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CAMPUS CHAPECÓ
CHAPECÓ
2015
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CHAPECÓ
2015
3
CEP: 89802-210
Chapecó-SC
Brasil
4
AGRADECIMENTOS
A minha família por me dar suporte e incentivo para que pudesse buscar
mais conhecimentos e melhorar a nossa vida.
Ao meu dileto irmão, Silvano dos Santos Silva, que, ceifado prematuramente
de nosso convívio, ainda participou conosco da alegria pela aprovação na seleção
deste Mestrado.
Paulo Freire
8
RESUMO
ABSTRACT
This dissertation aims to expose significant aspects of Paulo Freire pedagogy and
analyze the political pedagogical project, the study plan and the regulations of the
year 2012 - 2015 that guided the work of the State Preparatory High School Irany
Jaime Farina. Trying to identify where these documents are approaching Freirean
pedagogy and in that aspect departs this job offer. Paulo Freire proposed an
educational theory based on the principles of political nature and of dialog. This way
of doing emancipatory education is realized in capable of transforming the human
being and the world dialogue. On this theme has developed the research problem
that guided the reflections of this study, leading to seek to understand: how Freire
references permeate the construction of the PPP, the State Preparatory High School
Irany Jaime Farina? In an attempt to deepen and know the subject matter drew up
more specific objectives which allowed: 1. To contextualize the Historical
Foundations and Methodological Research; 2. Deepen significant concepts in the
work of Paulo Freire, in order to understand and establish a theoretical starting point
for the analysis of content, enrolled in school documents as political pedagogical
project, lesson plans, school regulations; 3. Investigate the theoretical
understandings of political-pedagogical project, as well as study and describe the
PPP the State Preparatory High School Irany Jaime Farina. 4. Identify the similarities
and differences of Paulo Freire pedagogy in school PPP in order to analyze it. The
research stands as a qualitative research via case study, literature and documents. It
concludes with this study that the education process takes place on participation and
able to manipulate the subjects dialogue so that resinifiquem their experiences and
practices. In addition, to confront and rescue new values that indicate the way
forward to achieve the goals. We understand that there is no way think a pedagogical
praxis without dialogue. For she herself leads us to deeper interaction.
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE QUADROS
da escola..................................................................................................................133
12
LISTA DE FOTOS
Foto 3 - Vista parcial da Escola de Ensino Médio Irany Jaime Farina ...... 109
LISTA DE FIGURAS
do estudante..........................................................................................................117
14
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 16
1. INTRODUÇÃO
É preciso que o (a) educador (a) saiba que o seu “aqui” e o seu “agora” são
quase sempre o “lá” do educando, mesmo que o sonho do (a) educador (a)
seja não somente tornar o seu “aqui-agora”, o seu saber, acessível ao
educando, mas ir além do seu “aqui-agora” com ele ou compreender, feliz,
que o educando ultrapasse o seu “aqui”, para que este sonho se realize tem
que partir do “aqui” do educando e não do seu. No mínimo, tem que levar
em consideração a existência do “aqui” do educando e respeitá-lo. [...] não é
possível ao educador (a) desconhecer, subestimar ou negar os saberes de
experiência feitos com que os educandos chegam à escola (FREIRE, 1997,
p.31).
Freire nos fez sonhar porque falava a partir de um ponto de vista que é o
ponto de vista do oprimido, excluído, do qual podemos pensar um novo paradigma
humanitário, civilizatório, o sonho de outro mundo possível, necessário e melhor.
Para Freire (2006, p. 90), a educação deve ‘ocupar’ a vida, confundir-se com
ela e impregnar-se dela, “existir humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-
lo”. Educação é, sim, a própria vida vivida em sua plenitude, com consciência crítica
e situada no tempo e na história, e não apenas um agregado de procedimentos e
técnicas que ‘preparam’ para uma vida produtiva.
Não foge à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa” (VASCONCELOS;
BRITO, 2006, p. 83).
Sob essa temática, a pesquisa ora apresentada teve por objetivo geral
Investigar como os referencias de Paulo Freire, permeiam a construção do PPP, na
Escola Estadual de Ensino Médio Irany Jaime Farina. Os objetivos específicos
voltaram-se para: 1. Contextualizar os Fundamentos Históricos e Metodológicos da
Pesquisa; 2. Aprofundar conceitos significativos na obra de Paulo Freire, com a
finalidade de compreender e estabelecer um ponto de partida teórico para a análise
do conteúdo, inscrito nos documentos da escola como projeto político pedagógico,
planos de ensino, regimento escolar; 3. Investigar as compreensões teóricas sobre
Projeto Político-Pedagógico, bem como estudar e descrever o PPP da Escola
Estadual de Ensino Médio Irany Jaime Farina. 4. Identificar as aproximações e
distanciamentos da pedagogia Freireana no PPP da escola para poder analisá-lo.
O Capítulo cinco tem como objetivo analisar a partir dos seis princípios
significativos da obra de Freire como eixos orientadores dessa pesquisa: autonomia,
diálogo, conscientização, conhecimento educação, inclusão/exclusão que dentre
outros, contribuem para a construção de uma escola pública e democrática, “uma
escola democrática, em que se pratique uma pedagogia da pergunta” (FREIRE,
2006, p.74), as aproximações e os distanciamentos do PPP.
Minha família não tinha casa para morar; por isso, meus pais moravam como
agregados4. Trabalhavam de sol a sol, para conseguir dar o que comer aos filhos.
Tudo era novidade, novos vizinhos, novas amizades, mas meu pai continuou
trabalhando como boia-fria, e a família continuava sem referência de endereço fixo,
pois continuava acompanhando o pai nos trabalhos que realizava no interior.
Porém, cansada de viver sem rumo e sem destino, minha mãe tomou uma decisão:
resolveu fixar moradia. Conseguiu construir uma meia-água6, cercada de tábua
chamada costaneira e de chão batido, em um terreno que foi cedido por um tio que
sempre acolhia todos os parentes que chegavam do interior. Depois que a mãe
abandonou as andanças de um lugar para o outro, assumiu a criação dos sete filhos,
sozinha.
