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relação
entre conteúdo, pedagogia e currículo
Los deportes de combate en la Educación Física escolar: relación entre el
contenido, la pedagogía y el currículo
*Licenciado em Educação Física Marcos Roberto So*
Mestrando em Educação, Faculdade de Ciências e Tecnologia
marcosrobertoso@gmail.com
Universidade Estadual Paulista - campus de Presidente Prudente
**Mestre em Educação Física. Doutor em Filosofia da Educação Mauro Betti**
Professor Adjunto do Departamento de Educação Física da Faculdade de Ciências mbetti@fc.unesp.br
Universidade Estadual Paulista - campus de Bauru (Brasil)
Resumo
Vítima de restrição nas aulas de Educação Física, o tema “lutas” foi incluído no Currículo de Educação Física do Estado de
São Paulo (CEF-SP) como conteúdo próprio da disciplina. Nesse sentido, o professor precisa ter tido uma vivência de lutas para
tratar deste conteúdo? Que saberes são necessários para dar aula de luta na escola? Como se dá a transposição prática das
lutas sugeridas no CEF-SP? O objetivo do trabalho é refletir sobre o ensino de lutas nas aulas de Educação Física com o foco
nos saberes profissionais docentes. Foram entrevistados três professores: (i) professor especialista em lutas; (ii) professor de
Educação Física sem histórico de práticas de lutas (iii) professor de Educação Física com histórico de prática de lutas. Os
resultados permitem concluir que não se exige que o professor seja um treinador ou especialista em lutas e artes marciais, no
entanto, é necessário estudar, confrontar e reformular seus saberes docentes para ministrar os conteúdos luta em suas aulas.
Unitermos: Lutas. Educação Física. Currículo.
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/
INTRODUÇÃO
AS LUTAS
OBJETIVO
O objetivo geral deste trabalho é refletir sobre questões do ensino de lutas nas aulas de
Educação Física, com o foco nos saberes profissionais docentes. O objetivo específico é
diagnosticar, do ponto de vista de professores de Educação Física e de especialistas em
luta, quais saberes docentes são necessários para o ensino de lutas na escola.
MÉTODO
RESULTADOS
Professor 1
É professor e treinador de Kung-fu e participa freqüentemente de eventos competitivos
dessa modalidade. Possui 23 anos de prática da arte marcial e é formado em Licenciatura
e Bacharelado em Educação Física e, atualmente, ministra aulas de Kung-Fu em sua
academia e em outros ambientes não-escolares. Aos 14 anos, iniciou a prática de lutas e
artes marciais em academias e também teve essa experiência em uma disciplina na
graduação. Aos 18 anos começou a ministrar aulas de Kung-fu, somando hoje 19 anos de
experiência. A sua maior dedicação na área da Educação Física está relacionada ao
treinamento de atletas de lutas. Apesar do seu envolvimento fortemente vinculado com o
alto rendimento, o referido professor acredita que as lutas deveriam ser um conteúdo
temático tratada em ambientes escolares, justificando da seguinte forma:
Porque existe toda uma educação que vem do ser humano que se entenda por gente,
nos instintos de natureza dele [...] o aspecto da luta, pela sobrevivência e na medida que a
pessoa se conhece, é mais difícil que ela entre em conflitos por estupidez. O fato de você
está podendo canalizar nas aulas de Educação Física esse aspecto da luta, vai fazer com
que o aluno, ele perca um pouco a necessidade de se impor pela força em outros aspectos
da vida dele, seja com os colegas, na própria escola, porque ele vai entender as limitações
do corpo.
Em nossa análise inicial dessa fala do professor 1, percebemos que sua defesa das lutas
como conteúdo escolar volta-se para suas possibilidades como atividade de canalização e
controle de energias, o que evitaria as atitudes de se “impor pela força” e de conflitos
“estúpidos” com os colegas. Do ponto de vista desse professor, com o desenvolvimento
das lutas na escola, as possibilidades de brigas e as necessidades de os alunos agirem
com violência, diminuiriam muito, tanto na escola como em outros contextos sociais. O
professor 1, experiente com prática de lutas, deixou-nos claro sua defesa, ao contrário da
opinião de muitos pais e professores, de que na luta em si, não é essencialmente violenta:
citando um grande exemplo, a nossa sociedade é muito hipócrita. O futebol em si, como
uma atividade esportiva, não tem nenhum aspecto violento né! E é um aspecto cultural da
nossa sociedade. Só que, apesar do futebol não ter nada de violência, não é considerado
pela grande maioria um esporte violento, é veiculado pela mídia. [...]. A mídia não cria essa
ilusão de violência no futebol. E o que a gente vê na maioria dos clássicos, quando
acontecem, acontecem mortes, acontecem.... Então o problema não é da prática em si, o
problema é a natureza cultural de quem vai assistir, de quem gosta daquilo e nesse aspecto,
a arte marcial entra no aspecto educativo, podemos dizer, que “dá uma ajuda”, uma
contribuição muito boa para quem.... busca sua prática, dá uma contribuição muito boa.
