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Cecília Leda Jordão Gomes

CONTEÚDOS CONCEITUAIS OU
COGNITIVOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
ESCOLAR PARA A QUINTA SÉRIE
DO ENSINO FUNDAMENTAL:
UMA PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO

Orientador: Prof. Dalberto Luiz De Santo

Londrina
2008
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CONTEÚDOS CONCEITUAIS OU COGNITIVOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA


ESCOLAR PARA A QUINTA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL:
UMA PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO

Cecília Leda Jordão Gomes *

RESUMO

Entre os objetivos da Educação Física, podemos destacar, o conhecimento


dos princípios e conceitos sobre o movimento humano, um saber do
domínio conceitual ou cognitivo. Com o intuito de abordar de forma crítica,
consciente e consistente o movimento humano e suas interações com o
ambiente, buscou-se ancorar esse trabalho em um bloco de
conhecimentos conceituais advindos da área da biodinâmica, pois esta
área de conhecimento pode representar um instrumental importante para
a Educação Física e uma ponte com outras áreas e/ou disciplinas
escolares. Nesse estudo pretende-se enaltecer os três aspectos do
conhecimento: cognitivos ou conceituais, sócio-afetivos ou atitudinais e
procedimentais ou de habilidades, valorizando a experimentação e a auto-
avaliação como forma de melhorar as potencialidades do estudante. Os
alunos foram pré e pós avaliados e demonstraram interesse ao modelo
pedagógico utilizado, evidenciando ser adequado ao objetivo proposto.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Física Escolar. Conteúdo Conceitual ou Cognitivo.


Biodinâmica do Movimento Humano.

* Licenciada pela Faculdade de Educação Física do Norte do Paraná - FEFI, com


especialização em Didática e Metodologia de Ensino pela Universidade Norte do Paraná –
UNOPAR. Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina. Professora de
Educação Física, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2007
pelos Colégios Estaduais Benjamim Constant e Nilo Peçanha.
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CONCEPTUAL CONTENTS OR COGNITIVES OF THE PERTAINING TO


SCHOOL PHYSICAL EDUCATION FOR THE FIFTH GRADES OF BASIC
EDUCATION:
A SYSTEMATIZATION PROPOSAL

Cecília Leda Jordão Gomes *

ABSTRACT

Among the objectives of the Physical Education, one can detach the
knowledge of the principles and concepts on the Human Movement,
knowledge of the conceptual or cognitive domain. With intention to
approach the critical, conscientious and consistent form the human
movement and its interactions with the environment, one searched to
anchor this work in a block of happened Conceptual Knowledge in the area
of Biodynamic, therefore this area of knowledge can represent an
important instrument for the Physical Education, and a bridge with other
areas and/or disciplines pertaining to school. In this study it is intended to
neglecter the three aspects of the knowledge: Cognitive or Conceptualists,
Partner-affective or Attitudinal and procedurals or of Abilities, valuing the
experimentation and the auto-evaluation as form to improve the
potentialities of the student. The evaluated pupils had been daily assessed
and had demonstrated interest to the used pedagogical model, evidencing
to be adjusted to the considered objective.

KEY-WORDS: Pertaining to School Physical Education. Conceptual Content or


Cognitive. Biodynamic of Human Movement.

* Permitted for the College of Physical Education of the North of the Paraná - FEFI, with
specialization in Didactics and Methodology of Education for the University North of the
Paraná - UNOPAR. Graduated Advocacy for the State University of Londrina. Physical
teacher, participant Education of the Program of Educational Development - PDE/2007 for
the State Colleges Benjamim Constant and Nilo Peçanha.
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INTRODUÇÃO

Os programas de Educação Física vêm sendo muito debatidos


atualmente e isso tem levado os professores da área a trabalharem com
várias tendências ou abordagens educacionais.
Podemos observar que a Educação Física apresenta-se como uma
disciplina essencialmente procedimental, voltada para o ensino e a prática
esportiva ou recreativa, levando a crer que os professores de educação
física se identificam com a idéia de que os conteúdos pertinentes à sua
área são os advindos, quase que exclusivamente, dos conhecimentos
anátomo-fisiológicos ou regras técnicas dos jogos e, isto tem corroborado
com a exclusão dos alunos e a evasão nas aulas.
Assim, pode-se afirmar que está ocorrendo grande desinteresse
dos alunos pelas aulas de Educação Física, pautados, sobretudo pela falta
de seqüência dos conteúdos nas diferentes séries escolares.
Esse quadro de desapego se apresentava no Colégio Estadual Nilo
Peçanha, principalmente nos anos finais do ensino fundamental e no
ensino médio, causando ampla evasão às aulas de Educação Física.
Considerando a Educação Física como responsável e presente na
formação do homem, consciente do seu papel social e que compreende o
movimento humano nos seus aspectos: social, histórico e cultural, o
professor de educação física deve considerar sua conduta profissional em
razão da importância de sua função de orientador, mediador e facilitador
no processo ensino-aprendizagem. Enquanto membro de uma estrutura
educacional e possuidor de um conhecimento específico e pedagógico que
possibilite aos alunos desenvolverem suas potencialidades pessoais e
sociais dentro de uma concepção de cidadania o professor de educação
física deve buscar uma interação efetiva com seus alunos e a coerência
entre teoria e prática, objetivando proporcionar uma educação consciente
e transformadora.
Nesse sentido, devemos observar a proposta das Diretrizes
Curriculares do Paraná, na qual se pretende que a Educação Física na
educação básica seja fundamentada nas reflexões sobre as necessidades
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atuais do ensino perante os educandos, na superação de contradições e


na valorização da educação.
Assim, para contemplar alterações na prática do professor de
educação física, deve-se reconhecer a necessidade de ocorrer um maior
aprofundamento no entendimento do real papel da escola e da disciplina
de Educação Física como um todo.
Observando o cenário atual das aulas de Educação Física e
buscando uma tentativa de mudá-lo, procurou-se implantar na escola um
programa responsável e consistente com base nos conhecimentos teóricos
e práticos sobre o movimento humano, suas manifestações e interações
com o ambiente, ancorando-o em um bloco de conhecimentos cognitivos
advindos da área da biodinâmica e das capacidades físicas ou
componentes motores, procurando enaltecer os três domínios do ser
humano, ou seja, o conhecimento: cognitivo ou conceitual, sócio-afetivo
ou atitudinal e procedimental ou de habilidade.

ASPECTOS DOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA

A Educação Física faz parte do currículo escolar e, portanto, é e


deve ser considerada uma disciplina que possui um objeto de estudo e,
conseqüentemente, conhecimentos a serem transmitidos, vivenciados e
(re) construídos.
Preocupada com os conteúdos desenvolvidos nas aulas de
Educação Física, Betti (1995) analisou os relatos de alunos de 5ª a 8ª
séries do ensino fundamental e dos alunos do ensino médio. Ela
identificou, dentre outros, problemas relacionados a falta de diversificação
de conteúdos, a postura do professor e a metodologia de ensino. Segundo
a autora, os alunos reclamam de sempre jogar a mesma coisa. Ela afirma
que a partir da 5ª série o conteúdo é basicamente esportivo, mesmo
assim, apenas algumas modalidades são contempladas, concluindo que
esse cenário contribui para o desinteresse e para a falta de motivação e
conseqüente evasão das aulas de Educação Física.
Querendo que a Educação Física realmente seja caracterizada,
conhecida e reconhecida como área com fim social educativo,
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contribuindo com a formação do cidadão, deve-se ir além da simples