À noite, ela realizava um ritual: sentava com todos os sete filhos e ensinava
música, valores religiosos e cálculo mental. Como analfabeta, não codificava e nem
decodificava as letras, mas lia o mundo como ninguém, o que confirma o que Freire
(1996, p.95), nos diz: “[...] a leitura de mundo precede a leitura de palavras”.
4 Famílias que moram nas terras de um fazendeiro, para cuidar; porém, tudo o que produzem
plantando, ou criando animais, deve dar a metade para o patrão.
5 Campos com vários terrenos baldios que estavam desocupados, terras ociosas.
6 Casas populares construídas com madeira simples, apenas uma aba na linguagempopular.
Segundo dicionário meia-água- s.f. Telhado de um só plano.
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Dona Antonia, como era conhecida, ensinava tudo a todos, filhos homens e
filhas mulheres, de forma igual, sem divisão de serviços por sexo. Quem estava em
casa tinha que fazer todas as atividades: lavar roupas, fazer comida, etc.
Demonstrava o desejo de ver suas três filhas casadas e que fossem boas
donas de casa; porém, sempre com a perspectiva de autonomia, sem deixar o
marido determinar/dominar. Ela não gostaria que vivenciássemos o que ela viveu: a
experiência de ser vendida pelo primeiro marido que era alcoólatra e não gostava de
trabalhar. Portanto, nesse aspecto, ela mesma, sem conhecer Freire, adotava para
educar os filhos sua pedagogia, com o princípio da autonomia.
Trabalhar era algo muito sério: aprendi em casa que o ser humano deve se
sustentar e não depender de ninguém para sobreviver. Comecei a trabalhar fora de
casa muito cedo. Acompanhava meus irmãos na rua para trabalhar em algo que
desse dinheiro, porque o que minha mãe ganhava, mal dava para comprar alimentos
básicos e simples, e o resto? Então meu irmão mais velho esperava a mãe sair e
nos chamava para planejarmos o que fazer para não gastar em casa e ainda trazer
algo para contribuir com a família. Depois disso, pegávamos uma enxada, um
rastelo e uma vassoura e saíamos todos juntos. A casa era fechada, e só
voltávamos à tarde, antes da mãe chegar do seu trabalho.
O trabalho durante o dia era intenso: capinar lotes, limpar calçadas, ir à feira
para as senhoras mais velhas; enfim, se fazia de tudo, porém o retorno financeiro
era pequeno. Voltávamos para casa, cansados, mas felizes em perceber que
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Antes de dormir, como dito anteriormente, a mãe sentava em uma roda e nos
ensinava a rezar, benzer, cantar, contava histórias da Bíblia e da vida. Aquilo era
encantador, e me motivava a querer também ensinar tudo o que aprendia. Às vezes,
desenhava todas as histórias contadas pela mãe para, no outro dia, recontá-las as
crianças das vizinhas, que não tinham costume de se reunir como nossa família
fazia. Também era comum, semanalmente, um tio mais velho vir até nossa casa
para contar causos7 sobre tudo. Ele era considerado um exemplo de vida para as
crianças, porque já conhecia muitos lugares e nos ensinava como agir para
sobreviver com estranhos, e sozinhos, nesse “mundão de Deus”, como dizia.
Por ser a quinta filha, minha tarefa era cuidar dos irmãos mais jovens, para a
mãe trabalhar. Isso fez com que eu frequentasse a escola esporadicamente, até
meus irmãos crescerem. O grande sonho descrito por Freire era que todas as
crianças pudessem só estudar. Nas suas palavras: “Vai chegar um dia em que, [...]
ninguém trabalhará para estudar nem ninguém estudará para trabalhar, porque
todos estudarão, ao trabalhar” (FREIRE, 1982, p. 71). E também sonhava com uma
sociedade diferente, trabalhadores conscientes e não alienados. “Uma sociedade
que sonha ir se tornando, no desenvolvimento de seu processo, uma sociedade de
trabalhadores, não pode deixar de ter, no trabalho livre, na fundamental do homem
novo e da mulher nova, coincidentes com tal sociedade” (FREIRE, 1978, p. 72).
7 De acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa, causo quer dizer: o que aconteceu
acontecido, caso ocorrido. Narração geralmente falada, relativamente curta, que trata de um
acontecimento real, caso, história, conto. Sua etimologia provém do cruzamento de caso e causa; é
um dialeto brasileiro. O dicionário Aurélio conceitua causo como uma variação popular de caso;
conto, história, caso.
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pergunta, a resposta era imediata; “isso você não precisa saber agora, o ano que
vem eu te respondo”. Então imaginava: ela não responde por que não sabe. Pois, “o
educando se torna realmente educando na medida em que conhece, ou vai
conhecendo os conteúdos, os objetos cognoscíveis, e não na medida em que o
educador vai depositando nele a descrição dos objetos ou dos conteúdos” (FREIRE,
1996, p. 47).
Diante desses fatos, Freire (1987) diz que a grande tarefa dos oprimidos está
em libertar-se a si mesmos e aos opressores. No caso específico dos educadores,
como referenciou Silva (2004), a libertação será possível a partir de práticas
pedagógicas emancipatórias, em que os indivíduos assumam posições de diálogo e
problematização da realidade, comprometidos com a construção de saberes e a
humanização dos sujeitos.
