de seus escravos seis dias de
11,1
com os membros do Parlamento a mes ma preocupação com o lucro que os
l1 1h,dl111 na semana" .
colonos repudiaram a política dos parlamentares, favorável ao livre comér- 1 111hora criticasse as noções mercantilistas e aceitasse algumas das teo-
cio, e foi por temerem, tal como as elites metropolitanas, as classes subalter- 11 1 111o1" avançadas de Ricardo, McDonnell tentou demonstrar de maneira
nas, que os colonos denunciaram com tanta eloqüência os riscos da retórica 1 1 1.11111· tradicional as vantagens que as colônias propiciavam à metrópole. 11 1
abolicionista e apontaram a hipocrisia de homen s que não hesitavam em pre- 1, t1011ias , afirmava ele, fornec iam oportunidades de investimento de capi-
gar a abolição da escravatura enquanto exploravam impiedosamente sua pró- 1 d q111· prnduziam mais lucros do que qualquer comércio com o estrangeiro.
pria força de trabalho. 1 , 1,1 11111 erro equiparar as transações britânicas co m as co lônias às transa-
No decorrer da batalha entre os abolicionistas e as elites das Índias Oci- , , 1 11·1uac.las com outros países, porque, na realidade, os contatos com as
dentai s, as semelhanças entre ambos ficaram soterradas sob camadas da vio- ol1111i,1 , l'ram muito mais extensos e freqüentes , uma vez que os emigrantes
lenta retórica utili zada pelos dois lados, uma retórica que só enfatizava as .1 ,1111 rnn sigo os costumes, as maneiras e os sentimentos britânicos. E, no
diferenças. A imagem que emergiu foi a de duas elites contrastantes: nas , 11 d;I', lndias Ocidentais, o comércio beneficiava tanto a metrópole como
colônias, uma classe de fazendeiros, retrógrada, arbitrária e violenta, quase 1 11111111,a,, pois os proprietários ou residiam na lng late1Ta ou finalmente vo l-
feudal, aferrada a hábitos tradicionais , defensora da escravidão e da ordem 1 1 .1111 parn a In g laterra, levando consigo toda a sua riqueza. "Não pode haver
social tradicional ; na metrópole, uma elite progressi sta, de idéias liberais, 111 11 111111111 di l''rcnça", e creveu ele, "no encorajamento dado aos vários artífi-
reformi sta, legalista, modernizante, lutando pela emancipação e pelo livre ' ,·1 111l' um cavalheiro de Yorkshire que reside e gasta sua renda em Lon-
comércio. Essa visão dicotômica, nascida das lutas do século x1x - e perpe- li , . 1· 11 111 proprietário das Índias Ocidentais que também mora em Londres
tuada pelos historiadores-, obscureceu tanto as divi sões dentro da elite bri- ,1~1,1 11111a quantia seme lh ante." O autor vaticinou que os artesãos na

58 59
11 t· 11 tranqüilidade luxuosa dos ricos ; se soubessem que a religião cristã auto-
Inglaterra enfrentariam grandes dificuldades caso as Índias Ocidentais fos-
11 11111111 igualdade de classes; se uma assembléia de homens se sentasse para d1s-
sem abandonadas. 1 11 11 1 ~uas reivindicações; e se nessa assembléia eles tivessem amigos zelosos,
McDonnell demonstrou que o grupo mais veemente na denúncia contra \rt• nicntes no apoio dado e prontos a dividir as posses dos ricos, será que labu-
as Índias Ocidentais era formado por aqueles envolvidos no comércio com as 1111111111 no tear como até então? Não! Eles logo se rebelariam. Se fossem deITo-
Índias Orientais. 119 O clamor em defesa do açúcar das Índias Orientais desti- t ulo" no debate, rapidamente se empenhariam em obter pela força o que julga-
nara-se, em sua opinião, "apenas a iludir a credulidade da população em ge- , 11 11 1 ter-lhes sido injustamente negado[ ... ] incitem-se as classes trabalhadoras
ral, fazendo-a imaginar que pagava mais pelo açúcar do que o faria se os 11 1111m os 1icos e haverá distúrbios em qualquer comunidade.'"

impostos fossem eliminados". Mas, de fato, o preço do açúcar na Inglaterra N ti opinião dele, era exatamente isso o que estavam fazendo os abolicio-
era inteiramente regulado pelo mercado internacional . Assim sendo, o públi- 111 1 1 11 African Institution e os missionários. Que tipo de caridade era essa,
co na Inglaterra não pagava nenhum centavo a mais pelo açúcar das colônias h•~uva as pessoas, sob "a aparência de uma universalidade de sentimen-
11 11
orientais do que pagaria se não houvesse taxa protecionista. 1,
1, ,t}'II , indefinida", a consider~ os habitantes ma~s rem~tos ~o _glob~ com
Na opinião de McDonnell, a manutenção do tráfico de escravos em , , 1111 ·-.ino grau de afeição que sentiam por suas relaçoes mais prox1mas. Essa
outras partes do mundo vinha beneficiando os países estrangeiros por ser 11111,dl· traria a ruína do império britânico.
muito mais barato importar escravos do que mantê-los. A expectativa dos e) que McDonnell não podia ver era que o império estava tomando
abolicionistas - de que depois de tomarem conhecimento dos preceitos da
11, ,, 11, rumos: as nações recém-independentes da América Latina e as no~as
religião cristã os negros poderiam emancipar-se e transformar-se num "cam- , 11l1111ws na Índia e na África estavam se tornando preocupações de mawr
pesinato" livre e feliz - estava simplesmente errada. Nas Índias Ocidentais
111111 do que as poucas colônias no Caribe. Por mais importante_qu_e o gr~po
a natureza era generosa; em um mês de trabalho uma pessoa podia produzir , 1. 1v11 1· das Índias Ocidentais ainda pudesse ser, ele não podena 1mpedlf a
111 1, 11111 aré emancipacionista que parecia ter conquistado os corações e as
alimento para um ano. 120 Assim, faltavam às pessoas as necessidades impul-
sionadora que caracterizavam uma comunidade mais industriosa e civiliza- 1111 IIIL' S do povo britânico. Tampouco poderia (ou quereria) impedir missio-
da. "O que faz um homem trabalhar na Europa?", perguntou ele. "Um feitor 11 ,11111, t.: mo John Wray e John Smith de ir para a colônia pregar aos escravos.
muito mais rigoroso do que qualquer um que se possa encontrar nas Índias 1•,1 1 11(is dos missionários havia gente respeitável e poderosa. Até mesmo o
Ocidentais, o pavor da fome." Sem essa compulsão, os homens - fossem 1i 1 ,po d , Londres havia enviado uma carta-circular ao clero e aos proprietá-
eles negros ou brancos - não trabalhariam. Abandonados a si mesmos, os 1111., .ipoiando o ensino da leitura aos escravos.
123
E entre os que estavam por
ex-escravos "mergulhariam na condição de selvagens" e passariam o tempo 11 11, du African Institution havia pessoas da alta nobreza. Além disso, mem-
"descansando numa lânguida apatia debaixo de uma bananeira". Todavia, 1,1 1, , da oposição no Parlamento vinham agitando questões relativas à eman-
acreditava ele, a escravidão estava condenada a desaparecer. 12 1 Mais cedo ou ' lilillj !IO e ao livre comércio. Finalmente, quando o governo britânico, em vez
mais tarde o custo da manutenção de um escravo seria igual ao valor de seu ili I L•dcr às exigências radicais, tentou contemporizar, como fez em 1823,
trabalho, e o senhor não encontraria vantagem nenhuma em mantê-lo, parti- 1111 -. 1neias medidas pareceram excessivas à maioria dos colonos.
cularmente porque um homem livre trabalhava melhor do que um escravo.
McDonnell também examinou o efeito produzido sobre os escravos
pelos debates sobre emancipação no Parlamento, pela crítica à escravidão e
os ataques aos colonos pelos abolicionistas. Os escravos, disse McDonnell,
acreditavam no poder do rei para interceder por eles e estavam familiarizados
com as opiniões de Wilberforce. Comparando a situação na colônia com a
que havia na Inglaterra, McDonnell, que - como outros homens do século
x1x-tinha noções muito claras de classe e de luta de classes, escreveu:
Se, por exemplo, os tecelões de Spitalfields fossem menosprezados pelo crime
aviltante de trabalhar da manhã à noite; se seu passadio difícil e inúmeras pro-
vações fossem motivo de escárnio; se lhes viessem à lembrança a vida suntuo-

61
60
NOTAS

INTRODUÇÃ O (pp. 13-9)

( 1) Esses dois di scursos conflitantes definiram os parâmetros dentro dos quais escreve-
ntm-se as prim ei ras hi stóri as de Smith e da rebeli ão. Conforme seus própri os vi ese po líticos,
n, hi stori adores ou culparam o mi ssionári o e os aboli cioni stas, ou culpara m os fazendeiros e o
, 1stema escravista. Embora a vida de Smith esti vesse inextri cavelmente li gada à rebeli ão, a hi s-
1oriografi a ini cial foca li zava Smith, não os esc ra vos . E por muito tempo depoi s dos acontec i-
1nemos, a hi stóri a do mi ss ionári o continuou a inco modar as classes dominantes da Gui ana e de
outros recantos do Impéri o onde estrutu ras análogas de poder prevalec iam. Em 1848, quando
l~dwin Wallbridge, um mi ssionári o eva ngéli co servindo em Demerara, escreveu uma bi ografia
de John Smith com o suges ti vo título Th e De111erara Marty1; Me111oirs of Rev. John Smith , ele
provocou uma furiosa reação das autoridades coloni ais, que o ac usaram de di sse min ar a sub-
versão e " insti gar o ódi o racial e de classes" . Em 1924, qu ando cem anos após a morte de Smith,
David Chamberlin , o secretário da L ondon Miss ionary Soc iety, publicou Smith of Demerara,
Martyr-Teacherofth e SIaves (L ondres, 1923), um a biogra fi a bastante inocente, o li vro foi rece-
bido com desconfi ança. Numa carta escrita em l 925 (e guardada nos Arqui vos da L ondon Mis-
sionary Soc iety) , um certo John Kendall , de N orthdene, Natal, desculpo u-se por não di stribuir
o livro de Ch amberlin porque hav ia muitos " bolcheviques " por perto, e ele temi a que o li vro
pudesse ser usad o contra as autoridades constituídas. A vid a de Jo hn Smith e a revolta de
Demerara havi am se convertido de memóri a em metáfora. M as a hi stori ografi a continuou a se
centrar em Smith e ignorar os escravos. Uma primeira preocupação com as ati vidades mi ss io-
nári as levou Sti v Jakobson a devotar a Smith um ca pítulo do seu li vro, A111 I Not a Man anda
Brvther? British Missions c111d the Abolition ofth e Slave Trade anel Slaver:v in West Africa anel
the West lnelies, J 786- 1838 (Gleerup , U ppsa la, 1972). E foi ainda Smith - não os escra vos -
o centro de um li vro de Ceei! N orthcott, S/a very's Martyr: John Smith of Demerara anel the
Ema11cipatio11 Move111e11t (Londres, 1976).
U m interesse renovado na escrav idão, ac ionado pelo movimento neg ro nos Estados
Unid os e pelo processo de descol oni zação da África, ass im co mo pelo número cada vez maior
de estudiosos gui anenses comprometid os com a recuperação de seu passado, trou xe os escra-
vos à primei ra linha. Emergiram quatro diferentes tipos de imerpretações: o primeiro, embora
reconhecend o a importância de uma variedade de fatores, acentuou o impacto da " revolução
burguesa" sobre os escravos (Eugene D. Genovese, From Rebellion to Revolution: Afro-A me,
icem SIave Revolts em the Making of the New Wor/d [B aton Rouge, 1979]) ; o segundo atribuiu
a rebeli ão à crescente exploração de mão-de-obra resultante da introdução do açúcar na Co, 1o1

