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Resumo
O tema do presente trabalho é a formação dos professores de Educação Física, em
relação com as concepções teóricas sobre essa área predominantes nas últimas
décadas. Temos como objetivo levantar indicativos que apontem as principais tendências
e a forma geral de como tem se organizado a formação dos professores de Educação
Física nas últimas décadas. A metodologia utilizada na pesquisa foi a quanti-qualitativa,
do tipo exploratório. Foi realizada uma análise documental do Censo de formação do
professorado elaborado e aplicado pela Secretaria de Educação do município do interior
do estado de São Paulo, o qual foi entregue a todos os professores da mesma secretaria
que atuam efetivamente nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano). A
formação dos professores entrevistados para este trabalho se deu a partir de uma época
na qual não se percebia uma distinção, nem tão pouco, uma predominância de
tendências biologicistas e esportivistas, porém, percebemos com os levantamentos desse
estudo que os saberes práticos adquiridos a partir das necessidades dos professores em
suas práticas pedagógicas ficou mais evidenciado e com maior importância para os
mesmos do que saberes teóricos sobre a área de ciências humanas, mostrando-nos uma
real necessidade de um maior aprofundamento desse tipo de conhecimento por parte dos
entrevistados, assim como uma maior quantidade de estudos relacionados a esses
saberes. Em relação à prática de esportes, os saberes práticos nos mostraram um maior
conhecimento em duas das dez práticas apresentadas no presente estudo, mostrando
que, dessas duas práticas, os professores possuem maiores conhecimentos devido a
uma delas ter sido criada na cidade onde a pesquisa foi realizada e a outra por fazer
parte da cultura popular. O conteúdo que foi apropriado pelos professores na área
biológica, aponta um maior conhecimento para a fisiologia que acreditamos ser devido as
especializações continuadas feita pela grande maioria dos professores entrevistados. Em
suma, os resultados apontam para a importância dos saberes práticos adquiridos através
da experiência pedagógica dos professores para suprir uma insuficiência de conteúdos
formativos para os professores.
2. Fundamentação teórica
Benites, Souza Neto e Hunger (2008, p. 347) confirmam que “somente na década
de 1980 é que começaram as preocupações com a Educação Física escolar”.
A partir destas constatações concernentes ao processo de constituição da
área, faz-se necessário questionarmo-nos sobre a influência e relação deste mesmo
processo com a questão da formação de professores. Betti e Rangel (1996),
respaldados pelo movimento denominado “ensino reflexivo” – defendido, segundo os
autores, por estudiosos como Schön, Shulman, Zeichner, Perrenoud, Nóvoa, entre
outros – reconhecem que, tanto o conhecimento do conteúdo da disciplina, quanto os
conhecimentos da experiência prática devem conciliar-se, pois “a melhoria do ensino
deve depender da mescla entre o conhecimento gerado pelos professores e o gerado
pelas universidades” (BETTI; RANGEL, 1996, p. 12). Pensando nesta realidade,
concordamos com Souza Neto (1999, p. 16), sobre a necessidade cada vez mais
urgente
de se conjugar conhecimento geral com conhecimento específico,
conhecimento específico com conhecimento pedagógico, teoria com
prática, pesquisa com ensino, trabalho com reflexão. Reconhece-se a
prática como portadora de um tipo de conhecimento necessário e
emergente para a formação.
E com Benites e Souza Neto (2003, p. 53) encerramos esta seção, concordando
com os mesmos, quando, pensando no âmbito da Educação Física, defendem a
necessidade da
formação de um profissional mais bem preparado para fazer a leitura da
realidade, estando disposto a trabalhar com a diversidade de forma
coletiva e buscando uma preparação mais solidária e menos
individualista.