8 A concepção “bancária” de educação propõe falar da realidade como algo parado, estático,
compartimentado e bem-comportado, quando não falar ou dissertar sobre algo completamente alheio à
experiência existencial dos educandos. Nela, o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real
sujeito, cuja tarefa indeclinável é “’encher” os educandos dos conteúdos de sua narração, conteúdos esses
retalhados da realidade, desconectados da totalidade em que se engendram, sem significação na vida dos
educandos. O processo ensino/aprendizagem se desenvolve utilizando-se da narração, onde o educador é o
sujeito, conduzindo os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração
transforma os educandos em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais vai
“enchendo” os recipientes com seus depósitos, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixam docilmente
“encher”, tanto melhor educandos serão. Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar. Nesta visão
de educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber, fazendo com que o
educador que aliena a ignorância, se mantenha em posições fixas, invariáveis, sendo sempre o que sabe,
enquanto os educandos sempre os que não sabem. Esta visão de educação anula o poder criador dos
educandos ou o minimiza, estimulando sua ingenuidade e não sua criticidade. Satisfaz os interesses dos
opressores (FREIRE, 1987, p 47).
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Aprendi a ler com meus irmãos mais velhos que frequentavam a aula e
tinham o compromisso de ensinar os que permaneciam em casa, cuidando dos
irmãos mais novos, mas o que recordo é que, quando aprendi a ler, lia tudo: as
placas, o jornal que a mãe trazia enrolado nas mercadorias do mercado, os
documentos. E quando percebi que poderia ler os livros, na hora do recreio, quando
ia à escola, ficava na biblioteca olhando os livros grandes que não podiam ser
levados para casa. Tornei-me uma leitora assídua dos livros da biblioteca; era a
aluna que mais retirava livros; sabia que não poderia ir à escola todos os dias; então
utilizava outra estratégia, fazia outro movimento, tomava emprestados os livros da
biblioteca para ler em casa.
Freire (2000, p.5) registra que “leitura boa é aquela leitura que nos empurra
para a vida, que nos leva para dentro do mundo, que nos interessa viver”. Isso tudo
que eu imaginava, principalmente quando lia os livros Polyana menina e Polyana
moça. Era muito bom!
Outro processo que eu vivenciei com intensidade, era ouvir rádio, o único
artigo de valor que tínhamos em casa. Levantávamos muito cedo, ainda era escuro,
e o rádio era ligado para ouvir as notícias, comentávamos sobre muitos assuntos em
voz alta. “Os grandões cada vez mais ricos, e nós só ganhamos para comer”, a mãe
dizia à vizinha que vinha cedo tomar chimarrão. Ela respondia: “sempre foi assim,
um dia vai melhorar mulher.” Eu ficava pensando como viviam as pessoas, e ainda
surgiam questões como: Por que algumas pessoas têm dois carros, tem uma casa
grande, e outras, como nós moramos em casa de chão batido? Outra inquietação
sempre presente era a dúvida que eu tinha sobre por que há famílias cujos filhos só
estudam, não precisam andar nas ruas, procurando trabalho? E as mães levavam e
buscavam os filhos na escola: Minha mãe nunca foi à escola porque não podia faltar
ao trabalho. E continuava inquieta: Quem realizava a divisão das coisas no mundo?
Seria Deus? Eu achava que não era, pois aprendemos que Ele era bom e tratava
cada um de forma especial. E assim eu não aceitava viver daquela forma em que
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vivíamos; não era normal, devia haver uma solução que melhorasse a vida do povo
trabalhador.
[...] não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para
transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem certo sonho ou projeto de
mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de
minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes.
mestre foi o diretor da Escola Dom Pedro II9, o professor Volnei Luiz Pavlac, que me
chamou para conversar e saber o porquê de tantas faltas. E como eu sabia sobre
muitos assuntos, ele relatou que as professoras haviam comentado com ele. Nessa
ocasião, ele fez uma pergunta e uma afirmação: “Se você deseja mudar de vida
estude, se esforce e não aceite os nãos facilmente sem questionar, vá à luta e você
conseguirá”.
Continuou sua fala: “Veja, eu sou deficiente, não é fácil ser aceito, mas eu luto
e sempre dá certo. Não deixe nunca de pensar além dos outros, não adianta
esperar, se não conhecer, descubra e não dê atenção para o que falarem de você,
porque só aparece, só é criticado quem faz”.
Então, aquelas palavras ficaram ecoando no meu pensamento. Fui para casa
feliz, e contei para minha mãe, e também já tinha definido uma situação para
continuar meus estudos, porque sentia a necessidade de buscar mais
conhecimento, pois só com ensino fundamental não conseguiria um bom trabalho.
Minha mãe sempre cuidou de nós muito bem; nunca faltaram carinho, atenção e o
necessário para nos tornarmos seres humanos melhores; apoiava-nos em todas as
decisões que trouxesse benefícios para nós e nossa família. Foi quando ela disse: -
“já que gostas de estudar vai em frente”. E novamente o dialogo com Freire, quando
diz que somos seres em constante busca para sermos mais.
Em fevereiro de 1989, para minha alegria, recebi a visita das Irmãs, e junto, o
convite para ir morar com elas e concluir os estudos. Retomo aqui as palavras de
Freire (2007, p. 22):
classe baixa. É considerado de periferia com uma população, segundo o senso 2010, de 3716
habitantes; porém, se juntar, forma um bloco de 16 bairros divididos por uma rua; a população dessa
região chega a 18mil habitantes.
34
Foi com essa crença que decidi aceitar a proposição. Tralhava meio turno
numa fábrica de luvas, para pagar a pensão às irmãs, ajudar a família em casa e
comprar roupas e objetos pessoais.
12
Congregação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paula
35
Esse fato remete-me novamente a Freire (2001) quando este diz que é por
meio do diálogo e da organização que o ser humano se desenvolve e, ao dizer sua
palavra, vai se empodeirando e passa a exercer a cidadania, participando cada vez
mais da vida em sociedade.
Outro trabalho que desenvolvi foi em uma creche, chamada Mãezinha do céu,
de propriedade da Sociedade Beneficente São Vicente de Paulo, administrada
pedagogicamente pela Congregação das Filhas da Caridade. Iniciei trabalhando
com uma turma de pré-escola: preparar as aulas, ensinar para as crianças da
periferia. O objetivo da instituição era alimentar as crianças para que
desenvolvessem os neurônios, e não ficassem com retardo mental.