343
i,,
Leste de Demerara (Michael Cra ton, Tes1i11g the Clwins: Resi.1·1a11ce 10 Slaver\' t/11' 11, 11 ,. ,, rnn A111islm •er1• ooperatirm ( ha,npai gn-Urbana. Ili ., 1972) ; Jack Gratus, T/1e Creat White
West Indies [lthaca, 1982)); o terceiro enfatizou as raízes africanas da reb~li i'io e1\,1 111111 1 1 it•: S lavery, E111a11cipa tio11 and l,ang ing Racial A11i1udes (Nova York, 1973); David Eltis,
Schuler, "Ethnic SI ave Rebellions in the Caribbean and the Guianas", Joumal ofSoC'illl 11111 ,, /~r·,111011,ic Crowth anel th e Encling of the Tran sa1la111ic SIave Trade (Nova York, 1987); Davi d
'"Y: 3 [_Ver~o, 1970]:374-85); o quarto, por sua vez, atri buiu mais importância ao prn ' t'\\II il, l:ltis e James Walvin, eds., Th e Abolition of the Atla111ic Slave Trade: Orig ins and Ejfects in
l:'urope, Ajrica and th e Americas (Madison , Wisc. , 198 1); James Walvin, ed ., Slavery and
cn ouh zaçao e creditou aos mi ssionários a co municação aos escravos de um entido til' v11 i,, 1
/lritish Society, 1776- 1846 (Baton Rouge, 1982). Para uma revi são da historiografia recente
moral e_dignidade pessoal. Enfatizou ainda a importância da aculturação, da alfabeti,aç1 u r ,1 11
conhec11nemo : rescente do mundo exterior. Também frisou o impacto negativo para 0 ~ 1," 1,1 sobre a aboli ção, ver Seymour Drescher, "The Hi storical Context of British Abolition", em
vos da trans1çao do algodão para a cana-de-açú car (Robert Moore, "Slave Rebclli 1111 111 David Richardson, ed., Abolition and lts Aftennath: Th e Historical Contexl (Londres, 1985),
Guyana" [mimeo., Universidade da Guiana, 1971 ]). •l-24. Ver também Barbara L. Solow e Stanley L. Engerman, eds. , British Capi1alis111 and
aribbean Slavery (Nova York, 1987); Dav id Turley, Th e Cu lture of English Anti-Slavery,
1780- / 860 (Nova York, 199 1).
1. MUNDOS CONTRADIT ÓRIOS: COLONOS E MISSIONÁR IOS (pp. 23-6 1) (8) Ragatz, Th e Fali of the Planter Class, 260.
(9) Robin Blackburn , Th e O ve rthrow of Colonial Slavery, 1776- 1848 (Londres, 1988),
( 1) Albert Goodwin, Th e Friends of Liberty: Th e E11glish Democratic Movem ent 111 1//, 137-41. Ver também D. H. Porter, Th e Abolition oj the SIave Trade in En g land, 1784- 1807
Age_ofth e ~rench _Revol111io11 (Cambridge, Mass., 1979); J. D. Cookson, The Friends ofl't-, 11 ,
(Hamden, Conn. , 1970).
( 10) O apelo que a cruzada antiescravidão exerceu nas mulheres é enfatizado por Edith
A1111-War L1beralts111111 England, 1793- 18 15 (Cambridge, lng., 1982); Derek Jarret, Engl, 11 ,,1
111 the A geofHogarrh ( i ' ed. 1974; ed. rev., New Haven, 1986); George Rudé, Hano verian J 1, 11 F. Hurwitz em Politics and Public Co11scie11ce: SIave E111a11cipa1io11 and th e Abolitionist Move-
111e111 in Britain (Londres, 1973), 89; Seymour Drescher, Capitalism and Antislavery: British
don, 1714- / 808(Londres , 1971) e Wilkesand Liberty: A Social Studyof / 763 to 1774 (Ox t111 ,1
Mobi/ization in Comparative Perspective (Londres, 1986; Nova York, 1987), 78-79; Walvin,
1962); S. MacCoby, Th e E11glish Radical Tradition, 1763-/914 (Londres, l 952)eEng lislr H, 11 /
1calts111, 1786- 1812: Fm111 Paine to Cobbett (Lo ndres, 1955); Malcolm l. Thomis e Peter 11 11 11 ed., Slave,-y and British Society, 61. Os colonos se dedicavam muito ao assunto. Em 1819, a
Royal Ga zette de Georgetown deu particul ar atenção ao que chamou de "mulheres reformi s-
Threats oJR evolution in Britai111 789- 1848 (Londres, 1977); Patrícia Hollis, ed., Pressuri•f,,,,,,
W11how 111 ~arly Vt c1oria11 E11gla11d (Londres, 1974); Carl B. Cone, Th e Eng lish Ja c 11 t, 1111
tas" . As referências atin giram o c lím ax em 7 de sete mbro de 1819, num artigo intitul ado
Refonners 111 La1e- l 81h-Ce11111ry Eng land (Nova York, 1968). "Reunião sediciosa". Transcrevend o de " um jornal lond rino" um trecho sobre as "reformi stas",
(2) O li vro de Philip Conigan e Derek Sayer, Th e Great Arch: E11g/ish State Fomu,11 ,,,, a Ga:elle di sse: "As mu lheres reformi stas [.. .] já co meçaram a se equiparar às poissardes da
as Cultu ral Revolution (Oxford, 1985) oferece uma síntese brilhante das mudanças em c 11 " 11
Revolução Francesa. A primeira exibição púb lica da impudência e da depravação pouco fem i-
na sociedade britânica. nina dessas mulheres aparece registrada numa publicação sediciosa chamada Th e Man chester
(3) Para um a aná lise ex tremamente interessa nte do poder da retórica de Paine, ver Ja 1111, Observer, um doc umento muito interessante da Black burn Female Reform Society, enfatizan-
T. Boulton, Th e La11guage of Politics in the Age oj Wilkes and Burke (Londres, 1963). Pa 11111 do sua determinação de ' instilar nas cabeças de sua prole um a profunda repulsa à tirani a, sob
impacto de Pame nos Estados Un idos, ver Eric Foner, Tom Pai11e and Revolutiona,-y A 11 w, ;, 11 qualquer forma, seja sob a marca de um governo civi l seja de um governo reli gioso, particular-
(Nova York, 1976). mente do atua l sistema jes uítico e de traficância do burgo que levou os me lhores artesãos, os
(4) Estimou-se que de doi s terços a três quartos das pessoas do povo na Inglaterra cMu donos de manufaturas e os operários dessa vasta comunidade a um estado de desamparo e misé-
vam m1111mamente alfabetizadas nessa época. Ver J. M. Golbye Q. W. Purdue, Th e Civilisatum ria, e co nduziu-os à beira da mendi cância e da ruína, pois pelo aperto do punho do incansável
ojthe Cmwd: Popular Culture in England 1750- 1900 (Londres, 1984), 127. coletor de impostos, nossos genitores já idosos que um dia gozaram de uma subsistênci a con-
(5) Os dissidentes protestantes estavam proibidos, porcaita régia, de ocupar cargos puhh fortáve l, encontram-se redu zidos a um estado de pauperismo, enquanto outros foram manda-
cos. Eles e_stavam excluídos da direção de companhias licenciadas como o Bank ofEngland 1111 dos para a sepultura derradeira'". As mulheres também " pediram 'que o povo obtivesse Parla-
a East lnd ia Company. Também estavam excluídos de ocupar funções em hospitais, asilo~ dt mentos Anuai s, Sufrágio Unive rsal e Eleição por Voto, única forma de nos salvar da miséria
pobres, casas de correção etc. Albe1t Goodwin di z que as duas questões fundamentais levant il prolongada e da morte prematura [... ].Quem irá ac reditar que estamos redu zidos a esse estado
das pela campanha contra os Test and Corporation Acts eram a "participação" de dissidentes pi 11 miseráve l, co nquanto seja fato notório que 2344 rece bem anua lmente 2474 805 lib ras por
testantes leigos nos chamados cargos de "confiança" ou "remunerados", e sua condenação 1111 pouco ou nada faze r' ".
( 11 ) Para uma rev isão da literatu ra sobre a abo lição do tráfico de escravos, ver Dresc her,
u_so contmu ado do teste sacramental como meio dessa exclusão. A primeira questão levou os d"
s1dentes a reivindicar uma situação política igual à dos ang licanos e, ao fazê-lo, recorrer às ll'll Capitalis111 and Antislavery, Roger Anstey e P. E. H. Hair, eds., Th e Historicc,1 Debare 011 Abo-
nas neolockeanas dos direitos natu rais. Goodwin, Th e Friends ofLiberty, 66-97. li1io11 ofth e Brirish Slave Trade in Live,pool - th e Africa11 Slave Trade and Abolition: Essays
(6) Goodwin, The Friends of Liberty, 264-65. to 1//ustrate Current Kn owledge and Research ([ Li verpool] , Historie Society of Lancaster and
(7) David Brion Davis, Th e Problem oj Sla very in the Age of Revolution, 1770-/Hl / Cheshire, 1976): Eltis and Walvin , eds., The Abolition ofthe A1la111ic Slave Trade; Eltis, Eco-
(Ithaca, 1975); idem, Th e Problem oj S/a very in Westem Culture (lthaca, 1966); c. Duncun 110111ic Growth c111d th e E11di11g oj the Tra11 satla111ic SIave Trade. Para o apoio dado pela classe
R1ce, The Rise and Fa/1 ofBlack S /ave,-y (Nova York, 1975), 22 1. Ver também Lowell Joseph tra balhadora de Manchester à ema ncipação, ver Sey mour Dresc her, "Carl Whip and Billy
Ragatz, Th e Fa/1 _ofthe Planter Clm-s in the British Caribbean , 1763- 1833: A Study ;11 So1'1t1/ Roller, or Anti-Slavery and Reform: Symbolism in lndustri ali zing Britain", Joumal of Socia l
and Eco11.01111c H1 sto1-y (Nova York, 1928); Betty Fladeland, Men and Brothers: Anglo-Amen Hisro,-y, 15:1 (Outono, 1981 ):7.