prática de atividade motora, visando à melhora da aptidão física e da
saúde. Para isso, não é mais possível oferecer programas com base na
repetição de movimentos estereotipados, regidos pela lógica da
automatização e por princípios fisiológicos que trazem pouco ou nenhum
significado para a pessoa, permitindo tampouco, sua utilização em outras
situações do dia-a-dia.
De acordo com Mariz de Oliveira (1999), antes do planejamento do
conteúdo, da estratégia e da avaliação referentes ao ensino e à
aprendizagem da Educação Física, deve-se ter claro que seu objetivo está
relacionado ao estudo sistematizado e ao ensino do movimento humano
(motricidade humana) e suas manifestações. Podemos definir o
movimento como o resultado da interação de seu ambiente, portanto o
ensino do movimento humano na Educação Física deve estar assentado
sobre as relações existentes entre o ser humano, o meio ambiente e o
movimento.
Segundo o Coletivo de Autores (1992, p.50), a Educação Física é
conceituada como "[...] uma prática pedagógica que, no âmbito escolar,
tematiza formas de atividades expressivas corporais como: os jogos e
brincadeiras, o esporte, a dança, as lutas e a ginástica, formas estas que
configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura
corporal. Esses conteúdos expressam um sentido/significado nos quais se
interpenetram.” Ou seja, a Educação Física tem como objetivo de estudo
as formas de representação do mundo através do corpo.
Enxergar a Educação Física dentro desta perspectiva amplia as
possibilidades de atuação educacional dos professores de educação física,
“superando a dimensão meramente motriz de uma aula, sem, no
entanto, negar o movimento como possibilidade de manifestação humana
e, desse modo, contemplar o maior número possível de manifestações
corporais explorando os conhecimentos já trazidos pelos
educandos e a sua potencialidade formativa” (PARANÁ, 2005, p.19;
grifo nosso). Contribuindo desta forma, para a formação do sujeito que
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reconhece o próprio corpo em movimento com toda sua subjetividade,


visto dentro das dimensões histórica, cultural e social (PARANÁ, 2005).
Para propor um modelo pedagógico, partiu-se da definição de Mariz
de Oliveira (1999), que diz que “o papel da Educação Física está
relacionado ao ensino e aprendizagem de conhecimentos de fatos,
conceitos, princípios, procedimentos, normas, valores e atitudes
referentes ao movimento humano, possibilitando ao ser humano mover-se
de modo genérico e específico, harmoniosa e eficaz, no trabalho e no
lazer, permitindo-lhe integrar, controlar, interagir e transformar o
ambiente físico e social”.
De acordo com Coll e colaboradores (1998, p.12), os conteúdos são
“um conjunto de conhecimentos ou formas culturais, cuja assimilação e
apropriação pelos alunos, são consideradas essenciais para seu
desenvolvimento e socialização”, sendo o professor o
facilitador/orientador desse processo. São subdivididos em conceituais,
procedimentais e atitudinais.
Os conteúdos conceituais ou cognitivos designam o que o indivíduo
deve saber. Eles podem ser subdivididos em fatos, conceitos e princípios.
“Os fatos possuem caráter concreto e decisivo e são apreendidos de
forma memorística” (ZABALA, 1998), ou seja, não é necessário nenhum
esforço para integrar os novos conhecimentos com os já existentes na
estrutura cognitiva. “Porém, as condições para sua aprendizagem estão
relacionadas ao material, quantidade de informação e grau de
organização interna; as relacionadas ao aluno (a) como idade (capacidade
de memória e uso que fazem da memória) e a predisposição que fazem
para a aprendizagem memorística” (POZO, 1998).
Quando se estabelecem relações significativas entre os fatos,
obtêm-se conceitos e princípios. Sua aprendizagem é significativa, ou seja:
“trata-se de um processo no qual o que aprendemos é o produto da
informação nova interpretada à luz daquilo que sabemos” (POZO, 1998,
p.32). De acordo com Zabala (1999), “a aprendizagem significativa não é
uma aprendizagem acabada, pois envolve a contribuição daquele que
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aprende, seu interesse, os conhecimentos prévios e sua experiência


pessoal”.
Para Freire e Oliveira (2004), “a aprendizagem dos conteúdos
conceituais na Educação Física escolar tem como objetivo principal fazer
com que os alunos compreendam como o movimento está presente no
seu cotidiano e quais as suas implicações”. Os autores afirmam também
que para acontecer a aprendizagem desses conteúdos é indispensável que
os professores estabeleçam conexões entre conceitos e fatos propostos
em aula e os conceitos já antecipadamente aprendidos pelos educandos,
permitindo a comparação e interpretação de tais informações, ou seja,
construindo um sentido para elas. Da mesma forma, Freire, Soriano e De
Santo (1998) afirmam que os conhecimentos de natureza conceitual,
pertinentes à Educação Física, devem ser significativos de forma que os
alunos levem esses conhecimentos para fora dos muros da escola,
podendo solucionar problemas motores surgidos em sua vida cotidiana.
Para que essa meta seja atingida, é necessário que o professor de
educação física consiga identificar, selecionar, propor conteúdos
conceituais que possam ser ensinados nas aulas de Educação Física, para
que os alunos sejam capazes de compreender a importância desse
aprendizado no transcorrer de toda sua vida, seja em atividades do
trabalho, de lazer e no seu dia-a-dia.
Os conteúdos procedimentais ou de habilidades são conjuntos de
“ações ou decisões que compõem a elaboração ou a participação”,
orientadas para a consecução de uma meta (COLL; VALLS, 1998, p.77).
Em outras palavras, seria o que se deve saber fazer sem se limitar apenas
à execução de atividades, mas emanando também a uma reflexão de
como realizá-las. São exemplos desse tipo de conteúdo: eleger e criar
exercícios adequados ao desenvolvimento da capacidade aeróbia;
executar exercícios de alongamento de acordo com a prescrição de
treinamento e posturas adequadas; associar os princípios da prescrição de
treinamento da flexibilidade em atividades diversas.
Os conteúdos atitudinais ou sócio-afetivos são as intenções ou as
predisposições para a ação, o que se deve ser. Sarabia (1998, p.122) a
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define como “tendências ou disposições adquiridas e relativamente


duradouras, a avaliar de um modo determinado um objeto, pessoa,
acontecimento ou situação e atuar de acordo com essa avaliação”.
Podemos considerar que a atitude possui três elementos, os quais são
interligados: o elemento cognitivo (conhecimentos e crenças), afetivo
(sentimentos e preferências) e de conduta (ações manifestas e
declarações de intenção). Como exemplo de atitudes, é possível citar a
valorização da ativação das capacidades físicas como meio de melhorar a
realização das atividades da vida diária; a reformulação de crenças e de
conceitos sobre o envelhecimento; a autoconfiança para enfrentar
dificuldades, reconhecer potencialidades e aceitar e superar limites.
A aprendizagem dos conteúdos conceituais, procedimentais e
atitudinais não se realizam, nem se efetivam separadamente, mas por
inter-relações (COLL; VALLS, 1998). Por exemplo: como objetivo final,
espera-se que o aluno adote a prática sistemática e conscienciosa de
atividade física no cotidiano e tenha atitudes críticas diante dos
programas oferecidos pelo mercado. Para isso, os professores ensinam a
forma correta de estimular determinada capacidade física (conteúdo
procedimental), como essa capacidade é influenciada pelo
envelhecimento, pelo desenvolvimento, por componentes genéticos e pela
prática da atividade física (conteúdo factual e conceitual). A apreensão do
educando no engajamento em outras ações e a apreciação da atividade
apresentada ser conveniente ou não às suas características e
necessidades, levando a uma aprendizagem atitudinal.
Assim pensando, pretendeu-se aplicar um trabalho de intervenção
no Colégio Estadual Nilo Peçanha, elaborando um programa com
conteúdos conceituais para uso durante as aulas de Educação Física.
Porém, antes da apresentação e desenvolvimento desse trabalho,
levantou-se um diagnóstico junto aos alunos, com os seguintes objetivos:
conhecer, através de pesquisa de campo, quais conteúdos teóricos são
considerados importantes na opinião dos alunos do ensino fundamental;
analisar, através do relato dos alunos, quais conteúdos conceituais são
considerados necessários, ou mais bem aceitos na disciplina de Educação
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Física e por quê; e verificar como os alunos percebem os conteúdos