Era necessário educar as crianças para autonomia; para a maioria, era o único
contato com a cultura; fazia-se necessário trabalhar a linguagem e ampliar o seu
vocabulário, devido a pouca convivência com pessoas de diferentes culturas,
apenas falavam uma linguagem do seu meio. A fala dos educadores
obrigatoriamente tinha que ser em variante do prestígio social e manter um diálogo
constante para que as crianças percebessem a diferença e pudessem conhecer
outras formas de falar e de se expressar. Para Bagno (2004, p. 145)
E foi com essa determinação que, no final de 1994, realizei a seleção para o
curso de Magistério na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões - URI. Fui classificada e concluí, em 1997, o Curso, levando os professores
da Universidade até a Periferia da cidade, para realizarem a observação no Estágio
Supervisionado. “Não nascemos professoras, nem nos fizemos professoras de
repente. O fazer-se professora foi-se configurando em momentos diferentes de
nossas vidas” (FONTANA, 2000, p. 122).
Mas eu era responsável pela turma. Fui conversar com a Diretora para
solicitar ajuda; porém, fiquei surpresa com a orientação. Ela me disse: “não perca
seu tempo. Esses aí não serão nada na vida. Quando vier a supervisão para escola,
nós tiramos os piores da sala e você continua com os outros.” Ouvi, e no final,
solicitei uma autorização para chamar/conversar com os pais. Mais uma vez a
Diretora deixou claro: “você só vai perder seu tempo, mas vamos ver no que vai dar”.
Foi montado um plano de trabalho com o título: “Se as pessoas não mudarem
suas atitudes, o Bairro Progresso vai se transformar num grande lixão”. Nesse
projeto fizemos muitas pesquisas, inclusive como o lixo chega até o Bairro. Esse
projeto foi encerrado com a visita à Prefeitura, e ainda, com a entrega de uma carta
aberta, para o Prefeito, com as principais reivindicações da comunidade, dos pais e
das crianças. Essa ação causa impacto na comunidade. Nas palavras de Freire
(1981, p. 16):
Ali trabalhei de 1995 até 2002. Nesse espaço, me constituí como educadora
popular. Tinha formação aos sábados, em reunião de formação geral, planejamento
coletivo e avaliação. Era necessário muita leitura, estudar Pistrack, Makarenko,
13 É uma entidade popular sem fins lucrativos que atende meninos e meninas de rua,
oferecendo uma educação diferente, visando a formar para a vida e o pleno exercício da cidadania.
39
Paulo Freire e Madalena Freira. Fui muito feliz nesse lugar; gostava de trabalhar
com as crianças, mas encontrei dificuldades com a escola, pois, nas produções
individuais e coletivas, elaboradas pelo grupo, aparecia a escola como um lugar frio,
pouco acolhedor, discriminador, com tratamento diferenciado para os pobres. As
escolas não gostavam que seus alunos frequentassem a “Obra”, como era
conhecida. Nesse espaço, foi criado o primeiro coral popular; as letras das músicas
expressavam as angústias e as esperanças das crianças e adolescentes.
Foi criado também o Hino da Obra, que registrava em seu refrão: ”Somos
irmãos calados, de olhares assustados, crianças e adolescentes criando um amanhã
diferente.” Demonstravam a situação que viviam nas ruas e o que faziam na Obra
para se libertarem.
Trabalhei durante oito anos nessa entidade. Saí quando fui nomeada
professora na Prefeitura de Erechim, para trabalhar na Educação Infantil no Centro
de atendimento integral à criança e ao adolescente da Escola Cristo Rei – CAIC, no
Bairro Cristo Rei. Atuei um ano como professora do jardim e depois como
Coordenadora Pedagógica. Deixei a escola para assumir o concurso que realizei no
Estado do Rio Grande do Sul.
Trabalhei como professora de primeira a quarta série, por três anos. Foi
muito difícil, pois os colegas não me aceitavam. Eu realizava atividades diferentes
com as crianças. Foi muito interessante o processo porque todos os alunos,
considerados problemáticos nas outras turmas, eram encaminhados para minha
turma, mas eu só ficava sabendo quando eles entravam na sala de aula; da turma
considerada indisciplinada, com dificuldades de aprendizagem, eu assumia a
regência. A justificativa era porque eu era a professora que tinha o menor tempo de
serviço na escola. Na sala de aula não existiam alunos passivos, com aprendizagem
mecânica, descolada da realidade daqueles sujeitos, e por isso, incompleta e
deficiente. A respeito dessas quesões Freire (2002, p. 28 e 29) afirma:
Porém, muitas vezes pensei em desistir, nunca pelas crianças, mas pelo
grupo de colegas que não gostavam da escola e muito menos das crianças. Para
alguns professores estar no ambiente escolar era uma tortura.
42
Na sequência do trabalho, a turma em que iria atuar era uma primeira série.
Aceitei e procurei trabalhar guiada pelo método de alfabetização de Paulo Freire,
ensinando não só decodificar, mas fazer a leitura de mundo, compreendendo o todo
e não partes fragmentadas.
O ponto de partida sempre era o texto, depois palavras, sílabas, letras. Tudo
com material concreto, construído ou trazido pelos alunos. Passado alguns meses
solicitei um horário na biblioteca e recebi um não, mas insisti, e garanti que meus
alunos estavam lendo. Foram chamados individualmente na sala da Diretora;
somente depois da verificação realizada, fui autorizada a levá-los, uma vez por
semana, na biblioteca.
Em 2006 candidatei-me à Direção da Escola. Fui eleita com 96% dos votos.
A responsabilidade era muito grande; a comunidade estava clamando por mudanças
urgentes.
Compreendi que o ato de educar é um ato intencional e que cada ser humano
precisa sair melhor do que entrou na escola. É o educador que conduz e media esse
processo de construção do conhecimento na escola; ele tem o compromisso de
contribuir com o educando para que este amplie seus conceitos e passe a ser um
ser humano melhor, utilizando o conhecimento como possibilidade de emancipação
humana.