344 345
~. 1787- 1838", cm Vera Ruh111 ,. \1111111 . OppresselI: A . ofMod emMe s.1iw1ic
I uclv
( 12) James Wlavi n , " British Radic al Poli1ic (22 ) Vi1to1io Luntcr nari , Th e Religio11s oj lhe
S/aver y in Ne11• Wor/d Pla111a1io11 Som •111 1 l N,, 1
Tuden , eds., Comparative Perspectfres 011 . de outras seitas ver E. J. Hobs-
n, "The Rise of British Popul ar Si:11111111•111
1111 <'111!1· (Lisa crgio , lracl ., Nova York.' 1963). , 7 (fev., 1957):
York, 1977), 343-5 3. Ver também de Walvi (23) Para uma discus são cio impac to do ~netod 1 smo_e " .
hcr, 111 Bntam ' H1story Toelay ,
Seym our Dresc l'll\ 11111
, Christ ine Bole e Revol uuon
Abolit ion, 1787- 1832", em Roger Anstey h11wm , " Metho di m and the Threa t of
y, Religi o,z, a11d Refom , (Hamd en, Conn. , 1980), 152-53; Seym our Dreschc1 , " 11111,11
S/ave, I ff . d.1ca is, na América_1em torno
sh Colon ial Slave ry", em Wal vin , ed., Slt11 •1·11 ,111 (24 ) Eric Foner apon tou a convergência de evang 1cos e
115-24. Ia _.
Opinio n and the Destru ction of Briti 1111 ,smo
A111islavery; Eric J. Hobsb awm, l.11/i,i11 " ' d.,z ele' "falav am a hnoua
. ." do 1111 ~ rmaçã
enai 0
British Society, 22-48 ; Drescher, Capitalism and . ·
1,stas .
1, 1770. "Tanto evangé licos quanto rac iona transo
s i11 the Histor y of Labou r (Nova York, 1964 ); Howa rd Temperley, "An l 1 .%11, , <e . . .• - - d. ·d I ambos chega ram a 1111ag I11 a1 uma
-o da Jn ofaterra." Tom Paine
Me 11: Studie ,v, ua ' : . d
y, Boi te Drescher, eds.,A111i-Slave1:v, /?,·//,,,,,,, e da pn111az1a da consc 1enc1a lfl ável, e ate necessána, a separaça ' . "
as a Form ofCulLuraJ Imperi ali sm·•, em Anste interna como contrapartida desej
a11el Refon n, 335-50.
ica, 117. . lt f" cencia dos entre 1688 e ~1770,
. d
ge, M ass., 1956), 299. wul RevolurionaryAmeritz diz: ·' Havi a 7116 loca i s e cu o '
-
( 13) Charles Dickens, 8/eak House (Ca mbrid (25) Edith Hurw
r Sentiment for Abolit ion, 1787 1H 1 il[ l Os111 etoclistasde1odasas conexo es ora m
( 14) James Walvin , " The Ri se of British Popula . . d 32
e 1830 h~v1 a mais e 111 ... . ida vieram os batistas e os independen-
er, eds. , A111i-S /ove1:i• , Religi on, anel Reform , 152. enquanto entre 177 1
. Donald M L ewis
em Anstey, B olt e Dresch segu
os que experimenta ram o maior crescu nento. Em um período postenor ver
384-87 . · / 860'
( J 5) Ragatz, Th e Fali ofthe Planter C/ass, C .
· . Politics anel 11,e Public onsc,ence, · '8 1 Para . . L d J828-
tes"
da reform a parlam entar data de Wd~ , 1 11g-Class 011 on,
Work1
( 16) Patrícia Hollis comenta: " O movim ento Lighten Their Darkness: Th e Eva11ge /ica/ Missio1
/O

1770 e os a11esã o, de Londres e suas sociedacll', ,,, 11


Wyvi li e major Ca11wright [ ... ] por vo lta de . . um protesto contra a
Paine em torno de 1790" . Mas o controle c:1d11 (Nova York , 1986) .
\t , . 1· ·ndus
vinciais porco1Tespondência que es tudaram ( 26) D eborah Valenze vê a religiã o popula r pnnc1pal111ente como
que o movim ento fosse p;11 ,I11 tlttlr'!d a vilaco 111o cap1ta 1smo1 -
e política fez com d '. ·do contra seus opressores em
maior do govern o sobre a "ordem " públic a movinw 11111 modernidade, um resultado do produ to do encon
tro a~ i
clubes Hamp den, em 18 12, é que um
clandesti nidade. Só depois da fundação dos ~~1~:~~oo~aºX;'i':~rtação na Améri ca Latina
nos
da classe média tornou-se públic o. A insatb
l11\,ht triai moderno. Podemos vê- lo_também como
reform i sta dos radicais da classe operár ia e suce~s o . ", ln la terra no início cio século XIX, ver
ia Holli s, Class a11d Conjli ct in Ni11e11• 1 •111!, tempos de repressão. I sso explic a n a o ,
da classe operár ia cu lminou em PeterJ oo. Patríc o populai na g E I d" 1 13-25 · John Walsh
!5- J850( Londr es, 1973), 89. anos 1960. Para mais detalhes sobre a rehg,a D 'k Baker eds
Cemu ry E11gla11el, !8 Vale nze " Piforim s and Progre ss in Ninete enth-C entury ng an .'
0
o J Cumm mg e ere , ·•
na Virgín ia " como um a resposta popul111 111, 2 n and
( 17) Rhys l saac caracte riza o evange li smo Cenlu ry ~';_27; j ames Obelk evich, Religio
"

·'Meth odi sm and the M ob in the Eighteenth


' ,

crescen te se ntimento de desordem social'·. The


Tran lfonnation ofVirginia, 1740- 1790(Ch:ipl'I 1972), . . . b / · (N , York 1959)· Hobs-
Hill , 1982), 168. Popular Belief and Prac11 ce (Ca111b11dge, lng., 1ve Re e l ov<L ' '
. (O f01·d 1976)· Eric J 1-lobsbaw m, Pn11111 B . , - ,, l l 5-24 ' e Labouring Me11.
• · .
( 18) E. P. Thompson, The Making of the Englis
h Working Class (Lond res, 1976). 181t Rural Soc1
b
e1y x and
"Methodism
,
the Threat of Revolu tJon em ntain '
anel Societ y in lnelusl rinl E11gla11d: Ch11rch, Chapei, 1111,/ h Worki11g C/ass, 437 . . , 1803 com o
Ver também Alan D . Gilber t, Religi o11 awm(2 7) Thom pson, The Maki11 g of1he Eng/is em ,
Social Chang e, 1740- / 9 / 4 (Lond res, 1976). bl" ado em Georg . etown Deme1 ar,1, ns - um pro-
'd d . h
(28) Este jornal começou a ser pu ,e ' tz
aq ueles " que queri am torn á-lo adjunt o 111, uma co-pro pn edade e ois ome
E 1806 Volker
( 19) Embo ra houvesse entre os metodistas nome de Essequ ebo anel Demercuy0 aze
C fi e '
' .
ana, havia outros que desejavam que ele se ativesse ao M'II 1· - ·Nich olasVo lkertz eE. J. Hener y. m
es tado e subserviente à Igreja Anglic • • 0 ·
, m,,, es · , d . odo mais imponente e sem dúvida
Eles queriam Lransfo rmar a estrutura da soc
It· vavelm ente, holandes, eo ouu e cen o 111 '
propósito inicial de reform ar a Igreja e a nação. 1-lenery que adotou o lltulo C E -orna i foi compr ado por
de devere s enfa1i,1 1 vendeu sua parte para • ' 14 , 0 1
dade. A Nova Conexão afirmava a igualdade
de todos em Cristo e ao invés
• E I1 d Demerary Roya 1 azerre. m 18 . ·bo Através dos anos o
is tas primit i vos també m era m disside ntes. Nas zona, mais ingles , sseque 0 ª" el E
ss~c:!''. ,e :.De,~ erara" ;"Esse-
va os direito s das pessoas. Os metod Wi lliam Baker, que o renom eou, Royal Ca ze11e, Demer wy_~'! ~
muitas vezes " signifi cavaa organi zação de umcw
rurais.a formação de soc iedades metodi tas d1fer~nt~:de =~:-~ªe~itar qu alquer confu são,
e do propri etário ". Essas distinções por VC/l', jornal imprim iu os nomes das colôni as ele fon~as ' ' ' . M , Teles-
pode pessoas indepe ndentes do fidalgo , do pastor ·bo" e " Esseq uebo" . Em nome da clarez a e a s1mp ,c1
abaixo , e Oll<I
to dos metod istas nas c lasses ope rári as. Roben I• . R , I Ca e//e Vernota 94,
1793- 1975" (Tese, B. A. U ni -
se perderam no debate a respeito do impac qui
o jornal será referid o através deste li vro co mo º>ª . z ."
Worki ng-Cla ss Move1 11en1.1· of E11gla11d, 1800- 1850 (Londres, t of Newsp apers lfl Guyan a,
Wearmouth, Me1hoelis111 anel lhe foro, "The Histori cal Devel opmen
1937), 206,2 63.
d . Ih d cita artigo publi cado no jor-
ress em Nineteenth -Centu ry Engla nd", cm versid ade da Guiana, 1976). JU O e 1824 ' O
(20) Deborah Valenze, " Pil grim s and Prog (29) LMS 1c, Berbice, carta de Wray, de 3 1 e
eds., C11/1ur e, ldeology and Po/i1ics: Essaysfor Eri,·
Raph ae l Samuel e Gareth Stedman Jones, . . to ai nda negass
_
e mui -
fi
Hobsbaw111 (L ondres , 1982), 114. 1808.
nal em(30) tantes conqu an
OTole ration Act autori zou muitas seitas protes a-
atua, como
conservadorismo oficial wesleyano foi mui . J d iram-s e os disside ntes de
' bf·. s Portanto não é surpre enden-
(2 1) Eric H obsbawm diz que a " efi các ia do nm stas. mpe
um eq uívoco no entendimento cios motivo s que leva tos direito s civ i s a indi víduos não confo
e ele ocupa r caroos pu ,co . .
tas vezes exagerada". O que ele atribui a d·- c tores
.
' 1 . º Idade de direitos civi s e humanos, e que
seitas. Hobsbawm acentu a que os diversos grupos dores legais, guar ,aes, exe u . V Bl ackburn Overlhrow of
ramos operários a se voltarem para as várias o te que os disside ntes se envo lvesse m em lutas pe a ,gua
politic amente com os wesleyanos, e que mesm os modos de pensa 1. er '
metodistas em di ss idência não si mpati zava m la- eles defend essem a tolerân cia para todos
vadora do que os líderes . Nos di stritos contro . if E / nd
entre os wesleyanos, a plebe era menos conser Co/011ia/ Slavery, 73, 136.
Labouri11g Me,,, 23-33 . ss Move111e111 o ng a .
dos por eles, não havi a sinal de confo rmi smo. (3 1) Wann outh, Melhoelism and rhe Working-C/a