teóricos desenvolvidos em aulas de Educação Física.
Com esse diagnóstico em mãos, um projeto de trabalho, inclusive
interdisciplinar de intervenção, foi elaborado, procurando verificar e levar
em consideração as características e interesses individuais e do contexto
social no qual a escola está inserida, quando do planejamento das
atividades teóricas e práticas da Educação Física na escola, pois se pode
afirmar que de nada adianta o professor planejar a introdução de um
conteúdo, preparar rico material, programar a seqüência de atividades, se
os alunos não tiverem participado ativamente do processo.
Levou-se ainda em conta, que as aulas de Educação Física não
deveriam atingir extremos: totalmente prática ou somente teorização.
Esta área de conhecimento possui uma especificidade: o movimento
humano consciente. É preciso que a prática seja realizada com
embasamento teórico, sem perder suas características.
As aulas foram divididas em duas partes: teórica e prática. A
apresentação teórica teve como objetivo proporcionar ao estudante o
conhecimento dos principais conceitos do tema que estava sendo
desenvolvido, além disso, explicou-se a importância e o porquê executar
tal tema nas aulas. Já na prática, o aluno vivenciou os conceitos estudados
teoricamente e, através da orientação e supervisão do professor, realizou
movimentos corretos que possibilitaram a aprendizagem do tema
estudado, tanto os conceitos, quanto os movimentos.
Dessa forma, a concepção sobre uma aula de Educação Física
apropriada é aquela em que se desenvolve a prática com fundamentação
teórica, ou seja, saber, saber o porquê (implicações) e saber fazer. No
contexto cultural e tecnológico das últimas duas décadas, os extremos
(aulas teóricas separadas da prática e a prática sem significado) não
atendem mais a formação que se espera das pessoas escolarizadas que
exige autonomia elevada e grande capacidade de reestruturar
informações e atitudes de acordo com as novas demandas sociais e
ambientais.
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Para esse trabalho, elegeu-se um bloco de conhecimentos


conceituais, advindos da área da Educação Física conhecida como
biodinâmica do movimento humano, pois na perspectiva atual, em que se
enfatiza a visão crítica e consciente do movimento, esse conteúdo parece
fundamental na Educação Física para o domínio das potencialidades
pessoais e um conhecimento adequado aos projetos interdisciplinares com
outras áreas.
Dentro do contexto da biodinâmica, pode-se afirmar a
necessidade e interesse na presença das dimensões conceituais ou
cognitivas, procedimentais ou de habilidades e atitudinais ou sócio-
afetivas, já que juntos serão fortes aliados no entendimento da Educação
Física como disciplina e área de conhecimento. Esse processo permitiu
sugerir os seguintes segmentos, que englobam a biodinâmica sob as três
dimensões do conhecimento:

 Ao se tratar do conteúdo procedimental da biodinâmica na Educação


Física, incluiu-se a sua aplicação ao movimento para conseguir
executar, com o sucesso esperado, determinado exercício físico ou
habilidade motora, pois assim, o domínio da posição do corpo no
espaço ou a força aplicada para manter a postura mostrou-se essencial
para a execução dos movimentos em geral. Ao vivenciarem a execução
de determinado movimento, os alunos foram capazes de alcançar
maior controle sobre suas variáveis. Também, procedimentos não
motores foram tratados para a compreensão e aplicação de
conhecimentos da biodinâmica, como a identificação de erros
cometidos por colegas, durante a execução de uma habilidade motora,
que envolveram a percepção das variáveis mecânicas envolvidas em
cada momento.
 Em relação ao conteúdo atitudinal e a biodinâmica identificaram-se as
normas, valores e atitudes relacionados ao preparo do aluno para a
utilização de seu potencial motor. Sob essa perspectiva, levou-se à
valorização da utilização dos conhecimentos aprendidos nas aulas de
Educação Física, para uma melhor compreensão do corpo em sua
complexidade e das suas possibilidades, buscando uma prática
consciente.
 Já, quando se volta o olhar aos conteúdos de natureza conceitual
relacionados à biodinâmica do movimento humano na Educação Física,
consideraram-se os conhecimentos teorizados sobre o comportamento
do corpo humano durante o movimento e os conceitos básicos relativos
às capacidades físicas ou habilidades motoras, de forma que tais
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conhecimentos fossem significantes para os alunos, aplicando-os à sua


realidade no cotidiano.

O COLÉGIO ESTADUAL NILO PEÇANHA – BREVE HISTÓRICO

Quando iniciamos nosso trabalho no Colégio Estadual Nilo Peçanha,


ainda escola, pois não contava com o ensino médio, nos idos da década de
1990, encontramos, no caso particular da área da Educação Física, com
um contexto de desenvolvimento dos conteúdos, bem diferenciado das
demais disciplinas. Percebeu-se, na época, que a Educação Física
priorizava os conhecimentos em uma dimensão exclusivamente
procedimental, ou seja, o saber fazer, voltado para o ensino e a prática
esportiva, mais especificamente jogos coletivos.
Com esse panorama, procurou-se preliminarmente, apresentar uma
proposta baseada na legislação da época, principalmente no Currículo
Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná, incluindo no
planejamento anual da Educação Física, entre os conteúdos
programáticos, para serem trabalhados com os alunos do 3º Ciclo (5ª e 6ª
séries do 1º Grau), os seguintes temas:

 Atletismo – origem e histórico, noção de distância, corrida aeróbica,


corrida anaeróbica, saída baixa, salto em altura, salto em distância,
arremesso de peso, regras básicas, jogos recreativos e competições;
 Ginástica Artística – rolamento frontal, rolamento para trás, parada em
três apoios e roda;
 Voleibol – posições básicas, fundamentos, rodízio, regras básicas,
origem e histórico e jogos recreativos;
 Higiene e Saúde – higiene básica, hábitos de higiene e a Educação
Física voltada para a saúde;
 Basquetebol – Manejo de corpo e bola, fundamentos básicos do
esporte, origem e histórico, regras básicas e noções de jogos;
 Dança – noções de ritmo, danças folclóricas, danças populares e
consciência corporal;
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 Futebol de Salão – domínio de bola, fundamentos, noções de ataque e


defesa, regras elementares, origem e histórico, competições e jogos
recreativos;
 Jogos Dramáticos – dramatização, expressão corporal e relações
sociais.

Os propósitos de tais conteúdos eram: “estabelecer relações entre


as medidas de crescimento e desenvolvimento físico, identificar as
capacidades e possibilidades de relação física, reconhecer atividades
físicas como fator de saúde, conhecer as modalidades esportivas e seus
regulamentos, conhecer as atividades físicas como forma de lazer, realizar
atividades que melhorem as atividades físicas, demonstrarem habilidades
esportivas, realizar atividades que melhorem sua capacidade orgânica,
adquirir hábitos de higiene favoráveis à saúde, participar de atividades
realizadas em grupo, realizar atividades que estimulem a criatividade,
realizar atividades que despertem o senso moral e cívico, conhecer a
história e a origem do esporte, demonstrar prazer na realização de
atividades físicas e recreativas” (Planejamento de ensino da autora, do
ano de 1993).
No decorrer dos anos, muitas alterações se deram, principalmente
devido à legislação nacional referente à educação, com a proposta
introduzida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que
procuraram contribuir, no final da década de 1990, para a reflexão e
discussão da prática pedagógica a partir de princípios como o da inclusão,
da diversidade, das competências e habilidades, inserindo temas como a
cidadania, a mídia e temas transversais relacionados à ética, a saúde, a
pluralidade cultural, o meio ambiente, a orientação sexual e o trabalho e
consumo, realçando o estudo dos conteúdos conceituais, procedimentais e
atitudinais, partindo do objetivo geral da Educação Física que seria a
cultura corporal do movimento, girando em torno do fazer, do
compreender e do sentir o corpo.
Analisando esse trabalho, percebeu-se que muitos progressos
ocorreram principalmente no que se referia à inclusão de aulas teóricas
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para a introdução de temas como a origem e histórico dos esportes, o


estudo das regras e a inclusão de temas relacionados à saúde.
Também se deve citar que nessa época, professores da área, já
preocupados com a valorização da disciplina, tentavam, através de ações
individuais, incluírem nessa escola, novos temas para a Educação Física
escolar, tais como: a qualidade de vida e a inclusão de programas
voltados à promoção da saúde, sugestões estas, trabalhadas pelo então
professor da casa: Professor Dartangan Pinto Guedes.
Com o advento do século XXI, a proposta para o planejamento
anual da Educação Física sofreu várias modificações em seu contexto,
passando a trabalhar os seguintes conteúdos gerais com os alunos de 5ª e
6ª séries do ensino fundamental:

 O corpo como construção histórico-social. Construção da saúde;


 Conhecimentos sobre o corpo. O corpo em movimento;
 Manifestações esportivas. Desenvolvimento corporal;
 Manifestações ginásticas e lutas;
 Jogos, brincadeiras e brinquedos. O corpo que brinca;
 Manifestações estético-corporais na dança e no teatro. Potencial de
expressividade;
 Relação do corpo com o mundo do trabalho.

