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Ciências do Esporte / Educação Física,

Soberania Popular no Brasil e na América Latina:


Redirecionando as forças democráticas
nas águas do Dragão do Mar
17 a 22 de setembro de 2023 / Fortaleza – Ceará

O HANDEBOL À LUZ DA ABORDAGEM CRÍTICO-SUPERADORA:


RELATO DE EXPERIÊNCIA DE PROFESSORES-ESTAGIÁRIOS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO

HANDBALL IN THE LIGHT OF THE CRITICAL-OVERCOMING


APPROACH: EXPERIENCE REPORT OF PHYSICAL EDUCATION
TRAINEE TEACHERS IN THE NEW HIGH SCHOOL

EL BALONMANO A LA LUZ DEL ENFOQUE CRÍTICO-


SUPERACIÓN: INFORME DE EXPERIENCIA DE PROFESORES EN
PRÁCTICAS DE EDUCACIÓN FÍSICA EN LA NUEVA ESCUELA
SECUNDARIA

Lucas Araujo Silveira


LEPEL – UEFS
Talita do Nascimento da Silva da Silva
UNIMAM/LEPEL - UEFS

INTRODUÇÃO
De acordo com o Coletivo de Autores (1992), a Educação Física sistematiza o
conhecimento da Cultura Corporal e no meio educacional trabalha os conteúdos: Esporte,
Jogos, Lutas, Ginástica e Dança; partindo de uma necessidade social, sendo uma prática
pedagógica.
Diante da função social da escola, de acordo com Vygotsky (2001 apud ANJOS;
DUARTE, 2016) e Saviani (2008), é a partir do conhecimento sistematizado e científico que
são formados indivíduos críticos. A escola tem a função social de permitir o acesso e
promover a apropriação do saber sistematizado. Partindo desta concepção, têm-se os pilares
da psicologia histórico-cultural, que colocam o ser humano como um ser social e histórico e
que precisa da apropriação da produção humana para que haja aprendizagem. Logo, a
educação e o ensino tem um papel essencial na formação do homem.
O esporte é uma produção histórico-cultural e coletiva da humanidade. Está
subordinada a dinâmica da sociedade capitalista e este elemento deve fazer parte das
reflexões. É preciso analisar o esporte criticamente diante da realidade que está inserido,

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acessar seus fundamentos e questionar suas normas e condições diante do contexto social.
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Segundo Pereira e Silva (2004), nas aulas de Educação Física devemos desenvolver
aulas com esporte e não aulas de esporte. É preciso que os sujeitos tenham um conhecimento
crítico do que está sendo vivenciando. O esporte no ambiente escolar deve ser acessado em
sua forma mais elaborada e a partir de problematizações diante da realidade concreta.
Segundo Pereira e Silva (2004), ao tratar do conteúdo esporte no espaço escolar, deve-se
partir da necessidade objetiva pedagógica, mesmo que as regras mudem devido ao número de
estudantes e pelo tempo pedagógico disposto.
Torna-se evidente que o esporte como produção humana, pode proporcionar aos
indivíduos a elevação do nível do pensamento quando trabalhado na perspectiva sociocultural,
pois para psicologia histórico-cultural, a adolescência não deve ser reduzida aos aspectos
biológicos e naturais. (ANJOS; DUARTE, 2016).
Segundo Coletivo de Autores (1992), o esporte é conceituado como uma prática social
que irá sistematizar temas lúdicos da cultura corporal. É definido também como um fenômeno
complexo que envolve códigos, sentidos, e significados da sociedade que o cria e o pratica.
A concepção de ensino para o adolescente, segundo Anjos e Duarte (2016), o
adolescente em sua formação precisa estruturar uma concepção de mudanças e se apropriar
das produções humanas mais elaboradas como a ciência, a arte e a filosofia. A formação de
conceitos na adolescência é o centro de desenvolvimento do pensamento. A partir da
apropriação das produções humanas, o adolescente torna-se um indivíduo crítico.
Partindo da necessidade e do processo de periodização do desenvolvimento na
adolescência, é imprescindível possibilitar um melhor entendimento para os sujeitos dos
fatores sociais e intrapessoais que permitem a evolução do indivíduo. É no processo de
escolarização onde se deve levantar discursões a respeito dos assuntos que norteiam a vida na
adolescência, permitindo que esses indivíduos compreendam o processo histórico e como vem
se desenvolvendo no contexto social diante das mudanças da adolescência/juventude.
(PEREIRA, 2019).