346 347
to pro
. cm agos10 de I tl05. e um aio do Parl amen
(32) Em 18 11 , lorcl Sid mouth in1rod
u1iu L1111 ·1 cl · 7,
, •li (4 1) U ma m dem tio con,c lho, emit ida
. d' .' emen "uo olcra11011 ÁL'..I, q11 1• L 11111 rtação de escra vos em Dcme rar a para a abertu ra ele
liberd ade aos di ss identes · O leg ishdo impo
, rp1 e1en 1ae hm1n ar o qu c •J• ·. .
:ihu,m d11 h l l11111udo um ano depo is, pro ibiram a ex istent es.
.
1erat1 on A ct, ou sej a ferrei ros I' d d . t.: t.: v1 ,1 como as anu ais a 3% do total ele esc ravos então
' · unpa ores e cham iné ' trope iros, de po1cos, llltl\cati:,
. ,
·'I ' ,11 1 1111va, r,ropr i eclades e limitaram as entrad
L
ros e outro s tornarem-se preg·1 '
dores 1.t
merantes. ord S1dm outh exp1.essou , u.1r,rcol' t1p111 ,11,, H11gat1., Tl, e Fa /1 of rh e Pla11r er Class, 278.
que em breve a Inglaterra teri a um l g re1a ac ion al (An ohca na) 1
N . · s· (42) C. Sil veste r H orne, Th e Srory of
rhe LMS (L ondres, 1904), 12-1 3.
ono _ o 11. 1gn1 111ca ntc, e u111 p11111 bro de 18 13.
tán o Seu proj eto de lei oc·isi fora do comu m d· . d . . (43) Roya l Ga:e ue, 20 de novem
u uma opos1 çao a pa1te os d1 s,1dL' llll' 1,111 em
chu va de petiçõ es ca iu
'
sobre p
O ar Iamemo e a emenda foi de d " (44) Tho mpso n, Tlte Maki ng ofrh e Engli sh Worki11g C/ass, 393. B arbara H ammo nd,
rro Ia a. ver EFa11!(el11 11/ M., cos havia m "cloro formi zado 'IS pesso as" contr a qual-
::.i11e, 19 (j unho, 18 11 ), 237-47. l//11'11 Labourer, sugere que os eva ngéli a11d Laboure1;
s H ammo nd e Barbara H amm ond, Tow11
(33) Raga tz, Th e Fct!/ ofr!te P/a11r er C/ass
, 281-8 5 . quer tendê ncia revo lucion ári a. Jame ia sido adotada por
1920) . Esta idéia há muito hav
(34 ) A Afn ca n A ssocia tion (ou ln stituti on) foi fundad 1760- 1860: Th e New Civili w rion (L ondres,
. . . . a em 1806, sob o auspício, do· •111 desse debate, ver Eli ssa S. ltzkin , " The H alévy The-
pos eva ngélicos, com a fin alidade d e v1gia1 a costa afric ana pa. · mie H alévy ( 1905). Para urn a aprec iação
A sa Briggs, Th e Age of lmprove111e11t,
1783- / 867 (L ondres /ª d'
unpe ir_o tráfi co de c,1 1,1111
, 959), 174, F ladeland, /1/, 11 ,,,, I ,i~ - a Work ing H ypoth es is? Engli
sh Revi va li sm : Antid ote for Revo
Me11 , H
luti
obsba
on
w
and
m
Radi
suste
ca lism,
ntou que
PI C Em Labo 11ri11g
Brot!t ers, 86·' Raga tz ' Th e F.a // 0,,. ~ 111e a111er lass. 1789- 18 15", Church Hisro ,y, 44 ( 1975)
:47-56.
nos mes mos luga-
. " . .. popul ar cresceram ao mes mo tempo e
(35) M ary Turner diz que, na Jamaica
os fazend . li q11, o evangeli smo popul ar e o radi cali smo
io" O s pat . d' . - e1ros es tava m d1v1d1dos qu.an10 l rápid a.
Ião do traba lh o mi ss ioná1
· 1onos as 1111ssoes dav·1111 pri ori d d rirª-' L'\ I ,111 res, co mo respostas à mudança socia invocavam
. · , . . . . ' a e a cump a Jam aica obser va que os mi ss ionári os
c1as do governo imper i al sobre a 101eran c1a I e11g1osa · seus opo . . (45) M ary Turner em seu estud o sobre seus esc ra-
ionári os co 111 . ' . nentes estava m ma1~ p1L'n1 11p11 o sistem a escrav ista em princ ípi o negav a a
cios co m as li gações cios mi ss o mov11nento ant1 esc ra vista E " as q ualid ades intelectuais e morai s que
· . ··
. • d. . . _ ' '· 111 1802 , aA s,L' rllhh 11, u ra fil osófi ca e organ i zacio nal [ ... ] .Eles també m, in ad-
Jama ica na aprov o u um a lei que dete r111111 ava ,t rm111ur çao do tr"l ball O m1· ss .ronar , .
io. l·.\\,r l 1 vos. Eles propi ciara m uma nova estrut de que eles gozavam
. 1·fi d . ' ' i a ampli ar os direitos costu meiro s
imped i a qu e pesso as não" devid ame 11 t
e qua 1 1ca as porl e1 " prega ss O
• . ..
ad11 pilo vertid amen te, encoraj aram os escravos es, 199.
enden tes". Turner, Slaves and Missio11ari
. ' .. em . ato ,01 re1e11
bié··
governo imper i al . Em 1807 • a As.sem ia ap1 ovou umn ovocó cl.igo conso 1id - co mo produ tores e comerciant es indep
. ado sobre i·,1 111 of Doc1.1111enr ary Evidence Prod11ced Before a
vos que tornava o tra balho mi ss ionári o 1 ·1 1 d
ega e ava aos anglr ca' nos O cl'11.e1 ·t . (46) Deme rara. Furth er Papers, Copy
·· . o exc1u 1vo di· pi , Co muns , 1824) , 27-29. Ver també m Publ ic Reco
rd
gar aos esc ravos. Os metod i stas "
e t0 d
os os memb ros elas outras .se·i ta 's estava.m pro1b1do~ tk Jlll
. . General Courr Mania/[ .. .] (Câ mara cios . C. O .
. la d é 1 s daqui em di ante co rno P.R.O
gar. Foi apenas na segun d 'a déc·1c os c u o x 1x qu e as condi ções d 0 .. b Ih . . Office , Co loni al Office, 111 /42, citado niu-o de que,
'
S b . li a a o 1111ss1011m 111 chard Elliot em fevereiro ele 1808, a LM S preve
Jam a. dadas a Ri
torn ara m-se mais favor áveis n·t ' , 1ca. o cresce nte press·'ão do oove1 o ·
no
b ·• ·
ntan1 co, ,il/! IIII (47) N as i nstruções
á- los da condi ção "ser-
, . pelos escra vos, não lhe cabi a alivi
,azende1ros chegara m a reconhece r que era melho r cooperar com as d '. .· s pol111 , .
cas
.
11 11111, embo ra ele devesse ter comi seração o, insinu ar qu al -
. . . . 11 e111ze a adequ ado, senão ex tremamente errad
rr a1s. M as mes m o então os mi ·ss ioná rr os ti vera m qu e andar na corei · b b M ,
ary 1 u1111•1, vil" em que se encon trava m, " nem seri condu zi-l os a
· . a am a. ntent es com o es tado ele se r vid ão, ou
SICll•es and Missio11aries: T!te Di l'i/l/ . . S/ave Socie ry, 1787- 1834 ( Urhm1 ,1. quer co isa qu e pudesse torn á- los desco
. egm/1 011 of Jc1111c1 1ca11 provo ca r urna opo-
Ili., 1982) , 15- 18, 26. sse dos senho res". Ele não dever i a
quaisquer med id as prej udi ciais ao in1ere criatu ras são esc ravas
. mi ssões futuras. "Essa s pobre s
.· . ·/· W.
(36) Eri c W i lliam s, Docu ments 011 8 11115 1 eS/ 111d1 11 Hi.i·ro 1)', 1807 /J833 (Trini dail ª sição qu e pudesse se r danosa a quaisquer ás. É para sal vá-
· vas ela i gnorâ ncia, do pecad o e de Satan
1952), 226. num sentid o muito pi or, elas são escra agora ." P.R.O . C. O.
. gelho ele Cri sto que você está indo
(37) A lgun s anos depoi s, a Casa da Mi
ssão Wes le las de sua condi ção mi serável pelo Evan
. . ya na esc1eveu a Bathu rst fazendo
11111
res tri ções i mpos tas ºO t ., b li d
apelo quan1 0 às " ia a 10 os 1111 ss1oná ··
T · ·
ad pelo govrrn11 111 /43.
··
'o t ' 1 'd . b : .i ios em nn1d
local. A carta en fa ti zava que o mi ss· ionár 1 111 ia I o o rioad o ·1•se afasta · 1 · (48) Roya l Gaze rre, 6 ele junho de 1822.
, h
0 ' • 1 e a cape a trnha ~1d11 id éias acerca cios direitos do homem se
propagaram
,ec ada. Willi ams, Documents. 244 _ (49) N o sécul o XIX, qu ando as novas
'

maior ele pesso as, até me. rno em paí-


es dos b . . . . . , . quant idade cada vez
(38) Rhys I saac, ao comentar as ati vidad acl'II em diferentes partes do mund o, uma
. .1 d . ati stas na V1 .rg rn1 a, no sécul o x v111 , çou a quest i onar a co mpati bilida de entre cri sti ani smo
ru a essas tendências "dem ocrát1·cas" ' , n<1sc1cas eemo ções pa t'lh · d E ses cató li cos como C uba e Bras il , come
t e de. . - . - r 1 . a as. le obser va que " es,a,
do lyn Midlo Hall, Socia l Co11rro / in
Slave P/a11tario11
pessoas, que se cham ava m mutu amen 11 maos e irmas acred itava m q
ue a
, ·
unr
.
ca auton dadi• e escrav idão. Ver, por exem pl o, Gwen
· C11ba (B altim ore, 197 1).
. .
Socieries: A Compariso11 of Sr. D0111i11g11e and
. . od
em sua 1gre1a era a congreoaçã os que v 1v1am em so lid·iri edade EI d .
M ary Turne r
0 '
d ' ' · es con uziam seus neg6 conv in cente nessas noções. C omo
·c ] d'f' . (50) Entre tant o, não hav ia nada de
.
cios num pé ele ioualc lade 1 ;; 0 fsi up·· ç- 1· · .
0 1 e1en1 e a preoc d . ao ex p ic11a com hi erarq ui a e pren• uaram a defen der a comp a-
ss ion ári os wes leyanos contin
"
1 1 .
dênci a qu e ca racter i zava o mund o d 0 qua e es trnham sid o cham ado " · 1saac, ,,.. , he Tra11sfor demo nstrou no caso ela Jamaica , os mi diretr i zes mais
. S chega ndo até a se opor às
ani smo, às vezes
111ar1011 of Virgi11ia, 165 . tibi I idade entre a esc rav idão e o cri sti s anel Missionaries.
. Para mais detalh es, ve r Turne r, S/ave
de Saint D progr essi stas vin das ela Inglaterra.
(39) Às vezes atribu ía-se ao H aiti o nome Santo Domi n entre
f - . omrn gue,à sveze so de te Roge r An stey) notara m um a correlação
go,e rararn enteo de H aiti Parae v itar con usoes adote i o tenn o H ait' p · (51 ) Di versos estudi osos (parti cul armen
r- ·
Ge ou " B .· . . . 1. ara o impac to da rebc
terra. Atrib uíram -na a tendê ncias teo lógica s . M as como
1ac haiti ana na Ing laterra , ve r D avid on and the Emergence of Haiu, eva ngeli smo e abo li cioni smo na Ingla Estad os Unidos
179 1- 1805 " em Wal vin ecl S/ dgº s_,. i it1 sh Oprn1 s, a m aiori a dos evangéli cos no Sul dos
' ·• ai•ery 11 Bnt1s ª
!t Socie ty , 123-5 0 . \éer tam bé111 Geggus, S/a demo nstrar am D onald M athews e outro se torn avam donos de
' O I lidade, quanto mais os evang élicos
very, War a11d Revolurio,r e Bl ackbu rn ' TI7e vert irow o/Co lo11ial S/ave ,y não se torn aram abol icioni stas. N a rea
o eva ngeli smo perdi a o ímpe-
. 1 ' éli cos, mais
(40) J osep i M arrya t, Th ough1 s on the Ab 1 ·1 . . .
Civilizario11 in escravos ou os donos de escra vos torn
avam -se evang
o , 10 11 of rhe Siave Trade and terísti ca dos primeiros anos . Simu ltanea mente, o que
16) .
A/rica [... ] (L ondres, 18 to anti escrav ista que hav ia sido uma carac

