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Simbolismo 2
Simbolismo 2
- vamos mudar de país, de língua e de cosmovisão – olharemos para a literatura e cultura francesas e
belgas
- para todos os efeitos, na literatura, nas artes em geral, numa sensibilidade generalizada, vai mudar
- o romantismo português tem cerca de meio século de atraso relativamente ao contexto europei, o
realismo 20/30 anos para importar uma estética e em rigor em termos de simbolismo, também teremos
um certo desfasamento – 10/15 anos – no modernismo estamos afinados de acordo com o contexto
europeu – Orfeu em diálogo sincrónico com a atualidade
- depois com estado novo, fascismo, salazarismo, voltamos a entrar numa fase desfasamento em
relação à Europa, devido à censura – o século XX terá 48 anos de perseguição – vamos pagar muito
caro com uma fase de terror
- documento com três textos franceses, de expressão francesa, o terceiro é de um autor belga
- um poema
- um excerto de prosa
- uma cena de teatro
- seguidos de tradução
- para falarmos do português, não podemos deixar de conhecer minimamente o que vem do exterior,
porque o simbolismo se vai formando aos poucos através de outros autores exteriores
- serão textos referidos posteriormente
- poema de Baudelaire – poeta em verso e prosa, poema em prosa, género altamente problemático –
Flores do Mal – livro escandaloso, foi parar ao tribunal, assim como Flaubert devido a Madame
Bauvery
- Baudelaire foi obrigado pagar uma multa e censurar 6 poemas
- FLORES DO MAL
- cantar as flores não tem problema, cantar a floreação do mal, do obsceno, do pecado, do baixo – é
então um autor problemático
- Spleen de Paris – publicação póstuma de 1869 – livro fundamental – spleen tem algo de tédio, de
depressão, de doentio, de angústia, de pesadelo, de doença, mas ao mesmo tempo um orgulho, uma
satisfação por estar doente, um masoquismo, o chique de estar doente – o spleen do autor, da Europa,
de um mundo cansado de existir – completamente diferente das correntes pretéritas
- um dos primeiros poemas do livro Flores do Mal – Correspondência – análise económica
- Baudelaire é um autor muito difícil de encaixar nos -ismos, ainda é romântico, mas ao mesmo tempo
realista – aqui inaugura o simbolismo, mesmo que este ainda não existe como tal - +é uma
enciclopédia – todo o passado, todo o presente e, de alguma maneira, todo o futuro – não há nenhum
rótulo capaz de o definir de acordo com uma corrente
- este poema – interessa por uma questão pontual – terceiro verso – símbolo – palavra que dará origem
à escola simbolista, dará flor, mas não do mal, uma flor útil
- é sobre a natureza – tema já recorrente, desde sempre presente, desde os gregos, na poesia
- mas o que importa é como se fala da natureza – a maneira como um clássico, como um romântico
fala da natureza, são diferentes – tudo isso muda com o tempo
- rom – a natureza é uma projeção do sujeito, conforme o sujeito se sente, assim é a natureza que ele
observa, o desespero interior traduz-se numa natureza desesperada, a alegria que sente, numa natureza
eufórico
- realismo ou naturalismo – algo que tem de ser estudado com régua, esquadro, microscópio, nada de
junções – o ser humano é estudado pelas ciências sociais, o que está dentro – o que está fora é para
ser estudado objetivamente pelas ciências exatas, todas as abordagens laboratoriais
- aqui está propondo um poema sobre natureza- será a ordem greco-latina, o reflexo do interior do
sujeito ou um objeto de análise ?? nada disto, a natureza AQUI é mistério
- se é templo, implica divino, quer dizer que há matéria, mas enquanto ponte para o além, para atingir
os Deuses que estão para lá da Terra
- vivos pilares – não podem ser colunas mortas, estariam mortas , feitas de pedra– árvores, floresta
símbolos de vida – mas não objeto de estudo da botânica – as árvores incluem do deuses, constroem
um templo, onde surgem palavras ambíguas
- estamos em 1857, data de publicação, data em que autores naturalistas acreditam na ciência como
chave para a compreensão do mundo – B. Acredita que há palavras ambíguas, de mistério eterno, das
quais nunca chegaremos à sua essência – as ciências não são nem nunca serão suficientes
- bosque de símbolos – a árvore não é árvore, nem o rio é rio, nem a pedra, pedra – a natureza é para
ser atravessada em função de algo mais além – o que importa aqui é um outro mundo que está
simbolizado
- para um cientista, isto não faz sentido
- Para B. A pedra não é pedra, é símbolo de mais algo, de outra coisa , mas de quê? Não se pode dizer,
não há palavra para o definir – o indizível é o nosso limite
- algo novo, porque todos os poetas clássicos acreditam no dizível, tudo se pode dizer – basta imitar
Horácio, seguir Aristóteles – tudo se pode dizer
- o romântico traduz tudo numa linguagem pessoal, subjetiva – dentro do subjetivo há algo muito
radical – expõe a subjetividade – a verdade é a própria do eu, verdade que existe no fundo do sujeito
- naturalismo, realismo, positivismo, determinismo – acreditam na ciência
- aqui não e pode dizer – o poeta afirma que de facto há natureza, mas não podemos falar do que está
para lá – há um mistério que está salvaguardado – poderemos falar dos sentidos, dos cheiros, das
sensações – mas o poema serve para dizer o que não se pode dizer
- Baudelaire platónico – ambos acreditam num outro mundo, que pode haver uma verdade num outro
mundo – Platão afirma, para B. é provável
- existe verdade ou não? Existe mas é inalcançável? Será uma pergunta respondida por vários autores.