Larrosa (1998) diz que cada professora, ao narrar a sua prática, dá-se como
texto para ser lido por muitos; arrisca-se às diferentes leituras possíveis, e, vive o
desafio de ir aprendendo a compreender o outro como legítimo outro.
Capítulo 2
Contextualizar os Fundamentos
Históricos e Metodológicos da
CAPITULOS
FUNDAMENTOS
Pesquisa;
HISTÓRICOS E
METODOLÓGICOS DA
PESQUISA
Aprofundar conceitos significativos
na obra de Paulo Freire, com a Capítulo 3.
finalidade de compreender e
estabelecer um ponto de partida A PEDAGOGIA
46
O estudo de caso poderá ser utilizado quando houver interesse naquilo que
está ocorrendo e no como está ocorrendo mais do que nos seus resultados, e
quando se busca descobrir novas hipóteses teóricas, novas relações, novos
conceitos sobre um determinado fenômeno, e quando se quer retratar o dinamismo
de uma situação numa forma muito próxima do seu acontecer natural (ANDRÉ,
2007).
[...] A teoria serve como orientação para restringir a amplitude dos fatos a
serem estudados; [...] como sistema de conceptualização e de classificação
dos fatos; [...] para resumir sinteticamente o que já se sabe sobre o objeto
de estudo, mediante as generalizações empíricas e das inter-relações entre
afirmações comprovadas; [...] prever novos fatos e relações; [...] indicar os
fatos e as relações que ainda não estão satisfatoriamente explicados e as
áreas da realidade que demandampesquisas [...].
A Escola Estadual de Ensino Médio Irany Jaime Farina foi criada em 1989 e
iniciou seu funcionamento em 1990. Está situada na Rua José Wawruch, número
300, no Bairro Petit Village, no Município de Erechim – RS, localizada entre os
Bairros Cristo Rei, Progresso, São José, Loteamento Social, COHAB, e Estevão
Carraro. É uma escola considerada de periferia, de difícil acesso e de alta
periculosidade física e social, de acordo com a sua localização (abaixo da BR153
segundo o Pórtico da cidade, esses bairros ficam fora do Município) frente a pontos
críticos.
Devido ao baixo poder aquisitivo, o lazer mais comum das famílias é visitar
parentes e amigos (25%); e jogar futebol nos campos e nos ginásios do bairro
(20%). Habitualmente, 55% das famílias assistem a programas de televisão, ouvem
rádio e frequentam bares.
Retornou ao Brasil em 1980. Como ele mesmo falou: “foi uma alegria imensa,
pisar novamente no chão brasileiro foi muito emocionante, mas precisava reaprendê-
lo". Deu sentido a uma nova postura em contato com o povo brasileiro, por
intermédio da classe trabalhadora e de seu partido político.
Freire defendia suas opiniões, mas sabia trabalhar em equipe, muito longe
do espontaneísmo de que havia sido acusado. Ele tinha autoridade, mas exercia-a
de forma democrática. Enfrentava situações conflituosas com muita paciência. Dizia
que o trabalho de mudança na educação exigia paciência histórica, porque a
educação é um processo em longo prazo (GADOTTI, 1989).
Para Dussel (2002, p.427), Freire possui uma originalidade própria; não é
simplesmente um pedagogo, no sentido específico do termo. "É um educador da
consciência ético-crítica'". Inspirando-se em Hegel, Merleau-Ponty, Sartre, Mounier,
Jaspers, Marx e Lucáks, entre outros, Freire desenvolveu um discurso próprio, a
partir da realidade do Nordeste brasileiro e da América Latina. Segundo esse autor,
60
Freire é bem mais que um simples pedagogo, é uma pessoa que visualizou o poder
que a educação tem.
Paulo Freire morreu aos 75 anos, no dia 02 de maio de 1997, em São Paulo,
vítima de infarto agudo do miocárdio, deixando como maior legado a visão de que o
educador é também um aprendiz e um utópico. Gadotti (1989, p 18) diz: "Freire
conseguiu manter-se fiel à utopia, sonhando sonhos possíveis. Fazer o possível de
hoje para amanhã fazer o impossível de hoje”.
18
Foto 1- Foto retirada da internet
18
Disponível em: https://acervo.fe.ufg.br/index.php/composicao-paulo-freire-e-algumas-de-suas-
obras. Acesso em: 03/06/2015
62
Fiori (1991, p.52), grande amigo de Freire, diz: “Paulo Freire é um pensador
comprometido com a vida: não pensa ideias, pensa a existência”. Seu pensamento
traz em sua essência elementos calcados na existência humana, ou seja, em toda a
plenitude da vida.
Ele foi um educador incansável e não se limitou a seguir uma única corrente
filosófica. Ele foi construindo seu discurso gradativamente, numa concepção
humanista de mundo, e foi delineando a sua pedagogia numa perspectiva
libertadora. Trabalhou com camadas sociais carentes, objetivando transformar essa
realidade através de um processo de conscientização política, levando as pessoas a
compreenderem a realidade social de forma crítica, para realizarem transformações
na própria vida (FIORI, 1991).
Paulo Freire foi e continua presente como uma figura entre as mais
destacadas personalidades no campo da educação, da pedagogia e da vida.
64
Uma das grandes lições de Freire está, a meu ver, no fato de ele se colocar
permanentemente como testemunho do ato de conhecer, um conhecer que
é também sempre um pronunciar o mundo em que se vive. O tão falado
diálogo não é, para Freire, um método entre outros, mas uma postura diante
do mundo, dos outros e do próprio conhecimento. Uma postura de quem
sabe que sabe, mas que, em sabendo, sabe que tem ainda, e sempre,
muito a saber. Dentro dessa perspectiva, identifico pelo menos quatro
lugares onde o pensamento de Paulo Freire é especialmente relevante hoje:
20
Disponível em: https://pedagogiadojua.wordpress.com/category/pedagogia/
Acesso em: 03/06/15.