348 349
L d . . 18 16) · ugene S loc ·k. 'l"',1 t, llil'tor
, ~
. \'o'tl1 e l111rclt Mi.1.1io11 -
negros. logo se !ornou, aos olhos do~ 11111 1111, T I o 11pson ' Mora vian Missio ns (Loncl re~.
um dia fora uma rel igião que unia branco~ e 11,I ',~11 flihlt•Societ y (2 vos' ., on i cs. '
isso, os negro~ cri avam suas igr •ia,, 111d, 1,, 1111• ,\'rwief\' (4 vo ls., Londre s. 1899- 19
16); A ugustu s 1 r •
missão para ca tequi za r os negros. Enquamo
ugerir que a correl ação entre evange li smo c uh11l11 111111 11 l KK1).
temen te dos brancos. Isso parece
,I
O mais provável é que fo i acom hi 1111~ ,l11ol111 2 . t grai s para todas as denom ina-
na Inglaterra requer uma expli cação diferente. (55) 1-forne, Th e Sto,y ofbthe LMS, · . . po rucos ,.
111 e
ou o aboli cionis mo na lng l11 il'l I,I 1 , 1 828 · . se direitos 1
ca l ismo artesa nal co m o evangelism o que
es timul
dessas ques tões, ver meus coml'l ll ,11 11, , ,1 (56) Somente em 1 . . Uveiam ° -
· 69 Para um panora ma
, da luta dos di ss identes pela
.
abo-
in The Friends of L1berty:
obse rvou Dona/d M athew s. Para uma di sc ussão M1ss1 011an es, . 790 A lbert Goodw
Protes tanr Ethic" , em Michael r:II011 ,·tl /1, \1 cs . Turne r, SIaves and , ver ' . M · --
o tra balho de Roger A nstey, " Slaver y and lhe dC rati on A cts, 1787- 1 "' .e1·ic·h Revo fution (Camb ndge, ass.,
Slave Studies (Toron to, 1979), 173 -77. Vl' I 1,11111, 1 lwlln dos Test an orpo
, Englis h De111ocrat1c . M ovemen t 111· theA,,º e oif t11 e r1
a11d Bra11 ches: Curre111 Direct ions in 1 li, 1
l lw
The Caseo f theAmerica n South ", e111 /\ 11 , 11 .
Dona/d G. M athews , " Religi on and Slavery: , 111 11.1
1()79), 65-97.
n, . Para mais detalh es, vi: 425.
e Dresc her, eds., Anti-S favery, Refigion and
Refon I 07-32 (57) Evange fical Magazine, 3 (outub ro, 1795).
ioni smo, ver Roger An stey, 'l'l11· 11/11111 35-39.
(52) Para a ligação entre evange li smo e abolic (58) Ibid., 4 Uanei ro, 1796):
18 10 (L ondres , 1975) e " Sl avery and Ih · 1'1 111, 1,n
S/ave Trade and British Abolir ion, 1760- (59) lbid., 4 Uanei ro, 1796):35-39.
també m meus comentários, no llll',11 I11 11h1
Ethi c"', em Craton, ed. , Roots and Branches.
Ver (60) Ibid., J 2 (abril , 1804): 18 1.
A nstey '"Slave ry and the Protes tant Ethic" . Pai u 11 d, lo 11
me (pp.1 73- 79), so bre o trabalh o de
1 (6 1) Ibid ., 1 ([julho?] 1793): 1.
" Reflec ti on on A bolitio ni sm and ltk11l1, •11
sobre o abolic ionism o, ver David Bri on Davis, ih 11 1795):~09. - t ·ss1·onári osentreos artesãos. Os bati s-
ro, l 987):7 97-8 12; John A shwor (62) I bid ., 3 (dezem bro, ..
Hegem ony ", American Historica f Review , 92 gamzaçao a recru ar 1111
(outub - , · the Bnu sh
li . " TI M ·ssionaryCon tex t of
nitari ani sm" , i bi d. , 8 13-28; Thom as 11 ,1 ~. (63)A LMs. naoer aa unicao r
Ih te Ver Duncan R1
' ce, ie 1
Relati onshh ip Between Capitali 111 and Huma -
.· d B ·t ·st, Sociel)' 155.
Debate over A nti slaver y: A Reply to DII\ 1 ,1111 rus adotavam on entaçaoseme an vm S faverv an n 1
" Conve nri on and Hegem onic lnteres t in the
'
,. Wal ·ss·ionári os para seu destin o nos
es, ver Seymo ur Drescher, Econo cidc: 111111
h /\nti-S lavery M ovement , em ' · .
A shwon h", ibi d., 829-78 . Para maiores detalh 96 · Duff levou tnnta m,
S/ave, y i11 the Era o.fAbo lition (Pittsb urgh, 1977) e Capita lis111 anel A11ti-S fave1y: Briri.1/t A/,o/t/ (64) Em agos to de 17 ·1111 ' o navi o :
1 am sido tremad os e I ece 1
. b'cl ordens como mini stros, 25 eram
° _
man, eds., Briti 1/t , ,,, _ h . d iros carpin teiros, al fa iates, teceloes,
fizarion in Co111p arcrtive Per!ipecrive (Nova York, 1987); Solow e Enger mares do Sul. Apenas quatro t '
~ ~:-~:\ ;,: Sto~ ofrh e LMS, 23.
111ic Crowth and tlte Ending oftlte 11,111 "'' artesãos e um era cirurg ião. Entre_ os an e:ao~
italis111 and Caribb ean Slavery: David Elti s, Eco110 Um ferreiro e um arti lheiro da A rt1lhan a ea .
'
York . J987): David Bri on Davis, Sfc1 ve1J1 a11d Human P,vgre,11 (N11 · 18 14): 11.
lantic S fave Trade (Nova . · U
. tor·esc reveu· "Além di sso, aque-
1982); Elti s e WaJvin , eds., The Abofition ofthe
Atlam ic S/ave Trade; Stanley Engl'l 11 I,I11 (65) Evc111gehca f Magaz 111e, 22 anerro ,
e/ical Magaz me o au ·sta que há · .
York, 1h . d E . d d uma grande d1ver-
ti on in the Eighteenth Centu ry : A Comm c,111111 (66) Numa ca rta aoedn or a vang _ ..
"'The Slave Trade and Briti sh Capi ta l Fonna Tem1w il, - . to nunca deven am per er e vi
c h· a o Industão e outras naçoes c1 v1-
, 46 (in verno. J972):4 30-43 ; H oward no ass un .
Willi ams Thesis" , Busine ss History Review les que es tao mteressados b · · án a e conqu anto a 111 ,,
pai
,
ses
d t Sl1peri ores há muitos outros
y, and l deolog y", Past and Presem , 75 ( 1977): 94- 1 J8; Dresc hcr. ··1 ·,111 sidade nos campos da la uta rrn ss1on ' ' .
··capi tali sm, Slaver . d essoas de talentos e1 o es ode serapreciado da fo rma mais
Bolt e D rescher, ecl s., Anti-Slavery, Re/igion, ,111,/ 1izadas po sam necess rtar e p . · Id
W hip and B ill y Roller ", 3-24 ; A nsley, ·d - conhecunentos 1umI es P eles
rking- Class Problems in the Age of /111/111 uantid ade de outras tribos rudes da humanidade,
Reform ; e Betty Fladeland, Abo fitionists cmd Wo onde o ze lo de homens de aptI oes e
Eva11g elica/ Maga zine, 2 1 (novem-
tria/ization (Baton Rouge , 1984). útil. Entre os hotent otes, os negros e uma q f "
es orços .
mo devia mui to a algum as tendência, 11'11 enco ntra rão um ampl o ca mpo para seus
(53) Roger A nstey enfa tiza que o antiescravis · l11
nos séc ul os xv111 e x1x: annin i ani smo, redc11\ mo e as peti ções antiescravistas, ver
lóg icas dentro cio protes tanti smo. vigent es
e essa linh a pm I11l11 bro ' 18 13):4 15. 1 - t e O não-co nf orm1. s . dado pelos operári os ao abo-
nali smo. A prime ira, porqu açao en r
santifi cação, pós-m il enarismo e denom inacio (67) Para um a co rre . · 1 d ·r ··e / England.OPara odapmo
a graça sa l vadora de Deus es tava di sponíve
l p,11 .,
ety m li us "' . . tl1eSa me:Abolitioni sm .and Char-
que o Evangelho seja pregado a todos, pois " pós- mil,•111 1 Gil bert, Religion a11el Soc11 d I d " Our Cause Be111g ne anPara uma manei ra de ver diversa, ver
modo a ela se aplica r ao presen te; o .
lodos; a seg unda, por redefin ir a redenção de liciom smo, ver B etty F a e an ' . . S . . 1 69-99 f .,
human a. A conve rsão es tava li gada a bencvo l1• 11 · d SI ryand Bnt,sh oc 1el) , -C lass• Radica li sm in the Years of Re orm '
ri smo·•, por sua crença proféti ca na perfei ção tism", em Wal v111, e ., ave . . r in
tati vas milenaristas". A nstey ac redita que, junla k gR 1· . ,1d Re"orm 294-3 18. Enqu anto
eia, com paixão, perfecc ioni smo e a " expec n
Patríci a Holli s, "Anti -Slavery and Bnll sh Wo
h d Anti-Slavery , e 1gio ª
11 , ,• ' . ·
evangé licos na ca mpanh a antiescravista. A11'l b 1· . 11 ·smo H olli s enfati za a antipatia
essas tendências ex pli ca m a parti cipação cios clesdob ranw11 em A nstey, B olt. e Dresc. er, e s. , .
d dO los operán os ao a o 1c10I pode, ser soluci onada se se con-
, ed. , Roots and Brc111c hes. Para um d'ça - o
"S lavery and the Protes tant Ethi c", em Craton Fladel and enfa ti za o apoio a pe . . .
b r ·omsta Essa contra 1 0111s-
to da teses ele A nstey, ver sua obra The Atla111
ic SIave Trade and British Abolition; Hurvi t,, ,· 11 1 .
dos operári os pelo movim ento a o ic1
. b 1· . . o O apoio à campanha abolic1.
0111sm .
gel i smo e a o rc1 ·á . s que se conve rteram aos mov11nen-
n a as ligações entre evange li smo e a h11 .
Po!iticsa11d the Pubfic Consc ience, onde també m exami sidera r os elos existentes .entre evante deartesaoseope1 n o
-
Ji cioni smo. os radi cai s da classe operár i a que também
ta pode ter vindo preclom mante men .
nary Society 1792- 1842 (2 vol s., Lo11 lada por James Wal vin em " The Propa-
(54) Franci s Cox, A Histo, y of the Baptis t Missio tos evangé licos, embora talvez tenha havtd~
· terpretaçao e ,ormu
g;~P
m Ellis, Th e Histo,y of the London Miss,011 . - E d B . . I Society , 64-65 . Ver também,. do
dres, 1842); Horne, The Story ofthe LMS; Willia denun ciavam a escrav 1dao. ssa 111 n11s1
y e Willi am W. Hoidsworth , Th e History oftl,, " W 1 . d S favery an d· ca l Politics: 1787- 1838", em Rubm e
a,y Society (L ondres. 1844); George G. Finclla oanda of Anti -Sl avery ' em a v111, e ., B .. h R . . 343 55
1-24); James Hutton, Histo,yofth e Mom Sl avery on nt1 s a r - ·
Wes/eya11 Missio11c11y Society (5 vo ls. , L ondre , 192 º mo autor, " Th I
e mpa
ct o f
· on Slavery III
. N ew "'orlel P/antation Soc1e11es,
1Not a Man and a Brother? (Gl eerup, Upp mes o · rn
de vista semelh ante.
vian Missio11s (L ondres, 1922); Sti v Jakobson.A m
· um ponto
Tuden , eds., Comparat1 ve r erspec 11ve.1 .
Origin and First Ten Years ofthe British and N11 Seymour Dresc her, em Capita lism anel An11s/
ave1y , expressa
sa la, 1972); John O wen, Th e History of rhe