O ESPORTE DA ESCOLA À LUZ DO HANDEBOL E SEUS FUNDAMENTOS

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Este relato diz respeito à experiência desenvolvida no componente curricular Estágio


Supervisionado III, do currículo obrigatório do curso de Licenciatura em Educação Física do
Centro Universitário Maria Milza (UNIMAM), que trata da intervenção no Ensino Médio em
uma escola Estadual do Recôncavo da Bahia. Foram elaborados 5 planos de aula, tratando do
conteúdo Handebol, seus aspectos históricos, fundamentos e problemáticas relacionadas ao
esporte diante da realidade dos estudantes, que seriam aplicadas uma vez por semana. No dia
25 de abril de 2022 foi iniciado o primeiro dia de estágio, com uma turma do 1º ano do
Ensino Médio, a turma 1º ano C do turno Matutino.
Na primeira aula, foi trabalhado o conteúdo Esporte. Foi realizado um diagnóstico do
nível de compreensão dos estudantes no que se refere ao Esporte e diferenciação dos
conceitos de Esporte, Jogo e Brincadeira. Após esse momento foi realizada a problematização
a partir dos apontamentos dos estudantes e em seguida foi realizada a instrumentalização de
maneira sistematizada com o aprofundamento dos conceitos de Esporte, Jogo e Brincadeira a
partir dos conhecimentos científicos e o trato com a história do Esporte e com suas principais
características.
Esse primeiro contato com a turma foi bem proveitoso, a turma interagiu, participou nos
momentos de discursões, expuseram seu entendimento sobre o que é o esporte, alguns
trouxeram que o esporte era brincadeira, jogo, saúde e ouras definições. A partir do
conhecimento prévio que os estudantes possuíam, foi apresentada a definição do que é
Esporte segundo o Coletivo de Autores, a historicidade do esporte, o que caracteriza o esporte
e suas dimensões. E como catarse, foi aplicada uma atividade para ser entregue na aula
seguinte.
No segundo dia do estágio. Foi realizada a correção coletiva da atividade e um diálogo a
respeito da historicidade do esporte para dar início ao conteúdo programado do dia que foi
conceituar o que é o Handebol e tratar pedagogicamente a respeito de suas regras a partir da
perspectiva do esporte de invasão a fim de proporcionar a elevação do pensamento abstrato
dos estudantes.
Durante a aula um dos objetivos foi possibilitar aos indivíduos através do Handebol
reflexões em torno da desigualdade de gênero no esporte; conceituar o que é esporte de
invasão e o Handebol especificamente; Conceituar as regras do Handebol a fim de identificar
as relações e as diferenças entre elas. Porém devido ao tempo da aula que é de apenas 40

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minutos, não foi possível tratar do conteúdo desigualdade de gênero, devido ao tempo
pedagógico necessário ser uma problemática, foi posto para a aula seguinte.
A aula foi bem dinâmica, à medida que foi tratado a respeito dos elementos os
estudantes eram inquietados se conheciam e o que eles entendiam sobre o assunto para que
todos pudessem participar da aula. Mesmo com as distrações de alguns estudantes foi possível
aplicar o conteúdo programático, alcançando os objetivos esperados.
No terceiro dia do estágio. Para essa aula estava proposto conferir quais estudantes
realizaram a atividade e se tiveram dificuldades. Em seguida, discutir sobre a desigualdade de
gênero no esporte e conhecer e vivenciar os fundamentos Empunhadura, Recepção e Passe a
fim de identificar as relações entre estes e suas diferenças. No entanto só foi possível conferir
os cadernos de atividades, pois era semana de prova na escola e os estudantes precisavam
estar realizando estas avaliações. Foi possível auxiliar a professora de Educação Física da
instituição com a aplicação das provas.
No quarto dia de estágio. O conteúdo programático para esse dia foi conhecer e
vivenciar os fundamentos Passe e Arremesso a fim de identificar a relação entre estes e suas
diferenças. Mas, devido ainda a semana de provas, novamente não foi possível, por que nesse
dia a turma não estava presente na escola, devido ao rodízio de turmas que fazem a avaliação
separadamente em dias específicos. Porém foi possível auxiliar no preenchimento das
planilhas de notas no que se refere às avaliações realizadas até o momento.
No quinto dia de estágio. O conteúdo programático para esse dia foi conhecer e
vivenciar os fundamentos Drible, Finta e Passe a fim de identificar a relação entre estes e suas
diferenças.
No entanto, devido a falta de coletes e materiais que pudessem distinguir as equipes,
foram trabalhadas 2 dinâmicas de atividades de passe, arremesso e empunhadura. Na primeira
atividade, a turma foi organizada em 2 filas uma de frente para outra, com o objetivo de
passar a bola realizando o arremesso e a empunhadura, a bola era passada até chegar no final
da fila. Na segunda atividade, a turma foi dividida em 2 equipes, uma equipe ficava dentro
dos bambolês e a outa fora. Esses bambolês eram espalhados por todo o espaço da quadra
para trabalhar com dinâmica de jogos, elementos do esporte de invasão a partir de divisão de
equipes. O objetivo dessa atividade era fazer com a equipe que estava fora do bambolê