Dentre os conteúdos essenciais incluiu-se:

 Formação física básica;


 Ginástica – de solo, aeróbica, formativa e laboral;
 Esporte coletivo – basquetebol, voleibol, futsal e handebol;
 Esporte individual – capoeira, artes marciais e atletismo;
 Jogos recreativos e intelectivos – tênis de mesa, xadrez, dama, dominó,
memória, batalha naval, war, boliche;
 Qualidade de vida – corpo humano, higiene, nutrição, construção da
saúde, orientação sexual, estresse, lazer e primeiros socorros;
 Dança – consciência corporal, folclóricas, populares, expressividade e
ritmo, contexto histórico;
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 Jogos dramáticos – dramatização, expressão corporal, relações sociais e


contexto histórico;
 Atividades complementares – competições esportivas escolares,
torneios interclasses, semana de sociologia, datas comemorativas,
festa junina e gincanas culturais, recreativas e filantrópicas.

Os objetivos gerais desse trabalho, basearam-se inteiramente nos


PCNs da Educação Física e, entre eles, podemos destacar:

 Conhecer o próprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando hábitos


saudáveis, agindo dom responsabilidade em relação à sua saúde e à
saúde coletiva;
 Conscientização do direito ao acesso às condições mínimas para a
aquisição da saúde, posicionando-se de maneira crítica, responsável e
construtiva; preocupação com o uso de entorpecentes e seus efeitos
sobre a saúde;
 Orientação sobre sexualidade, explorando visões opostas de prazer e
violência;
 Desenvolvimento de sentimentos de confiança em si mesmo e em suas
capacidades afetiva, social, física, cognitiva, ética, estética e de
inserção social;
 Utilização das diferentes linguagens – verbal, musical, corporal, como
meio de produção e expressão de idéias;
 Socialização, adoção de atitudes de respeito mútuo, dignidade e
solidariedade;
 Conhecer, valorizar e apreciar de diferentes manifestações da cultura
corporal;
 Aprofundar-se nos limites e nas possibilidades do próprio corpo;
 Organizar e praticar atividades corporais, valorizando como recurso
para usufruto do tempo disponível, bem como interferir nas regras com
o intuito de torná-las mais adequadas, favorecendo a inclusão dos
praticantes;
 Buscar informações para seu aprofundamento teórico de forma a
construir e adaptar alguns sistemas de melhoria de sua aptidão física;
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 Analisar alguns padrões de beleza, saúde e desempenho, presentes no


cotidiano;
 Valorizar a cultura corporal de movimento, valorizando os efeitos que
as práticas corporais e hábitos saudáveis exercem sobre a aptidão
física e a qualidade de vida, entre outros.

Sempre preocupados com a melhoria e a valorização da


Educação Física dentro das escolas públicas do Paraná, inúmeras
alterações ocorreram. A partir de 2005, não esquecendo o que deu certo
nas ações anteriores, aplicamos os conteúdos básicos para a disciplina de
Educação Física, de acordo com as Diretrizes Curriculares do Paraná, que
sugeriam os seguintes conteúdos estruturantes:

 Esporte – Coletivos: futebol, futsal, voleibol, basquetebol e handebol;


Individuais: atletismo e tênis de mesa; Radicais: skate, ciclismo e roller,
através de suas origens e histórico, atividades pré-desportivas,
fundamentos e regras adaptadas.
 Jogos e brincadeiras – Populares: elástico, bets, peteca, twister, stop,
boliche, bola queimada e pega-pega; Tabuleiro: xadrez, cara-cara,
detetive, banco imobiliário, dama e trilha. Cooperativos como
“voleinçol” e esportivos com alterações nas regras, por intermédio da
origem e histórico dos jogos, participação, sugestões e estudos de suas
regras.
 Dança – Folclóricas: quadrilha e country; De Rua: break, street dance e
funk; Populares: twist, rock, pagode e calipso, estudando sua origem e
histórico, criação de coreografias e participação em show de talentos.
 Ginástica – Artística: rolamento frontal e de costas, três apoios, ponte e
parada de mão; de Academia: localizada, alongamentos, aeróbica e
pular corda; Circense: malabares, acrobacias e jogos de equilíbrio;
Ginástica em Circuito: com trabalho das capacidades físicas, através da
origem e histórico, da execução de movimentos básicos e da
consciência corporal.
 Lutas – Artes Marciais: Tae kwon do; com instrumento mediador:
esgrima e capoeira, com a participação de profissionais convidados que
trabalharam as origens, histórico, participação e construção de
materiais alternativos.

Contudo, apesar desses avanços na escolha dos conteúdos e na


integração com outras disciplinas, sentíamos a falta de uma estruturação
interna da disciplina que mostrasse aos alunos a real dimensão do que
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eles estavam aprendendo tanto nas aulas teóricas como nas situações
práticas.

METODOLOGIA

O estudo que agora apresentamos teve sua abertura marcada pelo


plano de trabalho a ser desenvolvido pelos professores que participam do
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2007, um programa de
capacitação de professores da rede básica de ensino do Estado do Paraná,
que se propôs a habilitar os professores participantes, a partir da prática
educativa revista, repensada e ressignificada, instituindo uma dinâmica
reflexiva a partir da realidade das escolas e da troca de informações entre
os professores da rede.
Observando que a Educação Física tem atravessado por um intenso
processo de transformações, com a meta de evidenciar sua importância
nas escolas, esse trabalho baseou-se, inicialmente, na identificação dos
problemas vividos na realidade das aulas de Educação Física, através de
pesquisa de campo, realizada no ano de 2007, junto a alunos de 7ª e 8ª
séries do ensino fundamental, professores de educação física, pedagogos
e diretores de cinco escolas da Rede Estadual de Ensino da região central
da cidade de Londrina, Paraná, com o objetivo de levantar problemas,
compreender as dificuldades e estabelecer metas comuns para a melhoria
das aulas de Educação Física, através da interação entre a pesquisadora e
os membros consultados.
Os dados levantados nas referidas pesquisas foram apresentados e
discutidos com os professores e alunos pesquisados, buscando uma
reflexão a cerca de seus resultados, subsidiando assim, a ampliação da
contribuição da Educação Física no âmbito da escola dando suporte para a
melhoria da sua função educativa, que transita entre os conhecimentos
sistematizados sobre as atividades motoras, expressivas, recreativas e
esportivas que contribuem com a formação do indivíduo, além de
desenvolver aspectos da vida cidadã, como saúde, sexualidade, vida
familiar, trabalho, ciência e tecnologia, cultura e linguagem.
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Ao pensar esta pesquisa, os seguintes questionamentos


surgiram:

 O que os alunos lembram que aprendem?


 O que eles acreditam que deveriam aprender?
 Como os alunos avaliam suas aulas de Educação Física?
 O que os professores acreditam que devam ensinar?
 O que os pedagogos e diretores acreditam que a Educação Física deva
ensinar?
 Como os pedagogos e diretores avaliam as aulas de Educação Física na
escola?

A partir desses questionamentos, foi-se realizar as pesquisas


de campo junto a oitenta alunos de 7ª e 8ª séries do ensino fundamental,
quinze professores de educação física e sete pedagogos e diretores de
cinco escolas da Rede Estadual de Ensino da Região Central da cidade de
Londrina, Paraná.
Para os alunos foram apresentados três instrumentos de
pesquisas, quais sejam:

 Duas questões abertas. Na primeira questão os alunos deveriam


descrever quais conteúdos haviam tido nos últimos meses nas aulas de
Educação Física. Na segunda questão, citariam o que deveriam
aprender nas aulas de Educação Física, até o final do ensino médio, que
serviria para a vida adulta;
 Perguntas em que deveriam classificar por ordem de prioridade, dez
objetivos da Educação Física, descritos por Rosentswieg (1969), quais
sejam: Valores Democráticos; Competência Social; Vigor Orgânico;
Valorização Cultural; Lazer; Auto Realização; Desenvolvimento Mental;
Estabilidade Emocional; Habilidades Neuromusculares e Força Espiritual
e Moral; e
 Um questionário do tipo diferencial semântico, no qual os alunos
deveriam assinalar como consideravam suas aulas de Educação Física,
em uma escala de sete pontos entre dois termos extremos e
antagônicos, por exemplo: “mala” x “massa”; desmotivantes x
motivantes; dispensáveis x indispensáveis; inúteis x úteis; repetitivas x
variadas; longas x curtas; “bagunçadas” x organizadas; confusas x
claras; difíceis x fáceis; improvisadas x planejadas; teóricas x práticas;
19

inibidoras x encorajadoras; rígidas x flexíveis; técnicas x recreativas


etc.(DE SANTO, 2004).