Nessa fala, por exemplo, o professor continua defendendo a idéia de que as lutas podem
servir como “ajuda” para sujeitos descarregarem, ou transformarem seus impulsos
violentos. Entretanto, o que nos parece significativo é que ele também nos leva a entender
que a violência não é um aspecto intrínseco às lutas, ou a qualquer esporte, como o futebol,
por exemplo. O que o professor nos deixa claro é que não é, pois, o ensino de lutas nas
escolas que gerariam violência, mas sim as relações sociais:
Como já falei, ela [a pessoa] vai ficar mais serena, não vai ter necessidade de expor sua
agressividade, porque ela vai começar a se compreender, ver o que tem dentro dela e não
usar isso para ferir os outros [...] cito as pessoas que não estudam isso, nunca viram, nunca
praticaram uma arte marcial... que conhecem aquilo que muitas vezes a mídia divulga ou
de um parente que ouviu falar: que você aprende arte marcial e sai batendo e tomando
soco na cara, essas coisas... são coisas que geram preconceito nas pessoas, esse
preconceito baseado na ignorância, muito pelo contrário, se você pegar e olhar as forças
hierárquicas (da arte marcial) não existe violência em aspecto algum, existe um tratamento
de respeito para com as pessoas.
Na trilha desse raciocínio, o professor 1 também explicitou que não seria necessário o
professor ser especialista ou possuir um histórico de lutas para ministrar este conteúdo nas
aulas de Educação Física. Mas, como saberes, o professor deveria buscar compreender
os aspectos filosóficos e culturais da luta, pois, caso o professor não tenha um
conhecimento básico dos valores que estão intrínsecos à luta, aumenta-se o risco de
ocorrência de brigas, rivalidades e confrontos agressivos. Ainda sobre os saberes
necessários ao professor, afirma que a diferença entre um especialista em lutas e um não-
especialista estaria na prática, no tempo de vivência e experiência com a luta; entretanto,
na escola isto não faria muita diferença, pois neste ambiente não se pretende formar atletas,
mas sim apresentar diversas possibilidades da cultura de movimento. Reforça que é preciso
a vontade do professor em buscar coisas novas, ser criativo e não colocar barreiras em
casos de falta de material e infra-estrutura para as lutas, como vestimentas e local
apropriado, e enfatiza concluindo que o papel da escola não é especializar os alunos.
Professor 2
O professor 2 trabalha na rede estadual do Estado de São Paulo, tem a visão que as
lutas devem ser um conteúdo trabalhado nas aulas de Educação Física, pois é integrante
da cultura de movimento, e acredita que a escola deve abrir um leque de possibilidades
para o aluno. Neste contato, o aluno pode despertar o gosto pela luta e “buscar fora da
escola, na vida, no dia-a-dia, num momento de lazer”.Em especial, a luta, permitiria
aprofundar um pouco um tema polêmico na sociedade,e contribuir para desmistificar o
significado de lutas, diferenciando-as dos termos “briga” e “violência”.
Quando questionado se o professor sem vivência em lutas poderia ministrar aulas deste
conteúdo na escola, a resposta foi positiva, justificada principalmente em função da
utilização de alguns recursos como a demonstração de um aluno que possua vivência em
lutas, além da utilização de recursos audiovisuais, como vídeos, figuras, fotos. Nesse
sentido, o professor entrevistado relembra que desenvolveu uma seqüência de movimentos
(kata) do conteúdo de “karatê” pela qual um de seus alunos, praticante da arte marcial, “foi
o professor de Educação Física da turma por duas semanas”, auxiliando-o na execução
dos golpes do kata.
Apesar disso, assume que o conhecimento de um especialista em lutas seria o diferencial
nos saberes da experiência, o que se justifica também pelo fato das lutas e das artes
marciais não serem tão acessíveis na mídia e outros espaços sociais, principalmente
quando comparadas com alguns esportes como o futebol, o vôlei etc.
Justamente por isso, ele acredita que a posse de conhecimentos em lutas gera um
diferencial, porém, isso nem sempre vai ser decisivo no ensino, já que na escola o
conhecimento técnico do movimento não é o protagonista. Como saberes, seria suficiente
para um professor não-especialista possuir conhecimento histórico, da cultura específica
da modalidade, da evolução, das regras para a apreciação do fenômeno das lutas na
televisão:
“saber esse histórico, como que ela se expande pelo mundo, seu objetivo, qual é o
objetivo das lutas e das artes marciais, ter um conhecimento no caso das lutas, como se dá
uma competição, de todas as lutas, como é a forma de pontuação, quem vence uma luta
[...] Nos jogos olímpicos, em determinadas lutas, não é quem nocateia, quem machuca o
outro, porque o toque tem que ser na proteção, então não tem o objetivo como é no boxe
de acertar o outro até derrubar outra pessoa.”
Sobre a falta de materiais de luta, o professor não considera um impeditivo para ministrar
aulas, pois há a possibilidade de inúmeras adaptações, como por exemplo, delimitar uma
área de um tatame com desenho de linhas no chão, “amarrar uma faixa na mão que simule
a luva”.
Declarou ainda que trabalhava com o conteúdo lutas antes da implantação do CEF-SP.
Sobretudo, abrangia a capoeira na oitava série por considerá-la importante no contexto
brasileiro, e debatia sobre a diferença entre “luta” e “arte marcial” no Ensino Médio.
O professor se mostrou interessado nas inovações do CEF-SP, a qual apresenta
informações iniciais, e, justamente por causa disso, não seria suficiente como fonte única,
tornando-se necessário buscar maior quantidade de materiais que reforcem os
conhecimentos específicos e pedagógicos. Nesse sentido, ele procura outras fontes na
internet - vídeos, artigos, imagens -, além de pedir para que os alunos tragam materiais e
pesquisas.
Professor 3
CONCLUSÃO