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CREMES DE

nos ambientes de trabalho.

CERTIFICAÇÃO
No entanto, é preciso tomar cuidado

PROTEÇÃO
na hora de buscar os cremes de prote-
ção disponíveis no mercado. O texto
que classifica os produtos como EPIs,
atualizado em 1994, prevê que eles só
poderão ser postos à venda ou utili-
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL PREVINEM zados como Equipamentos de Prote-
DOENÇAS CUTÂNEAS CAUSADAS PELO CONTATO DA PELE ção Individual mediante o CA (Certi-
ficado de Aprovação), expedido pelo
DOS TRABALHADORES COM AGENTES AGRESSIVOS Ministério da Economia. Além disso,
devem possuir registro junto ao Minis-
Protegendo o corpo contra as mais do ao extinto Ministério do Trabalho, tério da Saúde.
variadas agressões externas, a pele é publicou a Portaria nº 3, que incluiu A versão mais recente publicada em
o maior órgão do ser humano e pre- o creme protetor na NR 6, norma que 2018, da norma ABNT 16.276 (Cre-
cisa de atenção quando o assunto é regulamenta os Equipamentos de mes protetores de segurança contra
Segurança e Saúde no Trabalho. Em Proteção Individual. Porém, muito agentes químicos - Requisitos e mé-
ambientes laborais com exposição a antes disto, o produto já era utiliza- todos de ensaio) estabelece os requi-
substâncias como graxa, óleos, sol- do, tendo surgido logo após a Segun- sitos para regulamentação dos cremes
ventes, tintas, cimento, cal, argamas- da Guerra Mundial tornando-se obri-
sa e produtos ácidos ou álcalis, den- gatório em diversos países. A partir SHUTTERSTOCK