Aos professores de educação física também foram apresentados


três instrumentos de pesquisa, a saber:

 Relato de experiência profissional, positiva ou negativa, com conteúdos


conceituais;
 Uma questão aberta, no qual eles deveriam relacionar os cinco
principais objetivos da Educação Física, segundo seus próprios critérios;
 Um questionário em que deveriam classificar por ordem de prioridade,
dez objetivos da Educação Física, descrito por Rosentswieg (1969),
idêntico ao solicitado aos alunos.

Para os professores pedagogos e os diretores das escolas em


questão, foram aplicados três questionários, conforme se segue:

 Uma questão aberta, na qual eles deveriam relacionar os cinco


principais objetivos da Educação Física, segundo seus próprios critérios,
igual ao fornecido aos professores de educação física;
 Um questionário em que deveriam classificar por ordem de prioridade,
dez objetivos da Educação Física, descrito por Rosentswieg (1969),
idêntico ao solicitado aos alunos e aos professores de educação física;
e
 Uma avaliação de como consideravam as aulas de Educação Física na
escola, utilizando uma escala de sete pontos do tipo diferencial
semântico, idêntico ao solicitado aos alunos.

Tais pesquisas foram realizadas ainda no primeiro semestre do ano


de 2007, durante os meses de maio e junho, observando os seguintes
critérios:
Visita inicial aos colégios estaduais da região central da cidade de
Londrina, Paraná, quais sejam: Colégio Estadual Benjamim Constant,
Colégio Estadual Marcelino Champagnat, Colégio Estadual Nilo Peçanha,
Escola Estadual Rui Barbosa e Escola Estadual Tiradentes quando,
portando uma carta de apresentação, nos identificamos aos
administradores como participante do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE). A seguir, apresentamos a proposta de pesquisa de
campo e a importância da sua realização junto aos diretores, professores
pedagogos, professores de educação física e alunos dos referidos colégios
20

estaduais, com o intuito de investigar aspectos relacionados à


caracterização da importância dos objetivos educacionais da Educação
Física.
Para os professores de educação física, no nosso primeiro encontro,
após breve apresentação e explicações sobre o PDE e nossa intenção de
colaborar com a valorização da Educação Física, pediu-se que fizessem um
relato de experiências. Após uma semana, foram aplicados os outros
questionários, sendo que primeiramente o de questões abertas sobre os
cinco principais objetivos da Educação Física, para que não fossem
influenciados pelas informações contidas no segundo questionário, com os
dez objetivos segundo Rosentswieg (1969).
Com os professores pedagogos e diretores, também se procurou
estabelecer um primeiro contato com as devidas apresentações e
intenções do PDE. Solicitou-se ainda, uma autorização para a visita às
escolas e às entrevistas com seus professores e alunos. Em relação aos
questionamentos a eles reservados, foram aplicados, como com os
professores, as questões abertas com os cinco principais objetivos da
Educação Física e posteriormente os dez objetivos, segundo Rosentswieg
(1969). Utilizando uma segunda visita, aplicou-se o questionário em que
deveriam classificar as aulas de Educação Física, em um diferencial
semântico, respeitando uma escala que vai de um a sete.
Nas visitas aos alunos, também houve a necessidade de dois dias,
para a aplicação dos questionários. No primeiro contato, após as devidas
identificações, explanou-se sobre os objetivos da pesquisa de campo que
seria realizada. Por sorteio, procurando incluir alunos de ambos os sexos,
em uma sala previamente preparada, foram entregues os questionários
com questões abertas sobre o que haviam aprendido nas aulas de
Educação Física e o que, segundo suas próprias idéias, deveriam aprender
e que seria importante para sua vida futura. Em outra ocasião, procurando
optar por alunos que não haviam participado da primeira pesquisa, e
dividindo-os em dois grupos, aplicaram-se os questionários sobre a
classificação de prioridade dos objetivos da Educação Física e a avaliação
21

da disciplina, utilizando a escala de um a sete, através de diferencial


semântico.
Ao analisarmos os dados obtidos com as pesquisas junto aos alunos
sobre o que eles haviam aprendido nas aulas de Educação Física,
constatou-se que eles perceberam apenas a prática do esporte em si, sem
relacioná-lo com a aprendizagem de outros conteúdos que poderiam ser
adquiridos através da prática esportiva, tais como a cooperação, respeito
e interferência nas regras, melhoria das capacidades físicas, ou ainda,
conteúdos relacionados às atitudes, como respeito às diferenças
individuais, auxílio mútuo, etc. Até mesmo os conteúdos conceituais
inseridos no esporte, como seus fundamentos, sua história e o
aprendizado das regras básicas, foram pouco lembrados.
Já quando refletimos sobre os dados da pesquisa a respeito do que
acreditavam saber no final do ensino médio e que contribuiria para sua
vida adulta, dentro dos conteúdos da Educação Física, constatou-se
através de seus registros, que gostariam de conhecer e praticar outros
jogos e modalidades esportivas, suas regras e história, além de praticarem
atividades de formação física e inserirem um bloco de conteúdos que
englobam a saúde, a alimentação e a nutrição, a sexualidade, o
conhecimento dos efeitos da prática da atividade física sobre o corpo
humano, além da importância de sua prática para a saúde física, mental e
social.
No questionamento sobre como os alunos destacariam como
prioridade dentre os dez objetivos da Educação Física segundo
Rosentswieg (1969), observou-se que o desenvolvimento mental e os
valores democráticos apareceram entre os mais citados como prioridade,
o que nos deixou claro a aproximação da proposta das Diretrizes
Curriculares do Paraná. Porém, deve-se ressaltar que, objetivos como as
habilidades neuromusculares e o vigor orgânico, que estão diretamente
relacionados à Educação Física, não surgiram como primazia.
Na mesma pesquisa realizada com os professores de educação
física, ocorreram semelhantes resultados aos dos alunos, pois entre os
objetivos mais importantes surgiram a competência social, os valores
22

democráticos e o desenvolvimento mental, temas que poderiam ser


incluídos em quaisquer disciplinas do currículo escolar. Os objetivos
específicos da Educação Física, apareceram logo a seguir, mas não foi
dada sua real valorização pelos professores da área.
Ainda citando o mesmo questionário, agora respondido pelos
professores pedagogos e diretores, ficou evidenciada a preferência dada
aos objetivos que poderiam ser considerados da educação de forma geral
e não especificamente da Educação Física, pois segundo eles, os objetivos
mais citados foram o desenvolvimento mental, a competência social, os
valores democráticos e a valorização cultural, fazendo-nos refletir sobre
seus interesses em relação à ordem, à disciplina e à dificuldade de
aprendizagem dos alunos.
Com o questionamento avaliativo do diferencial semântico,
procurou-se compreender como os principais envolvidos com a educação
viam as aulas de Educação Física. Assim, podemos enfatizar como
aspectos positivos, segundo a visão dos alunos, que as aulas são:
“massa”, motivantes, flexíveis, úteis e que estimulam a criatividade. Já
com aspectos negativos, surgiram itens como: aulas repetitivas, que não
aprendiam nada de novo e que não mantinham relações com outras
disciplinas, demonstrando que as aulas de Educação Física têm sido
trabalhadas com pouca criatividade e minimamente multi/interdisciplinar.
Através da referida ferramenta de avaliação, pôde-se observar que
os alunos gostam das aulas, pois a classificam como divertida e que é um
tempo bem empregado. Quanto à referência relacionada aos
equipamentos/locais próprios para a prática da Educação Física, houve
grande diferenciação em relação às escolas pesquisadas, pois algumas
possuem quadras cobertas, salões especiais para apresentações de palco/
ginástica, mesas de “ping-pong” e xadrez no pátio, espaço próximo para a
prática de atletismo e recreação, contando ainda com materiais diversos e
em abundância, enquanto outras, nem possuíam quadra dentro dos muros
da escola. Em debates com os alunos, queixaram-se da falta de materiais
e espaços próprios para ginástica, dança e lutas que lhes permitissem
privacidade.
23