65
Não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí que dizer a palavra
verdadeira seja transformar o mundo. Porque por meio da ação reflexão o
sujeitomuda suas atitudes e passa a intervir de forma consciente na
realidade. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo é modificá-lo. Esse
encontro dos homens por meio do diálogo é um instrumento de organização
para com juntos articular formas de intervenção no mundo para significar
nossa existência. Esse diálogo não pode só servir para conquistar o
companheiro, mas para juntos montarmos estratégias de conquista do
mundo para a libertação dos homens. Essa libertação só acontece na
“comunhão dos homens” na troca, na partilha das informações, na troca de
experiência que vai gerar novas elaborações e formas diversificadas de
atuação no seu meio social (FREIRE, 2005, p.108).
69
3.3.2.1.1 Colaboração
Assim, podemos perceber que Freire ensina não só fazer a denúncia, mas
também o anúncio de uma nova forma de viver onde as pessoas educadas para a
conscientização serão mais felizes e defenderão a vida onde quer que ela se
manifeste.
3.3.2.1.3 Organização
A síntese cultural não nega as diferenças entre uma visão e outra; pelo
contrário, funda-se nelas. O que ela nega é a invasão de uma pela outra. O que ela
afirma é indiscutível subsídio que uma dá à outra.
Ao longo da história, a escola vem sendo vista como um dos meios de se ter
acesso ao conhecimento, assumindo assim, o papel de transmissora do
conhecimento sistematizado. Conhecimento, este, muitas vezes transmitido de
forma linear, mecânica, imutável, sem levar em consideração as mudanças sociais,
culturais e econômicas, em que se cristalizam modelos ou paradigmas construídos
durante os processos históricos, presentes até hoje. A escola como dita
anteriormente é local de construção e produção de conhecimentos, porém
percebemos que está sendo utilizada apenas como reprodução de um sistema.
76
Será que a escola está preparada para trabalhar com os alunos concretos,
que trazem muitos conhecimentos, experiências no seu cotidiano, nos modos de
encontrar formas de viver e sobreviver nos locais em que residem? Essas crianças e
adolescentes compram, vendem, cuidam seus irmãos e, muitas vezes, até da
família, ajudando no orçamento familiar, vão ao posto de saúde reservar fichas para
consultas médicas, etc. Esses alunos não conseguem permanecer sentados,
formatados em uma sala de aula, copiando textos e respondendo a questões
descontextualizadas de sua realidade.
Segundo Alves (2007), o acesso à escola não pode ser confundido com a
expressão de uma cultura homogênea, de padrão único. Sendo assim, é necessário
pensar a adoção de currículos diversificados e metodologias de ensino utilizando
estratégias dialógicas de participação que levem em consideração diferenças
regionais, culturais, de gênero, étnicas, raciais e religiosas, perfis populacionais
etários econtextos em que as aprendizagens se realizam.
Segundo Candau (2000) a escola acolhe diversas culturas, mas não garante
um processo de ensino multicultural nas suas ações pedagógicas. Ela ainda está
presa a uma monocultura. É possível que o ensino se torne significativo e respeite a
diversidade, incluindoa todos no processo de ensino e aprendizagem? Nesse
sentido, Forquim (1993, p.137) afirma que:
Diante desse desafio Freire (2000) pensou uma educação que vai além do
ensino dos conteúdos, que não se preocupa apenas com estes, mas que “[...] não
pode se fundar numa compreensão dos homens como ‘seres vazios’ a quem o
mundo ‘encha’ de conteúdos […] Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a
problematização dos homens em relação ao seu mundo” (FREIRE, 2000, p.87).
Nesse sentido, Freire afirma que a escola, os professores, os alunos não são
culpados pelo fracasso escolar, mas precisamos compreender que vivemos em uma
sociedade que é competitiva, excludente, e a escola, muitas vezes, reproduz essas
situações no seu cotidiano. Expulsar, suspender aluno é privá-lo do direito à
educação e lançá-lo ao mundo sem preparação e formação necessária para
sobreviver na sociedade.
Com tal fim, Freire (2000) pensou uma educação que abranja a todos os
cidadãos, a despeito das suas características físicas, socioculturais, econômicas.
Desejou uma escola cujos princípios de humanização são a “vocação dos homens,
afirmada no anseio de liberdade, de justiça, da luta dos oprimidos, pela sua
recuperação de sua humanidade roubada” (FREIRE, 2000 p. 30).
Freire idealizou uma educação inclusiva que não segrega, mas que promove
o ser humano, impulsionando-o para a vocação de “SER MAIS”. Vê na escola um
espaço de construção e socialização do conhecimento, coibindo qualquer tipo de
discriminação, tendo como princípios básicos os valores democráticos e a
80
valorização do ser humano. Chama “atenção dizendo que vivemos numa sociedade
plural e cidadã cuja prática preconceituosa de raça, classe, de gênero, ofende a
substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia” (FREIRE, 2001,
p.39).
Sendo assim podemos dizer que escola deve remover barreiras para a
aprendizagem e a participação de todo aluno, independente de suas características
orgânicas, psicossociais, culturais, étnicas ou econômicas (CARVALHO, 2004,
p.144).
Uma educação que tenha uma visão clara de como acontece o processo de
exclusão e inclusão no espaço escolar e perceber como esta manifesta sutilmente
nesse ambiente, promovendo a desigualdade e deixando muitos sujeitos fora do
processo de construção do conhecimento. Cabe a cada estabelecimento de ensino
encontrar, junto com seu coletivo de educadores, formas de combater a exclusão e,
com essas estratégias, qualificar a Educação Básica, promovendo a inclusão e a
permanência de todos na escola, objetivando construir o conhecimento. Dar reais
oportunidades e condições para os sujeitos se apropriarem do patrimônio cultural
acumulado pela humanidade. E assim, contribuir na construção de uma sociedade
mais justa e humana.