tre outros, é comum o aparecimento da sua inclusão na NR 6, as empresas


de dermatites alérgicas de contato ou passaram a ter a obrigação de adotar
dermatites irritativas de contato. Nes- a solução no Brasil.
ses casos, a pele dos trabalhadores, ao Atuando como uma película prote-
ser exposta a um agente químico sem tiva entre a pele e os agentes quími-
a devida proteção, tem sua camada cos, os cremes de proteção permitem
lipídica removida, o que a resseca e que as mãos mantenham flexibilidade
a deixa com aspecto gretado, ocasio- e sentido tátil sempre que o uso de lu-
nando inclusive a entrada de agentes vas de proteção não for possível. Seja
patogênicos. porque a atividade exige o tato do co-
Muito comum principalmente nos laborador ou porque o seu uso expõe
trabalhadores da construção civil e da o funcionário a riscos de acidentes.
indústria metalúrgica, as doenças de Embora sejam utilizados principal-
pele também aparecem com frequên- mente nas mãos e braços, não se res-
cia em colaboradores da indústria au- tringem apenas aos membros superio-
tomotiva, profissionais da saúde, mani- res, sendo indicados para todas as re-
puladores de alimentos e funcionários giões em que ocorre o contato com o
de indústrias siderúrgicas e petrolífe- agente agressivo. A exceção para uso
ras. mais precisamente como dermati- do produto está na área dos olhos e
te de contato irritante crônica. mucosas, o que podem trazer irrita-
Os cremes de proteção buscam a ção caso seja aplicado nestas regiões.
prevenção destes adoecimentos em Ao reforçarem as funções protetoras
uma trajetória que iniciou em 1992, da barreira epidérmica que se encon-
quando o então Departamento de tra na parte mais profunda da pele, os
Segurança e Saúde do Trabalho liga- cremes de proteção promovem hidra-
tação, permitindo que ela não resse-
Esta é a quarta de uma série de reportagens sobre a forma de que e fissure em contato com agentes
selecionar os EPIs adequados.
agressivos que possam estar presentes
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protetores. sódio (10%). cisam garantir que, enquanto EPIs, os
O primeiro ponto a ser verificado é Com a emissão dos laudos compro- cremes protetores sejam desenvolvi-
se o creme de proteção está enquadra- batórios da eficácia dos cremes fren- dos de forma que promovam a prote-
do na categoria ‘Cosmético Grau 2’ da te aos diversos agentes químicos tes- ção da pele do trabalhador, desde que
Anvisa (Agência Nacional de Vigilân- tados pode ser iniciado o processo de utilizados conforme a sua orientação.
cia Sanitária). Para isso, os fabricantes obtenção do CA. Para conseguir o cer- Apenas poderão constar no rótulo as
destes produtos precisam ser licencia- tificado, é necessário que os fabrican- aplicações comprovadas por meio de
dos como produtores de cosméticos tes comprovem a capacidade de pro- ensaios de barreira nos quais é verifi-
junto ao órgão e notificar/registrar o teção do creme por meio de ensaios cado se o produto realmente cria bar-
creme protetor. realizados por laboratório qualificado. reira protetora quando colocado em
Após notificação do produto na Eles também precisam garantir que o contato com os mais diversos agentes
Anvisa, o creme deve ser testado de produto não causará irritação/sensi- químicos.
acordo com a ABNT 16.276 contra vá- bilização na pele dos trabalhadores, e A embalagem do creme protetor de-
rios agentes químicos: água, tolueno, nem provocará ação reagente/catali- verá trazer em sua rotulagem o número
xileno, benzina, querosene, aguarrás, zadora com a pele. de registro/processo de notificação na
thinner, metiletilcetona, gasolina, óleo Anvisa juntamente com o número do
mineral, óleo diesel, acetona, pós em REQUISITOS CA. O texto de marcação deve estar es-
geral, percloroetileno, cloreto de me- Outro aspecto importante a ser con- crito em português, de forma legível e
tileno, tintas, adesivos, ácido fosfó- ferido antes da compra do creme de indelével. Além disso, a marcação pre-
rico (15%), ácido clorídrico (15%), proteção é o texto presente no rótulo cisa apresentar: o nome do fabricante,
ácido sulfúrico (15%), hidróxido de do produto. É que os fabricantes pre- do fornecedor e da marca comercial;
a identificação clara do nome do pro-
duto; o número do lote de produção,
data de fabricação e data de validade.
O tipo de embalagem também está
normatizado pela ABNT 16.276/2018 e
determina que os cremes de proteção
devem ser fornecidos em embalagens
individuais, herméticas, de fácil manu-
seio, sendo acondicionados de forma
a garantir suas características e níveis
de proteção. O diâmetro da embala-
gem para vazão deve ser igual ou in-
ferior a 20 milímetros. O mais comum
é que tais produtos sejam fornecidos
em bisnagas de 100 a 200 gramas. A
atualização da norma retirou do mer-
cado os cremes de proteção comercia-
lizados em potes, assim o trabalhador
não fica exposto a possíveis contami-
nações. A quantidade de aplicação do
creme depende da indicação de uso de
cada fabricante.
Após a conferência e garantia de que
o produto está apto a ser comerciali-
zado como EPI, outras questões mais
específicas devem ser observadas na