Em relação ao diferencial semântico respondido pelos professores


pedagogos e diretores pôde-se afirmar que ocorreu uma avaliação
positiva, quando o tema era a disciplina de Educação Física, pois entre os
temas que sofreram mais críticas estava a falta de equipamentos, que não
tem relação com a atuação ou metodologia dos professores da área, mas
ao contrário, é de competência administrativa. Entre a maioria dos
entrevistados desse grupo, verificou-se a idéia de que a Educação Física é
importante, pois a avaliaram como indispensável/útil e que era um tempo
bem empregado. Outro item que deve ficar registrado, pois obteve
excelente classificação é que a prática da atividade física observada nas
aulas de Educação Física promove a saúde dos alunos.
Ao compararmos as respostas dos três grupos pesquisados,
observamos que, em muitas situações, não há consenso a respeito das
prioridades da Educação Física, mas que todos, quase que em uníssono,
concordam em afirmar sobre a importância desta disciplina nos currículos
escolares.
Também se deve enfatizar, que se confirmou como um senso
comum, que a disciplina da Educação Física deve elencar entre seus
conteúdos, os conhecimentos sobre corpo humano, capacidades físicas,
alimentação, higiene, sexualidade, relações da atividade física com a
qualidade de vida e seus benefícios para a saúde.
Não se pode deixar de citar ainda, que o aprendizado da prática
esportiva se mostra necessária sob o ponto de vista de todos os
entrevistados, mas que deve ser mais variado e que não seja prática pela
prática, nem que valorize a competição sem cooperação ou que o
individualismo supere valores democráticos.

IMPLEMENTAÇÃO

Após a realização das pesquisas de campo e procurando


alternativas para a preparação de uma amostra pedagógica que tivesse
uma perspectiva de aprendizagem significativa, optou-se por estruturar o
planejamento das 5ªS séries do ensino fundamental do Colégio Estadual
Nilo Peçanha. O conteúdo de ensino foi distribuído por blocos temáticos
24

baseados no estudo do movimentar-se conscientemente, através de


conhecimentos advindos da área da biodinâmica e das capacidades
físicas, focando o ensino integrado de conteúdos conceituais ou
cognitivos, procedimentais ou de habilidades e atitudinais ou de
habilidades.
Dentro das metas deste trabalho, procurou-se relacionar os
conhecimentos propostos nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná,
de forma que os conteúdos conceituais façam parte de um processo
ensino-aprendizagem integrado e eficiente, comprometidos com uma
Educação Física transformadora.
Partindo dessa premissa, estruturou-se como implementação da
proposta na escola, para serem trabalhados no ano de 2008, os seguintes
conteúdos, que foram trabalhados no Colégio Estadual Nilo Peçanha com
alunos de 5ª série do ensino fundamental: atletismo, ginástica e jogos e
brincadeiras, informações básicas sobre a biodinâmica do movimento
humano, o corpo humano e o sistema locomotor, a biomecânica do andar,
correr, saltar e arremessar, os benefícios da prática da atividade física
para a saúde e, por fim, a compreensão do movimento humano,
envolvendo os três aspectos do conhecimento. Ao longo do ano letivo de
2008, esses conteúdos foram entremeados entre outros conteúdos da
Educação Física envolvendo as modalidades esportivas coletivas,
individuais, jogos e brincadeiras, ginástica, lutas e dança.
Em meio aos objetivos gerais constantes do planejamento
curricular, selecionou-se que os alunos deveriam conhecer e
conscientizarem-se de seu corpo, de suas capacidades funcionais, de suas
habilidades motoras e de suas limitações individuais; conhecer e praticar
atividades que desenvolvessem suas habilidades motoras com a intenção
de estender o domínio sobre seu corpo; fomentar suas capacidades físicas
para melhoria de sua aptidão física; entender e valorizar o movimento
consciente para domínio das atitudes corporais em diversas situações
motoras; reconhecer os benefícios da prática da atividade física para a
saúde e manutenção da sua qualidade de vida; compreender o
funcionamento do corpo humano e suas alterações oriundas da prática de
25

exercícios ou do sedentarismo; conscientizar-se da importância da prática


da atividade física, procurando tornar-se um indivíduo ativo fisicamente
em seu cotidiano.
Iniciando o ano letivo de 2008, no primeiro contato com os alunos
da 5ª série do ensino fundamental do Colégio Estadual Nilo Peçanha,
procurou-se, após apresentação da professora aos alunos, comentar sobre
as normas gerais da disciplina. Expôs-se um breve entendimento da
Educação Física, como uma componente curricular que possui como
objeto de estudo o corpo em movimento e que esse movimento humano
consciente poderia ser aprimorado e estudado durante as aulas, ou seja,
que a Educação Física utiliza-se do movimento para educar. Solicitou-se
uma autorização dos pais ou responsáveis pelos alunos, para que eles
pudessem participar desse projeto.
Dando seqüência ao trabalho, antes da introdução dos
conhecimentos aos educandos, realizou-se uma avaliação diagnóstica,
procurando observar quais conhecimentos os alunos já teriam a respeito
dos conteúdos a serem trabalhados no decorrer do ano letivo.
Constavam dessa avaliação diagnóstica, quinze questões sobre o
sistema locomotor, a função dos ossos e músculos, a definição de
articulação, ligamentos e tendões, o significado de sedentarismo e da
biodinâmica, as conceituações das capacidades físicas: resistência
cardiorrespiratória, força, resistência muscular, potência, velocidade,
agilidade, coordenação motora e equilíbrio, sobre os benefícios da prática
de atividade física para a saúde e por que é importante realizar atividades
físicas. Sobre tais questionamentos, apenas pretendeu-se que os alunos
respondessem se sabiam seus significados, se não sabiam ou se não se
lembravam.
Do mesmo modo que se deu a avaliação diagnóstica dos conteúdos
cognitivos, alguns testes físicos e de sondagem motora se mostraram
necessários para a obtenção de um retrato básico das capacidades físicas
dos alunos da 5ª série do referido colégio. Os testes físicos tiveram seu
início marcado por um exame biométrico verificando o peso e altura dos
alunos, juntamente com o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), que
26

é uma fórmula que indica se uma pessoa está acima ou abaixo do peso
ideal, considerado saudável.
Realizaram-se ainda, três testes de sondagem físico-orgânica. O
primeiro foi de força abdominal, no qual se pretendeu medir a força da
musculatura abdominal, através da realização do maior número possível
de flexões abdominais em um minuto, destacando que a musculatura
abdominal é responsável pela manutenção da postura e que, possíveis
alterações no padrão de força e resistência da musculatura abdominal,
podem provocar eventuais problemas posturais. O segundo foi de
flexibilidade de tronco no teste de sentar-e-alcançar. Nesse momento foi
explicado que as pessoas com boa flexibilidade se movem com mais
facilidade e tendem a sofrer menos problemas de dores musculares e que
o alongamento melhora a flexibilidade e a mobilidade articular. O terceiro
e último teste foi de resistência cardiorrespiratória, por intermédio de uma
corrida de aproximadamente mil metros, no qual se anotou o tempo de
execução de cada aluno. Nesse teste comentou-se sobre a importância do
aquecimento e alongamento prévios, a execução da corrida de forma
moderada, o trabalho respiratório, o controle dos batimentos cardíacos e
que essa capacidade física permite a realização de esforços de longa
duração, resistindo à fadiga e permitindo uma rápida recuperação,
evitando a perda da eficácia motora.
Posteriormente à realização dos referidos testes das habilidades
motoras, cada aluno teve a oportunidade de preencher uma ficha
individual de acompanhamento de avaliação física, onde se registrou seu
nome, data de nascimento, sexo, peso, estatura, IMC e os resultados
obtidos nos testes de força abdominal, flexibilidade de tronco e de
resistência cardiorrespiratória. Nessa oportunidade, fez-se um breve relato
comparativo sobre os resultados pessoais relacionando-os com a média da
turma, analisando como diferenças em decorrência da idade, do sexo, de
peso e pela falta de aptidão física deveriam surgir, procurando demonstrar
a importância da prática da atividade física para a melhoria das
capacidades físicas e relacionando-as com a saúde.
27