3. Procedimentos metodológicos
Gráfico 1
É possível perceber pelos dados do gráfico acima (que dizem respeito à área
biológica da formação do professor de Educação Física), que o maior nível de
conhecimento conhecimento (3 – satisfatório) encontrado nas respostas foi na área de
fisiologia. Acreditamos haver uma provável explicação para esta diferença: Talvez a
mesma se dê devido as especializações (formação continuada) que a grande maioria dos
professores realizou – de acordo com as respostas presentes nos dados de titulação dos
professores, 10 deles (dos 11 que responderam) já cursaram especializações na área de
Fisiologia ou mesmo áreas correlatas que contenham a disciplina em seu campo de
estudo. Porém o que mais nos chama a atenção é que, excetuando-se a área de
fisiologia, as outras áreas (bioquímica, biomecânica e cinesiologia) apresentam
predominância de respostas que apontem para um conhecimento apenas razoável. Daí
que, talvez, a explicação desta insfuficiência formativa esteja no próprio fato da mudança
histórica de ênfase teórica da área, a qual é apontada por Bracht (2007) e Daolio (2004),
quando ambos evidenciam a ênfase biológicista e esportivista – ou seja, aquela adotada
por aqueles que visam apenas a melhoria da performance dos alunos/atletas, vendo
assim o corpo humano como um conjunto de ossos e músculos – foi adotada
prioritariamente pelos profissionais da Educação Física formados até a década de 70, o
que não é o caso da rede de ensino em questão – a maioria dos professores da mesma
graduou-se a partir do ano 1987.
Gráfico 2
Gráfico 4
O gráfico acima aponta o nível de conhecimento dos professores acerca das
principais áreas concernentes às ciências humanas. É possível notar que é predominante
em todas essas áreas um nível apenas “razoável”, ou seja, um nível superficial do
conteúdo (de acordo com a descrição dos questionários do censo). Uma possível
explicação para este fator é aquilo que diz Nunes e Rúbio (2008), quando discorrem
acerca da formação inicial do professor de Educação Física, afirmando que certas
discussões teóricas não são apropriadas por todos os professores.Neste ponto, cabe-nos
apenas alguns questionamentos sobre tal formação: Sendo a Educação Física um
componente curricular obrigatório na educação escolar (BRASIL, 1996), não deveria
haver uma preocupação maior com as áreas de conhecimento citadas, já que são elas
bases fundamentais para o bom entendimento do processo educativo de todo e qualquer
ser humano? E se esta preocupação não se dá, quais seriam os motivos para tal? Falta
de preparação (sobre os temas) dos professores responsáveis da formação inicial?
Descrença na eficácia deste tipo de conteúdo para a formação de um bom professor? Ou
mesmo dificuldades de gerar interesse nos alunos dos cursos de graduação acerca
dessas temáticas?. Repetimos: Essas são apenas possibilidades de questionamentos, e
necessitam de maiores aprofundamentos investigativos.
Por fim, na parte do censo referente à Didática, mais especificamente na parte
referente à experiência pedagógica, constatamos que dos 11 professores entrevistados
consideraram suas experiências pedagógicas como sendo a maioria de nível satisfatório
(5 professores). Dos 11, ainda 4 professores consideraram sua experiência de nível
aprofundado e apenas 3 professores como razoável. Daí que o último ponto que
queremos destacar nesta análise é justamente a importância dos saberes da experiência
pedagógica. O fato de a maioria dos professores apontarem que, neste ponto, ou tem-se
um nível satisfatório ou profundo de conhecimentos confirma o que já mencionamos
sobre a aquisição de saberes advindos da prática pedagógica. Neste sentido, vale
lembrar Novas Diretrizes Curriculares sobre a formação de professores de Educação
Física, aponta já a necessidade de valorização da prática pedagógica vinculada à
produção de conhecimento e à formação profissional. Porém, cabe também aqui a
ressalva da necessidade da formalização e partilha desses saberes, para que, conforme
lembra Gauthier et al. (1998, p. 20), os mesmos não fiquem confinados aos segredos da
sala de aula.
5. Conclusões
6. Referências
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999,
200p.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Pesquisa em Educação:
Abordagens qualitativas. 1. ed. São Paulo: EPU, 1986, 99 p.
NUNES, Mário Luiz Ferrari; Rúbio, Kátia. O(s) currículo(s) da Educação Física e
constituição da identidade de seus sujeitos. Currículo sem fronteiras, v. 8, n. 2, p.55-77,
2008, jul./dez. 2008. Disponível em:
<http://www.curriculosemfronteiras.org/art_v8_n2.htm>. Acesso em: 01. mar. 2018
VAGO, Tarcísio Mauro. Início e fim do século XX: Maneiras de fazer educação física na
escola. Cadernos Cedes, ano XIX, n. 48, Ago. 1999. Disponível em:
< http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em: 14 abr. 2018.