350 351
. (68) Evc111gelirnl Maµa :i11e, 13 Uunciro, 1805) :25, (murço, 1805): l 2J, (ni t1to I HII I l (8 1) /\ !?oval Ga:ellt', de 2 1 de j ulho de 182 1, tra nscreve as obser vações ele M arryal enfa-
(Junho, 1805):276. '
lI1 undo que muito da miséria pela qual os escravos passavam em Demerara devia ser atribu ída
(69) Pa~a a li gação emre antiescravismo e evangeli smo, ver, além das 110111 , 1 ,. , 1 u, leis holandesas ai nda vigente . Ver opini ão análoga em P.R.O. C.O. 11 1/23; ibid., 11 2/ 12; e
ma, D_av1d Bnon D avis, Th e Problem of S/avery in the Age of Revolution / 770 /8.' 11111, 1 t111nbém Bolingbroke, Voyage.
1975), Drescher, Cap11alts111 and Amislavery, cap. 6. (82) Em 8 ele maio de 182 1, a Royal Gozei/e publicou um artigo típico, "The Politica l
(70) P.R.O. e.o.
111 /~8 tem uma " Li sta de holandeses propri etári os d• f ll/l' IIILI 1 1111luence of England" . Parti a da idéia de que não hav ia outra nação na Europa na qual os "prin-
Demerara, Essequebo e Berbice, CUJas propriedades estão hipotecadas a cidadão, h, 11,1111111 d pios de liberdade" fossem tão " bem compreendidos". E a Gazeli e se gabava de que nenhuma
de 18 19. ·
outra nação linha uma proporção tão grande do seu povo " qualificada para falar e agir com auto-
_ ~7 1) Uma li sta de fazendas, referente ao ano de 18 1O, mostra que aproximada 1111 .1111 ndade [ ... ] empre pronta a adotar uma perspecti va razoável , liberal e prática".
11111
terço tem nomes holandeses. Royal Gaze11e, 3 de novembro de 181 o. (83) Relatório cio Comi tê da Society for the Mitiga tio11 anel Gradual Abolition 0JS/a ve1y
(72) Hen.ry Bol ingbroke, A Voyage to Demera,y, 1799- 1806 (Vincent Roth , cd .. ( in ,1 (Londres, 1824),76.
town, 194 1). Citado daqui em diante como Bolingbroke, Voyage. (84) Willi am Blackstone, em se us comentários a res peito das lei s inglesas, publicados
_ (7~) Em 1815, os colonos enfrentaram de novo a poss ibilidade de Demerara p:1,, 111 p, 11 pela primeira vez em 1765, escreveu: "A idéia e a prática dessa liberdade civil e política flores-
º'.1ll as maos. A Royal Gaze11e de 15 de abril de 1815 comentou com ironia, " De que d\'lh 111 ce no mais alto grau nesses Reinos, onde fica muito pouco aquém da perfeição, e só podem ser
vicia de 111certeza novamente desfrutamos. Primeiro, com res ignação recomendáve l rnnl, 11111 perdidas ou destruídas através dos elementos de seu possuidor; a legislatura, e naturalmente as
mo-nos em nos_lornarmos_holandeses como conseqüência da restauração desses reinm l' 1111l11 leis da Inglaterra, sendo peculiarmenle adaptadas à preservação dessas bênçãos inestimáveis,
o mai s - depo is em cont111u annos na nossa atu al situação de 'e lar entre ' , com a b,il,llt\ ,1,1 até mesmo no pior dos súditos [ .. .]. E esse espírito ele liberdade está tão entranhado na nossa
certo modo pendendo.em favor de serm os britânicos!". Na ocas ião, os colonos se pergu 11 l,I\UIII constituição, e tão enrai zado até mesmo no nosso so lo, que um escravo ou um negro, assim que
o que resultaria das discussões que oco rri am na Europa depo is da derrota ele Napole,lo 1 1111 desembarca na Inglaterra, j á se encontra sob a proteção das leis e se torna no mesmo instante
forme os novos tratados, Demerara deveri a perm anecer britâni ca Entretanto hav·a um homem livre'·. C itado em Blackburn, The Overthrow o/Colonial Slavery, 8 1.
• •· d ·. · , 1, lllll 111111 (85) Ver Christopher Hill , The Century of Revolution, 1603- 1714 (Londres, 1980);
final • eles condesce nderam · 1111111111
em nos 111
<1maigoquan ooed1tordaGaze11ecomentava·
,. · "A ,
a quem pertencemos . Royal Gaze11e, 15 de abri I de 18 15. Edward P. Thompson, Whigs and Hunters (Londres, 1975); Phi lip Corrigan e Derek Sayer, The
(74) James Rodway, Histo1yoJBritish Guia11a,jim11 the Year /668 to the Presem 'fim, 11
Great Arch (Oxford, 1985); Roy Porter, Eng/ish Society in the Eighteenth Cenru1y (Londres,
1982); e Blackburn, Tl, e Overthrow of Colonial Slavery; Douglas H ay et ai. , Albion 's Fatal
v~l.s:·. Georgetown, 189 1-94), 2: 164. Ver também Cecil C lementi , A Constitutiona/ Hi.i·tm 1 .,,
Tree: Crime anel Society in Eighteenth Cemury Eng/and (Nova York, 1975).
~~it,sh Guycuw(Londres, 1947) ; Henry G. Dalton, Th e Historyofthe British Guyana(Londu
(86) Ver, por exempl o, as apelações de Rough e Johnston em P.R .O. C.O. l 11/43. Ver
55) , V. T. Da1ly'. A Short H1sto1y oj the Guyc111ese People (Nova York, 1975); D . A. G. Wtul
também em Arquivos da L ondon Mi ss ionary Society, Diversos: O caso do sargento Rough.
dei, Th e West !11d1 es and the Guianas (Eng lewood C liffs N J 1967)· R A h GI
e . .. . , · ·· , oy rt ur ª'!!º"
uyana. Race and Po/111csA1110111 Africc111s c111d East /ndians (H aia 1970)· E s Stº bY, 8 11111'1
(87) Royal Ca zette, 27 de março de 182 1. Transportes e hipotecas na fazenda Good
G . c . , . . c Hope, "sem prej uízo dos direitos a uma certa hipoteca na dita propriedade em favor ele Sarah
H'wana entenary Yea rBook, !83 / - / 93 / (Geo rgetown,
193 1) AR F'"bb
· · . . vv e er, ent1•11 111 1 Barnwell, mulher de cor li vre··.
ISfory and Book of British Guiana (Georgetow n, 193 1).
(88) De acordo co m Higman, em todos os distritos de Georgetown havia uma proporção
(75) Royal Gaze11e, 5 de abril de 1807.
seme lhante de escravos, brancos e libertos. Barry W. Higman, Slave Populations ofth e British
_ (76) Ordens d? co nse lho emitidas em 1805 imped iram o prosseguimento das i mpoliu
Caribbean, / 807- 1834 (Ba ltimore, 1984), 99 .
çoes cl\e;cravo.s ~a Afnca para a Guiana. Bl ackburn , The Overrhrow oJColonia/ Slavery. 1(1(1
(89) LMS 1c, Berbice, carta ele Wray, 4 de novembro ele 1824 .
. ( _) Rub111 and Tuden, eds., Co111para11 ve Perspectives 011 Slave1y in New World Pta 11111
t1011 Soc1et1 es, 184. (90) Royal Gaze11e, 7 de agosto ele 18 1O.
(9 1) lbid., 17 ele j aneiro de 1807.
(78) Royal Gaze11e, 22 de março ele 1806.
(92) fbid ., 24 de agosto ele 1822.
. . (79) :sse proces.so era seleti vo. E le reprodu zia as ambi g üid ades e co ntradições du, (93) lbid ., 11 de sete mbro de 18 19.
i epi esentaçoes 1cleo lóg1cas metropolitanas. As elites co loni ais encontravam apoio no pens ·a (94) O debate entre o Guiana Chronicle e o Royal Gozei/e mostrou duas noções opos-
mento con. ervador britânico, enqu anto pessoas co mo Smith enco ntra va m amparo na n<;~" tas sobre a imprensa. De um lado, a imprensa depende do patrocínio de partidos ou do gover-
1·c1
·ideo logia
,
libera l. ..Mas todos se
,.
orgulhavam da sua condi ção de "europeus" . -rodos
,, na rea, m1l" no e supostame nte serve ao " interesse públi co". Aceita-se a cens ura co mo necessá ria pa ra
inventavam um a metr~pole ao selec ionar algumas formas de representação desta e rejeiuu manter os comentári os políticos dentro de limites " toleráveis", conforme sej am estes defini-
out~as. As ehtes coloma,s,_por exempl o, rejeitavam as tendências ideológ icas que ameaçavam dos pelos grupos dominantes. De outro lado, a imprensa, ao que se presume, depende do patro-
a 01dem socia l co lomal. Vista da perspectiva deles a nova ideo looia " bui·guesa" ad quina · · cín io do " público" (mercado) e serve a interesses " individuais", não de partidos. E la rep udi a
. , . . · º umu
li ansparencia especial. Um bom exempl o é o modo como os co lonos denunciavam a ·,deolo ,· a censura e se proclama uma " imprensa li vre··. Na prática, natu ra lmente, as coisas eram dife-
r ··
ª a _ ivre · A o mes mo tempo, a identificação com a "metrópole" era essencial paragm11
cio " u· b Ih 0
rentes. O Guiana Chronic/e, que servi a ele instrumento ao mercado, tornou-se a voz dos fazen-
manutençao das formas co lon1:.11s de dominação. deiros e negoc iantes ricos, e um firme inimi go dos mi ssionários. Ver Royal Gaze11e, 8 e I Ode
(80) Royal Gaze11e, 7 de setembro de 18 19. agosto de 1822.