Dando continuidade à realização deste projeto, os conteúdos


cognitivos foram trabalhados por meio da abordagem da biodinâmica do
movimento humano e dos sistemas do corpo, enfatizando o sistema
locomotor e o cardiorrespiratório, relacionando-os com suas respectivas
capacidades físicas. O ensino dos conteúdos conceituais relacionados à
biodinâmica do movimento humano na Educação Física visava a
compreensão e o conhecimento básico do corpo humano, seus sistemas,
estruturas, funções e os efeitos do sedentarismo e da atividade física para
a saúde. Em relação aos conteúdos procedimentais da biodinâmica na
Educação Física, almejava-se que os educandos realizassem os exercícios
propostos com o sucesso esperado, para trabalhar cada uma das
capacidades físicas, procurando controlar sua intensidade e tentando
elaborar um programa de atividade física para si próprio. Os conteúdos
atitudinais e a biodinâmica tinham como meta a motivação para a
execução de um programa de atividade física buscando uma prática
consciente, o respeito aos seus próprios limites corpóreos durante a
realização dos exercícios, estimular e colaborar com os programas de
“treinamento” dos colegas e empenhar-se na transmissão dos
conhecimentos adquiridos, procurando estimular a prática da atividade
física para o benefício da saúde das pessoas com quem convivem.
Assim sendo, a execução dessa proposta se deu através da
realização de trinta e seis ações distribuídas durante o ano letivo de 2008,
respeitando a seguinte composição:

No decorrer do 1º Bimestre:

 Apresentação da professora. Normas gerais da disciplina e de


convivência;
 Avaliação diagnóstica dos conteúdos teóricos a serem trabalhados;
 Exame biométrico (pré-teste) e cálculo do IMC;
 Freqüência cardíaca;
 Sondagem motora: força abdominal (pré-teste);
 Sondagem motora: flexibilidade (pré-teste);
28

 Sondagem motora: resistência cardiorrespiratória – masculino (pré-


teste);
 Sondagem Motora: resistência cardiorrespiratória – feminino (pré-
teste);
 Preenchimento da ficha de acompanhamento de avaliação física;
 Corpo humano – sistema locomotor e suas funções;
 Ginástica formativa – capacidades físicas e motoras;
 Avaliação – reflexão sobre o sistema locomotor e IMC.

Durante o 2º Bimestre:

 Formas básicas do movimento e locomoção;


 Biodinâmica na Educação Física;
 Corridas (com obstáculos e de velocidade);
 Histórico e origem do atletismo;
 Corridas (de revezamento);
 Salto em distância - impulsão horizontal;
 Salto em altura - impulsão vertical;
 Definição das capacidades físicas;
 Arremessos - lançamento de pelota;
 Regras básicas, pista e provas do atletismo;
 Avaliação – refletindo sobre biodinâmica, capacidades físicas e
atletismo.

No transcorrer do 3º Bimestre:

 Ginástica em circuito;
 Ginástica em circuito;
 Saúde e Qualidade de Vida Relacionada à Prática de Exercícios Físicos;
 Ginástica Artística – Rolamentos;
 Circuito com Exercícios Aeróbios;
 Benefícios da Prática da Atividade Física Para a Saúde;
 Avaliação: Refletindo sobre Ginástica, Atividade Física e saúde.

Encerrando no 4º Bimestre:

 Sondagem motora: força abdominal (pós-teste);


29

 Sondagem motora: flexibilidade (pós-teste);


 Sondagem motora: resistência cardiorrespiratória – masculino (pós-
teste);
 Sondagem Motora: resistência cardiorrespiratória – feminino (pós-
teste);
 Exame biométrico (pós-teste) e cálculo do IMC;
 Avaliação conclusiva dos conteúdos teóricos trabalhados.

RESULTADOS DO PROJETO

A metodologia empregada nessa proposta partiu dos elementos


mais gerais, direcionando-os a seguir para os temas mais específicos,
sempre procurando observar e respeitar a capacidade intelectual dos
alunos, mas, ainda assim, percebeu-se muita dificuldade de entendimento,
principalmente na aprendizagem dos conteúdos cognitivos.
Para efetivação dos temas propostos, foram ministradas aulas
teóricas, com o emprego de estratégias como aulas expositivas, debates,
conversas informais, trabalhos descritivos, pesquisas, construção de
cartazes, utilização de recursos audiovisuais como filmes, som, retro
projetor e transparências, TV multimídia e participação de estagiários.
Procurou-se ainda, elaborar materiais teóricos com textos e caderno de
atividades. Além dos conteúdos descritos nesta implementação, outros
temas teóricos foram experimentados pela turma, tais como: origem,
histórico, fundamentos e regras básicas de modalidades esportivas, locais
destinados à prática esportiva, biodinâmica no esporte, definição, história
e tipos de ginástica, biodinâmica na ginástica, histórico, regras e tipos de
danças, lutas e jogos e brincadeiras.
Durante toda a aplicação dessa proposta, os alunos eram
instigados a realizarem estudos prévios, para que os temas fossem
trabalhados com uma participação mais efetiva, enriquecendo os debates,
pois esta estratégia possibilitou a aquisição de um conhecimento anterior,
facilitando a aprendizagem. Infelizmente, nem todos os alunos tiveram
este desprendimento.
Uma das preocupações para a aplicação desse projeto estava
relacionada com a opinião avaliativa dos alunos, isso porque deparamos
30

com situações diferenciadas, pois se presumia que suas expectativas


estivessem voltadas à prática esportiva, principalmente o futebol/futsal
para os meninos e a bola queimada/voleibol para as meninas. Portanto,
quando se propôs a diversificação de conteúdos, era de se esperar uma
rejeição na aprendizagem de novos conteúdos.
Foi grande a nossa surpresa quando questionamos os alunos sobre
sua satisfação e nos deparamos com os seguintes comentários:

“... aprender as regras foi muito legal. Praticava esportes antes, mas não
entendia os regulamentos.”
“Gostei de tudo, aprender esportes diferentes, onde a gente
corre, pula e estimula a amizade e a superação, não é cansativo e
ajuda a melhorar nosso corpo, isto me parece muito importante.”
“... quando estava na aula de taekwondo vi em cada movimento
a força, a potência, a agilidade, a flexibilidade, a velocidade, a
resistência, o equilíbrio e a coordenação motora, que estudamos
nas aulas de Educação Física.”
“Estudar sobre saúde e biodinâmica do movimento humano são
coisas que aprendi e considero importantes para meu dia-a-dia”.
“Adorei praticar jogos diferentes como o twister, o frescobol, o boliche e
o xadrez, acho que ajudam no desenvolvimento das minhas capacidades
físicas e mentais.”
“... também aprendi coisas que nem imaginava que eu podia fazer.”
“Gosto muito das aulas, são bem exemplificadas, bem elaboradas
e gostei de atuar como instrutor de atividades em grupo. Praticar
exercícios e brincadeiras é legal.”
“As aulas foram muito boas, achei legal, procurando sempre
mudar para melhorar. Foram bacanas, diferentes, interessantes.”
“Foi muito massa, me ajudou a emagrecer e me ensinou muita
coisa nova.”