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impedisse que seu adversário realizasse o passe e a condução, arremesso e empunhadura de


bola.
Houve a participação de todos (as) estudantes nas atividades, foi um momento muito
proveitoso. Após a realização dessas dinâmicas foi realizada uma roda de conversa com a
turma para dialogarmos sobre a experiência do estágio e fazer a despedida incentivando os
estudantes a continuar firmes nos estudos e almejar o uma formação no nível de ensino
superior.
A experiência de poder compreender e vivenciar a realidade da escola e principalmente
no que se refere às aulas de Educação Física e o trato com os conteúdos da cultura corporal no
Novo Ensino Médio asseguram as inquietações que as pesquisas científicas e intelectuais da
área da educação têm apresentado. O tempo pedagógico posto com o Novo Ensino Médio não
dá conta de atender as demandas do trato pedagógico, uma aula de 40 minutos uma vez por
semana é muito pouco. Os prejuízos causados a partir desta organização estão impactando de
forma negativa na ampliação da formação humana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Saviani (2008), o atual sistema educacional apresenta um esvaziamento de
conteúdos, que implica na formação dos/as estudantes. Um sistema que não apresenta as
melhores condições para a humanização dos sujeitos, que tem como intuito a negação do
conhecimento sistematizado nas escolas para atender as demandas da sociedade capitalista.
O esvaziamento dos conteúdos com o Novo Ensino Médio, que prioriza disciplinas
eletivas, gera impactos na formação humana dos/as estudantes e principalmente na formação
dos filhos e filhas da classe trabalhadora que em maioria estão presentes nas escolas públicas
do Recôncavo Baiano.
O componente curricular Estágio Supervisionado III, teve como um dos principais
objetivos, refletir e compreender a respeito das concepções de adolescência a partir de
análises histórico-culturais e como estas são trabalhadas na Educação Física. Além de
proporcionar o contato pedagógico com estudantes deste ciclo de ensino. O estágio
proporcionou aos/as discentes, a apropriação de conhecimentos no que se refere ao processo
de desenvolvimento do adolescente diante do trabalho pedagógico e educativo.

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Com base nas vivências de Estágio Supervisionado III, no chão da escola, foi possível
identificar que a realidade concreta é de fato complexa. Por vezes mesmo tendo um plano de
unidade estruturado, muitos elementos podem fazer com que este planejamento seja alterado e
que possibilidades precisem ser pensadas como soluções frente aos prejuízos. Em síntese o
objetivo geral e os objetivos específicos deste plano de unidade foram positivamente
alcançados, porém com prejuízos diante da implantação do Novo Ensino Médio, da redução
do tempo das aulas de Educação Física no ensino regular e diante precária infraestrutura e
ausência de materiais pedagógicos.
Evidenciando o tempo pedagógico necessário para as Aulas de Educação Física. O
Novo Ensino Médio reduziu a carga horária desta disciplina, no que se refere ao número de
aulas por semana e ao tempo por aula. Ficou evidente que o tempo de 40 minutos é muito
curto para contemplar de maneira ampliada o processo de ensino-aprendizagem.
Além destes elementos, foi possível identificar problemáticas advindas da pandemia
de COVID-19, no que se refere à dificuldade de concentração dos estudantes e o nível do
pensamento ainda limitado perante o conhecimento sistematizado acessado durante o ensino
remoto.
No que se refere à formação dos/as discentes estagiários, o componente curricular
Estágio Supervisionado III, foi excepcional para a aquisição de um processo de formação de
qualidade que refletirá na concepção de Ensino Médio, de Adolescência e de Educação Física
na prática pedagógica. O estágio contribuiu também com a ampliação da consciência política-
pedagógica do trabalho educativo frente aos limites e possibilidades da realidade concreta da
educação básica brasileira.
É necessário evidenciar que a partir da concepção de Educação Física e da concepção
de formação humana defendida por este trabalho, respectivamente Abordagem Crítico-
Superadora e Psicologia Histórico Cultural, foi possível identificar por meio destas vivências,
estas concepções oferecem instrumentalização científica que proporciona um olhar crítico-
reflexivo mediante a realidade objetiva.

REFERÊNCIAS
ANJOS, R. E. dos; DUARTE, N. A adolescência inicial: Comunicação Íntima Pessoal,
Atividade de Estudo e Formação de Conceitos. In: MARTINS, L.M; ABRANTES, A.A;

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FACCI, M.G.D. (orgs). Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do


nascimento à velhice. 1ed. Campinas: Autores Associados, 2016, V.1, p. 195-219.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. 11ª Reimpressão.


São Paulo: Cortez, 1992.

PEREIRA, A. P. Adolescência e juventude: contribuições e desafios de escritos soviéticos


para a análise da realidade brasileira. Revista Obutchénie. v. 3, p. 1-25, 2019.

PEREIRA, F. M.; SILVA, A. C. da. Sobre os conteúdos da Educação Física em diferentes


redes educacionais do Rio Grande do Sul. Revista da Educação Física, Maringá-PR, v. 15,
n.2, p. 68-77, 2004.

SAVIANI, D. A pedagogia no Brasil: história e teoria. Campinas, SP: AutoresAssociados,


2008b.

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