3.3.4 Autonomia
Não é possível constituir-se enquanto sujeito autônomo, ser gente senão por
meio de práticas educativas emancipatórias. Esse processo de formação perdura ao
longo da vida toda: o homem não para de educar-se; sua formação é permanente e
se funda na dialética entre teoria e prática.
3.3.5 Conhecimento
não será construção do conhecimento, mas mera transmissão como já nos alertava
Freire. Será possível o educador desenvolver uma prática emancipatória sem
compreender o processo de conhecimento? Após o que faz a crítica à tradição
educativa de "transformar o sujeito em objeto para receber pacientemente um
conteúdo de outro" (FREIRE, 1986, p.26).
3.3.6 Educação
Concordo com Freire, (1981, p.79) quando diz que “Ninguém educa ninguém,
como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em
comunhão, mediatizados pelo mundo”.
86
A educação bancária vai promovendo cada vez mais a exclusão dos sujeitos
da construção do conhecimento e da participação na sociedade, porque são
formados para a cordialidade, aceitação, não para questionar. Tudo vai permanecer
como está, uma vez que, os sujeitos que vão compor a nova sociedade serão
apáticos e conformados. E dessa forma a realidade continua intacta, e a classe
dominante se mantém no poder, sempre, e cada vez mais fortalecida.
Segundo Mizukami (1996), a educação, para ser válida, deve levar em conta,
necessariamente, tanto a vocação ontológica do homem (vocação de ser sujeito)
quanto as condições nas quais ele vive (contexto). E ainda complementa que o
homem chegará a ser sujeito através da reflexão do seu ambiente concreto: quanto
mais ele pensa sobre a realidade, sobre sua situação real de vida, mais se torna
progressivo e, passo a passo, vai tomando consciência e passa a se comprometer e
intervir na realidade para mudá-la.
a outro.
A prática pedagógica está sempre calcada em A prática pedagógica passa a ser uma ação
narrativas; de fato, explicita uma realidade política de troca de concretudes e de
estática, imutável e inexorável. transformação.
Acomodação Mudança
Sonoridade da palavra e não sua força, da qual Baseada em outra concepção de homem e
deriva uma prática totalmente verbalista, de mundo, supera-se a relação vertical,
dirigida para a transmissão e avaliação de estabelecendo-se a relação dialógica. O
conhecimentos abstratos, numa relação diálogo supõe troca, os homens se educam
vertical; o saber é dado, fornecido de cima para em comunhão, mediatizados pelo mundo. “...
baixo; é autoritário, pois manda quem sabe. e educador já não é aquele que apenas
educa, mas o que, enquanto educa, é
educado, em diálogo com o educando, que
ao ser educado, também educa” (FREIRE,
l983, p.79).
O saber é uma doação dos que se julgam Como situação gnosiológica, em que o
sábios aos que julgam nada saber. objeto cognoscível, em lugar de ser o
término do ato cognoscente de um sujeito, é
mediatizador de sujeitos cognoscentes;
educador, de um lado, educandos, de outro,
a educação problematizadora coloca, desde
logo, a exigência da superação da
contradição educador x educando.
Anula o poder criador dos educandos, Busca sempre os nexos que prendem um
estimulando sua ingenuidade e não sua ponto a outro.
92
criticidade.
Esse tipo de educação pressupõe um mundo Conhecimento crítico, pois foi obtido de uma
harmonioso, no qual não há contradições. forma autenticamente reflexiva, e implica em
ato constante de desvelar a realidade,
posicionando-se nela. O saber construído
dessa forma percebe a necessidade de
transformar o mundo, porque assim os
homens se descobrem como seres
históricos.
A pedagogia dos dominantes, onde a educação A pedagogia do oprimido, que precisa ser
existe como prática da dominação. realizada, na qual a educação surge como
prática da liberdade.
Os educadores não são nem lembrados, muitos por serem humilhados, nesse
espaço; têm ressentimentos ao ouvir falar de aula, escola. A escola aparece como
experiência negativa nas suas vidas. Muitos afirmam não ver importância nenhuma
93
O que vai garantir que esse processo aconteça na educação é a forma como
o educador realizará sua ação pedagógica. Uma característica básica é a autonomia
que desperta a criatividade e o prazer nos sujeitos em aprenderam e ensinaram.
O termo projeto tem origem no latim “projectu”, que, por sua vez, é particípio
passado do verbo projicere, que significa “lançar para diante”. Plano, intento,
desígnio (VEIGA, 2000, p.70). Por esse motivo, é tão importante ser construído na
escola para delinear os objetivos do processo de ensino e aprendizagem.
Diante de questões como essas, Gadotti (1994, p. 579) enfatiza que “o projeto
político-pedagógico na ótica da inovação deverá conduzir a uma ruptura com
práticas anteriores, desenvolvendo-se em terreno conflituoso, o que significa
'atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade”.
Além dos artigos registrados acima, ainda podemos destacar outros que
orientam na sua elaboração, bem como a Constituição Federal de 1998 descritos no
quadro abaixo:
• metodologia do trabalho
individual.
105
Para Gadotti (1999, p.4), “não se constrói um projeto sem uma direção
política, um norte, um rumo.” Por isso, todo projeto pedagógico da escola é
também político. É um processo inconcluso, uma etapa em direção a uma
finalidade.
23
A escola possui autorização para uso das imagens.
116
24
Fotos- Para o uso de imagem a escola tem autorização de utilizá-las para fins de desenvolver projetos e
trabalhos acadêmicos.
117
Para Freire (1996) o professor que pensa certo deixa transparecer aos
educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com
o mundo, como seres históricos, é a capacidade de intervir no mundo,
conhecer o mundo.
119
25
Contratos emergências são contratos temporários que a Secretaria Estadual de Educação
faz com professores e funcionários para suprir uma necessidade imediata da escola.