Assim, pôde-se observar que não houve resistência por parte dos
alunos. Ao contrário, demonstrou-se possível reconstruir a cultura escolar,
principalmente quando os alunos percebem o envolvimento do Professor e
também quando os educandos experimentam novos desafios,
principalmente se, no decorrer das aulas, estratégias motivantes e de
31

convencimento são utilizadas, procurando utilizar maior diversidade de


recursos e mudanças na dinâmica das aulas.
É de grande importância, ressaltar que, além do que foi exposto
anteriormente, no decorrer do ano letivo de 2007 e introduzidos na
proposta de implementação foram inseridos vários conteúdos, constantes
do planejamento anual, conforme sugestão das Diretrizes Curriculares do
Paraná, ou seja, foram trabalhados o esporte, os jogos e brincadeiras, as
lutas, a ginástica e a dança.
Dentre esses conteúdos, também foram incluídos os Objetos de
Aprendizagem Colaborativos (OACs), elaborados pelos professores
PDE/UEL/2007, ainda em análise pela equipe de validação, mas constantes
no portal www.diaadiaeducacao.pr.gov.br. Dessa forma, dentro do bloco
jogos e brincadeiras diversas formas de praticar a bola queimada foram
ensinadas; em esporte e jogos com raquete, o tênis de campo, o tênis de
mesa, o badmington e o frescobol; em ginástica, as artes circenses com os
“pés de lata” e a ginástica natural com a imitação do movimento de
animais; em lutas, a esgrima com materiais alternativos; e, no esporte, a
adaptação do “jogo da velha” ao atletismo.
Procuraram-se também atividades diferenciadas, normalmente não
executadas pelos alunos, como a inserção de oficinas de brincadeiras – o
dia do brinquedo, aula de artes circenses com convidados, passeios ao
boliche, ao planetário, à Praça Japão e, também, a participação em aulas
adaptadas para cadeirantes e um show de talentos, no qual os alunos
tiveram a oportunidade de dançar, cantar, expor trabalhos de origami,
mágica e esquete humorístico.
As atividades avaliativas eram compostas de textos para
interpretação, questionamentos com alternativas, de completar e com
questões abertas, relacionamento entre colunas, cruzadinhas e execução
de desenhos. Assim trabalhando, os educandos foram convidados a
entender os conceitos e os procedimentos, além de assimilarem os fatos.
Em relação às aulas práticas, utilizou-se a ginástica formativa, a
ginástica em circuito, a ginástica artística e a ginástica aeróbica, além das
atividades de artes circenses, sempre procurando trabalhar as
32

capacidades físicas: resistência cardiorrespiratória, resistência muscular,


força, flexibilidade, agilidade, velocidade, potência, equilíbrio e
coordenação motora. Tivemos também atividades baseadas no atletismo,
como as formas básicas de movimento e locomoção, as corridas, os saltos
e os lançamentos. Não se esqueceu de trabalhar, nos conteúdos
procedimentais, as lutas, o esporte, a dança e os jogos e brincadeiras,
principalmente através de atividades recreativas.
Dessa forma, pôde-se contemplar todos os conteúdos estruturantes
para a disciplina de Educação Física, propostos pelas Diretrizes
Curriculares do Paraná, englobando as abordagens conceituais ou
cognitivas, atitudinais ou sócio-afetivas e procedimentais ou de
habilidades.
Como exemplos dos conteúdos trabalhados, podemos citar:
modalidades esportivas – atletismo, voleibol, basquetebol, handebol e
futsal; lutas – tae kwon do, capoeira e esgrima; danças – folclóricas, típicas
e populares; ginástica – formativa, rítmica, aeróbica, natural, artes
circenses e artística; jogos e brincadeiras – jogos cooperativos, tênis de
mesa, twister, jogos pré-desportivos, frescobol, peteca, mímica e xadrez.
Com a aplicação da maior parte das aulas, procurou-se estimular a
prática das atividades, acatando, sempre que possível, as interferências e
sugestões dos alunos, observando o seu discernimento com base na teoria
inserida. Assim, percebeu-se a compreensão dos conceitos trabalhados,
comprovados pela execução das atividades práticas. Verificou-se que a
parte cognitiva proporcionou o conhecimento básico da biodinâmica do
movimento humano e que, na prática, o aluno vivenciou os conceitos
estudados na teoria, o que possibilitou a aprendizagem esperada.

A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Como já foi citada anteriormente, a primeira forma avaliativa teve


como meta verificar os conhecimentos teóricos prévios sobre os assuntos
a serem estudados, através de um balanço diagnóstico. Já na parte
prática, executaram-se sondagens motoras com a intenção de averiguar
as capacidades físicas de força abdominal, flexibilidade de tronco e a
33

resistência cardiorrespiratória além de examinar biometricamente os


alunos.
No processo prático apurou-se a participação, o esforço, o
comprometimento e a tentativa de melhoria no próprio desempenho, a
mudança de atitudes em relação ao entendimento da importância da
prática da atividade física, a realização crítica dos exercícios propostos
através da observação direta e da execução de pré e pós-testes. Nas
ações teóricas observou-se a execução das tarefas, trabalhos e pesquisas
propostas, a participação efetiva nas aulas conceituais e a interferência
crítica na reformulação de regras, nos relatos e questionamentos que
serviram de parâmetros quantitativos e qualitativos de todo o processo e
também a realização de provões conforme previsto no Projeto Político
Pedagógico do colégio, não se esquecendo de executar as recuperações
paralelas, toda vez que se fizessem necessárias.
Baseando-se em todo esse processo avaliativo, pudemos perceber
a aquisição de conhecimentos advindos da área da biodinâmica do
movimento humano, pois na maioria dos casos, os alunos souberam
responder corretamente os questionamentos e provas ao qual foram
submetidos.
Em relação à importância atribuída pelos educandos às aulas
teóricas e aos conteúdos conceituais, a grande maioria, apesar de
preferirem as aulas praticas, concordou que consideram necessárias a
aprendizagem e a compreensão dos conhecimentos adquiridos,
principalmente quando relativos à saúde e qualidade de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo-se das avaliações iniciais feitas com alunos, professores


de educação física e diretores, pudemos observar que a aprendizagem é
percebida apenas na prática esportiva sem relacioná-la com conteúdos
alistados a essa prática, tais como a cooperação, o respeito e interferência
nas regras; a melhoria das capacidades físicas; o respeito às diferenças
individuais, além dos conteúdos conceituais inserido no esporte, como
fundamentos, histórico e entendimento das regras.
34

Também ficou evidenciada a primazia dada aos objetivos da


educação de forma geral, sendo deixados para segundo plano os temas
diretamente relacionados à Educação Física.
Contudo, observou-se mais como senso comum do que uma
opinião fundamentada, que a disciplina de Educação Física deve incluir os
conhecimentos sobre o corpo humano, as capacidades físicas, relações da
prática da atividade física com a qualidade de vida e seus benefícios para
a saúde.
Quanto à implementação da proposta de ensino, verificou-se
durante todo o ano letivo, apesar da resistência inicial de alguns alunos,
em razão da preferência as aulas práticas, que houve grande aceitação à
proposta, por julgarem interessantes e necessárias.
Assim, ao final deste trabalho, pudemos reafirmar que os
conteúdos a serem ensinados nas aulas de Educação Física devem
contemplar os três domínios do ser humano, ou seja, os conteúdos
conceituais ou cognitivos, atitudinais ou sócio-afetivos e os
procedimentais ou de habilidades, ainda que, em determinadas etapas,
alguns deles sejam mais valorizados, mas nunca serem esquecidos.
Porém, como o tema desse estudo foram os conteúdos conceituais,
é possível afirmar que o desenvolvimento dos blocos temáticos aqui
descritos mostrou-se proveitoso para a maior parte dos alunos. Entretanto,
mais significativo do que a aquisição dos conhecimentos, as avaliações de
aprendizagem indicaram que ocorreram alterações de comportamentos e
de atitudes em relação à disciplina de Educação Física. Conquanto ainda
surjam críticas, sobretudo relacionadas ao anseio de que haja mais aulas
práticas, pôde-se analisar que os educandos passaram a repensar as aulas
de Educação Física ressignificando-as e, o que era apenas passatempo,
passou a ser considerada uma área de conhecimento importante e
benéfica à sua vida.
Através dos resultados obtidos nesse processo, acredita-se que o
modelo pedagógico executado necessita de melhorias, mas demonstra-se
adequado ao intento. A possibilidade de transformação e o desafio estão
na conciliação entre a aspiração dos educandos pelas aulas
35

essencialmente práticas e a real necessidade de se transmitir as


informações conceituais que possibilitem aos alunos desenvolver seus
conhecimentos relacionados ao uso consciente do seu potencial para
mover-se tanto na dimensão pessoal como social.
Por fim, pretende-se que a implementação dessa proposta possa
contribuir com a prática pedagogia dos professores de educação física,
refletindo sobre a atuação docente como um todo, pois, valorizar os
conhecimentos teórico-científicos da Educação Física pode mudar o
conceito ainda existente de “atividade” para o real conceito de
“disciplina”, fazendo com que essa área de conhecimento passe por mais
um processo de transformação, com o objetivo de comprovar sua
importância educacional nas escolas.
36

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