352 353
r derat i011.1·011 Nexm Slal'ery, with Auth e111ic Reports,
1·itlc> G , · , · ' ll m d,i e, 11 ( 114) Alex anclcr Md) o nnc ll , ,111si
(95) Em maio ~-,, ~ cn11 ~. t11ns1anc1t..1 dos fa ,. ·nd
ele .1799 • os· F· ).
. .d . ao tráíic 1 ' .. . ' .1111
011 the Negm es em De111 erara (2• ed., Londres, 1825
ve1am " Ota r med idas vigor osas de apo io
OCCCSCldV 0~ . As~11 11, d ,
•, V<ll, 11 11111 1,.,, 1/1111tmtii •1• of the A crua/ 011di tio11 John Gl adsto ne. S. G. Chec k land,
linaç ão de25 0 ·1fl . 1111,' essa class e do que
elas Ín dias Oc iclcnt ab e promul f :t1 o1 111 ( 11 5) Nin gué m exemplifi ca melh or
ar . 1 . m, onn s ~ara a Companhi a 11' d, 1 1754 - 1851 (Cam bridg e, lng., l 97 1 ). Hav ia uma pro fun -
vos em suas colfü 1ias. Roya l Ca zette, l 'i dt• 111111 / t,, , <,/ods1011es: A Fa111ily Biograph y, que mora va m na
p a e~~~;uRa1Ea ~n~o r~aça?.t e escra 17H 1 1H , ntes e faze nde iros co mo Gl adsto ne,
· · · ar ey, spec ts of EconSI o1111c H1 story o f Briti sh G uya na 1111ddcr ença entre faze nde iros res ide
d w.- TI er com o temp o.
o por Al an H . Adamson em Suga r 11
, iout aves : ie Po/itical Eco11 0111y
<// /11 ,111!, r ,11 l11pl11tcrra , e essa di ferença só fez cresc 1785 e 1830
- / 904 (New Have n, 1972). Carib e na Câm ara dos Comuns entre
1838 ( 116) Entre os que repre senta vam o Hibb ert, Josep h Marryat,
rds, Charles Ellis, Geor ge
ão de Essc qui boc l>t- 111, ' " t f 1·,t11vam Willi am Beck ford , Brya n Edwa
1804 i:7p~;:: ulq7~a6t,U verpo ol impo rtou 6 mil fa rdos de algod am Youn g, e muit os outro s. Raga tz, Th e Fa/1 of the
· 10 vezes ma is Tamb ém se reg istrar
'am a umentosse 111e lha111 •," • 111l 111uh l11lt11 Glad stone, Alex ande r Gra nt, Willi no próp rio lobby
Gl asoo w e Bristol . Boi'111g b ro k'e, ,·, a atenç ão para as tensõ es intern as
o
,oyage, 139. l'/n11te r Class, 52-53. Barry Higm an cham e depo is entre os repre sentan-
p , faze nde iros e nego ciantes,
(98) Pa.r,1mais detalhes ver Oca p.2. ara um perJOdo poste ri or, ver do is liv rm, li" tl11s Índias Ocid entais, prim eiro, entre do tráfi co de escra vos, os
dinári os· Adamson Suga w.·11 ' SI ' t oryoifth e C 11yw1 1·1,· 11 ,,,A, i as. Na ocas ião da aboli ção
· ' r 1 1out aves e WalterR odn ey '
AHis 11•, das "velh as" e os das "novas" colôn moçã o para redu zir a
Peop le' 1881-/ 905 (2• 11· np1.essao - B . ore, 1982). estavam mais inc lin ados a apo iar a
, all1m 1t· prese ntantes das velhas co lôni as as fo ram di sc utid as, apen as
, 9 de outub ro de 18 12 Quando as leis de me lhori
(99) LMS IC, De merara, ca rta de Wray rnmp eti tivid ade das nova s co lô ni as. opôs -se a e las. Além di sso, clezes-
para Berbi W . . de vulto em Dem erara ,
( 100) An os depo is, quan do se mudo u
_ce, ray se qu eixou de qu t· l t •11 1111 lumes Blair, que tinha inves time ntos esses nas Índi as
um a c haminé em Berb i ce cust . t
tn11r um a igrej a inteira na Índ1 u I li
1
mem bros do Parl a ment o das Índi as Oc ide nta is ta mbé m tinh am inter
. . , an a anto qu anto consza ,c is Parli ame nt, 1807 - 1833 ". Ver
d º' . uefe . West lndia 'Inte rest' in
epa,, ar c1nco xel111 s pord iapa ra um pedre iro
. q d pen,1s um terço do traba lho qut· 11111 111
1 Orien tais. Ver Barry W. Hi g man, "The 1966 ).
York ,
ce neiro na In glate rra fa ri a · Tamb é m se queixou e qu e não e ncontra va um par d e sa p11111 111 1u111bém Eric Willi ams, Capitalis111 and
Slavery (Nov a
a Escó-
'
menos de dezo ito a vinte I' nte típi co desse grupo. Nasc ido na Baix
xe 111s, e de que um a empregad a lhe
custava cerca de du a\ 11111 11 111 ( 11 7) John Gl adsto ne fo i um repre senta Dura nte a Guer ra com a
mês LMS IC B ·b· 1824 es co merc iais em Li verpo ol.
· ' ei ice, carta de Wray, 7 de outu bro de cia, em 1764, conc entro u suas ati vidad dido segu rado r de navios que se
. · e le era um bem- suce
( 101 ) Willi ams, Documeuts, 3 19-20 Fra nça, ele prog rediu muit o. Já em 1797 bens chegavam a
ca e Índi as Ocid entais. Em 1799 seus
( 102) lbid . desti nava m ao Bálti co, Amé rica, Áfri Em 1800 , após a morte da prim ei-
a inves tir e m imóv eis.
( 103) lbid., 335. pelo meno s 40 mil li bras. Passo u então mont anho a da Escó c ia. Dura nte
· a fa míli a era da reg ião
( 104) Porto do oCa ribe ouv·iram -se queixas seme lhantes. Raga tz, Th e Fa/1 ofrlu• l'l,mr t ra esposa, caso u-se com um a moça cuj Seus navio s diri giam -se
C/ass, 327. iu e diversifi cou seus negóc ios.
a époc a da guerra, Glad stone ex pand rciali zava produ tos tropi cais,
. Mas e le tamb é m come
( :05) Rodwa~, Hisro ? of British Guya
na, li , 196. ao Báltico e à Rúss ia para comp rar trigo para 1500 libras o valor da hipo-
,e lee um sóc io eleva ram
represdenta9ntes das Índi as Ocid entais d ·
no Parlamc111n h1 1 como algod ão, aç úcar e café. Em 1803 ém era fornecedo r
tânico ~~~~ ~ ~~:: ~;:s1~~~~1~e813·o0de , a fazend a Be lmont. Glad stone tamb
van am e" 3 a 56 , enqu anto. h·i ·
. ,v,ac erca e tnnta par,· , 1111 teca de uma proprieda de em Demerara u a ser agen te a serviço de outras
·A s mercadori as, e passo
Câmaraal taentre 182 1 e 1833 R A bo liti o ni sm in thc 1-iph de made ira, arenq ue salga do e outra do tráfi co. Em
~A~s t~y, B: :;: ~:te r_n º: Bn_ t1 sh ção
teenth anel Nin eteenth Cent uri~s "~:1: de escravos, G ladstone apoio u a aboli
T. Y, . esch e1, eds., A1111-Slave ry, Relig io11, ,111,I faze ndas. Embora fosse prop ri etário mu ito e e le j á estav a mandando
Refo nn, 24. Yerta mbé m C Dunca R. ack S/av ery(Nova York ' li/ / 1 e Li verpoo l. Não tard ou
. . n ice, he R1se a11d Fal!I oJB/ 1807, e le se torn ou sóc io do Courierd to pres ident e da Li verpo ol West
133 O Ih . d. , ': Índia. Em 1809 , fo i elei
"TI es t 111 Parli ament ' l!<0 / navios para a Arge ntin a, o Bras il e a
de Barry Hig man W,
. me o1 ensaJ Oéo ' ie es t n ia lnter adqu iriu partic ipaçã o
.· . I S . iu seus negó cios em Demerara e
1833 " H '
' 1S1011 w rud,es, 13(o utub ro )·1967
lia111 e11t. ! 734- !832 (New Have n 1955,
)· 1- 19 Ye
D · I· H. 11 r
t
ª~-

m G
. P. Judd , Mem bers of/'111
e West lndia Com
India n Associatio n. Gl adsto ne ex pand
na meta de da faze nda Succ ess. Sua
fo rtun a e seus laços fa milia res lhe propi c iaram li gaçõ es
197~u)~; s a ·~ 811e f H1 story ofth C/ass. e confi dent e de prim eiros - mini stros , e
mittee (Panfl eto da hi stóri a cari benh a ' 'ag atz, ieFa l/ ojthe P/a11 ter políti cas impo rtant es. Torn ou-s e amig
o de mini stros
ava a 200 mil libras.
. mais rico. Em 18 15, sua fortuna mont
( 107) Roya I G azett e, 13 de Junh o de 1820 . seus laços políti cos fi zeram -no ainda
u uma base e m Lond res. Asso cia-
. Comun s e estabelece
( 108) lbid., 29 de junh o de 1820 Em 18 18, fo i e leito para a Câm ara dos cios em Dem erara e comprou a
1 . outros, ex pand iu seus negó
( 109) lbid. , 24 de abri I de 182 do a John Wilson, Charl es Sims on e o núme ro de escra -
( 110) lbid., 19 de junh o de 182 1. -a e m faze nd a de açúc ar e dobrando
outra meta de da Success, transform ando 430 escra vos. Àque la altura e le j á
Class, 390-95. um a proprieda de com
( 111 ) Raga tz, Th e Fctll of the Planter vos. Tam bém adquiriu a Vredenhoop, co piedo so,el econ seguiu ganh ar
16 de abril 27 d . de fi lantr opo. Evan géli
( 11 2) Roya l Caze 11e, 2, 7 de març o
e Julh o,_ de 18 16. O pr~je to de ll·1 granj eara na Grã- Breta nha a repu tação os pobres. Vo ltou-
rce e m 18 15 f~i derro tad ' faze ndo cons truir igrejas e esco las para
apre se nt ado por Wi lbe rfo
. o, mas as leg is latu ras co loniai s forum di nhe iro com suas obras de carid ade 1 a l 828, sua fo rtuna passo u ele
"convidad as" a . t d . e estradas de ferro. De 182
ni smos de regis tro próp ri os. Ri ce, Th e Rise and Fa/1 of Blal' Ã se então para a cons truçã o de cana is s. C heckl and ,
S/ave ry, 249. 111 ro uztr meca anua l aume ntou de 30 mil para 40 mil libra
350 mil para 500 mil libras e sua renda
!~:::~· enca beça do por C harle s Ellis
, Ke ih Doug la~ l' Tlze C /adstones.
Jose ph( ~ !~r~1 r ::~f :o~t! :~;:s c~:i Negro Slave 1y , 17, 26.
re~re se ntantes da, ( 11 8) Mc Donn e ll, Cons idera tions on
uma ~:g: ~~;;:~1~ce.; ~mbo ra_os
Índi as Ocid enta is tives sem ganh o por
vira m mais uma vez a lvo de críti cas
severas. Raga tz, Th e ;a~/ o;t;: e;;; ::~e~-
que se ~l;;/º3::. ( 119) íbid., 36.
( 120) lbid., 60.