hora da escolha do creme para que
ele realmente proteja os trabalhado-
res dos agentes aos quais sua pele es-
tá exposta em seu trabalho.
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Hora da escolha
melhor creme de proteção, a aplica-
ção inadequada prejudica a eficácia
do produto e coloca em risco a saúde
da pele dos trabalhadores. Por isso,
A seleção do creme Importante acrescentar que no caso é imprescindível que, além de uma
deve considerar o tipo de colaboradores que atuam expos-
tos a óleos e substâncias apolares são
compra acertada, os colaboradores
sejam orientados sobre como apli-
de risco químico existente indicados ainda os cremes de regene- car o EPI corretamente, assim como
na atividade ração, mesmo que não sejam consi- devem ser informados a respeito dos
derados Equipamentos de Proteção cuidados que precisam ser tomados
A escolha do creme de proteção Individual. Utilizados após o traba- após essa aplicação.
mais adequado para garantir a saúde lho, eles colaboram na reposição da Um dos fatores primordiais a se-
da pele do trabalhador dependerá do hidratação da pele. rem observados são as normas míni-
tipo de risco químico ao qual ele es- mas de Higiene do Trabalho, ou seja,
tá exposto. Um funcionário que atua No Grupo 3, Cremes Especiais os profissionais precisam lavar bem
manuseando óleo solúvel, por exem- estão aqueles em que a caracterís- as mãos antes de aplicarem o creme
plo, deve utilizar um creme água re- tica água ou óleo resistente não é de proteção. Além de estar limpa, a
sistente. É preciso saber selecionar o considerada a mais importante e su- pele deve estar seca para facilitar a
creme conforme os agentes presen- as indicações e usos definidos são espalhabilidade do produto. Feito is-
tes na tarefa de trabalho. especificados pelo fabricante. Sua to, aplica-se cerca de duas gramas do
Para fazer a seleção correta do EPI, composição pode ou não contemplar creme nas mãos e mais uma a duas
uma informação importante é que os silicone. No rótulo há informações gramas nas outras regiões em conta-
cremes protetores de segurança são sobre sua ação protetiva a diversos to com o agente agressivo, antes do
divididos em três grupos: Água Re- tipos de agentes químicos, tintas, áci- início da atividade laboral, com mas-
sistente, Óleo Resistente e Cremes dos e bases. Eles podem formar uma sagens que ajudam na sua absorção.
Especiais. barreira na pele contra meios ácidos
e alcalinos (básicos), além da prote- MANUTENÇÃO
No Grupo 1, Água Resistente es- ção aos demais agentes químicos. Os Também é importante mencionar
tão inclusos todos os cremes proteto- cremes de proteção especiais tam- que de nada adianta o colaborador
res que, quando aplicados à pele dos bém podem proteger contra agentes aplicar o creme de proteção e lavar
colaboradores, não são facilmente biológicos com ação antisséptica que as mãos com soluções particulares
removíveis com água. Seu uso é in- impede a proliferação de microrga- como solventes, desengraxantes pa-
dicado para aplicação na pele de tra- nismos, reduzindo o risco de conta- ra máquinas ou com sabão em pe-
balhadores em contato com substân- minação por fungos e bactérias, além dra, por exemplo, que contém ele-
cias solúveis/diluídas em água, como: da proteção contra agentes químicos. vada concentração de soda cáustica
álcool + água; querosene + água; tin- No entanto, seu CA (Certificado de e outros componentes que acabam
ta + água; solventes em geral + água; Aprovação) contempla apenas a pro- prejudicando a pele do trabalhador.
óleo de corte etc. Com propriedades teção contra os agentes químicos. Os Com ação hidratante e protetora, o
hidratantes e emolientes podem ser ensaios de barreira que não são obri- creme é removido na lavagem com
com ou sem silicone. gatórios neste caso podem ser cita- água e sabão e precisa ser reaplica-
dos nos rótulos, sendo a escolha dos do sempre que houver higienização
No Grupo 2, Óleo resistente estão agentes químicos a serem testados da pele.
os produtos indicados aos profissio- definida pelo fabricante. O creme de proteção costuma
nais expostos a óleos e substâncias a­presentar resultado satisfatório por
apolares, insolúveis em água, como: APLICAÇÃO quatro horas. No entanto, não é pos-
álcool; querosene; tintas; graxas; Em constante evolução o segmento sível estabelecer horários para reapli-
colas e solventes em geral, muito de cremes de proteção passou a ser cação do produto durante a jornada
encontrados nos setores de manu- ainda mais valorizado com a pande- laboral. A empresa deve avaliar caso
tenção. Também apresentando pro- mia de Covid-19 que assola o mundo a caso, considerando que a eficiên-
priedades hidratantes e emolien- desde o ano passado, quando a im- cia do EPI depende de uma série de
tes, podendo conter ou não silicone, portância dos cuidados em relação fatores, como grau de concentração
apresentam como diferencial a pos- à higienização e à proteção da pele dos agentes químicos, a frequência
sibilidade de solubilização em água, ganhou mais visibilidade. de lavagem das mãos, a transpiração
facilitando a sua remoção da pele. Entretanto, ainda que se tenha o excessiva do trabalhador, etc.