121
d) Avaliação emancipatória
Percebemos isso claro no PPP onde apresenta uma proposta que inclui
todos no processo de construção do conhecimento: Os educandos nos
momentos da hora da conversa, troca de saberes, assembleias e construções
diárias de organização do coletivo infantil e infanto-juvenil. Os educadores
levando a sério os encontros de formação e planejamento individual e coletivo
e refletindo sua prática pedagógica. E as famílias recebendo orientações e
formações, participando ativamente da organização da comunidade e dos
espaços escolares. Com a realização dessas atividades concluímos que a
educação exerce grande papel pela realização de uma prática emancipatória,
levando os sujeitos a transformarem suas vidas e sua realidade.
assim tem de ser. Está sendo assim porque interesses fortes de quem têm
poder a fazem assim (FREIRE, 2000, p.126).
CONCEPÇÕES
SOCIEDADE SOCIEDADE
PESSOA PESSOA
134
Sujeitos que fazem parte do gênero humano Sujeitos que fazem parte do gênero
inseridos num espaço histórico temporal e humano inseridos num espaço histórico
cultural é conhecido como ser de temporal e cultural é conhecido como ser
potencialidades e sujeito do próprio conviver de potencialidades e sujeito do próprio
e do viver com o outro e com a conviver e do viver com o outro e com a
transcendência. transcendência.
EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO
A educação como prática social acontece em A educação como prática social acontece
diferentes espaços é concebida como em diferentes espaços é concebida como
processo de formação integral, social e processo de formação integral, social e
permanente nohumano, assume uma permanente no humano, assume uma
dimensão política escolar que propicia a dimensão política escolar que propicia a
construção do conhecimento para o pleno construção do conhecimento para o pleno
exercício da cidadania. exercício da cidadania.
EDUCADOR EDUCADOR
EDUCANDOS EDUCANDOS
CONHECIMENTO CONHECIMENTO
135
Este capítulo tem como propósito analisar a partir dos seis princípios
significativos da obra de Freire. Que são os eixos norteadores dessa pesquisa:
autonomia, diálogo, conscientização, conhecimento, educação e
inclusão/exclusão que dentre outros, contribuem para a construção de uma
escola pública e democrática26. Procurando identificar em que aspectos a
proposta político pedagógica da escola descrita no PPP se aproxima e se
afasta dessa pedagogia.
26
Freire conceitua escola pública e democrática “uma escola democrática, em que se pratique
uma pedagogia da pergunta” (FREIRE, 2006, p.74).
140
A pedagogia tem de ser forjada com ele (o oprimido) e não para ele,
enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de
sua humanidade. Pedagogia que faça da opressão e de suas causas
objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento
necessário na luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará
e refará.
Aos poucos a aula vai ganhando corpo, porque o educador planeja esse
momento com assuntos significativos para introduzir, e trabalhar a temática do
dia. Dessa ação Freire (1996, p.29) nos diz que ao educador cabe não apenas
ensinar os conteúdos, mas ensinar a pensar certo, criar suas próprias
representações darealidade, saber explicar os fenômenos apartir de suas
conclusões. “É um pensar certo com quem fala com a força do testemunho. É
um ato comunicante, coparticipado”.
Pois, “só, na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às vezes, pense
errado, é quem pode ensinar a pensarcerto” (FREIRE, 1996, p. 30). Por meio
da mediação e partindo sempre do conceito que os educandos trazem de casa,
vão se ampliando os conhecimentos e, debatendo, procurando analisar as
143
Por isto é que, para nós, o risco da investigação não está em que os
próprios investigadores se descubram investigadores, e, desta forma,
“corrompam” os resultados da análise. O risco está exatamente no
contrário. Em deslocar o centro da investigação, que é a temática
significativa, a ser objeto da análise, para os homens mesmos, como
se fossem coisas, fazendo os assim objetos da investigação. Esta, a
base da qual se pretende elaborar o programa educativo, em cuja
prática educadores-educandos e educandos-educadores conjugue
sua ação cognoscente sobre o mesmo objeto cognoscível, tem de
fundar-se, igualmente, na reciprocidade da ação. E agora, da ação
mesma de investigar.
Cultura – Para Freire, “cultura é tudo o que é criado pelo homem. É o resultado
do seu trabalho, do seu esforço criador e recriador [...]”. A troca de saberes é a
oportunidade que os educandos têm de mostrar o que estão produzindo e
partilhar com os colegas que também produziram, e nessa socialização de
conhecimento, as representações culturais são valorizadas e o esforço de cada
grupo reconhecido.
O grande desafio era como pôr em prática essa proposta e realizar essa
educação emancipatória que trata os educandos como sujeitos, e protagoniza
seu processo de construção do conhecimento.
Freire nos diz que “somos seres criados para ser mais”. Um dos
caminhos para a construção do sujeito e sua emancipação é na escola; por
meio do conhecimento, os seres se tornam mais humanos, se conhecem,
socializam saberes e vão se constituindo enquanto sujeitos humanizados. Mas
esta é uma grande preocupação, pois surgem perguntas como: Será que a
escola está organizadapara trabalhar com o que realmente é significativo para
contribuir e ampliar os conhecimentos dos educandos? Será que conseguimos
trazer as vivências dos alunos, construídos em outros espaços educacionais?
Freire (1996) nos afirma que, para que haja uma comunicação dialógica,
que não seja nem silenciosa nem autoritária, é indispensável, em sala de aula,
a disciplina do silêncio. Mas silêncio não é silenciamento.
racional da liberdade, a fim de que a autonomia possa ser gestada. Tudo isso é
processo que vai sendo construído gradativamente na escola com educadores,
educandos e, posteriormente, com toda a comunidade escolar.
construir uma educação diferente, que promova o ser humano e acredita que
nascemos para “SER MAIS”. Ou seja, como indica Freire ( 2003, p.10),
Não existe ser profeta, longe da realidade, não sendo conhecedor das
situações reais que a comunidade escolar vive, participando de suas alegrias e
tristezas, porque compreendemos que:
O educador que busca criar condições para que seus alunos criem sua
própria autonomia, e que se afasta de ter uma prática autoritária, deve saber
escutar. Falar para os alunos como se fosse o portador da verdade é uma
162
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