- 2º texto
- teorizador e poeta francês – publica num jornal um manifesto do simbolismo
- a palavra aparece aqui como nome de uma nova escola literária – temos um texto teórico que afirma
que existe um movimento coletivo – é um autor apenas, mas fala em nome de muitos
- para termos um movimento, não podemos ter um único autor, temos de ter vários autores, vários
textos e, até, uma teorização do mesmo
- a poesia simbólica/ simbolista (termo de preferência) – o que quer a poesia deste género?- revestir
a ideia de uma forma – ideia é aquilo a que o poeta acede intuitivamente e depois é preciso encontrar
uma forma para os sentidos – IDEIA e forma
- tenta revestir a ideia de uma forma sensível, não como fim em si própria, mas que se manteria
- arte simbólica – o caráter essencial do simbolismo consiste em nunca dar a idera pura – até porque
esta é boa para os filósofos, mas os poetas têm de atingir a forma , trabalham a ideia do ponto de vista
formal
- formas – aparências sensíveis dispostas a representar as suas afinidades isotéricas
- os fenómenos concretos não interessam por si próprio – nada importa em si – não interessam os
acidentes do mundo, mas sim a maneira como estes acidentes têm uma afinidade mágica com as
ideias primordiais
- não importa a paisagem, mas a maneira como a árvore, a pedra, o rio para algo mágico, espiritual,
religioso
- temos de falar do nosso mundo, mas este não tem de interessar necessariamente
- utilizamos as palavras para expressar algo que até não cabe em palavra nenhuma
- um texto literário para um realista é um laboratório
- aqui o texto literário é um meio para espreitar um outro mundo, adivinhar os mistérios das coisas,
estudar os segredos do além
- voltamos costas à ciência e abrimos os braços à magia
- enquanto o naturalismo queria estudar clinicamente, o simbolismo quer apenas sugerir o outro
mundo
- 3º texto – dramaturgo, poeta, autor da peça referida – uma extraordinária peça de teatro- que abre
com esta cena, praticamente
- príncipe Golaud bem concreto, bem material, vai herdar o trono posteriormente, é príncipe, será rei
- caminha na floresta, perde-se na floresta e de repente encontra uma menina, uma jovem e tem um
estranho diálogo com esta
- absolutamente revolucionário – o que sabemos de Goulaud ? É bastante concreto, é realmente de
carne, um corpo real
- o que sei eu de Mélisandre? É uma personagem fantástica, será relembrada
- pergunta “porque choras?” - a resposta correta no momento correto – ela levanta-se, tenta fugir –
ele trata a o por tu por vós, vai afinando uma distância
- ela diz-lhe para não lhe tocar, porque tem ela medo de ser tocada? Mas porquê? Mistério
- “Oh! Sois tão bela” - paradigma de beleza
- mas porquê? O que se passa com ela?
- perguntas corretas e técnicas adequadas por parte de Goulaud – ela responde sem responder –
ambiguidade
- parece que cada vez que ela fala, menos sabemos, não fala para esclarecer, torna-se cada vez mais
misteriosa
- a peça toda está cheia de enigmas a este nível, tudo o que ignoramos quanto a Mélisandre, vamos
continuar a ignorar
- podemos medir, pesar Golaud – Mélisandre nada pesa, pesa tanto como um fantasma, como uma
aparição, como uma fada, de ninfa, de deusa, de humana, também, claro por exemplos- não é um
corpo, tem algo de espírito- enquanto Golaud tem os pés na terra, a ela só lhe falta voar, é pura magia,
mistério
- acabam por casar mas não corre assim tão bem – dada a essência material e espírita dos dois
- há algo natural, de passarinho, de assombração, de anjo, vem do além, não é daqui – ele tem uma
voz térrea
- o toque implica matéria e como tal apresenta um sentido sujo – para tocar é preciso ter corpo e o
corpo no simbolismo é considerado sujo – há uma espécie de proibição do toque que vem de uma
citação – NOLI ME TANGERE – frase bíblica – não me toques, não me queiras tocar, porque eu sou
espírito, o toque é demasiado material – é uma espécie de princípio do simbolismo – há algo que é
intocável e o poema quer falar de uma magia intocável