354 355
de via-
( 12 1) íbid ., 76. ( 11 ) lmagc n~ con1 ra~1antc~ análogas podem 1a111b m ser encontradas cm li vros
no sécul o x rx. N o Brasil , observou-s e o mes-
( 122) lbid., 235-46. 111 n11:s que vi srtara m outras soc iedades esc rav istas
entre propri etários de fazendas que
( 123) Evangelica l Magazin e, 17 ( fevereiro, 1809):83-84 . 11 10 lc nômeno. O~ hi storiadores acentuaram as diferenças
período pos-
vrvcra m na primeira metade do sécul o e aqueles que se tornaram fazendeiros em
diferentes:
terior. Essa diferença às vezes se caracteri za va por uma oposição entre regiões
e dos fazendeiros de café do Oeste. Em
2. M UNDOS CONTRAD ITÓRIOS: SENHORE S E ESCRAVOS (pp. 62- 11 3) la,cndeiros de café do vale do Paraíba di stingui am-
E les enfati za m
anos mais recentes, porém, os hi storiadores vêm repudi ando essas di stinções.
( 1)Adaptação de uma observação atribuída a um escravo, citada em Grec11 N e11·,1
f, ,, 111 1/11 que os fazendeiros sempre esti vera m interessado s no lucro - o que é verdadeiro
- e parecem

Barbadoes, or A the Grand Conspiracy of th e Neg roe.i·il /,!.<IIII \I ,1,,


Tru e and Faithful A ceou li/ of inferir di sso que todos os fazendeiros eram iguai s e se relac ionava m com os escra vos da mes-

Eng lish and the Happy Discovery of th e Sam e. With th e Numb er of Th ose Th at w,,11 , 11 1111 ,. J ma maneira, o que, naturalmen te, não é verd adeiro. Esses hi stori adores minimi
zam a comp le-
it,11,, 11 ,,f xidade das relações senhor-escr avo. Parece m esquecer que o impacto do sistema
de produção
Ative, Beheaded, and Otherwise Execw ed fo rTheir Horrid Crime. With a Short De.1n
em Testi11g the Chains: Resistance 10Slm•,•11 th escravo é necessariam ente medi ado por institui ções e ideol og ias diferentes, e que o
That Pla11tatio11 , citada por Michael Craton, 111 na vida do
de desenvol vimento tecnol ógico.
British West lndies (Ith aca, N ova York e Londres, 1982), 109. sistema de produção também muda, dependend o do grau
istência,
(2) A primeira(? ) edi ção de A Voyage to Dem erary surg iu em 1807. Publi cou
"' 11 111 1 ( 12) C l aro que sempre houve rebeli ões. M as parece que a intensidade da res
tec nol ó-
seg und a edi ção em 1809 e um a terceira em 18 13. Em 1941 , publi cou -se em
Gcoi f i' li ,1
11 sabotagem e in subordin ação di ári as cresceu com o passar do tempo. A compl exidade
ckshan~ 11 1 to de capital torn aram as fazendas
um a edi ção preparada por Vin cent Roth , co m um prefác io de J. Grah am Crui gica crescente e as taxas cada vez maiores de investimen
tenha ag uçado
tanto a edi ção de 1807 qu anto a de 1941 ; as notas referem- se à última. muito mai s vulneráveis à rebeldi a dos escravos, e essa vulnerabilid ade talvez
(3) E ugene D . Genovese e Eli za beth Fox-G enovese, Fruits oJMerchan t Capital:
S/,,.,, 1 nos brancos a co nsc iência da ameaça.
na época
and Bourgeois Prop erty in the Rise a11d Expansion ofCapitalis m (N ova York, 1983). ( 13) Quando W. S. Austin , que fora mini stro da Igreja Ang licana em D emerara
(4) B olingbroke, Voyage, 207. u na Câmara dos Co mun s em 1832, ele di sse que os holandeses era m
da rebeli ão, testemunho
sob o holande-
(5) lbid., 23, 207. mais severos do que os ingleses, mas que a ca rga de trabalho era menos pesada
com as minu-
(6) D eve-se o bse rva r que embora os hi stori adores britâni cos hoj e di gam que
naqud 11 ses. Comi ssão seleta sobre a ex tinção da escrav id ão em todo o domíni o britâni co,
usa a expressão. Voyage, 31 . Para um 1 ênc i as, apêndi ce e índi ce. Câ m ara dos C omun s, agosto , 1832 , P.R.O . C. O .
época não havi a mais " ca mpes in ato" , B o lingbroke 11 1 1 tas das evid
de um ca mpes inato in glês, ver E. J. H obsbaw m e Geo rge Rudé, Captai S ZHCl/1039.
t1ca à noção 11 11111
(N ova York , 1968). ( 14) LMS 1c , D emerara, carta de Van Gravesande, 18 11 .
de que o
(7) Boling broke, Voyage, 3 1. ( 15) Uma das fraquezas da teori a da dependênc ia fo i a de neg li genciar o fato
s e soc iais
(8) Essa imagem contrastant e datava da coloni zação ing lesa na Améri ca. Ver Edmund, impacto que o centro tem na peri feri a depende das estruturas políticas , econômica
no centro.
M organ, American Freedom, A111erica11 Slavery (N ova York , 1975). E la aparece
de novo, 111111 111 ass im como da intensid ade da luta de classes que tem lu gartanto na periferi a quanto
e holandeses na Á fri ca do Sul. L eonard Thompson , / 1, 1 Pode-se fazer uma c ríti ca semelhante às abordagens dos " sistemas mundi ais"
[world system] .
ma1_s tarde, nos confl i tos entre ingleses
World-Syst em
Po/111 cal Myrhology of Apart!teid (N ew H aven, 1985) . Tornou-se pan e da hi stória da Gurn a 11 Para uma crítica nessa linha, ver Steve Stern , "Feudali sm , Capitali sm, and the
:325 . A R{/\rll Caribbean" , A111erica11 Historical Review. 4 (outu-
H enry G . D alton, Th e History of British Guiana (2 vo ls., L ondres, 185 5), 2 em the Perspecti ve of L atin America and the
Criti cai Tests",
Gaze/le de 2 1 de julho de 182 1 transc reve um arLi go de M arryat atribuindoa mi séria dos csu ,1 bro, 1988):829- 72; réplica em lmm anuel Wallerstein , "Comment s on Stern 's
Wray w111 ibid., 873 - 86; e resposta de Stern em "Ever More Solitary" , ibid. , 886-97. Para
um exemplo de
vos de D emerara às leis hol andesas. Numa carta à L ondon Mi ss ionary Soc iety, John
esclarecido du concili ar a tendência loca l e a mundi al, assim como a
bém co ntra pôs o co mportamen to impl acável dos ho landeses ao comportam ento um a síntese bem-suced ida que consegue
conveni ência ou ingenuidad e, cri ava-se e recriava -M' 11 instância human a, no estudo de um a soc iedade escrav ista, ver D ale W . Tomi ch,
Slave1)' i11 th e
co mi ssári o britânico em B erbi ce . Por
mito sempre que britânicos e holandeses competiam un s com os outros pelo controle
dos te r 11 Circuit ofSugar: Marri11iqu e and the Wor/d Eco11omy, 1830- 1848 ( Baltimore, 1990). Para uma
abordagens
tórios coloni ais. tentativa semelhante no sentido de chegar a uma síntese cri ati va dessas diferentes
papéis d,· num es tudo de uma sociedade pós-emanc ipação, ver Michel-Ro lph Trouillot,
Pea.sants a11d
(9) B olingbroke, Voyage, 146. N o caso dos fazendeiros que irão desempenh ar
destaque neste li vro, essas di stinções entre hábitos e atitudes hol andeses e britâni
cos não se Mr, Capital: Domínica in th e World Eco110111y (B altimore, 1988).
tentam. O homem que levou o primeiros mi ss ionários a D emerara, H ermanus
Post, enriqu,· ( 16) De fa to, quando a emancipação se concreti zou, ela não correspondeu às esperanças
John Gl ad-
cera trabalhando lado a lado com seus escravos nos primeiros anos. Quanto à bruta lidade, os dos esc ravos, e. embora tivesse causado a fal ênci a de alguns senhores, outros, como
mostrar-se-iam compensaç ão para ex pandir suas fa zendas. Doi s livros
fazendeiros com nomes holandeses como H ermanu s Post e Henry Van Cooten stone, usaram o dinheiro recebido como
que desemiw depoi s da emancipaç ão na Gui ana: Alan H . Adamson,
menos brutai_s do que homens como Alexander Simpson ou Michael McTurk, excelentes retra tam o que aconteceu
1972),
nharam papérs destacados na supressão da rebeli ão. Sugar With ow Slaves: The Political Economyo fBritish Guia11a, 1838- 1904 (New H aven,
d.i Worki11g People, 1881-1905 (B altimore, 1981 ).
( 1O) Walter E. Roth , ed ., Th e Storyofrhe Slave Rebellion i11 Berbice, 1762 . Traduzida e Walter Rodney, A HistOl)'of rhe Guya11ese
Guiana [ ... ] (Amsterdã. 1770), no .lournal of rir,· sistema compl exo completam ente desenvol vido de irTi gação e drenagem ex ige
obra de J. H . H artsinck , Beschryvin g van ( 17) Um
" Pl an-
Bnt,sh Gw ana Museum a11d Zoo , n2> 2 1-27 (dezembro , 1958-setem bro, l 960); Robert
Moore . um canal de 55 milhas por cada milha quadrada de terra culti vada. Ver Cli ve Y. Thomas,
Production in Guy ana" (Centro de
" SI ave Rebelli ons in Guyana" (mimeos, U niversidade da Gui ana, 197 1). tati ons, Peasants and State: A Story of the Mode of Sugar

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