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Aliados importantes
vetores (insetos/aracnideos,etc) são
os veículos de transmissão do agente
infectante (bactérias/vírus) causador
da doença, que poderá desencadear
Protetor solar e repelente solar não é a única inimiga dos traba- uma enfermidade. Doenças mais sé-
lhadores na luta para evitar o câncer
de insetos não são EPIs, de pele. Por isso, profissionais que
rias como dengue, febre amarela e
Leishmaniose cutânea-mucosa são
mas são essenciais em estão expostos à radiação ultraviole- algumas que podem ser relaciona-
determinadas situações ta (UVA e UVB), como os que atuam das ao trabalho, conforme consta na
com solda, por exemplo, também de- Portaria do Ministério da Saúde nº
Em se tratando da saúde da pele dos vem ser contemplados com o prote- 1.399/1999, e que podem ser preve-
trabalhadores, os cremes de proteção tor solar. nidas com o uso de repelente durante
não são os únicos aliados disponíveis Nesse âmbito, o recomendado é a jornada laboral.
no mercado. Embora não seja consi- que os protetores solares tenham fa- Entre os grupos mais expostos a
derado um Equipamento de Proteção tor mínimo de proteção solar (FPS) estes agentes biológicos estão os tra-
Individual, o protetor solar é essencial 30. Além do indicador contra radiação balhadores da agricultura; da saúde
para prevenir doenças advindas da ex- UVB, o produto precisa ter uma míni- (em contato com pacientes ou ma-
posição a radiações solares. Inclusive ma proteção contra a radiação UVA, teriais contaminados) em centros de
a nova NR 31, norma que trata sobre que no caso deverá ser FPUVA 10. saúde, hospitais, laboratórios, necro-
saúde e segurança para o setor ru- O protetor solar também deve pos- térios; em atividades de investigações
ral prevê que, se indicado no PGRTR suir propriedades água-resistente ou de campo e vigilância em saúde; con-
(Programa de Gerenciamento de Ris- muito água-resistente, conforme es- trole de vetores e aqueles que lidam
cos no Trabalho Rural) ou configurada tipulado pela RDC 30/2012 da Anvisa, com animais. Também podem ser afe-
exposição à radiação solar sem adoção assim como ser hipoalergênico, o que tadas as pessoas que trabalham em
de medidas de proteção coletiva ou garantirá o seu uso de forma adequa- habitat silvestre, como na silvicultu-
individual, o empregador deve forne- da e segura pelos trabalhadores. ra, em atividades de pesca, produção
cer protetor solar ao trabalhador por Atentar para que o empregado hi- e manipulação de produtos animais,
meio de dispensador coletivo. gienize bem suas mãos antes de apli- como abatedouros, curtumes, frigorí-
Já na NR 21, norma específica para car o protetor solar fornecido pela em- ficos, indústria alimentícia (carnes e
trabalhos a céu aberto, não há menção presa e que essa aplicação seja feita pescados) e trabalhadores em servi-
ao produto, mas consta no artigo 21.2 20 minutos antes do início da expo- ços de saneamento e de coleta de lixo.
que serão exigidas medidas especiais sição, reaplicando a cada duas horas Disponíveis na forma de spray, lo-
que protejam os trabalhadores contra e sempre após se lavar, considerando ção, gel ou creme, os repelentes de
a insolação excessiva e o calor, dei- que a sudorese excessiva pode exigir insetos devem atender às premissas
xando subentendido o emprego dos que o produto seja reaplicado com da Anvisa quanto a produto cosmé-
protetores solares como medida de mais frequência. Vale ressaltar que o tico para uso em pele devidamente
prevenção de doenças cutâneas de protetor solar deve ser aplicado mes- registrado neste órgão sanitário e
origem ocupacional. mo em dias nublados. A hidratação com laudos de segurança e eficácia
constante também faz parte das me- de acordo com a RDC 19/2013. Apro-
CÂNCER didas fotoprotetoras, sem esquecer a vados pela Anvisa, estão disponíveis
Independentemente de constarem recomendação de evitar, sempre que no mercado repelentes de três prin-
ou não na legislação, o mais importan- possível, que os colaboradores atuem cípios ativos: DEET, IR3535 e Icari-
te é que o produto se faz necessário nas áreas externas nos horários de dina, sendo este último a substância
especialmente aos colaboradores que maior insolação entre 10h e 16h. mais recomendada pela Organização
realizam suas atividades a céu aber- Mundial da Saúde. O período de re-
to, visto que estudos mostram que REPELENTE aplicação durante a jornada laboral
são estes os mais propensos a desen- Outro aliado na missão de proteger dependerá do ativo do repelente e
volver CPNM (Câncer de Pele Não a pele do trabalhador é o repelente de cabe ao fabricante informar no tex-
Melanoma). Outro dado importante insetos. Ainda que também não seja to de rotulagem o tempo de proteção
é que a exposição ocupacional inicia- considerado EPI pela Subsecretaria oferecido pelo produto.
da em idade mais precoce (inferior de Inspeção do Trabalho, o produto
aos 30 anos) é aquela considerada de oferece proteção contra a picada de Colaboração técnica:

maior risco. insetos com potencial para desenca- Lilian Wesendonck - farmacêutica industrial e coordenadora
do Grupo ABNT CB 32 - Cremes de Proteção
Ainda assim, vale lembrar que a luz dear reações alérgicas ou tóxicas. Os liliansw10@gmail.com

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